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Boletim n o 12 | 9 de fevereiro de 2015 Boletim da ADUNIRIO Seção Sindical do ADUNIRIO Novo diretor do HUGG diz que Ebserh não é boa solução Artigos: A situação da educação na “Pátria Educadora” Caminhos bloqueados na Unirio pág 4 pág 6 pág 3 Fernando Ferry, que assumiu a direção do HUGG em dezembro de 2014, explica os motivos que o fazem discordar da proposta que o governo Dilma vem tentando impor aos hospitais universitários brasileiros.

Boletim da Adunirio 12

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Page 1: Boletim da Adunirio 12

Boletim no 12 | 9 de fevereiro de 2015

Boletim daADUNIRIO

Seção Sindical do

ADUNIRIONovo diretor do HUGG

diz que Ebserh não é boa solução

Artigos: A situação da educação na “Pátria

Educadora”

Caminhos bloqueados na Unirio

pág 4

pág 6pág 3

Fernando Ferry, que assumiu a direção do HUGG em dezembro de 2014, explica os motivos que o fazem discordar da proposta que o governo Dilma vem tentando impor aos hospitais universitários brasileiros.

Page 2: Boletim da Adunirio 12

Diretoria: Presidente: Viviane B. Narvaes | Vice-Presidente: Camila M. Moraes | Secretário Geral: Carla Sartor| 1º Secretário: Bruno oliveira | 2º Secretário: Leonardo Villela de Castro | 1º tesoureiro: rodrigo Castelo | 2º tesoureiro: rafaela de Souza ribeiro CoNSeLho FiSCaL titulares: Willian G. Soares, Dayse Martins hora, enedina Soares | Suplentes: Íris abdallah Cerqueira CoNSeLho De rePreSeNtaNteS: alexandre Magno Carvalho, Clarisse t. Gurgel, elisabeth orletti, Jadir anunciação de Brito, Janaína Bilate Martins, Natália ribeiro Fiche, Pedro rocha de oliveira, rafael Forte Soares e renato almeida de andrade aDMiNiStratiVo: Claudinea Gonçalves CoMUNiCaÇÃo: Bruno Marinoni

Boletim no 12 | 9 de fevereiro de 2015

ADUNIRIO

Índice

Um passo a frentepágina 2

Caminhos bloqueados - Ipágina 3

“Nós achamos que a ebserh não é uma boa solução para o hospital”- entrevista

página 4

Primeiros cenários da luta social e educacinal em 2015 - artigo

página 6

Brasil: uma Pátria educadora... Com cortes orlamentários na educação - artigo

página 7

ANDES-SN cobra do MEC os direitos de progressão e promoção na carreira com

pagamento de retroativos página 8

Andes-SN realiza em fevereiro o 34º Congresso da entidade

página 8

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A Adunirio anuncia uma boa nova nesta edição. A direção do Hospital Universitário Gaffrée & Guinle (HUGG) conta, desde dezembro de 2014, com um diretor contrário à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). E isto não deve parecer pouco para quem acompanha os capítulos da resistência dos hospitais universitários aos ataques ao caráter público e autônomo das instituições federais de ensino superior e aos direitos sociais de seus trabalhadores.Apesar da dura pressão exercida pelo Governo Federal nos últimos anos para impor a adesão aos contratos da Ebserh, nenhuma universidade no Rio de Janeiro entrou na sua lista de “instituições filiadas”. Nenhum passo atrás. Novas diretorias assumiram HUs na capital fluminense e se declararam contrárias à empresa. Passo a frente. Foi esse o caso do professor Eduardo Côrtes, que assumiu a direção do Hospital Clementino Fraga Filho (UFRJ) em dezembro de 2013 após uma grande mobilização dos setores contrários à mercantilização da saúde. Segundo ele, “a Ebserh não é solução para os problemas dos hospitais universitários” e apenas com o “saneamento” realizado pela nova administração do hospital nos primeiros seis meses, recuperou-se R$ 6,8 milhões acumulados em dívidas de 2013. Com a nova direção do HUGG, contamos agora também com um crítico da Ebserh, que faz coro com Eduardo Côrtes. O professor Fernando Ferry afirma que “nós não aderimos, aí não tem o recurso,

mas tem como a gente brigar contra isso de uma forma organizada”. Diante desta nova conjuntura, nos perguntamos se o movimento de docentes, estudantes e técnicos que resistiu à entrega do HUGG a Ebserh entrou em uma nova fase. Esperamos que sim, mas a mobilização precisa ser permanente, pois os ataques à educação pública continuam a serem perpetrados. E não são poucos. Basta ver a composição ministerial do segundo governo Dilma e suas principais ações, em especial as relacionadas à economia e à educação. Temos os cortes e contingenciamentos bilionários de verbas do MEC para pagamento dos juros da dívida pública e a criação de uma Organização Social para contratação de professores nas universidades federais defendida pela Capes, além da criminalização dos movimentos grevistas de professores e técnicos da educação nos últimos anos.Nesta edição do boletim iniciamos uma série de reportagens sobre as condições de trabalho na Unirio, com foco na infraestrutura. Os primeiros centros visitados foram o CLA e CCJP. Na matéria, destacamos a iniciativa, surgida durante a greve dos técnicos em 2014, de se avançar no debate interno sobre acessibilidade e direitos de pessoas deficientes. Nas próximas edições, estaremos nos outros centros e campi. Caso tenha sugestões de locais a serem visitados, envie mensagem por meio do nosso correio eletrônico: [email protected].

Um passo a frente

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Quem foi ao Centro de Letras e Artes (CLA) da Unirio depois do dia 11 de dezembro foi surpreendido com a interdição do caminho que leva à entrada principal. A mensagem afixada no obstáculo ali colocado no dia anterior justificava a obstrução: “Esta passagem está interditada por motivos de segurança. O reboco está se soltando do telhado do bloco 3 e não oferece segurança aos usuários”. Como solução emergencial, a administração da universidade bloqueou a passagem, indicou como desvio o corredor estreito na lateral do bloco 5, derrubou mais uma parte da estrutura que ameaçava ruir e providenciou uma tela de proteção para conter a possível queda de outros pedaços do prédio. A queda do reboco ocorreu pouco mais de uma semana antes da Unirio entrar no recesso de fim de ano, período de menor intensidade na circulação de pessoas devido à chegada das férias letivas. Apesar da obstrução e dos avisos de perigo, esta reportagem observou, durante visita ao local, que, embora com pouco movimento, muitos frequentadores do CLA se arriscavam furando o bloqueio e transitando pelo caminho principal, de mais fácil acesso.

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A Decania do CLA declarou que a queda do reboco foi uma fatalidade em virtude de uma chuva com fortes ventos ocorrida naquela semana. A decana Carole Gubernikoff fez questão de mostrar à esta reportagem as boas condições em que se encontram os edifícios e salas das Escolas de Letras, de Música e de Teatro e explicou que a manutenção da fachada do bloco 3 teria ficado comprometida devido a interferências por parte do Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac) quando houve a tentativa de restauro.“Em relação a 2 ou 3 anos atrás estamos muito melhor”, justificou a professora Gubernikoff. A decana considera “a tragédia do prédio de Letras (bloco 3)” o fato de se encontrar espremido entre uma Área de Proteção Ambiental (APA) e o bloco 5, tombado pelo Inepac por se tratar de parte da estrutura erguida em 1908 para as comemorações do centenário da abertura dos portos brasileiros.O Inepac, em resposta dada pela assessoria de comunicação, informou que: “quanto aos demais prédios do entorno do bem tombado, o que inclui o bloco 3, o Inepac fez ver à universidade que qualquer alteração

Caminhos bloqueados da Unirio - I

ou intervenção, por lei, precisa ser analisado pelo órgão de tombamento. Não houve, no entanto, consultas referentes ao bloco 3. Não há, assim, qualquer interdição por parte do Inepac à manutenção das fachadas dos edifícios da universidade, apenas a necessidade de que o órgão seja consultado”.Percebe-se, assim, que os problemas de infraestrutura provocados por anos de sucateamento da universidade por parte dos diferentes governos federais e agravados pela debilidade no planejamento das obras por parte da administração central da Unirio se espalham pelos diferentes Campi.

Com parte da estrutura comprometida, o “Casarão” localizado na rua Voluntários da Pátria, (antiga sede da reitoria da Unirio) encontra-se subutilizado. Construído no século XIX, o edifício faz parte atualmente do Centro de Ciências Jurídicas e Políticas (CCJP). O terceiro andar, em sua parte frontal, está completamente tomado por pombos e a administração orientou que, por segurança, não se deve colocar materiais pesados no segundo andar, sob o risco de ceder o piso.Funcionários das empresas terceirizadas que prestam serviço à Unirio ocupam inadequadamente parte do segundo andar do Casarão, sujeitos aos perigos da estrutura frágil e às doenças graves disseminadas pelos pombos.De acordo com a Decania do CCJP, existe um projeto arquitetônico de restauro do Casarão aguardando aprovação do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), órgão da prefeitura responsável pelo tombamento do imóvel. Após aprovado, inicia-se a

elaboração do projeto de engenharia e a busca do financiamento.A decana, Rosângela Maria Gomes, está otimista e diz acreditar que em agosto já deve ser iniciado o trabalho de restauro. Segundo ela, desde 2012 vem se dedicando a dar agilidade ao projeto, que não teria andado mais rápido somente por conta da preocupação da Decania em verificar os procedimentos corretos junto aos órgãos competentes e em promover a participação da comunidade acadêmica do CCJP.“Não me pergunte como chegou a esse ponto”, diz a decana sobre a situação em que “herdou” o Casarão ao assumir a decania. Sua proposta é de tornar o edifício um centro de referência com auditórios e salas de ensino e pesquisa. “Quero uma obra duradoura, e não um paliativo”, afirma.Para a elaboração da proposta de restauração, foi montada uma comissão interna que conta com a representação estudantil por meio dos Centros Acadêmicos e foi promovida em 2014 uma audiência pública.

Debates públicos como soluçãoTaliane Alves Cunha, servidora da Unirio, diz enfrentar “várias dificuldades para trabalhar”, pois a Unirio não oferece as condições necessárias para que possa transitar utilizando a sua cadeira de rodas. A jovem de 28 anos, que ocupa uma função atualmente no Departamento de Extensão da Pró-Reitoria de Extensão (PROEXC), não conseguiu, por exemplo, participar da solenidade que lhe conferiu a posse no cargo, pois não havia condições de chegar ao local.Embora tenha conseguido assumir a função de técnica-administrativa da Unirio apesar das dificuldades, o mesmo não aconteceu quando tentou ingressar na instituição, em 2012, como estudante. Aprovada no vestibular para a licenciatura em Biblioteconomia, Taliane Alves se deparou com obstáculos referentes à mobilidade na universidade e na capital fluminense que a obrigaram a abandonar o curso e se matricular em uma faculdade particular. Após comunicar as dificuldades à administração da Unirio, a jovem diz ter recebido como resposta um “sinto muito, mas não podemos fazer nada por você”.Taliane Alves deve, em breve, integrar a comissão designada para debater soluções para os problemas de mobilidade na Unirio. Proposta a partir de debates surgidos na última greve dos técnicos, a comissão aguarda apenas a indicação de um representante da Progepe para que seja formalizada por meio de portaria. A funcionária diz que espera que as pessoas com necessidades especiais tenham condições de entrar na universidade e de conviver com os demais”.

Acessibilidade

Frequentadores do CLA se arriscam transitando em trecho interditado

* Confira na próxima edição do boletim outros caminhos bloqueados na Unirio

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Fala-se da necessidade de se dar resposta à crise do HUGG. Como se encontra o hospital nesse momento em que você assume a sua direção e que projeto tem para o HUGG?Ao ocupar a direção do HUGG, o que nós encontramos foi um hospital com uma dívida de R$ 7,5 milhões. O SUS não repassou os recursos de novembro a janeiro. Isso representa R$ 2,5 milhões. A farmácia está, então, desabastecida, os insumos de laboratório também estão começando a faltar e nós estamos com ausência de fomento de agência para financiar o hospital por conta da não adesão à Ebserh.A Ebserh no dia 31 de dezembro, às 14h, ligou para o reitor para liberar R$ 2,7 milhões mediante a apresentação de um plano de trabalho. Nós tínhamos até às 20h para resolver. Nós conseguimos resolver, pegamos esse dinheiro e conseguimos abater um pouco dessa dívida.Nós achamos, porém, que a Ebserh não é uma boa solução para o hospital. Com a

“Nós achamos que a Ebserh

não é uma boa solução para o

hospital”

Entrevista

maior parte dos docentes, dos funcionários e dos alunos, nós também não queremos a Ebserh aqui. A Ebserh já financia, contudo, boa parte do hospital. A Ebserh ainda não entrou com o financiamento do pessoal. Esse que é, então, o nosso imbróglio. Nós temos 500 bolsistas em uma situação precária de trabalho que nós queremos regularizar. Já existe uma ação do Ministério Público Federal contra a União e contra o Ministério da Educação para que faça concurso para poder contratar as pessoas que a gente necessita aqui para o hospital. Isso já está em trâmite na justiça, é um processo de 50 páginas. A gente está esperando para ter esses funcionários, principalmente os funcionários administrativos, porque você não consegue viver em um hospital sem a administração. Então, o nosso grande problema é realmente [falta de] pessoal e precisamos de concursos.

Como está a distribuição de pessoal no HUGG?Nós temos 161 professores e 98 técnicos-administrativos das mais diversas especialidades. Nós temos uma escassez muito grande. Você vê que um hospital como este tem, pelo Siape, em torno de 300

funcionários.A Ebserh quer contratar por CLT. Isso não é uma boa ideia, porque no hospital público o funcionário tem que ter a sua estabilidade para não ficar à mercê das intempéries políticas.

Como o hospital se relaciona com o ensino?Um dos papéis do hospital é trabalhar em conjunto com a Escola de Medicina e Cirurgia. Hospital universitário é financiado pelo SUS, mas tem escola com um diretor que trata do ensino. Nós [diretores] temos, então, que nos unir para melhorar toda a infraestrutura. Temos espaços que vão atender o professor e os alunos, que juntos vão prestar assistência a um paciente. Como este é um hospital terciário, nós temos que pegar os casos mais complicados, que ninguém consegue resolver, pois nós temos capacidade de solucioná-los. Isso é uma outra etapa: já marcamos reunião com o Secretário Estadual de Saúde e com o Secretário Municipal de Saúde para a gente montar esse sistema e drenar os casos mais complicados da população, porque esse é o nosso papel.

O professor e médico Fernando Ferry, que em dezembro de 2014 assumiu a direção do Hospital Gaffrée & Guinle (HUGG), explica em entrevista ao Boletim da Adunirio a atual situação do hospital e critica as tentativas da Ebserh de ferir a autonomia universitária.

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EntrevistaVocê concorda com a ideia de que as questões referentes ao hospital universitário não estão circunscritas à Escola de Medicina?Sim. O hospital é da universidade. Eu já tenho reunião marcada com a diretora da Escola de Enfermagem, a diretora da Escola de Nutrição, já tive apoio de uma professora do Turismo e vou até a direção do Turismo, vou à direção do Teatro... Paralelo a isso, nós vamos ter a reunião com os secretários, da qual eu já falei, e temos também do nosso lado, nos apoiando integralmente, o deputado Jean Wyllys. Ele quer que implantemos aqui um centro que realize mudança de sexo. Isso tem que estar dentro de um hospital universitário, porque gera muita pesquisa. Não envolve só o cirurgião, envolve a psiquiatria, a psicologia e o serviço social. Nós vamos fazer também um centro de atendimento à vítima de violência sexual e também de pacientes com doenças sexualmente transmissíveis. A gente já tem isso funcionando, mas tem que ampliar e essa ampliação passa por pessoal e recursos. O deputado Jean Wyllys disse, então, pra mim assim: “Eu vou colocar à sua disposição 101 deputados da bancada de direitos humanos da Câmara Federal pra te ajudar no que precisar. Faça os projetos e me traga”. A gente está, assim, procurando o apoio político. Paralelo a isso, eu já fui procurado pela Marina Silva e pela Heloísa Helena, que é enfermeira e professora da Universidade Federal de Alagoas, que querem fazer uma visita ao hospital, porque querem levar o conhecimento universitário sobre o problema da AIDS para dentro do partido da REDE e poder ajudar a gente.O Miro Teixeira deve também apresentar uma emenda parlamentar. O Jean Wyllys já apresentou uma. O Rodrigo Maia vai apresentar outra. Sabe por quê? O aluno e o doente não são estadual, municipal ou federal, e sim da população brasileira. Então, o trabalho que a gente faz tem que estar acima de partido ou corrente política. Nós estamos aqui para servir à população.

O que você pensa da proposta de um diagnóstico e de uma alternativa à Ebserh?Nós sabemos o que precisamos. Uma das propostas da Ebserh é fazer o diagnóstico do que o hospital precisa. Então eles vão chegar aqui e mandar uma pessoa de fora dizer do que a gente precisa? Isso não existe! Nós estamos capacitados para fazer o diagnóstico, dizer o que precisamos e executarmos as ações. E isso a gente já está fazendo com olhar de professor e pesquisador, e acima de qualquer partidarização. Foi a primeira coisa que eu disse para o Jean Wyllys. Ele colocou R$ 3 milhões aqui e não utilizou isso na campanha dele. A gente não quer radicalismo, não quer partidarização, não quer nada disso. E o diagnóstico nós sabemos fazer. Eu estou aqui há 20 anos tratando AIDS, montei o mestrado em AIDS, coordeno esse mesmo mestrado e não vou saber do que eu preciso?! Eu preciso de gente de fora para fazer o diagnóstico do que o hospital quer?! Nós já estamos aqui fazendo esse diagnóstico. Temos aqui um hospital antigo, de 1928, que precisa melhorar a infraestrutura. Já temos um plano de reestruturação física do hospital, até da fachada do prédio. A Escola de Teatro, nesse caso, já se propôs a fazer um projeto de iluminação do hospital e dessa fachada. A Escola de Turismo já se ofereceu para treinar nossa recepção e para treinar a hotelaria do hospital.

O que justifica o fechamento de enfermarias no HUGG?Quando o MEC interrompeu o fluxo de dinheiro para o hospital e falou “tem que ser Ebserh”, o reitor foi até Brasília (e ele já anunciou isso publicamente) e o secretário do MEC falou o seguinte: “Só tem um jeito. É vocês aderirem à Ebserh, senão não tem como financiar o hospital”. Chegou a um ponto em que o hospital teve que reduzir porque não tinha como [funcionar]! Não tem como eu manter a enfermaria aberta se não tem antibiótico. A gente estava devendo: comida, R$ 1,4 milhão; limpeza, R$ 1,25 milhão; hemodiálise, R$ 350 mil... Com esse dinheiro que veio no fim do ano a gente

conseguiu reduzir bastante essa dívida, mas a gente precisa de fluxo contínuo. Não é ligar e dizer: “olha, a gente tem um dinheirinho aqui pra vocês no dia 30”.

Você considera isso que a Ebserh faz uma chantagem?Eu não sei se é chantagem ou não. Eles vão, porém, dar prioridade a quem já aderiu. Nós não aderimos, aí não tem o recurso, mas tem como a gente brigar contra isso de uma forma organizada. A partir do momento em que a gente se organiza, que a gente leva lá as demandas, eles vão ter que atender.Nós tivemos que reduzir drasticamente o número de atendimentos por conta dessa questão do financiamento. Então, a partir do momento em que estamos conseguindo caminhar para recuperá-lo, a gente reabre as enfermarias.Na oitava enfermaria, por exemplo, já entrou o chefe da obra, já entrou a CCIH (Comissão de Controle de Infecção Hospitalar), já entrou a enfermagem... já começamos a arrumar a enfermaria. Já foi limpa, já retiramos as coisas que precisavam ser retiradas, a manutenção já está trocando as tomadas... Nós estamos arrumando as enfermarias e vamos abri-las.No primeiro momento, eu vou ter que manter a diminuição do número de leitos. Eu vou ter que diminuir a assistência, porque tem um conceito muito errado aqui. Nós somos um hospital universitário de “ensino” e de “pesquisa”. O atendimento podemos até considerar extensão. A gente não tem que trabalhar aqui com o SUS como um hospital secundário, por exemplo, que fica entupido de pacientes. Tem que ter qualidade. Tem que selecionar o doente que seja de interesse para a pesquisa e para o ensino. Então, eu tenho que fazer uma série de pactuações ao longo do ano para que a gente consiga resolver o problema financeiro do hospital e selecionar o número de doentes.Primeiro a gente tem que enxugar e depois, gradativamente, ir aumentando o número de leitos e pacientes acoplado aos projetos de pesquisa. Por isso que a participação dos docentes da pós-graduação é fundamental.

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As nomeações de personalidades como o ex-governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), para o Ministério da Educação, de Kátia Abreu (PMDB) para o Ministério da Agricultura, de Gilberto Kassab (PSD) para o Ministério das Cidades e de Joaquim Levy para o ministério da fazenda, respondem a necessidades do projeto social-liberal em curso e atendem a interesses de forças políticas que sustentam essa variante do neoliberalismo brasileiro.Herdeiro do projeto corretamente chamado de “modernização do atraso”, pensado ainda no período da ditadura sob a batuta do coronel Virgílio Távora e impulsionado noutro patamar pelos governos autodenominados “mudancistas”, Cid Gomes governou o Ceará no período de 2007 a 2014 e atraiu os holofotes da imprensa nacional não apenas por suas bizarrices das quais destaco: a careira desembestada – como dizemos por aqui – na pista de pouso do aeroporto da Bahia para ser o primeiro a receber a presidenta Dilma; o passeio à Europa na companhia da mulher e sogra a custa do erário; a afirmação segundo a qual “quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário; se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado” num estado onde os salários do setor privado são menores do que os do público; e o mergulho na poça d´água que se formou pelo estouro de uma adutora que deixou a cidade de Itapipoca/CE desabastecida na passagem do ano de 2013.Sua fama se espalhou, também, pela implementação de um modelo de gestão que cumpriu à risca a austeridade fiscal, atraiu investimentos à base de generosa cesta de benefícios para empresas forâneas como a ousada política de isenção fiscal, manteve linha dura contra os movimentos trabalhistas/sociais e articulou ampla base

de sustentação que incorporava desde o PT e o PCdoB até importantes nichos do conservadorismo cearense, além de cooptar parcelas do movimento sindical e popular.Notabilizou-se por consignar, em 2008, a derrotada Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra o Piso Salarial Nacional dos professores, combatendo, fundamentalmente, o valor do salário e a liberação de tempo para planejamento e preparação de aulas. Ao mesmo tempo, foi intransigente para com as reivindicações da categoria docente, precipitando extensa greve do setor no segundo semestre de 2011, movimento que foi duramente reprimido pelas forças policiais como demonstra a sangrenta repressão ocorrida na Assembleia Legislativa no dia 29/9/2011, o que mereceu crítica até mesmo do insuspeito conservador global Alexandre Garcia.O governo Cid Gomes destacou-se, ainda, por implementar o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC), experiência que inspirou o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), e a junção (pois não há integração de fato!) do ensino propedêutico e do profissionalizante no nível médio. Em ambos os casos, trata-se de iniciativas orientadas pelo Banco Mundial para o qual os Estados de países periféricos devem reforçar a educação fundamental e profissionalizante em detrimento dos demais níveis de ensino.No ensino superior, Cid Gomes foi derrotado numa exitosa greve dos professores e estudantes da Uece, Urca e Uva ocorrida entre novembro/2007 e fevereiro/2008 que resultou na conquista do Plano de Cargos dos docentes com reposição salarial de 94% e investimentos em equipamentos como Restaurante Universitário, Biblioteca, Ginásio Poliesportivo e Hospital Veterinário.

Nos anos posteriores, todavia, o governo recrudesceu sua característica intransigência não autorizando a reposição de pessoal docente e técnico-administrativo, tampouco realizou investimentos em infraestrutura, conduzindo as três estaduais à beira do colapso e à deflagração de novas greves em 2013 e 2014. Durante esta última, Cid Gomes celebrou acordo com o movimento, mas condicionou o cumprimento à dedicação de 52% da jornada de trabalho do professor na ministração de aulas, o que representaria o desmantelamento das atividades de pesquisa, extensão e gestão. O movimento resistiu e parece ter sepultado, pelo menos temporariamente, mais esse ataque às condições de trabalho dos docentes.Os fatos relatados indicam a linha de conduta do atual ministro da educação que, certamente, o cacifou para assumir a pasta, desbancando o domínio do PT. Sua nomeação e de outras figuras como Kátia Abreu, Gilberto Kassab e Joaqim Levy indica um deslocamento do governo mais à direita e expressa uma possível crise d´algumas pilastras do social-liberalismo, notadamente aquelas que permitiram a incorporação de parte do exército de reserva no emprego precário, no consumo e nas políticas pontuais de proteção social.Os primeiros cenários de 2015 indicam, pois, o recrudescimento dos ataques aos direitos humanos, sociais e trabalhistas, a exemplo da reforma do ensino médio anunciada pelo ministro, do ajuste fiscal “Levyano” e das medidas provisórias 664 e 665 que restringem o acesso dos trabalhadores a direitos já consagrados.A conjuntura exige que, do lado de cá, reunamos todas as forças subjetivas e organizativas para travar um duro combate pela manutenção/ampliação dos direitos e em defesa do trabalho.

Primeiros cenários da luta social e educacional em 2015

Artigos

Epitácio Macário – professor de Economia Política da UECE e 2º Vice-Presidente do Andes-SN

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O governo de Dilma Rousseff (PT) iniciou o primeiro ano de seu segundo governo anunciando diversos cortes que atingem a Educação e outras medidas restritivas aos direitos trabalhistas. A Presidente da República assinou o Decreto 8.389 em 7 de janeiro. Nesse seu ato foi anunciado o bloqueio provisório de um terço dos gastos administrativos dos 39 ministérios e secretarias especiais. Isso irá gerar uma economia de 22 bilhões sendo que, deste montante, 7 bilhões deixarão de ser investidos na Educação, o que representa por volta de 600 milhões por mês a menos.Há indícios que por trás deste Decreto o objetivo é poupar em 2015 o equivalente a 66,3 bilhões para o pagamento dos juros da dívida pública e assim tranquilizar os bancos credores. Não podemos esquecer que o Brasil está cada vez mais próximo de uma recessão e é preciso garantir os compromissos com os setores financeiros.Encontramos paralelos desses cortes orçamentários na política econômica dos anos 1990 frente às crises. Além de diminuir os recursos de áreas como Educação, Saúde e Previdência Social, procura rever as regras trabalhistas que certamente irão golpear os mais frágeis em uma economia cada dia mais combalida. Nesta conjuntura, diversos indicadores econômicos já apontam para um crescimento negativo da economia brasileira e a entrada do país em recessão até o final de 2015.Para compreender melhor esse quadro, o “Chicago Boy”, Joaquim Levy, pronunciou em Davos, Suíça, que o seguro-desemprego está “ultrapassado”. E afirmou ao Financial Times que o Brasil vive um momento de austeridade e não descartou crescimento zero da economia, com isso, apontou que reformas estruturais são urgentes no Brasil. Com esse pronunciamento podemos esperar mais medidas que irão contra os

Brasil, uma Pátria Educadora... com cortes orçamentários na EducaçãoJosé Damiro - professor da Escola de Educação da Unirio

Artigos

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direitos de trabalhadores e aposentados e, com certeza, mais corte de recursos em áreas como educação, saúde e previdência social. Essa informação é relevante e não pode ser desconsiderada mesmo com o discurso de abertura da reunião ministerial de 27 de janeiro no qual a Presidente Dilma afirmou que “os direitos trabalhistas são intocáveis”. Afinal, ao analisar as práticas com os movimentos sindicais, como com o ANDES, isso aparenta ser apenas mais uma figura da retórica governista preocupada com a oposição dos sindicatos e possíveis manifestações.Frente a esse panorama, algumas Instituições Federais de Ensino (IFE) estão publicando notas que revelam as dificuldades financeiras a partir do decreto de Dilma. A Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), por exemplo, suspendeu o pagamento de gastos com diárias e passagens. Ao responsabilizar o decreto, apontou a impossibilidade da constituição de bancas de defesa de Mestrado e Doutorado presenciais com a participação de membros externos. Por fim sugere que a participação de membros externos seja feita por vídeo ou audioconferência. Além disso, informa que não haverá auxílio do Programa de Apoio à Pós-Graduação (PROAP), pois a CAPES irá repassar recursos apenas após a aprovação da Lei de Orçamento Anual (LOA) .Orientação semelhante, vinda da Pró-Reitoria de Planejamento e Orçamento da Universidade de Brasília (UnB) aos gestores das unidades acadêmicas e administrativas, indica que devem ser priorizadas as despesas consideradas de “caráter inadiáveis”. Outro aspecto dos cortes poderá afetar os recursos

destinados aos serviços terceirizados, que já sofrem atrasos de salários ou de pagamentos de bolsas em algumas universidades desde o final do ano de 2014. Além das universidades, esse Decreto também acende a luz amarela para setores da pesquisa que recebem recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), cuja redução de verba com um corte de 1,5 bilhões, o que poderá implicar na redistribuição dos recursos destinados à Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Vivemos em um país dos paradoxos. Por um lado, tecnicamente não podemos denominar esse Decreto como sendo de contingenciamento orçamentário. Por outro, ele limita, restringe e impede a aplicação dos recursos em sua plenitude. Para entender melhor, normalmente temos a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO), preparatória para a proposta da Lei de Orçamento Anual (LOA). Caso ocorram necessidades, o governo pode utilizar um decreto definindo contingenciamento ou congelamento de despesa que deve ser publicado em até 30 dias após a LOA.O que temos agora é a aprovação da LDO (Lei 13.080 em 02/01/2015) mas sem a aprovação da LOA que fixa os gastos de janeiro a dezembro. Assim, foi assinado por Dilma Rousseff um Decreto que contingencia o orçamento que ainda não foi aprovado!Em todo caso, estamos em um momento de impasse na universidade pública federal com dúvidas e incertezas. Precisamos nos organizar no sindicato e lutar para garantir nossas condições de trabalho e uma Universidade que seja Pública, Gratuita, de Qualidade e com Autonomia real, principalmente a econômica.

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O ANDES-SN protocolou no dia 16 de dezembro uma carta no gabinete da Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC), afirmando sua posição contrária à Nota Técnica do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) nº 33/2014, que impede efeitos funcionais e financeiros da progressão/promoção na carreira docente. O Sindicato Nacional, com base em um parecer de sua Assessoria Jurídica Nacional (AJN), defende que a incidência de progressões e promoções aconteça a partir do momento que esteja caracterizado seu direito, seja pelo término do interstício legal, seja pela obtenção de titulo.Diversas seções sindicais têm relatado ao ANDES-SN que as suas Instituições Federais de Ensino Superior (IFE) não têm garantido

o recebimento de retroativo nos pedidos de progressão ou promoção. Na carta, o Sindicato Nacional critica a nota técnica do MPOG, que condiciona à avaliação de desempenho os efeitos financeiros e funcionais da promoção ou progressão, ainda que efetuada em momento posterior.O parecer da AJN considera que o mais justo e correto é o recebimento dos efeitos financeiros e funcionais a partir do momento em que se preenchem os requisitos necessários – independente da vontade e da velocidade da administração pública em realizar a avaliação de desempenho. “Os efeitos funcionais e patrimoniais da progressão/promoção deverão contar a partir do término do interstício legal – de vinte e quatro meses – no qual a universidade analisará o mérito e a produção acadêmica

ANDES-SN cobra do MEC os direitos de progressão e promoção na carreira com pagamento de retroativos

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concretizada naquele interregno, ainda que a chancela e a análise da administração ocorra em momento posterior ao referido período de dois anos”, diz a AJN em seu parecer.Para Paulo Rizzo, presidente do ANDES-SN, os direitos dos professores de progredirem na carreira estão sendo violados nas universidades que não pagam o retroativo. Ele ressalta ainda que há casos em que as universidades chegam até a contar o período para a próxima progressão apenas após a avaliação de desempenho do anterior, o que faz com que o docente tenha que trabalhar mais de dois anos para progredir. “Queremos o fim dessa interpretação por parte do MEC, e também queremos reabrir, com o novo governo, o processo de rediscussão da carreira para que possamos corrigir todas as falhas, e não apenas essa”, afirma Rizzo. * Com informações do Andes-SN

Andes-SN realiza em fevereiro o 34º Congresso da entidadeO 34° Congresso do ANDES-SN será realizado entre 23 e 28 de fevereiro, em Brasília (DF). De acordo com o presidente do ANDES-SN, Paulo Rizzo, “em 2015 teremos uma nova conjuntura política do país, que está sem crescimento econômico. Será, necessariamente, um ano de muitas lutas, e o objetivo do congresso é preparar os docentes para esses enfrentamentos”.Na Unirio, foram escolhidos 8 delegados para representar o movimento docente na instituição. A professora Andréa Thees, Bruno Oliveira, Enedina Soares,

Leonardo Castro, Rodrigo Castelo, Terezinha Souza e Viviane Narvaes foram os eleitos em assembleia promovida pela Adunirio em dezembro. A delegada indicada pela diretoria da Adunirio foi a professora Carla Sartor. A delegação conta também com a participação da professora Elisabeth Orletti como observadora.O tema escolhido para o Congresso deste ano trata da “Manutenção e ampliação dos direitos dos trabalhadores” e propõe “avançar na organização dos docentes e enfrentar a mercantilização da educação”.

A diretoria da Adunirio promoveu no dia 9 de fevereiro, na sede da seção sindical, um seminário com os delegados para discutir as teses disponíveis no caderno de textos do Andes-SN e aprofundar os temas tratados no congresso. A regional do Andes-SN no Rio de Janeiro realiza no dia 11 de fevereiro, na sede da ADUFF, em Niterói, às 10h30, um Pré-Congresso Regional. Entre as principais tarefas, está a análise da conjuntura e dos Textos de Resolução (TR) apresentados pelas Seções Sindicais do estado.