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joão mineiro André Freire, o “arco constitucional e democrático” e as alternativas políticas jorge costa A Constituição ajuda a resistir, não basta para avançar graça marqes pinto Lampedusa, a ponta do iceberg! dina nunes Onde anda a luta feminista no Bloco? adriana lopera O movimento político de Forcades e Oliveres faz uma convocatória para construir a República Catalã dos 99% convocatória Como deve atuar o Bloco depois das autárquicas? nesta edição

Boletim socialismo#1

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[1]tendência socialismo | boletim #1 | outubro 2013

joão mineiroAndré Freire, o “arco constitucional e democrático” e as alternativas políticas

jorge costaA Constituição ajuda a resistir, não basta para avançar

graça marqes pintoLampedusa, a ponta do iceberg!

dina nunesOnde anda a luta feminista no Bloco?

adriana loperaO movimento político de Forcades e Oliveres faz uma convocatória para construir a República Catalã dos 99%

convocatóriaComo deve atuar o Bloco depois das autárquicas?

nesta edição

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André Freire escreveu no Público dia 16 de Outubro que se junta a Rui Tavares para defender uma nova aliança em torno da democracia, do estado social e do quadro constitucional. Um acordo que exclua os partidos que estão no governo e no qual o PS esteja incluído. A proposta mais concreta é defendida por André Freire que propõe a base de um “arco constitucional e democrático” capaz de superar o “arco da governabilidade” que tem condicionado quase sempre o PS para a sua direita. 

Parece genuína a proposta de André Freire propor novas alianças sociais e políticas que não incluam os atuais partidos do governo e que coloquem a defesa do estado social e da constituição no centro da sua agenda. Mas chegará esse centro estratégico como base de uma alternativa política? 

André Freire dá a resposta na segunda ordem de razões justificativas deste “arco constitucional e democrático”. É que para o próprio esta ideia teria a capacidade de “mostrar à exaustão que, mesmo com políticas de austeridade, seria possível atuar de forma diferente, de forma mais equitativa”. É uma frase isolada, é certo, mas que levanta as grandes interrogações e problemas da proposta. 

É que a verdade é que não é possível defender o estado social e a democracia no quadro da austeridade. A luta pelo estado social é absolutamente indissociável da luta contra austeridade como  modus operandi  da

governação económica. A luta pela democracia e os serviços públicos é indissociável da luta contra a dívida e contra troika. É por isso que a austeridade começou (ainda com os PEC´s, não nos esqueçamos…) no quadro constitucional que temos. 

E a conclusão é simples: se a destruição do estado social e do quadro constitucional que temos se faz tendo como pressuposto o pagamento da dívida a taxas de juro absurdas e a pretexto do aplicação das metas do memorando da troika, então só a luta contra a troika e o consenso contra a dívida podem ser as bases para a defesa do estado social e da democracia. 

Concluiu André Freire que “o PS precisa de uma nova política de alianças para defender a democracia”. O PS dirá das suas escolhas. Mas sempre que insiste no compromisso do memorando, no compromisso com a regra de ouro, no compromisso com a austeridade inteligente e equitativa e com o honrar dos compromissos de pagamento que temos, posiciona-se a anos-luz de conseguir defender a democracia e o quadro constitucional.

E essa é uma escolha do PS. Que não é condicionada nem pela sua direita, nem pela sua esquerda. É uma escolha sua, de um programa que subscreve e de uma proposta política que faz para o país.

Dessa escolha poderão resultar alianças, certamente. Mas nunca uma aliança para um Governo de Esquerda.

AnDRÉ FREiRE, O “ARCO COnSTiTUCiOnAl E DEMOCRáTiCO E AS AlTERnATivAS POlíTiCAS”joão mineiro

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1. O Bloco tem usado a trincheira da Constituição da forma mais aberta e mais eficaz. Deve continuar. O Bloco ganhou no TC em todos os pedidos sobre medidas orçamentais. Mais nenhum partido o conseguiu. A chave das nossas vitórias foi recusar o sectarismo. Fomos com deputados do PS quando Seguro os ameaçava e o PCP recusava. Fomos com deputados do PCP quando o PS escolheu ir sozinho. O recurso ao TC contra os ataques a salários e pensões tornou-se um forte tema político. Tem protegido alguns dos direitos e por isso é importante para a vida dos trabalhadores, que sentem essas pequenas vitórias.

2. Em 2014, o Tribunal Constitucional vai ter um papel fundamental. A sentença sobre os atuais cortes nas pensões e salários põe em causa o Orçamento e pode desencadear uma crise governamental. Esses cortes são mesmo inconstitucionais e a jurisprudência recente do TC indica que não os pode deixar passar. Por isso mesmo, Bloco, PCP e PS vão recorrer ao Tribunal. Tanto a CGTP como a UGT farão o mesmo.

3. O segundo “resgate”, mesmo que se chame programa cautelar, vai exigir mudanças na Constituição. não sabemos qual vai ser a decisão do TC. Se declarar inconstitucionalidade, não sabemos como vão reagir o governo e a troika. Uma coisa é certa: a troika vai impor como condição  de um segundo resgate que haja mudanças na Constituição para possibilitar cortes deste tipo. E o PS, quando for obrigado a isso, vai assinar essa condição.

4. A resistência com base na Constituição é a melhor defesa. Mas, até ao dia do programa cautelar, protege o PS. O PS tem portanto uma contradição explosiva. vai pedir a declaração de inconstitucionalidade e vai jogar como se defendesse a Constituição contra a troika. Mas sabe que, quando as condições do segundo resgate forem impostas ou quando chegar ao governo, terá de assinar novo acordo com a troika. O PS abrirá as portas a alguma revisão da

mesma Constituição que agora proclama defender. no passado, foi sempre assim: o PS fez acordos de revisão constitucional com a direita e a esquerda votou sempre contra esses acordos. não há portanto “arco constitucional” com o PS que resista ao telefonema da troika. O PS quer adiar ao máximo esse momento de clarificação e usar ao máximo a proteção que lhe dá o pedido de inconstitucionalidade dos cortes do Orçamento. É o que hoje temos à vista.

5. Centrar a política na Constituição não diferencia do PS. Por tudo isso, uma política centrada na defesa da Constituição é a curto prazo uma forma de proximidade e não de diferenciação com o PS. no recurso de toda a oposição ao TC,  essa convergência vai existir. Mas, se esse for o nosso projeto e o nosso argumento, vai para o centro e para a confusão. Como aliança à defesa, como propõem André Freire e Rui Tavares, falhará a prazo (o PS vai abandonar a Constituição logo que puder). Como resposta à troika, falha já (a Constituição, só por si, não garante escolhas políticas futuras).

6. O que nos separa do PS é o corte da dívida, porque a Constituição não é um programa de governo. A recusa da dívida é a condição para um governo de esquerda. A Constituição não é nem um programa nem uma plataforma de alianças. O que a Constituição pode fazer, se o Tribunal quiser, é bloquear algumas medidas de austeridade. Depois é preciso criar maioria para políticas alternativas. Para manter o PS no barco, o centro quer fingir que não são precisas alternativas, que tudo estaria na Constituição.

Por tudo isto, precisamos de política defensiva. Mas sobretudo precisamos de esperança e luta de massas por uma alternativa, precisamos de virar o jogo. A única alternativa para uma política económica de defesa do salário e pensões é o corte na dívida. É isso que diferencia um governo de esquerda e um governo de direita como aquele que Seguro vai chefiar. Sem o corte na dívida não há salários nem pensões.

A COnSTiTUiçãO AjUDA A RESiSTiR, nãO BASTA PARA AvAnçARjorge costaComo devemos usar a Constituição? Em tempos de agitação e crise social profunda, devemos afinar respostas e argumentos.

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lampedusa, nome de uma ilha siciliana, transporta-nos, à partida, para imagens de luz com um pano de fundo de imenso azul . Talvez por isso tenha sido o destino de milhares de turistas que a escolheram como destino de férias! Mas de há muito que deixou de ser a escolha de quem procura lazer.

Hoje, não são os turistas que trazem lampedusa para a primeira página dos jornais. A ilha transformou-se em local de recorrentes imagens de tragédia. É o paradigma das consequências da legislação europeia que empurra para a imigração ilegal dezenas de milhar de cidadãos, oriundos de diversos países africanos, vítimas do desespero. não é o turismo o seu cartaz de apresentação, mas as consequências de perseguições e da fome que faz chegar às suas costas dezenas de milhar de homens, mulheres e crianças que tiveram como único objetivo a luta pela sobrevivência!

A recente tragédia do afundamento de um barco que transportava cerca de quinhentos imigrantes ilegais, dos quais mais de trezentos perderam a vida, é, apenas, a ponta do icebergue nos últimos anos, cresceu,

exponencialmente, o número de vítimas de uma política europeia que promove a desigualdade nos seus cidadãos e fecha as fronteiras a quem, ainda, acredita no sonho europeu.

O Mediterrâneo transformou-se num imenso cemitério, e os sobreviventes defrontam condições de vida sub-humanas num campo de refugiados sobrelotado. Homens, mulheres e crianças vivem em condições indignas, e muitos dormem ao relento, porque não há hipótese de os alojar. A itália e os restantes países europeus, responsáveis por políticas de imigração restritivas, assobiam para o lado e avançam, agora, com um policiamento das costas que, hipocritamente, teria como objetivo o resgate das vítimas de naufrágio!

Bem pode Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, chorar lágrimas de crocodilo perante os trezentos caixões anónimos de homens, mulheres e crianças e dizer-se muito chocado com o que presenciou. Bem pode o primeiro-ministro italiano decretar funerais de Estado para as vítimas do último naufrágio. Os habitantes de lampedusa e os povos europeus não se deixam enganar!

Estas linhas constituem uma breve reflexão sobre o que tem sido o trabalho feminista do Bloco e qual a sua atual situação. São uma base de lançamento de ideias e pistas para a discussão e, se assim se entender, para uma tentativa de alteração da situação.

na i Convenção (janeiro 2000) dizia-se “Assumimos a existência de conflitualidade entre sexos radicada em discriminações pra ticadas contra as mulheres por um sistema milenar de exploração e poder marcada mente masculino. Reconhecemos diferen ças de perspectiva, de linguagem e de modos de fazer na actividade política que têm ori gem sexual. E consideramos que o próprio Bloco tem sido, até ao momento, marcado por uma perspectiva masculina, com refle xos, até, nos seus principais protago-nistas. Feitas as considerações, não queremos um Bloco

entregue a homens, mas um movi mento que valorize a dimensão feminina na política. Esta deve expressar-se nos órgãos do Bloco e em encontros e Conferências so bre as problemáticas femininas, abertos aos dois sexos.”

Treze anos depois cumprimos o critério mínimo de paridade - 33,33% de mulheres - na Mn e CP; o grupo parlamentar é composto por 62,5% de mulheres.

Chegámos a realizar 2 conferências ou, como lhes chamámos, Encontros nacionais de Mulheres, preten-dendo a construção programática sobre alguns aspetos menos debatidos e sobre os quais havia menos conflu-ência de posições, no sentido de esti mular convergên-cias para a ação política do Bloco. Correram bastante bem, mas depois deixaram de existir.

Em lisboa, durante uns anos, formaram-se dois grupos

lAMPEDUSA, A POnTA DO iCEBERG!graça marques pinto

OnDE AnDA A lUTA FEMiniSTA nO BlOCO?dina nunes

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[5]tendência socialismo | boletim #1 | outubro 2013

de trabalho de combate ao patriarcado, um que reunia mulheres em torno de discussões políticas relacionadas com o feminismo, em particular com a defesa do direito ao aborto, e um outro - Marias - que juntava mulheres mais jovens, com um maior pendor para o ativismo. Após o referendo ao aborto, de 2007, estes grupos desvanece-ram-se e não ficou nenhuma forma de organização de pessoas interessadas nesta área de intervenção.

Ao nível parlamentar o Bloco tem vindo a ter propostas nesta área, que correspondem apenas à reflexão do gru-po parlamentar sem contributos de camaradas ativistas na luta contra a opressão das mulheres. Muitas foram já as iniciativas que apresentámos, e algumas que consegui-mos aprovar, constituindo importantes avanços na de-mocracia e na vida das mulheres. Fica aqui uma lista não muito exaustiva, mas que nos permite ter uma ideia dos temas tratados:

• A primeira iniciativa, em outubro de 2008, foi sobre a violência doméstica. Conseguimos alterar o Código de Processo Penal, reconhecendo a vD como crime público que deixou de depender da denúncia da própria vítima, passando a dar mais proteção às vítimas, impedindo por ex a permanência do agressor no espaço doméstico, no período que decorre entre a prática do crime e a aplicação de uma medida de coação.

• Temos voltado a este tema recorrentemente, propon-do a simplificação de acesso à medida de apoio judiciário; a criação de juízos especializados em violência domésti-ca, para que as magistraturas estejam mais sensibilizadas para estas situações; e a obrigatoriedade do recurso a pul-seiras eletrónicas como garante da proteção das vítimas.

• O aumento da participação de mulheres na vida po-lítica com a alteração das leis eleitorais que garantiram condições para que as mulheres sejam eleitas para a AR, autarquias e PE, permitindo um aprofundamento da de-mocracia e a correção de uma situação que tem discrimi-nado as mulheres no acesso aos órgãos de representação política. A paridade e o equilíbrio de género são uma das qualidades maiores da democracia política.

• O alargamento da proteção na parentalidade, valori-zando a partilha das responsabilidades parentais.

• A garantia do acesso de todas as mulheres à Procria-ção Medicamente Assistida (PMA) e a regulação do re-curso à Maternidade de Substituição.

• O reforço da proteção das vítimas de crime de tráfico, sendo certo que o tráfico de pessoas destinado a explo-ração sexual é caracterizado por formas de violência e exploração brutais, que têm por alvo especial as mulhe-res.

• O reconhecimento da contribuição significativa do trabalho doméstico para a economia mundial, subli-nhando que este setor permanece na sociedade como um trabalho desvalorizado e invisível, confinado na maioria das vezes ao mundo informal e privado das ca-sas, onde é realizado sobretudo por mulheres e meninas.

• O reforço da autonomia e representatividade das or-ganizações não-governamentais de mulheres.

• O reforço dos apoios em situação de desemprego, majorando o valor e a duração do subsídio de desem-prego para casais ou famílias monoparentais desempre-gados, muitas delas no feminino. Em Portugal 86% das famílias são constituídas por mães e filhos.

O grande investimento da direção e do trabalho or-ganizado de mulheres no Bloco foi a campanha pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez. O nosso empenhamento na construção dos meios de ação e de convergência e a nossa capacidade de militância contribuíram decisivamente para a vitória desta luta.

Após este enorme sucesso esfriou o trabalho femi-nista organizado no Bloco. Desfizeram-se os grupos de lisboa e muitas dessas pessoas estão hoje a desenvolver trabalho em associações exteriores ao Bloco. Outras dei-xaram de ter intervenção nesta área.

Mas será que esgotámos, com a despenalização do aborto, os motivos para nos juntarmos, discutirmos e or-ganizarmos a intervenção contra a opressão de género?

Creio que como ficou demonstrado na discussão so-bre assédio sexual (particularizado no piropo) na prepa-ração do Socialismo 2013 até dentro do Bloco se justifica a discussão sobre as formas de exploração, opressão e intolerância que as sociedades patriarcais se esforçam por naturalizar e que precisamos de combater.

numa época em que crescem os fundamentalismos e os ataques conservadores aos direitos e liberdades de mulheres e homens justifica-se mais do que nunca o for-talecimento da luta das mulheres pelo fim da opressão a que estamos sujeitas apenas por sermos mulheres.

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“Faremos a revolução e voltaremos a fazê-la”. O refrão da música cantada por lídia Pujol, inspirado numa frase da filósofa francesa Simone Weil, põe fim ao acto central nas Fontes de Montjuic, em Barcelona, onde se comemo-raram os seis meses de vida do Processo Constituinte, o movimento político de ruptura impulsionado pela médi-ca e freira beneditina Teresa Forcades e o economista e pacifista Arcadi Oliveres, e marca o início de uma primeira campanha política sob o lema “Construamos a República Catalã dos 99%”.

“Faremos a revolução e voltaremos a fazê-la”, canta ela, vestida com o cinzento e negro do severo hábito da sua ordem, mas dançando e batendo palmas ao ritmo de Talkin’ Bout a Revolution de Tracy Chapman, em cuja adaptação para o catalão colaborou.

não se trata nem de um partido político nem de um comício eleitoral, mas como ultimamente acontece por onde Forcades e Oliveres passam, a assistência é quatro vezes superior ao número de cadeiras que foram coloca-das na praça, cerca de mil. As pessoas não levam bandei-ras, mas pancartas reivindicativas: “já delegámos o sufi-ciente, agora somos protagonistas”. Há quem leve vestida a t-shirt vermelha do Processo Constituinte e a maior par-te usa o autocolante redondo com o C do logótipo. São distribuídos panfletos do manifesto de fundação, que tem dez pontos. O primeiro: expropriar a banca privada, e o úl-timo: sair da nATO.

“Estão-nos a aldrabar de tal forma que não sei que mundo vamos deixar aos nossos filhos”

A convocatória do Processo Constituinte chegou a pes-soas muito diferentes, de diversas idades e ideologias. Entre elas encontram-se sindicalistas e activistas, assim como pessoas até agora não politizadas. É o caso de Anna, barcelonesa de 34 anos, que trabalha em condições pre-cárias no que vai conseguindo arranjar. Ela foi pela primei-ra vez a uma acção do Processo Constituinte com o seu companheiro e o seu filho de três anos e contribuiu para

financiar o evento, uma vez que o Processo Constituinte não é subsidiado.

Também Eneko, basco de 35 anos a viver em Barcelona, nunca antes tinha assistido a nenhuma acção do movi-mento, embora o tenha acompanhado desde que surgiu há seis meses. “O que mais me interessa é a ideia da não concorrência com os partidos e criar pontes, porque é o mais difícil. Somos 99% mas estamos divididos”, resume.

“O Processo Constituinte não é um partido político, é um movimento político, o que não a mesma coisa. É uma base para que os movimentos sociais, os sindicatos e os partidos políticos trabalhem juntos. É uma oportunidade, e é assim que deve ser vista”, realça o economista vicenç navarro, um dos fundadores, antes de subir à tribuna e sentar-se junto de outras figuras populares do activismo social e do mundo cultural catalão que integram e apoiam o movimento. De Marta Sibina e Albano Dante, editores da revista Cafèambllet, Esther vivas e josep Maria Anten-tas, da Revolta Global-Esquerda Anticapitalista, a Marta Afuera, porta-voz da Plataforma de Afectados pela Hipo-teca de Girona, o advogado jaume Asens, o cantor Gerard Quintana ou o palhaço jaume Mateu (Tortell Poltrona), que actua maquilhado e vestido de forma pouco habitual para um mestre de cerimónias.

“O Processo Constituinte é um espaço de luta onde reencontramos, reorganizamos, ganhamos força e toma-mos o controlo”, resumirá mais tarde Sibina.

Embora quase todas as pessoas que intervêm no even-to afirmem que se trata de um movimento plural, trans-versal e sem hierarquias, Oliveres e Forcades são uma vez mais a referência e o centro das atenções de jornalistas. Ele abre o acto público propondo uma mudança radical do sistema político, económico e social; ela fecha as inter-venções, três horas depois, anunciando o lançamento da campanha para a constituição de uma “República Catalã” que adopta o slogan “we’re the 99%” (contra o poder do 1%) popularizado pelo movimento Occupy dos Estados

O MOviMEnTO POlíTiCO DE FORCADES E OlivERES FAz UMA COnvOCATóRiA PARA COnSTRUiR A REPúBliCA CATAlã DOS 99%O Processo Constituinte entra numa etapa de “expansão”, debate e desobediência civil após um grande acto público

em Barcelona.lali sandiumenge, Jornal Público do Estado Espanhol, tradução de adriana lopera

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[7]tendência socialismo | boletim #1 | outubro 2013

A Tendência Socialismo realizou em junho o seu encontro fundador. Depois desse encontro, seguiram-se meses em que todo o Bloco esteve concentrado no combate das eleições autárquicas. Hoje é tempo de aprender com os resultados. É também tempo de pen-sar como deve o Bloco prosseguir a sua atividade.

A Tendência Socialismo iniciou já uma reflexão, que pretende partilhar com os aderentes e enriquecer com as opiniões de quem fez esta campanha e fará o Bloco daqui para a frente. Daqui resultam múltiplas questões que te propomos:

• Quais as razões que estiveram na origem do nosso resultado nas autárquicas? Qual a leitura que devemos fazer quanto ao nosso projeto político? E quais os fato-res locais mais relevantes? O que há a melhorar no nos-so trabalho local e autárquico, no plano organizativo e político?

• Como prosseguir a luta contra o atual governo? De que forma podemos multiplicar as lutas sociais? Que

convergências de oposição podemos construir e em torno de que temas? E quais os fatores de diferenciação em relação às outras forças de esquerda?

• Como podemos começar a preparar as eleições eu-ropeias de 2014? Qual deve ser a abordagem do Bloco em relação à política e instituições europeias? Como divulgar em Portugal o nosso projeto para a Europa e a nossa intervenção a esse nível?

Estas questões não esgotam, nem de perto nem de lon-ge, os desafios que se colocam ao Bloco nos próximos tempos. Mas é a partir destes temas que te convidamos para participar nos debates abertos que se vão realizar perto de ti.

Contacta-nos para mais informações.

[email protected]

FB tendência socialismo

Unidos e retomado pelo 15M no Estado Espanhol.

vicenç navarro, o mais aplaudido, explica com núme-ros o motivo pelo qual nem este Estado Espanhol nem esta Catalunha “escassamente democrática e pouco justa” é a sua: “não podemos tolerar que uma pessoa burguesa viva cinco anos mais que uma pessoa desempregada. Um em cada quatro catalães é pobre quando o país é rico”.

Este acto público, a 13 de Outubro, celebrou-se exac-tamente seis meses depois de se ter dado a conhecer o manifesto fundador. Põe fim a uma primeira fase de “cres-cimento” e pressupõe o início de uma segunda etapa de “expansão” do movimento. Mesmo sem ter conseguido os 100.000 apoiantes que Teresa Forcades prognosticou, passaram já dos 45.000 e contam com uma rede de 90 assembleias por todo o território catalão. “valorizo isto muito positivamente. não se tratava de uma campanha de recolha de assinaturas virtuais”, diz Forcades.

no seu discurso, Forcades propõe já duas datas de ac-ção concreta: o dia 16 de novembro, para aprofundar e

debater sobre os passos para desenvolver um processo constituinte na Catalunha, e o dia 30 do mesmo mês, em que se levarão a cabo acções de desobediência civil em simultâneo por todo o território catalão.

“Construir quer dizer que vamos ter que trabalhar e isso exige sobretudo compromisso, para construir somos necessárias todas e todos nós”, insiste, de pé, frente ao microfone, enquanto a assistência aplaude e assobia. “O mais delicado para que o processo continue é potenciar a diversidade. A nossa riqueza é que não pensamos da mes-ma forma”, acrescenta.

O objectivo é reunir todas as forças progressistas e a maioria social indignada, farta de ser enganada, com um objectivo comum: conseguir uma maioria suficiente para apresentar nas eleições catalãs de 2016 uma candidatu-ra unitária, que permita dissolver o Parlamento e convo-car uma assembleia constituinte. Para lá chegar, termina Forcades e canta depois lídia Pujol, será necessário fazer uma revolução e depois, voltar a fazê-la.

Como deve atuar o Bloco depois das autárquicas?COnviTE  REUniÕES ABERTAS DA TEnDÊnCiA SOCiAliSMO

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Distrito de Lisboa- 20 Outubro, 15h Amadora (sede Av. Combatentes da Grande Guerra, 23, 1º) com Francisco louçã e António Santos. - 23 Outubro, 21h30 Odivelas (sede R. Miguel Rovisco - praceta das Finanças) com joão Curvelo e jorge Costa.- 25 Outubro, 21h30 Lisboa (sede Rua da Palma, nº 268) com Mariana Mortágua e josé Gusmão.

Distrito de Setúbal - 22 Outubro, 21h Setúbal (sede lg Dr. Francisco Soveral, 18 1º) com Francisco louçã e álvaro Arranja- 31 Outubro, 21h Seixal (sede Rua de Binta, nº8 A Amora) com jorge Costa e António Chora.

Distrito de Braga - 24 Outubro, 21h30 (sede Av. Central, 54 2º F) com Francisco louçã e Paula nogueira.

Distrito de Évora - 27 de Outubro, 17h (sede Rua de Portel, 5 r/c Senhora da Saúde)

Distrito de Coimbra 1 novembro 21h30 (sede Rua da Sofia, nº 135, 2º) com Marisa Matias e josé Soeiro.

Distrito de Leiria 1 novembro 21h30 (sede lgo. Marechal Gomes da Costa, nº55 lj) com Heitor Sousa e Cristina Andrade.

Distrito de Faro 2 de novembro, 15h30 (sede Rua Brito Cabreira, 12-A) com Cecília Honório, Manuel Afonso e Mariana Mortágua.

Distrito do Porto 2 de novembro, 21h30 (sede Rua álvares Cabral, 77, r/c) com joão Teixeira lopes e Marisa Matias.

Distrito de Viana do Castelo 2 de novembro, 16h (sede Rua Eça de Queirós, Torre liceu, 3º) com Miguel Heleno e Marisa Matias.

Distrito de Viseu 2 novembro 15h, (sede Rua das Ameias 6, 1º), com Francisco louçã e Maria do Carmo Bica

Distrito de Vila Real 3 novembro (sede Tv. Portela 12, 1º) , 16h com Miguel Heleno e Adriano Campos.

Agenda de reuniões: