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Boletim do Centro Regional de Informação das Nações Unidas Bruxelas, Março de 2008, N.º 33 A 20 de Março, o UNRIC e outros sete organismos da ONU com escritório em Bru- xelas reuniram-se na International School of Brussels (ISB) para a primeira edição do Dia sobre Questões Mun- diais. Dedicámos o dia inteiro a workshops com alunos do ensino secun- dário de 14 a 19 anos de idade. As sessões foram interactivas e tiveram um carácter muito prático. Os jovens ficaram a conhe- cer melhor o trabalho das Nações Unidas e dos seus organismos e nós também aprende- mos muito com as suas perguntas e reacções. Esperamos que o Dia sobre Questões Mun- diais não só se torne uma iniciativa anual naquela escola (já esta- mos a trabalhar nesse sentido) como venha a ser organizado por outras escolas interna- cionais do mundo intei- ro. Foi um dia maravilhoso para todos nós e um grande exemplo de parceria entre organis- mos da ONU e estabe- lecimentos de ensino como a ISB. Se estiver interessado, pode ficar a saber mais sobre o Dia sobre Questões Mun- diais através do UNRIC Magazine. Agradecemos aos nos- sos colegas do PNUD, PNUA, OIT, PAM, ACNUR, Banco Mundial e UNICEF. Um obriga- do especial ao Director da ISB, Kevin Bartlett, pela ideia de lançar a iniciativa e pelo convite que nos dirigiu. Editorial - Afsane Bassir-Pour Encontrando-se o mundo a meio caminho do prazo fixado para a consecução dos Objectivos de Desen- volvimento do Milénio (ODM) e dado que a situa- ção é crítica e exige acções urgentes, a comunidade internacional deve redobrar os esforços para atin- gir as metas estabelecidas. Foi neste contexto que o Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Srgjan Kerim, para quem a consecução dos ODM é uma das grandes priori- dades deste órgão, decidiu convocar um debate temático, a 1 e 2 de Abril, sobre o tema "Reconhecer os pro- gressos realizados, supe- rar os desafios e corrigir rumos com vista a alcançar os ODM até 2015". O debate irá incidir nos ODM relacionados com a pobreza, a educação e a saúde, os domínios em que é mais urgente realizarem-se progressos e em que a experiência mostra que os resultados positivos produzem um efeito de catalisador noutros objecti- vos. Durante dois dias, vão ser abordados os pro- blemas mais difíceis, identificadas as lições aprendi- das e consideradas possíveis medidas suplementa- res, destinadas a garantir a realização dos objecti- vos até 2015. A reunião do dia 1 de Abril iniciar-se-á com uma sessão de abertura, em que usarão da palavra o Presidente da Assembleia Geral e o Secretário- Geral. A seguir à sessão de abertura, haverá uma mesa-redonda sobre a pobreza e a fome, ainda de manhã, e, de tarde, mais duas mesas-redondas sobre os temas da educação e da saúde. O dia 2 de Abril será dedicado a um debate temático entre os Estados-membros. Dada a importância das questões a abordar, Srgjan Kerim encorajou os países a participarem ao nível ministerial. Documento de informação sobre “Pobreza e Fome” (em inglês) Documento de informação sobre “Educação” (em inglês) Documento de informação sobre “Saúde” (em inglês) ODM até 2015: Assembleia Geral organiza debate Três perguntas a... Francis Deng, Assessor Especial do Secretário- Geral para a Prevenção do Genocídio, visitou recentemente Bruxelas, onde teve encontros com funcionários da União Europeia e instituições belgas. Francis Deng, que foi Ministro dos Negócios Estrangeiros do Sudão e desempenhou, de 1992 a 2004, o cargo de Representante Espe- cial do Secretário-Geral da ONU para os Des- locados Internos, era, à data da actual nomea- ção, Director do Sudan Peace Support Project, no United States Institute of Peace. Além disso, é titular de uma bolsa do Centro de Estudos Internacionais do Massachussetts Institute of Technology (MIT) e Investigador em política, direito e relações internacionais na John Hopkins University Paul H. Nitze School of Advanced International Studies. Partilha com Roberta Cohen o Grawemeyer Award 2005 e o Merage Foundation American Dream Leadership Award 2007 e, em 2000, recebeu o Prémio Roma para a Paz e a Acção Humanitária. Francis Deng falou à UNRIC Magazine sobre o seu novo mandato e a mensagem que pre- tende transmitir. Qual é o seu mandato? Em Maio de 2007 fui nomeado pelo Secre- tário-Geral Ban Ki-moon seu Assessor Especial para a Prevenção do Suicídio e das Atrocidades em Massa. Anteriormente e durante 12 anos fui Representante Especial para os Deslocados Internos, durante 12 anos. Agora estou a reflectir sobre a melhor maneira de abordar o novo man- dato, dada a experiência adquirida com o trabalho realizado no terreno no domínio das deslocações internas. (continua na pág. 3 ) Dia sobre Questões Mundiais na Escola Internacional DESTAQUES Conselho de Direitos Humanos………….. 9 Dia Internacional da Mulher …………...11-12 CNUCED XII …………………………… .13 Dia Mundial da Água ………………………15 Portugueses e a ONU (NOVA SECÇÃO) ….18-19 Um olhar sobre a ONU …………………. 20 Canto da Rádio ONU…………………….. 22 A ONU e a imprensa portuguesa …………23

Boletim do Centro Regional de Informação das Nações Unidas · Darfur, do Líbano ao Iraque e do Irão à Somália. “Como a organização mais importante e mais aberta do mundo

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Boletim do Centro Regional de Informação das Nações Unidas

Bruxelas, Março de 2008, N.º 33

A 20 de Março, o UNRIC e outros sete organismos da ONU com escritório em Bru-xelas reuniram-se na International School of Brussels (ISB) para a primeira edição do Dia sobre Questões Mun-diais. Dedicámos o dia inteiro a workshops com alunos do ensino secun-dário de 14 a 19 anos de idade. As sessões foram interactivas e tiveram um carácter muito prático. Os jovens ficaram a conhe-cer melhor o trabalho das Nações Unidas e dos seus organismos e nós também aprende-mos muito com as suas perguntas e reacções. Esperamos que o Dia sobre Questões Mun-diais não só se torne uma iniciativa anual naquela escola (já esta-

mos a trabalhar nesse sentido) como venha a ser organizado por outras escolas interna-cionais do mundo intei-ro. Foi um dia maravilhoso para todos nós e um grande exemplo de parceria entre organis-mos da ONU e estabe-lecimentos de ensino como a ISB. Se estiver interessado, pode ficar a saber mais sobre o Dia sobre Questões Mun-diais através do UNRIC Magazine. Agradecemos aos nos-sos colegas do PNUD, PNUA, OIT, PAM, ACNUR, Banco Mundial e UNICEF. Um obriga-do especial ao Director da ISB, Kevin Bartlett, pela ideia de lançar a iniciativa e pelo convite que nos dirigiu.

Editorial - Afsane Bassir-Pour

Encontrando-se o mundo a meio caminho do prazo fixado para a consecução dos Objectivos de Desen-volvimento do Milénio (ODM) e dado que a situa-ção é crítica e exige acções urgentes, a comunidade internacional deve redobrar os esforços para atin-gir as metas estabelecidas. Foi neste contexto que o Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Srgjan Kerim, para quem a consecução dos ODM é uma das grandes priori-dades deste órgão, decidiu convocar um debate

temático, a 1 e 2 de Abril, sobre o tema "Reconhecer os pro-gressos realizados, supe-rar os desafios e corrigir rumos com vista a alcançar os ODM até 2015".

O debate irá incidir nos ODM relacionados com a pobreza, a educação e a saúde, os domínios em que é mais urgente realizarem-se progressos e em que a experiência mostra que os resultados positivos produzem um efeito de catalisador noutros objecti-vos. Durante dois dias, vão ser abordados os pro-blemas mais difíceis, identificadas as lições aprendi-das e consideradas possíveis medidas suplementa-res, destinadas a garantir a realização dos objecti-vos até 2015.

A reunião do dia 1 de Abril iniciar-se-á com uma sessão de abertura, em que usarão da palavra o Presidente da Assembleia Geral e o Secretário-Geral. A seguir à sessão de abertura, haverá uma mesa-redonda sobre a pobreza e a fome, ainda de manhã, e, de tarde, mais duas mesas-redondas sobre os temas da educação e da saúde. O dia 2 de Abril será dedicado a um debate temático entre os Estados-membros. Dada a importância das questões a abordar, Srgjan Kerim encorajou os países a participarem ao nível ministerial. Documento de informação sobre “Pobreza e

Fome” (em inglês) Documento de informação sobre

“Educação” (em inglês) Documento de informação sobre

“Saúde” (em inglês)

ODM até 2015: Assembleia Geral organiza debate

Três perguntas a...

Francis Deng, Assessor Especial do Secretário-Geral para a Prevenção do Genocídio, visitou r e c e n t eme n t e Bruxelas, onde

teve encontros com funcionários da União Europeia e instituições belgas. Francis Deng, que foi Ministro dos Negócios Estrangeiros do Sudão e desempenhou, de 1992 a 2004, o cargo de Representante Espe-cial do Secretário-Geral da ONU para os Des-locados Internos, era, à data da actual nomea-ção, Director do Sudan Peace Support Project, no United States Institute of Peace. Além disso, é titular de uma bolsa do Centro de Estudos Internacionais do Massachussetts Institute of Technology (MIT) e Investigador em política, direito e relações internacionais na John Hopkins University Paul H. Nitze School of Advanced International Studies. Partilha com Roberta Cohen o Grawemeyer Award 2005 e o Merage Foundation American Dream Leadership Award 2007 e, em 2000, recebeu o Prémio Roma para a Paz e a Acção Humanitária.

Francis Deng falou à UNRIC Magazine sobre o seu novo mandato e a mensagem que pre-tende transmitir. Qual é o seu mandato? Em Maio de 2007 fui nomeado pelo Secre-tário-Geral Ban Ki-moon seu Assessor Especial para a Prevenção do Suicídio e das Atrocidades em Massa. Anteriormente e durante 12 anos fui Representante Especial para os Deslocados Internos, durante 12 anos. Agora estou a reflectir sobre a melhor maneira de abordar o novo man-dato, dada a experiência adquirida com o trabalho realizado no terreno no domínio das deslocações internas.

(continua na pág. 3)

Dia sobre Questões Mundiais na Escola Internacional

DESTAQUES

Conselho de Direitos Humanos………….. 9 Dia Internacional da Mulher …………...11-12 CNUCED XII …………………………… .13 Dia Mundial da Água ………………………15 Portugueses e a ONU (NOVA SECÇÃO) ….18-19 Um olhar sobre a ONU …………………. 20 Canto da Rádio ONU…………………….. 22 A ONU e a imprensa portuguesa …………23

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Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC

ONU e Organização da Conferência Islâmica são aliados naturais,

diz Ban Ki-moon a líderes presentes na Cimeira da OCI em Dacar

A Organização da Conferência Islâmica (OCI) expressa as aspirações e as preocupações de mais de um quinto da huma-nidade, lembrou o Secretário-Geral, na Cimeira da OIC, em Dacar, onde analisou as princi-pais crises que afectam os seus membros, do Médio Oriente ao Darfur, do Líbano ao Iraque e do Irão à Somália. “Como a organização mais importante e mais aberta do mundo islâmico, a OCI tem particular legitimidade. Exprimis as aspirações e as preocupações de mais de um quinto da huma-nidade. Sois a sua ligação com a comunidade internacional. Enfim, sois um parceiro primor-dial da ONU na sua acção em prol da paz e da cooperação internacionais”, disse Ban Ki-moon, no seu discurso. “Estou satisfeito pelo facto de os laços entre as nossas duas organizações nunca terem sido mais sólidos do que hoje”, disse o Secretário-Geral, lembrando

que a ONU e a OCI se tinham unido em vários domínios: a defesa da justiça económica e social, a defesa dos direitos humanos, a promoção de uma maior compreensão entre as culturas e as religiões e o reforço da paz e da segurança.

As duas organizações, subli-nhou, rejeitam energicamente “toda e qualquer ligação entre terrorismo e Islão”. “Haveis-vos erguido contra os que procuram justificar a violên-cia em nome da religião”, lem-brou o Secretário-Geral, que frisou que essa parceria era necessária em muitas outras áreas, começando pela crise no Médio Oriente. A terminar, Ban Ki-moon reite-rou a sua determinação em continuar a reforçar a relação entre a ONU e a OIC. “Juntando os nossos recursos e intensificando os nossos esfor-ços, poderemos avançar de formas que não seriam possíveis se agíssemos isoladamente. Juntos podemos enfrentar gran-des desafios e realizar grandes coisas em benefício dos povos das Nações Unidas”, disse. Texto integral do discurso (em inglês)

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Louvando a facilitação da descoloniza-ção por parte das Nações Unidas como um dos principais motivos de orgulho da história da Organização, o Secretário-Geral Ban Ki-moon exortou à continuação do processo, graças ao qual milhões de pessoas de todo o mundo exerceram o seu direito à autodeterminação. “Como sabeis melhor que ninguém, este capítulo está ainda a ser escrito”, disse Ban Ki-moon à sessão deste ano do Comité Especial de Descolonização, em Nova Iorque. Em comparação com os 72 territórios não autónomos constantes da lista de descolonização da ONU quando este órgão mundial foi criado, em 1945, restam actualmente 16 territórios nessas condições. “Até o seu estatuto ser resolvido de forma satisfatória, as ideias da Declara-ção da Assembleia Geral sobre Desco-lonização continuarão por realizar”, assinalou. No ano passado, depois de um refe-rendo realizado sob supervisão da ONU não ter permitido a autodeter-

minação por faltarem apenas 16 votos, foi decidido que Tokelau – três peque-nas ilhas de coral no Oceano Pacífico – continuaria a integrar o território da Nova Zelândia. Apesar do resultado do referendo, “o facto de os habitantes de Tokelau terem tido a oportunidade de expres-sar livremente a sua vontade quanto ao seu próprio futuro foi um importante passo em frente”, disse o Secretário-Geral. Referindo-se ao território como um “exemplo notável do que pode ser conseguido quando há vontade política e estreita cooperação”, manifestou a esperança de que o exemplo de Toke-lau venha a inspirar outros territórios e levá-los a prosseguir o processo de descolonização. O último território não autónomo que exerceu o direito à autodeterminação foi Timor-Leste, que alcançou a sua independência em 2002, ano em que se tornou Estado-membro das Nações Unidas.

Para mais informações

Assistência ao processo de descolonização é um dos principais motivos de orgulho da ONU,

segundo Ban Ki-moon

O Secretário-Geral Ban Ki-moon apelou a uma intensificação das acções em Áfri-ca - incluindo um aumento da produtivi-dade agrícola em toda a região - para que o continente consiga realizar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) até 2015. Este ano poderá ser "o ano da oportuni-dade para os mil milhões mais pobres do mundo", disse Ban Ki-moon aos jornalis-tas, depois de ter presidido à reunião do chamado Grupo Directivo para a realiza-ção dos ODM em África, que teve lugar em Nova Iorque. "Será possível realizar enormes progressos, se a comunidade internacional traduzir os seus compro-missos em medidas concretas". O Secretário-Geral apontou exemplos de alguns dos avanços conseguidos, tais como a redução das taxas de mortalida-de infantil no Malavi, o melhoramento das infra-estruturas de água e saneamen-to no Senegal e os progressos da Tanzâ-nia no domínio do ensino primário. "O desafio, agora, consiste em repetir estes êxitos noutros países", observou Ban Ki-moon. Na reunião foram identificados vários programas fundamentais que é necessá-

rio os países africanos realizarem num futuro próximo, com a ajuda da comuni-dade internacional, nomeadamente, o lançamento de uma "Revolução Verde" em África com vista a acelerar o cresci-mento económico e combater a fome; o controlo das doenças infecciosas, que requer que seja assegurado tratamento a todos as pessoas que sofrem de SIDA até 2010; a redução das taxas de mortali-dade da malária para níveis próximos do zero até 2012; e a prestação de cuidados obstétricos de emergência a todas as mulheres até 2015. O Secretário-Geral observou que há vários desafios prementes, especialmente o da subida dos preços dos alimentos. É essencial aumentar a produtividade agrí-cola e, simultaneamente, mobilizar recur-sos para combater a subnutrição e a fome, disse, acrescentando que são necessários 500 milhões de dólares para satisfazer as "necessidades mais urgen-tes". Ban Ki-moon manifestou a esperança de que as recomendações do Grupo desen-cadeiem acções por parte dos dirigentes mundiais.

Para mais informações

África necessita de acções urgentes para conseguir atingir as suas metas

de desenvolvimento, diz Ban Ki-moon

MENSAGENS DO SECRETÁRIO-GERAL

• Dia Internacional da Mulher (8 de Março) • Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial (21 de Março) • Dia Mundial da Água (22 de Março) • Dia Mundial da Tuberculose (24 de Março) • Dia Internacional de Solidariedade com os Mem-

bros do Pessoal da ONU Detidos ou Desapare-cidos (25 de Março)

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Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC

Assembleia Geral organiza Conferência ao mais alto nível

sobre Desenvolvimento em África

A Assembleia Geral acordou, a 4 de Março, em convocar uma conferência ao mais alto nível, a realizar em Setembro deste ano, na véspera do seu debate anual, sobre a melhor forma de conhecer as necessidades de desen-volvimento de África, um continente que envida esforços para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), até 2015. Numa resolução, adoptada sem recurso à votação, os membros da Assembleia concor-daram em realizar, a 22 de Setembro, a Con-ferência, na qual deveria ser aprovada uma declaração política formal acerca da questão. O texto da resolução em causa apela à parti-cipação política ao mais alto nível possível, incluindo chefes de Estado e do Governo, e solicita, simultaneamente, ao Secretário-Geral Ban Ki-moon a apresentação prévia de um relatório abrangente que também inclua recomendações sobre as necessidades de África em matéria de desenvolvimento. “A conferência representará um aconteci-mento marcante em que se procederá à aná-lise de todos os compromissos assumidos em relação a África e por África, a fim de procu-rar responder às necessidades especiais deste continente em matéria de desenvolvimento”, diz a resolução da Assembleia Geral.

Na medida em que estamos a pôr a tónica na prevenção, nos alertas precoces e numa actuação rápida, antes de que os governos comecem a negar a situação, gostaria de

poder desenvolver uma estratégia segundo a qual trabalharemos com os governos consi-derando a soberania como uma responsabili-dade e numa perspectiva de responsabiliza-ção por quaisquer falhas nesse domínio. 2. Quem detém a responsabilidade da prevenção do genocídio? O primeiro nível de responsabilidade de proteger e prestar assistência aos seus cida-dãos e àqueles que estão sob a sua jurisdição é dos governos. Podem agir com a ajuda da comunidade internacional, que tem um papel a desempenhar no que se refere a ajudar e apoiar os governos. Assim, continuo a insistir no conceito de soberania como responsabili-dade porque é muito claro que o primeiro nível de responsabilidade é do Estado. E, com o apoio da comunidade internacional, é a este

primeiro nível que devemos trabalhar para impedir um potencial genocídio. 3. Deve a comunidade internacional usar a força para impedir o genocídio? Estamos basicamente a falar da responsabili-dade de proteger, um conceito que está obviamente a ser distorcido, em certa medi-da, pela ênfase dada à intervenção da comuni-dade internacional, recorrendo ao uso da força. Mas há vários níveis de responsabilida-de; o primeiro é o dos governos, dos Esta-dos, que devem proteger todos os cidadãos com a ajuda da comunidade internacional, se for necessária, e de outras forças coercivas ou medidas, incluindo o possível uso da força, quando todos os outros esforços de preven-ção falham ou existe um sofrimento maciço a que é preciso pôr termo por outros meios.

Primeiro Fórum sobre Cooperação para Desenvolvimento pode ter papel vital, afirma ECOSOC

O pri-meiro Fórum sobre Cooperação para o Desenvolvi-mento (FCD), que se realizará este ano, terá um papel fundamental no que se refere a defi-nir como é que a actual “arquitectura da coo-peração internacional” pode servir melhor os pobres do mundo e ajudar a alcançar os Objec-tivos de Desenvolvimento do Milénio, disse o Presidente do Conselho Económico e Social (ECOSOC). Os participantes no Fórum, que decorrerá em Nova Iorque, no início de Julho, pretendem também discutir o financiamento do desenvol-vimento e as formas de melhorar a cooperação Sul-Sul, disse o Presidente do ECOSOC, Embaixador Léo Mérorés, do Haiti, numa entrevista ao Centro de Notícias da ONU. Sublinhou, no entanto, que “as questões rela-cionadas com a arquitectura da cooperação internacional e as maneiras como pode ajudar o desenvolvimento” serão prioritárias no pro-grama da reunião. Dezenas de representantes de países em desenvolvimento, países ricos, organismos da ONU, Banco Mundial, Fundo Monetário Inter-nacional, organizações bilaterais, órgãos regio-nais, bancos, sociedade civil e sector privado deverão reunir-se no Fórum, o primeiro de sempre.

Na Cimeira Mundial de 2005, os Estados-membros acordaram em criar um fórum bienal que examinasse as últimas tendências em maté-ria de cooperação internacional para o desen-volvimento e promovesse uma maior coerência entre os países e as organizações, no domínios dos esforços para impulsionar o desenvolvi-mento. O ECOSOC organizou já uma reunião prepara-tória do trabalho do Fórum e do Exame Minis-terial Anual, outro mecanismo criado na Cimei-ra Mundial. O objectivo deste último mecanis-mo é avaliar os progressos no domínio da consecução dos ODM e incentivar a aceleração dos esforços em prol do desenvolvimento. O Embaixador Mérorés declarou-se optimista e convicto de que o Fórum proporcionaria uma oportunidade de os países ricos e pobres expressarem as suas preocupações e opiniões, no âmbito de um diálogo, e procurarem encon-trar maneiras de trabalhar mais estreitamente em conjunto para promover o desenvolvimen-to. O financiamento do desenvolvimento será também uma questão importante a discutir, disse, acrescentando que abrangia desde a ajuda pública ao desenvolvimento (APD) ao comércio, passando pela redução da dívida e o investimento estrangeiro. Disse esperar que as questões que venham a ser levantadas e esclarecidas durante o Fórum contribuam para duas reuniões internacionais muito importantes que se realizarão no segun-do semestre de 2007: a Conferência de Segui-mento sobre Financiamento do Desenvolvi-mento (em Doha, no Catar) e o Fórum de Alto Nível de Accra sobre a Eficácia da Ajuda.

Três perguntas a... (continuação da página 1)

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Conselho de Segurança: Sérvia pede a países que reconheceram “independência unilateral, ilegal

e ilegítima” do Kosovo que revejam decisão

O Ministro dos Negócios Estrangei-ros da Sérvia, Vuk Jeremic, reafirmou, a 11 de Março, perante o Conselho de Segurança, a determinação do seu país em “nunca reconhecer” a inde-pendência do Kosovo, que foi, segun-do as suas palavras, “proclamada de maneira unilateral, ilegal e ilegítima” e pediu aos países que reconheceram essa independência que revissem a sua posição. O Ministro sérvio disse que o Conse-lho se reunia uma vez mais para dis-cutir as “perigosas consequências da declaração feita pelas Instituições Provisórias de Administração Autó-noma do Kosovo” e lembrou que a resolução 1244 (1999) do Conselho de Segurança obriga todos os Esta-dos-membros a respeitarem a sobera-

nia e a integridade territorial da Repúbli-ca da Sérvia. Assim, no seu entender, os cerca de vinte países que apoiaram a causa secessionista dos Albaneses do Kosovo contribuíram para tornar o sistema internacional mais instável, mais insegu-ro e mais imprevísi-vel.

Segundo Vuk Jeremic, a resolução 1244 deve ser estritamente respeita-da, por ser a única maneira de preve-nir uma maior deterioração da situa-ção no terreno. Opôs-se a uma ero-são do mandato da Missão da ONU no Kosovo (UNMIK) e pediu que esta não procedesse à transferência de quaisquer poderes. O representante da Sérvia disse que o seu país estava “empenhado num diálogo aberto e em negociações de boa-fé com todos” e reiterou que a Sérvia não imporia um embargo ao Kosovo nem recorreria à força.

Comunicado de imprensa SC/9273 (em inglês)

Kosovo: ONU condena ataques em Mitrovica

O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, deplorou os ataques violentos contra as forças de polícia da Missão de Administra-ção Interina das Nações Unidas no Kosovo (UNMIK) e contra o pessoal da KFOR, a 17 de Março, em Mitrovica, no Norte do Kosovo, as quais tentavam recu-perar o controlo do Tribunal Municipal, ocupado por manifes-tantes desde o dia 14. O Secretário-Geral exortou “todas as comunidades a darem provas de calma e de contenção, sublinhando a necessidade de um diálogo construtivo para reme-diar a situação” e pediu a todas as partes que se abstivessem de “qualquer medida ou declaração susceptíveis de incitar ou provo-car novos actos de violência”. Um polícia da UNMIK, o ucra-niano Ihor Kynal, viria a sucumbir aos ferimentos recebidos durante os ataques, o que levou o Secre-tário-Geral a manifestar o seu pesar, enviar condolências à família da vítima e ao Governo da Ucrânia e a apelar ao fim da violência.

Logo a 14 de Março, Joachim Rücker, Representante Especial do Secretário-Geral para o Kosovo, condenara nos termos mais severos o ataque ao edifício do Tribunal “Aqueles que recorreram à vio-lência no norte de Mitrovica ultrapassaram uma das linhas vermelhas da UNMIK, o que é totalmente inaceitável” afirmou Joaquim Rücker. “Ordenei à polícia da UNMIK que restabele-cesse a lei e ordem no Norte e que assegurasse que o tribunal voltasse a ficar sob controlo da ONU”, disse. No seguimento do incidente, Joachim Rücker informou o Governo sérvio dos aconteci-mentos e solicitou-lhe que impe-disse ataques desta natureza e recordou que a violência não seria tolerada. O Representante Especial decla-rou que “a UNMIK defenderá o seu mandato no conjunto do território do Kosovo, sem excepção”.

Estabilidade no Sul do Líbano continua ameaçada

No seu último relatório ao Con-selho de Segurança sobre o Líba-no, o Secretário-Geral constatou que, apesar das promessas reno-vadas feitas pelos governos liba-nês e israelita no sentido de aplicar a resolução 1701, a insta-bilidade continua a representar um risco para o Sul do Líbano. “Estou satisfeito por poder dizer que os governos libanês e israeli-ta continuam a declarar-se firme-mente decididos a aplicar a reso-lução 1701 (2006)”, sublinhou o Secretário-Geral. Mais de 18 meses após a adopção dessa resolução, o envio e as actividades da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) e das Forças Armadas Libanesas contribuíram para “o mais longo período de relativa estabilidade conhecido no Sul do Líbano desde há muitos anos”, acrescentou Ban Ki-moon. Mui-tos elementos impedem, porém, a aplicação das disposições da resolução. Em primeiro lugar, o relatório

sublinha que a situação política interna no Líbano prejudicou o funcionamento das instituições constitucionais legítimas, como ilustra o facto de o cargo de presidente estar por ocupar desde o passado mês de Novem-bro. Os atentados contra alvos seleccionados acentuaram tam-bém as tensões no país. “São agora escolhidos como alvos a UNIFIL, fora da sua zona de operações, o exército, as forças de segurança e os diploma-tas”, denuncia o relatório. Além disso, os graves incidentes ocorridos durante o período abrangido pelo relatório exacer-baram as tensões na zona de operações da UNIFIL, compro-metendo, portanto, a eficácia das medidas tomadas pela Missão para instaurar a confiança no seio das partes e da população do Sul do Líbano.

Para mais informações

Conselho de Segurança e Secretário-Geral alarmados com violência mortífera no Médio Oriente

A 1 de Março, o Conselho de Segurança e o Secretário-Geral Ban Ki-moon condenaram a escalada da violência na Faixa de Gaza e no Sul de Israel, que já causou a perda de vidas a centenas de civis nos últimos dias. Os membros do Conselho reuniram-se numa sessão de emergência, para discu-tir a situação no Médio Oriente, onde as Forças de Defesa de Israel (IDF) desferiram ataques aéreos e terrestres contra alvos em Gaza e militantes pales-tinianos lançaram centenas de bombas-foguete contra alvos no Sul de Israel, incluindo a cidade de Ashkelon. Após a reunião, o Embaixador russo Vitaly Churkin, que detém a presidência do Conselho em Março, leu o resumo das discussões acordado por todos os 15 membros do órgão.

Expressando uma profunda preocupa-ção perante a perda de vidas de civis e a escalada da violência na região, os membros do Conselho exortaram as partes a respeitarem as suas obriga-ções, à luz do direito internacional, e a cessarem imediatamente todos os actos de violência. Ban Ki-moon condenou os ataques

palestinianos com bombas-foguete e pediu que lhes fosse posto fim, obser-vando que “não servem qualquer pro-pósito, põem em perigo civis israelitas e trazem sofrimento ao povo palestinia-no”. Embora reconhecendo o direito de Israel a defender-se, o Secretário-Geral afirmou: “condeno o uso desproporcio-nado e excessivo da força, que matou e feriu tantos civis, incluindo crianças. Apelo a Israel para que ponha fim a esses ataques. Israel deve agir inteira-mente de acordo com o direito interna-cional humanitário e exercer a máxima contenção”.

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Somália: ONU sugere vários cenários que poderiam conduzir a envio de missão de manutenção da paz

No seu último relatório ao Conselho de Segurança sobre a Somália, o Secre-tário-Geral formula uma série de reco-mendações com vista à adopção de uma estratégia “integrada e coerente” susceptível de conduzir ao envio de uma missão de manutenção da paz. “O objectivo estratégico primordial das Nações Unidas na Somália é con-tribuir para melhorar as condições de vida dos Somalis, pondo fim ao conflito violento e lançando as bases de uma paz duradoura. Este é o objectivo que constitui o fundamento do plano inte-grado de intervenção estratégica e que determina a organização das capacida-des da ONU”, explica o relatório do Secretário-Geral divulgado a 18 de Março. Nos últimos quatro meses, a situação política na Somália mudou, com a for-mação de um novo governo e a sua transferência de Badoa para a capital, Mogasdício. Mas a situação no domínio da seguran-

ça mantém-se preocupante, por ser “volátil”. As condições no Norte são, no entanto, “relativamente melhores” do que no Sul e no Centro, diz o rela-tório. A fim de elaborar uma estratégia coe-rente para a Somália à escala do siste-ma da ONU, foram levadas a cabo duas missões, durante o período anali-sado: uma, dirigida pelo Departamento de Assuntos Políticos e outra pelo Departamento de Operações de Manutenção da Paz. A equipa interorganizações dirigida pelo Departamento de Assuntos Políti-cos procedeu a uma avaliação estraté-gica que apresenta uma análise colecti-va das causas e consequências do con-flito, define medidas prioritárias a tomar para instaurar a paz e formula recomendações com vista à adopção de um estratégia integrada e coerente, comum ao conjunto dos organismos da ONU. Por sua vez, a missão de informação dirigida pelo Departamento de Opera-ções de Manutenção da Paz teve como objectivo consultar as partes interessa-das e avaliar as condições de segurança no terreno, com vista a formular reco-mendações.

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Darfur: envio da UNAMID não pode substituir resolução política

O Subsecretário-Geral para as Operações de Manutenção da Paz, Edmond Mulet, traçou, perante o Conselho de Segu-rança, a 11 de Março, um qua-dro completo e actualizado da situação no Darfur em termos de segurança bem como nos domínios humanitário e políti-co, nomeadamente a acção da Operação Híbrida UA-ONU no Darfur (UNAMID). Precisou que “a UNAMID é apenas mais um elemento na estratégia internacional e que a Missão, encarregada, nomeada-mente, da protecção de civis, não deverá ser o instrumento que resolverá as causas do conflito. A vitalidade do pro-cesso político é essencial para alcançar progressos verdadei-ros e duradouros”, declarou. Edmond Mulet chamou a aten-ção para a última erupção de violência no Oeste do Darfur e

as suas consequências para as populações civis. Preveniu, igualmente, que as tensões entre o Chade e o Sudão, assim como os comba-tes levados a cabo entre as forças rebeldes, podem favore-cer uma expansão regional da crise e fazer descarrilar os esforços de paz nos dois lados da fronteira. A normalização das relações entre os dois países é essencial. Entretanto, disse Edmond Mullet, a UNAMID está a avan-çar com o envio de efectivos para o terreno e a fazer “tudo o que está ao seu alcance para melhorar a situação”, embora continue a debater-se com falta de efectivos militares, uma cooperação inconstante por parte do Governo, uma situa-ção de insegurança e dificulda-des logísticas.

Missão da ONU na República Centro-Africana e no Chade assina acordo sobre estatuto

A Missão das Nações Unidas na República Centro-Africana e Chade (MINURCAT) assinou com as autori-dades chadianas um acordo sobre o estatuto da missão que estabelecerá os princípios jurídicos que regularão a sua operação no país. O Representante Especial do Secretá-rio-Geral para a MINURCAT, Victor Ângelo, assinou o acordo, a 21 de Março, em N’Djamena, capital do Chade, em nome das Nações Unidas. O acordo abrange as actividades da missão e contempla aspectos como

os fundos e bens da MINURCAT, a segurança do pessoal da missão e os seus privilégios e imunidades. Victor Ângelo disse, ontem, que esta-va satisfeito pelo facto de o acordo sobre o estatuto da missão ter sido assinado. “Trabalharemos convosco para tentar resolver a questão da insegurança no Chade”, disse aos representantes deste país. “Contudo, trabalharemos estritamente no quadro da resolução do Conselho de Segurança 1778 [que criou a missão] que limita a nossa acção aos campos de refugiados e de deslocados internos no Leste do Chade”, sublinhou.

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No seu último relatório ao Conselho de Segurança sobre a Guiné-Bissau, o Secretário-Geral regozija-se com a inclu-são do país no programa da Comissão de Consolidação da Paz. O compromisso da Comissão em relação à Guiné-Bissau vai dar uma ajuda preciosa, duran-te a reconstrução posterior ao conflito e a consolidação da paz, afirma o relatório divulga-do a 20 de Março. O Secretário-Geral invoca os progressos “tangíveis” realiza-dos pelas autoridades do país para convidar a comunidade internacional a participar mais nos seus esforços de reforma com vista à estabilização da economia. Ban Ki-moon, que sublinhou a importância das próximas elei-ções legislativas para a boa governação democrática do país, apelou à comunidade internacional para que disponi-bilize os recursos necessários à organização do escrutínio.

“Gostaria também de felicitar as autoridades por terem lan-çado o processo de reforma do sector da segurança”, disse o Secretário-Geral, que lembra que uma reforma exaustiva e eficaz poderia servir de quadro para um estratégia concertada de luta contra o tráfico de droga no país. Por outro lado, a Formação sobre a Guiné-Bissau da Comissão de Consolidação da Paz reuniu ontem, de manhã, para examinar, por ocasião da sua terceira sessão, um projec-to de carta ao Conselho de Securança, tendo em vista apresentar aos membros deste órgão, no final do mês, um panorama geral da situação no país.

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Guiné-Bissau: Secretário-Geral “encorajado” pelo impulso dado pela

Comissão de Consolidação da Paz

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Timor-Leste: missão de Nova Iorque

presta apoio no domínio da segurança

Uma equipa de peritos do Departamento de Operações de Manutenção da Paz da ONU (DPKO) chegou, no dia 17, a Timor-Leste para avaliar os principais domínios a que Missão Integrada das Nações Unidas no país (UNMIT) presta apoio. A equipa, dirigida pelo Asses-sor para as Questões de Polícia Andrew Hugues, é composta por representantes do DPKO, do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM), do Centro Internacional para a Justiça de Transição, da UNMIT e da PNTL (Polícia Nacional de

Timor-Leste). A missão inscreve-se no qua-dro mais alargado do apoio ao sector da segurança no país. Os peritos, que permanecerão no país durante onze dias, devem avaliar os progressos do desenvolvimento da PNTL e da sua colaboração, desde 2006, com a Polícia da ONU. Darão igualmente apoio ao processo de reforma da Polícia Nacional, após diferentes con-sultas com dirigentes políticos, responsáveis do Governo e membros representativos da sociedade civil.

Afeganistão: Conselho de Segurança renova mandato da UNAMA – transição política

continua a ser difícil

Numa resolução adoptada a 20 de Mar-ço, o Conselho de Segurança renovou o mandato da Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) até 23 de Março de 2009. Pela resolução 1806 (2008), adoptada por unanimidade, o Conselho convidou o Governo do Afeganistão, a comunida-de e as organizações internacionais a aplicarem integralmente o Pacto para o Afeganistão, sublinhando a importância de respeitar os prazos previstos no Pacto, a fim de avançar em domínios como a segurança, a governação, o Estado de direito, os direitos humanos e o desenvolvimento económico e em direcção à realização do objectivo trans-versal que é a luta contra os estupefa-cientes. No seu relatório ao Conselho de Segu-rança, de 6 de Março, o Secretário-Geral reconhece que “dois anos após a adopção do Pacto para o Afeganistão, a transição política continua a enfrentar sérias dificuldades”, recomendando uma maior cooperação internacional para adoptar uma abordagem comum, tendo em vista apoiar a estratégia nacional de desenvolvimento cuja elaboração deve-

ria estar concluída no final do mês. “Tanto os Talibãs e os grupos armados a eles ligados como a economia da droga representam ameaças fundamen-tais para as instituições políticas, econó-micas e sociais, ainda frágeis”, sublinhou o Secretário-Geral, no seu relatório. Dos 376 distritos do país, 36 mantêm-se em grande parte inacessíveis para os responsáveis governamentais e os traba-lhadores humanitários, que não podem ali fazer chegar a ajuda destinada às pessoas vulneráveis. Dois anos após o lançamento do Pacto para o Afeganistão, o relatório preconi-za, pois, um reforço da acção comum de apoio à estratégia nacional de desenvol-vimento, adoptando uma abordagem que integre as questões de segurança, de governação, de Estado de direito, de direitos humanos e de desenvolvimento social e económico. “Neste sentido, a ONU está pronta a assumir um papel mais importante na coordenação da ajuda internacional”, diz. O Secretário-Geral saudou a oferta, feita por França, de organizar uma Con-ferência em Paris, no próximo mês de Junho, a fim de apoiar o lançamento, financiamento e aplicação da estratégia de desenvolvimento que deveria estar concluída no final de Março.

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Comunicado de imprensa SC/9281 (em inglês)

Estão a registar-se progressos na luta mundial contra o terrorismo

Têm sido efectuados progressos consideráveis a nível mundial na luta contra o terrorismo, inclusi-vamente mediante a adopção de importantes tratados e a partilha de informações entre organismos responsáveis pela aplicação da lei, disse Mike Smith, Director Execu-tivo da Direcção Executiva do Comité contra o Terrorismo (CTED) das Nações Unidas ao Conselho de Segurança. Embora a Resolução 1373 seja tão relevante hoje como quando foi adoptada, no seguimento dos ataques de Setembro de 2001, "a maior parte dos países do mundo já criminalizou o terrorismo", disse hoje Mike Smith, num deba-te público. Mike Smith disse que, desde a adopção daquela resolução histó-rica, já houve centenas de novas ratificações de acordos fundamen-tais sobre a luta contra o terroris-mo. "Tem havido um nível quase sem precedentes de troca de informa-ção a nível internacional e de cooperação transfronteiriça entre os organismos competentes, com o objectivo de desmantelar os planos de ataques terroristas e viabilizar a detenção e prossecu-ção judicial dos autores de

actos de terrorismo", acrescen-tou. As atenções voltam-se agora para a necessidade de assegurar que os países possuam a capacidade e os conhecimentos especializados necessários para aplicar as medi-das da Resolução 1373, que solici-ta aos países que reforcem a sua capacidade para combater as actividades terroristas aos níveis nacional, regional e mundial. Ao pôr o Conselho a par do trabalho da CTED, Mike Smith disse que esta está prestes a concluir as 192 avaliações prelimi-nares da aplicação – uma para cada Estado-membro das Nações Unidas –, que ajudam a desenvol-ver o diálogo com os países sobre a aplicação da Resolução 1373. O ataque de Dezembro passado em Argel, na Argélia, que causou a morte de 17 funcionários das Nações Unidas, lembra-nos que "apesar dos esforços positivos que temos desenvolvido colecti-vamente, o terrorismo continua a representar uma séria ameaça para todos nós e continua a evo-luir e a manifestar-se de maneiras novas e perigosas", observou Smith na reunião, em que inter-vieram mais de duas dezenas de oradores. A 20 de Março, o Conselho de Segurança decidiu por unanimi-dade prorrogar o mandato da Direccção Executiva do Comité contra o Terrorismo até final de 2010.

MANUTENÇÃO DA PAZ

- O Departamento de Operações de Manutenção da Paz (DPKO) das Nações Unidas acaba de publicar a brochura UN Peace Operations Year in Review 2007 que contém uma síntese das actividades do Departamento e um resumo das mudanças havidas no trabalho da ONU e no domínio das opera-ções de paz, tanto na Sede como no terreno. - Foi também publicada em Março a nova versão da ficha de informação UN Peacekeeping - A Secção de Boas Práticas do DPKO disponibilizou também em linha UN Peacekeeping Capstone Doctrine, um importante documento elaborado após um amplo processo consultivo.

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Chade: Coordenador Humanitário pretende sensibilizar opinião pública para situação humanitária

O Coordenador das Operações Huma-nitárias das Nações Unidas no Chade, Kingsley Amaning, alertou para o agra-vamento da crise, cujas consequências para a vida quotidiana dos habitantes do país são, em sua opinião, “catastróficas”. “O mundo deve saber o que se passa no Chade, o sofrimento interminável, a violação dos direitos humanos, da dignidade e da segurança de centenas de milhares de pessoas agredidas desde há anos”, declarou, numa conferência na Sede das Nações Unidas em Nova Iorque. A violência nesta região de África provocou o afluxo de refugiados dos países vizinhos – quase 250 000 prove-nientes do Sudão e perto de 60 000

vindos da República Centro-Africana – aos quais se juntam os deslocados internos por causa do conflito. Por outro lado, os organismos humani-tários devem fazer face a sérios obstá-culos para levar a cabo o seu mandato, nomeadamente a insegurança, à qual não podem escapar, e a falta de finan-ciamento, como prova o pagamento de apenas 2% dos 280 milhões de dólares solicitados no apelo humanitário para 2008. Kingsley Amaning disse, porém, que, para pôr fim à crise humanitária, a comunidade internacional devia sobre-tudo exercer toda a sua influência sobre as partes, tendo em vista a con-secução de um acordo político. No que respeita à instalação da EUFOR, a Força Europeia mandatada pela ONU para proteger as populações civis, o Coordenador Humanitário acredita que aquela será capaz de garantir a segurança da região, facilitan-do assim a prestação da ajuda humani-tária.

Em 2007, número de pedidos de asilo aumentou 10%

Após uma tendência para baixar, nos últimos anos, os pedidos de asilo nos países industrializados aumentaram 10%, em 2007, prin-cipalmente devido à crise no Iraque, anunciou o Alto Comissa-riado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Pela segunda vez consecutiva, os iraquianos estão à frente da lista de requerentes de asilo nos paí-ses industrializados de todo o mundo. O número de iraquianos que pediram asilo quase duplicou num ano, tendo passado de 22 900, em 2006, para 45 200, em 2007”. Em 2007, foram apresentados, em 43 países industrializados, 338 000 novos pedidos de reconheci-mento do estatuto de refugiado, em comparação com 306 300, em 2006. Os cinco primeiros países de origem dos requerentes de asilo,

em 2007, foram o Iraque, a Fede-ração Russa, a China, a Sérvia e o Paquistão, mas registou-se um aumento significativo do número de pedidos apresentados por pessoas provenientes da Síria e da Somália. Metade dos pedidos provêm da Ásia, incluindo o Médio Oriente, África (21%), Europa (15%), Amé-rica Latina e Caraíbas (12%) e América do Norte (1%). Em 2007, os principais países de acolhimento de requerentes de asilo foram os Estados Unidos, a Suécia, a França, o Canadá e o Reino Unido. Estas estatísticas preliminares, recolhidas pelo ACNUR com base em informações fornecidas pelos governos, poderão ser consultadas no relatório Asylum Levels and Trends in Industrialized Countries 2007.

Deslocados quenianos relutantes em voltar para casa

Muitos das dezenas de milhares de quenianos desalojados pela violência que se apoderou do país, após as con-testadas eleições de Dezembro, estão relutantes em voltar para as suas casas. Em diversos povoamentos em Eldoret, no Quénia Ocidental, visitados recen-temente pelo Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), os deslocados internos expressaram a sua relutância em deixar os campos, enquanto não receberem do Governo firmes garantias de segu-rança e este não introduzir um sistema que lhes permita recuperar os seus bens. No fim do mês passado, foi assinado um acordo de partilha do poder entre o Partido da Unidade Nacional e o partido da oposição, o Movimento Democrático Laranja. Cerca de 1000 pessoas foram mortas e mais de 300

000 foram forçadas a fugir depois de o Presidente queniano Mwai Kibaki ter sido declarado vencedor nas eleições de Dezem-bro, em que teve como rival o líder da oposição, Raila Odinga. Os organismos humanitá-rios no terreno concor-dam em que, independen-temente do que acontecer

nas esferas política ou humanitária, o Quénia enfrenta uma crise de seguran-ça alimentar que poderia durar até ao próximo ano, em consequência da conjugação da violência recente e da seca que afectou a maior parte do país. A ONU apurou que muitos dos deslo-cados preferiam esperar por mais resultados das conversações com vista à reconciliação nacional, antes de se arriscarem a voltar para casa. No início do mês, 134 pessoas, – mui-tas das quais participaram na violência pós-eleitoral nos bairros degradados de Nairobi ou foram vítimas dela – frequentaram um programa de forma-ção patrocinado pela ONU e pelo Governo, tendo completado um curso sobre resolução de conflitos, consoli-dação da paz e reconciliação.

Crises humanitárias: ONU e Comissão Europeia lançam manual para a coordenação civil e militar

A 11 de Março, o Departamento de Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) e a Comissão Europeia lançaram um manual de utilização no terreno, com vista à coordenação civil e militar, intitulado UN Civil-Military Coordination Officer Field Handbook, que dá directivas e orientações ao pessoal humanitário que trabalha com os militares durante as inter-venções de emergência. “A coordenação entre os actores civis e militares é crucial durante uma intervenção de emergência”, explicou John Holmes, Coordena-dor Humanitário da ONU. O número e a escala das crises humanitárias conduzem muitas vezes à presença simultânea de forças militares e de organismos humanitários no teatro dos confli-

tos ou de catástrofes naturais. É, por exemplo, pedido ao exérci-to que transporte rapidamente, por helicóptero, alimentos e medicamentos para as áreas mais longínquas. Em casos como este, a ONU desloca oficiais de coopera-ção civil-militar (CordCM-NU) que vigiam a utilização dos bens militares, de modo que seja coor-denada e eficiente e esteja “de acordo com as directivas e princí-pios reconhecidos internacional-mente”. A Comissão Europeia financiou o trabalho preparatório e a elabora-ção do manual, que é destinado não apenas aos oficiais da CordCM-NU mas também aos organismos humanitários e ao pessoal no terreno.

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Moçambique pede ajuda alimentar à ONU no seguimento de um ciclone devastador

A 18 de Março, o Governo moçambicano pediu ao Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM) para prestar ajuda de emergência, durante um mês, a 60 000 pes-soas do Norte do país que continuam a sofrer os efeitos do ciclone Jokwe que fusti-

gou aquela região. O PAM começa a distribuir ajuda alimentar às comunidades afectadas pelo ciclone Jokwe, recorrendo a existências que estavam reservadas para outras operações, disse aquele organismo. Serão agora necessários 550 000 dólares para repor os recursos utilizados. O PAM está a realizar uma rápida avaliação das necessidades na província de Nampula, a mais duramente atingida pelo ciclone, con-tando para o efeito com o apoio das autori-dades nacionais, organismos da ONU e orga-nizações de ajuda humanitária. Morreram pelo menos oito pessoas em consequência

do ciclone Jokwe, que atingiu a costa moçambicana em 8 de Março, com ventos até 200 km/h, deixando dezenas de milhares de pessoas sem casa. O ciclone destruiu também numerosas linhas eléctricas, cortando o abastecimento de electricidade e de água a várias cidades e aldeias, enquanto chuvas intensas causaram algumas inundações. O PAM e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que lideram a prestação de socorro, por parte da ONU, ao Norte e Centro de Moçambique atingidos pelo ciclo-ne, já mobilizaram pessoal para as zonas afectadas.

ACNUR preocupado com a situação de palestinianos na fronteira do Iraque com a Síria

Segundo uma notícia divulgada em Genebra a 18 de Março, o Alto Comissariado para os Refugia-dos (ACNUR) lançou um novo apelo para que seja prestada assistência humanitária urgente a mais de 2700 palestinianos que vivem em condi-ções desumanas em dois campos na fronteira do Iraque com a Síria. O ACNUR está particular-mente preocupado com a sua situação no domínio da saúde. O Porta-voz do ACNUR, Ron Redmond, disse aos jornalistas em Genebra que o estado em que se encontram esses palestinianos continua a dete-riorar-se. Durante os últimos 22 meses, o ACNUR tem vindo a pedir soluções humanitárias urgentes para este grupo e, ainda que apenas com carácter temporário, a sua reinstalação noutro lugar, de preferência na região árabe. Esta solução não ajudará, portanto, todos os palestinianos que vivem nos campos mencionados, onde a situação no domínio da saúde é cada vez pior, devido à falta de cuidados médicos e de alternativas viáveis. "Nos últimos 14 meses, morreram nos campos 12 refugiados, o último dos quais foi um homem de 25 anos, que morreu no campo de refugiados de Al Waleed, provavelmente devido a um envenena-mento alimentar. A reinstalação urgente da sua família por motivos médicos foi pedida em 2007”, disse Redmond. “As mortes fazem ressaltar a necessidade de soluções humanas e cuidados

médicos apropriados para a população sem quaisquer recur-sos”. O pessoal de saúde palestiniano em Al Waleed – que vê doentes diariamente – identificou várias pessoas com doenças que vão desde diabetes a proble-mas renais e cancros, entre outros. O serviço médico mais próximo no Iraque fica a 400 quilómetros e os doentes têm de ser trans-portados por táxi. Os países vizinhos como a

Síria endureceram as restrições à entrada no país, em especial no que se refere a palesti-nianos. Durante o último ano, o ACNUR aperce-beu-se das enormes necessidades de cuida-dos médicos sentidas pelos refugiados que fogem do Iraque. Muitos deles têm necessi-dades físicas e psicológicas. O stress e as dificuldades encontradas ao longo de anos de conflito, violência, deslocação e incerteza debilitaram a sua resistência natural à doen-ça. Dos 34 000 palestinianos que viviam no Iraque em 2003, crê-se que entre 10 000 e 15 000 se encontram ainda no país. O campo de Al Waleed alberga presentemente mais de 2000 refugiados, enquanto o de Al Tanf, situado em terra de ninguém entre o Iraque e a Síria duplicou de tamanho, desde Outu-bro de 2007, contando com mais de 710 refugiados. Segundo o porta-voz, alguns palestinianos dos campos perto da fronteira foram aceites para reinstalação ou admitidos em países terceiros: o Canadá aceitou 64, em 2006, o Brasil recebeu 107, em 2007, e o Chile acei-tou um grupo inicial de 117, que começará a partir em Abril. O Sudão ofereceu-se tam-bém a aceitar 2000 palestinianos residentes no Iraque.

O ACNUR regista com satisfação estas respostas e espera que todos os palestinianos possam deixar os campos onde vivem em condições tão duras o mais depressa possível.

Êxito de FreeRice já rendeu “21 mil milhões de grãos de arroz”

para operações do PAM

O jogo em linha FreeRice, lançado há seis meses com o objectivo de angariar fundos para o Programa Alimentar Mundial (PAM), tem conhecido um êxito crescente e já permitiu comprar arroz em quanti-

dade suficiente para alimentar 1,1 milhões de pessoas durante um dia. Por cada resposta correcta a uma pergunta sobre vocabulário, o jogador “dá” 20 grãos de arroz ao orga-nismo. O equivalente em dinheiro é gerado pela publi-cidade no sítio www.freerice.com, dinheiro esse que é posteriormente entregue ao PAM, encarregado de comprar o arroz. Após o seu lançamento, o sítio Web sofreu algumas melhorias, como a criação de uma função áudio para dar a conhecer a pronúncia da palavra. As primeiras doações permitiram comprar arroz para os refugiados de Mianmar no Bangladeche. As seguintes beneficiaram estudantes do Uganda e mulheres grávi-das e em fase de amamentação no Camboja. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a próxima entrega destina-se aos refugiados do Butão no Nepal.

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Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon Na abertura da 7ª. Sessão do Conselho de Direi-tos Humanos, o Secretário-Geral declarou aos seus membros que o poder do Conselho reside na persuasão e na cooperação, mais do que coer-ção e na imposição de medidas obrigatórias. O Conselho deve responder plenamente às eleva-das expectativas da comunidade internacional e, para isso, deve aplicar os valores decorrentes dos direitos humanos “sem favoritismo, sem selectivi-dade, sem se deixar influenciar por manobras políticas”, disse o Secretário-Geral. “Nenhum país, por mais poderoso que seja, deve-ria escapar a um exame minucioso do seu histo-rial, dos seus compromissos e da sua acção em matéria de direitos humanos”, insistiu Ban Ki-moon, lembrando que o exame periódico univer-sal deveria “contribuir para dissipar a desconfiança que rodeou os trabalhos da Comissão de Direitos Humanos, nos últimos anos da sua existência”. O Secretário-Geral manifestou também o seu desejo de ver concretizar-se a colaboração entre o Conselho e o Alto Comissariado para os Direi-tos Humanos, a fim de que os dois órgãos tirem partido de “mandatos complementares mas inde-pendentes e distintos”. Alta-Comissária para os Direitos Humanos, Louise Arbour Na sessão de abertura, Louise Arbour disse que, desde que foi criado, o Conselho de Direitos Humanos se tem dedicado a criar o seu quadro institucional, orientado pelos princípios da univer-salidade, não selectividade e não politização que inspiraram a reforma da Comissão que o prece-deu. As suas directrizes incluem um compromisso explícito em relação à melhoria das normas exis-tentes mas também quanto à aplicação de normas universalmente reconheci das e aceites no mundo de hoje. Isto salienta a importância dos princípios do Exame Periódico Universal, cujo lançamento deveria ser um ponto de viragem na evolução do Conselho.

Os membros do Conselho têm razões para saudar os progressos alcançados, mas deveriam ser prudentes e concordar em reorientar os seus esforços para aplicar eficazmente as normas adoptadas. A sua eficácia só será mensurável se houver uma melhoria visível. O Exame Periódico Universal ajudará a centrar a atenção das pessoas no verdadeiro sentido das situações de direitos humanos no mundo inteiro, descritas como um panorama bastante sombrio.

Presidente do Conselho de Direitos Humanos, Doru Romulus Costea Ao abrir a sessão, o Presidente Dorus Costea acolheu com satisfação a decisão de o orçamento das Nações Unidas em Genebra ter sido, pela primeira vez, aumentado devido ao trabalho do Conselho, o que, a seu ver, era uma boa notícia, no momento em que se iniciavam as celebrações do 60º. Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Afirmou, porém, que não se deveria esquecer a situação no terreno, onde muitas vítimas contavam com o Conselho para que as coisas mudassem, sendo, aliás, essa a sua principal tarefa. O Presidente disse que todos os mecanismos haviam sido já criados e que recai sobre todas as partes interessadas a responsabilidade de os fazer funcionar de uma forma eficaz. Alto Representante para a Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio Jorge Sampaio afirmou que a Aliança das Civiliza-ções era a resposta correcta a um vazio político. Disse que visava fazer face às crescentes fracturas no interior das sociedades e entre estas, ao reafir-mar o paradigma do respeito mútuo entre povos de tradições culturais e religiosas diferentes e ao ajudar a mobilizar esforços concertados para o efeito. A Aliança traduz a vontade, expressa por pessoas de todo o mundo, de rejeitar o extremis-mo em todas as sociedades e de apoiar a sua aspiração a viver em paz e no respeito pela igual-dade e pela dignidade humana, acrescentou, convi-dando os países que ainda não se lhe associaram a fazê-lo. O Alto Representante disse ainda que o respeito dos direitos humanos, enunciado na Declaração Universal e no direito internacional humanitário, figurava no quadro da Aliança. Realçou ainda que a grande missão desta era suprir lacunas nos siste-mas educativos, a fim de prevenir confrontos,

conflitos e intolerância. Declarou ainda que a Aliança estava disponível para trabalhar com o Conselho, cuja experiência poderia aproveitar, e que poderiam ajudar-se mutuamente a realizar os seus objectivos. Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Europeus (Portugal), Manuel Lobo Antunes O Secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Europeus de Portugal, Manuel Lobo Antunes, disse que, apesar de ser jovem e de alguns dos seus elementos importantes ainda estarem em processo de construção, o Conselho já se revela-ra uma verdadeira plataforma para a promoção e protecção dos direitos humanos e liberdades fundamentais em todo o lado. Lembrando que o Exame Periódico Universal é um desafio a enfrentar nas próximas semanas e meses, disse que todos têm uma pesada responsa-bilidade de tornar credível essa nova ferramenta, em relação à qual há elevadas expectativas. É vital que o Conselho esteja à altura das esperanças nele depositadas, é vital qe o Conselho denuncie as violações flagrantes e sistemáticas de direitos, pois caso contrário perderá a sua credibilidade. “O silêncio ou inacção não serão entendidos”. Reafirmou o compromisso de Portugal em relação à promoção e protecção dos direitos humanos, manifestando a especial importância que o país atribui ao sofrimento das vítimas de violações de direitos humanos e destacando como especiais motivos de preocupação a situação no Darfur e em países como Mianmar, República Popular Democrática da Coreia, Zimbabué, Bielorrússia e Usbequistão. Manuel Lobo Antunes disse que Portugal está profundamente empenhado na promoção dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, desta-cando a acção do Grupo de Trabalho encarregado de redigir um Protocolo Facultativo relativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais. Manifestou a esperança de que este Grupo conclua a sua missão, preparando o caminho para que o Conselho de Direitos Huma-nos e a Assembleia Geral venham a adoptar um Protocolo Facultativo abrangente. Para mais informações ver comunicados de imprensa do CDH (em inglês) de 3 de Março (manhã) e 3 de Março (tarde)

Conselho de Direitos Humanos (7ª. Sessão) Alguns destaques do Segmento de Alto Nível (3-5 de Março)

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Gaza: Conselho de Direitos Humanos pede cessação imediata dos ataques israelitas e do

lançamento de bombas-foguete por Palestinianos

O Conselho de Direitos Humanos adoptou, a 6 de Março, uma reso-lução em que pede o “fim imedia-to” dos ataques israelitas nos Territórios Palestinianos ocupados e do lançamento de bombas-foguete pelos Palestinianos. Numa resolução adoptada por 33 votos a favor, 1 contra e 13 abs-tenções, o Conselho condenou os constantes ataques e incursões militares israelitas nos Territórios Palestinianos ocupados, em espe-cial recentemente na Faixa de Gaza. “Lembro que a protecção dos direitos humanos – e, em particu-lar, da vida de civis – não pode esperar o resultado de um proces-so político”, disse Louise Arbour,

Alta-Comissária para os Direitos Humanos, perante os membros do Conselho. “Todos os direitos fundamentais são iguais para todos os seres humanos e nenhuma parte pode pretender que, para defender a sua própria população, está autori-zada a negar os direitos de outros. Pelo contrário, todas as partes têm obrigações, não só em relação aos direitos do seu povo mas também no que se refere aos direitos de todos”, afirmou.

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Relatora Especial denuncia violações dos direitos humanos por ambos os lados no Darfur

Segundo Sima Samar, Relatora Espe-cial do Conselho de Direitos Huma-nos, tanto o Exército sudanês como os movimentos rebeldes do Darfur são responsáveis por violações de direitos humanos, levando a cabo homicídios, actos de violência sexual, pilhagem, destruição de bens, prisões arbitrárias e deslocações forçadas.

Sima Samar emitiu uma declaração,

após uma visita de 13 dias ao país, na qual se mostrou “extremamente perturbada” com a actual situação, especialmente no Darfur-Oeste, cenário de uma importante ofensiva militar nas últimas semanas.

“O Governo e os movimentos não cumpriram as obrigações decor-rentes da sua responsabilidade de proteger os civis em zonas sob o seu controlo e estão a violar o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o Direito Internacional Humanitário”, disse. “Recebi denún-cias de assassinatos, violência sexual, prisões e detenções arbitrárias e de impunidade desses crimes”.

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Darfur Ocidental : ataques contra civis violam direito internacional

Os ataques cometidos em Janeiro e Fevereiro contra quatro aldeias no Oeste do Darfur constituem viola-ções do direito internacio-nal humanitário e dos direi-tos humanos, afirma um relatório publicado pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos e a Operação Híbrida ONU/UA no Darfur (UNAMID). “Estas acções violaram o princípio de distinção reco-nhecido no direito interna-cional humanitário, ao não fazer a distinção entre civis e alvos militares. Por outro lado, a dimensão da des-

truição de bens civis, nomeadamente bens indis-pensáveis à sobrevivência da população civil, leva a pensar que os danos faziam parte da estratégia militar”, diz um comunicado publi-cado hoje, em Genebra. Cometidos pelas forças armadas sudanesas e milí-cias, os ataques de Saraf Jidad (por três vezes, em Janeiro) e os de Sirba, Silea e Abu Suruj, em Fevereiro, fizeram 115 vítimas e pro-vocaram a deslocação de 30 000 pessoas.

ONUSIDA e ACNUR apelam a um maior respeitos pelos direitos humanos das pessoas independentemente de estarem

ou não infectadas pelo VIH

Numa declaração conjunta, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA (ONUSIDA) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) instam "todos os governos a manterem-se vigilantes e a respeitarem e protegerem os direitos dos indivíduos neste domínio, em particular o direito à protecção contra o assassínio, a tortura, a violência, a detenção arbitrária e a humilhação, independentemente de estarem ou não infectados pelo VIH ou da sua orienta-ção sexual". Os dois organismos expressaram a sua preocupação quanto a notícias de

análises obrigatórias para detecção do VIH, detenção arbitrária com base no estado dos indivíduos em termos de infecção pelo vírus e divulgação não autorizada desse estado. "Estas medidas punitivas constituem uma violação dos direitos das pessoas e dificultam o acesso a quem necessita de medidas de prevenção, tratamento e cuidados", afirmam o ONUSIDA e o ACNUR. Referem igualmente que a homofobia que "contribui para o agravamento da epidemia VIH/SIDA" e pedem que a questão seja abordada.

Maior responsabilização e fim à impunidade são fundamentais para estabilidade no Quénia

Embora a violência que alas-trou pelo território do Quénia há alguns meses tenha sido

desencadeada por uma pretensa fraude eleitoral, a crise foi alimentada por causas subjacentes, nomeadamente a pobreza e a discriminação, segundo um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR), em que se apela a uma maior responsabilização e ao fim da impunidade, para resolver estas ques-tões e evitar futuros surtos de violência.

Entre as causas subjacentes que contribuí-ram para a violência encontram-se violações anteriores de direitos económicos e sociais "de que são prova a falta de acesso à água, alimentos, serviços de saúde e uma habita-ção digna, bem como a taxa de desemprego dos jovens e as desigualdades tremendas denunciadas por organizações da sociedade civil", afirma o relatório. Além disso, "a discriminação real e sentida no que se refere à distribuição da riqueza e do poder económico e político entre as várias comunidades e segmentos sociais, aliada à ausência de uma protecção adequa-da e de medidas efectivas de ressarcimento, constitui sério motivo de agravo entre a população".

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Louise Arbour não solicitará segundo mandato Ao apresentar o seu relatório ao Conselho de Direitos Humanos, a 7 de Março, a Alta-Comissária para os Direitos Humanos, Louise Arbour, anunciou que não solicitaria um segundo mandato. O Secretário-Geral, a quem Louise Arbour comunicou a sua decisão de não solicitar a renovação do seu mandato para além do mês de Junho, disse ter recebido a notícia “com muita pena”. “Impressionou-me muito a coragem excepcional, a energia e a inte-gridade que demonstrou ao defender com firmeza os direitos huma-nos, que são um dos principais mandatos das Nações Unidas”. Subli-nhando a sua “imensa dedicação”, Ban Ki-moon reconheceu que “Louise Arbour nunca hesitou em expor-se às críticas de Estados ou de outras entidades, quando deu destaque às vítimas de abusos e às insuficiências dos sistemas jurídicos em todo o mundo”.

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Mulheres continuam a ser vítimas de discriminação em todo o mundo, denuncia Louise Arbour

“Sem um empenhamento sério da parte dos Estados, investir no desenvolvimento das raparigas e das mulheres continuará no futuro a ser pura retórica”, declarou a Alta-Comissária para os Direitos Humanos, denunciando a discrimi-nação de que as mulheres conti-nuam a ser vítimas em todo o mundo. “As leis discriminatórias em rela-ção às mulheres subsistem nas legislações nacionais de pratica-mente todos os países e os Esta-dos que repetidas vezes tinham prometido rever ou revogar essas leis continuam a não honrar os seus compromissos, declarou Louise Arbour, na véspera do Dia Internacional da Mulher. As legislações inadequadas ou mal aplicadas minam, muitas vezes, os esforços realizados para combater

a violência de que as mulheres são vítimas, nomeadamente a violência sexual. As leis discriminatórias são “inumeráveis”, denuncia Louise Arbour, citando a impossibilidade de muitas mulheres terem acesso à propriedade, herdar, beneficia-rem de instrução, de oportunida-des profissionais e outras. A Alta-Comissária deplora que os compromissos assumidos pelos Estados no quadro da Conferência de Beijing sobre a Mulher, em 1995, e da reunião de seguimento continuem a ser letra morta. “É vergonhoso que, no sexagési-mo aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, inúmeras mulheres não possam gozar os seus direitos fundamen-tais”, afirmou.

Secretário-Geral pede que se invista nas mulheres para promover a paz e o desenvolvimento

Um maior investimento nas mulheres, adultas e jovens favore-cerá um maior crescimento eco-nómico e trará progressos no domínio do desenvolvimento, disse o Secretário-Geral Ban Ki-moon na comemoração do Dia Internacional da Mulher, na Sede da ONU. “Estou profundamente convencido de que o mundo tem nas mulheres o potencial mais importante e menos aproveitado para alcançar o desenvolvimento e a paz”, disse Ban Ki-moon. O Secretário-Geral realçou que a consecução da igualdade de géne-ro é não só um objectivo em si mesmo mas também um pré-requisito da realização de todos os outros objectivos de desenvolvi-mento, incluindo os Objectivos de

Desenvolvimento do Milénio (ODM). Apesar dos avanços consegui-dos, ainda há um longo caminho a percorrer”, declarou Ban Ki-moon que apelou a todos na comunidade internacional – governos, organizações multila-

terais, instituições bilaterais e sector privado – para que aumen-tem “drasticamente” os investi-mentos nas mulheres e raparigas, sublinhando que “investir nas mulheres não só é a medida certa a tomar como é a medida inteli-gente a adoptar”. Pelo seu lado, o Secretário-Geral comprometeu-se a trabalhar no sentido de reforçar a arquitectura de género dentro de Secretariado da ONU. Para além disso, apoiou a criação de uma “entidade dinâ-mica e reforçada para as questões de género”, que consolide as estruturas existentes na ONU em prol do avanço a causa do empo-deramento das mulheres e da realização da igualdade de género a nível mundial.

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Investir nas mulheres e nas raparigas é bom e compensa, segundo

Directora Executiva do UNFPA

É bom investir nas mulheres e nas raparigas e, além disso, compensa, diz, na sua mensa-gem, Thoraya A. Obaid, Directora Executiva do UNF-PA, para quem investir nas mulheres e nas raparigas é mesmo “um dos melhores investimentos que os gover-nos podem fazer”. “Se quisermos alcançar os Objectivos de Desenvolvi-mento do Milénio, teremos de investir mais nas mulheres e nas raparigas. Quer se con-sidere a questão do ponto de vista político, económico ou dos direitos humanos, a con-clusão é a mesma: é acertado investir nas mulheres”, insiste. Reconhecendo que muitos países já tomam as medidas necessárias, Thoraya Obaid afirma, porém, que os investi-mentos não são ainda sufi-cientes. “Em certos domínios, os fundos estão a diminuir, apesar do aumento das neces-sidades. É o caso da saúde materna e do planeamento familiar. É impossível melho-rar o bem-estar das mulheres

sem melhorar a sua saúde, em particular a sua saúde repro-dutiva”, sublinha. A Directora Executiva do UNFPA lembra ainda que, garantindo o acesso universal aos serviços de saúde repro-dutiva, é possível reduzir a pobreza, deter a propagação do VIH/SIDA e satisfazer as necessidades em matéria de planeamento familiar. Depois de apelar aos gover-nos para que aumentem os seus investimentos nas mulhe-res e nas raparigas, termina recordando que a saúde tam-bém é uma riqueza. “Investindo na saúde repro-dutiva e no bem-estar das mulheres, teremos mais pos-sibilidades de alcançar os ODM e de tornar a igualdade de género uma realidade”.

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ACNUR lança novo guia para protecção das mulheres e raparigas

Por ocasião da comemoração do Dia Internacional da Mulher, o Alto Comissa-riado das Nações Unidas para os Refugia-dos (ACNUR) lançou o seu Handbook for the Protection of Women and Girls. “Este documento foi criado para promo-ver a igualdade de género utilizando uma abordagem assente nos direitos e na comunidade, que integra a idade, o géne-ro e a diversidade, bem como por meio de acções específicas que visam incentivar a participação das mulheres e das rapari-gas nos sectores civil, político e económi-co”, disse Erika Feller, a Alta Comissária Assistente responsável pela protecção, segundo um comunicado publicado em Genebra.

Erika Feller, que presidia ao lança-mento do manual com o Presiden-te do Comité Executivo do ACNUR, Boudewijn J. Van Eenen-namm, dos Países Baixos, disse que o documento continha diversas propostas de acções concretas, entre as quais figuravam mais de 60 exemplos de práticas no terre-no, que mostram como os seus

escritórios abordaram os desafios no domínio da protecção enfrentados pelas mulheres e raparigas cuja situação se inscreve na esfera de competência do ACNUR. “São também definidas responsabilidades e normas jurídicas internacionais neste domínio”, diz o comunicado. Numa mensagem por ocasião do Dia Internacional da Mulher, o Alto-Comissário para os Refugiados, António Guterres, comunicou que o ACNUR iria canalizar 1,5 milhões de dólares, em 2008, para projectos especiais ligados à luta contra a violência sexual e de género em 14 países.

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Trabalho digno para as mulheres Ainda existe muito caminho a percorrer *

Este ano, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) escolheu como lema para assinalar o Dia Internacional da Mulher (8 de Março), o tema do trabalho digno, isto é trabalho com direitos, pro-tecção social, sem discriminação e em liberdade. Num Relatório sobre as tendências do Emprego das Mulheres no Mundo, Global Employment Trends for Women - March 2008 , é assinalado pela OIT que a situação das mulheres no trabalho no mundo é diversa e que existe uma estreita relação entre pobreza e a ausência de trabalho digno. A qualidade do emprego é também um indicador que descreve a maior vulnerabilidade das mulheres que são maioritárias nas actividades económicas mais susceptíveis de gerar desempre-go, subemprego ou trabalho sem protecção. Tra-balham na agricultura, sector mais dependente das condições climatéricas, menos estruturado e até menos visível nas estatísticas oficiais. A nível mun-dial, para 100 homens economicamente activos, as mulheres são menos de 70. De todas as pessoas empregadas no mundo, 40% são mulheres. Em 2007 a proporção de mulheres activas empre-gadas era de 49,1% comparada com 74,3% para os homens. Destacamos deste Relatório alguns dados por região no mundo. África Subsariana A taxa de emprego feminina é de 21,9% e a mas-culina é de 69,1%. A taxa de desemprego feminina é 9,1% e a mascu-lina é de 7,5%. A agricultura continua a ser o principal sector de actividade para as mulheres, em especial a agricul-tura de subsistência. As mulheres são a maioria dos trabalhadores/as familiares. 8 em cada 10 mulheres que trabalhava fazia-o em condições precárias. Apenas 15,5% das mulheres tinham um emprego remunerado. Apresenta as taxas mais elevadas de pobreza. Norte de África Em 100 homens economicamente activos, encon-tram-se 35 mulheres na mesma situação. Apenas 2 em 10 mulheres em idade activa têm um emprego, enquanto que 7 em 10 homens em idade activa estão empregados. A taxa de desemprego das mulheres é de 16,2% e a dos homens é 9% (a mais elevada do mundo). As mulheres jovens (15-24 anos) estão em situa-ção mais difícil, a taxa de desemprego é de 32,3% e apenas 1,5 em 10 trabalha. Um terço das mulheres trabalha na agricultura. A proporção de mulheres na indústria diminuiu de 19,1 %(1997) para 15,2% (2007). O sector dos serviços é o maior empregador de mão-de-obra feminina. Aumentou substancialmente a proporção de mulheres com emprego remunerado, cerca de 60% , praticamente igual à do emprego dos homens. As tradições constituem um dos maiores obstácu-los à melhoria da situação das mulheres. Médio Oriente A taxa de emprego feminina é a segunda mais baixa do mundo. Para 100 homens economicamente activos, encon-tram-se 39 mulheres.

Apenas 2 em 10 mulheres jovens têm um empre-go, enquanto que nos homens a relação é de 4 para 10. O desemprego das mulheres aumentou mais de 50% por comparação a 1997. Apenas um terço das mulheres trabalha e metade é no sector dos serviços. A proporção de mulhe-res a trabalhar na agricultura aumentou nos últi-mos 10 anos. As tradições constituem um obstáculo a melhoria da situação das mulheres. América Latina e Caraíbas Entre 1997 e 2007 o aumento da taxa de emprego das mulheres foi a 2ª mais alta do mundo, de 47,2% para 52,9%. Em 2007: Para 100 homens economicamente activos, encon-tram-se 67 mulheres. A taxa de desemprego feminina é de 10,9% e a masculina é de 6,9%. A percentagem de mulheres a trabalhar na agricul-tura é mais baixa do que a dos homens, respecti-vamente 10,7% e 24,7%. Na indústria 14,7% das mulheres empregadas trabalha neste sector e uma grande maioria está no sector dos serviços em que a proporção de mulheres que trabalham é de 74,8%, a 2ª mais alta do mundo. O aumento do emprego feminino é feito à custa do crescimento de empregos vulneráveis. Ásia Oriental Para 100 homens economicamente activos, encon-tram-se 79 mulheres. A taxa de emprego feminina é das mais altas do mundo, 65,2% e a dos homens é de 78,4%. Esta é a única região do mundo em que a taxa de emprego das jovens é maior do que a dos jovens. A taxa de desemprego da população jovem é a mais baixa do mundo, 5,8% para as mulheres e 7,9% para os homens. Nesta região verifica-se uma transferência de mulheres (e homens) da agricultura e da situação de trabalhadores familiares para a indústria e para os serviços, com reflexos na melhoria da sua situação. Contudo, continuam a praticar-se horá-rios de trabalho que ultrapassam as 50 horas/semana, não se têm registado avanços nas regras de saúde e segurança e o diálogo social é pratica-mente inexistente. Ainda que não se conheça o impacto desta situação nas mulheres, mas sabendo que tal como noutras regiões do mundo as mulhe-res acumulam ainda a totalidade das tarefas domésticas é de esperar que a sua situação seja particularmente difícil. Sudeste Asiático e Pacífico Para 100 homens economicamente activos, encon-tram-se 73 mulheres. O desemprego feminino é de 6,9% e o masculino de 5,6%. O desemprego está a aumentar para as mulheres, em 10 anos aumentou 111%. O sector da agricultura é predominante para mulheres e homens. O aumento global do empre-go nos serviços deve-se à entrada das mulheres neste sector. É nesta região que se regista o 2º nível mais eleva-do de mulheres na categoria de trabalhadores familiares não remunerados (em situação de emprego vulnerável).

Ásia meridional (inclui o sub-continente indiano) Em 2007: Para 100 homens economicamente activos, encon-tram-se 42 mulheres. Em 511 milhões de mulheres em idade activa, apenas 175 milhões tinham um emprego. O sector da agricultura representa metade do emprego total, a proporção de mulheres que trabalha neste sector é de 60,5% e de homens é de 42,9%. O sector da indústria tem sido aquele onde mais empregos têm sido criados, 18,4% das mulheres trabalham neste sector e 23% dos homens. A proporção de emprego vulnerável é maior nesta região do mundo, 8 em 10 mulheres está nesta situação e 7 em 10 homens. Europa Central e de Leste & Comunidade dos Estados Independentes (exclui UE) Em 2007: Para 100 homens economicamente activos, encon-tram-se 80 mulheres. A taxa de desemprego é superior à média mun-dial. Para os homens era de 8,7% e para as mulhe-res de 8,3%, no caso dos jovens é 16,9% e das jovens de 17,9%. Nos últimos 10 anos diminuiu a proporção de pessoas empregadas na indústria, em especial o emprego feminino que registou uma quebra de 4,3%. 62,8 do emprego feminino é no sector dos servi-ços e 47,6 do emprego masculino é neste sector. O emprego vulnerável nesta região é pouco signi-ficativo. Historicamente a igualdade entre homens e mulheres era uma das principais características desta região. Economias desenvolvidas e União Europeia Para 100 homens economicamente activos, encon-tram-se 82 mulheres. Entre 1997 e 2007 o emprego das mulheres aumentou em 12% e em 4,9 % para os homens. O abandono da indústria em detrimento dos serviços é uma tendência crescente, sendo sobre-tudo as mulheres quem mais sai deste sector. A quebra do emprego feminino na indústria baixou de 4,2% para 12,5%. Paralelamente o emprego feminino nos serviços aumentou e representa 84,3 do total do emprego das mulheres e de 61,1 do total do emprego dos homens. O diferencial de remuneração, o reduzido número de mulheres nos lugares de decisão e a dificuldade em conciliar a actividade profissional com a vida pessoal/familiar constituem obstáculos a uma igualdade que parece existir em teoria, mas cuja prática demonstra o contrário. Esta é a região do mundo que melhor se conhece por existirem mais dados estatísticos. * Colaboração do Escritório da OIT em Portugal

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CNUCED XII vai abordar impacto de tendências económicas no desenvolvimento

A CNUCED XII, que irá decorrer de 20 a 25 de Abril, em Acra, tem como tema principal "examinar as oportunidades e desafios da glo-balização para o desenvolvimento". Durante a conferência, os governos membros irão negociar e adoptar um texto contendo uma avaliação do clima internacional do desen-volvimento económico e definir o programa de trabalho da CNUCED para os próximos quatro anos. A conferência surge numa altura em que incer-tezas mundiais ameaçam o crescimento econó-mico mais prometedor do mundo em desen-volvimento nos últimos 30 anos. Nos últimos cinco anos, os países em desenvolvimento registaram um crescimento económico médio de 5% ou mais, e o panorama internacional modificou-se com o aparecimento de pesos pesados económicos fora do Ocidente indus-

trializado, entre os quais se incluem a China, a Índia e o Brasil. As perspectivas económicas mundiais dependem em grande medida de estas nações e os países em desenvolvimento com os quais mantêm relações comerciais cada vez mais intensas adquirirem um dinamismo sufi-ciente para se tornarem menos vulneráveis a abrandamentos na América do Norte e na Europa Ocidental. Um problema conexo a examinar em Acra é o aparente paradoxo de que, apesar do elevado crescimento na Ásia, América Latina e África, apenas se registaram reduções limitadas da pobreza, especialmente nos 49 países menos avançados do mundo (PMA). Uma globalização que não está a gerar níveis de vida de um modo geral mais elevados, especialmente durante um período sereno de crescimento económico, preocupa os governos e os economistas inter-nacionais, que se interrogam quanto àquilo que será necessário fazer para combater a pobreza profunda em que centenas de milhões de pes-soas continuam a viver. Levanta igualmente questões quanto à capacidade do mundo no que se refere a realizar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Uni-das, que incluem a redução da pobreza extrema para metade até 2015. O debate de alto nível que terá lugar na confe-

rência em 21 de Abril irá, por conseguinte, ser dedicado a África ("Comércio e desenvolvimen-to em prol da prosperidade de África: acção e rumo"). Estão previstas mesas-redondas sobre diversos temas, nomeadamente: “O aparecimento de um novo Sul e o comércio Sul-Sul como meio de promover a integração regional e inter-regional em prol do desenvolvimento"; "Criar um ambiente institucional conducente a um aumento do investimento estrangeiro e ao desenvolvimento sustentável"; "A utilização do conhecimento e da tecnologia em prol do desenvolvimento"; "Soluções para a gestão da dívida susceptíveis de promover o comércio e o desenvolvimento"; "Globalização, desenvolvi-mento e redução da pobreza: as suas dimen-sões social e de género"; e "Reforçar a CNU-CED: realçar o seu papel no desenvolvimento, o seu impacto e a sua eficácia institucional". Entre outros eventos que irão decorrer parale-lamente à conferência referem-se o Fórum Mundial sobre Investimento (18-21 de Abril) e o Fórum sobre a Sociedade Civil (17-25 de Abril). Para mais informações

FAO apela ao investimento para travar o aumento dos preços dos alimentos

Depois de um aumento dos preços dos alimentos de quase 40% no ano passado, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultu-ra (FAO) está a pedir aos governos e às empresas que impulsionem a pro-dução através do investi-mento. "É imprescindível que haja um ambiente institu-cional e regulamentar favorável, a todos os níveis da cadeia alimen-tar, para atrair o investi-mento privado", diz-se, numa comunicação apre-sentada ela FAO, numa conferência co-patrocinada pelo Banco Europeu de Reconstru-ção e Desenvolvimento (BERD) e realizada em Londres. "É fundamental melhorar o diálogo político entre o sector privado e os deci-sores políticos", acres-centa a comunicação.

Na conferência, líderes da agro-indústria encon-traram-se com funcioná-rios governamentais da Europa Oriental e da Comunidade de Estados Independentes (CEI), que se julga terem um enor-me potencial agrícola por explorar, especialmente a Rússia, a Ucrânia e o Cazaquistão. Nestes países, nos últi-mos anos, foram retira-dos da produção cerca de 23 milhões de hecta-res de terras aráveis e, pelo menos 13 milhões de hectares poderiam voltar a ser utilizados para fins de produção, sem custos ambientais importantes, afirma a FAO.

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A batata em foco em concurso de fotografia

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) anunciou que irá realizar um concurso mundial de fotografia destinado a salientar o papel da batata, o quarto principal produto alimentar do planeta, na luta contra a fome e a pobre-za. O concurso faz parte das actividades a realizar em 2008, no âmbito do Ano Inter-nacional da Batata. Tendo como título Focus on a Global Food (Um alimento mundial em foco), o concurso

convida os fotógrafos a captarem o espírito do Ano Internacional em imagens que ilus-trem a biodiversidade da batata, o seu culti-vo, processos de transformação a que é submetida, comercialização, consumo e utilização. "Os fotógrafos que explorarem o mundo da batata encontrarão muito material", disse NeBambi Lutaladio, funcionário da FAO e coordenador do Ano Internacional, que visa sensibilizar o mundo para as potencialidades da batata como meio de ajudar os países a realizarem os Objectivos de Desenvolvi-mento do Milénio (ODM), um conjunto de metas destinadas a reduzir a pobreza extre-ma e outros males mundiais até 2015. Patrocinado pela Nikon, o concurso inclui categorias separadas para fotógrafos profis-sionais e amadores. O prazo para a entrega de trabalhos termina em 1 de Setembro de 2008.

UN CHRONICLE –

The MDGs - Are we on track? Está disponível em linha a edição de Dezembro de 2007 de UN Chronicle

dedicada aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. De momento, é possível aceder apenas à versão inglesa

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Um novo relatório da OMS revela que o ritmo da luta mun-dial contra a epidemia de tuber-culose abrandou ligeiramente em 2006, tal como abrandaram também os progressos no diag-nóstico de pessoas que sofrem desta doença infecciosa, que não só é possível evitar como tam-bém curar. Intitulado Global Tuberculosis Control 2008, o relatório divul-gado, a 17 de Março, pela OMS afirma que se registaram 9,2 milhões de novos casos de tuberculose em 2006, dos quais 700 000 surgiram entre pessoas que vivem com o VIH e 500 000 são casos de tuberculose multir-resistente (MDR-TB). Além disso, calcula-se que, em 2006, morreram 1,5 milhões de pessoas devido à tuberculose e 200 000 pessoas que vivem com o VIH morreram devido à tuberculose associada ao VIH. Este 12º relatório anual, que contém dados até 2006, forneci-

dos por 202 países e territórios, aponta várias razões para o abrandamento verifica-do, nomeadamente o facto de alguns progra-mas eficazes a nível nacional não terem conseguido prosseguir

as suas actividades ao mesmo ritmo que em anos anteriores. Por outro lado, houve um aumento da identificação de casos de tuberculose através de programas nacionais em vários países africanos. "Entrámos numa nova era", disse Margaret Chan, Directora-Geral da OMS, que destacou a necessidade de reforçar os programas públicos e de estabe-lecer parcerias com outros fornecedores de serviços a fim de intensificar a luta contra a tuberculose. O Enviado Especial do Secretá-rio-Geral para a iniciativa "Fim à Tuberculose", Jorge Sampaio, apelou a um reforço da lideran-ça na luta contra a tuberculose e o VIH, já que a tuberculose é a principal causa de morte entre as pessoas que vivem com o VIH/SIDA. "Vários países já demonstraram que as metas estabelecidas para a tuberculose/VIH são realizá-veis e introduziram medidas que irão produzir um impacto na vida das pessoas mais expostas ao risco. Mas trata-se de uma batalha que não dá tréguas. Temos de fazer muito mais e muito melhor", disse Jorge Sampaio.

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A incidência da tuberculose resistente aos medicamentos

está a aumentar

As taxas da tuberculose multi-resistente – que leva mais tempo a

tratar e exige medicamentos mais caros que produzem efeitos secundá-rios potencialmente perigosos – atin-giram níveis sem precedentes, afirma um novo relatório da Organização Mundial de Saúde das Nações Unidas (OMS). O relatório, intitulado Anti-Tuberculosis Drug Resistance in the World, é o maior estudo jamais realizado sobre a dimensão do problema da resistência aos medicamentos e baseia-se em informações sobre 90 000 doentes que sofrem de tuberculose, recolhidas entre 2002 e 2006 em 81 países.

A OMS calcula que todos os anos surgem, no mundo inteiro, quase meio milhão de casos novos de tuber-culose multirresistente, conhecida como MDR-TB, o que representa 5% dos 9 milhões de novos casos anuais de tuberculose. "Há que atacar frontalmente a ques-tão da assistência medicamentosa à tuberculose", disse Mario Raviglione, Director do Departamento "Fim à Tuberculose" da OMS. "Se os países e a comunidade internacional não agi-rem activamente desde já, vamos perder esta batalha". O relatório identificou ainda ligações entre a infecção pelo VIH e a tubercu-lose multirresistente. Apenas seis países de África – o conti-nente com a taxa de incidência mais elevada de tuberculose no mundo inteiro – puderam fornecer dados para o relatório, pelo que a OMS faz notar que se desconhece a verdadeira dimensão do problema em algumas partes do mundo.

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Saúde Progressos lentos na luta mundial contra

tuberculose, diz relatório da OMS

Programa de Campala visa fazer face à escassez de pessoal de saúde

O Programa de Campala que pretende atenuar a grave escassez actual de pessoal de saúde, foi ontem adoptado por mais de 1500 participantes no primeiro Fórum Mundial sobre Recursos Humanos para a Saúde, organizado na capital do Uganda. “Os profissionais de saú-de são a pedra angular dos sistemas de saúde e há muito tempo que se impunham medidas. O Fórum e o Programa permitem finalmente sublinhar a importância desta questão”, sublinhou Anarfi Asamoa-Baah, Director-Geral Adjunto da Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo um comunicado publicado ontem, em Campala. O Fórum, cujos trabalhos terminam hoje, reuniu doadores, peritos e mais de trinta ministros da saúde, educação e finan-

ças, que assinaram a Declaração de Campala. O Programa de Campala pede claramente a todos os países que estabeleçam como prioridade absoluta a formação e o recruta-mento de profissionais de saúde em número sufi-ciente e que lhes sejam oferecidos mais incentivos e melhores condições de trabalho de modo a evitar que sejam tentados a expatriar-se. Segundo a OMS, faltam mais de quatro milhões de profissionais de saúde no mundo. Mais de 57 países são confrontados com uma grave escassez de efectivos, nomeada-mente na África Subsaria-na, onde falta um milhão.

Numa altura em que, todos os dias, mais de 1100 crianças são infectadas pelo VIH, as organizações das Nações Unidas apelaram aos países para que intensifiquem os seus esforços no sentido de impedir a transmissão mãe-filho do vírus. No final de uma reunião mundial de três dias sobre o VIH/SIDA, que decorreu em Washington, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Mundial de Saúde das Nações Unidas (OMS), juntamente com a Elizabeth Glaser Paediatric AIDS Foundation, lançaram um apelo conjun-to às autoridades para que intensifiquem a protecção das mulheres e das crianças. "Uma geração sem SIDA já não é um ideal inatingível – pode ser uma realidade", disse Jimmy Kolker, Chefe da Secção UNICEF para o VIH. "Já sabemos o que fazer para impedir a transmissão do VIH das mães para os filhos. Os governos e os doadores devem agir des-de já para intensificar os serviços de preven-

ção da transmissão mãe-filho". As mulheres representam metade de todos os casos novos de infecção pelo VIH do mundo e 90% de todos os novos casos de infecção de crianças devem-se à transmissão mãe-filho. Contudo, existe uma disparidade nítida entre os países de rendimento elevado e os de rendimento baixo no que se refere à preven-ção da transmissão e ao tratamento pediátri-co do VIH. Nos países mais ricos, o número de crianças que nascem com o VIH baixou para menos de 2% graças à expansão dos serviços de prevenção da transmissão, ao passo que nos países mais pobres, 9 em cada 10 mulheres grávidas seropositivas não rece-bem os medicamentos necessários para impedir a transmissão.

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Países têm de fazer mais para proteger as mães e os seus filhos contra o VIH/SIDA

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Este ano, a ONU celebrou o Dia Mundial da Água (22 de Março) a 20 de Março. O principal evento teve lugar em Genebra, mas em Nova Iorque o PNUD e a UNICEF organi-zaram um evento sobre o saneamen-to, o tema da celebração este ano. Calcula-se que, no mundo inteiro, todos os anos morram 1,5 milhões de crianças devido à diarreia, por não terem acesso a uma retrete nem a água limpa. Isto significa que, de 20 em 20 segundos, uma criança morre vítima de doenças associadas à falta de saneamento e de água limpa. Ajudar essas crianças não significa apenas reduzir o número de mortes – é também uma maneira de prote-ger o ambiente, atenuar a pobreza e promover o desenvolvimento, afirma o Secretário-Geral. As questões

relacionadas com a água estão na base de grande parte do trabalho das Nações Unidas em zonas onde o saneamento consti-tui um problema. Há uma série de problemas de saú-de e de desenvolvimento,

como a malária ou a tuberculose, o aumento dos preços dos alimentos e a degradação ambiental que muitas vezes têm como denominador comum a água. Lembrando que os dirigentes mun-diais que adoptaram os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) se propuseram reduzir para metade, até 2015, a proporção de pessoas sem acesso a condições de saneamento básico, o Secretário-Geral Ban Ki-moon reconhece, na sua mensagem, que se têm registado progressos neste dominio, mas afir-ma que os avanços têm sido dificulta-dos sobretudo pela falta de vontade política, embora também pelo cresci-mento demográfico, a pobreza gene-ralizada e o investimento insuficiente.

Respostas da natureza ao desafio do saneamento

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l Quase dois terços dos africanos

não têm acesso a saneamento adequado

Mais de 60% dos africanos não têm acesso a uma retrete, dizem a Organização Mundial de Saúde das Nações Unidas (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). "O saneamento é a pedra angu-lar da saúde pública", afirma Margaret Chan, Directora-Geral da OMS. "O melhoramento das estruturas de saneamento con-tribui enormemente para a saúde e bem-estar humanos, sobretudo no caso das raparigas e das mulheres". Dos 2,6 mil milhões de pessoas

que não têm uma retrete em sua casa, quase mil milhões são crianças. Os dois organismos calculam que 1,2 mil milhões de pessoas passaram a ter acesso a melhores estruturas de sanea-mento entre 1990 e 2004, mas, ao ritmo actual, em 2015 haverá ainda 2,4 mil milhões de pessoas sem acesso a saneamento bási-co. "A ausência de estruturas de saneamento adequadas tem graves repercussões na saúde e no desenvolvimento social", frisou Ann M. Veneman, Direc-tora Executiva da UNICEF. Acrescentou que um apoio acrescido ao melhoramento das estruturas de saneamento per-mitirá salvar vidas e acelerar a consecução dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), oito objectivos de luta contra pobreza que devem ser realizados até 2015.

Dia Mundial da Água – “O saneamento é importante”

A poluição gerada pelas águas residuais, grande parte das quais acaba por ir dar ao litoral e misturar-se com as águas costeiras, conduz a perdas económicas da ordem dos 16 mil milhões de dóla-res por ano e está na origem da perda de quatro milhões de "homens-ano" devido à falta de saúde, disse Achim Steiner, Director Executivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), numa mensagem por ocasião do Dia Mundial da Água . "Em muitos países em desen-volvimento, parte da solução adoptada nos últimos cin-quenta anos tem consistido em instalações de tratamento de águas cada vez mais sofis-ticadas, que custam muitos milhões de dólares".

Mas, tal como demonstram projectos como o da prisão de Shimo la Tewa, em Mom-baça, uma cidade na costa do Quénia, existem soluções menos dispendiosas para o problema, que são benéficas por outras razões, observou Achim Steiner. "Espera-se que as lições aprendidas possam ser aplica-das a outras partes do mun-do, de modo que os múlti-plos desafios do saneamento e da poluição possam em parte ser vistos através das lentes da natureza", observou Achim Steiner. "Trabalhar com a natureza e não contra ela faz parte de um processo de tomada de decisões inteligentes que talvez se venha a revelar uma maneira mais rápida, mais eficaz em termos de custos e economicamente mais atraente de alcançar as metas locais e internacionais em matéria de saúde e de pobre-za".

Europa: mais de 100 milhões de habitantes sem acesso a água potável, segundo Comissão Económica para Europa

Mais de 100 milhões de europeus carecem de acesso a água potável, informou a Comissão Económica para a Europa das Nações Unidas (ECE), para a qual o risco de propa-gação de doenças por meio da água é um motivo de preocupação. “Na região pan-europeia, morrem 37 crianças de diarreia, todos os dias, devido à falta de acesso a água potável”, diz um comunicado divul-gado, a 14 de Março, em Genebra. Na Europa Oriental, 16% da popu-lação não tem acesso a água potável em casa. Na Europa Ocidental, a tomada de consciência dos desafios que as alterações climáticas repre-sentam para o ambiente leva os países a preocuparem-se com o aparecimento de doenças. Sob os auspícios da Comissão Eco-nómica para a Europa e do gabinete regional da Organização Mundial de

Saúde (OMS) para a Europa, foi criado o Comité de Controlo e de Aplicação, a fim de supervisionar a adesão ao Protocolo de Londres sobre Água e Saúde da Convenção sobre a Protecção e a Utilização dos Cursos de Água Transfronteiri-ços e dos Lagos Internacionais. O Protocolo visa promover o aces-so a água potável, considerado como um direito humano funda-mental. O Comité, constituído por nove peritos independentes, reuniu, pela primeira vez, a 12 de Março. Pre-tende velar pela prevenção, contro-lo e redução das doenças de vector hídrico, o que significa aumentar o acesso a água potável e saneamento nos 56 países que compõem a região.

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l Comunidades necessitam de serviços

meteorológicos mais sofisticados

Os governos, as empresas e o público em geral necessitam que os seus serviços meteorológicos nacionais lhes prestem informação mais porme-norizada, a fim de se pode-rem preparar convenien-temente para as catástro-fes naturais e adaptar-se melhor às ameaças das alterações climáticas, disse Michel Jarraud, Secretário-Geral da Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (OMM). Michel Jarraud disse num workshop em Cabo Verde que "é fundamental com-preender melhor as liga-ções entre a protecção ambiental e o desenvolvi-mento sustentável". Acrescentou que a econo-

mia mundial se está a tornar cada vez mais sensí-vel às oscilações meteoro-lógicas e do clima e aos fenómenos relacionados com a água. As alterações climáticas, a competição pela água, a destruição da camada de ozono e o impacto da desertificação significam que é necessário os países terem acesso à melhor informação dispo-nível. "A maioria dos sectores da economia, todos eles extremamente relevantes para as nossas sociedades, têm também expectativas maiores e estão a exigir mais em termos de servi-ços novos e mais sofistica-dos", afirmou Michel Jar-raud. Para mais informações

Glaciares do mundo estão a fundir-se a um ritmo sem precedentes, diz a ONU

Perante o ritmo sem precedentes a que os glaciares do mundo – uma fonte de água fundamental para milhões, se não milhares de milhões de pessoas no mundo inteiro – se estão a fundir, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) apelou aos países para que cheguem a acordo sobre um novo pacto de redução das emissões. Segundo o Serviço Mundial de Monitoriza-ção dos Glaciares (WGMS), apoiado pelo PNUA, dados relativos a 30 glaciares de referência situados em nove cadeias mon-tanhosas mostram que, entre os anos de 2004-2005 e 2005-2006, o ritmo médio de fusão mais do que duplicou. Aquele serviço, baseado na Universidade de Zurique, na Suíça, tem vindo a acompa-nhar a evolução dos glaciares há mais de cem anos e observou que, entre 1980-1999, a perda média de gelo foi de 0,3

metros por ano, em comparação com 0,5 metros por ano a partir do início do novo milénio. "Os dados mais recentes inserem-se naqui-lo que parece ser uma tendência para a qual não se antevê um fim", disse Wilfried Haeberli, Director do WGMS. Em média, um metro de "equivalente água" corresponde a uma espessura de gelo de 1,1 metros, o que sugere que, em 2006, se terá registado uma redução real de 1,5 metros, e, desde 1980, calcula-se que a redução total da espessura do gelo tenha sido de um pouco mais de 11,5 metros. "Há muitos canários a dar o alarme na mina de carvão das alterações climáticas", disse Achim Steiner, Director Executivo do PNUA. "O sinal de alarme dos glaciares é talvez o que está a soar mais alto e é absolutamente essencial que todas as pes-soas prestem atenção". 2009 será um ano crucial, e a "prova dos nove" será em Copenhaga, na Dinamarca, onde deverão ficar concluídas as negocia-ções sobre um acordo destinado a substi-tuir o Protocolo de Quioto, disse Steiner.

Para mais informações

FAO solicita dados sobre as florestas mundiais para estudo mais pormenorizado de sempre

A fim de traçar o panora-ma mais completo de sempre sobre o estado das florestas do planeta, que cobrem 30% da super-fície terrestre e são um factor vital para atenuar as alterações climáticas, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) lan-çou um apelo no sentido de lhe serem fornecidos dados precisos. "Um apoio mais forte por parte dos países e os avan-ços das tecnologias da comunicação tornarão a próxima avaliação mundial dos recursos florestais – Global Forest Resources Assessment - a mais com-pleta e fiável jamais realiza-da", disse Jan Heino, do Departamento de Flores-tas da FAO, referindo-se à avaliação que irá publicar em 2010. O último estudo foi prepa-rado com a ajuda de mais de 800 pessoas, distribuí-das por equipas espalhadas por 172 países, e, desta vez, é provável que o número seja ainda maior.

Iniciado há mais de 60 anos, o processo do Global Forest Resources Assessment fornece informação sobre a dimensão das florestas existentes, a forma como estão a ser geridas e as causas das perdas regista-das, afirma a FAO. A cobertura florestal mun-dial representa um pouco menos de 4 mil milhões de hectares. Embora a taxa de perda líquida de flores-tas tenha diminuído nos últimos anos, o mundo continua a perder aproxi-madamente 200 km2 de floresta por dia, segundo dados da FAO. Para além de gerar infor-mação sem precedentes sobre a desflorestação, a plantação de novas flores-tas e a expansão natural das florestas, o novo estu-do debruçar-se-á sobre as utilizações dos solos que estão a substituir as flores-tas e o papel que estas desempenham em relação às alterações climáticas, diz a organização. Para mais informações

A campanha "Passaporte Verde" lançada na Feira Internacional de Turismo de Berlim visa reduzir a pegada ecológica dos turistas, diz o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA). O objectivo da campanha em linha con-siste em sensibilizar os turistas para a sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento sustentável fazendo escolhas responsáveis sobre os locais onde vão passar férias. "Juntar um Passaporte Verde aos bilhe-tes de avião, ao fato de banho e à loção solar, ao partir para férias, significa que os turistas já não precisam de deixar em

casa as suas credenciais ecológicas e podem incluí-las nas melhores férias da sua vida", disse Achim Steiner, Director Executivo do PNUA. Acrescentou que o turismo tem grandes potencialidades em termos de desenvolvimento, pois é a maior indústria do mundo. "O desafio consiste em gerir este cres-cimento [do turismo] de uma maneira sustentável", disse Steiner, que subli-nhou que os governos têm um papel fundamental a desempenhar, mas que os indivíduos e as suas famílias também podem contribuir com a forma como preparam e passam as suas férias. O sítio Web do Passaporte Verde contém muitas sugestões, e a campanha procura, nomeadamente, levar os turis-tas a escolherem fornecedores de servi-ços responsáveis, reduzirem o consumo de energia durante a viagem e nos hotéis, e comprarem lembranças que sejam produzidas localmente e ecológi-cas.

Para mais informações

PNUA lança campanha "Passaporte Verde"

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e Órgão Internacional de Controlo de Estupefacientes lança Relatório Anual

O Director Executivo do Gabinete das Nações Unidas para a Droga e a Crimina-lidade (UNODC) pediu urgentemente medidas para corrigir o “problema de imagem” da acção mundial em matéria de controlo de drogas, que, na sua opinião, tende a incidir mais na dimensão criminosa do que nas questões relacionadas com a saúde. Usando da palavra na 51ª. Sessão da Comissão de Estupefacientes das Nações Unidas, em Viena, Antonio Maria Costa disse que é altura de ir mais além de con-ter o problema e de avançar na luta con-tra o abuso de drogas. “O controlo de drogas tem um problema de imagem: demasiados crimes associados

às drogas; demasiadas pessoas em prisões e demasiado poucas em serviços de saúde; demasiado poucos recursos para a pre-venção, o tratamento e a reabilitação; demasiada erradicação de culturas ilícitas de drogas e demasiado pouca erradicação da pobreza”, disse no seu discurso. Apontou vários êxitos na acção mundial contra os estupefacientes, nomeadamente o facto de o abuso de drogas ilícitas ter sido contido, afectando menos de 5% da população adulta do planeta, em compara-ção com uma percentagem cinco a seis vezes superior de dependentes do tabaco ou do álcool. Além disso, o cultivo de drogas sofreu uma grande redução, excepto no Afeganis-tão, e a adesão ao regime internacional de controlo de drogas é praticamente univer-sal, disse. Antonio Costa, para quem é preciso ir mais além da dimensão criminosa do pro-blema, sublinhou a necessidade de dar mais importância à saúde. “Há provas científicas de que a toxicodependência é uma doença que pode e deve ser tratada.

Não há debates ideológicos sobre a cura do cancro ou da diabetes; a esquerda e a direita não estão divididas quanto à neces-sidade de tratar a tuberculose ou o VIH. Então por que razão há posições políticas contrárias acerca de drogas?” Em primeiro lugar e acima de tudo, os países devem impedir e tratar o abuso de drogas, frisou. É também crucial aumentar o financiamento de projectos agrícolas, para dar aos agricultores meios de subsis-tência alternativos à produção de cannabis, coca e ópio, disse, acrescentando que a erradicação da pobreza deve estar estrei-tamente ligada à erradicação das culturas para a produção de drogas. Apelando a acções ao nível das comunida-des com vista a ajudar a combater o abuso de drogas, instou a sociedade civil e os meios de comunicação social a boicotarem as casas de moda, empresas discográficas e firmas que contratam “celebridades que se orgulham da sua dependência, em vez de se envergonharem dela”.

Os esforços em prol do controlo de drogas deveriam centrar-se mais na saúde do que no crime

O OICE publicou o seu relatório anual a 5 de Março. Na mensagem distribuída por ocasião do lançamen-to, o Presidente do Órgão, Dr. Philipp O. Emafo, afirma que uma análise do problema mundial da droga revela dois novos fenómenos, particularmen-te preocupantes. “Em primeiro lugar, as organizações criminosas estão a aproveitar as lacu-nas apresentadas em África e na Ásia Ocidental pelos sistemas de controlo de produtos químicos utilizados no fabrico ilícito de drogas e a criar, nestas regiões, placas giratórias do

tráfico desses produtos”, disse. Como segundo motivo de preocupação apontou o estabelecimento de rotas de tráfico de cocaína entre a América do Sul e a África. Neste contexto, recomendou que os países afectados por estes fenómenos adoptassem medidas apropriadas para evitar que o seu território se tornasse um centro de actividades criminosas, acres-centando que poderiam ser “ajudados por países mais ricos, num espírito de responsabilidade comum”. Dez anos após a adopção da Declaração dos Princípios Orientado-res para a Redução da Procura de Droga, pela Assembleia Geral da ONU, é, segundo o Dr. Phillip Emafo, altura de reflectir sobre os investimentos feitos pelos governos para reduzir a procura.

“Embora muitos governos tenham desenvolvido esforços importan-tes, muito há ainda a fazer”, afirmou, exortando os governos a reco-nhecer que a redução da procura ilícita e, ao mesmo tempo, a da oferta ilícita são “complementares e se reforçam mutuamente”. O Presidente do OICE sustenta que afirmar que a legalização das drogas “resolveria” o problema mundial da droga é ignorar os factos históricos. Lembra que os primeiros controlos internacionais de estupefacientes, introduzidos em 1912, ajudaram a atenuar o flagelo da dependência do ópio em vários países da Ásia e, cerca de 60 anos depois, a adesão à Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, contribuiu para uma queda importante do abuso dessas substâncias. Daí que as propostas de legalizar o consumo de drogas ilícitas lhe pareçam “simplistas e deslocadas”. Sublinhando que não há soluções fáceis que permitam resolver rapidamente o problema da droga, defende: “Os governos deveriam continuar a lutar contra o abuso de drogas e o tráfico ilícito, de uma maneira global, sustentada e concertada, pois é essa a solução para o problema mundial da droga. Cruzar os braços e nada fazer não é uma opção aceitável”.

Report of the International Narcotics Control Board for 2007 (texto integral; em inglês)

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Portugueses e a ONU *

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Tanto a nível nacional, como a nível regional ou mesmo universal os direitos económicos, sociais e culturais têm sido tratados como os “parentes pobres” dos direitos humanos. Com efeito, se é verdade que existem, por exemplo, no seio das Nações Unidas sistemas de queixas ou comunicações individuais em situações de alegadas viola-ções de direitos civis e políticos desde 1966, o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC) encon-tra-se desprovido de qualquer mecanismo que permita aos particu-lares queixarem-se por violações de qualquer um dos direitos con-sagrados no tratado. Assim, se é certo que existem actualmente no plano internacional várias possibilidades de apresentação de comunicações em casos de tortura, prisão arbitrária, violação dos direitos à liberdade de expressão ou religião, já nos casos em que

“a vítima sofre ‘simplesmente’ de má-nutrição crónica, de falta de habitação, de cuidados de saúde seriamente desadequados ou de uma falta total de oportunidades educativas ou de uma combinação de todos estes fenómenos, então já não existe qualquer direito de petição a nível internacional“. (2)

Por conseguinte, e praticamente desde a adopção do PIDESC, têm sido desenvolvidos esforços no seio da ONU para colmatar esta lacuna. Estes esforços culminaram na criação de um Grupo de Tra-balho destinado a estudar opções relativas à elaboração de um protocolo facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos Eco-nómicos, Sociais e Culturais, o qual já reuniu duas vezes – uma em 2004 e outra em 2005. (3) A primeira sessão do Grupo de Trabalho realizou-se em Genebra entre os dias 23 de Fevereiro e 5 de Março de 2004. No primeiro dia da reunião foi eleita por unanimidade, e no seguimento de uma proposta do WEOG (4), a signatária como Presidente-Relatora do Grupo de Trabalho. Desde então que o mandato do Grupo de Trabalho foi renovado duas vezes (por dois anos cada). Em 2005, na segunda sessão do

Grupo de Trabalho, que contou com a participação e uma interven-ção pela Alta Comissária para os Direitos Humanos, Louise Arbour (5), um grande número de delegações concluiu que o debate em torno das opções para um protocolo facultativo deveria forçosa-mente levar à conclusão da necessidade de ser negociado e adopta-do um protocolo contendo um sistema de comunicações para casos de alegadas violações dos direitos consagrados no Pacto (6). Por outro lado, um número bastante mais reduzido de cinco países (7) declarou-se hesitante e “ainda por convencer” relativamente ao facto de um protocolo facultativo vir melhorar a implementação dos direitos económicos, sociais e culturais, tendo havido um único país que se declarou claramente contra um protocolo facultativo afirmando que um mecanismo dessa natureza seria simplesmente “caro e ineficiente”(8). No último dia de debate o GRULAC (9) solici-tou formalmente à Presidente que “elaborasse um documento com elementos para um protocolo facultativo com vista a facilitar uma discussão mais centrada na terceira sessão do grupo de trabalho”. A apresentação deste Documento com Elementos, foi precedida de uma reunião de reflexão estratégica com eminentes peritos na área dos direitos económicos, sociais e culturais, oriundos dos cinco continentes e cobrindo todos os Grupos Regionais da ONU. O Documento, intitulado “Elementos para um Protocolo Facultati-vo ao PIDESC”, da Presidente-Relatora” (10) foi debatido na 3.ª Ses-são do Grupo de Trabalho, realizada em inícios de 2006, tendo efectivamente permitido centrar as discussões, clarificar as princi-pais questões debatidas nas últimas sessões e identificar os elemen-tos constitutivos de um futuro protocolo facultativo ao Pacto Inter-nacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais. Com base no referido documento, o Grupo de Trabalho discutiu ques-tões como o futuro mecanismo de queixas, o âmbito dos direitos cobertos pelo referido mecanismo, os critérios de admissibilidade das queixas, o procedimento de inquérito, o procedimento de quei-xas inter-estatais, cooperação e assistência internacionais, o relacio-namento de um protocolo com outros procedimentos existentes, os custos de um protocolo facultativo e o futuro impacto de um protocolo facultativo (11).

(continua na página 19)

1.Presidente-Relatora do Grupo de Trabalho das Nações Unidas encarregue de redigir um Protocolo Facultativo ao Pacto sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais, Pro-fessora Auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa, Consultora da UNICEF e Jurista no Gabinete de Documentação e Direito Comparado da Procuradoria-Geral da República. 2.Fon Coomand e Fried van Hoof, Prefácio de “The right to complain about economic, social and cultural rights: proceedings of the expert meetig on the adoption of an optional protocol to the interntional covenant on economic, social and cultural rights held from 25-28 January 1995 in Utrecht”, SIM special n.º 18. 3.Resolução da Comissão de Direitos Humanos 2003/18, Parágrafo 12. 4.WEOG é o acrónimo de Western European and Other States, que é um dos grupos regionais da ONU, composto por 26 Estados. 5.O texto do discurso da Alta Comissária encontra-se disponível em http://www.unhchr.ch/huricane/huricane.nsf/view01/ECAE2629449C1EBCC1256F8C0035047D?opendocument 6.Vide a lista dos países que defenderam esta posição no parágrafo 101 do documento E/CN.4/2005/52. 7.Vide a lista dos países que defenderam esta posição no parágrafo 103 do documento E/CN.4/2005/52. 8.Vide parágrafo 104 do documento E/CN.4/2005/52. 9.GRULAC é o acrónimo de Grupo da América Latina e Caraíbas, que é um dos grupos regionais da ONU, composto por 33 países. 10.O Documento Analítico encontra-se no documento E/CN.4/2006/WG.23/2, disponível em http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/G05/164/64/PDF/G0516464.pdf?OpenElement 11.O relatório da 3.ª Sessão do Grupo de Trabalho encontra-se no documento E/CN.4/2006/47, disponível em http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/G06/118/75/PDF/G0611875.pdf?OpenElement

Queixas à ONU por violações de direitos económicos, sociais e culturais? Catarina de Albuquerque (1)

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12.O projecto de protocolo encontra-se no documento A/HRC/6/WG.4/2, disponível em http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/G07/126/24/PDF/G0712624.pdf?OpenElement. 13.O texto encontra-se no documento A/HRC/8/WG.4/2, disponível em http://www2.ohchr.org/english/issues/escr/documents_5.htm. 14. A terceira versão do projecto encontra-se no documento A/HRC/8/WG.4/3 e está disponível em http://www2.ohchr.org/english/issues/escr/docs/A_HRC_8_WG.4_3.doc. 15. Statement by Ms. Louise Arbour, United Nations High Commissioner for Human Rights on the opening of the 61st session of the Commission on Human Rights (Geneva, 14 March 2005) (tradução da autora).

Quatro meses após a 3.ª Sessão do Grupo de Trabalho, o Conselho de Direitos Humanos da ONU decidiu, na sua primeira Sessão, renovar o mandato do Grupo de Trabalho, tendo-o expressamente autorizado a dar início ao trabalho de negociação de um protocolo e igualmente solicitado à sua Presidente que elaborasse um primeiro ante-projecto de Protocolo, com vista a permitir um maior avanço das negociações e discussões. Novamente a Presidente convocou uma reunião de emi-nentes peritos internacionais em Portugal, durante a qual foi discutido o ante-projecto de protocolo. O projecto de protocolo foi então submetido às Nações Unidas em Abril de 2007 (12). A 4.ª Sessão do Grupo de Trabalho decorreu em Julho de 2007, tendo na primeira metade da mesma sido completada uma leitura integral do texto. Na segunda semana foi aprofundada a discussão dos artigos que levantavam mais dificuldades para as delega-ções ou que foram pelas mesmas classificados como sendo “cruciais”. Durante a reunião de Julho a Presidente sugeriu que os 10 dias de reu-nião que compunham a 5.ª Sessão fossem divididos em duas partes: uma em Fevereiro e outra em Março/ Abril de 2008 – proposta essa que foi acolhida pelos Estados Membros do Grupo de Trabalho. Assim, e com vista a preparar a 1.ª Parte da 5.ª Sessão, a Presidente submeteu – a 24 de Dezembro de 2007 - uma versão revista do projec-to de Protocolo, a qual foi discutida entre os dias 4 e 8 de Fevereiro de 2008 (13).

No momento de redacção deste artigo estamos precisamente a 12 dias do início da 2.ª Parte da 5.ª Sessão do Grupo de Trabalho. A Presidente preparou entretanto uma 3.ª versão do projecto de protocolo (14) a qual servirá de base à reunião de 31 de Março a 4 de Abril. O avanço dos trabalhos, bem como o crescente apoio ao projecto de protocolo por parte de uma vasta maioria de Estados Membros da ONU, fazem esperar que as negociações possam ser concluídas no próximo mês de Abril. Poder-se-á então tornar realidade a aspiração expressa pela Alta Comissária para os Direitos Humanos na sessão da Comissão de Direitos Humanos de 2005 no sentido de que

«possa ser alcançado brevemente um acordo que permita a entrada em vigor de um Protocolo Facul-tativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais que venha criar um procedimento legal possibilitando que os particula-res apresentem as suas queixas perante um fórum internacional naquelas situações em que as vias de recurso internas tenham sido julgadas insuficien-tes»(15),

permitindo assim dotar os direitos enunciados no Pacto de significado prático para as centenas de milhões de cidadãos que ainda não benefi-ciam das cláusulas do mesmo.

Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC

Portugueses e a ONU * (continuação)

Combating Illicit Trafficking in Nuclear and Other Radioactive Material (IAEA)

http://www-pub.iaea.org/MTCD/publications/PDF/pub1309_web

Green Jobs: towards sustainable work in a low–carbon world http://www.unep.org/civil_society/PDF_docs/Green-Jobs-Preliminary-Report-18-01-08.pdf

UNEP Resource Kit

http://www.unep.org/tools/

World Food Situation Portal (FAO) http://www.fao.org/worldfoodsituation/

World Urbanization Prospects: The 2007 Revision - Highlights (DESA report) http://www.un.org/esa/population/publications/wup2007/2007WUP_Highlights_web.pdf

Human Rights Special Procedures: Facts and Figures 207 (OHCHR)

http://www2.ohchr.org/english/bodies/chr/special/docs/SP2007FactsFigures.pdf

OHCHR publications http://www.ohchr.org/EN/PublicationsResources/Pages/Publications.aspx

Pode encontrar estas e muitas outras informações úteis no Boletim da Biblioteca do UNRIC

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UM OLHAR SOBRE A ONU *

Refugiados da fome ou o direito à alimentação

* Os artigos publicados nesta secção expressam exclusivamente os pontos de vista da autora, não devendo ser interpretados como reflectindo a posição da ONU.

A fome regressou em força ao centro das preocupações do sistema das nações unidas. Nos últimos dias têm-se multiplicado ape-los ao reforço das contribuições dos países desenvolvidos para organismos como o Programa Alimentar Mundial para fazer face ao aumento do preço dos alimentos de base, como trigo, milho e arroz, que nos últimos seis meses chegaram a aumentar 50% ou mais.

Ban Ki-moon, ao retratar o novo rosto da fome no mundo, alerta para que a ameaça da fome e da malnutrição está a aumentar, colocando em risco os milhões de pessoas mais vulneráveis, desencadeando tumultos causados pela falta de alimentos e gerando níveis de insegurança alimentar incompor-táveis para democracias frágeis.

São multifacetadas as causas para este esta-do actual e vão desde a degradação ambien-tal até às regras do comércio internacional, passando por factores internos como a assi-métrica distribuição dos rendimentos e dos alimentos dentro do país, aquilo que alguns chamam a arma da fome.

Esta insegurança alimentar resulta de e numa violação sistemática dos direitos eco-nómicos dos povos, do seu direito à alimen-tação. No site do Relator Especial das Nações Unidas para o Direito à Alimenta-ção, Jean Ziegler, podemos encontrar um conjunto de omissões e acções que os governos deverão acolher para garantirem o direito à alimentação das suas populações: não deverão agir de forma a causarem um aumento dos níveis de fome, de insegurança alimentar e malnutrição, deverão proteger as suas populações das acções de outros que possam violar o direito à alimentação e deverão aplicar os recursos disponíveis para a erradicação da fome.

O direito à alimentação ficou definido no Comentário Geral N.º 12 do Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais como o “direito de todos os homens, mulhe-res e crianças individualmente e em comu-nidade com outros terem acesso físico e económico, em todos os momentos, a uma alimentação adequada ou aos meios para a adquirirem de uma forma consistente com a dignidade humana.”

Quando isto não acontece aumenta a insta-bilidade interna, geram-se conflitos causa-dos pela disputa pelo controlo do acesso a recursos e à distribuição dos alimentos e a tensão transbordará, em última instância, para os países vizinhos. Força dos fluxos de emigração e de refugiados económicos, a comunidade internacional no seu todo será também afectada na sua ordem e funciona-mento. Como diz António Guterres, “[e]m certos lugares de chegada, é cada vez mais difícil distinguir os migrantes económicos dos refugiados que fugiram a guerras e perseguições.”

A utilização corrente da expressão refugia-do da fome, que se popularizou com uma velocidade vertiginosa, ao ritmo do aumen-to do número de pessoas com fome, levanta a especulação em torno da operacionaliza-ção de um tal conceito.

De acordo com a Convenção de 1951 sobre Refugiados, um refugiado é uma pessoa que receando com razão ser perseguida em vir-tude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das suas opiniões políticas, se encontre fora do país de que tem a nacionalidade e não possa ou, em virtude daquele receio, não queira pedir a protecção daquele país; ou que, se não tiver nacionalidade e estiver fora do país no qual tinha a sua residência habitual após

aqueles acontecimentos, não possa ou, em virtude do dito receio, a ele não queira vol-tar.

Na mesma esteira dos que reivindicam a existência de refugiados ambientais, que terão sido levados a deixar o seu país graças ao impacto da degradação ambiental que os impede de usufruírem de uma vida livre de necessidade e em dignidade, os refugiados da fome seriam aqueles que são forçados a deixar o seu país pela violação sistemática dos seus direitos económicos, sociais e culturais, nomeadamente o seu direito à alimentação. Serão pessoas que receiam pela sua própria vida e que não podem pedir protecção ao país de onde são nacionais pois é esse país que activa ou negligente-mente não lhes provoca a fome. Resta-lhes, à semelhança dos que fogem por pertence-rem a determinada raça, religião, grupo social ou político, sair do seu próprio país e procurar a protecção de outro.

Este exercício é, por agora, um exercício puramente académico de teorização tentati-va desprovida de qualquer rigor. Não existe tal definição. Nem existe sequer vontade política de assumir que a fome é usada como arma e que é algo mais que uma espé-cie de infelicidade que se abate sobre alguns. A fome e a pobreza são causas de conflito. Há consenso em torno desta ideia. A fome e a pobreza ameaçam a vida das pessoas que temendo por ela fogem dos seus países e essas pessoas não são migran-tes económicos, são na acepção humanista do termo, refugiados da fome.

Mónica Ferro Docente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

A ONU e a UE (http://www.europa-eu-un.org/)

EU Presidency Statement - United Nations First Committee: Measures to Eliminate International Terrorism (6 de Março)

http://www.europa-eu-un.org/articles/en/article_7768_en.htm

EU Presidency Statement - United Nations 4th Committee: Special Committee on Peacekeeping Operations (C34) (10 de Março) http://www.europa-eu-un.org/articles/en/article_7777_en.htm

Empowering women: the key to development (13 de Março)

http://www.europa-eu-un.org/articles/en/article_7784_en.htm

EU Presidency Statement - United Nations Security Council: Debate on the situation in Afghanistan (17 de Março) http://www.europa-eu-un.org/articles/en/article_7788_en.htm

EU Presidency Statement - United Nations General Assembly: Strengthening of the Department of Political Affairs (18 de Março)

http://www.europa-eu-un.org/articles/en/article_7791_en.htm

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O AMBIENTE EM PERSPECTIVA*

O Mar: a nossa 2ª Terra?

* Esta coluna é da responsabilidade do GEOTA. Os artigos nela publicados expressam exclusivamente os pontos de vista do autor, não devendo ser interpretados como reflectindo a posição da ONU

No dia 22 de Março assinala-se o Dia Mundial da Água. E embora as comemorações se estabeleçam, em regra, em torno da defesa da qualidade da água dos rios e de outras massas de água doce, nenhu-ma razão há para excluir a celebração da importân-cia das massas de água... salgada. De facto, o nosso planeta encontra-se coberto por oceanos em mais de dois terços da sua superfície, e por paradoxal que pareça, a esmagadora maioria das espécies da Terra habitam no mar. Há países, pequenos em termos continentais, que são imen-sos quando considerados os seus domínios maríti-mos. Portugal é um deles: possui uma área marinha 18 vezes superior à terrestre (a maior da União Europeia) e poderá alargar mais o equivalente a duas vezes e meia da área continental se apresen-tar junto das Nações Unidas provas convincentes do redesenho da plataforma continental em redor da ZEE do continente e da Madeira. Os olhares comuns de uma nova economia global, assolada pela escassez dos recursos naturais ter-restres, aliada a uma realpolitik geoestratégica, impulsionada pela necessidade de dar vazão às massas de desempregados que povoam vastas áreas dos continentes, viram-se agora para o mar, visando a exploração mais intensiva dos seus

recursos. Não apenas através das actividades mais tradicionais, como a pesca que, por se estar a realizar de forma excessiva, poderá entrar em colapso a breve trecho (pelo menos se não se moderar o esforço de sobre-pesca, em particular a de arrasto de fundo - autêntica lavra depredatória dos habitats em alto mar). Ou das actividades que se mantém “em crescendo”, como o comércio por via marítima – os portos, a indústria naval e os transportes marítimos, que continuam a ser com-petitivos fundamentalmente por serem baratos, dado não internalizarem convenientemente os custos da poluição, não só das águas mas do ar (grande parte da poluição atmosférica que atinge a faixa costeira continental provém do tráfego marí-timo de longo curso). Mas também das mais recen-tes, como as do turismo ou da energia eólica off-shore. E “ainda” as emergentes, como as da biotec-nologia, incluindo a produção de biocombustíveis com algas marinhas, ou das energias renováveis, com realce para a energia das ondas. Um autêntico “mar de oportunidades”, dir-se-ia: mas importa saber até que ponto é que estaremos em vias de “matar a galinha dos ovos de ouro”. Se deixarmos que cada uma das actividades se desen-volva sem restrições, rapidamente se violarão os limites da sustentabilidade. As poderosas frotas pesqueiras de países como a Rússia, o Japão ou a Espanha, que já são os maiores responsáveis por colocar muitas das espécies comerciais à beira da extinção, continuarão a destruir a biodiversidade marinha. Mais e mais navios transportarão cargas perigosas, como produtos químicos, petróleo bruto e derivados, e (como se os acidentes já não fossem motivo suficiente de preocupação) muitos continuarão a efectuar descargas “operacionais” em alto mar, como as que resultam de lavagem de tanques, de onde provém a maioria dos hidrocar-bonetos que poluem as águas marinhas. O turismo dito ecológico aumentará a perturbação sobre as espécies apetecíveis para o whale-watching e deriva-

dos e incentivará a construção no litoral ou em paradisíacas ilhas artificiais. As costas ficarão peja-das de milhares de “ventoinhas” gigantes... e por aí fora. Para conhecer os limites da sustentabilidade dos recursos marinhos é necessário conhecer mais sobre aquilo que se pretende explorar. E é certo que, em matéria de recursos marinhos e do ecos-sistema que os suporta, ainda sabemos muito pouco. Os subsídios que são canalizados aos milha-res de milhões para reforço das frotas pesqueiras (já de si sobre-equipadas) que distorcem os merca-dos e as regras de competitividade, deveriam ser antes aplicados em programas de investigação do ecossistema e de gestão das pescas, integrando ainda novas preocupações, como as que derivam das alterações climáticas, do degelo das massas polares e da consequente subida do nível do mar e dos seus impactes na saúde pública e na qualidade de vida das populações. E não menos importante, é necessário o reforço da cooperação internacional, baseada em sólidos e justos princípios de gestão e alicerçada na cons-ciência de que a governance do mar - e do litoral, a ele inevitavelmente associado - deve ser abordada numa perspectiva (eco)sistémica, preventiva, parti-cipada e de desenvolvimento sustentável, e tendo necessariamente por base uma visão abrangente, interssectorial e integrada. Estes e outros valores essenciais estarão presentes na mente dos governantes do Planeta quando a colonização do Novo Mundo (aquático) começar a valer? Carlos Costa GEOTA – Grupo de Estudos de ordenamento do Terri-tório e Ambiente

Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC

Op

iniã

o

: Gestão integrada de recursos hídricos Avaliação da água doce Barragens e desenvolvimento Serviços fornecidos pelos ecossistemas

Águas internacionais Parceria para a recolha de águas plu-viais Formação sobre gestão de águas residuais Água e saneamento

Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) e as questões relacionadas com a ÁGUA

No sítio Web do PNUA poderá encontrar informações sobre

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O CANTO DA RÁDIO ONU *

Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC

Confrontos entre a fronteira do Chade e Sudão estão causando a fuga de milhares de pessoas, que tentam escapar da violência. A informação é do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Acnur. No fim de fevereiro, o Acnur emitiu um comunica-do informando que havia transferido cerca de 13 mil refugiados sudaneses que cruzaram a fronteira de Darfur, no mês passado, para se instalar na área de Birak, no Chade. Tensão Com o objetivo também de diminuir os confrontos na região, os governos do Chade e do Sudão firma-ram um acordo em Dacar, capital do Senegal. A cerimônia do acordo, firmado em 13 de março, contou com a presença do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon. Acompanhe a entrevista concedida à Rádio ONU pelo porta-voz do Acnur, em Genebra, William Spindler. Segundo ele, a transferência dos refugiados ajuda a aliviar a tensão na fronteira. Rádio ONU: Poderia fazer-nos um retrato da situação dos refugiados de Darfur na frontei-ra entre o Chade e o Sudão?

William Spindler: Nas últimas semanas, 13 mil refugiados de Darfur cruzaram a fronteira para o Chade. E até este momento, os comboios do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, transferiram mais de mil pessoas da frontei-ra para um acampamento de refugiados. Os refugia-dos não podem ficar na fronteira porque é um lugar muito perigoso, com confrontos entre grupos armados. Por isso, é importante fazer a transferên-cia destas pessoas para os acampamentos, onde podem receber ajuda por parte da comunidade internacional. Infra-estrutura Rádio ONU: Essa nova vaga de refugiados vai criar problemas porque os campos de refugi-ados estão quase superlotados, ou não? William Spindler: Os campos, neste momento, têm mais de 250 mil pessoas. É uma das crises humanitárias mais graves do mundo. Estas pessoas que chegam são parte desta crise mas também é certo que a comunidade internacional tem uma presença importante nestes campos de refugiados. O Acnur e outras agências do sistema das Nações Unidas, organizações não-governamentais estão presentes e têm uma infra-estrutura para auxiliar estas pessoas. Rádio ONU: Por que essa nova vaga de refu-giados de Darfur para o Chade?

William Spindler: Este grupo de pessoas que cruzaram a fronteira são pessoas que fogem da violência e confrontos armados na região de Birak, sobretudo na fronteira entre o Chade e o Sudão. É uma zona onde houve intensificação da violência nas últimas semanas. A situação continua bastante tensa na fronteira. Ao mesmo tempo, também houve alguns progressos políticos entre os gover-nos, mas no terreno a situação continua a ser tensa. Instabilidade Ainda na sexta 21 de março, a Missão da ONU no Chade e da República Centro-Africana, Minurcat, informou sobre a assinatura de um acordo com o governo do Chade sobre princípios legais da opera-ção em curso no país. O documento foi assinado na capital do Chade, N’Djamena pelo representante especial do Secretá-rio-Geral da ONU, o português Victor Ângelo. Estabelecida em 2007, a missão promove auxílio às populações civis para facilitar ajuda humanitária a milhares de deslocados. Segundo Victor Ângelo, alguns dos maiores desafios são a questão da segurança e problemas de instabi-lidade. * Colaboração da Rádio ONU

NOMEAÇÕES

Susana Malcorra, da Argentina, será a responsável pelo Departamento de Apoio às Missões no Terreno, com a categoria de Secretária-Geral Adjunta, e vai gerir todo o apoio prestado às várias missões de paz das Nações Uni-das no mundo. Susana Malcorra substi-tuirá Jane Holl Lute, que dirigiu o Departamento desde a sua criação em Julho de 2007. Wilfried Lemke, da Alemanha, foi nomeado Assessor Especial para o Desporto ao Serviço da Paz e do Desenvolvimento, com a categoria de Secretário-Geral Adjunto, recebendo um salário simbólico de 1 dólar por ano. Substitui Adolfo Ogi, ex-Presidente da Suíça, que terminou o seu mandato no final de 2007. Johnston Barkat, dos Estados Unidos, será o novo Provedor das Nações Uni-das, com a categoria de Subsecretário-Geral. Dirigirá um gabinete integrado e descentralizado, ao serviço do Secreta-riado da ONU e dos seus inúmeros fundos e programas. As suas funções serão exercidas com independência em relação a qualquer órgão ou funcionário

da ONU, tendo acesso directo ao Secretário-Geral, se necessário. A jordana Rima Salah foi nomeada Representante Especial Adjunta para a Missão das Nações Unidas na República Centro-africana e no Chade (MINURCAT), criada pelo Conselho de Segurança em 2007 para garantir a segurança nos dois países, que também têm fronteira com a instável região do Darfur, no Sudão. O Secretário-Geral Ban Ki-moon infor-mou o Conselho de Segurança da inten-ção de nomear Kai Eide, da Noruega, seu Representante Especial e Chefe da Missão de Assistência das Nações Uni-das no Afeganistão (UNAMA).

O Secretário-Geral anunciou a nomea-ção do australiano Maxwell Gaylard para o cargo de Coordenador Especial Adjunto das Nações Unidas para o Processo de Paz no Médio Oriente. Maxwell Gaylard assumirá igualmente as funções de Coordenador da Acção Humanitária e do Desenvolvimento nos Territórios Palestinianos Ocupados.

Timor-Leste : Representante Especial do Secretário-Geral agradece

apoio à nomeação de conselheira portuguesa

O Representante Especial do Secretário-Geral da ONU para Timor-Leste, Atul Khare, agradeceu ao Presidente da Comissão Europeia o facto de ter generosamente acedido à nomeação da portuguesa Sónia Neto para o cargo de sua Conselheira, informa um comunicado divulgado em Díli.

Atul Khare sublinhou que Sónia Neto, que exerceu funções de Abril de 2007 a 15 de Março de 2008, data em que regressou à Comis-são Europeia, «reforçou significativamente a sua equi-pa pessoal, dado o seu pro-fundo conhecimento do país e a sua notável capacidade de trabalhar com os dirigen-tes timorenses».

O Representante Especial agradeceu também à Comis-são Europeia o apoio dispen-sado à Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste em vários domínios, nomeadamente a promoção do Estado de direito, o refor-ço da governação democráti-ca e o fomento do desenvol-vimento económico e social.

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A ONU e a imprensa portuguesa É este o novo rosto da fome, que afecta cada vez mais comunidades que antes estavam protegidas dela. E, como é inevitável, são os mil milhões mais carenciados, aqueles que vivem com um dólar ou menos por dia, os mais duramente afectados. Quando as pessoas são assim pobres e a inflação provoca a erosão dos seus magros rendimentos, em geral fazem uma de duas coisas: ou compram menos alimentos ou compram alimentos mais baratos e menos nutritivos. O resultado final é o mesmo: mais fome e menos oportunidades de um futuro com saúde. [...] Os peritos pensam que os elevados preços dos bens alimentares vieram para ficar. Apesar disso, dispomos das ferramentas e da tecnologia necessárias para vencer a fome e alcançar os ODM. Sabemos o que devemos fazer. Do que precisamos é de vontade política e de recursos, utilizados de uma maneira eficaz. Em primeiro lugar, temos de satisfazer as necessidades humanitárias urgentes. [...) Em segundo, temos de reforçar os programas da ONU que visam ajudar os países em desenvolvimento a fazer face à fome. [...] Em terceiro, temos de enfrentar o impac-to crescente dos choques climáticos na agricultura local bem como as consequências a longo prazo das alterações climáticas. [...] Por último, devemos impulsionar a produção agrícola e a eficiência do mercado. Mas isso será no futuro. Agora, temos de ajudar as pessoas afectadas pela fome, aumentando os preços dos bens alimentares. Isso significa, para começar, reconhecer a urgência da crise e agir. Em O novo rosto da fome no mundo, Ban Ki-moon, Secretário-Geral da ONU, “Jornal de Notícias”, 13/03/2008)

* **** *

Nas Nações Unidas, 22 de Março é o Dia Mundial da Água. Não esperamos que as pessoas interrompam o que estão a fazer e guardem um minuto de silêncio – mas talvez o devessem fazer. Em cada 20 segundos, há uma criança que morre devido a doenças relacionadas com falta de água limpa. Isto corresponde ao número exorbitan-te de 1,5 milhões de vidas que se perdem todos os anos. Mais de dois mil milhões e meio de pessoas no mundo vivem em condições de higiene e saneamento horrendas. Ajudá-las não serve apenas para reduzir o número de mortes; serve também para proteger o ambiente, atenuar a pobreza e promover o desenvolvimento. A razão disto é que a água está na base de grande parte do trabalho que desenvolvemos nestes domínios. A água é essencial à sobrevivência. Ao contrário do petróleo, não há nada que a possa substituir. Mas, hoje em dia, há uma sobreutilização dos recursos de água doce. O crescimento populacional irá agravar o problema. E as alterações climáticas também. À medida que a economia mundial for crescendo, a sua sede irá aumentando. [...] Entre outras coisas, os chamados Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) estabelecem a meta de reduzir para metade, até 2015, o número de pessoas sem acesso seguro à água. Isto é de importância vital. Quando pensamos nos problemas de saúde e desenvolvimento que enfrentam as pessoas mais pobres do mundo – doenças como a malária e a tuberculose, o aumento dos preços dos alimentos, a degradação ambiental – constatamos que o denominador comum é frequentemente a água. Em A Água é Vida, Ban Ki-moon, Secretário-Geral da ONU, “Visão”, 20/03/2008

* ***** * Ao celebrarmos o Dia Internacional da Mulher, a 8 de Março, bem como os progressos alcançados em matéria de realização dos direitos das mulheres no mundo inteiro, não deveríamos esquecer um facto: a discriminação generalizada contra as mulheres persiste na lei e na prática, directa ou indirectamente, em todo o mundo. A indigna-ção pública e os grandes títulos dos jornais concentram-se, em geral, nos casos chocantes de mutilação genital feminina, de punição das vítimas de violação, de escravatura sexual e de tratamentos degradantes de todos os tipos. Mas é a discriminação de “baixa intensidade”, frequentemente sancionada pela lei, que condena diariamente milhões de mulheres a dificuldades e sofrimento. Para além de suscitarem algumas condenações, sobretudo formais, essas condições generalizadas continuam a escapar à atenção da comunidade internacional. [...] É óbvio que as condições de opressão, a impossibilidade de fazerem ouvir a sua voz e a falta de oportunidades fazem tanto parte da discriminação de que as mulheres são alvo como as leis que impedem o gozo dos seus direitos. É a conjugação destes factores que é responsável pelo facto de 70% das mulheres do mundo serem pobres, de duas em cada três crianças que não frequentam a escola serem raparigas e de as mulheres só possuírem 1% das terras cuja propriedade pode ser registada. A verdadeira igualdade exige que as obrigações internacionais sejam respeitadas tanto na lei como na prática. No mínimo, os Estados deveriam rever, alterar ou revogar a legislação discriminatória e procurar corrigir os efeitos negativos que as leis têm sobre as mulheres. Em Dia Internacional da Mulher: As leis e a discriminação de baixa intensidade contra as mulheres”, Louise Arbour, Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, “Público”, 10/03/2008

* ****** *

Estive recentemente em Gaza, um dos lugares mais densamente povoados do mundo que é actualmente uma panela de pressão humana fechada. O profundo sofrimento das pessoas que ali vi não poderia ter ilustrado mais claramente o crescente desfasamento entre os objectivos e esperanças do ressuscitado processo de paz no Médio Oriente e as duras dificuldades da situação no terreno, a qual não cessa de se degradar. Este desfasamento pode revelar-se fatal para os esforços a favor da paz e prejudi-car seriamente uma das mais antigas e mais numerosas populações de refugiados, se não forem tomadas medidas urgentes. Os 1,5 milhões de residentes em Gaza – mais de metade dos quais têm menos de 18 anos – procuram sobreviver sob as severas restrições de movimentos impostas por Israel e agravadas após a tomada de poder pelo Hamas, em Junho de 2007. Em Setembro, o Governo de Israel declarou Gaza “território hostil”, preparando, assim, o caminho para estrangular ainda mais a sua economia. A população -- em especial os mais vulneráveis, crianças, idosos e doentes -- sente cada vez mais os efeitos do esgotamento das provisões e dos recursos. [...] Mas dentre todos os bens de que Gaza carece o mais escasso de todos é a esperança, uma das principais necessidades humanas. Dar uma esperança duradoura que com-bata o crescimento do extremismo é uma tarefa política que exige líderes responsáveis – tanto israelitas como palestinianos – que sejam capazes de assumir os enormes riscos inerentes à paz. [...] [... ]mantenhamos os olhos postos no objectivo de dois Estados que vivam lado a lado em paz, procurando criar um futuro mais seguro e próspero para os seus povos. Agora, pode parecer uma meta ambiciosa, mas, a longo prazo, é o único caminho a seguir. Não é possível forjar a paz na bigorna da raiva nem criá-la negando a dignidade humana. A única forma eficaz de acabar com todo este sofrimento é a rápida consecução de uma paz justa e duradoura. É nisto que devemos concentrar todos os nossos esforços para que o ódio possa dar lugar à esperança. Em Gaza: esperança, não ódio, John Holmes, Secretário-Geral Adjunto das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, “Semanário”, 14/03/2008

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Boletim do Centro de Informação Regional das Nações Unidas—UNRIC

Directora do Centro: Afsané Bassir-Pour

Responsável pela publicação: Ana Mafalda Tello

Redacção : Maria João Duarte Vânia Rodrigues Concepção gráfica:

Sónia Fialho

Tel.: + 32 2 788 84 84 Fax: + 32 2 788 84 85

Sítio na internet: www.unric.org E-mail: [email protected]

Rue de la loi /Wetstraat 155 Résidence Palace Bloc C2, 7ème et 8ème 1040 Bruxelles Belgique

PUBLICAÇÕES

FICH

A T

ÉCN

ICA

Poderá encontrar estas e outras publicações na página na internet do Serviço de Publicações das Nações Unidas: https://unp.un.org/

UNEP Year Book 2008: An Overview of Our Changing Environment (Formerly titled

"GEO Year Book")

Publicado em Março de 2008 Disponível em Inglês ISBN13: 9789280728774 Código de Venda: 08.III.D.1

International Geneva Yearbook 2008: Activities of International Institutions

in Geneva Publicado em Março de 2008 Edição Bilingue ISBN13: 9789210001595 Código de Venda: GV.07.0.7

Population Bulletin of the United Nations 2002: Prospects for Fertility Decline in

High Fertility Countries

Publicado em Março de 2008 Disponível em Inglês (também em Francês e Espanhol) ISBN13: 9789211513677 Código de Venda: 02.XIII.11

Indigenous Peoples and Urban Settle-ments: Spatial Distribution, Internal

Migration and Living Conditions

Publicado em Fevereiro de 2008 Disponível em Inglês ISBN13: 9789211216585 Código de Venda: 07.II.G.132

Good Governance Practices for the Protec-tion of Human Rights

Publicado em Fevereiro de 2008 Disponível em Inglês ISBN13: 9789211541793 Código de Venda: 07.XIV.10

International Trade Forum: No.3, 2007

Publicado em Fevereiro de 2008 Disponível em Inglês (e também em Francês e Espa-nhol) Código de Venda: EIT307-SUBSC

População: Prémio das Nações Unidas de 2008 atribuído a Billie Antoinette Miller e Family Care International

O Prémio das Nações Unidas para a População (2008) foi atribuído a Billie Antoinette Miller, dos Barbados e à organização não-governamental nova-iorquina, Family Care International (FCI) “O prémio é atribuído todos os anos a pessoas e a instituições, como recompensa pelo trabalho excepcional desenvolvido no domínio da saúde e bem-estar dos indivíduos”, relembra um comunicado do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA).. Billie Antoinette Miller foi a primeira mulher a ser nomeada para o cargo de ministro em Barbados. Ocupou várias pastas ministeriais, nomeadamente as da Saúde, Educação e Cultura, Negócios Estrangeiros e Comércio Exterior. Advogada de profissão, actuou na defesa das questões de população e da igualdade de género, nomeadamente, enquanto presidente do Comité de Planeamento das ONG para a Conferência do Cairo sobre População e Desenvolvimento, em 1994, assim como na qualidade de presidente da Federação Internacional para a Paternidade Res-ponsável no Hemisfério Sul.

Dia Mundial de Sensibilização para o Autismo 2 de Abril

Dia Internacional de Sensibilização

para o Perigo das Minas e a Assistência à Acção Antiminas

4 de Abril

Dia Mundial da Saúde 7 de Abril

Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor

23 de Abril

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