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O movimento docente, estudantil e de técnicos da Unirio organizou uma série de atividades na manhã do dia 31 de julho contra a priva- tização do Hospital Universitário Gafrée e Guinle (HUGG), pela autonomia universitária e contra a Ebserh. Além de um seminário, promoveu-se uma panfletagem e um ato público em frente ao hos- pital. O seminário realizado para deba- ter “Alternativas para os hospitais universitários do Rio de Janei- ro” trouxe à Unirio o diretor do Hospital Universitário Clementi- no Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), Eduardo Côrtes, e Cláudia Mar- ch, professora de saúde coletiva da UFF. A direção do HUGG foi chamada, mas não respondeu ao convite. O professor e neurocirurgião Eduardo Côrtes foi eleito em no- vembro de 2013 para a direção do HUCFF, com o triplo dos votos do segundo colocado e com maioria nos três segmentos (professores, técnicos e estudantes), defenden- do o reerguimento do hospital universitário da UFRJ e se colo- cando contra a adesão à Ebserh. Côrtes explicou que a situação do HUCFF piorou muito nos últimos tempos e algumas pessoas diziam que o agravamento da situação forçaria a aceitação da Ebserh. Ao ocupar o cargo, deparou-se com uma dívida financeira de mais de R$ 7 milhões acumulada em 2013 (que junto com outros gastos compôs um déficit de R$ 13 mi- lhões) e com funcionários que não recebiam seus pagamentos desde agosto. O diretor considera a dívida uma ação estratégica dos defensores da Ebserh para pressionar a comuni- dade acadêmica a exigir uma “in- tervenção”. Quando tomou posse, o HUCFF devia para empresas fornecedoras de alimentos, oxigê- nio, ar condicionado, material de hemodiálise, manutenção da rede elétrica e dos aparelhos de diag- nóstico de radiologia. São grupos que, ao pararem de receber, dei- A Ebserh não é solução para os problemas dos hospitais universitários, declara Eduardo Côrtes Edição extra | 5 de agosto de 2014 Boletim da ADUNIRIO filiada ao ADUNIRIO

Boletim Adunirio Especial

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O movimento docente, estudantil e de técnicos da Unirio organizou uma série de atividades na manhã do dia 31 de julho contra a priva-tização do Hospital Universitário Gafrée e Guinle (HUGG), pela autonomia universitária e contra a Ebserh. Além de um seminário, promoveu-se uma panfl etagem e um ato público em frente ao hos-pital. O seminário realizado para deba-ter “Alternativas para os hospitais universitários do Rio de Janei-ro” trouxe à Unirio o diretor do Hospital Universitário Clementi-no Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), Eduardo Côrtes, e Cláudia Mar-ch, professora de saúde coletiva

da UFF. A direção do HUGG foi chamada, mas não respondeu ao convite. O professor e neurocirurgião Eduardo Côrtes foi eleito em no-vembro de 2013 para a direção do HUCFF, com o triplo dos votos do segundo colocado e com maioria nos três segmentos (professores, técnicos e estudantes), defenden-do o reerguimento do hospital universitário da UFRJ e se colo-cando contra a adesão à Ebserh. Côrtes explicou que a situação do HUCFF piorou muito nos últimos tempos e algumas pessoas diziam que o agravamento da situação forçaria a aceitação da Ebserh. Ao ocupar o cargo, deparou-se com

uma dívida fi nanceira de mais de R$ 7 milhões acumulada em 2013 (que junto com outros gastos compôs um défi cit de R$ 13 mi-lhões) e com funcionários que não recebiam seus pagamentos desde agosto. O diretor considera a dívida uma ação estratégica dos defensores da Ebserh para pressionar a comuni-dade acadêmica a exigir uma “in-tervenção”. Quando tomou posse, o HUCFF devia para empresas fornecedoras de alimentos, oxigê-nio, ar condicionado, material de hemodiálise, manutenção da rede elétrica e dos aparelhos de diag-nóstico de radiologia. São grupos que, ao pararem de receber, dei-

A Ebserh não é solução para os problemas dos hospitais universitários, declara Eduardo Côrtes

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xam de realizar serviços vitais ao funcionamento do hospital. Além disso, em muitos casos, não exis-tiam sequer contratos, o que difi-cultava o pagamento pelo serviço público. Com o “saneamento” realizado pela nova administração do hos-pital nesses últimos seis meses, Côrtes afirma já ter conseguido pagar R$ 6,8 milhões da dívida de 2013. Além disso, o neurocirurgião aponta problemas de grave de-sorganização e décadas de falta de investimento, por meio dos quais se criou todo um ambiente para o mal funcionamento e para a fraude no HUCFF. Segundo ele, “não se consegue dar a volta por cima” se não forem abordados os problemas do “desperdício de di-nheiro por superfaturamento e dos contratos mal feitos e mal fis-calizados”. Côrtes completou ex-plicando que “esses R$ 6,8 milhões saíram de lá” para sanar as dívidas contraídas.

Embora a nova direção tenha re-organizado as finanças do HUC-FF, o que liberou o dinheiro para compras, o hospital enfrentou re-centemente uma piora no controle dos estoque e desabastecimento de insumos. A situação reforçou a tese de que um movimento deli-berado para agravar a situação da instituição “não era fruto de fan-tasia nem de sentimentos paranói-cos”, afirmou Eduardo Côrtes. “Nós que temos que construir nossa solução”, defendeu o diretor do HUCFF. Segundo Côrtes, os técnicos com quem conversou nas reuniões com a Ebserh em Brasí-lia em nada se mostram mais ca-pazes do que os servidores que ele conhece nas universidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Ge-rais etc. “A diferença é que aquelas pessoas se encontram dentro de uma proposta que é ruim para o país”, completou. O diretor eleito do HUCFF apon-tou algumas das características sintomáticas de uma proposta de-

sastrosa. “Criar uma empresa cen-tralizada em Brasília, que nunca administrou um hospital na vida, para pegar 40 e tantos hospitais, não vai dar certo. Eles não tem gente para isso. Quem tem gente para isso somos nós”, disse o pro-fessor. Além disso, Côrtes lembra que al-gumas desses técnicos da Ebserh estão em Brasília há 20 anos e, du-rante esse período, vimos afundar nossos hospitais universitários, sem que eles tenham sido capazes de sensibilizar os governos para uma mudança na política para os HU’s. A proposta da Ebserh é de se ter uma empresa com fins lucrativos, com ações na bolsa e que, se um dia o hospital universitário quiser romper o contrato, ela leva em-bora os funcionários e os equipa-mentos. “Como você vai substituir 800 funcionários de uma vez só? Você fica na mão deles”, adverte Côrtes.

Seminário reuniu comunidade acadêmica no anfiteatro do HUGG

Ato público em frente ao hospital universitário denunciou tentativa de privatização