Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 998-STF Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL LIBERDADE DE EXPRESSÃO ▪ Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo. LIBERDADE PROFISSIONAL ▪ É válida a norma da CVM que impõe a rotatividade de auditores independentes. DIREITOS SOCIAIS ▪ Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os respectivos critérios de admissão. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ▪ É possível que uma emenda constitucional seja julgada formalmente inconstitucional se ficar demonstrado que ela foi aprovada com votos “comprados” dos parlamentares e que esse número foi suficiente para comprometer o resultado da votação. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS ▪ É inconstitucional norma de iniciativa parlamentar que preveja a criação de órgão público e organização administrativa. DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS ▪ Lei estadual não pode prever paridade e integralidade para os policiais civis nem conceder a eles adicional de final de carreira para que recebam aposentadoria em classe superior ao que estavam na ativa. ▪ A vedação da SV 37 se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também para as parcelas de caráter indenizatório. ▪ Judiciário não pode obrigar que o chefe do Poder Executivo encaminhe o projeto de lei para revisão geral anual dos servidores. DIREITO CONSTITUCIONAL LIBERDADE DE EXPRESSÃO Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 998).
Informativo comentado: Informativo 998-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL
LIBERDADE DE EXPRESSÃO Viola a liberdade de expressão a decisão de
retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos porque
seu
conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo. LIBERDADE
PROFISSIONAL É válida a norma da CVM que impõe a rotatividade de
auditores independentes. DIREITOS SOCIAIS Não é possível atrelar-se
ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os
respectivos critérios de admissão. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
É possível que uma emenda constitucional seja julgada formalmente
inconstitucional se ficar demonstrado que ela
foi aprovada com votos “comprados” dos parlamentares e que esse
número foi suficiente para comprometer o resultado da
votação.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É inconstitucional norma de iniciativa
parlamentar que preveja a criação de órgão público e
organização
administrativa.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS Lei estadual não pode prever paridade e
integralidade para os policiais civis nem conceder a eles adicional
de final
de carreira para que recebam aposentadoria em classe superior ao
que estavam na ativa. A vedação da SV 37 se aplica tanto para as
verbas remuneratórias como também para as parcelas de caráter
indenizatório. Judiciário não pode obrigar que o chefe do Poder
Executivo encaminhe o projeto de lei para revisão geral anual
dos
servidores.
DIREITO CONSTITUCIONAL
LIBERDADE DE EXPRESSÃO Viola a liberdade de expressão a decisão de
retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos
Fundos porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do
cristianismo
Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em
plataforma de “streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada
parcela da população, ainda que majoritária, não encontra
fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a
brasileira.
STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
3/11/2020 (Info 998).
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A situação concreta foi a seguinte: O grupo de comédia “Porta dos
Fundos” produziu, em 2019, um programa de humor satírico denominado
“Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de
Cristo”. No filme, lançado na plataforma de “streaming” Netflix,
são feitas diversas sátiras com as crenças e valores das religiões
cristãs e Jesus é retratado como gay. A Associação Centro Dom Bosco
de Fé e Cultura ajuizou ação civil pública contra a “Porta dos
Fundos” e a Netflix pedindo a não exibição do especial e a
condenação dos requeridos em danos morais coletivos. Em 08/01/2020,
um Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro deferiu
medida liminar para que a Netflix suspendesse a exibição do filme.
A Netflix ingressou com reclamação, no STF, contra esta decisão
alegando que a suspensão da exibição do filme é incompatível com o
entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADPF 130, na qual o
Supremo afirmou não ser possível qualquer tipo de censura prévia e
de restrição à liberdade de expressão não prevista na Constituição.
Em 09/01/2020, o Presidente do STF deferiu a liminar para suspender
a decisão do Desembargador e, com isso, permitiu a exibição do
filme. Para o Min. Dias Toffoli, o STF, na ADPF 130, assegurou a
plenitude da liberdade de expressão como decorrência da dignidade
da pessoa humana e como meio de reafirmação ou potencialização de
outras liberdades constitucionais. A questão foi apreciada pela 2ª
Turma do STF? O que foi decidido? O filme pode continuar na
Netflix? SIM.
Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em
plataforma de “streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada
parcela da população, ainda que majoritária, não encontra
fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a
brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 3/11/2020 (Info 998).
Liberdade de expressão A obra não incita a violência contra grupos
religiosos. Trata-se de mera crítica, realizada por meio de sátira
a elementos do Cristianismo. Por mais questionável que possa vir a
ser a qualidade da produção artística, não se identifica, em seu
conteúdo, fundamento que justifique qualquer tipo de ingerência
estatal. A liberdade de expressão artística está em posição
preferencial em relação às demais liberdades. Eventual colisão
entre ela e outros direitos constitucionalmente garantidos deve
levar em conta o fato de que o conceito de arte tem sentido amplo,
incluindo-se aí obras provocativas, que pretendem atingir fins
políticos ou religiosos também por meio de sátiras. Somente seria
possível proibir a exibição do conteúdo se fosse caracterizado ato
ilícito de incitação à violência ou violador de direitos humanos, o
que não se verificou no caso. Há diversas formas de indicar
descontentamento com determinada opinião e de manifestar-se contra
ideais com os quais não se concorda — o que, em verdade, nada mais
é do que a dinâmica do chamado “mercado livre de ideias”. A
censura, com a definição de qual conteúdo pode ou não ser
divulgado, deve- se dar em situações excepcionais, para que seja
evitada, inclusive, a ocorrência de verdadeira imposição de
determinada visão de mundo. Acesso é voluntário e controlado pelo
usuário Por se tratar de conteúdo veiculado em plataforma de
transmissão particular, na qual o acesso é voluntário e controlado
pelo próprio usuário, é possível optar-se por não assistir ao
conteúdo disponibilizado, bem como é viável decidir-se pelo
cancelamento da assinatura contratada.
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Classificação indicativa Vale ressaltar, ainda, que a Netflix
cumpre as exigências das normas de classificação indicativa e
apresenta, de forma clara ao seu público, aviso etário, de gênero e
demais informações que permitem a escolha individual da
programação, conforme o art. 76 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e as recomendações contidas na ADI 2404. Censura
A censura, com a definição de conteúdos que podem ser divulgados,
deve se dar em situações excepcionais, para evitar verdadeira
imposição de determinada visão de mundo. Retirar de circulação
material apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população,
ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade
democrática e pluralista como a brasileira. Atos estatais, de
qualquer de suas esferas de Poder, praticados sob a justificativa
da moral e dos bons costumes ou do politicamente correto, apenas
servem para inflamar o sentimento de dissenso, de ódio ou de
preconceito.
LIBERDADE PROFISSIONAL É válida a norma da CVM que impõe a
rotatividade de auditores independentes
São constitucionais as restrições impostas aos auditores
independentes pelo art. 31 da Instrução 308/99 da Comissão de
Valores Mobiliários (CVM).
STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
10/11/2020 (Info 998).
Instrução 308/99, da CVM A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é
uma autarquia federal que fiscaliza o mercado de ações, nos termos
da Lei nº 6.385/76. No exercício dessa sua atribuição, a autarquia
editou a Instrução 308/99, que dispõe sobre o registro e o
exercício da atividade de auditoria independente no âmbito do
mercado de valores mobiliários. Veja o que diz o art. 31:
Art. 31. O Auditor Independente - Pessoa Física e o Auditor
Independente - Pessoa Jurídica não podem prestar serviços para um
mesmo cliente, por prazo superior a cinco exercícios sociais
consecutivos, exigindo-se um intervalo mínimo de três exercícios
sociais para a sua recontratação.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) ajuizou ADI contra
alegando que esse o art. 31 atenta contra os princípios
constitucionais da livre iniciativa, da livre concorrência e da
liberdade de exercício de qualquer profissão ou atividade
econômica. O STF concordou com o pedido formulado na ação? Essa
previsão é inconstitucional? NÃO. O STF entendeu que:
São constitucionais as restrições impostas aos auditores
independentes pelo art. 31 da Instrução 308/99 da Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 998).
A rotatividade dos auditores independentes visa assegurar os
princípios constitucionais que regem a ordem econômica (art. 170) e
insere-se no âmbito de competência da CVM para regular e fiscalizar
o mercado de valores mobiliários.
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A CVM tem poder de polícia em relação às atividades dos auditores
independentes no mercado de valores mobiliários, competência
concedida pela Lei nº 6.385/76, que versa sobre o mercado de
valores mobiliários e cria a CVM. A rotatividade não inviabiliza o
exercício profissional, mas o regula, com base em decisão técnica
adequada à atividade econômica por ela regulamentada. A norma é
medida adequada para resguardar a idoneidade do auditor,
“resguardando a imparcialidade do trabalho de auditoria e
protegendo os interesses dos investidores, do mercado de capitais e
da ordem econômica”. Vale ressaltar, por fim, que o STF, ao julgar
caso análogo, considerou constitucionais restrições impostas aos
auditores independentes por outros dispositivos da Instrução 308.
Confira trechos da ementa desse outro julgado:
(...) 1. O cerne da controvérsia diz respeito aos limites do poder
regulamentar da CVM para editar, no âmbito do mercado de valores
mobiliários, normas que envolvem o exercício da atividade
profissional de auditor independente e das pessoas físicas e
jurídicas a eles vinculadas. 2. O art. 23, II, e parágrafo único, e
o art. 27, ambos da Instrução CVM 308/1999, vedam, ao auditor
independente e às pessoas físicas e jurídicas a ele ligadas, a
prestação de consultoria às mesmas empresas em que estejam
realizando auditoria. 3. A Comissão de Valores Mobiliários - CVM,
criada pela Lei 6.385/1976, tem natureza de entidade autárquica em
regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, e é legalmente
responsável pela supervisão, disciplina e fiscalização do mercado
brasileiro de valores mobiliários. 4. A Lei 6.385/1976 conferiu à
CVM competência para o exercício do poder de polícia, no âmbito do
mercado de valores mobiliários, inclusive no que tange às
atividades de auditoria e aos serviços de consultoria. Essa
competência específica da CVM de regular os serviços de auditoria e
consultoria, que se extrai da própria Lei 6.385/1976, inclui
necessariamente a de definir, por meio de critérios técnicos e de
segurança, regras que preservem a objetividade e a independência da
atuação do auditor no âmbito do mercado de valores mobiliários. 5.
As regras da IN 308/1999, antes de configurar qualquer afronta ao
direito de livre exercício da profissão ou da livre iniciativa,
revelam medidas preventivas, adotadas no estrito cumprimento da
função normativa e reguladora da CVM, em benefício da sociedade,
tudo em observância aos princípios que regem a ordem econômica
previstos no art. 170 da CF. 6. Recurso Extraordinário a que se dá
provimento, para denegar a segurança pleiteada. Tema 969, fixada a
seguinte tese de repercussão geral: “Os artigos 23 e 27 da
Instrução 308/1999, da Comissão de Valores Mobiliários, ao
estabelecerem restrições razoáveis, proporcionais e adequadas ao
exercício da atividade de auditoria independente, prestada às
companhias sujeitas à sua fiscalização, são constitucionais, à luz
dos arts. 5º, incs. II e XIII, 84, incs. II e VI, 87, parágrafo
único e inc. II, 88, 170 e 174 da Constituição Federal de 1988 ".
STF. Plenário. RE 902261, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão:
Alexandre de Moraes, julgado em 22/09/2020 (Repercussão Geral –
Tema 969).
DIREITOS SOCIAIS Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o
valor alusivo
a benefício social e os respectivos critérios de admissão
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor
seria o do salário mínimo vigente. Tal previsão, em princípio,
viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja
utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que
não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que
seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e
dizer que o dispositivo previu que o valor do benefício seria
igual
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ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$
545). Após isso, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos
seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar automaticamente
os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que
ele não pode servir como indexador. Em suma, o STF determinou que a
referência ao salário mínimo contida na lei estadual seja
considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da
lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice
econômico diverso. Com isso, o benefício continua existindo e será
necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio
de índices econômicos.
STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/11/2020 (Info 998).
Benefício assistencial fixado em salário mínimo Em 2011, o Estado
do Amapá editou uma Lei prevendo o pagamento de um benefício
assistencial no valor de metade do salário mínimo às famílias que
se encontrassem em situação de pobreza e extrema pobreza, consoante
critérios de enquadramento nela definidos. Foi proposta ADI contra
essa previsão afirmando que a lei violou a parte final do art. 7º,
IV, da CF/88, já que criou uma vinculação entre o valor do
benefício e o salário-mínimo. Veja o que diz o dispositivo
constitucional:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) IV -
salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de
atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com
moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para
qualquer fim;
Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como indexador A
CF/88 realmente proíbe que o salário mínimo seja utilizado como
referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a
remuneração do trabalho. Em outras palavras, é proibido que o preço
de bens, serviços ou benefícios sejam fixados com base no salário
mínimo (ex: 1 salário mínimo, 2 salários mínimos, 1/2 do salário
mínimo, 1/3 do salário mínimo etc.). Essa proibição tem como
objetivo evitar que o salário mínimo se torne um “indexador
econômico” (um índice de reajuste). Se a Constituição permitisse
que o salário mínimo pudesse servir como indexador econômico, o
valor e o preço de vários benefícios, produtos e serviços seriam
fixados em salário mínimo. Ex: se não houvesse a vedação, o locador
poderia estabelecer no contrato que o valor do aluguel seria de 2
salários mínimos, de forma que todas as vezes que ele aumentasse, o
valor pago também seria majorado. Ex2: o colégio poderia fixar o
valor da mensalidade em metade do salário mínimo; Ex3: a academia
poderia estabelecer o valor da mensalidade em 1/3 do salário mínimo
etc. Desse modo, se isso fosse permitido, haveria uma pressão muito
grande no momento de aumentar o salário mínimo no país,
considerando que ele iria influenciar direta e imediatamente no
preço de inúmeros bens. Além disso, todas as vezes que o salário
mínimo subisse, o preço desses bens e serviços iriam também
aumentar automaticamente, gerando inflação e fazendo com que não
houvesse ganho real para o trabalhador, já que todas as outras
coisas também ficariam mais caras. O que o STF decidiu em relação à
Lei do AP? A Lei do Amapá, ao dizer que o benefício assistencial
teria o valor de 1/2 do salário mínimo, em tese, viola o art. 7º,
IV, da CF/88.
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Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a
benefício social e os respectivos critérios de admissão. STF.
Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/11/2020 (Info 998).
No entanto, o STF, a fim de evitar que fosse declarada a
inconstitucionalidade do dispositivo, conseguiu “salvá-lo”,
conferindo à lei uma interpretação conforme a Constituição. Em
outras palavras, o STF afirmou que, para que a lei do AP seja
compatível com o art. 7º, IV, da CF/88 devemos interpretá-la da
seguinte forma: na época em que foi instituído o benefício (em
2011), o valor do auxílio era igual a metade do salário mínimo
(metade de R$ 545). No entanto, mesmo o salário mínimo aumentando
nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo,
considerando que ele não pode servir como indexador. Em suma, o STF
determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei
estadual seja considerada como um valor certo que vigorava na data
da edição da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por
meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício continua
existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar
esse valor por meio de índices econômicos. Interpretação conforme a
Constituição O objetivo da interpretação conforme a Constituição é
o de “preservar a vontade legislativa quando for possível extrair
do dispositivo impugnado interpretação compatível com o Diploma
Maior, ainda que não seja a mais óbvia. Preservam-se, por meio da
técnica, o princípio da separação de poderes – conducente à
valorização da manifestação do legislador democrático – e a
efetividade da Constituição da República.” (Min. Marco Aurélio)
Alguns de vocês podem estar se perguntando: mas eu conheço um
benefício assistencial, chamado de LOAS (amparo assistencial), que
é pago aos deficientes e idosos miseráveis e que é no valor de um
salário
mínimo. Este benefício é previsto no art. 20 da Lei n. 8.742/93.
Essa Lei viola o art. 7º, IV, da CF/88? NÃO. Isso porque é a
própria CF/88, em seu art. 203, V, que determina que esse benefício
será pago no valor de um salário mínimo. Veja:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social,
e tem por objetivos: (...) V - a garantia de um salário mínimo de
benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Assim, não há problema se a própria CF/88 estabelecer vinculações a
salário mínimo. Quem não pode fazer isso é a lei sem respaldo
constitucional.
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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE É possível que uma emenda
constitucional seja julgada formalmente inconstitucional se
ficar
demonstrado que ela foi aprovada com votos “comprados” dos
parlamentares e que esse número foi suficiente para comprometer o
resultado da votação
Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade
formal no processo constituinte reformador quando eivada de vício a
manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo
constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a
moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a democracia
representativa.
Caso concreto: ADEPOL ajuizou ADI pedindo a declaração de
inconstitucionalidade formal da EC 41/2003 e da EC 47/2005 sob o
argumento de que elas foram aprovadas com votos “comprados” de
Deputados Federais condenados no esquema do “Mensalão” (AP
470).
O STF afirmou que, sob o aspecto formal, as emendas constitucionais
devem respeitar o devido processo legislativo, que inclui, entre
outros requisitos, a observância dos princípios da moralidade e da
probidade. Assim, é possível o reconhecimento de
inconstitucionalidade formal no processo de reforma constituinte
quando houver vício de manifestação de vontade do parlamentar, pela
prática de ilícitos. Porém, para tanto, é necessária a demonstração
inequívoca de que, sem os votos viciados pela ilicitude, o
resultado teria sido outro.
No caso, apenas sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP
470, por ficar comprovado que eles participaram do esquema de
compra e venda de votos e apoio político conhecido como Mensalão.
Portanto, o número comprovado de “votos comprados” não é suficiente
para comprometer as votações das ECs 41/2003 e 47/2005. Ainda que
retirados os votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum
estabelecido na Constituição Federal para aprovação de emendas
constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso
Nacional.
STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020 (Info 998).
“Mensalão” “Mensalão” foi um escândalo político segundo o qual,
durante o primeiro mandato do Presidente Lula, o Partido dos
Trabalhadores (PT) teria pago a vários Deputados Federais a quantia
mensal de R$ 30 mil para que votassem os projetos da Câmara dos
Deputados em favor do Governo Federal. Em outras palavras, teria
havido “compra de votos” ou “compra de apoio parlamentar”. O
esquema teria começado em 2002 e sido descoberto em 2005. O
Procurador-Geral da República ofereceu denúncia (AP 470) contra os
envolvidos e diversas pessoas foram condenadas. Em suma, durante os
anos de 2002 e 2005 alguns Deputados Federais foram “subornados”
para votarem medidas provisórias, projetos de lei e propostas de
emenda constitucional. Diante dessa constatação, indaga-se:
eventual lei ou emenda constitucional aprovada nesse período e que
teve, para a sua aprovação, o cômputo de votos “comprados”, estaria
maculada por vício formal a ensejar a sua inconstitucionalidade? Na
doutrina, o primeiro a tratar sobre o assunto foi Pedro Lenza.
Escreveu o autor:
“6.3.4. Vício de decoro parlamentar Como se sabe e foi publicado em
jornais, revistas etc., muito se falou em um esquema de compra de
votos, denominado “mensalão”, para votar de acordo com o governo ou
em certo sentido. (...) O grande questionamento que se faz,
contudo, é se, uma vez comprovada a existência de compra de votos,
haveria mácula no processo legislativo de formação das emendas
constitucionais a ensejar o reconhecimento da sua
inconstitucionalidade.
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Entendemos que sim, e, no caso, trata-se de vício de decoro
parlamentar, já que, nos termos do art. 55, § 1.º, “é incompatível
com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento
interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do
Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas”. Dito
isso, cabe lembrar que, no julgamento da AP 470 (conhecida como
“mensalão”), ficou demonstrado o esquema de corrupção para compra
de apoio político. (...)” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional
Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 195-196).
ADI A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil – ADEPOL,
invocando a argumentação acima exposta, ajuizou ADI no STF pedindo
a declaração de inconstitucionalidade formal de dispositivos da EC
41/2003 e da EC 47/2005. A autora alegou que as normas impugnadas
estão maculadas pelo:
“vício insanável de violação de decoro parlamentar (CF, art. 55, §
1º) (…) [porque] a PEC 40/03 que foi promulgada sob o n. 41/03
(Reforma da Previdência) somente foi aprovada em razão de um
conluio criminoso praticado por membros do Poder Executivo e do
Poder Legislativo, conforme ficou demonstrado de forma clara na
Ação Penal n. 470. (...) A inconstitucionalidade formal estaria
evidenciada “em razão da afronta ao princípio da moralidade (CF,
art. 37, caput, tendo em conta que o processo legislativo foi,
inequivocadamente, imoral e fraudado, como já ficou demonstrado nos
presentes autos (venda de votos). Maculada, destarte, ‘a essência
do voto e o conceito de representatividade popular (CF, art. 1º,
parágrafo único).”
Para o STF, em tese, é possível reconhecer a inconstitucionalidade
com base nesse argumento? Na teoria, sim.
Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade
formal no processo constituinte reformador quando eivada de vício a
manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo
constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a
moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a democracia
representativa. STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI
4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020 (Info
998).
Para que se tenha um “devido processo constituinte reformador”, é
necessário que se respeite não apenas as exigências expressas no
art. 60 da Constituição Federal, sendo indispensável também que se
observem os princípios que legitimam a atuação das casas
congressuais brasileiras. Inclui-se, no devido processo
legislativo, a observância dos princípios da moralidade e da
probidade, voltados a “impedir que os dispositivos constitucionais
sejam objeto de alteração através do exercício de um poder
constituinte derivado distanciado das fontes de legitimidade
situadas nos fóruns de uma esfera pública que não se reduz ao
Estado”. Nesse sentido, o vício de corrupção da vontade do
parlamentar e de seu compromisso com o interesse público subverte o
regime democrático e deliberativo adotado pela Constituição e
ofende o devido processo legislativo por contrariar o princípio da
representação democrática que deve, obrigatoriamente, nortear a
produção de normas jurídicas. Demonstrada a interferência ilícita
na fase de votação pela prevalência de interesses individuais do
parlamentar, admite-se o reconhecimento de inconstitucionalidade
formal de emenda constitucional ou norma infraconstitucional.
Como se adota a presunção de legitimidade, deve-se comprovar o
vício e sua influência na votação Entretanto, de acordo com o
princípio da presunção de inocência e da legitimidade dos atos
legislativos, há de se comprovar que a norma tida por
inconstitucional não teria sido aprovada, se não houvesse o
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grave vício a corromper o regime democrático pela “compra de
votos”. Sem a demonstração inequívoca de que sem os votos viciados
pela ilicitude o resultado do processo constituinte reformador ou
legislativo teria sido outro, com a não aprovação da proposta de
emenda constitucional ou com a rejeição do projeto de lei, não se
há declarar a inconstitucionalidade de emenda constitucional ou de
lei promulgada. Voltado ao caso concreto No caso concreto, o STF
entendeu que não ficou demonstrado que as Emendas Constitucionais
41/2003 e 47/2005 só foram aprovadas por conta do “esquema de
compra de votos”. O número alegado de votos comprados não foi
suficiente para comprometer o resultado das votações ocorridas na
aprovação das emendas constitucionais, razão pela qual não fazia
sentido declarar a inconstitucionalidade formal dos referidos atos
normativos. Sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP 470,
por ficar comprovado que eles participaram do esquema de compra e
venda de votos e apoio político conhecido como Mensalão. Portanto,
o número comprovado de “votos comprados” não é suficiente para
comprometer as votações das ECs 41/2003 e 47/2005. Ainda que
retirados os votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum
estabelecido na Constituição para aprovação de emendas
constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso
Nacional.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É inconstitucional norma de iniciativa
parlamentar que
preveja a criação de órgão público e organização
administrativa
É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa
parlamentar que prevê a criação de órgão público e organização
administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe
do
Executivo – arts. 25 e 61, § 1º, II, alíneas “b” e “e”, da
CF/88.
STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/11/2020 (Info 998).
A situação concreta foi a seguinte: Foi aprovada pela Assembleia
Legislativa do Amapá uma lei, de iniciativa parlamentar, que
instituiu o Programa Renda para Viver Melhor objetivando reduzir
desigualdades sociais e pobreza por meio da transferência de renda
mínima a cidadãos em situação de vulnerabilidade. Ocorre que essa
lei instituiu um novo órgão público no âmbito do Poder Executivo
estadual e, além disso, tratou sobre as atribuições de Secretarias.
ADI O Governador do Estado ajuizou ADI alegando que essa lei
possuía um vício de iniciativa considerando que não poderia ter
sido proposta por um Deputado já que trata sobre estruturação e
atribuições de órgãos da administração pública, matéria que é de
iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo, nos termos do
art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88. Argumento contrário Em defesa do
ato normativo, a Assembleia Legislativa alegou que a lei que
disponha sobre a estrutura e atribuições de órgãos da administração
pública não é mais de iniciativa privativa do chefe do Poder
Executivo. Para a ALE isso mudou com a EC 32/2001, que alterou o
art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88. Confira a mudança:
Antes da EC 32/2001 Depois da EC 32/2001
Art. 61. (...) § 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da
República as leis que:
Art. 61. (...) § 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da
República as leis que:
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante |
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(...) II - disponham sobre: e) criação, estruturação e atribuições
dos Ministérios e órgãos da administração pública.
(...) II - disponham sobre: e) criação e extinção de Ministérios e
órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84,
VI;
Perceba, portanto, que a EC 32/2001 retirou da alínea “e”, a
expressão “estruturação e atribuições”. Isso significa que a tese
da ALE está correta? A EC 32/2001 acabou com a exigência de que o
projeto de lei que trate sobre estruturação e atribuições dos
órgãos seja de iniciativa do chefe do Poder Executivo? NÃO. O
objetivo da EC 32/2001, ao retirar a expressão “estruturação e
atribuições” não foi o de acabar com a iniciativa privativa do
chefe do Poder Executivo para tratar sobre esses assuntos. Ao
contrário. A EC 32/2001 alterou também o art. 84, VI, da CF/88
passando a dizer que o chefe do Poder Executivo pode dispor sobre
estruturação e atribuições dos órgãos públicos por meio de DECRETO,
desde que isso não ocasione aumento de despesa. Veja a redação do
art. 84, VI, da CF/88 dada pela EC 32/2001:
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...)
VI - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e
funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento
de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
Desse modo, a intenção do constituinte reformador ao retirar a
expressão “estruturação e atribuições” do art. 61, § 1º, II, “e”
foi a de permitir que o chefe do Poder Executivo tratasse sobre
esse tema sem a exigência de lei, tanto que ele acrescentou, na
alínea “e” a seguinte frase: “observado o disposto no art. 84, VI”.
Mas a lei pode continuar tratando sobre “estruturação e
atribuições” dos órgãos públicos? SIM. Não há nenhum problema.
Mesmo com a previsão do art. 84, VI, da CF/88, a lei pode continuar
versando sobre esses assuntos. O que a EC 32/2001 fez foi dar a
faculdade (possibilidade) de o chefe do Poder Executivo editar um
decreto, facilitando a tramitação do tema. Ocorre que, se a lei for
tratar sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos públicos, essa
lei deve ser de iniciativa do Poder Executivo. Em suma, para o STF,
a correta interpretação que deve ser dada ao art. 61, § 1º, II, “e”
c/c o art. 84, VI, da CF/88 é a de que a iniciativa para leis que
disponham sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos públicos
continua sendo do Poder Executivo, não tendo a EC 32/2001 tido a
intenção de retirar essa iniciativa privativa. Ao contrário, tais
matérias tanto são de interesse precípuo do Executivo que podem ser
tratadas por meio de Decreto. Logo, a referida Lei do Amapá é
inconstitucional por violar essa iniciativa privativa. Em
suma:
É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa
parlamentar que prevê a criação de órgão público e organização
administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe do
Executivo – arts. 25 e 61, § 1º, II, alíneas “b” e “e”, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/11/2020 (Info 998).
(Analista TRF1 2017 CEBRASPE) Lei estadual, de iniciativa
parlamentar, que crie atribuições para determinada secretaria do
estado, deverá ser declarada inconstitucional por vício de
iniciativa. (certo)
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DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS Lei estadual não pode prever paridade e
integralidade para os policiais civis
nem conceder a eles adicional de final de carreira para que recebam
aposentadoria em classe superior ao que estavam na ativa
É inconstitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria
com paridade e integralidade de proventos a policiais civis.
É inconstitucional norma que preveja a concessão de “adicional de
final de carreira” a policiais civis.
STF. Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
10/11/2020 (Info 998).
A situação concreta foi a seguinte: Em Rondônia, foi editada a Lei
Complementar estadual 672/2012 que estabeleceu regras próprias para
a concessão e manutenção dos benefícios previdenciários concedidos
aos policiais civis do Estado. Paridade Um dos pontos polêmicos
dessa lei foi que ela previu a paridade de vencimentos entre os
policiais civis ativos e inativos. Princípio da paridade era uma
garantia que os servidores públicos aposentados possuíam segundo a
qual todas as vezes que havia um aumento na remuneração percebida
pelos servidores da ativa, esse incremento também deveria ser
concedido aos aposentados. Ex.: João é servidor aposentado do
Ministério da Fazenda, tendo se aposentado com os proventos do
cargo de técnico A1. Quando fosse concedido algum reajuste na
remuneração do cargo técnico A1, esse aumento também deveria ser
estendido aos proventos de João. No dicionário paridade significa a
qualidade de ser igual. Assim, o princípio da paridade enunciava
que os proventos deveriam ser iguais à remuneração da ativa. Os
pensionistas, ou seja, os dependentes dos servidores públicos
falecidos beneficiados com pensão por morte também tinham direito à
paridade. Ex.: João, quando faleceu, era servidor aposentado do
Ministério da Fazenda ocupante do cargo de técnico A1. Sua esposa
passou a receber pensão por morte em valor igual à remuneração do
cargo de técnico A1. Se fosse concedido algum reajuste para o cargo
de técnico A1, esse aumento também deveria ser estendido à pensão
por morte. A regra da paridade estava prevista no art. 40, § 8º, da
CF/88, incluído pela EC 20/1998. O legislador estadual poderia ter
conferido essa paridade? NÃO. O princípio da paridade “foi
revogado, restando somente para os servidores com direito
adquirido, que já preenchiam os requisitos para a aposentadoria
antes da edição da EC nº 41 (art. 3º, EC nº 41), ficando também
resguardado o direito para aqueles que estão em gozo do benefício
(art. 7º, EC nº 41) e os que se enquadrarem nas regras de transição
do art. 6º da EC nº 41 e do art. 3º da EC nº 47.” (MARINELA,
Fernanda. Direito Administrativo. 7ª ed., Niterói: Impetus, 2013,
p. 774). Desse modo, se você ingressar no serviço público hoje, não
terá a garantia da paridade quando se aposentar, já que ela foi
extinta com a EC nº 41/2003. Da mesma forma, caso seja servidor
público e morra, seus dependentes poderão receber pensão por morte,
mas não terão direito à paridade. No lugar da paridade, existe hoje
o chamado “princípio da preservação do valor real”, previsto no
art. 40, § 8º, da CF/88, segundo o qual os proventos do aposentado
devem ser constantemente reajustados para que seja sempre garantido
o seu poder de compra.
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante |
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Art. 40 (...) § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme
critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41/2003)
Foi isso que decidiu o STF:
É inconstitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria
com paridade e integralidade de proventos a policiais civis. STF.
Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
10/11/2020 (Info 998).
A Constituição Federal garantia, até o advento da EC 41/2003, a
paridade entre servidores ativos e inativos, o que significava
exatamente a revisão dos proventos de aposentadoria, na mesma
proporção e na mesma data, sempre que se modificasse a remuneração
dos servidores em atividade, sendo também estendidos aos
aposentados e aos pensionistas quaisquer benefícios ou vantagens
posteriormente concedidos aos servidores em atividade. O § 8º do
art. 40 da CF/88, na redação que lhe conferiu a EC 41/2003,
substituiu a paridade pela determinação quanto ao reajustamento dos
benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor
real, conforme critérios estabelecidos em lei. De igual modo, a
integralidade, que se traduz na possibilidade de o servidor
aposentar-se ostentando os mesmos valores da última remuneração
percebida quando em exercício no cargo efetivo por ele titularizado
no momento da inativação, foi extinta pela mesma EC 41/2003.
Adicional de fim de carreira Outro ponto controverso foi o fato de
que a lei previu um adicional de final de carreira aos policiais
civis. Assim, a lei determinou que o policial civil, ao se
aposentar, faria jus a provento igual à remuneração ou subsídio
integral da classe imediatamente superior, ou remuneração normal
acrescida de 20% para o Policial Civil do Estado na última classe,
nos últimos cinco anos que antecederam a passagem para a
inatividade, considerando a data de seu ingresso na Categoria da
Polícia Civil. O STF considerou essa previsão
inconstitucional.
É inconstitucional norma que preveja a concessão de “adicional de
final de carreira” a policiais civis. STF. Plenário. ADI 5039/RO,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/11/2020 (Info 998).
O art. 40, § 2º, da CF//, na redação dada pela EC 41/2003, dispõe
que os proventos de aposentadoria e as pensões, quando de sua
concessão, “não poderão exceder a remuneração do respectivo
servidor, no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria ou que
serviu de referência para a concessão da pensão”. Assim, a
remuneração do cargo efetivo no qual se der a aposentadoria é o
limite para a fixação do valor dos proventos. É verdade que esse
benefício existe para os policiais militares. No entanto, policiais
civis e militares possuem regimes de previdência distintos e,
portanto, o fato de alguns deles conterem previsão quanto à
possibilidade de aposentadoria dos militares em classe
imediatamente superior à que ocupava, quando em atividade, não é
fundamento legal para a extensão dessa vantagem aos policiais
civis.
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante |
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SERVIDORES PÚBLICOS A vedação da SV 37 se aplica tanto para as
verbas remuneratórias
como também para as parcelas de caráter indenizatório
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar qualquer verba de servidores públicos de carreiras
distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter
remuneratório ou indenizatório.
A vedação da Súmula Vinculante 37 se aplica tanto para as verbas
remuneratórias como também para as parcelas de caráter
indenizatório. Logo, a SV 37 também proíbe que Poder Judiciário
equipare o auxílio-alimentação, ou qualquer outra verba desta
espécie, com fundamento na isonomia.
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem
função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob
fundamento de isonomia.
STF. Plenário. RE 710293, Rel. Luiz Fux, julgado em 16/09/2020
(Repercussão Geral – Tema 600) (Info 998 – clipping).
Auxílio-alimentação (vale alimentação) A União e alguns Estados e
Municípios possuem leis prevendo a concessão de auxílio-
alimentação (também chamado de "vale alimentação") a seus
servidores públicos. No âmbito do Poder Executivo federal, por
exemplo, esta verba encontra-se disciplinada pela Lei nº
8.460/92:
Art. 22. O Poder Executivo disporá sobre a concessão mensal do
auxílio-alimentação por dia trabalhado, aos servidores públicos
federais civis ativos da Administração Pública Federal direta,
autárquica e fundacional. § 1º A concessão do auxílio-alimentação
será feita em pecúnia e terá caráter indenizatório. (...) § 3º O
auxílio-alimentação não será: a) incorporado ao vencimento,
remuneração, provento ou pensão;
Imagine agora a seguinte situação hipotética: João, servidor do
INSS, recebe R$ 500,00 a título de auxílio-alimentação. Ele ajuizou
ação pedindo a revisão de seu auxílio-alimentação e sua equiparação
com o benefício concedido a servidores do Tribunal de Contas da
União (TCU). Em outras palavras, o autor alegou que os servidores
do TCU recebem R$ 1 mil de auxílio-alimentação e que ele, com
fundamento no princípio da isonomia, também deveria ter direito à
mesma quantia. O juiz negou o pedido afirmando que esse tema está
pacificado há muitos anos e que o Poder Judiciário não pode
conceder aumentar os vencimentos dos servidores públicos com base
no princípio da isonomia. Argumentou que existe, inclusive, uma
súmula vinculante sobre o tema:
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem
função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob
fundamento de isonomia.
João recorreu afirmando que o magistrado se equivocou. Isso poque a
SV 37 fala em “aumentar vencimentos”. Ocorre que o
auxílio-alimentação não pode ser considerado “vencimentos” porque
não tem natureza remuneratória. Trata-se, ao contrário, de verba de
caráter indenizatório. A tese do autor foi acolhida pelo STF? É
possível equiparar o auxílio-alimentação de servidores públicos
pertencentes a carreiras distintas com fundamento no princípio da
isonomia? NÃO.
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante |
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A remuneração dos servidores está adstrita ao princípio da reserva
legal, previsto no art. 37, X, da CF/88, que exige lei específica
para a fixação e alteração da remuneração dos servidores
públicos:
Art. 37 (...) X - a remuneração dos servidores públicos e o
subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados
ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa
em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data
e sem distinção de índices;
O princípio da separação dos poderes impõe competir ao legislador
concretizar o princípio da isonomia, vedado ao Judiciário atuar
como legislador positivo (SV 37). O auxílio-alimentação é verba de
caráter indenizatório, que não se incorpora à remuneração. A
despeito disso, também deve se submeter ao princípio da reserva
legal, assim como as demais verbas indenizatórias. O Poder
Legislativo, detentor da função de legislar, deve observar
diretrizes trazidas pela Constituição para a fixação de todos os
componentes do sistema remuneratório. A equiparação de quaisquer
espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do
serviço público encontra óbice no art. 37, XIII, da CF/88:
Art. 37 (...) XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de
quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de
pessoal do serviço público;
Além disso, a Administração Pública depende da existência de
recursos orçamentários para pagar seus servidores e tem a despesa
com pessoal limitada pela Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme
art. 169, da CF/88, além de necessitar de prévia dotação
orçamentária e autorização na lei de diretrizes orçamentárias.
Assim, a jurisprudência do STF tem entendido que, independentemente
da natureza, não cabe ao Judiciário equiparar verbas com fundamento
na isonomia. Em suma:
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar qualquer verba de servidores públicos de carreiras
distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter
remuneratório ou indenizatório. A vedação da Súmula Vinculante 37
se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também para as
parcelas de caráter indenizatório. Logo, a SV 37 também proíbe que
Poder Judiciário equipare o auxílio-alimentação, ou qualquer outra
verba desta espécie, com fundamento na isonomia. STF. Plenário. RE
710293, Rel. Luiz Fux, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral –
Tema 600) (Info 998 – clipping).
(Analista PGE/PE 2019 CEBRASPE) Por força do princípio da isonomia,
o Poder Judiciário poderá, por meio de decisão judicial devidamente
fundamentada, estender reajustes e aumentar vencimentos de
servidores públicos. (errado)
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Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante |
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SERVIDORES PÚBLICOS Judiciário não pode obrigar que o chefe do
Poder Executivo
encaminhe o projeto de lei para revisão geral anual dos
servidores
Importante!!!
O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder
Executivo a apresentação de projeto de lei que vise a promover a
revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos,
tampouco para fixar o respectivo índice de correção.
STF. Plenário. RE 843112, Rel. Luiz Fux, julgado em 22/09/2020
(Repercussão Geral – Tema 624) (Info 998).
Revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos O inciso X do
art. 37 da CF/88 prevê que os servidores públicos têm direito à
revisão geral anual da remuneração, sempre na mesma data e sem
distinção de índices:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) X - a
remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o §
4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei
específica, observada a iniciativa privativa em cada caso,
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem
distinção de índices; (Redação dada pela EC 19/98)
Revisão geral anual x reajuste setorial A revisão geral anual,
aplicável a todos os servidores públicos sem distinção de índices,
é diferente do reajuste setorial realizado para beneficiar apenas
determinada carreira. Compare:
REVISÃO GERAL ANUAL REAJUSTE SETORIAL (REVISÃO ESPECÍFICA)
Trata-se de revisão que beneficia todos os servidores, de forma
genérica (sem distinções).
Trata-se de reajuste que beneficia somente determinada carreira de
servidores.
Segundo o texto da Constituição, esta revisão deve ocorrer todos os
anos, sempre na mesma data.
Não há previsão expressa no texto da Constituição.
Segundo aponta a doutrina, o objetivo seria repor as perdas
decorrentes da inflação.
É feito com o objetivo de conferir um aumento real para determinada
carreira cuja remuneração esteja abaixo do que deveria (corrigir
distorções).
O projeto de lei prevendo a revisão geral anual deve ser
apresentado pelo chefe do Poder Executivo de cada ente
federado.
A iniciativa será do dirigente máximo daquele Poder ou órgão
autônomo (ex: MP). Ex: é do próprio Poder Legislativo a iniciativa
para conceder reajuste setorial aos seus servidores.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de
que não viola o princípio constitucional da isonomia, nem da
revisão geral anual, a concessão de reajustes salariais setoriais
com o fim de corrigir eventuais distorções remuneratórias. STF. 1ª
Turma. ARE 993058 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
17/02/2017.
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É possível a concessão de reajustes setoriais de vencimentos com a
finalidade de corrigir desvirtuamentos salariais verificados no
serviço público, sem que isso implique violação dos princípios da
isonomia e da revisão geral anual. STF. 2ª Turma. ARE 1101936 AgR,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/04/2018.
Aumento impróprio “A revisão geral anual tem o objetivo, ao menos
teoricamente, de recompor o poder de compra da remuneração do
servidor, corroído em variável medida pela inflação. Não se trata
de aumento real da remuneração ou do subsídio, mas apenas de um
aumento nominal – por isso chamado, às vezes, ‘aumento impróprio’”
(ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo
descomplicado. 25ª ed., São Paulo: Método, 2017, p. 365). A revisão
geral anual deve ser efetivada mediante lei. De quem é a iniciativa
para apresentar o projeto de lei? O projeto de lei prevendo a
revisão geral anual deve ser apresentado pelo chefe do Poder
Executivo de cada ente federado (art. 61, § 1º, II, “a”, da CF/88).
Não encaminhamento do projeto de lei prevendo a revisão geral anual
Ao longo dos anos, observa-se que o chefe do Poder Executivo não
encaminha o projeto de lei fazendo a revisão geral anual da
remuneração dos servidores públicos. Diante disso, os servidores
públicos começaram a ajuizar ações defendendo a tese de que o
inciso X do art. 37 da CF/88 estabeleceria dois deveres aos chefes
do Poder Executivo: • o dever de todos os anos encaminhar um
projeto de lei prevendo a revisão geral da remuneração dos
servidores; • o dever de que neste projeto de lei o índice de
reajuste previsto seja igual ou superior à inflação verificada no
período. Ex: se a inflação durante o ano foi de 7%, o reajuste
geral anual teria que ser de, no mínimo, 7%. Caso esses deveres
fossem descumpridos, o Poder Público poderia ser condenado a pagar
uma indenização aos servidores públicos. Essa tese foi acolhida
pelo STF? NÃO. O não encaminhamento de projeto de lei de revisão
anual dos vencimentos dos servidores públicos, previsto no inciso X
do art. 37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização. O
que o art. 37, X, da CF/88 impõe é que o chefe do Poder Executivo
deve se pronunciar anualmente e de forma fundamentada sobre a
conveniência e a possibilidade de reajuste anual do
funcionalismo.
O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos
vencimentos dos servidores públicos, previsto no inciso X do art.
37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização. Deve o Poder
Executivo, no entanto, se pronunciar, de forma fundamentada, acerca
das razões pelas quais não propôs a revisão. STF. Plenário. RE
565089 /SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 25/9/2019 (repercussão geral – Tema 19)
(Info 953).
Ok, entendi que não cabe indenização se o chefe do Poder Executivo
não enviar o projeto de lei. Vamos para uma outra dúvida: o Poder
Judiciário pode, então, obrigar o chefe do Poder Executivo a
encaminhar o projeto de lei com a revisão geral anual? Também
não.
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O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder
Executivo a apresentação de projeto de lei que vise a promover a
revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos,
tampouco para fixar o respectivo índice de correção. STF. Plenário.
RE 843112, Rel. Luiz Fux, julgado em 22/09/2020 (Repercussão Geral
– Tema 624) (Info 998).
A Constituição não estabelece um dever específico de que a
remuneração dos servidores seja objeto de aumentos anuais. Também
não estabelece que eventual revisão seja feita em determinado
percentual que corresponda, obrigatoriamente, à inflação apurada no
período. O papel do Poder Judiciário na concretização do direito à
revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos não
permite a colmatação da lacuna por decisão judicial. Isso porque
não se pode extrair do art. 37, X, da CF/88 um significado
inequívoco para a expressão “revisão geral”, dotada de baixa
densidade normativa. A reposição das perdas inflacionárias não pode
ser considerada “constitucionalmente obrigatória”. A delimitação
das condições da concessão do direito constitucional pressupõe uma
considerável expertise técnica e financeira, a exemplo do eventual
parcelamento e da necessidade de se compatibilizar a revisão com
restrições orçamentárias, ajustes fiscais subsequentes e eventual
compensação frente a outras formas de aumento. A definição do
índice cabe aos poderes políticos, em consonância com outras
limitações constitucionais, até mesmo para prestigiar a expertise
técnica desses poderes em gerir os cofres públicos e o
funcionalismo estatal. As regras prudenciais e a relação entre as
formas de aumento remuneratório revelam os elevados custos de erro
da fixação do índice de revisão geral anual por quem não detém a
expertise necessária. O princípio democrático impede a
transferência do custo político ao Judiciário, porquanto o povo
deposita nas urnas expectativas e responsabilidades, o que
justifica a posterior prestação de contas dos poderes eleitos e
impede que maiorias ocasionais furtem-se de obrigação imposta pelo
constituinte. O que deve o Poder Judiciário fazer então? Reconhecer
a mora e determinar que o Poder Executivo se manifeste, de forma
fundamentada, sobre a possibilidade, ou não, de concessão do
reajuste. Nas palavras do Min. Luiz Fux:
“A omissão do Poder Executivo na apresentação de projeto de lei que
preveja a revisão geral anual da remuneração dos servidores
públicos configura mora que cabe ao Poder Judiciário declarar e
determinar que se manifeste de forma fundamentada sobre a
possibilidade de recomposição salarial ao funcionalismo.”
Informativo comentado
Informativo 998-STF (12/11/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante |
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EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) Retirar de circulação
produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming”
apenas porque
seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária,
não encontra fundamento em uma sociedade democrática e pluralista
como a brasileira. ( )
2) Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a
benefício social e os respectivos critérios de admissão. ( )
3) Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade
formal no processo constituinte reformador quando eivada de vício a
manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo
constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a
moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a democracia
representativa. ( )
4) É inconstitucional norma de iniciativa parlamentar que preveja a
criação de órgão público e organização administrativa. ( )
5) É constitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria
com paridade e integralidade de proventos a policiais civis. (
)
6) É constitucional norma que preveja a concessão de “adicional de
final de carreira” a policiais civis. ( ) 7) A vedação da Súmula
Vinculante 37 não se aplica para as verbas de caráter
indenizatório. ( ) 8) O Poder Judiciário não possui competência
para determinar ao Poder Executivo a apresentação de
projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da
remuneração dos servidores públicos, tampouco para fixar o
respectivo índice de correção. ( )
9) (Analista TRF1 2017 CEBRASPE) Lei estadual, de iniciativa
parlamentar, que crie atribuições para determinada secretaria do
estado, deverá ser declarada inconstitucional por vício de
iniciativa. ( )
10) (Analista PGE/PE 2019 CEBRASPE) Por força do princípio da
isonomia, o Poder Judiciário poderá, por meio de decisão judicial
devidamente fundamentada, estender reajustes e aumentar vencimentos
de servidores públicos. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. C 4. C 5. E 6. E 7. E 8. C 9. C 10. E
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS DJE DE 2 A 6 DE NOVEMBRO DE
2020
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 710.293
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
Decisão: Após o voto do Ministro Luiz Fux (Relator), que dava
provimento ao recurso para julgar improcedente a ação
ordinária originária e propunha a seguinte tese: "Não cabe ao Poder
Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar
qualquer verba de servidores públicos de carreiras distintas sob o
fundamento de isonomia, tenham elas caráter
remuneratório ou indenizatório", no que foi acompanhado pelos
Ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Ricardo
Lewandowski e Marco Aurélio, pediu vista dos autos o Ministro Dias
Toffoli (Presidente). Plenário, Sessão Virtual de
13.9.2019 a 19.9.2019.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, apreciando o tema 600 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso
extraordinário, para julgar improcedente a ação ordinária
originária, nos termos do voto do Relator. O Ministro Dias
Toffoli acompanhou o Relator por fundamento diverso. Foi fixada a
seguinte tese: "Não cabe ao Poder Judiciário,
que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de
servidores públicos de carreiras distintas sob o
fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou
indenizatório". Não participou deste julgamento,
por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário,
Sessão Virtual de 4.9.2020 a 14.9.2020 (Sessão
iniciada na Presidência do Ministro Dias Toffoli e finalizada na
Presidência do Ministro Luiz Fux).
Informativo comentado
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO ADMINISTRATIVO.
AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO.
EQUIPARAÇÃO ENTRE SERVIDORES PÚBLICOS PERTENCENTES A CARREIRAS
DISTINTAS. ISONOMIA.
REPERCUSSÃO GERAL – TEMA 600. VÍCIO FORMAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO
1.029, §3º, DO CPC.
PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL. NO MÉRITO, IMPOSSIBILIDADE.
SEPARAÇÃO DE PODERES.
NECESSIDADE DE PRÉVIA DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA - ARTIGO 169, §1º.
SÚMULA VINCULANTE 37.
APLICAÇÃO ANALÓGICA. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DESTA CORTE. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO
PROVIDO. 1. O vício formal (in casu, eventual não esgotamento das
vias recursais ordinárias) não impede
necessariamente o conhecimento do recurso extraordinário, na forma
do artigo 1.029, §3º, do CPC. 2. A remuneração dos
servidores está adstrita ao princípio da reserva legal, previsto no
artigo 37, X, da CRFB/88, com a redação dada pela
Emenda Constitucional 19/98, que exige lei específica para a
fixação e alteração da remuneração dos servidores públicos.
3. O princípio da separação dos poderes impõe competir ao
legislador concretizar o princípio da isonomia, vedado ao
Judiciário atuar como legislador positivo (Súmula Vinculante 37:
“Não cabe ao Judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento da
isonomia”. 4. O auxílio-alimentação é verba de caráter
indenizatório, que não se incorpora à remuneração, nada obstante
também deve se submeter ao princípio da reserva legal,
assim como as demais verbas indenizatórias. 5. O Poder Legislativo,
detentor da função de legislar, deve observar
diretrizes trazidas pela Constituição para a fixação de todos os
componentes do sistema remuneratório. O artigo 39, § 1º,
da CRFB/88, prevê que a fixação dos componentes do sistema
remuneratório observará, verbis: I – a natureza, o grau de
responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada
carreira; II – os requisitos para a investidura; III – as
peculiaridades dos cargos. 6. A equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal
do serviço público encontra óbice no artigo 37, XIII, da CRFB/88.
7. Além disso, a Administração Pública depende da
existência de recursos orçamentários para pagar seus servidores e
tem a despesa com pessoal limitada pela Lei de
Responsabilidade Fiscal, conforme artigo 169, da CRFB/88, além de
necessitar de prévia dotação orçamentária e
autorização na lei de diretrizes orçamentárias. 8. A jurisprudência
desta Corte tem entendido que, independentemente da
natureza, não cabe ao Judiciário equiparar verbas com fundamento na
isonomia. Precedentes: ARE 968.262-AgR, rel.
min. Edson Fachin, Segunda Turma, DJe de 25/5/2017; ARE 826.066-ED,
rel. min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe
de 9/10/2014; ARE 933.014-AgR, rel. min. Rosa Weber, Primeira
Turma, DJe de 8/4/2016; ARE 808.871 AgR/RS, rel.
min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 16/9/2014; RE
804.768-AgR, rel. min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe
de 13/6/2014. 9. A vedação da Súmula Vinculante 37 se estende às
verbas de caráter indenizatório e, consequentemente,
interdita o Poder Judiciário de equiparar o auxílio-alimentação, ou
qualquer outra verba desta espécie, com fundamento
na isonomia. 10. Conclui-se que: “Não cabe ao Poder Judiciário, que
não tem função legislativa, aumentar qualquer verba
de servidores públicos de carreiras distintas sob o fundamento de
isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou
indenizatório”. 11. In casu, o acórdão recorrido entendeu que pelo
fato de o auxílio-alimentação não se incorporar à
remuneração ou ao subsídio, estaria afastada a Súmula Vinculante
37. Entendimento contrário à tese ora fixada. 12. Ex
positis, DOU PROVIMENTO ao recurso extraordinário. Tese: Não cabe
ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar qualquer verba de servidores públicos de
carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham
elas caráter remuneratório ou indenizatório.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 843.112
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 624 da
repercussão geral, deu provimento ao recurso
extraordinário para reformar o acórdão recorrido e, via de
consequência, cassar a injunção concedida, nos termos do voto
do Ministro Luiz Fux (Presidente e Relator), vencidos os Ministros
Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, que negavam
provimento ao recurso. Foi fixada a seguinte tese: "O Poder
Judiciário não possui competência para determinar ao
Poder Executivo a apresentação de projeto de lei que vise a
promover a revisão geral anual da remuneração dos
servidores públicos, tampouco para fixar o respectivo índice de
correção". Os Ministros Edson Fachin, Roberto
Barroso e Dias Toffoli também votaram pelo provimento do recurso,
mas fizeram ressalvas quanto à redação da tese
proposta pelo Relator. Falou, pelo recorrido, a Dra. Fernanda
Bandeira Andrade. Não participou deste julgamento, por
motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário,
Sessão Virtual de 11.9.2020 a 21.9.2020.
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.
REPERCUSSÃO GERAL.
TEMA 624. SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO GERAL ANUAL. ACÓRDÃO RECORRIDO
QUE CONCEDE
INJUNÇÃO PARA QUE O CHEFE DO PODER EXECUTIVO ENVIE PROJETO DE LEI
QUE PROMOVA A
REVISÃO ANUAL DOS VENCIMENTOS DOS SERVIDORES MUNICIPAIS. INVASÃO DO
JUDICIÁRIO NA
COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO EXECUTIVO. INEXISTENCIA DE DEVER
CONSTITUCIONAL DE
RECOMPOSIÇÃO INFLACIONÁRIA ANUAL DA REMUNERAÇÃO E SERVIDORES
PÚBLICOS.
PRECEDENTES. INAPLICABILIDADE DE SENTENÇA EXORTATIVA OU ADITIVA.
ARTIGO 37, X, DA CRFB.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. 1. A revisão geral anual,
estabelecida pelo artigo 37, X, da CRFB, deve
ser interpretada em conjunto com os demais dispositivos
constitucionais e os julgados antecedentes desta Corte, tendo
em
vista o caráter controvertido do direito sub judice e o princípio
da concordância prática. 2. A Constituição Federal não
pretendeu impedir reduções indiretas à remuneração dos servidores
públicos, dentre as quais aquela que decorre da
Informativo comentado
desvinculação pari passu do índice inflacionário, consoante exegese
prestigiada por esta Corte. O direito à reposição do
valor real por perdas inflacionárias foi afastado por este Plenário
ao interpretar e aplicar a garantia da irredutibilidade de
vencimentos, prevista no artigo 37, XV, da CRFB. Precedentes: ADI
2.075-MC, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, DJ
de 27/6/2003; e RE 201.026, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma,
DJ de 6/9/1996. 3. A Constituição não estabelece
um dever específico de que a remuneração dos servidores seja objeto
de aumentos anuais, menos ainda em percentual
que corresponda, obrigatoriamente, à inflação apurada no período,
embora do artigo 37, X, da Constituição decorra o
dever de pronunciamento fundamentado a respeito da impossibilidade
de reposição da remuneração dos servidores
públicos em dado ano, com demonstração técnica embasada em dados
fáticos da conjuntura econômica. Precedente: RE
565.089, Redator do acórdão Min. Roberto Barroso, Plenário, DJe de
28/4/2020, Tema 19 da Repercussão Geral. 4. As
sentenças aditivas, porquanto excepcionais, pressupõem a
observância de algumas balizas, tais como (i) a solução
esteja
presente no sistema legislativo em vigor, ao menos em estado
latente (ZAGREBELSKY, Gustavo. La giustizia
costituzionale. vol. 41. Mulino, 1988. p. 158-159); (ii) a norma
análoga se adeque ao direito previsto constitucionalmente;
(iii) a norma constitucional possua densidade normativa tal que
conceda inequivocamente determinado direito a seus
destinatários (BRANDÃO, Rodrigo. O STF e o Dogma do Legislador
Negativo. Direito, Estado e Sociedade, n. 44, p.
206, jan./jun. 2014); (iv) sejam observados “o critério da vontade
hipotética do legislador e o critério da solução
constitucionalmente obrigatória” (MEDEIROS, Rui. A decisão de
inconstitucionalidade. Lisboa: Universidade Católica,
1999, p. 501-505); (v) avalie-se os reflexos das sentenças
normativas nas contas públicas, consoante a “observância da
realidade histórica e dos resultados possíveis”, (PELICIOLI, Angela
Cristina. A sentença normativa na jurisdição
constitucional: o Supremo Tribunal Federal como legislador
positivo. São Paulo: LRT, 2008. p. 223); (vi) a intervenção
se legitime na natureza do direito constitucional, mormente quando
em jogo os direitos materialmente fundamentais e
demais condições de funcionamento da democracia (SOUSA FILHO,
Ademar Borges. Sentenças Aditivas na Jurisdição
Constitucional Brasileira. Belo Horizonte: Forum, 2016. p. 233). 5.
In casu, o papel do Poder Judiciário na concretização
do direito à revisão geral anual da remuneração dos servidores
públicos não permite a colmatação da lacuna por decisão
judicial, porquanto não se depreende do artigo 37, X, da CRFB um
significado inequívoco para a expressão “revisão
geral”, dotada de baixa densidade normativa. A reposição das perdas
inflacionárias não pode ser considerada
“constitucionalmente obrigatória”, embora inegavelmente se insira
na moldura normativa do direito tutelado, que atribuiu
ao servidor público o direito a ter sua remuneração anualmente
revista. 6. A delimitação das condições da concessão do
direito constitucional pressupõe uma considerável expertise técnica
e financeira, a exemplo do eventual parcelamento e
da necessidade de se compatibilizar a revisão com restrições
orçamentárias, ajustes fiscais subsequentes e eventual
compensação frente a outras formas de aumento. Precedente: ADI
2.726, Plenário, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de
29/8/2003. 7. A revisão remuneratória dos servidores públicos
pressupõe iniciativa do Poder Executivo. Precedentes: ADI
3.599, Rel. Min. Gilmar Mendes, Plenário, DJ de 14/9/2007; e ADI
2.061, Rel. Min. Ilmar Galvão, Plenário, DJ de
29/6/2001. 8. A definição do índice cabe aos poderes políticos, em
consonância com outras limitações constitucionais,
máxime por prestigiar a expertise técnica desses poderes em gerir
os cofres públicos e o funcionalismo estatal. As regras
prudenciais e a relação entre as formas de aumento remuneratório
revelam os elevados custos de erro da fixação do índice
de revisão geral anual por quem não detém a expertise necessária
(SUNSTEIN; VERMEULE. Interpretation and
Institutions. Michigan Law Review, v. 101, p. 885, 2002. p. 38). 9.
O princípio democrático impede a transferência do
custo político ao Judiciário, porquanto o povo deposita nas urnas
expectativas e responsabilidades, o que justifica a
posterior prestação de contas dos poderes eleitos e impede que
maiorias ocasionais furtem-se de obrigação imposta pelo
constituinte. 10. A Lei federal 10.331/2001, assim como a Lei
Complementar 592/2011 do Município do Leme, que
regulamentam o artigo 37, X, da CRFB, estabelecendo condições e
parâmetros para a revisão geral anual, não suprem a
omissão, o que, consectariamente, revela sua insuficiência em
tutelar a garantia constitucional que impõe manifestações
anuais, não havendo que se cogitar de perda de objeto. 11. A
omissão do Poder Executivo na apresentação de projeto de
lei que preveja a revisão geral anual da remuneração dos servidores
públicos configura mora que cabe ao Poder Judiciário
declarar e determinar que se manifeste de forma fundamentada sobre
a possibilidade de recomposição salarial ao
funcionalismo. 13. In casu, o tribunal a quo, ao conceder a
injunção “para determinar que o Prefeito do Município de
Leme envie, no prazo máximo de trinta dias, projeto de lei que vise
promover - a revisão anual dos vencimentos de todos
os servidores públicos municipais”, exorbitou de suas competências
constitucionais, imiscuindo-se em matéria de
iniciativa do Poder Executivo, a quem cabe a autoadministração do
funcionalismo público e a gestão de recursos
orçamentários destinados a despesas de custeio com pessoal. 13.
Recurso Extraordinário PROVIDO para reformar o
acórdão recorrido e, via de consequência, cassar a injunção
concedida. Tese de repercussão geral: O Poder Judiciário não
possui competência para determinar ao Poder Executivo a
apresentação de projeto de lei que vise a promover a revisão
geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco para
fixar o respectivo índice de correção.
Supremo Tribunal Federal – STF
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