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BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 830 (Ano IX) (02/12/2017) ISSN - 1984-0454 BRASÍLIA - 2017 Boletim Conteúdo Jurídico - ISSN – 1984-0454

BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 830 · » A harmonia entre os Poderes e o Judiciário como guardião dos direitos e ... Para ele, “o foro se tornou penosamente disfuncional na experiência

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    BOLETIM CONTEDO

    JURDICO N. 830 (Ano IX)

    (02/12/2017)

    ISSN - 1984-0454

    BRASLIA - 2017

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    Conselho Editorial

    VALDINEI CORDEIRO COIMBRA (DF) - Coordenador-Geral. Fundador do Contedo Jurdico. Mestre em Direito Penal Internacional Universidade de Granda/Espanha.

    MARCELO FERNANDO BORSIO (MG): Ps-doutor em Direito da Seguridade Social pela Universidade Complutense de Madrid. Ps-Doutorando em Direito Previdencirio pela Univ. de Milo. Doutor e Mestre em Direito Previdencirio pela Pontifcia Universidade Catlica/SP.

    FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito Administrativo pela UFMG.

    RODRIGO LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em Cincias Jurdicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino - UMSA.

    MARCELO FERREIRA DE SOUZA (RJ): Mestre em Direito Pblico e Evoluo Social u, Especialista em Direito Penal e Processo Penal.

    KIYOSHI HARADA (SP): Advogado em So Paulo (SP). Especialista em Direito Tributrio e em Direito Financeiro pela FADUSP.

    SERGIMAR MARTINS DE ARAJO (Montreal/Canad): Advogado com mais de 10 anos de experincia. Especialista em Direito Processual Civil Internacional. Professor universitrio.

    Pas: Brasil. Cidade: Braslia DF. Endereo: SHN. Q. 02. Bl. F, Ed. Executive Office Tower. Sala 1308. Tel. 61-991773598 ou 61-3326-1789 Contato: [email protected]

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    WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR

    SUMRIO

    COLUNISTA DA SEMANA

    01/12/2017 Rmulo de Andrade Moreira

    O novo entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a

    competncia por prerrogativa de funo

    ARTIGOS

    01/12/2017 Eduardo Luiz Santos Cabette Lei de crimes hediondos e sua aplicao na Justia Militar face Lei

    n13.491/17

    01/12/2017 Danielle Silva Mantovanelli

    A Justia Restaurativa: uma alternativa para o Sistema Carcerrio Brasileiro

    01/12/2017 Jos Carlos Souza Camb dos Santos

    A defasagem da tabela do Imposto Sobre a Renda Pessoa Fsica

    01/12/2017 Jackson Carlos Mendes da Silva

    Ociosidade no Sistema Prisional

    01/12/2017 Fernando Rodrigues Batista

    A (de) mora processual penal, em face dos direitos e garantias fundamentais

    01/12/2017 Naianny Oliveira Arrais

    Violncia domstica e a aplicao das medidas protetivas da Lei Maria da

    Penha

    30/11/2017 Renata Moura Tupinamb

    Os pilares do Cdigo de Processo Penal de 1941 e sua incompatibilidade

    com a Constituio Federal de 1988

    30/11/2017 Isaac Fernandes de Castro

    A suspenso do fornecimento de energia eltrica para prestadores de servio

    pblico por inadimplncia luz do Cdigo de Defesa Do Consumidor

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    30/11/2017 Katia Dias Barros

    O dano moral e a responsabilidade civil no tocante ao extravio de bagagem

    em voos nacionais e internacionais

    30/11/2017 Caroline Evellym Inacio Rios

    Consideraes legais acerca da reduo da maioridade penal

    30/11/2017 Kessyara Silva Rodrigues

    O dano moral na relao de consumo: uma anlise quanto inscrio

    indevida do consumidor nos rgos de proteo ao crdito

    30/11/2017 Rafael Sulino de Castro

    Direito desportivo constitucional: o desporto educacional nas escolas pblicas

    de Palmas (TO)

    29/11/2017 Aloyzio Alves da Costa Neto

    A responsabilidade subsidiria do Poder Pblico pelo inadimplemento de

    encargos trabalhistas nos contratos de terceirizao de mo de obra.

    29/11/2017 Andrea Cerqueira Russo

    A escravido contempornea analisada luz da indstria txtil

    29/11/2017 Paulo Junior Moreira

    A harmonia entre os Poderes e o Judicirio como guardio dos direitos e

    garantias fundamentais.

    29/11/2017 Ranny Mychelly Oliveira Ferreira

    Da responsabilidade civil pelo abandono afetivo da mulher aps a dissoluo

    conjugal

    29/11/2017 Paulo Byron Oliveira Soares Neto

    Benefcios e malefcios da reduo da maioridade penal

    29/11/2017 Sergio Ricardo do Amaral Gurgel

    Pena de vida: O que cabe aos Severinos e Virgulinos.

    28/11/2017 Lana Vitria Pinheiro Carmo Lazzaretti

    A obrigatoriedade da audincia de conciliao e mediao no novo Cdigo de

    Processo Civil: uma anlise quanto eficcia da medida

    28/11/2017 Renata Moura Tupinamb

    http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.590096http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,o-dano-moral-e-a-responsabilidade-civil-no-tocante-ao-extravio-de-bagagem-em-voos-nacionais-e-internacionais,590087.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,o-dano-moral-e-a-responsabilidade-civil-no-tocante-ao-extravio-de-bagagem-em-voos-nacionais-e-internacionais,590087.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,consideracoes-legais-acerca-da-reducao-da-maioridade-penal,590085.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,o-dano-moral-na-relacao-de-consumo-uma-analise-quanto-a-inscricao-indevida-do-consumidor-nos-orgaos-de-proteca,590088.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,o-dano-moral-na-relacao-de-consumo-uma-analise-quanto-a-inscricao-indevida-do-consumidor-nos-orgaos-de-proteca,590088.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,direito-desportivo-constitucional-o-desporto-educacional-nas-escolas-publicas-de-palmas-to,590084.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,direito-desportivo-constitucional-o-desporto-educacional-nas-escolas-publicas-de-palmas-to,590084.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-responsabilidade-subsidiaria-do-poder-publico-pelo-inadimplemento-de-encargos-trabalhistas-nos-contratos-de-,590079.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-responsabilidade-subsidiaria-do-poder-publico-pelo-inadimplemento-de-encargos-trabalhistas-nos-contratos-de-,590079.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-escravidao-contemporanea-analisada-a-luz-da-industria-textil,590077.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-harmonia-entre-os-poderes-e-o-judiciario-como-guardiao-dos-direitos-e-garantias-fundamentais,590078.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-harmonia-entre-os-poderes-e-o-judiciario-como-guardiao-dos-direitos-e-garantias-fundamentais,590078.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,da-responsabilidade-civil-pelo-abandono-afetivo-da-mulher-apos-a-dissolucao-conjugal,590080.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,da-responsabilidade-civil-pelo-abandono-afetivo-da-mulher-apos-a-dissolucao-conjugal,590080.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,beneficios-e-maleficios-da-reducao-da-maioridade-penal,590081.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,pena-de-vida-o-que-cabe-aos-severinos-e-virgulinos,590083.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-obrigatoriedade-da-audiencia-de-conciliacao-e-mediacao-no-novo-codigo-de-processo-civil-uma-analise-quanto-a,590072.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-obrigatoriedade-da-audiencia-de-conciliacao-e-mediacao-no-novo-codigo-de-processo-civil-uma-analise-quanto-a,590072.html
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    A identidade de gnero no cenrio jurdico-social

    28/11/2017 Andrea Cerqueira Russo

    Uma anlise crtica da Lei 11.340/06 luz da expanso do iderio punitivista

    no Brasil

    28/11/2017 Eliezer Coelho Dias

    A Nova Lei da Terceirizao do Trabalho (Lei N13.429/2017)

    28/11/2017 Helmuth Perleberg Neto

    Efetivao do direito sade pblica por meio de decises judiciais

    28/11/2017 Paulo Byron Oliveira Soares Neto

    Comentrios acerca dos artigos 318 a 329 do Cdigo de Processo Civil

    brasileiro.

    27/11/2017 Saruzze Pereira Santos

    Consequncias psicolgicas e jurdicas do abandono afetivo

    27/11/2017 Kamille Neves Filgueiras Cabral de Souza

    A responsabilidade civil do mdico no procedimento cirrgico de cunho

    esttico

    27/11/2017 Andrea Cerqueira Russo

    Uma anlise da psicopatia e seu enquadramento jurdico-penal

    27/11/2017 Maria Eduarda Andrade e Silva

    A sentena de improcedncia por insuficincia de provas em aes coletivas:

    implicaes na coisa julgada e no interesse recursal

    27/11/2017 Lourranna Machado Sales

    Responsabilidade penal das pessoas jurdicas em crimes ambientais

    27/11/2017 Mariana Barbosa da Silva Uhlemann

    A isonomia entre servidores pblicos e empregados do setor privado no que

    se refere ao direito de greve e ao recebimento de salrio

    http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.590096http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-identidade-de-genero-no-cenario-juridico-social,590071.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,uma-analise-critica-da-lei-1134006-a-luz-da-expansao-do-ideario-punitivista-no-brasil,590075.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,uma-analise-critica-da-lei-1134006-a-luz-da-expansao-do-ideario-punitivista-no-brasil,590075.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-nova-lei-da-terceirizacao-do-trabalho-lei-n%C2%B0134292017,590073.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,efetivacao-do-direito-a-saude-publica-por-meio-de-decisoes-judiciais,590076.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,comentarios-acerca-dos-artigos-318-a-329-do-codigo-de-processo-civil-brasileiro,590074.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,comentarios-acerca-dos-artigos-318-a-329-do-codigo-de-processo-civil-brasileiro,590074.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,consequencias-psicologicas-e-juridicas-do-abandono-afetivo,590068.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-responsabilidade-civil-do-medico-no-procedimento-cirurgico-de-cunho-estetico,590064.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-responsabilidade-civil-do-medico-no-procedimento-cirurgico-de-cunho-estetico,590064.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,uma-analise-da-psicopatia-e-seu-enquadramento-juridico-penal,590070.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-sentenca-de-improcedencia-por-insuficiencia-de-provas-em-acoes-coletivas-implicacoes-na-coisa-julgada-e-no-,590065.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-sentenca-de-improcedencia-por-insuficiencia-de-provas-em-acoes-coletivas-implicacoes-na-coisa-julgada-e-no-,590065.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,responsabilidade-penal-das-pessoas-juridicas-em-crimes-ambientais,590069.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-isonomia-entre-servidores-publicos-e-empregados-do-setor-privado-no-que-se-refere-ao-direito-de-greve-e-ao-r,590066.htmlhttp://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-isonomia-entre-servidores-publicos-e-empregados-do-setor-privado-no-que-se-refere-ao-direito-de-greve-e-ao-r,590066.html
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    O NOVO ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SOBRE A COMPETNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNO

    RMULO DE ANDRADE MOREIRA: Procurador de Justia do Ministrio Pblico do Estado da Bahia. Professor de Direito Processual Penal da UNIFACS. Ps-graduado, lato sensu, pela Universidade de Salamanca/Espanha (Direito Processual Penal). Especialista em Processo pela UNIFACS.

    No dia 16 de fevereiro de 2017 o Ministro Lus Roberto

    Barroso encaminhou ao Plenrio do Supremo Tribunal Federal o

    julgamento da Ao Penal n. 937, por meio da qual um ex-Deputado

    Federal, que havia renunciado ao mandato para assumir a Prefeitura de

    um Municpio do Estado do Rio de Janeiro, responde pela prtica do crime

    de compra de votos. Naquela oportunidade, o Ministro pretendia discutir

    a questo de foro por prerrogativa de funo. No respectivo despacho, o

    relator afirmou que o suposto delito teria sido cometido em 2008, quando o

    ru disputou a Prefeitura. Eleito Prefeito, o caso comeou a ser julgado no

    Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, onde a denncia foi recebida

    em 2013. Com o encerramento do mandato frente da chefia do Executivo

    local, o caso foi encaminhado para a primeira instncia da Justia Eleitoral.

    Em 2015, como era o primeiro suplente de Deputado Federal de seu

    partido, ele passou a exercer o mandato diante do afastamento dos

    Deputados Federais eleitos, o que levou remessa dos autos ao Supremo

    Tribunal Federal. Em setembro de 2016, o ru foi efetivado em virtude da

    perda de mandato do titular, mas aps sua eleio novamente para a

    Prefeitura, tambm no ano passado, ele renunciou ao mandato de

    parlamentar (em janeiro de 2017), quando o processo j estava liberado

    para ser julgado pela Primeira Turma.

    Segundo afirmou o relator, poca, as diversas declinaes de

    competncia esto prestes a gerar a prescrio pela pena provvel, de

    modo a frustrar a realizao da justia, salientando que o sistema feito

    para no funcionar e o caso revelava a disfuncionalidade prtica do

    regime de foro, razo pela qual acreditava ser necessrio repensar a

    questo quanto prerrogativa.

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    Para o Ministro Barroso, havia problemas associados morosidade,

    impunidade e impropriedade de uma Suprema Corte ocupar-se como

    primeira instncia de centenas de processos criminais.

    Ao encaminhar o julgamento do tema para o Plenrio, por meio de

    questo de ordem, o relator sugeriu a anlise da possiblidade de conferir

    interpretao restritiva s normas da Constituio de 1988 que

    estabelecem as hipteses de foro por prerrogativa de funo, de modo a

    limitar tais competncias jurisdicionais aos crimes cometidos em razo do

    ofcio e que digam respeito estritamente ao desempenho daquele cargo.

    No dia 31 de maio foi iniciado o julgamento. Em seu voto, o Ministro

    Lus Roberto Barroso, afirmou que o foro deve se aplicar apenas a crimes

    cometidos durante o exerccio do cargo, e deve ser relacionado funo

    desempenhada. Outro entendimento adotado pelo Ministro foi de que a

    competncia se torna definitiva aps o final da instruo. A partir desse

    momento, a competncia para julgar o caso no ser mais afetada por

    eventual mudana no cargo ocupado pelo agente pblico.

    O voto baseou-se no entendimento de que a atuao criminal

    originria ampla do Supremo Tribunal Federal tornou-se contraproducente

    em razo do grande volume de processos e da pouca vocao da sua

    estrutura para atuar na rea. O resultado leva demora nos julgamentos,

    prescrio e cria um obstculo atuao do Supremo como corte

    constitucional.

    Para ele, o foro se tornou penosamente disfuncional na experincia

    brasileira por duas razes. A primeira delas atribuir ao Supremo Tribunal

    Federal uma competncia para a qual ele no vocacionado. Nenhuma

    corte constitucional do mundo tem a quantidade de processos de

    competncia originria em matria penal como o Supremo Tribunal

    Federal, citando que havia mais de 500 inquritos e aes penais em

    curso na Casa, e lembrando que o julgamento de um deles, a Ao Penal

    n 470 (do chamado mensalo), durou 69 sesses.

    Ademais, os procedimentos que regem o funcionamento do Tribunal

    so mais complexos do que os utilizados pela primeira instncia, o que

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    pode levar demora nos julgamentos e prescrio das penas,

    ressaltando que o objetivo do foro proteger o cargo e garantir a

    autonomia de seu exerccio, portanto, no fazia sentido atribuir a proteo

    prevista constitucionalmente ao indivduo que o ocupa. Assim, devem-se

    excluir dos atos amparados pela regra aqueles sem relao com o cargo.

    Outro problema citado foi o sobe e desce processual que, segundo

    o Ministro, retarda o processo e afeta a credibilidade do sistema penal. A

    brecha acaba sendo usada pelos acusados, que obtm ou renunciam a

    cargos a fim de alterar o foro competente e adiar a concluso do processo,

    segundo palavras do relator.

    No voto foi citado estudo elaborado pela Fundao Getlio Vargas

    sobre o tema, segundo o qual o novo entendimento reduziria em mais de

    90% os inquritos e aes penais em curso no Tribunal. Ainda segundo o

    estudo, pouco mais de 5% das aes penais em curso tiveram origem no

    prprio Supremo Tribunal Federal.

    No dia seguinte, 1. de junho, o julgamento foi retomado, mas um

    pedido de vista do Ministro Alexandre de Moraes suspendeu a sesso.

    Para o Ministro, no era possvel se analisar a questo apenas sob o

    ponto de vista do foro em determinada instncia, uma vez que eventual

    alterao, como a proposta pelo relator do caso, traria repercusses

    institucionais no mbito dos Trs Poderes e do Ministrio Pblico. Ele

    tambm comentou que no existia estatstica ou estudo que comprovasse

    o grau de efetividade no processamento de aes penais antes e depois

    do aumento das hipteses de foro privilegiado, prevista na Constituio de

    1988, no sendo possvel estabelecer uma conexo, seja ela histrica,

    sociolgica ou jurdica, entre a criao do chamado foro privilegiado e a

    impunidade. A afirmao de que o foro na Suprema Corte acaba gerando

    impunidade no s no tem respaldo estatstico, como acaba por ofender e

    desonrar a prpria histria do Supremo.

    Nesta sesso, o Ministro Marco Aurlio e as Ministras Rosa Weber e

    Crmen Lcia anteciparam seus votos, acompanhando o relator. O

    Ministro Marco Aurlio defendeu a aplicao do foro por prerrogativa de

    funo apenas aos crimes cometidos no exerccio do cargo, relacionados

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    s funes desempenhadas, assentando que, caso a autoridade deixe o

    cargo, a prerrogativa cessa e o processo-crime permanece, em definitivo,

    na primeira instncia da Justia. A fixao da competncia est

    necessariamente ligada ao cargo ocupado na data da prtica do crime e

    avaliou que tal competncia, em termos de prerrogativa, nica, portanto

    no flexvel. A competncia que analisamos funcional e est no mbito

    das competncias, ou incompetncias, absolutas. No se pode cogitar de

    prorrogao. Se digo que a competncia funcional, a fixao, sob o

    ngulo definitivo, ocorre considerado o cargo ocupado quando da prtica

    delituosa, quando do crime, e a, evidentemente, h de haver o nexo de

    causalidade, consideradas as atribuies do cargo e o desvio verificado."

    J a Ministra Rosa Weber, que tambm acompanhou integralmente o

    voto do relator, afirmou que a evoluo constitucional ampliou

    progressivamente o instituto do foro por prerrogativa de funo. Diante

    disso pertinente uma interpretao restritiva que o vincule aos crimes

    cometidos no exerccio do cargo e em razo dele. O instituto do foro

    especial, pelo qual no tenho a menor simpatia, mas que se encontra

    albergado na nossa Constituio, s encontra razo de ser na proteo

    dignidade do cargo, e no pessoa que o titulariza.

    Tambm seguindo o voto do relator, a Ministra Crmen Lcia,

    destacou que foro no escolha, e prerrogativa no privilgio. O Brasil

    uma Repblica na esteira da qual a igualdade no opo, uma

    imposio. Essa desigualao que feita para a fixao de competncia

    dos tribunais, e, portanto, de definio de foro, se d em razo de

    circunstncias muito especficas. A Constituio faz referncia a membros,

    agentes ou cargos, portanto, no exerccio daqueles cargos que se

    cometem as prticas que eventualmente podem ser objeto de

    processamento e julgamento pelo Supremo e pelos rgos judiciais

    competentes.

    Ontem, 23 de novembro, foi retomado o julgamento e, mais uma vez,

    suspenso em razo de um pedido de vista, desta vez do Ministro Dias

    Toffoli. De toda maneira, at o momento, oito Ministros proferiram voto na

    matria, seis acompanhando o entendimento do relator, no sentido de que

    o foro se aplica apenas a crimes cometidos no exerccio do cargo e em

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    razo das funes a ele relacionadas. Nesta sesso, o Ministro Alexandre

    de Moraes divergiu parcialmente, pois, segundo seu voto, o foro deve

    valer para crimes praticados no exerccio do cargo, mas alcanando todas

    as infraes penais comuns, independentemente de se relacionaram ou

    no com as funes do mandato.

    Em seu voto-vista, o Ministro Alexandre de Moraes acompanhou o

    relator na parte que fixa o foro no Supremo Tribunal Federal apenas para

    os crimes praticados no exerccio do cargo, aps a diplomao, valendo

    at o final do mandato ou da instruo processual. Para ele, estender a

    prerrogativa para algum que praticou crime antes de ser parlamentar

    afasta a relao com a finalidade protetiva do mandato, objetivo da

    prerrogativa, que voltada para proteo institucional. uma prerrogativa

    do Congresso, e no de quem sequer sabia que um dia seria

    congressista. Na sua divergncia parcial, o Ministro afirmou que o texto

    constitucional no deixa margem para que se possa dizer que o julgamento

    das infraes penais comuns praticadas por parlamentares no seja de

    competncia do Supremo Tribunal Federal. A expresso nas infraes

    penais comuns`, contida no art. 102, I, b), alcana todo tipo de infraes

    penais, ligadas ou no ao exerccio do mandato.

    Em que pese o pedido de vista, adiantou seu voto o Ministro Edson

    Fachin, salientando, entre outros pontos, que o princpio do duplo grau de

    jurisdio atingido pela clusula de prerrogativa de foro. Algumas das

    justificativas dadas para sustentar o instituto como a de que os tribunais

    superiores seriam mais isentos e menos influenciveis, e como forma de

    inibir demandas abusivas contra parlamentares para concluir que essas

    justificativas no so compatveis com a Constituio, uma vez que o

    julgamento imparcial e independente direito de todos os cidados.

    Tambm o fez o Ministro Luiz Fux, igualmente acompanhando

    integralmente o voto do relator. Para ele, a leitura do texto constitucional

    indica que a competncia do Supremo preservada quando o ato ilcito

    praticado no exerccio do cargo e em razo do cargo, afirmando que tinha

    tambm preocupao com as declinaes de foro, concluindo que era

    preciso que os casos tenham seu juzo prprio, e que ao Supremo fossem

    reservados apenas os ilcitos cometidos no cargo e em razo dele.

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    Por fim, o decano, Ministro Celso de Mello, destacou em seu voto

    que existem cerca de 800 autoridades com prerrogativa de foro apenas no

    Supremo, entre autoridades do Executivo, militares, ministros de tribunais

    superiores e outros, revelando ser um defensor da supresso de todas as

    prerrogativas em matria criminal, por entender que todos os cidados

    devem estar sujeitos jurisdio comum de magistrados de primeira

    instncia, lembrando, outrossim, que, no incio do julgamento da Ao

    Penal n. 470, em agosto de 2012, j havia manifestado seu entendimento

    no sentido de que a prerrogativa merecia uma nova discusso. Para o

    decano, dever-se-ia reconhecer, mediante legtima interpretao do texto

    constitucional, que a prerrogativa s deve se aplicar a delitos praticados na

    vigncia da titularidade funcional e que guarde ntima conexo com o

    desempenho das atividades inerentes ao referido cargo ou mandato. Com

    esses fundamentos, o Ministro acompanhou integralmente o voto do

    relator.

    Observa-se, portanto, que, nada obstante o pedido de vista mais uma

    vez feito neste julgamento, a questo j est praticamente decidida no

    sentido do entendimento firmado no voto do Ministro Lus Roberto Barroso,

    a saber:

    Primeiro: o foro por prerrogativa de funo aplica-se apenas aos

    crimes cometidos durante o exerccio do cargo e relacionados s funes

    desempenhadas.

    Segundo: aps o final da instruo processual, com a publicao do

    despacho de intimao para apresentao de alegaes finais, a

    competncia para processar e julgar aes penais no ser mais afetada

    em razo de o agente pblico vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo

    que ocupava, qualquer que seja o motivo.

    Terceiro: terminado definitivamente o julgamento, o entendimento

    aplicar-se- a todos os processos pendentes no Supremo Tribunal Federal,

    por se tratar de uma regra fixadora da competncia.

    Oxal, na prxima sesso, tenhamos finalmente a deciso final, com

    uma observao: creio que essa interpretao dada pela Suprema Corte

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    (para mim correta, enquanto no se acaba de uma vez por todas com a

    competncia por prerrogativa de funo via uma emenda Constituio),

    fatalmente atingir todo e qualquer ru que tenha prerrogativa de foro, e

    no somente os parlamentares federais.

    Assim, doravante, Prefeitos, Deputados Estaduais, Magistrados,

    membros do Ministrio Pblico, Ministros, etc, etc., deixaro de ter tal

    prerrogativa, salvo em relao aos crimes cometidos durante o exerccio

    do cargo e relacionados s funes desempenhadas. Ademais, aps o

    final da instruo processual, com a publicao do despacho de intimao

    para apresentao de alegaes finais, a competncia para processar e

    julgar as respectivas aes penais no ser mais afetada em razo de o

    agente pblico vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava,

    qualquer que seja o motivo.

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    LEI DE CRIMES HEDIONDOS E SUA APLICAO NA JUSTIA

    MILITAR FACE LEI N13.491/17

    EDUARDO LUIZ SANTOS

    CABETTE: Delegado de Polcia, Mestre em

    Direito Social, Ps - graduado com

    especializao em Direito Penal e Criminologia,

    Professor de Direito Penal, Processo Penal,

    Criminologia e Legislao Penal e Processual

    Penal Especial na graduao e na ps -

    graduao da Unisal e Membro do Grupo de

    Pesquisa de tica e Direitos Fundamentais do

    Programa de Mestrado da Unisal.

    Coautor: FRANCISCO SANNINI NETO: Delegado de Polcia, Mestre em Direitos Difusos e Coletivos. Ps-Graduado com Especializao em Direito Pblico. Professor da Graduao e da Ps-Graduao do Centro Universitrio Salesiano de Lorena/SP. Professor Concursado da Academia de Polcia do Estado de So Paulo. Professor do Complexo Educacional Damsio de Jesus.

    O presente texto tem o intuito de discutir a questo da

    aplicabilidade ou no da Lei dos Crimes Hediondos Justia Militar a partir

    da inovao legislativa promovida pela Lei 13.491/17.

    Em breve artigo, Fernando Galvo afirma que a partir da edio da

    Lei 13.491/17, ser possvel caracterizar um crime militar hediondo.[1]A

    nosso ver a assertiva do respeitvel estudioso deve ser acatada cum

    grano salis, mesmo porque, no espao que reservou anlise do tema,

    no lhe foi possvel um maior desenvolvimento da ideia exposta de forma

    por demais sucinta.

    Por obviedade, Galvo retira sua concluso e aplaude a

    possibilidade de aplicao da Lei dos Crimes Hediondos na Justia Militar

    porque, at ento, essa afirmao seria impossvel, dada a redao

    restritiva do Cdigo Penal Militar, antes do advento da Lei 13.491/17, bem

    como (e mais relevante), tendo em vista a redao da prpria Lei dos

    Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), que somente faz referncia explcita a

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    tipos penais da legislao penal comum, incidindo, portanto, o bice de

    aplicao no mbito castrense por fora do Princpio da Legalidade.

    Esse quadro era realmente lastimvel, pois criava um abismo de

    desproporo entre o tratamento dado a civis e a militares no caso de

    prtica de crimes considerados hediondos na legislao comum, mas para

    os quais tal qualificao no existia no Cdigo Penal Militar e nem havia

    referncia na Lei dos Crimes Hediondos. Havia uma clara e evidente

    violao ao Princpio da Proporcionalidade quando, por exemplo, um civil

    era condenado com os rigores da Lei 8.072/90 pela prtica de estupro e

    um militar em servio ou em rea sob administrao militar, cometendo o

    mesmo ilcito, mas previsto no CPM, no recebia o mesmo tratamento

    jurdico-penal. No havia justificativa plausvel para tanto.

    Contudo, a euforia embutida na afirmao de Galvo um tanto

    quanto exagerada, pois que a questo no foi devidamente solucionada,

    ao menos no em sua totalidade, por fora da Lei 13.491/17.

    verdade que o artigo 9, inciso II, do CPM , passa para a

    competncia da Justia Militar todos os crimes previstos no CPM e mais

    os previstos na legislao penal, quando perpetrados por militar em

    servio ou em razo da funo. Entretanto, a regra de competncia e fala

    em crimes previstos na legislao penal, ampliando sobremaneira o

    conceito de crimes militares para abranger quaisquer infraes penais,

    ainda que no dotadas de previso correspondente na legislao

    castrense.[2] Pois ento, a nova normativa define regra

    de competnciaatrelada ao conceito de crimes militares, sendo fato que a

    Lei 8.072/90 no prev crime algum. Trata-se de uma lei com dispositivos

    de carter penal, processual penal e de execuo penal, mas no com

    previso de qualquer tipo penal. Assim sendo, num primeiro plano de

    anlise, a alterao promovida no sistema de competncia da Justia

    Militar pela Lei 13.491/17, nada teria a ver com os ditames da Lei 8.072/90.

    Essa lei apenas arrola crimes previstos no Cdigo Penal Brasileiro e em

    legislaes esparsas na condio de hediondos ou equiparados, mas no

    prev tipo penal algum.

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    A eventual concluso pela aplicabilidade da Lei dos Crimes

    Hediondos na Justia Militar a partir do advento da Lei 13.491/17, no

    pode derivar da simples e direta correlao entre tais diplomas, razo pela

    qual a afirmao simplista e sucinta de Galvo precisa ser devidamente

    esmiuada.

    Como a Lei dos Crimes Hediondos no prev crimes, mas apenas

    arrola certas infraes, j previstas na legislao penal comum, como

    hediondos ou equiparados, no possvel concluir que a Lei 13.491/17, ao

    afirmar que so crimes militares tambm os previstos na legislao penal

    em geral empreende uma alterao capaz de fazer, por si s, que a Lei

    dos Crimes Hediondos adentre Justia Castrense.

    Na verdade, tal assertiva somente ser verdadeira nos casos em

    que um militar vier a ser processado, na Justia Militar, por crime previsto

    como hediondo ou equiparado na Lei 8.072/90, desde que em sua verso

    prevista na lei penal comum, no no correspondente tipo penal previsto no

    Cdigo Penal Militar. Ou seja, a possibilidade de aplicao da Lei dos

    Crimes Hediondos Justia Militar ser, no mximo, parcial, perpetuando,

    agora tambm internamente, na Justia Castrense, a violao do Princpio

    da Proporcionalidade.

    preciso atentar para o fato de que a Lei 8.072/90 sempre foi

    eivada de vrios vcios e inconstitucionalidades, mas, tambm, sempre

    teve uma virtude incontestvel no que diz respeito ao cumprimento do

    Princpio da Legalidade Estrita. A catalogao, em rol taxativo, de quais

    so os crimes hediondos, bem como os equiparados, sempre foi realizada

    de forma clara e segura. No somente o nomen juris do crime

    mencionado na Lei 8.072/90, mas o legislador tomou o cuidado de sempre

    abrir um parntesis, onde descreve o exato artigo de lei, bem como seus

    pargrafos e incisos, no deixando margem a qualquer equvoco. Nesse

    aspecto, que se verifica que todas as referncias existentes na Lei dos

    Crimes Hediondos so feitas a crimes previstos no Cdigo Penal Brasileiro

    e em legislaes esparsas comuns, nada havendo ali que diga respeito ao

    Cdigo Penal Militar. Eventual pretenso de equiparao por semelhana

    constituiria espria analogia in mallam partem, vedada no Direito Penal.

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    Por isso, at ento sempre foi pacfico o entendimento de que a Lei

    dos Crimes Hediondos no tinha aplicao na Justia Militar. Gonalves,

    por exemplo, afirma:

    Adotou-se, portanto, um critrio que se baseia

    exclusivamente na existncia de lei que confira

    carter hediondo a certos ilcitos penais. Assim, por

    mais grave que seja um determinado crime, o juiz no

    lhe poder conferir o carter de hediondo, se tal ilcito

    no constar do rol da Lei 8.072/90. Os crimes

    militares no esto abrangidos nessa lei (grifo

    nosso). [3]

    No mesmo sentido assevera Capez: A Lei dos Crimes Hediondos

    no alcana os delitos militares, j que no constam da relao numerus

    clausus do art. 1. [4] Poder-se-ia argumentar que tais lies doutrinrias

    so antecedentes Lei 13.491/17, mas tal assertiva seria equivocada,

    confirmando o que nos ensina Eco, ou seja, que infinitas so as astcias

    da razo.[5]

    Ocorre que o advento da Lei 13.491/17, em nada altera o fato de

    que a Lei 8.072/90, apresenta um rol taxativo de ilcitos considerados

    hediondos ou equiparados, indicando sempre o artigo de lei a que se refere

    e nunca fazendo meno a qualquer dispositivo do Cdigo Penal Militar.

    Dessa maneira, quando a Lei 13.491/17, passa a abranger todo

    crime da legislao penal brasileira como militar, desde que praticado em

    servio ou em razo da funo, somente se poder aplicar a Lei dos

    Crimes Hediondos na Justia Castrense quando o militar for processado

    por tipo penal previsto na lei comum e sem correspondente no CPM, pois,

    caso contrrio, obviamente, ser processado pelo correlato crime do CPM

    e no pelo da legislao penal comum. Como o crime do CPM no contm

    previso na Lei 8.072/90 e, portanto, no considerado hediondo, a Lei

    8.072/90, no pode ser manejada, sob pena de violao frontal ao

    Princpio da Legalidade Estrita.

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    Exemplificando: digamos que um militar em servio pratique um

    crime de estupro na forma do que seria o artigo 213, CP, constrangendo,

    mediante violncia ou grave ameaa, uma mulher conjuno carnal. Este

    dispositivo previsto como hediondo no artigo 1, V, da Lei 8.072/90. Mas,

    tal legislao somente faz referncia ao crime do Cdigo Penal Brasileiro.

    Estando o militar em servio, no responder pelo artigo 213, CP, mas

    pelo artigo 232, CPM, o qual no arrolado pela Lei 8.072/90 como

    hediondo. A aplicao dos ditames da Lei 8.072/90, fica, portanto, invivel

    em face do Princpio da Legalidade. Dessa maneira, perpetua-se a

    violao proporcionalidade que sempre existiu.

    Doutra banda, se um militar, ainda que em servio, pratica crime de

    tortura, o qual somente previsto na Lei 9.455/97, no tendo previso

    correlata no CPM, a sim, poder-se- conjecturar da aplicao da Lei dos

    Crimes Hediondos na Justia Militar. que nesse caso o militar, mesmo na

    Justia Especial, responder pelo crime comum, j que inexiste

    correspondente no CPM. Ora, esse crime de tortura, abrangido como

    equiparado a hediondo pela Lei 8.072/90 em seu artigo 2, de maneira que

    efetivamente, mesmo o militar estar submetido, agora na Justia Especial,

    s regras dos Crimes Hediondos. Antes o seria tambm, mas na Justia

    Comum. Nesse caso, tambm acaba havendo uma perpetuao da

    violao da proporcionalidade. Agora de forma ainda mais ntida, porque

    essa desproporo invade a seara da Justia Especial, ou seja, alguns

    militares, processados de agora em diante na Justia Castrense, recebero

    os rigores da Lei dos Crimes Hediondos, enquanto outros no os

    recebero, mesmo dentro da mesma Justia Especial por absoluta falta de

    sustentao legal para tanto.

    Portanto, a nosso ver, a Lei 13.491/17, longe de solucionar a

    violao proporcionalidade, a mantm a agudiza. Se antes a

    desproporo somente ocorria entre Justia Comum e Justia Especial,

    mantm-se a situao em vrios casos e ainda se cria, no seio da Justia

    Militar, mais casos de tratamentos desproporcionais. Antes, ao menos,

    ainda se poderia argumentar que o tratamento desigual se fazia em

    justias diversas. Agora, a desproporo levada para o seio da prpria

    Justia Especial.

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    Parece-nos que a nica alternativa seria a previso de todos os

    crimes militares que tm correlatos na Lei 8.072/90 como hediondos,

    mediante uma reforma deste ltimo diploma legal. A sim, a Lei dos Crimes

    Hediondos passaria a ser corretamente aplicada, com proporcionalidade e

    igualdade a civis e militares, indistintamente, ou seja, a todos os civis e a

    todos os militares que incidissem em prticas criminais consideradas

    hediondas ou equiparadas.

    Enquanto isso no acontece, o entusiasmo de Galvo e outros

    autores ligados Justia Militar no se justifica, pois que a Lei 13.491/17

    somente faz complicar ainda mais o quadro desproporcional j existente.

    Alis, vm pululando interpretaes que rumam ao absurdo, num

    incompreensvel enaltecer da Lei 13.491/17 e numa empreitada que move

    montanhas de juridicidade com argumentos indefensveis, para ampliar de

    forma incrvel o alcance da Justia Militar, defendendo-se, por exemplo, a

    possibilidade de um Jri Militar ou mesmo de aplicao da Lei 9.099/95

    no mbito castrense, inobstante ser o Jri uma instituio da Justia

    Comum (isso contestado agora, mas de trivial conhecimento), jamais

    de Justias Especiais, bem como o claro e evidente mandamento do artigo

    90-A, da Lei 9.099/95, impedindo a aplicao das regras dos Juizados

    Especiais Criminais Justia Militar.

    Entretanto, no devemos nos assustar, pois como adverte o

    historiador Paulo Mercadante, com base nas lies de Jean Cruet e Max

    Nordau:

    Na militncia agrega-se a flexibilidade da

    hermenutica. Ela produz a jurisprudncia, artifcio ou

    mentira, no dizer de Max Nordau, destinada a salvar

    as aparncias, estabelecendo entre os princpios e

    uma prtica contraditria o acordo puramente

    exterior. [6]

    A interpretao jurdica maculada por demais pela militncia,

    ideologia ou corporativismo pode realmente levar a concluses das mais

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    inusitadas, sustentadas numa lgica formalmente aprecivel, mas com um

    contedo evidentemente invivel.[7]

    REFERNCIAS

    CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Crimes Militares praticados contra

    civil Competncia de acordo com a Lei 13.491/17. Disponvel

    em www.jus.com.br , acesso em 04.11.2017.

    __________. Direito, Moral e Cincia Contempornea. Disponvel

    emwww.jus.com.br , acesso em 04.11.2017.

    CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Volume IV. 10. ed. So

    Paulo: Saraiva, 2015.

    ECO, Umberto. Pape SatnAleppe. 2. ed. Trad. Eliana Aguiar. Rio de

    Janeiro: Record, 2017.

    GALVO, Fernando. Novos Desafios na Competncia Criminal.

    Disponvel em http://www.aprapr.org.br/2017/10/16/justica-militar/ , acesso

    em 04.11.2017.

    GONALVES, Victor Eduardo Rios. Crimes Hediondos, Txicos,

    Terrorismo, Tortura. So Paulo: Saraiva, 2001.

    MERCADANTE, Paulo. A coerncia das incertezas. So Paulo:

    Realizaes, 2001.

    [1] GALVO, Fernando. Novos Desafios na Competncia Criminal. Disponvel em http://www.aprapr.org.br/2017/10/16/justica-militar/ , acesso em 04.11.2017.

    [2]Sobre eventuais crticas a essa ampliao e outras vertentes interpretativas possveis, inclusive na linha de defesa da inconstitucionalidade dos dispositivos em destaque, j escrevemos: CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Crimes Militares praticados contra civil Competncia de acordo com a Lei 13.491/17. Disponvel em www.jus.com.br , acesso em 04.11.2017.

    http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.590096http://conteudojuridico.com.br/print.php?content=2.590095#_ftn7http://www.jus.com.br/http://www.jus.com.br/http://www.aprapr.org.br/2017/10/16/justica-militar/http://conteudojuridico.com.br/print.php?content=2.590095#_ftnref1http://www.aprapr.org.br/2017/10/16/justica-militar/http://conteudojuridico.com.br/print.php?content=2.590095#_ftnref2http://www.jus.com.br/
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    [3] GONALVES, Victor Eduardo Rios. Crimes Hediondos, Txicos, Terrorismo, Tortura. So Paulo: Saraiva, 2001, p. 2 3.

    [4] CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Volume IV. 10. ed. So Paulo: Saraiva, 2015, p. 199.

    [5] ECO, Umberto. Pape SatnAleppe. 2. ed. Trad. Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2017, p. 136.

    [6] MERCADANTE, Paulo. A coerncia das incertezas. So Paulo: Realizaes, 2001, p. 76.

    [7] Do vazio da lgica e de sua conformao como mera estrutura do pensar, a qual nada tem a ver com o contedo do pensamento, j tratamos em outro texto, de forma bastante didtica: No obstante preciso lembrar que a lgica que orienta o pensamento analtico uma espcie de molde vazio que pode muitas vezes abrigar concluses absolutamente apartadas da realidade. Da mesma forma que se pode construir um silogismo famoso e verdadeiro como: Todo homem mortal Scrates homem Portanto, Scrates mortal. Tambm se pode erigir um silogismo falso, contudo logicamente (formalmente) perfeito como: Todo gato fala alemo Fnix um gato Portanto, Fnix fala alemo. CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Direito, Moral e Cincia Contempornea. Disponvel em www.jus.com.br , acesso em 04.11.2017.

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    A JUSTIA RESTAURATIVA: UMA ALTERNATIVA PARA O SISTEMA

    CARCERRIO BRASILEIRO

    DANIELLE SILVA MANTOVANELLI:

    Graduanda em Direito Pela Faculdade

    Serra do Carmo.

    ENIO WALCCER DE OLIVEIRA FILHO

    (Orientador)[1]

    RESUMO: Este artigo consiste em apresentar a Justia Restaurativa, como

    uma alternativa para a soluo da crise no Sistema Carcerrio Brasileiro,

    que diante do fracasso procuram-se mtodos para aplicao de um novo

    modelo que define conceitos diferentes de justia e crime, o objetivo deste

    trabalho apresentar e aplicar esse mtodo restaurativo para resolver os

    conflitos da sociedade e sucessivamente a melhoria do sistema carcerrio

    brasileiro. A Justia baseia-se num procedimento de consenso, em que a

    vtima e o infrator, possam resolver seus conflitos de forma que alcancem

    uma soluo ideal para ambos prtica restaurativa tm como premissa

    maior reparar o mal causado esse novo modelo processual, vai muito alm

    do punitivismo penal estabelecido atualmente.

    Palavras Chave: justia restaurativa; sistema carcerrio; ressocializao.

    ABSTRACT: This article presents Restorative Justice, as an alternative to

    the solution of the crisis in the Brazilian Prison System, that, in the face of

    failure, we look for methods to apply a new model that defines different

    concepts of justice and crime, the objective of this work is present and

    apply this restorative method to solve the conflicts of society and

    successively the improvement of the Brazilian prison system. Justice is

    based on a consensus procedure, in which the victim and the offender, can

    solve their conflicts in a way that they can reach an ideal solution for both

    restorative practice and have as premise to repair the evil caused by this

    new procedural model, goes much further of criminal punitivism currently

    established.

    Keywords: restorative justice; prison system; re-socializ

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    SUMRIO: 1.INTRODUO 2. A CRISE NO SISTEMA CARCERRIO

    BRASILEIRO; 3.JUSTIA RESTAURATIVA UMA POSSIVL SOLUO

    PARA A CRISE DO SISTEMA CARCERRIO; 3.1 AS ORIGENS DA

    JUSTIA RESTAURATIVA; 3.2 JUSTIA RESTAURATIVA SEUS

    PRINCPIOS E FUNDAMENTOS; 3.3 PRINCIPAIS PRTICAS

    RESTAURATIVAS; 4. A JUSTIA RESTAURATIVA SUA

    APLICABILIDADE E SEUS PROJETOS NO BRASIL; 4.1CRCULOS

    RESTAURATIVOS E SUAS SOLUES; 5. CONSIDERAES FINAIS;

    6. REFERENCIAS.

    1. INTRODUO

    O Direito Penal um sistema que, para alm da viso do senso

    comum de servir punio, serve especialmente como limitador do poder

    punitivo do Estado, estabelecendo regras e critrios especficos que

    permitem e definem as possibilidades de interveno do Estado na

    liberdade individual. um freio de legalidade que evita arbitrariedades no

    uso do jus puniendi. Neste sentido, temos como postulados bsicos do

    direito penal a anterioridade, a legalidade estrita, o devido processo legal e

    diversos outros princpios que formam uma rede de proteo individual

    contra intervenes arbitrrias na vida do cidado.

    Contudo, no atual estado da arte no Brasil, o que se percebe a

    existncia sistemtica de violaes em decorrncia do colapso no sistema

    carcerrio brasileiro, com toda sorte de falhas estruturais submetendo os

    detentos a situaes que colidem frontalmente com os postulados e

    garantias que forma a base de nosso Estado de Direito.

    Dentre os problemas do sistema de execuo penal brasileira

    temos a falta de aplicao efetiva da Lei de Execues Penais, em

    decorrncia direta da falta de investimento em uma estrutura

    digna somando-se a essa precarizao a superlotao nos presdios

    identificada pelo CNJ em acompanhamento da situao prisional brasileira.

    Mesmo diante da escancarada realidade de precarizao do sistema

    prisional brasileiro muito pouco feito pelos governos para resolver ou

    equalizar essa situao, e em decorrncia disto as prises, que deveriam

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    servir em seu sentido tambm como ambiente ressocializador do

    delinquente torna-se tal e qual os antigos sistemas que visavam apenas o

    sentido retributivo da pena (morte, tortura, penas corporais, etc.). Alguns

    estudiosos consideram os presdios brasileiros equiparados a masmorras

    medievais, locais de descarte humano a toda sorte de humilhaes e

    degradaes, tornando quase que inatingvel quaisquer expectativas

    relacionadas possibilidade de reintegrao e ressocializao do

    delinquente aps o cumprimento de sua pena.[2]

    O Estado tem o poder e dever de assegurar os direitos e

    garantias dos detentos, mas infelizmente acaba se tornando ele prprio o

    violador destas garantias. Conforme o artigo 5, inciso III da Constituio

    Federal ningum ser submetido tortura nem a tratamento desumano

    ou degradante, texto este que reflete e repete os postulados do prprio

    sistema local e internacional de Direitos Humanos, considerado ncleo

    essencial e universal de direitos individuais.[3]

    O que se precisa consolidar dentro de um Estado de Direito que

    todos esto igualmente submetidos s regras e todos, da mesma forma,

    so sujeitos de direitos mnimos inerentes prpria humanidade. Esse

    racionalismo uma caracterstica dos Estados modernos que denotam o

    prprio grau de humanidade em que vive nossa sociedade.

    Sem o respeito s garantias, e sem o trato humano com o detento,

    torna-se impossvel que se possibilite a ressocializao de quem est

    sendo dissocializado, desumanizado. A sistemtica violao da dignidade

    da pessoa dentro do sistema carcerrio tem se mostrado fator que, alm

    de no ressocializar, permite a cooptao deste detento para sistemas

    paralelos e criminosos, fomentando a ampliao de faces criminosas no

    Brasil.

    Neste sentido que a Justia Restaurativa valoriza a autonomia dos

    sujeitos e do dilogo entre eles com o principal objetivo de humanizar o

    sistema de recuperao do delinquente, transpondo o foco da

    ressocializao tradicional desde a transgresso e a culpa para o mbito

    positivo de possibilidades prospectivas do sujeito na sociedade, ou seja, a

    sua participao como cidado na sociedade na qual ele est inserido.

    http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.590096http://conteudojuridico.com.br/print.php?content=2.590094#_ftn2http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10730955/inciso-iii-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988http://conteudojuridico.com.br/print.php?content=2.590094#_ftn3
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    Desta forma a Justia Restaurativa visa promover a

    democracia ativa na qual no se pressupe que somente a vtima ou o

    infrator so os afetados em seus relacionamentos, mas toda a

    comunidade, porque, sofre as consequncias em sua totalidade.

    A Justia Restaurativa no visa a impunidade, mas fazer com

    que aquele que comete infraes perceba a gravidade de sua conduta e

    se responsabilize pelos seus atos, por meio da realizao de crculos

    com os ofensores, ofendidos e representantes da sociedade, de forma a

    reduzir os ciclos de violncia e criminalidade e promover uma cultura da

    paz por meio do dilogo e da participao da sociedade neste sistema.

    Assim afasta-se a ideia de apenas determinar a culpa e a

    consequente pena ao transgressor, mas tambm de faz-lo

    compreender que para aquele ato infracional existem possveis

    sanes e lev-lo a pensar na responsabilidade de no reincidir. Ao

    invs de definir a justia como retribuio, busca-se o foco na

    restaurao, ou seja: se o crime um ato lesivo, a justia significar

    reparar a leso e promoo da cura. Atos de restaurao - ao invs de

    mais violao, devem contrabalancear o dano ocasionado promovendo

    a insero por meio da responsabilidade e no da punio.

    Este trabalho busca uma compreenso da possibilidade de que

    a Justia Restaurativa seja uma alternativa vivel de incorporao de

    um sistema mais humano e que vise efetivamente a recuperao do

    delinquente para alm do sistema puramente retribucionista que tem se

    tornado o sistema prisional brasileiro.

    A proposta apresentada como uma possibilidade de avano

    naquilo que preconiza o sistema penal brasileiro, sob o aspecto normativo,

    tanto no que concerne aos Tratados dos quais somos parte, como a nossa

    Constituio e as demais leis instituindo prticas socioeducativas,

    democrticas e articuladas, oportunizando assim corresponsabilidades nas

    intervenes institucionais, na perspectiva de um novo Sistema de

    Garantia de Direitos.

    2. A CRISE NO SISTEMA CARCERRIO BRASILEIRO

    O reconhecido fracasso do sistema punitivo no novidade no

    Brasil, o sistema atual de justia criminal est em crise e se encontra

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    deteriorado, com presdios superlotados que no oferecem o mnimo de

    condies para atender s necessidades dos presos, com um aumento

    significativo de crimes a crise no sistema carcerrio no Brasil no tem

    um fim e o Estado no apresenta uma soluo para o problema e isto

    afeta o ordenamento jurdico, a dignidade da pessoa humana e toda a

    sociedade que sofre suas consequncias.

    Segundo os ltimos dados divulgados em 2014

    pelo Sistema Integrado de Informaes Penitencirias

    do Ministrio da Justia (Infopen), o Brasil chegou

    marca de 607,7 mil presos. Desta populao, 41%

    aguarda por julgamento atrs das grades. Ou seja, h

    222 mil pessoas presas sem condenao, a

    morosidade nos julgamentos s aumenta a quantidade

    de presidirios. De acordo com o jornal Folha de So

    Paulo, os presos provisrios custam R$6,4 bilhes por

    ano e isso devido rigorosidade das leis brasileiras

    pelo crime de trfico de drogas tambm, pela lentido

    da justia na elaborao das sentenas finais. Dessa

    maneira, o investimento que o Governo Federal dispe

    para melhorar essa situao, no suficiente, pois

    haver um crescimento nos gastos relacionados com a

    gesto das pessoas detidas, consequentemente, causa

    a superlotao nos presdios do Brasil. (PRUDENTE,

    2012, online)

    A reincidncia grande, o que gera uma pergunta na sociedade

    e que muitos de ns j ouvimos. Se o sistema carcerrio to ruim por

    que os reincidentes cometem novos crimes para voltar? A resposta

    a falta de oportunidades de trabalho ao ex-presidirio, e a nica opo

    que lhe resta voltar a infringir a lei, pois quando retornam ao convvio

    social como se a prpria coletividade o empurrasse novamente para

    o mundo do crime. H um certo preconceito e isso tudo sem dvida,

    torna pouco provvel a reabilitao de um ex-detento. Umareportagem

    publicada pela Gazeta do Povo[4]revela o drama de presos que so

    despejados na sociedade aps anos de encarceramento sem que, du-

    rante esse perodo, o Estado tenha tomado providncias para que essas

    pessoas se tornassem aptas a encarar o novo desafio. H o

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    preconceito, a dificuldade de arranjar trabalho, a necessidade de se

    readaptar. E h o medo de cair de novo em erro.

    Sentindo-se desamparados e desumanizados pelo Estado, os

    presidirios, prometendo lutar por seus direitos, deram origem s

    faces, organizaes controladas por criminosos que esto dentro do

    sistema penitencirio e tambm fora dele, usando da violncia como

    principal arma para desestabilizar os rgos de segurana e a

    sociedade. Com a reincidncia, torna-se cada vez mais difcil a

    reabilitao, de modo que, dentro dos presdios os detentos sofrem

    com abusos tanto por parte dos agentes penitencirios quanto de

    outros detentos. Acuados, a nica opo que lhes resta se unir as

    chamadas Faces. (PELIZZOLI, 2014)

    Apesar de serem originadas em determinada localidade, no

    incomum que as faces se alastrem por todo o territrio nacional e

    assim ocorreu com o PCC, considerada a maior faco do Brasil.

    O PCC surgiu em 1993, na casa de custodia de Taubat-SP, mais

    conhecido como Masmorra, pela severidade dos castigos aplicados.

    Na inteno de lutar por seus direito alguns detentos de uniram e

    formaram uma espcie de partido, e posteriormente, formularam um

    estatuto que regulamentava as normas internas do grupo, e a relao

    entre o partido e o Comando Vermelho do Rio de Janeiro. (ZIZEK,

    2006)

    O estatuto foi publicado no Jornal Folha de So Paulo em 25 de

    Maio de 1997, e dispunha de dezesseis itens, sendo o de maior

    relevncia o de nmero 13, que diz:

    Temos que permanecer unidos e organizados

    para evitarmos que ocorra novamente um massacre,

    semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de

    Deteno em 2 de Outubro de 1992, onde 111

    presos foram covardemente assassinados, massacre

    esse que jamais ser esquecido na sociedade

    brasileira. Por que ns do Comando vamos sacudir o

    Sistema, e fazer essas autoridades mudar a pratica

    carcerria, desumana, cheia de injustia, opresso,

    torturas, massacres nas prises. (VASCONCELOS,

    2008)

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    A criao do PCC e de tantas outras faces prova de que a

    incompetncia na administrao do crcere no Brasil tem um longo

    histrico, fazendo-senecessrio repensar as prticas de resoluo de

    conflitos, de modo que, desde as camadas mais pobres da sociedade,

    se liberte gradualmente dos processos de criminalizao e da ideologia

    punitivista.

    Informou Lindomar Sobrinho, presidente do

    Sindicato dos Agentes Penitencirios de Roraima:

    Os agentes agiram de pronto e pararam a carnificina.

    Se eles no tivessem agido, teria sido muito maior.

    (CARTA CAPITAL, 2017, on line)

    Quando se fala da carnificina nos presdios Brasileiros logo se

    imagina que isso uma coisa dos dias atuais, devido ao aumento

    significativo dos crimes, criao de novos ilcitos penais, crise

    econmica brasileira, etc. Porm o sistema Carcerrio Brasileiro nunca

    foi modelo a ser seguido, no ano de 1952, O Massacre da Ilha Anchieta

    foi uma das maiores rebelies nos presdios[5], de acordo com jornais

    da poca[6] o nmero de mortos passaram de 100, se faz necessrio

    repensar se passou 65 anos e nada mudou, esse grande problema

    passa por vrias geraes uma situao complexa e ambgua, nos

    primeiros dias do ano de 2017 o sistema carcerrio explodiu, ocorrendo

    em menos de 15 dias rebelies em diversos presdios dos estados

    brasileiros deixando mais de 130 mortos.[7]

    Como se pode observa as prticas de resoluo de conflitos

    aplicada durante dcadas no esto surtindo o seu devido efeito, deve

    se pensar, desde as camadas mais pobres da sociedade, para que est

    se liberte gradualmente dos processos de criminalizao e da ideologia

    punitivista.

    3. JUSTIA RESTAURATIVA UMA POSSIVL SOLUO PARA A

    CRISE DO SISTEMA CARCERRIO

    Sendo uma novidade no Brasil a sua veloz difuso

    conceitual para a Justia Restaurativa que em contraposio ao

    atual sistema penal retributivo[8] no qual segue a ideologia

    punitivista, ao contrrio ento da justia tradicional que no se

    preocupa com a violao da norma que atinge os presos a vtima e

    toda a comunidade, a Justia Restaurativa valoriza a autonomia dos

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    sujeitos e do dilogo entre eles com o principal objetivo de

    humanizar o sistema, que ao invs de versar sobre transgresses

    ou a culpa, materializa as possibilidades concretas da participao

    individual e social do indivduo na sociedade.

    A importncia da Justia Restaurativa para o sistema

    retributivo um dos benefcios mais evidente e imediato para o

    sistema de justia formal o efeito conciliador, pois ao evitar que

    certos litgios cheguem aos bancos judiciais o resultado se torna

    visvel, porque o Judicirio liberado das grandes filas de casos

    para julgar e no havendo grandes demandas certamente o

    judicirio ir analisar as lides de forma mais eficaz.

    A Justia Restaurativa ento uma das alternativas para

    contribuir e minimizar o problema carcerrio Brasileiro, pois o

    modelo inova ao solucionar conflitos, antes que haja a punio

    proposta pela justia criminal, com ela pretende solucionar o

    conflito reiterando o comprometimento das partes na busca de uma

    soluo negociada reduzindo os efeitos estigmatizantes de uma

    eventual vitria ou derrota processuale restabelecer o convvio

    social tanto da vtima quanto do agressor, resgatando a sensao

    de segurana da comunidade e gerando um enorme potencial de

    pacificao social.(Prtica da Justia Restaurativa, 2005, p.83)

    Essa nova Justia se apresenta como uma alternativa ao atual

    modelo retributivo ao exemplo que no objetiva a punio e sim a

    restaurao do ofensor, tem um cuidado maior deve ser dispensado

    quando o ofensor se tratar de criana ou adolescente, para isso tem

    a obrigatoriedade de se levar em considerao o tratamento

    disponibilizado pelo ECA Estatuto da Criana e do Adolescente a

    esses menores infratores, para que o modelo restaurativo possa

    contribuir de forma veemente na solues desses conflitos.

    Faz-se compreender que o trabalho da justia

    restaurativa no voltada para o delito, mas sim a consequncia do

    conflito gerado por este, o modelo restaurativo visa complementar o

    tratamento da retribuio dada ao ofensor pelo Estado visto que

    esta no dirimi o conflito apenas pune o agente e esse o trauma

    tanto da vtima quanto do ofensor, que muitas vezes a Justia

    Restaurativa chamada para se manifestar, pois a sociedade vive

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    numa convivncia distncia, em contato ento podemos notar que

    essa justia tende a promover uma intensificao do papel

    comunitrio na promoo da segurana. (CARVALHO Luiza, 2015)

    3.1 AS ORIGENS DA JUSTIA RESTAURATIVA

    Segundo Albert Eglash(2011,p.19)a Justia Restaurativa surgiu em

    meados da dcada de 70, como resultados de antigas tradies pautadas

    em dilogos, de acordo com a histria da humanidade as civilizaes

    antigas at a nossa sociedade contempornea incluindo os grupos

    familiares, e os povos indgenas criaram solues para seus conflitos, os

    construtores de consensos originrios se deram em grande escala em

    pases como Nova Zelndia, Canad, Estados Unidos, Brasil dentre outros,

    o surgimento da justia nestes pases foi influenciando principalmente

    pelas propostas abolicionistas do atual sistema penal e de grupos crticos

    da rea penal interessados em busca de alternativas a priso aps o

    aumento da criminalidade e grande quantidade de presos.

    A Justia Restaurativa ficou mundialmente conhecida pelo livro

    Trocando as Lentes: Um Novo Foco sobre Crime e Justia, do americano

    HowardZehr (2014.p6), na dcada de 90 e se tornou um dos principais

    movimentos de reforma do sistema criminal e se tornou um dos principais

    motivos da reforma no sistema criminal sendo reconhecido e recomendado

    pela Organizao das Naes Unidas e pela Unio Europia e como forma

    de incentivar tais regras e regulamentar as prticas no mundo, ONU

    emitiu trs resolues de 1999 a 2002 e essas resolues so referente a

    justia restaurativa nos pases que so signatrios da ONU.

    Tais prticas tm razes em dimenses gregrias to antigas quanto

    organizao das comunidades humanas, na medida em que uma

    comunidade para se manter e conviver precisa ter uma tica e justia em

    seu modo de ser um sistema de manuteno de relaes que evite ou

    repare danos e ofensas causados entre os participantes ou litigantes,

    podemos dizer que as comunidades humanas funcionam na base da teoria

    do dom da resoluo de conflitos. (MARIOTI, 2000)

    3.2 JUSTIA RESTAURATIVA SEUS PRINCPIOS E

    FUNDAMENTOS

    Cada instituto tem sua base, sob a qual se justifica e se funda a

    sua razo de ser, a Justia Restaurativa por versarem sobre normas de

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    comportamento social tem o seu fundamento maior os princpios e

    direitos da dignidade da pessoa humana inicialmente, os princpios

    fundamentais da pessoa humana, e os princpios norteadores do direito

    penal correlatos com a essa nova justia, sob os quais faremos breves

    comentrios para melhor inteligncia do tema.

    Nas ltimas dcadas tem crescido a busca por alternativas para a

    administrao de conflitos na sociedade. O Direito Penal e o Direito

    Processual Penal, por meio dos rgos da administrao de justia

    criminal monopolizam a sistemtica de resoluo dos litgios. As prticas

    da Justia Restaurativa tm um novo paradigma na resoluo de conflitos

    por meio do dilogo e a resoluo dos danos em que vtima e autores

    esto envolvidos em busca da recuperao da relao entre as pessoas o

    novo modelo restaurativo baseia-se em valores, resultados definidos e

    procedimentos.

    As dificuldades enfrentadas na atualidade pelo sistema prisional

    brasileiro voltam-se para a morosidade na tramitao dos processos alm

    da superlotao nos presdios que no conseguem responder ao apelo

    social que clama pela reduo da violncia, de respostas cleres do

    judicirio para a resoluo dos conflitos sociais. Neste sentido a Justia

    Restaurativa surge como um caminho vivel e uma alternativa muito mais

    ampla do crime baseiam-se em um modelo no punitivo, mas sim na

    anlise do fato danoso observando suas consequncias e procurando as

    possveis solues para a sociedade brasileira.

    3.3 PRINCIPAIS PRTICAS RESTAURATIVAS

    Em conformidade com os valores e princpios mencionados acima,

    diversas podem ser as prticas restaurativas, que, por sua vez, no

    impedem que novos modelos sejam criados, ou que os ja? existentes

    sejam adaptados e modificados em conformidade com as demandas

    especficas de cada local. Walgrave (2008, p. 31-41), no entanto,

    selecionou, as prticas mais conhecidas atualmente, apresentando-as da

    seguinte maneira:

    A Justia Restaurativa tem um especial interesse pelas

    necessidades das vtimas que no so adequadamente atendidas pelo

    sistema judicirio penal, entre elas: informao, narrao dos fatos,

    recuperao do senso de controle e reparao ou reivindicao.

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    Como o foco principal deixa se ter a averiguao dos fatos para

    posterior responsabilizar o acusado, um servio de apoio a? vtima,

    conforme o autor (Walgrave, 2008, p. 32) ,deve ser a primeira e mais

    importante condio para fazer a justia, toda projeo, previso ou

    planificao do trip da Justia Restaurativa, tem como sua base em que

    nada pode concorrer com o dilogo franco aberto com a vtima e acusado,

    no certo que a negociao do conflito seja como um jogo de soma que

    se soma zero, no qual uma parte ganha e automaticamente a outra perde,

    pelo ao contrrio, a criao de valor sempre est presente, at naqueles

    casos em que parece que tudo se reduz a uma equao matemtica de

    forma negativa.

    nestas necessidades que o sujeito tem a possibilidade de ser

    escutado e uma das ferramentas mais importante para resolver conflitos

    saber escutar com ateno e pedir explicaes, conhecer a outra histria

    de permitir o arrependimento e a desculpa do ofensor e ter uma reparao

    pelo dano sofrido.

    Para o ofensor, a possibilidade de poder encontrar-se com sua

    vtima e sua necessidade de responsabilizar-se positivamente e restaurar

    sua imagem como pessoa para assumir compromissos e condutas valiosas

    para o futuro que ambos os sujeitos juntamente com a comunidade

    possam trabalhar na recomposio do relacionamento quanto seja

    necessrio, tendo oportunidade de administrar os conflitos numa

    experincia com um forte contedo pedaggico nesse sentido e cuja a

    realizao mo pode estar ausente a comunidade.

    Os encontros vtima e acusado devem ser realizados em espaos

    onde todos os participantes o faam autenticamente e livres de perigo da

    revitimizao, em sntese, no pode existir um programa de Justia

    Restaurativa sem sua articulao com um programa vitimolgico.

    Conforme a Resoluo 225, versa sobre as prticas restaurativas e

    tem como o foco a satisfao das necessidades dos envolvidos, tanto

    comunidade a vtima e o ofensor, a responsabilizao ativa daqueles que

    contriburam direta ou indiretamente para a ocorrncia do fato danoso e o

    empoderamento da comunidade, destacando a necessidade da reparao

    do dano e da recomposio do tecido social rompido pelo conflito e as

    suas implicaes para o futuro.

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    4. A JUSTIA RESTAURATIVA SUA APLICABILIDADE E SEUS

    PROJETOS NO BRASIL

    Importante mencionar que diversos programas de administrao

    alternativa de conflitos se encontram em operao, na condio de

    projetos-piloto ou de funcionamento continuo. Referidos programas e

    projetos so importantes para demonstrarem a efetiva existncia de

    diferentes iniciativas de sistemas alternativos de resoluo de conflitos.

    (2014, p.219)

    Em levantamento realizado no ano de 2005[9] pelo Ministrio da

    Justia, por intermdio de parceria entre a Secretaria de Reforma do

    Judicirio e o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    (PNUD), foram mapeados 67 programas alternativos de administrao de

    conflitos, em funcionamento em 22 Estados brasileiros.

    A implementao oficial da Justia Restaurativa no Brasil

    aconteceu a partir de 2005, atravs do projeto Promovendo Prticas

    Restaurativas no Sistema de Justia Brasileiro, iniciativa da Secretaria da

    Reforma do Judicirio do Ministrio da Justia em colaborao com o

    Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento PNUD. Foram

    criados trs projetos-piloto em Porto Alegre (RS), Braslia (DF) e em So

    Caetano do Sul (SP), mas em foi em Porto Alegre que a Justia

    Restaurativa tomou forma e foi chamada de Projeto Justia para o Sculo

    21, um articulado de aes interinstitucionais liderados pela Associao

    dos Juzes do Rio Grande do Sul (AJURIS) com o objetivo de difundir a

    Justia Restaurativa na pacificao de conflitos e violncias envolvendo

    crianas, adolescentes e seu entorno familiar e comunitrio.(2011, p.18)

    Como explicitado no tpico anterior um dos trs projetos-piloto foi

    em Porto Alegre/RS e com o nome de Justia do Sculo 21, foi

    coordenado ento pela 3 Vara Regional da Infncia e da Juventude de

    Porto Alegre, que se iniciou as prticas restaurativas, na qual o tema

    adotado foi o crculo restaurativo com a participao principal da vtima e o

    seu grupo familiar e a ofensor aplicando as medidas socioeducativas.

    Em So Caetano do Sul/SP(2011,p.57) foi adotado um projeto de

    nome Justia, Educao, Comunidade: Parcerias para a Cidadania, esse

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    projeto teve inicio em 2008 e ainda est em desenvolvimento a prtica

    utilizada so os crculos e cirandas com crianas menores de 12 anos,

    usando a tcnica de comunicao no violenta, os crculos so realizados

    em mais de 11 escolas atualmente, bem como no Frum e no Conselho

    Tutelar da cidade.

    J em Araguana/ TO no ano de 2013 foi implantada a Justia

    Restaurativa o juiz titular da 2 Vara Criminal e Execues Penais da

    Comarca de Araguana, Antnio Dantas, colocou a unidade judiciria como

    referncia na aplicao da Justia Restaurativa no pas. A prxima etapa

    do projeto fazer com que tambm as vtimas possam participar dos

    crculos restaurativos. O projeto em Araguana foi um dos finalista no

    Prmio Innovare 2016.

    4.1CRCULOS RESTAURATIVOS E SUAS SOLUES

    Atravs da implantao dos projetos de justia restaurativa no Brasil,

    pode-se constatar uma evoluo na reabilitao de jovens que haviam

    cometido algum tipo de delito, o que em outrora, acarretaria em uma

    punio, talvez, exacerbadamente exagerada.

    Podemos citar alguns casos reais em que a justia restaurativa

    cumpriu o papel a que se props:

    Caso 1:

    Em Caxias do Sul (RS), um assalto mo

    armada envolvendo trs adolescentes encontrou uma

    sada em uma nova metodologia de soluo de

    conflitos. O caso, que poderia terminar com mais trs

    adolescentes em unidades socioeducativas lotadas,

    foi resolvido com base na Justia Restaurativa, ou os

    chamados crculos restaurativos. No caso do assalto,

    os trs adolescentes, os familiares e o dono do

    restaurante roubado foram convidados a participar do

    crculo, onde, juntos, decidiram a melhor forma de

    solucionar o conflito. Os jovens cumpriram regime de

    liberdade assistida e devolveram o valor roubado.