10
B OLETIM T ÉCNICO IFT 06 1 APRESENTAÇÃO BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar ANA LUIZA V. ESPADA 1 , IRAN PAZ PIRES, HERBERTO UENO, PAULO AMORIM E MARCO W. LENTINI As Unidades de Conservação (UCs) são espaços territoriais com seus limites definidos, criadas para a conservação da biodiversidade com restrição de uso dos recursos naturais e sob regime especial de administração (SNUC, Lei Federal 9.985/2000 2 ). Consideradas como im- portante ferramenta de conservação da biodiversidade, as UCs são classificadas em dois grupos: as UCs de Proteção Integral e as UCs de Uso Sustentável. A primeira categoria se destina à pre- servação da biodiversidade, permitindo o uso indireto dos recursos naturais. Já a segunda permite o uso direto 3 , ao re- conhecer a existência e o direito de uso dos recursos naturais por povos e co- munidades tradicionais 4 . Há uma série de usos permitidos nas UCs de Uso Sustentável. No ge- ral, as atividades agrícolas e de criação de animais são permitidas desde que voltadas à subsistência das populações residentes 5 . Outros usos permitidos na maioria dessas UCs são a exploração de produtos florestais madeireiros e não madeireiros, a visitação e o turismo, e a pesquisa científica. Dentre as atividades econômicas geradoras de renda fami- liar, a extração de produtos da floresta é praticada por famílias que residem nos limites ou no entorno de UCs, que já realizavam tal atividade antes mesmo da criação do SNUC e que, com o adven- to da delimitação física da área destinada como UC e a restrição do uso de seus recursos naturais, tiveram que se adap- tar à forma de extração e de comerciali- zação desses produtos. Devido à sua re- levância para a região amazônica, dentre os diferentes tipos de UCs incluídos na categoria de uso sustentável, nos con- centraremos em nossas experiências empíricas e de observações de campo em Reservas Extrativistas (RESEX), embora muitas destas lições sejam tam- bém válidas para as Florestas Nacionais (FLONA) e para as Reservas de Desen- volvimento Sustentável (RDS) 6 , devido similaridade dos usos permitidos e po- pulação residente. Desta forma, surge nas UCs de Uso Sustentável a necessidade da adoção das práticas de manejo florestal sus- tentável, não somente para obedecer as regras apresentadas pelo órgão gestor da Unidade, mas como premissa para o uso contínuo da floresta, conservan- 1 Autora correspondente: [email protected]. 2 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, Lei que estabelece os critérios e as normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação no Brasil. 3 Uso indireto não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais; enquanto uso direto envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais (BRASIL, 2000). 4 São grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007). 5 Uma exceção a esta regra são as Reservas de Fauna (BRASIL, 2000). 6 Das áreas cadastradas no Plano Anual de Outorga Florestal 2013 (SFB, 2013) como UCs de Uso Sustentável, mais de 95% eram compostos por RESEX, FLONA e RDS, o que corresponde a mais de 30 milhões de hectares. A categoria de UCs de Uso Sustentável inclui ainda as APAs (Área de Proteção Ambiental), ARIEs (Área de Relevante Interesse Ecológico), Reservas de Fauna, e RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural).

BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

1

APRESENTAÇÃO

BOLETIM TÉCNICO IFT 06Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

ANA LUIZA V. ESPADA1, IRAN PAZ PIRES, HERBERTO UENO, PAULO AMORIM E MARCO W. LENTINI

As Unidades de Conservação (UCs) são espaços territoriais com seus limites definidos, criadas para a conservação da biodiversidade com restrição de uso dos recursos naturais e sob regime especial de administração (SNUC, Lei Federal 9.985/20002). Consideradas como im-portante ferramenta de conservação da biodiversidade, as UCs são classificadas em dois grupos: as UCs de Proteção Integral e as UCs de Uso Sustentável. A primeira categoria se destina à pre-servação da biodiversidade, permitindo o uso indireto dos recursos naturais. Já a segunda permite o uso direto3, ao re-conhecer a existência e o direito de uso dos recursos naturais por povos e co-munidades tradicionais4.

Há uma série de usos permitidos nas UCs de Uso Sustentável. No ge-ral, as atividades agrícolas e de criação de animais são permitidas desde que voltadas à subsistência das populações residentes5. Outros usos permitidos na maioria dessas UCs são a exploração de produtos florestais madeireiros e não madeireiros, a visitação e o turismo, e a pesquisa científica. Dentre as atividades econômicas geradoras de renda fami-

liar, a extração de produtos da floresta é praticada por famílias que residem nos limites ou no entorno de UCs, que já realizavam tal atividade antes mesmo da criação do SNUC e que, com o adven-to da delimitação física da área destinada como UC e a restrição do uso de seus recursos naturais, tiveram que se adap-tar à forma de extração e de comerciali-zação desses produtos. Devido à sua re-levância para a região amazônica, dentre os diferentes tipos de UCs incluídos na categoria de uso sustentável, nos con-centraremos em nossas experiências empíricas e de observações de campo em Reservas Extrativistas (RESEX), embora muitas destas lições sejam tam-bém válidas para as Florestas Nacionais (FLONA) e para as Reservas de Desen-volvimento Sustentável (RDS)6, devido similaridade dos usos permitidos e po-pulação residente.

Desta forma, surge nas UCs de Uso Sustentável a necessidade da adoção das práticas de manejo florestal sus-tentável, não somente para obedecer as regras apresentadas pelo órgão gestor da Unidade, mas como premissa para o uso contínuo da floresta, conservan-

1 Autora correspondente: [email protected]. 2 Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, Lei que estabelece os critérios e as normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação no Brasil.3 Uso indireto não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais; enquanto uso direto envolve coleta e uso, comercial ou não, dos recursos naturais (BRASIL, 2000).4 São grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007).5 Uma exceção a esta regra são as Reservas de Fauna (BRASIL, 2000).6 Das áreas cadastradas no Plano Anual de Outorga Florestal 2013 (SFB, 2013) como UCs de Uso Sustentável, mais de 95% eram compostos por RESEX, FLONA e RDS, o que corresponde a mais de 30 milhões de hectares. A categoria de UCs de Uso Sustentável inclui ainda as APAs (Área de Proteção Ambiental), ARIEs (Área de Relevante Interesse Ecológico), Reservas de Fauna, e RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural).

Page 2: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

2

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

do-a em pé e mantendo suas funções ecológicas. Em um contexto propício de fomento das organizações não go-vernamentais e do governo ao Mane-jo Florestal Comunitário e Familiar (MFCF), os órgãos gestores dessas áreas públicas passam a ter ferramen-tas interessantes para promover a dis-cussão com as comunidades que an-seiam melhorias da qualidade de vida e o desenvolvimento local por meio de práticas legais e reconhecidas por Lei. De fato, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM-Bio), órgão gestor de UCs federais, vem promovendo ações para o fomen-to de atividades sustentáveis, como a busca por parcerias com organizações não governamentais que promovem o manejo florestal como meio de uso dos recursos florestais aliado à conservação e à geração de renda familiar. Entretan-to, toda atividade prevista em uma UC precisa ser justificada. Mesmo obser-vando o histórico socioeconômico das famílias que ali residiam antes da cria-ção da UC, é necessária a documenta-ção através de levantamentos in loco e

a elaboração de um zoneamento e de um plano de uso dos recursos naturais da Unidade.

Para auxiliar neste debate, o pre-sente boletim tem por objetivo do-cumentar algumas considerações e lições aprendidas no trabalho do Instituto Floresta Tropical (IFT) em visitas técnicas e condução de atividades de fomento ao desen-volvimento do MFCF junto a Re-servas Extrativistas (RESEX) de diferentes regiões da Amazônia. Esperamos que estas considerações possam subsidiar a tomada de decisão do órgão gestor, das comunidades e dos representantes da sociedade civil organizada, interessados na promoção de atividades sustentáveis em UCs de Uso Sustentável. Passaremos, primei-ramente, a uma compilação das im-pressões do IFT a respeito do poten-cial para o MFCF em algumas RESEX visitadas por sua equipe técnica em 2012, para em seguida prover algumas sugestões e considerações em relação ao desenvolvimento do manejo flores-tal nestas Unidades.

OS CASOS VISITADOS: RESERVAS EXTRATIVISTAS NA AMAZÔNIA E POTENCIAL PARA O MANEJO

FLORESTAL COMUNITÁRIO E FAMILIAR

Em 2012, a equipe técnica do IFT vi-sitou produtores comunitários em seis Reservas Extrativistas da Amazônia (Fi-gura 1), localizadas nos estados do Pará, Amazonas e Acre. Conjuntamente, tais RESEX possuem uma área de florestas de um pouco mais de 4 milhões de hec-tares7. Os levantamentos foram realiza-dos através de entrevistas semiestrutu-radas junto às famílias residentes nestas

áreas e visitas a áreas florestais indicadas quanto à potencialidade para o MFCF. As conversas foram embasadas em um questionário sugestivo orientado para obter, no mínimo, as seguintes infor-mações: dados pessoais do entrevista-do, características socioeconômicas da comunidade ou localidade, ocupação do território, infraestruturas básicas da comunidade ou localidade, principais

7 O equivalente a aproximadamente 35% da área de RESEX federais cadastradas no PAOF de 2013 (SFB, 2013).

Page 3: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

3

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

atividades econômicas, principais usos da floresta e ameaças e perspectivas fu-turas em relação ao uso da floresta e ao manejo florestal comunitário e familiar.

É importante destacar que a amos-tragem incluiu apenas algumas lo-calidades e regiões inseridas nestas RESEX, de forma que tais dados não devem ser interpretados como um le-vantamento censitário. Buscamos, to-davia, uma caracterização geral destas regiões de forma a estabelecer algumas recomendações para o futuro desen-

volvimento do manejo florestal. As in-formações compiladas podem ser vis-tas de forma resumida na Tabela 1. Um ponto fundamental é que a compilação de casos descrita, fora as ressalvas em relação à amostragem realizada, não foi feita sob uma óptica de encontrar quais os casos mais ou menos viáveis para o desenvolvimento do MFCF, mas ao invés disto estabelecer uma linha de base a partir da qual faremos as reco-mendações e considerações para o ma-nejo florestal na próxima seção.

Figura 1. Localização das Reservas Extrativistas visitadas pela equipe técnica do IFT em 2012. Dados geográficos referentes aos limites das Unidades de Conservação foram ex-traídos de MMA (2013). Os limites dos estados componentes da Amazônia Legal foram extraídos da base geográfica do IBGE (1997).

Page 4: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

4

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

CA

RA

CT

ER

ÍST

ICA

S D

AS

RE

SEX

RE

SEX

Map

uáR

ESE

X T

erra

Gra

nde

Prac

uúba

RE

SEX

Ver

de p

ara

Sem

pre

RE

SEX

Itux

iR

ESE

X R

iozi

nho

do

Anf

rísi

oR

ESE

X C

hico

Men

des

Loca

lizaç

ão (

mun

icíp

io

e es

tado

)B

reve

s, P

ará

Cur

ralin

ho e

São

Seb

as-

tião

da B

oa V

ista

, Par

áPo

rto

de M

oz, P

ará

Lábr

ea, A

maz

onas

Alta

mir

a, P

ará

Xap

uri,

Rio

B

ranc

o,

Bra

silé

ia,

Sena

M

adu-

reir

a, A

ssis

Bra

sil,

P. d

e C

astr

o e

Cap

ixab

a; A

cre

Cri

ação

2005

2006

2004

2008

2004

1990

Áre

a (d

e ac

ordo

com

D

ecre

to)

~94

mil

ha~

195

mil

ha~

1,3

milh

ão d

e ha

~78

0 m

il ha

~73

6 m

il ha

~97

0 m

il ha

Dat

a da

vis

ita d

o IF

T10

-15

junh

o 20

1209

-14

outu

bro

2012

16-2

0 ab

ril 2

012

24-2

5 m

aio

2012

16-2

3 ja

neir

o 20

128-

11 m

aio

2012

Popu

laçã

o71

9 fa

míli

as,

ocup

ando

14

com

unid

ades

, 3,7

mil

pess

oas

~40

0 fa

míli

as d

istr

ibuí

-da

s no

s 5

prin

cipa

is r

ios

da R

eser

va,

~2

mil

pes-

soas

58

com

unid

ades

e

31

loca

lidad

es

(~4

mil

pess

oas)

500

mor

ador

es,

orga

ni-

zado

s em

20

com

uni-

dade

s.

58 f

amíli

as (

~30

0 pe

sso-

as)

lista

das

por

lider

ança

s lo

cais

1.50

0 fa

míli

as (

~9.

000

pess

oas)

dis

trib

uída

s em

48

ser

inga

is e

co

loca

-çõ

es

Ativ

idad

es p

rodu

tivas

- A

gric

ultu

ra b

ranc

a de

pe

quen

a es

cala

pa

ra

o co

nsum

o.

Alg

umas

fa

-m

ílias

ven

dem

exc

eden

-te

s pa

ra a

pre

feitu

ra d

e B

reve

s ou

para

o P

NA

E8 .

-Par

a ge

raçã

o de

ren

da,

algu

mas

fam

ílias

se

de-

dica

m a

o ar

tesa

nato

ou

pres

taçã

o de

ser

viço

s es

-pe

cial

izad

os.

- O

aça

í é

vita

l na

seg

u-ra

nça

alim

enta

r e

na g

e-ra

ção

de r

enda

.-

Fort

e tr

adiç

ão f

lore

stal

pa

ra a

pro

duçã

o m

adei

-re

ira

e vá

rias

se

rrar

ias

loca

is p

ara

seu

proc

essa

-m

ento

.

- A

gric

ultu

ra b

ranc

a de

pe

quen

a es

cala

pa

ra

o co

nsum

o.

As

fam

ílias

ve

ndem

ex

cede

ntes

, pr

inci

palm

ente

fa

rinh

a de

man

dioc

a, p

ara

mun

i-cí

pios

pró

xim

os.

-Par

a ge

raçã

o de

ren

da,

algu

mas

fam

ílias

se

dedi

-ca

m à

pre

staç

ão d

e se

rvi-

ços

espe

cial

izad

os.

- O

é im

port

ante

fo

nte

de re

nda

e é

vita

l na

segu

ranç

a al

imen

tar.

- E

xtra

tivis

mo

mad

eire

i-ro

per

deu

forç

a co

m a

cr

iaçã

o da

UC

e m

orad

o-re

s jo

vens

não

dem

ons-

tram

inte

ress

e.

- A

sub

sist

ênci

a se

ba-

seia

no

extr

ativ

ism

o e,

co

mpl

emen

tarm

ente

, na

ag

ricu

ltura

de

co

r-te

e q

ueim

a, n

a cr

iaçã

o de

ani

mai

s de

peq

ueno

po

rte

e na

cr

iaçã

o de

ga

do d

e co

rte.

- A

ativ

idad

e m

adei

rei-

ra

era

impo

rtan

te

no

pass

ado,

mas

os

entr

e-vi

stad

os

diss

eram

qu

e tiv

eram

de

para

lisar

as

ativ

idad

es

no

ato

de

cria

ção

de R

ESE

X.

- A

tual

men

te

algu

mas

co

mun

idad

es

poss

uem

ou

se

prep

aram

par

a li-

cenc

iar p

lano

s de

man

e-jo

mad

eire

iro.

- A

s fa

míli

as v

ivem

da

extr

ação

de

frut

os, ó

leos

e

outr

os p

rodu

tos

ve-

geta

is s

azon

ais

com

o a

cast

anha

, and

irob

a, b

or-

rach

a na

tura

l, co

paíb

a,

açaí

, uxi

e a

lgun

s ci

pós.

-

A p

esca

trad

icio

nal n

os

lago

s e

igap

ós d

a re

gião

ta

mbé

m

é im

port

ante

fo

nte

de r

enda

e s

ubsi

s-tê

ncia

.-

A a

tivid

ade

mad

eire

ira

era

impo

rtan

te n

o pa

s-sa

do.

Atu

alm

ente

est

ão

disc

utin

do

o lic

enci

a-m

ento

do

plan

o de

ma-

nejo

mad

eire

iro.

- H

á tr

adiç

ão d

a co

leta

de

cast

anha

e n

a pr

oduç

ão d

a fa

rinh

a de

man

dioc

a.-

A e

xtra

ção

do l

átex

de

seri

ngue

ira

(Hev

ea

bras

i-lie

nsis)

fo

i um

a at

ivid

ade

impo

rtan

te n

a co

loni

zaçã

o da

reg

ião,

mas

per

deu

sua

trad

ição

.-

Out

ros

prod

utos

da

flo-

rest

a, c

omo

óleo

s e

frut

os,

tam

bém

fa

zem

pa

rte

das

ativ

idad

es

prod

utiv

as

e ec

onôm

icas

, co

mo

a co

pa-

íba

(Cop

aifer

a sp

.).

- Fo

rte

trad

ição

ext

rati-

vist

a. H

á co

leta

da

cas-

tanh

a e

cole

ta d

o lá

tex

da s

erin

guei

ra,

além

de

agri

cultu

ra

(arr

oz,

mi-

lho,

m

andi

oca,

fe

ijão)

e

pecu

ária

. A

nim

ais

de

caça

(po

rco,

pac

a, c

otia

, na

mbu

e v

eado

) e

de

cons

umo

fam

iliar

(ga

li-nh

a, p

orco

, pa

to,

gado

) ta

mbé

m fo

ram

cita

dos.

8 Pro

gram

a N

acio

nal d

e M

eren

da E

scol

ar.

http

://w

ww

.mds

.gov

.br/

segu

ranc

aalim

enta

r/al

imen

tose

abas

teci

men

to/p

aa.

Page 5: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

5

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

CA

RA

CT

ER

ÍST

ICA

S D

AS

RE

SEX

RE

SEX

Map

uáR

ESE

X T

erra

Gra

nde

Prac

uúba

RE

SEX

Ver

de p

ara

Sem

pre

RE

SEX

Itux

iR

ESE

X R

iozi

nho

do

Anf

rísi

oR

ESE

X C

hico

Men

des

Org

aniz

ação

soc

ial

Mes

mo

que

os

mor

a-do

res

não

seja

m o

rgan

i-za

dos

o su

ficie

nte

para

de

senv

olve

rem

um

a at

i-vi

dade

col

etiv

a, h

á um

gr

upo

de m

orad

ores

se

capa

cita

ndo

em c

oope

ra-

tivis

mo,

cur

so o

fere

cido

po

r um

gru

po l

igad

o à

Uni

vers

idad

e Fe

de-

ral

Rur

al d

a A

maz

ônia

(U

FRA

).

Os

mor

ador

es

são

re-

pres

enta

dos

por

uma

as-

soci

ação

mãe

, m

as e

xist

e fr

agili

dade

na

or

gani

za-

ção

para

a

com

erci

ali-

zaçã

o e

cert

a de

suni

ão

entr

e os

m

orad

ores

de

um

a m

esm

a co

mun

idad

e en

fraq

uece

ndo

o te

cido

so

cial

.

Diz

em q

ue a

coo

pera

-tiv

a es

fort

alec

ida

e já

te

ve

expe

riên

cia

de

com

erci

aliz

ação

. E

ntre

-ta

nto,

os

en

trev

ista

dos

diss

eram

que

desu

-ni

ão e

ntre

as

fam

ílias

. A

sa

ída

de

jove

ns

da

com

unid

ade

em b

usca

de

tra

balh

o ta

mbé

m f

oi

indi

cada

com

o um

ris

co

à es

tabi

lidad

e so

cial

.

cert

o ní

vel

de o

r-ga

niza

ção,

mas

os

en-

trev

ista

dos

indi

cara

m

frag

ilida

de,

espe

cial

-m

ente

no

que

se r

efer

e à

com

erci

aliz

ação

da

pr

oduç

ão.

A R

ESE

X é

rep

rese

ntad

a po

r as

soci

ação

de

m

ora-

dore

s. U

ma

vez

que

as f

a-m

ílias

est

ão d

istr

ibuí

das

ao

long

o do

Rio

zinh

o do

An-

frís

io e

dev

ido

às d

ificu

l-da

des

de d

eslo

cam

ento

no

perí

odo

de e

stia

gem

(ag

os-

to

a no

vem

bro)

, ex

iste

ce

rto

grau

de

enfr

aque

ci-

men

to d

o te

cido

soci

al p

elo

isol

amen

to d

e fa

míli

as.

Ass

ocia

ção/

coop

erat

iva

fort

alec

ida,

at

uant

e na

co

mer

cial

izaç

ão.

Um

a am

eaça

à

esta

bilid

ade

soci

al n

o lo

ngo

praz

o é

a m

igra

ção

dos

jove

ns

para

as

cida

des.

Rec

e-be

m a

poio

do

gove

rno

do e

stad

o do

Acr

e e

da

Coo

perf

lore

sta

para

a

com

erci

aliz

ação

de

seus

pr

odut

os fl

ores

tais

.

Difi

culd

ades

e e

ntra

ves

prin

cipa

is

- Pr

oble

mas

re

laci

ona-

dos

ao b

em e

star

soc

ial,

com

o ac

esso

à p

osto

s de

sa

úde.

- Se

ntem

difi

culd

ades

de

aces

so à

s po

lític

as p

úbli-

cas

de a

ssis

tênc

ia t

écni

ca

rura

l e

flore

stal

, ga

ran-

tidas

po

r Le

i, em

qu

e a

mai

oria

dos

ent

revi

s-ta

dos

(57%

) co

men

tou

não

ser

aten

dida

ou

não

esta

r sa

tisfe

ita.

- Pr

oble

mas

sér

ios

rela

-ci

onad

os a

o at

endi

men

-to

em

pos

tos

de s

aúde

e

aces

so à

edu

caçã

o fo

rmal

de

qua

lidad

e.-

Ent

revi

stad

os

rela

tam

qu

e nã

o tê

m

aces

so

às

polít

icas

púb

licas

de

as-

sist

ênci

a té

cnic

a ru

ral

e flo

rest

al, e

mbo

ra já

oco

r-re

ram

alg

umas

ativ

idad

es

pont

uais

de

ca

paci

taçã

o pa

ra o

man

ejo

de a

çaí.

- H

á um

gra

nde

des-

cont

enta

men

to p

or p

ar-

te d

as f

amíli

as q

ue i

n-di

cam

que

a e

xplo

raçã

o m

adei

reir

a ile

gal

aind

a co

ntin

ua o

corr

endo

na

RE

SEX

po

r gr

ande

s em

pres

as.

- E

xist

ênci

a de

exp

lo-

raçã

o ile

gal

e co

nflit

os

por

uso

de r

ecur

sos

na-

tura

is.

- A

falta

de

estr

utur

a es

-co

lar

surg

e co

mo

prin

-ci

pal

fraq

ueza

. A

fa

lta

de a

ssis

tênc

ia à

saú

de,

com

unic

ação

, m

erca

do,

tran

spor

te,

com

érci

o,

dem

ora

nos

licen

cia-

men

tos,

en

tre

outr

os,

tam

bém

são

cita

dos.

- E

xplo

raçã

o ile

gal

nos

arre

dore

s e b

aixa

form

a-lid

ade

da p

rodu

ção.

- A

fa

lta

de

orga

niza

ção

soci

al é

cau

sada

pel

o is

ola-

men

to d

e fa

míli

as é

um

dos

pr

inci

pais

pro

blem

as.

- D

ificu

ldad

es d

e ap

oio

na

prod

ução

agr

ícol

a e

flore

s-ta

l e a

usên

cia

do p

oder

pú-

blic

o de

man

eira

ger

al. H

á pr

ojet

o do

ISA

9 qu

e te

nta

miti

gar

os

prob

lem

as

na

área

de

saúd

e e

educ

ação

.-

Exp

lora

ção

ilega

l se

ndo

prom

ovid

a po

r gr

upos

ma-

deir

eiro

s lo

cais

.

- Li

mita

ção

de m

ão d

e ob

ra,

a co

nsta

nte

mi-

graç

ão p

ara

as c

idad

es, a

ba

ixa

qual

idad

e da

edu

-ca

ção

disp

onib

iliza

da n

o lo

cal e

a r

ápid

a pe

rda

da

iden

tidad

e ex

trat

ivis

ta.

- A

pe

cuár

ia

apar

ece

com

o um

a po

ssib

ilida

-de

de

amea

ça p

or c

on-

corr

er f

orte

men

te c

om

a pr

inci

pal

ativ

idad

e hi

stór

ica

da

RE

SEX

, qu

e é

o ex

trat

ivis

mo

de

prod

utos

flo

rest

ais

não

mad

eire

iros

.

9 Ins

titut

o So

cioa

mbi

enta

l. Ve

r w

ww

.soc

ioam

bien

tal.o

rg

Page 6: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

6

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

CA

RA

CT

ER

ÍST

ICA

S D

AS

RE

SEX

RE

SEX

Map

uáR

ESE

X T

erra

Gra

nde

Prac

uúba

RE

SEX

Ver

de p

ara

Sem

pre

RE

SEX

Itux

iR

ESE

X R

iozi

nho

do

Anf

rísi

oR

ESE

X C

hico

Men

des

Trad

ição

flor

esta

l e u

so

da fl

ores

ta

- Fo

rte

prod

ução

mad

ei-

reir

a. O

s m

orad

ores

ex-

trae

m a

mad

eira

mai

s de

40

anos

. N

o pa

ssad

o ex

plor

avam

vir

ola

e m

a-de

iras

par

a do

rmen

tes.

- M

ais

de 8

0% d

os e

n-tr

evis

tado

s tê

m in

tere

sse

em m

anej

o flo

rest

al.

- H

á ex

traç

ão m

adei

rei-

ra

para

be

nefic

iam

ento

lo

cal

em p

eque

nas

ser-

rari

as.

- A

reg

ião

poss

ui f

ator

es

favo

ráve

is c

omo

terr

enos

pl

anos

, áre

as d

e te

rra

fir-

me,

can

ais

de e

scoa

men

-to

e g

rand

e di

vers

idad

e de

esp

écie

s. E

ntre

est

as,

a cu

piúb

a (G

oupi

a gl

abra

) te

m b

ons

preç

os e

tem

si

do e

xplo

rada

inte

nsiv

a-m

ente

.-

As

com

unid

ades

est

ão

cien

tes

da

nece

ssid

a-de

de

lega

lizaç

ão j

unto

ao

IC

MB

io e

, de

fat

o,

apos

tam

em

in

icia

tivas

de

par

ceir

os q

ue p

ossa

m

auxi

liá-l

os n

a co

nstr

ução

do

pla

no d

e m

anej

o flo

-re

stal

.

- A

ext

raçã

o do

fru

to d

o aç

aí é

a p

rinc

ipal

ativ

ida-

de f

lore

stal

, com

pone

nte

da

alim

enta

ção

diár

ia,

mas

tam

bém

com

o fo

nte

de in

gres

sos

finan

ceir

os.

- Fa

zem

ext

raçã

o de

ou-

tros

PFN

M, m

as e

m m

e-no

r es

cala

e p

ara

cons

u-m

o lo

cal.

- E

xtra

tivis

mo

da

ma-

deir

a fo

i at

ivid

ade

im-

port

ante

na

regi

ão,

mas

at

ualm

ente

m

orad

ores

o se

inte

ress

am d

evid

o di

ficul

dade

s no

lic

enci

a-m

ento

e a

cess

o ao

mer

-ca

do.

- O

ext

rativ

ism

o do

pal

-m

ito d

e aç

aí f

oi u

ma

ati-

vida

de q

ue p

redo

min

ou

na r

egiã

o du

rant

e al

guns

an

os

e ca

usou

gr

ande

s da

nos

aos

açai

zais

. A

tu-

alm

ente

, pr

edom

ina

a co

leta

dos

fru

tos

de a

çaí

devi

do m

erca

do c

onsu

-m

idor

.

- H

á fo

rte

trad

ição

ex-

trat

ivis

ta e

as

com

uni-

dade

s já

se

envo

lver

am

com

a e

xplo

raçã

o m

a-de

irei

ra n

o pa

ssad

o.- A

lgum

as c

omun

idad

es

já d

etêm

Pla

no d

e M

a-ne

jo (

PM

FS)

e a

lgum

as

estã

o co

m

os

proj

etos

em

pro

cess

o de

ela

bo-

raçã

o.-

Dem

onst

ram

fo

rte

inte

ress

e no

es

tabe

le-

cim

ento

do

M

FCF

e te

m r

eceb

ido

apoi

o do

IF

T n

a pr

epar

ação

par

a o

man

ejo

flore

stal

(pr

á-tic

as p

ré-e

xplo

rató

rias

).-

Out

ro p

onto

im

por-

tant

e é

que

exis

tem

vá-

rios

mor

ador

es n

a R

E-

SEX

que

rece

bera

m

trei

nam

ento

s em

man

e-jo

flor

esta

l.-

Exi

ste

bom

ace

sso

via

fluvi

al (

rio

Xin

gu)

que

pode

in

terl

igar

pr

odu-

ção

a A

ltam

ira

ou a

o es

-tu

ário

am

azôn

ico.

- Fo

rte

trad

ição

ext

rati-

vist

a, e

mui

to i

nter

esse

no

des

envo

lvim

ento

do

MFC

F. Já

real

izam

a e

x-tr

ação

de

mad

eira

par

a o

bene

ficia

men

to

de

pran

chas

e tá

buas

.-

PM

FS

elab

o-ra

do e

em

pro

cess

o de

lic

enci

amen

to.

Diz

em

rece

ber

apoi

o do

ID

AM

e

de o

utra

s or

gani

zaçõ

es

em a

ções

de

assi

stên

cia

técn

ica

flore

stal

.-

Rec

eber

am

trei

na-

men

tos,

e

se

sent

em

razo

avel

men

te b

em a

m-

para

dos.

- D

izem

que

os

jove

ns

da r

eser

va p

erm

anec

em

com

as

fam

ílias

e t

em

assi

mila

do tr

adiç

ões f

lo-

rest

ais

e ex

trat

ivis

tas.

- U

m p

onto

fra

co é

o

aces

so.

Est

á di

stan

te d

e ce

ntro

s ur

bano

s, m

as a

ex

plor

ação

se

ria

faci

li-ta

da p

ela

exis

tênc

ia d

e ri

os

de

gran

de

cala

do

nave

gáve

is a

mai

or p

arte

do

ano

.

- A

mai

oria

das

fam

ílias

co-

leta

m c

asta

nha,

e o

utra

par

-te

tra

balh

a co

m a

ext

raçã

o de

láte

x e

prod

ução

de

bor-

rach

a na

tura

l. E

sse

núm

ero

vem

aum

enta

ndo

devi

do a

pr

ojet

o de

ince

ntiv

o pa

ra a

ve

nda

de b

orra

cha

natu

ral

inte

rmed

iado

pel

o IS

A.

- O

ISA

e o

IM

AFL

OR

A

dese

nvol

vem

pro

jeto

s pa

ra

a m

elho

ria

do m

anej

o e

co-

mer

cial

izaç

ão d

os p

rodu

tos

flore

stai

s nã

o m

adei

reir

os,

espe

cial

men

te

borr

acha

, ca

stan

ha, ó

leo

de c

opaí

ba e

ól

eo d

e ba

baçu

.-

Os

mor

ador

es e

xpre

ssa-

ram

in

tere

sse

no

dese

n-vo

lvim

ento

de

proj

etos

de

ince

ntiv

o à

prod

ução

de

P

FNM

e, e

m m

enor

gra

u,

de

dese

nvol

vim

ento

do

M

FCF

com

fin

s m

adei

rei-

ros.

- A

pesa

r do

s re

lato

s de

fo

rte

perd

a de

iden

tida-

de e

xtra

tivis

ta,

aind

a há

fo

rte

trad

ição

na

expl

o-ra

ção

de p

rodu

tos

não

mad

eire

iros

e

mad

ei-

reir

os.

- H

á P

MF

S lic

enci

a-do

, in

clui

ndo

disc

ussã

o pa

ra a

cer

tific

ação

FSC

.-

apoi

o do

gov

erno

es

tadu

al n

o fo

men

to a

o m

anej

o flo

rest

al c

omu-

nitá

rio.

- O

utro

pon

to f

orte

é

o bo

m a

cess

o po

r di

-fe

rent

es v

ias

terr

estr

es.

A R

ESE

X e

stá

dist

ante

ap

enas

180

km

da

capi

-ta

l est

adua

l.

Page 7: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

7

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

Na Amazônia, as UCs de Uso Sus-tentável de maior relevância em termos de área (RESEX, FLONA e RDS) fo-ram criadas para a conservação da bio-diversidade em harmonia com os usos tradicionais das populações residentes, que incluem o uso múltiplo da floresta com a aplicação de princípios e de téc-nicas do bom manejo florestal. Com base nas prospecções e visitas técnicas realizadas em Reservas Extrativistas da Amazônia, tecemos algumas conside-rações e recomendações para o futuro desenvolvimento do manejo florestal comunitário e familiar nas UCs de Uso Sustentável:

1. Interesse e experiência prévia com o manejo florestal. As UCs de Uso Sustentável são hoje ocupadas por comunidades extrativistas que abrigam notável potencial florestal. Em muitas destas Unidades há forte tradição extra-tivista no uso de produtos florestais não madeireiros (castanha, látex, copaíba etc.), e há também o uso da floresta para a extração de produtos madeireiros, em alguns casos destinados apenas a constru-ções rurais, e outros com comercialização mesmo que a atividade não esteja licen-ciada. Muitas famílias nestas Reservas nutrem a esperança de receber apoio para o desenvolvimento de cadeias produtivas de produtos não madeireiros, madeirei-ros, ou ambos. É importante que o ór-gão gestor estabeleça um diálogo aberto e transparente com as famílias quanto ao nivelamento de expectativas para o uso dos recursos florestais. Esse diálogo pode ser iniciado com atividades de sensibili-zação sobre a importância de práticas que possam garantir a conservação da floresta no longo prazo. É interessante deixar cla-

ro que existem regras para o uso de tais recursos, mas ao mesmo tempo explicar o porquê de tais regras.

2. O papel das agências oficiais. O ICMBio e o Serviço Florestal Brasi-leiro (SFB) possuem um papel chave na institucionalização e no incentivo ao bom manejo florestal nestas Unidades, atraindo também parceiros que possam ajudar no desenvolvimento de ações pontuais neste sentido, como a capa-citação para a organização social, para a geração de competências técnicas em manejo florestal ou para a discussão sobre os modelos e cenários produti-vos mais favoráveis em cada comuni-dade. Durante o levantamento de cam-po também sentimos a necessidade de reforçar os trabalhos de esclarecimento aos produtores sobre suas perspectivas de formalização das atividades produti-vas que já vêm executando ou que po-derão executar nestas florestas. Além disso, em muitas destas Unidades, há o desafio de cumprimento dos disposi-tivos legais aplicáveis, como a constru-ção do Plano de Manejo da UC. É este Plano que orienta e permite a forma como os moradores irão usufruir os recurso naturais de forma sustentável. O Plano, primordialmente, deve ser discutido amplamente com os mora-dores e deverá contemplar as práticas agroextrativistas, o uso e a transforma-ção local dos recursos madeireiros e o extrativismo com o uso de sistemas de manejo adequados, procurando aten-der a legislação ambiental e florestal.

3. O início é a prospecção flores-tal e social. Uma vez identificado o interesse dos moradores nas atividades

RECOMENDAÇÕES PARA A PROMOÇÃO DO MFCF EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

DE USO SUSTENTÁVEL

Page 8: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

8

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

extrativistas, é fundamental a realiza-ção de levantamentos florestais pros-pectivos na UC de forma a confirmar seu potencial para o desenvolvimento do MFCF. Conhecer a realidade lo-cal é fundamental para qualquer ini-ciativa de sensibilização e capacitação, além do próprio fomento à adoção de atividades rurais de baixo impacto. Além disso, são necessários levanta-mentos que contemplem entrevistas e conversas informais com as famí-lias e lideranças locais. Mesmo que a exploração florestal executada nessas UCs seja considerada modelo de bai-xo impacto e intensidade, é premente a adoção de técnicas e de princípios de planejamento para que seja possível o zoneamento de uso florestal de for-ma a garantir a exploração sustentável no longo prazo. Esta recomendação é especialmente válida para o caso das RESEX, nas quais temos identificado que, embora os impactos da exploração sejam relativamente pequenos, estão concentrados comumente sobre pou-cas espécies e produtos florestais, o que pode comprometer a sustentabilidade destes recursos no futuro.

4. A importância da organiza-ção social. Em quaisquer dos arranjos e tecnologias empregadas para o mane-jo florestal, a organização social estabe-lecida, transparente e atuante é chave para permitir uma boa resolução dos conflitos existentes, uma partição justa dos benefícios advindos do manejo flo-restal coletivo, um bom controle social da exploração e uma estratégia mínima de comercialização e de formalização da produção.

5. Apoio e capacitação. A maior parte das comunidades e produtores visitados pelo IFT aferiu ter recebido

algum tipo de apoio e de assistência téc-nica no passado, assim como disseram ter sido contemplados por algum proje-to de apoio. Entretanto, para avançar na pauta de manejo florestal, é importante que as competências técnicas dos pro-dutores sejam fortalecidas, em especial em práticas para o inventário e para o planejamento da exploração. As compe-tências técnicas em manejo florestal são as principais habilidades que devem ser construídas nas comunidades, em espe-cial em relação a públicos mais jovens dentro da UC, geralmente mais expos-tos à necessidade de migração para as cidades mais próximas devido à escas-sez local de oportunidades de trabalho e acesso à educação formal e contínua.

6. Reconhecimento do manejo como parte da cesta de produção. Novas atividades produtivas devem ser reconhecidas como integrantes, e não substitutas, da atual cesta de produção das comunidades nas UCs. Desta for-ma, se o manejo florestal for formata-do para ser conduzido em um período anual concorrente a outras atividades econômicas, os produtores terão a di-fícil missão de escolher por uma das duas e correr riscos adicionais no que se refere a sua sustentabilidade econô-mica. Discussões sobre as melhores al-ternativas para a condução de manejo devem levar em consideração o atual calendário florestal e agrícola das co-munidades.

7. O papel da segurança alimen-tar. Há uma tendência dos profissio-nais da área ambiental visualizarem a agricultura como uma ameaça à con-servação, especialmente em UCs. En-tretanto, é importante que medidas para fortalecer a segurança alimentar das famílias sejam tomadas, o que pode

Page 9: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

9

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

auxiliar a diminuir a propensão destas famílias a gerar renda rápida em casos de necessidade (como a venda ilegal de madeira, por exemplo). De fato, de-senvolver a agricultura foi identificado pelos próprios moradores como uma oportunidade em algumas UCs visi-tadas. Embora nessas UCs as maioria das famílias tenha vocação para a ati-vidade florestal, devem ser priorizados os modelos de assistência técnica vol-tados à segurança alimentar e ao máxi-mo aproveitamento das áreas já abertas para a produção agrícola. A agricultura familiar, além de condições mínimas de saúde, de escoamento e a educação básica, são elementos cruciais na ba-lança de decisão das famílias em rela-ção à sua perenização dentro da UC no longo prazo. O que é esperado é que seja possível evidenciar a melhoria das condições de vida dentro da UC no longo prazo como uma recompensa às famílias por seu comprometimento com a conservação florestal.

8. Assistência técnica e extensão rural e florestal. O direcionamento das vocações agrícolas, conforme inte-resse dos moradores, deve ser adotado como estratégia para o desenvolvimen-to local. Para que isso ocorra, ações de ATER devem ser priorizadas para esse fim. Nesse sentido, o estímulo à adoção de novas práticas produtivas baseadas na agroecologia e nos sistemas produtivos diversificados que integram culturas agrícolas e florestais deve ser discutido e considerado na estratégia de ATER, pre-vista em Lei para atender esse público.

9. Agregar valor à produção ma-deireira nem sempre é a melhor al-ternativa. Evidenciamos em algumas UCs a iniciativa de produtores de cons-truir serrarias artesanais para o proces-

samento de madeira com a expectativa de que este processamento possa gerar maior renda. Algumas análises financei-ras preliminares destas serrarias mostram que isto nem sempre é verdade. Nos casos de exploração madeireira, é funda-mental uma discussão sobre as melhores alternativas locais para a comercialização da madeira (tora, madeira processada, e em quais mercados). Em seguida, é fundamental a discussão sobre quais os modelos tecnológicos no manejo flores-tal e no desdobramento da madeira que podem trazer a melhor relação benefí-cio-custo para os produtores. Terceiro, é crucial a participação de parceiros que possam gerar informações de custos e be-nefícios de forma a nortear as melhores decisões. Finalmente, é preciso conside-rar as alternativas para uma diferenciação dos produtos locais no mercado, como seria o caso de uma certificação de ori-gem de tais produtos.

10. Os incentivos perversos à con-servação. Em muitos dos casos visita-dos, os produtores indicaram um forte grau de migração das famílias das UCs e forte erosão da tradição extrativista, o que pode ser uma ameaça à conservação local de florestas no longo prazo. Em al-gumas Unidades foi também identifica-do que existe exploração ilegal promo-vida por grupos externos à comunidade em diferentes níveis de intensidade. Esta aparente instabilidade a respeito do uso dos recursos naturais pelas famílias no longo prazo pode ser tornar um impor-tante aspecto a desincentivar a conser-vação das florestas e o manejo florestal, e merece especial atenção do governo e da sociedade civil para coibir tais ativida-des. Existem hoje ferramentas remotas de identificação de atividades ilegais que poderiam ser empregadas de modo mais eficiente neste sentido.

Page 10: BOLETIM TÉCNICO IFT 06 Manejo florestal em Unidades de ... · Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao

10

Manejo florestal em Unidades de Conservação de Uso Sustentável: Recomendações para as iniciativas de fomento ao desenvolvimento formal do manejo florestal comunitário e familiar

BO

LE

TIM

CN

ICO

IF

T 0

6

Apoio

Os boletins técnicos do IFT, editados a partir de 2011, compilam resultados preliminares de pesquisas e testes realizados no Centro de Manejo Florestal Roberto Bauch, além de obser-vações de campo e notas de expedições realizadas pela equipe que possam de alguma forma servir a sociedade. É voltado a estudantes, tomadores de decisão, jornalistas, profissionais flo-restais, instrutores de manejo florestal acadêmicos ou práticos e demais atores com interesse em temas ligados ao manejo de recursos naturais, especialmente florestais, na Amazônia. Os pareceres, conclusões, recomendações e sugestões constantes em tais publicações são de res-ponsabilidade exclusiva do IFT, e não correspondem necessariamente à opinião dos apoiado-res da organização ou da edição em questão.

Financiadores

Doadores In-Kind

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Brasília, DF: Casa Civil.

BRASIL. Lei nº 6.040, 7 de fevereiro de 2007, Institui a Política Nacional de Desenvolvi-mento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Brasília, DF: Casa Civil.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Diagnóstico Am-biental da Amazônia Legal. Brasília: IBGE, 1997. Disponível em <http://ibge.gov.br>. Aces-so em 16 mai. 2010.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - MDA. Lei nº 12.188, 11 de janeiro de 2010, Institui a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária - PNATER e o Programa Nacional de Assis-tência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária - PRO-NATER, altera a Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, e dá outras providências. Brasília, DF: Casa Civil.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. Download de dados geográfico. Brasília: MMA, 2013. Disponível em <http://mapas.mma.gov.br/i3geo/datadownload.htm>. Acesso em: 12 mar. 2013.

SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO - SFB. Plano Anual de Outorga Florestal 2013. Bra-sília: SFB, 2012. 105 p. Disponível em http://www.florestal.gov.br. Acesso em: 5 mar. 2013.

VERÍSSIMO, A. et al. Áreas Protegidas na Amazônia Brasileira: avanços e desafios. Be-lém: IMAZON; São Paulo: Instituto Socioambiental, 2011.