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7/23/2019 Boletim-Biblioteca - nov/dez-15
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Nº9 | n o v emb r o - d e z emb r o d e 20 15
EF EMÉR IDES DO MÊS
1| Frescos de Miguel Ângelo na Capela Sistina;
Terramoto de Lisboa (1755);
2 |Nascimento de Teixeira de Pascoaes;
Nascimento de Jorge de Sena;
4 |Fundação da Unesco;
6 |Nascimento de Sophia;
7 Nascimento de Marie Curie;
Nascimento de Alberto Camus;
8 |Nascimento de Cecília Meireles;
9 |Queda do muro de Berlim;
10 |Nascimento de Mário Viegas;
11 |Dia de São Martinho;
Dia do Armistício;
13 |Nascimento de Robert Louis Stevenson;
14 |Nascimento de Amadeo de Sousa-Cardoso;
16 |Dia Internacional da Tolerância;
Nascimento de José Saramago;
17 |Dia do não fumador;
20 |Dia Mundial da Filosofia;
Publicação da declaração universal dos Direitos da
Criança;
21 |Nascimento de Columbano Bordalo Pinheiro;
Dia Mundial da Televisão;
22 |Morte de Jack London);
23 |Nascimento de Herberto Helder;
24 |Dia Mundial da Ciência;
Dia Nacional da Cultura Científica;
Boletim Informativo da Biblioteca EFEMÉRIDES DO MÊS Dezemb ro )
01 | Restauração - 1640;
05 | Morte de Mozart;
D. Manuel I decreta a expulsão de judeus;
06 | Morte de Afonso Henriques (1185);
Morte do Conde Andeiro (1383);
10 | Declaração Universal dos Direitos do Homem.
DESTAQUE DO MÊS
No dia 24 de novembro, dia do seu nascimento,
destacámos a figura de Rómulo de Carvalho. Foi feita
uma celebração, com a partilha de experiências entre
turmas do 7.º, 8.º e 11.º ano. Lembrou-se o lado
poético de Rómulo de Carvalho, nas palavras do seu
amigo António Gedeão. Foram lidos excertos das suas
memórias e refletiu-se com os alunos sobre o seu lado
humanista e o valor do conhecimento para combater
a ignorância e a intolerância.
No fim do mês de novembro, com a colaboração da
Casa Fernando Pessoa e a Fundação Saramago, três
turmas do secundário participaram num workshop
Desassossego 2015.
No final do 1º período, realizou-se uma Feira do Livro
e foram destacados excertos de leitura sobre o Natal.
D E S T A QU E S
OS LIVROS D SEM N
“ A palavra é o desejo do espaço e do espaço e do desejo
para que tudo o que em nós é confuso e vago
se transforme em arquitetura
com janelas para o mar ou campos ondulados”
António Ramos Rosa
7/23/2019 Boletim-Biblioteca - nov/dez-15
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| B ib l i o t e ca E sco la r | E sco la S e cu n d á r ia Ra in h a Do n a A mé l ia | B o le t im N . º9 – n o ve mb ro - d e ze mb ro d e 2 0 1 5 |
Um oema
Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?
Amar e esquecer?
Amar e malamar
Amar, desamar e amar
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
Sozinho, em rotação universal,
se não rodar também, e amar?
Amar o que o mar trás a praia,
O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amor inóspito, o áspero
Um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte,
e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este é o nosso destino:
amor sem conta, distribuído pelas coisas
pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor
Amar a nossa mesma falta de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito e a sede infinita
Carlos Drummond de Andrade, “Amar”. solidão.
Biblioteca Escolar CONCEÇÃO E ELABORAÇÃO : E Q U I P A D A B I B L I O T E C A E SC O L A R
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Autor do mês
RÓMULO DE C RV LHO
“Eu digo "pobre de mim" como diria pobre do pobre que está sentado à
soleira da porta a apanhar sol e a coçar as costas. Mas ele, o pobre,
ainda é feliz porque ao vê-lo desejo ajudá-lo, e eu era um ser indefeso
que ninguém pensava em ajudar. Nunca tive vocação nem jeito para
viver, inclinação elementar que qualquer ser, mesmo sem ser humano,
possui por natureza.
Tão incapaz, tão estranho, tão desajustado que ainda hoje, aos oitenta e
um anos, me sinto tão surpreendido de viver como aquele frágil menino
de um ano a quem a irmã mais velha ampara, no retrato, para que não
caia do alto da coluna de madeira em que o poisaram.
Ele tem a cabecinha um pouco inclinada sobre o lado direito como quem pede auxílio, e eu sempre assim a mantive, mas por dentro, dissimulada
numa cara comprida e talvez severa, implorando o mesmo auxílio. Sou
um pobre ser necessitado de carinho, à espera de um afago que lhe cerre
os olhos interiores com deleite como os gatos quando se deitam de
barriga para cima. Preciso de amor constante, o amor que se exprime em
cada gesto e em cada olhar do quotidiano, mesmo sem contactos, sem
palavras, sem premeditações, espontâneo, natural. Amor é um termo
ambíguo que se presta a ridicularizar quem o pronuncia. Mas este de que
falo não é o que nos faz supor de olhos brancos, em alvo. O amor de que
falo é o que se opõe ao ódio, à violência, à dissimulação, ao orgulho, à prepotência, a todas essas "virtudes" que adornam os humanos com os
loiros dos triunfos.
RÓMULO DE C RV LHO
Por não possuir tais "virtudes" fui sempre encarado com uma
ponta de desconfiança pelos meus companheiros de existência
porque naturalmente sentiam a minha impenetrabilidade às suas
manobras, manobras correntes, quase inocentes, atitudes do dia -
a-dia, de momento a momento, só detectáveis por um escrúpulo
demasiado como sempre foi o meu.
Em jovem já guardava da humanidade o mesmo sentimento que
conservo, a mesma incompatibilidade com as normas correntes
de conduta social e privada, e a passagem dos anos apenas veio
dar mais solidez e convicção às suspeitas do instinto. Aliás, se
me alheasse dessas normas por um instante bastaria pegar em
qualquer jornal do dia para tudo se avivar.
Felizmente a vida proporcionou-me encontros com algumas
exceções ao tipo comum do ser humano, e acolhi-as com
comoção. Apesar destes rigores falo bem a toda a gente, uso
boas palavras, não me exalto, e posso-me gabar que nunca, na
vida inteira, me zanguei com alguém, nunca cortei relações com
alguém, nunca virei a cara a alguém.
É que, meus queridos tetranetos, eu não detesto os outros nem
fujo ao seu convívio se os vejo aproximarem-se de mim. Os meus
sentimentos para com os outros não são de repulsa, mas
(imaginem!) de pena, de piedade. Tenho pena de ver as pessoas
presas aos seus preconceitos, às suas ansiedades, aos
imperativos da sua hereditariedade, ao peso das tradições, aos
condicionamentos do ambiente físico e humano em que
nasceram ou vivem. Tenho pena de todos, e também tenho pena
de a ter, porque as pessoas preferem ser odiadas a suscitarem
pena. No fundo somos todos irresponsáveis, tanto eles pelo que
fazem como eu por reparar nisso”.
Rómulo de Carvalho. (2010). Memórias. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian