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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 1000-STF Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL PUBLICIDADE STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre Covid-19. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei estadual que obriga a empresa de telefonia celular a disponibilizar na internet extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados nos planos pré-pagos. É inconstitucional lei estadual que autoriza suspensão da cobrança de empréstimos consignados, mesmo que durante a pandemia da covid-19. CNJ Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim. Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em sentido contrário proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF. DEFENSORIA PÚBLICA É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos. ADVOCACIA PÚBLICA É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado. DIREITO ADMINISTRATIVO CONCURSO PÚBLICO É inconstitucional lei estadual que define, como critério de desempate em concurso público, a preferência pelo servidor público daquele Estado. É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos no edital por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos. SERVIDORES PÚBLICOS É possível que o servidor público cumpra seus deveres funcionais em dias alternativos por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos. É inconstitucional lei que preveja que o subsídio dos Procuradores será equivalente a um percentual do subsídio dos Ministros do STF. É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço público federal de servidor condenado pela prática de determinados fatos graves. DIREITO AMBIENTAL PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio ambiente sem que ela seja substituída ou atualizada por outra que também garanta proteção.

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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

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Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

PUBLICIDADE ▪ STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre Covid-19. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS ▪ É constitucional lei estadual que obriga a empresa de telefonia celular a disponibilizar na internet extrato detalhado

das chamadas telefônicas e serviços utilizados nos planos pré-pagos. ▪ É inconstitucional lei estadual que autoriza suspensão da cobrança de empréstimos consignados, mesmo que

durante a pandemia da covid-19. CNJ ▪ Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de

suas atividades-fim. ▪ Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em sentido contrário

proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF. DEFENSORIA PÚBLICA ▪ É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos. ADVOCACIA PÚBLICA ▪ É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado.

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO ▪ É inconstitucional lei estadual que define, como critério de desempate em concurso público, a preferência pelo

servidor público daquele Estado. ▪ É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos no edital por

motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos. SERVIDORES PÚBLICOS ▪ É possível que o servidor público cumpra seus deveres funcionais em dias alternativos por motivos religiosos, desde

que cumpridos alguns requisitos. ▪ É inconstitucional lei que preveja que o subsídio dos Procuradores será equivalente a um percentual do subsídio dos

Ministros do STF. ▪ É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço público federal de

servidor condenado pela prática de determinados fatos graves. DIREITO AMBIENTAL

PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL ▪ É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio ambiente sem que ela seja substituída

ou atualizada por outra que também garanta proteção.

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DIREITO CIVIL

CONDOMÍNIO EDILÍCIO ▪ É possível a cobrança, por parte de associação, de taxas de manutenção e conservação de loteamento fechado de

proprietário não-associado. DIREITO DO CONSUMIDOR

CONTRATOS BANCÁRIOS ▪ É inconstitucional norma que autoriza os bancos a cobrarem tarifa pelo simples fato de disponibilizarem o serviço

de “cheque especial”, ainda que ele não seja utilizado

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA ▪ Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de

suas atividades-fim.

DIREITO PENAL

LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO ▪ É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público pelo simples fato de ele ter sido

indiciado pela prática de crime.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ▪ É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado e Defensores Públicos. DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO FINANCEIRO ▪ Ainda que sob o argumento da pandemia da Covid-19, não pode ser atendido pedido feito por Governador do Estado para

que sejam afastadas as limitações da Lei de Responsabilidade Fiscal referentes a execução de gastos públicos continuados.

DIREITO CONSTITUCIONAL

PUBLICIDADE STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre Covid-19

Covid-19

A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-19 representa violação a preceitos fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os princípios da publicidade e transparência da Administração Pública e o direito à saúde.

STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF, ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

A situação concreta foi a seguinte: Em 08/06/2020, a Rede Sustentabilidade, o PCdoB e o PSol ajuizaram no STF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) na qual contestam atos do Poder Executivo Federal que restringiram a publicidade dos dados relacionados à Covid-19.

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Na ação, os partidos pedem que o Ministério da Saúde seja obrigado a dar publicidade, diariamente, até às 19h30, dos dados sobre casos confirmados, óbitos, recuperados, hospitalizados e outros. No pedido, os partidos afirmam que, por três dias seguidos na semana anterior ao ajuizamento da ação, o Ministério da Saúde retardou a divulgação dos dados sobre a pandemia em sua página na internet. Posteriormente, sem nenhuma justificativa legítima, alterou o formato do Balanço Diário da Covid-19, omitindo dados como o total de casos confirmados, de casos recuperados e de óbitos, o acumulado nos últimos três dias, o número de mortes em investigação e o de pacientes que ainda estão em acompanhamento. Para os partidos, a retenção dessas informações inviabiliza o acompanhamento do avanço da Covid-19 no Brasil e atrasa a implementação de políticas públicas sanitárias de controle e prevenção da doença, além de representar afronta à população o fato de existir qualquer intenção de manipulação de dados. Os partidos alegam que as medidas violam preceitos fundamentais da Constituição Federal que tratam do direito à vida e à saúde, do dever de transparência da administração pública e do interesse público. Decisão monocrática No dia 09/06/2020, o Min. Relator Alexandre de Moraes deferiu a medida liminar para determinar ao Ministro da Saúde que mantenha, em sua integralidade, a divulgação diária dos dados epidemiológicos relativos à pandemia (Covid-19), inclusive no site. Confirmação da liminar No dia 20/11/2020, o Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida para determinar que o Ministério da Saúde mantenha, em sua integralidade, a divulgação diária dos dados epidemiológicos relativos à pandemia (COVID-19), inclusive no sítio do Ministério da Saúde e com os números acumulados de ocorrências, exatamente conforme realizado até o último dia 04 de junho de 2020. A CF/88 consagrou expressamente o princípio da publicidade como um dos vetores imprescindíveis à Administração Pública, conferindo-lhe absoluta prioridade na gestão administrativa e garantindo pleno acesso às informações a toda a sociedade. À consagração constitucional de publicidade e transparência corresponde a obrigatoriedade do Estado em fornecer as informações necessárias à sociedade. O acesso às informações consubstancia-se em verdadeira garantia instrumental ao pleno exercício do princípio democrático. Assim, salvo situações excepcionais, a Administração Pública tem o dever de absoluta transparência na condução dos negócios públicos, sob pena de desrespeito aos arts. 37, caput, e 5º, XXXIII e LXXII, da CF/88, pois “o modelo político-jurídico, plasmado na nova ordem constitucional, rejeita o poder que oculta e o poder que se oculta”. Ademais, cumpre ressaltar que a República Federativa do Brasil é signatária de tratados e regras internacionais relacionados à divulgação de dados epidemiológicos, tais como o Regulamento Sanitário Internacional aprovado pela 58ª Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 23 de maio de 2005, promulgado no Brasil pelo Decreto Legislativo 395/2009. Em suma:

A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-19 representa violação a preceitos fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os princípios da publicidade e transparência da Administração Pública e o direito à saúde. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF, ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

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COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É constitucional lei estadual que obriga a empresa de telefonia celular a disponibilizar na

internet extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados nos planos pré-pagos

É constitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia móvel e fixa disponibilizarem, em portal da “internet”, extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados na modalidade de planos “pré-pagos”.

Trata-se de norma sobre direito do consumidor que admite regulamentação concorrente pelos Estados-Membros, nos termos do art. 24, V, da Constituição Federal.

STF. Plenário. ADI 5724/PI, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

A situação concreta foi a seguinte: No Piauí, foi editada a Lei estadual nº 6.886/2016, que obriga as operadoras de telefonia móvel a disponibilizarem na internet extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados nos planos pré-pagos. Confira a redação do art. 1º da Lei:

Art. 1º As operadoras de telefonia móvel e fixa que prestam serviços no âmbito do Estado do Piauí fornecerão aos clientes que utilizam seus serviços na modalidade de recarga de créditos por pagamento antecipado, também conhecida como "plano pré-pago", extrato detalhado de conta das chamadas telefônicas e serviços utilizados com respectivo valor cobrado, no mesmo padrão dos extratos de contas de serviços prestados mediante contratos conhecidos como ‘planos pós-pagos’.

A Associação das Operadoras de Celulares (ACEL) ajuizou ADI contra essa previsão afirmando que ela seria inconstitucional por ter invadido competência privativa da União para legislar sobre os serviços de telecomunicações (art. 22, IV, da CF/88):

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

O STF concordou com o pedido formulado na ADI? A referida Lei é inconstitucional? NÃO.

É constitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia móvel e fixa disponibilizarem, em portal da “internet”, extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados na modalidade de planos “pré-pagos”. STF. Plenário. ADI 5724/PI, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

O art. 21, XI, da CF/88 prevê que compete à União “explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais”. O art. 22, IV, por sua vez, afirma que compete privativamente à União legislar sobre “água, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão”. Por conta disso, o STF tem julgado inconstitucionais as leis estaduais que, embora editadas com o intuito de proteger o consumidor, acabam interferindo, na prática, na estrutura de prestação do serviço público e no equilíbrio dos contratos administrativos. Exemplos:

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• é inconstitucional lei estadual que disponha sobre o fornecimento de informações por concessionária de telefonia fixa e móvel para fins de segurança pública (STF. Plenário. ADI 4.401, Min. Rel. Gilmar Mendes, julgado em 30/8/2019). • é inconstitucional lei estadual que isenta trabalhadores desempregados do pagamento do consumo de energia elétrica e de água pelo período de seis meses (STF. Plenário. ADI2.299, Min. Rel. Roberto Barroso, julgado em 23/8/2019). (Juiz Federal TRF4 2016) Lei estadual não poderá disciplinar a respeito de validade de crédito de telefone celular pré-pago, projetando-o no tempo, sob pena de violação à competência exclusiva da União Federal para legislar sobre telecomunicações. (certo) Lei estadual só será inconstitucional se violar o núcleo do serviço de telecomunicações Vale ressaltar que nem toda lei estadual que trate de algum modo sobre telecomunicações será inconstitucional. Para ser inconstitucional por violação à competência privativa da União, é necessário que a lei estadual tenha regulado o serviço de telecomunicações. No caso concreto, o conteúdo da norma estadual não interfere no núcleo básico de prestação dos serviços de telecomunicações, cuja competência é privativa da União. Tampouco visou o legislador estadual interferir nos termos da relação jurídica existente entre o Poder concedente e a concessionária, ou entre essa e os usuários, não se podendo falar em violação ao art. 175, parágrafo único, incisos I e II, da CF/88:

Art. 175 (...) Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usuários; (...)

Direito do consumidor O objetivo primordial da Lei foi o de assegurar o direito dos consumidores à informação. A lei apenas determina que deve ser disponibilizado na internet o extrato detalhado de conta “pré-paga”, contendo as chamadas telefônicas e serviços utilizados com o respectivo valor, nos mesmos moldes delineados para os usuários do serviço “pós-pago”, dentro da perspectiva de proteção ao consumo conferida pelo texto constitucional. O direito à informação é um dos alicerces que sustentam o sistema de proteção consumerista brasileiro, sendo expressamente previsto em diversos dispositivos do CDC. Em rigor, a matéria tratada na lei é de direito consumerista, pois buscou dar uma maior proteção e também tornar mais efetivo o direito à informação do consumidor, permitindo um maior controle dos serviços contratados. Logo, o Estado-membro tinha competência para legislar sobre o tema, nos termos do art. 24, V, da CF/88:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) V - produção e consumo;

Chamo atenção para um julgado tratando de tema semelhante:

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Estado-membro possui competência para editar lei obrigando empresas de internet a apresentar na fatura da conta a velocidade efetivamente oferecida no mês

É CONSTITUCIONAL lei estadual que obriga as prestadoras do serviço de Internet móvel e de banda larga a apresentar, na fatura mensal, gráficos informando a velocidade diária média de envio e de recebimento de dados entregues no mês. STF declarou constitucional a Lei Estadual 18.752/2016, do Paraná, que obriga as empresas de internet do Estado a demonstrar para o consumidor a velocidade de internet, por meio de gráficos. Essa não trata sobre a matéria específica de contratos de telecomunicações, tendo em vista que tal serviço não se enquadra em nenhuma atividade de telecomunicações definida pelas Leis 4.117/1962 e 9.472/1997. Trata-se, portanto, de norma sobre direito do consumidor que admite regulamentação concorrente pelos Estados-Membros, nos termos do art. 24, V, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5572, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/08/2019.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS É inconstitucional lei estadual que autoriza suspensão da cobrança de

empréstimos consignados, mesmo que durante a pandemia da covid-19

Covid-19

É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do cumprimento de obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos consignados.

Ao interferir nas relações obrigacionais firmadas entre instituições de crédito e os tomadores de empréstimos, a lei adentrou em matéria relacionada com direito civil e com política de crédito, assuntos que são de competência legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF/88.

STF. Plenário. ADI 6495/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

É inconstitucional lei estadual que determina a suspensão temporária da cobrança das consignações voluntárias contratadas por servidores públicos estaduais.

STF. Plenário. ADI 6484, Rel. Roberto Barroso, julgado em 05/10/2020.

A situação concreta foi a seguinte: No Rio de Janeiro, foi editada a Lei Estadual nº 8.842/2020, que “autoriza o Poder Executivo a suspender por 120 (cento e vinte) dias o desconto das mensalidades dos empréstimos celebrados e de empréstimos consignados”. Veja o que diz a Lei:

Art. 1º Fica autorizado o Poder Executivo a suspender pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias os descontos das mensalidades dos empréstimos celebrados e de empréstimos consignados. § 1º Fica vedada a posterior incidência de juros, multa ou qualquer forma de atualização, enquanto perdurar o estado de calamidade pública decorrente da pandemia provocada pelo Corona Vírus (COVID19), estabelecido no Decreto nº 46.984, de 20 de março de 2020. § 2º Nenhum contratante de empréstimo, mencionado no caput do art. 1º poderá ter o nome inserido nos sistemas de proteção ao crédito em função da suspensão dos pagamentos que se refere o caput deste artigo. § 3º A presente Lei não se aplica aos descontos sindicais que sejam realizados através do sistema de consignação.

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A Confederação Nacional do Sistema Financeiro – Consif ajuizou ADI contra a lei argumentando que o Estado-membro teria tratado sobre assunto de competência privativa da União. O STF concordou com o pedido formulado na ADI? A Lei é inconstitucional? SIM.

É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do cumprimento de obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos consignados. STF. Plenário. ADI 6495/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

Ao interferir nas relações obrigacionais firmadas entre instituições de crédito (ex: bancos) e os tomadores de empréstimos, a lei adentrou em matéria relacionada com direito civil e com política de crédito, assuntos que são de competência legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF/88:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...) VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;

Em um sistema federativo equilibrado, não podem coexistir, a princípio, normas editadas em distintos níveis político-administrativos, que disciplinem matérias semelhantes, sob pena de gerar assimetria e desequilíbrio. Por essa razão, a jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que são inconstitucionais normas locais que tratem de matérias de competência privativa da União. O estado do Rio de Janeiro não poderia substituir o papel da União para determinar a suspensão do cumprimento de obrigações financeiras, ainda que mediante lei estadual e em período tão gravoso, como o do atual surto do novo coronavírus, que atinge a todos indiscriminadamente. No mesmo sentido: É inconstitucional lei estadual que determina a suspensão temporária da cobrança das consignações voluntárias contratadas por servidores públicos estaduais

Há vício de inconstitucionalidade formal por violação ao art. 22, I e VII, CF, que estabelecem competência privativa da União para legislar a respeito de direito civil e de política de crédito. Os Estados-membros não estão autorizados a editar normas acerca de relações contratuais, nem a respeito da regulação da consignação de crédito por servidores públicos. A relevância das atividades desempenhadas pelas instituições financeiras demanda a existência de coordenação centralizada das políticas de crédito. Há vício de inconstitucionalidade material por violação ao princípio da segurança jurídica, tendo em vista que a lei estadual promove intervenção desproporcional em relações privadas validamente constituídas. STF. Plenário. ADI 6484, Rel. Roberto Barroso, julgado em 05/10/2020.

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CNJ Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas

contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim

Importante!!!

Posição mais atual sobre o tema!

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88.

STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

Veja comentários em Direito Processual Civil. .

CNJ Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em

sentido contrário proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF

Importante!!!

O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte:

Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não o Supremo Tribunal Federal.

O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional.

Assim, o CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência originária do STF.

STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

Veja comentários em Direito Processual Civil. .

DEFENSORIA PÚBLICA É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA, ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 Ref-MC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 20/11/2020 (Info 1000).

Veja comentários em Direito Processual Penal. .

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 9

ADVOCACIA PÚBLICA É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado

Importante!!!

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA, ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 Ref-MC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 20/11/2020 (Info 1000).

Veja comentários em Direito Processual Penal.

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO É inconstitucional lei estadual que define, como critério de desempate em concurso público,

a preferência pelo servidor público daquele Estado

Importante!!!

É inconstitucional a fixação de critério de desempate em concursos públicos que favoreça candidatos que pertencem ao serviço público de um determinado ente federativo.

Caso concreto: lei do Estado do Pará previa que, em caso de empate de candidatos no concurso público, teria preferência para a ordem de classificação o candidato que já pertencesse ao serviço público do Estado do Pará e, persistindo a igualdade, aquele que contasse com maior tempo de serviço público ao Estado do Pará.

Essa previsão viola o art. 19, III, da CF/88, que veda a criação de distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

STF. Plenário. ADI 5358/PA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

A situação concreta foi a seguinte: No Pará, foi editada a Lei estadual nº 5.810/94, que estabeleceu uma preferência, na ordem de classificação de concursos públicos, em favor de candidato já pertencente ao serviço público estadual paraense. Confira o § 1º do art. 10:

Art. 10. A aprovação em concurso público gera o direito à nomeação, respeitada a ordem de classificação dos candidatos habilitados. §1º Terá preferência para a ordem de classificação o candidato já pertencente ao serviço público estadual e, persistindo a igualdade, aquele que contar com maior tempo de serviço público ao Estado. §2º Se ocorrer empate de candidatos não pertencentes ao serviço público do Estado, decidir-se-á em favor do mais idoso.

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 10

O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra essa previsão alegando que ela violaria os princípios republicano (art. 1º, CF/88), da igualdade (art. 5º, CF/88), da razoabilidade (art. 5º, LIV, CF/88), da moralidade e da impessoalidade (art. 37, CF/88). O STF concordou com o pedido formulado na ADI? Esse dispositivo é inconstitucional? SIM.

É inconstitucional a fixação de critério de desempate em concursos públicos que favoreça candidatos que pertencem ao serviço público de um determinado ente federativo. STF. Plenário. ADI 5358/PA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

É incompatível com a Constituição Federal estabelecer preferência, na ordem de classificação de concursos públicos, em favor de candidato já pertencente ao serviço público. A CF/88 prevê, expressamente, no art. 19, III, que:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

A lei estadual vai de encontro a essa previsão porque possui o nítido propósito de conferir tratamento mais favorável aos candidatos que já são servidores da unidade federativa. Desse modo, a norma não assegura a seleção de candidatos mais experientes. Ao contrário, possibilita que um candidato mais experiente, proveniente da administração pública federal, municipal ou, ainda, da iniciativa privada, seja preterido em prol de um servidor estadual com pouco tempo de serviço, desde que pertença aos quadros da unidade federativa. A medida, portanto, é inadequada para a seleção do candidato mais experiente, viola a igualdade e a impessoalidade e não atende ao interesse público, favorecendo injustificada e desproporcionalmente os servidores estaduais. O art. 37, I e II, da CF/88 assegura ampla acessibilidade aos cargos e empregos públicos a todos os brasileiros que preencham os requisitos legais, por meio de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, realizado de acordo com a natureza e complexidade do cargo ou emprego, ressalvada a hipótese de nomeação para cargo em comissão de livre nomeação e exoneração. A regra de acessibilidade a cargos e empregos públicos prevista no dispositivo visa conferir efetividade aos princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade, de modo que a imposição legal de critérios de distinção entre os candidatos é admitida tão somente quando acompanhada da devida justificativa em razões de interesse público e/ou em decorrência da natureza e das atribuições do cargo ou emprego a ser preenchido. O STF possui o entendimento de que é inconstitucional o ato normativo que estabelece critérios de discriminação entre os candidatos de forma arbitrária ou desproporcional.

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 11

CONCURSO PÚBLICO É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos

no edital por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos

SERVIDOR PÚBLICO É possível que o servidor público cumpra seus deveres funcionais em dias alternativos por

motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos

Importante!!!

É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos no edital por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos

Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada.

STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11, 25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à Administração Pública, inclusive durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento do exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada.

STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11, 25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

NOÇÕES GERAIS SOBRE ESCUSA DE CONSCIÊNCIA

Escusa de consciência Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica ou política. Trata-se de um direito fundamental assegurado pelo art. 5º, VIII, da CF/88. Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obrigação legal imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei. Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88: Veja a redação do texto constitucional:

Art. 5º (...) VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: (...) IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

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A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de consciência”. Exemplo típico: participar de guerra O exemplo mais comum de alegação de imperativo de consciência é o alistamento militar. Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. Neste caso, a CF/88 prevê que ele fica dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação do art. 143, § 1º da CF/88:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. § 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. (...)

No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91:

Art. 3º (...) § 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordenação com os Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. § 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar. (...)

Outro exemplo: participação como jurado Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP). É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consciência. Neste caso, ela poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que determina o art. 438 do CPP:

Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o serviço imposto. § 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins. § 2º O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Terceiro exemplo: atividades escolares em dia de guarda religiosa A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) o art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em “dias de guarda religiosa”. Em linhas gerais, o que estabelece esse art. 7º-A da LDB: - O aluno de instituição de ensino pública ou privada,

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- de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior), - possui o direito de - se ausentar de aula ou mesmo de prova - caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual, - segundo os preceitos da religião desse aluno, - ele não puder exercer tais atividades, - ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”. ESCUSA DE CONSCIÊNCIA POR MOTIVO DE CRENÇA RELIGIOSA E FIXAÇÃO DE HORÁRIO ALTERNATIVO PARA REALIZAÇÃO DE

CONCURSO PÚBLICO

Feita a breve revisão acima, imagine a seguinte situação hipotética: João se inscreveu no concurso de agente de segurança de um órgão público. Após ser aprovado na prova objetiva, ele foi convocado para o teste físico. Como eram muitos candidatos, os testes físicos foram marcados para dois dias: sábado e domingo. João foi sorteado para fazer a prova no sábado. Ocorre que ele é membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem ou trabalhem aos sábados. O sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares (não mundanas). Diante disso, João pediu para realizar a prova no domingo, o que foi indeferido pela Administração Pública. O candidato impetrou, então, mandado de segurança pedindo para que o seu teste físico fosse realizado no domingo em razão da sua crença religiosa. O pedido de João pode ser acolhido? O que o STF entende a respeito do tema? SIM. O pedido pode ser acolhido. O STF, apreciando o tema, fixou a seguinte tese:

Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11, 25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

É possível a fixação de obrigações alternativas a candidatos em concursos públicos, que se escusem de cumprir as obrigações legais originalmente fixadas por motivos de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. A fixação de obrigações alternativas para a realização de certame público ou para aprovação em estágio probatório em razão de convicções religiosas não significa privilégio, mas sim permissão ao exercício da liberdade de crença sem indevida interferência estatal nos cultos e nos ritos, nos termos do art. 5º, VI, da CF/88.

Mas o Estado é laico. A administração pública não poderia indeferir o pedido alegando esse argumento? NÃO. O Estado brasileiro é laico (secular ou não-confessional), ou seja, aquele no qual não se tem uma religião oficial. Isso está consagrado no art. 19, I, da CF/88:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

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Assim, por força deste princípio, o Estado não pode estar associado a nenhuma religião, nem sob a forma de proteção, nem de perseguição. Há, portanto, uma separação formal entre Igreja e Estado. No entanto, ao mesmo tempo, a CF/88 também assegura a liberdade religiosa, nos seguintes termos:

Art. 5º (...) VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

O fato de o Estado ser laico (art. 19, I, da CF/88), não lhe impõe uma conduta negativa diante da proteção religiosa. A separação entre o Estado brasileiro e a religião não é absoluta. O Estado deve proteger a diversidade em sua mais ampla dimensão, dentre as quais se inclua a liberdade religiosa e o direito de culto. Nesse sentido, o papel da autoridade estatal não é o de remover a tensão por meio da exclusão ou limitação do pluralismo, mas sim assegurar que os grupos se tolerem mutuamente, principalmente quando em jogo interesses individuais ou coletivos de um grupo minoritário. A separação entre religião e Estado, portanto, não pode implicar o isolamento daqueles que guardam uma religião à sua esfera privada. O princípio da laicidade não se confunde com laicismo. O princípio da laicidade, em verdade, veda que o Estado assuma como válida apenas uma crença religiosa. Nessa medida, ninguém deve ser privado de seus direitos em razão de sua crença ou descrença religiosa, salvo se a invocar para se eximir de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa (art. 5º, VIII, da CF/88).

ESCUSA DE CONSCIÊNCIA POR MOTIVO DE CRENÇA RELIGIOSA E FIXAÇÃO DE HORÁRIO ALTERNATIVO PARA O EXERCÍCIO DE

DEVERES FUNCIONAIS INERENTES AO CARGO PÚBLICO

Imagine outra situação hipotética: Regina é professora concursada da rede pública de ensino. No planejamento para o ano letivo, a coordenadora pedagógica apresentou o cronograma das aulas e Regina percebeu que teria que dar aulas segundas, quartas e sextas no período de 18h às 20h. Ocorre que Regina é membro ativo da Igreja Adventista do Sétimo Dia e, conforme sua crença religiosa, ela se sente impossibilitada de realizar atividades profissionais ou acadêmicas no período entre o por do Sol de sexta-feira ao por do Sol de sábado. Diante disso, apresentou pedido à administração pública para que a sua carga horária semanal não abrangesse aulas noturnas às sextas-feiras.

O pedido de Regina pode ser atendido? SIM. Aplicam-se os mesmos argumentos já expostos acima para o caso do concurso público. A tese fixada pelo STF é, inclusive, semelhante:

Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à Administração Pública, inclusive durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento do exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11, 25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

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SERVIDORES PÚBLICOS É inconstitucional lei que preveja que o subsídio dos Procuradores será equivalente a um percentual do subsídio dos Ministros do STF

É inconstitucional lei que equipara, vincula ou referencia espécies remuneratórias devidas a cargos e carreiras distintos, especialmente quando pretendida a vinculação ou a equiparação entre servidores de Poderes e níveis federativos diferentes.

STF. Plenário. ADI 6436/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

A situação concreta foi a seguinte: Em Mato Grosso, foi editada a Lei estadual 10.276/2015, que tratou sobre a remuneração dos Procuradores Legislativos da Assembleia Legislativa do Estado. O art. 1º, § 1º da Lei previu que o subsídio da carreira de Procurador Legislativo seria um percentual do subsídio dos Ministros do STF. Veja:

Art. 1º (...) § 1º O subsídio do grau máximo da carreira de Procurador Legislativo da Assembleia Legislativa corresponderá a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) da remuneração dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, (...) escalonados conforme as respectivas classes, sendo a diferença entre uma e outra de 5% (cinco por cento)

O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra essa lei afirmando que, ao atrelar o subsídio dos Procuradores da Assembleia Legislativa ao subsídio dos Ministros do STF, a norma teria violado o disposto no art. 37, XIII, da Constituição Federal, que veda a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público. Ao assim agir, o legislador estadual teria estabelecido uma indevida equiparação entre integrantes de carreiras com atribuições distintas. O pedido formulado na ADI foi acolhido? A referida Lei é inconstitucional? SIM.

É inconstitucional lei que equipara, vincula ou referencia espécies remuneratórias devidas a cargos e carreiras distintos, especialmente quando pretendida a vinculação ou a equiparação entre servidores de Poderes e níveis federativos diferentes. STF. Plenário. ADI 6436/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

A norma impugnada previu que o subsídio da carreira de Procurador Legislativo da Assembleia Legislativa do Estado estaria atrelado, por um mecanismo de vinculação automática, ao subsídio dos Ministros do STF. Logo, há evidente inconstitucionalidade, por ofensa ao art. 37, X e XIII, da CF/88:

Art. 37 (...) X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; (...) XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público;

Perceba que a CF/88 estipulou uma vedação cabal à vinculação e à equiparação de vencimentos. Essa proibição alcança quaisquer espécies remuneratórias, ou seja, também se aplica para os subsídios.

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Salienta-se que, em recente julgado, o STF rechaçou a hipótese de reajuste automático pela vinculação de remuneração entre carreiras distintas:

(...) Ação direta conhecida e julgada procedente em parte para declarar inconstitucional a primeira parte do § 5º do art. 153 da Constituição do Amapá, com alteração da Emenda Constitucional n. 47/2012, pela qual vinculado o subsídio da última classe dos Procuradores do Amapá a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal. STF. Plenário. ADI 4898, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 04/10/2019.

Além disso, a vinculação de vencimentos de agentes públicos das esferas federal e estadual caracteriza afronta à autonomia federativa do estado-membro, que detém a iniciativa de lei para dispor sobre a concessão de eventual reajuste dos subsídios dos aludidos procuradores. Em outras palavras, o Estado-membro ficaria refém dos reajustes que ocorreriam de forma automática.

SERVIDORES PÚBLICOS É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço

público federal de servidor condenado pela prática de determinados fatos graves

O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público federal de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção.

Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter perpétuo.

STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020.

A situação concreta foi a seguinte: A Lei nº 8.112/90 é o Estatuto do Servidores Públicos Federais. O art. 137 da Lei nº 8.112/90 preconiza:

Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, por infringência do art. 117, incisos IX e XI, incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo público federal, pelo prazo de 5 (cinco) anos. Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público federal o servidor que for demitido ou destituído do cargo em comissão por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI.

O caput do art. 137 diz o seguinte: Se o servidor público for demitido ou destituído de cargo em comissão por ter violado o art. 117, IX e XI, ele poderá, depois de 5 anos, voltar a ser investido em novo cargo público federal. Ex: pode ser aprovado em novo concurso e assumir um cargo público federal. Veja o que dizem os incisos IX e XI do art. 117:

Art. 117. Ao servidor é proibido: (...) IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública; (...) XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro;

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O caput do art. 137 da Lei nº 8.112/90 é válido, sendo compatível com a Constituição Federal. Vejamos agora o que diz o parágrafo único do art. 137: Se o servidor público for demitido ou destituído de cargo em comissão por ter violado o art. 132, I, IV, VIII, X e XI, ele nunca mais poderá ser investido em novo cargo público federal.

Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: I - crime contra a administração pública; (...) IV - improbidade administrativa; (...) VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; (...) X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; XI - corrupção;

Assim, a norma proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção. Essa previsão do parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 é constitucional? NÃO. A Constituição Federal afirma que não haverá penas de caráter perpétuo:

Art. 5º (...) XLVII - não haverá penas: (...) b) de caráter perpétuo;

Esse art. 5º, XLVII, da CF/88 é uma garantia relacionada com sanções penais. Apesar disso, a doutrina destaca que é possível estendê-la para as sanções administrativas, considerando que existe um vínculo entre as duas esferas. Tanto a sanção penal como a sanção administrativa são esferas do poder sancionatório estatal. Conforme explicou o Min. Gilmar Mendes, o direito espanhol foi o pioneiro em estabelecer essa relação/comunicação entre as garantias penais e administrativas. No âmbito jurisprudencial, essa relação já foi reconhecida pelo STJ:

Consoante precisas lições de eminentes doutrinadores e processualistas modernos, à atividade sancionatória ou disciplinar da Administração Pública se aplicam os princípios, garantias e normas que regem o Processo Penal comum, em respeito aos valores de proteção e defesa das liberdades individuais e da dignidade da pessoa humana, que se plasmaram no campo daquela disciplina. STJ. 5ª Turma. RMS 24.559/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 03/12/2009.

É certo que essa transposição dos princípios e garantias penais para o direito administrativo sancionador exige adaptações, já que a extensão, à seara administrativa, de todo o rigoroso regime de procedimento e punição que envolve a restrição à liberdade de locomoção não se demonstra factível tampouco exigível. Um critério razoável para a delimitação constitucional da atividade punitiva está na impossibilidade da imposição de sanções administrativas mais graves que as penas aplicadas pela prática de crimes, já que o ilícito administrativo é um minus (algo menor) em relação às infrações penais.

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É nesse sentido que se conclui que a norma constante do art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88 se aplica às sanções administrativas para impedir a imposição de pena administrativa perpétua. Da possibilidade de regulamentação da questão pelo Congresso Nacional O STF fez uma observação: o fato de ter sido declarada a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 não significa que seja proibido estipular um prazo mínimo para que a pessoa condenada possa voltar a ocupar um cargo público. Assim, o Congresso Nacional pode editar lei fixando prazo, como o do caput do art. 137, para que o indivíduo condenado por fatos graves possa ter o direito de novamente ocupar um cargo público federal. O que não pode é essa proibição ser indefinida (perpétua) ou desproporcional. Desse modo, o STF declarou a inconstitucionalidade da norma, com a comunicação ao Congresso Nacional para que eventualmente delibere sobre o prazo de proibição de retorno ao serviço público a ser aplicado nas hipóteses do art. 132, I, IV, VIII, X e XI, da Lei nº 8.112/90. Em suma:

O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público federal de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção. Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter perpétuo. STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020.

DIREITO AMBIENTAL

PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio ambiente

sem que ela seja substituída ou atualizada por outra que também garanta proteção

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da pessoa humana.

A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta comprometer a observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais.

STF. Plenário. ADPF 747 MC-Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 27/11/2020 (Info 1000).

A situação concreta foi a seguinte: A Resolução 284/2001, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), dispõe sobre o licenciamento de empreendimentos de irrigação. A Resolução 302/2002 fixa parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente (APPs) de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. A Resolução 303/2002, por sua vez, prevê parâmetros e limites às APPs e considera que as áreas de dunas, manguezais e restingas têm função fundamental na dinâmica ecológica da zona costeira. Não é necessário que você conheça essas resoluções. O que eu gostaria que você entendesse apenas é que essas três Resoluções preveem mecanismos de proteção do meio ambiente. Em 2020, o Conama editou a Resolução 500, que revogou as três Resoluções acima mencionadas.

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ADPF O Partido dos Trabalhadores (PT) ajuizou ADPF contra a Resolução 500/2020. Para o autor, essas três Resoluções revogadas configuravam uma evolução no desenvolvimento nacional sustentável e na manutenção das zonas naturais preservadas, visando conter o “avanço desmedido e irresponsável” de empreendimentos que utilizam recursos hídricos, potencial de exploração turística e ecológica para a obtenção de lucros. O partido argumentou que a revogação das resoluções, sem outras regras que garantam o mesmo patamar de proteção, viola o art. 225 da Constituição Federal, que assegura o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida e impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as futuras gerações. O pedido formulado na ação foi, portanto, para que fosse reconhecida a inconstitucionalidade da Resolução 500/2020, do Conama, na parte em que revogou as Resoluções Conama 284/2001, 302/2002 e 303/2002. A Relatora, Min. Rosa Weber, monocraticamente, deferiu a medida liminar para suspender os efeitos da Resolução 500/2020 e o Plenário do STF se reuniu para decidir se referendava, ou não, a decisão. O STF concordou com a liminar deferida? SIM. O Plenário referendou as medidas cautelares concedidas em arguições de descumprimento de preceito fundamental, para suspender, até o julgamento de mérito da ação, os efeitos da Resolução Conama 500/2020, com a imediata restauração da vigência e eficácia das Resoluções Conama 284/2001, 302/2002 e 303/2002. As três resoluções editadas pelo Conama cumprem o comando constitucional de proteção do meio ambiente (art. 225 da CF/88). A revogação da Resolução Conama 284/2001 sinaliza dispensa de licenciamento para os empreendimentos de irrigação, mesmo que potencialmente causadores de modificações ambientais significativas. Essa situação configura efetivo descumprimento, pelo Poder Público, do seu dever de atuar no sentido de preservar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico dos ecossistemas. Também sugere estado de anomia regulatória, a evidenciar graves e imediatos riscos para a preservação dos recursos hídricos, em prejuízo da qualidade de vida das presentes e futuras gerações (art. 225, caput e § 1º, I). Apesar de ter sido apontada a necessidade de ajustes na norma, a simples revogação da Resolução Conama 302/2002 parece conduzir à intolerável situação de incompatibilidade com a ordem constitucional em matéria de proteção do meio ambiente. A revogação dela, assim como a da Resolução 303/2002, distancia-se dos objetivos definidos no art. 225 da CF, tais como explicitados na Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981), baliza material da atividade normativa do Conama. Em juízo de delibação, há aparente estado de anomia e de descontrole regulatório, a configurar material retrocesso no tocante à satisfação do dever de proteger e preservar o equilíbrio do meio ambiente, incompatível com a ordem constitucional e o princípio da precaução. Portanto, demonstrado o fumus boni juris. Noutro passo, o periculum in mora é evidenciado pelo elevado risco de degradação de ecossistemas essenciais à preservação da vida sadia, comprometimento da integridade de processos ecológicos essenciais e perda de biodiversidade, caso o ato normativo impugnado produza efeitos. Em suma:

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da pessoa humana.

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A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, compromete a observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. STF. Plenário. ADPF 747 MC-Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 27/11/2020 (Info 1000).

Um dos principais fundamentos para deferir a medida cautelar foi o princípio da proibição de retrocesso ambiental. Sobre o tema, vale a pena transcrever a lição do Ministro do STJ Herman Benjamin:

“É seguro afirmar que a proibição de retrocesso, apesar de não se encontrar, com nome e sobrenome, consagrada na nossa Constituição, nem em normas infraconstitucionais, e não obstante sua relativa imprecisão − compreensível em institutos de formulação recente e ainda em pleno processo de consolidação −, transformou-se em princípio geral do Direito Ambiental, a ser invocado na avaliação da legitimidade de iniciativas legislativas destinadas a reduzir o patamar de tutela legal do meio ambiente, mormente naquilo que afete em particular a) processos ecológicos essenciais, b) ecossistemas frágeis ou à beira de colapso, e c) espécies ameaçadas de extinção. (...) Violações ao princípio da proibição de retrocesso se manifestam de várias maneiras. A mais óbvia é a redução do grau de salvaguarda jurídica ou da superfície de uma área protegida (Parque Nacional, p. ex.); outra, menos perceptível e por isso mais insidiosa, é o esvaziamento ou enfraquecimento das normas de previsão de direitos e obrigações ou, por outro lado, os instrumentos de atuação do Direito Ambiental (Estudo Prévio de Impacto Ambiental, Áreas de Proteção Permanente, Reserva Legal, responsabilidade civil objetiva, p. ex.).” (BENJAMIN, Antonio Herman. Princípio da Proibição de Retrocesso Ambiental In Princípio da Proibição de Retrocesso Ambiental. Brasília: Senado Federal, 2012).

Confira agora a didática explicação de Leonardo Garcia e Romeu Tomé:

“Uma vez dotado o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado de status de direito fundamental, as garantias de proteção ambiental já conquistadas não podem retroagir. É inadmissível o recuo da salvaguarda ambiental para níveis de proteção inferiores aos já consagrados, a não ser que as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas. A expressão efeito cliquet é francesa e se origina da prática de alpinismo. Define um movimento que só permite que o alpinista siga para cima, ou seja, suba. O princípio da vedação do retrocesso ecológico, também conhecido por efeito cliquet ambiental, tem por escopo obstar medidas legislativas e executivas que implementem um efeito cliquet (na concepção jurídica esse termo francês assume acepção de 'não retrocesso') ou um efeito catraca, em relação ao direito ambiental. Não se pode, por exemplo, revogar uma lei que proteja o meio ambiente sem, no mínimo, substituí-la por outra que ofereça garantias com eficácia similar.” (GARCIA, Leonardo; TOMÉ, Romeu. Direito Ambiental. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 69).

(Promotor MP/BA 2010) O princípio da proibição do retrocesso ecológico limita a discricionariedade do legislador a só legislar progressivamente, com o fito de não diminuir ou mitigar o direito fundamental ao Meio Ambiente. (certo)

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DIREITO CIVIL

CONDOMÍNIO EDILÍCIO É possível a cobrança, por parte de associação, de taxas de manutenção

e conservação de loteamento fechado de proprietário não-associado

Importante!!!

É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna possível a cotização dos proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso controlado, que:

i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de imóveis; ou

ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no competente Registro de Imóveis.

STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 492).

O tema deve ser analisado antes e depois da Lei nº 13.465/2017. ANTES DA LEI Nº 13.465/2017

“Loteamentos fechados” (antiga nomenclatura utilizada na prática antes da Lei nº 13.465/2017) O custo e a lista de exigências necessárias para se constituir um condomínio edilício é muito grande, especialmente em se tratando de condomínio de casas, devendo ser observados os ditames da Lei nº 4.591/64. Em virtude dessa imensa burocracia, se formos pensar em 20 ou 30 anos atrás, iremos recordar que havia pouquíssimos condomínios edilícios de casas (na linguagem popular: “condomínios fechados” de casas). Ou a pessoa morava em um bairro residencial (aberto, sem condomínio) ou, então, em condomínios edilícios de prédios (chamados de condomínio edilício horizontal). Ocorre que a violência no país cresceu bastante, o que fez com que as incorporadoras e imobiliárias passassem a oferecer aos consumidores cada vez mais opções de condomínios edilícios de casas (condomínios “fechados” de casas), com guarita, vigilantes armados, área de lazer etc. Tais condomínios, no entanto, são, em geral, muito caros e inacessíveis a boa parte da população. A fim de se proteger da violência, os moradores de alguns bairros residenciais começaram a se reunir e a constituir associações de bairros, recolhendo contribuições dos habitantes daquele conjunto e, com o dinheiro arrecadado, fizeram cancelas nas ruas, contrataram seguranças particulares e, aquilo que era um bairro residencial, com acesso livre para qualquer pessoa, transformou-se em um “loteamento fechado” (ou condomínio de fato) de casas, com acesso restrito por meio de controle de cancela e portaria. A ideia parece excelente. O problema é que essa “transformação” era feita sem a observância da Lei do parcelamento do solo urbano (Lei nº 6.766/79), do Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001) e do plano diretor do Município, já que as exigências burocráticas são imensas e praticamente impossíveis de serem atendidas por um simples grupo de moradores. Além do que, no condomínio edilício de casas, o incorporador compra um terreno e as ruas ali existentes são privadas (particulares), enquanto que no “fechamento” de um bairro residencial, as casas são privadas, mas as ruas são públicas (bens de uso comum do povo), o que torna ainda mais questionável a regularidade desse “fechamento”. Tais bairros que se transformam em “loteamentos fechados”, por não atenderem a legislação, não existem juridicamente, sendo, por essa razão, chamados de “condomínios de fato”.

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Taxa de manutenção do loteamento fechado Para pagar os serviços que serão feitos no loteamento fechado (exs: porteiro, cancela, vigilantes, limpeza etc.), é necessário que os moradores façam uma cota mensal. É como se fosse uma taxa condominial semelhante àquelas que são cobradas nos condomínios edilícios. Existe, contudo, uma importante diferença: no condomínio edilício, o pagamento dessa cota é um dever dos condôminos previsto em lei (art. 1.336, I, do CC); o condomínio de fato (ou loteamento fechado), por outro lado, não existia juridicamente e não havia lei obrigando que os moradores arcassem com essa quantia.

Diante disso, surgiu o seguinte questionamento: antes da Lei nº 13.465/2017 todos os moradores do bairro/conjunto habitacional que foi “fechado” e “transformado” em um loteamento fechado eram obrigados a pagar essa taxa de manutenção? NÃO. O STJ apreciou o tema e afirmou o seguinte:

Os moradores que não quiserem se associar ou que não anuíram à constituição desse condomínio de fato não são obrigados a pagar. Em nosso ordenamento jurídico, somente existem duas fontes de obrigações: a LEI ou o CONTRATO. No caso concreto, não há lei que obrigue o pagamento dessa taxa; de igual forma, se o morador não quis participar da associação de moradores nem anuiu à formação desse condomínio de fato, ele não poderá ser compelido a pagar. As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não associados. STJ. 2ª Seção. REsp 1.280.871-SP e REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. Marco Buzzi, julgados em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562)

O STF também chegou a conclusão semelhante:

É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017. STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 492).

O fato de o morador se beneficiar dos serviços não é suficiente para que ele seja obrigado a pagar? Não haveria um enriquecimento sem causa do morador? NÃO. Não se pode entender que o morador, ao gozar dos serviços organizados em condomínio de fato por associação de moradores, aceitou tacitamente participar de sua estrutura orgânica. Na ausência de uma legislação que regule especificamente a matéria em análise, deve preponderar o exercício da autonomia da vontade e ninguém pode ser compelido a fazer algo senão em virtude de lei. Não se pode falar em enriquecimento sem causa do morador. Isso porque ele é livre para se associar ou não e, não sendo associado, não pode ser obrigado a pagar. A liberdade de associação é um direito constitucional e não pode ser mitigado ou contrariado sob o fundamento do princípio do enriquecimento sem causa. DEPOIS DA LEI Nº 13.465/2017

O legislador, todavia, atento à celeuma envolvendo essa espécie de organização dos lotes, editou a Lei nº 13.465/2017, que, dentre outros diversos temas relativos à regularização fundiária, modificou o teor da Lei nº 6.766/79, para nela inserir modalidade de loteamento nominada “de acesso controlado” (art. 2º, §8º). Eis a descrição utilizada para a nova figura:

Art. 2º (...) § 8º Constitui loteamento de acesso controlado a modalidade de loteamento, definida nos termos do § 1º deste artigo, cujo controle de acesso será regulamentado por ato do poder público Municipal, sendo vedado o impedimento de acesso a pedestres ou a condutores de veículos, não residentes, devidamente identificados ou cadastrados.

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Também foi inserido um artigo na Lei nº 6.766/70 tratando sobre a constituição de associações para a “administração” das áreas públicas de uso comum:

Art. 36-A. As atividades desenvolvidas pelas associações de proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos ou empreendimentos assemelhados, desde que não tenham fins lucrativos, bem como pelas entidades civis organizadas em função da solidariedade de interesses coletivos desse público com o objetivo de administração, conservação, manutenção, disciplina de utilização e convivência, visando à valorização dos imóveis que compõem o empreendimento, tendo em vista a sua natureza jurídica, vinculam-se, por critérios de afinidade, similitude e conexão, à atividade de administração de imóveis. Parágrafo único. A administração de imóveis na forma do caput deste artigo sujeita seus titulares à normatização e à disciplina constantes de seus atos constitutivos, cotizando-se na forma desses atos para suportar a consecução dos seus objetivos.

A Lei nº 13.465/2017 previu, portanto, a obrigatoriedade de cotização, entre os beneficiários, das atividades desenvolvidas por associações de proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos ou empreendimentos assemelhados, desde que assim previsto no ato constitutivo das organizações respectivas. As disposições da Lei nº 13.465/2017 regularizaram os “loteamentos fechados” que haviam sido constituídos antes da sua vigência? NÃO. As alterações promovidas pela Lei nº 13.465/2017 não se aplicam às relações jurídicas existentes antes de sua edição, em razão do princípio da irretroatividade das leis. Em decorrência disso, a mencionada lei não pode retroagir para conferir às associações (como uma das possíveis configurações de “administradora de imóveis”) o direito de cobrar de proprietário não-associado taxas ou encargos relativos ao rateio de serviços prestados em loteamentos de acesso controlado, nos termos da novel legislação. Nesse sentido:

(...) 2. A jurisprudência desta Casa, firmada sob o rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC/1973), no julgamento dos Recursos Especiais n. 1.439.163/SP e 1.280.871/SP, realizado pela Segunda Seção, em 11/3/2015, DJe de 22/5/2015, sendo o relator para acórdão o Ministro Marco Buzzi, pacificou que "as taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não associados ou que a elas não anuíram". (...) 2.2. O art. 36-A da Lei 6.766/1979, o qual foi incluído pela Lei n. 13.465/2017, não se aplica ao caso dos autos, tendo em vista que a lei nova não pode retroagir para conferir à associação embargante o direito de cobrar as pretendidas despesas decorrentes de serviços condominiais, tampouco afasta a exigência de que o recorrido seja associado ou tenha aderido ao ato que instituiu o encargo. 2.3. A existência de associação, a fim de reunir moradores com o objetivo de defesa e preservação de interesses comuns em área habitacional, não possui o caráter de condomínio e, portanto, não possui natureza de dívida propter rem. (...) STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1871018/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/09/2020.

Qual foi, então, o impacto causado pelo advento da Lei nº 13.465/2017 nos chamados loteamentos fechados regulares, ora nominados loteamentos de acesso controlado? Houve a clara intenção do legislador federal de, por meio da Lei nº 13.465/2017, editar um parâmetro normativo apto a favorecer a regularização fundiária dessa configuração de lotes, seja para lhe reconhecer a formatação que, na prática, já vinha sendo observada (controle de acesso ao loteamento), seja para permitir vincular os titulares de direitos sobre os lotes à cotização (art. 36-A, caput e parágrafo único). A Lei nº 13.465/2017 trouxe duas importantes equiparações:

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a) equiparou a associação (de proprietários de imóveis, titulares de direitos sobre os lotes ou moradores de loteamento) ou qualquer entidade civil organizada com os mesmos fins à administradora de imóveis; e b) equiparou os loteamentos de acesso controlado (loteamentos regulares, portanto) a condomínios edilícios. No tocante à equiparação dos loteamentos de acesso controlado a condomínios edilícios, traz-se o posicionamento de Flávio Tartuce:

“(...) como avanço, preceitua o novo § 2º do art. 1.358-A do CC /2002 que se aplica, no que couber, ao condomínio de lotes, o disposto sobre condomínio edilício neste Capítulo, respeitada a legislação urbanística. Assim, entendo que se resolve o problema anterior a respeito da obrigatoriedade do pagamento das contribuições no condomínio de lotes. Com a aplicação das regras gerais do condomínio edilício, cada condômino do loteamento de casas estará sujeito aos deveres previstos no art. 1.336 do Código Civil e às penalidades ali consagradas, inclusive para os casos de condômino nocivo ou antissocial, tratado no comando seguinte” (TARTUCE, Flávio. A lei da regularização fundiária (Lei 13.465/2017): análise inicial de suas principais repercussões para o direito de propriedade. https://periodicos.unifor.br/rpen/article/viewFile/7800/pdf).

Desse modo, por força das equivalências estabelecidas pela Lei nº 13.465/2017, abriu-se a possibilidade de cotização entre os beneficiários das atividades desenvolvidas pelas associações, desde que assim previsto no ato constitutivo das organizações. Cabe aqui recordar que, por óbvio, a lei se dirige aos loteamentos regularmente constituídos, ou seja, com aprovação junto ao poder público municipal e competente registro no cartório de imóveis. Assim, para que exsurja para os beneficiários o dever obrigacional de contraprestação pelas atividades desenvolvidas pelas associações (ou outra entidade civil organizada) em loteamentos, é necessário que a obrigação esteja disposta em ato constitutivo firmado após o advento da Lei nº 13.465/2017 (e que este esteja registrado na matrícula atinente ao loteamento no competente Registro de Imóveis, a fim de se assegurar a necessária publicidade ao ato). Uma vez atendidos os requisitos previstos no art. 36-A, parágrafo único, da Lei nº 6.766/79, com a redação dada pela Lei nº 13.465/2017, os atos constitutivos da administradora de imóveis vinculam tanto os já titulares de direitos sobre lotes que anuíram com a sua constituição quanto os novos adquirentes de imóveis em loteamentos como decorrência da publicidade conferida à obrigação averbada no registro do imóvel. Algumas leis municipais, mesmo antes da Lei nº 13.465/2017, já autorizavam que as associações de moradores cobrassem essas contribuições. Essas leis municipais são válidas? SIM. A edição de leis municipais dessa espécie tem por objetivo disciplinar a ocupação do solo urbano e está inserida na competência normativa conferida pela Constituição Federal aos Municípios e ao Distrito Federal. Nada impede que a matéria seja disciplinada pelo Município no próprio Plano Diretor ou em ato normativo separado. Logo, se essa cobrança tivesse sido instituída com base em lei municipal, ela também já era válida, mesmo antes da Lei Federal nº 13.465/2017. A tese fixada foi a seguinte:

É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna possível a cotização dos proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso controlado, que:

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i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de imóveis; ou ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no competente Registro de Imóveis. STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 492).

Em palavras mais simples: É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano antes da Lei Federal nº 13.465/2017 ou antes de Lei municipal que disciplinasse o tema. A partir de lei municipal ou da Lei Federal nº 13.465/2017, tornou-se possível cobrança de cotas dos moradores dos loteamentos de acesso controlado, desde que: i) este morador já possuísse lote quando entrou em vigor a lei e ele aderiu expressamente ao ato constitutivo da associação; ou ii) sendo novo adquirente de lotes, ele estará vinculado se o ato constitutivo da obrigação estiver registrado no cartório de Registro de Imóveis.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CONTRATOS BANCÁRIOS É inconstitucional norma que autoriza os bancos a cobrarem tarifa pelo simples fato de

disponibilizarem o serviço de “cheque especial”, ainda que ele não seja utilizado

Importante!!!

Contraria o ordenamento jurídico-constitucional a permissão dada por resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) às instituições financeiras para cobrarem tarifa bancária pela mera disponibilização de crédito ao cliente na modalidade “cheque especial”.

STF. Plenário. ADI 6407 MC-Ref /DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

“Cheque especial” É comum que os bancos, ao oferecerem seus serviços, firmem um contrato de abertura de crédito rotativo com seus clientes. Por meio deste contrato de abertura de crédito rotativo, o banco se compromete a disponibilizar determinada quantia (chamada comumente de “limite”) ao seu cliente, que poderá, ou não, utilizar-se desse valor a título de empréstimo. É o que é vulgarmente conhecido como “cheque especial”. Ex.: a microempresa “XXX” abriu uma conta-corrente no Banco “B”. Dentre todos os papeis que o administrador da empresa assinou, estava um contrato de abertura de crédito rotativo, por meio do qual, mesmo que a empresa não tivesse dinheiro em sua conta, teria disponível a quantia de R$ 50 mil para saque. Este valor, se sacado, constitui-se em um empréstimo, devendo ser devolvido com juros e correção monetária ao banco.

Resolução nº 4.765/2019 O Conselho Monetário Nacional (CMN) editou a Resolução nº 4.765/2019, que, em seu art. 2º, passou a admitir a cobrança de tarifa pela oferta de cheque especial por instituições financeiras mesmo que o serviço não seja utilizado:

Art. 2º Admite-se a cobrança de tarifa pela disponibilização de cheque especial ao cliente. (...)

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Essa previsão é válida? NÃO. O STF referendou a medida cautelar concedida monocraticamente pelo Ministro Relator Gilmar Mendes e decidiu suspender a eficácia do art. 2º da Resolução CMN 4.765/2019 até que ocorra o julgamento de mérito da ação. Segundo entenderam os Ministros:

Há indícios de contrariedade ao ordenamento jurídico-constitucional a permissão dada por resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) às instituições financeiras para cobrarem tarifa bancária pela mera disponibilização de crédito ao cliente na modalidade “cheque especial”. STF. Plenário. ADI 6407 MC-Ref /DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

A Resolução do CMN não pode excluir ou limitar a proteção concedida ao consumidor pela Constituição Federal. A autorização de cobrança pela mera disponibilização do serviço coloca o consumidor em situação de vulnerabilidade econômico-jurídica, em descumprimento ao mandamento constitucional de proteção ao consumidor, previsto no art. 5º, XXXII, e no art. 170, V, da CF/88:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) V – defesa do consumidor;

As instituições financeiras não podem cobrar por serviço de disponibilização e/ou manutenção mensal de cheque especial, uma vez que a cobrança dos juros é permitida tão somente quando houver a efetiva utilização e sempre proporcional ao valor e ao tempo usufruídos. A cobrança da “tarifa” (pagamento pela simples disponibilização) camufla o adiantamento da cobrança pela remuneração do capital (juros), de maneira que há uma desnaturação da natureza jurídica da “tarifa bancária” para abarcar todos aqueles que possuem a disponibilização do limite, inclusive, quem não utiliza o crédito efetivamente na modalidade de “cheque especial”.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas

contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim

Importante!!!

Posição mais atual sobre o tema!

Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88.

STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em sentido contrário proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF

O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte:

Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não o Supremo Tribunal Federal.

O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional.

Assim, o CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência originária do STF.

STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

Competência para julgar demandas contra o CNJ e o CNMP A CF/88 prevê, em seu art. 102, I, “r”:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: (...) r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela EC 45/2004)

Interpretação restritiva conferida pelo STF (superada) Até bem pouco tempo, o STF conferia uma interpretação restritiva a esse dispositivo. O STF dizia que ele somente seria competente para julgar as ações em que o próprio CNJ ou CNMP (que não possuem personalidade jurídica própria) figurassem no polo passivo. Seria o caso de mandados de segurança, habeas corpus e habeas data contra os Conselhos.

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Na hipótese de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP, quem irá figurar como ré no processo é a União, já que os Conselhos são órgãos federais. Logo, tais demandas, segundo essa interpretação restritiva, seriam julgadas pela Justiça Federal de 1ª instância, com base no art. 109, I, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Esse entendimento estava pacificado no STF, existindo inúmeros julgados nesse sentido. Por exemplo: AO 1706 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/12/2013; AO 1894 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 07/08/2018; ACO 2148 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/09/2016. Resumindo essa posição restritiva: Competência para julgar ações contra o CNJ e CNMP: • MS, HS e habeas data: competência do STF (art. 102, I, “r”, da CF/88); • Ações ordinárias: competência do Juiz federal (1ª instância) (art. 109, I, da CF/88). Mudança de entendimento Ocorre que o STF mudou seu entendimento e abandonou a interpretação restritiva acima exposta. Entendimento atual: compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88. STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

O art. 102, I, “r”, da CF/88 não restringiu a competência para determinadas ações A Constituição Federal determina que o STF julgue as ações propostas contra o CNJ e CNMP, não havendo, no art. 102, I, “r”, nenhuma restrição ou diferenciação quanto ao instrumento processual a ser utilizado. Quando a CF/88 quis restringir a competência do STF para determinados tipos de “ação”, ela o fez expressamente, como é o caso do art. 102, I, “d”:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: (...) d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;

Na alínea “r” não houve, portanto, nenhuma restrição, razão pela qual não se deve fazer essa interpretação restritiva.

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 29

Isso não significa que o STF vá julgar toda e qualquer ação ordinária contra os Conselhos, mas apenas quando o CNJ ou o CNMP atuar no exercício de suas competências Vimos acima que a alínea “r” é ampla, não diferenciando o tipo de ação. Logo, aquela distinção antiga que era feita entre o instrumento processual (se ação ordinária ou ação tipicamente constitucional), não faz sentido e foi abandonada. A despeito disso, o STF afirmou que ele não irá julgar toda e qualquer ação ordinária contra atos daqueles conselhos constitucionais. A regra de competência deve ser interpretada de acordo com os fins que justificaram a inclusão dessa alínea “r” pela EC 45/2004. A competência do STF para julgar ações contra o CNJ e CNMP somente se justifica se o ato praticado tiver um cunho finalístico, estando relacionado com os objetivos precípuos que justificaram a criação dos conselhos, a fim de garantir uma proteção institucional a eles. A outorga da atribuição ao Supremo para processar e julgar ações contra os Conselhos é mecanismo constitucional delineado pelo legislador com o objetivo de proteger e viabilizar a atuação desses órgãos de controle. A realização da missão constitucional ficaria impossibilitada ou seriamente comprometida se os atos por eles praticados estivessem sujeitos ao crivo de juízos de primeira instância. Não raramente, a atuação do CNJ recai sobre questões locais delicadas e que mobilizam diversos interesses. O distanciamento das instâncias de controle jurisdicional é elemento essencial para o desempenho apropriado das funções. Ademais, o órgão de controle atua em questões de abrangência nacional que demandam tratamento uniforme e ação coordenada. Por essa razão, não poderiam ser adequadamente enfrentadas por juízos difusos. A submissão de atos do CNJ à análise de órgãos jurisdicionais distintos do STF representaria a subordinação da atividade da instância fiscalizadora aos órgãos e agentes públicos por ele fiscalizados, o que subverte o sistema de controle proposto constitucionalmente. Deve ser mantida a higidez do sistema e preservada a hierarquia e a autoridade do órgão de controle. Desse modo, compete ao STF julgar todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP (não importando se ações ordinárias ou writs constitucionais), mas desde que proferidas no exercício de suas competências constitucionais, o que está previsto nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88. Art. 106 do Regimento Interno do CNJ é constitucional O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte:

Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não o Supremo Tribunal Federal.

Ex: o CNJ determinou a vacância de determinada serventia registral (“cartório”) afirmando que o atual titular (registrado) encontra-se indevidamente investido porque não foi aprovado em concurso. Na linguagem popular, o CNJ determinou que o registrador “saia do cartório”. Esse registrador ingressa com ação na Justiça Federal e obtém uma decisão provisória por meio da qual ele pode continuar no cartório. Por força desse art. 106 do Regimento Interno, o CNJ poderá ordenar que o registrador e o Tribunal de Justiça cumpram imediatamente a sua decisão administrativa independentemente da decisão proferida pelo Juiz Federal. Isso porque a decisão do CNJ somente poderia ser revertida pelo STF, nos termos do art. 102, I, “r”, da CF/88. Esse art. 106 do Regimento Interno é válido? SIM. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) propôs uma ADI contra esse dispositivo, mas o STF julgou improcedente o pedido e afirmou que é constitucional o art. 106 do Regimento Interno do CNJ, na redação dada pela Emenda Regimental 1/2010.

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 30

Essa previsão regimental decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional. A aludida norma nada mais faz do que explicitar o alcance do art. 102, I, “r”, da CF/88, impedindo que decisões proferidas ao arrepio das regras constitucionais de competência — portanto, flagrantemente nulas — comprometam o bom desempenho das atribuições do CNJ. Permitir que decisões administrativas do CNJ sejam afastadas liminarmente órgãos absolutamente incompetentes implicaria, indiretamente, a inviabilização do exercício de suas competências constitucionais.

O CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência originária do STF. STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

DIREITO PENAL

LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público pelo

simples fato de ele ter sido indiciado pela prática de crime

Importante!!!

É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.

Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98):

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno.

O afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder Judiciário.

STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

Veja comentários em Direito Processual Penal.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO É inconstitucional foro por prerrogativa de função para

Procuradores do Estado e Defensores Públicos

Importante!!!

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA, ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 Ref-MC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 20/11/2020 (Info 1000).

O que é foro por prerrogativa de função? Trata-se de uma prerrogativa prevista pela Constituição, segundo a qual as pessoas ocupantes de alguns cargos ou funções somente serão processadas e julgadas criminalmente (não engloba processos cíveis) por determinados Tribunais (TJ, TRF, STJ, STF). Razão de existência O foro por prerrogativa de função existe porque se entende que, em virtude de determinadas pessoas ocuparem cargos ou funções importantes e de destaque, somente podem ter um julgamento imparcial e livre de pressões se forem julgadas por órgãos colegiados que componham a cúpula do Poder Judiciário. Ex: um Desembargador, caso pratique um delito, não deve ser julgado por um juiz singular, nem pelo Tribunal do qual faz parte, mas sim pelo STJ, órgão de cúpula do Poder Judiciário e, em tese, mais adequado para, no caso concreto, exercer a atividade com maior imparcialidade. Ex2: caso um Senador da República cometa um crime, ele será julgado pelo STF. Foro por prerrogativa de função fixado pela Constituição Estadual As Constituições Estaduais preveem foro por prerrogativa de função para determinadas autoridades. Em outras palavras, as Cartas estaduais dizem que, se determinadas autoridades cometerem crimes, elas serão julgadas pelo Tribunal de Justiça (e não pelo juiz de 1ª instância). É o caso, por exemplo, do Vice-Governador e dos Deputados Estaduais. O STF tem julgado se as Constituições Estaduais podem conferir foro por prerrogativa de função para determinadas autoridades, como é o caso de membros da PGE, da Defensoria Pública e da Polícia Civil. O que a Corte tem decidido? A Constituição Estadual pode conferir foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado? NÃO. É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado.

A Constituição Federal estabelece, como regra, com base no princípio do juiz natural e no princípio da igualdade, que todos devem ser processados e julgados pelos mesmos órgãos jurisdicionais. Em caráter excepcional, o texto constitucional estabelece o chamado foro por prerrogativa de função com diferenciações em nível federal, estadual e municipal. Impossibilidade de a Constituição Estadual, de forma discricionária, estender o chamado foro por prerrogativa de função àqueles que não abarcados pelo legislador federal. STF. Plenário. ADI 2553, Rel. Gilmar Mendes, Relator p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 15/05/2019 (Info 940).

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Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA, ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 Ref-MC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 20/11/2020 (Info 1000).

Procuradores da ALE e Delegados de Polícia também não podem ter foro por prerrogativa de função

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940).

MEDIDAS CAUTELARES É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público pelo

simples fato de ele ter sido indiciado pela prática de crime

Importante!!!

É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.

Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98):

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno.

O afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder Judiciário.

STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

Afastamento automático do servidor público indiciado por lavagem de dinheiro O art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98) prevê o seguinte:

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. (Incluído pela Lei nº 12.683/2012)

A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) ajuizou ADI contra o dispositivo alegando que ele violaria os princípios constitucionais da presunção de inocência, da segurança jurídica, da razoabilidade e da proporcionalidade, do devido processo legal, do contraditório e ampla defesa e da inafastabilidade da jurisdição.

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 33

O que o STF decidiu? O pedido foi julgado procedente? A previsão é inconstitucional? SIM. O STF julgou inconstitucional o art. 17-D da Lei nº 9.613/98. Afastamento deve ser apreciado pelo Poder Judiciário O afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder Judiciário. A necessidade concreta de afastar o servidor pode ocorrer a partir de representação da autoridade policial ou do Ministério Público, na forma de medida cautelar diversa da prisão, conforme preveem os arts. 282, § 2º, e 319, VI, do CPP. Afronta ao princípio da proporcionalidade O indiciamento representa a análise técnico-jurídica do Delegado de Polícia que concluiu pela probabilidade do crime objeto da investigação. Trata-se, contudo, de um juízo prévio (pré-processual) e não vinculante. Logo, tendo em vista as características do sistema acusatório, o Ministério Público não está obrigado a seguir o indiciamento realizado pela autoridade policial. Pelo art. 17-D, o afastamento do servidor estaria automaticamente vinculado ao indiciamento, que é uma atividade discricionária da autoridade policial, ocorrendo independentemente do início da ação penal e da análise dos requisitos necessários para a efetivação dessa grave medida constritiva. Afastar o servidor nesses moldes, com o mero indiciamento, viola o princípio da proporcionalidade. O ato de indiciamento não gera e não pode gerar efeitos materiais em relação ao indiciado, já que se trata de mero ato de imputação de autoria de natureza preliminar, provisória e não vinculante ao titular da ação penal. Presunção de inocência A presunção de inocência exige que a imposição de medidas coercitivas ou constritivas aos direitos dos acusados, no decorrer de inquérito ou processo penal, seja amparada em requisitos concretos que sustentam a fundamentação da decisão judicial impositiva, não se admitindo efeitos cautelares automáticos ou desprovidos de fundamentação idônea. Violação à isonomia Vale ainda mencionar um último argumento: a norma do art. 17-D viola também o princípio da isonomia. Isso porque ela faz uma distinção sem sentido entre acusados que foram previamente indiciados de acusados que não foram indiciados. O inquérito policial e o indiciamento são dispensáveis, ou seja, o MP pode oferecer a denúncia mesmo que não sejam realizados. Isso significa que a norma do art. 17-D cria uma distinção sem sentido: os acusados que foram previamente indiciados pela autoridade policial estarão afastados de suas funções. Por outro lado, os acusados que foram denunciados sem prévio indiciamento irão permanecer, em regra, no exercício de seus cargos. Existem normas jurídicas que determinam o afastamento, mas não com o mero indiciamento Importante destacar que existem normas no ordenamento jurídico nacional que preveem o afastamento de servidor investigado por crimes graves, mas exigem representação da autoridade policial ou do Ministério Público, bem como decisão judicial fundamentada para a imposição da medida, verificando-se sua necessidade e proporcionalidade no confronto entre os interesses públicos e os interesses individuais do investigado. Cite-se, por exemplo, o art. 2º, § 5º, da Lei de Organização Criminosa (Lei nº 12.850/2013), que prevê a reserva de jurisdição para o afastamento cautelar de servidor público:

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 34

Art. 2º (...) § 5º Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual.

No mesmo sentido, o art. 56, § 1º, da Lei nº 11.343/2006:

Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais. § 1º Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público, comunicando-se ao órgão respectivo. (...)

Percebe-se que tais normas, instituídas para o combate de crimes tão graves quanto a lavagem ou ocultação de capitais, determinam que o afastamento do servidor, além de depender de decisão judicial, deve fundar-se em juízo de valor específico, qual seja, o prejuízo à investigação criminal, à instrução processual e, por que não, à reiteração criminosa, decorrentes da manutenção do servidor público em suas funções. Daí que o afastamento, considerando a necessidade de fundamentação específica da decisão, não pode ser consequência automática prevista em lei para o ato administrativo do indiciamento, ou mesmo o recebimento da denúncia oferecida, obedecendo-se, com isto, ao princípio constitucional da proporcionalidade das medidas restritivas de direitos. Em suma:

É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores. STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO FINANCEIRO Ainda que sob o argumento da pandemia da Covid-19, não pode ser atendido pedido feito por

Governador do Estado para que sejam afastadas as limitações da Lei de Responsabilidade Fiscal referentes a execução de gastos públicos continuados

Covid-19

Os limites da despesa total com pessoal e as vedações à concessão de vantagens, reajustes e aumentos remuneratórios previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal somente podem ser afastados quando a despesa for de caráter temporário, com vigência e efeitos restritos à duração da calamidade pública, e com propósito exclusivo de enfrentar tal calamidade e suas consequências sociais e econômicas.

STF. Plenário. ADI 6394/AC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 35

A situação concreta foi a seguinte: O Governador do Estado do Acre ajuizou ADI no STF pedindo para que, durante o período da pandemia, fossem afastadas as limitações previstas Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000) sobre despesas com pessoal em relação aos servidores da área de saúde, indispensáveis ao combate à pandemia do novo coronavírus. Ele argumentou que a aplicação literal da LRF impossibilitaria a concretização de políticas públicas, principalmente as relacionadas ao direito à saúde. Desse modo, na ação, o Governador pediu que o STF conferisse interpretação conforme à Constituição aos arts. 19, 20, 21, 22 e 23 da LC 101/2000. O STF acolheu o pedido? NÃO. Como medida de combate aos efeitos negativos decorrentes da pandemia de COVID-19, o Congresso Nacional promulgou a EC 106/2020 (conhecida como “orçamento de guerra”), que instituiu o “regime extraordinário fiscal, financeiro e de contratações para enfrentamento de calamidade pública nacional decorrente de pandemia”. A EC 106/2020 autoriza que todos os entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) possam flexibilizar as limitações legais relacionadas com aumento de despesas, desde que isso não implique despesas permanentes. Explicando melhor. Existem algumas limitações impostas na Lei de Reponsabilidade Fiscal para a realização de medidas governamentais que: • gerem aumento de despesa; ou • concedam incentivos ou benefícios tributários (renúncia de receita). Durante o regime extraordinário, as proposições legislativas e os atos do Poder Executivo que tenham o propósito exclusivo de enfrentar a calamidade e suas consequências sociais e econômicas ficam dispensados da observância dessas limitações legais, desde que isso não implique em despesas permanentes. É o que prevê, com uma confusa redação, o caput do art. 3º da EC 106/2020:

Art. 3º Desde que não impliquem despesa permanente, as proposições legislativas e os atos do Poder Executivo com propósito exclusivo de enfrentar a calamidade e suas consequências sociais e econômicas, com vigência e efeitos restritos à sua duração, ficam dispensados da observância das limitações legais quanto à criação, à expansão ou ao aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento de despesa e à concessão ou à ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita.

Assim, conforme se constata da leitura do art. 3º da EC 106/2020, os pressupostos para que determinada despesa esteja desobrigada das limitações fiscais ordinárias, entre as quais aquelas previstas no art. 22 da LRF, são: a) a exclusividade (a despesa deve ter como único propósito o enfrentamento da calamidade pública e suas consequências sociais e econômicas) e b) a temporariedade (a despesa deve ser necessariamente transitória e com vigência restrita ao período da calamidade pública). Nesse contexto, medida que acarrete a execução de gastos públicos continuados, como a contratação e aumento remuneratório e concessão de vantagens a servidores da área da saúde, não encontra fundamento constitucional, nem mesmo no regime fiscal extraordinário estabelecido pela EC 106/2020.

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 36

O Governador do Acre pretendia o afastamento das limitações para a execução de gastos públicos continuados/permanentes (não restritos à pandemia). Essa pretensão não encontra fundamento constitucional, nem mesmo no regime fiscal extraordinário estabelecido pela EC 106/2020. Além disso, o Min. Alexandre de Moraes citou informações trazidas aos autos pela Presidência da República, em nota técnica da Secretaria do Tesouro Nacional, que atestam “o delicado quadro fiscal” em que se encontra o Acre, cuja relação da despesa total com pessoal sobre a Receita Corrente Líquida atingiu 53,74% em dezembro de 2019 (antes da pandemia), enquanto o limite legal é de 49%. Por isso, o pedido formulado na ADI esbarra também nos princípios da eficiência da administração pública e da prudência fiscal (art. 37, caput, e art. 169 da Constituição Federal). Em suma:

Os limites da despesa total com pessoal e as vedações à concessão de vantagens, reajustes e aumentos remuneratórios previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal somente podem ser afastados quando a despesa for de caráter temporário, com vigência e efeitos restritos à duração da calamidade pública, e com propósito exclusivo de enfrentar tal calamidade e suas consequências sociais e econômicas. STF. Plenário. ADI 6394/AC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000).

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-19 representa violação a

preceitos fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os princípios da publicidade e transparência da Administração Pública e o direito à saúde. ( )

2) É inconstitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia móvel e fixa disponibilizarem, em portal da “internet”, extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados na modalidade de planos “pré-pagos”. ( )

3) É constitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do cumprimento de obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos consignados no período da pandemia da Covid-19. ( )

4) Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88. ( )

5) É constitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado. ( )

6) É inconstitucional a fixação de critério de desempate em concursos públicos que favoreça candidatos que pertencem ao serviço público de um determinado ente federativo. ( )

7) Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. ( )

8) É inconstitucional lei que equipara, vincula ou referencia espécies remuneratórias devidas a cargos e carreiras distintos, especialmente quando pretendida a vinculação ou a equiparação entre servidores de Poderes e níveis federativos diferentes. ( )

9) É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço público federal de servidor condenado pela prática de determinados fatos graves. ( )

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 37

10) O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da pessoa humana. A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta comprometer a observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. ( )

11) (Promotor MP/BA 2010) O princípio da proibição do retrocesso ecológico limita a discricionariedade do legislador a só legislar progressivamente, com o fito de não diminuir ou mitigar o direito fundamental ao Meio Ambiente. ( )

12) É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna possível a cotização dos proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso controlado, que: i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de imóveis; ou ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no competente Registro de Imóveis. ( )

13) Contraria o ordenamento jurídico-constitucional a permissão dada por resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) às instituições financeiras para cobrarem tarifa bancária pela mera disponibilização de crédito ao cliente na modalidade “cheque especial”. ( )

14) É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores. ( )

15) Os limites da despesa total com pessoal e as vedações à concessão de vantagens, reajustes e aumentos remuneratórios previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal somente podem ser afastados quando a despesa for de caráter temporário, com vigência e efeitos restritos à duração da calamidade pública, e com propósito exclusivo de enfrentar tal calamidade e suas consequências sociais e econômicas. ( )

Gabarito

1. C 2. E 3. E 4. C 5. E 6. C 7. C 8. C 9. C 10. C 11. C 12. C 13.C 14.C 15. C

OUTRAS INFORMAÇÕES

2 PLENÁRIO VIRTUAL EM EVIDÊNCIA

O Plenário Virtual em Evidência consiste na seleção e divulgação dos principais

processos liberados para julgamento pelos colegiados do STF em ambiente virtual, com

destaque especial para as ações de controle de constitucionalidade e processos submetidos

à sistemática da Repercussão Geral.

O serviço amplia a transparência das sessões virtuais do Supremo Tribunal Federal

(STF) por meio da difusão de informações sobre os processos que foram apresentados para

julgamento nesse ambiente eletrônico.

As informações e referências apresentadas nesta edição têm caráter meramente

informativo e foram elaboradas a partir das pautas e calendários de julgamento divulgados

pela Assessoria do Plenário, de modo que poderão sofrer alterações posteriores. Essa

circunstância poderá gerar dissonância entre os processos divulgados nesta publicação e

aqueles que vierem a ser efetivamente julgados pela Corte.

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 38

2.1 Processos selecionados

• RE 523086 RG-RG2JULG/MA

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Promoção de professor à classe superior a que pertence

Discute-se a constitucionalidade da progressão funcional prevista na Lei 6.110/1994, do Estado do Maranhão.

• ARE 721001 RG-ED/RJ

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Possibilidade de conversão em pecúnia de férias não usufruídas por servidor em atividade

Repercussão geral da matéria reconhecida, reafirmando-se jurisprudência desta Corte no sentido de que é devida

a conversão de férias não gozadas, bem como outros direitos de natureza remuneratória, em indenização

pecuniária tão somente para aqueles que não mais possam usufruir desses direitos, seja por conta do rompimento

do vínculo com a Administração Pública, seja pela inatividade, tendo em vista a vedação do enriquecimento sem

causa. Foram opostos embargos de declaração, sob alegação da ocorrência de erro material, porquanto o Supremo

Tribunal Federal não teria se manifestado quanto aos servidores da ativa.

• RE 1089282 RG/AM   

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Contribuição sindical de servidores públicos

Competência da Justiça Comum ou da Justiça do Trabalho para processar e julgar demandas nas quais se

discutem o recolhimento e o repasse de contribuição sindical de servidores públicos regidos pelo regime

estatutário, questão não abrangida pela ADI 3.395.

• RE 600851 RG/DF   

Relator(a): MIN. EDSON FACHIN

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Limite temporal para a suspensão do processo e do prazo prescricional previstos no art. 366 do CPP

Discute-se se a suspensão do processo e do prazo prescricional em razão do não comparecimento de réu citado

por edital deverá permanecer por tempo indeterminado (até o seu comparecimento) ou se obedecerá ao prazo da

prescrição disposto no artigo 109 do Código Penal.

Pesquisa de jurisprudência relacionada ao tema: Ext 1042, RE 460971.

• RE 776823 RG/RS 

Relator(a): MIN. EDSON FACHIN

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Falta grave. Artigo 52 da LEP

Discute-se a necessidade de condenação com trânsito em julgado para considerar como falta grave, no âmbito

administrativo carcerário, a prática de fato definido como crime doloso.

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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 39

Pesquisa de jurisprudência relacionada ao tema: HC 97218, HC 93782, HC 110881, AI 706134 AgR

• RE 636553 ED/RS

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Embargos declaratórios e modulação de efeitos

No julgamento do recurso, foi fixada a seguinte tese de repercussão geral: “Em atenção aos princípios da

segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de 5 anos para o

julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada

do processo à respectiva Corte de Contas”. Em face dessa decisão, a União opôs embargos de declaração, com

pedido de modulação de efeitos, a fim de que seja conferida eficácia prospectiva ao entendimento firmado, bem

como sejam sanadas omissões e obscuridades.

• ADI 2975/DF 

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Proibição de retorno ao serviço público. Parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/1990

Discute-se a constitucionalidade de norma que proíbe, de maneira peremptória, o retomo ao serviço público de

servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade

administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio

nacional e corrupção.

• ADI 3854/DF 

ADI 4014/DF

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Subteto para magistratura estadual

Discute-se se o estabelecimento de limites remuneratórios diferenciados para os membros da magistratura federal

e estadual ofende o princípio da isonomia previsto no artigo 5º da CF.

• ADI 4637/DF 

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Empresa individual de responsabilidade limitada - LEITURAS EM PAUTA

Análise da constitucionalidade de dispositivo do Código Civil que exige capital social de pelo menos 100 salários

mínimos para a criação de empresa individual de responsabilidade limitada. Alegada violação ao artigo 7º, inciso

IV, da CF, que veda a vinculação do salário mínimo para qualquer fim, bem como ao artigo 170, caput, que

prevê o princípio da livre iniciativa.

• ADI 5264/DF   

Relator(a): MIN. CÁRMEN LÚCIA

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Modificação de competência de juizados especiais criminais

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Questiona-se a constitucionalidade dos artigos 1º e 2º da Lei 11.313/2006, que previram alteração da competência

dos Juizados Especiais Criminais por meio da utilização dos institutos da conexão e da continência. Suposta

afronta à regra do artigo 98, I, da CF e ao princípio do juiz natural (art. 5º, LIII, da CF).

• ADI 5417/DF

Relator(a): MIN. CÁRMEN LÚCIA

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Participação nos lucros e resultados em empresas estatais

Discute-se a constitucionalidade de normas que estabeleceram condições para a participação de trabalhadores

nos lucros e resultados de empresas estatais. Alegada ofensa aos princípios da isonomia e da dignidade da pessoa

humana, previstos nos artigos 5°, caput; e 7°, inciso XI, da CF.

• ADPF 614/DF 

Relator(a): MIN. CÁRMEN LÚCIA

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Alteração da estrutura do Conselho Superior do Cinema

Questiona-se a constitucionalidade do Decreto 9.919/2019 que realizou a transferência do Conselho Superior de

Cinema para a Casa Civil e alterou sua composição e funcionamento. Alega que o referido decreto configura

censura à produção audiovisual brasileira.

• ADI 4510/DF 

Relator(a): MIN. CÁRMEN LÚCIA

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Critérios para promoção por merecimento de magistrados

São contestados dispositivos da Resolução nº 106/2010 do Conselho Nacional de Justiça que dispõem sobre

critérios objetivos para aferição do merecimento para promoção de magistrados e acesso aos tribunais de segundo

grau.

• ADPF 485/AP

Relator(a): MIN. ROBERTO BARROSO

JULGAMENTO VIRTUAL EM 27.11.2020 a 4.12.2020

Condenação trabalhista e bloqueio de verbas estaduais

Decisões da Justiça do Trabalho que determinaram o bloqueio, penhora e sequestro de verbas estaduais para

pagamento de dívidas trabalhistas.

• RE 695911 RG/SP

Relator(a): MIN. DIAS TOFFOLI

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Possibilidade de cobrança de taxas de manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de

proprietário não associado

Discute-se o pagamento de taxas de manutenção e conservação de áreas de loteamento fechado, instituídas por

associação de moradores criada com a finalidade de administrá-lo. Alega-se em síntese a não obrigatoriedade

em custear despesas as quais não anuiu.

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Pesquisa de jurisprudência relacionada ao tema: RE 340561

• ADI 5522/SP

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Aumento da autonomia da atividade policial

Discute-se a constitucionalidade de dispositivo da Constituição Estadual que define como essencial à função

jurisdicional do Estado e à defesa da ordem jurídica a atuação da Polícia Civil, além de categorizar a carreira de

delegado de polícia como carreira jurídica, “ao atribuir-lhe independência funcional nos atos de polícia criminal,

isto é, os de investigação para apurar infrações penais, de modo a servir de base à pretensão punitiva do Estado,

formulada pelo Ministério Público”.

• ADI 6524/DF

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Reeleição na Câmara dos Deputados e no Senado Federal

Discute-se a constitucionalidade de dispositivos do Regimento Interno da Câmara dos Deputados e do Senado

Federal em razão de alegada ofensa ao artigo 57, § 4º da CF/88, que versa sobre a recondução nas eleições das

Mesas das Casas Legislativas.

• ADPF 70/DF

Relator(a): MIN. MARCO AURÉLIO

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Monopólio da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT)

Discute-se a constitucionalidade de normas que regulamentam os serviços postais brasileiros. Alega-se que a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) descumpre preceitos e princípios constitucionais

fundamentais, como a garantia do desenvolvimento nacional, a livre concorrência, a livre iniciativa e o respeito

aos princípios gerais da economia, praticando "atos de extermínio da concorrência em completa dissonância com

o texto constitucional e as leis vigentes, sob a alegação de invasão de pretenso monopólio".

• ADI 5259/SC

Relator(a): MIN. MARCO AURÉLIO

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Prescrição administrativa intercorrente nos processos submetidos à apreciação do Tribunal de Contas

Estadual

Questiona-se a constitucionalidade dos artigos 1º e 2º da Lei Complementar nº 588/2013, que estabelece o prazo

de cinco anos para análise e julgamento de todos os processos administrativos relativos a administradores e

demais responsáveis que praticarem ilícitos ofensivos ao erário. Após esse período, o processo será considerado

extinto, sem julgamento do mérito, com baixa automática da responsabilidade do administrador ou responsável.

• ADI 5329/DF

Relator(a): MIN. MARCO AURÉLIO

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Limite máximo de idade para ingresso na magistratura do DF e Territórios

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Discute-se a constitucionalidade da Lei 11.697/2008 que ao limitar a idade máxima para ingresso na magistratura

em 50 anos, viola os artigos 5º (caput) e 93 (caput) da Constituição Federal, contendo vício formal e material de

inconstitucionalidade.

• ADPF 754/DF

ADPF 756/DF

Relator(a): MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Plano para imunização da população contra a Covid-19

ODS 3

Sustenta-se, em síntese, a ocorrência de violação dos direitos fundamentais à vida e à saúde por parte do governo

federal ao não apresentar um plano de vacinação para a população brasileira contra a Covid-19.

• ADI 4870/ES

Relator(a): MIN. DIAS TOFFOLI

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Prerrogativa de foro para autoridades que respondem a ação civil por improbidade administrativa

Questiona-se, em síntese, a constitucionalidade de dispositivo da Constituição Estadual que estabeleceu

competência originaria ao Tribunal de Justiça do Estado para o julgamento de ações por improbidade

administrativa.

• ADPF 419/DF

Relator(a): MIN. EDSON FACHIN

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Restrições a leiloeiros públicos

Questiona-se dispositivos do Decreto 21.981/1932, que ofendem os preceitos fundamentais da livre associação

e do livre exercício do trabalho, ofício ou função (artigos 1º, inciso IV, e 5º, inciso XIII, da Constituição Federal).

Alega-se, em síntese, que o decreto estabelece restrições desproporcionais e não razoáveis aos leiloeiros públicos,

instituindo “verdadeira barreira legal ao pleno exercício da profissão”.

• RE 652229 RG/DF

Relator(a): MIN. GILMAR MENDES

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Estabilidade de contratados no exterior como auxiliar local

Discute-se, em síntese, se brasileiro contratado no exterior como “auxiliar local” antes da Constituição Federal

de 1988 tem direito ao regime jurídico estabelecido pela Lei 8.112/1990. Continuação do julgamento com voto-

vista do ministro Dias Toffoli. Pesquisa de jurisprudência relacionada ao tema: RMS 32391 AgR, RMS 28649

• RE 806339 RG/SE

Relator(a): MIN. MARCO AURÉLIO

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Exigência de aviso prévio à autoridade competente como pressuposto para o legítimo exercício da liberdade

de reunião

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Discute-se, em síntese, o alcance do art. 5º, XVI, da Constituição Federal, da exigência de aviso prévio à

autoridade competente como pressuposto para o legítimo exercício da liberdade de reunião. Continuação do

julgamento com voto-vista do ministro Dias Toffoli.

Pesquisa de jurisprudência relacionada ao tema: ADI 4274, ADPF 187

• ADI 3697/RJ

Relator(a): MIN. MARCO AURÉLIO

JULGAMENTO VIRTUAL EM 4.12.2020 a 11.12.2020

Equiparação de vencimentos de procuradores aos dos ministros do STF

Discute-se a constitucionalidade da Lei Complementar 111/2006 que define que a remuneração dos procuradores

estaduais em classe final da carreira seria equivalente a 90,25% do subsídio dos ministros do Supremo Tribunal

Federal. Continuação do julgamento com voto-vista do ministro Dias Toffoli. Pesquisa de jurisprudência

relacionada ao tema: ADI 3480, RE 940058 RG, RE 171241.

3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF

RESOLUÇÃO STF 708, de 23.10.2020 – Institui o Laboratório de Inovação do Supremo Tribunal Federal – Inova STF.

PORTARIA STF 460, de 11.11.2020 – Constitui as Comissões Permanentes previstas no artigo 27, § 1º, do Regimento

Interno do STF.

RESOLUÇÃO STF 710, de 20.11.2020 – Institucionaliza a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas no âmbito

do Supremo Tribunal Federal.

RESOLUÇÃO STF 711, de 24.11.2020 – Aprova o Código de Ética dos Servidores do Supremo Tribunal Federal.

Supremo Tribunal Federal – STF

Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da Informação

Coordenadoria de Difusão da Informação

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