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Boletim Informativo - AACDN 1 · país belo, cujo hino nacional começa com a frase “Oh, formosa pátria nossa! ” E é a sua beleza que mais fica na nossa lembrança: Viajar pela

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Boletim Informativo - AACDN I 1

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2 I AACDN - Boletim Informativo

ED

ITO

RIA

LNeste número

3 I Editorial

4 I Viajar para Conhecer... Conhecer para Compreender!

9 I Ministros da Defesa Nacional Azevedo Coutinho

10 I Portugal, País MarítimoHistória, Defesa e Identidade

Nacional

14 I Pastor Alemão

17 I A Crise no Líbano e as várias partidas do Médio Oriente

20 I Uma Questão de Estatística

22 I Acontecimentos e Actualidades

26 I UmDeCadaVez

Capa - Papa Bento XVI

Nº 20 I Julho-Agosto de 2006

Cidadania e Defesa

Boletim Informativo da AACDNAssociação de Auditores dosCursos de Defesa Nacional

Praça do Príncipe Real, 23 r/c Dto1250-184 Lisboa

Tel : 213 465 888Fax: 213 257 886E-mail:[email protected]

visite o nosso sitewww.aacdn.pt

Ficha Técnica

DirecçãoDr Abílio Ançã Henriques

EdiçãoDr Francisco Marques Fernando

Composição GráficaElisa Pio

ColaboraçãoMiguel Fradique da Silva

Colaboração FotográficaLusa - Agência de Noticiasde Portugal, SA

Execução GráficaGráfica Central de Almeirim, LdaZona Indústrial, Lote 41 - D2080-221 AlmeirimTel : 243 5910555 Fax: 243 597 559E-mail:geral@gráficaCentral.pt

Tiragem1 000 Exemplares

Os artigos assinados são da responsabilidade dos seus autores

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Cumprindo uma tradição da nossaAssociação, realizámos no início destemês de Outubro o Encontro Nacional

de Auditores, este ano subordinado ao tema“Portugal.com – Tradição e Excelência para oSéculo XXI”.

Como sempre, este evento é um momentomuito especial na vida da AACDN, no qual a nossaAssociação se abre à Sociedade para com estapartilhar desafios e preocupações que se colocamao nosso futuro colectivo.

Por isso, o Encontro constituiu um espaçoprivilegiado para a reflexão e debate sobre temas daactualidade, para o qual contámos com uma pleiâdede personalidades, profundos conhecedores dasmatérias que foram abordadas e efectivos actoresnos sectores de actividade em que estão envolvidos.

A adesão dos Auditores a esta actividade daAACDN, através do significativo número de partici-pantes que marcaram presença em Guimarães,constituiu naturalmente um motivo de enormesatisfação para toda a equipa que trabalhouarduamente na preparação do evento, sendo certoque o nosso Encontro, a par duma jornada de reflexãoe debate, proporcionou também um espaço de alegree saudável convívio de todos os Auditores.

Numa época marcada pelas vaidades provocadaspor um mundo mediático que promove, à exaustão,o vazio de conteúdo, a superficialidade e, tantasvezes, a manipulação dos factos, é bom estabelecera diferença, pelo trabalho sério, profundo e discreto,o único que pode perdurar ao longo dos tempos einfluenciar decisivamente o futuro de Portugal.

É esse, na nossa opinião, o papel das verdadeiraselites que, sem complexos, os Auditores de DefesaNacional devem ser, assumindo, também semtibiezas, a missão de contribuir para um Portugalmais moderno e mais próspero que, respeitando eenaltecendo a sua História de mais de oito séculos,saiba responder às exigências do mundo globalizadoem que vivemos.

Nota finalJá na recta final da nossa partida para Guimarães,

teve lugar a tomada de posse da nova Direcção do

Instituto da Defesa Nacional, assumindo o cargo deDirector o Senhor Major-General Aníbal José RochaFerreira da Silva e de Subdirectora a Senhora Dra.Isabel Alexandra Ferreira Nunes.

Com esta mudança, encerra-se assim um ciclomarcado por alguma indefinição quanto ao papel doIDN e ao seu futuro no quadro das instituiçõespúblicas de referência, período durante o qual aAACDN, de forma aparentemente discreta masporventura bem eficaz, procurou sensibilizar osdecisores políticos para a importância nacional damissão do Instituto da Defesa Nacional, designa-damente quanto à relevância do Curso de DefesaNacional.

O acto da posse dos novos Dirigentes ficouassinalado pelo discurso do Senhor Ministro daDefesa Nacional, em que, para além de enaltecer opapel desempenhado pelo IDN desde a sua criaçãoe apontar as exigências do futuro, dirigiu palavras demuito apreço para com a AACDN, enquanto institui-ção que tem dado continuidade ao trabalho desen-volvido pelo IDN. Para nós, a afirmação do SenhorMinistro da Defesa Nacional constitui naturalmenteuma honra, mas sobretudo uma grande responsa-bilidade para prosseguirmos no cumprimento dosnossos objectivos estatutários.

À nova equipa directiva do IDN, Senhor Major-General Aníbal José Rocha Ferreira da Silva eSenhora Dra Isabel Alexandra Ferreira Nunes,formulamos votos dos maiores êxitos na conduçãodo Instituto da Defesa Nacional, permitindo que estainstituição mantenha uma relevante intervenção navida do País, desempenhando um papel insubstituívelna promoção de uma cultura de Segurança e Defesa.

Pela nossa parte, reiteramos todo o apoio daAACDN, esperando desenvolver as melhores relaçõesde cooperação com o IDN, enriquecendo o papel detodos os Auditores na construção do Portugal doFuturo.

Neste quadro, é para nós motivo de satisfaçãoe particular apreço ter registado a presença do IDNna Sessão de Abertura do nosso EncontroNacional de Auditores em Guimarães.

Abílio Ançã Henriques

Caros Colegas

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Na última semana de Julho, um grupo deintrépidos viajantes da Associação deAuditores de Defesa Nacional percorreu as

estradas da Croácia tendo por missão conhecer esse lindopaís.

A Croácia é uma das cinco repúblicas da extintaFederação Jugoslava que, liberta das grilhetas do regimesocialista de Tito, vai saboreando os novos manjares daliberdade e da afirmação nacional, preparando-se para aplena integração europeia.

“Conhecer um País” é um slogan muito apelativo quea pujante indústria turística agita com resultadosgratificantes. De facto, vale a pena suportar os incómodosda viajem aérea, da via sacra das malas e dos hotéis edos percursos em autocarro (apesar dos benefícios do arcondicionado)!

Durante uma semana podemos conhecer um paísatravés da sua geografia, dos seus monumentos e dasua história e da interligação do passado com o presente.Conhecer uma nação já é um objectivo mais ambicioso econhecer um povo, só seria possível vivendo com ele noseu dia a dia.

Mas apesar disso, o viajante regressa, após umasemana, enriquecido não só nas suas memórias, mastambém na consciência da dimensão do mundo em quevive e das diferentes formas de o viver.

É bem verdade que o Turismo orientado no sentido dacompreensão dos povos (a que deveríamos chamarTurismo Cultural) poderá ser um contributo eficaz para aboa convivência que garante o bem mais valioso - a Paz.

Algumas impressõesmais marcantes desta viajem

O mapa da Croácia apresenta uma estranha formade ferradura. Para esta forma contribui não só a geografia,mas também os limites da expansão otomana: o ladocôncavo da ferradura é a fronteira com a Bósnia ecorresponde à zona onde se instalou a influência dadominação turca, após ser contida na sua expansãoaté Viena.

Como acontece na maioria dos casos, a geografia éuma das condicionantes da História e do desen-volvimento cultural dos povos. Na Croácia a existênciaduma cadeia montanhosa (Alpes Dináricos) que seestende no sentido norte-sul paralela à costamediterrânica, praticamente dividiu o país em duaszonas distintas:

A zona norte-nascente, separada do mar pelasmontanhas e fazendo parte da extensa Planície Panónicaque alimenta o Danúbio e em que a influência continental(eslava e austríaca) é dominante;

A zona sul-poente, virada para o Mar Adriático, ondea influência marítima é marcante. Esta zona tem a suahistória e cultura ligada às civilizações do Mediterrâneo.Do tempo dos romanos vem a sua designação de Istria eDalmácia (terra de pastores na língua ilírica). Com a suaextensíssima costa povoada de mil ilhas, era inevitável asua vocação marítima e de construção naval, patenteadanalgumas cidades que visitamos, nomeadamente Rijeka,Zadar, Split e a inesquecível Dubrovnik.

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No território hoje ocupado pelos croatas, sucederam-seao longo dos tempos os dominadores: romanos, até aoséculo VII, francos, godos e eslavos (húngaros e croatas),venezianos (século XV a XVIII), austríacos, franceses eitalianos. Daí a sua riqueza histórica e monumental. Noentanto, a sua principal riqueza será talvez a beleza natural.

Reportando-nos à Dalmácia, que percorremos de fora afora, para além das suas relíquias romanas, a influência doimpério comercial de Veneza é predominante nos monu-mentos urbanos e até nas torres de pedra em andaressimétricos das pequenas aldeias.

No extremo sul dominou a República de Ragusa (quehoje se chama Dubrovnik), rival de Veneza na influênciacomercial (chegou a ter representação diplomática emLisboa). A bandeira de Dubrovnik tem apenas uma palavrasobre fundo amarelo: LIBERTAS (liberdade, em latim). Istodiz muito sobre a natureza desse povo. Com a sua pequenaárea geográfica conseguiu conviver em liberdade com osgrandes impérios: otomano e austro-húngaro. Aindependência só foi perdida a favor da sua rival Veneza ede Napoleão, por breve tempo. A sua resistência aos Sérviosfaz já parte da História contemporânea!

A metade oriental da ferradura (que não visitámos) fazparte da grande planície da Panónia, que se inicia na zonada capital, Zagreb, e se estende pela Hungria. Nestaplanície, de grande riqueza agrícola, correm os rios Drava eSava, afluentes do Danúbio, que faz a fronteira oriental.

Mas a Croácia (ou Harvastka) é fundamentalmente umpaís belo, cujo hino nacional começa com a frase “Oh,formosa pátria nossa!”

E é a sua beleza que mais fica na nossa lembrança:Viajar pela estrada da costa, tendo por horizonte, dum lado,o mar azul sem mácula, povoado de ilhas verdes e cinzentas,

e do outro, as montanhas de calcário cinza, mesclado deverde, cujos penhascos e picos rasgam o céu azul, ésimplesmente deslumbrante!

As cidades da Dalmácia surgem de súbito comomanchas de telhados vermelhos, em pequenas penínsulasou ilhotas verdes rodeadas do azul-marinho riscado pelaespuma dos inúmeros iates e veleiros. E assim desfilamRijeka, Nin, Zadar, Biograd, Sibenik, Primosten, Trogir,Kastela, Split, Omis, Makarska e, enfim, Dubrovnik. E paraquem se aventurar pelas ilhas: Subetar, na ilha de Brac,Rab, Hvar, Korcula e, Vis. São 926 ilhas e ilhotas, 60 dasquais habitadas. Falemos das montanhas que bordejam omar: a cadeia montanhosa e parque natural Velebit (1757m),que se despenha sobre o Adriático entre Senj e Zadar; e acadeia Biokovo (P.N. 1726m), na região de Makarska e quese estende quase até Dubrovnik.

No Adriático desaguam também alguns rios de grandebeleza: o Zrmanja (69km), que desagua perto de Zadar, nobraço de mar de Novigrad e que corre através duma belagarganta ou canhão encastrado no maciço Velebit; o Krka(73km), que desagua em Sibenik, cujo curso é um parquenatural com paisagens deslumbrantes de lagos, gargantasprofundas e cascatas; o Cetina (100km), que desagua emOmis, através dum grandioso desfiladeiro (que tivemos asorte de atravessar), encastrado no maciço calcário deBIOKOVO; e o Neretva (213km-20 na Croácia), que nascena Bósnia e desagua através dum lindo delta em Ploce.

Sendo estes maciços do tipo cársico, numerosos riostêm cursos subterrâneos e alguns desaguam até no mar jálonge da costa!

Falemos também dos lagos. Os 16 lagos de Plitvice,que visitamos, perto da fronteira norte da Bósnia, na junçãode alguns pequenos rios da bacia hidrográfica do Sava. Estes

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lagos, numa zona cársica, formaram-se por abatimento decavidades e também pela acção de barreira formada peladeposição de cálcio (travertino) nos locais de pequenaprofundidade e baixa velocidade das águas. Os lagos do rioKrka, parque natural do mesmo nome. Os lagos de Bacinaperto do porto de Ploce que são seis pequenos lagoscomunicando entre si, fazendo um conjunto de grandebeleza. E muitos outros.

Sem dúvida que o potencial turístico da Croácia é imenso.Pelo que vimos e não vimos... a beleza paisagística, asviagens entre ilhas e entre portos em belíssimos ferries, oturismo de luxo entre marinas, as cidades e a sua história...Não é por acaso que a UNESCO elegeu como PatrimónioMundial Split, Trogir, Dubrovnik e também o parque dos lagosde Plitvice.

A nova realidade política

Os Croatas tiveram no século IX e X a sua entidadepolítica autónoma com os reis Tomislav, Kresimir e outros,dos quais nunca se esqueceram.

Apesar de nos primórdios do século XX ter existido um“Reino da Jugoslávia” que englobava Sérvios, Bósnios eCroatas (teve efémera duração, interrompida pela 2ª GuerraMundial) e de no final da guerra ser criada a “Federação dasRepúblicas Jugoslavas”, toda a História está cheia demovimentos de resistência croata contra a Monarquia Austro-húngara, contra o Reino de Sérvios, Croatas e Eslovenos(1918) e depois contra o totalitarismo e centralismo de Tito(Movimento da Primavera Croata).

Logo que o comunismo entrou em queda, a RepúblicaCroata reivindicou o seu direito estatutário à autodeter-minação, desencadeando a repressão do Exército PopularJugoslavo dominado por oficiais sérvios e a reacção a queos croatas chamam de “Guerra Pátria”.

A utopia de criar um Estado Jugoslavo (Eslavos do Sul),baseado na raiz comum eslava, seria equivalente à criaçãoduma Federação entre Portugal, Espanha e Marrocosbaseada na sua história e raiz comum romana e árabe.

Como dizia o nosso guia Tilen, a Jugoslávia era umEstado com três línguas (a fantasia da língua servo-croataseria equivalente à língua luso-espanhola), três religiões(cristã, ortodoxa e muçulmana) e três escritas (latina, cirílicae árabe).

Das cinco repúblicas da Federação, a Eslovénia separou-se pacificamente, a Croácia e Bósnia, através de lutas egenocídios, a Macedónia/Kosovo tem um estatuto algo“misterioso” e o Montenegro só agora optou pelaindependência. As fronteiras parecem sólidas, mas salta àvista que a Bósnia tem apenas um pequeno acesso ao maratravés da Croácia, que nem sequer engloba o delta e oporto do seu grande rio (Neretva) pelo qual se fazem astrocas comerciais com o mundo... E a Sérvia ficou semacesso ao mar ...

O drama da separação deveria funcionar como exemploe alerta para outras federações que possam vir por aí. Serásempre um risco a criação de comunidades dentro denações. A separação da Eslovénia foi pacífica, porque nãohavia aí comunidades sérvias ou croatas. Mas na Croácia(Krajina) e na Bósnia havia comunidades sérvias que oexército popular sentiu o dever de proteger.

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Na verdade, os povos migrantes nunca se integraram eé esse o rastilho do drama. Os núcleos sérvios,disseminados pelos territórios, e o empenho da IgrejaOrtodoxa, herdeira de Bizâncio, criaram ou alimentaram osonho da Grande Sérvia.

Na nossa viagem visitámos cidades que forambombardeadas (Zadar, Dubrovnik, Karlovac) eatravessámos zonas que foram palco de perseguiçõesétnicas. Vimos casas e igrejas ortodoxas destruídas eem Karlovac os edifícios metralhados e um campo-museude equipamento militar destruído, que não deixa esquecera página negra das vinganças entre vizinhos que passarama odiar-se.

No tempo de Tito, as crianças eram educadas paraamar a “Grande Pátria Jugoslava” e a “Pequena PátriaCroata”. Mas nos campos de férias essas crianças nãoreconheciam os seus “irmãos” jugoslavos com hábitos,línguas e religiões diferentes. E é isso que fica.

Hoje, para além da diferença ficou o ódio e mesmoque passem a ser vizinhos na cidade, um pai dirá paraum filho: Olha, aquele miúdo é filho do malvado sérvioque violou a tua irmã. Nunca te esqueças!

Levará gerações a esquecer...

Eng. Sousa PereiraAuditor nº 875/04

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Ministros da Defesa Nacional dos Governos Constitucionais pós-25 de Abril

Azevedo Coutinho(VII Governo Constitucional)

Nome: Luís Aníbal de Sá de Azevedo CoutinhoData de nascimento:: 23 de Dezembro de 1928Naturalidade:Santo Ildefonso, PortoPai:Luís de Sárrea de Azevedo CoutinhoMãe: Maria Francisca Pinto Basto de Sá de Azevedo CoutinhoNumero de filhos; 3

Azevedo Coutinho licenciou-se em Engenhariaquímico-industrial no Instituto Superior Técnico.Desenvolveu uma carreira, dupla, de político e

administrador de empresas.Candidatou-se, pela primeira vez, à Assembleia

Constituinte, por Lisboa, em 1975. No ano seguinte, foieleito deputado, pelo CDS, exercendo este cargo até1979. Foi Vice-Presidente da 9.ª Comissão Parlamentarda Defesa e, durante o II Governo Constitucional, porta-voz do CDS para o Ministério dos Negócios Estrangeirose Defesa Nacional. Já com a Aliança Democrática (AD),foi eleito duas vezes deputado pelo círculo do Porto, nosanos 1979 e 1980. No seu registo biográfico de deputadoconsta que foi membro do Bureau Político da UniãoEuropeia das Democracias Cristãs e vogal da ComissãoDirectiva da União Democrática Europeia. Presidiu, ainda,à Comissão das Relações Internacionais do CDS. FoiSecretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, no VIGoverno Constitucional, chefiado por Sá Carneiro, emembro da comissão directiva do CDS. Assumiu a pastada Defesa Nacional, no executivo liderado por PintoBalsemão (VII Governo Constitucional), até Agosto de1981.

Principais medidas enquanto MDN

Os escassos meses de titularidade da pasta nãoderam margem a Azevedo Coutinho para grandesintervenções de fundo. Num período de grandeinstabilidade e grave crise económica, Pinto Balsemãojá não contou com este engenheiro para a composiçãodo executivo do VIII Governo Constitucional, empossadoem Setembro de 1981, sendo substituído, na altura, porFreitas do Amaral. Não obstante, importa referir algumasmedidas.

Em conjunto com o Chefe do Estado-Maior-Generaldas Forças Armadas, o Ministro da Defesa Nacional,Azevedo Coutinho, assinou um despacho que determi-nava a criação de um grupo de trabalho tendo em vistaassegurar as condições de funcionamento e o arranqueda empresa pública Industrias Nacionais de Defesa, E P(INDEP). Pela Portaria nº 725/81, de 27 de Agosto, oSecretário de Estado do seu ministério, Anacoreta Correia,definiu uma nova redacção para o 8º artigo do Estatuto

da Liga dos Combatentes, respeitante à constituição daassembleia-geral, bem como para os 3º e 4º, relativos,respectivamente, aos tripulantes dos navios mercantese familiares dos membros. Foi também Anacoreta Correiaque definiu os termos de nomeação dos delegados dasForças Armadas para o Conselho Superior de ProtecçãoCivil (Portaria n.º 729/81, de 28 de Agosto).

Alferes Ana Dias,Licenciada em Comunicação Social pelo ISCSP

e Redactora do Jornal do Exército

Assine, leiae divulgueo Jornal do Exército

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Portugal surgiu definitivamente na civilização europeiapelas descobertas e as descobertas são um acto cultural,são um acto de criação civilizacional. Criámos o mundomoderno, porém a nossa primeira descoberta foi descobrira ideia de descoberta.

Fernando Pessoa, in Sobre Portugal

É consensual, nos meios oficiais – na política,na cultura, na História, etc – considerar osDescobrimentos como a época áurea da nossa

História. De facto, nas Histórias de Portugal, sobretudonas difundidas até ao século XIX, pelo menos até Alexandre

Herculano e Oliveira Martins (considerados os fundadoresda História moderna), e perdurando até ao presente, osDescobrimentos portugueses marcam o auge da Histórianacional e da projecção portuguesa no mundo, momentoa partir do qual Portugal entrava num irreversível processode decadência.

A Expansão Ultramarina foi um acto inaugural entreos povos do Ocidente, até aí centrados no mar fechadodo Mediterrâneo, horizonte do mundo antigo, da CulturaClássica, por contraposição ao «mar sem fim», visionadopor Fernando Pessoa. No Renascimento, os Portuguesescumprem verdadeiramente a sua vocação atlântica, esseapelo do “mar sem fim”, como povo da finisterra do Ocidente.

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A posição geográfica determinou assim, em parte, aExpansão portuguesa, no momento da afirmação históricadeste povo, motivada, segundo a nossa epopeia nacional,pela lógica de alargamento da «fé» e do «império». Talargumento está de acordo com uma visão da Históriaassociada a uma interpretação providencialista, segundo aqual o nosso país estava predestinado a uma alta missão,a de «dar novos mundos ao mundo».

O mar é consubstancial à identidade portuguesa, desdeos alvores da nacionalidade, definindo mesmo, segundoalguns estudiosos da nossa cultura, certos traços deidentidade do Povo Português, e até a propensão paraestados psíquicos como a melancolia e a tão glosadasaudade. Segundo Francisco da Cunha Leão, e de acordocom as teses sobre o celtismo por si defendidas, deveu-seao substracto céltico das populações nortenhas do litoral,o delineamento de um perfil anímico de que o saudosismoé expressão. E isto milénios antes de as naus seguiremrumo à Índia e de Portugal se definir no seu rectânguloatlântico. A literatura portuguesa medieval está, por exemplo,pejada de referências e de temas relacionados com o mar,que não se encontram com tanta frequência em outraliteraturas.

Os Descobrimentos portugueses, nos séculos XV e XVI,foram erigidos em grande mito nacional, fixado no livroidentificador de Portugal, Os Lusíadas, na expressão dessa«alma pelo mundo em pedaços repartida», que Camõespersonificou. A aventura marítima dos portugueses apresenta,aliás, vários factores para se converter num grande mitonacional, desde logo a viagem, como memória das grandesnavegações do Ocidente, de povos marítimos como osGregos, os Fenícios e os Cartagineses e num sentidosimbólico que determina um movimento histórico, ditadopela demanda de outras terras e outras gentes, não apenascomo forma de superar as carências reais sentidas por umpequeno país como pelo sentido do desvendamento dosmistérios associados ao mar, desde tempos imemoriais.

No Ocidente surgiram mitos como o das IlhasEncantadas, da Atlântida, ou do Preste João das Índias,este último particularmente ligado ao imaginário português.Relembre-se que a procura do Preste João, o lendário reicatólico que habitaria em terras da Etiópia, esteve na origemdas viagens das Descobertas e que durante três séculosdeu azo a expedições. Observa António José Saraiva: «O«mar português» era um oceano com uma margem só,donde não se podia partir sem receio de nunca mais voltar.Até aos tempos próximos das grandes navegações foi ummar deserto e sem eco.»

A vocação marítima dos Portugueses está associada aespecificidades do nosso Povo, «misto de sonhador e dehomem de acção», ou «sonhador activo», como o caracterizaJorge Dias. Diz este autor: «A cultura portuguesa temcarácter essencialmente expansivo, determinado em partepor uma situação geográfica que lhe conferiu a missão deestreitar os laços entre os continentes e os homens. Estecarácter expansivo tem raízes bem fundas no tempo, sequisermos lembrar a cultura dolménica, que, segundograndes autoridades, teve como centro de difusão o litoralportuguês nortenho. (...)A força atractiva do Atlântico,esse grande mar povoado de tempestades e de mistérios,foi a alma da Nação e foi com ele que se escreveu aHistória de Portugal.»

O complexo de sonhador e de homem de acção quecaracteriza o Português determinou o impulso que lançoueste povo na temerária aventura pelo mar desconhecido,unindo assim os diversos continentes e revolucionando aconcepção do mundo, para além de motivações maisimediatas, determinantes das conquistas e exploração dosoceanos. Assim, no século XV, após a arrancada que foi aconquista de Ceuta, as conquistas territoriais no Norte deÁfrica cederiam, a breve trecho, lugar ao expansionismopor mar. Como refere Jorge Dias «a expansão portuguesa,ao contrário da espanhola, é mais marítima e exploradorado que conquistadora.» Essa vocação atlântica, esse apelodo “mar sem fim”, tem a ver, entre outros, com o facto deser Portugal uma finisterra do Ocidente.

A importância do contacto com o mar manifesta-se, pois,desde cedo, num país com uma extensa faixa costeira,com um litoral atlântico e outro mediterrânico, relacionando-se igualmente com questões económicas e geo-estratégicas. Já antes dessa hora solar para Portugal queforam os Descobrimentos, desenvolvia-se, na orla costeira,um intenso comércio, tanto assim que os primeiros reis dePortugal tiveram necessidade de assegurar a protecção àspopulações do litoral e ao comércio marítimo. A primeiraexpedição marítima com o objectivo de ocupar novas terrasrealizou-se ainda no século XIV, no reinado de D. Afonso IV,

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... o reassumirda vocação marítima

dos Portugueses permitiráainda reafirmar a identidade

nacional, no processode globalização

a que não pode eximir-se

com destino às Canárias. A criação da Companhia das Naus,por D. Fernando, em 1380, é também reveladora de incentivoàs viagens e comércio naval. A exploração marítima ecomercial é um fenómeno alargado, na Europa, durante aIdade Média. Como observa José Hermano Saraiva, «Nãoforam os Portugueses os únicos navegadores. Mas emnenhum outro país a expansão marítima para novas regiõesdo mundo assumiu o carácter de empreendimento nacional.»

A expansão e domínio dos mares consolidar-se-iam atémeados do século XVI, após o qual sobrevieram dificuldadesagravadas pela ruptura e decadência representada pelodesastre de Alcácer Quibir, mas pode dizer-se que aexpansão marítima dos Portugueses prolongar-se-á até aoséculo XX. José Hermano Saraiva estabelece a distinçãoentre diversos períodos históricos a que corresponde a

exploração de regiões diferentes. Assim, «no século XVconfina-se ao Atlântico, no século XVI abrange o Índico e oPacífico, nos séculos XVII e XVIII acentua-se no Brasil,nos séculos XIX e XX orienta-se para África.», o que leva ohistoriador a falar numa «gigantesca epopeia colectiva.».

Na verdade, os Descobrimentos consagram um novo eamplo ciclo da História de Portugal que altera o estatutodeste entre as nações. De pequeno país, Portugal converter-se-á em grande Império, o que terá consequências na suaauto-imagem, convertendo-se num paradoxal centro efronteira da Europa.

Desde os Descobrimentos iniciados, à escala mundialpelos portugueses, a exploração dos oceanos tornou-seum processo imparável. O mar, horizonte da expansãopropiciadora do comércio, das viagens de exploraçãocientífica, ou mero cenário de aventura, esteve desde semprena essência da identidade nacional, tendo-se desenvolvidouma consciência estratégica nacional relativa aos oceanos,praticamente desde a fundação da nacionalidade, com adefinição de duas únicas fronteiras naturais – uma terrestre,com Espanha, e outra marítima. O mar constitui, pois, umvector de desenvolvimento económico, de afirmação desoberania e segurança nacional. Como reflecte o Capitão-de-Mar-e-Guerra Cervaens Rodrigues: «Ao longo de toda ahistória os períodos em que Portugal demonstrou possuiruma apurada consciência estratégica da importância do marcoincidiram com períodos de prosperidade nacional. Sempreque essa consciência estratégica passou por períodos deenfraquecimento e a política externa nacional se concentrouem ambientes continentais, sobrevieram dificuldadeseconómicas, lutas internas, decadência social.».

Na actualidade, e tendo presente o papel do mar naexistência nacional, sobretudo nos últimos quinhentos anos,a consolidação de uma consciência estratégica relativa aomar passa por áreas como a defesa e segurança e apreservação dos recursos marinhos, no sentido da defesado interesse nacional, da capacidade de resposta do nossoPaís perante os seus aliados internacionais e comoconsolidação da soberania nacional, no quadro da integraçãoeuropeia.

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Tendo presente o papel do mar em vastos domínios davida nacional, da identidade e valores permanentes da nossaHistória, e numa perspectiva integradora e atenta ao futuro,foi adoptada, em 2003, a Resolução do Conselho deMinistros que estabeleceu a Comissão Estratégica dosOceanos, tendo em vista adoptar uma gestão orientadapara o aproveitamento do mar, no âmbito de áreasdiversificadas, desde a defesa à economia, cultura, ciência,tecnologia e lazer, numa valorização do património marítimo,tendo em conta o seu posicionamento geo-estratégicoe geopolítico.

O interesse do mar para a vida nacional continua a serrelevante. Trata-se, ainda e sempre, de uma forma de superara questão geográfica de Portugal como estreito redutoterrestre na periferia da Europa e de aproveitar aspotencialidades oferecidas por essa fonte de riquezasnaturais, depauperada nas últimas décadas, mormente noque se refere às pescas e à manutenção da variedade dasespécies capturadas, devido a políticas económicas nemsempre adequadas, por parte da União Europeia. Para alémdas pescas, como actividade económica expressiva numpaís com uma longa fronteira marítima como o nosso,assumem grande expressão outros sectores de actividadee do conhecimento humano, entre os quais os transportes,em grande medida responsáveis, desde a era de Vasco daGama, pela globalização do mercado mundial e dascomunicações, a defesa marítima, a indústria naval, oturismo, a investigação científica, etc. Para além dosaspectos políticos e económicos, o reassumir da vocação

marítima dos Portugueses permitirá ainda reafirmar aidentidade nacional, no processo de globalização a quenão pode eximir-se.

Portugal, país marítimo por vocação, tem de voltarnovamente ao mar, encerrado que foi o seu ciclo imperial dequinhentos anos. Da atlanticidade que definiu Portugal comocabeça de império e meio de ligação entre mares econtinentes prevalece um importante elo unitivo – a LínguaPortuguesa – que congrega uma extensa comunidade,constituindo um importante meio de comunicação e deidentificação cultural entre povos de vários continentes.Mas também, e de um ponto de vista geo-estratégico, asituação geográfica de Portugal, nomeadamente com aextensão atlântica constituída pelos arquipélagos dosAçores e da Madeira, constitui um factor importante,nomeadamente nas relações económicas, na defesa, nadiplomacia e nas relações internacionais, entre os paísesda União Europeia e seus aliados. Na actualidade, novosriscos e desafios se apresentam, nomeadamente oterrorismo, o tráfego de droga e de armas, a imigraçãoclandestina, etc, pelo que a defesa e segurança dosmares constitui, no presente e no futuro, uma vertenteimportante da Defesa Nacional, assumindo ainda umrelevante contributo, na Comunidade Europeia, no âmbitoda Política de Segurança e Defesa Comum.

Tenente Ana Rita CarvalhoRedactora do Jornal do Exército Mestranda em Literatura

Portuguesa Moderna e Contemporânea

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Henri Kissinger, na sua Diplomacia, referia queas melhores escolas diplomáticas do mundoeram a da China e a do Vaticano. Vindo de quem

vem, esta reflexão dá-nos um enquadramento seguro domomento que se vive hoje nas relações entre o mundoislâmico e a Igreja Católica. Bento XVI é um Papaprofundo. Tem largas décadas de estudos sobre o papelda Fé Católica no Mundo, da apreensão da sua Doutrinanos países mais remotos. Sabe bem o que diz e o quepode dizer. E, por isso, está a renovar a Igreja Católica,ou melhor, está a recolocá-la como fundamento culturale político da Europa. É neste contexto que interpreto assuas declarações na Universidade de Ratisbona.

O mundo, como todos sabemos, está complexo. Anuclearização do Irão – que parece mais do que provável– proporcionar-lhe-á o alargamento da sua esfera deinfluência aos países vizinhos, sobretudo ao Iraque e àSíria, deixando numa posição difícil a Arábia Saudita eos demais países da OPEP. A resposta da Europa, paraser efectiva, só a poderia dar a França ou a Alemanha,

Nós não brincamos; somos alemães!Anúncio da AIR BERLIN

... a Europa deixouo seu presente e o seu futuro

na mão de terceiros.Por isso não tem força

para falar.Nem,

em boa verdade,a ouvem

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ou as duas juntas. Mas a crise económica em que,ambas, se estão a envolver, creio que virá a obrigá-las aapoiar a iniciativa iraniana, esquecendo o que essaaprovação lhes pode trazer de negativo no futuro.

A esta aliança de interesses, há que acrescer apressão da Coreia do Norte para desencadear, também,a iniciativa nuclear. Esta realidade será sempre bem vistapela China uma vez que, por via de alianças, lhe permitirá o domínio do Pacífico Oriental, o espaço marítimo mais

importante do mundo actual. Perguntar-se-á: E o Japão?Não sei se se poderá hoje descortinar que posição irátomar, mas creio que, com o andar dos tempos, issoserá cada vez mais indiferente.

A estes dois focos de combate ao mundo ocidentalhaverá que acrescer o da América Central, nomeadamenteos países produtores de petróleo, que se está a assumircomo um “ponta de lança” anti-ocidental, a actuar na áreageográfica próxima dos Estados Unidos.

A cumprir-se este plano, temos um eixo deinteresses anti-ocidentais que parte do Equador, doMéxico e da Venezuela, passa pelo Médio Oriente e

... se as coisasnão se alterarem,reduzirá a Europaa uma estância turística,invadida, sem cultura,sem moral e sem opinião

Bento XVI (...) mostrou aoMundo que a Europa, sequiser, ainda pode ter opinião

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vai até à China. Não passa pela Europa. Mas a Europa, amedo, ameaça colocar-se nele.

Vejamos agora outro contexto: um dos problemasfulcrais do século XXI é a ausência de matérias-primas, debens essenciais. Essa dificuldade tem sido sanada pelosEstados Unidos, na América do Sul; e começa a ser sanadapela China, em África, depois de uma primeira incursão,também, pela América Latina. Estão assim traçados trêseixos comerciais de futuro: o eixo América do Sul – Américado Norte; o eixo América do Sul – China; e o eixo África –China. Ora, nenhum destes eixos, que na minha opiniãojá são efectivos, passa pela Europa. Mais, nenhum delesatravessa o Atlântico.

A Europa tem problemas graves a esse nível dasmatérias-primas. É excessivamente dependente. E, tirandoo caso da Holanda que se manterá como uma plataformacriadora de valor para os países produtores, não se lhe vêcriatividade nem mudança. A Energia é um dos pontos demaior preocupação: a Europa deixou o seu presente e oseu futuro na mão de terceiros. Por isso não tem forçapara falar. Nem, em boa verdade, a ouvem.

Fará falta a ambos[Rússia e Angola]

um parceiro ocidental.Portugal,

se se afirmar como tal,poderá ser esse parceiro

A dependência energética, aliás, é um caso paradigmá-tico. A proximidade da Rússia à Europa Central, que é aGrande Europa, gera nesta uma particular vocação desubserviência. Nisso, temos beneficiado com a guerra doAfeganistão. É que, no dia em que os Estados Unidos enten-derem que o regime talibã está extinto e libertarem o Cáucaso,a Rússia poderá accionar o seu estatuto de fornecedorenergético de toda a Europa, nas condições que entender.Aliás, creio que o regime de Putin deverá em breve começara dar sinais desse estatuto, e, seguramente, com êxito.

É esta, na minha opinião, a Europa de Bento XVI. Éeste o enquadramento internacional que, se as coisas nãose alterarem, reduzirá a Europa a uma estância turística,invadida, sem cultura, sem moral e sem opinião. É por issoque fazia falta uma voz de força contra o fundamentalismoislâmico. Bento XVI, ao citar o Imperador bizantino ManuelII, numa Universidade do seu país natal, a Alemanha,discordando da “propagação da Fé pela espada”, mostrouao Mundo que a Europa, se quiser, ainda pode ter opinião.Ainda faz sentido. Nem que seja como referência culturalde todo o mundo ocidental. E isso não é pouco. Só que oVaticano, como outrora, deverá ter lugar nesse contexto, epor mérito próprio: não pode ser arredado para o lado.

A Europa não me parece que tenha percebido amensagem. Ou melhor, ficou apática perante ela. Não seise por doença, se por falta de coragem.

Portugal tem a haver com este cenário: é uma naçãotradicionalmente católica e aliada dos Estados Unidos; nãodepende directamente da Rússia em termos energéticos epode influenciar na ligação entre as grandes potências e aAmérica do Sul e a África. Por outro lado, a cumprir-se estaprevisão, a Rússia pode ter necessidade de umaaproximação a Angola pela complementaridade dos recursosde ambos. Fará falta a ambos um parceiro ocidental.Portugal, se se afirmar como tal, poderá ser esse parceiro.

Bento XVI foi corajoso. Abriu uma cruzada moderna. Umacruzada de razão e de opinião. Justificou que a Igreja Católicaé um dos elementos unificadores do Ocidente. É que, afinal,as ideias de Bento XVI e da Igreja Católica são os valoresque criaram e justificam a civilização ocidental, a civilizaçãoeuropeia. Bento XVI, com uma simples citação, pode termudado o destino da Europa. Agora há que esperar para vera reacção dos políticos e das elites europeias. Se é quealgum dia virá. Ou se é que estas últimas ainda existem.“Mesdames et Messieurs, faites vos jeux!”

Fotos © Lusa

José António Silva e SousaAuditor CDN 2002

Presidente da Assembleia Geral da AACDN

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Aofensiva israelita contra o Líbano, em resultadodo ataque do Hezbollah contra uma posiçãoisraelita na fronteira, que custou a vida a oito

soldados e que resultou no rapto de outros dois, teve jáefeitos profundos no Médio Oriente e alguns deles aindasão difíceis de prever. Contudo, o balanço dos ganhos edas perdas aponta para alguns resultados inesperados, emparticular as dificuldades da resposta israelita e um saldopositivo para a tríade Hezbollah-Irão-Síria. Nos primeirostempos da ofensiva, o reputado analista do jornal Haaretz,Ze´ev Schiff, afirmou que “o mais importante aspecto destaguerra” é que “o Hezbollah e o que a sua organizaçãoterrorista representam devem ser derrotados a qualquerpreço. Esta é a única opção que Israel tem. Não podemospermitir-nos uma situação de paridade estratégica entreIsrael e o Hezbollah. Se o Hezbollah não for derrotado nestaguerra, tal vai ser o fim da dissuasão israelita contra osseus inimigos.” Na realidade, esta crise não foi resolvidarapidamente e Israel não conseguiu atingir os seus principaisobjectivos. Como referiu Danny Yatom, general israelita edeputado do Partido Trabalhista, os objectivos iniciais daoperação eram demasiado ambiciosos e o governoapercebeu-se que varrer o Hezbollah do mapa não erarealista: “Esta campanha não vai ser ganha com um KO,mas aos pontos”, disse.

Por um lado, esta acção do Hezbollah deu a Israel aoportunidade esperada desde que se retirou em 2000 dosul do Líbano: destruir severamente as estruturas ecapacidades do Hezbollah. Ao não conseguir fazer isso,Israel não teve a vitória que delineou. As medidas militaresque adoptou não corresponderam aos objectivos traçadosno início da campanha: o regresso dos soldadosraptados, a cessação do lançamento de rockets e adeslocação do exército libanês para o sul do Líbano. Aaposta inicial no poder aéreo, destinada a produzirpressão interna no Líbano sobre o Hezbollah, parece terlevado este último a activar o arsenal de mísseis,arrastando Israel para uma guerra num timing para elanão oportuno. Israel conseguiu quando muito aliviar apressão e ganhar tempo, mas ao não conseguir

...o Hezbollah já conseguiumais do que esperavaao atingir Israelcom os seus mísseis atéNazaré

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incapacitar seriamente o Hezbollah e/ou destruir a sua cadeiade comando, Israel poderá ter apenas adiado o problema.

O que é inegável é que o Hezbollah já conseguiu maisdo que esperava ao atingir Israel com os seus mísseis atéNazaré. Estes ataques conseguiram abalar a opinião públicaisraelita e internacional e até surpreender as cúpulasmilitares. Para além disto, a operação israelita não teve aeficácia habitual. As forças israelitas e os peritos norte-americanos foram surpreendidos pelos meios, treino edisciplina de que deu mostras o movimento. A capacidadedo Hezbollah para usar armas avançadas bem como avariedade do seu armamento fazem do Hezbollah mais umexército do que uma simples milícia. A verdade é que omovimento equipou-se e preparou-se para esta confrontaçãodurante seis anos.

Em rigor, o Hezbollah não tem uma real capacidadepara fazer frente ao poderio militar de Israel, o qual é

... a vitória é do Hezbollahe é Israel quem tem maisa perder do que a ganhar

indiscutível: como estamos face a uma guerra de guerrilha,o que está aqui em causa são factores psicológicos eanímicos. E estes começaram a evidenciar-se com a saídade Israel do sul do Líbano em 2000: para o Hezbollah, aretirada foi vista como uma vitória sobre Israel. Nesta guerra,o Hezbollah não parou de surpreender e acumulou pontosna contabilidade dos factores anímicos.

Nasrallah acusa Israel de ter como objectivo nesta“agressão”, não o resgate dos seus soldados, mas eliminaro Hezbollah e diminuir a soberania ao Líbano, humilhando econtrolando o país. Na entrevista que concedeu à al-Jazeeraa 22 de Julho, Nasrallah afirma saber estar a combater amaior potência militar da região, possuidora de um exércitoque duma só vez derrotou vários exércitos árabes; por isso,a simples resistência a um exército tão poderoso constituijá uma vitória. Diz mais, ao considerar que a sobrevivênciada resistência é uma enorme vitória e que o Hezbollah estáperante uma situação em que não irá perder. Seja como for,para Nasrallah, quer através da resistência, quer pelasobrevivência, a vitória é do Hezbollah e é Israel quem temmais a perder do que a ganhar.

A campanha de bombardeamentos aéreos israelitas nãofoi capaz de destruir as rampas de lançamento do Hezbollahe a intensidade dos ataques israelitas às zonas civis jogoucontra Tel Aviv na opinião pública internacional. Israel nãoconseguiu desmantelar ou desarmar o Hezbollah econtentou-se com a redução das capacidades militares domovimento e com a dizimação de 20% dos seus efectivos.Israel não conseguiu terminar as hostilidades, nem sequercom a derrota psicológica do Hezbollah: para tal, deveria terdeixado marcada a imagem de Nasrallah como líder vencido,politicamente isolado no mundo árabe e condenado em casapor ter sacrificado o Líbano no altar do fanatismo islâmico.

Israel diminuiu assim a parada e, embora se apoie naResolução 1559 no CS da ONU (que exigia o desarmamentodo movimento xiita), poderá ter de se contentar com odesarmamentro do Hezbollah apenas no sul do Líbano.

Marginalizado durante anos, o Hezbollah cresceu efloresceu sob a presença síria no Líbano, atingindo assim oseu actual tamanho e estatuto. Este facto serve para explicaros conflitos de lealdade que grassam no seu meio, pois,apesar dos impulsos iniciais e do sucessivo apoio do Irão(financeiro e muito mais), foi devido à acção síria que oHezbollah é hoje o que é. Nos anos 80, devido às precáriascondições do governo libanês, à incapacidade do seuexército e ao apoio do contingente sírio, apesar dos protestosisraelitas, a protecção da fronteira sul foi entregue aoHezbollah.

Ninguém duvida que o Hezbollah seja apoiado pela Síriae Irão, mas afirmar que a iniciativa do Hezbollah, quedespoletou esta crise – o rapto dos dois soldados israelitas– tenha sido executada sob a direcção do Irão, é umexagero. Vários analistas de renome nesta área defendemque nem o Irão nem a Síria têm capacidade para impedir oHezbollah de fazer seja o que for. Uma das lições que aHistória nos dá é que, mais cedo ou mais tarde, todas asorganizações criam a sua própria agenda. Na entrevista àal-Jazeera, Nasrallah declarou que nem o Irão, nem a Síria,nem o próprio governo libanês foram avisados ou consultadossobre o rapto dos soldados judeus.

Tal situação não impede obviamente que o Irão e/ou aSíria tirem dividendos daqui. Ambos beneficiam, mas, para

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Este não é o “novo MédioOriente” que a AdministraçãoBush concebeu, maspodemos estar a assistir àemergência de um novoMédio Oriente

já e até agora, indirectamente. O assentimento do regimeiraniano no rapto dos soldados não é consistente com aestratégia iraniana. Esta, apesar de provocadora, nunca deixade manter aberta a opção de de-escalar o conflito se equando necessário, de forma a evitar um confronto militarque sabe não poder ganhar. À parte estas considerações, ésabido que o Irão dispõe de algumas centenas de GuardasRevolucionários no vale de Bekaa e que eles fornecem oarmamento, treino, as informações e, no essencial,determinam o comportamento estratégico do movimento.O envolvimento de voluntários iranianos ou de GuardasRevolucionários nos combates (como foi noticiado pelaimprensa israelita) não é em si um factor determinante(embora não seja muito credível que os iranianos o fizessempor receio de serem identificados).

Para todos os efeitos, a guerra no Líbano foi, em grandemedida, uma guerra iraniano-americana e o Hezbollah,apesar do seu carácter nacional, debateu-se numa batalhaem nome do Irão respeitando os parâmetros iranianos nessaluta. Para já, a performance do Hezbollah tem sidoapresentada pelo Irão como uma sua vitória. É preciso,também, ter em conta que a situação no Iraque (isto é, aposição predominante das forças xiitas) e o recente conflitolibanês têm vindo a materializar o cenário do reforço de um“crescente xiita” no Médio Oriente e consequente reforçoda posição do Irão como líder do mundo xiita.

Por sua vez, a Síria, após um período difícil em 2005,marcado pela retirada do Líbano e pelas acusações deenvolvimento do regime de Bashar al-Asad no assassinatodo primeiro-ministro libanês, Rafiq al-Hariri, está agora, denovo, em fase ascendente. As pressões internacionais sobreDamasco começaram a abrandar em 2006, quandoWashington decidiu não avançar com as acusações deapoio sírio ao terrorismo no Iraque e o magistrado alemãoencarregado da investigação sobre o assassinato Hariri foi

substituído por um investigador belga que tem adoptadouma posição mais prudente no que se refere à implicaçãodo regime sírio. A Síria desempenha um papel fundamentalcomo ponto de passagem dos fornecimentos militares doIrão ao Hezbollah: a maior parte dos mísseis avançados noarsenal do movimento são transportados por avião para oaeroporto de Damasco e daí seguem por terra para o Líbano.Aliás, o apoio da síria ao Hezbollah tem sido maisdeterminado sob Bashar al-Asad do que nos tempos doseu pai.

O curto período de tempo que decorreu desde o cessar-fogo no Líbano não nos permite ainda tirar conclusõesdefinitivas da magnitude das alterações que a guerra tevena região e sobre cada um dos intervenientes. Contudo, éjá claro que os resultados da guerra terão um impactoprofundo na região. Este não é o “novo Médio Oriente” que aAdministração Bush concebeu, mas podemos estar a assistirà emergência de um novo Médio Oriente.

Fotos © Lusa

Maria do Céu PintoProfessora na Universidade do Minho

e Auditora da AACDN

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Não, na verdade não se trata propriamente deabordar ou comentar uma peça de teatro, talcomo nós classicamente a concebemos, nem

de uma saudação de fim de ano. Trata-se, outrossim, declamar um desejo – que o próximo ano lectivo decorramelhor (não confundir com o melhor). Estando nós comtanta restrição, tão cingulados acima e abaixo... não mesinto à vontade de pedir verdadeiramente o bom e muitomenos o óptimo – inimigo do antecedente – tal como sediz na minha arte!

Mas, afinal, o ano não foi bom? O ensino não foi opretendido? Os alunos não se mostraram satisfeitos, bempreparados... bem como os professores? As colocaçõesnão foram atempadas nem a jeito dos pretendentes?Houve muitas greves em ambos os campos – discente edocente? Não houve até congratulações...? Porquê oentão de tantas suspeições?

Quem se tenha dado ao trabalho de ver, de algunsanos a esta parte, de forma religiosa, como que cumprindoanualmente um certo ritual – o do santo dia da pauta –

as referidas pautas de exame dos futuros pensadores,dirigentes, executivos, inventores da roda ou vendedoresdo faz de conta, artistas dos rectângulos (sobretudoaqueles que nele trabalham e fazem parar o País) ... eainda dos trabalhadores (felizmente que ainda os há,embora a sua cotação seja baixa), desta ditosa Pátriapor mim amada, certamente que, já parado, percepcio-nando a evidência da envolvência, de pernas ligeiramenteafastadas para melhor reter o equilíbrio e mais facilmentereagir a alguma partida do seu sistema vagal, terá abertoa boca de espanto, ficado perlado de suores e secado agarganta, ao ver de forma tão transparente (designaçãodiscursiva e politicamente correcta) a valorização de quemse prestou a ser avaliado.

Mas isto é que são os resultados dos ExamesNacionais?!

Exactamente!Como poderá haver tanta reprovação ? Pergunta-se

sempre de início...Assim, como é que se irá ter mais médicos, enge-

nheiros, cientistas/investigadores e outros apregoadosactores nas vertentes das ciências... porque nas letras...coitados, já há muitos postos de lado (não se entendaneste meu linguajar qualquer menor atenção ou reverênciapelas vertentes das Humanidades, sobretudo no que se

O pano desceu sobre o 2005-2006!Viva o 2006-2007!

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refere a esta arma poderosíssima que possuímos e queteimamos em manter muito a recato – a LínguaPortuguesa – daí, também, a possível justificação paraas estrondosas notas... negativas ).

Alguém dirá: – Bem, sabe... isto é uma questão demédia aritmética – de juntar esta nota com a da respectivacadeira já feita... E, quem tem, por exemplo, um 15, podeagora ter um cinco.

Matematicamente correcto (apesar da minhadificuldade em entender tamanho descalabro) – dá odez...ito para passar.

Talvez com sorte, quem sabe, possa entrar – numafaculdade, num curso superior... – para ser, provavelmente,mais um engenheiro ou um doutor – agentes de umasubespécie humana que, apesar do desemprego, aindanão atingiu, neste rectângulo peninsular, o númeroadequado ao de um país dos do círculo dodesenvolvimento.

A este propósito, e é bom que se diga, convém nãoconfundir o facto de se possuir uma licenciatura com ode ter emprego compatível. Quem tem uma licenciatura,somente demonstra que soube estudar e, até em algunscasos, assuntos complexos; ou seja, em termos deemprego, que pode ser reciclado (que, do ponto de vistaeco-humano, não é um desperdício).

Na verdade, dá que pensar este problema – seráestatístico? De estatística? Ou da estatística?

Não duvido de quem teve o 5, o 4 ou o 3, ou até o 6,não mereça essa classificação. Não está em causa essaatribuição valorativa. O que aqui questiono é ver pautasdas áreas científicas – estatisticamente falando – comuma atritagem que ultrapassa os 60 % e em alguns casos,mesmo, os 70%.

E isto preocupa-me. E preocupa-me porque se tratade um problema nacional que, se não tratado em tempooportuno, poderá ser tido como de sobrevivência! Porque,na verdade, é disto de que se trata! E para quem possapensar que sou discípulo de George Cuvier (1769-1832),o defensor do catastrofismo, teoria que explicava aextinção da fauna e da flora, em determinados lugares,por sucessivos e violentos cataclismos de larga amplitude,devo, desde já, negá-lo, apesar deste paleontólogotambém afirmar que o povoamento das zonas atingidasseria posteriormente efectuado pela migração de novosseres.

No entanto, apesar da existência de algumas bolsas,onde se faz investigação de nível muito diferenciado (nãoé por acaso que surgem parcerias com o MIT e com aUniversidade de Berkeley, na Califórnia), se a preparaçãocientífica dos nossos jovens continuar a espelhar estarelutância em ultrapassar aparentes/existentesobstáculos, e por que não dizê-lo, para no futuro produzirciência, alguém, por eles, o fará. E, pouco a pouco, vai-se esbatendo, cada vez mais, o tomar da consciência doque é nacional. Do porque, do como e do que por nósdeve ser feito, e bem feito.

É porque, a manter-se a situação, o como e o que sedeve fazer; o como, o que se deve e quando consumir; etudo aquilo que se deve guardar e o que já não interessa;passarão a ser “dictatus”, cada vez mais, de fora... Equem “dicta” (e que já não explica), produz e detém apresumível verdade, passará também a ditar as leis...

Por outras palavras: futuramente poderemos passara ser portugueses de nome, porque de obra pouco nosirá restar.

Mas também pergunto:– Será que esta geração tem menos capacidade para

compreender, para agarrar e interiorizar as bases que apodem catapultar para um processo de maiorconhecimento e, concomitantemente, de perspectivar aresultante dessa aquisição em termos acertivos, emtermos de perseguir verdadeiros e interessantesobjectivos?

Será que os conteúdos programáticos são osadequados à estrutura educativa portuguesa?

Será que já se parou definitivamente com os ensaiosde copy-paste de outras paragens?

Será que quem ensina tem vocação para ensinar?Será que se encontra estruturalmente bem

preparado/a?É que não basta saber muito. O que tem que saber...

é ensinar; e ensinar é realizar o exercício de sintetizar ede apontar os caminhos (actuais) para um sólidoconhecimento; de reprogramar para adequar oconhecimento à perspectiva de quem não sabe; de prevero que se poderá retirar desse ensinamento, expurgadoque foi o acessório e enfatizado o essencial; e depois,evidentemente, avaliar – a começar, exactamente, porquem exerce a actividade docente – o que é a parte maisdifícil – do porque, do como e do que deve ou devia serfeito. Aliás, tem-se visto!

Porque, em tese – ou os discentes não estudam; ouo programa está inadequado às suas reais capacidadesde compreensão; ou o programa não foi todo cumprido,na maior parte dos estabelecimentos de ensino; ou osdocentes desconhecem, em grande parte, o que estão afazer; ou quem elabora a avaliação nacional, ou estácompletamente desfasado do que se ensina (na realidade),ou pretende sublimar/exorcizar os fantasmas das suaspróprias insuficiências.

Haja alguém que tenha a bondade de me explicar, emgráfico, o estudo deste problema.

Desde já aceite os meus agradecimentos.

MajorGeneral Silveira SérgioAuditor nº 702/00

É que não basta saber muito.O que tem que saber...é ensinar

... avaliar – a começar,exactamente, por quemexerce a actividade docente– o que é a parte mais difícil

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Acontecimentos& Actualidades

Como profusamente noticiado, decorreu entreos dias 5 e 7 de Outubro o Encontro Anual deAuditores do Curso de Defesa Nacional.

Encontro Anual

A cidade de Guimarães foi o local escolhido.Guimarães tem, como todos os participantes tiveram

oportunidade de constatar, excelentes condições para arealização do nosso Encontro. Havia, porém, outra razãopara a escolha. Sendo o nosso Encontro subordinado aotema Tradição e Excelência no século XXI bem sejustificava que regressássemos às nossas origens maisancestrais, para, a partir daí, os pés bem fincados natradição, partirmos em busca de um país de excelência.

E assim foi.Percorrer nove séculos de História requer tempo. Por

isso, os do Sul apressaram-se a partir nas vésperas, emcarruagem destinada em exclusivo à AACDN.

No dia 5 de manhã percorremos o centro histórico dacidade, magnificamente preservado. A utilização dematérias e técnicas de construção tradicionais mantevea sua identidade, transportando para o presente o

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passado de mais de mil anos de ocupação. Se quisermos,um exemplo de Tradição e Excelência, a justificar quepela UNESCO tivesse sido classificado PatrimónioCultural da Humanidade.

A cidade, justificadamente reconhecida como berçoda Nação, logo se apercebeu que não éramos forasteirose como filhos nos recebeu. Afável e ternurenta, abriu-nossingelamente os braços, as portas e a alma, e pela vozsábia e simpática de uma guia local falou-nos das suasorigens medievais, do significado histórico ou lendáriodos sítios por onde, entusiasmados e curiosos, íamospassando. Da simbologia daquelas pedras de granito,empapadas em suor, transportadas pela força e pela fé,porque assim são aquelas gentes.

Percorremos a Praça de Santiago e a Rua de SantaMaria. Visitámos a Igreja de Santa Maria da Oliveira.Passeamo-nos pelo Largo do Toural e demoramo-nos noPaço dos Duques de Bragança, mandado construir porD. Afonso, mais tarde Duque de Bragança, cujaconstrução é profusamente influenciada pela arquitecturasenhorial da Europa setentrional.

Escasso o tempo, não nos permitiu, com mágua,visitar o castelo, mandado construir no século X pelaCondessa Mumadona Dias e onde, segundo reza atradição, terá nascido D. Afonso Henriques.

Contemplámos também o Campo de S. Mamede,junto ao Castelo, considerado como o lugar onde, em 24de Junho de 1128, foi travada a batalha de S. Mamede.

Ao lado a Capela de S. Miguel, cuja construção, deestilo românico, remonta ao século XII, onde terá sidobaptizado o nosso primeiro Rei.

Cumprindo o programa, às 15 horas deu-se início aostrabalhos, os quais decorreram no Centro Cultural VilaFlor, espaço agradável, acolhedor e funcional, integradono Palácio Vila Flor, mandado construir no século XVIII

pelo fidalgo vimaranense Tadeu Luís António Lopes deCarvalho de Fonseca e Camões e adquirido pelo Município,destinando-o à execução de actividades culturais.

No dia seguinte prosseguiram os trabalhos.Ao que me consta, a Direcção da nossa Associação

fará oportunamente a adequada divulgação dasconferências feitas. Não me deterei, por isso, nadescrição das mesmas. Todavia, não resisto a referir aexcelente qualidade das comunicações, o interesse comque escutámos os conferencistas. Saliento também oentusiasmo, aliás justificado, com que nos foram descritosalguns projectos de excelência e, por isso mesmo, desucesso que estão a ser desenvolvidos no nosso país eque suscitaram o nosso orgulho de portuguesespreocupados com o nosso futuro colectivo.

Nestes projectos, a par de outros, estão as sementesde um país que está a nascer.

É a passagem da tradição para a excelência. Cumpre-

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nos a nós, que tivemos o privilégio de participar, procederà sua divulgação para que germinem por diversos lugares,em diversas áreas, para que Portugal encontre o seu rumo.

É nosso dever salientar aqui que o sucesso do nossoEncontro ficou também a dever-se à colaboração doPresidente da Câmara Municipal de Guimarães.

Estou certo de que todos nós, que participamos noEncontro, nos sentimos profundamente reconhecidos aoPresidente da Câmara pela gentileza e fildalguia com quenos acolheu na sua cidade.

O carinho com que desde o início acolheu a nossaescolha pela cidade de Guimarães, deixavam antever a suacolaboração na organização e realização do nosso Encontro.

Mas o Dr António Guimarães foi muito mais além.Discreto, quase sem se dar conta da sua presença, estevesempre connosco, atento aos mais pequenos detalhes,providenciando para que tudo corresse bem, como de factocorreu.

Bem haja, Senhor Presidente.Com a sua simpatia e a sua disponibilidade nem deixou

que nos apercebêssemos da preocupação na preparaçãodo Conselho de Ministros que no dia seguinte, sábado,decorreu no Palácio Vila Flor e onde foi decidido que oGoverno vai apoiar a formalização da candidatura deGuimarães a Capital Europeia de Cultura, em 2012.

Daqui lhe enviamos, Senhor Presidente, o nosso abraçode parabéns.

No dia seguinte, sábado, fizemos uma visita aCabeceiras de Basto, onde fomos recebidos peloPresidente da Câmara, que no Salão Nobre dos Paços doConselho nos dirigiu palavras simpáticas e acolhedoras.

No caminho, gentilmente acompanhados pelo Vice-Presidente da Câmara e Vereador da Cultura, visitámos oMuseu das Terras de Basto.

Para além de uma exposição fixa que nos transportapara a evolução dos transportes ferroviários, tanto nodomínio das locomotivas como das carruagens, pudemostambém visitar uma exposição temporária que, subordinadaao tema Um olhar sobre a medicina popular, mostra partedo rico património etnográfico das Terras de Basto, ondepredominava, no conhecimento herdado de geração emgeração, o papel da herbanária.

Visitámos depois o Mosteiro de S. Miguel de Refojos,que, no seu estilo barroco, impressiona pela sua beleza egrandiosidade. Na visita ao coro, apreciámos as cadeirasem castanho, onde os frades, fingindo-se em pé a assistiraos actos litúrgicos se sentavam sobre a “consciência”.

Apreciámos também a beleza dos Órgãos de Tubos,colocados junto ao coro, um de cada lado. São duasverdadeiras jóias de arte. Mas como não há bela semsenão, acontece que o da esquerda, quando emite algumsom, logo se vê que está desafinado, não tem musicalida-de, fere a nossa sensibilidade auditiva. Quanto ao da direita,esse, coitado, não emite qualquer som. A sua mudez é talque é conhecido por “Órgão Mudo”.

Claro que todos sabem quem é o Basto. Condes-cendendo, no entanto, que alguém não conheça este, ode Cabeceiras, sempre direi que é uma “estátua de granito,de arte rude e de forte compleição física, veste túnicacingida por cinturão de onde pendem embainhados o punhale a espada. O escudo, pequeno e redondo, é centrado noabdómen”

Na sua simbologia primitiva personificava a “raça” dasgentes da região, a sua alma e as suas tradições. É no“Basto” que os habitantes de Cabeceiras revêem a suacoragem e a sua honradez.

Ensina-nos a lenda que os Mouros, comandados porTarik, se preparavam para conquistar o Mosteiro. Ovenerando abade do Mosteiro, Hermígio Romarigues,homem de porte avantajado e possante e talvez porquemais devoto da espada que da cruz, rosto retalhado pelosmuitos golpes de contendas anteriores, postou-se junto àponte que dava acesso ao mosteiro e, barrando apassagem aos mouros, estendeu a mão possante, gritando“Até ali, por S. Miguel, até ali Basto eu”.

E bastou. Três vezes os mouros arremeteram, mastrês vezes foram repelidos pela espada de HermígioRomarigues.

Terminámos este sábado cultural em Bracara Augustavisitando, além dos banhos romanos, um santuário rupestre,edificado no início do século I, conhecido como Fonte doÍdolo.

Ah! Quase me esquecia. É que não alimentamosapenas o espírito, alimentamos também o corpo. E deque maneira, Deus meu!

Em jeito de conclusão, direi que tenho para mim que,para não desmerecer do tema do nosso encontro, secumpriu a TRADIÇÃO e cumpriu-se também aEXCELÊNCIA.

Boletim Informativo - AACDN I 25

MajGeneral Ferreira da Silva,novo Director do IDN

No dia 27 de Setembro, tomou posse do cargode Director do Instituto de Defesa Nacional oMajGeneral Aníbal Ferreira da Silva. A

cerimónia, presidida pelo Ministro da Defesa Nacional,Dr Severiano Teixeira, contou com a presença da altasindividualidades civis e militares, nomeadamente o Chefedo Estado-Maior do Exército,General Valença Pinto. OMajGeneral Ferreira da Silvasucede ao Dr João Marquesde Almeida, que deixa o cargopara assessorar DurãoBarroso na presidência daComissão Europeia.

O MajGeneral Ferreira daSilva tem 58 anos e é licen-ciado em Economia. Dassuas funções como militar,destacam-se a sua passa-gem pelo Quartel-General daNATO, em Bruxelas, e a chefiada Divisão de Informações doEstado-Maior do Exército; foitambém representante militarnacional junto do CentralCommand nos EUA.

A AACDN vem agradecer, publicamente, acontribuição, voluntária e graciosa, dasempresas e entidades abaixo designadas, as

quais cooperaram para que o nosso Encontro Anual se

tivesse tornado um êxito e Portugal, através das maisdiversas instituições empresariais e de investigação, sepossa afirmar pela Tradição e, simultaneamente, pelaExcelência para o século XXI:

Portugal.com - Tradição e Excelência para o Século XXI

Actualização do EndereçoElectrónico

Com o apoio e patrocínio da PT e Telepac, foi instalado na Sede da AACDN o sistema ADSL

de ligação rápida à Internet.Numa base de rapidez e eficácia, esta nova

situação permite encarar de modo diferente a ligaçãoao exterior, só viável se dispusermos dos endereçoselectrónicos de todos os associados.

Por experiência, verifica-se que uma boa parte dosendereços disponíveis está desactualizado ouincorrecto, urgindo um esforço de actualização,vantajoso para todos.

Apelando ao espírito de colaboração, agrade-cemos que, com uma simples mensagem de teste,informem a AACDN do seu endereço electrónicoactual, profissional e pessoal.

Para o efeito, é possível utilizar os seguintesendereços:

[email protected]@oninet.ptwww.aacdn.pt <http://www.aacdn.pt>(forum do nosso site)465 888 (Telefone)213 257 888 (Fax)

@

26 I AACDN - Boletim Informativo

Muitos continuama ser os Auditores

dos Cursos de DefesaNacional que,

ao longo de mais de trêsdécadas,

se notabilizaramnas mais diversas

áreas: nas Artesou nas Letras,

nas Ciências ouna Educação, na Política

ou na Guerra.Porque a sua acção

é digna de mérito,vale a pena ficara conhecê-los...

indiscriminadamente...

UmDeCadaVezMário António Gomes nasceu em Lisboa a 23 de

Janeiro de 1933, é licenciado em Ciências Militares –Aeronáutica, pela Academia Militar, e em CiênciasSociais e Políticas pelo ISCSP. Frequentou o cursoNational Security Management do Industrial College,nos Estados Unidos da América, e, ainda, o CursoGeral de Guerra Aérea e o Curso Superior de GuerraAérea.

No decorrer da sua actividade profissional, foi: PilotoOperacional de Caça-Aviões de Reacção, de Luta anti-submarina, de Transporte Táctico; Comandante daEsquadra 91 (Luanda), Chefe da Repartição deOperações e Informações do Estado-Maior da ForçaAérea em Angola; Comandante Operacional do SectorAéreo de Cabinda; Comandante da Base Aérea nº 4(Açores) e da Base Aérea nº 1 (Sintra); Chefe do GabineteNATO da Força Aérea, Director da Direcção de Instruçãoda Força Aérea, Chefe da Divisão de Pessoal do EMGFA(nesta função foi o Coordenador do Grupo de Trabalhoque elaborou o EMFAR - Estatuto dos Militares dasForças Armadas) e Inspector-Geral Adjunto da InspecçãoGeral da Força Aérea. Foi Assessor do Instituto daDefesa Nacional e Inspector Coordenador da AutoridadeNacional de Segurança.

Com cerca de 8000 horas de voo, a maior parte emzonas de operações de combate, foi o Comandante daTask Force para apetrechamento, formação de pilotose pessoal mecânico para os aviões B-26 e Aviocar.

No âmbito da AACDN, é o sócio fundador nº 49/81,foi vogal da Direcção em 1982 e Secretário daAssembleia Geral da AACDN em 1983. Foi oCoordenador do Grupo de Trabalho PESC – Posição dePortugal, em 2000. (Tema que foi tratado em váriasconferências, nomeadamente acerca da Força Europeiade Reacção Rápida e da Tecnologia e Indústria deDefesa na União Europeia)Mário Gomes é presentemente MajGeneral PilotoAviador na situação de Reforma.

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