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Boletim Informativo - AACDN I 1 Foto © Lusa

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Boletim Informativo - AACDN I 1

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2 I AACDN - Boletim Informativo

ED

ITO

RIA

LNeste número

3 I Editorial

4 I Alterações Climáticas Globaise Soberanias Nacionais

8 I Património cultural e industrialno contexto da globalização

14 I Apocalypse Now

16 I Novos Sócios

17 I Ministro da Defesa NacionalMota Pinto

18 I Nações Unidase a Manutenção da Paz

21 I Colégio MilitarApontamento a propósitodo 204º Aniversário

24 I Acontecimentos e Actualidades

26 I UmDeCadaVez

Capa - O Grito, de Edvard Munch

Nº 23 I Janeiro-Fevereiro de 2007

Cidadania e Defesa

Boletim Informativo da AACDNAssociação de Auditores dosCursos de Defesa Nacional

Praça do Príncipe Real, 23 r/c Dto1250-184 Lisboa

Tel : 213 465 888Fax: 213 257 886E-mail:[email protected]

visite o nosso sitewww.aacdn.pt

Ficha Técnica

DirecçãoDr Abílio Ançã Henriques

EdiçãoDr Francisco Marques Fernando

Composição GráficaElisa Pio

ColaboraçãoMiguel Fradique da Silva

Colaboração FotográficaLusa - Agência de Noticiasde Portugal, SA

Execução GráficaGráfica Central de Almeirim, LdaZona Indústrial, Lote 41 - D2080-221 AlmeirimTel : 243 5910555 Fax: 243 597 559E-mail:geral@gráficaCentral.pt

Tiragem1 000 Exemplares

Os artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores

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Boletim Informativo - AACDN I 3

O início de um novo ano é sempre motivopara balanço sobre a actividadedesenvolvida no período que terminou

e, simultaneamente, é momento para abrir (lançar)perspectivas para o futuro que se aproxima

No que se refere a 2006, apesar de algumasiniciativas não terem chegado a ser concretizadas,sobretudo por razões exógenas à vontade da Direc-ção, importa contudo destacar que os objectivosprincipais da nossa Associação foram plenamentealcançados, tendo-se reforçado a vitalidade daAACDN.

Neste sentido, não é demais enaltecer oEncontro Anual realizado em Guimarães, quer peloexcelente nível de participação dos Auditores deDefesa Nacional, quer pela plêiade de persona-lidades que nos deram a honra de contribuir comtodo o seu saber e experiência para o enrique-cimento das jornadas de trabalho que aí tiveramlugar.

Em 2006, consolidámos também o programados Sábados Culturais como uma das iniciativasde melhor acolhimento entre os nossosassociados, o qual, tendo sido iniciado em Lisboanos anos mais recentes, foi entretanto alargadoàs Delegações do Porto e de Coimbra.

No capítulo das Conferências e Seminários, oprograma levado a cabo em 2006 pela Delegaçãodo Porto, em colaboração com o Instituto da DefesaNacional e com o apoio da Universidade Católicae de outras entidades de relevo regional, constituiuum importante espaço de reflexão e debate sobrequestões prementes da actualidade.

A mobilização dos novos auditores, que emcada ano concluem o Curso de Defesa Nacional,tem constituído um permanente desafio para anossa Associação, pois é através da suaparticipação na vida da AACDN que se contribuidecisivamente para a continuidade do projecto deque somos portadores. Por isso, as iniciativastomadas em 2006 neste domínio, apesar derepresentarem um significativo reforço naaproximação da AACDN aos novos auditores, nãopoderão deixar de ser desenvolvidas e incremen-tadas no futuro, de modo a atingir, cada vez commaior eficácia, o seu desiderato.

O ano de 2007, em que comemoraremos o 25.ºAniversário da AACDN, vai ser inevitavelmentemarcado pela realização do IX CongressoNacional, momento alto na vida da nossaAssociação, em que todos os Associados sãochamados a uma participação especial,transformando este evento numa manifestação devitalidade associativa.

O tema já anunciado, Soberanias e Ameaças– Os Desafios das Novas Fronteiras, constituiráum excelente motivo para a preparação decomunicações por parte dos Auditores de DefesaNacional e para as subsequentes sessões dereflexão e debate que animarão o Congresso.

Por isso, neste início de ano, renovamos atodos o convite para uma participação activa eempenhada na vida da AACDN, não só pelaadesão às várias iniciativas que fazem parte donosso programa de actividades, como tambématravés das diferentes contribuições e sugestõesque entendam fazer chegar à Associação, que éde todos.

Nota finalEsta transição de ano ficou marcada pela

nomeação de novas Chefias Militares. Assim, oSenhor General Luís Vasco Valença Pinto, anteriorChefe do Estado-Maior do Exército, assumiu oimportante cargo de Chefe do Estado-Maior Generaldas Forças Armadas, passando o cargo de Chefede Estado-Maior do Exército a ser ocupado peloSenhor General José Luís Pinto Ramalho, anteriorDirector do Instituto de Estudos SuperioresMilitares. Ao mesmo tempo, o Senhor General LuísEvangelista Esteves de Araújo, anterior Director-Geral de Política de Defesa Nacional, assumiu ocargo de Chefe do Estado-Maior da Força Aérea.

Aos novos Chefes Militares formulamos votosdos maiores êxitos no cumprimento das relevantesfunções em que foram empossados, reiterando oapoio da AACDN e manifestando o nosso empenhoem manter e desenvolver as melhores relações decooperação, como sempre tem sido apanágio danossa Associação.

Abílio Ançã Henriques

Caros Colegas

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4 I AACDN - Boletim Informativo

Uma leitura rápida do título acima suscitará umade duas conclusões: trata-se de mais um artigosensacionalista, ou de uma visão insólita da

realidade. A segunda visão será, eventualmente, a que maisse aproxima. Suscitará contudo outras questões: qual seráa pertinência do tema? Serão efectivamente assuntos comalguma relação? E sendo relacionados, tratar-se-á de umarelação directa ou rebuscadamente distante?

Uma forma rápida de responder às questões levantadaspoderá ser: sendo maioritariamente aceite que estão emcurso alterações climáticas à escala global; que uma dassuas consequências incontestadas é a subida do nível médiodas águas do mar; e que um dos factores clássicos desoberania nacional é o território − pode concluir-se queimpende sobre os países uma nova ameaça à sua soberania,a concessão ao mar de porções do seu território por via daacção de terceiros países.

O presente artigo não pretende explorar de forma técnicaa temática das alterações climáticas (AC). É matéria deelevada complexidade e profundidade para o que este artigonão seria adequado. Aquele tema, embora “esteja na moda”,é tratado habitualmente de forma hermética sem que sefaça “a ponte” para destinatários não técnicos/ especialistas.Aliás, a falta de capacidade de apreensão das matérias porparte dos decisores, à parte os lobbies económicos, poderáser uma das razões pela qual a decisão política não temsido consequente com a gravidade do tema. Com o presenteartigo pretende lançar-se uma perspectiva tão diferentequanto breve do problema e que fatalmente irá estar nasagendas políticas mundiais dos próximos anos.

A história geológica, medida à escala dos vários milharesmas sobretudo dos milhões de anos, permite concluir queo clima terrestre variou significativamente ao longo dotempo. Desde há cerca de 800 mil anos a um milhão de

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anos (período de coabitação Homem-Terra), ocorreramvárias transgressões e regressões do nível do mar −designação implícita do avanço do mar sobre a terra e oinverso, respectivamente. Tais fenómenos de aquecimentoversus arrefecimento global foram originados pordinâmicas naturais, algumas delas até extrínsecas aoplaneta, relacionadas por exemplo com a sua órbita emtorno do sol.

Existem registos de medições, que são de muitasdécadas, de vários indicadores, como a temperatura, aprecipitação e o nível médio da água do mar (NMAM), deque o Marégrafo de Cascais detém um dos mais antigosregistos no mundo. Da análise dos registos de que sedispunha já nos anos 80 do século XX se concluía que(na altura, contudo, de forma polémica) estaria em cursoum aquecimento global progressivo, de causasresultantes de um forte contributo humano.

Foi, entretanto, nomeada em 1988, sob os auspíciosdas Nações Unidas, uma comissão interministerial(Intergovernamental Panel on Climate Change - IPCC),com o fito de obter conclusões sobre a matéria. O seuprimeiro relatório concluía que, efectivamente, existiamindícios que pareciam apontar para uma deriva climática,realçando, contudo, que era necessário continuar aestudar o assunto, em virtude da sua complexidade e darelativa exiguidade de instrumentos: registos históricossistemáticos, longos e fiáveis e modelos matemáticosmais robustos que permitissem, além de simular asvariáveis climáticas globais, inferir para a escala regionaldas consequências da variabilidade climática.

A forte componente política da IPCC apenas permitiuconcluir em 1997, no seu segundo relatório, que estavamem curso alterações climáticas sensíveis e que as dúvidasdo relatório anterior estavam agora razoavelmenteesclarecidas: as causas eram, pela primeira vez,dominantemente humanas e assentes fundamentalmentena emissão de dióxido de carbono (CO2) e de metano,algo que gerava o que é conhecido como efeito de estufa(fígura 1). Estes gases têm uma origem que é resultadode dinâmicas naturais (incêndios, vulcões, turfeiras, etc);contudo, a actividade humana gera um suplemento preju-dicial e desequilibrante do sistema climático global: grossomodo, o CO2 resulta da combustão de combustíveis fós-seis, como o petróleo e seus derivados, e de carvão egás natural (utilizados fundamentalmente na produçãode energia eléctrica em centrais térmicas convencionaise na propulsão de veículos automóveis e aeronaves); ometano resulta da matéria orgânica em decomposição,emitida a partir de lixeiras, aterros sanitários ou excre-mentos de animais.

Enquadrado genericamente o problema das AC,interessaria agora conhecer os contributos dos principaispaíses responsáveis pelas emissões dos GEE. A figura2 (na página seguinte) permite concluir que são os desempre os países que têm sido e continuam a ser osprincipais actores da cena política internacional, boa partedeles ditos países desenvolvidos.

Não desejando nem conseguindo tratar com pro-priedade os fundamentos filosóficos e históricos dasteorias da soberania nacional, é possível, contudo, men-cionar que, a par de outros, o território é um factorelementar de soberania. Por outro lado, de acordo com a

escola clássica francesa, não existe Estado perfeito semsoberania, pelo que, um Estado não soberano ou semi-soberano não é Estado (Duguit, L., 1971). A soberania éuna, integral e universal, não podendo sofrer restriçõesde qualquer tipo, salvo, naturalmente, as que decorremdos imperativos de convivência pacífica das naçõessoberanas no plano do Direito Internacional. Soberaniarelativa ou condicionada por um poder normativodominante deverá antes ser chamada de autonomia(Caetano, M., 1980).

Prod. E. Eléctrica

24%

Indústria14%

Agricultura14%

Uso do solo18%

Edif ícios8%

Transportes14%

Outros - energia

5%

Resíduos3%

Fonte: World Resources Institute Climate Analysis Tool - Cit. RevistaStern (2006)

Figura 1 – Contributo dos principais gases geradores de efeito deestufa (GEE).

Imagem de satélite de um iceberg fracturado

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6 I AACDN - Boletim Informativo

Ora, se a Revolução Francesa inspirou o conceitodominante de soberania no pressuposto de que apossibilidade e capacidade decisória emana do colectivonacional, através dos instrumentos de poder políticorepresentativo de cada indivíduo, implicitamente encontra-se o conceito de vontade geral da nação. Poderá, portanto,concluir-se, no tocante às questões climáticas globais,que todos os Estados estão sob influência de factoresque geram sobre eles impactos negativos, embora demodo diferencial, existindo uma larga maioria que sobreeles não têm qualquer decisão e para os quais nãocontribuíram, ou pelo menos não o fizeram de formasensível. Estes estados são portanto “lesados líquidos”,já que apenas suportam os custos que terceirosexternalizam. Ainda que esses terceiros estejam tambémsujeitos ao mesmo tipo de impacto, esse impacto surgeatenuado em sede de saldo custo-benefício.

A figura 2 mostra que um número restrito de países éresponsável pela maior parte dos GEE. Curiosamente,alguns desses países, em particular os EUA, nãosubscreveram os mecanismos internacionais preconizadospelo Protocolo de Quioto (1997) para mitigar o problemado efeito de estufa. De entre os países mais afectadosestão os chamados Pequenos Estados Insulares, querepresentam menos de 1% do contributo global para aemissão dos GEE.

Os cenários prospectivos do IPCC para as alteraçõesclimáticas prevêem uma variação da temperatura médiaglobal entre +1,0ºC e 3,5ºC até 2100, o que poderácorresponder a um aumento do nível médio das águas domar (NMAM) entre 15 e 95 cm. Tais variações correspondema um aumento médio de 0,1ºC em cada década ou 2 mm/ano, respectivamente.

Diversos relatórios identificam largas zonas vulneráveiscomo os territórios arquipelágicos do Pacífico e do Índico,aos quais se juntam zonas baixas como as existentes naHolanda, Bangladesh, Egipto, China (correspondentes azonas terminais de grandes rios), Indonésia ou Florida (nosEUA). Nestas zonas, as variações de temperatura eNMAM referidas acima deverão ser ainda mais acentuadas.

No que concerne aos impactos das alteraçõesclimáticas sobre os pequenos estados insulares das zonastropicais e subtropicais, a UNEP, particularmente o IPCC,reportou já estudos detalhados e específicos. São dezenas

de Estados e milhares de ilhas. Entre outrasconsequências, cumpre destacar as que se relacionamcom o avanço do mar sobre as suas zonas costeiras. EmTrinidad e Tobago foram medidos avanços de 2 a 4 m/anoe uma elevação de 8 a 10 mm/ano do nível do mar. Anatureza geológica das ilhas é importante mas, porexemplo, nas Maurícias foi medido um recuo da linha decosta de 2,7 m/ano e as praias das Fiji terão recuado 30m nos últimos 70 anos.

Os impactos físicos referidos decorrem decaracterísticas físicas particulares como a reduzidadimensão das ilhas, as suas baixas altitudes(frequentemente com cotas máximas de 5 a 6 m), e ofacto de se encontrarem rodeadas de grandes porções deoceano. Tais características agravam a dimensão humanados impactos, já que estas ilhas possuem recursos naturaislimitados e apresentam elevada propensão a desastres

naturais, infra-estruturas e realidades socio-económicasfrágeis, economias extremamente abertas, taxas decrescimento demográfico e densidades populacionaiselevadas e recursos financeiros e capacidade humana muitodébil (particularmente pelo seu baixo nível de qualificação).

Os factores referidos conferem àqueles países umafraca capacidade para poderem implementar medidas deadaptação às alterações climáticas, já que, em muitosestados, as preocupações dominantes são as que serelacionam com a mitigação da pobreza, nutrição, saúdee subsistência alimentar das suas populações.

Parry et al (1999) consideram que, mesmo com aimplementação plena de Quioto, em 2050 conseguir-se-iaapenas diminuir 1/20 da temperatura estimada pelo IPCC,pelo que os impactos das alterações climáticas afigurar-se-iam já inevitáveis. As AC são abordadas muitas vezesna perspectiva das emissões, não sendo mencionados asconsequências do aquecimento global. De modo muitogenérico, elas serão desde logo climáticas (com aumentode intensidade e frequência de eventos extremos); implicama diminuição da produtividade agrícola; têm impactos sobrea saúde humana uma vez que favorecem o desenvolvimentode doenças (algumas delas já erradicadas); geramalterações no padrão de produção de energia; têm impactossobre as pescas, florestas, biodiversidade e recursoshídricos (disponibilidade, qualidade, ocorrência temporal eespacial e, ainda, procura pelas actividades humanas).

2

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288

321

336

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M undo

EUA

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Japão

Índia

R. Unido

Canada

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África do Sul

Brasil

Nicarágua

Islândia1

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EUA

Canada

Rússia

R. Unido

Japão

Polónia

Islândia

Áf rica do Sul

Mundo

China

Brasil

Índia

Nicarágua

Toneladas per capita Milhões Toneladas

Figura 2 – contributos nacionais anuais para o efeito de estufa Fonte: Agência Internacional de Energia (2000)

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Boletim Informativo - AACDN I 7

A questão pertinente que a esta altura cumpre colocaré: no pressuposto de que os principais causadores doaquecimento global estariam dispostos a pagar, pelomenos os custos financeiros das medidas de adaptaçãoàs AC (algo que se reputa de altamente improvável), seriaainda assim razoável do ponto de vista do direitointernacional e dos pressupostos da soberania dos estadosque estes fossem espoliados do seu território, tendo capitalcomo contrapartida? Efectivamente, ainda que talocorresse, ficariam de fora os custos económicosrelacionados com os restantes efeitos das AC.

Mais, os custos de adaptação às AC seriam realizadosà revelia da sua vontade colectiva, logo, surgiam comopuramente contigenciais, assumindo tipologias do género“construção de infra-estruturas de protecção”,“deslocalização de infra-estruturas, equipamentos eactividades” e “custos económicos de alteração dascondições em que as actividades se desenvolvem” (algoque pode inclusive inviabilizar algumas).

A Holanda é habitualmente mencionada como umparadigma de vulnerabilidade às AC: dos seus 41 500 km2,cerca de metade encontra-se a uma altitude igual ou inferiora um metro do NMAM actual, ou cerca de ¼ do seu territórioestá abaixo do NMAM actual (onde reside 60% da suapopulação), atingindo-se uma cota mínima de - 6,7 m.Contudo, boa parte do seu território (e a quase totalidadedo que se encontra abaixo do NMAM) foi conquistado aomar através da construção de polders. É dos poucos casosdo mundo onde a necessidade económico-social de obtermais território se traduziu na sua conquista por via pacífica.Com as AC estará a induzir-se aos países que geográficae geomorfologicamente estão mais vulneráveis um efeitocontrário ao que a Holanda viveu (com a agravante de queé de forma alheia à sua vontade).

E Portugal? Além da salinização de aquíferoscosteiros, das águas de transição e de uma maior porçãode águas interiores, do aumento da procura de água e doaumento da vulnerabilidade a fenómenos extremos(particularmente do tipo cheias e secas), estará o nossopaís, como dezenas de outros, disposto a aceitar umacentuado recuo da sua linha de costa? Além da perdade território per se, recorde-se que o turismo português,fortemente ancorado nos produtos sol e praia, representa8% do PIB e 10% do emprego (ICEP, 2006) e que 75%da população reside em centros urbanos costeiros. Ocontinente conta com 950 km de costa, morfologicamentemuito variável, dos quais cerca de 350 km são praias e590 km são falésias. Cerca de 30% da costa está sujeitaa processo erosivo (dos mais intensos na Europa), sendoa taxa de avanço do mar de cerca de um metro por ano.Segundo o projecto SIAM (que estuda o efeito das ACem Portugal), até 2080 é expectável uma subida doNMAM entre 25 cm e 110 cm (julgando-se que tenhasubido até 20 cm durante o século XX).

Será razoável prever para breve um movimentointernacional dos ”prejudicados líquidos” com as AC que,argumentando factos como os mencionados no presentetexto, queiram impor-se à “comunidade dos beneficiadoslíquidos” (de curto prazo, contudo), de modo a impedirpelo menos o agravamento das causas das AC? Seráque os países “prejudicados líquidos” optarão antes porum caminho equivalente ao dos restantes países,

provocando eles próprios um aumento das emissõescausadoras de AC? Os próximos anos responderão aestas questões.

No quadro da problemática geral das AC, questõesadicionais poderão ser colocadas. As AC implicam múltiplasconsequências para além das de soberania e tocam novosassuntos no âmbito das relações internacionais.

Tomando o modo como Adriano Moreira se tem referidoa “Estado exíguo” ou “Estado falhado”, a capacidade dedeterminado Estado controlar a totalidade do seu territórioatravés do órgão próprio, o seu governo, é o critério paraque se aplique esta classificação. Assim, numa situaçãolimite, com a redução fortíssima do território de algunsestados, portanto com o seu “quase desaparecimento”,ou do surgimento de uma eventual nova tipologia de“estados falhados” e, por razões territoriais, será razoávelquestionarmo-nos se pelo menos a nível regional nãoemergirá uma nova ordem, com novos actores e novospoderes, resultantes da ascensão ou perda de poder dosestados envolvidos?

Os pequenos estados insulares, pelo menos, não têmuma importância política significativa na cena internacionalactual, de modo a poder reivindicar actos que impliquemgrandes ónus a terceiros. Que instrumentos de DireitoInternacional poderão ser utilizados para reivindicar oressarcimento das externalidades mencionadas no texto,ou para criação de novas figuras jurídicas que permitamfazê-lo?

Já que as AC têm impactos sobre a produtividadeagrícola (o que não deixará de influenciar fortemente asubsistência alimentar de alguns países), florestal, etc,conforme se mencionou atrás, será razoável prever a médioprazo uma alteração dos actores comerciais e sobretudodos produtos comercializados a nível regional (e mesmoglobal)?

O mundo recorda-se dos impactos materiais efinanceiros (designadamente os de índole energética) queo furacão Katrina provocou sobre os EUA. Embora sejaainda discutível, cientificamente, se o aumento daincidência de fenómenos extremos como aquele se devaàs AC, é empiricamente sugestivo que tal esteja a ocorrer.Se tal se vier a provar inequivocamente (por que já há umelevado número de autores que o dão como certo),poderemos deduzir consequências graves para aseconomias de muitos países desenvolvidos e o eventual“afundamento” de economias mais débeis ou pobres.Atendendo a que actualmente o mundo assiste à emersãode novos países, não irão as AC jogar um papeldeterminante na alteração do balanço de poderes na cenainternacional? E se assim for, os estados poderosospermanecerão como tal? E como será a sua predisposiçãopara pagar os custos das alterações climáticas?

Fotos © Lusa

Francisco MestreMestre em Hidráulica

e Recursos Hídricose Auditor do CDN 2004/05

Auto r

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8 I AACDN - Boletim Informativo

“Toda a Arte é filha do seu tempo e muitas vezesmãe dos nossos sentimentos”

A citação inicia a obra de Wassilly Kandisky intitulada Do Espiritual na Arte1

Se de alguma forma este pensamento traduzem larga medida a problemática do adventoda Arte nas suas definições genéricas de

concepção, entendimento e actualidade nos contextosdas sociedades contemporâneas, também não deixa deser verdade que transparecem por detrás destas palavras

valores mais profundos que ultrapassam as condicio-nantes da mera visão da produção artística para sequedarem nos aspectos da individualidade pessoal oude um grupo mais lato de pessoas numa qualquerpremissa de tempo.

Ao longo da História, a produção artística, aliada aodesenvolvimento técnico, tem sido um elo importante daidentidade de um determinado grupo humano ao mesmotempo que se apresenta para aquele universo como umreflexo do conceito dilatado de Cultura civilizacional.

M.F.

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Boletim Informativo - AACDN I 9

O factor geográfico, nos seus aspectos gerais deproximidade ou isolamento com outros grupos humanos; areligião, dentro das suas condicionantes de busca daverdade divina através do entendimento dos mitos que lheestão adjacentes; e, finalmente, as condicionantes antropo-lógicas de singularidade racial ou de miscigenação comoelementos fundamentais, separadores ou aglutinantes, devárias experiências culturais, tiveram como denominadorcomum a criação de uma produção tecnológica que marcouas civilizações ao longo da História.

A resultante dessas experiências ou desse percursocivilizador acumulado ao longo de séculos é, nas sociedadesactuais, apelidada, de forma genérica, de Património Culturale de Património Tecnológico, fenómenos que têm sidotratados e estudados numa rede de múltiplas disciplinas,em conformidade com a sua intervenção nos espaçossociais.

Os patrimónios histórico-monumental, artístico,arqueológico, arqueológico industrial, linguístico, arquivístico,bibliográfico, etnográfico, audiovisual, etc, são todos grandestemas culturais que têm merecido estudos aprofundados euma atenção específica por parte da comunidade científica.

Na actualidade, o factor cultural, cada vez mais aliado àtecnologia, é assumido como um fenómeno de significativaimportância não só por questões sociais, em parteresultantes da cultura de lazer das sociedades maisevoluídas, desencadeada a partir da segunda metade doséculo XX e decorrentes do desenvolvimento tecnológico,como também a ele se colocam sérios desafios devidos àmassificação da informação e de produtos industriais.

A valorização das actividades humanas tem vindo adesencadear uma mudança de atitude na mentalidade dassociedades modernas, com maior ênfase nas sociedadescontemporâneas, motivadas pela necessidade depreservação da memória e da identidade. A contemplaçãoe a necessidade de guardar memória levaram a que associedades fossem, ao longo do tempo, conservandoobjectos, primeiramente de uma forma curiosa eposteriormente com certos critérios metodológicos.

Por razões de raridade, antiguidade, beleza, fragilidade,originalidade se foram ordenando e preservando objectosem espaços próprios, cujo significado, histórico ou político,suscitou o interesse da sua recolha. Os índices destapreocupação são múltiplos e manifestam-se em camposbastante diversificados da actividade humana, incidindo commais precisão na produção artística e técnica diversificadaà preservação arquitectónica, abrangendo também aspectosdo quotidiano, nos núcleos urbanos campesinos ou mesmonaturais.

Os arquivos, as bibliotecas e os museus constituemhoje aquilo que podemos chamar de instituições de memória,ou seja, lugares com carácter permanente onde seconservam os resultados e os testemunhos mais valiosose duráveis do trabalho e da vivência dos homens sobre aterra. Entre estas instituições existem notórias diferenças,mas é no seu conjunto que se tornam inteligíveis as atitudese comportamento das sociedades em relação ao seu legado,ultrapassando-se o mero contacto dos indivíduos com osobjectos e, enquanto organismos pluri-funcionais deconservação, estudo, restauro e exposição, proporcionamum mais amplo conhecimento e um nova tomada deconsciência ao restituir uma leitura do passado ou

desencadear novas formas de abordagem num processode reorganização imagética2.

A memória colectiva e a memória histórica apresentam-se neste percurso muitas vezes em nítida oposição, emque a diferença fundamental se observa pela oposição datradição ou corrente de pensamento continuo, no seio deuma sociedade ou de um grupo cultural específico, dadopela memória colectiva e a compreensão de um quadro deacontecimentos muitas vezes exterior ao próprio grupo.

Memória Colectiva é, no fundo, o que resta do passadocolectivo de uma sociedade, evoluindo através deinstrumentos manipuláveis de luta ou de poder numasimultaneidade afectiva e simbólica. Por seu lado, a MemóriaHistórica acaba por ser fruto do conceptualismo da tradiçãoerudita e científica na busca do entendimento, através daanálise crítica e de uma lógica de continuidade que consiga,em si, dar uma resposta ao preenchimento das lacunasque compreendem a realidade científica da História numareinterpretação crítica, de acordo com as ideias do presente3.

Ao avaliar o seu passado, a sociedade constrói a suaauto-imagem fundamentando-se numa reorganização

A destruição do complexo do WTC deve ser vista como crime contrao Património artístico edificado

Foto © Lusa

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selectiva dos acontecimentos que acaba por constituir asua imagem no presente. Neste sentido, a imagem dopassado apresenta-se maleável e flexível à medida que asociedade vai atribuindo maior ou menor grau de importânciaa alguns acontecimentos, enquanto outros são relegadospara planos secundários ou mesmo ignorados.

O Museu reúne geralmente objectos localizados notempo e no espaço, testemunho da actividade humana, masque à partida são recuperados, tipificados, agrupados,seleccionados, conservados e expostos dentro de umaredefinição do legado cultural. Entendido como espaço dereunião de bens culturais móveis, apresenta-se comorepositório do passado, numa tentativa de projecção para ofuturo, ao preservar para as gerações vindouras a memóriacomo um valor cultural, e cumprindo a sua função socialatravés das acções de estudo, da exposição e interpretaçãodos seus objectos.

O Museu, como instituição de memória, aproxima-separticularmente da Biblioteca, pois ambos são encaradoscomo uma resposta à necessidade de conservar vestígiosmateriais da memória do passado. Divergem, no entanto,pelo facto de na Biblioteca os livros oferecerem umapanorâmica do mundo e dos objectos através da visão dosseus autores coevos, enquanto no Museu se recriam, dentroda mentalidade contemporânea, os objectos num novocontexto, separado da realidade original, onde o primadoestético e interpretativo se sobrepõe à função, contribuindoem alguns casos para a transformação do ambiente humanopara o qual os objectos foram dimensionados. Seguir umMuseu ou explorar um tema de uma Exposição acaba porconstituir uma atitude próxima do folhear de um livro. Oextenso número de museus observado desde as últimasdécadas, nomeadamente a partir da segunda metade doséculo XX, chamou a atenção das ciências humanas parauma Instituição até então quase negligenciada.

O estudo do Museu, com um papel preciso nos contextossociais e estéticos, foi, a partir daquela época, incrementadona Europa e nos Estados Unidos, continentes onde seregistam o maior índice de museus por habitante e em queo seu número não pára de aumentar, talvez devido a umaproliferação de debates e ao ressurgimento de uma novavaga de profissionais de museus que por si geraram novascorrentes de ideias dentro da área de influência dasinstituições, numa pesquisa que se desenvolveu emdiferentes direcções e numa tentativa da criação e procurade um modelo que inserisse o Museu num quadro maisamplo das instituições culturais, de modo a satisfazer asnovas realidades sociais de lazer e de democratização,surgidas no século XX durante o pós-guerra.

Dentro deste panorama, a industrialização da sociedadecontemporânea, regendo-se principalmente por parâmetroseconómicos, confronta-se com a massificação do consumo,procurando no seu seio a explicação do actual estado dedesenvolvimento, contribuindo assim para umreequacionamento do passado recente numa óptica deencontro com a sua identidade. Assim, as estruturasindustriais, recuperadas pelo Património Industrial,devidamente estudadas, apresentadas e interpretadasoferecem-nos uma novidade que é a de transformaremestruturas e objectos utilitários não só como evidências doregisto tecnológico como, pela sua apresentação, ostransformam simultaneamente em objectos com uma

estética própria. No entanto, essa estética não está noprimado do discurso, pois a razão e o objecto principal émostrar ao público a função.

Mas porquê falar de Património Industrial e Globalização?Porque ao longo dos períodos históricos da actividadeartística e tecnológica do Homem foram as estruturasindustriais que fomentaram uma visão de conjunto ao nívelplanetário. Os estilos artísticos nasceram e pontuaramdeterminadas regiões do globo. O gótico na Europa, na IdadeMédia, a arquitectura religiosa do Camboja e do Vietname,na Indochina. O Barroco, disperso por vários continentes eposteriormente usado profusamente na era industrial comoreferencial estético, chegou ao início do século XX. Mas defacto a uniformização global deu-se com as estruturasarqueológicas industriais a que hoje se denominam dePatrimónio Industrial.

O fenómeno da Globalização que hoje se discute assentaefectivamente nas várias globalizações efectuadas ao longoda História desde a Antiguidade, vincadas e marcadas porconflitos, ameaças e períodos de paz próspera que influíramna vida das populações em vários continentes do globo.Verificaram-se então essas globalizações com ampla baseno domínio da tecnologia. Na Antiguidade, talvez a primeirae a mais importante terá sido aquela que teve como impactocivilizacional a oferta de bem-estar dada pelo mundo grego,posteriormente suportada pelo Império Romano. Na IdadeMédia, a expansão tecnológica e filosófica do mundo árabe,que muito contribuiu para a matriz cultural da Europa. NoRenascimento, os Descobrimentos considerados por muitosautores a primeira globalização à escala mundial. Na IdadeModerna, a Revolução Industrial e já no período Pós-Modernoa revolução electrónica e digital.

A tecnologia foi, neste caso que abordamos, a basecivilizacional do Ocidente e foi o instrumento de que essassociedades se serviram para atingir fins políticos deexpansão, colonização e de hegemonia comercial.

Pode-se dizer que, de uma forma geral, o objecto deinvestigação da Arqueologia é o estudo da sociedade, doponto de vista paleo-antroplógico, e o objecto de estudo daArqueologia Industrial é o estudo e preservação de conjuntostecnológicos.

A tecnologia materializada pelos vestígios de ArqueologiaIndustrial foi crucial para o sucesso de conflitos armados eeconómicos que permitiu ao Ocidente a dianteira dos níveiscivilizacionais, mesmo destruindo outras civilizações eculturas.

Neste aspecto, o geógrafo árabe medieval Ibn Kaldumadverte-nos que o povo vencido está sempre em grandedisposição de imitar o povo vencedor nas suas marcasdistintivas, no seu vestuário, nos seus gostos, no conjuntodo seu comportamento e dos seus hábitos4. Dito por outraspalavras e citando Marcel Mauss,Civilização é sempre ada sua nação, porque eles ignoram em geral a civilizaçãodos outros5.

O estudo e a conservação dos vestígios de PatrimónioPré-Industrial e Industrial acabam assim por ser a tentativada perpetuação da memória, das ferramentas quepermitiram o sucesso dos vencedores na interacçãocivilizacional global. Porém, será de alguma forma injustoverificar que o estudo desenvolvido e a atitude de conservarPatrimónio Industrial, sejam encarados somente na ópticados vencedores, visto serem bastantes os exemplos ainda

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hoje fornecidos pela Antropologia Cultural epela Etno Arqueologia dos inúmerostestemunhos pré-industriais e industriaissobreviventes, exteriores ao espaçoocidental.

Numa abordagem crítica, não tenhamoscomplexos, foi essa tecnologia,materializada no presente pelo PatrimónioArqueológico Industrial, o segredo do triunfoocidental de hegemonia política e culturalperante o resto do planeta. Tecnologia essamuitas vezes desejável por sectores dapopulação mundial para o seudesenvolvimento e por outras rejeitada combase em vincados conceitos nacionalistasou obscuros e tenebrosos fins políticos ereligiosos, no intuito de retardar o progressoem proveito de sinistros poderes regionais.

Com base no avanço do conhecimentoocidental e com a intenção de preservar amemória tecnológica perante a vaga deinovações industriais que se tem sucedido,a Arqueologia Industrial e o conceito dePatrimónio Industrial tiveram acolhimento como novadisciplina e metodologia de estudo e de conhecimento noseio da civilização ocidental.

Ainda no plano crítico, pode afirmar-se com certapropriedade que acaba por ser uma disciplina inerente aoluxo permitido ao Ocidente que deixou para trás, ao longodo seu desenvolvimento, estruturas industriais ultrapassadaspela tecnologia, substituindo-as por outras mais modernas.

Luxo esse muitas vezes não conseguido por sectorespopulacionais exteriores às fronteiras do Ocidente que, pelofacto de possuírem baixos índices de desenvolvimento,acabam por ser impedidos de substituir essas estruturasindustriais, de uma forma intrínseca. Este panoramaultimamente tem vindo a ser ultrapassado pelos efeitos daúltima Globalização que também se apresenta como Globa-lização económica e neo-liberal em que os agentes econó-micos e as empresas multinacionais procuram, nos paísesmenos desenvolvidos, a mão de obra menos dispendiosa,investindo aí grandes verbas na modernização industrial.Por isso, urge que a disciplina e os conceitos de PatrimónioIndustrial antes confinados ao espaço ocidental se expendae fomente com rigor científico em bases teóricas edoutrinárias para a conservação de estruturas arqueológicasindustriais e para a permuta de conhecimento em locaiscomo a América Latina, Ásia e outros pontos do globo.

Luxo porque, além dos aspectos referidos, o Ocidentepossui recursos suficientes para associar a conservaçãodo Património Industrial aos aspectos pedagógicos damemória e à actividade turística, a qual foi tem sido e seráum parceiro indispensável na fruição do património e naconsequente obtenção de receitas para a sua preservaçãoe conservação.

Luxo esse que pode ter sido desenvolvido numcontinente como a Europa, onde impera uma vasta regiãogerida politicamente pela Democracia e onde a paz existehá mais de cinquenta anos e onde as convulsões sociaissão atenuadas. Mas este luxo teve um preço bem alto,pago com o sangue que suportou 14 mil conflitos armadosno espaço europeu desde 1648 até 1995. Importa

esclarecer que o ano de 1648 não aparece neste contextoarbitrariamente; ele aliás marca, com a assinatura dotratado de Westefália, o princípio do nosso sistemapolítico internacional que tem regulado as relaçõesinternacionais até ao presente, através da identidade dosEstados Nações6.

Um preço bem alto está a ser pago e será para asgerações vindouras com o empenhamento de significativosrecursos no intuito de inverter, ao nível do meio ambiente,os efeitos causados durante décadas pelas estruturasindustriais que agora queremos conservar.

Na Europa, a quantidade de conflitos verificados implicouo desenvolvimento de estruturas industriais e odesenvolvimento da tecnologia com impacto não só nosmeios bélicos como também no quotidiano das populações.Um exemplo bem próximo do nosso tempo e dessarealidade pode ser fornecido pela simples folha de alumíniocom a que hoje embrulhamos as nossas sandes e outrosalimentos, a qual há apenas 40 anos era considerada pelosamericanos segredo de Estado, sendo então a sua utilizaçãoprimordial a de cobrir e isolar dos raios cósmicos os primeirossatélites lançados no espaço.

... ao longodos períodos históricosda actividade artísticae tecnológica do Homemforam as estruturas industriaisque fomentaramuma visão de conjuntoao nível planetário

Central Tejo uma das mais significativas peças de Património IndustrialM.F.

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A industrialização afectou assim, de modo claro, o modode viver dos cidadãos ocidentais e esse impacto foi comumem vários países da Europa, de tal forma que o mesmotipo de Património Industrial pode ser verificado em distintospaíses dentro e fora do espaço europeu e com diferentesníveis de âmbito e aplicação. E, neste aspecto, a conser-vação do Património arqueológico tem sido para o Ocidente,nomeadamente para a Europa, uma inegável contribuiçãopara justificar o desenvolvimento da moderna sociedadeindustrial e técnica.

Este fenómeno do estudo do Património Industrial, empaíses menos desenvolvidos, também se passou emPortugal quando a sensibilidade para o estudo desta dis-ciplina não estava desenvolvida entre nós e como hoje emcertos pontos do globo se verifica com a exportação deutensílios e máquinas para os museus europeus. Mas estefenómeno foi conseguido à luz de uma tradição bem euro-peia, com raízes no Renascimento, de importação para oespaço europeu e para as suas principais cidades detesouros raros. É agora a vez, em relação ao PatrimónioIndustrial, de fomentar nessas periferias globais a sensi-bilidade, o estudo e a conservação in situ. Promovendodessa forma a cooperação internacional, o desenvolvimentode estudos comparativos, o alargamento e aprofundamentodo debate em torno das questões de ordem teórica emetodológica, visando as áreas do saber como a históriada industria, conservação de estruturas, divulgação dopatrimónio industrial e sua interpretação.

Ao longo de um acumular de experiências, a procura deuma afirmação e estruturação do Património Industrial, comoconceito baseado na disciplina e metodologia, foi iniciadaacademicamente em 1955. O movimento para a preservaçãodo Património Arqueológico viu o início do reconhecimentodos seus esforços por várias resoluções internacionais.Em Granada, Espanha, em 1985; em Malta, em 1992; emHelsínquia, em 1996 e já antes no seio da ComunidadeEuropeia, em 1990 e finalmente em Nizhny Tagir, em 2003,

na Rússia, sob os auspícios doICOMOS e da UNESCO, com aaprovação da Carta InternacionalSobre a Preservação e Conservaçãodo Património Industrial.

A Globalização que hoje vivemosé assim para várias matérias, ondepodemos incluir o Património Indus-trial, um momento histórico. Asrelações económicas mundiais, amobilidade dos cidadãos à escalaplanetária, as novas tecnologias deinformação, interpretação e comu-nicação, implicam uma nova atitudeética de encarar o Património que sebaseia na democratização ao seuacesso, conhecimento e fruição. Noquadrante político, tal como asglobalizações referidas, o PatrimónioIndustrial apresenta-se como uma“disciplina” que possui mais poten-cialidades para uma confluência deéticas civilizacionais do que aslimitadas mais-valias culturais eturísticas que lhe têm sido atribuídas

A Globalização tornou possível um novo contexto e umanova conexão entre actividades e actores económicos, odesmantelamento de barreiras comerciais e um aumentoda mobilidade de capitais sustentada por uma avançadatecnologia electrónica e de comunicações. Os benefíciosda Globalização estão à vista. Crescimento aparentementerápido da economia, altos padrões de vida, inovaçãoacelerada, difusão da tecnologia e um conjunto de novasoportunidades económicas para os Estados e pessoasindividuais.

No campo das ameaças inseridas nas relaçõesinternacionais, torna-se evidente que os acontecimentos do11 de Setembro de 2001 suscitaram o aparecimento de umnovo inimigo em larga escala – o terrorismo, que interferiudirectamente na vidas das sociedades actuais e teve umimpacto extraordinário na industria do lazer. Na transiçãodo século XX para o XXI é cada vez mais o maior número depessoas que tem sido morta em guerras civis, genocídiose limpezas étnicas, devido a uma oferta global de todos ostipos de armamento, algum de alta tecnologia e capacidademaciça de destruição. Organizações criminosas ousimplesmente estruturas terroristas transnacionais estãopor detrás deste cenário, jogando um papel queingenuamente se julga “secundário” nesta tragédia humana.A ambição das organizações terroristas e o leque deoportunidades oferecido pela Globalização são um ambientepropício para que o crime organizado e o terrorismo possamdesempenhar um papel “principal” no teatro mundial.

Esse papel foi tragicamente representado na manhã de11 de Setembro de 2001, com a derrocada das torresgémeas do World Trade Center. Do ponto de vista da Históriada Arte e do Património Industrial, o ataque às torres deNew York foi, além de sanguinário e cruel, um crime contrao património artístico ocidental e não será descabido dizerda Humanidade, isto se tivermos em consideração que todoo objecto ou edifício pode ser convertido em testemunhohistórico sem ter tido a sua origem num passado memorial7.

O Património Cultural, em conjugação com a actividade turística, cada vez mais se apresenta comoum sector de significativa importância económica e de crescimento sustentado

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O monumento tem por finalidade fazer reviver no presenteum passado recente ou distante, mantendo uma relaçãoviva com a memória8 e essa será porventura a leitura históricae artística vinculada ao WTC.

A natureza racional e abstracta da obra de arquitecturaque corporizava o WTC foi na altura da sua construção alvodas mais variadas críticas, aliás como acontece geralmenteàs grandes obras contemporâneas. O pensamento doarquitecto Minoru Yamasaki, ao conceber aqueles edifíciosfrios, foi o de assumirem uma imagem do poder técnico eeconómico - aqueles edifícios foram de facto uma alegoriaao Património Industrial Ocidental. De escala desumana,quase fazendo lembrar a miragem mítica da Torre de Babel,foram considerados esteticamente por algumas correntesfuncionalistas como uma verdadeira anti-obra e um exemplode má arquitectura ao serviço da especulação imobiliária edo liberalismo económico sem regras.

Seja como for, e apesar das críticas, «os olhos sãopreguiçosos» e assimilam com facilidade as novas formas,resultando daí que o principio da atracção em arte, regrageral, acabe por funcionar. Admiradas, quer pela pureza dasformas, pelo gigantismo, pela capacidade técnica da suaconstrução ou simplesmente como uma «nova maravilhado mundo», pouco tempo passou até que o poder imagéticodaquelas construções conseguisse um lugar singular noimaginário ocidental e até mundial. Se estas premissasfuncionaram para o bem, infelizmente também lançaramsemente no mal, acrescido com um amplo conjunto designificados obscuros, mais fruto da falta de tranquilidadeespiritual do que de análise serena. Parece ter sido dentrodeste escuro campo emocional que a obra arquitectónicade Minoru Yamasaki assumiu o delírio dos mais pérfidossignificantes na leitura deturpada de identificada tradiçãoesotérica e religiosa. Desse ponto de vista, a geometria daobra arquitectónica transfigurou-se no símbolo proibido,maléfico e legítimo de ser destruído pelo mais fervorosoreligioso.

Por tudo isto, pela polémica e paradoxo das múltiplasleituras estéticas suscitadas e sobretudo pela aceitaçãoplena da mensagem artística na Arte Ocidental, a obraarquitectónica de Minoru Yamasaki assumiu-se como umproduto artístico do seu tempo ou, se quisermos, um monu-mento artístico da modernidade e do Património Industrial.

1 Kandinsky, Wassilly. Do Espiritual na Arte. Dom Quixote .Lisboa, 1987. p.21.

2 Moreira , Isabel Martins. Museus e Monumentos em Portugal1772-1974. Universidade Aberta. Lisboa, 1989. pp.17-19.

3 Davallon, Jean. Dir. Claquemurer, Por Ainsi Dire Tout L´univers.La Mise en Exposition. Centre Georges Pompidou.Paris, 1986. p.100 eseg.

4 Ibn Kaldum. La Muqqadima. Ed. Hachette. Paris,1965. p.90.5 Mauss, Marcel. Oeuvres, 2, Représentations Colectives et

Diversité des Civilisations . Paris 1972. pp. 452-460.6 Teixeira, Nuno Severiano. “Conflitos”. In Dos Genomas às

Guerras. Actas dos XI Cursos Internacionais de Verão de Cascais.Câmara Municipal de Cascais, 2005. Vol. 2. pp. 77- 89.

7 Como exemplo desta asserção, podemos referir a Igreja deMarco de Canaveses, da autoria de Sisa Vieira (o mais internacionalarquitecto português), a qual pela sua mensagem estética e formalconstitui no presente um referencial imagético assinalável daarquitectura contemporânea portuguesa e mundial.

8 Choay, Françoise A Alegoria do Património. Edições 70. Lisboa,2000. p.22.

Assim, a destruição do complexo do WTC, como resultantede acção terrorista sobre o poder político e económico, deve,como referimos, ser vista como crime contra o Patrimónioartístico edificado. A visualização em directo da catástrofehumana e da destruição do conjunto arquitectónico do WTCnão só confirmou uma nova era nas relações políticasinternacionais como será certamente um facto a reter noestudo da Arte Ocidental da transição do século XX para oséculo XXI.

A novidade do ataque às torres gémeas, entendendo-ascomo imóvel artístico, prende-se ao sentido de uma novaameaça que paira sobre o Património e os bens culturaisdo Ocidente, que, além dos aspectos tradicionais comosejam os agentes naturais decorrentes do tempo, vandalismoprimário, catástrofes naturais e exposição ao clima, passamno presente a estar sujeitas ao terrorismo com fins políticos.

A destruição dos budas de Bamyan, em 2001, foi desdelogo um prólogo a este género de ameaça. Na Itália, naprimavera de 2002, foi noticiada e desmantelada umatentativa para a destruição de edifícios sacros e monumentosda Renascença, ao que parece, levada a cabo por radicaisreligiosos. Trata-se de uma atitude psicológica que pareceestar subjacente a alguns actos terroristas e que visasobretudo abater alvos intimamente relacionados com amemória e os símbolos ocidentais. Objectivamente,identifica-se um fenómeno de raiz medieval de exorcismo econdenação à revelia, que se vinga na esfinge quandoconstata a impotência de matar o corpo.

Na sociedade do século XXI onde o conhecimento seprevê sempre em evolução e onde o cidadão será, se quiserestar integrado, obrigado a uma constante actualização dainformação recolhida, as questões como a Cultura e oPatrimónio apresentam-se como um contributo para eevolução de uma matiz que se pretende em retorno comum efectiva participação da Cidadania. No futuro próximoda Globalização que se aproxima, será através do VectorEstratégico do Património Cultural que os diversos gruposhumanos ou os Estados-Nação terão a sua afirmação desoberania.

Rui TrindadeConservador de Museus,

Historiador de artee Auditor do CDN 2002

Auto r

... uma nova ameaçaque paira sobre o Patrimónioe os bens culturaisdo Ocidente (...) passamno presente a estar sujeitasao terrorismocom fins políticos

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A Itália tem, nos seus jornais e nas suas revistas,os melhores cronistas da Europa. É um naipede qualidade que só tem sombra, a meu ver,

na “tercera” do ABC de Espanha, na crónica de BernardHenri-Levy na edição económica do Le Point e num ounoutro artigo do tradicional The Times. Giorgio Bocca, o“anti-italiano”, ou Eugénio Scalfari, ambos do L’Espresso

– este último a compartilhar a sua presença quinzenalcom Umberto Eco – ou Umberto Galimberti do LaRepublica são pensadores duma clareza e duma profundi-dade que nos deixam sempre com o desejo de prosseguira reflexão.

Vem isto a propósito de uma onda de preocupaçãoque estes cronistas têm demonstrado ter acerca daidentidade do Homem, nos tempos de hoje, e do papeldo Estado como construtor dessa identidade. Comoexemplo desta inquietação é referido o papel que a Justiçatem como veículo pedagógico do Estado. Umberto Ecorefere a este propósito que “a condenação judicial colocao condenado como mensageiro, como meio” para acorrecção da sociedade. Tal visão tem comoconsequência a transformação da pena de morte num“delito” (V. “L’Uomo come fine”, in L’Espresso, edição de25 de Janeiro de 2007). E o Homem – certamente nosentido de Vida Humana – segundo este autor, não deveráser considerado um meio, mas um fim.

Os métodos da Ditaduramanifestam-se, ainda,

quando as escutastelefónicas, não só são

transmitidas nos jornais,mas geram penas de prisão

M.F.

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Esta visão das coisas faz ressaltar uma dascaracterísticas mais evidentes da cultura europeia – e atéocidental – actual: a cultura do medo. Vivemospermanentemente numa atmosfera de medo.

A face mais visível desta visão das coisas está noTerrorismo. A face menos visível, no entanto, é a que nostoca todos os dias. Quando o Estado português abre maisde um milhão de processos de fraude fiscal no ano de 2006(e quem acredita que em Portugal há mais de um milhão decriminosos tributários?) está a exercer a teoria do medo.Quando esconde radares nas estradas e aplica multaselevadas pelo excesso de velocidade a quem neles forcaptado, está a manifestar-nos o gosto pela cultura do medo.Para não falar nas escutas telefónicas ou na invasão daprivacidade de famílias com a sistematização de buscaspoliciais mal planeadas e com cobertura mediática, as quais,como se tem visto, quase sempre foram inconsequentes.Mas o Estado, nesta sua função de “educador”, é apenasum agente: é que, ao implementar a cultura do medo,contagiou-o para a sociedade.

O mundo de hoje é um mundo de aparências, comodefende Eugénio Scalfari, ou até mais profundamenteUmberto Galimberti no seu artigo de final de ano publicadono Republica, de 28 de Dezembro último. E essas apa-rências, porque esquecem a ética dos comportamentose estão viciadas nas megalomanias do capitalismoselvagem, trouxeram à sociedade portuguesa – e europeia– contemporânea duas características que não vemosclaramente, mas que são cada vez mais importantes nouniverso que nos rodeia: a cultura da conspiração e aprática do “Complexo de Édipo”. São elas, emconjunto com os exageros “pedagógicos” do Estado ecom o Terrorismo, os construtores desta civilização domedo.

Portugal começa a ter tradições neste campo. Desdehá décadas, centenas de casos suspeitos foram anunciadosnos jornais, motivaram os mais exacerbados debatespúblicos, geraram grandes receitas jornalísticas,apodreceram a nossa sociedade, vitimaram publicamentequase todos aqueles que, por alguma razão, tiveramvisibilidade. Quase nenhum teve consequências; quasenenhum caso no fundo, era verdade. Mas as penas estãodadas pela opinião pública. E não existe forma de pormos aJustiça a andar à mesma velocidade da calúnia, seja elaprivada ou publicitada na Comunicação Social.

E estas suspeitas – que todos os dias nos surgem nosmeios de informação – alastraram às Empresas, àSociedade, às Famílias. E querem sobretudo indiciar queao lançarmos uma suspeita estamos a destruir alguém, e oque é pior é que, como Édipo, a destruição desse alguémse faz com a convicção de que estamos a abrir umaoportunidade para nós.

Os portugueses são tradicionalmente invejosos. Creioser uma consequência da sua pequenez geográfica. Logo,estas teses assentam-lhes bem. Mas parece-me que nãose está a medir as consequências do que isto pode trazerpara a Democracia e até para a identidade e coesão nacional.Este medo permanente tem, para mim, duas consequênciasnefastas: cria instabilidade e, por outro lado, quebra a auto-estima nacional.

Recordo-me de, nos anos 80, ter lido um comentário deVasco Pulido Valente em que este defendia que o poder

forte, em Portugal, era cíclico. Pelo que me recordo, esseciclo era de 25 anos. Mas os prazos nem interessam, oque interessa é que esta lógica, veio a demonstrar-se como tempo, está certa. Hoje começamos a viver, na prática,em Ditadura. Aliás, já nem há Ideologias. E a Ditadura –neste caso como método - manifesta-se sempre que oEstado utiliza a teoria do medo. A Ditadura existe – nummundo sem ideologias e sem moral – quando oparlamentarismo criou a ambição de governar com maioriaabsoluta. Os métodos da Ditadura manifestam-se, ainda,quando as escutas telefónicas, não só são transmitidasnos jornais, mas geram penas de prisão.

E penso que não ficaremos por aqui. Isto porque naDemocracia de hoje, a demagogia substituiu a verdade. NaHistória, isso ocorre sempre que se inicia o declínio de umacivilização. Quem não se lembra da catalogação doComunismo, como o sistema das “mais amplas liberdades”?Não me admira, pois, que no futuro cristalize, pelo menosem Portugal, a cultura do medo. É que ninguém a denuncia,nem ninguém a combate.

Quando [o Estado] esconderadares nas estradas (...)está a manifestar-nos ogosto pela cultura do medo

... como Édipo,a destruição desse alguémse faz com a convicçãode que estamos a abriruma oportunidade para nós

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E é por estas razões que me parece que em Itália seavança no bom caminho quando se reflecte sobre o Homeme o seu papel na sociedade. Isto é, a medida em que aLiberdade é um factor de desenvolvimento, e nesse caso,os limites em que pode ser exercida. Comresponsabilidade e sem medos. Se não for assim,estaremos a regredir civilizacionalmente e creio que issonão valerá a pena.

Post Scriptum: Referi no meu último artigo nestaspáginas da Cidadania e Defesa que a cultura da morte,que vemos avançar na sociedade contemporânea, porquetem como consequência imediata o envelhecimento dapopulação, poderia trazer consequências sociaisincontroláveis. Curiosamente, vem agora o Eurobarómetropara a Descriminação na União Europeia (www.ec.europa.eu/publicopinion) consagrar e velhice como o sector dedescriminação mais problemático dos tempos actuais. Sãosinais dos tempos.

... na Democracia de hoje,a demagogia substituiu

a verdade.Na História, isso ocorre

sempre que se iniciao declínio de uma civilização

José António Silva e SousaAuditor do CDN 2002

Presidente da Assembleia Geraldo AACDN

Novos Associados da AACDNNa Assembleia Geral ordinária, que teve lugar no

IESM no dia 15 de Fevereiro, foi ratificada a admissãodos seguintes novos sócios:

911 / 03 - Superintendente Francisco Ascenção Santos

912 / 91 - C/Alm EMQ Luís Augusto Roque Martins

913 / 04 - Dr José Luís de Castro Feijó Pinheiro Torres

914 / 03 - Drª Marta C. de Oliveira Neves Vaz e Félix Morais

915 / 00 - Drª Helena Maria Ferreira Dias Tavares da Costa

916 / EXT - Embaixador António Guilherme de Oliveira Cascais

917 / 97 - Engº João José Nogueira Gomes Rebelo

918 / 05 - Cor Manuel da Silva

919 / 05 - Dr José Casimiro Ferreira Morgado

920 / 97 - Dr Carlos Manuel da Silva Páscoa

921 / 06 - Dr Vasco Luís Pinheiro Novais Branco

922 / 06 - Drª Maria de Fátima Conceição Faria

923 / 06 - Drª Anabela Costa Pouseiro Cabral das Neves

924 / 06 - Profª Doutora Mariana Luísa P. C. Guimarães Sampayo

925 / 06 - Drª Maria de Fátima Santos Rodrigues

926 / 06 - C.M.G. Luís Filipe Correia Andrade

927 / 06 - Engº João Paulo Assunção Ramôa

928 / 06 - Drª Maria da Penha de Castro da Costa Reis Malheiro de Magalhães

929 / 06 - Engº Eduardo Belmiro Torres Couto

930 / 06 - Drª Maria de Fátima da Silva Gonçalves Diogo

931 / 06 - Drª Juíza Desembargadora Maria Isoleta Almeida Costa

932 / 06 - Cor José Luís de Sousa Dias Gonçalves

933 / 06 - Drª Ana Maria Pereira Vaz

934 / 06 - Dr Artur Luís Viegas Soares Pais

935 / 06 - Dr José Agostinho Cristino Joana

936 / 06 - TenCor Gil Herberto de Menezes

937 / 07 - Dr Juiz Desembargador António Manuel Clemente Lima

938 / 06 - TCor Carlos Manuel Leitão Matela

939 / 07 - Mestre Francisco Manuel Gomes

940 / 06 - Drª Ana Paula de Jesus Harfouche

941 / 06 - Prof Doutor Nuno Gonçalo de Carvalho Canas Mendes

Auto r

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Boletim Informativo - AACDN I 17

Ministros da Defesa Nacional dos Governos Constitucionais pós-25 de Abril

Mota Pinto(IX Governo Constitucional)

Nome: Carlos Alberto da Mota PintoData de nascimento: 25 de Julho de 1936Naturalidade: PombalPai: António Ferreira PintoMãe: Violante da Mota CardosoNúmero de filhos: 3Data de falecimento: 7 de Maio de 1985

Tal como Freitas do Amaral, seu antecessor napasta da Defesa, Carlos Mota Pinto formou-seem Direito. O seu nome está associado a uma

das maiores crises políticas que atravessou o País em 1979,quando os partidos socialista e comunista apresentaramuma moção de censura ao Governo Constitucional quechefiava; o acontecimento provocou a dissolução daAssembleia da República, anunciada pelo General RamalhoEanes, Presidente da República (PR) da altura.

Em contrapartida, Mota Pinto foi responsável pelainstitucionalização do termo Assembleia da República, antesdesignada Assembleia Constituinte.

Depois de ter concluído a sua licenciatura na Faculdadede Direito da Universidade de Coimbra, com 18 valores, fezum curso complementar de Ciências Jurídicas, cuja boaclassificação (18, novamente) valeu-lhe o prémio CalousteGulbenkian. Em 1961, começou a trabalhar como 2.º assis-tente da Faculdade onde se formara, estando encarregadoda regência das aulas práticas da cadeira de Direito dasObrigações. Apesar de ter cumprido Serviço Militar Obriga-tório, Mota Pinto voltou a ser mobilizado, em Julho de 1961,para uma comissão extraordinária na Guiné. Regressou àvida docente em 1963, passando a reger diversas outrascadeiras, não só práticas como também teóricas.

Doutorou-se em Direito, em 1970, com a dissertaçãointitulada Cessão da Posição Contratual, obtendo a classifi-cação final de Muito Bom, com Distinção e Louvor. Foidelegado e vice-reitor da Universidade de Coimbra (aindaque tenha renunciado ao cargo, um dia após a tomada deposse) e membro do Conselho Directivo da Faculdade.

Após a Revolução, foi deputado à Assembleia Cons-tituinte (entre Junho de 1975 e Abril de 1976) e eleito líderparlamentar do PPD. Fez parte da primeira delegação daAssembleia da República à Assembleia Parlamentar doConselho da Europa. Na sequência do Congresso extra-ordinário de Aveiro, em Dezembro de 1975, desvinculou-sedo partido, mantendo-se, no entanto, como deputadoindependente. Foi membro do Gabinete de Estudos Distritalde Coimbra do PPD e membro da Comissão Constitucionalpor designação do PR. Entre 1977 e 1978, ocupou a pastado Comércio e Turismo do I Governo Constitucional (presididopor Mário Soares) e, pouco tempo depois, foi primeiro-ministro do IV. Depois da ‘queda’ do seu governo, MotaPinto foi mandatário nacional da candidatura do GeneralSoares Carneiro às eleições presidenciais. Inscreveu-senovamente no partido em 1981 para, no ano seguinte, sernomeado membro do Conselho de Estado. No que diz

respeito à carreira docente, Mota Pinto presidiu, entre 1982e 1983, ao Conselho Directivo da Faculdade de Direito deCoimbra. Chegou a 1.º vice-presidente do PPD/PSD e, em25 de Abril de 1983, disputou as eleições legislativas, cujosresultados valeram-lhe o exercício dos cargos de Vice-Primeiro-Ministro e MDN (IX Governo Constitucional).Entretanto, foi eleito Presidente da Comissão PolíticaNacional do seu partido (Braga, 1984), cuja função viria arenunciar no ano seguinte.

Morreu subitamente em Coimbra, dias antes doCongresso na Figueira da Foz, que daria a chefia do PPD/PSD a Cavaco Silva. Tem diversas obras publicadas,relacionadas essencialmente com o Direito.

Principais medidas enquanto MDN

Entre as várias medidas tomadas pelo MDN, Mota Pinto(individualmente ou em Conselho de Ministros), destacamos:a alteração de alguns artigos e/ou alíneas do antigo Estatutodo Oficial do Exército (EOE), de 1971; a extinção das comis-sões criadas em 1968, destinadas a gerir os planos deaquisições de reequipamento extraordinário (Decreto-Lei n.º126/84 de 26 de Abril); a reformulação de algumas normasdefinidoras da carreira militar dos oficiais do quadro especial,incluindo a sua progressiva extinção (Decreto-Lei n.º 296/84de 31 de Agosto); a extensão de determinados direitos eregalias a outros cidadãos portugueses, que não militares,que tivessem adquirido uma diminuição da “capacidade geralde ganho”, por terem colaborado “em operações militares deapoio às Força Armadas nos antigos territórios do ultramar”,(Decreto-Lei n.º 319/84 de 1 de Outubro); o reconhecimento,aos militares dos quadros permanentes, do direito de reque-rerem a revisão da sua situação militar, abalada pelosaneamento administrativo e discricionário do período imediatoao 25 de Abril (Decreto-Lei n.º 330/84 de 15 de Outubro).

Finalmente, importa referir, na sua actividade de MDN, aproposta conjunta do Conceito Estratégico de DefesaNacional (CEDN), aprovada pela Resolução do Conselhode Ministros n.º 10/85.

Alferes Ana Dias,Licenciada em Comunicação Social

pelo ISCSPe Redactora do Jornal do Exército

Auto ra

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Julho de 1995: as forças sérvias, comandadaspelo general Ratko Mladic, tomam de assaltoos postos de controlo dos capacetes azuis em

redor de Srebrenica, uma pequena cidade mineira no Lesteda Bósnia, e avançam sobre a cidade. Srebrenica era umadas seis “áreas seguras” criadas pela ONU e era defendidapor soldados holandeses. À chegada dos Sérvios, oscapacetes azuis holandeses não opuseram resistência.Em vez disso, talvez devido à sua inferioridade numérica,assistiram passivamente, enquanto os Sérvios perseguiame aprisionavam a população da cidade, a do campo derefugiados da ONU em Potocari, e a que fugia para osmontes, numa tentativa desesperada de chegar a Tuzla.Os Sérvios separaram os homens das mulheres e criançase ordenaram aos capacetes azuis que elaborassem umalista dos homens que deveriam permanecer no campo, namaioria idosos e doentes. Mesmo esses não sobreviveram.As mulheres e as crianças foram enviadas para Tuzla emautocarros. Os homens foram executados em massa, apósterem sido obrigados a cavar as suas próprias sepulturas.A Cruz Vermelha estima que, pelo menos, 7500 pessoastenham morrido ou desaparecido no massacre.

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O episódio acima narrado é um dos episódios maisbrutais do século XX, que conheceu os piores genocídiosde que há memória. O massacre de Srebrenica ilustra aincapacidade das Nações Unidas e das forças demanutenção da paz de defender as populaçõesapanhadas no meio de conflitos violentos. No entanto,naqueles anos, a ONU teve um sucesso assinalável noutrocenário de conflito, curiosamente o cenário do maiorgenocídio do século XX: o Cambodja. Em 1991, as quatrofacções que lutavam pelo controlo do país, com particularrelevo para os temíveis Khmers Vermelhos, que, com PolPot, nos anos 70, tinham mergulhado o país numaautêntica orgia de sangue, assinaram em Paris um acordode paz. A ONU ficou encarregada de implementar o acordoe de supervisionar a transição do país para um regimedemocrático. Durante os 18 meses que se seguiram, oCambodja foi literalmente governado pela United NationsTransitional Authority in Cambodia (UNTAC). Apesar daoposição determinada dos Khmers Vermelhos, osCambodjanos compareceram em massa às eleiçõesorganizadas pela ONU em Maio de 1993. Apesar daslimitações da UNTAC e das tarefas que ficaram porcompletar, as NU (Nações Unidas) deixaram o país comum governo formado legitimamente.

Recentemente, a gravíssima crise do Líbano,provocada pelo conflito entre Israel e o Hezbollah, sóconheceu tréguas quando o Conselho de Segurança dasNações Unidas aprovou a criação urgente de uma novaoperação de paz. Cito estes três exemplos, entre assessenta operações de paz lançadas pela ONU desde1948, para ilustrar a importância da preparação dessasoperações – antes de serem aprovadas pelo Conselhode Segurança – não perder de vista um elementofundamental: a capacidade de porem em prática no terrenoos objectivos que se propõem atingir. Isso passanaturalmente pela definição tão precisa quanto possíveldas regras e dimensão do mandato, bem como danecessária cadeia de comando.

O peacekeeping integra-se na panóplia dosinstrumentos e métodos que o Conselho de Segurançapode usar para defender a “segurança colectiva” e para oobjectivo de manutenção da paz no mundo. Opeacekeeping é, talvez, o elemento mais original einovador da panóplia dos mecanismos de resolução deconflitos e, desde a sua criação, está em constantedefinição e afinamento, tanto conceptual comooperacional.

Durante a Guerra Fria, o Conselho de Segurança nãoconseguiu chegar a acordo quanto a mecanismoscolectivos de imposição da paz, nomeadamente aactivação do artigo 43.º da Carta, que prevê o uso daforça contra os estados agressores, bem como aconstituição de um corpo de forças armadas ao serviçodas Nações Unidas. Para colmatar essa falha, a ONUdesenvolveu um instrumento menor. O peacekeeping foi,na altura, um expediente de um Conselho de Segurançadividido, ao qual faltava o consenso para a acção colectiva,mas que se contentava em usar um instrumento menoscomprometedor que não interferia com os interesses dassuperpotências.

O peacekeeping foi uma obra-prima conceptual numcampo totalmente novo: o emprego de forças militares

em operações não-violentas para controlar conflitos. Opeacekeeping consiste no uso das forças militares porparte da ONU para de-escalar ou pacificar situações deconflito internacional. São forças desprovidas, no seuexercício, do uso normal da força militar e da prerrogativade aplicação da violência. O peacekeeping é umaactividade neutral de militares que não podem usar a força,não lutam contra ninguém, nem pretendem alterar oequilíbrio de forças criado pelos beligerantes. A verdadeiraautoridade de um destacamento de peacekeeping residenão na sua capacidade de usar a força, mas precisamenteno facto de não usar a força e, dessa forma, permaneceracima do conflito e preservar a sua posição deimparcialidade.

A evolução das operações de paz, que nos últimosvinte anos cresceram em número e complexidade, impõe,de facto, ao Departamento de Peacekeeping das NaçõesUnidas, que as superintende, e ao Conselho de Segurançarigor na adopção de mandatos. Para que sejam eficazes,têm que ser adequados aos fins prosseguidos e ajustadosao carácter multidimensional que actualmente caracterizaessas operações. Os países membros das NaçõesUnidas tomaram consciência de que qualquer operaçãode paz, em vez de cumprir a sua missão, corre o risco decontribuir para o agravamento da instabilidade da região

... a gravíssima crisedo Líbano, provocadapelo conflito entre Israele o Hezbollah, só conheceutréguas quandoo Conselho de Segurançadas Nações Unidasaprovou a criação urgente deuma nova operação de paz

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Maria do Céu PintoProfessora na Universidade

do Minhoe Auditora CDN 2000

Auto ra

ou do país em causa, se não dispuser da orientação edos meios necessários para o desempenho das suasfunções. A inacção das forças internacionais num localde conflito pode, inclusivamente, chegar ao ponto defavorecer, mesmo que involuntariamente, uma das partesdo diferendo em causa, contribuindo assim para odesprestígio do sistema das Nações Unidas.

É também essencial, por outro lado, que o mandato daforça internacional seja adaptável à medida em que ascircunstâncias no terreno forem evoluindo – para melhorou para pior – moldando-se às situações enfrentadas. Tudoisto, como é evidente, sob o olhar atento do Conselho deSegurança, mas sem se cair na tentação de fazer umagestão minuciosa a partir de Nova Iorque. Nunca se deveexcluir a imprevisibilidade do que se passa no terreno,podendo a rigidez de um mandato colocar as forçasinternacionais num “colete-de-forças” que as torne emgrande parte inoperacionais, mesmo dispondo dos meiosnecessários.

A experiência no terreno moderou a fase da euforia quecaracterizou o período pós-Guerra Fria, quando seconstituíram operações de grande envergadura, sem queestivessem garantidos todos os requisitos prévios. Essafalta de ponderação acabou por resultar em erros trágicos,como os ocorridos na Somália, Bósnia ou Ruanda. Averdade é que existe hoje uma percepção muito mais nítidadas limitações das Nações Unidas. Embora com atraso,a lição foi apreendida, havendo agora um maior realismosobre como enfrentar e dar resposta a estas situações decrise.

Para além das acções puramente de peacekeeping, decariz essencialmente militar, são fundamentais os esforçoscomplementares de apoio às estruturas de ajuda àconsolidação da paz em períodos de pós-conflito. Este con-ceito mais abrangente de peacebuilding tem exactamentecomo objectivo evitar o reaparecimento de conflitos armados,mediante o apoio à construção e consolidação de sectores

considerados cruciais para aestabilização de sociedadesafectadas por conflitos. Procura-se, assim, identificar e ajudar aresolver causas profundas des-ses conflitos, promovendo,nomeadamente, a desmobi-lização e o desarmamento daspartes beligerantes, a reinte-gração social de ex-comba-tentes, a transformação demovimentos armados em par-tidos políticos, a reforma dosistema judiciário, a reforma dasinstituições políticas e da leieleitoral, a promoção do respeitopelos Direitos Humanos e arepatriação de refugiados.

Efectivamente, o peaceke-eping não pode ser um fim emsi mesmo — permite apenasganhar tempo e criar um espaçode pausa nos conflitos. Algunsautores têm posto a tónica naincapacidade das NU em

resolver de forma definitiva os conflitos, embora a suaintervenção sirva seguramente para evitar maior perda devidas humanas. O peacekeeping deve ser parte de umprocesso mais abrangente para impedir o reacender doconflito, promover a sua resolução (peacemaking), areconstrução e o desenvolvimento dos países devastadospela guerra (peace-building). Deve, portanto, havercontinuação de esforços durante e após as actividades depeacekeeping, o que exigirá das NU maior clarezaconceptual quanto às tarefas do peacekeeping e, numavertente mais prática, mais e melhores recursos.

Portugal esteve na primeira linha dos que preconizarama necessidade da ONU se dotar de estruturasespecificamente vocacionadas para gerir situações de pós-conflito. Foi, aliás, o governo português que propôsformalmente na Assembleia Geral de 2002 a iniciativa quese veio a traduzir na criação da Peacebuilding Commission.Dela se espera uma abordagem mais coerente, oportunae sustentável dos problemas enfrentados pelos paísesemergentes de situações de crise. A participação dePortugal neste processo tem sido criadora e empenhada.Portugal tem também figurado na vanguarda doscontribuintes para as operações de paz. Nelas, os militaresportugueses vêm assegurando funções de grandeimportância – incluindo cargos de chefia – e fazendo adiferença em algumas missões, particularmente nos casosevidentes de Angola e de Timor-Leste.

Fotos © Lusa

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Entre as materializações de um conceito dedefesa e cidadania abrangente, encontram-seas instituições que servem um país, nas quais

os cidadãos revêem os valores próprios de uma culturanacional. A Instituição Militar é uma delas, na sua missãoprioritária de defesa, coexistindo com outras, nomea-damente as que concernem à Saúde e à Educação, parareferir duas das vertentes em que as Forças Armadas vêminvestindo um potencial humano e de saberes. A tradição,o acervo de conhecimentos e a sua transmissão assegurama continuidade e a coesão das próprias Forças Armadas,envolvidas, de diversas maneiras, na formação de homense de cidadãos.

Os estabelecimentos militares de ensino detêm um papelessencial nessa formação, sustentada nos valores própriosda Instituição Militar. Vêm estas considerações a propósito

da comemoração do 204.º aniversário do Colégio Militar,que ocorreu em 3 e 4 de Março. A existência bisseculardeste estabelecimento militar de ensino é, de si, significativada sua importância, sendo a sua actividade contínua e,reconhecida dentro e fora de fronteiras, um indicador daexcelência do ensino e da formação ali ministrados.

Recua ao tempo das campanhas napoleónicas e àreorganização do Exército, que então teve lugar, a criaçãodo designado «Colégio de Educação do Regimento deArtilharia da Corte», instalado no Quartel da Feitoria, noForte de S. Julião da Barra, onde estava aquartelado oRegimento de Artilharia da Corte. Este local reunia todasas condições para a instalação do colégio, aliadas a umatradição de ensino prestigiado, nomeadamente pelapresença ali de uma aula regimental. O Regimento deArtilharia da Corte formava os artilheiros do reino, que

Foto: Homem Cardoso, in Património do Exército

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combatiam nas várias partes do Império, ao serviço daCoroa e da Armada. Por força das vicissitudes, o Regimentoalbergava já filhos de militares, entre os quais alguns órfãosde guerra, que viriam a constituir o primeiro contingente dealunos, aquando da criação do colégio, em 1802.

A proposta para a criação de um estabelecimento deensino naquele local partiu originalmente do Conselho Militarreunido em 1801, tendo sido apresentada, pelo generalForbes (inspector-geral da Infantaria), destinando-se à

educação de jovens, tendo em vista a sólida formação daclasse de oficiais que constituiria o futuro comando doExército.

Segundo relata o Coronel Costa Matos, auditor do CDNe autor de um estudo aprofundado, em três volumes, sobreo Colégio Militar, o General Forbes apresentou, em reuniãode Conselho, uma proposta designada “Primeira Memóriasobre a Organização do Exército”, na qual discorria sobre anecessidade de formar oficiais, exigindo-se-lhes não apenas“conhecimentos úteis à sua profissão” mas igualmente um“carácter de honra, probidade, desinteresse, religião, amorde glória (...)”. A proposta inicial viria a ser ampliada pelomarquês de Viomésnil, “general de cavalaria, encarregadoda governação das tropas e das armas” (id), em sede deConselho Militar. Nesse documento, tendo em vista o mesmopropósito de reorganização do Exército, determinava que“os postos de oficial passassem a ser todos preenchidospor elementos que, como cadetes, tivessem recebidoconhecimentos adequados; que, para facilitar a aquisiçãodos conhecimentos preparatórios exigidos, fosseestabelecido um Colégio Militar, comum a todos os quepretendessem servir no Exército, no qual se entraria com aidade de 10 anos; que neste Colégio, sustentado à custado Estado, fosse ministrada aos alunos a educaçãoconveniente, entrando estes de seguida nos corpos dasdiferentes armas”.

A criação do Colégio Militar prende-se assim, nos seusprimórdios, com um imperativo de defesa nacional e tambémcom a necessidade de ministrar aos futuros quadros doExército uma sólida formação humana e científica. A criaçãoefectiva do Colégio deveu-se sobretudo à acção do MarechalTeixeira Rebelo (então coronel), militar culto, possuidor decoragem e de um elevado espírito de missão, o qual assumiuo comando do regimento, em Fevereiro de 1802, tendotomado a seu cargo a nobre missão de fundar o Colégio ede levar por diante o seu projecto educativo, contra todas asadversidades, nomeadamente as que advieram das invasõesnapoleónicas e das guerras que se lhes seguiram. Adepauperação dos cofres do Estado e a necessáriacontenção de despesas determinava a criação de um colégionos moldes em que inicialmente foi estabelecido, no interiorde uma unidade militar, com parcos recursos financeiros,dispondo, não obstante, de pessoal militar qualificado paratransmitir aos alunos os conhecimentos técnicos ecientíficos, num regime de internato. O prestígio do entãoCoronel Teixeira Rebelo e a sua experiência e saber porcerto vieram somar-se às condições preparatóriasexistentes, tendo sido recrutados, no próprio regimento, osprimeiros vinte alunos, bem como os professores, voluntários,entre “oficiais, sargentos e praças que tivessem frequentadoa universidade de Coimbra ou mesmo as aulas regimentaisque o Conde de Lippe estabelecera em Portugal cerca dequarenta anos antes” (id.).

Este pequeno contingente colegial iniciava, deste modo,uma longa e exigente marcha nos meandros do ensinomilitar, cujo mérito viria a ser reconhecido a breve trecho.Logo em 1809, aquando da organização das tropas aenfrentarem a invasão de Massena, o General Beresfordprocedeu à promoção de ex-alunos do Colégio, que nessadura prova evidenciaram as suas qualidades, pondo aoserviço da Pátria o saber e experiência adquiridos edemonstrando uma conduta notável em combate.

A criação do Colégio Militarprende-se assim,

nos seus primórdios,com um imperativo de defesa

nacional e também coma necessidade de ministrar

aos futuros quadrosdo Exército uma sólida

formação humana e científica

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A reputação do colégio foi aumentando conside-ravelmente, tanto a nível militar como civil. Em 1814, porportaria de 7 de Janeiro, é oficializado o Colégio da Feitoria,retomando a designação de «Real Colégio Militar» e indoinstalar-se na Luz, onde se encontra actualmente, numedifício que fora Hospital de Nossa Senhora dos Prazeres.Por essa altura contava já com cerca de 100 alunos. Aacção pedagógica do fundador do Colégio Militar foideterminante no firmar das bases deste estabelecimentomilitar de ensino, valorizando-se desde o início a formaçãointegral dos alunos, como cidadãos e, em muitos casos,como militares. O currículo de estudos abrangia áreasdiversificadas, tendentes a valorizar a aptidão física eintelectual dos alunos, aliando ao saber literário e científicouma sólida formação moral, propiciadora do despertar devalores de civilidade.

Os ensinamentos e valores hauridos no Colégiomarcaram e continuam a marcar gerações de jovens aliformados, mantendo-se, no essencial, os ideais quepresidiram à sua fundação e sedimentando-se os conceitosque animam o espírito dos que lá são formados. A lealdade,a honra, o amor à Pátria e o espírito de missão são algunsdos valores invariantes na cultura colegial, ao fim de maisde dois séculos. A galeria de antigos alunos ilustres − entreos quais cinco Presidentes da República − constitui umareferência clara do nível do ensino e do patamar de excelênciaatingido pelo Colégio.

As comemorações dos seus 204 anos correspondem,por isso, ao retomar de um vínculo de memória que unediversas gerações, estabelecendo simultaneamente uma

Tenente Ana Rita CarvalhoRedactora do Jornal do Exército

Mestranda em Literatura PortuguesaModerna e Contemporânea

Auto ra

Os ensinamentos e valoreshauridos no Colégio marcarame continuam a marcargerações de jovensali formados (...) A lealdade,a honra, o amor à Pátriae o espírito de missão sãoalguns dos valores invariantesna cultura colegial, ao fimde mais de dois séculos

ponte cultural com o futuro, ao instituir-se o Colégio Militar,enquanto escola de cidadãos portugueses, como umimportante órgão de defesa e de cidadania.

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Acontecimentos&Actualidades

Conforme oportunamente noticiado, decorreu nodia 20, do passado mês de Janeiro, a visita da

AACDN ao Museu Nacional do Azulejo, instalado no antigoconvento da Madre de Deus.

Os associados, como já vai sendo hábito, responderamà chamada e, à hora marcada, cerca de 40 lá estávamosàs portas do museu onde eramos aguardados pela Drª Carla,que durante todo o percurso nos acompanhou e não regateouesforços para partilhar connosco o seu profundoconhecimento sobre a história do convento da Madre deDeus e azulejaria.

Após algumas informações de carácter genérico, ondeficamos a saber que o convento da Madre de Deus foifundado em 1509 pela Rainha D. Leonor, viúva de D. JoãoII e irmã de D. Manuel I, fizemos uma visita à magníficaIgreja mandada construir em 1550 por D. João III e suamulher D. Catarina de Áustria e que, em consequência dediversas obras de restauro a que sequentemente foisubmetida, nos deslumbrou com os seus mármorespolícromos, as suas madeiras exóticas, as suas pinturas,os seus painéis de azulejos e a riqueza da sua talhadourada.

Passamos depois ao museu propriamente dito cominformação detalhada quanto aos processos de fabrico doazulejo, sua evolução e influências estrangeiras, bem comoquanto à importância da azulejaria em Portugal, tanto no

domínio do revestimento interior e exterior deedifícios, como ao nível da ornamentação.

A extensa colecção de azulejos que foipossível admirar documenta bem a importanteprodução de azulejos em Portugal entre o séculoXV e a actualidade.

Tivemos oportunidade de contemplar váriaspeças de referência, das quais, a títulomeramente exemplificativo, destacamos ospainéis de Nossa Senhora da Vida, a Fuga parao Egipto ou a ingénua História do Chapeleiro.

Cumpre salientar também o importantenúcleo de azulejaria hispano-mourisca utilizadaem Portugal em finais do século XVI e o núcleode azulejos Arte Nova, de origem belga, alemãe inglesa do princípio do século XX.

Podemos apreciar também a rara beleza doCoro Alto, lugar de onde as Freiras,Franciscanas Descalças, através de uma teiade madeira, sem serem vistas, viam a Igreja eassistiam aos actos de culto.

Contemplamos depois uma das obras maisesperadas nesta visita: Panorama de Lisboa.

Importante peça da azulejaria portuguesa atribuída aGabriel del Barco, a grande vista da cidade de Lisboa datade 1700, é um importante documento iconográficofundamental para o conhecimento da cidade antes doterramoto que a viria a destruir cinquenta e cinco anos maistarde.

E ali nos detivemos a analisá-lo com pormenor. E se éverdade que lhe faltam preocupações de rigor narepresentação, marcada, aliás, pela ausência de escalarelativa e pela inexactidão de representação dos edifíciospor falta de perspectiva, nem por isso deixa de ser umapeça de excepção nos seus 23 metros de comprimento,representando cerca de 14 quilómetros de costa. Nelasobressai a riqueza do quotidiano e a apresentaçãoescalonada de Lisboa, confirmando, deste modo, a formacomo, no reinado de D. João V, foi descrita por um viajanteestrangeiro: “erguendo-se como um soberbo anfiteatro, pelasua elevação, pela extensão... simetria natural, oferece umdos mais belos panoramas do mundo”.

Mas, tal como constava do programa, para completar avisita faltava-nos ainda admirar uma outra magnífica obra dearte.

Na antiga Casa do Presépio, na Capela de Santo Antó-nio, estava exposto o Presépio, de meados do século XVIII,cuja autoria foi atribuída a Dionísio e António Ferreira.

Sábados Culturais da AACDN

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Boletim Informativo - AACDN I 25

Quotas em 2007

Jantar-Debate

No passado dia 31 de Janeiro, teve lugar mais umjantar-debate promovido pela AACDN, desta vez

na Messe da Força Aérea Portuguesa, em Monsanto, oqual contou com a presença de cerca de 40 participantes.

O tema escolhido foi As relações Espanha – Portugalno actual contexto da Uniaão Europeia e o Embaixadorde Espanha em Portugal, Dom Enrique Panes Calpe,prontamente aceitou o convite para partilhar connosco muitodo seu saber e da sua experiência, na sua já longa ediversificada carreira diplomática.

Foi com prazer e interesse que escutamos o orador

Desmontado em finais do século XIX, foi agora objectode estudo e restauro e ali estava em toda a sua magnificên-cia, representando em barro estofado, policromado e dou-rado quarenta e duas figuras num magnífico conjuntoescultórico.

Em jeito de conclusão, poder-se-ia dizer que, nãoobstante a manhã se ter apresentado cinzenta e fria, valeubem a pena, pois que, a propósito do azulejo, desde aazulejaria arcaica da segunda metade do século XV até àprodução azulejar contemporânea, percorremos, embora empasso apressado, seis séculos da nossa História.

José Monteiro

Por proposta da Direcção, foi deliberado emAssembleia Geral ordinária manter o valor da quota

anual nos mesmos 60,00 Euros, valor que vem já de Janeirode 2005.

Para os associados que ainda não tiveram oportunidadede o fazer, solicita-se o pagamento das quotizações,actual e em falta, utilizando um dos seguintes meios:

- Por débito na conta bancária do sócio, através dopreenchimento e remessa à Sede da AACDN (Praça doPríncipe Real, nº 23 R/C Dtº, 1250-184 Lisboa) do impressode “autorização de débito em conta”, enviada com o Boletim14/2004;

- Por transferência ou depósito na conta bancária daAACDN, na Caixa Geral de Depósitos (NIB: 0035 06670000 0479 0307 7), que poderá ser efectuado em qualquerCaixa Multibanco, num balcão da Caixa Geral deDepósitos, ou através do Internet Banking;

- Por transferência directa na CGD para a conta 0667000479 030;

- Por cheque remetido à Sede.Em qualquer dos casos, é fundamental indicar

sempre o número de sócio, de modo a permitir aosServiços da Associação identificar a proveniência dosvalores recebidos.

Viagem à China Milenar

Com partida de Lisboa a 21 de Julho, terá lugar, esteano, uma viagem à China milenar, sendo o regresso

a 4 de Agosto.A República Popular da China é o terceiro maior país do

mundo em área e o mais populoso do planeta, representandoquase 25% da população mundial e ocupando uma parteconsiderável da Ásia oriental.

Mundo de contrastes e índices de desenvolvimentoimparáveis, onde a História colide com a modernidade, oPaís de um Estado, dois sistemas oferece actualmente umaabertura ao mundo que urge aproveitar. Shangai e Pequim, orio Yangtzé com os seus rápidos e o Desfiladeiro das três

que, após a sua palestra, em português, gentilmente sedisponibilizou para responder às questões quepretendêssemos formular.

A importância do tema suscitou natural curiosidade dospresentes, solicitando, por isso, esclarecimentoscomplementares, a que o Senhor Embaixador acedeu.

O adiantado da hora obrigou ao encerramento dasessão, mas importa salientar o facto de muitosassociados terem continuado em animada conversa sobretemas diversos, o que traduz, aliás, outra riqueza destesnossos eventos.

Gargantas, os Guerreiros de Terracota de Xian, a CidadeProibida em Pequim e a Grande Muralha são locais a visitar.

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26 I AACDN - Boletim Informativo

Muitos continuama ser os Auditores

dos Cursos de DefesaNacional que,

ao longo de mais de trêsdécadas,

se notabilizaramnas mais diversas

áreas: nas Artesou nas Letras,

nas Ciências ouna Educação, na Política

ou na Guerra.Porque a sua acção

é digna de mérito,vale a pena ficara conhecê-los...

indiscriminadamente...

UmDeCadaVezManuel Gameiro nasceu em Pombal no dia 5 de

Junho de 1935, é casado e tem três filhas. Licenciadoem Ciências Filosóficas pela Universidade de Salamancae em Economia e Sociologia pela Universidade Nova deLisboa, trabalhou sempre na área das ciênciasadministrativas: management, organização do trabalho,produtividade, análise e qualificação de funções, análisede sistemas, informática de gestão, comunicação nasorganizações.

Foi oficial miliciciano da Força Aérea Portuguesa, de1960 a 1966. Foi professor e director de establecimentode ensino liceal. Foi docente do Ensino Superior nasuniversidades de Macau e Évora e, em Lisboa, no InstitutoSuperior de Comunicação Empresarial (ISCEM).

Como funcionário público, foi Director de Serviços,Subdirector-Geral e Director-Geral na Direcção-Geral deOrganização Administrativa da Secretaria de Estado daAdministração Pública; no Instituto de Informática doMinistério das Finanças foi Director de Departamento eMembro do Conselho de Direcção; foi Director no Serviçode Administração e Função Pública de Macau; foi Director-Geral na Direcção-Geral de Pessoal do Ministério daDefesa Nacional; e foi Secretário-Geral do Ministério daEducação, desde Dezembro de 2002 até 2005, ano dasua aposentação.

Em missões especiais, foi representante de Portugal:na OCDE-Comité de Politicas de Informação Informáticae Comunicações; no International Council for InformationTechnology in Government Administration; na UNESCO-Conferência Mundial sobre Política de Informática; naAssociation for Development of Training Instituts of Asiaand Pacific; e na Eastern Regional Organization for PublicAdministration; bolseiro do Conselho da Europa, daOCDE e da Embaixada de França; vice-presidente daComissão Interministerial de Informática; director da revistaAdministração, do Governo de Macau; nos PALOP, fezparte de diversas missões − Cabo Verde, Guiné-Bissau,Angola, Moçambique.

No biénio de 1997-1998, foi Presidente da Associaçãode Auditores dos Cursos de Defesa Nacional.

Page 27: Boletim Informativo - AACDN 1Boletim Informativo - AACDN I 3 O início de um novo ano é sempre motivo para balanço sobre a actividade desenvolvida no período que terminou e, simultaneamente,

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