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Junho de 2011 | Boletim Informativo | ISSN: 2177-7497 Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e Informação - GEDAI Nesta Edição Editorial 1 Jurisprudência 2 Eventos / Cursos 2 Produção Acadêmica 3 Contribuição GEDAI ao Seminário NEDAC 4 - COPYRIGHT OU COPYTIGHT? 4 - DOMÍNIO PÚBLICO FORTALECIDO 13 - O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACSSO A CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS DIGITAIS 15 Atividades acadêmicas do GEDAI / UFSC 17 Chamada de Artigos 18 V CODAIP 19 A modernização da Lei Autoral 20 Volume três, Ano dois Programa de Pós-Graduação em Direito PPGD Editorial Nesta edição o Boletim abordará a temática central o Seminário “Direitos Autorais e Acesso à Cultura”, promovido pelo NEDAC - Núcleo de Estudos e Pesquisa em Direito, Artes e Políticas, que realizou-se nos dias 09 e 10 de junho de 2011, no Rio de Janeiro RJ. No Seminário foram apresentadas e debatidas, por profissionais de diversas instituições e perfis, questões sobre “Acesso à Cultura”, “Economia Criativa”, “Reforma da Lei de Direitos Autorais”, “Cultura Digital” e “Compartilhamento de Arquivos”. O GEDAI participou do evento, que contou com a presença do professor Marcos Wachowicz, na mesa sobre Reforma da Lei de Direito Autoral. Além disto, os demais membros (mestres, mestrandos e estudantes de graduação) do Grupo contribuíram com diversos trabalhos acadêmicos que foram então apresentados e são aqui expostos resumidamente nesta edição. Além disso, teremos novidades sobe Cursos e Eventos em Direitos Autorais e/ou Propriedade Intelectual, bem como repositório atualizado de Jurisprudência (espanhola) destas áreas. O atual momento de discussões acerca da Revisão da Lei 9.610/98 deve passar pelo exame dos demais sistemas de proteção autoral mundiais. E por fim, a CHAMADA DE ARTIGOS para o V Congresso de direito de Autor e Interesse Público, com as temáticas do congresso e as últimas noticias sobre a modernização da Lei Autoral brasileira. www.direitoautoral.ufsc.br

Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

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Junho de 2011 | Boletim Informativo | ISSN 2177-7497

Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e Informaccedilatildeo - GEDAI

Nesta Ediccedilatildeo

Editorial 1

Jurisprudecircncia 2

Eventos Cursos 2

Produccedilatildeo Acadecircmica 3

Contribuiccedilatildeo GEDAI ao Seminaacuterio NEDAC 4

- COPYRIGHT OU COPYTIGHT 4

- DOMIacuteNIO PUacuteBLICO FORTALECIDO 13 - O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACSSO A CULTURA

E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS DIGITAIS 15

Atividades acadecircmicas do GEDAI UFSC 17 Chamada de Artigos 18 V CODAIP 19 A modernizaccedilatildeo da Lei Autoral 20

Volume trecircs Ano dois

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito ndash PPGD

Editorial

Nesta ediccedilatildeo o Boletim abordaraacute a temaacutetica central o Seminaacuterio ldquoDireitos Autorais e Acesso agrave Culturardquo promovido pelo NEDAC- Nuacutecleo de Estudos e Pesquisa em Direito Artes e Poliacuteticas que realizou-se nos dias 09 e 10 de junho de 2011 no Rio de Janeiro ndash RJ No Seminaacuterio foram apresentadas e debatidas por profissionais de diversas instituiccedilotildees e perfis questotildees sobre ldquoAcesso agrave Culturardquo ldquoEconomia Criativardquo ldquoReforma da Lei de Direitos Autoraisrdquo ldquoCultura Digitalrdquo e ldquoCompartilhamento de Arquivosrdquo O GEDAI participou do evento que contou com a presenccedila do professor Marcos Wachowicz na mesa sobre Reforma da Lei de Direito Autoral Aleacutem disto os demais membros (mestres mestrandos e estudantes de graduaccedilatildeo) do Grupo contribuiacuteram com diversos trabalhos acadecircmicos que foram entatildeo apresentados e satildeo aqui expostos resumidamente nesta ediccedilatildeo Aleacutem disso teremos novidades sobe Cursos e Eventos em Direitos Autorais eou Propriedade Intelectual bem como repositoacuterio atualizado de Jurisprudecircncia (espanhola) destas aacutereas O atual momento de discussotildees acerca da Revisatildeo da Lei 961098 deve passar pelo exame dos demais sistemas de proteccedilatildeo autoral mundiais E por fim a CHAMADA DE ARTIGOS para o V Congresso de direito de Autor e Interesse Puacuteblico com as temaacuteticas do congresso e as uacuteltimas noticias sobre a modernizaccedilatildeo da Lei Autoral brasileira

wwwdireitoautoralufscbr

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Jurisprudecircncia

Juzgado de lo Mercantil Ndeg 6 de Madrid Sentencia de 31 Ene 2011 proc 2662009 Propiedad Intelectual Compensacioacuten equitativa por copia privada Inaplicacioacuten originaria de la Orden PRE17432008 por la que se determinan los equipos aparatos y soportes materiales de reproduccioacuten digital sujetos al canon por copia privada y su importe Infraccioacuten del principio de jerarquiacutea normativa Manifiesta contradiccioacuten con la Directiva 200129 CE y la LPI 1996 conforme a la doctrina interpretativa establecida por la TJUE S 21 Oct 2010 Extensioacuten del canon a todo tipo de aparato equipo o soporte material capaz de almacenar una copia sin distinguir los que presumiblemente estaraacuten destinados a reproducciones por persona fiacutesica de copias privadas y aplicacioacuten indiscriminada del mismo sin atender a criterios y elementos imperativos para la exclusioacuten limitacioacuten o ponderacioacuten de su importe Nulidad radical de las liquidaciones declaraciones y facturaciones realizadas bajo la vigencia de la Orden Ponente Vaquer Martiacuten Francisco Javier Nordm de Sentencia 1202011 Nordm de Recurso 2662009 Jurisdiccioacuten CIVIL Diario La Ley Nordm 7634 Seccioacuten Jurisprudencia 20 May 2011

Eventos Cursos - ITIP UPDATE 2011 (Magister LvcentinvsIlustre Colegio de abogados de Alicante) a legislaccedilatildeo sobre a propriedade intelectual e a tecnologia da informaccedilatildeo estatildeo em constante alteraccedilatildeo o que obriga aos operadores do direito constante atualizaccedilagraveo este eacute o escopo dos seminaacuterios Maiores informaccedilotildees httpwebuaesescontratos-iditip-update-2011-seminar-ii-delitos-informaticostml - Projeto PILA-Network celebra a Conferecircncia Internacional ldquoPropiedade Intelectual como ferramenta para promover a inovaccedilatildeo desde a Universidade da teoriacutea a praacuteticardquo (Ciudad de Panamaacute los diacuteas 7 y 8 de julio 2011) maiores informaccedilotildees httpwwwpila-networkorgpanama_objetivoshtml - Cursos de Verano de El Escorial 2011 SOCIEDAD COMUNICACIOacuteN Y PROPIEDAD INTELECTUAL Interesse cocial e atualidade satildeo as principais caracteristicas do curso que integra a programaccedilatildeo da 24ordf ediccedilatildeo dos Cursos de Veratildeo da Fundaccedilatildeo Geral da Universidade Complutense que inicia no dia 04 de julho de 2011 em Sagraveo Lorenzo de El Scorial maiores Informaccedilotildees httpwwwucmesinfocvcursos2011_pdf74112pdf - Cursos de Veratildeo da APPI - Lisboa Portugal - Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e a APDI ndash Associaccedilatildeo Portuguesa de Direito Intelectual organizam

IV Curso Intensivo de Veratildeo de Propriedade Industrial com iniacutecio no dia 4 de Julho e termo no dia 8 de Julhona Faculdade de Direito de Lisboa ndash

IV Curso Intensivo de Veratildeo de Direito Autoral e Sociedade da informaccedilatildeo com iniacutecio no dia 11 de Julho e termo no dia 15 de Julhona Faculdade de Direito de Lisboa

Maiores informaccedilotildees site httpwwwapdipt

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Produccedilatildeo Acadecircmica Revista Eletrocircnica do IBPI - disponiacutevel em httpwwwibpibrasilorg A Revista Eletrocircnica do IBPI - Revel eacute um perioacutedico semestral publicado em meio digital Ela eacute destinada a divulgar a produccedilatildeo acadecircmica em particular dos autores participantes dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo relativos agrave Propriedade Intelectual e Inovaccedilatildeo como pesquisadores discentes ou docentes Sumaacuterio Revista Eletrocircnica do IBPI - Revel - Nr 4 Apresentaccedilatildeo Marcus Lessa

Doutrina Sobre a oposiccedilatildeo entre o pensamento jusnaturalista e histoacuterico na primeira metade do seacuteculo XIX exemplificada na Propriedade Intelectual Jens Eisfeld Derecho de Patentes y Salud Puacuteblica Impacto de los Tratados de Libre Comercio Ana Mariacutea Pacoacuten Notas em defesa da licenccedila compulsoacuteria da fundamentaccedilatildeo agrave eficaacutecia Gabriel Francisco Leonardos Raul Murad Ribeiro de Castro Fiscalizar eacute preciso intervenccedilatildeo natildeo eacute preciso Daniel Campello Queiroz O Instituto da Transaccedilatildeo e a soluccedilatildeo de potenciais conflitos a envolver sinais distintivos Paulo Figueiredo O direito autoral e a noccedilatildeo de autoria Eduardo Tibau de Vasconcellos Dias As hipoacuteteses de incidecircncia patentaacuteria do art 10 do CPI96 Denis Borges Barbosa Atualidades The Legally Protected Functions of Trademarks According to the Case Law of the European Court of Justice Gert Wuumlrtenberger Who Owns the Rights to Photographic Reproductions of Historical Sites Gert Wuumlrtenberger Comentaacuterios Who stole my history Paulo Coelho Comentaacuterio Karin Grau-Kuntz

Tiacutetulo do artigo interno

Tiacutetulo do artigo interno

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COPYRIGHT OU COPYTIGHT

AS AMARRAS DO SISTEMA DE DIREITO AUTORAL E DE

ACESSO Agrave CULTURA Guilherme Coutinho Silva

Ligia Ribeiro Vieira

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo do Sistema Internacional de Direito Autoral eacute baseada em convenccedilotildees e tratados desde 1883 com a ediccedilatildeo da Convenccedilatildeo de Paris sobre Propriedade Industrial e na sequencia a Convenccedilatildeo de Berna sobre Direito Autoral de 1886

A internacionalizaccedilatildeo era um passo inevitaacutevel visto que as obras autorais jaacute tendiam a romper barreiras geograacuteficas mesmo antes da revoluccedilatildeo informacional processo este que fez esta expansatildeo tomar proporccedilotildees gigantescas

Poreacutem esta internacionalizaccedilatildeo acaba por submeter normas que regulam diretamente o acesso a cultura agrave interesses hegemocircnicos fortemente influenciados pela pauta da induacutestria cultural

A maximizaccedilatildeo da proteccedilatildeo autoral cada vez mais estendida agrave empresas e tecnologias pouco ligadas aos interesses dos criadores eacute tido como caminho uacutenico para preservaccedilatildeo da cultura

Mas qual eacute esta cultura que estaacute sendo protegida

Contribuiccedilatildeo GEDAI ao Seminaacuterio NEDAC

No dia 9 e 10 de junho ocorreu no Rio de Janeiro o I Seminaacuterio de

Direito Arte e Poliacuteticas Culturais evento promovido pelo NEDAC -

Nuacutecleo de Estudos e Pesquisa em Direito Artes e Poliacuteticas Culturais

O GEDAI participou do evento com a presenccedila do professor Marcos

Wachowicz na mesa sobre Reforma da Lei de Direito Autoral Aleacutem

disto os demais membros do grupo contribuiacuteram com diversos

trabalhos acadecircmicos que foram entatildeo apresentados

1 O SISTEMA DE TUTELA JURIacuteDICA DOS BENS INTELECTUAIS E CULTURAIS

A Convenccedilatildeo de Berna para a Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas de 1886 foi o primeiro grande instrumento internacional voltado para a proteccedilatildeo dos Direitos Autorais Estes direitos posteriormente foram tambeacutem previstos pela proacutepria Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos de 1948 o qual garante que ldquotoda pessoa tem direito agrave proteccedilatildeo dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produccedilatildeo cientiacutefica literaacuteria ou artiacutestica da qual seja autorrdquo (Artigo XXVII 2)

O tema eacute diretamente vinculado agrave OMPI (Organizaccedilatildeo Mundial da Propriedade Intelectual) poreacutem a partir da criaccedilatildeo da OMC (Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio) em 1994 esta organizaccedilatildeo internacional tomou a frente nas discussotildees sobre Propriedade Intelectual em geral e mais especificamente sobre os Direitos Autorais A OMC sucedeu o GATT1 na regulaccedilatildeo do comeacutercio mundial e tem como uma de suas funccedilotildees coordenar os vaacuterios acordos que regem o sistema multilateral de comeacutercio

Dentro deste novo contexto internacional ocorreu a ediccedilatildeo do TRIPs (Trade-Related Intellectual Property Rights) conhecido na traduccedilatildeo como Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comeacutercio Este tratado internacional fez parte do conjunto de acordos assinados no ano de 1994 ao final da Rodada do Uruguai que deu origem agrave OMC No que tange aos direitos autoais o presente tratado reiterou de forma quase integral o texto da Convenccedilatildeo de Berna de forma a estendecirc-la a todos os paiacuteses filiados agrave OMC

Aleacutem do sistema da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio a tutela juriacutedica dos direitos autorais tambeacutem se daacute por meio da UNESCO agecircncia das Naccedilotildees Unidas encarregada da cultura que tem a funccedilatildeo de promover uma ldquosalutar diversidade de culturasrdquo e facilitar o ldquotracircnsito livre de ideacuteias pelas palavras e imagensrdquo conforme revela a Constituiccedilatildeo da agecircncia de 1946

Para tanto foram editadas diversas disposiccedilotildees relativas agrave diversidade cultural e ao exerciacutecio dos direitos culturais como acordo de Florenccedila de 1950 Protocolo de Nairobi 1976 Convenccedilatildeo Universal sobre Direitos de Autor 1952 Declaraccedilatildeo dos Princiacutepios de Cooperaccedilatildeo Cultural Internacional 1966 Convenccedilatildeo sobre as Medidas que Devem Adotar-se para Proibir e Impedir a Importaccedilatildeo a Exportaccedilatildeo e a Transferecircncia de Propriedade Iliacutecita de Bens Culturais 1970 Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial Cultural e Natural 1972 Declaraccedilatildeo da UNESCO sobre a Raccedila e os Preconceitos Raciais 1978 Recomendaccedilatildeo relativa agrave condiccedilatildeo do Artista de 1980 Recomendaccedilatildeo sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular 1989 Declaraccedilatildeo Universal sobre a Diversidade Cultural 2002

1 Acordo Geral sobre Tarifas e Comeacutercio

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Aleacutem disso merece destaque a Declaraccedilatildeo de Princiacutepios sobre a Toleracircncia da UNESCO de 1995 que trata da toleracircncia justamente como ldquoa aceitaccedilatildeo e o apreccedilo da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo de nossos modos de expressatildeo e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanosrdquo um instrumento de construccedilatildeo da paz (art 11)

Outro destaque relevante eacute que a Declaraccedilatildeo aborda a toleracircncia como uma atitude ativa que fortalece a democracia e o pluralismo

No ano de 2005 a referida Organizaccedilatildeo elaborou a Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (a qual seraacute aqui denominada apenas de Convenccedilatildeo da Diversidade) texto legal que foi um marco mundial na regulaccedilatildeo da mateacuteria e trouxe conceitos importantes para a sua sistematizaccedilatildeo

Do mesmo modo como natildeo houve consenso agrave eacutepoca da discussatildeo da Convenccedilatildeo de Berna sobre direitos autorais (com relaccedilatildeo agrave inserccedilatildeo de medidas de proteccedilatildeo agrave diversidade cultural) na discussatildeo da Convenccedilatildeo de 2005 os Estados Unidos capitanearam uma tentativa de restringir ao maacuteximo o alcance da tutela pretendida ao qualificar de ldquodiversionista a caracterizaccedilatildeo dos produtos culturais como dotados de natureza dual isto eacute considerados tanto como elementos de comeacutercio quanto como veiacuteculos de identidades valores e significadosrdquo1

Adota-se neste trabalho a concepccedilatildeo do jurista portuguecircs Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o qual afirma que ldquotodo o Direito de Autor eacute necessariamente Direito da Culturardquo que natildeo pode ser relegado diante de preocupaccedilotildees econocircmicas ou pessoais1

Wachowicz observa que

A partir do entendimento de que bens intelectuais tutelados pelos Direitos Autorais se encontram na base de todas as cadeias econocircmicas da Cultura e portanto estatildeo no campo da diversidade criadora a Convenccedilatildeo da Diversidade deve ser vista necessariamente como um instrumento complementar aos Tratados que versem sobre Direitos Autorais1

Desta forma evidencia-se que os bens intelectuais objetos do direito patrimonial do autor tanto satildeo considerados um ativo econocircmico como podem ser tidos como o pilar de formaccedilatildeo da economia cultural e do seu propenso desenvolvimento

Assim eacute possiacutevel notar que a supracitada Convenccedilatildeo aufere um tratamento duplo agraves obras intelectuais

bens intelectuais como ativos econocircmicos e

bens intelectuais como obras portadoras de identidades valores e significados culturais1

1 AacuteLVAREZ Vera Ciacutentia Diversidade Cultural e livre comeacutercio antagonismo ou oportunidade Brasiacutelia UNESCO IRBr 2008 p 153 1 ASCENSAtildeO Joseacute de Oliveira Direito Autoral 2 ed Rio de Janeiro Renovar 1997 p 28

1 WACHOWICZ Marcos SANTOS Manoel Joaquim Pereira dos Estudos de Direito de Autor e a Revisatildeo da Lei de Direitos Autorais Florianoacutepolis Fundaccedilatildeo Boiteux 2010 p 80

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2 DIVERSIDADE CULTURAL Algumas consideraccedilotildees

A Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais tem entre seus vaacuterios objetivos ldquoreafirmar o direito soberano dos Estados de conservar adotar e implementar as poliacuteticas e medidas que considerem apropriadas para a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais em seu territoacuteriordquo (art 1 h) e ldquofortalecer a cooperaccedilatildeo e a solidariedade internacionais em um espiacuterito de parceria visando especialmente o aprimoramento das capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade das expressotildees culturaisrdquo (art 1ordm i)

A remodelaccedilatildeo do conceito de cultura que desde o seacuteculo XVIII vinha sendo utilizado com o sentido de cultivo ou desenvolvimento acontece durante o seacuteculo XIX quando a antropologia cultural ou etnologia a toma como objeto de estudo

O antropoacutelogo Edward Burnett Tylor define o termo cultura da seguinte maneira

Em seu sentido etnograacutefico mais amplo o termo cultura ou civilizaccedilatildeo designa todo o complexo que compreende simultaneamente o saber as crenccedilas as artes as leis os costumes ou toda outra faculdade ou haacutebito adquirido pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade1

Para Geertz antropoacutelogo americano a cultura deriva de um conceito essencialmente semioacutetico1 no qual a construccedilatildeo do seu significado eacute feita a partir das interaccedilotildees dos indiviacuteduos suas praacuteticas accedilotildees emoccedilotildees

Desta forma observa-se que a cultura eacute algo muito abstrato e de difiacutecil conceituaccedilatildeo ldquo() deve ser considerada como um conjunto distinto de elementos espirituais materiais intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social

Aleacutem da arte e da literatura ela abarca tambeacutem os estilos de vida modos de convivecircncia sistemas de valores tradiccedilotildees e crenccedilasrdquo (Preacircmbulo da Declaraccedilatildeo Universal de Diversidade Cultural da UNESCO 2001) Percebe-se assim que haacute uma grande gama de questotildees abrangidas por este conceito o fio condutor de aspectos tatildeo diferentes como arte e sistemas de valores eacute que estes elementos devem estar inseridos dentro de uma sociedade ou grupo social Natildeo haacute cultura criada a partir de uma pessoa independente sem relaccedilatildeo com seu meio Mesmo que uma obra de arte tenha um soacute autor deve ser observado o contexto social em que aquele estaacute inserido para que possa ser aferido o relevo cultural da obra 1 TYLOR Edward Burnett apud MATTELART Armand Diversidade Cultural e Mundializaccedilatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2005 p 17 1 GEERTZ Clifford The Interpretation of Cultures New York Basic Books 2000 p 5

Este princiacutepio da soberania dos Estados eacute reiterado em vaacuterias passagens da Convenccedilatildeo o que demonstra a preocupaccedilatildeo em se dar garantia aos paiacuteses de protegerem as suas proacuteprias expressotildees culturais com a adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sem subordinaccedilatildeo a elementos externos

Outro ponto importante da Convenccedilatildeo mencionada acima eacute a relaccedilatildeo da promoccedilatildeo da diversidade cultural como fator primordial para o desenvolvimento sustentaacutevel prevista em seu artigo 6ordm

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A Convenccedilatildeo da Diversidade traz em seu artigo 4ordm definiccedilotildees de grande utilidade que complementam o conceito de cultura Extrai-se

Diversidade culturalrdquo refere-se agrave multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressatildeo Tais expressotildees satildeo transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades

A diversidade cultural se manifesta natildeo apenas nas variadas formas pelas quais se expressa se enriquece e se transmite o patrimocircnio cultural da humanidade mediante a variedade das expressotildees culturais mas tambeacutem atraveacutes dos diversos modos de criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo distribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo das expressotildees culturais quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados

Destaca-se desta referecircncia a importacircncia do meio de expressatildeo e do contexto em que eacute criada a cultura Assim como natildeo se pode considerar o autor de forma isolada em relaccedilatildeo ao meio em que foi produzida a obra tambeacutem deve ser levado em conta o processo criativo e natildeo apenas o resultado final Cabe ressaltar tambeacutem o termo ldquopatrimocircnio cultural da humanidaderdquo esta concepccedilatildeo eacute fundamental para uma proteccedilatildeo mais abrangente da diversidade cultural Assim como construccedilotildees histoacutericas satildeo patrimocircnios tangiacuteveis geralmente preservados o mesmo deve ocorrer com os bens imateriais as criaccedilotildees artiacutesticas e culturais

A mesma Convenccedilatildeo da Diversidade conceitua ainda Conteuacutedo Cultural como o ldquo() caraacuteter simboacutelico dimensatildeo artiacutestica e valores culturais que tecircm por origem ou expressam identidades culturaisrdquo e Expressotildees Culturais como ldquoaquelas expressotildees que resultam da criatividade de indiviacuteduos grupos e sociedades e que possuem conteuacutedo culturalrdquo

O termo ldquoidentidades culturaisrdquo e ldquocriatividaderdquo merecem ecircnfase O primeiro porque a identidade cultural resulta tambeacutem no meio de identificaccedilatildeo dos povos eacute um meio de demonstraccedilatildeo das origens e das raiacutezes de determinado grupo

A cultura diz muito sobre a personalidade das pessoas ajuda a mostrar de onde vieram fator muito importante para que se sintam incluiacutedas em seu meio

social Jaacute a questatildeo da criatividade eacute enfatizada como parte das expressotildees culturais jaacute que esta eacute uma caracteriacutestica que natildeo eacute expressa como requisito

para as obras autorais

Assim as obras autorais teriam apenas a originalidade como requisito para proteccedilatildeo natildeo seria obrigatoacuterio ser identificada uma criatividade enquanto para a caracterizaccedilatildeo de expressotildees culturais a criatividade se faz presente

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3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

Para receber o boletim via GEDAI newsletter

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Page 2: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

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Jurisprudecircncia

Juzgado de lo Mercantil Ndeg 6 de Madrid Sentencia de 31 Ene 2011 proc 2662009 Propiedad Intelectual Compensacioacuten equitativa por copia privada Inaplicacioacuten originaria de la Orden PRE17432008 por la que se determinan los equipos aparatos y soportes materiales de reproduccioacuten digital sujetos al canon por copia privada y su importe Infraccioacuten del principio de jerarquiacutea normativa Manifiesta contradiccioacuten con la Directiva 200129 CE y la LPI 1996 conforme a la doctrina interpretativa establecida por la TJUE S 21 Oct 2010 Extensioacuten del canon a todo tipo de aparato equipo o soporte material capaz de almacenar una copia sin distinguir los que presumiblemente estaraacuten destinados a reproducciones por persona fiacutesica de copias privadas y aplicacioacuten indiscriminada del mismo sin atender a criterios y elementos imperativos para la exclusioacuten limitacioacuten o ponderacioacuten de su importe Nulidad radical de las liquidaciones declaraciones y facturaciones realizadas bajo la vigencia de la Orden Ponente Vaquer Martiacuten Francisco Javier Nordm de Sentencia 1202011 Nordm de Recurso 2662009 Jurisdiccioacuten CIVIL Diario La Ley Nordm 7634 Seccioacuten Jurisprudencia 20 May 2011

Eventos Cursos - ITIP UPDATE 2011 (Magister LvcentinvsIlustre Colegio de abogados de Alicante) a legislaccedilatildeo sobre a propriedade intelectual e a tecnologia da informaccedilatildeo estatildeo em constante alteraccedilatildeo o que obriga aos operadores do direito constante atualizaccedilagraveo este eacute o escopo dos seminaacuterios Maiores informaccedilotildees httpwebuaesescontratos-iditip-update-2011-seminar-ii-delitos-informaticostml - Projeto PILA-Network celebra a Conferecircncia Internacional ldquoPropiedade Intelectual como ferramenta para promover a inovaccedilatildeo desde a Universidade da teoriacutea a praacuteticardquo (Ciudad de Panamaacute los diacuteas 7 y 8 de julio 2011) maiores informaccedilotildees httpwwwpila-networkorgpanama_objetivoshtml - Cursos de Verano de El Escorial 2011 SOCIEDAD COMUNICACIOacuteN Y PROPIEDAD INTELECTUAL Interesse cocial e atualidade satildeo as principais caracteristicas do curso que integra a programaccedilatildeo da 24ordf ediccedilatildeo dos Cursos de Veratildeo da Fundaccedilatildeo Geral da Universidade Complutense que inicia no dia 04 de julho de 2011 em Sagraveo Lorenzo de El Scorial maiores Informaccedilotildees httpwwwucmesinfocvcursos2011_pdf74112pdf - Cursos de Veratildeo da APPI - Lisboa Portugal - Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e a APDI ndash Associaccedilatildeo Portuguesa de Direito Intelectual organizam

IV Curso Intensivo de Veratildeo de Propriedade Industrial com iniacutecio no dia 4 de Julho e termo no dia 8 de Julhona Faculdade de Direito de Lisboa ndash

IV Curso Intensivo de Veratildeo de Direito Autoral e Sociedade da informaccedilatildeo com iniacutecio no dia 11 de Julho e termo no dia 15 de Julhona Faculdade de Direito de Lisboa

Maiores informaccedilotildees site httpwwwapdipt

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Produccedilatildeo Acadecircmica Revista Eletrocircnica do IBPI - disponiacutevel em httpwwwibpibrasilorg A Revista Eletrocircnica do IBPI - Revel eacute um perioacutedico semestral publicado em meio digital Ela eacute destinada a divulgar a produccedilatildeo acadecircmica em particular dos autores participantes dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo relativos agrave Propriedade Intelectual e Inovaccedilatildeo como pesquisadores discentes ou docentes Sumaacuterio Revista Eletrocircnica do IBPI - Revel - Nr 4 Apresentaccedilatildeo Marcus Lessa

Doutrina Sobre a oposiccedilatildeo entre o pensamento jusnaturalista e histoacuterico na primeira metade do seacuteculo XIX exemplificada na Propriedade Intelectual Jens Eisfeld Derecho de Patentes y Salud Puacuteblica Impacto de los Tratados de Libre Comercio Ana Mariacutea Pacoacuten Notas em defesa da licenccedila compulsoacuteria da fundamentaccedilatildeo agrave eficaacutecia Gabriel Francisco Leonardos Raul Murad Ribeiro de Castro Fiscalizar eacute preciso intervenccedilatildeo natildeo eacute preciso Daniel Campello Queiroz O Instituto da Transaccedilatildeo e a soluccedilatildeo de potenciais conflitos a envolver sinais distintivos Paulo Figueiredo O direito autoral e a noccedilatildeo de autoria Eduardo Tibau de Vasconcellos Dias As hipoacuteteses de incidecircncia patentaacuteria do art 10 do CPI96 Denis Borges Barbosa Atualidades The Legally Protected Functions of Trademarks According to the Case Law of the European Court of Justice Gert Wuumlrtenberger Who Owns the Rights to Photographic Reproductions of Historical Sites Gert Wuumlrtenberger Comentaacuterios Who stole my history Paulo Coelho Comentaacuterio Karin Grau-Kuntz

Tiacutetulo do artigo interno

Tiacutetulo do artigo interno

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COPYRIGHT OU COPYTIGHT

AS AMARRAS DO SISTEMA DE DIREITO AUTORAL E DE

ACESSO Agrave CULTURA Guilherme Coutinho Silva

Ligia Ribeiro Vieira

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo do Sistema Internacional de Direito Autoral eacute baseada em convenccedilotildees e tratados desde 1883 com a ediccedilatildeo da Convenccedilatildeo de Paris sobre Propriedade Industrial e na sequencia a Convenccedilatildeo de Berna sobre Direito Autoral de 1886

A internacionalizaccedilatildeo era um passo inevitaacutevel visto que as obras autorais jaacute tendiam a romper barreiras geograacuteficas mesmo antes da revoluccedilatildeo informacional processo este que fez esta expansatildeo tomar proporccedilotildees gigantescas

Poreacutem esta internacionalizaccedilatildeo acaba por submeter normas que regulam diretamente o acesso a cultura agrave interesses hegemocircnicos fortemente influenciados pela pauta da induacutestria cultural

A maximizaccedilatildeo da proteccedilatildeo autoral cada vez mais estendida agrave empresas e tecnologias pouco ligadas aos interesses dos criadores eacute tido como caminho uacutenico para preservaccedilatildeo da cultura

Mas qual eacute esta cultura que estaacute sendo protegida

Contribuiccedilatildeo GEDAI ao Seminaacuterio NEDAC

No dia 9 e 10 de junho ocorreu no Rio de Janeiro o I Seminaacuterio de

Direito Arte e Poliacuteticas Culturais evento promovido pelo NEDAC -

Nuacutecleo de Estudos e Pesquisa em Direito Artes e Poliacuteticas Culturais

O GEDAI participou do evento com a presenccedila do professor Marcos

Wachowicz na mesa sobre Reforma da Lei de Direito Autoral Aleacutem

disto os demais membros do grupo contribuiacuteram com diversos

trabalhos acadecircmicos que foram entatildeo apresentados

1 O SISTEMA DE TUTELA JURIacuteDICA DOS BENS INTELECTUAIS E CULTURAIS

A Convenccedilatildeo de Berna para a Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas de 1886 foi o primeiro grande instrumento internacional voltado para a proteccedilatildeo dos Direitos Autorais Estes direitos posteriormente foram tambeacutem previstos pela proacutepria Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos de 1948 o qual garante que ldquotoda pessoa tem direito agrave proteccedilatildeo dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produccedilatildeo cientiacutefica literaacuteria ou artiacutestica da qual seja autorrdquo (Artigo XXVII 2)

O tema eacute diretamente vinculado agrave OMPI (Organizaccedilatildeo Mundial da Propriedade Intelectual) poreacutem a partir da criaccedilatildeo da OMC (Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio) em 1994 esta organizaccedilatildeo internacional tomou a frente nas discussotildees sobre Propriedade Intelectual em geral e mais especificamente sobre os Direitos Autorais A OMC sucedeu o GATT1 na regulaccedilatildeo do comeacutercio mundial e tem como uma de suas funccedilotildees coordenar os vaacuterios acordos que regem o sistema multilateral de comeacutercio

Dentro deste novo contexto internacional ocorreu a ediccedilatildeo do TRIPs (Trade-Related Intellectual Property Rights) conhecido na traduccedilatildeo como Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comeacutercio Este tratado internacional fez parte do conjunto de acordos assinados no ano de 1994 ao final da Rodada do Uruguai que deu origem agrave OMC No que tange aos direitos autoais o presente tratado reiterou de forma quase integral o texto da Convenccedilatildeo de Berna de forma a estendecirc-la a todos os paiacuteses filiados agrave OMC

Aleacutem do sistema da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio a tutela juriacutedica dos direitos autorais tambeacutem se daacute por meio da UNESCO agecircncia das Naccedilotildees Unidas encarregada da cultura que tem a funccedilatildeo de promover uma ldquosalutar diversidade de culturasrdquo e facilitar o ldquotracircnsito livre de ideacuteias pelas palavras e imagensrdquo conforme revela a Constituiccedilatildeo da agecircncia de 1946

Para tanto foram editadas diversas disposiccedilotildees relativas agrave diversidade cultural e ao exerciacutecio dos direitos culturais como acordo de Florenccedila de 1950 Protocolo de Nairobi 1976 Convenccedilatildeo Universal sobre Direitos de Autor 1952 Declaraccedilatildeo dos Princiacutepios de Cooperaccedilatildeo Cultural Internacional 1966 Convenccedilatildeo sobre as Medidas que Devem Adotar-se para Proibir e Impedir a Importaccedilatildeo a Exportaccedilatildeo e a Transferecircncia de Propriedade Iliacutecita de Bens Culturais 1970 Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial Cultural e Natural 1972 Declaraccedilatildeo da UNESCO sobre a Raccedila e os Preconceitos Raciais 1978 Recomendaccedilatildeo relativa agrave condiccedilatildeo do Artista de 1980 Recomendaccedilatildeo sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular 1989 Declaraccedilatildeo Universal sobre a Diversidade Cultural 2002

1 Acordo Geral sobre Tarifas e Comeacutercio

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Aleacutem disso merece destaque a Declaraccedilatildeo de Princiacutepios sobre a Toleracircncia da UNESCO de 1995 que trata da toleracircncia justamente como ldquoa aceitaccedilatildeo e o apreccedilo da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo de nossos modos de expressatildeo e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanosrdquo um instrumento de construccedilatildeo da paz (art 11)

Outro destaque relevante eacute que a Declaraccedilatildeo aborda a toleracircncia como uma atitude ativa que fortalece a democracia e o pluralismo

No ano de 2005 a referida Organizaccedilatildeo elaborou a Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (a qual seraacute aqui denominada apenas de Convenccedilatildeo da Diversidade) texto legal que foi um marco mundial na regulaccedilatildeo da mateacuteria e trouxe conceitos importantes para a sua sistematizaccedilatildeo

Do mesmo modo como natildeo houve consenso agrave eacutepoca da discussatildeo da Convenccedilatildeo de Berna sobre direitos autorais (com relaccedilatildeo agrave inserccedilatildeo de medidas de proteccedilatildeo agrave diversidade cultural) na discussatildeo da Convenccedilatildeo de 2005 os Estados Unidos capitanearam uma tentativa de restringir ao maacuteximo o alcance da tutela pretendida ao qualificar de ldquodiversionista a caracterizaccedilatildeo dos produtos culturais como dotados de natureza dual isto eacute considerados tanto como elementos de comeacutercio quanto como veiacuteculos de identidades valores e significadosrdquo1

Adota-se neste trabalho a concepccedilatildeo do jurista portuguecircs Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o qual afirma que ldquotodo o Direito de Autor eacute necessariamente Direito da Culturardquo que natildeo pode ser relegado diante de preocupaccedilotildees econocircmicas ou pessoais1

Wachowicz observa que

A partir do entendimento de que bens intelectuais tutelados pelos Direitos Autorais se encontram na base de todas as cadeias econocircmicas da Cultura e portanto estatildeo no campo da diversidade criadora a Convenccedilatildeo da Diversidade deve ser vista necessariamente como um instrumento complementar aos Tratados que versem sobre Direitos Autorais1

Desta forma evidencia-se que os bens intelectuais objetos do direito patrimonial do autor tanto satildeo considerados um ativo econocircmico como podem ser tidos como o pilar de formaccedilatildeo da economia cultural e do seu propenso desenvolvimento

Assim eacute possiacutevel notar que a supracitada Convenccedilatildeo aufere um tratamento duplo agraves obras intelectuais

bens intelectuais como ativos econocircmicos e

bens intelectuais como obras portadoras de identidades valores e significados culturais1

1 AacuteLVAREZ Vera Ciacutentia Diversidade Cultural e livre comeacutercio antagonismo ou oportunidade Brasiacutelia UNESCO IRBr 2008 p 153 1 ASCENSAtildeO Joseacute de Oliveira Direito Autoral 2 ed Rio de Janeiro Renovar 1997 p 28

1 WACHOWICZ Marcos SANTOS Manoel Joaquim Pereira dos Estudos de Direito de Autor e a Revisatildeo da Lei de Direitos Autorais Florianoacutepolis Fundaccedilatildeo Boiteux 2010 p 80

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2 DIVERSIDADE CULTURAL Algumas consideraccedilotildees

A Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais tem entre seus vaacuterios objetivos ldquoreafirmar o direito soberano dos Estados de conservar adotar e implementar as poliacuteticas e medidas que considerem apropriadas para a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais em seu territoacuteriordquo (art 1 h) e ldquofortalecer a cooperaccedilatildeo e a solidariedade internacionais em um espiacuterito de parceria visando especialmente o aprimoramento das capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade das expressotildees culturaisrdquo (art 1ordm i)

A remodelaccedilatildeo do conceito de cultura que desde o seacuteculo XVIII vinha sendo utilizado com o sentido de cultivo ou desenvolvimento acontece durante o seacuteculo XIX quando a antropologia cultural ou etnologia a toma como objeto de estudo

O antropoacutelogo Edward Burnett Tylor define o termo cultura da seguinte maneira

Em seu sentido etnograacutefico mais amplo o termo cultura ou civilizaccedilatildeo designa todo o complexo que compreende simultaneamente o saber as crenccedilas as artes as leis os costumes ou toda outra faculdade ou haacutebito adquirido pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade1

Para Geertz antropoacutelogo americano a cultura deriva de um conceito essencialmente semioacutetico1 no qual a construccedilatildeo do seu significado eacute feita a partir das interaccedilotildees dos indiviacuteduos suas praacuteticas accedilotildees emoccedilotildees

Desta forma observa-se que a cultura eacute algo muito abstrato e de difiacutecil conceituaccedilatildeo ldquo() deve ser considerada como um conjunto distinto de elementos espirituais materiais intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social

Aleacutem da arte e da literatura ela abarca tambeacutem os estilos de vida modos de convivecircncia sistemas de valores tradiccedilotildees e crenccedilasrdquo (Preacircmbulo da Declaraccedilatildeo Universal de Diversidade Cultural da UNESCO 2001) Percebe-se assim que haacute uma grande gama de questotildees abrangidas por este conceito o fio condutor de aspectos tatildeo diferentes como arte e sistemas de valores eacute que estes elementos devem estar inseridos dentro de uma sociedade ou grupo social Natildeo haacute cultura criada a partir de uma pessoa independente sem relaccedilatildeo com seu meio Mesmo que uma obra de arte tenha um soacute autor deve ser observado o contexto social em que aquele estaacute inserido para que possa ser aferido o relevo cultural da obra 1 TYLOR Edward Burnett apud MATTELART Armand Diversidade Cultural e Mundializaccedilatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2005 p 17 1 GEERTZ Clifford The Interpretation of Cultures New York Basic Books 2000 p 5

Este princiacutepio da soberania dos Estados eacute reiterado em vaacuterias passagens da Convenccedilatildeo o que demonstra a preocupaccedilatildeo em se dar garantia aos paiacuteses de protegerem as suas proacuteprias expressotildees culturais com a adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sem subordinaccedilatildeo a elementos externos

Outro ponto importante da Convenccedilatildeo mencionada acima eacute a relaccedilatildeo da promoccedilatildeo da diversidade cultural como fator primordial para o desenvolvimento sustentaacutevel prevista em seu artigo 6ordm

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A Convenccedilatildeo da Diversidade traz em seu artigo 4ordm definiccedilotildees de grande utilidade que complementam o conceito de cultura Extrai-se

Diversidade culturalrdquo refere-se agrave multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressatildeo Tais expressotildees satildeo transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades

A diversidade cultural se manifesta natildeo apenas nas variadas formas pelas quais se expressa se enriquece e se transmite o patrimocircnio cultural da humanidade mediante a variedade das expressotildees culturais mas tambeacutem atraveacutes dos diversos modos de criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo distribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo das expressotildees culturais quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados

Destaca-se desta referecircncia a importacircncia do meio de expressatildeo e do contexto em que eacute criada a cultura Assim como natildeo se pode considerar o autor de forma isolada em relaccedilatildeo ao meio em que foi produzida a obra tambeacutem deve ser levado em conta o processo criativo e natildeo apenas o resultado final Cabe ressaltar tambeacutem o termo ldquopatrimocircnio cultural da humanidaderdquo esta concepccedilatildeo eacute fundamental para uma proteccedilatildeo mais abrangente da diversidade cultural Assim como construccedilotildees histoacutericas satildeo patrimocircnios tangiacuteveis geralmente preservados o mesmo deve ocorrer com os bens imateriais as criaccedilotildees artiacutesticas e culturais

A mesma Convenccedilatildeo da Diversidade conceitua ainda Conteuacutedo Cultural como o ldquo() caraacuteter simboacutelico dimensatildeo artiacutestica e valores culturais que tecircm por origem ou expressam identidades culturaisrdquo e Expressotildees Culturais como ldquoaquelas expressotildees que resultam da criatividade de indiviacuteduos grupos e sociedades e que possuem conteuacutedo culturalrdquo

O termo ldquoidentidades culturaisrdquo e ldquocriatividaderdquo merecem ecircnfase O primeiro porque a identidade cultural resulta tambeacutem no meio de identificaccedilatildeo dos povos eacute um meio de demonstraccedilatildeo das origens e das raiacutezes de determinado grupo

A cultura diz muito sobre a personalidade das pessoas ajuda a mostrar de onde vieram fator muito importante para que se sintam incluiacutedas em seu meio

social Jaacute a questatildeo da criatividade eacute enfatizada como parte das expressotildees culturais jaacute que esta eacute uma caracteriacutestica que natildeo eacute expressa como requisito

para as obras autorais

Assim as obras autorais teriam apenas a originalidade como requisito para proteccedilatildeo natildeo seria obrigatoacuterio ser identificada uma criatividade enquanto para a caracterizaccedilatildeo de expressotildees culturais a criatividade se faz presente

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3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

Para receber o boletim via GEDAI newsletter

acesse httpdireitoautoralufscbr

E-mail gedaiufscgmailcom

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Page 3: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

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Produccedilatildeo Acadecircmica Revista Eletrocircnica do IBPI - disponiacutevel em httpwwwibpibrasilorg A Revista Eletrocircnica do IBPI - Revel eacute um perioacutedico semestral publicado em meio digital Ela eacute destinada a divulgar a produccedilatildeo acadecircmica em particular dos autores participantes dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo relativos agrave Propriedade Intelectual e Inovaccedilatildeo como pesquisadores discentes ou docentes Sumaacuterio Revista Eletrocircnica do IBPI - Revel - Nr 4 Apresentaccedilatildeo Marcus Lessa

Doutrina Sobre a oposiccedilatildeo entre o pensamento jusnaturalista e histoacuterico na primeira metade do seacuteculo XIX exemplificada na Propriedade Intelectual Jens Eisfeld Derecho de Patentes y Salud Puacuteblica Impacto de los Tratados de Libre Comercio Ana Mariacutea Pacoacuten Notas em defesa da licenccedila compulsoacuteria da fundamentaccedilatildeo agrave eficaacutecia Gabriel Francisco Leonardos Raul Murad Ribeiro de Castro Fiscalizar eacute preciso intervenccedilatildeo natildeo eacute preciso Daniel Campello Queiroz O Instituto da Transaccedilatildeo e a soluccedilatildeo de potenciais conflitos a envolver sinais distintivos Paulo Figueiredo O direito autoral e a noccedilatildeo de autoria Eduardo Tibau de Vasconcellos Dias As hipoacuteteses de incidecircncia patentaacuteria do art 10 do CPI96 Denis Borges Barbosa Atualidades The Legally Protected Functions of Trademarks According to the Case Law of the European Court of Justice Gert Wuumlrtenberger Who Owns the Rights to Photographic Reproductions of Historical Sites Gert Wuumlrtenberger Comentaacuterios Who stole my history Paulo Coelho Comentaacuterio Karin Grau-Kuntz

Tiacutetulo do artigo interno

Tiacutetulo do artigo interno

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COPYRIGHT OU COPYTIGHT

AS AMARRAS DO SISTEMA DE DIREITO AUTORAL E DE

ACESSO Agrave CULTURA Guilherme Coutinho Silva

Ligia Ribeiro Vieira

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo do Sistema Internacional de Direito Autoral eacute baseada em convenccedilotildees e tratados desde 1883 com a ediccedilatildeo da Convenccedilatildeo de Paris sobre Propriedade Industrial e na sequencia a Convenccedilatildeo de Berna sobre Direito Autoral de 1886

A internacionalizaccedilatildeo era um passo inevitaacutevel visto que as obras autorais jaacute tendiam a romper barreiras geograacuteficas mesmo antes da revoluccedilatildeo informacional processo este que fez esta expansatildeo tomar proporccedilotildees gigantescas

Poreacutem esta internacionalizaccedilatildeo acaba por submeter normas que regulam diretamente o acesso a cultura agrave interesses hegemocircnicos fortemente influenciados pela pauta da induacutestria cultural

A maximizaccedilatildeo da proteccedilatildeo autoral cada vez mais estendida agrave empresas e tecnologias pouco ligadas aos interesses dos criadores eacute tido como caminho uacutenico para preservaccedilatildeo da cultura

Mas qual eacute esta cultura que estaacute sendo protegida

Contribuiccedilatildeo GEDAI ao Seminaacuterio NEDAC

No dia 9 e 10 de junho ocorreu no Rio de Janeiro o I Seminaacuterio de

Direito Arte e Poliacuteticas Culturais evento promovido pelo NEDAC -

Nuacutecleo de Estudos e Pesquisa em Direito Artes e Poliacuteticas Culturais

O GEDAI participou do evento com a presenccedila do professor Marcos

Wachowicz na mesa sobre Reforma da Lei de Direito Autoral Aleacutem

disto os demais membros do grupo contribuiacuteram com diversos

trabalhos acadecircmicos que foram entatildeo apresentados

1 O SISTEMA DE TUTELA JURIacuteDICA DOS BENS INTELECTUAIS E CULTURAIS

A Convenccedilatildeo de Berna para a Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas de 1886 foi o primeiro grande instrumento internacional voltado para a proteccedilatildeo dos Direitos Autorais Estes direitos posteriormente foram tambeacutem previstos pela proacutepria Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos de 1948 o qual garante que ldquotoda pessoa tem direito agrave proteccedilatildeo dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produccedilatildeo cientiacutefica literaacuteria ou artiacutestica da qual seja autorrdquo (Artigo XXVII 2)

O tema eacute diretamente vinculado agrave OMPI (Organizaccedilatildeo Mundial da Propriedade Intelectual) poreacutem a partir da criaccedilatildeo da OMC (Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio) em 1994 esta organizaccedilatildeo internacional tomou a frente nas discussotildees sobre Propriedade Intelectual em geral e mais especificamente sobre os Direitos Autorais A OMC sucedeu o GATT1 na regulaccedilatildeo do comeacutercio mundial e tem como uma de suas funccedilotildees coordenar os vaacuterios acordos que regem o sistema multilateral de comeacutercio

Dentro deste novo contexto internacional ocorreu a ediccedilatildeo do TRIPs (Trade-Related Intellectual Property Rights) conhecido na traduccedilatildeo como Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comeacutercio Este tratado internacional fez parte do conjunto de acordos assinados no ano de 1994 ao final da Rodada do Uruguai que deu origem agrave OMC No que tange aos direitos autoais o presente tratado reiterou de forma quase integral o texto da Convenccedilatildeo de Berna de forma a estendecirc-la a todos os paiacuteses filiados agrave OMC

Aleacutem do sistema da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio a tutela juriacutedica dos direitos autorais tambeacutem se daacute por meio da UNESCO agecircncia das Naccedilotildees Unidas encarregada da cultura que tem a funccedilatildeo de promover uma ldquosalutar diversidade de culturasrdquo e facilitar o ldquotracircnsito livre de ideacuteias pelas palavras e imagensrdquo conforme revela a Constituiccedilatildeo da agecircncia de 1946

Para tanto foram editadas diversas disposiccedilotildees relativas agrave diversidade cultural e ao exerciacutecio dos direitos culturais como acordo de Florenccedila de 1950 Protocolo de Nairobi 1976 Convenccedilatildeo Universal sobre Direitos de Autor 1952 Declaraccedilatildeo dos Princiacutepios de Cooperaccedilatildeo Cultural Internacional 1966 Convenccedilatildeo sobre as Medidas que Devem Adotar-se para Proibir e Impedir a Importaccedilatildeo a Exportaccedilatildeo e a Transferecircncia de Propriedade Iliacutecita de Bens Culturais 1970 Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial Cultural e Natural 1972 Declaraccedilatildeo da UNESCO sobre a Raccedila e os Preconceitos Raciais 1978 Recomendaccedilatildeo relativa agrave condiccedilatildeo do Artista de 1980 Recomendaccedilatildeo sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular 1989 Declaraccedilatildeo Universal sobre a Diversidade Cultural 2002

1 Acordo Geral sobre Tarifas e Comeacutercio

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Aleacutem disso merece destaque a Declaraccedilatildeo de Princiacutepios sobre a Toleracircncia da UNESCO de 1995 que trata da toleracircncia justamente como ldquoa aceitaccedilatildeo e o apreccedilo da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo de nossos modos de expressatildeo e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanosrdquo um instrumento de construccedilatildeo da paz (art 11)

Outro destaque relevante eacute que a Declaraccedilatildeo aborda a toleracircncia como uma atitude ativa que fortalece a democracia e o pluralismo

No ano de 2005 a referida Organizaccedilatildeo elaborou a Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (a qual seraacute aqui denominada apenas de Convenccedilatildeo da Diversidade) texto legal que foi um marco mundial na regulaccedilatildeo da mateacuteria e trouxe conceitos importantes para a sua sistematizaccedilatildeo

Do mesmo modo como natildeo houve consenso agrave eacutepoca da discussatildeo da Convenccedilatildeo de Berna sobre direitos autorais (com relaccedilatildeo agrave inserccedilatildeo de medidas de proteccedilatildeo agrave diversidade cultural) na discussatildeo da Convenccedilatildeo de 2005 os Estados Unidos capitanearam uma tentativa de restringir ao maacuteximo o alcance da tutela pretendida ao qualificar de ldquodiversionista a caracterizaccedilatildeo dos produtos culturais como dotados de natureza dual isto eacute considerados tanto como elementos de comeacutercio quanto como veiacuteculos de identidades valores e significadosrdquo1

Adota-se neste trabalho a concepccedilatildeo do jurista portuguecircs Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o qual afirma que ldquotodo o Direito de Autor eacute necessariamente Direito da Culturardquo que natildeo pode ser relegado diante de preocupaccedilotildees econocircmicas ou pessoais1

Wachowicz observa que

A partir do entendimento de que bens intelectuais tutelados pelos Direitos Autorais se encontram na base de todas as cadeias econocircmicas da Cultura e portanto estatildeo no campo da diversidade criadora a Convenccedilatildeo da Diversidade deve ser vista necessariamente como um instrumento complementar aos Tratados que versem sobre Direitos Autorais1

Desta forma evidencia-se que os bens intelectuais objetos do direito patrimonial do autor tanto satildeo considerados um ativo econocircmico como podem ser tidos como o pilar de formaccedilatildeo da economia cultural e do seu propenso desenvolvimento

Assim eacute possiacutevel notar que a supracitada Convenccedilatildeo aufere um tratamento duplo agraves obras intelectuais

bens intelectuais como ativos econocircmicos e

bens intelectuais como obras portadoras de identidades valores e significados culturais1

1 AacuteLVAREZ Vera Ciacutentia Diversidade Cultural e livre comeacutercio antagonismo ou oportunidade Brasiacutelia UNESCO IRBr 2008 p 153 1 ASCENSAtildeO Joseacute de Oliveira Direito Autoral 2 ed Rio de Janeiro Renovar 1997 p 28

1 WACHOWICZ Marcos SANTOS Manoel Joaquim Pereira dos Estudos de Direito de Autor e a Revisatildeo da Lei de Direitos Autorais Florianoacutepolis Fundaccedilatildeo Boiteux 2010 p 80

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2 DIVERSIDADE CULTURAL Algumas consideraccedilotildees

A Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais tem entre seus vaacuterios objetivos ldquoreafirmar o direito soberano dos Estados de conservar adotar e implementar as poliacuteticas e medidas que considerem apropriadas para a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais em seu territoacuteriordquo (art 1 h) e ldquofortalecer a cooperaccedilatildeo e a solidariedade internacionais em um espiacuterito de parceria visando especialmente o aprimoramento das capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade das expressotildees culturaisrdquo (art 1ordm i)

A remodelaccedilatildeo do conceito de cultura que desde o seacuteculo XVIII vinha sendo utilizado com o sentido de cultivo ou desenvolvimento acontece durante o seacuteculo XIX quando a antropologia cultural ou etnologia a toma como objeto de estudo

O antropoacutelogo Edward Burnett Tylor define o termo cultura da seguinte maneira

Em seu sentido etnograacutefico mais amplo o termo cultura ou civilizaccedilatildeo designa todo o complexo que compreende simultaneamente o saber as crenccedilas as artes as leis os costumes ou toda outra faculdade ou haacutebito adquirido pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade1

Para Geertz antropoacutelogo americano a cultura deriva de um conceito essencialmente semioacutetico1 no qual a construccedilatildeo do seu significado eacute feita a partir das interaccedilotildees dos indiviacuteduos suas praacuteticas accedilotildees emoccedilotildees

Desta forma observa-se que a cultura eacute algo muito abstrato e de difiacutecil conceituaccedilatildeo ldquo() deve ser considerada como um conjunto distinto de elementos espirituais materiais intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social

Aleacutem da arte e da literatura ela abarca tambeacutem os estilos de vida modos de convivecircncia sistemas de valores tradiccedilotildees e crenccedilasrdquo (Preacircmbulo da Declaraccedilatildeo Universal de Diversidade Cultural da UNESCO 2001) Percebe-se assim que haacute uma grande gama de questotildees abrangidas por este conceito o fio condutor de aspectos tatildeo diferentes como arte e sistemas de valores eacute que estes elementos devem estar inseridos dentro de uma sociedade ou grupo social Natildeo haacute cultura criada a partir de uma pessoa independente sem relaccedilatildeo com seu meio Mesmo que uma obra de arte tenha um soacute autor deve ser observado o contexto social em que aquele estaacute inserido para que possa ser aferido o relevo cultural da obra 1 TYLOR Edward Burnett apud MATTELART Armand Diversidade Cultural e Mundializaccedilatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2005 p 17 1 GEERTZ Clifford The Interpretation of Cultures New York Basic Books 2000 p 5

Este princiacutepio da soberania dos Estados eacute reiterado em vaacuterias passagens da Convenccedilatildeo o que demonstra a preocupaccedilatildeo em se dar garantia aos paiacuteses de protegerem as suas proacuteprias expressotildees culturais com a adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sem subordinaccedilatildeo a elementos externos

Outro ponto importante da Convenccedilatildeo mencionada acima eacute a relaccedilatildeo da promoccedilatildeo da diversidade cultural como fator primordial para o desenvolvimento sustentaacutevel prevista em seu artigo 6ordm

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A Convenccedilatildeo da Diversidade traz em seu artigo 4ordm definiccedilotildees de grande utilidade que complementam o conceito de cultura Extrai-se

Diversidade culturalrdquo refere-se agrave multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressatildeo Tais expressotildees satildeo transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades

A diversidade cultural se manifesta natildeo apenas nas variadas formas pelas quais se expressa se enriquece e se transmite o patrimocircnio cultural da humanidade mediante a variedade das expressotildees culturais mas tambeacutem atraveacutes dos diversos modos de criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo distribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo das expressotildees culturais quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados

Destaca-se desta referecircncia a importacircncia do meio de expressatildeo e do contexto em que eacute criada a cultura Assim como natildeo se pode considerar o autor de forma isolada em relaccedilatildeo ao meio em que foi produzida a obra tambeacutem deve ser levado em conta o processo criativo e natildeo apenas o resultado final Cabe ressaltar tambeacutem o termo ldquopatrimocircnio cultural da humanidaderdquo esta concepccedilatildeo eacute fundamental para uma proteccedilatildeo mais abrangente da diversidade cultural Assim como construccedilotildees histoacutericas satildeo patrimocircnios tangiacuteveis geralmente preservados o mesmo deve ocorrer com os bens imateriais as criaccedilotildees artiacutesticas e culturais

A mesma Convenccedilatildeo da Diversidade conceitua ainda Conteuacutedo Cultural como o ldquo() caraacuteter simboacutelico dimensatildeo artiacutestica e valores culturais que tecircm por origem ou expressam identidades culturaisrdquo e Expressotildees Culturais como ldquoaquelas expressotildees que resultam da criatividade de indiviacuteduos grupos e sociedades e que possuem conteuacutedo culturalrdquo

O termo ldquoidentidades culturaisrdquo e ldquocriatividaderdquo merecem ecircnfase O primeiro porque a identidade cultural resulta tambeacutem no meio de identificaccedilatildeo dos povos eacute um meio de demonstraccedilatildeo das origens e das raiacutezes de determinado grupo

A cultura diz muito sobre a personalidade das pessoas ajuda a mostrar de onde vieram fator muito importante para que se sintam incluiacutedas em seu meio

social Jaacute a questatildeo da criatividade eacute enfatizada como parte das expressotildees culturais jaacute que esta eacute uma caracteriacutestica que natildeo eacute expressa como requisito

para as obras autorais

Assim as obras autorais teriam apenas a originalidade como requisito para proteccedilatildeo natildeo seria obrigatoacuterio ser identificada uma criatividade enquanto para a caracterizaccedilatildeo de expressotildees culturais a criatividade se faz presente

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3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

Para receber o boletim via GEDAI newsletter

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Tiacutetulo do artigo interno

Tiacutetulo do artigo interno

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COPYRIGHT OU COPYTIGHT

AS AMARRAS DO SISTEMA DE DIREITO AUTORAL E DE

ACESSO Agrave CULTURA Guilherme Coutinho Silva

Ligia Ribeiro Vieira

INTRODUCcedilAtildeO

A construccedilatildeo do Sistema Internacional de Direito Autoral eacute baseada em convenccedilotildees e tratados desde 1883 com a ediccedilatildeo da Convenccedilatildeo de Paris sobre Propriedade Industrial e na sequencia a Convenccedilatildeo de Berna sobre Direito Autoral de 1886

A internacionalizaccedilatildeo era um passo inevitaacutevel visto que as obras autorais jaacute tendiam a romper barreiras geograacuteficas mesmo antes da revoluccedilatildeo informacional processo este que fez esta expansatildeo tomar proporccedilotildees gigantescas

Poreacutem esta internacionalizaccedilatildeo acaba por submeter normas que regulam diretamente o acesso a cultura agrave interesses hegemocircnicos fortemente influenciados pela pauta da induacutestria cultural

A maximizaccedilatildeo da proteccedilatildeo autoral cada vez mais estendida agrave empresas e tecnologias pouco ligadas aos interesses dos criadores eacute tido como caminho uacutenico para preservaccedilatildeo da cultura

Mas qual eacute esta cultura que estaacute sendo protegida

Contribuiccedilatildeo GEDAI ao Seminaacuterio NEDAC

No dia 9 e 10 de junho ocorreu no Rio de Janeiro o I Seminaacuterio de

Direito Arte e Poliacuteticas Culturais evento promovido pelo NEDAC -

Nuacutecleo de Estudos e Pesquisa em Direito Artes e Poliacuteticas Culturais

O GEDAI participou do evento com a presenccedila do professor Marcos

Wachowicz na mesa sobre Reforma da Lei de Direito Autoral Aleacutem

disto os demais membros do grupo contribuiacuteram com diversos

trabalhos acadecircmicos que foram entatildeo apresentados

1 O SISTEMA DE TUTELA JURIacuteDICA DOS BENS INTELECTUAIS E CULTURAIS

A Convenccedilatildeo de Berna para a Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas de 1886 foi o primeiro grande instrumento internacional voltado para a proteccedilatildeo dos Direitos Autorais Estes direitos posteriormente foram tambeacutem previstos pela proacutepria Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos de 1948 o qual garante que ldquotoda pessoa tem direito agrave proteccedilatildeo dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produccedilatildeo cientiacutefica literaacuteria ou artiacutestica da qual seja autorrdquo (Artigo XXVII 2)

O tema eacute diretamente vinculado agrave OMPI (Organizaccedilatildeo Mundial da Propriedade Intelectual) poreacutem a partir da criaccedilatildeo da OMC (Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio) em 1994 esta organizaccedilatildeo internacional tomou a frente nas discussotildees sobre Propriedade Intelectual em geral e mais especificamente sobre os Direitos Autorais A OMC sucedeu o GATT1 na regulaccedilatildeo do comeacutercio mundial e tem como uma de suas funccedilotildees coordenar os vaacuterios acordos que regem o sistema multilateral de comeacutercio

Dentro deste novo contexto internacional ocorreu a ediccedilatildeo do TRIPs (Trade-Related Intellectual Property Rights) conhecido na traduccedilatildeo como Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comeacutercio Este tratado internacional fez parte do conjunto de acordos assinados no ano de 1994 ao final da Rodada do Uruguai que deu origem agrave OMC No que tange aos direitos autoais o presente tratado reiterou de forma quase integral o texto da Convenccedilatildeo de Berna de forma a estendecirc-la a todos os paiacuteses filiados agrave OMC

Aleacutem do sistema da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio a tutela juriacutedica dos direitos autorais tambeacutem se daacute por meio da UNESCO agecircncia das Naccedilotildees Unidas encarregada da cultura que tem a funccedilatildeo de promover uma ldquosalutar diversidade de culturasrdquo e facilitar o ldquotracircnsito livre de ideacuteias pelas palavras e imagensrdquo conforme revela a Constituiccedilatildeo da agecircncia de 1946

Para tanto foram editadas diversas disposiccedilotildees relativas agrave diversidade cultural e ao exerciacutecio dos direitos culturais como acordo de Florenccedila de 1950 Protocolo de Nairobi 1976 Convenccedilatildeo Universal sobre Direitos de Autor 1952 Declaraccedilatildeo dos Princiacutepios de Cooperaccedilatildeo Cultural Internacional 1966 Convenccedilatildeo sobre as Medidas que Devem Adotar-se para Proibir e Impedir a Importaccedilatildeo a Exportaccedilatildeo e a Transferecircncia de Propriedade Iliacutecita de Bens Culturais 1970 Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial Cultural e Natural 1972 Declaraccedilatildeo da UNESCO sobre a Raccedila e os Preconceitos Raciais 1978 Recomendaccedilatildeo relativa agrave condiccedilatildeo do Artista de 1980 Recomendaccedilatildeo sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular 1989 Declaraccedilatildeo Universal sobre a Diversidade Cultural 2002

1 Acordo Geral sobre Tarifas e Comeacutercio

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Aleacutem disso merece destaque a Declaraccedilatildeo de Princiacutepios sobre a Toleracircncia da UNESCO de 1995 que trata da toleracircncia justamente como ldquoa aceitaccedilatildeo e o apreccedilo da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo de nossos modos de expressatildeo e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanosrdquo um instrumento de construccedilatildeo da paz (art 11)

Outro destaque relevante eacute que a Declaraccedilatildeo aborda a toleracircncia como uma atitude ativa que fortalece a democracia e o pluralismo

No ano de 2005 a referida Organizaccedilatildeo elaborou a Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (a qual seraacute aqui denominada apenas de Convenccedilatildeo da Diversidade) texto legal que foi um marco mundial na regulaccedilatildeo da mateacuteria e trouxe conceitos importantes para a sua sistematizaccedilatildeo

Do mesmo modo como natildeo houve consenso agrave eacutepoca da discussatildeo da Convenccedilatildeo de Berna sobre direitos autorais (com relaccedilatildeo agrave inserccedilatildeo de medidas de proteccedilatildeo agrave diversidade cultural) na discussatildeo da Convenccedilatildeo de 2005 os Estados Unidos capitanearam uma tentativa de restringir ao maacuteximo o alcance da tutela pretendida ao qualificar de ldquodiversionista a caracterizaccedilatildeo dos produtos culturais como dotados de natureza dual isto eacute considerados tanto como elementos de comeacutercio quanto como veiacuteculos de identidades valores e significadosrdquo1

Adota-se neste trabalho a concepccedilatildeo do jurista portuguecircs Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o qual afirma que ldquotodo o Direito de Autor eacute necessariamente Direito da Culturardquo que natildeo pode ser relegado diante de preocupaccedilotildees econocircmicas ou pessoais1

Wachowicz observa que

A partir do entendimento de que bens intelectuais tutelados pelos Direitos Autorais se encontram na base de todas as cadeias econocircmicas da Cultura e portanto estatildeo no campo da diversidade criadora a Convenccedilatildeo da Diversidade deve ser vista necessariamente como um instrumento complementar aos Tratados que versem sobre Direitos Autorais1

Desta forma evidencia-se que os bens intelectuais objetos do direito patrimonial do autor tanto satildeo considerados um ativo econocircmico como podem ser tidos como o pilar de formaccedilatildeo da economia cultural e do seu propenso desenvolvimento

Assim eacute possiacutevel notar que a supracitada Convenccedilatildeo aufere um tratamento duplo agraves obras intelectuais

bens intelectuais como ativos econocircmicos e

bens intelectuais como obras portadoras de identidades valores e significados culturais1

1 AacuteLVAREZ Vera Ciacutentia Diversidade Cultural e livre comeacutercio antagonismo ou oportunidade Brasiacutelia UNESCO IRBr 2008 p 153 1 ASCENSAtildeO Joseacute de Oliveira Direito Autoral 2 ed Rio de Janeiro Renovar 1997 p 28

1 WACHOWICZ Marcos SANTOS Manoel Joaquim Pereira dos Estudos de Direito de Autor e a Revisatildeo da Lei de Direitos Autorais Florianoacutepolis Fundaccedilatildeo Boiteux 2010 p 80

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2 DIVERSIDADE CULTURAL Algumas consideraccedilotildees

A Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais tem entre seus vaacuterios objetivos ldquoreafirmar o direito soberano dos Estados de conservar adotar e implementar as poliacuteticas e medidas que considerem apropriadas para a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais em seu territoacuteriordquo (art 1 h) e ldquofortalecer a cooperaccedilatildeo e a solidariedade internacionais em um espiacuterito de parceria visando especialmente o aprimoramento das capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade das expressotildees culturaisrdquo (art 1ordm i)

A remodelaccedilatildeo do conceito de cultura que desde o seacuteculo XVIII vinha sendo utilizado com o sentido de cultivo ou desenvolvimento acontece durante o seacuteculo XIX quando a antropologia cultural ou etnologia a toma como objeto de estudo

O antropoacutelogo Edward Burnett Tylor define o termo cultura da seguinte maneira

Em seu sentido etnograacutefico mais amplo o termo cultura ou civilizaccedilatildeo designa todo o complexo que compreende simultaneamente o saber as crenccedilas as artes as leis os costumes ou toda outra faculdade ou haacutebito adquirido pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade1

Para Geertz antropoacutelogo americano a cultura deriva de um conceito essencialmente semioacutetico1 no qual a construccedilatildeo do seu significado eacute feita a partir das interaccedilotildees dos indiviacuteduos suas praacuteticas accedilotildees emoccedilotildees

Desta forma observa-se que a cultura eacute algo muito abstrato e de difiacutecil conceituaccedilatildeo ldquo() deve ser considerada como um conjunto distinto de elementos espirituais materiais intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social

Aleacutem da arte e da literatura ela abarca tambeacutem os estilos de vida modos de convivecircncia sistemas de valores tradiccedilotildees e crenccedilasrdquo (Preacircmbulo da Declaraccedilatildeo Universal de Diversidade Cultural da UNESCO 2001) Percebe-se assim que haacute uma grande gama de questotildees abrangidas por este conceito o fio condutor de aspectos tatildeo diferentes como arte e sistemas de valores eacute que estes elementos devem estar inseridos dentro de uma sociedade ou grupo social Natildeo haacute cultura criada a partir de uma pessoa independente sem relaccedilatildeo com seu meio Mesmo que uma obra de arte tenha um soacute autor deve ser observado o contexto social em que aquele estaacute inserido para que possa ser aferido o relevo cultural da obra 1 TYLOR Edward Burnett apud MATTELART Armand Diversidade Cultural e Mundializaccedilatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2005 p 17 1 GEERTZ Clifford The Interpretation of Cultures New York Basic Books 2000 p 5

Este princiacutepio da soberania dos Estados eacute reiterado em vaacuterias passagens da Convenccedilatildeo o que demonstra a preocupaccedilatildeo em se dar garantia aos paiacuteses de protegerem as suas proacuteprias expressotildees culturais com a adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sem subordinaccedilatildeo a elementos externos

Outro ponto importante da Convenccedilatildeo mencionada acima eacute a relaccedilatildeo da promoccedilatildeo da diversidade cultural como fator primordial para o desenvolvimento sustentaacutevel prevista em seu artigo 6ordm

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A Convenccedilatildeo da Diversidade traz em seu artigo 4ordm definiccedilotildees de grande utilidade que complementam o conceito de cultura Extrai-se

Diversidade culturalrdquo refere-se agrave multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressatildeo Tais expressotildees satildeo transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades

A diversidade cultural se manifesta natildeo apenas nas variadas formas pelas quais se expressa se enriquece e se transmite o patrimocircnio cultural da humanidade mediante a variedade das expressotildees culturais mas tambeacutem atraveacutes dos diversos modos de criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo distribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo das expressotildees culturais quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados

Destaca-se desta referecircncia a importacircncia do meio de expressatildeo e do contexto em que eacute criada a cultura Assim como natildeo se pode considerar o autor de forma isolada em relaccedilatildeo ao meio em que foi produzida a obra tambeacutem deve ser levado em conta o processo criativo e natildeo apenas o resultado final Cabe ressaltar tambeacutem o termo ldquopatrimocircnio cultural da humanidaderdquo esta concepccedilatildeo eacute fundamental para uma proteccedilatildeo mais abrangente da diversidade cultural Assim como construccedilotildees histoacutericas satildeo patrimocircnios tangiacuteveis geralmente preservados o mesmo deve ocorrer com os bens imateriais as criaccedilotildees artiacutesticas e culturais

A mesma Convenccedilatildeo da Diversidade conceitua ainda Conteuacutedo Cultural como o ldquo() caraacuteter simboacutelico dimensatildeo artiacutestica e valores culturais que tecircm por origem ou expressam identidades culturaisrdquo e Expressotildees Culturais como ldquoaquelas expressotildees que resultam da criatividade de indiviacuteduos grupos e sociedades e que possuem conteuacutedo culturalrdquo

O termo ldquoidentidades culturaisrdquo e ldquocriatividaderdquo merecem ecircnfase O primeiro porque a identidade cultural resulta tambeacutem no meio de identificaccedilatildeo dos povos eacute um meio de demonstraccedilatildeo das origens e das raiacutezes de determinado grupo

A cultura diz muito sobre a personalidade das pessoas ajuda a mostrar de onde vieram fator muito importante para que se sintam incluiacutedas em seu meio

social Jaacute a questatildeo da criatividade eacute enfatizada como parte das expressotildees culturais jaacute que esta eacute uma caracteriacutestica que natildeo eacute expressa como requisito

para as obras autorais

Assim as obras autorais teriam apenas a originalidade como requisito para proteccedilatildeo natildeo seria obrigatoacuterio ser identificada uma criatividade enquanto para a caracterizaccedilatildeo de expressotildees culturais a criatividade se faz presente

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3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

Para receber o boletim via GEDAI newsletter

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Page 5: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

1 O SISTEMA DE TUTELA JURIacuteDICA DOS BENS INTELECTUAIS E CULTURAIS

A Convenccedilatildeo de Berna para a Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas de 1886 foi o primeiro grande instrumento internacional voltado para a proteccedilatildeo dos Direitos Autorais Estes direitos posteriormente foram tambeacutem previstos pela proacutepria Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos de 1948 o qual garante que ldquotoda pessoa tem direito agrave proteccedilatildeo dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produccedilatildeo cientiacutefica literaacuteria ou artiacutestica da qual seja autorrdquo (Artigo XXVII 2)

O tema eacute diretamente vinculado agrave OMPI (Organizaccedilatildeo Mundial da Propriedade Intelectual) poreacutem a partir da criaccedilatildeo da OMC (Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio) em 1994 esta organizaccedilatildeo internacional tomou a frente nas discussotildees sobre Propriedade Intelectual em geral e mais especificamente sobre os Direitos Autorais A OMC sucedeu o GATT1 na regulaccedilatildeo do comeacutercio mundial e tem como uma de suas funccedilotildees coordenar os vaacuterios acordos que regem o sistema multilateral de comeacutercio

Dentro deste novo contexto internacional ocorreu a ediccedilatildeo do TRIPs (Trade-Related Intellectual Property Rights) conhecido na traduccedilatildeo como Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comeacutercio Este tratado internacional fez parte do conjunto de acordos assinados no ano de 1994 ao final da Rodada do Uruguai que deu origem agrave OMC No que tange aos direitos autoais o presente tratado reiterou de forma quase integral o texto da Convenccedilatildeo de Berna de forma a estendecirc-la a todos os paiacuteses filiados agrave OMC

Aleacutem do sistema da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio a tutela juriacutedica dos direitos autorais tambeacutem se daacute por meio da UNESCO agecircncia das Naccedilotildees Unidas encarregada da cultura que tem a funccedilatildeo de promover uma ldquosalutar diversidade de culturasrdquo e facilitar o ldquotracircnsito livre de ideacuteias pelas palavras e imagensrdquo conforme revela a Constituiccedilatildeo da agecircncia de 1946

Para tanto foram editadas diversas disposiccedilotildees relativas agrave diversidade cultural e ao exerciacutecio dos direitos culturais como acordo de Florenccedila de 1950 Protocolo de Nairobi 1976 Convenccedilatildeo Universal sobre Direitos de Autor 1952 Declaraccedilatildeo dos Princiacutepios de Cooperaccedilatildeo Cultural Internacional 1966 Convenccedilatildeo sobre as Medidas que Devem Adotar-se para Proibir e Impedir a Importaccedilatildeo a Exportaccedilatildeo e a Transferecircncia de Propriedade Iliacutecita de Bens Culturais 1970 Convenccedilatildeo para a Proteccedilatildeo do Patrimocircnio Mundial Cultural e Natural 1972 Declaraccedilatildeo da UNESCO sobre a Raccedila e os Preconceitos Raciais 1978 Recomendaccedilatildeo relativa agrave condiccedilatildeo do Artista de 1980 Recomendaccedilatildeo sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular 1989 Declaraccedilatildeo Universal sobre a Diversidade Cultural 2002

1 Acordo Geral sobre Tarifas e Comeacutercio

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Aleacutem disso merece destaque a Declaraccedilatildeo de Princiacutepios sobre a Toleracircncia da UNESCO de 1995 que trata da toleracircncia justamente como ldquoa aceitaccedilatildeo e o apreccedilo da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo de nossos modos de expressatildeo e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanosrdquo um instrumento de construccedilatildeo da paz (art 11)

Outro destaque relevante eacute que a Declaraccedilatildeo aborda a toleracircncia como uma atitude ativa que fortalece a democracia e o pluralismo

No ano de 2005 a referida Organizaccedilatildeo elaborou a Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (a qual seraacute aqui denominada apenas de Convenccedilatildeo da Diversidade) texto legal que foi um marco mundial na regulaccedilatildeo da mateacuteria e trouxe conceitos importantes para a sua sistematizaccedilatildeo

Do mesmo modo como natildeo houve consenso agrave eacutepoca da discussatildeo da Convenccedilatildeo de Berna sobre direitos autorais (com relaccedilatildeo agrave inserccedilatildeo de medidas de proteccedilatildeo agrave diversidade cultural) na discussatildeo da Convenccedilatildeo de 2005 os Estados Unidos capitanearam uma tentativa de restringir ao maacuteximo o alcance da tutela pretendida ao qualificar de ldquodiversionista a caracterizaccedilatildeo dos produtos culturais como dotados de natureza dual isto eacute considerados tanto como elementos de comeacutercio quanto como veiacuteculos de identidades valores e significadosrdquo1

Adota-se neste trabalho a concepccedilatildeo do jurista portuguecircs Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o qual afirma que ldquotodo o Direito de Autor eacute necessariamente Direito da Culturardquo que natildeo pode ser relegado diante de preocupaccedilotildees econocircmicas ou pessoais1

Wachowicz observa que

A partir do entendimento de que bens intelectuais tutelados pelos Direitos Autorais se encontram na base de todas as cadeias econocircmicas da Cultura e portanto estatildeo no campo da diversidade criadora a Convenccedilatildeo da Diversidade deve ser vista necessariamente como um instrumento complementar aos Tratados que versem sobre Direitos Autorais1

Desta forma evidencia-se que os bens intelectuais objetos do direito patrimonial do autor tanto satildeo considerados um ativo econocircmico como podem ser tidos como o pilar de formaccedilatildeo da economia cultural e do seu propenso desenvolvimento

Assim eacute possiacutevel notar que a supracitada Convenccedilatildeo aufere um tratamento duplo agraves obras intelectuais

bens intelectuais como ativos econocircmicos e

bens intelectuais como obras portadoras de identidades valores e significados culturais1

1 AacuteLVAREZ Vera Ciacutentia Diversidade Cultural e livre comeacutercio antagonismo ou oportunidade Brasiacutelia UNESCO IRBr 2008 p 153 1 ASCENSAtildeO Joseacute de Oliveira Direito Autoral 2 ed Rio de Janeiro Renovar 1997 p 28

1 WACHOWICZ Marcos SANTOS Manoel Joaquim Pereira dos Estudos de Direito de Autor e a Revisatildeo da Lei de Direitos Autorais Florianoacutepolis Fundaccedilatildeo Boiteux 2010 p 80

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2 DIVERSIDADE CULTURAL Algumas consideraccedilotildees

A Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais tem entre seus vaacuterios objetivos ldquoreafirmar o direito soberano dos Estados de conservar adotar e implementar as poliacuteticas e medidas que considerem apropriadas para a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais em seu territoacuteriordquo (art 1 h) e ldquofortalecer a cooperaccedilatildeo e a solidariedade internacionais em um espiacuterito de parceria visando especialmente o aprimoramento das capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade das expressotildees culturaisrdquo (art 1ordm i)

A remodelaccedilatildeo do conceito de cultura que desde o seacuteculo XVIII vinha sendo utilizado com o sentido de cultivo ou desenvolvimento acontece durante o seacuteculo XIX quando a antropologia cultural ou etnologia a toma como objeto de estudo

O antropoacutelogo Edward Burnett Tylor define o termo cultura da seguinte maneira

Em seu sentido etnograacutefico mais amplo o termo cultura ou civilizaccedilatildeo designa todo o complexo que compreende simultaneamente o saber as crenccedilas as artes as leis os costumes ou toda outra faculdade ou haacutebito adquirido pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade1

Para Geertz antropoacutelogo americano a cultura deriva de um conceito essencialmente semioacutetico1 no qual a construccedilatildeo do seu significado eacute feita a partir das interaccedilotildees dos indiviacuteduos suas praacuteticas accedilotildees emoccedilotildees

Desta forma observa-se que a cultura eacute algo muito abstrato e de difiacutecil conceituaccedilatildeo ldquo() deve ser considerada como um conjunto distinto de elementos espirituais materiais intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social

Aleacutem da arte e da literatura ela abarca tambeacutem os estilos de vida modos de convivecircncia sistemas de valores tradiccedilotildees e crenccedilasrdquo (Preacircmbulo da Declaraccedilatildeo Universal de Diversidade Cultural da UNESCO 2001) Percebe-se assim que haacute uma grande gama de questotildees abrangidas por este conceito o fio condutor de aspectos tatildeo diferentes como arte e sistemas de valores eacute que estes elementos devem estar inseridos dentro de uma sociedade ou grupo social Natildeo haacute cultura criada a partir de uma pessoa independente sem relaccedilatildeo com seu meio Mesmo que uma obra de arte tenha um soacute autor deve ser observado o contexto social em que aquele estaacute inserido para que possa ser aferido o relevo cultural da obra 1 TYLOR Edward Burnett apud MATTELART Armand Diversidade Cultural e Mundializaccedilatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2005 p 17 1 GEERTZ Clifford The Interpretation of Cultures New York Basic Books 2000 p 5

Este princiacutepio da soberania dos Estados eacute reiterado em vaacuterias passagens da Convenccedilatildeo o que demonstra a preocupaccedilatildeo em se dar garantia aos paiacuteses de protegerem as suas proacuteprias expressotildees culturais com a adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sem subordinaccedilatildeo a elementos externos

Outro ponto importante da Convenccedilatildeo mencionada acima eacute a relaccedilatildeo da promoccedilatildeo da diversidade cultural como fator primordial para o desenvolvimento sustentaacutevel prevista em seu artigo 6ordm

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A Convenccedilatildeo da Diversidade traz em seu artigo 4ordm definiccedilotildees de grande utilidade que complementam o conceito de cultura Extrai-se

Diversidade culturalrdquo refere-se agrave multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressatildeo Tais expressotildees satildeo transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades

A diversidade cultural se manifesta natildeo apenas nas variadas formas pelas quais se expressa se enriquece e se transmite o patrimocircnio cultural da humanidade mediante a variedade das expressotildees culturais mas tambeacutem atraveacutes dos diversos modos de criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo distribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo das expressotildees culturais quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados

Destaca-se desta referecircncia a importacircncia do meio de expressatildeo e do contexto em que eacute criada a cultura Assim como natildeo se pode considerar o autor de forma isolada em relaccedilatildeo ao meio em que foi produzida a obra tambeacutem deve ser levado em conta o processo criativo e natildeo apenas o resultado final Cabe ressaltar tambeacutem o termo ldquopatrimocircnio cultural da humanidaderdquo esta concepccedilatildeo eacute fundamental para uma proteccedilatildeo mais abrangente da diversidade cultural Assim como construccedilotildees histoacutericas satildeo patrimocircnios tangiacuteveis geralmente preservados o mesmo deve ocorrer com os bens imateriais as criaccedilotildees artiacutesticas e culturais

A mesma Convenccedilatildeo da Diversidade conceitua ainda Conteuacutedo Cultural como o ldquo() caraacuteter simboacutelico dimensatildeo artiacutestica e valores culturais que tecircm por origem ou expressam identidades culturaisrdquo e Expressotildees Culturais como ldquoaquelas expressotildees que resultam da criatividade de indiviacuteduos grupos e sociedades e que possuem conteuacutedo culturalrdquo

O termo ldquoidentidades culturaisrdquo e ldquocriatividaderdquo merecem ecircnfase O primeiro porque a identidade cultural resulta tambeacutem no meio de identificaccedilatildeo dos povos eacute um meio de demonstraccedilatildeo das origens e das raiacutezes de determinado grupo

A cultura diz muito sobre a personalidade das pessoas ajuda a mostrar de onde vieram fator muito importante para que se sintam incluiacutedas em seu meio

social Jaacute a questatildeo da criatividade eacute enfatizada como parte das expressotildees culturais jaacute que esta eacute uma caracteriacutestica que natildeo eacute expressa como requisito

para as obras autorais

Assim as obras autorais teriam apenas a originalidade como requisito para proteccedilatildeo natildeo seria obrigatoacuterio ser identificada uma criatividade enquanto para a caracterizaccedilatildeo de expressotildees culturais a criatividade se faz presente

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3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

Para receber o boletim via GEDAI newsletter

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Page 6: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

Aleacutem disso merece destaque a Declaraccedilatildeo de Princiacutepios sobre a Toleracircncia da UNESCO de 1995 que trata da toleracircncia justamente como ldquoa aceitaccedilatildeo e o apreccedilo da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo de nossos modos de expressatildeo e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanosrdquo um instrumento de construccedilatildeo da paz (art 11)

Outro destaque relevante eacute que a Declaraccedilatildeo aborda a toleracircncia como uma atitude ativa que fortalece a democracia e o pluralismo

No ano de 2005 a referida Organizaccedilatildeo elaborou a Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais (a qual seraacute aqui denominada apenas de Convenccedilatildeo da Diversidade) texto legal que foi um marco mundial na regulaccedilatildeo da mateacuteria e trouxe conceitos importantes para a sua sistematizaccedilatildeo

Do mesmo modo como natildeo houve consenso agrave eacutepoca da discussatildeo da Convenccedilatildeo de Berna sobre direitos autorais (com relaccedilatildeo agrave inserccedilatildeo de medidas de proteccedilatildeo agrave diversidade cultural) na discussatildeo da Convenccedilatildeo de 2005 os Estados Unidos capitanearam uma tentativa de restringir ao maacuteximo o alcance da tutela pretendida ao qualificar de ldquodiversionista a caracterizaccedilatildeo dos produtos culturais como dotados de natureza dual isto eacute considerados tanto como elementos de comeacutercio quanto como veiacuteculos de identidades valores e significadosrdquo1

Adota-se neste trabalho a concepccedilatildeo do jurista portuguecircs Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o qual afirma que ldquotodo o Direito de Autor eacute necessariamente Direito da Culturardquo que natildeo pode ser relegado diante de preocupaccedilotildees econocircmicas ou pessoais1

Wachowicz observa que

A partir do entendimento de que bens intelectuais tutelados pelos Direitos Autorais se encontram na base de todas as cadeias econocircmicas da Cultura e portanto estatildeo no campo da diversidade criadora a Convenccedilatildeo da Diversidade deve ser vista necessariamente como um instrumento complementar aos Tratados que versem sobre Direitos Autorais1

Desta forma evidencia-se que os bens intelectuais objetos do direito patrimonial do autor tanto satildeo considerados um ativo econocircmico como podem ser tidos como o pilar de formaccedilatildeo da economia cultural e do seu propenso desenvolvimento

Assim eacute possiacutevel notar que a supracitada Convenccedilatildeo aufere um tratamento duplo agraves obras intelectuais

bens intelectuais como ativos econocircmicos e

bens intelectuais como obras portadoras de identidades valores e significados culturais1

1 AacuteLVAREZ Vera Ciacutentia Diversidade Cultural e livre comeacutercio antagonismo ou oportunidade Brasiacutelia UNESCO IRBr 2008 p 153 1 ASCENSAtildeO Joseacute de Oliveira Direito Autoral 2 ed Rio de Janeiro Renovar 1997 p 28

1 WACHOWICZ Marcos SANTOS Manoel Joaquim Pereira dos Estudos de Direito de Autor e a Revisatildeo da Lei de Direitos Autorais Florianoacutepolis Fundaccedilatildeo Boiteux 2010 p 80

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2 DIVERSIDADE CULTURAL Algumas consideraccedilotildees

A Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais tem entre seus vaacuterios objetivos ldquoreafirmar o direito soberano dos Estados de conservar adotar e implementar as poliacuteticas e medidas que considerem apropriadas para a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais em seu territoacuteriordquo (art 1 h) e ldquofortalecer a cooperaccedilatildeo e a solidariedade internacionais em um espiacuterito de parceria visando especialmente o aprimoramento das capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade das expressotildees culturaisrdquo (art 1ordm i)

A remodelaccedilatildeo do conceito de cultura que desde o seacuteculo XVIII vinha sendo utilizado com o sentido de cultivo ou desenvolvimento acontece durante o seacuteculo XIX quando a antropologia cultural ou etnologia a toma como objeto de estudo

O antropoacutelogo Edward Burnett Tylor define o termo cultura da seguinte maneira

Em seu sentido etnograacutefico mais amplo o termo cultura ou civilizaccedilatildeo designa todo o complexo que compreende simultaneamente o saber as crenccedilas as artes as leis os costumes ou toda outra faculdade ou haacutebito adquirido pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade1

Para Geertz antropoacutelogo americano a cultura deriva de um conceito essencialmente semioacutetico1 no qual a construccedilatildeo do seu significado eacute feita a partir das interaccedilotildees dos indiviacuteduos suas praacuteticas accedilotildees emoccedilotildees

Desta forma observa-se que a cultura eacute algo muito abstrato e de difiacutecil conceituaccedilatildeo ldquo() deve ser considerada como um conjunto distinto de elementos espirituais materiais intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social

Aleacutem da arte e da literatura ela abarca tambeacutem os estilos de vida modos de convivecircncia sistemas de valores tradiccedilotildees e crenccedilasrdquo (Preacircmbulo da Declaraccedilatildeo Universal de Diversidade Cultural da UNESCO 2001) Percebe-se assim que haacute uma grande gama de questotildees abrangidas por este conceito o fio condutor de aspectos tatildeo diferentes como arte e sistemas de valores eacute que estes elementos devem estar inseridos dentro de uma sociedade ou grupo social Natildeo haacute cultura criada a partir de uma pessoa independente sem relaccedilatildeo com seu meio Mesmo que uma obra de arte tenha um soacute autor deve ser observado o contexto social em que aquele estaacute inserido para que possa ser aferido o relevo cultural da obra 1 TYLOR Edward Burnett apud MATTELART Armand Diversidade Cultural e Mundializaccedilatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2005 p 17 1 GEERTZ Clifford The Interpretation of Cultures New York Basic Books 2000 p 5

Este princiacutepio da soberania dos Estados eacute reiterado em vaacuterias passagens da Convenccedilatildeo o que demonstra a preocupaccedilatildeo em se dar garantia aos paiacuteses de protegerem as suas proacuteprias expressotildees culturais com a adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sem subordinaccedilatildeo a elementos externos

Outro ponto importante da Convenccedilatildeo mencionada acima eacute a relaccedilatildeo da promoccedilatildeo da diversidade cultural como fator primordial para o desenvolvimento sustentaacutevel prevista em seu artigo 6ordm

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A Convenccedilatildeo da Diversidade traz em seu artigo 4ordm definiccedilotildees de grande utilidade que complementam o conceito de cultura Extrai-se

Diversidade culturalrdquo refere-se agrave multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressatildeo Tais expressotildees satildeo transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades

A diversidade cultural se manifesta natildeo apenas nas variadas formas pelas quais se expressa se enriquece e se transmite o patrimocircnio cultural da humanidade mediante a variedade das expressotildees culturais mas tambeacutem atraveacutes dos diversos modos de criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo distribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo das expressotildees culturais quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados

Destaca-se desta referecircncia a importacircncia do meio de expressatildeo e do contexto em que eacute criada a cultura Assim como natildeo se pode considerar o autor de forma isolada em relaccedilatildeo ao meio em que foi produzida a obra tambeacutem deve ser levado em conta o processo criativo e natildeo apenas o resultado final Cabe ressaltar tambeacutem o termo ldquopatrimocircnio cultural da humanidaderdquo esta concepccedilatildeo eacute fundamental para uma proteccedilatildeo mais abrangente da diversidade cultural Assim como construccedilotildees histoacutericas satildeo patrimocircnios tangiacuteveis geralmente preservados o mesmo deve ocorrer com os bens imateriais as criaccedilotildees artiacutesticas e culturais

A mesma Convenccedilatildeo da Diversidade conceitua ainda Conteuacutedo Cultural como o ldquo() caraacuteter simboacutelico dimensatildeo artiacutestica e valores culturais que tecircm por origem ou expressam identidades culturaisrdquo e Expressotildees Culturais como ldquoaquelas expressotildees que resultam da criatividade de indiviacuteduos grupos e sociedades e que possuem conteuacutedo culturalrdquo

O termo ldquoidentidades culturaisrdquo e ldquocriatividaderdquo merecem ecircnfase O primeiro porque a identidade cultural resulta tambeacutem no meio de identificaccedilatildeo dos povos eacute um meio de demonstraccedilatildeo das origens e das raiacutezes de determinado grupo

A cultura diz muito sobre a personalidade das pessoas ajuda a mostrar de onde vieram fator muito importante para que se sintam incluiacutedas em seu meio

social Jaacute a questatildeo da criatividade eacute enfatizada como parte das expressotildees culturais jaacute que esta eacute uma caracteriacutestica que natildeo eacute expressa como requisito

para as obras autorais

Assim as obras autorais teriam apenas a originalidade como requisito para proteccedilatildeo natildeo seria obrigatoacuterio ser identificada uma criatividade enquanto para a caracterizaccedilatildeo de expressotildees culturais a criatividade se faz presente

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3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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2 DIVERSIDADE CULTURAL Algumas consideraccedilotildees

A Convenccedilatildeo Sobre a Proteccedilatildeo e Promoccedilatildeo da Diversidade das Expressotildees Culturais tem entre seus vaacuterios objetivos ldquoreafirmar o direito soberano dos Estados de conservar adotar e implementar as poliacuteticas e medidas que considerem apropriadas para a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo da diversidade das expressotildees culturais em seu territoacuteriordquo (art 1 h) e ldquofortalecer a cooperaccedilatildeo e a solidariedade internacionais em um espiacuterito de parceria visando especialmente o aprimoramento das capacidades dos paiacuteses em desenvolvimento de protegerem e de promoverem a diversidade das expressotildees culturaisrdquo (art 1ordm i)

A remodelaccedilatildeo do conceito de cultura que desde o seacuteculo XVIII vinha sendo utilizado com o sentido de cultivo ou desenvolvimento acontece durante o seacuteculo XIX quando a antropologia cultural ou etnologia a toma como objeto de estudo

O antropoacutelogo Edward Burnett Tylor define o termo cultura da seguinte maneira

Em seu sentido etnograacutefico mais amplo o termo cultura ou civilizaccedilatildeo designa todo o complexo que compreende simultaneamente o saber as crenccedilas as artes as leis os costumes ou toda outra faculdade ou haacutebito adquirido pelo ser humano enquanto membro de uma sociedade1

Para Geertz antropoacutelogo americano a cultura deriva de um conceito essencialmente semioacutetico1 no qual a construccedilatildeo do seu significado eacute feita a partir das interaccedilotildees dos indiviacuteduos suas praacuteticas accedilotildees emoccedilotildees

Desta forma observa-se que a cultura eacute algo muito abstrato e de difiacutecil conceituaccedilatildeo ldquo() deve ser considerada como um conjunto distinto de elementos espirituais materiais intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social

Aleacutem da arte e da literatura ela abarca tambeacutem os estilos de vida modos de convivecircncia sistemas de valores tradiccedilotildees e crenccedilasrdquo (Preacircmbulo da Declaraccedilatildeo Universal de Diversidade Cultural da UNESCO 2001) Percebe-se assim que haacute uma grande gama de questotildees abrangidas por este conceito o fio condutor de aspectos tatildeo diferentes como arte e sistemas de valores eacute que estes elementos devem estar inseridos dentro de uma sociedade ou grupo social Natildeo haacute cultura criada a partir de uma pessoa independente sem relaccedilatildeo com seu meio Mesmo que uma obra de arte tenha um soacute autor deve ser observado o contexto social em que aquele estaacute inserido para que possa ser aferido o relevo cultural da obra 1 TYLOR Edward Burnett apud MATTELART Armand Diversidade Cultural e Mundializaccedilatildeo Satildeo Paulo Paraacutebola 2005 p 17 1 GEERTZ Clifford The Interpretation of Cultures New York Basic Books 2000 p 5

Este princiacutepio da soberania dos Estados eacute reiterado em vaacuterias passagens da Convenccedilatildeo o que demonstra a preocupaccedilatildeo em se dar garantia aos paiacuteses de protegerem as suas proacuteprias expressotildees culturais com a adoccedilatildeo das medidas cabiacuteveis sem subordinaccedilatildeo a elementos externos

Outro ponto importante da Convenccedilatildeo mencionada acima eacute a relaccedilatildeo da promoccedilatildeo da diversidade cultural como fator primordial para o desenvolvimento sustentaacutevel prevista em seu artigo 6ordm

7

A Convenccedilatildeo da Diversidade traz em seu artigo 4ordm definiccedilotildees de grande utilidade que complementam o conceito de cultura Extrai-se

Diversidade culturalrdquo refere-se agrave multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressatildeo Tais expressotildees satildeo transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades

A diversidade cultural se manifesta natildeo apenas nas variadas formas pelas quais se expressa se enriquece e se transmite o patrimocircnio cultural da humanidade mediante a variedade das expressotildees culturais mas tambeacutem atraveacutes dos diversos modos de criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo distribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo das expressotildees culturais quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados

Destaca-se desta referecircncia a importacircncia do meio de expressatildeo e do contexto em que eacute criada a cultura Assim como natildeo se pode considerar o autor de forma isolada em relaccedilatildeo ao meio em que foi produzida a obra tambeacutem deve ser levado em conta o processo criativo e natildeo apenas o resultado final Cabe ressaltar tambeacutem o termo ldquopatrimocircnio cultural da humanidaderdquo esta concepccedilatildeo eacute fundamental para uma proteccedilatildeo mais abrangente da diversidade cultural Assim como construccedilotildees histoacutericas satildeo patrimocircnios tangiacuteveis geralmente preservados o mesmo deve ocorrer com os bens imateriais as criaccedilotildees artiacutesticas e culturais

A mesma Convenccedilatildeo da Diversidade conceitua ainda Conteuacutedo Cultural como o ldquo() caraacuteter simboacutelico dimensatildeo artiacutestica e valores culturais que tecircm por origem ou expressam identidades culturaisrdquo e Expressotildees Culturais como ldquoaquelas expressotildees que resultam da criatividade de indiviacuteduos grupos e sociedades e que possuem conteuacutedo culturalrdquo

O termo ldquoidentidades culturaisrdquo e ldquocriatividaderdquo merecem ecircnfase O primeiro porque a identidade cultural resulta tambeacutem no meio de identificaccedilatildeo dos povos eacute um meio de demonstraccedilatildeo das origens e das raiacutezes de determinado grupo

A cultura diz muito sobre a personalidade das pessoas ajuda a mostrar de onde vieram fator muito importante para que se sintam incluiacutedas em seu meio

social Jaacute a questatildeo da criatividade eacute enfatizada como parte das expressotildees culturais jaacute que esta eacute uma caracteriacutestica que natildeo eacute expressa como requisito

para as obras autorais

Assim as obras autorais teriam apenas a originalidade como requisito para proteccedilatildeo natildeo seria obrigatoacuterio ser identificada uma criatividade enquanto para a caracterizaccedilatildeo de expressotildees culturais a criatividade se faz presente

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3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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Page 8: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

A Convenccedilatildeo da Diversidade traz em seu artigo 4ordm definiccedilotildees de grande utilidade que complementam o conceito de cultura Extrai-se

Diversidade culturalrdquo refere-se agrave multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressatildeo Tais expressotildees satildeo transmitidas entre e dentro dos grupos e sociedades

A diversidade cultural se manifesta natildeo apenas nas variadas formas pelas quais se expressa se enriquece e se transmite o patrimocircnio cultural da humanidade mediante a variedade das expressotildees culturais mas tambeacutem atraveacutes dos diversos modos de criaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo distribuiccedilatildeo e fruiccedilatildeo das expressotildees culturais quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados

Destaca-se desta referecircncia a importacircncia do meio de expressatildeo e do contexto em que eacute criada a cultura Assim como natildeo se pode considerar o autor de forma isolada em relaccedilatildeo ao meio em que foi produzida a obra tambeacutem deve ser levado em conta o processo criativo e natildeo apenas o resultado final Cabe ressaltar tambeacutem o termo ldquopatrimocircnio cultural da humanidaderdquo esta concepccedilatildeo eacute fundamental para uma proteccedilatildeo mais abrangente da diversidade cultural Assim como construccedilotildees histoacutericas satildeo patrimocircnios tangiacuteveis geralmente preservados o mesmo deve ocorrer com os bens imateriais as criaccedilotildees artiacutesticas e culturais

A mesma Convenccedilatildeo da Diversidade conceitua ainda Conteuacutedo Cultural como o ldquo() caraacuteter simboacutelico dimensatildeo artiacutestica e valores culturais que tecircm por origem ou expressam identidades culturaisrdquo e Expressotildees Culturais como ldquoaquelas expressotildees que resultam da criatividade de indiviacuteduos grupos e sociedades e que possuem conteuacutedo culturalrdquo

O termo ldquoidentidades culturaisrdquo e ldquocriatividaderdquo merecem ecircnfase O primeiro porque a identidade cultural resulta tambeacutem no meio de identificaccedilatildeo dos povos eacute um meio de demonstraccedilatildeo das origens e das raiacutezes de determinado grupo

A cultura diz muito sobre a personalidade das pessoas ajuda a mostrar de onde vieram fator muito importante para que se sintam incluiacutedas em seu meio

social Jaacute a questatildeo da criatividade eacute enfatizada como parte das expressotildees culturais jaacute que esta eacute uma caracteriacutestica que natildeo eacute expressa como requisito

para as obras autorais

Assim as obras autorais teriam apenas a originalidade como requisito para proteccedilatildeo natildeo seria obrigatoacuterio ser identificada uma criatividade enquanto para a caracterizaccedilatildeo de expressotildees culturais a criatividade se faz presente

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3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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Page 9: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

3 HARD LAW E SOFT LAW

A expressatildeo Hard Law (ou ldquoLei Durardquo na traduccedilatildeo literal) no contexto do Direito Internacional representa um conjunto de leis e instrumentos normativos vinculativos ou seja implicam aos Estados responsabilidades e deveres reais sobre aquilo que estaacute sendo acordado no teor destes documentos

A Hard Law pode ser considerada uma norma acabada em sua completude de modo que acarreta obrigaccedilotildees juriacutedicas ldquofortesrdquo as quais remetem a sanccedilotildees caso haja um descumprimento destas prerrogativas Uma das principais fontes representativas da Hard Law eacute o tratado entendido como um acordo expresso de vontades entre Estados ou Organizaccedilotildees Internacionais nos quais estes se comprometem legalmente a agir de determinada maneira ou criam relaccedilotildees particulares entre si

Os tratados satildeo tidos como uma espeacutecie de contrato no acircmbito do Direito Internacional assinado por aqueles sujeitos que possuem personalidade juriacutedica internacional Para tanto os dois princiacutepios gerais que regem o direito dos tratados satildeo tambeacutem aqueles que regem a teoria geral dos contratos o pacta sunt servanda e o princiacutepio da boa-feacute

Estes instrumentos juriacutedicos internacionais satildeo conhecidos por uma variedade de denominaccedilotildees tais quais Convenccedilotildees Acordos Internacionais Memorandos Concordata Pactos Atos Gerais Cartas Estatutos Declaraccedilotildees e Convecircnios Existe alguma divergecircncia doutrinaacuteria acerca destas terminologias contudo a importacircncia do estudo da Hard Law recai sob a sua representaccedilatildeo no cenaacuterio internacional aquela que remete agrave definiccedilatildeo supracitada de um acordo de vontades que gera direitos e deveres e possiacuteveis sanccedilotildees

Em contraponto agrave esta ldquolei durardquo eacute importante mencionar um fenocircmeno que surge e se relaciona com o Direito Internacional conhecido por Soft Law Um conceito que lhe pode ser atribuiacutedo eacute trazido por Salmon

ldquo[] regras cujo valor normativo seria limitado seja porque os instrumentos que as contecircm natildeo seriam juridicamente obrigatoacuterios seja porque as disposiccedilotildees em causa ainda que figurando em um instrumento constringente natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram obrigaccedilotildees de direito positivo ou natildeo criaram senatildeo obrigaccedilotildees pouco constringentesrdquo (traduccedilatildeo nossa)

Desta forma a Soft Law pode ser entendida como um instrumento preparado por um ente estatal ou natildeo-estatal que tem a pretensatildeo de estabelecer princiacutepios orientadores do comportamento dos Estados e de outros entes e que tendem ao estabelecimento de novas normas juriacutedicas1

Pode-se compreender a Soft Law pela vertente de um ldquovir a serrdquo no mundo juriacutedico um ato de vontade dos Estados que aspira a tornar-se uma norma por vezes satildeo compromissos que estes pretendem cumprir mas preferem inscrever no universo dos comprometimentos de caraacuteter poliacutetico e natildeo juriacutedico Assim fica evidenciado que o cumprimento deste instrumento eacute recomendado ou seja natildeo eacute obrigatoacuterio e natildeo acarreta algum tipo de sanccedilatildeo agravequeles que o descumprem

1 SHAW Malcolm N International Law Cambridge Cambridge University Press 2003 p88

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A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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Page 10: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

A Soft Law surgiu em meados da deacutecada de 60 e veio primordialmente da doutrina norte-americana que a enxergava como uma possibilidade de empreender accedilotildees que fossem comuns aos Estados sem que estes se sentissem responsabilizados por seus atos ou omissotildees

Sob o ponto de vista da praacutetica eacute possiacutevel dizer que a Soft Law decorre das accedilotildees da diplomacia multilateral empreendida pelos Estados

Alguns dos documentos produzidos pela atividade diplomaacutetica em sentido lato satildeo instrumentos da Soft Law

Nas palavras de Nasser

Destaca-se entatildeo das prerrogativas mencionadas que este instrumento ldquoquase legalrdquo apesar de natildeo possuir um valor juriacutedico vinculante apresenta um valor moral muito significativo pois tendem a influenciar o comportamento dos Estados de uma maneira relevante Trata-se de um avanccedilo na harmonizaccedilatildeo dos direitos internos em determinadas aacutereas Um dos objetivos primordiais eacute a obtenccedilatildeo de uma ldquoregulaccedilatildeo tatildeo uniforme quanto possiacutevel pelos direitos internos dos fenocircmenos transnacionaisrdquo1

Feito o contraponto entre a Hard Law e a Soft Law vislumbra-se necessaacuteria uma contextualizaccedilatildeo dos conceitos com os sistemas que visam a proteccedilatildeo e promoccedilatildeo do Direito Autoral no acircmbito internacional

4 OMC X UNESCO

Os paiacuteses que dominam o mercado cultural tecircm dificuldade em aceitar limitaccedilotildees aos seus interesses comerciais Ressalta-se desta maneira as profundas diferenccedilas entre a OMC que como jaacute dito tem um vieacutes comercial e a UNESCO que possui um enfoque na promoccedilatildeo da diversidade de culturas Resta evidente que os dois organismos tecircm posiccedilotildees diacutespares e que por muitas vezes entram em colisatildeo

Na medida em que a regulamentaccedilatildeo mundial sobre propriedade intelectual passou a fazer parte do escopo da OMC foi dada uma relevacircncia muito maior ao aspecto econocircmico destes direitos em especial do Direito Autoral

Destaca-se que a OMC produz acordos que satildeo considerados Hard Law no sentido de que geram obrigaccedilotildees vinculando os Estados que deles faccedilam parte

Luiz Otaacutevio Baptista aacuterbitro brasileiro do oacutergatildeo de diferendos da OMC reitera que ldquoO TRIPs faz parte segundo entendo da modalidade dos tratados-contrato e integra o grupo de acordos conhecidos como tratados da OMC que foram aprovados em Marrakesh em 1994 [] Eacute claro assim que os mandamentos do TRIPs natildeo se endereccedilam aos suacuteditos mas aos Estados-Membros da OMC [] Temos que entendecirc-lo realmente como um tratado-contrato tal como as demais obrigaccedilotildees da OMCrdquo1 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 86 1 NASSER Salem Hikmat Fontes e normas do direito internacional um estudo sobre a soft law Satildeo Paulo Atlas 2005 p 116

Estaacute-se falando portanto de um grande universo de instrumentos resultantes das

interaccedilotildees entre os atores internacionais do que chamamos de diplomacia expandida e transformada que participam da regulaccedilatildeo lato sensu das relaccedilotildees internacionais e

que podem exercer algum papel na produccedilatildeo de normas do seu direito1

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O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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Page 11: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

O TRIPs eacute um acordo que prevecirc ldquodireitos miacutenimosrdquo agraves legislaccedilotildees nacionais dos paiacuteses contratantes Pelo que se extrai do seu artigo 1ordm os Estados membros devem colocar em vigor o que estaacute disposto no referido tratado

Art 11 Os Membros colocaratildeo em vigor o disposto nesse Acordo Os Membros poderatildeo mas natildeo estaratildeo obrigados a prover em sua legislaccedilatildeo proteccedilatildeo mais ampla que a exigida neste Acordo desde que tal proteccedilatildeo natildeo contrarie as disposiccedilotildees deste Acordo Os Membros determinaratildeo livremente a forma apropriada de implementar as disposiccedilotildees deste Acordo no acircmbito de seus respectivos sistemas e praacutetica juriacutedicos

Desta forma a UNESCO e suas Convenccedilotildees entendidas como instrumentos de Soft Law acabam de certa forma enfraquecidas em relaccedilatildeo agrave OMC por natildeo terem o aparato coercitivo e a abrangecircncia desta

O TRIPs prevecirc em seu art 64 a utilizaccedilatildeo do sistema de soluccedilatildeo de controveacutersias previsto no GATT o que daacute uma maior efetividade no cumprimento de suas determinaccedilotildees inclusive com o mecanismo de retaliaccedilatildeo cruzada recentemente utilizado a favor do Brasil em conflito com os EUA relativo a produccedilatildeo de algodatildeo

Este mecanismo permite em uma disputa entre paiacuteses membros que a parte reclamante que obtiver uma decisatildeo favoraacutevel possa suspender concessotildees e obrigaccedilotildees relativas a acordos (de propriedade intelectual por exemplo) que natildeo tenham ligaccedilatildeo alguma com o objeto da disputa Nota-se que uma pretensa violaccedilatildeo do TRIPs pode cobrir todo o acircmbito da OMC

Sob esta oacutetica eacute relevante destacar a frase atribuiacuteda ao ex-Presidente dos EUA Theodore Roosevelt ldquoSpeak softly and carry a big stickrdquo que possui particular aplicaccedilatildeo no campo do TRIPs no que tange agrave soluccedilatildeo de controveacutersias

Roosevelt utilizou estra frase pela primeira vez em um discurso que proferiu no estado de Minnesota EUA no ano de 1901 e esta fazia parte da sua ideologia de governo agrave eacutepoca

Tal analogia pode ser feita pois ao contraacuterio do que se convencionou a partir do sistema criado pela Convenccedilatildeo da Uniatildeo de Paris primeiro grande marco da propriedade industrial de 1883 na qual um recurso aos Tribunais Internacionais estava sujeito agrave preacutevia aceitaccedilatildeo pelo reacuteu da jurisdiccedilatildeo da corte pertinente o sistema de resoluccedilatildeo de controveacutersias da OMC eacute obrigatoacuterio para todos os membros da organizaccedilatildeo1

Reitera-se este importante fator de que os paiacuteses membros da OMC estatildeo automaticamente sujeitos agraves regras dos acordos assumidos no acircmbito multilateral da Organizaccedilatildeo incluiacutedos natildeo soacute o TRIPs mas o GATT relativos a bens e o GATS para serviccedilos

A desobediecircncia agraves regras desses acordos autoriza um paiacutes membro a apresentar uma reclamaccedilatildeo

perante o Oacutergatildeo de Soluccedilatildeo de Controveacutersias da OMCsup2

A integraccedilatildeo neste sistema importa que uma vez suscitada a controveacutersia por um estado membro perante o painel adjudicatoacuterio as partes estaratildeo vinculadas ao cumprimento de suas decisotildees

Vale ressaltar ainda que as controveacutersias soacute podem ser levadas a este foro Assim os mais de 150 membros da OMC estatildeo sujeitos aos seus acordos 1 BARBOSA Denis Borges Propriedade Intelectual a aplicaccedilatildeo do acorodo TRIPs Rio de Janeiro Lumen Juris 2005 p 81 1 LEIS Sandra Propriedade intelectual virou moeda de troca Consultor Juriacutedico 23 de julho de 2009 Disponiacutevel em httpwwwconjurcombr2009-jul-23propriedade-intelectual-virou-moeda-troca-relacoes-entre-paises Acesso em 15 setembro 2009

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A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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Page 12: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

A UNESCO faz parte do sistema ONU que tem uma abrangecircncia de quase 200 paiacuteses

Poreacutem estes natildeo estatildeo obrigados a adotar as Convenccedilotildees advindas da UNESCO nas quais satildeo encontradas mais poliacuteticas de atuaccedilatildeo recomendaccedilotildees e paracircmetros de conduta e nem tantas regras especiacuteficas e coercitivas Isto demonstra que natildeo haacute previsatildeo de qualquer sanccedilatildeo ao descumprimento de algum dos preceitos

Aleacutem disso enquanto o art 72 do TRIPs determina a impossibilidade de serem feitas reservas a qualquer das disposiccedilotildees sem o consentimento dos demais membros na Convenccedilatildeo da Diversidade por exemplo o art 33 permite que emendas natildeo sejam aceitas por parte dos paiacuteses e natildeo haacute qualquer proibiccedilatildeo relativa ao uso de reservas por parte dos signataacuterios

A ausecircncia deste tipo de determinaccedilatildeo permite que as Convenccedilotildees se tornem colchas de retalhos em que cada paiacutes adota os dispositivos que forem mais pertinentes aos proacuteprios interesses o que diminui gravemente a eficaacutecia das normas

CONCLUSOtildeES

As relaccedilotildees entre o Direito Autoral e a Diversidade Cultural na sociedade contemporacircnea merecem uma anaacutelise profunda o que se traduz por uma tarefa complexa

Adotar uma visatildeo linear para a Diversidade Cultural existente em determinada sociedade e entendecirc-la como advinda da criatividade humana que envolta num rico ambiente cultural estimula a criaccedilatildeo de obras intelectuais que seratildeo objetos da tutela juriacutedica do Direito Autoral configura-se como a reduccedilatildeo de uma realidade muito mais intrincada

Esta visatildeo deixaria de analisar e compreender as demais implicaccedilotildees que se fazem presentes na sociedade

A liberdade de acesso aos bens culturais conquistada pela humanidade nas uacuteltimas deacutecadas promoveu um desenvolvimento social que natildeo pode ser suprimido ou restringido em benefiacutecio da manutenccedilatildeo de modelos de negoacutecio obsoletos e de uma induacutestria cultural que tende a promover a homogeneizaccedilatildeo cultural

Desta forma pensar a tutela juriacutedica dos bens intelectuais implica repensar a anaacutelise de elementos como o direito fundamental agrave cultura e a relevacircncia da proteccedilatildeo da diversidade cultural para o desenvolvimento da sociedade e a tutela juriacutedica tradicional aplicada pelo Direito Internacional aos bens intelectuais dissociada da percepccedilatildeo dos bens culturais

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Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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Page 13: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

Domiacutenio puacuteblico fortalecido acesso ao conhecimento e fonte de criaccedilotildees

Christiano Lacorte e Gabriela Arenhart

Domiacutenio puacuteblico eacute o conjunto de obras nas quais natildeo mais incide a proteccedilatildeo patrimonial do direito de autor e que em virtude disto seu uso eacute livre independente de autorizaccedilatildeo ou pagamento Segundo Ascensatildeo natildeo eacute domiacutenio mas eacute liberdade ndash uma vez que titular deste repositoacuterio eacute toda a coletividade

As obras que compotildee tal repositoacuterio satildeo predominantemente aquelas em que o direito patrimonial decaiu Ainda aquelas de autor desconhecido bem como as de autores falecidos e que natildeo deixaram herdeiros

A principal funccedilatildeo do domiacutenio puacuteblico eacute que sirva como mateacuteria prima para novas criaccedilotildees como um elemento de inspiraccedilatildeo para os novos autores O acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico cria tambeacutem a possiblidade de inovaccedilotildees contiacutenuas ou seja modificaccedilotildees em uma obra jaacute iniciada por outrem

Estaacute na essecircncia do domiacutenio puacuteblico a garantia de liberdade de acesso e uso agraves obras que o compotildee A partir desta caracteriacutestica deve-se entender esse acervo como um instrumento capaz de promover a eficaacutecia de alguns direitos fundamentais como o direito agrave educaccedilatildeo agrave cultura e agrave informaccedilatildeo

Ao analisar o domiacutenio puacuteblico na perspectiva econocircmica verifica-se a possibilidade de novos modelos de negoacutecios pois uma vez que natildeo mais incide direito patrimonial sob a obra menor seria o custo de reproduccedilatildeo e de reinserccedilatildeo no mercado sendo mais faacutecil a manutenccedilatildeo de obras disponiacuteveis e acessiacuteveis inclusive as menos conhecidas

Para facilitar o conhecimento da situaccedilatildeo da obra existem algumas alternativas como o registro das obras e a marca de domiacutenio puacuteblico promovida pela organizaccedilatildeo do Creative Commons

O domiacutenio puacuteblico eficaz eacute aquele que exerce suas razotildees de existir ou seja manter as obras acessiacuteveis e disponiacuteveis Existem condiccedilotildees que podem limitar a eficaacutecia do domiacutenio puacuteblico ndash fatores limitadores ndash quanto reforccedilar suas caracteriacutesticas ampliando o alcance beneacutefico das obras que o compotildeem ndash fatores fortalecedores

Algumas situaccedilotildees podem influenciar restritivamente a disponibilidade e o acesso agraves obras em domiacutenio puacuteblico uma vez que representam barreiras agrave efetividade desse acervo O exerciacutecio dos direitos morais pelos sucessores do criador indefinidamente mesmo quando jaacute se esgotou o prazo de proteccedilatildeo patrimonial e a obra passou a constituir o domiacutenio puacuteblico pode reduzir a possibilidade de livre uso desse acervo Sugere-se uma identificaccedilatildeo de quais direitos devem se perpetuar e quais natildeo

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A maneira de identificar as caracteriacutesticas de uma obra - quando foi lanccedilada por qual autor se haacute coautoria se haacute direitos conexos - eacute eminentemente artesanal Este meacutetodo tambeacutem dificulta a determinaccedilatildeo de quando a criaccedilatildeo passou a fazer parte do domiacutenio puacuteblico O elemento central para saber quando o direito patrimonial da obra decaiu eacute em geral temporal conhecer a data do falecimento do autor e a partir deste marco contar o prazo previsto no art 41 da Lei 961098

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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Page 14: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

Outra questatildeo que pode limitar a efetividade do domiacutenio puacuteblico reside diretamente no exerciacutecio ndash legiacutetimo ndash do direito de propriedade mais precisamente no direito de impedir o acesso a uma coacutepia fiacutesica de uma obra Se essa coacutepia for a uacuteltima ou mesmo rara de alguma obra que jaacute esteja em domiacutenio puacuteblico natildeo se conseguiraacute reproduzi-la para que possa ser acessada de forma ampla Sugere-se mecanismos que encorajem os proprietaacuterios a permitir o acesso das obras como a inclusatildeo em cataacutelogos digitais

As medidas teacutecnicas de proteccedilatildeo satildeo implementaccedilotildees tecnoloacutegicas que visam restringir usos natildeo autorizados No entanto tal instrumento pode impedir tambeacutem a plena utilizaccedilatildeo de obras em domiacutenio puacuteblico

Todavia algumas condiccedilotildeesaccedilotildees podem reforccedilar o acesso e a disponibilidade do acervo Um domiacutenio puacuteblico fortalecido representa a possibilidade de um ciclo virtuoso de bens intelectuais desse acervo gerando a criaccedilatildeo de novas obras que um dia pertenceratildeo ao proacuteprio domiacutenio puacuteblico que constantemente se ampliaraacute

A existecircncia de uma definiccedilatildeo na lei para o domiacutenio puacuteblico seria um elemento favoraacutevel ao fortalecimento desse instituto bem como uma determinaccedilatildeo clara da sua amplitude das formalidades e dos mecanismos de proteccedilatildeo e preservaccedilatildeo desse acervo

Eacute importante que haja iniciativas para incentivar o cadastro de informaccedilotildees sobre obras intelectuais protegidas pelo direito autoral

A criaccedilatildeo de um sistema de registro centralizado ou ao menos padronizado que permita o intercacircmbio de informaccedilotildees entre entidades que armazenam dados sobre obras protegidas pelo Direito Autoral proporcionaria a integraccedilatildeo entre esses repositoacuterios permitindo conhecer mais precisamente a situaccedilatildeo das obras e consequentemente oferecendo maior seguranccedila para utilizaacute-las

As soluccedilotildees tecnoloacutegicas devem ser aliadas para a preservaccedilatildeo do conteuacutedo como a reproduccedilatildeo digital das obras e interconectividade da informaccedilotildees para garantir o acesso e a disponibilidade

Domiacutenio puacuteblico eacute a regra direito de exploraccedilatildeo exclusivo eacute a exceccedilatildeo

Essa afirmaccedilatildeo poderia ser a diretriz para o tratamento da proteccedilatildeo das obras artiacutesticas e cientiacuteficas protegidas pelo direito autoral

Afinal apoacutes esse periacuteodo de exploraccedilatildeo da criaccedilatildeo exclusivamente pelo autor a obra passaraacute ao acervo comum teraacute acesso e utilizaccedilatildeo livre e serviraacute tambeacutem para inspirar a criaccedilatildeo de novas obras

Dentre todas as razotildees mencionadas eacute fundamental que seja atribuiacuteda maior importacircncia ao tema domiacutenio puacuteblico nas discussotildees sobre direito autoral no Brasil uma vez que representa um repositoacuterio essencial para possibilitar o livre acesso uso e como consequecircncia disso a defesa e o incentivo agrave produccedilatildeo cultural

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Os longos prazos de proteccedilatildeo aos quais estatildeo submetidas as obras podem representar a perda definitiva de muitas delas

Essas restriccedilotildees muitas vezes impedem que a obra venha a fazer parte do acervo em domiacutenio puacuteblico uma vez que podem se perder antes que o prazo protetivo tenha cessado

O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

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O DIREITO FUNDAMENTAL DE ACESSO Agrave CULTURA E O COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS AUTORAIS NO AMBIENTE DIGITAL

Rangel Oliveira Trindade Rodrigo Otaacutevio Cruz e Silva

Em uma recente perspectiva histoacuterica a revoluccedilatildeo industrial e o capitalismo libertaram a realidade social que vigorava em termos poliacuteticos (Estados absolutistas) e fundaram a construccedilatildeo da organizaccedilatildeo social (Estados modernos) Substitui-se entatildeo o paradigma poliacutetico pelo paradigma econocircmico e social que triunfou por dois seacuteculos

Atualmente observamos a necessidade de um novo paradigma sobretudo porque os problemas culturais adquiriram tamanha importacircncia que o pensamento social deve organizar-se ao redor deles e eacute entatildeo que surge o tema da informaccedilatildeo que designa uma revoluccedilatildeo tecnoloacutegica cujos efeitos sociais e culturais satildeo vistos por toda parte Alain Touraine ao defender o novo paradigma do ldquonatildeo socialrdquo ndash em que estatildeo no centro o sujeito e os direitos culturais ndash bem esclarece o surgimento do paradigma cultural sobre o mundo do social

Eacute por assim dizer que estamos vivendo a construccedilatildeo de um novo paradigma o paradigma cultural em que o volume e o fluxo de informaccedilotildees disponiacuteveis alcanccedilaram dimensotildees jamais vistas

O sujeito desta nova realidade social ao passar a perceber o mundo em termos culturais natildeo poderaacute ficar refeacutem de Estados de grupos ou de determinadas classes pois eacute a sua individualidade e o acesso aos bens culturais que iratildeo ditar o futuro da humanidade na sociedade da informaccedilatildeo

Ocorre que o compartilhamento de arquivos pelos atuais sistemas P2P permite aos usuaacuterios realizar trocas legais (obras autorizadas ou em domiacutenio puacuteblico) e ilegais (sem licenccedila do autor) de conteuacutedos autorais Sob esse prisma diz-se que a infraccedilatildeo propriamente dita ocorre da conduta do usuaacuterio de se apropriar sem licenccedila de uma obra autoral conduta infratora que jamais pode ser imputada como responsabilidade do sistema P2P cuja finalidade eacute viabilizar o acesso a arquivos digitais de e por seus usuaacuterios Eacute por isso que o discurso unilateral e patrimonialista das induacutestrias de conteuacutedo natildeo pode ser assentido pelos tribunais por contrariar a essecircncia dos anseios da sociedade da informaccedilatildeo natildeo fosse assim o judiciaacuterio poderia determinar por exemplo o fechamento das induacutestrias beacutelicas das induacutestrias automobiliacutesticas e das induacutestrias de computadores pois os produtos de todas elas apesar de criados visando fins legais por vezes satildeo utilizados para o acometimento de atos ilegais como crimes contra o patrimocircnio crimes contra a vida crimes virtuais etc

Ademais ao relacionarmos a evoluccedilatildeo do ser humano com a cultura considera-se o acesso agrave cultura como responsaacutevel pela formaccedilatildeo do caraacuteter e de todos os valores existentes em cada pessoa e por isso natildeo eacute exagero dizer que um indiviacuteduo desprovido de cultura tem ofendida a sua proacutepria dignidade humana

Nesse sentido a Constituiccedilatildeo dedicou atenccedilatildeo especial ao direito de acesso agrave cultura e agrave proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro ao conferir expressamente ao Estado o dever de proteger todo tipo de manifestaccedilatildeo cultural legitimamente tupiniquim tutelando as ldquomanifestaccedilotildees das culturas populares indiacutegenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizatoacuterio nacionalrdquo

A interaccedilatildeo entre usuaacuterios particularmente jovens e as imposiccedilotildees colocadas pelas novas tecnologias a exemplo da obrigatoriedade do uso

de software para a realizaccedilatildeo de trabalhos escolares a difusatildeo de todo tipo de cultura e a disponibilizaccedilatildeo de informaccedilotildees e serviccedilos

exclusivamente no ambiente digital conduziram com a propagaccedilatildeo de download de dados a um vertiginoso ldquoconsumordquo de arquivos

disponibilizados na Internet Atualmente isto se daacute em sua maioria pela utilizaccedilatildeo de softwares que permitem o compartilhamento de arquivos

de um usuaacuterio para o outro sem intermediaacuterios atraveacutes da tecnologia conhecida por P2P (peer-to-peer)

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A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

wwwdireitoautoralufscbr

CHAMADA DE ARTIGOS

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

Para receber o boletim via GEDAI newsletter

acesse httpdireitoautoralufscbr

E-mail gedaiufscgmailcom

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Page 16: Boletim do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e ... · - Cursos de Verano de El Escorial 2011 "SOCIEDAD, COMUNICACIÓN Y PROPIEDAD INTELECTUAL. Interesse cocial e atualidade, são

A importacircncia do acesso agrave cultura reconhecidamente como um direito fundamental de segunda geraccedilatildeo encontra dois fundamentos de um lado o acesso agrave cultura como dignificaccedilatildeo da pessoa humana e de outro a funccedilatildeo social que a propriedade intelectual deve representar

A dignidade da pessoa humana estaacute ligada agrave ideia do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos fundamentais com a defesa do miacutenimo existencial necessaacuterio ao desenvolvimento da pessoa

Eacute por tal razatildeo que dizemos que a dignidade da pessoa humana fundamento da Repuacuteblica (art 1ordm III) somente pode atingida se garantido a cada indiviacuteduo o acesso ao patrimocircnio cultural existente

Jaacute o direito de propriedade do autor sobre a obra deve respeitar o princiacutepio da funccedilatildeo social da propriedade intelectual como um deve-ser de missatildeo social relativo agrave possibilidade de acesso agrave obra pela coletividade A funccedilatildeo social do direito do autor pode ser vista na contribuiccedilatildeo para a riqueza cultural nacional no estiacutemulo a novas criaccedilotildees no auxiacutelio agrave dignificaccedilatildeo e agrave educaccedilatildeo das pessoas na promoccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico e na possiacutevel geraccedilatildeo de tributos e postos de trabalho

A exemplo do reconhecimento conferido ao acesso agrave cultura a Constituiccedilatildeo reconhece tambeacutem o direito do autor com o status de direito fundamental

Apesar da consideraccedilatildeo dada pelo legislador originaacuterio a ambos os direitos a aplicaccedilatildeo de um pode gerar como efeito reflexo a limitaccedilatildeo da eficaacutecia do outro o que por si soacute provoca um conflito entre os direitos Poreacutem se analisados sob a oacutetica de uma hierarquizaccedilatildeo que contraponha os interesses envolvidos eacute certo que sobressai a forccedila puacuteblica do acesso e contribuiccedilatildeo agrave cultura Isso porque a propriedade do autor natildeo eacute absoluta em razatildeo do seu dever-ser de atendimento da funccedilatildeo social da propriedade intelectual o que em si representa uma limitaccedilatildeo ao monopoacutelio do autor

Ao tratarmos de um tema bem especiacutefico como eacute a questatildeo do compartilhamento de arquivos autorais em contraponto com o direito autoral todos os interesses puacuteblicos e privados devem ser relevados

Eacute por isso que o sistema P2P natildeo pode ser jogado na vala comum da ilegalidade pois muitas das trocas de arquivos por ele viabilizadas tecircm por objeto bens culturais que natildeo violam direitos autorais e penalizando o sistema pela ocorrecircncia de uma determinada ilegalidade penaliza-se tambeacutem o fomento agrave criatividade o acesso agrave cultura e o desenvolvimento sociocultural nacional

Em suma ao defender a efetivaccedilatildeo do acesso agrave cultura natildeo se pode retirar do autor o devido reconhecimento de seu direito a exemplo da retribuiccedilatildeo financeira devida pela criatividade pelo contraacuterio deve-se buscar a quebra do monopoacutelio do direto do autor que muitas vezes inviabiliza o acesso a bens culturais empobrece a diversidade cultural e prejudica o desenvolvimento social

Assim para que a aplicaccedilatildeo de um direito natildeo esvazie o outro eacute necessaacuterio que cada uma das partes envolvidas faccedila concessotildees pois o fenocircmeno da era digital eacute irreversiacutevel e natildeo deve ser visto como um problema na relaccedilatildeo autor-criatividade mas como uma soluccedilatildeo para que o Autor tenha acesso e possa explorar novos mercados que possa divulgar e criar cada vez mais bens culturais e assim contribuir para o fomento da criatividade da cultura e da sociedade em geral

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

CHAMADA DE ARTIGOS

O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

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novembro de 2011

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

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As novas tecnologias criadas pelo homem o levaram a um mundo imaginado apenas nas obras ficcionais que jaacute previa o uso da tecnologia na vida das pessoas como uma caracteriacutestica marcante da humanidade Todas as searas da vida humana passam a ser influenciadas pela tecnologia da medicina agrave culinaacuteria da educaccedilatildeo agrave guerra do lar aos esportes A sociedade se transforma com a tecnologia e surge a necessidade de rever velhos conceitos tornando-os mais adequados a esta realidade

ATIVIDADES ACADEcircMICAS ndash GEDAI UFSC

Palestra Direitos Autorais e Culturais A Cultura do Plaacutegio

No dia 3 de junho o GEDAI promoveu o Seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais com o mestrando Christiano Lacorte e o mestre Guilherme Coutinho

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O Grupo de Estudos de Direito Autoral e Informaccedilatildeo ndash GEDAI buscando contribuir com o processo de aprimoramento da Revisatildeo da Lei Autoral Brasileira realizou no dia 13 de junho de 2011 do PPGDCCJUFSC seminaacuterio sobre Direitos Autorais e Culturais sob o tema

PALESTRA ldquoPOR QUE REVISAR A LEI DE DIREITOS AUTORAISrdquo Expositores Gonzaga Adolfo Marcos Wachowicz e Joseacute Isaac Pilati

A Lei atual foi editada sob o impacto das poliacuteticas ditadas pelos acordos comerciais da Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio (OMC) criada em 1994 eacutepoca na qual ainda era incipiente surgimento da Internet

O objetivo foi de que a sociedade e a nossa comunidade acadecircmica reflitam sobre o direito de autor dentro do contexto da Revoluccedilatildeo da Tecnologia da Informaccedilatildeo As obras intelectuais na Sociedade da Informaccedilatildeo ganharam novos espaccedilos novas dimensotildees Eacute isso que deve ser repensado quando se quer buscar uma tutela adequada para o bem intelectual na Sociedade da Informaccedilatildeo

O processo de Revisatildeo da Lei Autoral que o paiacutes vivencia seraacute analisado pelos palestrantes bem como se buscaraacute uma consolidaccedilatildeo de todos os estudos pareceres e trabalhos realizados pelo GEDAI para ao final ser publicado como forma de contribuiccedilatildeo ao debate

O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

O evento contaraacute com a presenccedila do jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo para a

abertura e no encerramento a presenccedila da Secretaacuteria de Econocircmia Criativa do

Ministro da Cultura Claacuteudia Leitatildeo bem como de outros renomados especialistas

brasileiros e estrangeiros

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O Grupo de Estudos em Direito Autoral e Informaccedilatildeo da Universidade Federal de

Santa Catarina (GEDAIUFSC) comunica a abertura de

prazos para envios de artigos cientiacuteficos referentes ao V CODAIP a realizar-se nos dias 31 de outubro e 1ordm de

novembro de 2011

Informaccedilotildees

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V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

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O evento eacute organizado pela Universidade Federal de Santa Catarina ndash UFSC pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito CPGDUFSC por intermeacutedio do Grupo de Estudos de Direito de Autor e Informaccedilatildeo GEDAIUSFC

O Congresso vai ao encontro com outras iniciativas objetivando estimular uma abordagem criacutetica e profunda acerca do Direito da Propriedade Intelectual analisando-se nesta oportunidade em especial os interesses puacuteblicos e econocircmicos envoltos na questatildeo do Direito autoral e a Econocircmia Criativa

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CHAMADA DE ARTIGOS

18

V CODAIP

Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

intermeacutedio do GEDAI do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC realizaraacute na cidade de Florianoacutepolis nos dias

31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

Para receber o boletim via GEDAI newsletter

acesse httpdireitoautoralufscbr

E-mail gedaiufscgmailcom

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Neste ano de 2011 novamente a Universidade Federal de Santa Catarina por

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31 de outubro e 01 de novembro de 2011 no Auditoacuterio da Reitoria da UFSC o V Congresso de Direito de Autor e Interesse Puacuteblico

O evento deste ano seraacute dedicado agrave anaacutelise da ECONOMIA CRITATIVA

discutindo suas conexotildees com o Direito Autoral como instrumento de politicas puacuteblicas para o desenvolvimento da diversidade cultural e das induacutestrias criativas tendo como EIXOS TEMAacuteTICOS OS DIREITOS AUTORAIS E A ECONOMIA CRIATIVA -

DIREITOS AUTORAIS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO Por essa razatildeo o temaacuterio do Congresso foi dividido em paineacuteis correspondentes seguintes toacutepicos temaacuteticos

DIMENSOtildeES DA ECONOMIA CRIATIVA ASPECTOS ECONOcircMICOS ASPECTOS SOCIAIS ASPECTOS CULTURAIS

INDUacuteSTRIAS CRIATIVAS E NOVOS MODELOS DE NEGOacuteCIO

MUacuteSICA CINEMA MIacuteDIA MODA E DESIGN

ECONOMIA CRIATIVA FORMAS DE ACESSO E DISPONIBILIZACcedilAtildeO ACERVOS DIGITAIS CONTEUacuteDOS ABERTOS MOVIMENTO INTERNACIONAL

DE ACESSO AO CONHECIMENTO

ECONOMIA CRIATIVA E CENAacuteRIO INTERNACIONAL PAIacuteSES DESENVOLVIDOS E EM DESENVOLVIMENTO SISTEMA INTERNACIONAL DE

PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA PAPEL DAS ORGANIZACcedilOtildeES INTERNACIONAIS

DIREITO DO ENTRETENIMENTO E DIVERSIDADE CULTURAL DIREITO CULTURAIS VS DIREITO DO ENTRETENIMENTO CONVENCcedilAtildeO DA UNESCO

2005 PRESERVACcedilAtildeO DA DIVERSIDADE CULTURAL

NOVAS TECNOLOGIAS E CULTURA DIGITAL CONVERGEcircNCIAS OBRAS COLABORATIVAS COMPARTILHAMENTO

POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS ESTRATEacuteGIAS DE DESENVOLVIMENTO E CONCORREcircNCIA

ECONOMIA CRIATIVA E DESENVOLVIMENTO POLITICAS PUacuteBLICAS DE INCENTIVOS

PAPEL ESTRATEacuteGICO DOS SETORES CRIATIVOS

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

Boletim Informativo

Editor-Coordenador

Marcos Wachowicz Editores Christiano de Campos Lacorte Rangel Oliveira Trindade Assistente de Editoraccedilatildeo Baacuterbara L E Paul Karen Manenti Gabriela Arenart Sarah Helena Linke Assessoria de imprensa

AGECOM UFSC

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A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais

O artigo 150 aliacutenea a do atual projeto de Lei de Direitos Autorais eacute um risco para a disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos na internet O alerta foi feito por especialistas no tema durante a segunda rodada de debates do Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizada na tarde desta terccedila-feira (31) no Superior Tribunal de Justiccedila em Brasiacutelia que teve como um dos temas o Uso de Obras na Internet

A mesa de debates foi mediada por Paulo Rosa representante da Associaccedilatildeo Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) e contou com a participaccedilatildeo dos palestrantes Guilherme Carboni professor da FAAP e Marcos Wachowicz professor da Universidade Federal de Santa Catarina

Para os dois acadecircmicos o artigo 150 pressupotildee que accedilotildees judiciais podem requerer a retirada de conteuacutedos que firam os direitos autorais e responsabilizem os servidores por tais conteuacutedos De acordo com os palestrantes isso geraria um medo generalizado que afetaria sobremaneira o acesso a informaccedilatildeo Eles sugeriram que o provedor fosse notificado e que esse por sua vez notificasse o dono do site para a retirada do conteuacutedo exemplo do que ocorre em paiacuteses como o Canadaacute e Chile

Na visatildeo de Guilherme Carboni se o projeto de lei for aprovado do modo que estaacute desequilibraria o processo em favor dos autores sendo que atualmente ateacute mesmo o conceito de autoria estaacute sendo colocada em xeque ldquoPenso que esse artigo deveria ser melhorado ou ateacute suprimido do projeto de lei pois natildeo atende a novas formas de autorias como as compartilhadas Eacute preciso buscar o equiliacutebrio e natildeo disseminar o medordquo afirmou

Jaacute o professor Marcos Wachowicz (clique aqui para ver pdf da palestra) vai aleacutem e sugere que o artigo provoca uma censura preacutevia agrave publicaccedilatildeo de conteuacutedos e que o ambiente da internet estaacute se estruturando ldquoPor isso eacute difiacutecil legislar sobre algo em constante modernizaccedilatildeo Eacute impossiacutevel prever como estaraacute daqui a cinco anosrdquo O moderador Paulo Rosa defendeu a remuneraccedilatildeo dos criadores de conteuacutedo sob pena da desmotivaccedilatildeo no processo criativo Ele tambeacutem entende que eacute preciso buscar o equiliacutebrio ldquoQuando encontrarmos esse paracircmetro mesas de debate como essa natildeo teratildeo mais sentidordquo justificou

O Seminaacuterio A Modernizaccedilatildeo da Lei de Direitos Autorais Contribuiccedilotildees Finais para o APL realizado pelo Ministeacuterio da Cultura tem como objetivo discutir com especialistas representantes da sociedade civil organizada e juristas o aperfeiccediloamento do Anteprojeto de Lei (APL) que altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 961098 (LDA) O objetivo do encontro que vai ateacute amanhatilde (1ordm) eacute atingir um consenso sobre o assunto e finalizar a discussatildeo antes do envio do texto final para a Casa Civil no dia 15 de julho (Texto Marcos Agostinho AscomMinC) httpwwwculturagovbrsite20110531a-modernizacao-da-lei-de-direitos-autorais-5

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