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Boletim do Kaos #5

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Boletim do Kaos #5

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ONDE PEGAR O SEU EXEMPLARSÃO PAULO - CAPITAL

Região CentralDGT Filmes Rua 13 de Maio, 70Ação Educativa Rua General Jardim, 660Sebo 264 Rua Rua Álvares Machado, 42Liberdade - F (11) 3105-8217Restaurante Santa MadalenaRua Sta Madalena, 27 - Bela VistaConduta Galeria 24 de MaioPorte Ilegal (Galeria 24 de Maio)Espaço Matilha(Rua Rêgo Freitas, 542 - Centro - SP)

Zona LesteLoja Suburbano ConvictoRua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Pta(11) 2569-9151Locadora New HolidayRua Nogueira Vioti (11) 2572-2000Casa de Cultura do Itaim PaulistaPça Lions Clube, s/n - Itaim Pta.Sebo MutanteRua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Pta)

Zona SulItaú Cultural (Na Biblioteca/Midiateca)Av. Paulista, 149 - 2º MezaninoBar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dosSantos, 797 - Chácara SantanaLoja 1 da Sul Rua Comendador Santana,138 - Capão RedondoLoja 1 da Sul Av Adolfo Pinheiro, 384Loja 31 - Galeria Borba GatoEstudio 1 da SulRua Grissom, 80-A - Metrô CapãoSarau da Cooperifa - Toda quarta 20h30Rua Bartolomeu dos Santos, 797Chácara SantanaSarau do Binho Rua Avelino Lemos Jr, 60Campo Limpo (11) 5844-6521Sarau da Ademar Rua Pablo Pimentel, 65Cidade Ademar (11) 5622-4410.

Zona OesteBar do Santista/Sarau Elo da CorrenteRua Jurubim, 788-A Pirituba

Zona NorteCCJ - Vila Nova CachoeirinhaAv Dep. Emílio Carlos, 3641Banca de Jornalalt. Nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr)Sarau da Brasa - Bar da CarlitaRua Prof.Viveiros Raposo, 234

SuzanoCentro Cultural de SuzanoRua Benjamin Constant, 682 - Centro

SantosDULIXO no Marapé[email protected]

www.boletimdokaos.blogspot.comPeça pelo email:[email protected]

“Todo mês, pego o Bole-tim do Kaos e levo para a escola.O legal é que agrada os profes-sorese os alunos. Muito bom o trabalhode vocês. Mesmo sendo de graça,tem muita qualidade”, falou um pro-fessor de escola pública no últimolançamento do jornal na Cooperifa.

Colocamos em prática umjornalismo com liberdade, incentivo aliteratura e que é antenado tanto coma juventude, que busca algo a mais,como com leitores já formados.

Saber que conseguimos, nosdias de hoje, incentivar a leitura, é muitogratificante.

Nessa edição, entre ascentenas de e-mails que recebemos, umchamou atenção: “Obtive muitas in-formações sobre literatura periféricae seus autores, eu confesso que nãoconhecia muito, mas depois das ma-térias sobre o assunto, comecei ame interessar, não sou um leitor mui-to assíduo, mas os autores que sãoindicados me interessaram e vouvoltar a ter uma prática na leitura”,teclou Jhonathan da Silva Mendes -Tubarão (SC).

Teve até um leitor de MinasGerais que recebeu o jornal de umamigo da Bahia. É a informação correndosolta e o Boletim cumprindo seu papel.

Em nossa quinta edição,trazemos uma entrevista com umaescritora peculiar. Cláudia Canto estálançando seu quarto livro abordandotemas desde a xenofobia, vivida naEuropa, aos bastidores de uma clínicapsiquiátrica no Brasil. Seus textos e su-as reflexões são elogiados por poetascomo Mano Brown, doRacionais.

Outra entrevista é com umautor já conhecido do público, ojornalista e escritor Xico Sá. Nasessão Grandes Homens, uma matériacom Edward Bunker, um dos mai-ores nomes da literatura marginal. Paracurtir a poesia de Roberto FerreiraLima e o Perfil do Poeta com oCooperiférico Lobão.

Continuamos com nossa tira1.000 Fita. Trazemos também, na di-ca de Sarau, o Elo da Corrente, dePirituba. Temos ainda, na sessão ONGQ Representa, direto da Bahia, umamatéria com Blacktitude.

De Portugal, nossa colabo-radora Juliana Penha fala sobre aliteratura como porta-voz do cárcere:o caso do jornalista Mumia Abu Jamal.E, na mesma página, você vê oslançamentos do mês da literatura quenos interessa.

No Espaço Vip das Palavras,um texto de Fernando Bonassi e,na parte de cinema, uma entrevistacom Ricardo Elias, que retrata asruas em seus filmes.

Também fizemos uma visita aoInstituto Itaú Cultural e mostramosas atrações que a instituição disponi-biliza, todas Catraca Livre. Para finalizarna sessão “Antes e Depois”, trazemosPaulo Leminski, que tem suas poesiaspor toda a publicação, junto com SérgioVaz, o poeta da periferia.Mês que vem tem mais.

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Dudu de Morro Agudo éconhecido pela ONG Enraizados eseus projetos sociais, e também porsua carreira no rap, além de aven-turas na literatura.

Sua primeira aparição foicom um conto na coletâneaSuburbano Convicto - Pelas Periferiasdo Brasil (Suburbano Convicto Edi-ções - 2007), e agora acaba de serconvidado para escrever a históriado Movimento Enraizados e sua

O projeto Grandes Encontroscomemorará o dia dos pais no domingo, 9de agosto, às 12h30 na praça de eventosdo Shopping Anália Franco, em São Paulo.O show será transmitido ao vivo pela daRádio Eldorado FM (92,9 kHz) e pelo siteTerritório Eldorado. O Grandes Encontrosfoi vencedor do Prêmio APCA na categoriade Melhor Programa ao Vivo de Rádio em2008 e, para celebrar a data em grandeestilo, Luiz Melodia dividirá o palco com oseu filho, o rapper Mahal Reis.

De um lado, o suingue e expe-riência de um dos mais respeitados compo-sitores e cantores da MPB, Luiz Melodia. Dooutro, o estilo jovem e a modernidade doseu filho, o rapper Mahal Reis. LuizMelodia mostrará toda a musicalidade deseu último trabalho, o álbum, EstaçãoMelodia, que reúne sambas dos anos 30, 40e 50, além de sucessos consagrados de suacarreira, como Pérola Negro e Negro Gato.

Por sua vez, o rapper Mahal Reis,combina sensibilidade e intelectualidadeque enriquece o cenário do hip hopnacional. Em parceria com seu pai, o rap-per gravou a música “Lorena” que faz partedo CD Retrato do Artista Quando Coisa.

Em sete anos de projeto foramrealizados 68 shows, com a presença de107 artistas diferentes, recebendo umpúblico de mais de 290 mil pessoas.

Desde 2005, o projeto conta como patrocínio da Unicid (UniversidadeCidade de São Paulo) e incentiva o públicoa doar alimentos não-perecíveis, poste-riormente distribuídos a entidades quedesenvolvem trabalho de cunho socialcom a comunidade local. A cada show umainstituição é beneficiada.

carreira na Coleção Tramas Urbanas da Ae-roplano Editora. Os livros têm como editoraa escritora Heloisa Buarque de Hollanda. Pelacoleção já saíram nomes como AlessandroBuzo, Aécio Salles, Sérgio Vaz, DJ TR, DJ Raffaentre outros.

Em fase de pesquisa, Dudu começaa organizar seu material e a escrever umahistória que começou nas ruas sem asfaltoda baixada fluminense e, atualmente, dialogacom ONGs da Europa.

O rapper é presidente do Movimen-to Enraizados e lançou, há alguns meses,seu primeiro álbum Rolo Compressor, quesaiu em SMD (Semi Metalic Disc) por um preçofinal de CD + pôster por R$ 6, com propostade democratizar o trabalho.

A divulgação no Brasil foi forte, maso ponto alto da turnê aconteceu no mêspassado, quando ele e sua equipe passaramum mês na França, fazendo shows em Parise outras cidades.

Junto com o rapper Léo da XIII (back-ing), DJ Soneca e o seu empresário LuizCarlos Dumontt, embarcaram para a Françano mesmo voo que, uma semana antes, caiuno oceano e gerou centenas de vítimas. “Agente ficou meio em transe porque, naverdade, a gente iria pegar este vooque caiu, se a gente não tivesse fecha-do o show em Nancy, chegamos a com-prar a passagem e depois mudamos pa-ra o dia 26 de maio”, relembra Dudu.

Apesar do começo desconcer-tante, a viagem foi um sucesso. “Chegamosprimeiro em Nancy e depois fomos paraParis e Blanc Mesnil, fechamos com duasapresentações em Paris, sendo que umadelas no Favela Chic e a outra em umevento de resistência dos imigrantes”,fala Dudu.

Sua experiência na Europa lhetrouxe uma nova visão: “O hip hop é amúsica da periferia francesa, existemmuitos programas de TV, rádios egrupos de rap. Mas o rap brasileiro é

mais militante. Nossos motivos para fazerrap são outros”, reflete.

Para quem começou no subúrbio ca-rioca, o rapper diz que não imaginava isso há 10anos atrás. “Mas eu sou cria da periferia, quecria melodia e realiza um sonho por dia”,rima Dudu, que para quem conhecepessoalmente, tem um lado muito descontraído,fugindo do estereótipo do rapper militante.Sempre bem humorado nos contos sobre osmomento mais engraçado da viagem: “O Du-montt comprando queijo em uma mercearia:ele começou falando em francês, depois pa-ssou para o espanhol, depois tentou em in-glês, sussurrou um italiano e finalizou numportuguês e ninguém entendeu nada. Aí elefalou alto: 'Que porra é essa aqui?!', e umcara que estava atrás respondeu: - 'Cheese'.”

Mesmo com a carreira de músicomovimentada, seu principal foco é o MovimentoEnraizados. “Chegamos, hoje, aos vinte esete estados brasileiros, através da redede militância. Estamos em uma ótima fasee crescendo a cada dia. Nossa ideologiaultrapassou as barreiras do nosso país ecomeçou a pipocar Enraizados em outrospaíses. Agora, nós estamos conhecendoeles pessoalmente e podendo articulargrandes projetos internacionais juntos”, dizo rapper.

Dudu também arranja tempo paradesenvolver projetos no áudio visual e lançou,recentemente, o documentário Mães do Hip Hop.“É um filme que já nasceu para fazer suce-sso, porque é um filme verdadeiro. Contaum pouco da história do Enraizados, masnão se resume somente a isso. Ele tem ou-tros eixos muito importantes, pois trata asquestões de gênero, etnia, saúde, edu-cação,segurança pública e o mais maneiro é que éatravés da ótica das nossas mães. Exibimosna França e a galera gostou muito”.www.myspace.com/dudumorroagudowww.enraizados.com.brwww.dududemorroagudo.blogger.com.br

Local: Praça de Eventos doShopping Anália FrancoAv. Regente Feijó, 1739Piso Orquídea – Tatuapé

Informações:www.shoppinganaliafranco.com.brCapacidade: 4 mil pessoas

Entrada GratuitaColabore doando 1 Kg dealimento não-perecível.

Por Alessandro Buzo

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Xico Sá é um cara arretado.Circula pela literatura, cinema ejornalismo.

Um cara simples e verdadeiro,que diz o que pensa e já arrumouconfusão por isso. Nesse bate-papocom Alessandro Buzo, exclusivamentepara o Boletim do Kaos, ele solta overbo. Confira, agora, boa diversão ecultura a flor da pele.

Defina: quem é Xico Sá?Um cara cheio de defeito de fabricação, mastentando o caminho do bem.

Seu primeiro trabalho como jornalista foicom 15 anos, na Rádio Vale do Cariri emJuazeiro. Fale desse tempo.Rapaz, mal sabia o que era uma mulher e jáescrevia conselhos sentimentais para oprograma Temas de Amor. Respondia, com poe-mas, as cartas de gente desesperada senti-mentalmente. Muitos casos de cabras quepartiam para SP e deixavam suas mulheres aesperar no Nordeste. Dramas, muitos dramashumanos de fazer chorar o mais desalmado dosmortais. Um grande aprendizado.

Fale do jornal "A Peta", que você fazia nostempos de faculdade.Esse ainda era no final da Ditadura, naUniversidade Federal de Pernambuco. O editorera o Fred 04 (do Mundo Livre S/A) e ojornalzinho (mimeografado) vivia sendoapreendido. Uma censura braba, mas a gentesempre encontrava uma brecha pra meterbronca. Bom que “peta” significa mentira, versão

falsa de uma história. O batismo era umahomenagem aos milicos e aos reitoresimpostos por eles.

O que é "XicoBrás"?Apenas uma zoação sobre o fato de toda aminha história ter sido feita graças aescolas públicas, inclusive auniversidade, onde até o pão-com-ovo (aração básica da parada) que comia erapúblico. Sem isso, nada teria sido possívelpara o cabra magro, só o couro e o osso,vindo da região do Cariri.

Você é santista. Por que escolheutorcer pelo peixe?Ih, meu velho. O Peixe é o maior do planeta,o único que chegava na África com oNegão camisa 10 e conseguia parar até asguerras para vê-lo. Além de ter nascidoem 62, tempo em que a gente mandava nomundo, a culpa é de um tio que veio aindamoleque para a Baixada. Quando elevoltava por lá, me levava sempre um mantosagrado alvinegro. Um tempo vim passearem São Paulo com a minha mãe e eletambém cuidou logo de me levar para vero Peixe na Vila e no Pacaembu. Não tinhapara ninguém. Nunca houve uma escolhatão fácil.

Como é trabalhar na TV Cultura comesporte?Muito bom fazer o Cartão Verde ao lado doSócrates, que virou um irmão, e com osamigos Vladir e Vitor Birner. O tipo doencontro que me faz aprender muito eainda tirar uma onda sobre futebol, poisentender que é bom, não entendo nada.

Faço a minha parte com a diversão,pois essa coisa de levar futebol asério demais só dá em guerra.

Você já declarou que semprequis ser escritor, e não repórter.Como foi, ou é, essa relaçãoliteratura/jornalismo?Rapaz, tudo começou quando liGraciliano Ramos, ainda em Juazeirodo Norte, graças a uma tia quetrabalhava na Biblioteca Municipal.Pirei com Vidas Secas e depois comAngústia. Aí comecei a escreveumas coisas que eram puro plágio,de tanta influência do homem dasAlagoas, mas que me serviram paradar o pontapé inicial. Eu pensava:quero ser o que esse cara foi! Mas[era] pura ilusão de matuto do inte-rior cheio de sonhos e nem umtostão furado no bolso. Assim comoo próprio Graciliano e tantos outrosescritores, tive que ganhar a vidaem redação mesmo. Reclamo não.O que lamento um pouco é que ojornalismo, de tão burocrático comonos dias de hoje, é muito embur-recedor, vai atrofiando mentes comoa gente vê por aí nos jornalões.

O que você acha do atualjornalismo feito em TV, rádio,impresso, Internet?Respondi um pouco aí acima. Andamuito burro e objetivo. A novidadee a boa pegada está com a rapaziadaguerreira, como dizia o velhoOswald de Andrade. O estouro, aruptura está em acontecimentoscomo o Boletim do Kaos, entreoutras fontes marginais que vãocomendo pelas beiradas.

Vamos falar de literatura. O quevocê lê e quais são seus autorespreferidos?Leio para valer meus contem-porâneos. Quase todos. Pois umageração que não se lê não merecerespeito. Aí estão o Marcelino,Marçal, Joca Terron, Bressane, Ivana,Del Fuego, Reinaldo Moraes, Ferréz,Mutarelli, Buzo, Cecília Gianetti, etc.Nas releituras permanentes:Graciliano Ramos, Lima Barreto, Joãodo Rio e as Memórias Póstumas deBrás Cubas (Machado) para treinar oritmo da escrita. Dos bons foras-teiros, o que curto no momento é opatrício Antônio Lobo Antunes.

Você gosta muito de GracilianoRamos. Que livro dele indica?Todos, mas recomendo que comecepelos contos/crônicas de infância,caminhe para Vidas Secas, passe porAngústia e descambe com as Memó-rias do Cárcere.

Henry Miller?Esse não era fraco, não. Escreviaquase com o corpo, de tão visceral,da turma dos Passionais MCs, daliteratura de entrega total.

Qual obra sua que mais gosta?A trilogia Sexus, Plexus e Nexus.

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Mudando de assunto. Nos fale dequando você entrevistou o PC Farias.Vixe, rapaz. Havia feito algumasentrevistas exclusivas com o PoderosoChefão, mas a que mais valeu foi quandorevelei o seu paradeiro, em 1993. O carafugiu do Brasil, depois do rolo todo como Collor, e consegui entrevistá-lo emLondres. A PF e a Interpol do mundointeiro atrás do cara e a gente, sem umcãozinho policial sequer, no rastro docabra. Coisas da vida.

E como é sua relação com o MangueBeat?Originalmente é uma relação de amizade,de convivência no Recife, que acabouresultando também em algumas parceriascom letras e trabalhos conjuntos. Nachegada das bandas aqui em SP, cola-borei um tanto com textos, divulgação,encartes e abrigando os brothers no meumocó - chegava a juntar uns 15 cama-radas em um apê de um quarto ali na BelaVista. As minhas namoradas da épocaficavam putas, mas a causa era nobre,tinham que entender.

Da música para o cinema. Você temamigos cineastas, quem são eles?Também a mesma parada do MangueBeat. Amizade que gerou trabalhosconjuntos. Fiz um roteiro de longa-metragem, do filme Deserto Feliz(premiado nos festivais de Gramado eGuadalajara, México) com o Paulo Caldas(diretor do Baile Perfumado e do Rap doPequeno Príncipe), Marcelo Gomes (Cin-ema, Aspirina e Urubus) e a Manoela Dias.Além disso, tiro uma onda de dublê deator nos filmes Cheiro do Ralo (dirigidopor Heitor Dhalia), Árido Movie (de LírioFerreira, que fez Cartola: Música paraos Olhos) e Crime Delicado (de BetoBrant). Tenho também uma parceria como Cláudio Assis (Amarelo Manga) no novofilme dele, que vai se chamar Febre doRato.

Cite alguns filmes nacionais de quegostou.Rolou muita coisa boa recentemente,mas vamos falar no que vem por ai.Acabei de ver O homem queengarrafava nuvens, de Lírio Ferreira,que é um documentário sobre a vida deHumberto Teixeira, autor de Asa Branca,parceiro de Luiz Gonzaga em toda ahistória do baião. É um filme comovente,de arrombar açude mesmo. Estreia emsetembro nos cinemas. Essa tendênciade redescobrir a nossa música emdocumentário eu gosto muito, comovimos no filme Lóki, que conta a vida deArnaldo Batista.

Tem alguma pretensão, falando de cinema?Aprendi muito ao fazer o primeiro roteiro delonga. Um sofrimento danado, pois é muitodiferente a linguagem da escrita, da narraçãoem conto ou crônica, e da arte do roteiro.Tomei um certo gosto pelo roteiro, mas souapenas um amador interessado. Claro que secair na área, é pênalti. Vamos conferir.

O que você gosta mais: mulher oucachaça? Por quê?Certamente quando não puder tomar maisuma, continuarei apreciando o mulherio.Então, acho que a cria das nossas costelasvence essa disputa fácil. Mas se pudercelebrar a vida ao lado delas, com umacachacinha de Minas, melhor ainda.

O que pensa das celebridades em tem-pos de BBB, A Fazenda e outros lixos?É de amargar. Se colocassem jumentos,quadrúpedes mesmo, o programa A Fazendaseria bem mais interessante. Sugiro quetroquem os bípedes por quadrúpedes paramelhorar o nível. Assim não dá. Semcomentários. A gente fica desiludido sobreo futuro do país quando vê a valorizaçãodessa vagabundagem e os professores doensino básico ganhando uma miséria emestados ricos como é o caso de São Paulo.

Você fala de putarias, bebedeiras, dizpalavrão. É uma conquista poder serverdadeiro?Às vezes custa caro, meu velho. Rende muitaincompreensão, mas seria falso se eucontasse uma outra história. Não voucometer uma fraude com a minha própriatrajetória e repertório. Acredito no sexo e notrago em família e entre amigos como umaforma de celebrar e agradecer a Deus pelavida. A verdade está no vinho... na cerveja,na cachaça. Desde que tomada no caminhodo bem. É o que tento, é o que me traz alegriapara festejar a amizade, a arte, a camara-dagem, a vida que segue. Um brinde!

Você disse numa entrevista ser fã doMarcola do PCC e Lampião. Por queadmira esses caras?O que demonstrei foi apenas admiração pelacoragem dos homens que quebram com ascorrentes do sistema e causam um rebuliçona história. Já tive gente da família nas grades,entre eles um irmão, e sei o quanto éhumilhante, degradante, uma usina dodemônio. Isso não significa obrigatoriamenteaplauso à violência do PCC, em muitos casostambém contra inocentes, como também feze faz a polícia. Falar em PM, o alto comandoda PM sempre me perseguiu pelos escritos.Na última ação, fui processado e atécondenado em primeira instância por terescrito uma crônica contra a violência da PM- um texto chamado Os sem-cérebro contraos sem-terra. Em uma das audiências,testemunhei o exato momento em que suaexcelência, o juiz, trocava elogios, mimos eadjetivos com os coronéis que meprocessavam. Que maravilha!

Defina Opus Dei.O que há de podre no reino da IgrejaCatólica.

Governo Lula.Milagre para os pobres, decepção para aclasse média. Se a voz do povo é a vozde Deus, o cara vai muito bem, vide aspesquisas de opinião.

Mudando da política para literaturaperiférica. Você acompanha essacena, escritores da periferia queestão publicando livros?Sim, é uma das mais ricas na literaturaatual. A grande novidade, para ser maisexato. Finalmente é quebrado o mono-pólio da classe média nas letras. Salve! Eque se multiplique o fenômeno.

Rap, você gosta?Desde sempre. Sou um privilegiado aoter visto este belo rebento e tê-loregistrado como repórter nos primeirospassos. O poder está na rima. Pela aliançaperma-nente entre o rap e o repente,como fazia o Faces do Subúrbio (grupodo Recife)!

Para finalizar, diga o que você quiserou algo importante que deixou deser perguntado.PELA DESOBEDIÊNCIA CIVILPERMANENTE! UM GRANDE ABRA-ÇO E GRACIAS PELA OPORTU-NIDADE DA ENTREVISTA EM UMVEÍCULO DE CONFIANÇA, O QUE ÉO MAIS DIFÍCIL NOS DIAS QUECORREM!

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Ela nasceu na periferia de SP, jáviajou pelo mundo e está escrevendo seuquarto livro. Uma trajetória de vidadiferente de muitas mulheres, impulsio-nada pela sua personalidade e sua vontadeincessante de questionar.

Crescer na perifa lhe deu a ginga,que poucos escritores têm, e foi com essamalandragem que ela embarcou para aEuropa com apenas 500 euros no bolso. Osonho de se tornar jornalista quase acabouem cárcere privado. Trabalhando comodoméstica em Portugal, surgiu a indig-nação que impulsionou seu primeiro livro:Morte às vassouras - Diário de uma jornalis-ta que se tornou empregada doméstica emPortugal.

Já no Brasil, depois do lançamentodo primeiro livro, respirava literatura, masnão tirava seu sustento dela. E foi tra-balhando numa clínica psiquiátrica por doisanos, que encontrou o tema de seu segun-do livro Bem-vindo ao mundo dos raroscontos e crônicas de uma psiquiatria.

Confessando não ter sorte com oshomens machistas, seu último livro é umaprovocação: Mulher moderna tem cúmpliceaborda a violência contra as mulheres.

Agora finalizando seu quarto livro,Cidade Tiradentes: Uma abordagem im-pactante do maior Complexo Habitacionalda América Latina, Cláudia desafia aquelesque duvidavam da sua diversidade lite-rária. Sobre seu novo livro, ela descreve:“Uma escrita enxuta, direta e repletade denúncias. Minha inquietação é aarma que uso para prosseguir, apesardos rótulos que tentam me sufocar”,desabafa a escritora.

Boletim do Kaos: Quem é CláudiaCanto?Cláudia: Feminista, feminina, indig-nada, ousada, maluca. Às vezes muitochatinha e que tenta se descobrirusando como bode expiatório aliteratura.

BK: Uma pessoa de personalidadeforte como a sua, logo é ligadaao rótulo de feminista. O quevocê acha dessa luta nos dia dehoje?Cláudia: Caramba, se você não tiverao menos um viés do feminismo, oque será de você como mulher? Naverdade, fico boquiaberta com asmulheres que não têm este parâmetropara saber quais são os seus direitos.Mas, veja bem, não estou propondouma guerra do sexo, mas se ne-cessário for, mãos à obra, mas depreferência com as unhas pintadasde vermelho vivo (risos).Quanto à luta de hoje, a mídia corrom-pe demais as cabeças das pessoas,levando muitas mulheres a acreditarque a coisa mais importante é abunda. Mas o que me consola é quena história da humanidade [foi] aminoria que sempre mudou o queparecia imutável.

BK: No sonho de ser jornalista, vo-cê virou empregada doméstica naEuropa. O que deu origem ao seuprimeiro livro: Morte às vassouras- Diário de uma jornalista que setornou empregada doméstica emPortugal. Se você não tivesse pas-sado por isso, a escritora terianascido?Cláudia: Por causa da minha timidez,usava a literatura como alavanca paraas minhas conquistas, e olha queganhava muitos menininhos por causadas palavras que aprendia nos livros.Portanto, acho que diante de tantainquietação, só poderia sair algo destetipo, e o primeiro passo seria comcerteza um livro-desabafo.A viagem para Portugal, de uma formatotalmente mal planejada, me possi-bilitou realizar este sonho. Lá, vivi umaexperiência de semi-cárcere, traba-lhando como empregada doméstica,que completou ainda mais o meudesejo de escrever.

BK: Em que momento nasceu aideia do livro?Cláudia: Nos momentos que ficavafechada no meu quartinho/senzala, nãotinha outro remédio a não ser escrever,escrever...Posso concluir que a indig-nação moveu meus dedos, e a saudadedo meu país alimentou meu lirismo, paraque as poesias pudessem vir à tona, jáque não sou poeta!

BK: Qual seu sentimento pela Europa?Cláudia: Europa para mim é turismo!Somente... Depois desta viagem que fizpara Portugal, voltei e lancei o livro por lá.Como turista é outra história (risos).Descobri que não tenho estrutura paraaguentar solidão, saudades e maus tratos.Acho também que sou mais útil por aqui.

BK: Seu quarto livro “Cidade Tiraden-tes: Uma abordagem impactante domaior Complexo Habitacional da Amé-rica Latina” vem mostrar o que, quenão sabemos sobre essa parte da zonaleste? O que você denuncia nesse livro?Cláudia: Faço uma abordagem da CidadeTiradentes, não de forma geográfica, queacho que ficaria muito maçante. Estoucontando a história da Cidade Tiradentes,como se fosse a vida de uma mulher, ondefalo de gravidez precoce, drogas, descasodo poder público, e autoestima. Está muitointeressante escrever, estou escrevendocom muito carinho...

BK: Te encontrei no aniversário daCidade Tiradentes num show junto coma bateria da Gaviões, você é corintiana?Que tipo de música você curte?Cláudia: (risos) Corintiana! Depois que oViola saiu do Corinthians há muito tempoatrás, e ainda deu uma banana para atorcida, nunca mais quis saber de futebol.Me senti uma ingênua que torcia, não parajogadores, nem para um time, mas sim paraum simples símbolo! Desde esta época,meu condicionamento acabou. Quanto àmúsica, gosto de todo tipo de música queme passe algo, desde tesão, amor, dor, ouindignação.

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BK: Seu segundo filho/livro, Bem-vindo aomundo dos raros contos e crônicas de umapsiquiatria, foi outro tema forte. Conte umpouco da experiência que gerou esse livro.O Brasil cuida muito mal dos seu doentes. Oque você pôde perceber trabalhandodiretamente com isso?Cláudia: Amo este livro! Com a experiência quetive em trabalhar em uma psiquiatria, pudetestemunhar de perto o que é a verdadeira loucura,uma doença muito, mas muito cruel. A partir deentão abracei a causa. As patologias mentais sãoextremamente desconhecidas para a maioria daspessoas e isto faz com que só aumente opreconceito. Estou aberta para falar sobre aexperiência gratuitamente!

BK: Seu terceiro livro, Mulher moderna temcúmplice, mais que uma história, traz pensa-mentos e reflexões suas. Você já chegou aalguma conclusão sobre o homem atual?Cláudia: O interessante no livro é sua narrativa,onde o homem fala do perfil da mulher e a mulherfala dos homens.Que me desculpem os homens, mas elesgeralmente são 2+2, sem grandes confabulações.As mulheres são muito mais complexas!Só não sei se isto é um mérito, ou um demérito!

Morte às VassourasDepois de uma mal sucedida viagem àEuropa, Cláudia narra sua experiênciano semicárcere, trabalhando comoempregada doméstica para sobrevivercomo estrangeira ilegal em Portugal.Aventurando-se na prostituição enaufragando como empregada domés-tica, esta jornalista trouxe na bagagemuma raridade: um diário, contendo aanálise crítica de uma realidade vividapor muitos emigrantes.Prefácio: Ferréz, autor de CapãoPecado e Manual Prático do ÓdioEditora: Edicon, São Paulo, Brasil

BK: Uma escritora inquieta, queaborda xenofobia, prostituição,descaso da saúde pública, peri-feria, machismo, em que momen-to a Cláudia Canto é mais docee mais suave?Cláudia: Não sou doce, sou agridoce(risos).

BK: O que você está lendo atual-mente?Cláudia: Visconde de Jequitinhonha,um negro no império.

BK: Qual a sua técnica para escrever, o que faz você começara escrever um livro?Cláudia: Preciso acreditar na história, me basear em aspectos reais.Se não tem tesão, a coisa não flui! Escrevo como um jogador defutebol nos campos. Sigo a bola!

BK: O que a literatura significa na sua vida?Cláudia: Sem a literatura, eu seria como um mar morto, correria orisco de parar em uma psiquiatria.As lacunas da minha alma são preenchidas com a literatura e osmeus filhos/livros me completam.

Bem-vindo ao Mundo dos RarosUma coletânea de contos e crônicas deuma psiquiatria. Cláudia trabalhou numaclínica por um ano e reuniu fragmentosde uma realidade descrita sem rodeios,sem máscaras.“Com eles, consegui chegar, semalucinógenos, nas mais profundasabstrações da nossa mente”, relata aautora. Um roteiro às vezes dramático,outras bem humorado, aos abismos docérebro humano.

Mulher Moderna TemCúmpliceStela é a soma de muitas mulheresque procuram, em uma outrapessoa, aquilo que está dentro desi mesmas. Com isso, o destino lhereserva um caminho perigoso.Gustavo, um homem sagaz, que trazno seu passado 22 anos de cárcere.Não bastando este revés todo, aautora ainda nos presenteia commais um personagem: um psicólogo,que deveria ser o ponto deequilíbrio da história. Mas, aocontrário, provo-ca ainda mais o sus-pense do drama com sua timidezcrônica e pato-lógica.

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Um escritor marginal, no sentido lit-eral da palavra. Edward puxou 18 de ponta aponta, como se fala nas ruas. Ficou 18 anospreso. Em todos esse tempo de reclusão,passou por diversas cadeias e foi condenadoem diversos artigos, como roubo, agressõese outros delitos.

Ele escreveu muito atrás das grades.Era considerado com QI acima da média e, comisso, conseguiu reconhecimento da crítica etrabalho na rua.

Suas principais obras são: Cão ComeCão, Nem os Mais Ferozes, O Menino, Fábricade Animais e Educação de um Bandido. Oescritor ainda conheceu o sucesso antes demorrer, como Mr. Blue no filme Cães de Aluguel,do diretor Quentin Tarantino.

Com um jeito seco e direto, colocousua experiência de vida a seu favor e, noslivros, trazia a vida do crime e o preconceitoque o presidiário sofre na sociedade.

Sobre sua vida, muitas histórias.Dizem que, aos quatro anos, já roubava sorveteda molecada e furou o olho de um garoto de15 anos. Foi parar num abrigo e depois numreformatório. Aos 17 já estava na prisão.

Assalto a bancos, tráfico de heroína,brigas na cadeia. Essa era sua vida e foi nacadeia que leu Dostoiévski. Sua inteligênciae dedicação, junto com as boas bibliotecasdas prisões californianas, além da proteçãode Louise, que lhe deu uma assinatura do jornalNew York Times, formam uma biografia rica queBunker traz nos seus textos. Ele não transfereas responsabilidades dos seus atos para umasociedade injusta.

Orgulhoso e destemperado, quandoBunker ganha a liberdade e vê romances comoNem os Mais Ferozes sendo admirados porJames Ellroy e Quentin Tarantino, escreve oroteiro de Expresso para o Inferno e anos maistarde atua numa ponta de Cães de Aluguel.

"Perseverei porque tinhaconsciência de que a escrita era aminha única chance de criar algo,de escalar as paredes do poço es-curo, alcançar o sonho e repousarao sol”, declarou Bunker, certa vez.

Além de sua obra literária, Bun-ker também fez diversos trabalhos parao cinema, como roteirista e ator. EddieBunker, como também era conhecido,foi casado com Jennifer Steele por 22anos. Considerava seu filho, Brendan,seu maior feito, e a ele dedicou a obraEducação de um Bandido. Bunkermorreu no dia 19 de julho de 2005, aos71 anos, na Califórnia.

Teve em sua vida momentosúnicos, como: fumar um baseado nacâmara de gás, deixar suas impressõesdigitais numa faca utilizada por um se-rial killer, frequentar os becos maissórdidos de Hollywood e nadar naluxuosa piscina de Netuno, em SanSimeon.

Fábrica de Animais Nesse livro, o escritor

conta a história de RonaldDecker, um jovem rico e

bonito, traficante dedrogas, que é apanhadopela justiça e, dentro daprisão, faz uma amizade

com Earl Copen, umdetento experiente que

está cumprindo suaterceira pena.

Trecho do livro O Menino, de Edward Bunker, lançado pelaeditora Barracuda.

Durante as semanas de espera para ser entregue aoreformatório, Alex ficou mais recolhido em si mesmo,com modos mais distantes, desencorajando qualquer

tentativa de fazer amizade. Até mesmo o fato deestar indo para o reformatório, a pior punição de que

o Estado dispunha, dava-lhe prestígio adicional noabrigo de menores."

No livro, Alex, abandonado pela mãe, vaga de internato eminternato porque seu pai não consegue sustentá-lo. Seu pai

morre e, então, começa sua jornada pelas instituições penaispara jovens, reformatórios, guerra de gangues – mexicanos,negros, brancos – numa Los Angeles começando a se tornar

uma grande cidade do pós-guerra.

Roberto Ferreira Lima

Page 9: Boletim do Kaos #5

Nome: Lobão Família da RuaTime: SantosFamília: São aquelas pessoas queenxergo de longenem preciso de binóculoLiteratura: Quando leio a últimapágina, fecho o livroe penso: "Valeu galera, pelacompanhia"Um livro: Canto dos malditosUm escritor: Plínio MarcosUm poeta: Arthur RimbaudUm filme: Tomates verdes fritosUm ator: Leonardo DiCaprioUma atriz: Mônica BellucciO que te dá prazer: Fazer arte evendê-las

BOLETIMDOKAOS

Escritor doCapãoRedondo

Escritor de Cidade

EscritorinfantilbrasileiroMonteiro

Evento organizado pelo Buzo

Grupode rapSucessoCastelo

de madeira

Programada TVCultura(Thaide)

Literatura (?)

Sociólogo,antropólogoescritorpintorGilberto (?)

Bloge livroSergioVaz

(1)

(2)

(3)

(4)

de Deus, (?) Lins.(5)

(7)

(8)

(9)

(10)

RapperdeBrasilia(6)

1.A Família2.Ferréz3.Colecionador de pedras4.Manos e Minas5Paulo6.GOG7.Marginal8.Lobato9.Favela Toma Conta10.Freyre

IDEIAS CRUZADASO que você não suporta:Fiscalização das prefeituraspor barrar os artistas de ruade expor seu material.3 lugares que frequenta:Lugares turísticos, periferiase baresUm sonho: Viajar pela ÁfricaUma personalidade:GandhiUm artista: Antonin Artaud

Agradecimentos aCrônica e Nina Fidelis

Page 10: Boletim do Kaos #5

www.marildafoto.blogger.com.br

Maiores informações e muitomais opções acesse nossosparceiros e informe-se no siteda Ação Educativa que temuma agenda sobre os várioseventos no mêswww.acaoeducativa.org.br/agendadaperiferia

No site Catraca Livre você temuma agenda que tem eventos,cursos, cinema, teatro,exposições, palestras eencontroswww.catracalivre.com.br

Quem quiser divulgar seuevento na próxima ediçãoentre em contato pelo [email protected]

Nosso destaque do mês acontecena zona oeste de São Paulo, mais precisa-mente no Bar do Santista, em Pirituba.Organizado pelo poeta Michel da Silva e suaesposa, a poetisa Raquel Almeida, pais darecém nascida Yakini, que já deve ser poetisa.

O Sarau Elo da Corrente comple-tou, em julho, dois anos de resistência econquistas.

Além do Sarau, o pessoal tem o blog(www.elo-da-corrente.blogspot.com) quetrás as novidades do coletivo que lançoulivros, assim mesmo no plural, com apoio doVAI da PMSP. Sete sonhos se tornaramrealidade. Direto para as ruas, da periferiapara periferia.

Primeiro, veio a Antologia SarauElo da Corrente, que foi a estreia do SeloElo da Corrente Edições. Uma coletânea comvários autores estreantes, que frequentamo sarau, e alguns convidados.

Depois, vieram outros comoCaminhos e Emoções, de Alice Rodrigues;Fragmentos Noturnos, de Claudeni dosSantos; Cordéis e Poesias Para Cantar,de João do Nascimento. A produção literáriada zona oeste não para. Eles também lança-ram Duas Gerações, Sobrevivendo no Gue-to, de Raquel Almeida e Soninha M.A.Z.O.Um dos livretos mais interessante é Prosasde Buteco, de Claudio Santista (dono do baronde rola o sarau) e Paulinho Bispo, o últimolançamento foi Voo de primeira classe, deMannu UF e JR MC.

O Bar do Santista é pequeno detamanho, mas grande de coração. O espaçoprivilegia quem está disposto a ouvir poesiae os senhores da melhor idade que tomamsua pinguinha entre uma poesia e outra. Rolauma pipoca de cortesia num clima intimistae a cerveja é gelada.

O sarau representa e transformamais um bar na periferia em centro cultural.Revolução é isso.

- Ninguém aqui anda deescopeta, nossa arma é papel e caneta.(Alessandro Buzo).

A convite de NelsonMaca, fui a Salvador conhecer aBlackitude e fazer algumas pales-tras. Entre elas, uma na Univer-sidade Católica de Salvador, ondeMaca é professor de literatura.

Nos dias que passei naBahia, conheci muito bem os doislados dessa cidade tão linda: o ladoturístico, que encanta pessoas domundo todo, e a Bahia que Gil eCaetano não cantaram, como diriao Gato Preto, do grupo A Família.

Pude conhecer, a fundo,a estratégia de combate da Blacki-tude, ações concretas em prol demais arte para todos, muito forte nograffiti e com destaque em reali-zação de eventos.

Nelson Maca é o articula-dor do coletivo e seus parceiros sãoguerreiros que acreditam e susten-tam a proposta da Blackitude. Vi umaSalvador na visão de pessoas quenão querem saber de axé. Queremhip hop, produzem hip hop na suaessência.

Numa das Praças do Pelo-urinho, local onde cantou Z´ÁfricaBrasil, Maca nos disse como foi odia; o seu envolvimento é total. Ocoletivo já levou outros grandesnomes à Bahia, como Thaíde, KL Jay,Edy Rock, Xis, Nelson Triunfo, SNJ,Dom Filó do Rio de Janeiro e seusgrandes amigos, Sérgio Vaz e GOGde Brasília, entre outros. Semesquecer os grandes nomes do hiphop soteropolitano.

Nossas palestras em Sal-vador e Alagoinhas pareciam ensai-adas de tão afinados que estáva-

mos. Além da Universidade Estadual da Bahia,visitamos, em Alagoinhas, o MC Mamá e os manosdo rap lá na Comunidade do Barreiro, afinalestamos em cada canto do Brasil.

Nelson Maca mantém um blog:www.gramaticadaira.blogspot.com

Gramática da Ira é também o título deseu primeiro livro, que pretende lançar em novem-bro juntamente com um CD de poemas.

Como ele mesmo diz em seu blog: “Nãoque não sonhe com flores, mas sei que tenhouma realidade re-pleta de mato praatravessar...!”

Assim éesse mano, verda-deiro e militante.Posso garantir por-que vi com meusolhos. A Blackituderepresenta.

Salve a Lu-iza Gata e LucinhaBlack Power, suasfilhas e poetas.

Dia 15 (sábado) 15h às 21hFestival do Rap Popular Brasileiro (CUFA)Local: Esporte Clube Progresso - Rua PedroLessa, 278. Francisco Morato (centro) - SPDia 16 (domingo) 14h às 21h - Festival doRap Popular Brasileiro (CUFA)Local: Paço Municipal da Prefeitura - RuaTabatinguera, 45 (Em frente ao CIC Fco.Morato - Rua da Estação de Trem)Show com o grupo convidado Rota de Colisão -www.rpbsaopaulo.blogspot.com

Ah!Gosto do Clariô –Mês de AniversárioEspetáculo Hospital da Gente (Direção MarioPazini e Texto de Marcelino Freire)Dias 01 E 08 às 21h (Sábados)Valor Promocional R$ 10Hospital da Gente na Mostra do Engenho TeatralDia 15 e 16 – 19 h (Sábado e Domingo)Engenho Mostra Um Pouco Do Que Gosta.Local – Engenho Teatral – GrátisDia 27 (Quinta-Feira)IV Festival Nacional deTeatro do Campo Limpo

19h - Cerimônia De Abertura 20hHospital Da GenteLocal Espaço Artemanha De Teatro – Grátis!Dia 22 - Sábado- 20h Festa de Celebraçãodo 4ºaniv. do Espaço Clariô!!!Local: Espaço Clariô – Grátis

Dia 28 (sexta) às 20 h Quintasoito comBrava Cia! - Grátis! - Local: Espaço Clariô

Dia 29 (Sábado) às 14h Apresentação deMúsicas Clarianas e Cenas Hospital da GenteLocal: CEU Campo Limpo – GrátisEspaço Clariô: Rua Santa Luzia, 96Taboão da Serra (Final da Av. Fco Morato, narua do morro do cristo)Espaço Artemanha de Teatro:Estrada Do Campo Limpo, 2706 (Subsolo)Campo LimpoCéu Campo Limpo: Av. Carlos Lacerda,678 – Campo Limpo – Zona SulEngenho Teatral: (200 lugares - c/estacionamento gratuito) - Rua Monte

Serrat, 230 - Tatuapé - Fone6192.8865 Metrô Carrão - Clube daCidade Tatuapéwww.espacoclario.blogspot.com

Dia 01 (sexta), 15 (sexta) e 29 (sexta)às 20 hSarau Poesia na Brasa - Rua ProfessorViveiros Raposo, 534(próximo ao ponto final da Brasilândia,em frente à Escola João Solimeo)[email protected]

Dia 15 - Sarau Comunitário Juntando aMassa 18h 30Local: Associação de Moradores do ChicoMendes - Rua Pacuã, 101 – Jd. SãoBento Novo- Zona Sul - SP - CapãoRedondo (11) 5821-8848

Dia 15 - 15h às 17h Oficina de TeatroLocal: PERIFERIA INVISÍVEL - Salãoexterno dentro da Igreja Santa Luzia.Rua Barra de Santa Rosa, 4405 -Ermelino Matarazzo - Estação de tremUSP Leste. (11) 9545-4743 -

[email protected] -www.periferiainvisivel.com.br - Valor: Gratuito

Dia 8 - 15h - Ato Público Psicodrama –Trabalhando a vida por um fio.Local: PERIFERIA INVISÍVELDia 29 – 20 h - Numa Roda – GrupoMentecorpos do BalaioLocal: PERIFERIA INVISÍVEL - Valor doingresso: Gratuito

Dia 6 de setembro – 15 h – Festa100%Favela - 37º Aniversário da Favela doGodoyShows com Big Ben Bag Jhonson (Mano Brown,Ice Blue, DJ Cia, Dom Pixote, RZO e Conexãodo Morro) no palco também Detentos do Rap,Negredo, RDG, Samanta da Águia de Ouro,Samba da ponte, Mano Ty, Revolução P, PoesiaGangster, A286, Periferia Ativa Show e SamyBrown; Apresentação do filme Literatura eresistência do escritor FerrézAonde: Adoasto de Godoy (Cont. Av. Sabin -Próx. Metrô Capão) Valor: R$ 10 (Antecipados)

Page 11: Boletim do Kaos #5

Crack, de CláudioPortella

O livro de poesia quetraz humor negro sobresua experiência com o

crack. Sem o relato cul-pado de quem já esteve do lado

escuro dos vícios humanos, CláudioPortella faz poesia com um sorrisoperverso. Aborda assuntos como osonho de fumar crack usando as cinzasda mãe, entre outros textos queparecem sacanear os mais puritanos.O poeta cearense traz um livro ousado,tanto quanto usar crack e continuarvivo.

Il Brasile per le strade

Uma antologia de contistasbrasileiros lançada emmarço de 2009 pela EditoraAzimut. No livro, há escri-tores como: Pedro Maciel,

Milton Hatoum, Sérgio Sant'Anna,Dalton Trevisan e Ferréz. Ao todo, 12

escritores participam da coletânea em quecada autor fala sobre um lugar. O livro écomposto por dezenove histórias, entreelas o inédito O.M.N.I (Objeto Matador NãoIdentificado) do escritor paulista Ferréz.

Antologia Sarau daBrasa

47 autores comemoram,nesse livro, um ano deexistência e resistência doSarau da zona Noroeste de

São Paulo.Contemplado pelo Programa VAI (Valo-rização de Iniciativas Culturais) em 2008,o coletivo teve condições de concre-tizar um sonho antigo e lançar Poemase Prosa de um Eu e Rua de Trás deBárbara Lopes e Sonia Regina Bischaim.Agora lançam coletânea de textos.Muitos poetas participam desse livro.Com certeza uma boa amostra da pro-dução poética atual.

No último dia 24 de abril,Mumia Abu Jamal completou 55 anos,27 deles vividos no corredor damorte. Apesar de inúmeras evidên-cias e provas de sua inocência, eleé acusado de matar um policial.

Em dezembro de 1981,Jamal interveio para socorrer seuirmão, que estava sendo espancadopor um policial. No local, havia outrohomem não identificado. Houveconfusão e disparos. Quando outrospoliciais chegaram ao local Jamalestava ferido e o policial morto. Elefoi espancado e preso. Nenhumaperseguição ou busca foi feita nahora pela polícia.

A arma que foi encontradacom Jamal não poderia ter disparadoas balas que mataram o policial.Nenhum exame de balística foiefetuado para saber se a arma de Jamaltinha sido utilizada. Nenhuma dastestemunhas que saíram em suadefesa foi arrolada no processo. Umadelas declarou que a polícia aameaçou de prisão se testemunhasse.

As mesmas testemunhasdeclararam ter visto o homem nãoidentificado fugir do local e disseramque ele não se parecia com Jamal.

Entre todas essas irregu-laridades, o juiz que presidiu oprocesso declarou publicamente suahostilidade em relação a Mumia AbuJamal, que em sua juventude foimembro da organização afro-americana Black Panthers. O juizrecusou a Jamal o direito de fazersua própria defesa pelo simples fatode usar dreadlocks. Entre outros

absurdos, o júri foi escolhido a dedo por um membro vitalícioda Ordem Fraternal da Polícia.

Durante todos esses anos de uma batalha judicialrepleta de apelos de personalidades e milhares demanifestantes em todo o mundo, a data de sua execuçãofoi várias vezes marcada e suspensa.

A prisão de Mumia constitui um capítulo dramáticoda luta contra o racismo institucionalizado e a pena demorte nos Estados Unidos.

Mumia Abu Jamal é o único preso político dosEstados Unidos condenado à morte. O caráter político dojulgamento se evidenciou quando o FBI apresentou, comoprova contra ele, um arquivo de mais de 600 páginascontendo um resumo de suas atividades como militante domovimento negro. Ele foi membro do Black Panters e doMOVE, organizações revolucionárias. Foi preso em 1968,aos 14 anos, durante o protesto contra George Wallace(racista declarado), então em campanha presidencial. Aos15 anos ajudou a criar o comitê do Partido dos Black Pan-thers, na Filadélfia. Nos anos 70, passou a fazer parte deuma lista do FBI de pessoas que ameaçam a segurança dosEstados Unidos.

Milhões de pessoas em todo o mundo já foram asruas protestar contra a sua prisão injusta.

Mesmo na prisão, não calaram sua voz. Múmia AbuJamal continua falando em nome de todos os oprimidoscom seu jornalismo, denunciando o universo da prisão, deonde já publicou livros e suas colunas são publicadassemanalmente em todo o mundo. Já foram realizadasdiversas produções sobre a sua luta, como o documentáriobritânico In Prision My Hole Life de Marc Evans comparticipação da ativista Ângela Davis e dos músicos MosDef e Snoop Dogg, entre outros.

No último dia 6 de abril, o Supremo Tribunal dosEUA recusou o terceiro pedido de Mumia Abu Jamal paranovo julgamento. O Tribunal de Recurso da Filadélfiamanteve a condenação, porém declarou a sentença demorte inválida. Mas prisão perpétua não é liberdade e, porser inocente, Mumia merece justiça!

BibliografiaAo Vivo do Corredor da Morte, 1996We Want Freedom: A Life In The Black Panther Party, 2004Faith Of Our Fathers: An Examination Of The Spiritual Life Of African AndAfrican-American People, 2003

Veja o trailler do documentário In Prision In My Hole Life emw w w . m y s p a c e . c o m / inprisonmywholelifeMais informações em www.freemumia.com e abujamal-news.com

Page 12: Boletim do Kaos #5

As luminárias têm camadas empoeiradas, diluindo e obscurecendo a iluminação. Umapichação alerta para a luta de classes e para o tempo perdido atrás de um volante. Aqui e acoláa algazarra das crianças aprisionadas nos ônibus escolares. Brota uma sirene insistente.Impotente também. Também está trancada a ambulância. Pelos lados apertados os pedestrescorrem para não sufocar. São poucos os que se arriscam a morrer para chegar aonde precisam.Só eles conseguem se mover pela calçada minúscula, protegida por grades enferrujadas. Omotorista calcula vinte minutos por quilômetro rodado dentro daquele túnel, e com todo essetempo parado, ele começa a pensar nas vidas que levam os carros, nas fisionomias das pessoascom as certezas de aportar em suas casas sãs e salvas, nas motocicletas que passam naduvidosa liberdade de ir e vir em meio aos outros entalados... Mas um profissional sabe quantosmistérios se escondem enroscados naquelas avenidas palmilhadas dia a dia, cozinhando sob ofogo brando do tráfego lento. Pensando bem, até mesmo um sujeito casca grossa como elesente o impacto desses problemas. É aqui onde as coisas mais simples de se conseguir podemser muito difíceis de obter: a partir da vaga de uma garagem apertada, colocar a máquina emmovimento acelerado junto aos outros apressados e contidos pelos complexos ritmos damodernidade; entrar e sair dos endereços indicados pelos GPSs atualizados mês a mês, já quehá sempre alguma rua sendo construída ou devastada dos mapas nesta cidade sitiada e, emcontexto arriscado, fazer uma entrega após a outra, incessante e insaciavelmente, com ocuidado e a logística necessários, quando toda a lógica econômica e matemática se perde como furor desses elementos, bons e maus, dentro e fora dos veículos. São chuvas, passeatas,incêndios de grandes proporções, incidentes ridículos, confrontos, eventos esportivos ealeatórios, provocando e comprovando a teoria do caos. Tudo é provisório, mas o motorista éum profissional e por isso conhece melhor do que os outros a sina de dirigir para existir... Ouseria o contrário? Em sentido oposto também está tudo travado. Todos os destinos. Ele já estáexausto disso tudo há muito tempo e ainda não tem a metade necessária para a aposentadoria.Tudo é muito frágil, ele sente na carne. E arriscado também, ele percebe. Muitos não conseguem...Mesmo um cara preparado como ele, pensando, sente que subitamente pode não conseguiravançar, que parece que vai encalhar, ficar paralisado ali. Sim, tudo aqui é frágil para caralho!Ele grita alto, incomodando os cidadãos distraídos pelos rádios com notícias do trânsitoinsuportável. Muitos não conseguem... E lhe ocorre que há tantos desencontros, ou maisencontros que não chegam a acontecer do que aqueles que acontecem de verdade, supondoque alguém ali teve algum encontro deste tipo. Ele desconfia de todos. E de si mesmo. Elemesmo mal suporta que tenha feito o que fez no dia anterior... E nos últimos anos! Dirigir! Quepiada. E ainda há essa gripe infectando todo o mundo, faz um frio úmido e todos respiramnaquele túnel o ar que fica raro... Tudo, tudo é muito frágil. E tão pesado que ele acha que vaiceder naquele banco desconfortável... Desfalecer... Então uma buzina espremida logo atrás odesperta e ele acelera automaticamente. É para frear alguns metros depois, colado no parachoqueda frente.

FIM

Fernando Bonassi nasceu em São Paulo, em 1962. É roteirista de cinema eTV, dramaturgo, cineasta e escritor de diversas obras, entre elas: Um Céu de Estrelas(Ed Siciliano); Subúrbio e 100 Histórias Colhidas na Rua (Scritta); O Amor é Uma DorFeliz (Moderna); Uma Carta Para Deus e Vida da Gente (Formato); Declaração Uni-versal do Moleque Invocado (Cosac & Naify) e São Paulo/Brasil (Ed. Dimensão), ambosfinalistas do Prêmio Jabuti nos seus anos de lançamento. Entre 1997 e 2007, foicolunista do jornal Folha de São Paulo. Atualmente, é roteirista do seriado ForçaTarefa, da Rede Globo de Televisão.

FESTA INTERNACIONAL DO LIVRO DE PARATY

O ESPAÇO DA LITERATURAPara os amantes da literatura, a Flip é um momento único. Em Paraty,

todos aqueles que concordam que o país só vai crescer se apostar naeducação colocam isso na prática e a literatura é tratada com o destaqueque merece.

Esse ano, o evento homenageou o escritor Manuel Bandeira, masforam 34 autores, reunidos em 18 mesas, que movimentaram a festa. FlávioMoura, diretor de programação trouxe autores como o escritor portuguêsAntónio Lobo Antunes; o jornalista americano Gay Talese e o jornalistabrasileiro Mario Sergio Conti, grandes nomes do jornalismo literário.

Temas polêmicos como o do biólogo inglês Richard Dawkins, autorde Deus, um delírio, e a literatura chinesa do escritor Ma Jian e da jornalistaXinran conviviam no mesmo evento. O músico e escritor Chico Buarque foium dos destaques, lendo trechos do seu novo livro: Leite derramado.Havia, também, nomes como Milton Hatoum, Cristovão Tezza, entre muitosoutros. Os quadrinhos tiveram seu espaço com nomes de destaque daprodução atual: os vencedores do Prêmio Eisner, Rafael Grampá, Fábio Moone Gabriel Bá, e o quadrinista e artista plástico Rafael Coutinho.A festa teve conteúdo para todas as idades, com a Flipinha para os maisnovos e FlipZona para os adolescentes.

A literatura deveria ser tratada assim, no dia a dia, com destaquesnos veículos e sendo incentivada a todo momento.

Na Flip desse ano mesmo com muitos nomes os escritores daLitera-Rua ficaram de fora. E houve até poetas maloqueristas que foramimpedidos de vender suas poesias, mas depois conquistaram seu espaçono evento, que teve muita coisa além da programação oficial. Como osucesso da festa paralela, a “Off Flip”.

Ainda não confirmado, deve vir por aí a Fliper, Feira LiteráriaInternacional da Periferia. É o país com sede de literatura.

Xinran

Com a abertura política da década de 1980 em seu país, a jornalista eescritora Xinran (1958, Pequim, China) criou um programa de rádio que,durante oito anos, firmou-se como via de expressão para mulhereschinesas vítimas de violência. Impossibilitada de publicar os relatos,mudou-se para Londres e, lá, lançou As Boas Mulheres da China(2002). Integrou a equipe dojornal inglês Guardian até2008 e publicou suas colunasem O Que os Chineses NãoComem (2006). Também es-creveu Enterro Celestial(2005) e Testemunhas daChina (2008), no qual cida-dãos chineses, já idosos,relembram os anos sob o go-verno de Mao Tse-tung.

da Redação

Page 13: Boletim do Kaos #5

CONHECIDO PELOS SEUS FILMESDE PASSAGEM E OS 12 TRABALHOS,RICARDO ELIAS CONSTRÓI SUAFILMOGRAFIA SOBRE ASQUESTÕES URBANAS

Diretor do programa Manos e Minas na TV Cultura, ocineasta prepara seu terceiro filme.

Se solidificando com um dos nomes fortes da nova geraçãodo cinema nacional, Ricardo tem a carreira permeada com asquestões da periferia, primeiro em seus filmes, depois no programada Cultura. Mas ele sempre esteve envolvido com projetos eprogramas educativos. Recentemente, fez a direção artística doNovo Telecurso da Rede Globo.

“Meus filmes inauguram uma visão menospreconceituosa e estereotipada no audiovi-sual em relação ao jovem da periferia. Osdois filmes receberam vários prêmios dentroe fora do país e foram exibidos em mais de25 países”, revelou em entrevista ao Boletim do Kaos.

Seu próximo filme vai se chamar A Vida Secreta dasEstrelas e falará das dificuldades das pessoas em se relacionarafetiva e amorosamente “É um filme leve, uma história de amorcontemporânea”, conta o diretor.

Seu primeiro filme De Passagem foi um grande sucesso.“A ideia inicial de De Passagem era o reencontro de doisamigos que não se veem há muito tempo. Através dessereencontro, mostramos uma outra visão da periferia,diferente da que acontecia. O filme é sustentado pelo SivioGuindane e pelo Fabio Neppo”, finaliza.

Seu segundo filme, Os 12 Trabalhos, foi eleito o melhorfilme Latino no Festival Espanhol de San Sebastian e foi exibido emmais de 23 países. “Os 12 Trabalhos fala da dificuldade queum jovem tem para se transformar, se reinventar. Ao mesmotempo, o filme é sobre São Paulo e todas as suascontradições”, diz Ricardo.

Mas, como sabemos, fazer cinema no Brasil é uma luta. “Épreciso obsessão e sorte, e como dizia Guimarães Rosa: Sorteé merecer e ter”, fala Ricardo. “No momento em que fiz osfilmes, não existia uma obra audiovisual que mostrasse ojovem da periferia sem vincular sua imagem ao crime e àmarginalidade. Nesse sentido, o De Passagem foi pioneiro.Eu queria mostrar o jovem comum, o morador comum daperiferia, seus sonhos, desejos”, completa o cineasta que nasceuna zona leste e representa as ruas em seus filmes.

Um filme?Aurora, dirigido pelo Murnau.Um ator?Paulo José.Uma atriz?Fernanda Montenegro.Um diretor?Vivo, Jacques Rivette.Oscar, acha importante o Brasil ganhar um dia?Acho que é importante porque há um anseio da classemédia por esse tipo de prêmio. O prêmio acaba sendouma legitimação do filme.O Brasil vive um grande momento em termos deprodução para cinema?Não existe cinema em nenhum lugar do mundo que nãoesteja vinculado ou associado à televisão. Aqui no Brasil,existe um divórcio muito grande entre os dois meios. Achoque isso precisa ser corrigido.Há também algumas distorções no processo de produção,distorções essas que precisam ser elaboradas. Elas vãodesde o limite de financiamento público para um filme aque tipo de público se deve esperar de cada filme.Um salve aos nossos leitores?Não há solução possível para as questões humanas quenão passem pela cultura e pela arte.

Page 14: Boletim do Kaos #5

Selo Povo, do escritor Ferréz, lança livros a R$ 5

Ao lado do editor MarceloMartorelli Vessoni da Luzes noAsfalto Editora, Ferréz coloca umsonho em prática. “Uma mudançaradical nas condições sócioeconômicas só acontecerá se formonitorada pelos excluídos”,fala Marcelo, citando o recéminaugurado Selo Povo.

A editora publicará autoresbrasileiros considerados marginais.A ideia é colocar no mercado livrosa R$ 5. “O Selo Povo é, no meumodo de ver, muito mais do queuma marca: é uma ferramenta demudança humanitária”, explicaMarcelo em entrevista ao BK.

Marcelo é coordenadoreditorial. É ele quem escolhe profis-sionais nas áreas de texto, gráfica esupervisiona todas as etapas deedição dos livros: criação de capa,projeto gráfico, diagrama ção,revisão de textos, escolha de gráficae distribuição.

Tudo está sendo muito bemcuidado. Para a parte visual, ThaisVilanova e Paulo Vidal definiram oestilo da primeira coleção de 8livros. “O Ferréz quis que os livrosfossem feitos no formato bolso,assim ficariam com preços maisacessíveis. O grafismo deixamosa cargo do casal”, revela Marcelo.Ele também conta que o escritor doCapão Redondo foi o responsávelpela escolha dos autores: “Achoque o critério que ele usa é, emprimeiro lugar, o da qualidadeliterária dos textos e o carátermarginal”.

A distribuição será feita daforma tradicional pela Luzes noAsfalto Editora e uma distribuiçãoalternativa também terá atenção es-pecial. Ferréz, em seu blog, explicoucomo vai funcionar: "Seja um

distribuidor do Selo Povo.Salve guerreiro, você que temcomércio em alguma regiãoperiférica, é um militante dacultura de rua ou mesmo se ésó um mano ou mina querendofazer parte da verdadeirarevolução, mande um e-mail([email protected])e vamos entrar em contatopara poder distribuir nossoslivros. Os livros vão ser vendi-dos a R$ 5 e o DVD a 9,99. Con-tribua para a periferia teracesso à leitura, seja umtraficante de informação”,convoca o autor de Capão Pecado.

O primeiro livro é dopróprio Ferréz, que mostra acreditarno projeto: "Eu me agarro a algojá batido, uma velha letra queouvi há muito, de um velhoinimigo. Penso nas línguas queferem e estupram meu ouvido,dizendo entender e se parecercomigo", trecho de Cronista deum Tempo Ruim, seu novo livro.

A publicação deve sair nosegundo semestre de 2009 e vaicontar com a escritora Cernov, deManaus, Lima Barreto, entreoutros.

As lojas 1 Da Sul serão osprimeiros lugares que rece-berão oslivros, além da venda pela Internet.Mas os livros também estarão naFNAC e na Livraria Cultura. Arevolução está começando. CONTRIBUA

PARA APERIFERIA TERACESSO ÀLEITURA, SEJAUM TRAFICANTEDE INFORMAÇÃO

Page 15: Boletim do Kaos #5

Tempos diferentes,estilos diferentes,

Ele nasceu em Curi-tiba, no dia 24 de agosto de1944, foi batizado com onome do pai, descendentede pai polonês e mãe negra.Sua morte precoce nãolimitou seu trabalho e Paulodeixou uma obra inigualável.Paulo sempre chamou aten-ção por sua intelectualidade.Sempre muito ativo, usoutoda sua energia na literaturae produziu muito em vida. Sedestacou pelo seu estiloúnico, preferindo poemasbreves e trocadilhos.

Sua astúcia nostextos fizeram-no participardo I Congresso Brasileiro dePoesia de Vanguarda emBelo Horizonte, onde conhe-ceu Haroldo de Campos, quevirou amigo e parceiro.

Leminski, aos deze-ssete anos, se casou com adesenhista e artista plásticaNeiva Maria de Sousa. Mas,sete anos depois, se sepa-rou. Suas poesias trazem ador de uma vida de altos ebaixos. Brigou a vida inteiracom o irmão mais novo,Pedro, que se enforcou em1986.

Perdeu seu primeirofilho, Miguel Ângelo,vencido pelo câncer em1979, aos 9 anos de idade.Ele mesmo já esperava amorte pelos excessos deuma vida regada à vodka,cigarro e outras drogas.“Maremotos em maresmortos. Pai morto. Mãemorta. Filho morto. Irmãomorto. Como querer queminha vida não sejatorta?”, escreveu em 88,um ano antes de morrer.

MOMENTO BOM

Sua esposa Alice Ruiz, tambémpoeta, ficou casada com ele 19 anos e,juntos, tiveram, além de Miguel Ângela,as filhas Áurea e Estrela.

Sua vida ficou mais conhecidadepois que Alice, em parceria comToninho Vaz, lançou o livro PauloLeminski – O Bandido que SabiaLatim. No livro, as linhas revelam umhomem que dava aulas de judô eadorava citações em latim.

Leminski ainda se casou comBerenice Paredes após se separar deAlice Ruiz, cansada da vida desregradade álcool e drogas do poeta.

Sua trajetória começou, mes-mo, em 1964 com poemas na revistaInvenção. Um ano depois, tornou-seprofessor de História e de Redação emcursos pré-vestibulares. Cansado, de 69a 70 morou no Rio de Janeiro; Voltandoa Curitiba para ser redator publicitário.

A qualidade de seus textos fezcom que, em 1981, sua letra Verdura,fosse gravada por Caetano Veloso nodisco Outras Palavras. Consideradoum poeta de vanguarda, um intelectual,Leminski era ao mesmo tempo um mar-

Os poetas sempre tiveram impacto na história da sociedade.Mas a verdade é que a poesia se tornou algo fora de moda nasgerações pós-Internet.

No entanto, essa história tem mudado e a poesia, hojevanguarda dos movimentos culturais periféricos, volta com forçatotal e um dos maiores responsáveis é Sérgio Vaz.

O mentor da Cooperifa abalou as estruturas da arte de ruacom o Sarau da Cooperifa na zona sul. Com um poder incrível deunir as pessoas, Sérgio, que acabou de completar 43 anos, reuniupoetas perdidos, talentos incríveis, pessoas comuns, universitáriosjornalistas e rappers para ler e ouvir poesia toda quarta-feira, pelosincansáveis últimos oito anos.

Com cinco livros, o último, Colecionador de Pedras,relançado pela Global Editora, foi no bar do Zé Batidão que ele achouseu QG da Revolução. Transformando um bar em um dos pontosculturais mais interessantes de São Paulo.

Em 2005, lançou a coletânea intitulada Rastilho daPólvora, que deu voz a vários escritores e sua camaradagem abriuportas para toda uma cena literária.

Suas poesias passam pela realidade, retratam o social semperder o lado lúdico e a leveza. Conhecido por falar a verdade e porsua habilidade de unir as pessoas, veio dos anos 80 com um grupode MPB, Clube da Esquina, onde começou a ser poeta.

Em 86, Sérgio já lançava de forma independente Subindoa Ladeira Mora a Noite. Em 1991, seu segundo livro, A Margemdo Vento. Em 1999, já era chamado de “poeta da periferia” pelarevista Raça Brasil.

Em 94, com o livro Pensamentos Vadios, confirmou seuestilo. Mas só dez anos depois foi que conseguiu lançar o intituladoPoesia dos Deuses Inferiores.

Seus feitos e dos seus parceiros são inacreditáveis. Oúltimo sarau , que coincidiu com o lançamento da edição anteriordesse jornal, atingiu a marca de 58 poetas! “Uma das noites maislindas de todos os tempos. Uma puta noite mágica. De luta.De resistência. De amor à poesia. De amor à periferia. Ontem,o sarau da Cooperifa parecia com o país que a gente sonha”,disse Sérgio Vaz em seu blog.

E, para finalizar, Sergião ainda escreveu: “Ontem, tive acerteza de que valeu a pena a gente ter lutado tanto prachegar até ali. Queria ter dois corações. Um para amar. Ooutro também. Falando em coração, o meu agora deu parater orgasmos e ejacular pelos olhos”. Concordo com você,mano.

Acesse e participe dessa (r)evolução:www.colecionadordepedras.blogspot.com

"A PERIFERIA NOS UNE PELO AMOR, PELA DOR EPELA COR DOS BECOS E VIELAS. HÁ DE VIR A VOZQUE GRITA CONTRA O SILÊNCIO QUE NOS PUNE.EIS QUE SURGE DAS LADEIRAS UM POVO LINDO EINTELIGENTE GALOPANDO CONTRA O PASSADO.A FAVOR DE UM FUTURO LIMPO, PARA TODOS OSBRASILEIROS..."

ginal colaborando com diversaspublicações.

Um grande momento dasua carreira foi em 1975, quandolançou Catatau, que denominou"prosa experimental". Sua parce-ria com a música reúne grandesnomes da MPB, mas também foitradutor de Alfred Jarry, JamesJoyce, John Fante, John Lennon,Samuel Beckett e Yukio Mishima.Publicou o livro infanto-juvenilGuerra dentro da gente, emSão Paulo, 1986.

Ele também foi colunistado Jornal de Vanguarda, na TVBandei-rantes. Uma de suas pai-xões, a língua e cultura japone-sas, resultou, em 1983, numabiografia de Bashô.

o mesmo vicío; a l iteratura.

Por Alexandre De Maio

Page 16: Boletim do Kaos #5

matéria Iatua

Imagine você, durante asemana no caos urbano de São Paulo,passando a trabalho ou a passeio pelaavenida Paulista e, de repente, poderse desplugar de tudo e ouvir umamúsica confortavelmente num sofá.Ou então, assistir de graça a um filme.Ou ler o jornal do dia, as revistas dasemana ou do mês, tudo semdesembolsar um único real. Se eufalasse que tudo isso é possível, vocêacreditaria?

Se sua resposta é não, entãoprecisa conhecer melhor o Itaú Cul-tural na avenida Paulista.

Ali, você pode subir até osegundo mezanino e estará naBiblioteca e Videoteca, ou CDR (Centrode Documentação e Referência).

Logo na entrada da biblioteca,sem precisar fazer qualquer tipo decadastro, você pode sentar no sofá erelaxar ao som de alguma coletâneacom variados gêneros musicais, quevai da MPB à música regional brasileira.Por dez minutos ou meia hora, vocêpode se desligar da cidade e depoisretomar seu caminho com muito maistranquilidade. Ou então, se tiver maistempo, continuar no espaço para umaboa leitura.

O melhor de tudo é poderfazer uma carteirinha, que fica prontana hora, e ter à sua disposição mais de3.900 filmes entre ficção, docu-mentário, curtas-metragens, etc. Aúnica coisa que precisa é levar RG, CPFe um comprovante de residência. Nadade xerox.

Itaú CulturalAvenida Paulista, 149 [ao lado da estação Brigadeiro do metrô]

Biblioteca ou Centro de Documentação e Referência no 2º Mezanino (11) [email protected]: de terça à sexta, das 12 às 20h; sábado das 10 às 19h

Videoteca (11) 2168-1782 [email protected]

O PÚBLICO EM GERALTEM DOIS DIAS PARA FICAR

COM OS FILMES E OSEDUCADORES (ESCOLAS

PÚBLICAS, PARTICULARES EONGS TÊM SETE DIAS.

OS TÍTULOS TAMBÉMPODEM SER CONSULTADOS NO

SITE DO ITAÚ CULTURAL.E O MELHOR DISSO:

É TUDO GRAÇA.

Quando estiver na Avenida Paulista, faça uma visitaao Itaú Cultural e conheça a Biblioteca e Videoteca, e mais ummonte de opções como - exposições, shows e outros espaçosque destacaremos nas próximas edições.

Batemos de novo na tecla, é tudo de graça, catracalivre. Aproveite!