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BOLETIM CONTEDO
JURDICO N. 830 (Ano IX)
(02/12/2017)
ISSN - 1984-0454
BRASLIA - 2017
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Conselho Editorial
VALDINEI CORDEIRO COIMBRA (DF) - Coordenador-Geral. Fundador do Contedo Jurdico. Mestre em Direito Penal Internacional Universidade de Granda/Espanha.
MARCELO FERNANDO BORSIO (MG): Ps-doutor em Direito da Seguridade Social pela Universidade Complutense de Madrid. Ps-Doutorando em Direito Previdencirio pela Univ. de Milo. Doutor e Mestre em Direito Previdencirio pela Pontifcia Universidade Catlica/SP.
FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito Administrativo pela UFMG.
RODRIGO LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em Cincias Jurdicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino - UMSA.
MARCELO FERREIRA DE SOUZA (RJ): Mestre em Direito Pblico e Evoluo Social u, Especialista em Direito Penal e Processo Penal.
KIYOSHI HARADA (SP): Advogado em So Paulo (SP). Especialista em Direito Tributrio e em Direito Financeiro pela FADUSP.
SERGIMAR MARTINS DE ARAJO (Montreal/Canad): Advogado com mais de 10 anos de experincia. Especialista em Direito Processual Civil Internacional. Professor universitrio.
Pas: Brasil. Cidade: Braslia DF. Endereo: SHN. Q. 02. Bl. F, Ed. Executive Office Tower. Sala 1308. Tel. 61-991773598 ou 61-3326-1789 Contato: [email protected]
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SUMRIO
COLUNISTA DA SEMANA
01/12/2017 Rmulo de Andrade Moreira
O novo entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a
competncia por prerrogativa de funo
ARTIGOS
01/12/2017 Eduardo Luiz Santos Cabette Lei de crimes hediondos e sua aplicao na Justia Militar face Lei
n13.491/17
01/12/2017 Danielle Silva Mantovanelli
A Justia Restaurativa: uma alternativa para o Sistema Carcerrio Brasileiro
01/12/2017 Jos Carlos Souza Camb dos Santos
A defasagem da tabela do Imposto Sobre a Renda Pessoa Fsica
01/12/2017 Jackson Carlos Mendes da Silva
Ociosidade no Sistema Prisional
01/12/2017 Fernando Rodrigues Batista
A (de) mora processual penal, em face dos direitos e garantias fundamentais
01/12/2017 Naianny Oliveira Arrais
Violncia domstica e a aplicao das medidas protetivas da Lei Maria da
Penha
30/11/2017 Renata Moura Tupinamb
Os pilares do Cdigo de Processo Penal de 1941 e sua incompatibilidade
com a Constituio Federal de 1988
30/11/2017 Isaac Fernandes de Castro
A suspenso do fornecimento de energia eltrica para prestadores de servio
pblico por inadimplncia luz do Cdigo de Defesa Do Consumidor
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30/11/2017 Katia Dias Barros
O dano moral e a responsabilidade civil no tocante ao extravio de bagagem
em voos nacionais e internacionais
30/11/2017 Caroline Evellym Inacio Rios
Consideraes legais acerca da reduo da maioridade penal
30/11/2017 Kessyara Silva Rodrigues
O dano moral na relao de consumo: uma anlise quanto inscrio
indevida do consumidor nos rgos de proteo ao crdito
30/11/2017 Rafael Sulino de Castro
Direito desportivo constitucional: o desporto educacional nas escolas pblicas
de Palmas (TO)
29/11/2017 Aloyzio Alves da Costa Neto
A responsabilidade subsidiria do Poder Pblico pelo inadimplemento de
encargos trabalhistas nos contratos de terceirizao de mo de obra.
29/11/2017 Andrea Cerqueira Russo
A escravido contempornea analisada luz da indstria txtil
29/11/2017 Paulo Junior Moreira
A harmonia entre os Poderes e o Judicirio como guardio dos direitos e
garantias fundamentais.
29/11/2017 Ranny Mychelly Oliveira Ferreira
Da responsabilidade civil pelo abandono afetivo da mulher aps a dissoluo
conjugal
29/11/2017 Paulo Byron Oliveira Soares Neto
Benefcios e malefcios da reduo da maioridade penal
29/11/2017 Sergio Ricardo do Amaral Gurgel
Pena de vida: O que cabe aos Severinos e Virgulinos.
28/11/2017 Lana Vitria Pinheiro Carmo Lazzaretti
A obrigatoriedade da audincia de conciliao e mediao no novo Cdigo de
Processo Civil: uma anlise quanto eficcia da medida
28/11/2017 Renata Moura Tupinamb
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A identidade de gnero no cenrio jurdico-social
28/11/2017 Andrea Cerqueira Russo
Uma anlise crtica da Lei 11.340/06 luz da expanso do iderio punitivista
no Brasil
28/11/2017 Eliezer Coelho Dias
A Nova Lei da Terceirizao do Trabalho (Lei N13.429/2017)
28/11/2017 Helmuth Perleberg Neto
Efetivao do direito sade pblica por meio de decises judiciais
28/11/2017 Paulo Byron Oliveira Soares Neto
Comentrios acerca dos artigos 318 a 329 do Cdigo de Processo Civil
brasileiro.
27/11/2017 Saruzze Pereira Santos
Consequncias psicolgicas e jurdicas do abandono afetivo
27/11/2017 Kamille Neves Filgueiras Cabral de Souza
A responsabilidade civil do mdico no procedimento cirrgico de cunho
esttico
27/11/2017 Andrea Cerqueira Russo
Uma anlise da psicopatia e seu enquadramento jurdico-penal
27/11/2017 Maria Eduarda Andrade e Silva
A sentena de improcedncia por insuficincia de provas em aes coletivas:
implicaes na coisa julgada e no interesse recursal
27/11/2017 Lourranna Machado Sales
Responsabilidade penal das pessoas jurdicas em crimes ambientais
27/11/2017 Mariana Barbosa da Silva Uhlemann
A isonomia entre servidores pblicos e empregados do setor privado no que
se refere ao direito de greve e ao recebimento de salrio
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O NOVO ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SOBRE A COMPETNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNO
RMULO DE ANDRADE MOREIRA: Procurador de Justia do Ministrio Pblico do Estado da Bahia. Professor de Direito Processual Penal da UNIFACS. Ps-graduado, lato sensu, pela Universidade de Salamanca/Espanha (Direito Processual Penal). Especialista em Processo pela UNIFACS.
No dia 16 de fevereiro de 2017 o Ministro Lus Roberto
Barroso encaminhou ao Plenrio do Supremo Tribunal Federal o
julgamento da Ao Penal n. 937, por meio da qual um ex-Deputado
Federal, que havia renunciado ao mandato para assumir a Prefeitura de
um Municpio do Estado do Rio de Janeiro, responde pela prtica do crime
de compra de votos. Naquela oportunidade, o Ministro pretendia discutir
a questo de foro por prerrogativa de funo. No respectivo despacho, o
relator afirmou que o suposto delito teria sido cometido em 2008, quando o
ru disputou a Prefeitura. Eleito Prefeito, o caso comeou a ser julgado no
Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, onde a denncia foi recebida
em 2013. Com o encerramento do mandato frente da chefia do Executivo
local, o caso foi encaminhado para a primeira instncia da Justia Eleitoral.
Em 2015, como era o primeiro suplente de Deputado Federal de seu
partido, ele passou a exercer o mandato diante do afastamento dos
Deputados Federais eleitos, o que levou remessa dos autos ao Supremo
Tribunal Federal. Em setembro de 2016, o ru foi efetivado em virtude da
perda de mandato do titular, mas aps sua eleio novamente para a
Prefeitura, tambm no ano passado, ele renunciou ao mandato de
parlamentar (em janeiro de 2017), quando o processo j estava liberado
para ser julgado pela Primeira Turma.
Segundo afirmou o relator, poca, as diversas declinaes de
competncia esto prestes a gerar a prescrio pela pena provvel, de
modo a frustrar a realizao da justia, salientando que o sistema feito
para no funcionar e o caso revelava a disfuncionalidade prtica do
regime de foro, razo pela qual acreditava ser necessrio repensar a
questo quanto prerrogativa.
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Para o Ministro Barroso, havia problemas associados morosidade,
impunidade e impropriedade de uma Suprema Corte ocupar-se como
primeira instncia de centenas de processos criminais.
Ao encaminhar o julgamento do tema para o Plenrio, por meio de
questo de ordem, o relator sugeriu a anlise da possiblidade de conferir
interpretao restritiva s normas da Constituio de 1988 que
estabelecem as hipteses de foro por prerrogativa de funo, de modo a
limitar tais competncias jurisdicionais aos crimes cometidos em razo do
ofcio e que digam respeito estritamente ao desempenho daquele cargo.
No dia 31 de maio foi iniciado o julgamento. Em seu voto, o Ministro
Lus Roberto Barroso, afirmou que o foro deve se aplicar apenas a crimes
cometidos durante o exerccio do cargo, e deve ser relacionado funo
desempenhada. Outro entendimento adotado pelo Ministro foi de que a
competncia se torna definitiva aps o final da instruo. A partir desse
momento, a competncia para julgar o caso no ser mais afetada por
eventual mudana no cargo ocupado pelo agente pblico.
O voto baseou-se no entendimento de que a atuao criminal
originria ampla do Supremo Tribunal Federal tornou-se contraproducente
em razo do grande volume de processos e da pouca vocao da sua
estrutura para atuar na rea. O resultado leva demora nos julgamentos,
prescrio e cria um obstculo atuao do Supremo como corte
constitucional.
Para ele, o foro se tornou penosamente disfuncional na experincia
brasileira por duas razes. A primeira delas atribuir ao Supremo Tribunal
Federal uma competncia para a qual ele no vocacionado. Nenhuma
corte constitucional do mundo tem a quantidade de processos de
competncia originria em matria penal como o Supremo Tribunal
Federal, citando que havia mais de 500 inquritos e aes penais em
curso na Casa, e lembrando que o julgamento de um deles, a Ao Penal
n 470 (do chamado mensalo), durou 69 sesses.
Ademais, os procedimentos que regem o funcionamento do Tribunal
so mais complexos do que os utilizados pela primeira instncia, o que
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pode levar demora nos julgamentos e prescrio das penas,
ressaltando que o objetivo do foro proteger o cargo e garantir a
autonomia de seu exerccio, portanto, no fazia sentido atribuir a proteo
prevista constitucionalmente ao indivduo que o ocupa. Assim, devem-se
excluir dos atos amparados pela regra aqueles sem relao com o cargo.
Outro problema citado foi o sobe e desce processual que, segundo
o Ministro, retarda o processo e afeta a credibilidade do sistema penal. A
brecha acaba sendo usada pelos acusados, que obtm ou renunciam a
cargos a fim de alterar o foro competente e adiar a concluso do processo,
segundo palavras do relator.
No voto foi citado estudo elaborado pela Fundao Getlio Vargas
sobre o tema, segundo o qual o novo entendimento reduziria em mais de
90% os inquritos e aes penais em curso no Tribunal. Ainda segundo o
estudo, pouco mais de 5% das aes penais em curso tiveram origem no
prprio Supremo Tribunal Federal.
No dia seguinte, 1. de junho, o julgamento foi retomado, mas um
pedido de vista do Ministro Alexandre de Moraes suspendeu a sesso.
Para o Ministro, no era possvel se analisar a questo apenas sob o
ponto de vista do foro em determinada instncia, uma vez que eventual
alterao, como a proposta pelo relator do caso, traria repercusses
institucionais no mbito dos Trs Poderes e do Ministrio Pblico. Ele
tambm comentou que no existia estatstica ou estudo que comprovasse
o grau de efetividade no processamento de aes penais antes e depois
do aumento das hipteses de foro privilegiado, prevista na Constituio de
1988, no sendo possvel estabelecer uma conexo, seja ela histrica,
sociolgica ou jurdica, entre a criao do chamado foro privilegiado e a
impunidade. A afirmao de que o foro na Suprema Corte acaba gerando
impunidade no s no tem respaldo estatstico, como acaba por ofender e
desonrar a prpria histria do Supremo.
Nesta sesso, o Ministro Marco Aurlio e as Ministras Rosa Weber e
Crmen Lcia anteciparam seus votos, acompanhando o relator. O
Ministro Marco Aurlio defendeu a aplicao do foro por prerrogativa de
funo apenas aos crimes cometidos no exerccio do cargo, relacionados
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s funes desempenhadas, assentando que, caso a autoridade deixe o
cargo, a prerrogativa cessa e o processo-crime permanece, em definitivo,
na primeira instncia da Justia. A fixao da competncia est
necessariamente ligada ao cargo ocupado na data da prtica do crime e
avaliou que tal competncia, em termos de prerrogativa, nica, portanto
no flexvel. A competncia que analisamos funcional e est no mbito
das competncias, ou incompetncias, absolutas. No se pode cogitar de
prorrogao. Se digo que a competncia funcional, a fixao, sob o
ngulo definitivo, ocorre considerado o cargo ocupado quando da prtica
delituosa, quando do crime, e a, evidentemente, h de haver o nexo de
causalidade, consideradas as atribuies do cargo e o desvio verificado."
J a Ministra Rosa Weber, que tambm acompanhou integralmente o
voto do relator, afirmou que a evoluo constitucional ampliou
progressivamente o instituto do foro por prerrogativa de funo. Diante
disso pertinente uma interpretao restritiva que o vincule aos crimes
cometidos no exerccio do cargo e em razo dele. O instituto do foro
especial, pelo qual no tenho a menor simpatia, mas que se encontra
albergado na nossa Constituio, s encontra razo de ser na proteo
dignidade do cargo, e no pessoa que o titulariza.
Tambm seguindo o voto do relator, a Ministra Crmen Lcia,
destacou que foro no escolha, e prerrogativa no privilgio. O Brasil
uma Repblica na esteira da qual a igualdade no opo, uma
imposio. Essa desigualao que feita para a fixao de competncia
dos tribunais, e, portanto, de definio de foro, se d em razo de
circunstncias muito especficas. A Constituio faz referncia a membros,
agentes ou cargos, portanto, no exerccio daqueles cargos que se
cometem as prticas que eventualmente podem ser objeto de
processamento e julgamento pelo Supremo e pelos rgos judiciais
competentes.
Ontem, 23 de novembro, foi retomado o julgamento e, mais uma vez,
suspenso em razo de um pedido de vista, desta vez do Ministro Dias
Toffoli. De toda maneira, at o momento, oito Ministros proferiram voto na
matria, seis acompanhando o entendimento do relator, no sentido de que
o foro se aplica apenas a crimes cometidos no exerccio do cargo e em
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razo das funes a ele relacionadas. Nesta sesso, o Ministro Alexandre
de Moraes divergiu parcialmente, pois, segundo seu voto, o foro deve
valer para crimes praticados no exerccio do cargo, mas alcanando todas
as infraes penais comuns, independentemente de se relacionaram ou
no com as funes do mandato.
Em seu voto-vista, o Ministro Alexandre de Moraes acompanhou o
relator na parte que fixa o foro no Supremo Tribunal Federal apenas para
os crimes praticados no exerccio do cargo, aps a diplomao, valendo
at o final do mandato ou da instruo processual. Para ele, estender a
prerrogativa para algum que praticou crime antes de ser parlamentar
afasta a relao com a finalidade protetiva do mandato, objetivo da
prerrogativa, que voltada para proteo institucional. uma prerrogativa
do Congresso, e no de quem sequer sabia que um dia seria
congressista. Na sua divergncia parcial, o Ministro afirmou que o texto
constitucional no deixa margem para que se possa dizer que o julgamento
das infraes penais comuns praticadas por parlamentares no seja de
competncia do Supremo Tribunal Federal. A expresso nas infraes
penais comuns`, contida no art. 102, I, b), alcana todo tipo de infraes
penais, ligadas ou no ao exerccio do mandato.
Em que pese o pedido de vista, adiantou seu voto o Ministro Edson
Fachin, salientando, entre outros pontos, que o princpio do duplo grau de
jurisdio atingido pela clusula de prerrogativa de foro. Algumas das
justificativas dadas para sustentar o instituto como a de que os tribunais
superiores seriam mais isentos e menos influenciveis, e como forma de
inibir demandas abusivas contra parlamentares para concluir que essas
justificativas no so compatveis com a Constituio, uma vez que o
julgamento imparcial e independente direito de todos os cidados.
Tambm o fez o Ministro Luiz Fux, igualmente acompanhando
integralmente o voto do relator. Para ele, a leitura do texto constitucional
indica que a competncia do Supremo preservada quando o ato ilcito
praticado no exerccio do cargo e em razo do cargo, afirmando que tinha
tambm preocupao com as declinaes de foro, concluindo que era
preciso que os casos tenham seu juzo prprio, e que ao Supremo fossem
reservados apenas os ilcitos cometidos no cargo e em razo dele.
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Por fim, o decano, Ministro Celso de Mello, destacou em seu voto
que existem cerca de 800 autoridades com prerrogativa de foro apenas no
Supremo, entre autoridades do Executivo, militares, ministros de tribunais
superiores e outros, revelando ser um defensor da supresso de todas as
prerrogativas em matria criminal, por entender que todos os cidados
devem estar sujeitos jurisdio comum de magistrados de primeira
instncia, lembrando, outrossim, que, no incio do julgamento da Ao
Penal n. 470, em agosto de 2012, j havia manifestado seu entendimento
no sentido de que a prerrogativa merecia uma nova discusso. Para o
decano, dever-se-ia reconhecer, mediante legtima interpretao do texto
constitucional, que a prerrogativa s deve se aplicar a delitos praticados na
vigncia da titularidade funcional e que guarde ntima conexo com o
desempenho das atividades inerentes ao referido cargo ou mandato. Com
esses fundamentos, o Ministro acompanhou integralmente o voto do
relator.
Observa-se, portanto, que, nada obstante o pedido de vista mais uma
vez feito neste julgamento, a questo j est praticamente decidida no
sentido do entendimento firmado no voto do Ministro Lus Roberto Barroso,
a saber:
Primeiro: o foro por prerrogativa de funo aplica-se apenas aos
crimes cometidos durante o exerccio do cargo e relacionados s funes
desempenhadas.
Segundo: aps o final da instruo processual, com a publicao do
despacho de intimao para apresentao de alegaes finais, a
competncia para processar e julgar aes penais no ser mais afetada
em razo de o agente pblico vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo
que ocupava, qualquer que seja o motivo.
Terceiro: terminado definitivamente o julgamento, o entendimento
aplicar-se- a todos os processos pendentes no Supremo Tribunal Federal,
por se tratar de uma regra fixadora da competncia.
Oxal, na prxima sesso, tenhamos finalmente a deciso final, com
uma observao: creio que essa interpretao dada pela Suprema Corte
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(para mim correta, enquanto no se acaba de uma vez por todas com a
competncia por prerrogativa de funo via uma emenda Constituio),
fatalmente atingir todo e qualquer ru que tenha prerrogativa de foro, e
no somente os parlamentares federais.
Assim, doravante, Prefeitos, Deputados Estaduais, Magistrados,
membros do Ministrio Pblico, Ministros, etc, etc., deixaro de ter tal
prerrogativa, salvo em relao aos crimes cometidos durante o exerccio
do cargo e relacionados s funes desempenhadas. Ademais, aps o
final da instruo processual, com a publicao do despacho de intimao
para apresentao de alegaes finais, a competncia para processar e
julgar as respectivas aes penais no ser mais afetada em razo de o
agente pblico vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo.
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LEI DE CRIMES HEDIONDOS E SUA APLICAO NA JUSTIA
MILITAR FACE LEI N13.491/17
EDUARDO LUIZ SANTOS
CABETTE: Delegado de Polcia, Mestre em
Direito Social, Ps - graduado com
especializao em Direito Penal e Criminologia,
Professor de Direito Penal, Processo Penal,
Criminologia e Legislao Penal e Processual
Penal Especial na graduao e na ps -
graduao da Unisal e Membro do Grupo de
Pesquisa de tica e Direitos Fundamentais do
Programa de Mestrado da Unisal.
Coautor: FRANCISCO SANNINI NETO: Delegado de Polcia, Mestre em Direitos Difusos e Coletivos. Ps-Graduado com Especializao em Direito Pblico. Professor da Graduao e da Ps-Graduao do Centro Universitrio Salesiano de Lorena/SP. Professor Concursado da Academia de Polcia do Estado de So Paulo. Professor do Complexo Educacional Damsio de Jesus.
O presente texto tem o intuito de discutir a questo da
aplicabilidade ou no da Lei dos Crimes Hediondos Justia Militar a partir
da inovao legislativa promovida pela Lei 13.491/17.
Em breve artigo, Fernando Galvo afirma que a partir da edio da
Lei 13.491/17, ser possvel caracterizar um crime militar hediondo.[1]A
nosso ver a assertiva do respeitvel estudioso deve ser acatada cum
grano salis, mesmo porque, no espao que reservou anlise do tema,
no lhe foi possvel um maior desenvolvimento da ideia exposta de forma
por demais sucinta.
Por obviedade, Galvo retira sua concluso e aplaude a
possibilidade de aplicao da Lei dos Crimes Hediondos na Justia Militar
porque, at ento, essa afirmao seria impossvel, dada a redao
restritiva do Cdigo Penal Militar, antes do advento da Lei 13.491/17, bem
como (e mais relevante), tendo em vista a redao da prpria Lei dos
Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), que somente faz referncia explcita a
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tipos penais da legislao penal comum, incidindo, portanto, o bice de
aplicao no mbito castrense por fora do Princpio da Legalidade.
Esse quadro era realmente lastimvel, pois criava um abismo de
desproporo entre o tratamento dado a civis e a militares no caso de
prtica de crimes considerados hediondos na legislao comum, mas para
os quais tal qualificao no existia no Cdigo Penal Militar e nem havia
referncia na Lei dos Crimes Hediondos. Havia uma clara e evidente
violao ao Princpio da Proporcionalidade quando, por exemplo, um civil
era condenado com os rigores da Lei 8.072/90 pela prtica de estupro e
um militar em servio ou em rea sob administrao militar, cometendo o
mesmo ilcito, mas previsto no CPM, no recebia o mesmo tratamento
jurdico-penal. No havia justificativa plausvel para tanto.
Contudo, a euforia embutida na afirmao de Galvo um tanto
quanto exagerada, pois que a questo no foi devidamente solucionada,
ao menos no em sua totalidade, por fora da Lei 13.491/17.
verdade que o artigo 9, inciso II, do CPM , passa para a
competncia da Justia Militar todos os crimes previstos no CPM e mais
os previstos na legislao penal, quando perpetrados por militar em
servio ou em razo da funo. Entretanto, a regra de competncia e fala
em crimes previstos na legislao penal, ampliando sobremaneira o
conceito de crimes militares para abranger quaisquer infraes penais,
ainda que no dotadas de previso correspondente na legislao
castrense.[2] Pois ento, a nova normativa define regra
de competnciaatrelada ao conceito de crimes militares, sendo fato que a
Lei 8.072/90 no prev crime algum. Trata-se de uma lei com dispositivos
de carter penal, processual penal e de execuo penal, mas no com
previso de qualquer tipo penal. Assim sendo, num primeiro plano de
anlise, a alterao promovida no sistema de competncia da Justia
Militar pela Lei 13.491/17, nada teria a ver com os ditames da Lei 8.072/90.
Essa lei apenas arrola crimes previstos no Cdigo Penal Brasileiro e em
legislaes esparsas na condio de hediondos ou equiparados, mas no
prev tipo penal algum.
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A eventual concluso pela aplicabilidade da Lei dos Crimes
Hediondos na Justia Militar a partir do advento da Lei 13.491/17, no
pode derivar da simples e direta correlao entre tais diplomas, razo pela
qual a afirmao simplista e sucinta de Galvo precisa ser devidamente
esmiuada.
Como a Lei dos Crimes Hediondos no prev crimes, mas apenas
arrola certas infraes, j previstas na legislao penal comum, como
hediondos ou equiparados, no possvel concluir que a Lei 13.491/17, ao
afirmar que so crimes militares tambm os previstos na legislao penal
em geral empreende uma alterao capaz de fazer, por si s, que a Lei
dos Crimes Hediondos adentre Justia Castrense.
Na verdade, tal assertiva somente ser verdadeira nos casos em
que um militar vier a ser processado, na Justia Militar, por crime previsto
como hediondo ou equiparado na Lei 8.072/90, desde que em sua verso
prevista na lei penal comum, no no correspondente tipo penal previsto no
Cdigo Penal Militar. Ou seja, a possibilidade de aplicao da Lei dos
Crimes Hediondos Justia Militar ser, no mximo, parcial, perpetuando,
agora tambm internamente, na Justia Castrense, a violao do Princpio
da Proporcionalidade.
preciso atentar para o fato de que a Lei 8.072/90 sempre foi
eivada de vrios vcios e inconstitucionalidades, mas, tambm, sempre
teve uma virtude incontestvel no que diz respeito ao cumprimento do
Princpio da Legalidade Estrita. A catalogao, em rol taxativo, de quais
so os crimes hediondos, bem como os equiparados, sempre foi realizada
de forma clara e segura. No somente o nomen juris do crime
mencionado na Lei 8.072/90, mas o legislador tomou o cuidado de sempre
abrir um parntesis, onde descreve o exato artigo de lei, bem como seus
pargrafos e incisos, no deixando margem a qualquer equvoco. Nesse
aspecto, que se verifica que todas as referncias existentes na Lei dos
Crimes Hediondos so feitas a crimes previstos no Cdigo Penal Brasileiro
e em legislaes esparsas comuns, nada havendo ali que diga respeito ao
Cdigo Penal Militar. Eventual pretenso de equiparao por semelhana
constituiria espria analogia in mallam partem, vedada no Direito Penal.
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Por isso, at ento sempre foi pacfico o entendimento de que a Lei
dos Crimes Hediondos no tinha aplicao na Justia Militar. Gonalves,
por exemplo, afirma:
Adotou-se, portanto, um critrio que se baseia
exclusivamente na existncia de lei que confira
carter hediondo a certos ilcitos penais. Assim, por
mais grave que seja um determinado crime, o juiz no
lhe poder conferir o carter de hediondo, se tal ilcito
no constar do rol da Lei 8.072/90. Os crimes
militares no esto abrangidos nessa lei (grifo
nosso). [3]
No mesmo sentido assevera Capez: A Lei dos Crimes Hediondos
no alcana os delitos militares, j que no constam da relao numerus
clausus do art. 1. [4] Poder-se-ia argumentar que tais lies doutrinrias
so antecedentes Lei 13.491/17, mas tal assertiva seria equivocada,
confirmando o que nos ensina Eco, ou seja, que infinitas so as astcias
da razo.[5]
Ocorre que o advento da Lei 13.491/17, em nada altera o fato de
que a Lei 8.072/90, apresenta um rol taxativo de ilcitos considerados
hediondos ou equiparados, indicando sempre o artigo de lei a que se refere
e nunca fazendo meno a qualquer dispositivo do Cdigo Penal Militar.
Dessa maneira, quando a Lei 13.491/17, passa a abranger todo
crime da legislao penal brasileira como militar, desde que praticado em
servio ou em razo da funo, somente se poder aplicar a Lei dos
Crimes Hediondos na Justia Castrense quando o militar for processado
por tipo penal previsto na lei comum e sem correspondente no CPM, pois,
caso contrrio, obviamente, ser processado pelo correlato crime do CPM
e no pelo da legislao penal comum. Como o crime do CPM no contm
previso na Lei 8.072/90 e, portanto, no considerado hediondo, a Lei
8.072/90, no pode ser manejada, sob pena de violao frontal ao
Princpio da Legalidade Estrita.
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Exemplificando: digamos que um militar em servio pratique um
crime de estupro na forma do que seria o artigo 213, CP, constrangendo,
mediante violncia ou grave ameaa, uma mulher conjuno carnal. Este
dispositivo previsto como hediondo no artigo 1, V, da Lei 8.072/90. Mas,
tal legislao somente faz referncia ao crime do Cdigo Penal Brasileiro.
Estando o militar em servio, no responder pelo artigo 213, CP, mas
pelo artigo 232, CPM, o qual no arrolado pela Lei 8.072/90 como
hediondo. A aplicao dos ditames da Lei 8.072/90, fica, portanto, invivel
em face do Princpio da Legalidade. Dessa maneira, perpetua-se a
violao proporcionalidade que sempre existiu.
Doutra banda, se um militar, ainda que em servio, pratica crime de
tortura, o qual somente previsto na Lei 9.455/97, no tendo previso
correlata no CPM, a sim, poder-se- conjecturar da aplicao da Lei dos
Crimes Hediondos na Justia Militar. que nesse caso o militar, mesmo na
Justia Especial, responder pelo crime comum, j que inexiste
correspondente no CPM. Ora, esse crime de tortura, abrangido como
equiparado a hediondo pela Lei 8.072/90 em seu artigo 2, de maneira que
efetivamente, mesmo o militar estar submetido, agora na Justia Especial,
s regras dos Crimes Hediondos. Antes o seria tambm, mas na Justia
Comum. Nesse caso, tambm acaba havendo uma perpetuao da
violao da proporcionalidade. Agora de forma ainda mais ntida, porque
essa desproporo invade a seara da Justia Especial, ou seja, alguns
militares, processados de agora em diante na Justia Castrense, recebero
os rigores da Lei dos Crimes Hediondos, enquanto outros no os
recebero, mesmo dentro da mesma Justia Especial por absoluta falta de
sustentao legal para tanto.
Portanto, a nosso ver, a Lei 13.491/17, longe de solucionar a
violao proporcionalidade, a mantm a agudiza. Se antes a
desproporo somente ocorria entre Justia Comum e Justia Especial,
mantm-se a situao em vrios casos e ainda se cria, no seio da Justia
Militar, mais casos de tratamentos desproporcionais. Antes, ao menos,
ainda se poderia argumentar que o tratamento desigual se fazia em
justias diversas. Agora, a desproporo levada para o seio da prpria
Justia Especial.
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Parece-nos que a nica alternativa seria a previso de todos os
crimes militares que tm correlatos na Lei 8.072/90 como hediondos,
mediante uma reforma deste ltimo diploma legal. A sim, a Lei dos Crimes
Hediondos passaria a ser corretamente aplicada, com proporcionalidade e
igualdade a civis e militares, indistintamente, ou seja, a todos os civis e a
todos os militares que incidissem em prticas criminais consideradas
hediondas ou equiparadas.
Enquanto isso no acontece, o entusiasmo de Galvo e outros
autores ligados Justia Militar no se justifica, pois que a Lei 13.491/17
somente faz complicar ainda mais o quadro desproporcional j existente.
Alis, vm pululando interpretaes que rumam ao absurdo, num
incompreensvel enaltecer da Lei 13.491/17 e numa empreitada que move
montanhas de juridicidade com argumentos indefensveis, para ampliar de
forma incrvel o alcance da Justia Militar, defendendo-se, por exemplo, a
possibilidade de um Jri Militar ou mesmo de aplicao da Lei 9.099/95
no mbito castrense, inobstante ser o Jri uma instituio da Justia
Comum (isso contestado agora, mas de trivial conhecimento), jamais
de Justias Especiais, bem como o claro e evidente mandamento do artigo
90-A, da Lei 9.099/95, impedindo a aplicao das regras dos Juizados
Especiais Criminais Justia Militar.
Entretanto, no devemos nos assustar, pois como adverte o
historiador Paulo Mercadante, com base nas lies de Jean Cruet e Max
Nordau:
Na militncia agrega-se a flexibilidade da
hermenutica. Ela produz a jurisprudncia, artifcio ou
mentira, no dizer de Max Nordau, destinada a salvar
as aparncias, estabelecendo entre os princpios e
uma prtica contraditria o acordo puramente
exterior. [6]
A interpretao jurdica maculada por demais pela militncia,
ideologia ou corporativismo pode realmente levar a concluses das mais
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inusitadas, sustentadas numa lgica formalmente aprecivel, mas com um
contedo evidentemente invivel.[7]
REFERNCIAS
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Crimes Militares praticados contra
civil Competncia de acordo com a Lei 13.491/17. Disponvel
em www.jus.com.br , acesso em 04.11.2017.
__________. Direito, Moral e Cincia Contempornea. Disponvel
emwww.jus.com.br , acesso em 04.11.2017.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Volume IV. 10. ed. So
Paulo: Saraiva, 2015.
ECO, Umberto. Pape SatnAleppe. 2. ed. Trad. Eliana Aguiar. Rio de
Janeiro: Record, 2017.
GALVO, Fernando. Novos Desafios na Competncia Criminal.
Disponvel em http://www.aprapr.org.br/2017/10/16/justica-militar/ , acesso
em 04.11.2017.
GONALVES, Victor Eduardo Rios. Crimes Hediondos, Txicos,
Terrorismo, Tortura. So Paulo: Saraiva, 2001.
MERCADANTE, Paulo. A coerncia das incertezas. So Paulo:
Realizaes, 2001.
[1] GALVO, Fernando. Novos Desafios na Competncia Criminal. Disponvel em http://www.aprapr.org.br/2017/10/16/justica-militar/ , acesso em 04.11.2017.
[2]Sobre eventuais crticas a essa ampliao e outras vertentes interpretativas possveis, inclusive na linha de defesa da inconstitucionalidade dos dispositivos em destaque, j escrevemos: CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Crimes Militares praticados contra civil Competncia de acordo com a Lei 13.491/17. Disponvel em www.jus.com.br , acesso em 04.11.2017.
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[3] GONALVES, Victor Eduardo Rios. Crimes Hediondos, Txicos, Terrorismo, Tortura. So Paulo: Saraiva, 2001, p. 2 3.
[4] CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Volume IV. 10. ed. So Paulo: Saraiva, 2015, p. 199.
[5] ECO, Umberto. Pape SatnAleppe. 2. ed. Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2017, p. 136.
[6] MERCADANTE, Paulo. A coerncia das incertezas. So Paulo: Realizaes, 2001, p. 76.
[7] Do vazio da lgica e de sua conformao como mera estrutura do pensar, a qual nada tem a ver com o contedo do pensamento, j tratamos em outro texto, de forma bastante didtica: No obstante preciso lembrar que a lgica que orienta o pensamento analtico uma espcie de molde vazio que pode muitas vezes abrigar concluses absolutamente apartadas da realidade. Da mesma forma que se pode construir um silogismo famoso e verdadeiro como: Todo homem mortal Scrates homem Portanto, Scrates mortal. Tambm se pode erigir um silogismo falso, contudo logicamente (formalmente) perfeito como: Todo gato fala alemo Fnix um gato Portanto, Fnix fala alemo. CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Direito, Moral e Cincia Contempornea. Disponvel em www.jus.com.br , acesso em 04.11.2017.
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A JUSTIA RESTAURATIVA: UMA ALTERNATIVA PARA O SISTEMA
CARCERRIO BRASILEIRO
DANIELLE SILVA MANTOVANELLI:
Graduanda em Direito Pela Faculdade
Serra do Carmo.
ENIO WALCCER DE OLIVEIRA FILHO
(Orientador)[1]
RESUMO: Este artigo consiste em apresentar a Justia Restaurativa, como
uma alternativa para a soluo da crise no Sistema Carcerrio Brasileiro,
que diante do fracasso procuram-se mtodos para aplicao de um novo
modelo que define conceitos diferentes de justia e crime, o objetivo deste
trabalho apresentar e aplicar esse mtodo restaurativo para resolver os
conflitos da sociedade e sucessivamente a melhoria do sistema carcerrio
brasileiro. A Justia baseia-se num procedimento de consenso, em que a
vtima e o infrator, possam resolver seus conflitos de forma que alcancem
uma soluo ideal para ambos prtica restaurativa tm como premissa
maior reparar o mal causado esse novo modelo processual, vai muito alm
do punitivismo penal estabelecido atualmente.
Palavras Chave: justia restaurativa; sistema carcerrio; ressocializao.
ABSTRACT: This article presents Restorative Justice, as an alternative to
the solution of the crisis in the Brazilian Prison System, that, in the face of
failure, we look for methods to apply a new model that defines different
concepts of justice and crime, the objective of this work is present and
apply this restorative method to solve the conflicts of society and
successively the improvement of the Brazilian prison system. Justice is
based on a consensus procedure, in which the victim and the offender, can
solve their conflicts in a way that they can reach an ideal solution for both
restorative practice and have as premise to repair the evil caused by this
new procedural model, goes much further of criminal punitivism currently
established.
Keywords: restorative justice; prison system; re-socializ
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SUMRIO: 1.INTRODUO 2. A CRISE NO SISTEMA CARCERRIO
BRASILEIRO; 3.JUSTIA RESTAURATIVA UMA POSSIVL SOLUO
PARA A CRISE DO SISTEMA CARCERRIO; 3.1 AS ORIGENS DA
JUSTIA RESTAURATIVA; 3.2 JUSTIA RESTAURATIVA SEUS
PRINCPIOS E FUNDAMENTOS; 3.3 PRINCIPAIS PRTICAS
RESTAURATIVAS; 4. A JUSTIA RESTAURATIVA SUA
APLICABILIDADE E SEUS PROJETOS NO BRASIL; 4.1CRCULOS
RESTAURATIVOS E SUAS SOLUES; 5. CONSIDERAES FINAIS;
6. REFERENCIAS.
1. INTRODUO
O Direito Penal um sistema que, para alm da viso do senso
comum de servir punio, serve especialmente como limitador do poder
punitivo do Estado, estabelecendo regras e critrios especficos que
permitem e definem as possibilidades de interveno do Estado na
liberdade individual. um freio de legalidade que evita arbitrariedades no
uso do jus puniendi. Neste sentido, temos como postulados bsicos do
direito penal a anterioridade, a legalidade estrita, o devido processo legal e
diversos outros princpios que formam uma rede de proteo individual
contra intervenes arbitrrias na vida do cidado.
Contudo, no atual estado da arte no Brasil, o que se percebe a
existncia sistemtica de violaes em decorrncia do colapso no sistema
carcerrio brasileiro, com toda sorte de falhas estruturais submetendo os
detentos a situaes que colidem frontalmente com os postulados e
garantias que forma a base de nosso Estado de Direito.
Dentre os problemas do sistema de execuo penal brasileira
temos a falta de aplicao efetiva da Lei de Execues Penais, em
decorrncia direta da falta de investimento em uma estrutura
digna somando-se a essa precarizao a superlotao nos presdios
identificada pelo CNJ em acompanhamento da situao prisional brasileira.
Mesmo diante da escancarada realidade de precarizao do sistema
prisional brasileiro muito pouco feito pelos governos para resolver ou
equalizar essa situao, e em decorrncia disto as prises, que deveriam
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servir em seu sentido tambm como ambiente ressocializador do
delinquente torna-se tal e qual os antigos sistemas que visavam apenas o
sentido retributivo da pena (morte, tortura, penas corporais, etc.). Alguns
estudiosos consideram os presdios brasileiros equiparados a masmorras
medievais, locais de descarte humano a toda sorte de humilhaes e
degradaes, tornando quase que inatingvel quaisquer expectativas
relacionadas possibilidade de reintegrao e ressocializao do
delinquente aps o cumprimento de sua pena.[2]
O Estado tem o poder e dever de assegurar os direitos e
garantias dos detentos, mas infelizmente acaba se tornando ele prprio o
violador destas garantias. Conforme o artigo 5, inciso III da Constituio
Federal ningum ser submetido tortura nem a tratamento desumano
ou degradante, texto este que reflete e repete os postulados do prprio
sistema local e internacional de Direitos Humanos, considerado ncleo
essencial e universal de direitos individuais.[3]
O que se precisa consolidar dentro de um Estado de Direito que
todos esto igualmente submetidos s regras e todos, da mesma forma,
so sujeitos de direitos mnimos inerentes prpria humanidade. Esse
racionalismo uma caracterstica dos Estados modernos que denotam o
prprio grau de humanidade em que vive nossa sociedade.
Sem o respeito s garantias, e sem o trato humano com o detento,
torna-se impossvel que se possibilite a ressocializao de quem est
sendo dissocializado, desumanizado. A sistemtica violao da dignidade
da pessoa dentro do sistema carcerrio tem se mostrado fator que, alm
de no ressocializar, permite a cooptao deste detento para sistemas
paralelos e criminosos, fomentando a ampliao de faces criminosas no
Brasil.
Neste sentido que a Justia Restaurativa valoriza a autonomia dos
sujeitos e do dilogo entre eles com o principal objetivo de humanizar o
sistema de recuperao do delinquente, transpondo o foco da
ressocializao tradicional desde a transgresso e a culpa para o mbito
positivo de possibilidades prospectivas do sujeito na sociedade, ou seja, a
sua participao como cidado na sociedade na qual ele est inserido.
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Desta forma a Justia Restaurativa visa promover a
democracia ativa na qual no se pressupe que somente a vtima ou o
infrator so os afetados em seus relacionamentos, mas toda a
comunidade, porque, sofre as consequncias em sua totalidade.
A Justia Restaurativa no visa a impunidade, mas fazer com
que aquele que comete infraes perceba a gravidade de sua conduta e
se responsabilize pelos seus atos, por meio da realizao de crculos
com os ofensores, ofendidos e representantes da sociedade, de forma a
reduzir os ciclos de violncia e criminalidade e promover uma cultura da
paz por meio do dilogo e da participao da sociedade neste sistema.
Assim afasta-se a ideia de apenas determinar a culpa e a
consequente pena ao transgressor, mas tambm de faz-lo
compreender que para aquele ato infracional existem possveis
sanes e lev-lo a pensar na responsabilidade de no reincidir. Ao
invs de definir a justia como retribuio, busca-se o foco na
restaurao, ou seja: se o crime um ato lesivo, a justia significar
reparar a leso e promoo da cura. Atos de restaurao - ao invs de
mais violao, devem contrabalancear o dano ocasionado promovendo
a insero por meio da responsabilidade e no da punio.
Este trabalho busca uma compreenso da possibilidade de que
a Justia Restaurativa seja uma alternativa vivel de incorporao de
um sistema mais humano e que vise efetivamente a recuperao do
delinquente para alm do sistema puramente retribucionista que tem se
tornado o sistema prisional brasileiro.
A proposta apresentada como uma possibilidade de avano
naquilo que preconiza o sistema penal brasileiro, sob o aspecto normativo,
tanto no que concerne aos Tratados dos quais somos parte, como a nossa
Constituio e as demais leis instituindo prticas socioeducativas,
democrticas e articuladas, oportunizando assim corresponsabilidades nas
intervenes institucionais, na perspectiva de um novo Sistema de
Garantia de Direitos.
2. A CRISE NO SISTEMA CARCERRIO BRASILEIRO
O reconhecido fracasso do sistema punitivo no novidade no
Brasil, o sistema atual de justia criminal est em crise e se encontra
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deteriorado, com presdios superlotados que no oferecem o mnimo de
condies para atender s necessidades dos presos, com um aumento
significativo de crimes a crise no sistema carcerrio no Brasil no tem
um fim e o Estado no apresenta uma soluo para o problema e isto
afeta o ordenamento jurdico, a dignidade da pessoa humana e toda a
sociedade que sofre suas consequncias.
Segundo os ltimos dados divulgados em 2014
pelo Sistema Integrado de Informaes Penitencirias
do Ministrio da Justia (Infopen), o Brasil chegou
marca de 607,7 mil presos. Desta populao, 41%
aguarda por julgamento atrs das grades. Ou seja, h
222 mil pessoas presas sem condenao, a
morosidade nos julgamentos s aumenta a quantidade
de presidirios. De acordo com o jornal Folha de So
Paulo, os presos provisrios custam R$6,4 bilhes por
ano e isso devido rigorosidade das leis brasileiras
pelo crime de trfico de drogas tambm, pela lentido
da justia na elaborao das sentenas finais. Dessa
maneira, o investimento que o Governo Federal dispe
para melhorar essa situao, no suficiente, pois
haver um crescimento nos gastos relacionados com a
gesto das pessoas detidas, consequentemente, causa
a superlotao nos presdios do Brasil. (PRUDENTE,
2012, online)
A reincidncia grande, o que gera uma pergunta na sociedade
e que muitos de ns j ouvimos. Se o sistema carcerrio to ruim por
que os reincidentes cometem novos crimes para voltar? A resposta
a falta de oportunidades de trabalho ao ex-presidirio, e a nica opo
que lhe resta voltar a infringir a lei, pois quando retornam ao convvio
social como se a prpria coletividade o empurrasse novamente para
o mundo do crime. H um certo preconceito e isso tudo sem dvida,
torna pouco provvel a reabilitao de um ex-detento. Umareportagem
publicada pela Gazeta do Povo[4]revela o drama de presos que so
despejados na sociedade aps anos de encarceramento sem que, du-
rante esse perodo, o Estado tenha tomado providncias para que essas
pessoas se tornassem aptas a encarar o novo desafio. H o
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preconceito, a dificuldade de arranjar trabalho, a necessidade de se
readaptar. E h o medo de cair de novo em erro.
Sentindo-se desamparados e desumanizados pelo Estado, os
presidirios, prometendo lutar por seus direitos, deram origem s
faces, organizaes controladas por criminosos que esto dentro do
sistema penitencirio e tambm fora dele, usando da violncia como
principal arma para desestabilizar os rgos de segurana e a
sociedade. Com a reincidncia, torna-se cada vez mais difcil a
reabilitao, de modo que, dentro dos presdios os detentos sofrem
com abusos tanto por parte dos agentes penitencirios quanto de
outros detentos. Acuados, a nica opo que lhes resta se unir as
chamadas Faces. (PELIZZOLI, 2014)
Apesar de serem originadas em determinada localidade, no
incomum que as faces se alastrem por todo o territrio nacional e
assim ocorreu com o PCC, considerada a maior faco do Brasil.
O PCC surgiu em 1993, na casa de custodia de Taubat-SP, mais
conhecido como Masmorra, pela severidade dos castigos aplicados.
Na inteno de lutar por seus direito alguns detentos de uniram e
formaram uma espcie de partido, e posteriormente, formularam um
estatuto que regulamentava as normas internas do grupo, e a relao
entre o partido e o Comando Vermelho do Rio de Janeiro. (ZIZEK,
2006)
O estatuto foi publicado no Jornal Folha de So Paulo em 25 de
Maio de 1997, e dispunha de dezesseis itens, sendo o de maior
relevncia o de nmero 13, que diz:
Temos que permanecer unidos e organizados
para evitarmos que ocorra novamente um massacre,
semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de
Deteno em 2 de Outubro de 1992, onde 111
presos foram covardemente assassinados, massacre
esse que jamais ser esquecido na sociedade
brasileira. Por que ns do Comando vamos sacudir o
Sistema, e fazer essas autoridades mudar a pratica
carcerria, desumana, cheia de injustia, opresso,
torturas, massacres nas prises. (VASCONCELOS,
2008)
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A criao do PCC e de tantas outras faces prova de que a
incompetncia na administrao do crcere no Brasil tem um longo
histrico, fazendo-senecessrio repensar as prticas de resoluo de
conflitos, de modo que, desde as camadas mais pobres da sociedade,
se liberte gradualmente dos processos de criminalizao e da ideologia
punitivista.
Informou Lindomar Sobrinho, presidente do
Sindicato dos Agentes Penitencirios de Roraima:
Os agentes agiram de pronto e pararam a carnificina.
Se eles no tivessem agido, teria sido muito maior.
(CARTA CAPITAL, 2017, on line)
Quando se fala da carnificina nos presdios Brasileiros logo se
imagina que isso uma coisa dos dias atuais, devido ao aumento
significativo dos crimes, criao de novos ilcitos penais, crise
econmica brasileira, etc. Porm o sistema Carcerrio Brasileiro nunca
foi modelo a ser seguido, no ano de 1952, O Massacre da Ilha Anchieta
foi uma das maiores rebelies nos presdios[5], de acordo com jornais
da poca[6] o nmero de mortos passaram de 100, se faz necessrio
repensar se passou 65 anos e nada mudou, esse grande problema
passa por vrias geraes uma situao complexa e ambgua, nos
primeiros dias do ano de 2017 o sistema carcerrio explodiu, ocorrendo
em menos de 15 dias rebelies em diversos presdios dos estados
brasileiros deixando mais de 130 mortos.[7]
Como se pode observa as prticas de resoluo de conflitos
aplicada durante dcadas no esto surtindo o seu devido efeito, deve
se pensar, desde as camadas mais pobres da sociedade, para que est
se liberte gradualmente dos processos de criminalizao e da ideologia
punitivista.
3. JUSTIA RESTAURATIVA UMA POSSIVL SOLUO PARA A
CRISE DO SISTEMA CARCERRIO
Sendo uma novidade no Brasil a sua veloz difuso
conceitual para a Justia Restaurativa que em contraposio ao
atual sistema penal retributivo[8] no qual segue a ideologia
punitivista, ao contrrio ento da justia tradicional que no se
preocupa com a violao da norma que atinge os presos a vtima e
toda a comunidade, a Justia Restaurativa valoriza a autonomia dos
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sujeitos e do dilogo entre eles com o principal objetivo de
humanizar o sistema, que ao invs de versar sobre transgresses
ou a culpa, materializa as possibilidades concretas da participao
individual e social do indivduo na sociedade.
A importncia da Justia Restaurativa para o sistema
retributivo um dos benefcios mais evidente e imediato para o
sistema de justia formal o efeito conciliador, pois ao evitar que
certos litgios cheguem aos bancos judiciais o resultado se torna
visvel, porque o Judicirio liberado das grandes filas de casos
para julgar e no havendo grandes demandas certamente o
judicirio ir analisar as lides de forma mais eficaz.
A Justia Restaurativa ento uma das alternativas para
contribuir e minimizar o problema carcerrio Brasileiro, pois o
modelo inova ao solucionar conflitos, antes que haja a punio
proposta pela justia criminal, com ela pretende solucionar o
conflito reiterando o comprometimento das partes na busca de uma
soluo negociada reduzindo os efeitos estigmatizantes de uma
eventual vitria ou derrota processuale restabelecer o convvio
social tanto da vtima quanto do agressor, resgatando a sensao
de segurana da comunidade e gerando um enorme potencial de
pacificao social.(Prtica da Justia Restaurativa, 2005, p.83)
Essa nova Justia se apresenta como uma alternativa ao atual
modelo retributivo ao exemplo que no objetiva a punio e sim a
restaurao do ofensor, tem um cuidado maior deve ser dispensado
quando o ofensor se tratar de criana ou adolescente, para isso tem
a obrigatoriedade de se levar em considerao o tratamento
disponibilizado pelo ECA Estatuto da Criana e do Adolescente a
esses menores infratores, para que o modelo restaurativo possa
contribuir de forma veemente na solues desses conflitos.
Faz-se compreender que o trabalho da justia
restaurativa no voltada para o delito, mas sim a consequncia do
conflito gerado por este, o modelo restaurativo visa complementar o
tratamento da retribuio dada ao ofensor pelo Estado visto que
esta no dirimi o conflito apenas pune o agente e esse o trauma
tanto da vtima quanto do ofensor, que muitas vezes a Justia
Restaurativa chamada para se manifestar, pois a sociedade vive
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numa convivncia distncia, em contato ento podemos notar que
essa justia tende a promover uma intensificao do papel
comunitrio na promoo da segurana. (CARVALHO Luiza, 2015)
3.1 AS ORIGENS DA JUSTIA RESTAURATIVA
Segundo Albert Eglash(2011,p.19)a Justia Restaurativa surgiu em
meados da dcada de 70, como resultados de antigas tradies pautadas
em dilogos, de acordo com a histria da humanidade as civilizaes
antigas at a nossa sociedade contempornea incluindo os grupos
familiares, e os povos indgenas criaram solues para seus conflitos, os
construtores de consensos originrios se deram em grande escala em
pases como Nova Zelndia, Canad, Estados Unidos, Brasil dentre outros,
o surgimento da justia nestes pases foi influenciando principalmente
pelas propostas abolicionistas do atual sistema penal e de grupos crticos
da rea penal interessados em busca de alternativas a priso aps o
aumento da criminalidade e grande quantidade de presos.
A Justia Restaurativa ficou mundialmente conhecida pelo livro
Trocando as Lentes: Um Novo Foco sobre Crime e Justia, do americano
HowardZehr (2014.p6), na dcada de 90 e se tornou um dos principais
movimentos de reforma do sistema criminal e se tornou um dos principais
motivos da reforma no sistema criminal sendo reconhecido e recomendado
pela Organizao das Naes Unidas e pela Unio Europia e como forma
de incentivar tais regras e regulamentar as prticas no mundo, ONU
emitiu trs resolues de 1999 a 2002 e essas resolues so referente a
justia restaurativa nos pases que so signatrios da ONU.
Tais prticas tm razes em dimenses gregrias to antigas quanto
organizao das comunidades humanas, na medida em que uma
comunidade para se manter e conviver precisa ter uma tica e justia em
seu modo de ser um sistema de manuteno de relaes que evite ou
repare danos e ofensas causados entre os participantes ou litigantes,
podemos dizer que as comunidades humanas funcionam na base da teoria
do dom da resoluo de conflitos. (MARIOTI, 2000)
3.2 JUSTIA RESTAURATIVA SEUS PRINCPIOS E
FUNDAMENTOS
Cada instituto tem sua base, sob a qual se justifica e se funda a
sua razo de ser, a Justia Restaurativa por versarem sobre normas de
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comportamento social tem o seu fundamento maior os princpios e
direitos da dignidade da pessoa humana inicialmente, os princpios
fundamentais da pessoa humana, e os princpios norteadores do direito
penal correlatos com a essa nova justia, sob os quais faremos breves
comentrios para melhor inteligncia do tema.
Nas ltimas dcadas tem crescido a busca por alternativas para a
administrao de conflitos na sociedade. O Direito Penal e o Direito
Processual Penal, por meio dos rgos da administrao de justia
criminal monopolizam a sistemtica de resoluo dos litgios. As prticas
da Justia Restaurativa tm um novo paradigma na resoluo de conflitos
por meio do dilogo e a resoluo dos danos em que vtima e autores
esto envolvidos em busca da recuperao da relao entre as pessoas o
novo modelo restaurativo baseia-se em valores, resultados definidos e
procedimentos.
As dificuldades enfrentadas na atualidade pelo sistema prisional
brasileiro voltam-se para a morosidade na tramitao dos processos alm
da superlotao nos presdios que no conseguem responder ao apelo
social que clama pela reduo da violncia, de respostas cleres do
judicirio para a resoluo dos conflitos sociais. Neste sentido a Justia
Restaurativa surge como um caminho vivel e uma alternativa muito mais
ampla do crime baseiam-se em um modelo no punitivo, mas sim na
anlise do fato danoso observando suas consequncias e procurando as
possveis solues para a sociedade brasileira.
3.3 PRINCIPAIS PRTICAS RESTAURATIVAS
Em conformidade com os valores e princpios mencionados acima,
diversas podem ser as prticas restaurativas, que, por sua vez, no
impedem que novos modelos sejam criados, ou que os ja? existentes
sejam adaptados e modificados em conformidade com as demandas
especficas de cada local. Walgrave (2008, p. 31-41), no entanto,
selecionou, as prticas mais conhecidas atualmente, apresentando-as da
seguinte maneira:
A Justia Restaurativa tem um especial interesse pelas
necessidades das vtimas que no so adequadamente atendidas pelo
sistema judicirio penal, entre elas: informao, narrao dos fatos,
recuperao do senso de controle e reparao ou reivindicao.
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Como o foco principal deixa se ter a averiguao dos fatos para
posterior responsabilizar o acusado, um servio de apoio a? vtima,
conforme o autor (Walgrave, 2008, p. 32) ,deve ser a primeira e mais
importante condio para fazer a justia, toda projeo, previso ou
planificao do trip da Justia Restaurativa, tem como sua base em que
nada pode concorrer com o dilogo franco aberto com a vtima e acusado,
no certo que a negociao do conflito seja como um jogo de soma que
se soma zero, no qual uma parte ganha e automaticamente a outra perde,
pelo ao contrrio, a criao de valor sempre est presente, at naqueles
casos em que parece que tudo se reduz a uma equao matemtica de
forma negativa.
nestas necessidades que o sujeito tem a possibilidade de ser
escutado e uma das ferramentas mais importante para resolver conflitos
saber escutar com ateno e pedir explicaes, conhecer a outra histria
de permitir o arrependimento e a desculpa do ofensor e ter uma reparao
pelo dano sofrido.
Para o ofensor, a possibilidade de poder encontrar-se com sua
vtima e sua necessidade de responsabilizar-se positivamente e restaurar
sua imagem como pessoa para assumir compromissos e condutas valiosas
para o futuro que ambos os sujeitos juntamente com a comunidade
possam trabalhar na recomposio do relacionamento quanto seja
necessrio, tendo oportunidade de administrar os conflitos numa
experincia com um forte contedo pedaggico nesse sentido e cuja a
realizao mo pode estar ausente a comunidade.
Os encontros vtima e acusado devem ser realizados em espaos
onde todos os participantes o faam autenticamente e livres de perigo da
revitimizao, em sntese, no pode existir um programa de Justia
Restaurativa sem sua articulao com um programa vitimolgico.
Conforme a Resoluo 225, versa sobre as prticas restaurativas e
tem como o foco a satisfao das necessidades dos envolvidos, tanto
comunidade a vtima e o ofensor, a responsabilizao ativa daqueles que
contriburam direta ou indiretamente para a ocorrncia do fato danoso e o
empoderamento da comunidade, destacando a necessidade da reparao
do dano e da recomposio do tecido social rompido pelo conflito e as
suas implicaes para o futuro.
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4. A JUSTIA RESTAURATIVA SUA APLICABILIDADE E SEUS
PROJETOS NO BRASIL
Importante mencionar que diversos programas de administrao
alternativa de conflitos se encontram em operao, na condio de
projetos-piloto ou de funcionamento continuo. Referidos programas e
projetos so importantes para demonstrarem a efetiva existncia de
diferentes iniciativas de sistemas alternativos de resoluo de conflitos.
(2014, p.219)
Em levantamento realizado no ano de 2005[9] pelo Ministrio da
Justia, por intermdio de parceria entre a Secretaria de Reforma do
Judicirio e o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), foram mapeados 67 programas alternativos de administrao de
conflitos, em funcionamento em 22 Estados brasileiros.
A implementao oficial da Justia Restaurativa no Brasil
aconteceu a partir de 2005, atravs do projeto Promovendo Prticas
Restaurativas no Sistema de Justia Brasileiro, iniciativa da Secretaria da
Reforma do Judicirio do Ministrio da Justia em colaborao com o
Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento PNUD. Foram
criados trs projetos-piloto em Porto Alegre (RS), Braslia (DF) e em So
Caetano do Sul (SP), mas em foi em Porto Alegre que a Justia
Restaurativa tomou forma e foi chamada de Projeto Justia para o Sculo
21, um articulado de aes interinstitucionais liderados pela Associao
dos Juzes do Rio Grande do Sul (AJURIS) com o objetivo de difundir a
Justia Restaurativa na pacificao de conflitos e violncias envolvendo
crianas, adolescentes e seu entorno familiar e comunitrio.(2011, p.18)
Como explicitado no tpico anterior um dos trs projetos-piloto foi
em Porto Alegre/RS e com o nome de Justia do Sculo 21, foi
coordenado ento pela 3 Vara Regional da Infncia e da Juventude de
Porto Alegre, que se iniciou as prticas restaurativas, na qual o tema
adotado foi o crculo restaurativo com a participao principal da vtima e o
seu grupo familiar e a ofensor aplicando as medidas socioeducativas.
Em So Caetano do Sul/SP(2011,p.57) foi adotado um projeto de
nome Justia, Educao, Comunidade: Parcerias para a Cidadania, esse
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projeto teve inicio em 2008 e ainda est em desenvolvimento a prtica
utilizada so os crculos e cirandas com crianas menores de 12 anos,
usando a tcnica de comunicao no violenta, os crculos so realizados
em mais de 11 escolas atualmente, bem como no Frum e no Conselho
Tutelar da cidade.
J em Araguana/ TO no ano de 2013 foi implantada a Justia
Restaurativa o juiz titular da 2 Vara Criminal e Execues Penais da
Comarca de Araguana, Antnio Dantas, colocou a unidade judiciria como
referncia na aplicao da Justia Restaurativa no pas. A prxima etapa
do projeto fazer com que tambm as vtimas possam participar dos
crculos restaurativos. O projeto em Araguana foi um dos finalista no
Prmio Innovare 2016.
4.1CRCULOS RESTAURATIVOS E SUAS SOLUES
Atravs da implantao dos projetos de justia restaurativa no Brasil,
pode-se constatar uma evoluo na reabilitao de jovens que haviam
cometido algum tipo de delito, o que em outrora, acarretaria em uma
punio, talvez, exacerbadamente exagerada.
Podemos citar alguns casos reais em que a justia restaurativa
cumpriu o papel a que se props:
Caso 1:
Em Caxias do Sul (RS), um assalto mo
armada envolvendo trs adolescentes encontrou uma
sada em uma nova metodologia de soluo de
conflitos. O caso, que poderia terminar com mais trs
adolescentes em unidades socioeducativas lotadas,
foi resolvido com base na Justia Restaurativa, ou os
chamados crculos restaurativos. No caso do assalto,
os trs adolescentes, os familiares e o dono do
restaurante roubado foram convidados a participar do
crculo, onde, juntos, decidiram a melhor forma de
solucionar o conflito. Os jovens cumpriram regime de
liberdade assistida e devolveram o valor roubado.