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Boletim de Ciências Económicas Início da publicação: Abdl de 1952 Publicação Anual Propriedade: Faculdade de Direito da Universiclade de Coimbra http: / /www.uc.pt/fduc Edição: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra I Instituto Jurídico Fundador: J. J. Teixeira Ribeiro Antigos Diretores: J. J. Teixeira Ribeiro A. J. Avelãs Nunes ([email protected]) Diretor: Luís Pedro Cunha ([email protected]) Redação: Manuel cados Lopes Porto, Á.. J. -Avelãs Nunes, Luís pedro cunha, José Manuei euel- has, João Nogueira de Almeida, Maria Matilde Lavouras, victor calvete, Fernando Rocha Andrade, Teresa Almeida, Maria Inês de oliveira Martins Secretário da Redação: Isaías Hipólito ([email protected]) Conselho Científico: Aldacy Rachid coutinho, -4.. J. Avelãs Nunes, Eduatdo paz Feteua, Fernando Facury Scaff, João Ferreira do Amarai, João sousa ,{.ndrade, José casalta Nabais, Luís pedro Cunha, Manuei Carlos Lopes Porto, Maurizio Mistri, Renato Flôres Conselho Consultivo: A.rtur Santos Silr.a, Emílio Rui vilar, Eros Roberto Grau, Fábio I{onder comparato, José Xavier cle Basto, José Manuel M. cardoso da costa, Manuel carvalho da Silva, Miguel Cadilhe Impressão: Tipografìa Lousanense, Lda. Preço deste número por romo: 25 IVA incluído Depósito Legal 56000 / 92 rssN 0870-4260

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Boletim de Ciências Económicas

Início da publicação: Abdl de 1952

Publicação Anual

Propriedade:Faculdade de Direito da Universiclade de Coimbrahttp: / /www.uc.pt/fduc

Edição:Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra I Instituto Jurídico

Fundador:

J. J. Teixeira Ribeiro

Antigos Diretores:

J. J. Teixeira RibeiroA. J. Avelãs Nunes ([email protected])

Diretor:Luís Pedro Cunha ([email protected])

Redação:Manuel cados Lopes Porto, Á.. J. -Avelãs Nunes, Luís pedro cunha, José Manuei euel-has, João Nogueira de Almeida, Maria Matilde Lavouras, victor calvete,Fernando Rocha Andrade, Teresa Almeida, Maria Inês de oliveira Martins

Secretário da Redação:Isaías Hipólito ([email protected])

Conselho Científico:Aldacy Rachid coutinho, -4.. J. Avelãs Nunes, Eduatdo paz Feteua, Fernando FacuryScaff, João Ferreira do Amarai, João sousa ,{.ndrade, José casalta Nabais, Luís pedroCunha, Manuei Carlos Lopes Porto, Maurizio Mistri, Renato Flôres

Conselho Consultivo:A.rtur Santos Silr.a, Emílio Rui vilar, Eros Roberto Grau, Fábio I{onder comparato, JoséXavier cle Basto, José Manuel M. cardoso da costa, Manuel carvalho da Silva, MiguelCadilhe

Impressão:Tipografìa Lousanense, Lda.

Preço deste número por romo: € 25 IVA incluído

Depósito Legal 56000 / 92

rssN 0870-4260

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UNIVE,RSIDADE, DE, COIMBRAFACULDADE, DE DIREITO

B OLETIM DE CIEI.{CIAS ECOI'{ÓI/IICIS

COIMBRA20r6

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BorrTlll Dr ctÊNctAS rcoNouttctsFACULDADEDEDIREITODALINIVERSIDADEDECOIMBRA

DlRp,rou

ruÍs pnoRo cUNHA

VOLUME LIX2016

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Íxotcr,

ARTIGOS

JrirxtrrNc Hu -

FTZI, Can Thel Iniilan a Nez Roand of P'e'

fòrns ia China? '....9

F¡,¡ro I(oNoaR Cortp,tn \r 6 -

p¿¡"a contpreender a grande mo/és-

tia brasìleira 37

M¿\|¡\LDÄ MtR tNo,'\ B¡n¡os¡t -

A releuância da aaturela do cri

tlito detitlo pelo cliente de arua ittsrituição baucáia ofuelo de uma

nerlirla de reso/øçã0. Ntitula a þroþósito do caso BEJ' """""""' (r5

ANróNto NLrmNs - A dedutibilidade dos gasto'r' a ruantttenção

tla fonÍe þrotlatota e a aualiøção Íentþoral das decisões de f'nan-

ciantenlo. (Jrua þer.þetiua /ì.rcal' a þroþósito do reqøisito da indis-

pen.rabilidade 149

DÀNIEL T;\tioRD;\l NuNo ol Lr,rtos Jclncu - fie¡¿¡ sobre o

regtneluúdico e f scal das fundações þriuadas187

N[,\nrrr corrrsn r -

Fandos de pensõe.r: De am segtro preuidencia/ a

ant nouo l>rodato de inuestiruenlo ..............""""" 217

Frupl Ftc;ull,tru.-.oo NLrmrNs -

A Llnião Bancárja E'aroþeia'

.9altsídios þaru a stra comþreensão ...."""""" 265

MÄNUlrL J,l.cnro NuNl.s;Josti LuÍs CARDOSo; MaNult- l'oi'lsponro

- þ/s21stxt'6¡ þara a hi¡tória do ensino uniuersitário de

Economia e Fiaanças (19/ 1'1974) 329

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-'t

JosÉ NI'tNrr,l Qur,r-rr,rs - Do intþa.rse ¡.to ¡isÍetna eurnþet r/e sega-

ra de deþósitos......

LuÍs Prnno CuNrr¡ -

GATT', GAj-.ç e seruiços /ìnanceiros: Ocaminho þerconido ......

RECENSÕES

Nltnrlr (lcr,rrun¡t -

Pen'ões: Restaarar o conhøto .rocia/ para recon-

ci/iar as geruções (Nlaria Nlargarida Corrêa de Aguiar) ........

393

433

465

Jcxcn NuNrs l¡p¡s -

Deua/uittg to prosþeri4,: Misaligned Cttr_

rencie.ç and Their Growth Conseqtences (Surjit S. Bhalla) ....... 469

Fnlrpn Frc;usrnlr'o NIr\RrrNS -

J'ing/e Xl[arkets: Econo_

nic Integation in Etmþe and the Unind Stans Ql,[tchelhep.Jlgan) ........ 479

REVISTA DAS REVISTAS 489

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ELEMENTOS PARA A HISTÓRIADO ENSINO UNIVERSITÁRIODE ECONOMIA E FINANÇAS

(l9r r -r974)

Ptocura-se neste artigo fazet um balanço do ensino de

matérias económicas e financeiras em Pottugal clurante o

período compteendiclo entre 1911 e 1974.'Tal balanço cen-

tra-se nas experiências desenvolvidas nas instituições univer-

sitátias que mais contribuíram p^1;^ a formação neste cìomínio

clo saber, nomeadamente, a Faculdacle de Direito <1a Univer-

sidade de Coimbra, a Faculdade de Diteito cla Universidade

de Lisboa e o Instituto Superior de Ciências Económicas e

Financeiras da Universidade Técnica de Lisboa.

Não se pretende procecler a uma descrição exaustiva de

currículos leccionados, nem a uma apreciação sistemática clas

sucessivas reformas que foram assinalando a evolução do en-

sino naquelas instituições'. A nossa opção foi a cle privilegiat

lQucremos aqui deixar um testemunho da maiot admiração

peio Professor Manuel Jacinto Nunes, com â honra de o termosticlo como co âutor deste texto, que declicamos à sua memória(LC e MLP).

2 Para o período 1911,-1967 , veja-sc o útil roteiro de PoRtt l-,t

(1967); veja-se também An,rú1o (2001).

BOLE]'rN| DE (:TEN.JAS I.CONONilCAS LtX (2Ot6) 329-391

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330 MANUEL lACrNt'o NUNrs, losÉ LUís cARDoso, MANUEL LopËs poRTo

as marcas cleixadas pelos autores que mais directamente pro-tagonizaram os avanços ao nível do ensino e da investigação

em ciências económicas e financeiras no nosso país, ao lon-go do período aqui considerado.

l.Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra

1,1. Marnoco e Sousa e seguidotes

Iniciado em 1836, o ensino de economia política na Fa-

culclade cle Direito da Universidade de Coimbra (trDUC) foiaté frnais do século XIX marcado pelo magistério de ¿\dtiãoForjaz de Sampaio. Os sucessivos compêndios de sua âuto-ria' só vitiam a ter substituto ou alternativa credível a parttt da

década de 1880, com a publicação do manual de José Frede-

rico LnnrrNlo (1891).

Dz acçã,o pedagógica realtzada por estes dois autores

cleverá reter-se a formz como concebiam o ensino da eco-

nomia política pata futuros jutistas e potenciais membros da

administração pública e cle organismos do poder legislativo,

executivo ou judicial. O seu testemunho acerca da utilidade da

economia política pzre. o fortalecimento de cliversos ramos do

direito foi continuado por J. F. Marnoco e Sousa, sem dúvicla

o âutor que, após o longo professorado de Adrião Forjaz de

Sampaio, mais contribuiu para a ñxtçã"o clo âmbito e dos limi-tes dos estudos económicos na FDUC. Vejamos a mensâgem

que nos deixou, a ptopósito da simbiose entre estudos econó-

micos e jurídicos:

3 A.s suas principais lições estão reunidas em S-tll,¡,ro(183e-187 4).

BOLETIM DF, CIENCIAS ECONOMICAS LIX (20I6) 329-39I

ENSTNo uNrv[,RsrrÁnro oe ECoNoMTA E ITNANCAS 331

"Hâ a mais íntima relação entre â economia políuca e o direito.Como cada relação económica reveste formas jurídicas, todasas grandes teorias do direito, pnncipalmente do direito privado,têm um conteúdo económico. Todos os povos, num certo graude civitzação, precisam de um sistema jurídico para regolat a

sua actividade económica. E assim cada instituição económicapode considerâr-se, sob um certo âspecto, como uma institui-ção jurídica. Não deve admsrar, por isso, que fiequentementesejam as teorias económicas que renovem as teorias jurídrcas(. .). A tenovação por que está passando o clireito privado nãoé mais do que umâ consequência da infiltração das novas teo-rias económicas no velho organismo jurídico. Reconheceu-seque o direito não poderia dekar de atender às novas condiçõesassumidas pela propriedade, pelo trabalho, pelo crédito e pelacirculação, a fim de corresponder às exigências das sociedadesmodernas" (Sousa, 1917 : 65-6).

Este excerto transmite duas ideias interligadas: a vidaeconómica e social está na origem cle determinadas relações

juddicas que compete ao cliteito conceber e enquadtar comrecurso às suas categorias analíticas próprias; por sua vez, a

economia política tratz de matérias e problemas que apon-T^m

^o direito qual a missão que se espera das instituições

por ele reguladas.

Estas ideias constituíram prédica constante ao longo domagistério de J. tr Matnoco e Sousa. Apesar de a sua acçã,o

de ensino ter sido bastante mais curta do que a de ,\driãotroqaz de Sampaio, devido a morte precoce aos 46 anos de

idade, sobrou-lhe tempo para publicar diversos manuais

sobre as difetentes matérias ensinadas no curso de direito,designadamente, diteito eclesiástico, direito público, direitocomercial, história do clireito, administração colonial, eco-

nomia política e fìnanças públicas. Em todos estes campos

desenvolveu papel âctivo, promovendo â respectiva reorga-nização curricular. E se é certo que foi no domínio do ensi-

no cla economia política que a sua acção teve mais impacto,

tsoLl'rrM DE crÊ.NCrAS ecoNóurc:tts Ltx (2016) 329-39t

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332 M^.NUEL l^crNTo NUNES, josr't LUís cAt{-Doso, M^NUEL LopES poRlo

é funclamental ter presente a sua visão integral e integradorada formação cle juristas, tendo em atenção alguns elementos

cle enquadramento funclamentaisu.

Em ptimeito lugar, a ideia de que os fenómenos jurídi-cos são fenómenos sociais que podem ser objecto de umaabordagem positiva, tal como ocoïre no âmbito das ciências

naturais; ou seja, que é possível estabelecer relações de causa

e efeito e enunciar leis que traduzem regularidades observá-

veis. Em segundo lugar, o princípio de que ^

n^tu.rez^ social

dos fenómenos jurídicos obriga âo seu estuclo na perspecti-

va mais ampla clas características do tecido social e clas ne-

cessidades associadas à sua manutenção ou transformação;ou seja, que o estuclo do direito cleve ser entendido enquanto

parte integrante clo estudo da sociedacle. Em terceiro lugar,

a defesa da economia como a ciência social especificamente

capacitada p^r^ 2L compreensão clo funcionamento clos regi-mes jurídicos das sociedades moclernas, nomeadamerite noque se refere ao estudo dos sistemas cle propriedade, ftaba-lho, capital, crédito, circulação, tributação, etc.

Face a este ambicioso programa de acção, torna-se

compreensível a amplitude das leituras e referências biblio-gtâficas de que Matnoco e Sousa se socorre. Ao percorrer-mos os seus manuais cle economia constatamos que o esfor-

ço compendiador o obrigou a um inventârio actualizaclo clas

obras procluzidas em diferentes países europeus.

a Para um enquadrâmento clo pensamento económico deMarnoco e Sousa, cf. BnrrNnÀo (1,997). Refira-se que o prestígiodo ¿utor em muito ultrapassou os muros cla Universidade, vindo a

exercer um importante trabalho de renor.ação urbanística na cicla-

cle de Coimbra durante o período em que clcsempenhou funçõesde Presidente cleste município.

BoLETtNr o¿ ctÊNcttts rtttNtittl]Jctts Lrx (20r6) 329-39I

LNsrNo uNr\¡ERsrrÁluo DE ECONorvuA. E FIN^NÇAS 333

O enciclopeclismo ecléctico cle Marnoco e Sousa tor-

nou pof vezes o seu vasto arquivo cle autotes num coniunto

de refetências de autoridade cli{ìcilmente compâtíveis en-

tre si. Contudo, foi patente o esforço do autor em orientar

os leitores num quadro amplo e pluridisciplinar em que os

temas económicos e jurídicos se defrnem através de refe-

renciais de carâcter histórico e sociológico. Parz além dos

objectivos pedagógicos de largo espectro, Marnoco e Sousa

visava também encaminhar os seus leitores pæa o teconhe-

cimento dos inconvenientes dos sistemas políticos e econó-

micos baseados no indivicluaLismo e no socialismo, optando

pela interméclia solução de um "socialismo de cátedra" em

que o Estado deveda ser chamado a desempenhar funções

intransmissíveis, enquaîto g rante da harmonia e do bem-

-estar social.

O triunfo clesta visão dos problemas económicos e so-

ciais que se impôs como modelo triunfante de ensino na

Faculdade de Diteito da Universidacle de Coimbra só foipossível graças à extrema fragilidade do discurso económi-

co teórico e analítico no nosso país. Os ecos da "revolução

marginalistl;-" e da economia neoclássica não passavam de

notícias simpJificadas sobte avanços mal compreendiclos da

teoria. A. etudição de Marnoco e Sousa, que sabia identificar

e reconhecer as inovações introduzidas com â descoberta

do princípio da utilidade marginal clecrescente, bem como

os respectivos protagonistas e attífrces, nã.o era por si só su-

ficiente parâ que o seu nome pudesse ser associado a essa

nova torrente que conduzia a ciência económica pata vias de

análise nunca dantes exploradas.

O distanciamento crítico que Marnoco e Sousa mante-

ve em relação aos conceitos, mocielos e instrumentos carac-

terísticos do paradigma neoclássico funcionou como umâ

uot,F,Tr^,t ot cti:Nct¡s EC)NóMICAS LIX (201(r) 329-391

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334 MANUEL lActNTo NUNEs, losÉ LUÍs cAl{Doso, MANUEL LOIES poRfo

espécie de caução ou certificação da tralectória do pensa-mento económico português por vias predominantementedoutrinais e políticas, evitando os rerrenos áridos da análise

teóúca e abstracta. Sem dúvida que para a definição desse

percurso muito contribuiu o ambiente institucional em que,nesta fase, a ciência da economia política pôde ser cultivadae acarinhada.

O enquadtamento jurídico concedido ao estudo daeconomia política continuou a vigotar nos únicos locais de

culto universitário desta ciência, ou seja, na Faculdade cle

Direito da Universidade de Coimbra e na jovem Faculcladede Direito da Universidade de Lisboa, formalmente criadaem 1913. Pata a compreensão da imponäncia que os víncu-los jurídicos da economia política mantivetam em Portugaldeverá atender-se ao facto de terem sido os juristas fotma-dos pela Universidade de Coimbra (e tambêm de Lisboa, a

pattr de 191,3) que fotam chamados â exercer, no quadro daadministração e do governo, papéis em que o conhecimen-to cla economia política represeritâva poderoso instrumentoauxiliar pana. o cumprime n to efr,caz da sua missão. Só a partirdos inícios dz década de 1940, e especialmente após a rcfot-ma cutricular que ocorreu no Instituto Superior de CiênciasEconómicas e Financeiras em 1949, é que â formação deuma expertis¿ económica passou a ser matéria que exorbitoua competência atê então detida em exclusivo pelas Faculda-des de Direitos.

Do que atrás se clisse resultz claro o papel ímpar desem-penhado por Marnoco e Sousa na consolidação do presrígioda cadefua de Economia Política na formaçã.o dos juristas

oriundos da mais antiga escola de Direito do país.

s Sobre esta matériâ cf. NuN¡s (1968)

BoLETnvr DE ctÊ.Nct¡s rcoNtiu¡c,ts Lrx (20r6) 329.391

ENSTNo uNrvERSrrÁRlo Dl ÈcoNoMI^ E FINANÇ^s 335

O lugar de relevo ocupado pelos licenciados da FDUC

em diversas instâncias do poder mostravâ que essa era a

principal fonte de recrutamento da elite dirigente, designa-

damente nas áteas económicas e financeiras. O caso de An-

tónio de Oliveira Salazar,com uma inicial actividade docente

como professor de economia política e de f,nanças públicas,

serve como ilustração simbólica de tal asserção.

Foi OliveitaSalazar quem sucedeu a Marnoco e Sousa

na câtedra de Economia Política, ^

p^rtir de 1'91'7 . Yiria a

permanecer neste cârgo até à sua nomeação como Minis-

tro das Fìnanças em 1.928. Todavia, o prestígio granjeaclo

pela publicação de importantes textos de análise económica

e frnanceita no início da sua carreita" não viria a conhecer

idêntica projecção no plano cla inovação do ensino cla eco-

nomia política. As suas sebentas âcentuam as características

de um ensino de índole aplicada, com tenclência pata cait na

economia descritiva, embora desse a conhecer aos seus alunos

os autores marginalistas cla "escola matemâticâ" que eram por

ele criticados. Tinha um conhecimento âbrangente das escolas

clássica, historicista, masista e neoclássicâ, mas privilegiava

os clássicos e os historicistas dentto do quadro institucional

que era característico das Faculdacles de l)ireito. A sua maior

vocação para o ensino de matérias financeiras viria a ditat a

obtenção de um prestígio técnico e político que o levariam ^o

clefinitivo e precoce abandono da vida univetsitária em 1'928.

Para alêm de António de Oliveira Salazat, merecem

ainda referência dois autores que exerceram funções de clo-

cência na FDUC, apesâr de terem posteriormente transitado

6 Os seus escriros económicos mais relevantes - A puestão

Cerealy'èra - O '[nSo (1916); O Ágio do Ouro (1916); e Algans Aspec-

tos da Crise das Søbsistências (1918) - estão reuniclos em Sr\l'r\Zr\R

(1 e1 6-1 e1 B).

ßoLETÎt4 D[, C1ÉNC,1S ECONÓ^4\CAS LIX (2016) 329-391

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p^r^ ^

Faculdade de Direito cle Lisboa oncle viriam a aciquiriruma maior e mais significativa projecção: Ruy Ulrich e JoãoPinto cla Costa Leite (Lumbrales).

Ruy Ulntcu iniciou ^

s\a carreira na FDUC, onde se

doutorou em 1906 com uma dissertação intitulacla I)a Bolsø e

suøs Oþerações (1906). Neste trabalho segue uma metodologiahistórico-institucional com particular considetaçã.o dos as-

pectos jurídicos e specífìcos. Faz uma clescrição rigorosa dofuncionamento das bolsas e das suas funções, do seu regimelegal, procede a uma compatação com as bolsas estrangeiras

e apresenta algumas propostas cle reforma. Declica tambémum capítulo específico à teoria económica das bolsas.

Logo no ano seguinte ao seu doutoramento é convi-claclo pata professor, regendo a cadeira cle AdministraçãoColonial

^tê 1910, Nesses três anos, em Coimbra, publica

Ciência e Adnìnistração Colonial (1908), Política Colonial (1909)

e Economiø Colonial(1910), traduzindo a orientação cìe ftag-mentar um programa getal, leccionanclo em cada ano umaparte da matêria.

Como aluno publicara um ttabalho sobre As Cri¡es Eco-

nómicas Portagaesas oncle, a seguir a uma breve discussão teó-rtca, faz um historial das crises económicas nacionais nos

cliferentes sectores de activiclacle (1902).

Monárquico e defensor do Integralismo Lusitano, pedea sua demissão da FDUC em 1910. Antes do seu reingressona Universidacle publica a l-eona Económica clas Reserua¡ Mone-

tárias, em 1,914, ano em que é nomeaclo Administraclor clo

Banco cle Portugal, cargo que exerce ^té

1928. É depois Em-l¡aixador em Londres de 1933 a 1935.

Na Teoria Ilconórtica das Reseruas Atlonetánas, tema inova-dot, precisa os vátios tipos de reserva monetária, defende oseu aumento, apontando os meios de o alcançar e as impli-

336 MANUrrr- lACrNlo NUNEs, losÉ LUís c^RDoso, MANUEL LopES pon'to

I|OLI:17^,1 DE CIENCIAS I:CONOiVICAS LIX (2016\ 329-391

ENSTNo uNrvtRslrÁRro DE ECoNOMT^ E FrN^Ne\s 337

cações clas diferentes vias possíveis. Não clá atenção especial

ao caso português, o que poderá ter sido devido a vigotarentre nós o regime de inconvertibilidade.

Quanto aJoão Pinto cla Costa Leite (I-uH,rnn,u.rx) douto-rou-se na FDUC em 1927, com uma tese sobre Organilação

Bancária Portugaesa (1927), Ttata-se de um estudo de economia

descritiva, que se ocupa da "história e das funções do Banco

de Portugal e cla actividade dos bancos comerciais". Sucedeu

a Salazar na regência da cadeira cle Economia Política quanclo

este assume ^

pasta clas Finanças em 1928. A regência da ca-

deira esteve a seu cargo atê 1934, quando foi chamado para o

cargo de Subsectetário de Estado das Finanças.

Entretanto, em 1933, apresentarâ como clissertação

para concurso a professor catedrático o Ensaio soltre a'lþoriadas Crises Económica.ç. Foi nomeado catedrático com 29 anos,

em Julho de 1934.

Este Ensaio, diferentemente do seu ensino, é uma tese

de teoria económica. Teixeira RtsnrRo (1993,260) consicle-

fa-o um mâfco "nâ Tenovação clos estudos económicos, no

sentido daprimazia dos estudos teóricos", e sintetiza os seus

métitos nos seguintes termos:

"I-umbrales parte do equilíbrio económico parl situar os ci-clos, descreve as fases destes, procura explicação hipotéticadas crises que encontrâ nr teolia estfutufal, embota com umacorrecção, e depois põe essa teoria à provx perânte a organização económica, a organtzação da produção e o sistema mo-netário, criticando as várias teorias que clelas fazem dependeros ciclos, para concluir que estes são efectir.amente clevidos a

reacções cla estrutura económica, a excitações vindas do exte-rior" (Rtrr,rRo, 1993: 254)

 dissettação insere-se, pois, numâ linha neoclássi-

ca com aclitamentos pós-marshallianos, já que refere, pot

ßoLETrIr D[. 1|ÊNCTAS LcoNóL]rAS L.tx (2ot6) 329-391

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338 MANUEL j^crN ro NUNÈs, losÉ LUÍs cARDoso, M^NUEL LOPLs Pottfo

exemplo, ^

teoria d,a tnflaçã.o de l{nvNns do Tratado da Moeda

e a teoria monetâria clas crises de Hawttey.

É curioso notar, todavia, que a dissertação clo concuÍso

para professor catedtático de Lumbrales demonstra conhe-

cimentos de teoria económica que ele nunca transpôs p^rà o

seu ensino de economia política, que continuou a ser feito nos

moldes do seu antecessor Oliveira Salaza{. Apenas na cadeira

do 5." âno, em 1933/34 e 1.934/35, versâ o tema das crises.

,Aincla dutante a sua estadia em Coimbra, publica as

Noções Elementares de E conomia Política (L934), manual pâra es-

tudantes do ensino técnico cometciai, seguindo a estrutura

dos manuais franceses do pdncípio da década de 1930.

,{. partir de 1,933 notâ-se alguma inflexão doutrinária

em Lumbrales, que ptetende funclamentar economicamente

o corporativismo, tendo publicado parâ esse efeito a Doutri-

na Corporatiua e a'l'eoùa Econóruica (1935) e a Doatrina Corþora-

tiaa em Portugal (1936).

Partindo da ideia de um equilíbrio económico geral cor-

porativo) procura fundamentar a intetvenção económica do

Estado, a qual, com a instituição clas cotporações, conduzi-

tia ao "máximo hedonístico comum". -Abandona depois a

tentativa de elaboração de uma teotia económica do cotpo-rativismo, mas mantém-se fiel à cloutrina corporativâ. A este

tema voltaremos mais adiante.

O prestígio da FDIJC, no que se refere à prepatação de

juristas com vocação económica e financeira, não se jogava

1 E a opinlã.o de Teixeira Rt¡EtRo (1993: 254): "De 1,928 a

1934 não foi alterada por Lumbrales a índole desse ensino"). Essa

"índole" era, como a caractetiz.ou Teixeita Ribeito, "de estudos

de economia" aplicada com tendência, para cair na economia des-

critiva" (ibid.). No mesmo sentido se pronuncia Aiutú1o (2001.:

11-115).

B)LETTM D[. :|ÊNCTAS ECoNóMrcAS Ltx (2016):]29-:l9l

ENSTNo uNrvEnsrrÁnro or F.coNoMrA, E r:rNANÇAS 339

apenas no vínculo aos lugares cimeiros da administraçã,o pu-blica. Era o próprio conteúdo programático das disciplinasdestas áreas que, sobretuclo

^ p^rtir de meaclos cla década cle

1930, revelâvâ um maior grau de adequação aos avanços do

conhecimento científico à escala intetnacional.Pata tal mui-to contribuiu a acção d" J. J. Teixeira Ribeirou.

1.2. Teixeira Nbeiro

Logo após a conclusão das suas provas de doutoramen-to, em Dezembro de 1934, Teixeira Ribeiro foi convidadopara professor da FDUC, tenclo leccionado já nesse ano lec-

tivo em que uma das disciplinas do grupo de ciências eco-

nómicas, a de Economia Política, esteve atribuída ao entãojovem economista Ftançois Petroux. Â mesma disciplinaesteve nos dois anos seguintes a cargo de Diogo Pacheco

de Amorim, da Faculdade de Ciências, mas a p^rtir de então

Teixeita Ribeiro ficou como único docente do gtupo, numa

época em que nã"ohavia ainda assistentes.

Aliás, com a permanência em Lisboa de OliveiraSalazare de Costa Leite (Lumbrales), desde essa época até 1983'

nenhum outro Doutor em Ciências Económicas exerceu fun-

ções docentes na FDUC, com excepção de um curto espaço

de tempo, em 1956-58, entre o doutoramento deJoséPizanoBeleza e a sua saída pan desempenhar também funções go-

veÍnativas. O recurso a assistentes começou a verifr.car-se a

partir de 1,941,, mas quase sempre em pequeno número. Tei-

B Para uma abordagem de conjunto da acção e obta de Tei-xeira Ribeiro, cf. Ponto (1979).

e Quando se doutorou Manuel Lopes Potto, seguindo-seÄntónio .{velãs Nunes e Á.níbal Almeida, e tendo João Ruiz de

Almeida Garrett tido então aqui funções docentes.

ßoLETrM DE ::ÊNCTAS rcxlN¡itvttc¡s Ltx (2016) 329-39t

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340 l,r^NUEL l^crNt'o NUNEs, losÉ LUÍs c^RDoso, MANUEL LopLS poRTO

xeira Ribeiro cledicou-se, pois, à docência, com grande inten-sidade, sem qualquer interrupção clurante os 40 anos lectivos

que medearam entre 1934-35 e 1973-74.

Á.s suas capacidades intelectuais e a séria apetência poracompanhar a ptodução mais significativa da ciência eco-

nómica verificou-se primeiro no clomínio da microecono-mia, na sua dissertação de doutoramento, Teoria Económica

dos Monopólios (1934). A própria distinção entre micro e ma-croeconomia, então ainda nã,o conhecida, é por ele entre-

vista na nota introdutória. Na obra projectada, o texto da

dissertação constituía o primeiro volume, onde o problemaeta visto "sob o ponto de vista particuiat", tenclo haviclo

"o ptopósito de recluzir à empresa, como cerìtro, a vida e

os conceitos económicos". Na segunda parte, a incluir numoutro volume, predominaria o "aspecto univefsal", integran-clo o monopólio cla empresa "no mundo dos monopólios"e sendo então vistos problemas como o das crises cíclicas, oclo capitalisrno financeiro, o clo imperialismo e o da crise clo

próprio sistema.

Ao longo da clissettação, depois de definir o monopóliocomo conttário da concorrência, Teixeira Ribeiro analisa as

conclições clo seu aparecimento através da clescrição da "teo-ria dos desequilíbrios", senclo o monopólio definido comoum caso de desequilíbrio entre o preço e o custo. Distinguedepois as situações de monopólio de custo das de monopó-lio de preço, consoante o monopolista não tenha ou tenhaclomínio sobre o preço, dedicando a esses dois casos os ca-

pítulos mais extensos da tese. No último capítulo é feita umaanálise interessante dos preços de monopólio.

A preocupação por problemas de microeconomia re-flectiu-se depois fundamentalmente nas Lições cla cacleira

de Economia Política. Dele próprio há umas lições escritas,

t3oL\r rÌtt or qÊNct¡s ecoNo¡.nr:¡s Lrx (20 I 6) 329,39 t

lNsrNo uNrvERsrtÁrrro nt EcoNoMt^ E FIN^NÇAS 34I

de 1958-59, e do ensino oral ministrado em outros anos é

possível ter conhecimento através de apontamentos coligi-

clos por aiunos. Merecerão maior relevo as exposições so-

bre os sistemas económicos, a que voltaremos acliante, e a

teoria dos preços, na qual, além dos dois casos extremos da

concorrência perfeita e cìo monopólio, também são consi-

derados, na esteita clos conttibutos de Sraffa, Chambedain,

Robinson e outros, os casos interméclios de concorrência

monopolista (ou imperfeita) e de oligopólio. São igualmente

cle grande clarcza. e intetesse as exposições sobre a ptodu-

ção e as uniclades ptoclutoras, designadamente as empresas

coopefati\¡âs.

Descle o início da sua careira, Teixeira Ribeiro sempre

se sentiu atraído pela ptoblemâtica dos sistemas económi-

cos. Com a preocupação cle situat o sistema cle cada época

numa perspectiva temporal, dedicou uma Parte apreciável

clas lições de Direito Corporativo (escreveu as de 1936 e

1938, podendo ter-se conhecimento cle outras, subsequen-

tes, attavés de apontamentos coligidos por alunos) à história

dos sistemas, c1e ensino recente no nosso país. Trata-se de

matéria leccionada também na cadeira de Economia Política

I, aparecendo com uma elaboração mais completa nas refe-

tidas lições cle 1958-59.

Descle o começo, logo clescle 1.936, Teixeira Ribeiro

mostrou a sua pteferôncia pela classificação de \ùØernet Som-

batt, emboïa nunca a tenha seguido com tigiclez. A.ssim, tan-

to nas lições cle 1938 como em A l\oua Estrutura da [f conortia

(1947), por certo influenciado pelo modo como Petroux

descrevera a perspectiva de Sombart (Perroux 1'936), nã'o

re fete a técnica e clistingue, como elementos definidores de

um sistema económico, o modo de proclução, consoante se

ttate de ptopriedade individual ou colectiva dos meios de

IJOLLnI'1 DE CII:NCIAS ECONOivICI\S LIX (2O16) :]29-391

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ENSINO UNIVERSITÁRIO DE ECONOMIA E FINANÇAS 343

às grandes empresas industriais. Também nestas, embora a

ame^çade falência seja um estímulo permanente, se verifica-

rão em muitos escalões de pessoal o alheamento e a distân-

cia característicos clos funcionários do Estado. Este poderá,

por seu lado, ter actuações de racionalizaçäo e melhoda de

qualidade fora do alcance dos particulares ou para que eles

não se sentirão estimulados.

O problema da evolução do sistema económico volta a

suscitar ^

ateflção de Teixeira Ribeito em 1960, quando pro-

fere, no Instituto de Altos Estudos Militares, a conferência

intitulada Capitalisno e Socialismo em am Mando J'i. Depois de

recotdar que até então havia sido possível implantar regimes

socialìstas apenas em épocas de enfraquecimento dos países

capitalistas, como resultado das duas Guerras Mundiais, e

sem interfetência de exércitos esttangeitos apenas em países

muito âtfasados, como a Rússia e a China, pergunta se, nâ

ausência de qualquer nova guerra, o capitalismo fr'carâ "ao

abrigo de novas perdas de territótio".Entende o âutor havet dois perigos fundamentais pan

o sistema. O primeito, referido na linha cla conferência cle

1947, serâ o das nacionaltzações, através das quais pode-

rá ir-se dando uma ttansfotmação. Mas o perigo próximo

paï:' o sistema capitalista viria - prossegue Teixeita Ribei-

ro - da "itreprimível aspiração á prosperidade" clos países

pobres. Depois de durante séculos terem vivido conforma-

dos com a sua pobreza, sentittm-se estimulados com o co-

nhecimento, atravês dos meios modetnos de comunicação

social, da existência de bons níveis gerais de bem-estar nos

países industtializados, com as promessas de otganismos

intetnacionais e ainda com os exemplos de alegado cresci-

mento cla Rússia e da China, fortemente propagandeados

pelos particlos comunistas.

tsoLETrM rx aÊNctls tcoNtiurct's LIx (2016) 329-391

342 M^NUEL J,{crNTo NUNES, losÉ LUÍs cAtìDoso, MANULL LopL.s polLfc)

produção, e a forma de repartição, consoante o título, traba-lho ou propriedade, por que se distribui o rendimenro. Na se-

gunda obra, mas nã.o na primeira, refere ainda o móbil..Já nas

lições de 1958-59 distingue os sistemâs de acordo com os rrês

critérios apontados por Sombart) mas também aqui parece re-velar-se alguma influência de Marx, na explicação do processode passagem de cada um dos sistemas p^r^ o seguinte.

Estava-se numa época em que se acentuava a interven-

ção do E,stado nâ âctividade económica, TaI intervenção já

ocotria antes da Guerta, "orientando -a, conttolando-a, su-prindo" mas râramente "se frzera industrial ou comerciante".Só depois se acentuou a sua intervenção por estas formas,com as nacionalizações, tanto em países do Leste como, em-bota em muito menor medida, em países do Ocidente eu-ropeu. Teixeira Ribeiro preocupa-se consequentemente poranalisar o significado das alterações havidas.

Podendo perguntar-se se teriam sido criadas assim zo-nas de verdadeiro socialismo dentro das economias capitalis-tas, argumenta no sentido negativo, dadas as indemnizaçõespagas aos donos anteriores das empresas nacionalizadas.Reconhece, contudo, poder tratar-se de um primeiro pâsso

pare- o socialismo, pela perda, por parte dos capitalisras, dealgumas das chaves do seu domínio político; perda essa queserá especialmente sensível sempre que cheguem ao poderpartidos socialistas.

Por outro lado, poderá perguntar-se se com a passagem

de sectores importantes para o domínio do Estado não se

verifr,caria uma quebra de eficiência. Teixeira Ribeiro, em-bota preferindo aguardar "os resultados da experiê flcia," ,não deixa de em nota rebater a atgLtmentação tendente alnostrar a maior e ficiência por parte clas empresas privadas,desde que o E,stado empresário seja comparado, como cleve,

ßoLETrM or. uÊNcus r.coNómc,ts Lrx (20t6) 329-3()l

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344 ,vIANUEL I^crNTo NUNEs, X)sÉ LUÍs cArìDoso, MANUET_ LopES porì{)

lloLETtNt ot: ctÊNcttts r:coNoÌvtK:As Lrx (2ot6) 329-39)

A saícla da pobreza não pocleria, todavia, cleixar cle re_querer mediclas drásticas, tais como a restrição cle consumossupérfluos, a rnobilização de rendimentos entesourados, emespecial através de impostos, a reforma agrária, a iniciativaindustrial do Estado e a subordinação a um plano global.Mas como todas eias põem em causa em grande medidainteresses clo grancle capital, não admira que se fosse sen_tindo a necessidacle de uma via revolucionâtia e socialista,cle pouco valendo, quando comparados com a pobrcz,a, o"sacrifício de valores humanos e as restrições à riberclacle,'que lhe estariam ligados. Á. esta tazão actescenta TeixeiraRibeiro uma outra. os países subclesenvolviclos precisam deter um móbil, que mobilize as vonrades dos seus habitantes.Ora, o móbil do capitalismo pouco diz a quem não tem apercepção do que é a obtenção de lucros, aincla por cimaacessível apenas a uns quantos. Muito mais clinamizador é

o móbil do socialismo, cle satisfação das necessidades cle to-dos, verdadeira "puissance de la pauvreté,,, na expressão cleFrançois Perroux.

O interesse cle Teixeira Ribeiro pela problemática clossistemas económicos não faz esquecer, no entanto, a cla_reza e a attumação do seu pensâmento em matérias finan_ceiras e fiscais. É sobre essa importante faceta da sua obra,quer como professor, quer como legislador, que prossegueesta apresentação sintética das principais linhas cle força closeu pensamento.

Nas lições de Finanças (1942) Teixeira Rrbeiro esclare_ceu e divulgou importantes aspectos conjunturais da teoria ecla política económicas. Em especial, terá sido aí o primeiroou um dos primeiros lugares oncle no nosso país se ensinoua teoria e a política keynssi*^r, em especial o

'rultiplicaciore a política clas clespesas públicas. Tratou-se desde o início

I,NSINO uNrvDRslrÁtuo o¡. ECoNoMl^ È I.IN^NÇAS 345

de uma exposição muito clara e crítica daquilo que l(eynçs

havia introduzido, não deixando por exemplo de chamat a

atenção par^ as cautelas ^

ter n^ aplicação cio modelo, desig-

nadamente num país como o nosso, menos avançado e com

muita depenclência clo exterior.

A.lém clesta temâtica, serão de referir as exposições so-

bre o direito orçamental, o peso e operações sobre a dívicla

pública e a repartição clos impostos.

,\inda no campo cla teoria e da poiítica coniunturais,

teve iustificaclamente um impacto grande no nosso país um

curso de Introdação ao Estudo da Moeda, regido em 1947-48

no Centro c1e Estudos Económicos e Financeiros cla Asso-

ciaçã.o Comercial c1o Porto e publicaclo impresso em 1949'

Em boa parte serviu cle base â umas lições policopiadas de

Economìa Política (3.o ano), ao curso de 1'962-63' Estas lições

contêm a mais, além do clesenvolvimento cle alguns assuntos

já versaclos, uma última parte sobre cométcio internacional.

Também estas lições constituem exposições magníf,cas,

pela sistemztização e clateza com que são aptesentadas ma-

térias complexas e consequentemente de difícil compreen-

são. Pelo quaclro completo e coerente que é daclo clos me-

canismos monetários, tanto nacionais como internacionais,

são uma base segura cle entenclimento, talvez superior à cla

generaiidacle clos livros de texto estfangeiros. Em especial

nas lições d,e 1962-63 não constituiu preocupação de Teixei-

ra Ribeiro referir posições inovacioras mas ainda polémicas,

por exemplo acerca da oferta de moe da ou dos fundamen-

tos do comércio internacional. Tencl0 em conta a {ìnalidade

peclagógica clo texto, mas também em conformiclacle com a

sua maneira c1e ser, preferiu antes dar um enquaclramento

seguro e coerente clos probletnas, poclenclo referir-se a este

propósito, mas a título de exemplo, a explicação dos meca-

R()t F:rrvt or. uÊNt:t'ts ¿coN(iÀllclts LIX (201 6) 329-391

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346 MANUEL IACrN't'o NUNES, losÉ LUís c^RDoso, MANUEL LopES poRTo

nismos de criação de moeda, a síntese das teorias monetáriae teal sobre a taxa de juro, as exposições dos mecanismosvia-preços de reequilíbrio da balança dos pagamentos e ain-da a descrição esclarecedora das evoluções verificadas nosistema monetária internacional, designadamente face ao

dilema equilíbrio interno-equilíbrio externo. A este últimopropósito acrescentou Teixeira Ribeiro num pequeno artigo,Do Padrão-Ourl ã0 Fundo Monetário Internacional (1974), ondeé perspectivada a evolução verificada com a suspensão cla

convertibilidade do dólar, em Âgosto de 1971.

No campo clo direito fiscal a influência cle Teixeira Ri-beiro excedeu em muito a resultante do seu ensino. Não queristo dizer que não tenha sido marcante também aqui, com a

regência respectiva atribuída todos os anos, pelo menos numsemestre , entre 1935 e 1956. Nunca tedigiu lições, mas algu-mas das coligiclas por alunos - em pâticular as de 1951-52,por ele revistas - foram depois frequentemente utilizadas e

referidas em lições e outras publicações posreriores.Também no campo da jurisprudência crítica foi muito

notóúa a sua actividade, distinguindo-se logo na década de40 com alguns artigos sobre a sisa. Trata-se de um tipo de

actividade depois regulatmente mântido, devendo destacar--se, em anos mais fecentes, as anotações frequentes feitas naRevista de Legislação e de Jarisprudência.

Mas sem dúvida o maior contributo de Teixeira fubeiro,que o deixará,ligado para sempre ao Direito Fiscal Portu-guês, consistiu na direcção de trabalho e na influência de-cisiva que teve na ampla reforma do sistema dos impostosdirectos dos anos 50-60'u.

10 De salientar taml¡ém âs suâs conttibuições inovadoras nodomínio do direito constitucional fiscal.

BILETIM or clÊt'tct¡ts ECoNóMrcAS Ltx (201(r) 329-391

ENSTNo uNrvERSfrÁRro DE ECoNoMIA E FtN^NÇ^s 347

Começou por ser convidado para presidir a uma das

duas comissões criadas por Äguedo de Oìiveiia, em 1951

(A Comissão de Estudo e,{perfeiçoamento do Direito Fis-

cal), tendo sido depois convidado, em 1957, para presidir à

Comissão da Reforma Fiscal, em que Pinto Barbosa deci-

diu reunir as duas Comissões antetiotmente existentes. Data

deste mesmo ano um telatório de Teixeira Ribeito apresen-

tado ao lI Congresso dos Economistas Portugueses, sobre

Indastrialiqação e Política Fiscal (1957), onde são defendiclas

muitas posições que clepois vieram a ser inttoduzidas n re-

forma â que começava a proceder-se. Aí se revelava iâ, de

facto, mais do que o Ptesidente de uma Comissão, o verda-

deiro inspitaðor da Reforma Fiscal.

Do ttabalho eficiente desenvolvido vietam a resultar

sete projectos de cliploma que cleram lugar aos Códigos da

Sisa e do Imposto sobre Sucessões e Doações, do Imposto

Profissional, do Imposto de Capitais, da Contibuição In-

dustrial, da Contribuição Predial e Imposto sobre a Indús-

tria Agrícola, do Imposto Complementar e do Imposto de

Mais-Vaiias, publicados entre Novembro de 1959 eJunho de

1965. Além destes sete proiectos a Comissão elaborou ainda

um outro, daquilo que deveria ser o Diploma Complemerìtar

cla Reforma Fiscal, contendo algumas disposições não inse-

ridas nos diversos Códigos (RInntno, 1'965-6).

Julgou a Comissão não ser ocasião pan altetar a es-

trutura que vinha de uás, com vários impostos parcelares e

um imposto complementar recaindo sobre toclos os rendi-

mentos já sujeitos aos impostos parcelares. Em contrapo-

sição às vantagens de adequação à situação global das pes-

soas, simplicidade e clareza de um imposto único sobte o

rendimento, pareceu terem ainda maior peso as vantagens

do sistema já existente, proporcionando a possibilidacle de

B)LETTM ot ctÊ.Nttts EC)NóMICAS Ltx (2ol6t 329-391

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f,NSf NO UNlVrlRSlrÁlUo DE I,CONON4IA E FINANÇÀS 349

cóciigos, a maior pafte cìelas por ele escritas ou influenciaclas,

e aincla por exemplo cla oração de sapiênci a A Reþrtna F-i'rca/,

proferida na abertuta solene da Universidade de Coimbra

em20 de Outubto de 1965, e das várias edições clas liçöes

de Finanças. Todas elas constituem em si uma defesa, bem

convincente, mostrando as razões do que havia sido feito.

Mas teve depois intervenções particulatmente expressivas,

atz¡c ndo clesvirtuamentos que, entretanto, foram sendo pra-

ticados. Assim aconteceu em A Contra-Reforna Fiscal (1,969)

e no artigo do ano seguinte sobrc As Alteraçoes ao Código do

Imþosto Prof,.rsiona/ - Mais Asþectos da Contra-Reþrma (1970).

No primeiro ciestes trabalhos refere, além da não aclequa-

ção dos serviços aclministrativos a uma aplicação correcta

da reforma - tratou-se cla contra-reforma administrativa - a

alteração do equilíbrio e da hierarquia geral clas tâxas, resul-

tante de modi{ìcações introcluziclas no sistema clos impostos

locais, a suspensão da execução clo Imposto sobre a Inclírs-

tria -A.grícola e a aclmissão da possibilidacle de não se tributar

o rendimento real efectivo a um contribuinte do grupo A da

Contdbuição lndusttial, apenas por havet "dúvida fundacla

sobre se o resultado da esctita corresponde ou não à teali-

dade". No segundo artigo verbera a penalização áa acumu-

lação de rendimentos do ttabalho, a tedução do valor presu-

miclo como remuneração do trabalho cle administtaclores ou

gerentes de empresas próprias e, por frm, a transformação

clo imposto de degressivo em progressivo, com taxas poclen-

do ultrapassat as de impostos sobte rendimentos funclaclos,

mais uma vez zo arrepio cia coerência que se prctendeu clar

ao conjunto do sistema {rscal.

uoLETiltr DF. CIÊNCIAS tCrtNCitvttc¡s Llx (20 1 (r) 329-39 1

348 M^NU[,I l^(]tNto NUNES, josÉ luÍs c¡lrDoso, lvrANUrL LoIES poRt.o

ßoLF.i rM or ctÊNrt¡ts [coNóivrcAs Ltx (2ot 6) :329.39:l

clistinguir consoante a origem dos r:enclimentos e a obtençãode um maior volume cle receitas. Pesaram, pois, razões dstealismo, que aconselharam a que não se fosse também paraa utilização cle um conhecimento único. Mesmo a aclopçãode um úrnico código, contendo os cliferentes impostos, foijulgaclo dever seguir-se à "execução da reforma de cacla umclos impostos, a fìm de se pocler ouvir e

^catz;r as lições cla

experiência" (1965-6, loc. cit.).

Onde a teforma apresentou um avanço substancial,além de aperfeiçoamentos cle sistematização e técnicos cle

vária orclem, foi na melhor cle finição e delimitação cla basetributável e na tributação clo renclimento reai efectivo: o queveio permitir que o nosso sistema fiscai se tornasse menosarbitrârio, mais pessoals,zado e mais sensível às alterações cle

conjuntura, vantagens estas que lhe pareceu ultrapassaremclecisivamente a única vantagem clara do sistema anterior,de ser mais simples e consequentemente de aplicação me-nos custosa. Uma outra vantagem geralmente atribuída (porexemplo por Einaudi) à tributação clo rendimento normal, a

vantagem cle incentivar o aumento cle eficiência, através daproclÌra de se exceder o que está atribuído por critérios cle

normaliclade, fota decisivamente posta em causa por TeixeiraRibeiro no jâ refeúdo reiatório Industrialilação e Pr¡lítica f-iscal(1957), chamando a atenção para que uma menor eficiênciapoclerá resultar antes cle uma climinuição da capaciclacle pro-clutiva, que os produtores poclerão fugir cle aumentar, comteceio de não atingirem o rendimento normal que por issopassa a ser-lhcs atribuício.

-Além cla influência que se sabe ter tido em toda estareforma, Teixeira Ribeiro clistinguiu-se explicando-a e de-fenclendo-a. Äs explicações clos motivos cle cacla impostoe da reforma em geral constam cÌas introduções clos vários

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350 M^NUEL J^crNt'o NUNES, losÉ LUÍs cAllDOSo, MANUËL LOIES poRt.o

2. Factldade de Direito da Universidade de Lisboa

2.1. De Albino Vieita da Rocha a Atmindo Monteiro

O início de leccionação da cadeira de Economia políti_

ca na recém-cúa"da Faculdade de Direito de Lisboa (FDUL)ocorreu no ano lectivo 1913/14, sob a responsabilidadede Âlbino Vieira da Rocha. ,\ regência fi,carâ a seu cargoaté 1934/35, com breves intermitências decorrentes da suaocupação de cargos públìcos. C)s mareriais pedagógicos e

sumários manuscritos que assinalam a sua presença não sãoteveladores de particular originalidade, norando-se algumasimilitude com os programas congéneres da FDUC e daFaculdacle de Ciências cla Universidade de Lisboa. -{ opçãoera, claramente, por Linhas ptogramâticâs em que impera-vam elementos históricos e descritivos da economia portu-guesa, com algum destaque para o estuclo das instituições deâmbito jurídico.

Durante os períodos de interrupção de actividade do-cente de Vieira da Rocha, a regência da cadeira de Econo-mia Política foi assegurada por Fernando trmygdio da Silva,Abel de Andrade e Armindo Monteiro. A esre último coubemaior interesse e dedicação na esrruturaçã.o da discipìina e

na compendiação dos respectivos conteúdosr1.Atmindo Monteiro foi o primeiro cloutorado pela Fa-

culdade de Direito de Lisboa, em 1921, com uma dissertaçãoque constitui o 1." volume da sua obra O Orçamento Português.

11 Armindo Monteiro rege a segunda parte clo ano lectivo de1922/23, o ano seguinte e 1926/27.

BOr,ETilvr DE C|Ê.NCIAS ECONOMTCAS LrX (2O16) 329_391

ENSTNo uNIVLIìslrÁnlo nl, ËcoNoMl^ E FIN^Nç^s 35 I

O 2Î volume (1922) é a sua dissertação pata assistente da

Faculdade.

O Orçømento Portaguês é um estudo onde se coniugam os

aspectos históricos, económicos, iurídicos e políticos dos fe-

nómenos {inanceiros. Â parte económica, ainda que com bi-

bltografr,a actuahzaàa, é menos aprofundada, dados os obiec-

tivos que o autor tinha em vista e a sua formação específica'

F,m 1,923 publica, um Ensaio de am Curso de Economia

Política, que corfesponde à ûm parte das matérias por si

leccionadas na tespectiva disciplina. Este Envio consta ape-

nas da inttodução, com a de{inição dos conceitos básicos da

metodologia e da demografia. Nas suas aulas ocupava-se de

outras mâtériâs tais como o Estado, as instituições sociais e

o panorama histórico das doutrinas económicas.

O Ensaio era a primeirapane de um curso getal onde se

ptopunha incluir uma introdução, com a definição de eco-

nomia e os aspectos metodológicos, a que se seguiriam as

clássicas quatro pârtes - ptodução, circulação, distribuição e

consumo - embora considerasse que â citculação não devia

set incluída no estudo da economia.

De L928 a 1.950,\rmindo Monteiro permanece afas-

tado do ensino. Desempenha sucessivamente os cargos de

Director Geral da Estatística (L928), Subsecretário de Esta-

do das Finanças (1,930-31),Ministto das Colónias (1931-35)'

Ministro dos Negócios Estrangeiros (1935-36) e Embaixa-

dor em Londres (1'936-1943).

Sete anos depois de deixar a Embaixada em Londres

regressâ à Faculdade de Direito, oncle ensina de novo Eco-

nomia Política de 1950 a 1'953.

Em 1952publica um Curso de Economia Política, onde tra-

ta dos problemas da moeda, mercados e preços, numa óptica

da repartição cle rendimentos. Tem já elementos da escola

BoLEr"tM DE ctÊ.Nct¡s tcoNÓwr:ts Lix (20Ì6) 329'39r

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352 MÀNUEL )ACrNTo NUNES, losÉ LUís cARDoso, M^Nurl Lot,ES poRro

tloLtlr^t nr. aÊNct¡s tc:oNótvt¡cls Ltx (2ol6t 329.391

neoclássica e da teoria keynesiana'2, mas nem sempïe há umadistinção clara entre aparte teórica e a.parte doutrinária. Nosúltimos anos ocupa-se também cie Marx.

O seu ideal para a economia era â autarcia, em comple_mentaridade com as colónias. Defendia um intervencionismomoderaclo do Estado, a quem attlbuía somente funções suple_tivas da iniciativa privada, não tendo sido nunca um doutrina_dor do corporativismo, receando, porvenfura, o seu demasia_clo intervencionismo.

No domínio das Finanças Públicas, dentro da ortodoxiamonetária e ß.nanceia. defendia cortes clrásticos nas despesaspúblicas, aumento da tributação inditecta, o equiJíbrio orça_mental e a estabilidacle monetária.

12 António L. Sousa FntNco (1986) considera ArmincloMonteiro "o nosso primeiro bom conhecedor de l(eynes,'. Se-gunclo Sousa Franco, os alunos clo curso complementar (criadona Faculdade de Direito em 1945) "tiveram desde logo um l¡omâcesso a I(eynss" (p. 63). Fernando Antú1o (200I), defende queé "a Ru1. Ulrich que devemos a primeira referência lectiva à Teo-tia Geral e não a Arminclo Nlonteiro como tem sido aventado,'(p. 86), por enrencler que à conjecrura "sobre a possibilidade c1e

(-Armindo Monteiro) ter leccionado alguns rudimentos cla TcotiaGeral em 1944/45" se contrapõe "a anteïioridacle da sebenta deRu1, 1-11.i.1r de 1942/43 onde há refcrência à traclução francesa cl¿

Teoria Geral". Acrescenta Araújo que) se Arminclo Monteiro fezreferência no seu ensino à Teoria Gerai cle I(e1rnss, não foi nocurso complementar de 1944/45, porquc tal curso nesse ano foiregido por Ruy Ulrich. E vimos jâ atrâs, em 1..2, a consicleraçãoclacla por JJ. Teixeira Ribeiro nas lições dc Finanças cle 1942 a

íìspcctos cla tcorin c. cla polírica l<e1'ncsilnrs.

ÈNSrNo uNrv[,rìsrrÁRro DE ECoNoMTA E rrNANÇAs 353

2.2. De Ruy ULrich aJoão Lumbtales

A. partir do ano de 1936 e até 1950, a regência da dis-

ciplina de Economia Política na FDUL esteve a cargo de

Ruy Ennes Ultich. Apesar de ter ocorrido numa idacle tarclia

(aos 53 anos), não foi tal motivo que o impecliu de procluzirextensa bibliografla de suporte aos cursos que leccionou ao

longo do período referido.Äpós o seu abandono da F'DUC em 1910 por razões

a que atrás já aludimos, Ruy Ulrich foi teintegraclo na mes-

ma Llnivetsidade de Coimbta, em 1,936, pedindo então a sua

transferênciapan a FDIJI-, onde se mantém durante cator-ze anos, acumulando o ensino da Economia Política com a

Direcção cla Faculdade. Segue a metodologia que âcloptou

nos três anos que ensinou em Coimbta, ou seja, uma estru-tura patcelat, dancìo em cacla âno uma parte do programageral que tinha a estrutura clássica de divisão em Produção,

Circulação, Repartição e Consumo'3.

A orientação do seu ensino segue uma niz francófona,não parecenclo ter sido muito influenciado pelos autores an-

glo-saxónicos'a. Só ^

prtir de 1,944 começam a ^p^recer

n

bibliogra{ìa mais autores ingleses.

13 Sobte estas matérias publica inírmetas 'sebentas': Introdução, Circulação e Moeda; História das Douttinas, Cit:culação e

Moecla; Histótia das Doutrinas, Nloeda e Créclito; Os TranspoTtes;

Economia Política, Repartição, Propriedade, Renda e Juro; Eco-nomia Política, Consumo; Economia Política, Comércio; llconomia Política, a Produção; llconomia Política, o Lucto.

la Cf.,\ti.,tú.¡o (2001: B0).

ttor ETtÌv DE crÊNCTAS t:t:tlN(¡¡ur:,ts Lrx (20 r 6) 329"39 ì

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354 rvrA.NUEL J^crNTO NUNÈs, ¡osÉ r.uís cAnDoso, M^NUEL LopES poltro

Ä par da visão clássica expunha nas suas lições aspectos

da economia neoclássica, que repudiava, nomeadamente notocante à distribuição. Nas últimas lições hâ jâ referëncias à

economia keynesiana, que rejeitava, senclo, toclavia, as suas

críticas mais severas cledicadas ao marxismo.

Publicou durante a sua docência na Faculdade de Direi-to de Lisboa vátios estudos de economia aplicada, clesigna-

damente na Reaista do Centro de Esrudos E conómicos do lnstitutoNacional de Estatística, a partir de 1944, centro de que RuyUlrich foi o primeiro Presidente do Conselho Orientador.

Fez igualmente inúmeras comunicações à Academìa clas

Ciôncias, designadamente os perfis de várias personalidades,entre as quais se salienta o que traçou de Oliveira Martins.

Terminou a sua catteita docente em 1950, ano em que énomeado, pela seguncla vez) Embaixador em Londres ondepermanece até atingk o limite de iclade em 1953.

Jâ atrâs indicámos que coube a A.rmindo Monteiro a ta-refa de substituir Ruy Ulrich em 1950, mantenclo-se em tais

funções ^té

1953. Nos dois anos seguintes, caberia a Pedro

Soares Martinez a função transitória de regência, até ao fr.nal

do ano lectivo de 1954/55. A partir desta c1ata, e ininterrup-tamente até ao ano lectivo 1968/69, a regência clas cadeiras

da ârea económica passa a ser asseguracla por João Pintocla Costa Leite (Lumbrales). Ao regressar às actividacles de

ensino - gue, à semelhança de Ruy Ulrich também tniciaraem Coimbra, no início da década de 1930 - João Lumbralespunha fim a uma longa e influente caneira cle mais de vinteanos (1934 a 1955) como membro de sucessivos governosde Salazar.

Os anos de 1934 a L955 corìstituem, com efeito, umaimportante etapa da sua carreira pública, consubstanciadanuma relevante acção governativa, primeiro como Subsecre-

uoLETrM o¡ clÉ,vcr¡ls ecoNótvnt:¡s Ltx (20 | 6) 329.39 I

ENSTNO uNrveRstrÁnro ¡r ECONolvltA È FIN^NÇAs 355

tário de Estado das Finanças, e depois como.Ministro cias

Finanças e Ministro cla Ptesidência.

Confotme atrás se indicou, em 1956 João Pinto cla

Costa Leite (Lumbrales) volta ao ensino da economia po-

líttca na Faculdade de Direito de Lisboa, pedindo a sua

transferência da Univetsidade de Coimbra. Rege a cadeita

de 1955 / 56 a 1968 / 69."

É evidente o seu esfotço de actualização que se pode

comprovar pela diferença das lições que profete no pri-meiro ano da tegência da cadeita em 1'955/56 e as lições

que publica em 1963 e 1966. Nestas aparecem atenuados

o eclectismo, a não diferenciação entre os aspectos teóri-

cos e clouttinários, e o peso de elementos clescritivos que

cttacterizavam os seus anteriores trabalhos. Mantém a sua

recusa pelo formalismo matemático, mas mostn aceitação

de muitas das concepções clos neoclássicos, e expõe já as

ideias daTeoria Geral de I(eynes, os conceitos de rendimen-

to nacional e os probiemas do crescimento e do desenvol-

vimento das economias.

Suportam ainda o esforço de reinserção de Lumbrales

no ensino na Universidade, as reflexões que faz, em 1959,

sobre A Crise Actua/ do Pensamento Económico, lluma comuni-

cação à Classe de Letras da Acaclemia das Ciências e um lon-

go artigo intitulado O Lugar das Ciências I\conónticas no Ensino

do Direito onde entende que tem climinuíclo a importância do

ensino das ciências económicas nas Faculdades de Direito.

Dado o prestígio e a relevância na cultura e na vida

nacional que tal ensino proporcionou aos que frecluenta'ram

as Faculclades de Diteito, apela para atribuir maior papel ao

ensino das matérias económicas no curriculum do curso cle

Direito. F, faz algumas Propostas nesse sentido. Reconhece,

15 Cf. BlsrtrN (2001)

BoLETnvl ot: ctÊNa,qs DCoNóIltcAS Ltx (2016\ :)29-391

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356 M^NUEL l^crNt'o NUNES, losÉ LUís cARDoso, M^NUEL LOIES poRto

ßoLETI^4 Dt: CIL.NCIt\S ECONONIICAS Ltx (2O16) 329.39t

toclavia, que a existência de instituições de ensino superiotde economia não pode deixar de ser levada em conta nessa

revisão._De certa forma, Lumbrales reconhece aqui explici-tamente o cfescente protagonismo exelcido pelo ISCEF a

p^rtir do início cla décacla de 1950, como veremos em breve.

,\pós a sua saída da FDUL, em 1969, Lumbrales é subs-tittrído por Pedro Soares }daftínez,, dando-se assim início a

um novo ciclo de desenvolvimento clo grupo de ciências ju-ríclico-económicas, que vida ainda a contar com a colabora-

ção, entre outros, cle Paulo Pitta e Cunha, António L. SousaFranco e Alberto Xavier.

3. Contribuição doutrinal das Faculdades de Direito: aeconomia do corporativismo

Olhanclo retrospectivamente e em conjunto para a pro-dução analítica e cloutrinal clos principais professores cle

economia e finanças clas Faculdade de Direito cle Coimbrae Lisboa, verifrcamos que um dos mais férteis e originaisterrenos cle abordagem de temas relacionados com a orclemeconómica e social é, sem dúvida, o da economia do corpo-rativismo'6. Justifìca-se, por conseguinte, uma breve exposi-

ção complementar sobre este significativo legaclo intelectual.Para os seus principais mentores e ideólogos, a organi-

zaçã.o corporativa cleveria consubstanciar objectivos cle equi-líbrio e harmonia social, confìanclo-se ao Estaclo um papel

16 Cf. sc¡bretudo António Oliveira Salazar (1933), Marcello(laetano (1935, 1938, 1946 e 1950), João Pinto cla Costa Leite(Lumbtalcs) (1936), Peclro Teotónio Pereira (1937), Tcixcira Ri-beiro (1938, 1939 e 1945) eJosé Pires (lardoso (1949 e 1950).

ÈrNSrNo uNrv[,rìsrfÁRlo DI] ECoNOMIA It IìrN^NÇ^s 357

primordial na liclerança cle toclo o processo, tendo em vista

um efectivo conttolo cla vida económica e social da nação.

Assim, a institucionalização clo Estado Novo -mediante a

aprovação de uma série coerente de documentos progra-

máticos orientadotes da vida económica, social e política -respeitou a essência da doutrina corporativista baseacla na

submissão do inclivíduo aos interesses superiores da nação e

na defesa da sua permanente integridacle moral e espirituâI,

tenc{o em vista os supremos interesses da salvaguarda da or-

dem e da estabilidade social. Ouçamos a este propósito as

palavras cle Salazat:

"A ctise c1e clue sofremos rtai certamcnte pâssar, mâs o es-

sencial é sabcr se a cloença cluc infecciona a econotnia clas

socieclades mociernas não será finalmente atacada, porqLÌe, se

se está fazendo aos flossos olhos o processo cla democracia e

c1o inclivicluaìismo, o processo c1¿ economia materiâlista, csse

está feito: toclos r.emos que falìu. Ilstá-nos portanto vecla-

do este caminho, e eu não veio outro que não seia sr"rbstituir

os graves erros que têm viciaclo a r.isão clos conclutclres de

homens no Nlunclo, pot conceitos equilibtaclos, iustos, hu

mânos, clc riqueza, cle trabalho, cle família, cle associação, c1e

Estado" (SÀL,\Zi\R, 1933: 8).

A criação de corporações vinha ao encontro de uma 1ó-

gica cle organização económica e social em que a tealização

clo interesse getal era previamente mecliacla pela obtenção cle

uma harmonia dos interesses clos diferentes agentes e gru-

pos de aÉìentes que operam num mercaclo superiormente tu-

telado pelo Estado. A fixação clos preços, a entracla de novas

firmas no metcado, a regulação das condições de trabalho, a

cleterminação de níveis salariais, a análise clos custos de pto-dução e, de um modo geral, todas as operações de cálculo

económico que, num regime c1e livte concorrência, consti-

tuem procedimentos elementares clas escolhas contingentes

num quadro cle escass ez de tecutsos clisponíveis - isto é, o

BOl,uTIAl t;t CtENCtttS I.CONó*-IICAS LIX (201(t) 329-391

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quadro clecisional típico do ho¡nct econoruicøs consagracio pelaliteratura económica neoclássica - seriam matéria da com-petência privilegiada das corporações e das organizaçõesfederativas patronais (grémios) que ihes proporcionaúammaior representatividade nacional e, sobretudo, um controlohorizontal das actividade s associadas a cacla produto (trigo,

^troz, azeite,lã, vinho, pan referir os principais).

À luz destas orientações cloutrinais e políticas, as noçõesde utilidacle individual são suplantaclas pelos apelos à reali-zaçã"o de uma utilidade social colectiva qlre as corporaçõespoderiam proporcionar. O preço justo corporativo impõe-secomo referência normativa que superiormente substitui ar.a-

liações subjectivas de utilidade ou cáiculos especulativos decustos. A otganização controlacla dos interesses individuaistriunfa sobre as ténues convicções

^cetc^ das vantagens de

se dar livre curso à acção individual em busca do inreressepróprio. Os ideais de cooperação e solidariedade impõem-secomo elementos que adicionalmente contrariâm o funcio-namento do mercaclo segundo a Iógica espontânea da livreconcorrência. Â suposta associação voluntária entre o mun-clo do trabalho e o mundo do capital desvanece tensões econflitos entre grupos e classes sociais. Em suma, o modelocorporativo institui um compacto sistema cle vaiores que in-terfere decisivamente sobre o moclo de organização cla viclaeconómica e sobre a construção do seu conhecimento.

,Ao falar-se da economia c1o corporativismo, é sempreútil ter presente que não e stamos diante de um quadro cle re-ferências teóricas minirnamente elaboradas. ¡\ distin ção faceao pensamento económico iiberal neoclássico está longe depocler ser identificada no plano reórico, já que quase toclasas difetenças assentam na forma distinta como se concebe o

papel da concorrência e as virtudes do mercado. Assim, não

358 M^NUIL J^(]tNto NUNES, ¡osÉ luís c^t{Doso, MANUEL LopES por{To

tJoLETrNt ot ctÊNclts tt:oNóutc,ts Ltx (2o16) 329-39l

E,NSINO UNIVERS|I/IRIO DI] ECONO]VII,4. E IINANÇAS 359

é tanto uma nova teoria clo funcionamento clo.mercado e da

detetminação do preço de equilíbrio aquilo que os corpo-

rativistas proporcionam. Muito menos se trâta de qualquer

nova incurs ão ana"líticanos domínios da teoria económica cla

disttibuição e do bem-e stx.Ttata-se tão só de suieitar tocla

a abordagem clos fenómenos e problemas económicos a im-

perativos de estabilidade e otclem, ancorando tal abordagem

num conjunto de princípios éticos consoliclados rìo intetior

clâ estïutura otganizativa das corporações, representativâs

cle interesses indivicluais, pro{issionais e sociais.

Neste contexto histórico e discursivo, a teotia econó-

mica neoclássica não tinha terreno fétt1I pan frutihcar. Os

pressupostos da livre concortência, do equilíbrio espontâ-

neo dos mercados, do não-intervencionismo clo Estado não

poderiam ter bom acolhimento entfe os doutrinaclores cor-

porativistas portugueses, pelo que os esforços de sistema-

tização analttica não passavam cle um acaclémico exercício

propeclêutico em escâssas disciplinas universitárias. Confor-

me esclatece Teixeira Ribeiro:

"A nossa economia não acreclita no automatismo cla escoia

liberal: por isso aquele attigo 4." ldo E-rtahtto do'[rabalho I]acional tèssùva os limites à iniciativa patticular exigidos pelo

bem comum; e Por isso, ainda, as categoriâs profìssionais e

económicas se encontrlm corporativâmente otganizadas"

(R.turrno, 1939: 50).

Adversários inconclicionais do laisseTfaire,os ideólogos

corpoïativistas pr<:conizavam a noção de uma economie eu-

toditigida que, no entanto, nada tem a ver com os processos

de equilíbrio espontâneo clo mercado tão ao gosto cìa eco-

nomia neoclássica. O seguinte excerto cle Teixeita Ribeiro

ilustra bem tal distinção:

"As corporações colaborâm, portânto, no exercício de uma

função normâti\¡a. E, é por isso que as actividades clos in-

BOLr:i'tNt DE ctÉrvc-¡¡s ECoNotútcAS Ltx (20Ì6) 329-39t

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360 M^NUEL JA(jrNTo NTJNES, IosÉ t.uÍs cARDoso, MANUEL LopES porro

ß()Lt nit o¡ c¡ÉNc¡rrs tcoNótilo\s Ltx (2ot6) 329.391

dir'íduos e clas emptesas sc encontrâm âgorâ submedclas auma cliscipìina ou, clizendo merho! condicionaclâs por certasposições iniciais que essa disciplina significa.Estamos longe do ec|-rilíbrio automático: em \¡ez clele tenroseconomia dirigida. NIas a clirecção, aqui, não pertence clirec-tamente ao Estado, pois são as indústrias que, âtravés da suacorporação, tomam a iniciativa cle elaborar os regulamentos eas normas. Ao governo compete dcpois, como representxnted'interessc nacional, deciclir sobrc eras er¡ crerracieira instân_cia, apto'anclo-as ou rejeitanclo-as. ora porque as indústriascolaboram nâ sua própria disciplina, diz,se que temos antesuma econontia aato-dirigida (. . .).A.s corpotaçõcs visam o máximo c1e proclução e riquezasocìalmenre úrtil (...). Consegue_se o máximo cle prodìçãoquanclo cm todos os meLcaclos o preço dos bens colnci.reco1Ìì o custo cleies. E, estes são, precisamente, os pontos deequilíbrio cla livre concorrência. l)aí que às corporações com_pita realrzat a todo o momento aq.,"in paddacL ..ri.. pr.ç,r.e custos que o sistema da liberclade económica, por falta cieotganização, se mostrâ muitas'ezes incapaz clc aìingir ou c1emânter" (Rruntno,l 93 B: 61 -2).

A análise clo sistema corporarivo levacla a cabo por Tei_xeira Ribeiro nâ décacla de 1930 e na primeira metade cladécada cle 1940 insere-se na suzt preocupação global como funcionamento dos sistemas económicos. Compreende_seeste seu interesse, pela noviclade que via no tratamento detais proble'-ras: "ignoramos, sim a tal doutrina corporativaque já existe em Portugal, e clebalde buscamos livro onde en_contrá-7a", responcle Teixeira Ribeiro (1939) a Marcelo Cae_tano, clue o havia acusaclo cle parecer ,,ignorar que existe jáLrma organizaçã,o e uma doutrina corporativa em portugal"(C,\Eli\NO, 1938: 250-1).

Tendo em vista o objectivo que sempre o preocupou,cle perspectivar historicamente cada sistema económico, Tei-xeira Ribeiro deu neste caso um realce muito especial aoestr-rclo cla economia artesana, tenclo ttazido "alguns novos

r.NSrNO UNTVTTRSITÁIUO U ECONOivll^ L FIN^NÇAS 361

elementos p^{^ o conhecimento cla história clas cotporaçõe s

em Portugal" (Cr\nrÀNo, ibid.), cujo espírito até certo ponto

se fazia ressurgit. A evolução havida entre os dois sistemas é

também por ele claramente explicada, mostrando as razões'

internas e externas, que conduzftamà queda das corporações

mecìievais, a lógca do funcionamento da economia através

dos mecanismos c1o mercado quando este mais se aproxima-

va da concotrência e o ser.l encaminhamento posterior até se

chegat a uma economia de grandes unidacles concentrâclas'

Vislumbraclo o fim da Guerra e com ele o frm do regi-

me fascista italiano, que além cle pioneiro foi o que mais se

distinguiu tenclo nâ sua base um sistema corporativo, pôs-

-se naturalmente â questão de saber se este cleixatia de ter

sentido ou corresponderia antes a "exigências profundas da

estrutura económica modeïna". Trata-se cle questão a que

Teixeira Ribeito procurou responder numa comunicação in-

titulada O Destino do Corþoraliuismo, enviada ao XVIII Con-

gresso Luso-Espanhol para o Progresso clas Ciências' reali-

zado em Córclova de3 a 10 de C)utubto c1e 1944. Depois de

poncleraclos os argumentos mostrando a impossibiliclade de

o Estado conduzir a contento uma economia que também iánão poderia viver apenas dos mecanismos da concotrência,

Teixeira Ribeiro acaba por concluir que

"o desúno do corporativismo não está' como alguns st'Lpõem,

fetreamente ìigaclo à sorte vária clos regimes poLíticos' Seiam

estes da escluerda ou cla diteita, qr-reiram servir clc ponte cle

passâgem p^r^ ^

colectivização ou reforçar ainda a proprie-

ãade ptivada - em aml¡os os casos haverá que dirigit mais-ou

firenos a economia, e como o Gorterno decerto o não farâ

sozinho, havetâ que recorrer ao concllrso dos produtores - e

teremos cotporações" (Rrurlno, 1 945).

Bor Fl'rL,t r¡r. aÊNrt¡s Ea-'oNórrÍ(-lls Llx (201(r) 329-391

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INSINO UNI\¡EI{SIITIìIO DE ECONOMIA E FINANÇ,\S 363

protagonismo. Deste modo, o modelo corporativo procu-

ta impor-se como uma espécie de "tefceita via" entre um

capitalismo liberal desregrado e um socialismo estatizante

castrador do livre arbítrio e contrário à propriedade privada.

De cetta forma, era essa mesmâ icleia que encontramosnas seguintes palavras de Salazar, sem dúvida um dos menos

entusiastas paladinos do sistema corporativo:

"Nós queremos caminhat para umâ economia noua, ftabalhan-do em uníssono co1-n â naturezahur.r'ana, sob a autoridade de

um Estaclo forte que defenda os intetesses supcriores da na-

ção, a sua rtqueza e o seu trabalho, tanto clos excessos capita-ìistas como do bolchevismo desttuidor" (SÀlÀzAt, 1933: 15).

Mas o problema fundamental clo estudo deste modeio

corporativo está em averiguar a sua exequibilidade e veri-

frcaçã.o prâticas. Na aborclagem desta questão, dificilmentese podetá admitir terem sido bem sucedidas as orientações

ptogtamáticas explanadas pelos seus principais mentores.

Com efeito, foi comum o sentimento de algum desencanto

pela dificuldade de concïetização de um modelo cle socieda-

de que se acreditava poder servir como palco inovador de

uma experiência económica alternativa. A exortação doutri-nal não teve o desfecho pretendido. O enquadramento legal

do Estatuto do Traþalho Nacional e da Con.çtitaição de /933 es-

tava longe de corresponder à realidade que os ideólogos do

-Estado Novo julgavam estar a criar.

Num balanço crítico digno cle registo, Marcello Cae-

tâno expressou da seguinte forma o seu descontentamento

face ao não cumprimento do projecto corporâtivo:

"O país desejaria vet-se lir.re dos manifestos, das requisições,dos racionamentos, dos contingentes, dos condicionâmentos,das guias de trânsito, de tudo isso que não é consequêncianecessária e lógica da organizaçào corporativa, mas que ela

teve de ^rc

r no momento em que essim o exigiram os impe-

ßoLETr^r or. .JÊNct¿ts r.coNoutc:¡s Lrx (2016) 329"39t

362 MANULTL lACrNto NUNES, losÉ LUÍs c^RDoso, r\4^NUEL LopES ponro

Numa nova ponderação do problema, teconhece, toda-

via, a impossibiliclacle de os agentes económicos prosseguirem

os interesses comuns quando integrados nas corporações:

"Seria profundamente contraditório pretender que os pro-dutores zelassem os interesses ptóprios ao administraremâs empresas e que tivessem a preocupação do intetesse geralao deljberarem nos orgenismos corporativos - quando, aliás,as decisões destes organismos põem em jogo os lucros dosseus negócios. Pela própria lógica do sistema, os indivíduoshão-de ser egoístas ao gerirem as fábricas e hão-de continuara ser egoístas, em tudo que possa afectá-los, ao gerirem as

corporações" (RrnEIno, 1 945).

Não podenclo consequentemente prescindir-se da in-tetvenção do Governo na direcção da economia, não será

possível um corporativismo autónomo. Conclui pot isso

Teixeira Ribeito que "o destino do cotporativismo no de-

pois cla guerra é permanecer, mâs permanecer corporativis-mo de Estado, como o tem sido sempre, em maior ou menor

gtau, até agora" (ilrid,).

Constituiu também preocupação sua o problemade saber se com o corporatìvismo se estaria perante uma

economia difetente: ou seja, se poderia falat-se de uma

economia corporâtiva. Tratou dele nas referidas lições de

1936 e 1938 e também em lições orais posteriore s. Atendendoa que a proclução cofltinua a fazet-se em regra em empresas

privadas, a que o capital e o trabalho são fornecidos por pessoas

distintas e a que o fim da actividade é o lucro, não deixa de

considerá-lo capitalismo, embora capitalismo corporativo, em

virtude de o lucro clever ser conforme "ao bem sociai".

Desta visão construída por Teixeira Ribeiro resulta a

icleia cle que a economia auto-clirigicla pressupõe uma forteintervenção clo Estaclo num momento fundador cla organi-zaçã.o cotporativa, ao que se seguiria uma perda gradual de

tloL[.TrNr or. ctÊNct,ts rt:oNótvut:tts Ltx (2o16) 329-z91

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364 M^NUEL l^crNTo NUNEs, losÉ LUÍs c^RDoso, M^NUEL LOIES pom-o

ß O L ET I i\1 D E C t E N C t t\ S t-.CO N O I,t K: A S LIX ( 20 I 6) 329 -39 l

râtivos do interesse nacional" (Cr\uTÀNO, 1946:2).

A Guerra Civil de Espanha e o ecloclir cla II GuerraNlundial pareciam ser conclicionantes demasiaclo fortes que

impunham um acliamento clo projecto corporativo. Mas tais

circunstâncias externas não efam, por si sós, atenuantes docentralismo, do dirigismo e da teia burocrática que o Estadoimpôs ao funcionamento de uma economia carente de res-

ponsabilidade empresarial, cle orgznização racional de negó-

cios, de espírito empresarial, cle iniciativa e tisco. O fenórne-no do condicionarnento industrial e os complexos processos

aclministrativos conducentes à instalação de novas uniclacles

cle proclução em sectores protegidos e nada confìantes nas

vantagens da livre concorrência constituem uma clas provas

mais convincentes de como a ideia cle economia auto-diri-gida era um simulacro da acção tentacular clo Estado. Poroutrâs palavras o reconheceu Marcello Caetano:

"Portugal é urn Estado corporativo em intenção - não cle

facto. C) mais que sc pocle cltzet é. que temos um llstado cle

base sindical corporativa, ou cle tendência coLporatir.a, mlsnão um Estaclo corporativo" (Cz\ìJTÀNo, 1950:12).

Ora, foi justamente esse fracasso de realização do cor-porativismo que confetiu à estrututa institucional do EstadoNovo alguma incapacidad e para satisfazer aclequaclamente as

exigências cla livre iniciativa inclividual, impondo sérias res-

trições ao exetcício de liberclacles civis elementares, designa-

damente em matérias económicas, C) seu aicance reduzia-se

à defesa e conservação clos interesses dos grupos económi-cos e sociais tradicionais que, naturalmente, se sentiam bem

acomodados no interiot de um regime que cleles depenclia e

que neles projectava o senticlo da sua acção. Ässim, a fracacompetitiviclade cla economia portuguesa era compensada

por medidas cle proteccionismo agrícola, industrial e comer-

ENSINO UNIVERSITIiIUO I)È, E(lONOl\4lA Ë FIN^NÇAS 365

cial, erguendo-se o F,stado como factor de .consetvação e

reprodução de uma estruturâ económica pouco dinâmica.

A modernizaçã"o davida económica exigia uma diferen-

te fundamentação no plano teórico e cloutrinal e, sobretudo,

exigia uma especializaçã,o têcnicz e sofìsticação analítica que

as Faculdades cle Direito jâ nã"o poderiam proporcionar. A.

linguagem e instrumentos postos ao serviço da ciência eco-

nómica tornavam cada vez mais difícil a compreensão por

parte clos juristas que não tinham formação matemática.

4. O Instituto Superior de Ciências Económicas e Fi-nancelfas

4.1. A herança do Instituto Superior de Comércio

Desde a sua criação, em 1.931, o Instituto Superior

de Ciências Económicas e Financeiras mantinha uma forte

traclição de ensino cle matérias jutídicas, matemáticas,

tecnoiógicas e contabiLísticâs que hetdara da escola que esteve

ditectamente na sua origem, isto é, o Instituto Superior de

Comércio fundado em 191.1..

Âs diversas cadeitas distribuíam-se por quatro secções

que correspondiam, na prâtica,, â quatro áreas c1e especia-

lização clo curso, concretâmente: secção aduaneira, secção

diplomática e consular, secção de finanças e secção cle ad-

ministração comercial. Em todas as secções o curso tinha a

duração cle 4 anos, não obstante seÍ variável o número de

disciplinas afectas a ca.da secção. O significativo númeto de

cacleiras comuns às quatro secções possibilitava a um mes-

tsoLETr^r DE ctENCIAS [.coNó]\,tK)rs t,tx (2o16) 329-39t

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366 M^NUEL IACINTo NUNES, losÉ LUís cAnDoso, tvr^Nurl LOpEs l{lt{fo

mo aluno a obtenção de cliplorna em várias ou, mesmo até,

em todas as áreas de especialização.

Apesar de as cadeiras da ârea de economia e finançasserem as únicas comuns às quatro secções, o seu reduziclopeso na estrutuÍa curricular difrcilmente autoriza o estabe-lecimento de algum tipo de correspondência formal entre a

designação da escola e os conteúdos de ensino efectivamen-te ministrados'7.

Numa apteciaçã,o genérica, cumpre realçar a nàtvrezi-essencialmente prâtica e profission alizante do ensino entãolevado a cabo no ISCE,F, com umâ assinalável presença deaulas de laboratório e de escritório comercial, em ambien-tes que recriavam ou simulavâm os locais de trabalho dosfuturos diplomados. As visitas de estudo e os tirocíniosprofissionais proporcionavam um útil contâcto com o mun-do económico. A este propósito vale a pen transcrever ostermos em que o Regulamento do ISCEF define as saídas

profissionais dos diplomados com o curso de ciências eco-nómicas e fr,nanceiras. Todos ftcavam aùtomaticlLmente ha-bilitados a leccionar nos institutos comerciais e nas escolasde ensino técnico profissional.Pata além disso,

"O diploma do curso superior de ciências económicas e fi-nanceiras constitui habiltação :

Na secção aduaneira, exclusiva parâ os lugares das alfândegas( .).

Na tecção dþlonritica e consalar, para os lugares de cônsules e

secretários de legação (...).

Na secção de f.nanças, pan zctuârios e outros cargos doquadro da Direcção Geral das Contribuições e Impostos, da

11 Para uma apreciação pormen orizada da evolução da estru-tura curricular no ISCEF cf. Ponrr'l¡r. (1968); e veja-se tambémOpptNH¡rr,rtrn e Ror,rÀo (1985).

ItoLETrNt or: aÊNrt¡s rcoNó¡,ttc:¡s Ltx (201 6) 329-39 I

lNslNO UNIVfl{SITARIO lrl E( ONoMIA L l:INANçAS 3(:7

Inspecção de Seguros, cla Direcção Geral daFazenåa Pública,

da Direcção Geral de Estatística, do Tribunal de Contas, da

Direcção Geral do Comércio e Indústtia e àa Direcção Getal

da Contabilidade Pública, nos termos da legislação em vigor.

Na seqão de adninisnação conercial, parâ os lugares de adminis-

ttadores, gerentes e outros lugates de nattxeza técnico-co-

mercial, de empresas comerciais, bancárias e industriais, bem

como parâ os lugares de aclministradores de falências, peritos

comerciais e corretores de bolsa de fundos públicos e de mer-

caclorias (att." 8.").

Desta pormenorizada iistagem de saídas profissionais

destaque-se a clan dicotomia erìtre umâ formação vocâ-

cionada pàïz- o sector privado (secção de administtaçã,o co-

mercial) e a uma formação clestinada a fornecer recursos

humanos qualificados para a administração pública (todas

as restantes secções). Todavia, a receptividade das empresâs

parz' vm ofefta qualificada de emprego erz- entã.o muito re-

duzrda,funcionando o Estado como o principal empregador

clos alunos do ISCEF''.Daqui também decorre â constatâçã"o da fragilidade

profissional dos diplomados em ecorìomia e finanças, tendo

em atenção a notmalização curricular dos cursos universi-

tátios que nestas âreas iá. se verificava noutros quadrantes

internacionais. Apesar cle o grau de especialização e cle dis-

cipltnarização clas ciências económicas e financeiras se situar

a um nível de maturidade ainda incipiente, dada a autonomia

recente deste campo científico em matéria cle ensino univet-

sitário, parece não haver dúvida de que a situação do ISCEF

18 Sobre estâ e outras matérias relativas à inserção dos licen-

ciaclos do iSCEF na vicla profissional cf' o potmenotizado estudo

de GoNç,uvrs (1998: 337-58).

B)LETTM ot ctÊNct¡s EC)NÓMICAS LIx (2016) 329-391

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INS]NO UNIVERSITÁRIO DE ÈCONOMIA [, FIN,\NÇAS 369

uma mera abstracção sem coïrespondência na realiclacle"

e enunciava-se uma preferência pelo método indutivo. Naausôncia de qualquer estrutura teórica clara, propunha-seum institucionalismo ingénuo no qual a clesctição cle ele-

mentos constitutivos da vida económica se misturava comconsiderandos jurídicos e com afirmações de caùz doutri-'nârio. Resultava o conjunto numâ visão pessoal dificilmenteintegrável nas correntes clo pensamento económico então

presentes na cena internacional. Com efeito, diferenciava-

-se clararnente do historicismo alemão que na transição clo

século havia influenciado alguns economistas portugueses,

designadamente ao substituir as tipologias da evolução his-tórico-económica por observações históricas avulsas; afas-

tava-se do institucionalismo norte-americano do seu tempo,a que de resto não fazia qualquer referência explícita, desig-

nadamente ao nã.o compartilhar a sua crítica progressiva do

capitalismo moderno; repudiava o marxismo, e também não

acolhia a emergente teoria económica clo corporativisrno, in-dependentemente da sua simpatia pela solução corporativa.

A substituição de Lino Neto por Marques Guedes na

leccionação da disciplina cle "Economia Política. Legislação

Industrial" na primeita metade da dé.cada de 40 trouxe umnovo manual de ensino (Gunnrs, 1,944-46), o qual, aincla que

revelando alguma actualização dos saberes, não acarretousigni{ìcativa inovação no que respeita às concepções meto-dológicas e teóricas vigentes. Aincla assim, as consiclerações

metodológicas que antecediam e condicionavam ^

exposição

teórica passaram a denotat uma maiot sensibilidade à evo-

lução que se ia processando 1â fora, designadamente ao não

ignorarem por completo o potencial da aplicação de méto-dos matemáticos na economia. Importa também notar que

a próprra abordagem da problemâtica económica, ainda que

BOLETTNT DE CTENCTAS ECONOMT()\S LrX (2Ot6) 329.391

368 M¡\NUEL lACrNTo NUNES, ¡osÉ ruÍs c,{RDoso, M^NurrL LOÌ,ES poRt.o

ßor,ETrLi ot: ctÊNct¿s ECoNóMrcAS Ltx (2o16) 329.391

estâva aquém do nível de aprofundamento já alcançaclo nou_tras instituições congéneres europeias e norte-americanas.

Uma comprovação desse relativo atrâso poderáser feita através da análise clos conteúdos programáticosleccionados nas cacleiras de economia da escola do euelhas,de signadamente da 9." e 10." cadeiras, respectivamentedesignadas de "Economia política. Legislação industrial,', e

de "Política económica internacional". Pata isso socorremo_nos dos manuais de Francisco,António Correia, António LinoNeto e A.rmando Marques Guedes.

O ensino da economia internacional, clominado nas dé_

cadas que antecedem a teforma de 1949 pelo magistério deFrancisco António Correia, dava clara preferência à cliscussãodoutrinária e política e à consic{eração cle aspecros técnicose jurídicos em detrimento da reflexão propriamente teórica.Esta raramente foi além da apresentação sumária das ideias deSmith e cle List e) mesmo assim, a patsr c1e fonte s secundárias,em geral francesas. É evidente a desvalorização cle boa partecla produção teórica das primeiras décadas do século, ciesig-naclamente cla abordagem neoclássica daquela problemática.

Pelo seu laclo, o ensino dos fundamentos cla teoria eco-nómica até quase ao fr,nal da década cle 40 reve expressãoprivilegiada nos dois manuais enrão utilizados no âmbito daacima referida cacleira "Economia política. Legislação indus-ttial". O primeiro, e mais duradouro desses manuais, foi ocle António Lino Neto (1936), o qual não expressa as prin-cipais linhas de inovação e de reflexão teórica clo seu tempo.As referências à visão então internacionalmente dominante,isto é, a primeira síntese neoclássica, são episóciicas embo-ra inequívocas na recusa de tal corpo teórico. Tomava-se a

teoria da utilidade marginal como "de ftaca consistência,,,afastava-se o conceito de homo economicas por "não passar de

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370 M^NUEL IAcrNTo NUNES, JosÉ LUÍs c^RDoso, MANUEL LoPES PoI{To

permanecendo essencialmente clescritìva e com uma grande

carga de apontâmentos de fi tsreza histórica e iurídica, re-

velava uma mais larga incorporação de elementos téoricos

relativamente às lições do seu antecessor. A. pat de um apelo

a conceitos odundos do pensamento clássico e do histori-

cismo, efa ^gota

também visível uma maiot sensibilidade ao

paradigma neoclássico. A influência de tal paradigma reve-

lava-se, por exemplo, na apresentação de uma definição de

economia inspirada em Pareto ("a economtapolítica estuda

os fenómenos sociais nos aspectos da sua ofelimidade") e

nas referências à teotia do consumidor, a qual, de um modo

inédito entre nós, surgia nas suas lições em anteposição à

teoria da produção.

Do exposto se conclui que o nível de desenvolvimento

teórico e de aptofundamento analttico nas cadeiras de econo-

mia do ISCEF era incipiente e marcado por um indisfarçável

eclectismo. A coetência do discurso económico neoclássico,

sobretudo atravês da padronização e sistematização que lhe

fora dada por Alfred Marshall e seus seguidores, quet em In-glateffa, quer nos E,stados Unidos, tinha uma tepercussão Ji-

mitada no nosso país. E â ter que ser nomeado um local, uma

instituição, onde os ecos de modernidade se frzeram sentir,

não é o ISCEF dos anos 30 e 40 que merece tais honras, mas

sim a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbn, affa-

vés da acção nela desenvolvida por Teixeira Ribeiro.

BOLETTM DE :IÊNCIAS rc:oNóutctts Ltx (2ot6¡ 329-391

ENSINo uNrvLRSrrÁRro DE ECoNoMTA E FrN,{NÇ^s 371

4.2. A Reforma do ISCEF e o papel de Pinto Barbosa

A modernizaçã,o do ISCEF, que viria a ditar a sua de-

{initiva hegemonia no plano da fotmaçã.o universitâria nosdomínios económicos e financeiros, só viria a ocorrer a pat-tfu da reforma curricular encetada em 1949, parz- a qual de-sempenhou papel de grancle destaque Ântónio Manuel Pin-to Barbosa. Sigamos de perto o seu percurso.

,{.pós conclusão do doutoramento em 1941,PintoBzr-bosa iniciou a sua careira docente no ISCEF leccionando a

cadeira de "Matérias-primas" e outras disciplinas de catâctertécnico. O seu interesse por matérias de teoria económica sé

viriz a poder concretizar-se no ano lectivo 1946 / 47 , quandoassumiu a regência da cadeira de "Economia política. Legis-lação industtial". Pata a estruturação do programz e prepa-ração das aulas, Pinto Barbosa contou com a colaboraçãoestreita de Teixeira Ribeiro, que lhe chegou a ceder os âpon-tamentos das suas lições na FDUC.

As primeiras lições de Pinto Barbosa foram publicadassob a forma de sebenta em 1948 e revelam um profundocoritrâste com a tradiçã"o herdada de Lino Neto e MarquesGuedes, que o antecederam na leccionação de disciplinascom conteúdo económico. A organizaçã.o das matérias sur-g;a parcialmente modificada, designadamente ao incluir umcapítulo final sobre o rendimento nacional e ao substituir a

longa inttodução sobre a posição da economia no quadrodas ciências sociais e sobre a história das doutrinas económi-cas por algumas breves observações sobre o carâcter lógicoda ciência económica. Tais observações são incluídas porPinto Barbosa após a exposição da teoria do consumidor.

tioLETrM DE ?|ÊNCTAS ECoNoMTcAS Lrx (2ot6) 329-39t

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372 M^NUEL l^crNTO NUNES, losÉ LUís cARDoso, MANUIL LopES pol{l'o

Mais irnportante er^, no entanto, a alteração no moclo

de concebet ^

teotie' económica e nas referências que fun-clamentavam essa nova concepção. Apesar de a bibliografìacitada sugerir um compromisso com as referências teóri-cas fundamentais do período anteriot - incluindo obras de

L. Robbins, W Eucken ou de H. Stackelberg lado a lado

com textos de Chades Gide, de Gaetan Pirou o do próprioMarques Guecles - o facto é que as lições de Pinto Barbosa

substituíam as habituais extensas considerações de natureza

institucional por uma aborclagem funcional com recurso a

uma linguagem diagramâtica e algébrica típica dos moder-nos manuais da especialidade. A inspiração teórica er^ agora

claramente a síntese marshalliana, com incorporação de di-versas inovações que entretânto a enriqueceram (v.g. a teoriada concorrência monopolista) e, ainda que marginalmente,alguma influência da nova macroecorìomia no âmbito do es-

tudo do renclimento nacional. Tratava-se agorz- de um curso

modernizaclo, no qual deixavam cle ter iugar referências às

correntes heterodoxas e críticas cla tradição neoclássica.

Parecia chegada a hora para projectos mais ambiciosos

de reforma do ensino na escola do Quelhas, tanto mais que

eram jâ visíveis outros sinais de moclernidacle. Um deles pro-vinha da Reuista de Economia - animada por ex-colaboradores

clo extinto Centro de Estudos cle Matemática Apücada à Eco-nomia (CEMAE) do iSCEF - a qual revelava receptividade

às novas correntes clo pensamento económico, pluralismo noplano doutrinário, abertura ao uso de métodos matemáticos e

capacidade de ptocluzir cliscurso disciplinar especializaclo que

contrastava com o tipo cle ensino até. então praticado no IS-

CEF, pressionanclo do exterior a sua actualização.

Atenclendo ao percufso cie António Nlanuel Pinto Bar-

bosa no ISCEF, desde a realização clas suas provas de dou-

ßoLETrNr DE CIÊNCTAS ECoNóMrcAS Lrx (20Ì 6) 329-391

ENsrNo uNrvEnsrr'ÁRIO DE ECoNorvlt^ E FINANÇAS 373

toramento em 1941 , facilmente se depreende que foi sua

a principal responsabilidade em criar as condições pedagó-

gicas e cientí{rcas, e também em desencaclear as indispen-

sáveis acções de diplomacia académica, que viabllizanm a

reforma de 1949. Foi também sua a autoria material da nova

estrutura cutticular, contando para o efeito com o conselho

e aval cientí{ico cle Teixeira Ribeiro. O mesmo Teixeira Ri-

beiro teve também papel clecisivo em convencer o DirectorGeral clo Ensino Supetior e das Belas Artes z aceitat a refor-

ma pfoposta, clesignadamente no que se refere à introclução

de algumas discipiinas que poderi^m gent alguma contro-

vérsia, como eram os casos clas cadeiras de "Economia da

empresa" e de "Econometria"'e. t\ Reitoria cla Univetsiclade

Técnica de Lisboa pouca ou nula importância teve nz fotmacomo o processo da reforma foi concluzido'u.

As principais alterações estruturais consistira-m na re-

dução dz carga hcxâria das disciplinas e do número de cur-

sos para clois - Economia e Finanças * cada um com a du-

ração cle cinco anos, senclo os clois primeiros anos comuns

aos clois cursos. O dado mais signifìcativo desta refotma é

â presença prepondetante das cadeiras e clos professores de

economia, em contrâste radical com o que até então se veri-

fr.cava. Neste senticlo, a reforma de 1.949 representa de facto

a refundação clo ISCEF em molcles completamente distin-

tos. Pata tal, Pinto Barbosa contou) dentro do ISCEF, com

o apoio e soliclariedade activa de professores de difetentes

áreas, designadamente cle Moses Amzalak (economia), Gon-

çalves Pereira (diteito), Leite Pinto (matemática) c Gonçal-

ves cla Silva (contabiliclade) e com â neutraliclade da generali-

le Cf. testemunho de Pinto Barbr-¡sa em: Neves e Snvt (1999: 47-B).20 Entre outfos testemunhos pessoais clc Pinto Barbosa so-

bte o assunto cf. B;\RBost' (1992).

ßot,r:.Tri\,r or. aí:Nct¡s ECoNóL4tcAS Ltx (2ot6) 329-391

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374 MANUEL )ACrNl'o NUNES, losÉ LUís cARDoso. N4^NUEI_ LOpES poRTo

dade dos docentes cias cadeiras juríclicas que mantinham umpeso importante na nova estrutura curricular.

Os clocentes clas cacleiras tecnológicas estavam a chegarao limite de idade (casos de,\ugusto Curson e \X/ilfred Bas-tos) ou tinham, entretanto, falecido (caso de João Ferreiracla Costa). pelo que não houve qualquer reacção negativa àeliminação de tais disciplinas.

Para os professores de matemática - entre os quais Ben-to de Jesus Cataça, por qlrem Pinto Barbosa nutria grandeadmiração intelectual que não era afectada por divergênciasde posições políticas - a introdução de instrumentos e mé-toclos quantitativos no ensino de algumas disciplinas de eco-nomia seria celtamente uma solução benquista, não obstan-te a suâ preocupação em salvagsatdar

^ purez^ de uma área

que tinha que ter tratamento aurónomo. O CEMÄE - um dosprimeiros centros de economia matemâtica a ser constituídono âmbito das escolas superiores de economia na Europa -tinha iniciado as suas actividades em 1938 e vinha com o seu

crescente interesse pela economia matemâttca e pela econo-metria pressionando a modernização dos planos de estudos.Todavia, a forte presença de cadeiras anuais obrigatórias de

matemâttca na nova estrutura curricular não deixava margempara qualquer contestação ao projecto arquitectado e executa-do sob a oùentação de Pinto Barbosa.

O significado crucial da rcforma de 1949 foi o de rerposicionado a ciência económica como elemento nuclearda estrutura curricular dos cursos do ISCEF. Foi o próprioPinto Barbosâ quem expressamente reconheceu esse novoalcance, conforme elucidam as suas palavras:

"Não eram â meu ver as Matemáticas, nem a Merceologia, queestavam mal posicionaclas. As clisciplinas de F,conomia é quenão ocupavam o lugar que thes devia competir no elenco deum curso vcrdadeiramente supetior de Economia. Daí que o

BoLEirM DE 1IÈNCTAS p.coNot¡,ilc¡ts Lrx (20t6) 329-3gt

ENSTNo uNrvËRsIrÁluo or ECoNoMIA E FINANÇAS 375

primeiro esforço devesse incidir no sentido àe trazer a llco-nomia, ao nír,el de conhecimentos e exigêncie, päm e área das

chamadas cacleilas nucleares, passando a seiecção também a fa-

zeï-se com base nela, como seri¿ lógico" (BnRuos.a,, 1984: 8-9).

A concretização deste projecto lentâmente amadureci-

do assentava em algumas ideias-châve que vale a pena tentar

sistematizar.

Em ptimeiro lugar, a importância de um trabalho de

consoliclação de conhecimentos teóricos, sem os quais se

invtablliza a pretensão de se compreender a realidade en-

volvente. Neste sentido, "em relação ao ensino de matérias

fundamentais como é o da Economia, não pode sequer con-

ceber-se que a preparação dos alunos se faça sem a consulta

repetida das obras essenciais que serviram de base às lições

teóricas e cuja indicação deverá ser dada oportunamente nas

respectivâs a.,las. É fertamenta com a qual se deve estar fa-

mlIiaúzado e, portanto, se deve sabet maneiat com destte-

za" (Barbosa,1.949, p.a80). A consistente e coerente postura

metodológica de Pinto Barbosa permite-lhe acalentar o ob-

jectivo de conciliar "tendências abstractas" (baseadas na de-

dução de princípios) e "tenclências corìcretas" (baseadas na

observação das instituições), sem no entanto ignorar que "a

tarcfa, é ingente, mâs merece ser tentada' porque o insucesso

das correntes exclusivistas e â fragilidade dos compromissos

entre a observação histórica e a análise teóÅca oferecem-lhe

excelente oportunidade que não deve perdet-se" @arbo-sa,1947, p.369).

Esta atenção dada ao diálogo entre investigação teó-

rica e investigação aplicada remete-nos para vm segunda

ideia-chave a. teteï. Trata-se da concepçã'o da política eco-

nómica não apenas como exercício racional de aplicação de

princípios teóricos estabelecidos, mas também como arte de

t3ot,ETrM o¿ ctÊNctls ECINóMICAS Llx (2016) 329-391

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376 rvr^NuEr. lrrctrNTo NUNES, losÉ LUÍs cAnDOSO, ñTANULL Lot,ES ponro

uoLt:.tri4 DE crÊNcrt\s x:oNó¡ilt:¡s Ltx (2o16)329-391

constante e renovacla adaptação da teoria a rìovas reaLiclades

e a novas necessiclacles, sem nunca esquecer o cliálogo per-manente entre os frns a atingir e os meios que para tal poclemser disponibilizados. Por outtas palavras, as orientações depolítrca económica surgem como solução que medeia entÍe a

economia encarada, duplamente, cle um ponto de vista positi-vo e teleológico, conforme precocemente anunciara num clos

seus primeiïos textos (B.{RBoSÀ, 1943). O que naturalmenteobrigava a manter um lúciclo pragmatismo que afastasse clual-

quer tentação de receituários únicos para situações de clistintanatutezz, Assim se compreencle que nalguns clos seus textostranspareca uma inequívoca clefesa de formas de intervençãopúbJica que promovam o bem-estar social, ao passo que emoutros momentos afirme que "a intervenção estadual (...)deve ser concluzida com as maiores cautelas, porque nem to-dos os elementos que condicionam o problema podem ser

sujeitos ao mesmo grau cle clomínio" (Br\RBosÀ 1946:71).Ainda que não fosse essa certamente a sua intenção, es-

tas resttições a uma excessiva ou não-criteriosa intervençãoclo Estaclo podem ser vistas como suave oposição à cloutrinaeconómica corporativa que, a bem dizer, nunca foi levacla

muito a sério no "1lovo" ISCEF. Para os economistas clesta

escola existia implícita a sensação de que o corporativismonão passava cle apelo ideoiógico escrito em letra moïta e

que> na sua globaiidacle, os sectores da vida económica fun-cionavam independentenìente da obediência à estrutura algorígida cio esquema das corporações. Este sobranceiro cles-

prezo clos economistas teóricos clo ISCEF - que aliás nuncaderam créclito às tentativas de edi{ìcar uma teoria económicaespecífìca do sistema corporativo - fazh com qlre, na re-corclação oralmente transmiticla por Pinto Rarbosa, algunsadeptos incondicionais do corporativismo (oriundos clas

Faculclacles cle Diteito, naturalmente) criticassem o ensino

'-t

ENStNo uNtvÈRstrÁnto nt [coNO]vnA rr I-IN,,\NCAS 377

abstracto da teoria económica no ISCE,F pós-1949, sugerin-

do que os problemas nacionais não se resolviam através cle

gráficos ou fórmulas matemáticas.

Este pomo de discótclia remete-nos para uma teLceira

e última ideia-chave que nos parece essencial parâ â com-

preensão cla essência da reforma do ISCEF de 1949, ou seja,

a utllização de insttumentos e ferramentas que agilizam o

trabalho teórico, que possibilitam a sua aplicação prática ao

estudo clas realiclades concretas e que conferem creclibilida-

de às mecliclas cle política económica que tornam próximosos fins a alcançar. Uma vez mais, o testemunho de PintoBarbosa permite seguir o rasto clos ensinamentos duradou-ros que no ISCEF se vitiam

^ concretizar, ao sistematizar os

quatro vectores fundamentais de influências que contribuí-r^mpzra a renovação no ensino da economia: a) as variáveis

macroeconómicas kelaresianas e o cempo por elas aberto

pata o desenvolvimento clos modetnos sistemas de conta-

biliclacle nacional; b) os trabalhos da Econoruetric .\'ocie$ e cla

Coale.ç Cotnmis¡ion e a sua forte influência na consttução cle

modelos de previsão; c) a crescente projecção clos trabalhos

de matemática aplicacla à economia, designadamente os que

foram promovidos por François Perroux no Instituit de Scien-

ce Éconontiqae Appliquíe cie Patis; cl) a publicryão em 1944

da revolucionâtia obra cle O. Morgenstern eJ. von NeumanI'he'l-heory of Games and Econontic ßeþauioar que, segundo Pin-

to Barbosa, permitia superar os esqlremas simpli{rcados de

equilíbrio walrasiano e valorizzr a tncerteza clo comporta-mento dos agentes econírmicos (Br\tìuosÄ,1984: 9-10).

Inclependentemente cle se saber se estes quatro vecto-

res pucleram ser perfeitamente consciencializaclos por aque-

les cltre clirectamente vivetam e protâgonizttam a refol:ma

clo ISCtrF emL949, o certo é que essas reciamaclas influên-

BOt r-:il^Í rn aÊNclts tt:oN(t¡tttits Lrx (2016) 329,391

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378 MANUEL J^crNTO NUNES, IosÉ LUÍs c,\nDoso, MANUEL LopES porìt'o

cias viriam a modelar decisivamente o processo gradual de

modernização do ensino da economia na escola do Quelhas.Para além das cumplicidades e suportes, tanto externos

como internos, que possibilitaram a concretizaçã"o da refor-ma, deve também salientar-se o apoio ptestaclo pelos alunos

e discípulos que mais cle perto tnl¡alhavam com,António M.Pinto Barbosa, sobtetudo depois que o Conselho Escolar

do ISCEF lhe atrìbuiu a regência da cadeira de "Economiapolítica. Legislação industrial" em 1946.

Uma das consequências imediatas desse primeiro sinal

de viragem e modernização do ensino cla economia do ISCEF

foi a renovação clo funcionamento das designadas "salas de

estudo" que tinham sido idealizadas, quer como espaço de

aprofundamento das novas matérias teóricas leccionadas, quer

como iniciação à pesquisa aphcada â âspectos da realidade

económica portuguesa. Deste modo se cuidava da formação

avançada de um núcleo mais interessado de alunos e também

dos jovens assistentes com responsabilidades de docência. Nocurriculum vitae que prepârou pàr^ o concurso de professorcatedrâtico, em 1950, Pinto Barbosa colocou bastante ênfase

nesta experiência pedagógica e no papel desempenhado pelos

assistentes, como seguidamente se ilustra:

"O funcionamento destas salas de estudo implìcava, por seu

turno, um quadro de assistentes, que, pelo seu número e qua-Jidade, pudesse corresponder às exigências do ensino. -A par-tir do ano lectivo 1948/49, foi possível formar turmas, de 50alunos cada, o que constitui limite de frequência aceitâvel.Deste serviço se incumbiram três assistentes, que têm apre-sentado todos os ânos um relatório pormenortzado sobteestas salas, no que se refere a plano cle estudos, frequência,pontos de tevisão e aos trabalhos práticos, tealizados, entreos quais se incluiu a rcaLzação de um ficheiro ideográfico das

obtas de teoria económica existentes na bib[oteca do Institu-to" (Batuosa, 1950).

tloLETrM DE ctÊNct¡s rc:oNóutt:tts Ltx (2016) 329-39t

ENSINo uNrvlRsrrÁnro o¡ ECONOMT^ E FrN^NÇ^s 379

Os três assìstentes eram Frâncisco Pereira. cle Mouta,Manuel Jacinto Nunes e Luís Teixeira Pinto. E sem exagero

se poclerá clizet que, sem eles, os resultados da teforma de

1949,no que se refere à modernização do ensino da econo-mia, não teriam sido alcançados.

A nzão é fâcil de compreendet. Menos de um ano cle-

pois da publicação do Decreto-Lei de 17 de Outubro de

1949, contendo o novo regulamento do ISCEF, AntónioManuel Pinto Barbosâ era chamado a desempenhar funções

govetnativas no cargo de Subsecretátio de Estado do Tesou-

to. É cetto que o abandono formal da vida universitária não

representou alheamento do trajecto científico e peclagógico

percorrido no ISCEF, quer nesse período imediatamente a

seguit à Reforma de 1949, quer noutros momentos em que

as responsabilidades no Ministério das Finanças e no Banco

de Portugal se revelavam incompatíveis com o exercício da

sua vocação académica. Mas parece não restarem dúvidas

de que a colaboração e entreajuda dos seus três directos se-

guiclores foram factores decisivos p^r^ o cumprimento, comambições acrescidas, clo processo de modernizaçã,o do ensi-

no da economia no ISCEF.

Com efeito, foi através do trabalho sobretudo realiza-

clo por Pereira de Moura, Jacinto Nunes e Teìxeira Pintoque foi possível que as novas direcções do ensino cla teotiaeconómica no ISCEF ultrapassassem âs orientações progra-máticas esboçadas no projecto inicial de reforma. Ou seja,

os discípulos souberam estat à altuta do mestre inovando e

criando novos conteúdos de ensino, especialmente em ma-

térias macroeconómicas de cutto e longo pra,zo.

A sua capacidade de inovação ficou bem patenteada

na obra que em conjunto prepalaram e que publicaram em

1954, a qual representa sinal inequívoco clas alterações intro-

BOLETTM DE CTENCTAS ECONOMTCAS LtX (2Ot6) 329-391

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380 MANUEL lAcrNTo NUNES, losÉ LUís cARDoso, MANUIL LOpEs poRTo

uoLETnti DE :IÊNCTAS r.cr¡Nótwr:¡s Ltx (20t6) 329-391

cluzidas no ensino e na investigação introduziclas no ISCEF5 anos antes. Com efeito, A l:stratara da Economia Portugaev

m^rc um momento de viragem no conhecimento aprofun-clado dos principais sectores da vida económica nacional(agricultuta, indústria e comércio externo). Apesar cle o tra-tamento de matérias teóricas não ser particularmente apro-fundado - faziam-no noutros textos cle autoda indiviclual e

n prepar^ção clas suas dissertações de doutoramento - o

estudo revela um manuseamento mínimo de alguns agrega-

dos macroeconómicos, sobretudo nâ perspectiva de análise

da formação do rendimento e sua distribuição. Os principaismétitos residem na minuciosa ttllização clas fontes estatís-

ticas clisponíveis, possibilitanclo a formação cle um conheci-mento quantificado das estruturas cla produção (sobretuclo

nos sectores industriais, cujo desenvolvimento se procuravaincentivar) e do comércio com o exterior.

Inaugurava-se um novo estilo que eïa, acima de tudo, oreflexo de uma nova atitude de investigação aplicada à reali-dade económica pottuguesa. A reforma de 1949 começavaa dar frutos e, por essa via, a clemonstraf que uma nova efase abria p^r^ o desenvolvimento clas ciências económicas efrnanceiras no nosso país.

4.3. A acção pedagógica de Francisco Perein de Moura

Entre os cliscípulos e continuadores de António ManuelPinto Barbosa poderá ser destacada a fr.guta daquele que,

pelo mais persistente e permanente vínculo institucional ao

ISCEF, viria a desempenhar um papel cimeito na criação de

novos padtões científicos e pedagógicos para o ensino da

ciência económica em Portugal: Francisco Pereira cle Moura.

ENSTNo uNrvgRsrrÁrrro ot ÊcoNoMI^ E IINANÇAS 3Bl

Detentor de uma forte personalidacle intelectual c cle

uma sólida cultura económica e humanist", o p.nru-"rrrode Francisco Pereira de Moura foi-se moldando na evolução

da teoria keynesiana, acolhendo a espaços os indispensáveis

contributos neoclássicos. À semelhança de outros econo-

mistas da sua geração, num sinal de aceitação do que na épo-

ca eri- habitual entte a comunidade cientí{ica internacional,

também Pereita de Moura procurou fazer a síntese dos dois

paradigmas. Isso mesmo reflectem aquelas que são, porven-

tura, as suas duas obras mais emblemáticas: Lições de Econo-

mia (1.964) e Análise tfconónica da Conjantura (1969).

-Ambas demonstram a vocação eminentemente peda-

gógica do seu legado e o empenho e profissionalismo com

que encarava ^ su^ função de professor. No primeiro caso,

trata-se de um curso introdutório que expressamente cleclica

"a todos quantos se interessam pelas questões sociais e pelos

problemas da evolução e do progresso económico" (1964,

VII), não obstante a intenção deliberada de setvir - como

serviu - par^ iniciar o processo de aprendizagem de futuros

licenciaclos em economia. A concepção global do livro obe-

dece aos cânones internacionalmente vigentes na elaboração

de manuais desta natureza. A primeira patte é dedicacla à

apresentação da estrutura e funcionamento clo sistema eco-

nómico, dando particular destaque à desctição clos quadros

de contabilidade nacional e à tipificação dos sistemas eco-

nómicos. A segunda pârte versa a análise microeconómica

mediante umrr apresenta.ção sintética das teorias do consu-

miclot e do produtor, complementadas com uma abordagem

das formas de mercado e tespectivos esquemas de equilíbriode preços. As terceira e quarta partes são cleclicadas a temas

de teoria e política macroeconómica, com destaque pâra as

questões da determinaçã.o e tepafüção do rendimento, do

BOLETri,t or. ctí:Nct,ts tct¡Nómr:¡s Lrx (201ó) 329-39t

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382 MANUEL JACTNTo NUNES, losÉ LUís crurDoso, M.ANUEL LopES porüo

funcionamento dos mercados de trabalho e monetário e dacondução de políticas de estabilização económica e de redis-tribuição do renclimento. Na quinta e última parte do livroPereira de Moura sistematiza os grandes temas associados àteoria e política do desenvolvimento económico, designada-

mente as questões da programação e do planeamento eco-

nómicos, uma das áreas que mais o interessaram ao longo cla

sua carreira académica.

A.s Lições de Economia tiveram 3 edições (cada uma comdiversas reimpressões) no períoclo de uma década (entre 1964e I974) revelando-se como um dos mais influentes livros de

formação básica p^f^ ^

correspondente geração universitária.

O seu conteúdo não resiste aos avanços que a ciência econó-mica foi, entretânto, conhecendo. Todavia, ainda hoje serve

de exemplo de organização de um bom manual de iniciaçãoaos conceitos, linguagens, metodologias e ferramentas que os

economistas transportam na sua bagagem.

Quanto à Análise Económicø da Conjantara (1969), trata--se de um livro-texto que corresponde às lições de macroe-conomia dadas ao 2." ano dos cursos do ISCEF na segunda

metade da década de 60. O nível de aprofundamento ana

lítico é bastante mais exigente do que se verifica nas Lições

de 1964, procedendo Pereita cle Moura ^

umz- sistematiza-

çã,o da teoria e política macroeconómicas de curto prazo, de

acordo com o cânone keynesiano. A representação algébrtcae diagramâtica do modelo simples keynssiar. e as suas ex-tensões p^r2L o estudo das finanças públicas e da economiainternaciona"l, a caracterizaçã,o do fenómeno da inflação e

das diversas teorias explicativas, a anâ)s.se dos processos cí-

clicos associados ao crescimento económico, o escrupulosocuidado posto na fundamentaçã.o das teorias e modelos con-temporâneos à luz de conhecimentos proporcionados pela

BoLE'trM or. cjÊNrtts ECoNoMTcAS Lrx (20t6) 329^391

ENStNo uNrvErìsrrÁRIO DE ECoNoMIA E FIN,{NÇAS 383

metodologia e história da ciência económica, são alguns dos

ingtedientes que fr.zenm deste livro-texto um indispensável

roteiro cle formação intermédia na ârea da macroeconomia.

Para Pereira de Moura , a anâlise económica da coniun-

tura só faria senticlo na medida em que tivesse continuida-

de através de acções deliberadas de política económica. Noseu inconfundível estilo didáctico, esclareceu tal ideia nos

seguintes termos: "Pode dizer-se que â maior parte das in-

vestigações rcahzadas e dos tesultados obtidos no campo da

análise conjuntural tem tido como finalidade a apltcaçã,o na

política: quer-se conhecer melhor os fenómenos para me-

lhor os dominat" (1969,7.1).

Mas era também fundamental que tais acções pudes-

sem ser entendidas e deseiaclas por uma opinião púb1ica

mais alatgada e não citcunscrita ao ambiente universitário.

Esse seu empenho cívico na divulgação clos atdbutos, fun-

ções e implicações da ciência económica foi reconhecido e

demonstrado pelo impacto editorial dos livros que expres-

samente dirigiu a um auditório mais amplo, designadamente

os Problemas Fandamentais da Econonia (1,962) e aquele que

porverìturâ terá sido o seu mais célebre livto de ensaios em

que discute Por Onde Vai a Economia Porttgaesa? (1969)

5. Epílogo

Chegados ao f,m deste roteiro, importa sublinhar que as

experiências de ensino universitário de economia e finanças

rcahzadas nas Faculdades de Direito de Coimbra e de Lisboa

e no ISCEF foram certamente as mais relevantes e inovadoras

BoLEirNt o¿ ctijNcttts ECoNóNilcAS Ltx (2ot6) 329-391

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384 M^NUEL I,\crNTo NUNES, .losÉ LUís c^RDoso, N4^NuLL Lol,rs ponro

tJoLt:'tril De sÊNctt\s rcL¡Nótvttc¡s Lrx (20ì6) 329.39t

que em Portugal se registaram durante o período I911,_I9j4.Não significa isto, no entanto, que tenham sido exclusivas.

Com efeito, este mesmo períoclo assistiu atnda ao nasci_mento cla Faculdade de Economia da Universidade do por_

to, em 1953, culminando esforços que clatavam do início daclécada de 1930. F,nrre os seus mais directos promototes,vingava a tdeia de que

^ zon^ norte do país, com a pujança

da sua actividade comercial e industrial, não podia conri_nuar sem uma instituição de ensino superior qlre preparasse"uma elite cle economistas aptos a ocupat, pela sua prepara_

ção científica, as situações de mais alta responsabilidade emorganizações vastas e complexas"r,. A. organização curricu-lar clas matérias propriamente económicas não diferia n-ruitoda tradição colhicla simultaneamente na Faculdade de Direitocla Universidade de Coimbra e no ISCEII pós-1949. Um dosprincipais impulsionadores do ensino moderno da ciênciaeconómica no Porto foi Fernanclo Seabra que, nas suas lições,clenota preocupações cle convergência entre a abordagem mi-ctoeconómica de catiz neoclâssico e a visão keynesiana c tac-terística do estudo cle problemas macroeconómicos.

No início da década de 1970, ou seja, no rermo do pe-ríoclo aqui em estuclo, regista-se ainda a criaçã,o de outrasinstituições universitátias expressamente vocacionadz;s pana formação nas áreas económicas, financeiras e empresariais.Tais são os casos da Faculdade de Economia cla Universi-dade cle Coimbra, clo Instituto de Estudos Superiores cle

Érr,rro, do Instituto Superior cle Ciências do Trabalho e c1a

Empresa, cla Faculclacle de Economia da Universidade Novacle Lisboa e cla Faculclade de Ciências Económicas e Empre-sariais da Universiclade Católica Portuguesa.

2r Em S'rNros (2011:297)

ENSTNo uNrvlRsrrÁnro n¡, ECoNoMI^ E FINANÇAS 385

A criação destas divetsas escolas m^rca o fim de um ci-

clo e o começo de uma novz etapa catacterizada pela pattilhade funções de ensino nos domínios da economiâ e finanças

por diversas instituições cobrindo satisfatoriâmente o tetri-tório nacional. Terminada a supremacia que as Faculdades

de Direito detiveram entre 1911. e 1.949, cumprido o papel

de indiscutível destaque exercido pelo ISCEF entre 1.949 e

o início da dé.cada de 19'10, abriam-se ^gora

novas opor-tunidades que viriam a tevelar-se decisivas para o processo

de desenvolvimento do ensino e investigação sobte temâs

económicos e financeiros em Portugal no último quartel do

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Universidade.

- ( 1909), Política Colonial, Coimbra: Imprensa cla Universiclacle.

- (1910), Fjconomia Colonial, Coimbra: Imprensa da Universidade.

- (1914),Teoria económica das reseraas bancárias, Coimbra, Sep. Reuista

dø Uniuersidade de Coìnbra,3 f 1,.

BOLETTM D[. CTENCTAS E(:ONOMTCAS LtX (20t6\ 329-391

Page 37: Boletim de Ciências Económicas · Tipografìa Lousanense, Lda. Preço deste número por romo: € 25 IVA incluído Depósito Legal 56000 / 92 rssN 0870-4260. Created Date: 20170206104800Z

390 MANUEL JActrNTo NUNES, losÉ LUÍs c^Rnoso, MANUEL LopES potüo

Resamo: Faz-se neste artigo umâ âpresentação histórica do en_sino de economia poLítica e finanças públicas em Portugal, entre1911 e 1,97 4. Perconendo as experiências pedagógicas seguidas nasprincipais universidades portuguesâs oncle o ensino destas maté-rias foi praticado ao longo do período considerado - Faculdacle deDireito da Universidacle de Coimbra, Faculdade de Direito da Uni-versidade de Lisboa e Instituto Superior de Ciências Económicas eFinanceiras da Universidade Técnica de Lisboa * o artigo destaca opapel assumido por alguns professores que mârcaram o ensino nes-sas instituições, cleixando um legado escrito revelador de um magis-tério aprofunclado e influente. O artigo procura também mostraï alìgação entre o ensino ministrado nas instituições universitárias e odebate mais alargaclo sobre o clesenvolvimento teórico, doutrinal e

político em áreâs de especial relevo e actuaÌidade nesse período, ca-sos das problemáticas dos sistemas económicos, da economia e dodireito do corpotativismo, da intervenção conjunturai na economiae da política fiscal, estando em câusâ novas reformas.

Palauras-chaue.' ensino; economiâ e finanças; trDUC; FDUL;ISCEF-UTL; sistemas económicos; corporativismo; intervençãoconjuntural; reforma fiscal.

Elenentsfor the Historl of Uniuersi\t Teaching

of Econonics and Finance (/ 911-1974)

Ab¡tract: This article presents the history of the teaching ofpolrtical economy and public finance in Portugâl berween 1911 and1974. Tal<ng into account the teaching experiences of the leadingPortuguese urrir.ersities in which these subjects were taught in theperiod under analysis - the lJniversity of Coimbra Law School,the University of Lisbon Law School, and the Lisbon Schooi ofEconomics and Finance - the article points out the deeply influential role of certain Professors through their teaching activity inthese institutions and the written legacy they left l¡ehind. The articlealso seeks to show the connection between the teaching offeredat those higher education institutions and the broader discussionof the theoretical, doctrinal and polittcal development in areas ofpârticular relevance for the period under scrutiny such as the issues

BOt El rvr DE c/ÉNC/As ECoNóMrcAS Ltx (2016) 329-39t

ENSTNo uNrvERsrtÁruo oe ECoNoMtA E FIN^NC^S 391

raised by the economic systems, the economy and the law of cot-poratism, the c1,ç[ç¿l intervention in the economy and tax polic¡when new reforms were being implemented.

Kelwords: teaching; economics and finance; University ofCoimbra Faculty of Law; Univetsity of Lisbon Faculty of Law; Lis-

bon School of Economics and Finance (ISCEF-UTL); economic

systems; corporatism; cyclical intervention; tâx reform.

Manael Jacinto Nunes

(1,926-201.4)

José Laís Cardoso

Instituto de Ciências Sociais - Universidacle de Lisboa

Manøel Loþes Porto

Faculdade de Direito - Universidade de Coimbta

Universidades Lusíada

Bor,ETrM DE :rÊNCIAS ECINóMICAS Ltx (2016) 329'391