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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PAR UFOPA PROGRAMA DE PS-GRADUAO, PESQUISA E INOVAO TECNOLGICA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM RECURSOS NATURAIS DA AMAZNIA
ETNOBOTNICA E ECOFISIOLOGIA DE VEGETAES EM
CENRIOS INDGENAS NA REGIO DO TAPAJS COMO
INDICADORES DE ESTUDOS DE INTERAO BIOSFERA-
ATMOSFERA NA AMAZNIA
JACQUELINE BRAGA
Santarm, Par
Maro, 2013
i
JACQUELINE BRAGA
ETNOBOTNICA E ECOFISIOLOGIA DE VEGETAES EM
CENRIOS INDGENAS NA REGIO DO TAPAJS COMO
INDICADORES DE ESTUDOS DE INTERAO BIOSFERA-
ATMOSFERA NA AMAZNIA
ORIENTADORA: DRa. PATRCIA CHAVES DE OLIVEIRA
Dissertao apresentada Universidade
Federal do Oeste do Par- UFOPA, como
parte dos requisitos para obteno do Ttulo
de Mestre em Cincias na rea de Recursos
Naturais da Amaznia, junto ao Programa
de Ps Graduao Stricto Sensu em
Recursos Naturais da Amaznia.
rea de concentrao: Interao Biosfera
Atmosfera.
Santarm, Par
Maro, 2013
ii
DEDICATRIA
A toda minha famlia, em especial a minha querida me Maria de Jesus Braga Lima, as Minhas irmes Ellen Dayane Braga e Lyvia Jayane Braga Lima, e a meu namorado Amauri Prata da Rocha. O mrito desta conquista tambm de vocs!
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus, que me concedeu a vida, que me abenoa, protege e ilumina em
todos os momentos da minha vida, e que me deu capacidade para realizao deste trabalho.
Obrigada meu pai!
A toda minha famlia, em especial a minha querida me, Maria de Jesus Braga Lima,
minhas irms, Ellem Dayane Braga e Lyvia jaiane Braga Lima. Obrigada por fazerem parte
da minha vida e tornarem esta mais feliz.
A meu namorado, Amauri Prata da Rocha, que est ao meu lado em mais esta etapa,
por todo amor, carinho, compreenso e companheirismo. Meu desejo ter voc sempre, ao
meu lado.
A minha orientadora, professora Patrcia Chaves de Oliveira, pelos ensinamentos,
tempo dedicado e compreenso que teve comigo ao longo destes anos desde a graduao at
agora. Muito obrigada!
Aos colegas do Laboratrio de Estudos de Ecossistemas Amaznicos- LEEA, Deliane
Penha, Suelen Castro e Joo Paulo Felix por toda ajuda e companheirismo.
Aos colegas da turma de mestrado em Recursos Naturais da Amaznia 2011, em
especial aos amigos Jessica Ariana, Alrio Furtado, Juceli Faustino, Mrcia Oliveira, Deliane
Oliveira, Patrcia Lopes, Kheity Nagata. Este curso foi mais feliz, por ter vocs ao meu lado.
Aos amigos, Helton Lameira e Tatiane Braga, Ana Sofia, por toda ajuda que me
deram.
A Universidade Federal do Oeste do Par-UFOPA, ao Programa de Ps Graduao em
Recursos Naturais da Amaznia e a todos os docentes e demais funcionrios, que fazem parte
deste, meu muito obrigado, por todo conhecimento repassado.
A CAPES, pelo apoio financeiro, que possibilitou minha permanncia no mestrado e o
desenvolvimento deste trabalho.
E finalmente, um obrigada especial s famlias de Novo Lugar, que me acolheram to
bem durante minha estada na comunidade, em especial, dona Edite, aos caciques Dad e seu
Higino. Muito obrigada por compartilharem seus conhecimentos comigo.
Enfim, obrigada a todos que contriburam de forma direta ou indireta para realizao
deste trabalho.
iv
EPGRAFE
chegada a hora de reconhecer o papel dos
agricultores tradicionais, indgenas ou no,
bem como todo saber acumulado por eles,
atravs das geraes.
Ulysses Paulino de Albuquerque
v
BRAGA, Jacqueline. Etnobotnica e ecofisiologia de vegetaes em cenrios indgenas na
regio do tapajs como indicadores de estudos de interao biosfera-atmosfera na
Amaznia. 2013. 74 p. Dissertao de Mestrado em Cincias na rea de Recursos Naturais da
Amaznia. rea de concentrao: Interao biosfera atmosfera. Programa de Ps Graduao
em Recursos Naturais da Amaznia, Universidade Federal do Oeste do Par-UFOPA,
Santarm, Par, 2013.
RESUMO A integrao da Etnobotnica e da ecofisiologia deve ser considerada uma alternativa na
busca pela sustentabilidade na Amaznia, uma vez que a etnobotnica estuda a relao das
populaes com os recursos vegetais e fornece dados sobre a diversidade, uso e manejo das
plantas e a ecofisiologia avalia as respostas fisiolgicas da interao planta/ambiente. Neste
contexto a juno destas ferramentas pode contribuir para identificao de espcies de
extrema importncia para a subsistncia de certas populaes e prover informaes acerca da
fisiologia destas espcies, que ajudaram a traar planos de manejos adaptadas as condies
locais. Assim, o objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento etnobotnico das espcies
utilizadas na comunidade de Novo Lugar, identificar as espcies de maior importncia
cultural e caracterizar as respostas estomticas. Para tanto, foram feitas entrevistas, com
aplicao de questionrios semi-estruturados para identificao das plantas utilizadas,
posteriormente foram aplicados ndices de Frequencia Relativa de Citaes e Valor de uso,
que apontaram as espcies mais importantes. Destas espcies, foram escolhidas de forma
aleatria oito folhas completamente expandidas e assintomticas a doenas para leitura da
condutncia estomtica, atravs de pormetro AP4 (T Devices, Cambridge, Inglaterra). Desta forma, conclui-se que, as famlias de Novo Lugar, possuem um vasto conhecimento
acerca da flora local; a maioria das plantas usada na preparao de remdios; as espcies
mais importantes para os Borari de Novo Lugar, so: Andiroba (Carapa guianensis Aubl.),
arruda (Ruta graveolens L.), arum (Ischnosiphon obliquus (Rudge) Korn.), algodo roxo
(Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau
(Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing xixi (Inga heterophylla
Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca (Aristolachia trilobata L.);
estas espcies so fisiologicamente diferentes entre si, pois respondem de forma distintas ao
ambiente e que a etnobotnica um bom bioindicador para estudos de ecofisiologia de
vegetaes de interesse as comunidade tradicionais, pois ajuda a entender o funcionamento
destas espcies diante de mudanas atuais e futuras.
Palavras-chave: Etnobotnica, ecofisiologia, Povo Borari, Novo Lugar.
vi
BRAGA, Jacqueline. Ethnobotany and ecophysiology of vegetations in indigenous areas
from the tapajs region as indicators of interaction studies biosphere-atmosphere in the
Amazon. 2013. 74 p. Dissertao de Mestrado em Cincias na rea de Recursos Naturais da
Amaznia. rea de concentrao: Interao Biosfera Atmosfera. Programa de Ps Graduao
em Recursos Naturais da Amaznia, Universidade Federal do Oeste do Par-UFOPA,
Santarm, Par, 2013.
ABSTRACT
The integration of ethnobotany and ecophysiology should be considered an alternative in the
search for sustainability in the Amazon, since the ethnobotanical studies has shown the
relationship between populations and plant resources and provides data on diversity, use and
management of plants and ecophysiology evaluate the answers physiological interaction of
plant / environment. In this context the joining of these tools can help identify species of
extreme importance to the survival of certain populations and provide information about the
physiology of these species, which helped draw managements plans adapted to local
conditions. Thus, this study aimed to survey ethnobotanical species used in Novo Lugar
Village, identifying the species of greatest cultural importance and characterize the stomatal
responses. Therefore, interviews were conducted with application of semi-structured
questionnaires to identify plants used, subsequently indexes of Frequency Relative Quotes
and Value of usage were applied, which have shown the most important species. From this
species, eight leaves expanded and asymptomatic disease for reading stomatal conductance
were chosen, at random, through AP4 Porometer (T Devices, Cambridge, England). Thus, we conclude that the families from Novo Lugar Village, has a vast knowledge of local flora;
most plants is used in the preparation of medicines, the most important species for Borari
Indians from Novo Lugar are: Andiroba (Carapa guianensis Aubl.), arruda (Ruta graveolens
L.), arum (Ischnosiphon obliquus (Rudge) Korn.), algodo roxo (Gossypium arboreum L.),
banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau (Theobroma grandiflorum Schum),
goiaba (Psidium guajava L.), ing xixi (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima
crassifolia (L.) Kunth) and urubuca (Aristolachia trilobata L.); these species are
physiologically different from each other, because they respond differently to the
environment and that ethnobotany is a good bioindicator for studies of vegetation
ecophysiology interest of the traditional community, it helps to understand the working of
these species in current and future changes.
Keywords: Ethnobotany, ecophysiology, People Borari, Novo Lugar Village.
vii
SUMRIO
RESUMO ................................................................................................................................................. v
LISTA DE TABELAS .......................................................................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................. xi
1 INTRODUO .................................................................................................................................. xi
1.1 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................................ 4
1.1.1 Etnobotnica ........................................................................................................................... 4
1.1.2 Fisiologia vegetal/ condutncia estomtica ............................................................................ 8
2 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 10
2.1. Objetivo Geral ............................................................................................................................ 10
2.2. Objetivos Especficos ................................................................................................................. 10
3 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................... 11
CAPTULO I ....................................................................................................................................... 17
RESUMO .......................................................................................................................................... 19
ABSTRACT .......................................................................................................................................... 19
INTRODUO ................................................................................................................................ 20
MATERIAL E MTODOS .............................................................................................................. 22
RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................................... 24
CONCLUSES ..................................................................................................................................... 28
AGRADECIMENTOS............................................................................................................................ 29
BIBLIOGRAFIA CITADA ....................................................................................................................... 29
CAPTULO II ...................................................................................................................................... 45
RESUMO .......................................................................................................................................... 47
ABSTRACT ...................................................................................................................................... 47
INTRODUO ................................................................................................................................ 48
MATERIAL E MTODOS .............................................................................................................. 49
RESULTADOS E DISCUSSO ...................................................................................................... 52
CONCLUSES ................................................................................................................................. 54
AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................... 55
BIBLIOGRAFIA CITADA............................................................................................................... 55
viii
LISTA DE TABELAS
Captulo I
Tabela1 - Lista de espcies utilizadas pelos indgenas Borari, Comunidade de Novo
Lugar-Territrio Indgena Mar, Santarm....................................................................
32
Tabela 2- Resultados do Teste de Friedman (teste no paramtrico) para anlise da
varincia acerca do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais, alimentcias e
para o artesanato entre nove famlias indgenas na Comunidade de Novo Lugar-
Territrio Indgena Mar,Santarm.................................................................................
34
Tabela 3- Resultados do Teste de Shannon-Wiener para anlise da diversidade de
plantas medicinais, alimentcias e artesanais em uma populao indgena (9 famlias)
quanto aos aspectos de riqueza e eqitabilidade, Territrio Indgena
Mar.................................................................................................................................
35
Tabela 4- Resultados do ndice de Diversidade de Simpson quanto s plantas
medicinais, alimentcias e artesanais em uma populao indgena (9 famlias) e suas
respectivas propores (pi) na Comunidade de Novo Lugar no Territrio Indgena
Mar.................................................................................................................................
36
Tabela 5- Resultados do Teste de Friedman (teste no paramtrico) para anlise da
varincia acerca do conhecimento tradicional sobre os rgos das plantas que so
utilizados com fins medicinais, alimentcios e para o artesanato por nove famlias
indgenas da Comunidade de Novo Lugar-Territrio Indgena Mar, Santarm...........
37
Tabela 6- Resultados do Teste de Shannon-Wiener para anlise da diversidade quanto
ao uso dos diferentes rgos das plantas medicinais, alimentcias e artesanais em uma
populao indgena (9 famlias) quanto aos aspectos de riqueza e eqitabilidade,
Territrio Indgena Mar.................................................................................................
38
Tabela 7- Resultados do ndice de Diversidade de Simpson quanto ao uso dos
distintos rgos de plantas medicinais, alimentcias e artesanais em uma populao
indgena (9 famlias) e suas respectivas propores (pi) na Comunidade de Novo
Lugar no Territrio Indgena Mar.................................................................................
39
Tabela 8- Resultados da Distribuio em classes da Frequncia Relativa de Citaes
de Espcies de plantas (FRC= Numeros de informantes que citaram a espcie/Nmero
total de informantes) por nove familias indgenas, Comunidade de Novo Lugar,
Territrio Indigena Mar.................................................................................................
40
Tabela 9- Onze espcies com maior Freqncia relativa de Citaes (RFC) e Valor
de uso (VU), para Comunidade de Novo Lugar..............................................................
43
Tabela 10- ndice de Principal Indicao Teraputica (FL) e Prioridade de
Ordenamento (ROP), para as plantas medicinais mais citadas em cenrios indgenas,
Territrio Indgena Mar, Santarm................................................................................
43
ix
Captulo II
Tabela 1- Estatstica Descritiva quanto a condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s)
em tecidos foliares de nove espcies de plantas teis: andiroba (Carapa guianensis
Aubl.), algodo roxo (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia
flexuosa L.), cupuau (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava
L.), ing xixi (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e
urubuca (Aristolachia trilobata L.) a Comunidade de Novo Lugar, obtidas no
horrio de 08-09: 00 h.....................................................................................................
55
Tabela 2- Estatstica Descritiva quanto a condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s)
em tecidos foliares de nove espcies de plantas teis (Carapa guianensis Aubl.),
algodo roxo (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa
L.), cupuau (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing
xixi (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca
(Aristolachia trilobata L.) a Comunidade de Novo Lugar, obtidas no horrio de 11-
12: 00 h.............................................................................................................................
56
Tabela 3-Estatstica Descritiva quanto a condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s)
em tecidos foliares de nove espcies de plantas teis (Carapa guianensis Aubl.),
algodo roxo (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa
L.), cupuau (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing
xixi (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca
(Aristolachia trilobata L.) a Comunidade de Novo Lugar, obtidas no horrio de 17-
18: 00................................................................................................................................
57
Tabela 4-Anlise de varincia (ANOVA), 2 critrios, atravs da realizao do teste
de Tukey para comparao da condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s) em tecidos
foliares de nove espcies Carapa guianensis Aubl.), algodo roxo (Gossypium
arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau (Theobroma
grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing xixi (Inga heterophylla
Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca (Aristolachia trilobata
L.) de plantas em trs horrios distintos (08-09:00h; 11-12:00 h e 17-18:00 h),
comunidade de Novo Lugar, Santarm Par....................................................................
58
Tabela 5-Anlise de varincia (ANOVA), 1 critrio, atravs da realizao do teste de
Tukey para comparao da condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s) em tecidos
foliares de nove espcies de plantas no horrio de 08-09:00h, comunidade de Novo
Lugar, Santarm Par.......................................................................................................
59
Tabela 6- Anlise de varincia (ANOVA), 1 critrio, atravs da realizao do teste de
Tukey para comparao da condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s) em tecidos
foliares de nove espcies de plantas no horrio de 11-12:00h, comunidade de Novo
Lugar, Santarm Par.......................................................................................................
60
Tabela 7-. Anlise de varincia (ANOVA), 1 critrio, atravs da realizao do teste
de Tukey para comparao da condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s) em tecidos
foliares de nove espcies de plantas no horrio de 17-18:00h, comunidade de Novo
Lugar, Santarm Par.......................................................................................................
60
x
Tabela 8- Analise Fatorial a x b, para comparao da condutncia estomtica (gs
mmol H2O/m2s) em tecidos foliares de nove espcies de plantas em trs horrios
distintos (08-09:00h; 11-12:00 h e 17-18:00 h), comunidade de Novo Lugar,
Santarm Par..................................................................................................................
61
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura. 1- Mapa de localizao comunidade Novo Lugar, Gleba Nova Olinda I,
Santarm, Par.................................................................................................................
31
Figura 2- Teste de Friedman para anlise da varincia acerca do conhecimento
tradicional sobre plantas medicinais, alimentcias e para o artesanato entre nove
famlias indgenas na Comunidade de Novo Lugar -Territrio Indgena Mar,
Santarm...........................................................................................................................
35
Figura 3- Teste de Shannon-Wiener para anlise da diversidade de plantas medicinais
(Med), alimentcias (Ali) e artesanais (Art) em uma populao indgena (9 famlias)
no Territrio Indgena Mar............................................................................................
36
Figura 4- Teste de Friedman (teste no paramtrico) para anlise da varincia acerca
do conhecimento tradicional sobre os rgos das plantas que so utilizados com fins
medicinais, alimentcios e para o artesanato; Comunidade de Novo Lugar -Territrio
Indgena Mar, Santarm.................................................................................................
38
Figura 5- Teste de Shannon-Wiener para anlise da diversidade de uso dos diferentes
rgos das plantas (Folhas=Fol; frutos=Fru;casca=Cas;sementes=Sem; raiz=Ra e
tronco=Tro) por populao indgena (9 famlias), Territrio Indgena Mar..................
39
Figura 6- Resultados da Distribuio em classes da Frequncia Relativa de Citaes
de Espcies de plantas (FRC= Numeros de informantes que citaram a espcie/Nmero
total de informantes) por dez familias indgenas, Comunidade de Novo Lugar,
Territrio Indigena Mar.................................................................................................
41
Figura 7- Frequncias Relativas das Citaes das Espcies relatadas (90) de importncia medicinal, alimentar e artesanal por nove famlias do Territrio Indgena
Mar, Santarm................................................................................................................
42
Figura 8- Principais Frequncias Relativas das Citaes de Espcies (FRC) de
plantas de uso medicinal e alimentar em cenrios indgenas, Territrio Indgena Mar,
Santarm...........................................................................................................................
42
1
1 INTRODUO
A Amaznia considerada a maior reserva de diversidade biolgica do mundo (Valois,
2003), possue cerca de 40% das florestas tropicais, muitas das quais ainda botanicamente
intactas (Mettermeier et al. 2003; Laurance et al. 2001), e elevado nmero de espcies
endmicas (Mettermeier et al. 2003).
Por abrigar tal diversidade, destaca-se como uma das principais fontes de matrias prima,
devido a isso desempenha funo social e econmica para diversos grupos, em especial, para
as populaes tradicionais que habitam as florestas e delas retiram seu sustento atravs da
caa, pesca e do extrativismo vegetal para diversos fins.
Apesar de ser extremamente importante, biolgica e economicamente, a regio amaznica
vem sendo alvo de constantes atos de degradao, causados pela explorao indiscriminada de
recursos naturais e mudanas no uso do solo e da cobertura vegetal, que leva a perda de
diversidade biolgica e cultural. Neste sentido, um dos maiores desafios cientficos brasileiros
planejar um sistema de gesto territorial para a Amaznia, a regio de maior biodiversidade
do planeta, que leve em conta tanto a conservao dos seus recursos naturais, como a
promoo do desenvolvimento social e econmico das populaes que vivem nessa regio
(Vieira et al. 2005); e que muitas vezes dependem quase que exclusivamente dos recursos
oferecidos pela floresta. De acordo com Le Cointe (1947), a plantas contribuem em vrios
aspectos ao modo de vida das populaes interioranas da Amaznia brasileira.
Assim, devido ao grande contato com a biodiversidade, as populaes tradicionais
acabaram adquirindo e acumulando uma gama de conhecimento emprico sobre a
biodiversidade vegetal local, tal conhecimento to valioso quanto biodiversidade (Almeida
2005).
Entende-se por povos ou populaes tradicionais de acordo com o Decreto 6.040 de 2007,
grupos culturalmente diferenciados, que se reconhecem como tais, que possuem formas
prprias de organizao social, que ocupam e usam territrios e recursos naturais como
condies para sua reproduo cultural, social, religiosa e econmica, utilizando
cohecimentos, inovaes e prticas gerados e transmitidos pela tradio (BRASIL, 2007).
As populaes tradicionais fazem uso de um territrio a longo tempo e, em geral, no
possuem registro de propriedade individual da terra, sendo o territrio encarado como rea de
utilidade comunitria, com uso regulamentado pela tradio, costume e por normas
compartilhadas internamente (Arruda, 1999). Desta maneira, as sociedades humanas que
2
pertencem a grupos tribais (sociedades indgenas), caiaras, caboclos, caipiras e camponeses
usualmente so designadas tradicionais (Amoroso e Viertler 2010).
Dentre as diversas comunidades tradicionais presentes na Amaznia est Novo Lugar,
que faz parte da Gleba Nova Olinda I. Uma rea de imenso valor para conservao da
natureza que abriga uma enorme biodiversidade, sendo refgio para espcies endmicas e
ameaadas, alm de possuir importncia na manuteno de servios ambientais (Dhesca,
2011). Composta por 14 comunidades das quais trs so indgenas: So Jos, Cachoeira do
Mar e Novo Lugar, juntas estas formam a terra indgena do Mar, atualmente em processo
de legalizao e cuja rea abrange aproximadamente 42.373 ha destinados aos grupos
indgenas auto-identificados Arapiun/Borari.
Os Borari de Novo Lugar apresentam um modo de vida tradicional cuja subsistncia
baseada no extrativismo. A floresta desempenha um papel fundamental na vida de suas
famlias, contribuindo, inclusive, com a sade dos mesmos, j que, os remdios caseiros so o
principal meio de tratamento para vrias doenas. Alm disso, a floresta tambm fonte de
alimentos, visto que os comunitrios vivem basicamente da coleta de produtos desta, como
peixes e produtos da agricultura itinerante de mandioca e lavouras regionais. As famlias
tambm aproveitam um grande nmero de espcie para obter diversos produtos para uso
domstico, como cips, talas, resinas, sementes, folhas e razes. Quase no h
comercializao de produo, sendo baixa a circulao de moedas, os indgenas tm
dificuldades para garantir sua prpria economia, porm tem a venda de farinha de mandioca
como uma das fontes de renda, sendo esta a principal atividade para esse fim (Projeto Sade e
Alegria 2011). Assim, pode-se disser que os indgenas de Novo Lugar desenvolvem uma
cultura prpria interligada ao meio ambiente local e constituem uma dinmica socioambiental
equilibrada e sustentvel reconhecidamente pelo ordenamento jurdico nacional e
internacional (Dhesca, 2011).
Deste modo, ao longo da histria a humanidade tem utilizado espcies vegetais como
recursos inerentes sua sobrevivncia, desenvolvendo mtodos cada vez mais sofisticados
para manipulao dos recursos naturais, tais prticas so desenvolvidas e repassadas durante
vrias geraes e tem despertado o interesse cientfico de conhecer os recursos florestais
usados e explorados pelas pessoas (Ramos, 2007).
Considerando que as populaes tradicionais, tais como os indgenas da Amaznia
possuem uma riqueza de conhecimento acerca do uso e manejo de plantas, faz-se necessrio
investigar a relao das populaes amaznicas com os vegetais, a fim de identificar espcies
potencialmente teis para as comunidades.
3
Portanto, diante da constatao da importncia das plantas para a subsistncia do povo
Borari de Novo Lugar, de suma importncia a realizao de um levantamento etnobotnico,
como forma de registro do conhecimento tradicional desta populao acerca da flora local,
bem como, a identificao e caracterizao ecofisiolgica das espcies consideradas mais
importantes por seus moradores.
Para tanto, um dos primeiros passos para entender o comportamento fisiolgico das
espcies a caracterizao estomtica, devido seu papel integrador na interao planta-
ambiente. Segundo Brunini e Cardoso (1998) redues na condutncia estomtica podem
afetar uma srie de interaes planta-ambiente, visto que, os estmatos exercem controle
sobre o vapor dgua e balano de energia entre o vegetal e o ambiente. Para Hetherington e
Woodward (2003), os estmatos so uma ferramenta chave para se entender a prpria
evoluo das plantas, assim como para saber como as mesmas respondem a mudanas
ambientais. Visto que, o controle dos estmatos um importante mecanismo atravs do qual
os vegetais limitam a perda de gua atravs do fechamento destes (Paiva et al. 2005 ); e pode
ser considerado um bioindicador de sustentabilidade, uma vez que, atravs do mesmo
possvel inferir se uma espcie mais tolerante ou mais sensvel ao estresse hdrico. Podendo
desta maneira, auxiliar na elaborao de planos de manejo melhor adaptados s condies
especifcas de cada local.
4
1.1 REVISO BIBLIOGRFICA
1.1.1 Etnobotnica
A etnobotnica pode ser definida como o estudo das sociedades humanas, passadas e
presentes, e suas interaes ecolgicas, genticas, evolutivas, simblicas e culturais com as
plantas (Beck e Ortiz, 1997); simplificadamente podemos dizer que a etnobotnica abrange
estudos que tratam das relaes estabelecidas por comunidades humanas com o componente
vegetal (Carniello et al. 2010); incluindo assim, todos os estudos acerca da relao mtua
entre as populaes e as plantas. Tais estudos tem como principal caracterstica o contato
direto do pesquisador com as populaes, procurando desta forma, uma aproximao e
vivncia que permita conquistar a confiana dos mesmos, resgatando desta maneira, todo
conhecimento possvel na relao de afinidade entre o homem e plantas de uma comunidade
(Cotton 1996).
A investigao etnobotnica pode desempenhar funes de grande relevncia, uma vez
que, reune informaes acerca de todos os possveis usos de plantas e contribui para o
desenvolvimento de novas formas de explorao dos ecossistemas (Schardong e Cervi, 2000).
Por esta razo, diversas pesquisas vem sendo realizandas em comunidades da floresta tropical
como forma de desenvolver instrumentos para avaliar os recursos vegetais utilizados nestas
reas e apontando propostas de uso sustentado das mesmas, como forma de conservar e/ou
recuperar esses ecossistemas (Silva e Andrade, 2005).
Neste aspecto, Albuquerque e Andrade (2002) destacam a importncia de se conhecer a
relao entre homem e natureza, visto que, a mesma contribui com o planejamento de
estratgias e desenvolvimento de programas de conservao. Ressaltam ainda que, as
populaes locais so a chave para o sucesso desses programas. Por isso, Benesi et al. (2010)
caracterizaram o germoplasma de mandioca do Malau, usando caractersticas morfolgicas e
marcadores de polimorfismo com ajuda do conhecimento indgena da comunidade local para
determinar as melhores variedades de acordo com as necessidades dos mesmos.
Para Pinto et al. (2006), o estudo etnobotnico em comunidades tradicionais ameaado
pela degradao ambiental e pela incluso de novos elementos culturais, associado ao fato das
pesquisas etnobotnicas serem consideradas recentes no Brasil, por isso pouco documentadas,
e pela forma como a mesma mantida, atravs da tradio oral. Neste contexto, Gandolfo e
5
Hanazaki (2011), argumentam que, em locais em transformao ambiental e social a
etnobotnica pode contribuir para o registro de informaes relativas s interaes entre
pessoas e plantas, evitando que tais informaes sejam perdidas frente a novos contextos, uma
vez que tanto cultura como paisagem, no so estticos. Adicionalmente Signorini, et al.
(2009) relatam que boa parte do conhecimento tradicional sobre plantas e seus usos est
desaparecendo rapidamente como consequncia das mudanas de cunho scio-econmico e
uso da terra. Em seu estudo em Monte Ortobene, na Itlia, observaram uma grande riqueza e
diversidade de conhecimento. Contudo, destacam que o mesmo est ameaado em virtude dos
detentores do conhecimento serem idosos e no haver uma continuidade de conhecimento. Tal
fato refora a importncia dos trabalhos etnobotnicos como registro da diversidade vegetal e
cultural.
Assim, dentre as diversas estratgias usadas pelo ser humano, destaca-se sua capacidade
de identificar e utilizar plantas (Sheldon e Balick, 1995). Neste contexto, os indgenas so um
dos povos que possuem informaes acuradas sobre a diversidade biolgica e as
potencialidades resultantes da captao de recursos naturais (Posey, 1990). enorme a
variedade de plantas silvestres coletadas pelos ndios da Amaznia, mas os dados
taxonmicos, farmacolgicos e nutritivos a respeito delas continuam escassos (Costa et al.
2006). Dey e Nath De (2011) em estudos na ndia com Aristolochia indica L. espcie de vasta
utilidade medicinal na regio, como por exemplo, no combate a problemas intestinais, lceras,
doenas de pele, inflamatria, antimicrobiana, entre outros, concluram que um dos principais
constituintes ativos da planta cancergeno e abortivo potente.
Mazandarani et al. (2007) estudando os efeitos antibacterianos de duas espcies de
Hypericum endmicas do norte do Iram, constataram que o extrato etanlico da parte area
apresenta boa atividade antibacteriana, mas quando se trata do extrato aquoso essa atividade
tende a ser mais fraca. Pode-se dizer ento, que a etnobotnica importante na identificao
das espcies teis, mas preciso estudos complementares para se avaliar os ricos de sua
utilizao e melhor forma de preparao. Situao semelhante pode ser observada nas
comunidades Amaznicas onde muitas vezes a populao no tem acesso ao sistema de sade
e a medicina popular a nica alternativa, entretanto deve ser mais bem estudada para
comprovar sua eficcia.
Adicionalmente, Anairamiz e Mrquez (2011), estudando a etnoecologia de vegetaes
do bosque estacional seco no estado de Mrida nos Andes, obtiveram uma lista com 953
espcies teis as populaes locais, deste total, cinco ganharam destaque por serem
consideradas muito importantes para a subsistncia desta populao, dentre elas esto o cedro
6
que assim como no Brasil, encontra-se cada vez mais raro. Observaram ainda que os costumes
e a tradio no uso de plantas vem desaparecendo com o passar do tempo.
Os estudos etnobotnicos so imprescindveis para conhecer e analisar o uso de plantas
por populaes e as particularidades e similaridades neste uso entre as diversas comunidades.
Sher et al. (2011), observaram em estudo no Paquisto sobre do valor econmico das plantas,
em especial plantas medicinais aromticas, desde a extrao nas comunidades at sua
comercializao final, que o conhecimento atual da populao acerca das plantas usadas na
comunidade proveniente do conhecimento indgena, contudo, verificaram espcies
endmicas com srios ricos de extino, devido super explorao e falta de tcnicas
adequadas de extrao. Desse modo, percebe-se que nem sempre as comunidades exploram os
recursos de forma sustentvel.
No contexto amaznico, nota-se que estudos etnobotnicos ainda so escassos frente
grande diversidade vegetal, cultural e da alta taxa de endemismo da regio, por esta razo
acredita-se que devem ser incentivados.
Os trabalhos desenvolvidos demonstram quo valiosos so o conhecimento das
populaes amaznicas sobre as plantas. Anderson e Posey (1985) em trabalho sobre manejo
de cerrado pelos ndios Kayap no sul do Par, argumentam que os indgenas manejavam com
timo aproveitamento as plantas atravs da criao de Apts e que tal prtica provavelmente
era feita por outros grupos de ndios, inclusive na regio do Tapajs. Miller et al. 1989,
demostraram que os indos Waimiri Atroari do rio Camanau-AM, possuem um alto grau de
conhecimento e utilizao da floresta. De uma amostra de 34 espcies, 65% tinham algum uso
espcifico, eles retiram da floresta, roas e rios materiais necessrios para alimentao,
utenslios e moradia. Outro trabalho pioneiro em etnobotnica na Amaznia o de Van de
Berg e Silva (1988) sobre a flora medicianal em Roraima, onde listaram um grande nmero
de espcies usadas na preparao de remdios, mostrando as partes usadas e modo de preparo,
o que contribuiu de forma significativa com o conhecimento sobre plantas medicinais na
Regio Amaznica.
Segundo Pasa (2011), o cuidado com a biodiversidade evidente na fala e no manejo que
as pessoas realizam em seu cotidiano. J Costa e Mitja (2010) verificaram o uso de plantas
por agricultores do municpio de Manacapur (AM), e constataram que o conhecimento sobre
plantas medicinais passado de gerao em gerao, sendo as mulheres as guardis de tal
conhecimento. O trabalho de Bastos (1995) investigou a importncia das formaes vegetais
da restinga e do maguezal para pescados do litoral paraense, segundo este autor, as plantas so
a principal fonte de recursos para as famlias sendo usadas para alimentao, medicina caseira
7
e na confeco de currais e barcos, alm de uma gama de outras utilidades. Este estudo
tambm revelou o cuidado que os pescadores tm com a presenvao da ambiente, a retirada
de madeira feita de forma racional em vrios pontos de acordo com o tamanho e guardando
os locais j explorados para evitar a sobre-explorao da floresta. Santos e Coelho-Fereira,
(2012), registraram os usos de Mauritia flexuosa L.F. por comunidades ribeirinhas e
verificaram a importncia desta espcie para o dia-a dia dos moradores, so confeccionadaos
vinte seis produtos, tais como paneiro, rasa, tipiti, abano, peneira, entre outros que
tem como matria prima as fibras do miriti, os produtos gerados tambm contribuem para a
renda familiar das comunidades.
Ferreira e Jardim (2005) no estado do Par, municipio de Maracan, ilha de algodoal,
listaram 54 espcies usadas principalmente na preparao de remdios caseiros, mas tambm
na alimentao, construo e como combustvel. A espcie Anacardium occidentale foi citada
por mais de 50% dos entrevistados, sugerindo que a mesma possui elevada importncia
cultural. O estudo etnofarmacognstico de Oliveira et al. (2011) com a espcie
Ampelozizyphus amazonicus, utilizada no tratamento de malria por quilombolas do
municpio de Oriximin, Regio Oeste do Par, demonstrou que apesar da planta no ter
demonstrado atividade para malria, o uso popular da mesma pode est relacionado com uma
possvel atividade adaptgena e imunoestimulante, devido a presena de alguns componentes
qumicos. O trabalho de Lima et al. 2011, tambm no oeste do Par, nos municpios de
Santarm, Itaituba e Altamira, indicou um nmero expressivo de etnoespcies medicinais (46)
vendidas nas feiras e mercados do Distrito Florestal Sustentvel da BR-163. Assinalou ainda
que existe similaridade nas etnoespcies comercializadas nestas cidades, sendo que Santarm
cidade com maior nmero de etnoespcies (40), seguida de Altamira (26) e Itaituba (23). O
estudo tambm revelou que os principais fornecedores de plantas medicinais so produtores
rurais (comunidades ribeirinhas, de agrovilas, ou assentamentos rurais) e indgenas,
mostrando que de fato a populao local possui um amplo conhecimento sobre a flora
Amaznica.
Desta forma, as bases etnobotnica podem auxiliar na ampliao do conhecimento acerca
das etnoespcies que apresentam uma vasta utilidade para populaes tradicionais da
Amaznia, como j verificado por diversos autores (Nez et al. 2000; Silva 2002; Costa e
Mitja 2010; Heinrich et al. 2011). Apesar de estudos etnobotnicos terem sido intensificados,
a fim de conhecer e divulgar as estratgias usadas pelos seres humanos e suas relaes com os
recursos biolgicos (Posey & Overal 1990; Guarim Neto et al. 2000), percebe-se que ainda
8
so escassos frente grande diversidade vegetal e cultural que existe nos biomas brasileiros,
em especial no bioma Amaznico.
1.1.2 Fisiologia vegetal/ condutncia estomtica
Os estmatos so pequenos poros, presentes na superficie de folhas e caules, delimitados
por um par de clulas-guarde, que tem como funo regular o fluxo de gases entre a planta e o
ambiente (Hetherington e Woodward 2003), a atividade estomtica um importante fator
fisiolgico no controle dos processos vitais da planta, alm de ser um indicador das condies
hdricas do ambiente (Rodrigues et al. 2011). A condutncia estomtica (gs) controlada pela
turgidez das clulas-guarda, que regulam a abertura ou fechamento dos estmatos, assim, a
condutncia proporcional ao dimetro da abertura estomtica e as variaes na abertura dos
estmatos, devido s diferenas no potencial de gua na folha, que dependem de diversos
fatores ambientais (Mc Dermit, 1990).
Segundo Lima (1993) a epiderme das folhas possui uma cutcula impermevel, tanto ao
vapor dgua quanto ao gs carbnico, e contm quantidades de estmatos variveis, cujas
respostas, mediante a regulao da condutncia estomtica, controlam a transpirao da folha
e influenciada pela luz, pela concentrao de gs carbnico atmosfrico, pela umidade e
temperatura. O que corrobora com Jarvis e McNaughton (1986), segundo estes autores os
estmatos so sensveis s variaes de luz, a temperatura do ar e da folha, e nveis de
concentraes de dixido de carbono (CO2) na atmosfera adjacente. Redues na condutncia
estomtica podem afetar uma srie de interaes planta-ambiente, visto que, os estmatos
exercem controle sobre o controle do vapor dgua e balano de energia entre o vegetal e o
ambiente (Brunini e Cardoso 1998).
Assim, a condutncia estomtica pode ser entendida como o mecanismo fisiolgico que as
plantas terrestres vasculares possuem para o controle da transpirao (Messinger et al. 2006).
O controle estomtico uma importante propriedade fisiolgica por meio da qual as plantas
limitam a perda de gua, ocasionando redues na condutncia estomtica e, geralmente
reduzindo as trocas gasosas como forma de resposta das plantas a diversos fatores, incluindo o
estresse hdrico (Paiva et al. 2005), uma vez que, medida que o potencial hdrico diminue,
aumenta a resistencia estomtica trocas gasosas (Brunini e Cardoso 1998); ocorrendo ento,
consequente fechamento dos estmatos, que promove a diminuio da difuso de CO2 para o
mesfilo foliar e posterior queda da fotossntese (Souza et al. 2001).
9
A atividade estomtica determinada pela demanda transpirativa a que as folhas esto
potencialmente sujeitas e, portanto, determina a taxa de crescimento da planta. De acordo com
(Ferreira da Costa et al., 2003), alteraes na quantidade de radiao fotossinteticamente ativa
(RFA), disponvel ou no dficit de presso de vapor (DPV), tambm so prontamente sentidas
pela vegetao. Assim, a variabilidade sazonal tambm pode afetar o movimento estomtico,
segundo Rodrigues et al. (2011), no perodo chuvoso, ocorre um aumento acentuado das taxas
de condutncia estomtica.
Para Machado e Laga (1994), o movimento estomtico o mecanismo mais rpido que as
plantas dispem para ajustar as variaes ambientais a que os rgos fotossintticos esto
submetidos, condies propcias fixao de carbono favorecem a abertura estomtica,
enquanto que condies que favorecem a perda de gua favorecem o fechamento dos
estmatos. Alm disso, fatores como luz, disponibilidade hdrica no solo e umidade relativa
so variveis que afetam diretamente o comportamento estomtico em estudos em laboratrio,
entretanto em condies naturais devido variao dos fatores ambientais o mecanismo de
regulao estomtica mais complexo. A condutncia varia durante o dia, ou seja, pela
manh, geralmente so observados maiores valores de condutncia estomtica, enquanto que
pela parte da tarde, esses valores so reduzidos (Kallarackal e Somen, 1997).
De acordo com Ferri (1985), a temperatura tambm afeta a abertura dos estmatos.
Temperaturas de at um mximo de 30C normalmente estimulam sua abertura estomtica e
acima de 30C, geralmente, determinam seu fechamento. Todavia, o principal fator no
controle estomtico exercido pela gua, uma vez que condies de dficit provocam o
fechamento dos estmatos independente das condies de luz, CO2 ou temperatura.
10
2 OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Fazer um levantamento etnobotnico das espcies usadas em Novo Lugar e
caracterizar perfil das respostas estomticas, das espcies consideradas mais importantes para
os indgenas Borari.
2.2. Objetivos Especficos
1-Listar espcies teis a comunidades e verificar a relao entre a populao local e a
diversidade vegetal atravs:
Frequncia relativa de citaes (RFC);
Valor de uso (VU).
2- Caracterizar o perfil estomtico das espcies de maior Frequncia Relativa de Citaes e
Valor de Uso.
11
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CAPTULO I
O CONHECIMENTO TRADICIONAL DOS INDGENAS
BORARI (COMUNIDADE DE NOVO LUGAR, OESTE DO
PAR) ASSOCIADO AO USO DE PLANTAS1
Jacqueline Braga
Patrcia Chaves de Oliveira
1-O conhecimento tradicional dos indgenas Borari (comunidade de Novo Lugar, Oeste do Par) associado ao
uso de Plantas. Este manuscrito ser submetido Acta Amazonica, ISSN:0044-596.
18
O conhecimento tradicional dos indgenas Borari (comunidade de Novo Lugar,
Oeste do Par) associado ao uso de Plantas
Jaqueline BRAGA 1, Patrcia Chaves de OLIVEIRA
2
1 Universidade Federal do Oeste do Par - UFOPA, Mestranda do Programa de Ps-
Graduao em Recursos Naturais da Amaznia (PGRNA), Bolsista CAPES, Av.
Marechal Rondon, s/n - Bairro Caranazal - 68040-070 - Santarm, PA. E-mail:
2 Universidade Federal do Oeste do Par - UFOPA, Docente do Programa de Ps-
Graduao em Recursos Naturais da Amaznia (PGRNA), Instituto de Biodiversidade e
Florestas, Coordenadora do Laboratrio de Estudos de Ecossistemas Amazonicos, Av.
Marechal Rondon, s/n - Bairro Caranazal - 68040-070 - Santarm, PA. E-mail:
19
O conhecimento tradicional dos indgenas Borari (comunidade de Novo Lugar,
Oeste do Par) associado ao uso de Plantas
RESUMO
As populaes indgenas na Amaznia possuem uma riqueza de saber tradicional acerca
do uso e manejo de espcies vegetais inigualveis. Considerando que a reproduo do
conhecimento tradicional para futuras geraes deve ser preservada atravs da valorao
deste saber, este projeto teve por objetivo caracterizar junto aos ndios Borari da
Comunidade de Novo Lugar, Santarm-Par (55.8 W, 2.9 S) as plantas usadas por eles
e traar o perfil desta relao. Para tanto, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas
a fim de se obter a frequncia relativa de citaes (RFC), o valor de uso (VU). Para
determinar a principal indicao teraputica foi usado o nvel de fidelidade (FL) e a
Prioridade de Ordenamento (ROP). Foram citadas 90 espcies teis comunidade, entre
as plantas com maior RFC esto arruda (Ruta graveolens L.), buriti (Mauritia flexuosa
L.), cupuau (Theobrama grandiflorum Schum.) e goiaba (Psidium guajava L.). As
espcies com maior VU foram ing xixi (Inga heterophylla Willd.) e andiroba (Carapa
guianenses Aubl.). A anlise do nvel de fidelidade para as espcies medicinais
demonstrou que existe consenso entre as indicaes teraputicas, sendo que a arruda
(FL=100) foi indicada no tratamento de dores de estmago; andiroba (FL=100) como
cicatrizante, no combate a tosse, gripe e pneumonia; goiaba e urubukaa (Aristolachia
trilobata L.) com FL=100, no combate a diarria. Deste modo, as espcies acima citadas
devem ser vistas como prioritrias em cenrios de manejo em sistemas de produo
agroflorestal, haja vista, a importncia das mesmas para a sade e a sobrevivncia de
indivduos indgenas na regio do Tapajs-Arapiuns.
PALAVRAS-CHAVE: Fisiologia, Povos Amaznidas, Sustentabilidade
Borari Indians traditional knowledge (Novo Lugar village, west of Par state)
associated with the use of plants
ABSTRACT
The indigenous people in the Amazon have a unique wealth of traditional knowledge
about the use and management of plant species. Whereas the reproduction of traditional
knowledge for future generations should be preserved valuing this knowledge, this
project aimed to characterize with the Indians Borari from Novo Lugar Village,
Santarm City, Par State (55.8 W, 2.9 S) plants used by them and drawing of this
relationship. Thus, we conducted semi-structured interviews in order to obtain the
relative frequency of quotes (RFQ), the use value (UV). To determine the main
therapeutic indication was used fidelity level (FL) and Priority Planning (ROP). They
listed 90 species useful to the village, among the plants with higher RFQ are arruda
(Ruta graveolens L.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau (Theobrama grandiflorum
Schum.) and goiaba (Psidium guajava L.). The species with the highest UV were ing
xixi (Inga heterophylla Willd.) and andiroba (Carapa guianenses Aubl.). The analysis
of the level of fidelity for medicinal species demonstrated that there is consensus among
the therapeutic indications, and arruda (FL = 100) was indicated in the treatment of
stomachache; andiroba (FL = 100), as a healing agent for coughs, influenza and
pneumonia; goiaba and urubuca (Aristolachia trilobata L.) with FL = 100, in
20
combating diarrhea. It follows then that the species mentioned above should be seen as
priority in management scenarios in agroforestry systems, due to the importance of the
same for the health and survival of indigenous individuals in the Tapajs region-
Arapiuns.
KEYWORDS: Physiology, Amazonian People, Sustainability
INTRODUO
As florestas tropicais vm sofrendo uma reduo de suas reas por meio de
desmatamentos para retirada de madeira, explorao de recursos minerais, implantao
de projetos agropecurios e queimadas criminosas (Silva e Andrade 2005).
A colonizao da Amaznia a partir da dcada de 1960 foi marcada pelo processo
violento de ocupao e degradao ambiental, sem levar em considerao as
peculiaridades dos diversos espaos ecolgicos amaznicos e os anseios da populao
regional. Esse processo resultou em quase 600 mil km2 de ecossistemas modificados at
o ano 2000 (Vieira et al. 2005). Atualmente o cenrio de degradao ambiental continua
com a abertura de novas estradas, cada vez mais dentro da floresta; explorao
madeireira e mineral, sem falar no aumento populacional (Hubbell et al. 2008). Existe
ainda uma presso crescente por aumentar a produo agrcola brasileira, fato que
somado aos anteriores demandam reas cada vez maiores da floresta amaznica e
representam o que vem ocorrendo na regio oeste do Par.
O desenvolvimento da Amaznia exige solues alternativas de utilizao
sustentvel, considerando cdigos e leis de cunho ambiental e florestal, tendo em vista a
necessidade de se conciliar o desenvolvimento econmico e social com a preservao
do meio ambiente (Valois 2003). Neste contexto, estudos etnobiolgicos podem
contribuir, pois representam uma ferramenta fundamental no processo de elaborao de
estratgias de manejo por fornecer informaes de carter ecolgico, social e econmico
21
que podem resultar em planos de desenvolvimento melhor adaptados s condies
locais (Barroso et al. 2010).
Assim os estudos etnobotnicos tm se destacado, quanto ao fornecimento de
subsdios para anlise da sustentabilidade de recursos naturais atravs da investigao
da relao pessoas/plantas de modo a registrar e conhecer as estratgias e o
conhecimento dos povos locais (Albuquerque 2010). Queiroz (2005) cita que a
combinao entre conhecimento cientfico e o tradicional extremamente benfica e
contribui de forma significativa para preservao do meio ambiente. visvel o papel
que os povos tradicionais desempenham na explorao dos ambientes naturais,
fornecendo informaes sobre as diferentes formas de manejo executados em seu
cotidiano e usufruindo da explorao enquanto forma de sustentao desses povos (Pasa
et al. 2005).
Apesar de pouco estudado o saber dos povos locais pode ser um importante elemento
nos debates sobre o uso dos recursos (Albuquerque 2010). Para Diegues (2001) a forma
de utilizao dos recursos naturais est relacionada com a cultura de cada populao de
forma que, a relao de indgenas e ribeirinhos tem contribudo para a preservao de
grande parte das florestas tropicais, visto que, em muitos casos essa relao de
verdadeira simbiose. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento
etnobotnico das espcies utilizadas na comunidade de Novo Lugar, como forma de
registrar o conhecimento tradicional dos indgenas Borari acerca da diversidade local.
22
MATERIAL E MTODOS
A comunidade de Novo Lugar (55.8 W, 2.9 S) est localizada a margem esquerda
do Rio Mar, afluente do Rio Arapiuns, em frente reserva extrativista Tapajs-
Arapiuns, municpio de Santarm, regio Oeste do Par. Esta comunidade faz parte da
Gleba Nova Olinda I. Uma rea de imenso valor para conservao da natureza que
abriga uma enorme biodiversidade, sendo refgio para espcies endmicas e ameaadas,
alm de possuir importncia na manuteno de servios ambientais (Dhesca, 2011).
Composta por 14 comunidades, dentre as quais trs indgenas: So Jos, Cachoeira do
Mar e Novo Lugar que formam terra indgena do Mar, atualmente em processo de
legalizao e que abrange uma rea de aproximadamente 42.373ha destinados aos
grupos identificados Arapiuns e etnia Borari, a qual pertence os populares de Novo
Lugar.
Os Borari de Novo Lugar apresentam um modo de vida tradicional cuja
subsistncia baseada no extrativismo. A floresta desempenha um papel fundamental
na vida de suas famlias, contribuindo, inclusive, com a sade dos mesmos, j que, os
remdios caseiros so o principal meio de tratamento para vrias doenas. Alm disso, a
floresta tambm fonte de alimentos, visto que os comunitrios vivem basicamente da
coleta de produtos desta, como peixes e produtos da agricultura itinerante de mandioca e
lavouras regionais. As famlias tambm aproveitam um grande nmero de espcie para
obter diversos produtos para uso domstico, como cips, talas, resinas, sementes, folhas
e razes. Quase no h comercializao de produo, sendo baixa a circulao de
moedas, os indgenas tm dificuldades para garantir sua prpria economia, porm tem a
venda de farinha de mandioca como uma das fontes de renda, sendo esta a principal
atividade para esse fim (Projeto Sade e Alegria 2011).
23
O trabalho de campo foi realizado nos meses de maro de 2012 a fevereiro de 2013.
Foram feitas entrevistas com aplicao de questionrios semi-estruturados
(Albuquerque 2010) em 9 das 17 famlias de Novo Lugar, que continham perguntas de
cunho scio- econmico e etnobotnicos. As entrevistas foram feitas sempre com o
auxilio do segundo cacique da comunidade. Em cada residncia um dos membros da
famlia era entrevistado, geralmente o chefe da famlia ou sua esposa, em alguns
casos os dois estavam presentes e um auxiliava o outro. As plantas citadas foram
coletas, identificadas e depositadas no hebrio do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amaznia-INPA e hebrio do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do
Amazonas-EAFM.
A anlise quantitativa dos dados foi feita atravs de certos ndices. Para determinar o
valor local de cada espcie foi utilizado a Frequncia Relativa de Citaes-RFC
(Relative Frequency of Citation), obtida atravs da formula: RFC=FC/N, onde FC
nmero de informantes que mencionou o uso da espcie e N o nmero total de
informantes (Tardo e Pardo- de- Santana, 2008). O valor de uso (VU) foi calculado
segundo a metodologia descrita por Rossato et al. (1999), sendo calculado atravs da
frmula VU=( U)/N, onde VU o somatrio do nmero de citaes por
informantes(U), dividido pelo nmero total de informantes.
Para categoria plantas medicinais foram aplicados o Nvel de fidelidade-FL (Fidelity
level), Friedman et al. (1986) que baseia-se na concordncia entre as respostas dos
informantes para indicao teraputica principal FL= (Ip/Iu) x 100% e a prioridade de
ordenamento-ROP (Rank Order Priority) que combinado com o FL, calcula a
popularidade relativa que dada pela frmula ROP=FL x RP; RP popularidade
24
relativa, dado pela razo do nmero de informantes que citaram uma dada espcie, pelo
nmero de informantes que citaram a espcie mais citada, Friedman et al. (1986).
RESULTADOS E DISCUSSO
Foram citadas 90 etnoespcies (Tabela 1), teis comunidade de Novo Lugar, as
quais foram enquadradas em trs categorias: medicinal, alimentar e artesanal. O
resultado da anlise multivariada, atravs do teste de Friedman (Tabela 2), demonstrou
diferenas significativas (P= 0.0128) quanto ao conhecimento das famlias por
categoria, principalmente quando se compara as categorias, medicinal e artesanal
(p>0.05). Pode-se observar (figura2), que o nmero de plantas medicinais citadas
significativamente maior que as demais categorias. Silva e Andrade (2005) destacam
que em vrios trabalhos esta categoria aparece entre as mais representativas. Outros
autores ressaltam a importncia desta categoria (Pasa 2011; Anderson e Posey 1985).
Veiga Jnior e Pinto (2005) argumentam que o uso de plantas medicinais em pases em
desenvolvimento assim como o Brasil, deve-se a fcil obteno e tradio no uso das
mesmas, mas tambm ao fato de que apesar dos avanos dos medicamentos alopticos,
ainda existem obstculos bsicos em sua utilizao pelas parcelas mais carentes da
populao, que vo desde o acesso ao atendimento hospitalar, at a obteno de exames
e medicamentos. Para Amoroso e Gly (1988), em muitos casos as plantas medicinais
representam o nico recurso teraputico disponvel populao.
A categoria alimentar, embora tenha registrado um nmero expressivo de espcies,
no diferiu significativamente das categorias medicinal e artesanal, Tabela 2 e Figura 2
(p>0.05). Houve predomnio de espcies frutferas, tais como, buriti (Mauritia flexuosa
L.), cupuau (Theobrama grandiflorum Schum.) e goiaba (Psidium guajava L.). Entre
25
as espcies artesanais, as espcies principais so palmeiras, tais como arum, patau e
buriti, utilizados na fabricao de utenslios como peneiras, tipiti, abano, balaio, panac
e jamanchim. Algumas espcies so usadas para fazer biojoias, como o aa (Euterpe
oleraceae Mart), chuburana (Cardiospermum halicacabum L.) e pu (Canna indica L.)
A anlise de Shannon-Wiener Tabela 3, mostrou que num universo de nove famlias
estudadas, h maior diversidade de plantas medicinais (0.8259), seguida de alimentcia
(0.7476) e artesanal (0.6461). O ndice tambm evidenciou que existe maior
equitabilidade no conhecimento das famlias para plantas medicinais, ou seja, o
conhecimento entre as famlias homogneo (0.8655) e existe consenso nas respostas.
A maior diversidade de plantas medicinais justificvel sob o ponto de vista cultural,
pois o uso de plantas no tratamento de doenas de longa data entre os indgenas, mas
deve-se tambm precariedade do sistema de sade. Eles frequentemente relatam que
quando recorrem s unidades bsicas de sade no tem acesso aos medicamentos, por
isso as doenas mais simples, como gripe e dores de barriga so tratadas com remdios
caseiros. Resultados semelhantes aos apontados no Relatrio do Projeto Comunitrio da
Gleba Nova Olinda I, que inclui Novo Lugar. Os moradores declararam trata-se com
remdios caseiros, em algumas comunidades existem especialistas em medicina
tradicional como rezadores, puxadores e desmentidores; nas comunidades indgenas, os
pajs assumem este papel (IDEFLOR 2009). Corroborando com o verificado neste
estudo, Freitas e Fernandes (2006) argumentam que as plantas medicinais so o
principal meio de tratamento de doenas para a maioria das populaes, devido a
influncias culturais e ao custo proibitivo dos produtos farmacuticos.
A Figura 3 mostra como cada famlia contribuiu para o valor da diversidade total de
cada parmetro (alimentar, medicinal e artesanal), onde observou-se que a primeira
26
famlia, foi a que citou maior nmero de espcies. A diversidade por categoria tambm
foi medida atravs do ndice de Simpson, Tabela 4, que assim como o de Shannon-
Wiener, apontou maior diversidade para plantas medicinais, mas, alm disso, exps as
propores para cada famlia em relao diversidade total de cada categoria.
A anlise estatstica atravs do teste de Friedman Tabela 5, para anlise do
conhecimento tradicional no uso das partes das plantas, demonstrou diferenas muito
significativas (p=0.0013) quando se analisa de forma geral. Contudo, a comparao
entre os ranks, constatou-se diferenas significativas (p>0.05) apenas quando se
compara o rank folhas com os ranks 3, 4, 5, e 6 respectivamente: casca, sementes, raiz e
tronco, a comparao entre os demais ranks, no foi significativo (p
27
semelhantes ao encontrado por Amoroso e Gly (1988) em Barcarena-Par, onde as
folhas respondem por 49% dos usos e por Freitas e Fernandes (2006) em Bragana
tambm no Par, onde casca (29%), folhas (28%) e raiz (17%) foram as mais citadas.
A anlise da diversidade para os rgos da planta atravs do ndice de Simpson
(Tabela 7) revelou resultados semelhantes aos de Shannon, com maior diversidade para
folhas (0.8408), seguido de sementes (0.7934) e frutos (0.7242), e menor diversidade
para cascas (0.6094). Alm disso, mostrou as propores da contribuio de cada
famlia para a diversidade total.
A Tabela 8 mostra os resultados da Distribuio da Frequncia Relativa de Citaes-
RFC por intervalos (Figura 6), mostrando frequencia absoluta e percentuais de citao
para as noventa espcies usadas em Novo Lugar. Dentre as 90 espcies citadas (Figura
7) pelos moradores de Novo Lugar, as plantas com maior RFC (Figura 8) esto: arruda
(Ruta graveolens L.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau (Theobrama grandiflorum
Schum.) e goiaba (Psidium guajava L.). A Tabela 9 apresenta os resultados das 11
espcies com maior Freqncia Relativa de Citaes (RFC) e Valor de Uso (VU) por
isso, mais teis e relevantes, dentre as 90 espcies citadas pelos moradores de Novo
Lugar. As espcies ing (Inga heterophylla Willd.), andiroba (Carapa guianenses
Aubl.), banana (Musa sp.), arruda (Ruta graveolens L.), buriti (Mauritia flexuosa L.) e
goiaba (Psidium guajava L.), apresentaram maior valor de uso.
A anlise do Nvel de Fidelidade- FL (Tabela 10) para as espcies medicinais mais
citadas confirmou que existe consenso nas indicaes teraputicas e que as mesmas
esto de acordo com o verificado em outros estudos. Arruda (FL=100) foi indicada no
tratamento de dores de barriga e estmago. Van Den Berg & Silva (1988), ao estudar a
flora medicinal de Roraima, verificaram que arruda, assim como em Novo Lugar
28
usada para tratar dores de estmago, mas tambm no combate a problemas de fgado e
como abortivo. Andiroba (FL=100), como cicatrizante, para tosse, gripe e pneumonia.
Goiaba e urubuca (Aristolachia trilobata L.) com FL=100 foram indicadas no combate
a problemas intestinais, como dores de barriga. As propriedades farmacolgicas de P.
guajava so mltiplas: antimicrobiana, antimutagnica, antioxidante, anti-inflamatria
entre outras e tm sido comprovadas por diferentes autores (Begum et al. 2002; Sanches
et al. 2005; Ilha et al. 2008). Segundo Begum et al. 2002, diferentes partes de P.
guajava tm sido usadas no sistema de medicina indgena para o tratamento de
diferentes doenas, como feridas, lceras, problemas intestinais e clera, as folhas so
utilizadas principalmente no combate a doenas digestivas. A tabela 10 tambm
apresenta atravs do ndice de Prioridade de Ordenamento-ROP, as espcies medicinais
mais relevantes para sade dos moradores de Novo Lugar.
CONCLUSES
As famlias de Novo lugar possuem um amplo conhecimento sobre os recursos
vegetais disponveis e fazem uso de uma grande diversidade de plantas, usadas
principalmente na preparao de remdios. Andiroba (Carapa guianensis Aubl.),
arruda (Ruta graveolens L.), arum (Ischnosiphon obliquus (Rudge) Korn.), algodo
roxo (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa L.),
cupuau (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing xixi
(Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca
(Aristolachia trilobata L.) so as espcies mais importantes, por apresentarem maior
Frequencia Relativa de Citaes e maior Valor de Uso. De fato, a vegetao possui
29
grande importncia na vida dos indgenas Borari de Novo Lugar, uma vez que fonte
de subsistncia e essncia para sade e sobrevivncia dos mesmos.
AGRADECIMENTOS
As famlias de Novo Lugar, por permitirem participar deste estudo; ao Laboratrio de
Estudos de Ecossistemas Amaznicos-LEEA e sua equipe, que me auxiliaram neste
trabalho; a Prof. Dr. Patrcia Chaves de Oliveira pela orientao e a CAPES, pela
concesso da minha bolsa.
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33
Figura. 1- Mapa de localizao comunidade Novo Lugar, adaptado do Relatrio Gleba Nova
Olinda I, IDEFLOR.
Tabela1: Lista de espcies utilizadas pelos indgenas Borari, Comunidade de Novo Lugar-Territrio
Indgena Mar, Santarm.
Nome popular Familia Espcie
1 Abacate Lauraceae Persea americana Mill.
2 Abacaxi Bromeliaceae Ananas comosus (L.) Merril
3 Aa Arecaceae Euterpe oleraceae Mart.
4 Alfavaca Lamiaceae Ocimum basilicum L.
5 Algodo branco Malvaceae Gossypium herbaceum L.
6 Algodo roxo Malvaceae Gossypium arboreum L.
7 Amb Araceae Philodendron imbe hort. ex Engl.
8 Amor crescido Portulacaceae Portulaca pilosa L.
9 Anador Amaranthaceae Alternanthera ficoidea (L.)SM
10 Anan Rapataceae Rapatea paludosa Aubl.
11 Andiroba Meliaceae Carapa guianensis Aubl.
12 Apu Moraceae Ficus nymphaefolia Mill.
13 Ara Myrtaceae Psidium guineense Sw.
14 Araticum Annonaceae Annona montana Macf.
15 Arraiaca Piperaceae Peperomia rotundifolia (L.) Kunth
16 Arruda Rutaceae Ruta graveolens L.
17 Arum Marantaceae Ischnosiphon obliquus (Rudge) Korn.
34
18 Bacaba Arecaceae Oenocarpus bacaba Mart
19 Banana Musaceae Musa sp.
20 Breu branco Burseraceae Protium altsonii Sandwith
21 Buriti Arecaceae Mauritia flexuosa L.
22 Caatinga de
mulata
Scrophulariaceae Aelanthus suaveolens L.
23 Caj Anacardiaceae Anacardium occidentale L.
24 Cama de menina Selaginellaceae Selaginella sp.
25 Cana de aucar Poaceae Saccharum officinarum L.
26 Cana mansa Zingiberaceae Costus spiralis (Jacq.) Rosc.
27 Capim laranja Poaceae Hyparrhenia bracteata (Humb. & Bonpl. ex
Willd.) Stapf
28 Car Dioscoreaceae Dioscorea sp.
29 Carcanfo Lamiaceae Ocimum minimum L.
30 Carmelitana Verbenaceae Phyla scaberrima (Juss. ex Pers.) Moldenke
31 Castanha do par Lecythidaceae Bertholletia excelsa Bonpl.
32 Chicoria Apiaceae Eryngium foetidum L.
33 Chumburana Sapindaceae Cardiospermum halicacabum L.
34 Cidreira Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N.E. Br. Ex Britton & P.
Wilson
35 Cip Vernica Sapindaceae Serjania paradoxa Radlk.
36 Cip-alho Bignoniaceae Adenocalymma sp
37 Coco Arecaceae Cocos nucifera L.
38 Copaiba Caesalpinoideae Copaifera sp.
39 Couve Brassicaceae Brassica oleraceae L.
40 Crajir Bignoneaceae Friedericia chica (Bonpl.) L.G.Lohmann
41 Cuju-au Anacardiaceae Anacardium spruceanum Benth. ex Engl
42 Cumaru Papilonidae Dipteryx odorata (Aubl.) Willd
43 Cupuau Sterculaceae Theobroma grandiflorum Schum.
44 Elixir paregrico Piperaceae Piper callosum Ruiz & Pav.
45 Eviratia Anonaceae Duguetia calycina Benoist
46 Folha grossa Crassulaceae Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.
47 Goiaba Myrtaceae Psidium guajava L.
48 Hortel Lamiaceae Mentha sp
49 Inaj Arecaceae Maximiliana maripa (Mart)
50 Ing grande Fabaceae Inga edulis Mart.
51 Ing xixi Fabaceae Inga heterophylla Willd.
52 Jacitara Arecaceae Desmoncus sp.
53 Jambo Myrtaceae Syzygium jambos (L.) Alston
54 Japana Asteraceae Eupatorium triplinervis (Vahl) R.M. King &
H. Rob.
55 Jatob Fabaceae Hymenae courbaril L.
56 Limo Rutaceae Citrus aurantiifolia (Christm.) Swingle
57 Mamona roxa Euphorbiaceae Ricinus communis L.
58 Mandioca Euphobiaceae Manihot esculenta Crantz
35
59 Mangarataa Zingiberaceae Zingiber officinalis Rosc.
60 Mangerico Lamiaceae Ocimum basilicum L.
61 Marupazinho Iridaceae Eleutherine bulbosa (Mill.)