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Lenda “A Boneca de Sal” Era uma vez uma boneca feita de sal. O maior sonho da vida dela era, um dia, poder ver o mar. Ficava dias e noites embrenhada nos seus pensamentos, tentando imaginar a imensidão e a beleza do grande oceano, e ia ficando presa a uma grande nostalgia - uma espécie de "saudade", vaga, de algo que lhe parecia conhecer apesar de tão longínquo... Um certo dia, decidiu meter mãos à obra - não podia esperar mais -, e decidiu partir. Depois de uma árdua e continuada busca, chegou, por fim, a uma areal - uma praia à beira mar. E, ali, confirmou o que o seu coração adivinhava: como era imenso e apelativo aquele mar. E como era misterioso? Ali ficou, perdida em contemplação, e tentando indagar mil e uma palpitantes respostas advindas daquele mar: - Diz-me, quem és tu? - Sou o mar. - Mas o que é o mar? - Sou eu! - Explica-me melhor, por favor! Deixa-me perceber, deixa-me conhecer-te... - É simples: toca-me. A boneca, extasiada, mas um pouco a medo, avançou um passo em direcção à espuma que orlava aquela vastidão, e deixou que os seus pequenos pés fossem acariciados por aquela "evanescência?". Um pouco mais afoita, mergulhou os seus pés, em pleno, na água que a convidava. E - surpresa! - pareceu-lhe que começava mesmo a compreender qualquer coisa... Quando, porém, pôs os olhos no chão, apercebeu-se, assustada, que os seus pés haviam desaparecido. Protestou aflita: - Oh! Que fizeste tu? Onde estão os meus pés? Mas o mar replicou: - Porque choras? Apenas foi necessário ofereceres alguma coisa - um pouco de ti própria - para poderes compreender... A boneca reflectiu e serenou; e pareceu-lhe que entendia um pouco mais. Então, decidida avançou. A água começou lentamente a cobrir partes do seu corpo, ao mesmo tempo que sentia que estas, dolorosamente, se desvaneciam. A cada passo que dava, a

Boneca de Sal

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Page 1: Boneca de Sal

Lenda “A Boneca de Sal”

Era uma vez uma boneca feita de sal. O maior sonho da vida dela era, um dia, poder ver o mar. Ficava dias e noites embrenhada nos seus pensamentos, tentando imaginar a imensidão e a beleza do grande oceano, e ia ficando presa a uma grande nostalgia - uma espécie de "saudade", vaga, de algo que lhe parecia conhecer apesar de tão longínquo...

Um certo dia, decidiu meter mãos à obra - não podia esperar mais -, e decidiu partir.

Depois de uma árdua e continuada busca, chegou, por fim, a uma areal - uma praia à beira mar. E, ali, confirmou o que o seu coração adivinhava: como era imenso e apelativo aquele mar. E como era misterioso?

Ali ficou, perdida em contemplação, e tentando indagar mil e uma palpitantes respostas advindas daquele mar:

- Diz-me, quem és tu?- Sou o mar.- Mas o que é o mar?- Sou eu!- Explica-me melhor, por favor! Deixa-me perceber, deixa-me conhecer-te...- É simples: toca-me.

A boneca, extasiada, mas um pouco a medo, avançou um passo em direcção à espuma que orlava aquela vastidão, e deixou que os seus pequenos pés fossem acariciados por aquela "evanescência?". Um pouco mais afoita, mergulhou os seus pés, em pleno, na água que a convidava. E - surpresa! - pareceu-lhe que começava mesmo a compreender qualquer coisa...

Quando, porém, pôs os olhos no chão, apercebeu-se, assustada, que os seus pés haviam desaparecido. Protestou aflita:

- Oh! Que fizeste tu? Onde estão os meus pés?

Mas o mar replicou:

- Porque choras? Apenas foi necessário ofereceres alguma coisa - um pouco de ti própria - para poderes compreender...

A boneca reflectiu e serenou; e pareceu-lhe que entendia um pouco mais.Então, decidida avançou. A água começou lentamente a cobrir partes do seu corpo, ao mesmo tempo que sentia que estas, dolorosamente, se desvaneciam. A cada passo que dava, a menina perdia algum pedaço. Contudo - oh, estranho

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"porquê"! - quanto mais avançava, mais e mais profundamente compreendia, mais saber lhe era comunicado, apesar de ainda não ser capaz de dizer o que era o mar.

Uma outra vez, inquiriu:

- O que é o mar?

Uma última onda arrebatou o que restava dela. E, precisamente, naquele derradeiro momento em que desaparecia na imensidão do seu Seio, a boneca exclamou:

- Sou eu! *

(lenda Budista)