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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 987-STF Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS É inconstitucional lei estadual que proíba a Administração Pública de contratar empresa que tenha tido empregado condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos discriminatórios. LIBERDADE DE EXPRESSÃO STF determinou a suspensão da investigação que estava sendo realizada pelo Ministério da Justiça contra servidores públicos e demais cidadãos integrantes de movimento político antifascista. SEGURANÇA PÚBLICA Lei distrital não pode conferir porte de arma nem determinar o exercício de atividades de segurança pública a agentes e inspetores de trânsito. DIREITO PENAL DIFAMAÇÃO Difamação pode ser praticada mediante a publicação de vídeo no qual o discurso da vítima seja editado. DIREITO TRIBUTÁRIO ICMS É válida lei estadual que dispõe acerca da incidência do ICMS sobre operações de importação editada após a vigência da EC 33/2001, mas antes da LC 114/2002; esta lei, contudo, somente produz efeitos a partir da vigência da LC 114/2002. IMPOSTO DE RENDA A Súmula 584 do STF foi cancelada. DIREITO PREVIDENCIÁRIO APOSENTADORIA ESPECIAL É constitucional a regra do art. 57, § 8º da Lei 8.213/91, que proíbe o titular da aposentadoria especial de continuar ou voltar a trabalhar com atividades que o exponham a agentes nocivos. DIREITO DO TRABALHO SALÁRIO-FAMÍLIA O requisito de baixa renda instituído para o salário-família pela EC 20/98 não se aplica para quem, na data da publicação da Emenda, já estava em gozo do benefício.

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

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Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ▪ É inconstitucional lei estadual que proíba a Administração Pública de contratar empresa que tenha tido empregado

condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos discriminatórios. LIBERDADE DE EXPRESSÃO ▪ STF determinou a suspensão da investigação que estava sendo realizada pelo Ministério da Justiça contra servidores

públicos e demais cidadãos integrantes de movimento político antifascista. SEGURANÇA PÚBLICA ▪ Lei distrital não pode conferir porte de arma nem determinar o exercício de atividades de segurança pública a

agentes e inspetores de trânsito.

DIREITO PENAL

DIFAMAÇÃO ▪ Difamação pode ser praticada mediante a publicação de vídeo no qual o discurso da vítima seja editado.

DIREITO TRIBUTÁRIO

ICMS ▪ É válida lei estadual que dispõe acerca da incidência do ICMS sobre operações de importação editada após a vigência

da EC 33/2001, mas antes da LC 114/2002; esta lei, contudo, somente produz efeitos a partir da vigência da LC 114/2002.

IMPOSTO DE RENDA ▪ A Súmula 584 do STF foi cancelada.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

APOSENTADORIA ESPECIAL ▪ É constitucional a regra do art. 57, § 8º da Lei 8.213/91, que proíbe o titular da aposentadoria especial de continuar

ou voltar a trabalhar com atividades que o exponham a agentes nocivos. DIREITO DO TRABALHO

SALÁRIO-FAMÍLIA ▪ O requisito de baixa renda instituído para o salário-família pela EC 20/98 não se aplica para quem, na data da

publicação da Emenda, já estava em gozo do benefício.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS É inconstitucional lei estadual que proíba a Administração Pública de contratar empresa que tenha tido empregado condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de

atos discriminatórios

É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Pública contrate empresa cujo diretor, gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos discriminatórios.

Essa lei viola os princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal e do devido processo legal.

STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).

A situação concreta foi a seguinte: Em São Paulo foi editada a Lei estadual nº 10.218/99 estabelecendo que a Administração Pública, durante certo período de tempo, fica proibida de contratar serviços e obras com empresas que tenham tido diretor, gerente ou empregado condenado por crime ou contravenção em razão da prática de atos de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil, ou pela adoção de práticas inibidoras, atentatórias ou impeditivas do exercício do direito à maternidade ou de qualquer outro critério discriminatório para a admissão ou permanência da mulher ou do homem no emprego. Essa lei é constitucional? NÃO.

A proibição de contratar com a Administração Pública somente se justifica se o motivo impeditivo estiver relacionado com exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações contratuais. Além disso, a situação imposta pela lei impugnada acaba por implicar ofensa ao princípio da intransmissibilidade da pena. Este princípio preconiza que as restrições jurídicas decorrentes de processo judicial ou administrativo não podem transbordar a dimensão estritamente pessoal do infrator, para atingir direitos de terceiros. Essa lei estadual, sem prévio processo ou exercício de contraditório, impede que a empresa celebre contrato com a Administração Pública em virtude de condenação criminal de pessoa natural que pertenceu ao rol de empregados ou diretores. Essa previsão afronta os princípios da responsabilidade pessoal e do devido processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).

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LIBERDADE DE EXPRESSÃO STF determinou a suspensão da investigação que estava sendo realizada pelo Ministério da Justiça

contra servidores públicos e demais cidadãos integrantes de movimento político antifascista

A imprensa divulgou que o Ministério da Justiça estaria investigando e elaborando dossiês sigilosos contra um grupo de servidores públicos identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Os principais alvos da investigação seriam professores e policiais autointitulados de “antifascistas”.

Determinado partido político ajuizou ADPF para que o STF declare que essa investigação viola os preceitos fundamentais da liberdade de expressão, reunião, associação, inviolabilidade de intimidade, vida privada e honra.

O STF deferiu medida cautelar para suspender todo e qualquer ato do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) de produção ou compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, as práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de movimento político antifascista, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se.

STF. Plenário. ADPF 722 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19 e 20/8/2020 (Info 987).

Investigação aberta pelo Ministério da Justiça contra o “movimento antifascismo” Em julho de 2020, a imprensa divulgou que o Ministério da Justiça estaria investigando e elaborando dossiês sigilosos contra um grupo de servidores públicos identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Os principais alvos da investigação seriam professores e policiais autointitulados de “antifascistas”. (UOL. Ação sigilosa do governo mira professores e policiais antifascistas. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/colunas/rubens-valente/2020/07/24/ministerio-justica-governo-bolsonaro-antifascistas.htm>) Segundo a reportagem, o Ministério teria produzido um dossiê com nomes e, em alguns casos, fotografias e endereços de redes sociais das pessoas monitoradas. ADPF Com base nessas informações, o partido político Rede Sustentabilidade impetrou ADPF no STF. Para o partido, o Ministério da Justiça, sob a desculpa do exercício da atividade de inteligência, se utiliza da estrutura governamental para perseguições políticas e ideológicas. O autor da ADPF argumentou que o governo pretende interferir ilegalmente no exercício regular do direito à expressão de pensamento e à íntima convicção política, filosófica ou ideológica de servidores públicos essenciais (agentes de segurança e de educação). Segundo a inicial, a confecção de dossiê, que teria sido compartilhado com diversos órgãos, como Polícia Rodoviária Federal, Casa Civil, Abin, Força Nacional de Segurança e três centros de inteligência vinculados à Secretaria de Operações Integradas (Seopi), viola os preceitos fundamentais da liberdade de expressão, reunião, associação, inviolabilidade de intimidade, vida privada e honra. A Rede pediu a suspensão imediata da produção e da disseminação desses “dossiês”, a remessa dos conteúdos já produzidos ao STF para análise e a abertura imediata de inquérito pela Polícia Federal para apurar eventual prática de crime pelo Ministro da Justiça e por seus subordinados. Medida cautelar Nos dias 19 e 20/08/2020, o Plenário do STF se reuniu para apreciar a ação e, por maioria, deferiu a medida cautelar para suspender qualquer ato do Ministério da Justiça que esteja... - produzindo ou compartilhando - informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas ou as práticas cívicas de

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- servidores públicos integrantes de movimento político antifascista ou quaisquer outras pessoas que estejam exercendo a liberdade de expressão, reunião ou associação de forma lícita. No caso, a ADPF foi ajuizada contra ato do MJSP de promover investigação sigilosa sobre grupo de 579 servidores federais e estaduais de segurança identificados como integrantes do “movimento antifascismo” e professores universitários. Serviço de inteligência deve ser desempenhado dentro dos limites constitucionais e legais O serviço de inteligência do Estado é tema mais que sensível e não pode ser desempenhado fora de estritos limites constitucionais e legais, sob pena de comprometer a sociedade e a democracia em sua instância mais central, que é a de garantia dos direitos fundamentais. Por isso, os órgãos de inteligência também se submetem ao crivo do Poder Judiciário, porque podem praticar ilegalidades que devem ser apuradas. Poder Judiciário deve examinar essa investigação A União alegou que o Ministro da Justiça instaurou sindicância no Ministério para apurar essas “investigações” e que o próprio Ministro foi até a Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência do Congresso Nacional para prestar esclarecimentos. Logo, não haveria motivo para se seguir com a ADPF. Além disso, o Ministro afirmou que os dados requisitados pelo STF sobre as investigações em curso seriam sigilosos porque diriam respeito aos serviços de inteligência do Estado. O STF não concordou com esse argumento. A abertura de sindicância no Ministério da Justiça para a apuração de eventuais responsabilidades administrativas em relação aos fatos narrados nesta ADPF, e o comparecimento do Ministro perante a Comissão Mista para prestar esclarecimentos não substituem a jurisdição constitucional a cargo do STF nem minimizam o dever de atendimento à determinação judicial para fornecimento dos dados. Assim, é incompatível com o disposto no art. 5º, XXXV, da CF/88 (princípio da inafastabilidade da jurisdição), a tentativa de retirar do Poder Judiciário a possibilidade de apreciar dados e informações objetivas sob a alegação de que são relacionados com os serviços de inteligência. São asseguradas, pela CF/88, as manifestações livres de expressão, de reunião e de associação, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada e da honra, conferindo-se a todos a garantia da liberdade para veicular ideias e opiniões e para se reunirem e também para se associarem (art. 5º, IV, X, XVI e XVII). Relatórios de inteligência foram preparados com dados pessoais O relatório de inteligência teria sido preparado com dados pessoais dos investigados, informações que seriam compartilhadas sigilosamente com outros órgãos da Administração. Os fatos não foram negados pelo Ministério da Justiça, que se limitou a defender a necessidade de se resguardar o sigilo da atividade de inteligência e a afirmar que esse proceder não seria inédito. A manifestação do órgão ministerial conduz à conclusão, ao menos nesta fase processual, de haver plausibilidade dos dados relatados e dos argumentos apresentados e elaborados a partir de fatos divulgados pela imprensa. Desse modo, por cautela, deve-se determinar, judicialmente, a cessação ou o impedimento de qualquer comportamento de investigação secreta da vida de quem quer que seja, fora dos suportes constitucionais e legais garantidores do devido processo legal e do direito ao contraditório, pelos órgãos competentes. Não ficou demonstrada que a atuação estatal tenha sido legítima No caso concreto, não ficou demonstrada que essa investigação estatal de participantes de movimento político antifascista tenha sido legítima. Sob o pretexto de se cuidar de atividade de inteligência, foi iniciada uma investigação contra cidadãos que estavam exercendo seu direito à liberdade de expressão, investigação essa feita sem observância do devido processo legal, em afronta ao sistema constitucional.

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Desvio de finalidade O Ministério da Justiça sustentou que essa investigação não tinha como objetivo utilizar essas informações para persecução penal. O STF afirmou, contudo, que isso, ainda que seja verdadeiro, não torna o procedimento compatível com a Constituição Federal. Isso porque o uso (ou abuso) da máquina estatal para a colheita de informações de servidores com postura política contrária ao governo caracteriza desvio de finalidade. Voto vencido Vencido o Ministro Marco Aurélio, que indeferiu a cautelar. Esclareceu que, em um Estado democrático de direito, o centro político é o parlamento. Mesmo assim, insiste-se em deslocar matéria estritamente política para o STF, provocando incrível desgaste em termos de Poder Judiciário. Para o Ministro, o relatório é, na verdade, um longo cadastro que envolve pessoas naturais e entidades com atuação privada e pública. Há, nesse documento, o acompanhamento de pessoas de diversos segmentos e ideologias. Portanto, são dados, mantidos em sigilo, necessários e indispensáveis à garantia da segurança pública.

SEGURANÇA PÚBLICA Lei distrital não pode conferir porte de arma nem determinar o exercício de atividades de

segurança pública a agentes e inspetores de trânsito

Importante!!!

A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública. Esse rol é taxativo e de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional. Como consequência, os Estados-membros não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos daqueles previstos na Constituição Federal.

Assim, a lei distrital, ao estabelecer que os agentes de trânsito exercem atividades de segurança pública, possui vício de inconstitucionalidade material porque violou o rol taxativo dos órgãos encarregados da segurança pública previsto no art. 144 da CF/88.

Compete aos órgãos e agentes de trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente (art. 144, § 10, da CF/88). As atividades de segurança viária não se confundem com “segurança pública”.

Compete à União, nos termos do art. 21, VI; e 22, I, da Constituição, a definição dos requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares de tal direito, inclusive no que se refere a servidores públicos estaduais ou municipais, em prol da uniformidade da regulamentação do tema no país, questão afeta a políticas de segurança pública de âmbito nacional. Desse modo, é inconstitucional a lei distrital que disponha sobre porte de arma de fogo, criando hipóteses não previstas na legislação federal de regência, notadamente a Lei federal nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento).

STF. Plenário. ADI 3996, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 987 – clipping).

A situação concreta foi a seguinte: No Distrito Federal foram editadas leis prevendo que: • o Cargo de Agente de Trânsito é atividade de segurança pública, para todos os efeitos; • os agentes e inspetores de trânsito do Departamento de Trânsito do Distrito Federal estão isentos da obrigação de obter autorização para o porte de armas de fogo de uso permitido; • constará do curso de formação profissional dos agentes de trânsito, entre outras matérias, armamento e tiro.

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6

As previsões acima expostas são compatíveis com a Constituição Federal? NÃO. Rol do art. 144 é taxativo e nele não constam os agentes de trânsito A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.

Esse rol é taxativo e de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional. Como consequência, os Estados-membros não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos daqueles previstos na Constituição Federal. Assim, a lei distrital, ao estabelecer que os agentes de trânsito exercem atividades de segurança pública, possui vício de inconstitucionalidade material porque violou o rol taxativo dos órgãos encarregados da segurança pública previsto no art. 144 da CF/88. (Delegado PC/SE 2018 CEBRASPE) A segurança pública, exercida para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, é responsabilidade de todos. (certo) (Escrivão PC/MA 2018 CEBRASPE) A CF, em seu art. 144, apresenta o rol dos órgãos encarregados da segurança pública. Esse rol é taxativo para a União, para os estados e para o Distrito Federal. (certo) Segurança viária não é o mesmo que segurança pública Compete aos órgãos e agentes de trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente (art. 144, § 10, da CF/88). As atividades de segurança viária não se confundem com “segurança pública”. Veja a redação do § 10 do art. 144 da CF/88, inserido pela EC 82/2014, porque ele é muito cobrado em provas objetivas:

Art. 144 (...) § 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82/2014)

(PRF 2019 CEBRASPE) A segurança viária compreende a educação, a engenharia e a fiscalização de trânsito, vetores que asseguram ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente. (certo)

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7

(Delegado PC/SE 2018 CEBRASPE) O poder constituinte originário, ao tratar da segurança pública no ordenamento constitucional vigente, fez menção expressa à segurança viária, atividade exercida para a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e de seu patrimônio nas vias públicas. (errado) (Analista TRT7 2017 CEBRASPE) Nos termos da CF, tanto no âmbito da União quanto no dos demais entes federados, a segurança viária compete aos respectivos órgãos e seus agentes de trânsito, estruturados em carreira, na forma da lei. (errado) (Analista TRT7 2017 CEBRASPE) A partir da Emenda Constitucional nº 82/2014, a atividade de segurança viária passa a integrar expressamente o texto da CF, com vistas à preservação da ordem social e da incolumidade patrimonial nas vias urbanas. (errado) Competência para disciplinar o porte de arma de fogo é da União O art. 21, VI, da CF/88 atribui à União a competência para autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico, o que alcança a disciplina do porte de armas de fogo. Ademais, o art. 22, I, da CF/88 confere à União competência privativa para legislar sobre Direito Penal, de forma que somente lei federal pode estabelecer as hipóteses em que o porte de arma de fogo não constitui ilícito penal. Desse modo, é inconstitucional a lei distrital que disponha sobre porte de arma de fogo, criando hipóteses não previstas na legislação federal de regência, notadamente a Lei federal nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento). Nesse sentido:

Cabe à União, nos termos do art. 21, VI; e 22, I, da Constituição, a definição dos requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares de tal direito, inclusive no que se refere a servidores públicos estaduais ou municipais, em prol da uniformidade da regulamentação do tema no país, questão afeta a políticas de segurança pública de âmbito nacional. STF. Plenário. ADI 4.962, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJe de 25/4/2018.

Em suma:

A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública. Esse rol é taxativo e de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional. Como consequência, os Estados-membros não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos daqueles previstos na Constituição Federal. Assim, a lei distrital, ao estabelecer que os agentes de trânsito exercem atividades de segurança pública, possui vício de inconstitucionalidade material porque violou o rol taxativo dos órgãos encarregados da segurança pública previsto no art. 144 da CF/88. Compete aos órgãos e agentes de trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente (art. 144, § 10, da CF/88). As atividades de segurança viária não se confundem com “segurança pública”. Compete à União, nos termos do art. 21, VI; e 22, I, da Constituição, a definição dos requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares de tal direito, inclusive no que se refere a servidores públicos estaduais ou municipais, em prol da uniformidade da regulamentação do tema no país, questão afeta a políticas de segurança pública de âmbito nacional. Desse modo, é inconstitucional a lei distrital que disponha sobre porte de arma de fogo, criando hipóteses não previstas na legislação federal de regência, notadamente a Lei federal nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento). STF. Plenário. ADI 3996, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 987 – clipping).

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DIREITO PENAL

DIFAMAÇÃO Difamação pode ser praticada mediante a publicação de vídeo

no qual o discurso da vítima seja editado

Configura difamação a conduta do agente que publica vídeo de um discurso no qual a frase completa do orador é editada, transmitindo a falsa ideia de que ele estava falando mal de negros e pobres.

A edição de um vídeo ou áudio tem como objetivo guiar o espectador e, quando feita com o objetivo de difamar a honra de uma pessoa, configura dolo da prática criminosa.

Vale ressaltar que esta conduta do agente, ainda que praticada por Deputado Federal, não estará protegida pela imunidade parlamentar.

Caso concreto: durante a reunião de uma CPI, o então Deputado Federal Jean Wyllys proferiu a seguinte frase: “tem um imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que está impregnado na gente”.

O Deputado Federal Eder Mauro publicou, em sua página no Facebook, um vídeo no qual o discurso de Jean Wyllys é editado. No vídeo publicado, a parte inicial e final da frase são cortadas e ouve-se apenas: “Uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média”.

Para o STF, essa conduta configurou o crime de difamação agravada.

STF. 1ª Turma. AP 1021/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/8/2020 (Info 987).

A situação concreta foi a seguinte: Durante a reunião de uma CPI instaurada para apurar a violência contra jovens negros e pobres no Brasil, o então Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) proferiu a seguinte frase: “tem um imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que está impregnado na gente”. O Deputado Federal Eder Mauro (PSD-PA) publicou, em sua página no Facebook, um vídeo no qual o discurso de Jean Wyllys é editado. No vídeo publicado, a parte inicial e final da frase são cortadas e ouve-se apenas: “Uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média”. Assim, o vídeo editado dá a entender, falsamente, que o Deputado estaria defendendo essa afirmação pejorativa contra pessoas negras e pobres. Diante disso, Jean Wyllys ingressou com queixa-crime contra o Deputado Eder Mauro afirmando que o querelado praticou contra ele o crime de difamação (art. 139 do CP):

Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

O que decidiu o STF? O Deputado foi condenado? SIM. A 1ª Turma do STF julgou procedente o pedido formulado na ação penal privada e condenou o Deputado Federal pela prática do crime de difamação agravada. STF. 1ª Turma. AP 1021/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/8/2020 (Info 987).

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Primeiro ponto: o Deputado Federal réu alegou que agiu acobertado pela imunidade parlamentar. Esse argumento foi acolhido pelo STF? NÃO. Não se aplica a imunidade parlamentar, pois o ato não foi praticado in officio ou propter officium. Para que incida a imunidade parlamentar material, é necessário que exista um liame direto entre o fato apontado como crime contra a honra e o exercício do mandato parlamentar. A liberdade de opinião e manifestação do parlamentar, ratione muneris (em razão do cargo), possui imunidade material, mas isso nos limites estritamente necessários à defesa do mandato contra o arbítrio, à luz do princípio republicano que norteia a Constituição Federal. A imunidade parlamentar material não confere aos parlamentares o direito de empregar expediente fraudulento, artificioso ou ardiloso, voltado a alterar a verdade da informação, com o fim de desqualificar ou imputar fato desonroso à reputação de terceiros. Assim, a veiculação dolosa de vídeo com conteúdo fraudulento, para fins difamatórios, amplamente divulgado em rede social não está protegida pela imunidade parlamentar. Materialidade A materialidade do crime ficou comprovada pelo laudo de perícia criminal realizado pelo instituto de criminalística da Polícia Civil, que concluiu que o vídeo foi editado e que o processo de edição resultou na modificação da informação, conduzindo à compreensão diversa da realidade factual. O conteúdo original da manifestação sofreu vários cortes, para transmitir a ideia de que o então parlamentar estava proferindo uma declaração de conotação racista e preconceituosa. O fato de veicular trechos da fala do autor é elemento especioso (enganador), ardil empregado com o intuito de transmitir verossimilhança. Dano à honra O dano à honra do querelante foi certificado em juízo por depoimentos prestados. Além disso, há prova do impacto sobre a imagem do autor. A fraude revela nítido potencial de enganar os cidadãos que a visualizaram e de produzir discursos de ódio contra a fala indevidamente alterada, difamando o opositor político do réu. Essa publicação ultrapassa a liberdade de expressão O réu publicou o vídeo adulterado na rede social com o intuito de difamar, considerando que ficou demonstrado que ele sabia que o seu conteúdo era falso. A criminalização da veiculação de conteúdo com essa finalidade não colide com o direito fundamental à liberdade de expressão. Crime contra a honra é de ação múltipla Os crimes contra a honra, como é o caso da difamação, são delitos de ação múltipla, englobando não apenas a criação do conteúdo criminoso como também a sua postagem e a disponibilização de perfil em rede social com o objetivo de servir de plataforma à alavancagem da injúria, calúnia ou difamação. A autoria desses crimes praticados por meio da internet exige: a) demonstração de que o réu é o titular de página, blogue ou perfil pelo qual divulgado o material difamatório; b) demonstração do consentimento — prévio, concomitante ou sucessivo — com a veiculação em seu perfil; c) demonstração de que o réu tinha conhecimento do conteúdo fraudulento da postagem (animus injuriandi, caluniandi ou diffamandi).

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10

Autoria A divulgação do conteúdo fraudado constitui etapa da execução do crime. Assim, o divulgador do vídeo também é autor da difamação, o que não exclui a autoria também do programador visual ou do editor responsável pela execução material da fraude, quando promovidas por outros agentes em coautoria. Mesmo que o vídeo tenha sido publicado na rede social do Deputado por um ajudante, o titular do perfil só deixaria de responder se tivesse ficado demonstrado que ele desconhecia o uso de sua página para a divulgação e que não consentiu com o emprego de sua rede social para fazer a divulgação difamatória. Na situação dos autos, os testemunhos colhidos na instrução comprovam a autoria criminosa. Dolo O referido vídeo foi postado no perfil do acusado, que admitiu tê-lo assistido e ter sido informado da postagem quando foi disponibilizado em sua página na rede social. O réu sabia que o conteúdo não era fidedigno à fala do querelante, considerando que se tratava de manifestação absolutamente contrária ao discurso que ele proferiu no debate do qual o réu participou. Logo, ele conhecia o inteiro teor do pronunciamento do querelante. Ainda assim, o parlamentar-querelado manteve o conteúdo difamatório disponível em sua plataforma, que somente foi retirado de circulação após decisão judicial. Ademais, o vídeo fraudulento elevou a popularidade do réu na rede social utilizada, revelando número de visualizações superior à média de sua página, a evidenciar seu ganho pessoal com a campanha difamatória. Ausência de mero animus narrandi O STF rejeitou a tese da defesa de que o querelado teria agido com mero animus narrandi, ou seja, intenção de apenas divulgar o que aconteceu na reunião ocorrida na Câmara dos Deputados. A divulgação por mero animus narrandi somente se caracterizaria se o réu desconhecesse a natureza fraudulenta do vício. No caso, contudo, o querelado detinha todas as informações necessárias para saber que o vídeo foi adulterado. Também é inverossímil a alegação de que os cortes realizados tiveram finalidade exclusivamente técnica, com o objetivo de reduzir o vídeo ao tamanho limite do suporte de mídia utilizado. Se essa fosse unicamente a intenção, os cortes não teriam deturpado a fala do querelante. Outros trechos poderiam ter sido excluídos para atender ao propósito técnico. Dosimetria da pena Em sede de dosimetria, a Turma considerou presentes quatro circunstâncias judiciais negativas. Diante disso, fixou a pena em 1 (um) ano de detenção, no regime inicial aberto, cumulada com pena de multa. Diante de pressupostos legais, substituiu a pena privativa de liberdade por prestação pecuniária, na forma do art. 45, § 1º, do Código Penal, consistente no pagamento de 30 (trinta) salários mínimos à vítima, fixado como montante mínimo para reparação dos danos causados pela infração.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

ICMS É válida lei estadual que dispõe acerca da incidência do ICMS sobre operações de importação editada após a vigência da EC 33/2001, mas antes da LC 114/2002; esta lei, contudo, somente

produz efeitos a partir da vigência da LC 114/2002

Importante!!!

I - Após a Emenda Constitucional 33/2001, é constitucional a incidência de ICMS sobre operações de importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou à prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal.

II - As leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002, com o propósito de impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas, mas produzem efeitos somente a partir da vigência da LC 114/2002.

STF. Plenário. RE 1221330, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 1094) (Info 987 – clipping).

ICMS O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

Características Principais características do imposto: • Plurifásico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princípio da não-cumulatividade; • Real: as condições da pessoa são irrelevantes; • Proporcional: não é progressivo; • Fiscal: tem como função principal a arrecadação. Fatos geradores Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores (Manual de Direito Tributário. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061): • Circulação de mercadorias; • Prestação de serviços de transporte intermunicipal; • Prestação de serviços de transporte interestadual; • Prestação de serviços de comunicação. Vale ressaltar que incide o ICMS mesmo que “as operações e as prestações se iniciem no exterior” (art. 155, II, da CF/88). ICMS importação A CF/88 prevê que haverá cobrança de ICMS nos casos de mercadoria importada do exterior ou nas hipóteses de serviço prestado no exterior. Ex: uma empresa que fabrica roupas deverá pagar ICMS se importou da China uma máquina têxtil para utilizar em sua linha de produção.

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Até aqui, tudo bem, sem muitas dúvidas. A polêmica está na resposta para as três perguntas a seguir: • Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa física não contribuinte habitual do imposto, haveria incidência de ICMS? • Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa jurídica não comerciante (não contribuinte habitual do imposto), haveria incidência de ICMS? • Se a mercadoria foi importada pela empresa sem finalidade comercial (não seria utilizada em sua cadeia produtiva), mesmo assim haveria incidência de ICMS? A resposta para tais perguntas irá depender do momento em que foi realizado o FG, isto é, se antes ou depois da EC 33/2001.

Redação originária da CF/88 (antes da EC 33/2001)

NÃO

Redação atual da CF/88 (depois da EC 33/2001)

SIM

O STF entendeu que a redação do art. 155, § 2º, IX, “a”, da CF/88 não autorizava a cobrança do ICMS importação nos três casos acima listados. Só pagava o ICMS importação quem fosse contribuinte habitual do imposto.

O Governo, com o objetivo de modificar esse entendimento do STF e autorizar a cobrança do ICMS, editou a EC 33/2001 alterando a redação do art. 155, 2º, IX. Assim, atualmente, com a redação dada pela EC 33/2001, o ICMS incide sobre toda e qualquer importação. Independentemente de a pessoa ser contribuinte ou não do ICMS, deverá pagar o ICMS importação.

Veja a redação originária da CF/88: Incide também o ICMS: a) sobre a entrada de mercadoria importada do exterior, ainda quando se tratar de bem destinado a consumo ou ativo fixo do estabelecimento, assim como sobre serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o estabelecimento destinatário da mercadoria ou do serviço;

Veja a redação atual da CF/88: Incide também o ICMS: a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria, bem ou serviço;

Na época, o STF chegou a editar uma súmula espelhando seu entendimento: Súmula 660-STF (Aprovada em 24/09/2003): Não incide ICMS na importação de bens por pessoa física ou jurídica que não seja contribuinte do imposto.

Diante da nova redação da CF/88, o entendimento exposto nessa Súmula 660 está SUPERADO.

O STF, ao analisar o impacto desta EC 33/2001, assim decidiu:

Após a EC 33/2001, é CONSTITUCIONAL a instituição do ICMS incidente sobre a importação de bens, sendo irrelevante a classificação jurídica do ramo de atividade da empresa importadora. Antes da EC 33/2001 essa prática era inconstitucional. As leis estaduais anteriores à EC 33/2001 que previam a cobrança de ICMS importação para pessoas que não fossem contribuintes habituais de imposto são inválidas, considerando que o sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade superveniente.

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Para ser constitucionalmente válida a incidência do ICMS sobre operações de importação de bens, as modificações no critério material na base de cálculo e no sujeito passivo da regra-matriz deveriam ter sido realizadas em lei posterior à EC 33/2001. A súmula 660 do STF está superada. STF. Plenário. RE 439796/PR; RE 474267/RS, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgados em 6/11/2013 (Repercussão Geral – Tema 171) (Info 727).

LC 114/2002 A fim de adequar a legislação do ICMS à nova disciplina da EC 33/2001, o Congresso Nacional editou a Lei Complementar 114/2002, alterando a LC 87/96 (que trata do ICMS) para regular os casos de ICMS importação. Dessa forma, a LC 114/2002, que entrou em vigor em 17/12/2002, foi editada com o objetivo de prever expressamente, na legislação infraconstitucional, a possibilidade de ICMS sobre a importação. As leis estaduais editadas antes da EC 33/2001 e que autorizavam a incidência do ICMS importação em todos os casos foram “validadas” com a edição da EC 33/2001? NÃO. Os Estados-membros que se precipitaram e previram em suas leis estaduais a incidência do ICMS importação em todos os casos fizeram isso sem o necessário fundamento de validade constitucional. Logo, as leis estaduais e os lançamentos tributários realizados antes da EC 33/2001 são inválidos, considerando que o sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade superveniente. As leis estaduais autorizando a incidência do ICMS importação que foram editadas após a EC 33/2001, mas antes da LC federal 114/2002 são válidas? SIM.

É válida lei estadual que dispõe acerca da incidência do ICMS sobre operações de importação editada após a vigência da EC 33/2001 (12/12/2001), mas antes da LC federal 114/2002, visto que é plena a competência legislativa estadual enquanto inexistir lei federal sobre norma geral, conforme art. 24, § 3º, da CF/88. Nesse sentido, o STF julgou válida lei do Estado de SP, editada em 21/12/2001, que prevê a incidência de ICMS sobre importação de veículo por pessoa física e para uso próprio. Não há inconstitucionalidade uma vez que a lei foi editada após a EC 33/2001, que autorizou a tributação. STF. 2ª Turma. ARE 917950/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 5/12/2017 (Info 887).

Veja o que diz o art. 24, § 3º da CF/88 invocado como fundamento para a validade das leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da LC federal 114/2002.

Art. 24 (...) § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

Válidas, mas ineficazes até a edição da LC federal 114/2002 Vale ressaltar que as leis estaduais editadas após a EC 33/2001, mas antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002, com o propósito de impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas, porém só produziram efeitos a partir da vigência da LC 114/2002. Em outras palavras, a eficácia de tais diplomas legais ficou suspensa até a edição da LC 114/2002. Nesse sentido: STF. 2ª Turma. RE 917950 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 05/12/2017.

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Confira o que disse o voto condutor do Min. Gilmar Mendes:

“É cediço que apenas lei complementar federal pode dispor sobre contribuintes de imposto estadual na forma do art. 146, III, “a”, da CF. Contudo é de observar que, após a emenda constitucional, houve alteração da regra-matriz tributante para permitir o alargamento do sujeito passivo tributário do ICMS-Importação, norma constitucional que ofereceria todos os critérios necessários para a estruturação da lei estadual. Não se pode punir com a pecha de inconstitucional o ato do ente federativo diligente que, amparado por autorização constitucional e no exercício de sua competência tributária, alterou seu arcabouço normativo estadual para expressar o exato contido naquela norma. É bem verdade que a efetividade desse poder tributante dependeria de lei complementar federal, todavia não seria o caso de inconstitucionalidade formal ou material, mas, tão somente, de condição de eficácia daquele exercício após a superveniência da legislação necessária. (...) A questão resolve-se no plano da eficácia. Vale dizer, no período após a EC e anterior à lei complementar federal, não haveria inconstitucionalidade, mas tão só ineficácia da legislação estadual até 17.12.2002 (vigência da lei complementar 114/02), de sorte que seriam insubsistentes créditos tributários advindos de fatos geradores anteriores a tal marco.”

As conclusões acima expostas foram reafirmadas pelo STF em sede de repercussão geral, tendo sido fixadas as seguintes teses:

I - Após a Emenda Constitucional 33/2001, é constitucional a incidência de ICMS sobre operações de importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou à prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal. II - As leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002, com o propósito de impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas, mas produzem efeitos somente a partir da vigência da LC 114/2002. STF. Plenário. RE 1221330, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 1094) (Info 987 – clipping).

IMPOSTO DE RENDA A Súmula 584 do STF foi cancelada

Importante!!!

Encontra-se superado o entendimento exposto na Súmula 584 do STF:

Súmula 584-STF: Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração.

Esse enunciado é incompatível com os princípios da irretroatividade e da anterioridade.

Por essa razão, o STF decidiu pelo cancelamento do verbete.

STF. Plenário. RE 159180, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).

Imagine a seguinte situação hipotética: Em 28 de dezembro de 1990, foi publicada a Lei Federal nº XXX/1990 criando novo adicional de imposto de renda sobre o lucro das empresas. Essa lei disse expressamente que suas disposições se aplicavam inclusive para o período-base de 1990.

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15

Em outras palavras, a Lei foi publicada em 28/12/1990 e influenciou no recolhimento do imposto de renda incidente sobre situações ocorridas em 1990. Como ela foi publicada no final de 1990, acabou incidindo sobre operações realizadas antes mesmo da sua vigência. Diante disso, os contribuintes alegaram a inconstitucionalidade dessa lei porque ela teria violado os princípios da irretroatividade e da anterioridade. Súmula 584-STF A União, por sua vez, defendeu a constitucionalidade da Lei sob o argumento de que essa prática é permitida pela jurisprudência do STF cristalizada na Súmula 584, que tem a seguinte redação:

Súmula 584-STF: Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração.

Assim, de acordo com esse raciocínio, o fato gerador do imposto de renda completa-se somente no dia 31 de dezembro do ano-base. A lei que tenha sido publicada até essa data poderá ser aplicada no cálculo do imposto correspondente, nos termos do art. 105 do CTN:

Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo 116.

Neste caso hipotético, a jurisprudência atual do STF é favorável ao Fisco ou ao contribuinte? Ao contribuinte. E a súmula? O STF decidiu cancelar a sua antiga Súmula 584. O princípio de irretroatividade tributária assegura ao contribuinte o direito de não ser cobrado com novas hipóteses de incidência ou majorações ocorridas após o início do período-base. Veja a brilhante explicação de Sacha Calmon para a inconstitucionalidade da posição cristalizada na Súmula 584 do STF:

“Como se sabe, o imposto de renda, no Brasil, das pessoas físicas e jurídicas, salvo determinadas exceções, como mudança para o estrangeiro, encerramento de atividades e outras, está estruturado pelo dualismo: ano-base/ano da declaração. No ano-base, 1º de janeiro a 31 de dezembro, ocorrem os fatos jurígenos. No ano da declaração, o contribuinte recata os fatos tributáveis, aproveita as deduções, compensa os créditos fiscais, dimensiona a base imponível, aplica as alíquotas, obtém o quantum devido e recolhe o imposto sob a condição suspensiva de, a posteriori, o Fisco concordar com o imposto declarado. Em caso de recolhimento a menor, ocorrerão lançamentos suplementares. É intuitivo, na espécie, que o aspecto temporal da hipótese de incidência fecha em 31 de dezembro do ano-base, porque o fato jurígeno do imposto de renda é continuado. Em 31 de dezembro cessa o movimento, e tudo cristaliza-se. O filme em exibição desde 1º de janeiro chega ao fim (no último átimo de tempo do dia 31 de dezembro de cada ano-base). Nesta data, temos o irreversível. No ano do exercício da declaração, o que se tem é o relato descritivo e quantitativo dos fatos jurígenos (suporte da tributação). Para satisfazer o princípio da anterioridade, é necessário que a lei de regência do imposto de renda seja a vigente em 31 de dezembro do ano anterior ao ano-base, pois teriam os contribuintes a prévia informação do quadro legal que regularia as suas atividades tributárias, antes de ocorrerem.

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16

A Súmula do STF, no entanto, entendia o contrário, impressionada por uma polêmica acadêmica (mas não só por isso) que discutia sobre o dies ad quem do período aquisitivo da renda, se em 31 de dezembro do ano-base ou em 1º de janeiro do exercício seguinte (exercício da declaração). Academicismo irritante, pois o importante é e sempre será o contribuinte saber, antes de realizar as suas atividades, o quadro jurídico de regência dessas mesmas atividades, o que leva à tese de que só o dia 31 de dezembro seria, ética e juridicamente, o dia apropriado. Caso contrário, falar em princípio da anterioridade traduziria enorme toleima, a crer-se na seriedade e nas funções do princípio. Interessa aos jogadores de um time qualquer, de um esporte qualquer, jogar sem saber das regras? E só tomar conhecimento delas após o jogo no vestiário? Privilegiado é o árbitro. Pode valorar a posteriori o vencedor e os vencidos. Ora, tal era a situação do IR no Brasil antes da Constituição de 1988. Vale dizer o IR não só não respeitava o princípio da anterioridade como tornava o imposto retroativo, contra um princípio geral do Direito universalmente aceito e praticado. Agora o quadro é outro. O art. 150, III, “a”, “b” e “c” rechaça a prevalência da Súmula nº 584, sem qualquer sombra de dúvidas. Esse é, ao menos, o nosso sentir, no que somos acompanhados por grande parte da doutrina e até mesmo por precedentes do STJ.” (CALMON, Sacha. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 17ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 274-276).

Em suma:

Encontra-se superado o entendimento exposto na Súmula 584 do STF. Esse enunciado é incompatível com os princípios da irretroatividade e da anterioridade. Por essa razão, o STF decidiu pelo cancelamento do verbete. STF. Plenário. RE 159180, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

APOSENTADORIA ESPECIAL É constitucional a regra do art. 57, § 8º da Lei 8.213/91, que proíbe o titular da aposentadoria especial de continuar ou voltar a trabalhar com atividades que o exponham a agentes nocivos

Importante!!!

I – É constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o beneficiário permanece laborando em atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou a aposentação precoce ou não.

II – Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor especial, a data de início do benefício será a data de entrada do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos financeiros. Efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial, a implantação do benefício, uma vez verificada a continuidade ou o retorno ao labor nocivo, cessará o benefício previdenciário em questão.

STF. Plenário. RE 791961, Rel. Dias Toffoli, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 709) (Info 987 – clipping).

Aposentadoria especial Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17

Regra geral A CF/88 estipula, como regra geral, que é vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de benefícios da previdência social. Em outras palavras, em regra, a lei não pode estabelecer que determinados grupos de pessoas tenham condições “mais fáceis” para se aposentar. Exceções A própria CF/88 admite exceções a essa regra. Assim, de forma excepcional, o § 1º do art. 201 da CF/88 estabelece que LEI COMPLEMENTAR poderá prever idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para a concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados:

1) COM DEFICIÊNCIA, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar

Disciplinada pela LC 142/2013.

2) cujas atividades sejam exercidas com EFETIVA EXPOSIÇÃO A AGENTES químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação.

Disciplinada pelos arts. 57 e 58 da Lei 8.213/91 que, quanto a este tema, possui status de LC.

O julgado ora comentado diz respeito a essa segunda espécie de aposentadoria especial, ou seja, aquela concedida às pessoas que desempenhem atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde. A explicação será dividida em duas partes: I – CONSTITUCIONALIDADE DA REGRA DO ART. 57, § 8º DA LEI 8.213/91

Aposentadoria é cancelada se o segurado volta a desempenhar atividades com exposição a agentes nocivos O indivíduo que recebeu a aposentadoria especial e que, mesmo aposentado, continuou ou voltou a trabalhar com atividades que o exponham a agentes químicos, físicos ou biológicos prejudiciais à saúde, irá perder a aposentadoria. Isso está previsto no art. 57, § 8º c/c o art. 46 da Lei nº 8.213/91:

Art. 57 (...) § 8º Aplica-se o disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta Lei.

Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.

Ex: João trabalhou, de 2000 a 2015, em atividades permanentes no subsolo de minerações subterrâneas. Segundo o Anexo IV do Decreto nº 3.048/99, se o segurado trabalhar durante 15 anos nessa atividade, ele terá direito a aposentadoria especial. João requereu e passou a usufruir de sua merecida aposentadoria especial. Ocorre que o valor dos proventos não era muito alto e seus gastos estavam cada vez maiores. Diante disso, ele decidiu voltar a trabalhar para complementar a renda. E voltou para aquilo que sabia fazer: trabalhar em atividades permanentes no subsolo de minerações subterrâneas. Depois de algum tempo, o INSS descobriu isso e cancelou a aposentadoria de João. Essa previsão é constitucional ou viola a liberdade de trabalho? O art. 57, § 8º da Lei nº 8.213/91 é constitucional.

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18

É constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o beneficiário permanece laborando em atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou a aposentação precoce ou não. STF. Plenário. RE 791961, Rel. Dias Toffoli, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 709) (Info 987 – clipping).

Caráter protetivo A aposentadoria especial foi idealizada com o nítido caráter protetivo. Trata-se de um benefício previdenciário concedido com o objetivo de preservar a saúde, o bem-estar e a integridade do trabalhador submetido rotineiramente a condições de trabalho insalubres, perigosas e/ou penosas. Presunção absoluta de incapacidade Na aposentadoria especial, existe uma presunção absoluta de incapacidade. A aposentação se dá de forma precoce porque o legislador presume que, em virtude da nocividade das atividades desempenhadas, o trabalhador sofrerá um desgaste maior do que o normal de sua saúde. Em outras palavras, o tempo para aposentadoria é reduzido em relação às outras categorias porque como a natureza do serviço executado é muito desgastante, entendeu-se por bem que o exercente de atividade especial deva laborar por menos tempo. É uma forma de compensá-lo e, sobretudo, de protegê-lo. Objetivo do tempo de aposentadoria mais curto é afastar o trabalhador do ambiente insalubre O trabalhador recebe a aposentadoria antecipada com o objetivo de retirá-lo do ambiente insalubre e prejudicial a sua incolumidade física, a fim de que não tenha sua saúde prejudicada. Diante disso, qual seria o sentido de se permitir que o indivíduo receba a aposentadoria especial, mas continue a desempenhar atividade nociva? Como se nota, sob essa óptica, a previsão do art. 57, § 8º, da Lei nº 8.213/91, é absolutamente razoável e consentânea com a vontade do legislador. Desse modo, permitir o retorno do trabalhador ao labor especial é algo flagrantemente contrário à ideia que inspirou a instituição do benefício. Declarar a inconstitucionalidade do § 8º do art. 57 da Lei nº 8.213/91 levaria a uma violação do princípio da isonomia Declarar a inconstitucionalidade do dispositivo questionado para permitir a volta ou a continuação na atividade nociva implica violar o princípio da isonomia e criar odiosa forma de tratamento desigual entre os cidadãos. O trabalhador que desempenha atividade especial possui a vantagem de se aposentar bem mais cedo que os demais e está dispensado do fator previdenciário. Esse tratamento diferenciado somente se justifica pela razão de ser da aposentadoria especial: a necessidade de proteger a saúde do indivíduo e afastá-lo desse trabalho prejudicial. Ocorre que, se o beneficiário, depois de conseguir obter esse benefício, em vez de se afastar da atividade, continuar nela, teremos então um privilégio odioso. Dito em outras palavras, a aposentação é oportunizada em condições mais vantajosas, mas, em contrapartida, espera-se o afastamento do beneficiário do labor especial. Não se trata de uma proibição absoluta de trabalhar Vale ressaltar outro ponto importante: a pessoa que se aposenta na modalidade especial não fica impedida de trabalhar em outras atividades. Caso necessite complementar sua renda, ela poderá desempenhar outras atividades, desde que não sejam aquelas que causem danos excessivos à sua saúde e que são tratadas no art. 58 da Lei nº 8.213/91. Desse modo, o § 8º do art. 57 não traz uma proibição total ao trabalho após a obtenção da aposentadoria especial. O aposentado é absolutamente livre para laborar no que desejar, sendo colocados obstáculos

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19

apenas no que tange aos serviços tidos como prejudiciais à saúde cujo desempenho justamente ensejou sua aposentação antecipada. Além disso, mesmo em relação ao labor especial, não há propriamente proibição, mas sim a colocação de uma escolha ao trabalhador: se ele optar por persistir na atividade, terá seu benefício suspenso. II – TERMO INICIAL DA APOSENTADORIA NA HIPÓTESE EM QUE O SEGURADO SOLICITAR A O BENEFÍCIO E CONTINUAR A EXERCER O LABOR ESPECIAL

Imagine a seguinte situação hipotética: Em 06/10/2006, Regina protocolizou requerimento administrativo no INSS pedindo a concessão de aposentadoria especial alegando que trabalhou durante 25 anos sujeita a condições especiais. A requerente juntou uma série de documentos atestando o trabalho prestado. Vale ressaltar que, mesmo depois de solicitar a aposentadoria, Regina continuou exercendo o labor especial, ou seja, continuou trabalhando exposta aos agentes nocivos. O INSS indeferiu o pedido. Regina continuou trabalhando e ajuizou ação contra o INSS no Juizado Especial Federal pedindo a concessão da aposentadoria. Em 08/11/2008, o juiz jugou o pedido procedente, condenando a autarquia a conceder a aposentadoria especial. Na sentença, o magistrado afirmou que, na data do requerimento administrativo (DER), a autora já havia preenchido os requisitos necessários. Logo, o juiz fixou a data de início do benefício (DIB) na DER, ou seja, em 06/10/2006. A importância disso está, principalmente, no pagamento das parcelas atrasadas. Como o magistrado fixou a DIB em 06/10/2006, a segurada terá direito de receber todas as parcelas mensais da aposentadoria de forma retroativa a essa data. Recurso do INSS O INSS recorreu unicamente contra a DIB fixada. No recurso, a autarquia alegou a seguinte tese: o § 8º do art. 57 da Lei nº 8.213/91 proíbe que o segurado receba aposentadoria especial e continue trabalhando na atividade especial; logo, não se pode dizer que o benefício se iniciou na DER (06/10/2006) já que a segurada continuou trabalhando até 08/11/2008. O pedido do INSS foi, portanto, para que se fixe como momento de início do benefício não a data de entrada do requerimento, mas sim o dia em que a autora efetivamente se afastou da atividade especial. Essa tese do INSS foi aceita pelo STF? NÃO. Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor especial, a data de início do benefício será a data de entrada do requerimento. Essa data deverá ser considerada inclusive para os efeitos financeiros (recebimento dos retroativos). A situação se amolda ao art. 57, § 2º c/c art. 49, I, “b”, da Lei nº 8.213/91, que disciplinam a data de início da aposentadoria especial:

Art. 57 (...) § 2º A data de início do benefício será fixada da mesma forma que a da aposentadoria por idade, conforme o disposto no art. 49.

Art. 49. A aposentadoria por idade será devida: I - ao segurado empregado, inclusive o doméstico, a partir: a) da data do desligamento do emprego, quando requerida até essa data ou até 90 (noventa) dias depois dela; ou

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20

b) da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando for requerida após o prazo previsto na alínea "a"; II - para os demais segurados, da data da entrada do requerimento.

Além disso, conforme bem explica o Min. Dias Toffoli:

“(...) não me parece que, ocorrendo o reconhecimento do direito à aposentadoria especial ao trabalhador que não se afastou daquela atividade nociva, a DIB deva ser fixada na data do afastamento do labor e não na data do requerimento. Isso porque, julgada procedente a ação, subentende-se que a resistência da autarquia era, desde o requerimento, injustificada. Dito de outro modo, o postulante efetivamente fazia jus ao benefício desde o requerimento administrativo. Deverá ele ser penalizado por uma resistência imotivada do INSS, sobretudo quando sabidamente os processos administrativo e judicial alongam-se por tempo demasiado? Não é razoável exigir o afastamento do trabalho logo quando da postulação, pois entre essa e o eventual deferimento decorre um tempo durante o qual o indivíduo evidentemente necessita continuar a obter renda para seu sustento, sendo incerto, ademais, nesse primeiro momento, inclusive, o deferimento da aposentação. Quando, ao final do processo, o segurado tem seu direito à aposentadoria reconhecido e fica evidenciada a falta de fundamento para a resistência do INSS desde a entrada do requerimento, o segurado deve ser penalizado com a postergação da data de início do benefício para o momento em que ele se afastar da atividade?”

Vale ressaltar, no entanto, que, depois de implementado o benefício, o segurado deverá parar de desempenhar o labor especial por causa da regra do § 8º do art. 57:

Art. 57 (...) § 8º Aplica-se o disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta Lei.

Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.

Assim, se ele continuar trabalhando, a aposentadoria especial será cessada. Logo, em nosso exemplo, depois que a aposentadoria foi concedida para Regina, ela deverá parar de desempenhar o trabalho especial. A tese fixada pelo STF ficou assim redigida:

Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor especial, a data de início do benefício será a data de entrada do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos financeiros. Efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial, a implantação do benefício, uma vez verificada a continuidade ou o retorno ao labor nocivo, cessará o benefício previdenciário em questão. STF. Plenário. RE 791961, Rel. Dias Toffoli, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 709) (Info 987 – clipping).

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21

DIREITO DO TRABALHO

SALÁRIO-FAMÍLIA O requisito de baixa renda instituído para o salário-família pela EC 20/98 não se aplica para

quem, na data da publicação da Emenda, já estava em gozo do benefício

A alteração de regência constitucional do salário-família não repercute nas relações jurídicas existentes na data em que promulgada a Emenda Constitucional nº 20/1998.

STF. Plenário. RE 657989, Rel. Marco Aurélio, julgado em 16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 543) (Info 987 – clipping).

Salário-família A Constituição Federal de 1988 previu, em seu art. 7º, XII, o salário-família como um dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais. A Emenda Constitucional 20, de 15 de dezembro de 1998, alterou esse dispositivo para dizer que o salário-família somente seria devido aos trabalhadores de baixa renda. Veja:

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Antes da EC 20/98 Depois da EC 20/98

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XII - salário-família para os seus dependentes;

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;

Houve, portanto, uma alteração no requisito para a concessão do “salário-família”, impondo aos trabalhadores a condição de baixa renda para a concessão do benefício. Diante disso, indaga-se: esse requisito de baixa renda se aplica para situações anteriores à EC 20/98? NÃO.

A alteração de regência constitucional do salário-família não repercute nas relações jurídicas existentes na data em que promulgada a Emenda Constitucional nº 20/1998. STF. Plenário. RE 657989, Rel. Marco Aurélio, julgado em 16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 543) (Info 987 – clipping).

Situações consolidadas antes da EC 20/98 não podem ser atingidas porque deve ser observada a garantia do direito adquirido, que é oponível até mesmo contra o Poder Constituinte Derivado. Assim, as novas regras instituídas não são aplicáveis a quem, na data da publicação da Emenda, já estava em gozo do benefício.

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) É constitucional lei estadual que proíba que a Administração Pública contrate empresa cujo diretor,

gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de atos discriminatórios. ( )

2) Lei distrital não pode conferir porte de arma nem determinar o exercício de atividades de segurança pública a agentes e inspetores de trânsito. ( )

3) (PRF 2019 CEBRASPE) A segurança viária compreende a educação, a engenharia e a fiscalização de trânsito, vetores que asseguram ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente. ( )

4) (Delegado PC/SE 2018 CEBRASPE) O poder constituinte originário, ao tratar da segurança pública no ordenamento constitucional vigente, fez menção expressa à segurança viária, atividade exercida para a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e de seu patrimônio nas vias públicas. ( )

5) (Analista TRT7 2017 CEBRASPE) Nos termos da CF, tanto no âmbito da União quanto no dos demais entes federados, a segurança viária compete aos respectivos órgãos e seus agentes de trânsito, estruturados em carreira, na forma da lei. ( )

6) (Analista TRT7 2017 CEBRASPE) A partir da Emenda Constitucional nº 82/2014, a atividade de segurança viária passa a integrar expressamente o texto da CF, com vistas à preservação da ordem social e da incolumidade patrimonial nas vias urbanas. ( )

7) Configura difamação a conduta do agente que publica vídeo de um discurso no qual a frase completa do orador é editada, transmitindo a falsa ideia de que ele estava falando mal de negros e pobres. ( )

8) Após a Emenda Constitucional 33/2001, é constitucional a incidência de ICMS sobre operações de importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou à prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal. ( )

9) As leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002, com o propósito de impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas, mas produzem efeitos somente a partir da vigência da LC 114/2002. ( )

10) Segundo entendimento atual do STF, ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração. ( )

11) É constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o beneficiário permanece laborando em atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou a aposentação precoce ou não. ( )

12) Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor especial, a data de início do benefício será a data de entrada do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos financeiros. Efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial, a implantação do benefício, uma vez verificada a continuidade ou o retorno ao labor nocivo, cessará o benefício previdenciário em questão. ( )

Gabarito

1. E 2. C 3. C 4. E 5. E 6. E 7. C 8. C 9. C 10. E 11. C 12. C

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio

eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno 19.8.2020 20.8.2020 — 1 437

1ª Turma 18.8.2020 — 1 2 417

2ª Turma 18.8.2020 — 3 3 378

* Emenda Regimental 52/2019-STF. Sessão virtual 14 a 21 de agosto de 2019.

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS DJE DE 17 A 21 DE AGOSTO DE 2020

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.974

RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na ação direta, para declarar a

inconstitucionalidade da Instrução Normativa nº 8, aprovada mediante a Resolução nº 61, de 22 de agosto de 1996, do

Tribunal Superior do Trabalho, nos termos do voto do Relator, vencidos o Ministro Roberto Barroso, que julgava

improcedentes os pedidos, e o Ministro Gilmar Mendes, que declarava a inconstitucionalidade da IN nº 8/96, porém por

outros fundamentos. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Dias Toffoli (Presidente).

Plenário, Sessão Virtual de 29.5.2020 a 5.6.2020.

TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO – CARGOS DE DIREÇÃO E SUBSTITUIÇÃO – ELEIÇÃO. A escolha

dos dirigentes é atribuição privativa do Tribunal, nos termos do artigo 96, inciso I, alínea “a”, da Constituição Federal.

TRIBUNAL REGIONAL – ORGANIZAÇÃO – AUTONOMIA – VIOLAÇÃO. Surge inconstitucional norma do

Tribunal Superior do Trabalho a disciplinar organização de tribunal regional.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.092

RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a

inconstitucionalidade da Lei n° 10.218, de 12 de fevereiro de 1999, do Estado de São Paulo, nos termos do voto do

Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber. O Ministro Roberto Barroso acompanhou o Relator com

ressalvas. Plenário, Sessão Virtual de 12.6.2020 a 19.6.2020.

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – PROIBIÇÃO DE CONTRATAR – EMPRESA – QUADRO – CRIME OU

CONTRAVENÇÃO – ATOS DISCRIMINATÓRIOS – CONDENADO. Surge inconstitucional vedação, à

Administração Pública, de contratação de empresa cujo quadro seja integrado por pessoa condenada ante a prática de

crime ou contravenção envolvendo atos discriminatórios, considerada a inobservância ao princípio da

intransmissibilidade da pena e ao artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.538

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: Após o voto dos Senhores Ministros Gilmar Mendes (Relator) e Sepúlveda Pertence, julgando procedente a ação

direta, pediu vista dos autos a Senhora Ministra Cármen Lúcia. Ausentes, justificadamente, a Senhora Ministra Ellen

Gracie (Presidente) e o Senhor Ministro Celso de Mello e, neste julgamento, o Senhor Ministro Eros Grau. Falaram, pelo

requerente, o Dr. José Guilherme Kliemann, Procurador do Estado e, pela amicus curiae, o Dr. José Vecchio Filho.

Presidência do Senhor Ministro Gilmar Mendes (Vice-Presidente). Plenário, 18.06.2007.

Decisão: Após o voto-vista da Ministra Cármen Lúcia, julgando procedente o pedido formulado, acompanhando o

Relator, para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 12.299/2005, do Estado do Rio Grande do Sul, pediu vista dos

autos o Ministro Roberto Barroso. Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 28.05.2015.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a

inconstitucionalidade da Lei n. 12.299, de 27 de junho de 2005, do Estado do Rio Grande do Sul, nos termos do voto do

Relator. Não votou o Ministro Dias Toffoli (Presidente), sucessor do Ministro Sepúlveda Pertence. Plenário, Sessão

Virtual de 15.5.2020 a 21.5.2020.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 12.299 de 2005 do Estado do Rio Grande do Sul que concedeu reajuste de

vencimentos aos servidores do Poder Judiciário. 3. Revisão Geral Anual. Iniciativa Privativa do Chefe do Poder

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24

Executivo. 4. Lei de iniciativa do Tribunal de Justiça local. Inconstitucionalidade. Violação aos arts. 37, X, e 61, §1º, II,

a, da Constituição Federal. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.996

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou procedente o pedido para declarar a

inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 2.176/1998; do inciso XVIII do artigo 2º da Lei nº 2.990/2002; e do artigo 5º

da Lei nº 3.190/2003, todas do Distrito Federal, bem como dos trechos "armamento e tiro" do § 4º do artigo 4º e "é

atividade de Segurança Pública para todos os efeitos" do artigo 11 da Lei distrital nº 2.990/2002, nos termos do voto do

Relator, vencidos parcialmente os Ministros Edson Fachin e Gilmar Mendes. O Ministro Marco Aurélio acompanhou o

Relator com ressalvas. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica no início da sessão, o Ministro

Celso de Mello (art. 2º, § 5º, da Res. 642/2019). Plenário, Sessão Virtual de 3.4.2020 a 14.4.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 1º DA LEI 2.176/1998; ARTIGOS 2º, XVIII,

4º, § 4º, E 11 DA LEI 2.990/2002; E ARTIGO 5º DA LEI 3.190/2003, TODAS DO DISTRITO FEDERAL.

ATRIBUIÇÃO DE PORTE DE ARMA E DE EXERCÍCIO DE ATIVIDADES DE SEGURANÇA PÚBLICA A

AGENTES DE TRÂNSITO, COM A CORRELATA OBRIGAÇÃO DE FORNECIMENTO DE ARMAS DE FOGO

PELO DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO A SEUS AGENTES. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.

COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA DEFINIR OS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO PORTE DE ARMA DE

FOGO E OS POSSÍVEIS TITULARES DE TAL DIREITO (ARTIGOS 21, VI; E 22, I, DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL). INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. TAXATIVIDADE DO ROL DOS ÓRGÃOS

ENCARREGADOS DA SEGURANÇA PÚBLICA, CONTIDOS NO ARTIGO 144 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE CONHECIDA E JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO. 1. O

porte de arma de fogo não constitui ilícito penal nas hipóteses previstas em lei federal, porquanto compete à União legislar

privativamente sobre Direito Penal, bem como autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico, o que

alcança a disciplina do porte de armas de fogo (artigos 21, VI, e 22, I, da Constituição Federal). Precedentes: ADI 4.962,

Rel. Min. Alexandre de Moraes, Plenário, DJe de 25/4/2018; ADI 5.010, Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, julgado em

1º/8/2018; ADI 2.729, Rel. Min. Eros Grau, Plenário, DJe de 12/2/2014. 2. O porte de arma de fogo e os seus possíveis

titulares, porque afetos a políticas de segurança pública de âmbito nacional, possuem requisitos que cabe à União regular,

inclusive no que se refere a servidores públicos estaduais ou municipais, em prol da uniformidade da regulamentação do

tema no país. 3. In casu, a) o artigo 1º da Lei distrital 2.176/1998 alterou o artigo 8º da Lei distrital 1.398/1997 para incluir

os agentes e inspetores de trânsito do Departamento de Trânsito do Distrito Federal no rol dos servidores públicos isentos

da obrigação de obter autorização para o porte de armas de fogo de uso permitido; b) o § 4º do artigo 4º da Lei distrital

2.990/2002 dispõe que constará do curso de formação profissional dos agentes de trânsito, entre outras matérias,

armamento e tiro; c) o artigo 5º da Lei distrital 3.190/2003 prevê que o Departamento de Trânsito do Distrito Federal

fornecerá armas de fogo aos agentes de trânsito quando estiverem no exclusivo exercício das atribuições do cargo, nas

quantidades e especificações definidas pelo órgão; d) essas normas distritais dispõem sobre porte de armas de fogo,

criando hipóteses não previstas na legislação federal de regência, incidindo em inconstitucionalidade formal, por invasão

da competência da União para definir os requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e os possíveis titulares de

tal direito (artigos 21, VI; e 22, I, da Constituição Federal). 4. A Constituição Federal, ao estabelecer que a segurança

pública será exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através da

Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Ferroviária Federal, das polícias civis e das polícias militares e

corpos de bombeiros militares, instituiu um rol taxativo, de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional

(artigo 144, caput e incisos I, II, III, IV e V, da Constituição Federal). Por conseguinte, os Estados-membros não podem

atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos dos previstos no texto constitucional federal.

Precedentes: ADI 3.469, Rel. Min. Gilmar Mendes, Plenário, DJe de 28/2/2011; ADI 2.827, Rel. Min. Gilmar Mendes,

Plenário, DJe de 6/4/2011; ADI 236, Rel. Min. Octavio Gallotti, Plenário, DJ de 1º/6/2001). 5. Compete aos órgãos e

agentes de trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a educação,

engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à

mobilidade urbana eficiente, não se confundindo com a atividade de “segurança pública” (artigo 144, § 10, da

Constituição Federal). 6. In casu, o inciso XVIII do artigo 2º da Lei distrital 2.990/2002, ao dispor que compete aos

agentes de trânsito exercer “outras atividades de natureza policial que lhes forem atribuídas, na forma da legislação

vigente”, assim como o artigo 11 do mesmo diploma, ao dispor que o cargo de agente de trânsito “é atividade de segurança

pública para todos os efeitos”, encontram-se eivados de inconstitucionalidade material por não observância da

taxatividade do rol dos órgãos encarregados da segurança pública previstos no artigo 144 da Constituição Federal. 7.

Ação direta de inconstitucionalidade CONHECIDA e julgado PROCEDENTE o pedido, para declarar a

inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei 2.176/1998; do inciso XVIII do artigo 2º da Lei 2.990/2002; e do artigo 5º da

Lei 3.190/2003, todas do Distrito Federal, bem como dos trechos “armamento e tiro” do § 4º do artigo 4º e “é atividade

de Segurança Pública para todos os efeitos” do artigo 11 da Lei distrital 2.990/2002.

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.612

RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou parcialmente procedente o pedido formulado tão

somente para declarar a inconstitucionalidade formal, por invasão à reserva de lei complementar, da expressão "bem

como o sócio, diretor, gerente ou administrador", constante do inciso I do § 3º do art. 3º da Lei nº 7.543/88, incluído pela

Lei nº 15.242/10, ambas do Estado de Santa Catarina, nos termos do voto Ministro Dias Toffoli (Presidente e Relator),

vencidos os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso e Celso de Mello, que julgavam procedentes os pedidos, e os

Ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, que declaravam a inconstitucionalidade dos artigos 2º, parágrafos 1º,

inciso IV, e 2º; 7º, § 1º, incisos I, II e III, 2º e 3º; 9º, § 1º; e 18-B, incluídos pela Lei nº 15.242/2010 na de nº 7.543/1988.

Falaram: pela requerente, o Dr. José Eduardo Tellini Toledo; e, pelo amicus curiae, o Dr. Daniel Monteiro Peixoto.

Plenário, Sessão Virtual de 5.6.2020 a 15.6.2020.

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Pertinência temática. Presença. Direito Tributário. IPVA. Fato gerador.

Propriedade, plena ou não, de veículo automotor. Capacidade ativa. Ponderações. Hipóteses de responsabilidade.

Necessidade de observância das normas gerais. Ação direta julgada parcialmente procedente. 1. Encontra-se presente o

requisito da pertinência temática, tendo em vista a existência de correlação entre os objetivos institucionais da requerente

e o objeto da ação direta. 2. A Constituição Federal não fixou o conceito de propriedade para fins de tributação por meio

do IPVA, deixando espaço para o legislador tratar do assunto. Nesse sentido, é constitucional lei que prevê como fato

gerador do imposto a propriedade, plena ou não, de veículos automotores. 3. Como regra, a capacidade ativa concernente

ao imposto pertence ao estado onde está efetivamente licenciado o veículo. Não obstante, a disciplina pode sofrer

ponderações, para o respeito do télos e da materialidade do tributo, bem como do pacto federativo. Daí a fixação da tese

de que “a capacidade ativa referente ao IPVA pertence ao estado onde deve o veículo automotor ser licenciado,

considerando-se a residência ou o domicílio – assim entendido, no caso de pessoa jurídica, o estabelecimento – a que

estiver ele vinculado”. 4. De acordo com a orientação firmada no RE nº 562.276/PR, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ellen

Gracie, DJe 10/2/11, as leis que instituem cláusula de responsabilidade tributária devem observar as normas gerais de

direito tributário previstas em lei complementar, em especial as regras matrizes de responsabilidade estabelecidas pelo

CTN, como, v.g., a do art. 135, e as diretrizes fixadas em seu art. 128, sob pena de incidirem em inconstitucionalidade

formal. 6. Ação direta julgada parcialmente procedente, tão somente para se declarar a inconstitucionalidade formal da

expressão “bem como o sócio, diretor, gerente ou administrador”, constante do inciso I do § 3º do art. 3º da Lei nº

7.543/88, incluído pela Lei nº 15.242/10, ambas do Estado de Santa Catarina.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.072

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a

inconstitucionalidade da Lei Complementar nº 147 do Estado do Rio de Janeiro, nos termos do voto do Relator. Plenário,

Sessão Virtual de 12.6.2020 a 19.6.2020.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Procurador-Geral da República. 3. Lei Complementar 147, de 27 de junho de

2013, do Estado do Rio de Janeiro. 4. Alteração pela Lei Complementar 163, de 31 de março de 2015, do Estado do Rio

de Janeiro. 5. Depósitos Judiciais e extrajudiciais. Transferência para conta do Poder Executivo. 6. Alegação de ofensa

aos artigos 5º, caput; 22, I; 96, I; 100, caput; 148; 168; 170, II; e 192 da Constituição Federal. 7. Usurpação da competência

legislativa da União. Precedentes. Inconstitucionalidade formal configurada. 8. Violação ao direito de propriedade,

configuração de empréstimo compulsório, aumento do endividamento do Estado. Inconstitucionalidade material

configurada. 9. Precedentes: ADI 5409, Rel. Min. Edson Fachin; ADI 5099, Rel. Min. Cármen Lúcia; ADI 5080, Min.

Luiz Fux; ADI 5353, Min. Alexandre de Moraes. 10. Ação julgada procedente.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 159.180

RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

Decisão: Apresentado o feito em mesa pelo Senhor Ministro Marco Aurélio, o julgamento não se realizou por se achar a

matéria, versada no recurso extraordinário, ainda pendente de apreciação pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.

Ausentes, justificadamente, os Senhores Ministros Nelson Jobim e Gilmar Mendes. 2ª Turma, 07.10.2003.

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu do recurso extraordinário e deu-lhe parcial provimento para declarar a

inconstitucionalidade da aplicação do adicional instituído pelo Decreto-Lei nº 2.462, de 30 de agosto 1988, aos fatos

ocorridos no ano-base de 1988, ante a violação dos princípios da anterioridade e da irretroatividade, e cancelou o verbete

nº 584 da Súmula do Supremo, nos termos do voto do Relator, vencidos o Ministro Gilmar Mendes, que negava

provimento ao recurso extraordinário, e os Ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux, que davam parcial provimento ao

recurso para dar interpretação conforme à Constituição ao Decreto-Lei nº 2.462 e cancelavam o Enunciado nº 584 da

Súmula do Supremo Tribunal Federal. Plenário, Sessão Virtual de 12.6.2020 a 19.6.2020.

IMPOSTO DE RENDA – LEI Nº 7.738/1989 – ANO-BASE DE 1988 – PREVISÃO DE NOVO PARÂMETRO DE

INDEXAÇÃO – ATUALIZAÇÃO DOS VALORES DAS QUOTAS DO TRIBUTO – DIREITO ADQUIRIDO –

PRINCÍPIOS DA ANTERIORIDADE E IRRETROATIVIDADE – VIOLAÇÃO – AUSÊNCIA. É constitucional a

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Informativo comentado

Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26

correção monetária das quotas do imposto de renda tal como prevista na Lei nº 7.738/1989, ante a mera substituição de

parâmetro para a indexação, instituída em legislação anterior. LEI – APLICAÇÃO NO TEMPO – IMPOSTO DE RENDA

– ADICIONAL – DECRETO-LEI Nº 2.462/1988 – APLICAÇÃO NO ANO-BASE DE 1988 – IRRETROATIVIDADE

E ANTERIORIDADE – INOBSERVÂNCIA – INCONSTITUCIONALIDADE. É inconstitucional a aplicação, a fatos

ocorridos no ano-base de 1988, do adicional do imposto de renda sobre o lucro real instituído pelo Decreto-Lei nº 2.462,

de 30 de agosto de 1988, considerada a violação dos princípios da irretroatividade e da anterioridade. VERBETE Nº 584

DA SÚMULA DO SUPREMO – SUPERAÇÃO – CANCELAMENTO. Superado o entendimento enunciado no verbete

nº 584 da Súmula do Supremo, impõe-se o cancelamento.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 657.989

RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 543 da repercussão geral, deu provimento ao recurso

extraordinário para, reformando a decisão recorrida, restabelecer o entendimento do Juízo, tal como revelado na sentença,

fixando a seguinte tese: “A alteração de regência constitucional do salário-família não repercute nas relações

jurídicas existentes na data em que promulgada a Emenda Constitucional nº 20/1998”, nos termos do voto do

Relator, vencido o Ministro Roberto Barroso. Plenário, Sessão Virtual de 5.6.2020 a 15.6.2020.

SALÁRIO-FAMÍLIA – EMENDA Nº 20/1998 – APLICAÇÃO NO TEMPO. A alteração de regência constitucional do

salário-família não repercute nas relações jurídicas existentes na data em que promulgada a Emenda Constitucional nº

20/1998.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.221.330

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Decisão: O Tribunal, por maioria, deu provimento ao recurso extraordinário, de modo a denegar a segurança,

restabelecendo a sentença de primeiro grau, atribuiu repercussão geral a esta matéria constitucional e fixou a seguinte

tese de julgamento: "I - Após a Emenda Constitucional 33/2001, é constitucional a incidência de ICMS sobre

operações de importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou

à prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal. II - As leis estaduais

editadas após a EC 33/2001 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002, com o propósito de impor

o ICMS sobre a referida operação, são válidas, mas produzem efeitos somente a partir da vigência da LC

114/2002", nos termos do voto do Ministro Alexandre de Moraes, Redator para o acórdão, vencidos os Ministros Luiz

Fux (Relator), Marco Aurélio, Edson Fachin, Cármen Lúcia e Roberto Barroso. Falou, pelo recorrente, Dr. Waldir

Francisco Honorato Junior, Procurador do Estado de São Paulo. Plenário, Sessão Virtual de 5.6.2020 a 15.6.2020.

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TEMA 1094 DA REPERCUSSÃO GERAL. CONSTITUCIONAL E

TRIBUTÁRIO. ICMS INCIDENTE NA IMPORTAÇÃO DE BENS E MERCADORIAS, POR PESSOA FÍSICA OU

JURÍDICA, COM BASE EM LEI ESTADUAL EDITADA POSTERIORMENTE À PROMULGAÇÃO DA EC Nº

33/2001, PORÉM ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI COMPLEMENTAR FEDERAL Nº 114/2002. POSSIBILIDADE.

1. A jurisprudência desta CORTE, no julgamento do RE 439.796-RG (Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, Tema 171),

fixou a orientação de que, “após a Emenda Constitucional 33/2001, é constitucional a incidência de ICMS sobre operações

de importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou à prestação de

serviços”. 2. Tal imposição tributária depende da edição de lei complementar federal; publicada em 17/12/2002, a Lei

Complementar 114 supriu esta exigência. 3. As leis ordinárias estaduais que previram o tributo após a Emenda 33/2001

e antes da entrada em vigor da LC 114/2002 são válidas, mas produzem efeitos apenas a contar da vigência da referida

lei complementar. 4. No caso concreto, o tributo é constitucional e legalmente devido com base na Lei Estadual

11.001/2001, cuja eficácia teve início após a edição da LC 114/2002. 5. Recurso Extraordinário a que se dá provimento,

de modo a denegar a segurança, restabelecendo a sentença de primeiro grau. Atribuída repercussão geral a esta matéria

constitucional e fixada a seguinte tese de julgamento: “I - Após a Emenda Constitucional 33/2001, é constitucional a

incidência de ICMS sobre operações de importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica

habitualmente ao comércio ou à prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal.

II - As leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002, com o

propósito de impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas, mas produzem efeitos somente a partir da vigência da

LC 114/2002".

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.543

RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE

REDATORA DO ACÓRDÃO RISTF: MIN. CÁRMEN LÚCIA

Decisão: Após o voto do Senhor Ministro Sepúlveda Pertence (Relator), julgando procedente a ação direta, pediu vista

dos autos a Senhora Ministra Cármen Lúcia. Ausentes, justificadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie (Presidente) e

o Senhor Ministro Celso de Mello e, neste julgamento, o Senhor Ministro Eros Grau. Falaram, pelo requerente, o Dr. José

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27

Guilherme Kliemann, Procurador do Estado e, pela requerida, o Dr. Marco Antônio Karan. Presidência do Senhor

Ministro Gilmar Mendes (Vice-Presidente). Plenário, 18.06.2007.

Decisão: Após o voto-vista da Ministra Cármen Lúcia, julgando procedente o pedido formulado, acompanhando o

Relator, para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 12.301/2005, do Estado do Rio Grande do Sul, pediu vista dos

autos o Ministro Roberto Barroso. Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 28.05.2015.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a

inconstitucionalidade da Lei n. 12.301/2005, do Estado do Rio Grande do Sul, nos termos do voto do Ministro Sepúlveda

Pertence (Relator). Redatora para o acórdão a Ministra Cármen Lúcia (art. 38, IV, b, do RI/STF). Não votou o Ministro

Dias Toffoli (Presidente), sucessor do Ministro Sepúlveda Pertence. Plenário, Sessão Virtual de 15.5.2020 a 21.5.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 12.301/2005 DO ESTADO DO RIO GRANDE

DO SUL. REVISÃO GERAL ANUAL DE VENCIMENTOS. CONTRARIEDADE AOS ARTS. 37, INC. X, E 61, § 1º,

INC. II, AL. A, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INICIATIVA PRIVATIVA DO CHEFE DO PODER

EXECUTIVO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. PRECEDENTES. AÇÃO DIRETA PROCEDENTE.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 3.551

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a

inconstitucionalidade dos arts. 57, §1º, e 63, §1º, da Lei nº 13.909/2001 do Estado de Goiás, e modulou os efeitos da

decisão, de modo a garantir que os servidores não tenham diminuição nos seus vencimentos, devendo os valores recebidos

com base nos atos infralegais editados com base nos artigos declarados inconstitucionais ser pagos como vantagem

pessoal nominalmente identificável – VPNI, até que o valor seja absorvido por aumentos futuros ou até que lei venha a

dispor sobre tais gratificações, nos termos do voto Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio, que divergia parcialmente

do Relator, no que projeta a eficácia do pronunciamento referente à incompatibilidade com a Constituição Federal.

Plenário, Sessão Virtual de 19.6.2020 a 26.6.2020.

AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE. 2. LEI 13.909 DO ESTADO DE GOIÁS. 3. GRATIFICAÇÃO DE

DESEMPENHO PARA SERVIDORES PÚBLICOS. FIXAÇÃO PELO GOVERNADOR E DISTRIBUIÇÃO PELO

SECRETÁRIO DE ESTADO. VIOLAÇÃO DO ART. 37, X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NECESSIDADE DE

LEI. 4. CARREIRA DO MAGISTÉRIO ESTADUAL. PROFESSOR DA EDUCAÇÃO BÁSICA. INGRESSO POR

CONCURSO PÚBLICO. CARGO DE CARREIRA. ACESSO ÀS CLASSES DA CARREIRA POR PROMOÇÃO COM

BASE EM MERECIMENTO. POSSIBILIDADE. 5. AÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. 6.

MODULAÇÃO DE EFEITOS PARA QUE OS SERVIDORES NÃO SOFRAM DECRÉSCIMO REMUNERATÓRIO.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.275

RELATOR: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Decisão: O Tribunal, por maioria, confirmou a medida cautelar e julgou procedentes os pedidos formulados na ação direta

para declarar a inconstitucionalidade do art. 245, caput, inciso III e § 3º, e do art. 246 da Constituição do Estado de Mato

Grosso, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin e Ricardo Lewandowski. Falou, pelo amicus

curiae Fundação Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, o Dr. Marco Aurélio Marrafon. Não participou

deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Dias Toffoli (Presidente). Plenário, Sessão Virtual de

29.5.2020 a 5.6.2020.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL E

ORÇAMENTÁRIO. ARTS. 245, CAPUT, INCISO III, E PARÁGRAFO 3º, E 246 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO

DE MATO GROSSO. APLICAÇÃO ANUAL DE 35% DA RECEITA RESULTANTE DE IMPOSTOS, INCLUSIVE

A PROVENIENTE DE TRANSFERÊNCIAS, NA MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO

ESCOLAR. APLICAÇÃO DE PERCENTUAIS DA RECEITA CORRENTE LÍQUIDA NA MANUTENÇÃO E

DESENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO – UNEMAT. RESTRIÇÃO ÀS

COMPETÊNCIAS DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO PARA ELABORAÇÃO DAS PROPOSTAS DE LEIS

ORÇÁMENTÁRIAS. VIOLAÇÃO À RESERVA DE INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO (CF, ART.

165). OFENSA À SEPARAÇÃO DE PODERES (CF, ART. 2º). VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA NÃO AFETAÇÃO

(CF, ART. 167, IV). MEDIDA CAUTELAR CONFIRMADA. PROCEDÊNCIA. 1. O art. 212 da Constituição Federal

especifica que a “União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito federal e os Municípios,

vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na

manutenção e desenvolvimento do ensino”. 2. A gradação de percentual mínimo de recursos destinados à manutenção e

ao desenvolvimento do ensino não pode acarretar restrições às competências constitucionais do Poder Executivo para a

elaboração das propostas de leis orçamentárias. Inteligência do art. 165 da Constituição Federal. 3. Invalidade de emenda

à Constituição estadual que, aprovada em turno único de votação, resulte de emenda parlamentar e acarrete aumento de

despesa em proposta do Poder Executivo. Inteligência do art. 60, § 2º, de observância obrigatória por parte dos Estados-

Membros, e do art. 63, I, da Constituição Federal. Precedentes. 4. Os artigos impugnados subtraem do Poder Executivo

local a legítima atribuição para definir e concretizar, em consonância com as prioridades do Governo em exercício,

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Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28

políticas públicas igualmente relevantes à concretização dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil,

relacionadas a outros direitos fundamentais, a exemplo da saúde e da segurança pública. Ofensa à separação de poderes.

Precedentes. 5. Inconstitucionalidade de normas que estabelecem vinculação de receitas tributárias a órgãos, fundos ou

despesas, por violação ao art. 167, IV, da Constituição Federal, e restrição à atribuição constitucional do Poder Executivo

para elaborar propostas de leis orçamentárias. Precedentes. 6. Medida cautelar confirmada e ação direta de

inconstitucionalidade julgada procedente.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 791.961

RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro Dias Toffoli (Presidente e Relator), apreciando o tema

709 da repercussão geral, deu parcial provimento ao recurso extraordinário e fixou a seguinte tese: "I) É constitucional

a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o beneficiário permanece laborando em

atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou a aposentação precoce ou não.

II) Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor especial, a data de

início do benefício será a data de entrada do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos

financeiros. Efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial a implantação do benefício, uma vez

verificado o retorno ao labor nocivo ou sua continuidade, cessará o benefício previdenciário em questão", vencidos

os Ministros Edson Fachin, Marco Aurélio, Celso de Mello e Rosa Weber. Falaram: pelo recorrente, o Dr. Vitor Fernando

Gonçalves Cordula, Procurador Federal; e, pela recorrida, o Dr. Fernando Gonçalves Dias. Plenário, Sessão Virtual de

29.5.2020 a 5.6.2020.

EMENTA Direito Previdenciário e Constitucional. Constitucionalidade do art. 57, § 8º, da Lei nº 8.213/91. Percepção do

benefício de aposentadoria especial independentemente do afastamento do beneficiário das atividades laborais nocivas a

sua saúde. Impossibilidade. Recurso extraordinário parcialmente provido. 1. O art. 57, § 8º, da Lei nº 8.213/91 é

constitucional, inexistindo qualquer tipo de conflito entre ele e os arts. 5º, inciso XIII; 7º, inciso XXXIII; e 201, § 1º, da

Lei Fundamental. A norma se presta, de forma razoável e proporcional, para homenagear o princípio da dignidade da

pessoa humana, bem como os direitos à saúde, à vida, ao ambiente de trabalho equilibrado e à redução dos riscos inerentes

ao trabalho. 2. É vedada a simultaneidade entre a percepção da aposentadoria especial e o exercício de atividade especial,

seja essa última aquela que deu causa à aposentação precoce ou não. A concomitância entre a aposentadoria e o labor

especial acarreta a suspensão do pagamento do benefício previdenciário. 3. O tema da data de início da aposentadoria

especial é regulado pelo art. 57, § 2º, da Lei nº 8.213/91, que, por sua vez, remete ao art. 49 do mesmo diploma normativo.

O art. 57, § 8º, da Lei de Planos e Benefícios da Previdência Social cuida de assunto distinto e, inexistindo

incompatibilidade absoluta entre esse dispositivo e aqueles anteriormente citados, os quais também não são

inconstitucionais, não há que se falar em fixação da DIB na data de afastamento da atividade, sob pena de violência à

vontade e à prerrogativa do legislador, bem como de afronta à separação de Poderes. 4. Foi fixada a seguinte tese de

repercussão geral: “(i) [é] constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o

beneficiário permanece laborando em atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou

a aposentação precoce ou não; (ii) nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor

especial, a data de início do benefício será a data de entrada do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os

efeitos financeiros; efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial, a implantação do benefício, uma vez

verificada a continuidade ou o retorno ao labor nocivo, cessará o benefício previdenciário em questão. 5. Recurso

extraordinário a que se dá parcial provimento.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.292

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na ação direta para declarar a

inconstitucionalidade, em sua integralidade, da Lei nº 3.151, de 23 de dezembro de 2005; da alínea ‘d’ do inciso IX do

art. 11 da Lei 2.065, de 29 de dezembro de 1999, com redação dada pela Lei 2.599, de 26 de dezembro de 2002; do inciso

V e parágrafo único do art. 2º da Lei Complementar 95, de 26 de dezembro de 2001; da integralidade da Lei 3.518, de 15

de maio de 2008; do inciso IV do art. 17 da Lei 4.640, de 24 de dezembro de 2014, bem como, por arrastamento, da

integralidade da Lei 1.938, de 22 de dezembro de 1998, e modulou os efeitos da decisão de inconstitucionalidade, (i)

tornando a carreira de Procurador de Entidade Pública do Estado do Mato Grosso do Sul uma carreira em extinção e (ii)

impedindo que seus atuais ocupantes exerçam funções relativas à representação judicial, permitindo o exercício das

funções de consultoria jurídica, sob a supervisão técnica do Procurador Geral do Estado, nos termos do voto do Relator,

vencido o Ministro Marco Aurélio, que divergia parcialmente do Relator, no que projeta a eficácia do pronunciamento

referente à incompatibilidade com a Constituição Federal. Falaram: pela requerente, o Dr. Raimundo Cezar Britto Aragão;

e, pelo amicus curiae, o Dr. Leonardo Avelino Duarte. Plenário, Sessão Virtual de 19.6.2020 a 26.6.2020.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Procurador de Entidades Públicas. Criação após a Constituição de 1988. 3.

Exclusividade da representação do Estado pela Procuradoria do Estado. 4. Princípio da unicidade da representação

judicial. 5. Estrutura paralela à Procuradoria do Estado. Inconstitucionalidade. Precedentes. 6. Ação direta de

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Informativo comentado

Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29

inconstitucionalidade julgada procedente. 7. Princípio da segurança jurídica. Necessidade de modulação dos efeitos da

decisão.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 827.996

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 1.011 da repercussão geral, deu provimento ao recurso

extraordinário para restabelecer o acórdão do TJPR, declarando a competência da Justiça Federal para processar e julgar

o feito em relação aos contratos acobertados pelo FCVS, a qual deverá apreciar o aproveitamento dos atos praticados na

Justiça Estadual, na forma do § 4º do art. 1º-A da Lei 12.409/2011, devendo o Juízo da 5ª Vara Cível de Maringá ser

comunicado deste julgamento para que remeta, in continenti, os autos 0013152-34.2009.8.16.0017 à Subseção Judiciária

de Maringá, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin, Marco Aurélio, Rosa Weber e Celso de

Mello, que negavam provimento ao recurso. Foram fixadas as seguintes teses: 1) "Considerando que, a partir da MP

513/2010 (que originou a Lei 12.409/2011 e suas alterações posteriores, MP 633/2013 e Lei 13.000/2014), a CEF

passou a ser administradora do FCVS, é aplicável o art. 1º da MP 513/2010 aos processos em trâmite na data de

sua entrada em vigor (26.11.2010): 1.1.) sem sentença de mérito (na fase de conhecimento), devendo os autos ser

remetidos à Justiça Federal para análise do preenchimento dos requisitos legais acerca do interesse da CEF ou da

União, caso haja provocação nesse sentido de quaisquer das partes ou intervenientes e respeitado o § 4º do art. 1º-

A da Lei 12.409/2011; e 1.2) com sentença de mérito (na fase de conhecimento), podendo a União e/ou a CEF

intervir na causa na defesa do FCVS, de forma espontânea ou provocada, no estágio em que se encontre, em

qualquer tempo e grau de jurisdição, nos termos do parágrafo único do art. 5º da Lei 9.469/1997, devendo o feito

continuar tramitando na Justiça Comum Estadual até o exaurimento do cumprimento de sentença"; e 2) "Após

26.11.2010, é da Justiça Federal a competência para o processamento e julgamento das causas em que se discute

contrato de seguro vinculado à apólice pública, na qual a CEF atue em defesa do FCVS, devendo haver o

deslocamento do feito para aquele ramo judiciário a partir do momento em que a referida empresa pública federal

ou a União, de forma espontânea ou provocada, indique o interesse em intervir na causa, observado o § 4º do art.

64 do CPC e/ou o § 4º do art. 1º-A da Lei 12.409/2011". Falaram: pela recorrente, os Drs. Marcus Vinícius Furtado

Coelho, José Eduardo Cardozo e Ana Tereza Basílio; pelo recorrido, o Dr. Daniel Francisco Mitidiero; pelo amicus curiae

Federação das Associações dos Moradores de Núcleos de COHAB e Similares no Estado de Pernambuco -

FEMOCOHAB/PE, o Dr. Guilherme Veiga Chaves; pelo amicus curiae Confederação Nacional das Empresas de Seguros

Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização – CNSEG, o Dr. Gustavo Binenbojm; pelo amicus

curiae União, a Dra. Izabel Vinchon Nogueira de Andrade, Secretária Geral de Contencioso da Advocacia-Geral da União;

e, pelo amicus curiae Caixa Econômica Federal – CEF, o Dr. Gryecos Loureiro. Afirmou suspeição o Ministro Roberto

Barroso. Plenário, Sessão Virtual de 19.6.2020 a 26.6.2020.

Recurso extraordinário. Repercussão geral. 2. Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Contratos celebrados em que o

instrumento estiver vinculado ao Fundo de Compensação de Variação Salarial (FCVS) – Apólices públicas, ramo 66. 3.

Interesse jurídico da Caixa Econômica Federal (CEF) na condição de administradora do FCVS. 4. Competência para

processar e julgar demandas desse jaez após a MP 513/2010: em caso de solicitação de participação da CEF (ou da União),

por quaisquer das partes ou intervenientes, após oitiva daquela indicando seu interesse, o feito deve ser remetido para

análise do foro competente: Justiça Federal (art. 45 c/c art. 64 do CPC), observado o § 4º do art. 1º-A da Lei 12.409/2011.

Jurisprudência pacífica. 5. Questão intertemporal relativa aos processos em curso na entrada em vigor da MP 513/2010.

Marco jurígeno. Sentença de mérito. Precedente. 6. Deslocamento para a Justiça Federal das demandas que não possuíam

sentença de mérito prolatada na entrada em vigor da MP 513/2010 e desde que houvesse pedido espontâneo ou provocado

de intervenção da CEF, nesta última situação após manifestação de seu interesse. 7. Manutenção da competência da

Justiça Estadual para as demandas que possuam sentença de mérito proferida até a entrada em vigor da MP 513/2010. 8.

Intervenção da União e/ou da CEF (na defesa do FCVS) solicitada nessa última hipótese. Possibilidade, em qualquer

tempo e grau de jurisdição, acolhendo o feito no estágio em que se encontra, na forma do parágrafo único do art. 5º da

Lei 9.469/1997.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.685

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou improcedente o pedido formulado na ação direta, nos termos do voto do Relator,

vencidos os Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber. Falaram: pelo interessado

Congresso Nacional, o Dr. Anderson de Oliveira Noronha, Advogado do Senado Federal; e, pelo amicus curiae Central

Única dos Trabalhadores - CUT, o Dr. Ricardo Quintas Carneiro. Plenário, Sessão Virtual de 5.6.2020 a 15.6.2020.

Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Lei Federal 13.429/2017. Trabalho temporário. Prestação de serviço a terceiros.

3. Terceirização da atividade-meio e da atividade-fim. Terceirização na administração pública. 4. Ausência de

inconstitucionalidade formal e material. Precedentes: ADPF 324, Rel. Min. Roberto Barroso, e RE-RG 958.252, Rel.

Min. Luiz Fux. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.

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Informativo comentado

Informativo 987-STF (27/08/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS

17 A 21 DE AGOSTO DE 2020

Lei nº 14.039, de 17.8.2020 - Altera a Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994 (Estatuto da OAB), e o Decreto-Lei nº 9.295,

de 27 de maio de 1946, para dispor sobre a natureza técnica e singular dos serviços prestados por advogados e por

profissionais de contabilidade.

Lei nº 14.040, de 18.8.2020 - Estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas durante o estado de

calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020; e altera a Lei nº 11.947, de 16 de

junho de 2009.

Lei nº 14.041, de 18.8.2020 - Dispõe sobre a prestação de apoio financeiro pela União aos Estados, ao Distrito Federal e

aos Municípios com o objetivo de mitigar as dificuldades financeiras decorrentes do estado de calamidade pública

reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública de importância

internacional decorrente da pandemia da Covid-19.

Lei nº 14.043, de 19.8.2020 - Institui o Programa Emergencial de Suporte a Empregos; altera as Leis nºs 9.430, de 27 de

dezembro de 1996, e 13.999, de 18 de maio de 2020; e dá outras providências.

OUTRAS INFORMAÇÕES

17 A 21 DE AGOSTO DE 2020

Decreto nº 10.465, de 18.8.2020 - Institui o Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais,

de Seguros, de Previdência e Capitalização. Decreto nº 10.466, de 18.8.2020 - Dispõe sobre a qualificação de empreendimentos turísticos no âmbito do Programa de

Parcerias de Investimentos - PPI.

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