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Boletim Informativo - AACDN 1 · ajustamento é inevitável e não poderá deixar de ser violento. Tal significa, numa linguagem simples, que a situação actual configura a de um

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Boletim Informativo - AACDN I 1

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2 I AACDN - Boletim Informativo

ED

ITO

RIA

LNeste número

3 I Editorial

4 I Democraciae Forças Armadas

9 I Ministro da Defesa NacionalFreitas do Amaral

10 I (Des)afinaçõesna valsa russo-europeia

14 I Mercado de Valores

17 I A decisãoao nível da organização

20 I O fim do regimede não-proliferação?

23 I Acontecimentos e Actualidades

26 I UmDeCadaVez

Capa - Assembleia da República

Nº 22 I Novembro-Dezembro de 2006

Cidadania e Defesa

Boletim Informativo da AACDNAssociação de Auditores dosCursos de Defesa Nacional

Praça do Príncipe Real, 23 r/c Dto1250-184 Lisboa

Tel : 213 465 888Fax: 213 257 886E-mail:[email protected]

visite o nosso sitewww.aacdn.pt

Ficha Técnica

DirecçãoDr Abílio Ançã Henriques

EdiçãoDr Francisco Marques Fernando

Composição GráficaElisa Pio

ColaboraçãoMiguel Fradique da Silva

Colaboração FotográficaLusa - Agência de Noticiasde Portugal, SA

Execução GráficaGráfica Central de Almeirim, LdaZona Indústrial, Lote 41 - D2080-221 AlmeirimTel : 243 5910555 Fax: 243 597 559E-mail:geral@gráficaCentral.pt

Tiragem1 000 Exemplares

Os artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores

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O quadro de reformas, que tem marcadoa nossa vida pública ao longo dosúltimos tempos, vem sendo motivo

para múltiplas tomadas de posição, por parte dosdiferentes actores políticos e sociais, incluindotoda a panóplia de comentadores em que o mundomediático se tem revelado fértil. E vale a penareflectir sobre os supostamente credenciadoscomentadores que, a exemplo dos tradicionaistreinadores de bancada (em especial no futebol),abordam com a maior segurança todas as temá-ticas, por mais díspares que sejam, da economiaà saúde, passando pela segurança social, peladefesa nacional e por tudo o mais que se lhesapresente...

Mas o ímpeto reformista de que todos, afinal,se revelam grandes adeptos, embora comdiferentes matizes, é sempre apresentado na suavertente mais simpática ou positiva, ou seja, comoinstrumento de progresso e de melhoria do nossofuturo colectivo. Num mundo dominado pelomarketing político, percebe-se que assim seja.E há até argumentos compreensíveis: o discursopela positiva é mobilizador da vontade colectiva emelhora a nossa auto-estima, condiçõesimportantes para vencer os desafios que temospela frente.

Contudo, a realidade dos factos é porventurabem mais complexa e não andará longe dodiagnóstico que reputadas personalidades,profundos estudiosos da nossa economia e dasnossas finanças públicas (lembramo-nos semprede Ernani Lopes e de Medina Carreira), há muitovêm afirmando: o País tem estado a viver acimadas suas possibilidades e não dispondo hoje asautoridades nacionais dos instrumentos de outrora(taxa de juro e taxa de câmbio, por exemplo), oajustamento é inevitável e não poderá deixar deser violento.

Tal significa, numa linguagem simples, que asituação actual configura a de um país com umquadro que se aproxima da falência técnica, umavez que ao longo dos anos tem vindo a gastaracima dos seus rendimentos, recorrendo sistema-ticamente a um crescente endividamento, pois já

não dispõe de património susceptível de seralienado para satisfazer o excesso de consumo.E este problema não é exclusivo da AdministraçãoPública e do Estado; aplica-se também ao consu-mo privado.

Neste contexto, com a terapêutica que temvindo a ser aplicada, ou com outra que se mostremais adequada, mais eficaz, ou socialmente maisequilibrada, há um efeito que é inevitável: nãosendo possível, a curto prazo, o aumento daprodução e, consequentemente, do rendimento,nem a manutenção da espiral do endividamento,a redução do consumo torna-se imperativa, o quesignifica baixar o nível de vida e de bem-estar aque os Portugueses se habituaram.

Pode-se discutir a forma como os sacrifíciossão distribuídos pelos diferentes grupos sociais.Mas não se pode fugir à inevitabilidade de que,no conjunto, vamos ter de ajustar em baixa onosso padrão de vida. Nesta matéria, não hámilagres!

É esta verdade elementar, mas politicamenteinconveniente, que a nossa classe políticaescamoteia, do Governo às oposições. Mas osPortugueses, na sua enorme sabedoria, nãoignoram a real situação do País.

Talvez por isso, quem sabe, a impopularidadede muitas medidas adoptadas ou anunciadaspelo Governo não se tem traduzido numasignificativa quebra de popularidade do Governoe do Primeiro Ministro. Mas isso não significa, anosso ver, que a credibilidade dos políticos nãoesteja posta em causa.

Abílio Ançã Henriques

Portugal,o Presente e o Futuro

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Obinómio civil-militar é um factor estruturante darealidade político-institucional e militar de umpaís, constituindo um elemento significativo na

relação entre democracia e forças armadas e no impactodesta mesma relação em termos de estabilidade interna esegurança nacional, com expressões também a nível regionale internacional. No espaço da antiga União Soviética, aarticulação das dimensões civil e militar tem revelado, nageneralidade, sérios limites (à excepção das repúblicas doBáltico). A tendência de centralização de práticas a nívelgovernativo, com os militares ao serviço do poder político,tem, em muitos casos, perpetuado a imagem do “nós eeles”, com um distanciamento claro entre o poder político emilitar e as populações, que traduz mais uma estabilidadede aparência, do que propriamente um esforço deenraizamento e consolidação dessa mesma estabilidade.

A um nível superior, a relação entre os líderes políticos eos líderes militares é ainda mais reveladora do estado dagovernação e da governabilidade de um estado: qual oposicionamento das forças armadas face ao poder político?De que modo a posição dos militares, seja de afirmação,de submissão, de participação ou de conflito, afecta aliderança política? E quais as consequências desterelacionamento entre poder civil e poder militar para aspopulações em geral no que concerne à construção de esta-bilidade assente em princípios de democratização sólidos?

Estas questões estão directamente ligadas às ambivalênciascaracterísticas do conceito de democracia e têm permitidointerpretações distanciadas e acções muitas vezes nãoconformes ao termo na sua formulação natural.

As dificuldades na explicitação do conceito de demo-cracia têm, por isso mesmo, permitindo interpretaçõesdiversas e mesmo distorcidas de um conceito que se temrevelado simultaneamente arma de ataque e arma dedefesa num combate nem sempre igual. Uma formainteressante de desconstruir a complexidade do termo éatravés das palavras de Abraham Lincoln quando discursavasobre democracia como o “governo do povo, pelo povo,para o povo”, sintetizando o elemento chave ao conceito –a participação civil. Esta traduz-se, numa fórmula minima-lista, na realização de eleições livres. Mas o conceitopoderá ser entendido de forma mais abrangente, incluindo,para além dos escrutínios eleitorais, liberdades cívicas departicipação e representação, conformidade com princípiosde um estado de direito e garantia de direitos e liberdadesfundamentais.

No espaço da antiga União Soviética, este conceitosurge como uma novidade, traduzindo uma realidade quasedesconhecida e de difícil tradução prática. As reminiscênciasde governação centralizada e autoritária permanecem, coma divisão entre nós e eles, entre o estado e a sociedade, acondicionar a relação entre as dimensões civil e militar no

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quadro intra-estadual. No entanto, é interessante referir queo sistema soviético, apesar de ser um sistema altamentemilitarizado, não era um sistema militarista, o que acaboupor se reflectir no cenário pós-soviético, onde 15 novasrepúblicas sucederam à União Soviética. De facto, estamudança implicou o fim de estruturas de comando e controlorígidas e a criação de novas estruturas, cuja consolidaçãoainda está em curso. De um modo geral, a transição pós-comunista decorreu de forma pacífica, apesar da emergênciade conflitos internos em algumas destas repúblicas. Estesconflitos reflectiram, no entanto, não uma reacção dosmilitares ao novo poder político, mas antes dificuldades deajuste interno, seja por motivos étnicos, sociais oueconómicos. Esta realidade demonstra, então, que na antigaárea soviética não houve verdadeiramente uma politizaçãodos militares. E talvez seja este mesmo aspecto a explicara postura branda do antigo presidente ucraniano LeonidKuchma perante os acontecimentos no Inverno de 2004na Ucrânia, que se tornaram conhecidos como a Revo-lução Laranja, e que permitiram que Viktor Yushchenko,pró-ocidental e democrático, se tornasse presidente darepública. O não recurso à força militar para dispersar osmanifestantes e o apoio das chefias militares à novaliderança política permitiram uma mudança relativamentepacífica de regime, com as dificuldades inerentes àmesma.

... a postura branda do antigo presidente ucraniano Leonid Kuchmaperante os acontecimentos no Inverno de 2004 na Ucrânia, que setornaram conhecidos como a Revolução Laranja, e que permitiramque Viktor Yushchenko (...) se tornasse presidente da república

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No entanto, e traçado este quadro, importa referir que aexistência de democracia não significa necessariamenteum controlo democrático das forças armadas. Nos estadosocidentais tem-se definido esta relação como funcionandoquando existe “controlo efectivo objectivo”.1 Este incluiprofissionalismo militar e reconhecimento de limites deactuação; uma subordinação efectiva dos militares aoslíderes políticos, ou seja, ao poder civil, que toma asdecisões fundamentais sobre política militar; e oreconhecimento e aceitação da legitimidade governativa ede liderança política. Este entendimento traduz apreocupação ocidental em manter os militares fora dapolítica, longe do poder e subordinados à sociedade civil.

No entanto, no espaço da antiga União Soviética, esteentendimento assume contornos pouco claros: a democra-cia é muitas vezes limitada à realização de eleições, cujosresultados são por sua vez manipulados, com implicaçõespráticas no sentido em que os civis eleitos têm autoridadesobre as forças armadas, mas não significando, no entanto,que haja um controlo democrático destas. Deste modo,estamos perante um défice cívico claro. A falta de confiançadas populações nas instituições de governo e militares torna-

se um problema. As condições sociais e económicasprecárias, associadas à instabilidade governativa eescândalos de corrupção aos mais altos níveis do estado,que têm sido recorrentes no antigo espaço soviético,reforçam esta mesma desconfiança e reduzem as condiçõespara uma transição consolidada. A heterogeneidadegovernativa, institucional e de opção política no quadro daex-União Soviética é uma demonstração clara dasdificuldades que os novos estados têm enfrentado no seupercurso pós-independência.

Num período de grande instabilidade internacional, ondeos desafios e ameaças ao sistema global são muitos, comfactores transnacionais a adicionar complexidade aocenário, como por exemplo grupos terroristas ou redes detráfico de droga, armas e seres humanos, numa escalaalargada, a instabilidade interna acaba por se reflectir eminstabilidade regional, com consequências globais. Faceàs inúmeras dificuldades que foram surgindo e ànecessidade de consolidar o curso da democratizaçãocomo promotor de estabilidade, a adopção de normas eprincípios de conduta a nível internacional tomou expressãoformal na adopção de vários documentos reguladores depráticas políticas, militares, sociais e económicas, no planointerno e no plano externo. As normas constituem, destemodo, um aspecto fundamental da vida internacional,afectando os processos de decisão globais, oracondicionando, ora estimulando decisões e atitudes, talcomo as que têm lugar no contexto de organizaçõesinternacionais. Uma demonstração do entendimentoalargado de que a existência de regras num sistemainternacional anárquico, e com todos os limites que lhesão inerentes, é fundamental para a manutenção deestabilidade.

As reminiscênciasde governação centralizada

e autoritária permanecem, coma divisão entre nós e eles,

entre o estado e a sociedade

De que modo a posição dos militares (...) afecta a liderança política?

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A Organização para a Segurança e Cooperação naEuropa (OSCE) é um desses fóruns multilaterais, onde os56 estados membros se comprometem perante um númeroalargado de princípios, com o objectivo de promoção dapaz e segurança na vasta área da OSCE, tradicionalmentedefinida como de Vancouver a Vladivostock. Apoiando-senos seus princípios fundadores como guias para a estratégiade desenvolvimento da organização, procura aplicar a suadimensão e compromisso normativo às actividades quedesenvolve nas suas várias dimensões: político-militar,económica e ambiental, e humana. Apoiando-se numaabordagem abrangente dos problemas e num entendimentoalargado de segurança, o papel normativo da organizaçãovisa responder aos muitos desafios no sistemainternacional. Mas as suas actividades, contudo, não têmsido desenvolvidas de forma isolada, em face de umsistema internacional vasto, com vários actores, diferentesabordagens e capacidades distintas. Neste sentido, osobjectivos, mecanismos e formas de procedimento têmde ser entendidos de forma abrangente, incluindo tambémo seu enquadramento no contexto normativo internacional.

A actividade da OSCE baseia-se em princípios definidosde comum acordo pelos estados membros, reflectidosdesde o documento fundador, a Acta Final de Helsínquiade 1975. Elaborando sobre os princípios comuns dedemocracia e legalidade, liberdade económica edesenvolvimento sócio-político, a OSCE pretende contribuirpara a promoção de estabilidade na sua área. A interligaçãode todas estas dimensões, incluindo aspectos políticos,económicos, militares e humanitários, tem contribuído parao desenvolvimento de respostas integradas para osproblemas.

Neste contexto institucional, e como mecanismoregulador das relações civis e militares, o Código de Condutasobre Aspectos Político-Militares de Segurança, adoptadoem 1994 em Budapeste,2 define os princípios que devemreger o papel das forças armadas nas sociedadesdemocráticas, bem como as relações entre estados a nívelmilitar, articulando deste modo a esfera político-militar comos princípios normativos da dimensão humana da OSCE.Trata-se de um documento politicamente vinculativo quese traduz num conjunto de normas e princípios que regulamas relações entre os estados signatários. O Código deConduta, as medidas de consolidação de confiança,desenvolvidas no quadro do Fórum para a Cooperação emMatéria de Segurança, e o Tratado sobre Forças ArmadasConvencionais na Europa (Tratado CFE) fazem parte dadimensão militar da OSCE, com o mesmo objectivo depromover a transparência e a previsibilidade como factoresfundamentais para consolidar a segurança internacional.

O documento relaciona directamente as dimensões civile militar como constituindo um binómio estruturante daconstrução de estabilidade. Além do mais, identifica pontossensíveis e considerações pragmáticas de convivênciapolítico-militar inter-estadual, com o objectivo de diminuirpercepções de risco e de ameaça. Assume como prioritárioo controlo político-democrático das forças militares comoelemento indispensável à estabilidade e segurança, sendoa integração destas forças na vivência da sociedade civiluma expressão clara do processo de democratização. Aoidentificar na dimensão interna a relevância do controlo,monitorização e responsabilização do político e do militar

na intercepção destas duas dimensões, o Código apontapara a dimensão externa e para a necessidade deaplicação destes mesmos princípios no sistemainternacional. Por outras palavras, o documento sugereque a troca regular de informação sobre a dimensão,constituição e manobras militares, a par dos desafiosinternacionais como o combate ao terrorismo, que levantanovas questões exigindo novas respostas, incluindo apreparação de novos tipos de missões, são factores quepodem não só reduzir desconfiança, mas contribuir paraum combate mais eficaz contra estas novas ameaças combase em princípios de cooperação reforçada entre osestados.

Em termos militares, a adopção do Código de Condutaabriu questões tradicionalmente da competência internados estados a escrutínio internacional, nomeadamente adiminuição das despesas militares, transparência e acessopúblico a informação relacionada com as forças armadas,e o treino, equipamento e comando destas de acordo coma legislação internacional vigente na matéria. Deste modo,o Código de Conduta é um marco relativamente ao carácterde intrusão da OSCE nos assuntos internos dos estadosmembros, alargando neste âmbito a questão da intervençãoem assuntos internos, para além das questões humanas,incluindo também agora compromissos a nível militar. Estemecanismo de intrusão lança questões tradicionalmenteda competência interna dos Estados no âmbito interna-cional, conferindo um carácter inovador ao documento.

O Código deve então ser interpretado como uminstrumento de monitorização e investigação, face aviolações dos princípios da OSCE. Deste modo, sinais dedesconformidade poderão significar instabilidade ou espíritonão cooperativo, lançando sinais de alerta antecipado,como, por exemplo, face ao incumprimento de princípiosrelativos a missões internas de segurança ou àmovimentação de forças militares. Interpretações contráriasao espírito do Código de Conduta poderão questionar o seu

Em termos militares,a adopçãodo Código de Conduta abriuquestões tradicionalmenteda competência internados estados a escrutíniointernacional,nomeadamente a diminuiçãodas despesas militares,transparência e acessopúblico a informaçãorelacionada com as forçasarmadas...

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1 Samuel P. Huntington, Reforming Civil-Military Relations,Journal of Democracy, vol. 6, n. 4, Outubro de 1995, pp. 9-17.

2 Todas as referências ao Código de Conduta sobre AspectosPolítico-Militares de Segurança são do Documento de Budapeste1994, OSCE, Decisões de Budapeste, capítulo IV. Daqui em diante,Código de Conduta.

valor, mas, apesar da existência de violações, estas normastêm a função inegável de influenciar o comportamento dosestados no sistema internacional. Contudo, as instituiçõesnão podem substituir a vontade política. Deste modo, nãoserá tanto o processo de decisão por consenso que constituiobstáculo à OSCE, mas a relutância dos seus estadosmembros em implementar os procedimentos de condutaadoptados.

Torna-se assim claro que o processo de democratizaçãoenvolve uma relação próxima entre as esferas civil e militarnuma dinâmica complexa, onde a interdependência dosambientes interno e externo afectam o relacionamento entreos estados. O contexto internacional, de grande comple-xidade, não permite também grande margem de manobra,no sentido em que, para enfrentar com realismo e eficáciaas novas ameaças, transnacionais por natureza e trans-versais no que concerne às dimensões envolvidas, são exigi-das medidas de consolidação de confiança e de cooperaçãointernacional, em matéria militar e de segurança. Nestecontexto, o Código de Conduta, como guia para a implemen-tação dos princípios de controlo democrático das forçasarmadas, pode constituir um elemento importante naestruturação destas relações e na forma como se processaa recolha e partilha de informação nestas matérias. A estru-tura de poder e o relacionamento da liderança política comas forças militares é, então, essencial na construção deestabilidade.

No processo de transição democrática, uma relaçãode transparência e complementaridade no binómio civil-militar é um factor adjuvante, evitando internamenteprocedimentos contrários aos esperados e que podem,por isso mesmo, constituir um sinal claro de instabilidadegovernativa; e a nível externo, reflectindo unidade nacionale disponibilidade para procedimentos concertados nosentido da construção de uma comunidade de segurançaalargada, onde princípios de transparência e cooperação,à luz dos acordados no âmbito do Código de Condutasobre aspectos Político-Militares de Segurança, possamefectivamente fazer a diferença.

Fotos © Lusa

Maria Raquel Freire,doutorada em Relações Internacionais

pela Universidade de Kent, no Reino Unido,e Professora auxiliar da Licenciatura

em Relações Internacionais da Faculdade de Economiada Universidade de Coimbra.

A estrutura de poder e o relacionamento da liderança política com as forças militares é essencial na construção de estabilidade

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Ministros da Defesa Nacional dos Governos Constitucionais pós-25 de Abril

Freitas do Amaral(VIII Governo Constitucional)

Nome: Diogo Pinto de Freitas do AmaralData de nascimento: 21 de Julho de 1941Naturalidade: Póvoa do VarzimPai: Duarte Pinto de Carvalho Freitas do AmaralMãe: Maria Filomena de Campos TrocadoNúmero de filhos: 4

.

Freitas do Amaral é amplamente conhecido pelasua obra enquanto jurista, professor catedráticoe político. Nos últimos anos, ingressou pela arte

dramática, publicando, com sucesso, duas peças quesubiram ao palco no Teatro da Trindade: O Magnífico Reitor(2001) e Viriato (2003).

Formou-se em Direito, em 1963, na Universidade deLisboa. Fez uma pós-graduação em Ciências Político-Económicas e, em 1967, obteve o grau de Doutor em Direito,com a classificação final de 18 valores. Foi professor naUniversidade onde se formara, eleito e reeleito cinco vezespara Presidente do Conselho Científico. Promoveu diversosencontros luso-espanhóis de Direito Administrativo,juntamente com o Professor Laureano López-Rodó,confirmando, deste modo, o seu estatuto de “reputadoespecialista no ramo do Direito Público”. Freitas do Amaralfoi também membro do Conselho Consultivo Geral daFundação Calouste Gulbenkian, fundador e primeiro Directorda Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa(UNL) e Presidente do respectivo Conselho Científico. Fezparte do Conselho Científico da Escola de Direito daUniversidade do Minho e presidiu à Comissão de Estudo eDebate da Reforma do Sistema Prisional. Em 2004, foi vogale vice-presidente da Comissão Externa de Avaliação dosCursos de Direito. Colaborou com as Faculdades de Direitoda Universidade Lusíada de Angola e com o ISCTEM, emMaputo. Assumiu, ainda, as funções de primeiro director doCentro de Investigação sobre Direito e Sociedade, da UNL.

Na política, destaca-se o seu papel enquanto membrodo Conselho de Estado, poucos dias depois do 25 de Abril.Foi um dos fundadores do CDS, tal como Adelino Amaroda Costa e Basílio Horta, entre outros. Foi o primeiroPresidente do Partido, eleito no I Congresso, em Janeirode 1975, sendo sucessivamente reeleito até 1982. Voltouà liderança dos democratas-cristãos, em 1988, ondepermaneceu até 1991. Entretanto, fora deputado pelocírculo de Lisboa, entre 1975-1983 e 1992-1993. Com avitória da AD nas eleições legislativas de 1979 e 1980, foiVice-Primeiro-Ministro e Ministro dos NegóciosEstrangeiros (1980-1981) e Vice-Primeiro-Ministro eMinistro da Defesa Nacional (1981-1982). Pediu a demissãodeste último cargo, na sequência de “desinteligências noseio da AD”. Em 1986, candidatou-se às eleiçõespresidenciais, tendo sido derrotado por Mário Soares, masobtendo cerca de 48,8 por cento dos votos.

Freitas do Amaral ocupou, ainda, os prestigiados cargosde Presidente da União Europeia das Democracias Cristãs(1982-1883) e Presidente da 50.ª Assembleia Geral da ONU(1995-1996).

Em Março de 2005, foi convidado pelo Primeiro-Ministro,José Sócrates, para Ministro de Estado e dos NegóciosEstrangeiros. Abandonou a função em Junho de 2006, porcausa de um grave problema na coluna cervical.

Principais medidas enquanto MDN

Freitas do Amaral deu um contributo fundamental para aLei da Defesa Nacional e das Forças Armadas (Lei 29/82de 11 de Dezembro), que estabeleceu, até hoje, a integraçãodas mesmas na administração directa do Estado, atravésdo Ministério da Defesa Nacional, na sequência da extinçãodos Ministérios da Marinha, do Exército e da Secretaria deEstado da Aeronáutica. Na sua obra A Lei da Defesa Nacio-nal e das Forças Armadas: textos, discursos e trabalhospreparatórios (1993), o autor compila vários documentos etextos relevantes, que explicam o móbil, as fontes e o pro-cesso por detrás da proposta que apresentou para a mesmalei. Mais recentemente, num artigo intitulado “ForçasArmadas em Regime Democrático”, publicado na RevistaNação e Defesa (n.º 94, Verão 2000) voltou a defender, coma devida argumentação, que “as Forças Armadas sedeveriam subordinar ao Governo através do Ministro daDefesa”, acrescentando, porém, que “não há que adoptarnem a ‘presidencialisação’ das Forças Armadas, nem asua ‘parlamentarização’, nem a sua ‘governamentalização’”.

Na condição de MDN, Freitas do Amaral foi tambémcontemporâneo e co-autor da Primeira Revisão daConstituição (Lei 1/82, de 30 de Setembro) que pôs termoao Conselho da Revolução. Apesar de, no artigo acimareferido, considerar que a existência deste órgão poderá ter“sido útil naquele período de 76 a 82”, no plano militar, aponta-lhe algumas críticas, como o facto de ter constituído “muitasvezes um entrave sério à execução do programa político daAliança Democrática” e de não ter tratado “de forma imparcialos vários governos”, uma vez que “tratava melhor os governosmais à esquerda, tratava pior os governos mais à direita”.

Alferes Ana Dias,Licenciada em Comunicação Social pelo ISCSP

e Redactora do Jornal do Exército

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Putin foi o convidado de honra do jantar queencerrou a cimeira informal da União Europeia(UE) em Lahti, na Finlândia, a 20 de Outubro de

2006. O tema do encontro de alto nível correspondeu a umadas prioridades da agenda de cooperação entre Bruxelas eMoscovo: a elaboração de uma estratégia energética deconjunto. No entanto, o Presidente russo revelou-se umconvidado difícil de acomodar, num contexto em que aComissão Europeia e a presidência finlandesa procuravamnão hostilizar, com críticas directas, o parceiro desejado enecessário. O almoço de preparação entre os Estados-Membros permitiu conter os limites da conversa dentro deuma linguagem de cortesia. Passaram apenas algumasnuvens de desconforto quando, por exemplo, os Países

Bálticos tomaram a palavra sobre assuntos como violaçãodos Direitos humanos e o tratamento russo relativamenteà Geórgia e quando Josep Borrell, presidente do ParlamentoEuropeu, sublinhou o défice na partilha efectiva de valorescomuns. Em termos de impacto de opinião pública e deambiente diplomático, a UE teve ainda a desvantagem dereceber Putin, com distinção, no contexto muito inoportunode crise georgiana, de morte da jornalista Politovskaia edos comentários imprudentes do presidente russo sobreo escândalo sexual em torno do presidente israelita. Noentanto, o agendamento antecipado do encontroexemplifica que a UE tem uma estratégia de longo prazopara com a Rússia e não está refém de impulsosconjunturais.

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O objectivo desse exercício diplomático era o de preparara próxima cimeira bianual da UE com a Rússia, a ter lugara 24 de Novembro de 2006, tradição consolidada desde1998 após a entrada em vigor do Acordo de Parceria eCooperação, de Maio de 1997. Na verdade, aquilo queBruxelas espera de Moscovo no dossier energético − paraalém das questões concretas de segurança nosabastecimentos e da abertura do mercado da exploraçãodos recursos em solo russo − vem na continuidade darelação construída desde o fim da Guerra Fria: que Moscovose torne um parceiro credível e transparente. A Rússia é pornatureza um interlocutor “especial” da UE e esse últimoconvite vem demonstrá-lo, da mesma maneira que foisimbólica politicamente a participação de Putin no ConselhoEuropeu de Estocolmo, em Março de 2001. O objectivodos dois convites era de melhorar o diálogo do Kremlin comtodos os Estados-Membros da UE e enviar um sinal forte aMoscovo sobre a vontade da UE em cooperar. O resultadoconcreto do jantar foi a abertura de Putin para a introdução,no novo quadro de cooperação a ser delineado para 2007,dos princípios de transparência e abertura contidos na actualCarta Europeia de energia, que Moscovo assinou em 1994,mas recusa ratificar.

O processo de integração europeia encarna valores pós-modernos de soberania relativa, tendencialmente opostosaos princípios tradicionais da política internacional, quecontrastam com o conceito russo de soberania territorial.Os objectivos da política externa de Putin são duplos. Porum lado, ela prossegue com a tendência de integração noespaço ocidental. Por outro lado, deu-se uma reafirmaçãoda soberania russa, da defesa da integridade territorial e dasegurança interna. A segunda vertente tem contribuído paraprejudicar as políticas integracionistas com a Europa e osEstados Unidos da América. Assim, quando a Rússiapersiste em concretizar as duas orientações, ela torna-seincompatível com a UE. Moscovo quer, por um lado, umarelação estratégica baseada presumivelmente em regrascomuns e, por outro lado, quer recuperar o domínio sobre oex - espaço soviético, segundo as suas próprias regras. Noentanto, isso não invalida o facto de existir uma necessidadeestratégica recíproca, de natureza mais económica para aRússia e mais política (segurança internacional) e energéticapara a UE.

Desde 2003, na sequência da cimeira de S. Petersburgoe de uma comunicação da Comissão Europeia de 2004, aUE procurou enaltecer a dimensão estratégica da suaparceria com a Rússia com uma revisão de atitude maisproactiva e exigente, face a Moscovo. Esta nova exigênciaresultava da necessidade de aprofundar os esforços decooperação encetados institucionalmente desde 1994 e davisão renovada da Europa alargada (Maio 2004), plasmadaem documentos, em jeito de doutrina, em 2003, pelaComissão Europeia e pelo Conselho Europeu. Até hoje,deu-se uma aproximação notável e contínua entre os doismaiores actores europeus que permitiu um diálogo políticoestruturado, inexistente há 13 anos atrás. Esse trabalhocorresponde globalmente à tendência russo-europeia deprocurar pesar na redistribuição mundial do poder, face aopapel hegemónico dos Estados Unidos da América.

A existência de desconfianças e dificuldades na relaçãonão deve implicar uma desvalorização do “acquis” existente.Se é certo que as questões contenciosas foram evitadas

no jantar de Sexta-feira, 20 de Outubro, isso não anula ofacto de ter existido um fórum. O custo de não hostilizar aRússia nas questões internas é certamente prejudicial nocampo dos princípios e valores comuns, assumidos porMoscovo em toda a sua relação com Bruxelas mas nãopartilhados realmente. No entanto, existe um benefício:manter os canais de comunicação abertos. Esses princípiose valores são: o Estado de Direito, a boa governação, orespeito pelos Direitos humanos, a promoção de uma boarelação de vizinhança e os princípios de uma economia demercado e de desenvolvimento sustentável. A relação estraté-gica entre a UE e a Rússia coloca-se por natureza no longo

... a Casa Branca precisado Kremlin para solucionaro problema iranianoe norte-coreano e, para tal,está disposta a adiara questão de uma eventualindependência do Kosovoou ainda a eventual adesãoda Geórgia à NATO a fimde preservar os apoios russos

Cimeira da União Europeia em Lahti

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prazo. No entanto, os problemas a resolver surgem no curtoprazo e põem à prova uma relação em construção que pre-cisa de tempo, por ser recente e altamente sensível, entreactores que constroem uma confiança mútua, inexistenteno rescaldo do fim da era bipolar. Não se pode dizer que aUE não tem abordado as questões de desacordo, nomeada-mente a Chechénia ou ainda o caso da Transnístria moldava.Desde o fim da Guerra Fria as opções estratégicas daRússia têm demonstrado a aceitação de um statu quoimposto pela sua posição mais fraca na balança de poderregional e mundial. Esse statu quo explica a sua aproximaçãoà UE nos domínios sobretudo económico e comercial mastambém, mais recentemente, de segurança e defesa. Nessaúltima área, a tarefa de acomodação foi mais desenvolvidano seio da NATO, o que permitiu às partes encontrar ummodus vivendi favorável a um clima de cooperação susten-tada, apesar de terem demonstrado posições a prioriopostas.

Os modos de aproximação entre a UE e a Rússia, nocontexto lato do pós-Guerra Fria e sobretudo no processode re-caracterização do sistema internacional europeu,tiveram expressão na cooperação institucional mas sãoindissociáveis dos mecanismos de acomodação NATO/Rússia. Isso foi determinado não só pelo papel da NATO nasegurança europeia e pelo seu processo de alargamento aLeste, mas também pela percepção russa da UE e daNATO, em que a UE é vista como a alternativa à NATO naEuropa. A própria evolução e o alargamento das duasorganizações são inseparáveis, entendidos como umprocesso de adaptação ao novo sistema internacional. ANATO é portanto um vector incontornável e definidor darelação entre Moscovo e Bruxelas. Esse facto é aindareforçado pela natureza evolutiva e em gestação da UE, emtermos de segurança e defesa. Nesses domínios, a UEclarificou com a NATO, em Dezembro de 2002, no acordo“Berlim Mais”, a necessidade e as modalidades para assumirmaiores responsabilidades na Europa. No entanto, essatarefa cinge-se às operações de peace-management eprevenção de conflito, baseando-se nas missões dePetersberg. O Acto Fundador sobre as relações, acooperação e a segurança mútuas entre a NATO e a

Federação da Rússia, de Maio de 1997, e a subsequentecriação do Conselho Conjunto Permanente NATO-Rússia,substituído em Maio de 2002 pelo Conselho NATO-Rússia,evidenciam a modificação da relação. Dois factoresdeterminaram a atitude do Kremlin em relação à NATO: apercepção da NATO como um desafio aos interesses russosde segurança, e prevenir que o papel central na segurançaeuropeia esteja numa estrutura à qual a Rússia não tenhaacesso. A oposição russa ao alargamento da NATO nemsempre foi coerente, mas a construção da relação decooperação da NATO com a Rússia foi mais profunda doque a relação com outros parceiros. A mudança de liderançade Ieltsine para Putin alterou radicalmente a visão russa daNATO, uma vez que a partir de meados de 2001 foi retomadoo projecto de desenvolver as relações cortadas peladivergência acerca da intervenção da NATO no Kosovo, em1999. O número de encontros oficiais aumentou entãoconsideravelmente. A aceitação da NATO como principalvector da segurança europeia aparece, portanto, como aaceitação provisória de um statu quo imposto pela fracaposição relativa da Rússia na balança de poder. Não é,portanto, aceite como um facto imutável mas umanecessidade transitória para evitar a sua marginalização nagestão da segurança europeia. A oposição à NATO do inícioda década de 90 correspondia à hostilidade russa quanto àunipolaridade do sistema internacional (Estados Unidos daAmérica), acompanhada pela ideia de Gorbatchev, eretomada por Ieltsine, de uma Europa para os europeus,como uma casa comum. A hostilidade manteve-se, portanto,apesar de uma aceitação de facto, ou pela força dos factos,do papel da NATO na Europa e do seu alargamento. O usoda força no Kosovo, em 1999, confirmou esta aceitaçãorelutante que não deixou de causar algumas frustrações àRússia. Nesse contexto, os desenvolvimentos do processode integração europeia, no sentido de transformar a UE numactor internacional de segurança, são primordiais napercepção russa de uma segurança europeia menos ligadaaos Estados Unidos da América. A esse facto acrescenta-se a importância económica da UE para o Kremlin.

Moscovo procura manter uma posição relevante numaEuropa cada vez mais definida pela UE. A divergência dasabordagens sobre as crises enfrentadas mais recentemente− as eleições presidenciais ucranianas de Novembro de 2004,os cortes de fornecimento de gás russo durante os invernosaos seus vizinhos, a questão chechena, a ocidentalizaçãoda Geórgia e os seus problemas territoriais na Abkhasia eOssétia do Sul − pode ser sintetizada nos conceitos de“zona de influência” para o Kremlin versus “política de vizi-nhança” para Bruxelas, à qual Moscovo reage comreticências. Isto explica-se pela sensibilidade soberanarussa naquilo que considera ser a sua “vizinhança próxima”,a qual corresponde aos catorze Novos Estados Indepen-dentes que integravam coercivamente a ex-URSS. Estazona de interesse vital, ou pelo menos de esfera de influên-cia, é fundamental na percepção das ameaças por parte deMoscovo. Essa susceptibilidade traduz-se, na prática, emprerrogativas soberanas, especialmente visíveis na suapolítica caucasiana. Aqui reside o ponto principal de fricçãocom a UE e o Ocidente, porque o Kremlin não respeitainteiramente os princípios e os valores comuns assumidos.

A distensão no relacionamento de Moscovo comWashington, proporcionada pelo 11 de Setembro e pela

Funeral de Alexender Litvinenko, que estava a investigar a morte deAnna Politkovokaya

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presidência de Putin, deixou lugar a um novo ciclo, desde2003, criado pela guerra no Iraque. A crise iraquiana podeter transmitido à Rússia a ideia de que a NATO e a UE jánão são tão importantes para promover o seu papelinternacional, dado o não funcionamento da Política Externae de Segurança Comum (PESC) e os problemas no seio daNATO em torno da crise de 2003. A compreensão daimportância, por Moscovo, do papel da UE na segurançaeuropeia tem sido condicionada pelo sentimento anti-NATOe mal interpretado pela Rússia, uma vez que desejava umaPESC e uma Política Europeia de Segurança e Defesa(PESD) desligada dos Estados Unidos da América. Apercepção das suas relações estratégicas sofreu, portanto,revisões, face à afirmação do hiperpoder norte-americano.No seu discurso anual à nação, a 10 de Maio de 2006,Putin advogou uma Rússia forte em contrapeso do poderde Washington. Assim, Moscovo posiciona-se hoje, nosgrandes dossiers internacionais, de maneira a afirmar a suaposição mundial, percepcionada como mais favorável. Emmeados de Novembro último, a Rússia adquiriu credibilidadeao fechar as negociações bilaterais com Washington paraa sua entrada na Organização Mundial do Comércio, podendoassim ser prevista para 2007. O Kremlin utiliza igualmenteuma capacidade de criar ruído na solução à crise iraniana,norte-coreana ou ainda sobre o estatuto final do Kosovo.Isso permite-lhe conservar margens de manobra na Geórgia,na Chechénia ou ainda na Transnístria, a fim de afirmar osseus interesses nacionais, baseados numa concepçãoterritorial de soberania. Globalmente, Moscovo temconseguido uma maior afirmação internacional, usando omonopólio dos seus recursos energéticos abundantes ecriando trocas com os assuntos em que os parceirosprecisam do apoio russo, não utilizando, por exemplo, oseu veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas oudeixando a diplomacia europeia actuar. Assim, a Rússiaconsegue manter o seu ascendente sobre a Geórgia porquecoloca na balança negocial as outras questões em quepode pesar contra Washington. Na conjuntura actual, a CasaBranca precisa do Kremlin para solucionar o problemairaniano e norte-coreano e, para tal, está disposta a adiar aquestão de uma eventual independência do Kosovo ou aindaa eventual adesão da Geórgia à NATO a fim de preservar osapoios russos.

Assistimos este ano a mudanças nas escolhas estra-tégicas devido a uma percepção de maior poder do Kremlinna balança mundial. Dois mil e seis é um ano em queMoscovo verifica e demonstra que no domínio energético éuma grande potência. Isso confere-lhe um poder negocialacrescido face à dependência energética da UE (gás essen-cialmente), reforçado pela presidência do G8, cuja cimeiraestival se debruçou sobre a segurança dos abastecimentos.O tema dominou igualmente o encontro bilateral com aChanceler alemã, em Abril, e com o Presidente francês, emSetembro. São os dois parceiros europeus mais inclinadosa não criticar Putin sobre os desvios autoritários do sistemade governo russo e a separar questões de Direitos humanosda discussão da agenda técnica. Claramente, para alémda necessidade estratégica da Europa de contar com aparceria russa nesse domínio, trata-se de negociar o novoquadro institucional de cooperação, no fim da vigência doactual Acordo de Parceria e Cooperação, a 30 de Novembrode 2007. Assim, o facto de Putin não ter sido confrontado

firmemente no jantar, por exemplo, com a nova lei russasobre as ONG que limita o seu número e a sua acção, coma questão chechena e a liberdade de opinião, com ohomicídio da jornalista Politovskaia ou ainda com o embargoà Geórgia, reflecte dois aspectos essenciais na relação daUE com a Rússia. O primeiro é a vontade de manter umdiálogo político com a Rússia que poderá conduzir a umarelação estratégica de longo prazo e o segundo consisteem fazer com que a Rússia não questione o valor acres-centado das suas opções europeias. Paradoxalmente,apesar da aproximação vivida, a Federação Russa de hojeé um parceiro mais difícil e talvez menos cooperativo que aRússia incerta do início dos anos 90. O padrão de aproxi-mação tem sido de não hostilizar Moscovo nos assuntosinternos para criar e manter um diálogo alargado. A ComissãoEuropeia de Durão Barroso e a presidência finlandesamostraram, no último encontro com Putin, ter percebidoque os problemas de compatibilidade da Rússia com a UE− quando se trata de concepções de soberania e de condutaspouco solidárias na vizinhança comum − não podem resistirao facto de que, quando se trata de energia, a Rússia éuma grande potência e é reconhecida e tratada como tal.

Fotos © Lusa

Sandra Dias FernandesAuditora do CDN 2003/2004

Prémio Jacques Delors2005

É com muita satisfação que o Cidadania e Defesa dáa lume a notícia de que Sandra Dias Fernandes,

auditora do Curso de Defesa Nacional 2003/2004, recebeu oPrémio Jacques Delors 2005, pelo seu trabalho cientifico (naárea da segurança internacional, da integração europeia edas relações entre a União Europeia e a Rússia), vertido nasua obra Europa (In)Segura. União Europeia, Rússia, AliançaAtlântica: A institucionalização de uma Relação Estratégica .

Este livro foi lançado em Braga, na Biblioteca LúcioCraveiro, no passado dia 18 de Outubro. O evento contou,naturalmente, com a presença da autora, com a apresentaçãodo Professor Doutor Luís Lobo-Fernandes, da Administradorado Centro de Informação Europeia Jacques Delors, MargaridaCardoso, e do Director da Editora Principia, Henrique Mota.

Sandra Dias Fernandes é licenciada em RelaçõesInternacionais (1999) − laureada com o “Prémio Universidadedo Minho” e com a “Bolsa de Estudo por Mérito” do Ministérioda Educação − e Mestre em Estudos Europeus (2005).

É docente na Secção de Ciência Política e RelaçõesInternacionais da Universidade do Minho desde 2001 e estáneste momento a doutorar-se no Institut d’Études Politiquesde Paris (Sciences Po), sendo Bolseira da Fundação para aCiência e a Tecnologia.

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O último estudo publicado pelo FundoMonetário Internacional – A demografia sobo ângulo económico – conclui que o aumento

da população mundial (que já superou os 6.500 milhões)terá consequências graves ao nível do desenvolvimentoeconómico. Há, no Mundo, uma redução geral da natalidade;e há, também, uma maior longevidade das pessoas. Querdizer, o facto de sermos mais não é consequência de estara nascer mais gente; acontece é que os vivos vivem maistempo. No contexto internacional, a Europa tem a situação

mais grave e recebe os mais sérios avisos, sobretudoporque o Fundo Monetário Internacional associa oenvelhecimento da população à perda de produtividade notrabalho e ao aumento dos custos com as reformas.

Creio que por detrás de tudo isto está uma crise devalores, ou melhor, uma crise moral. Vejamos:

Um sistema democrático é uma realidade que pressupõeo pluralismo de ideias, de causas. E é da conjugação dessasideias que surge a opinião aprovada, a linha de condutaformal, a Lei. Os partidos políticos, tal como hoje os vemos,

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são uma realidade decorrente da Revolução Industrial:surgem em torno da ideia do Estado-Providência, daprotecção dos trabalhadores por contraposição aoinvestimento, da maior ou menor intervenção do Estado naEconomia. Eram, no fundo, estas as grandes discussõesdo século XX.

Hoje, o panorama é outro: o Estado-Providência esvaiu-se, a livre iniciativa económica sobrepôs-se aointervencionismo estatal; à discussão sobre as condiçõesdo emprego sucedeu-se a discussão sobre a forma de criarpostos de trabalho, ou mesmo de os manter. Isto leva a queo debate democrático tenha perdido espaço: quer aEsquerda, quer a Direita pensam, sobre quase tudo, damesma maneira. Por isso, no debate parlamentar, o timbreé: quem governa diz que sim, quem está na oposição dizque não. Não há linha de rumo. Salvo numa matéria: asquestões morais.

As questões morais são, assim, o que separa, hoje, aEsquerda da Direita. São elas aquilo que sustenta o debatedemocrático num momento em que o capitalismo sesobrepôs às ideologias. Pelo menos na Europa. Daí queme pareça que a subsistência da Esquerda só se justifica

... quer a Esquerda, quera Direita pensam, sobrequase tudo, da mesmamaneira (...) quem governadiz que sim, quem estána oposição diz que não

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enquanto houver questões morais para discutir. Porque éunicamente aqui que ela se afirma.

José António Saraiva, com a sua visão habitualmentecerteira do panorama que nos rodeia, dizia, há algumassemanas, no Sol, que hoje deveríamos apostar na “culturada vida” e não, como a Esquerda defende, na “cultura damorte”. Creio que comungamos do mesmo ponto de vista.Tenho para mim que o que caracteriza a Esquerda é odescontentamento com o ser e o estar. É o querer mais doque aquilo que se tem, ou até mais do que aquilo que semerece. Daí que a Esquerda seja, na maior parte das vezes,contestatária, descontente e sem esperança. Nada traz deconstrutivo. Mas há muita gente que pensa assim e porisso merece respeito.

Ora, esse descontentamento da Esquerda vai manifestar-se na concepção que tem do valor da Vida e do sentidodela. É por isso que, no debate moral, a Esquerda apostana “cultura da morte”. Apoia o aborto, apoia a eutanásia,despreza o conceito de Família, uniformiza os sexos. Emsuma: não quer ter filhos. E aqui, a Esquerda é coerente:uma sociedade que não quer ter filhos, é uma sociedadeque já não tem esperança. E quem não tem esperança noFuturo não pode ter amor à Vida.

A visão da Esquerda é ambígua: o que tem devanguardista na Arte, tem de retrógrada na Vida. Em tudo oque é meramente instintivo olham para a frente; em tudo oque é humanista olham para trás. E é desta ambiguidadeque surge a sua fraqueza: é que, conceptualmente, nãotêm lugar para a Moral. Daí que todas as questõesconsideradas “morais” sejam equiparadas a “questõessociais”. Justificam com números aquilo que só pode serjustificado pela razão. Chamam “tabu” a tudo aquilo quedeve ser considerado “civilização”.

Ora, se o que distingue os Partidos de Esquerda dosPartidos de Direita, no Mundo Ocidental, são as questõesmorais, há uma outra dicotomia que me parece curiosa: éque há partidos que têm opinião sobre as mesmas; e partidosque não a têm, isto é, que dão “liberdade de voto” aos seusdeputados nas discussões sobre essas questões morais.Levanta-se aqui outra distinção: é que há “partidos deIdeologia” e “partidos de Poder”. Ou melhor, partidos emque a única ideologia é o Poder. E isso custa-me a entender:se nas questões fundamentais não sabem o que pensam,não percebo onde têm base ideológica que os justifique. Éque os partidos não são grupos de amigos, nem equipasde gestão, são unidades ideológicas.

De tudo isto, temos uma primeira conclusão: é que asubsistência da discussão das questões morais torna aEsquerda útil, dá-lhe campo de actuação, justifica-a. Poroutro lado, se se agilizar um processo conclusivo sobre asprincipais questões morais, a Esquerda perderá identidadee razão de existir. Neste ponto, a existência de referendossobre questões morais nunca trazem nada de bom àEsquerda: é que, se a sua opinião ganha nas urnas, aEsquerda perde terreno e espaço de manobra, perde umdos poucos palcos em que ainda tem visibilidade; se perdenas urnas, perde a razão. Mas, curiosamente, foi a Esquerdaque provocou esta situação, que levantou esta discussão.

Também se deve concluir que a Democracia, parasubsistir, carece de novas áreas de discussão, de novostemas de clivagem, de novas ideologias, para além dasquestões morais. E de coragem para sobrepor as ideias àobsessão do Poder. É que o Poder, em Democracia, só fazsentido se tiver um conteúdo lógico, uma linha de coerênciacom a História, uma Razão diferenciadora e um ideal deFuturo. E tudo isto interligado com o sentido que se tem daVida, do Homem e da Sociedade. A Democracia precisa deideologias de futuro.

Tem razão o Fundo Monetário Internacional em “puxaras orelhas” à Europa pelo desequilíbrio demográfico. Mashá que ver que esse desequilíbrio parte de uma “cultura demorte” que se está a instalar. Portugal, ao discutir a despena-lização do aborto, vai mostrar se quer a “Cultura da Vida” oua “Cultura da Morte”. E isto trará também a resposta a outrapergunta: a que distância estão os cidadãos do Poder? Éque, se a abstenção estiver aos níveis do primeiro referendo,só se pode concluir que os partidos que desencadearamesta discussão não conhecem a realidade do país quesomos.

Sou, por natureza, um optimista. Mas parece-me queas civilizações só permanecem se se mantiverem fieis aosvalores que as criaram e que as justificam. E a Vida Humana,como a sua dignidade, é o valor máximo da CivilizaçãoOcidental. Aprecio o Ocidente pelo muito que, de bom, temtrazido para a construção daquilo que é, hoje, o Homem. Egostava que isso continuasse a ser assim. Daí que mecuste a admitir que a Europa esteja a pôr em causa aquelesvalores tão próprios da Civilização Ocidental. Mas este éum corolário da Liberdade que o Ocidente criou. Esperemosque não seja razão para o seu fim.

Foto © Lusa

José António Silva e SousaAuditor CDN 2002

Presidente da Assembleia Geral da AACDN

... a Esquerda apostana “cultura da morte”.Apoia o aborto, apoia

a eutanásia, desprezao conceito de Família,

uniformiza os sexos

A visão da Esquerdaé ambígua: o que tem

de vanguardista na Arte,tem de retrógrada na Vida.

Em tudo o que émeramente instintivoolham para a frente;

em tudo o que é humanistaolham para trás

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A optimização do processo de tomada dedecisão deve ser uma preocupação constantedas organizações.

Qualquer escolha ou caminho pelo qual se opte numaorganização implica tomar uma decisão.

A geração de valor é determinada pelas decisões que,no interior de uma organização, cada um assume.

Tomar uma decisão é o processo que contribui paradar resposta a um problema, através da procura e selecçãode uma solução ou acção que terá como objectivo criarvalor para a organização.

Teoricamente, podemos classificar as decisões em doistipos:

As programadas e as não-programadas, sendo que asprimeiras assumem um carácter repetitivo e rotineiro efornecem estabilidade, aumento de eficiência e reduçãode custos.

As decisões não-programadas são, por motivos óbvios,não estruturadas e as soluções delas decorrentes surgemna medida em que os problemas aparecem, exigindo, porisso mesmo, mais actividades de pesquisa e estudos maisapurados, com vista a alcançar a solução que fique pertodo ideal. A grande vantagem deste tipo de decisões radicano facto de elas permitirem adaptação a mudanças doambiente, encontrar soluções para novos problemas e lidarcom situações imprevisíveis.

A criação de uma estratégia organizacional requer dosseus actores-decisores decisões não-programadas com

vista a encontrar o melhor modo de criar valor, usandopara tal todos os recursos ao seu dispor. A tipologia dedecisões em causa exige capacidade de julgamento,intuição e criatividade para resolução dos problemas, enão uma mera sustentação em regras e normas.

É importante que as organizações tenham capacidadepara tomar ambos os tipos de decisões.

Modelos de Tomada de Decisão

Enquanto que os primeiros modelos encaravam adecisão como um processo racional, no qual as decisõesfaziam com que as organizações se ajustassemperfeitamente ao seu ambiente, os modelos mais recentesreconhecem que a decisão é um processo eivado deincerteza no qual os actores-decisores procuramsoluções que podem ou não ser favoráveis.

O Modelo racíonal caracteriza-se pelo facto de que oprocesso de tomada de decisão pressupõe três estágios:identificação e definição do problema; criação de soluções

A optimização do processode tomada de decisãodeve ser uma preocupaçãoconstante das organizações

* KRISIS, em grego, quer dizer DECISÃO

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alternativas; e escolha e implementação da solução. Maseste modelo centra-se num cenário de ambiente idealem que as situações são “ideais”, isto é, não contémincertezas e ambiguidades e os custos de gestão e deinformação são ignorados.

A crítica formulada a este modelo baseia-se no facto deo mesmo ser irrealista e simplista quando assume que osactores-decisores possuem todas as informaçõesnecessárias, as capacidades intelectuais exigidas e quetodos concordam com o que é necessário fazer. O modeloem causa ignora os problemas de informação e gestãoassociados ao processo de tomada de decisão.

Os modelos mais modernos fornecem um panoramamais realista do processo de tomada de decisão, na medidaem que são tidos em conta e reconhecem que pesquisa sebaseia em informações limitadas, de racionalidade limitadaou capacidade limitada para processar a informação esimultaneamente reconhecem, explicitamente, as diferençasentre diferentes grupos no seio da Organização.

O Modelo Carnegie vê a organização como umacoligação de diferentes interesses − na qual a decisão ocorrepor compromissos − e negociações entre os responsáveisde diferentes áreas e funções no seio da organização.

Qualquer que seja a solução adoptada, ela temcertamente a aprovação do grupo dominante e, assim,naturalmente, reconhece que não é um processo neutrocom regras objectivas, mas sim um processo no qual asregras vão sendo estabelecidas, de acordo com objectivose interesses dos envolvidos, e que o ambiente é incerto eas informações são incompletas e ambíguas. Ainda assim,este modelo de tomada de decisão é racional, no sentidode que os actores-decisores agem intencionalmente com o

fim de encontrar a melhor solução para alcançar os seusobjectivos.

O Modelo Incrementalista obriga os actores-decisoresa seleccionar a sua forma de actuação de modo incremental,de maneira a corrigir ou evitar erros, através de sucessivasmudanças incrementais que podem levar a uma forma deactuar completamente nova.

No decurso deste processo, os objectivos organiza-cionais e a forma de alcançá-los podem mudar, mas talfacto ocorre de forma tão gradual que permite introduzir noprocesso acções correctivas. Neste modelo, os actores-decisores, limitados por falta de informações, actuam deforma cautelosa por forma a reduzir as hipóteses de erro.

O Modelo não-estruturado de tomada de decisão,desenvolvido por Mintzberg, descreve como funciona esseprocesso quando o nível de incerteza é muito elevado.Reconhece que a sua natureza é incremental, dado que sebaseia em pequenos passos, cuja soma conduzirá a umadecisão. Os obstáculos encontrados pelas organizaçõestêm como consequência imediata a procura de alternativase um eventual retrocesso no desenrolar dos processos, istoé, os processos não são lineares, mas desenvolvem-se deforma não-estruturada e não previsível. O ênfase é colocadona natureza não estruturada e intuitiva da decisãoincremental, por efeito das incertezas provocadas porconstantes mudanças.

O Modelo não-estruturado procura explicar as decisõesnão programadas, e o Modelo incrementalista procura expli-car a melhoria das decisões programadas ao longo do tempo.

Natureza da Aprendizagem Organizacional

Apesar de muitas decisões poderem não vir a ser asmais acertadas, fruto das incertezas do ambiente, muitasoutras permitem à organização adaptar-se ao ambiente ecrescer.

A melhor forma de optimizar as decisões e torná-lasbem sucedidas passa por as organizações estaremdisponíveis para a aprendizagem de novos comportamentosem detrimento dos ineficientes.

A Aprendizagem Organizacional é um dos processosmais importantes para ajudar os actores-decisores atomarem decisões de forma não programada, permitindoassim adaptação às mudanças do ambiente; no mundoglobalizado, as organizações são obrigadas a enfrentarmudanças cada vez mais céleres.

Existem dois tipos principais de aprendizagem, um emque as pessoas procuram novas formas de actividades eprocedimentos e outro quando as pessoas procuram melhoras actividades e procedimentos existentes. Ambos sãonecessários para aumentar a qualidade da decisão. Umaorganização aberta à aprendizagem, ou learningorganization, é aquela que possui uma estrutura, cultura eestratégia desenhadas de forma a maximizar o seupotencial de aprendizagem e que incentiva oscolaboradores a questionarem a forma de funcionamentoe a experimentarem novas maneiras de actuar.

A criação de uma learning organization pode exigir umaactuação a quatro níveis:

Ao nível individual, a organização incentiva cadacolaborador a um engagement com seu trabalho, de formaa desenvolver um gosto por novas experiências e riscos, o

Os actores-decisoresprecisam de ser estimulados

a libertarem-se de ideiasantigas e a testaremas suas capacidades

de tomar decisões

Boletim Informativo - AACDN I 19

que obriga a que seja atribuída aos colaboradores maiorresponsabilidade nas decisões;

Ao nível de grupo, o incentivo de aprendizagem é centradoem vários tipos de grupos, por exemplo, grupos comcapacidade de autogestão, dando aos indivíduos aoportunidade de interagirem e aprenderem uns com osoutros, partilharem as suas capacidades para resolverproblemas e, consequentemente, aumentando os níveis dedesempenho e sinergia;

Ao nível organizacional, pela aprendizagem através daestrutura e cultura organizacional, desenhando uma estruturaque facilite a comunicação entre grupos. A cultura é umainfluência importante, pois os valores e normas afectam amaneira das pessoas se comportarem e interagirem comoutros indivíduos e grupos fora da organização;

Ao nível inter-organizacional, também influenciado pelaestrutura e cultura, por exemplo, estruturas orgânicas eculturas com capacidade de adaptação estão mais aptas etêm mais apetência para procurar novas formas de gerir osrelacionamentos externos do que o estarão organizaçõesde estrutura mecânica ou cultura de inércia.

Factores que afectama Aprendizagem Organizacional

Mas existem factores que podem reduzir a aprendizagemao longo do tempo provocando crises.

As regras e procedimentos-padrão desenvolvidos parafacilitar as decisões programadas podem fazer com que osactores-decisores se acomodem e renunciem à aprendiza-gem através das novas experiências; ou seja, a obtençãode sucessos anteriores pode inibir novas aprendizagensconduzindo à inércia.

Pode acontecer também não ser dada a devida atençãoao aparecimento de crises, atribuindo-se o problema ainstabilidades temporárias, retardando investimentos oucentralizando decisões e reduzindo a autonomia daspessoas de níveis inferiores. Essa abordagem incrementalpode parecer mais segura do que estabelecer novos rumoscom consequências desconhecidas.

A estrutura cognitiva dos actores-decisores, isto é, oseu sistema de crenças, preferências e valores, pode ser

uma outra razão para inibir a aprendizagem, dado que elacondiciona a maneira como os actores-decisores interpretamo problema e optam pela solução. O perigo da visão relativaa uma situação que se encontre influenciada por experiênciasanteriores e pela forma de pensar reside no facto de elapoder estar distorcida e quando se toma consciência dissopode ser tarde para a organização tomar acções correctivas.

As influências cognitivas são factores que afectam aaprendizagem organizacional e as decisões. As maiscomuns incluem um estado de desconforto que a pessoasente quando existe alguma inconsistência entre suascrenças e acções e explicam por que é que os actores-decisores tendem a interpretar as ameaças de formadistorcida ou a ignorar informações que vão contra as suascrenças. A ilusão de controlo faz com que um actor-decisorsobrestime o seu controlo pessoal e assuma competênciapara lidar com incertezas e complexidade.

As influências cognitivas podem fazer com que osactores-decisores percam as suas capacidades para aceitarnovos desafios em situações de mudança, prejudicando,assim, a aprendizagem organizacional e, consequentemen-te, o seu crescimento e a sua sobrevivência.

Melhorando a Tomada de Decisãoe a Aprendizagem

Os actores-decisores precisam de ser estimulados alibertarem-se de ideias antigas e a testarem as suascapacidades de tomar decisões.

Actores-decisores com pontos de vistas diferentespodem evitar o pensamento colectivo ou a conformação.

Em conclusão, a aprendizagem organizacional éessencial para a adaptação contínua da organização àsmudanças do ambiente e os actores-decisores necessitamentender que a estratégia e estrutura de uma organizaçãonão devem ser vistos como algo rígido e imutável, casocontrario corre-se o risco de comprometer a aprendizageme conduzir a organização para a inércia.

Dr Alberto CoelhoAuditor do CDN2000

Em Assembleia Geral ordinária da AACDN, foideliberado fixar a quota anual em 60,00 Euros,valor que entrou em vigor em Janeiro de 2005.

Tal valor mantem-se em 2006.Para os associados que ainda não tiveram oportunidade

de o fazer, solicita-se o pagamento das quotizações,actual e em falta, utilizando um dos seguintes meios:

- Por débito na conta bancária do sócio, através dopreenchimento e remessa à Sede da AACDN (Praça doPríncipe Real, nº 23 R/C Dtº, 1250-184 Lisboa) do impressode “autorização de débito em conta”, enviada com o Boletim14/2004;

- Por transferência ou depósito na conta bancária daAACDN, na Caixa Geral de Depósitos (NIB: 0035 0667 0000

Quotas em 2006

0479 0307 7), que poderáser efectuado em qualquerCaixa Multibanco, numbalcão da Caixa Geral deDepósitos, ou através doInternet Banking;

- Por transferênciadirecta na CGD para aconta 0667 000479 030;

- Por cheque remetidoà Sede.

Em qualquer dos casos, é fundamental indicar sempreo número de sócio, de modo a permitir aos Serviços daAssociação identificar a proveniência dos valores recebidos.

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O regime de não-proliferação de armas nuclearessofreu, nos últimos anos, alguns rudes golpes.O regime, criado nos anos 60 pelos EUA, URSS

e outros estados, através do Tratado de Não-Proliferação(TNP), visava impedir a disseminação da tecnologia nuclearpara fora do círculo do “clube nuclear”. O sistema da não-proliferação está a ser posto em causa pelo Irão e foiultrapassado por Israel, Índia e Paquistão. Contudo, oTratado foi violado, de forma flagrante, por um estado queadquiriu armas nucleares: a Coreia do Norte. Recentemente,a Coreia do Norte conduziu mesmo um teste nuclear.

A Coreia do Norte ratificou o TNP em 1985, encorajadapela oferta da União Soviética de lhe construir reactoresnucleares. A partir de 1992, a Coreia do Norte foi alvo deinspecções por parte da Agência Internacional da EnergiaAtómica. As inspecções levantaram fortes suspeitas que aCoreia do Norte estivesse a reprocessar plutónio, emviolação das obrigações do TNP. Em 1993, após ameaçarretirar-se do Tratado, a Coreia do Norte negociou no ano

seguinte um acordo com os EUA que pôs fim à crise. Aimplementação do acordo foi marcada por numerosastensões e atrasos. Em 2002, Washington revelou que aCoreia do Norte tinha iniciado um programa secreto deenriquecimento de urânio. Para escapar às consequênciasdessa infracção, Pyongyang declarou em 2003 a sua retiradado TNP ao abrigo do art. X que permite a retirada, em certascondições.

A proliferação é uma das grandes ameaças da ordeminternacional actual. O fim da Guerra Fria, da balança depoder bipolar e do clima de dissuasão entre as duaspotências fizeram desaparecer os obstáculos que impediamos estados de concorrer com as superpotências no camponuclear. Desapareceram, assim, restrições impostas pelosdois blocos aos seus aliados regionais em termos deaquisição de armamentos.

Outro dos factores prende-se com a revolução nas tecno-logias da informação que modificou as técnicas de fazer aguerra, como o provam a Guerra do Golfo de 1991, a interven-

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O caso da Coreia do Norteé paradigmático:o programa nucleardeste país foi desenvolvidograças à ajuda de empresasamericanas e europeiasque lhe forneceram tecnologiae informação sensível

ção da NATO no Kosovo e a intervenção contra o Iraque em2003. Elas tiveram um efeito de demonstração, tornandoevidente a superioridade das tecnologias da informação eas armas de precisão e motivando os poderes emergentesa acelerar os seus esforços para desenvolver ADM.1

A corrida armamentista em áreas como o NordesteAsiático é impulsionada por uma série de factores. Os líderesregionais, como o da Coreia do Norte, acreditam que asvantagens da proliferação superam os riscos envolvidos: porrazões de prestígio pessoal e pelas vantagens que as ADMapresentam como armas de dissuasão e de combate. Esseslíderes têm lançado mão de todos os meios, inclusiveilegítimos, como as actividades clandestinas, para aumentaro seu arsenal nuclear. Outro factor que estimula esta corridaé a “institucionalização” dos conflitos e tensões. Como ésabido, o Nordeste Asiático (Coreia do Norte versus Coreiado Sul e Japão) é palco de conflitos de difícil resolução quetendem a prolongar-se no tempo. Além disso, cada novoavanço em termos de desenvolvimentos armamentistasincentiva a competição por parte dos vizinhos/rivais paraigualar ou contrabalançar essas capacidades.

O ambiente no pós-Guerra Fria levou ao enfraquecimentodos regimes e das normas de não-proliferação e de controlode armamentos. Vários factores explicam esteenfraquecimento:

Crescente acesso ao conhecimento − o fim da GuerraFria acelerou a mobilidade das pessoas, incluindo aquelascom preparação científica nesta área (caso dos cientistasrussos que foram trabalhar nos programas de ADM do Irão).Muitos dos cientistas que estão à frente de programas

avançados de armamentos beneficiaram de formação dealto nível no Ocidente. A explosão da Internet, do correioelectrónico e dos programas de transferência de dados porcomputador aumentaram a facilidade de troca de informaçãocientífica e técnica;

Internacionalização da base industrial − ainternacionalização dos processos industriais com achamada deslocalização ou internacionalização dasempresas permite realizar a produção noutros países, commão-de-obra especializada capaz de manufacturarcomponentes de mísseis e nucleares;

Interesse das indústrias em transferir tecnologiassensíveis − o mundo do pós-Guerra Fria é mais inseguro epermissivo. O motivo de lucro sobrepõe-se a consideraçõespatrióticas ou morais que, doutra forma, inibiriam certosagentes económicos de transferir tecnologia sensível paraestados com intenções ameaçadoras. O caso da Coreiado Norte é paradigmático: o programa nuclear deste paísfoi desenvolvido graças à ajuda de empresas americanas eeuropeias que lhe forneceram tecnologia e informaçãosensível;

Incentivos económicos para a proliferação − os estadosque produzem ADM podem ver nisto uma fonte derendimento. O cientista nuclear paquistanês A. Q. Khanmontou uma rede, composta essencialmente porfornecedores europeus, que vendeu milhares de peças ecomponentes para serem montados depois na Coreia doNorte, Irão e Líbia. O caos que se instalou na ex-URSS e adegradação económica explicam o desaparecimento dematerial nuclear e de todo o tipo de armamentos. A produçãode ADM e mísseis pode servir para extrair dinheiro aoOcidente: a Coreia do Norte tem utilizado o seu potencialmilitar nestas áreas para extrair infusões financeiras depaíses como os EUA ou o Japão;

O caos que se instalouna ex-URSS e a degradaçãoeconómica explicamo desaparecimento de materialnuclear e de todo o tipode armamentos

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A partir de 1992, a Coreia do Norte foi alvo de inspecções por parteda Agência Internacional da Energia Atómica

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Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

Assistência técnica acessível − os países interessadosem dotar-se de ADM têm actualmente à sua disposiçãoassistência técnica que lhes permitem ultrapassar muitasdas dificuldades técnicas na concepção dessas armas eavançar rapidamente para o seu fabrico. A Coreia do Norte éum dos países que mais coopera com outros proliferadoresa nível de mísseis, nomeadamente com o Irão e o Paquistão.Transferiu para aqueles dois países tecnologia dos seusmísseis Nodong;

Ambição de deter um poder militar superior ao dos EUA− é a da Coreia do Norte e do Irão, cujos programas derearmamento visam atingir um nível que lhes permita fazerface a uma possível incursão hostil por parte dos EstadosUnidos.

Aos factores indicados, é ainda de acrescentar asdeficiências do TNP e a dificuldade em criar barreiras legais

que impeçam a exportação de material de duplo-uso: defacto, os Estados-membros do TNP estão autorizados ater instalações para enriquecer urânio e separar plutónio −o que lhes permite produzir combustível para armasnucleares − desde que sigam os procedimentos previstosno TNP.

É, ainda, de realçar que um dos mais importantesincentivos à proliferação é a falta de determinação dos grandesestados em aplicar, com determinação, as regras do regimede não-proliferação. O Conselho de Segurança (CS) nãotomou medidas em relação à retirada da Coreia do Norte doTNP, apesar da importância do precedente que o actoestabelecia. As divergências de perspectiva e os interessesgeoestratégicos competitivos do CS impedem-no de cooperarpara fazer face aos problemas urgentes do regime de não-proliferação. A Rússia e a China têm as suas inquietaçõesem relação ao poder extraodinário dos EUA no sistemainternacional e, por isso, vêem com bons olhos aspossibilidades de criar contrapesos ou impedir o seu aumento.Embora estes dois países não tenham nada a ganhar com aproliferação nuclear, admitem que a posse de armas é a únicaforma que outros actores têm para deter ou conter os EUAde projectarem o seu enorme poder militar convencional.

Fotos © Lusa

Maria do Céu PintoProfessora na Universidade do Minho

e Auditora do CDN2000

A Rússia e a Chinatêm as suas inquietações

em relação ao poderextraodinário dos EUA

no sistema internacionale por isso vêem com bons

olhos as possibilidadesde criar contrapesos

ou impedir o seu aumento

1 Por ADM entende-se, aqui, armas nucleares, químicas, biológicase radiológicas e os correspondentes meios de emprego, como osmísseis balísticos.

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Acontecimentos&Actualidades

Portugal.com − Tradição e Excelência para oséculo XXI − eis o tema tratado no EncontroNacional, no passado mês de Outubro.

Portugal, uma realidade histórica foi o assunto daconferência proferida pelo Professor Doutor Miguel MariaSantos Correia Monteiro, no primeiro dia de tabalho.

No segundo dia, 6 de Outubro, A situação energéticade Portugal contou com o Engenheiro José Eduardo Barroso(da E Value) e os Professores Doutores Oliveira Fernandes(da FEUP) e António Sá daCosta (da APREN/Enersis),tendo o Painel sido mode-rado pela Drª Maria IsabelGuerra, vogal da Direcçãoda AACDN. Uma Mesa Re-donda sobre Casos de Su-cesso contou com a DrªAna Maria Dias (da BIAL),o Engenheiro FernandoMerino (do CITEVE) e oProfessor Engenheiro Joa-quim José Borges Gouveia

Encontro Nacional em Guimarães

(da FEUA); a Mesa foi moderada pelo Dr António Vilar, vice-presidente da Assembleia Geral da AACDN.

No terceiro dia de trabalho, o Dr Santos Silva, Presidenteda COTEC, proferiu uma conferência sobre a realidade daCOTET; antes, porém, teve lugar uma Homenagem daAACDN ao Engenheiro Paulo Vallada, cuja alocução foiproferida pelo Professor Engenheiro Luís Braga da Cruz.

Debates vivos e pertinentes tiveram lugar após asintervenções dos citados oradores.

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Desta vez, o Valor do Património Português tevepor tema o Museu da Cidade (de Lisboa) e

preencheu uma agradável manhã de sábado, dedicada àCultura, apreciada por um grupo de 25 pessoas, auditorese familiares. A visita, guiada pela Drª Edite Alberto, foimagnificamente comentada por esta experta historiadora/museóloga. O Museu da Cidade, também conhecido comoPalácio Pimenta, está situado no Campo Grande, numedifício do século XVIII, e é uma Instituição tutelada pelaCâmara Municipal de Lisboa, onde está reunida toda ahistória da capital, até ao século XIX. Através de váriasexposições de azulejos, desenhos, pinturas, maquetas edocumentos históricos, mostra a história da cidade desdeos tempos pré-históricos, passando pelos Romanos,Visigodos e Mouros.

Das colecções de arqueologia,pintura, desenho, gravura,cartografia e lapidária, o destaquedo museu vai para a grande ma-queta da cidade, anterior ao terra-moto de 1755, complementadapor vários planos de reconstruçãoda cidade; um tema que mereceuma atenção especial, não só pelotsunami que arrasou recentementeparte da Ásia, como pelaproximidade dos 250 anos que seassinalaram sobre o terramoto de1755. Trata-se de uma peçamagnífica, que constitui o maiorpólo de atracção do Museu,encontrando-se em exposiçãopermanente; executada entre1955 e 1959 por Ticiano Violante,sob a direcção do olisipógrafo

Gustavo de Matos Sequeira, reconstitui, de forma fidedignae com elevado grau de pormenorização, a cidade anteriorao Terramoto, entre a Ponte de Alcântara e Santa Apolónia,no sentido Poente-Nascente, e da margem do rio àsimediações das Amoreiras, no sentido Sul-Norte.

Uma nova revista, trimestral, denominadaSegurança e Defesa, teve a sua apresentação

ao público, em 9 de Novembro, no Pequeno Auditório daCulturgest, em Lisboa. Um pequeno folheto sobre a revistaacompanha este número do Cidadania e Defesa.

A Segurança e Defesa conta com um conjunto depersonalidades, altamente prestigiadas, no seu ConselhoEditorial (nomeadamente Adriano Moreira, Loureiro dosSantos, Ângelo Correia, Garcia Leandro, Armando MarquesGuedes, Lemos Pires, Jorge Braga de Macedo, PintoRamalho...) que promete dar-nos um excelente contributoem questões de Segurança e Defesa, tão caras à Demo-cracia.

Convidada para o evento, que contou com uma óptimaplateia, a AACDN fez-se representar pelo Presidente daDirecção e um Vogal.

Sábados Culturais da AACDN Revista Segurança e Defesa

Dia Nacional do Mar

No dia 16 de Novembro, a Sociedade deGeografia de Lisboa comemorou, na sua sede, o

Dia Nacional do Mar com uma sessão solene e oseminário Reflectindo sobre a Estratégia Nacional parao Mar.

A AACDN, convidada para o evento, fez-se representarpor um vogal da Direcção.

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A Evolução da NATO e a Transformaçãodas Forças Armadas

24º Aniversário da AACDN

Teve lugar na Sala do Senado daAssembleia da República, no passa-

do dia 17 de Outubro, uma conferênciaproferida pelo Comandante SupremoAliado da Europa (SACEUR),General James L. Jones,subordinada ao temaA Evolução daNATO e a Trans-formação das For-ças Armadas.

A abertura dasessão coube ao Pre-sidente da Assembleiada República, Dr JaimeGama, seguida da inter-venção do Presidente daComissão Parlamentarde Defesa Nacional, DrMiranda Calha.

A Direcção daAACDN, convidada pa-ra a sessão, fez-se re-presentar pelo MajorDr MarquesFernando.

No dia 25 de Outubro, cerca de 60 auditoresreuniram-se na messe da Força Aérea, em

Monsanto, num jantar-convívio, para assinalar o 24ºAniversário da Associação de Auditores dos Cursos deDefesa Nacional, o qual se reporta a 21 de Outubro, datado Diário da República nº 242, III Série (1981), onde constaa constituição da referida Associação.

O jantar, precedido de uma Missa na Igreja daMemória, terminou com um discurso do primeiroPresidente da Associação, o Dr Alberto dos SantosRamalheira.

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Muitos continuama ser os Auditores

dos Cursos de DefesaNacional que,

ao longo de mais de trêsdécadas,

se notabilizaramnas mais diversas

áreas: nas Artesou nas Letras,

nas Ciências ouna Educação, na Política

ou na Guerra.Porque a sua acção

é digna de mérito,vale a pena ficara conhecê-los...

indiscriminadamente...

UmDeCadaVezMaria Leonor Beleza tem 57 anos, é casada e tem dois

filhos e uma neta.Actualmente é Presidente da Fundação Champalimaud,

destinada à pesquisa cientifica na área da Medicina, pordesignação do Fundador, António Champalimaud, no seutestamento.

Licenciou-se em Direito em 1972, na UniversidadeClássica de Lisboa.

Foi Assistente da Faculdade de Direito da UniversidadeClássica de Lisboa, tendo trabalhado em Introdução aoDireito, Direitos Reais, Direito da Família e Direito dasSucessões e tido a regência das duas últimas cadeiras.Interrompeu funções na Faculdade por ter ingressado noGoverno.

Foi técnica superior da Comissão da CondiçãoFeminina, onde interrompeu funções pelas mesmasrazões. Detém a categoria máxima de técnico superiordaquela Comissão, hoje denominada Comissão para aIgualdade e os Direitos das Mulheres.

Foi consultora principal do CEJUR (Centro Jurídico daPresidência do Conselho de Ministros), tendo interrompidoessa actividade quando assumiu funções de Deputada.

Foi coordenadora dos serviços jurídicos da TVI –Televisão Independente SA, Presidente do Conselho Fiscale membro do Conselho Consultivo do Banco Totta & Açores.

É advogada, mas tem actualmente a inscrição na Ordemdos Advogados suspensa.

É militante do Partido Social-Democrata, de que foimembro da Comissão Política Nacional, Presidente doConselho de Jurisdição Nacional, Presidente do Congressoe do Conselho Nacional e Vice-Presidente da ComissãoPolítica Nacional.

Foi Secretária de Estado da Presidência do Conselhode Ministros, Secretária de Estado da Segurança Social eMinistra da Saúde.

Foi Deputada à Assembleia da República, para a qualfoi eleita em 1983, 1985, 1987, 1991 e 2002, tendo sidoVice-Presidente da A.R. entre 1991 e 1994 e, de novo, entre2002 e 2005. Foi Presidente do Instituto Dr Francisco SáCarneiro. É membro dos órgãos sociais de váriasinstituições de solidariedade, tendo sido Presidente doComité para a Igualdade das Mulheres e dos Homens doConselho da Europa. Tem estudos publicados sobrequestões jurídicas.

É auditora do CDN e sócia nº 158/1986 da AACDN.

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