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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ UFOPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E INOVAÇÃO TECNOLÓGICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS NATURAIS DA AMAZÔNIA ETNOBOTÂNICA E ECOFISIOLOGIA DE VEGETAÇÕES EM CENÁRIOS INDÍGENAS NA REGIÃO DO TAPAJÓS COMO INDICADORES DE ESTUDOS DE INTERAÇÃO BIOSFERA- ATMOSFERA NA AMAZÔNIA JACQUELINE BRAGA Santarém, Pará Março, 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PAR UFOPA PROGRAMA DE PS-GRADUAO, PESQUISA E INOVAO TECNOLGICA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM RECURSOS NATURAIS DA AMAZNIA

    ETNOBOTNICA E ECOFISIOLOGIA DE VEGETAES EM

    CENRIOS INDGENAS NA REGIO DO TAPAJS COMO

    INDICADORES DE ESTUDOS DE INTERAO BIOSFERA-

    ATMOSFERA NA AMAZNIA

    JACQUELINE BRAGA

    Santarm, Par

    Maro, 2013

  • i

    JACQUELINE BRAGA

    ETNOBOTNICA E ECOFISIOLOGIA DE VEGETAES EM

    CENRIOS INDGENAS NA REGIO DO TAPAJS COMO

    INDICADORES DE ESTUDOS DE INTERAO BIOSFERA-

    ATMOSFERA NA AMAZNIA

    ORIENTADORA: DRa. PATRCIA CHAVES DE OLIVEIRA

    Dissertao apresentada Universidade

    Federal do Oeste do Par- UFOPA, como

    parte dos requisitos para obteno do Ttulo

    de Mestre em Cincias na rea de Recursos

    Naturais da Amaznia, junto ao Programa

    de Ps Graduao Stricto Sensu em

    Recursos Naturais da Amaznia.

    rea de concentrao: Interao Biosfera

    Atmosfera.

    Santarm, Par

    Maro, 2013

  • ii

    DEDICATRIA

    A toda minha famlia, em especial a minha querida me Maria de Jesus Braga Lima, as Minhas irmes Ellen Dayane Braga e Lyvia Jayane Braga Lima, e a meu namorado Amauri Prata da Rocha. O mrito desta conquista tambm de vocs!

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus, que me concedeu a vida, que me abenoa, protege e ilumina em

    todos os momentos da minha vida, e que me deu capacidade para realizao deste trabalho.

    Obrigada meu pai!

    A toda minha famlia, em especial a minha querida me, Maria de Jesus Braga Lima,

    minhas irms, Ellem Dayane Braga e Lyvia jaiane Braga Lima. Obrigada por fazerem parte

    da minha vida e tornarem esta mais feliz.

    A meu namorado, Amauri Prata da Rocha, que est ao meu lado em mais esta etapa,

    por todo amor, carinho, compreenso e companheirismo. Meu desejo ter voc sempre, ao

    meu lado.

    A minha orientadora, professora Patrcia Chaves de Oliveira, pelos ensinamentos,

    tempo dedicado e compreenso que teve comigo ao longo destes anos desde a graduao at

    agora. Muito obrigada!

    Aos colegas do Laboratrio de Estudos de Ecossistemas Amaznicos- LEEA, Deliane

    Penha, Suelen Castro e Joo Paulo Felix por toda ajuda e companheirismo.

    Aos colegas da turma de mestrado em Recursos Naturais da Amaznia 2011, em

    especial aos amigos Jessica Ariana, Alrio Furtado, Juceli Faustino, Mrcia Oliveira, Deliane

    Oliveira, Patrcia Lopes, Kheity Nagata. Este curso foi mais feliz, por ter vocs ao meu lado.

    Aos amigos, Helton Lameira e Tatiane Braga, Ana Sofia, por toda ajuda que me

    deram.

    A Universidade Federal do Oeste do Par-UFOPA, ao Programa de Ps Graduao em

    Recursos Naturais da Amaznia e a todos os docentes e demais funcionrios, que fazem parte

    deste, meu muito obrigado, por todo conhecimento repassado.

    A CAPES, pelo apoio financeiro, que possibilitou minha permanncia no mestrado e o

    desenvolvimento deste trabalho.

    E finalmente, um obrigada especial s famlias de Novo Lugar, que me acolheram to

    bem durante minha estada na comunidade, em especial, dona Edite, aos caciques Dad e seu

    Higino. Muito obrigada por compartilharem seus conhecimentos comigo.

    Enfim, obrigada a todos que contriburam de forma direta ou indireta para realizao

    deste trabalho.

  • iv

    EPGRAFE

    chegada a hora de reconhecer o papel dos

    agricultores tradicionais, indgenas ou no,

    bem como todo saber acumulado por eles,

    atravs das geraes.

    Ulysses Paulino de Albuquerque

  • v

    BRAGA, Jacqueline. Etnobotnica e ecofisiologia de vegetaes em cenrios indgenas na

    regio do tapajs como indicadores de estudos de interao biosfera-atmosfera na

    Amaznia. 2013. 74 p. Dissertao de Mestrado em Cincias na rea de Recursos Naturais da

    Amaznia. rea de concentrao: Interao biosfera atmosfera. Programa de Ps Graduao

    em Recursos Naturais da Amaznia, Universidade Federal do Oeste do Par-UFOPA,

    Santarm, Par, 2013.

    RESUMO A integrao da Etnobotnica e da ecofisiologia deve ser considerada uma alternativa na

    busca pela sustentabilidade na Amaznia, uma vez que a etnobotnica estuda a relao das

    populaes com os recursos vegetais e fornece dados sobre a diversidade, uso e manejo das

    plantas e a ecofisiologia avalia as respostas fisiolgicas da interao planta/ambiente. Neste

    contexto a juno destas ferramentas pode contribuir para identificao de espcies de

    extrema importncia para a subsistncia de certas populaes e prover informaes acerca da

    fisiologia destas espcies, que ajudaram a traar planos de manejos adaptadas as condies

    locais. Assim, o objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento etnobotnico das espcies

    utilizadas na comunidade de Novo Lugar, identificar as espcies de maior importncia

    cultural e caracterizar as respostas estomticas. Para tanto, foram feitas entrevistas, com

    aplicao de questionrios semi-estruturados para identificao das plantas utilizadas,

    posteriormente foram aplicados ndices de Frequencia Relativa de Citaes e Valor de uso,

    que apontaram as espcies mais importantes. Destas espcies, foram escolhidas de forma

    aleatria oito folhas completamente expandidas e assintomticas a doenas para leitura da

    condutncia estomtica, atravs de pormetro AP4 (T Devices, Cambridge, Inglaterra). Desta forma, conclui-se que, as famlias de Novo Lugar, possuem um vasto conhecimento

    acerca da flora local; a maioria das plantas usada na preparao de remdios; as espcies

    mais importantes para os Borari de Novo Lugar, so: Andiroba (Carapa guianensis Aubl.),

    arruda (Ruta graveolens L.), arum (Ischnosiphon obliquus (Rudge) Korn.), algodo roxo

    (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau

    (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing xixi (Inga heterophylla

    Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca (Aristolachia trilobata L.);

    estas espcies so fisiologicamente diferentes entre si, pois respondem de forma distintas ao

    ambiente e que a etnobotnica um bom bioindicador para estudos de ecofisiologia de

    vegetaes de interesse as comunidade tradicionais, pois ajuda a entender o funcionamento

    destas espcies diante de mudanas atuais e futuras.

    Palavras-chave: Etnobotnica, ecofisiologia, Povo Borari, Novo Lugar.

  • vi

    BRAGA, Jacqueline. Ethnobotany and ecophysiology of vegetations in indigenous areas

    from the tapajs region as indicators of interaction studies biosphere-atmosphere in the

    Amazon. 2013. 74 p. Dissertao de Mestrado em Cincias na rea de Recursos Naturais da

    Amaznia. rea de concentrao: Interao Biosfera Atmosfera. Programa de Ps Graduao

    em Recursos Naturais da Amaznia, Universidade Federal do Oeste do Par-UFOPA,

    Santarm, Par, 2013.

    ABSTRACT

    The integration of ethnobotany and ecophysiology should be considered an alternative in the

    search for sustainability in the Amazon, since the ethnobotanical studies has shown the

    relationship between populations and plant resources and provides data on diversity, use and

    management of plants and ecophysiology evaluate the answers physiological interaction of

    plant / environment. In this context the joining of these tools can help identify species of

    extreme importance to the survival of certain populations and provide information about the

    physiology of these species, which helped draw managements plans adapted to local

    conditions. Thus, this study aimed to survey ethnobotanical species used in Novo Lugar

    Village, identifying the species of greatest cultural importance and characterize the stomatal

    responses. Therefore, interviews were conducted with application of semi-structured

    questionnaires to identify plants used, subsequently indexes of Frequency Relative Quotes

    and Value of usage were applied, which have shown the most important species. From this

    species, eight leaves expanded and asymptomatic disease for reading stomatal conductance

    were chosen, at random, through AP4 Porometer (T Devices, Cambridge, England). Thus, we conclude that the families from Novo Lugar Village, has a vast knowledge of local flora;

    most plants is used in the preparation of medicines, the most important species for Borari

    Indians from Novo Lugar are: Andiroba (Carapa guianensis Aubl.), arruda (Ruta graveolens

    L.), arum (Ischnosiphon obliquus (Rudge) Korn.), algodo roxo (Gossypium arboreum L.),

    banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau (Theobroma grandiflorum Schum),

    goiaba (Psidium guajava L.), ing xixi (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima

    crassifolia (L.) Kunth) and urubuca (Aristolachia trilobata L.); these species are

    physiologically different from each other, because they respond differently to the

    environment and that ethnobotany is a good bioindicator for studies of vegetation

    ecophysiology interest of the traditional community, it helps to understand the working of

    these species in current and future changes.

    Keywords: Ethnobotany, ecophysiology, People Borari, Novo Lugar Village.

  • vii

    SUMRIO

    RESUMO ................................................................................................................................................. v

    LISTA DE TABELAS .......................................................................................................................... viii

    LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................................. xi

    1 INTRODUO .................................................................................................................................. xi

    1.1 REVISO BIBLIOGRFICA ................................................................................................ 4

    1.1.1 Etnobotnica ........................................................................................................................... 4

    1.1.2 Fisiologia vegetal/ condutncia estomtica ............................................................................ 8

    2 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 10

    2.1. Objetivo Geral ............................................................................................................................ 10

    2.2. Objetivos Especficos ................................................................................................................. 10

    3 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................... 11

    CAPTULO I ....................................................................................................................................... 17

    RESUMO .......................................................................................................................................... 19

    ABSTRACT .......................................................................................................................................... 19

    INTRODUO ................................................................................................................................ 20

    MATERIAL E MTODOS .............................................................................................................. 22

    RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................................... 24

    CONCLUSES ..................................................................................................................................... 28

    AGRADECIMENTOS............................................................................................................................ 29

    BIBLIOGRAFIA CITADA ....................................................................................................................... 29

    CAPTULO II ...................................................................................................................................... 45

    RESUMO .......................................................................................................................................... 47

    ABSTRACT ...................................................................................................................................... 47

    INTRODUO ................................................................................................................................ 48

    MATERIAL E MTODOS .............................................................................................................. 49

    RESULTADOS E DISCUSSO ...................................................................................................... 52

    CONCLUSES ................................................................................................................................. 54

    AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................... 55

    BIBLIOGRAFIA CITADA............................................................................................................... 55

  • viii

    LISTA DE TABELAS

    Captulo I

    Tabela1 - Lista de espcies utilizadas pelos indgenas Borari, Comunidade de Novo

    Lugar-Territrio Indgena Mar, Santarm....................................................................

    32

    Tabela 2- Resultados do Teste de Friedman (teste no paramtrico) para anlise da

    varincia acerca do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais, alimentcias e

    para o artesanato entre nove famlias indgenas na Comunidade de Novo Lugar-

    Territrio Indgena Mar,Santarm.................................................................................

    34

    Tabela 3- Resultados do Teste de Shannon-Wiener para anlise da diversidade de

    plantas medicinais, alimentcias e artesanais em uma populao indgena (9 famlias)

    quanto aos aspectos de riqueza e eqitabilidade, Territrio Indgena

    Mar.................................................................................................................................

    35

    Tabela 4- Resultados do ndice de Diversidade de Simpson quanto s plantas

    medicinais, alimentcias e artesanais em uma populao indgena (9 famlias) e suas

    respectivas propores (pi) na Comunidade de Novo Lugar no Territrio Indgena

    Mar.................................................................................................................................

    36

    Tabela 5- Resultados do Teste de Friedman (teste no paramtrico) para anlise da

    varincia acerca do conhecimento tradicional sobre os rgos das plantas que so

    utilizados com fins medicinais, alimentcios e para o artesanato por nove famlias

    indgenas da Comunidade de Novo Lugar-Territrio Indgena Mar, Santarm...........

    37

    Tabela 6- Resultados do Teste de Shannon-Wiener para anlise da diversidade quanto

    ao uso dos diferentes rgos das plantas medicinais, alimentcias e artesanais em uma

    populao indgena (9 famlias) quanto aos aspectos de riqueza e eqitabilidade,

    Territrio Indgena Mar.................................................................................................

    38

    Tabela 7- Resultados do ndice de Diversidade de Simpson quanto ao uso dos

    distintos rgos de plantas medicinais, alimentcias e artesanais em uma populao

    indgena (9 famlias) e suas respectivas propores (pi) na Comunidade de Novo

    Lugar no Territrio Indgena Mar.................................................................................

    39

    Tabela 8- Resultados da Distribuio em classes da Frequncia Relativa de Citaes

    de Espcies de plantas (FRC= Numeros de informantes que citaram a espcie/Nmero

    total de informantes) por nove familias indgenas, Comunidade de Novo Lugar,

    Territrio Indigena Mar.................................................................................................

    40

    Tabela 9- Onze espcies com maior Freqncia relativa de Citaes (RFC) e Valor

    de uso (VU), para Comunidade de Novo Lugar..............................................................

    43

    Tabela 10- ndice de Principal Indicao Teraputica (FL) e Prioridade de

    Ordenamento (ROP), para as plantas medicinais mais citadas em cenrios indgenas,

    Territrio Indgena Mar, Santarm................................................................................

    43

  • ix

    Captulo II

    Tabela 1- Estatstica Descritiva quanto a condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s)

    em tecidos foliares de nove espcies de plantas teis: andiroba (Carapa guianensis

    Aubl.), algodo roxo (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia

    flexuosa L.), cupuau (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava

    L.), ing xixi (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e

    urubuca (Aristolachia trilobata L.) a Comunidade de Novo Lugar, obtidas no

    horrio de 08-09: 00 h.....................................................................................................

    55

    Tabela 2- Estatstica Descritiva quanto a condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s)

    em tecidos foliares de nove espcies de plantas teis (Carapa guianensis Aubl.),

    algodo roxo (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa

    L.), cupuau (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing

    xixi (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca

    (Aristolachia trilobata L.) a Comunidade de Novo Lugar, obtidas no horrio de 11-

    12: 00 h.............................................................................................................................

    56

    Tabela 3-Estatstica Descritiva quanto a condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s)

    em tecidos foliares de nove espcies de plantas teis (Carapa guianensis Aubl.),

    algodo roxo (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa

    L.), cupuau (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing

    xixi (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca

    (Aristolachia trilobata L.) a Comunidade de Novo Lugar, obtidas no horrio de 17-

    18: 00................................................................................................................................

    57

    Tabela 4-Anlise de varincia (ANOVA), 2 critrios, atravs da realizao do teste

    de Tukey para comparao da condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s) em tecidos

    foliares de nove espcies Carapa guianensis Aubl.), algodo roxo (Gossypium

    arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau (Theobroma

    grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing xixi (Inga heterophylla

    Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca (Aristolachia trilobata

    L.) de plantas em trs horrios distintos (08-09:00h; 11-12:00 h e 17-18:00 h),

    comunidade de Novo Lugar, Santarm Par....................................................................

    58

    Tabela 5-Anlise de varincia (ANOVA), 1 critrio, atravs da realizao do teste de

    Tukey para comparao da condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s) em tecidos

    foliares de nove espcies de plantas no horrio de 08-09:00h, comunidade de Novo

    Lugar, Santarm Par.......................................................................................................

    59

    Tabela 6- Anlise de varincia (ANOVA), 1 critrio, atravs da realizao do teste de

    Tukey para comparao da condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s) em tecidos

    foliares de nove espcies de plantas no horrio de 11-12:00h, comunidade de Novo

    Lugar, Santarm Par.......................................................................................................

    60

    Tabela 7-. Anlise de varincia (ANOVA), 1 critrio, atravs da realizao do teste

    de Tukey para comparao da condutncia estomtica (gs mmol H2O/m2s) em tecidos

    foliares de nove espcies de plantas no horrio de 17-18:00h, comunidade de Novo

    Lugar, Santarm Par.......................................................................................................

    60

  • x

    Tabela 8- Analise Fatorial a x b, para comparao da condutncia estomtica (gs

    mmol H2O/m2s) em tecidos foliares de nove espcies de plantas em trs horrios

    distintos (08-09:00h; 11-12:00 h e 17-18:00 h), comunidade de Novo Lugar,

    Santarm Par..................................................................................................................

    61

  • xi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura. 1- Mapa de localizao comunidade Novo Lugar, Gleba Nova Olinda I,

    Santarm, Par.................................................................................................................

    31

    Figura 2- Teste de Friedman para anlise da varincia acerca do conhecimento

    tradicional sobre plantas medicinais, alimentcias e para o artesanato entre nove

    famlias indgenas na Comunidade de Novo Lugar -Territrio Indgena Mar,

    Santarm...........................................................................................................................

    35

    Figura 3- Teste de Shannon-Wiener para anlise da diversidade de plantas medicinais

    (Med), alimentcias (Ali) e artesanais (Art) em uma populao indgena (9 famlias)

    no Territrio Indgena Mar............................................................................................

    36

    Figura 4- Teste de Friedman (teste no paramtrico) para anlise da varincia acerca

    do conhecimento tradicional sobre os rgos das plantas que so utilizados com fins

    medicinais, alimentcios e para o artesanato; Comunidade de Novo Lugar -Territrio

    Indgena Mar, Santarm.................................................................................................

    38

    Figura 5- Teste de Shannon-Wiener para anlise da diversidade de uso dos diferentes

    rgos das plantas (Folhas=Fol; frutos=Fru;casca=Cas;sementes=Sem; raiz=Ra e

    tronco=Tro) por populao indgena (9 famlias), Territrio Indgena Mar..................

    39

    Figura 6- Resultados da Distribuio em classes da Frequncia Relativa de Citaes

    de Espcies de plantas (FRC= Numeros de informantes que citaram a espcie/Nmero

    total de informantes) por dez familias indgenas, Comunidade de Novo Lugar,

    Territrio Indigena Mar.................................................................................................

    41

    Figura 7- Frequncias Relativas das Citaes das Espcies relatadas (90) de importncia medicinal, alimentar e artesanal por nove famlias do Territrio Indgena

    Mar, Santarm................................................................................................................

    42

    Figura 8- Principais Frequncias Relativas das Citaes de Espcies (FRC) de

    plantas de uso medicinal e alimentar em cenrios indgenas, Territrio Indgena Mar,

    Santarm...........................................................................................................................

    42

  • 1

    1 INTRODUO

    A Amaznia considerada a maior reserva de diversidade biolgica do mundo (Valois,

    2003), possue cerca de 40% das florestas tropicais, muitas das quais ainda botanicamente

    intactas (Mettermeier et al. 2003; Laurance et al. 2001), e elevado nmero de espcies

    endmicas (Mettermeier et al. 2003).

    Por abrigar tal diversidade, destaca-se como uma das principais fontes de matrias prima,

    devido a isso desempenha funo social e econmica para diversos grupos, em especial, para

    as populaes tradicionais que habitam as florestas e delas retiram seu sustento atravs da

    caa, pesca e do extrativismo vegetal para diversos fins.

    Apesar de ser extremamente importante, biolgica e economicamente, a regio amaznica

    vem sendo alvo de constantes atos de degradao, causados pela explorao indiscriminada de

    recursos naturais e mudanas no uso do solo e da cobertura vegetal, que leva a perda de

    diversidade biolgica e cultural. Neste sentido, um dos maiores desafios cientficos brasileiros

    planejar um sistema de gesto territorial para a Amaznia, a regio de maior biodiversidade

    do planeta, que leve em conta tanto a conservao dos seus recursos naturais, como a

    promoo do desenvolvimento social e econmico das populaes que vivem nessa regio

    (Vieira et al. 2005); e que muitas vezes dependem quase que exclusivamente dos recursos

    oferecidos pela floresta. De acordo com Le Cointe (1947), a plantas contribuem em vrios

    aspectos ao modo de vida das populaes interioranas da Amaznia brasileira.

    Assim, devido ao grande contato com a biodiversidade, as populaes tradicionais

    acabaram adquirindo e acumulando uma gama de conhecimento emprico sobre a

    biodiversidade vegetal local, tal conhecimento to valioso quanto biodiversidade (Almeida

    2005).

    Entende-se por povos ou populaes tradicionais de acordo com o Decreto 6.040 de 2007,

    grupos culturalmente diferenciados, que se reconhecem como tais, que possuem formas

    prprias de organizao social, que ocupam e usam territrios e recursos naturais como

    condies para sua reproduo cultural, social, religiosa e econmica, utilizando

    cohecimentos, inovaes e prticas gerados e transmitidos pela tradio (BRASIL, 2007).

    As populaes tradicionais fazem uso de um territrio a longo tempo e, em geral, no

    possuem registro de propriedade individual da terra, sendo o territrio encarado como rea de

    utilidade comunitria, com uso regulamentado pela tradio, costume e por normas

    compartilhadas internamente (Arruda, 1999). Desta maneira, as sociedades humanas que

  • 2

    pertencem a grupos tribais (sociedades indgenas), caiaras, caboclos, caipiras e camponeses

    usualmente so designadas tradicionais (Amoroso e Viertler 2010).

    Dentre as diversas comunidades tradicionais presentes na Amaznia est Novo Lugar,

    que faz parte da Gleba Nova Olinda I. Uma rea de imenso valor para conservao da

    natureza que abriga uma enorme biodiversidade, sendo refgio para espcies endmicas e

    ameaadas, alm de possuir importncia na manuteno de servios ambientais (Dhesca,

    2011). Composta por 14 comunidades das quais trs so indgenas: So Jos, Cachoeira do

    Mar e Novo Lugar, juntas estas formam a terra indgena do Mar, atualmente em processo

    de legalizao e cuja rea abrange aproximadamente 42.373 ha destinados aos grupos

    indgenas auto-identificados Arapiun/Borari.

    Os Borari de Novo Lugar apresentam um modo de vida tradicional cuja subsistncia

    baseada no extrativismo. A floresta desempenha um papel fundamental na vida de suas

    famlias, contribuindo, inclusive, com a sade dos mesmos, j que, os remdios caseiros so o

    principal meio de tratamento para vrias doenas. Alm disso, a floresta tambm fonte de

    alimentos, visto que os comunitrios vivem basicamente da coleta de produtos desta, como

    peixes e produtos da agricultura itinerante de mandioca e lavouras regionais. As famlias

    tambm aproveitam um grande nmero de espcie para obter diversos produtos para uso

    domstico, como cips, talas, resinas, sementes, folhas e razes. Quase no h

    comercializao de produo, sendo baixa a circulao de moedas, os indgenas tm

    dificuldades para garantir sua prpria economia, porm tem a venda de farinha de mandioca

    como uma das fontes de renda, sendo esta a principal atividade para esse fim (Projeto Sade e

    Alegria 2011). Assim, pode-se disser que os indgenas de Novo Lugar desenvolvem uma

    cultura prpria interligada ao meio ambiente local e constituem uma dinmica socioambiental

    equilibrada e sustentvel reconhecidamente pelo ordenamento jurdico nacional e

    internacional (Dhesca, 2011).

    Deste modo, ao longo da histria a humanidade tem utilizado espcies vegetais como

    recursos inerentes sua sobrevivncia, desenvolvendo mtodos cada vez mais sofisticados

    para manipulao dos recursos naturais, tais prticas so desenvolvidas e repassadas durante

    vrias geraes e tem despertado o interesse cientfico de conhecer os recursos florestais

    usados e explorados pelas pessoas (Ramos, 2007).

    Considerando que as populaes tradicionais, tais como os indgenas da Amaznia

    possuem uma riqueza de conhecimento acerca do uso e manejo de plantas, faz-se necessrio

    investigar a relao das populaes amaznicas com os vegetais, a fim de identificar espcies

    potencialmente teis para as comunidades.

  • 3

    Portanto, diante da constatao da importncia das plantas para a subsistncia do povo

    Borari de Novo Lugar, de suma importncia a realizao de um levantamento etnobotnico,

    como forma de registro do conhecimento tradicional desta populao acerca da flora local,

    bem como, a identificao e caracterizao ecofisiolgica das espcies consideradas mais

    importantes por seus moradores.

    Para tanto, um dos primeiros passos para entender o comportamento fisiolgico das

    espcies a caracterizao estomtica, devido seu papel integrador na interao planta-

    ambiente. Segundo Brunini e Cardoso (1998) redues na condutncia estomtica podem

    afetar uma srie de interaes planta-ambiente, visto que, os estmatos exercem controle

    sobre o vapor dgua e balano de energia entre o vegetal e o ambiente. Para Hetherington e

    Woodward (2003), os estmatos so uma ferramenta chave para se entender a prpria

    evoluo das plantas, assim como para saber como as mesmas respondem a mudanas

    ambientais. Visto que, o controle dos estmatos um importante mecanismo atravs do qual

    os vegetais limitam a perda de gua atravs do fechamento destes (Paiva et al. 2005 ); e pode

    ser considerado um bioindicador de sustentabilidade, uma vez que, atravs do mesmo

    possvel inferir se uma espcie mais tolerante ou mais sensvel ao estresse hdrico. Podendo

    desta maneira, auxiliar na elaborao de planos de manejo melhor adaptados s condies

    especifcas de cada local.

  • 4

    1.1 REVISO BIBLIOGRFICA

    1.1.1 Etnobotnica

    A etnobotnica pode ser definida como o estudo das sociedades humanas, passadas e

    presentes, e suas interaes ecolgicas, genticas, evolutivas, simblicas e culturais com as

    plantas (Beck e Ortiz, 1997); simplificadamente podemos dizer que a etnobotnica abrange

    estudos que tratam das relaes estabelecidas por comunidades humanas com o componente

    vegetal (Carniello et al. 2010); incluindo assim, todos os estudos acerca da relao mtua

    entre as populaes e as plantas. Tais estudos tem como principal caracterstica o contato

    direto do pesquisador com as populaes, procurando desta forma, uma aproximao e

    vivncia que permita conquistar a confiana dos mesmos, resgatando desta maneira, todo

    conhecimento possvel na relao de afinidade entre o homem e plantas de uma comunidade

    (Cotton 1996).

    A investigao etnobotnica pode desempenhar funes de grande relevncia, uma vez

    que, reune informaes acerca de todos os possveis usos de plantas e contribui para o

    desenvolvimento de novas formas de explorao dos ecossistemas (Schardong e Cervi, 2000).

    Por esta razo, diversas pesquisas vem sendo realizandas em comunidades da floresta tropical

    como forma de desenvolver instrumentos para avaliar os recursos vegetais utilizados nestas

    reas e apontando propostas de uso sustentado das mesmas, como forma de conservar e/ou

    recuperar esses ecossistemas (Silva e Andrade, 2005).

    Neste aspecto, Albuquerque e Andrade (2002) destacam a importncia de se conhecer a

    relao entre homem e natureza, visto que, a mesma contribui com o planejamento de

    estratgias e desenvolvimento de programas de conservao. Ressaltam ainda que, as

    populaes locais so a chave para o sucesso desses programas. Por isso, Benesi et al. (2010)

    caracterizaram o germoplasma de mandioca do Malau, usando caractersticas morfolgicas e

    marcadores de polimorfismo com ajuda do conhecimento indgena da comunidade local para

    determinar as melhores variedades de acordo com as necessidades dos mesmos.

    Para Pinto et al. (2006), o estudo etnobotnico em comunidades tradicionais ameaado

    pela degradao ambiental e pela incluso de novos elementos culturais, associado ao fato das

    pesquisas etnobotnicas serem consideradas recentes no Brasil, por isso pouco documentadas,

    e pela forma como a mesma mantida, atravs da tradio oral. Neste contexto, Gandolfo e

  • 5

    Hanazaki (2011), argumentam que, em locais em transformao ambiental e social a

    etnobotnica pode contribuir para o registro de informaes relativas s interaes entre

    pessoas e plantas, evitando que tais informaes sejam perdidas frente a novos contextos, uma

    vez que tanto cultura como paisagem, no so estticos. Adicionalmente Signorini, et al.

    (2009) relatam que boa parte do conhecimento tradicional sobre plantas e seus usos est

    desaparecendo rapidamente como consequncia das mudanas de cunho scio-econmico e

    uso da terra. Em seu estudo em Monte Ortobene, na Itlia, observaram uma grande riqueza e

    diversidade de conhecimento. Contudo, destacam que o mesmo est ameaado em virtude dos

    detentores do conhecimento serem idosos e no haver uma continuidade de conhecimento. Tal

    fato refora a importncia dos trabalhos etnobotnicos como registro da diversidade vegetal e

    cultural.

    Assim, dentre as diversas estratgias usadas pelo ser humano, destaca-se sua capacidade

    de identificar e utilizar plantas (Sheldon e Balick, 1995). Neste contexto, os indgenas so um

    dos povos que possuem informaes acuradas sobre a diversidade biolgica e as

    potencialidades resultantes da captao de recursos naturais (Posey, 1990). enorme a

    variedade de plantas silvestres coletadas pelos ndios da Amaznia, mas os dados

    taxonmicos, farmacolgicos e nutritivos a respeito delas continuam escassos (Costa et al.

    2006). Dey e Nath De (2011) em estudos na ndia com Aristolochia indica L. espcie de vasta

    utilidade medicinal na regio, como por exemplo, no combate a problemas intestinais, lceras,

    doenas de pele, inflamatria, antimicrobiana, entre outros, concluram que um dos principais

    constituintes ativos da planta cancergeno e abortivo potente.

    Mazandarani et al. (2007) estudando os efeitos antibacterianos de duas espcies de

    Hypericum endmicas do norte do Iram, constataram que o extrato etanlico da parte area

    apresenta boa atividade antibacteriana, mas quando se trata do extrato aquoso essa atividade

    tende a ser mais fraca. Pode-se dizer ento, que a etnobotnica importante na identificao

    das espcies teis, mas preciso estudos complementares para se avaliar os ricos de sua

    utilizao e melhor forma de preparao. Situao semelhante pode ser observada nas

    comunidades Amaznicas onde muitas vezes a populao no tem acesso ao sistema de sade

    e a medicina popular a nica alternativa, entretanto deve ser mais bem estudada para

    comprovar sua eficcia.

    Adicionalmente, Anairamiz e Mrquez (2011), estudando a etnoecologia de vegetaes

    do bosque estacional seco no estado de Mrida nos Andes, obtiveram uma lista com 953

    espcies teis as populaes locais, deste total, cinco ganharam destaque por serem

    consideradas muito importantes para a subsistncia desta populao, dentre elas esto o cedro

  • 6

    que assim como no Brasil, encontra-se cada vez mais raro. Observaram ainda que os costumes

    e a tradio no uso de plantas vem desaparecendo com o passar do tempo.

    Os estudos etnobotnicos so imprescindveis para conhecer e analisar o uso de plantas

    por populaes e as particularidades e similaridades neste uso entre as diversas comunidades.

    Sher et al. (2011), observaram em estudo no Paquisto sobre do valor econmico das plantas,

    em especial plantas medicinais aromticas, desde a extrao nas comunidades at sua

    comercializao final, que o conhecimento atual da populao acerca das plantas usadas na

    comunidade proveniente do conhecimento indgena, contudo, verificaram espcies

    endmicas com srios ricos de extino, devido super explorao e falta de tcnicas

    adequadas de extrao. Desse modo, percebe-se que nem sempre as comunidades exploram os

    recursos de forma sustentvel.

    No contexto amaznico, nota-se que estudos etnobotnicos ainda so escassos frente

    grande diversidade vegetal, cultural e da alta taxa de endemismo da regio, por esta razo

    acredita-se que devem ser incentivados.

    Os trabalhos desenvolvidos demonstram quo valiosos so o conhecimento das

    populaes amaznicas sobre as plantas. Anderson e Posey (1985) em trabalho sobre manejo

    de cerrado pelos ndios Kayap no sul do Par, argumentam que os indgenas manejavam com

    timo aproveitamento as plantas atravs da criao de Apts e que tal prtica provavelmente

    era feita por outros grupos de ndios, inclusive na regio do Tapajs. Miller et al. 1989,

    demostraram que os indos Waimiri Atroari do rio Camanau-AM, possuem um alto grau de

    conhecimento e utilizao da floresta. De uma amostra de 34 espcies, 65% tinham algum uso

    espcifico, eles retiram da floresta, roas e rios materiais necessrios para alimentao,

    utenslios e moradia. Outro trabalho pioneiro em etnobotnica na Amaznia o de Van de

    Berg e Silva (1988) sobre a flora medicianal em Roraima, onde listaram um grande nmero

    de espcies usadas na preparao de remdios, mostrando as partes usadas e modo de preparo,

    o que contribuiu de forma significativa com o conhecimento sobre plantas medicinais na

    Regio Amaznica.

    Segundo Pasa (2011), o cuidado com a biodiversidade evidente na fala e no manejo que

    as pessoas realizam em seu cotidiano. J Costa e Mitja (2010) verificaram o uso de plantas

    por agricultores do municpio de Manacapur (AM), e constataram que o conhecimento sobre

    plantas medicinais passado de gerao em gerao, sendo as mulheres as guardis de tal

    conhecimento. O trabalho de Bastos (1995) investigou a importncia das formaes vegetais

    da restinga e do maguezal para pescados do litoral paraense, segundo este autor, as plantas so

    a principal fonte de recursos para as famlias sendo usadas para alimentao, medicina caseira

  • 7

    e na confeco de currais e barcos, alm de uma gama de outras utilidades. Este estudo

    tambm revelou o cuidado que os pescadores tm com a presenvao da ambiente, a retirada

    de madeira feita de forma racional em vrios pontos de acordo com o tamanho e guardando

    os locais j explorados para evitar a sobre-explorao da floresta. Santos e Coelho-Fereira,

    (2012), registraram os usos de Mauritia flexuosa L.F. por comunidades ribeirinhas e

    verificaram a importncia desta espcie para o dia-a dia dos moradores, so confeccionadaos

    vinte seis produtos, tais como paneiro, rasa, tipiti, abano, peneira, entre outros que

    tem como matria prima as fibras do miriti, os produtos gerados tambm contribuem para a

    renda familiar das comunidades.

    Ferreira e Jardim (2005) no estado do Par, municipio de Maracan, ilha de algodoal,

    listaram 54 espcies usadas principalmente na preparao de remdios caseiros, mas tambm

    na alimentao, construo e como combustvel. A espcie Anacardium occidentale foi citada

    por mais de 50% dos entrevistados, sugerindo que a mesma possui elevada importncia

    cultural. O estudo etnofarmacognstico de Oliveira et al. (2011) com a espcie

    Ampelozizyphus amazonicus, utilizada no tratamento de malria por quilombolas do

    municpio de Oriximin, Regio Oeste do Par, demonstrou que apesar da planta no ter

    demonstrado atividade para malria, o uso popular da mesma pode est relacionado com uma

    possvel atividade adaptgena e imunoestimulante, devido a presena de alguns componentes

    qumicos. O trabalho de Lima et al. 2011, tambm no oeste do Par, nos municpios de

    Santarm, Itaituba e Altamira, indicou um nmero expressivo de etnoespcies medicinais (46)

    vendidas nas feiras e mercados do Distrito Florestal Sustentvel da BR-163. Assinalou ainda

    que existe similaridade nas etnoespcies comercializadas nestas cidades, sendo que Santarm

    cidade com maior nmero de etnoespcies (40), seguida de Altamira (26) e Itaituba (23). O

    estudo tambm revelou que os principais fornecedores de plantas medicinais so produtores

    rurais (comunidades ribeirinhas, de agrovilas, ou assentamentos rurais) e indgenas,

    mostrando que de fato a populao local possui um amplo conhecimento sobre a flora

    Amaznica.

    Desta forma, as bases etnobotnica podem auxiliar na ampliao do conhecimento acerca

    das etnoespcies que apresentam uma vasta utilidade para populaes tradicionais da

    Amaznia, como j verificado por diversos autores (Nez et al. 2000; Silva 2002; Costa e

    Mitja 2010; Heinrich et al. 2011). Apesar de estudos etnobotnicos terem sido intensificados,

    a fim de conhecer e divulgar as estratgias usadas pelos seres humanos e suas relaes com os

    recursos biolgicos (Posey & Overal 1990; Guarim Neto et al. 2000), percebe-se que ainda

  • 8

    so escassos frente grande diversidade vegetal e cultural que existe nos biomas brasileiros,

    em especial no bioma Amaznico.

    1.1.2 Fisiologia vegetal/ condutncia estomtica

    Os estmatos so pequenos poros, presentes na superficie de folhas e caules, delimitados

    por um par de clulas-guarde, que tem como funo regular o fluxo de gases entre a planta e o

    ambiente (Hetherington e Woodward 2003), a atividade estomtica um importante fator

    fisiolgico no controle dos processos vitais da planta, alm de ser um indicador das condies

    hdricas do ambiente (Rodrigues et al. 2011). A condutncia estomtica (gs) controlada pela

    turgidez das clulas-guarda, que regulam a abertura ou fechamento dos estmatos, assim, a

    condutncia proporcional ao dimetro da abertura estomtica e as variaes na abertura dos

    estmatos, devido s diferenas no potencial de gua na folha, que dependem de diversos

    fatores ambientais (Mc Dermit, 1990).

    Segundo Lima (1993) a epiderme das folhas possui uma cutcula impermevel, tanto ao

    vapor dgua quanto ao gs carbnico, e contm quantidades de estmatos variveis, cujas

    respostas, mediante a regulao da condutncia estomtica, controlam a transpirao da folha

    e influenciada pela luz, pela concentrao de gs carbnico atmosfrico, pela umidade e

    temperatura. O que corrobora com Jarvis e McNaughton (1986), segundo estes autores os

    estmatos so sensveis s variaes de luz, a temperatura do ar e da folha, e nveis de

    concentraes de dixido de carbono (CO2) na atmosfera adjacente. Redues na condutncia

    estomtica podem afetar uma srie de interaes planta-ambiente, visto que, os estmatos

    exercem controle sobre o controle do vapor dgua e balano de energia entre o vegetal e o

    ambiente (Brunini e Cardoso 1998).

    Assim, a condutncia estomtica pode ser entendida como o mecanismo fisiolgico que as

    plantas terrestres vasculares possuem para o controle da transpirao (Messinger et al. 2006).

    O controle estomtico uma importante propriedade fisiolgica por meio da qual as plantas

    limitam a perda de gua, ocasionando redues na condutncia estomtica e, geralmente

    reduzindo as trocas gasosas como forma de resposta das plantas a diversos fatores, incluindo o

    estresse hdrico (Paiva et al. 2005), uma vez que, medida que o potencial hdrico diminue,

    aumenta a resistencia estomtica trocas gasosas (Brunini e Cardoso 1998); ocorrendo ento,

    consequente fechamento dos estmatos, que promove a diminuio da difuso de CO2 para o

    mesfilo foliar e posterior queda da fotossntese (Souza et al. 2001).

  • 9

    A atividade estomtica determinada pela demanda transpirativa a que as folhas esto

    potencialmente sujeitas e, portanto, determina a taxa de crescimento da planta. De acordo com

    (Ferreira da Costa et al., 2003), alteraes na quantidade de radiao fotossinteticamente ativa

    (RFA), disponvel ou no dficit de presso de vapor (DPV), tambm so prontamente sentidas

    pela vegetao. Assim, a variabilidade sazonal tambm pode afetar o movimento estomtico,

    segundo Rodrigues et al. (2011), no perodo chuvoso, ocorre um aumento acentuado das taxas

    de condutncia estomtica.

    Para Machado e Laga (1994), o movimento estomtico o mecanismo mais rpido que as

    plantas dispem para ajustar as variaes ambientais a que os rgos fotossintticos esto

    submetidos, condies propcias fixao de carbono favorecem a abertura estomtica,

    enquanto que condies que favorecem a perda de gua favorecem o fechamento dos

    estmatos. Alm disso, fatores como luz, disponibilidade hdrica no solo e umidade relativa

    so variveis que afetam diretamente o comportamento estomtico em estudos em laboratrio,

    entretanto em condies naturais devido variao dos fatores ambientais o mecanismo de

    regulao estomtica mais complexo. A condutncia varia durante o dia, ou seja, pela

    manh, geralmente so observados maiores valores de condutncia estomtica, enquanto que

    pela parte da tarde, esses valores so reduzidos (Kallarackal e Somen, 1997).

    De acordo com Ferri (1985), a temperatura tambm afeta a abertura dos estmatos.

    Temperaturas de at um mximo de 30C normalmente estimulam sua abertura estomtica e

    acima de 30C, geralmente, determinam seu fechamento. Todavia, o principal fator no

    controle estomtico exercido pela gua, uma vez que condies de dficit provocam o

    fechamento dos estmatos independente das condies de luz, CO2 ou temperatura.

  • 10

    2 OBJETIVOS

    2.1. Objetivo Geral

    Fazer um levantamento etnobotnico das espcies usadas em Novo Lugar e

    caracterizar perfil das respostas estomticas, das espcies consideradas mais importantes para

    os indgenas Borari.

    2.2. Objetivos Especficos

    1-Listar espcies teis a comunidades e verificar a relao entre a populao local e a

    diversidade vegetal atravs:

    Frequncia relativa de citaes (RFC);

    Valor de uso (VU).

    2- Caracterizar o perfil estomtico das espcies de maior Frequncia Relativa de Citaes e

    Valor de Uso.

  • 11

    3 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    CAPTULO I

    O CONHECIMENTO TRADICIONAL DOS INDGENAS

    BORARI (COMUNIDADE DE NOVO LUGAR, OESTE DO

    PAR) ASSOCIADO AO USO DE PLANTAS1

    Jacqueline Braga

    Patrcia Chaves de Oliveira

    1-O conhecimento tradicional dos indgenas Borari (comunidade de Novo Lugar, Oeste do Par) associado ao

    uso de Plantas. Este manuscrito ser submetido Acta Amazonica, ISSN:0044-596.

  • 18

    O conhecimento tradicional dos indgenas Borari (comunidade de Novo Lugar,

    Oeste do Par) associado ao uso de Plantas

    Jaqueline BRAGA 1, Patrcia Chaves de OLIVEIRA

    2

    1 Universidade Federal do Oeste do Par - UFOPA, Mestranda do Programa de Ps-

    Graduao em Recursos Naturais da Amaznia (PGRNA), Bolsista CAPES, Av.

    Marechal Rondon, s/n - Bairro Caranazal - 68040-070 - Santarm, PA. E-mail:

    [email protected]

    2 Universidade Federal do Oeste do Par - UFOPA, Docente do Programa de Ps-

    Graduao em Recursos Naturais da Amaznia (PGRNA), Instituto de Biodiversidade e

    Florestas, Coordenadora do Laboratrio de Estudos de Ecossistemas Amazonicos, Av.

    Marechal Rondon, s/n - Bairro Caranazal - 68040-070 - Santarm, PA. E-mail:

    [email protected]

  • 19

    O conhecimento tradicional dos indgenas Borari (comunidade de Novo Lugar,

    Oeste do Par) associado ao uso de Plantas

    RESUMO

    As populaes indgenas na Amaznia possuem uma riqueza de saber tradicional acerca

    do uso e manejo de espcies vegetais inigualveis. Considerando que a reproduo do

    conhecimento tradicional para futuras geraes deve ser preservada atravs da valorao

    deste saber, este projeto teve por objetivo caracterizar junto aos ndios Borari da

    Comunidade de Novo Lugar, Santarm-Par (55.8 W, 2.9 S) as plantas usadas por eles

    e traar o perfil desta relao. Para tanto, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas

    a fim de se obter a frequncia relativa de citaes (RFC), o valor de uso (VU). Para

    determinar a principal indicao teraputica foi usado o nvel de fidelidade (FL) e a

    Prioridade de Ordenamento (ROP). Foram citadas 90 espcies teis comunidade, entre

    as plantas com maior RFC esto arruda (Ruta graveolens L.), buriti (Mauritia flexuosa

    L.), cupuau (Theobrama grandiflorum Schum.) e goiaba (Psidium guajava L.). As

    espcies com maior VU foram ing xixi (Inga heterophylla Willd.) e andiroba (Carapa

    guianenses Aubl.). A anlise do nvel de fidelidade para as espcies medicinais

    demonstrou que existe consenso entre as indicaes teraputicas, sendo que a arruda

    (FL=100) foi indicada no tratamento de dores de estmago; andiroba (FL=100) como

    cicatrizante, no combate a tosse, gripe e pneumonia; goiaba e urubukaa (Aristolachia

    trilobata L.) com FL=100, no combate a diarria. Deste modo, as espcies acima citadas

    devem ser vistas como prioritrias em cenrios de manejo em sistemas de produo

    agroflorestal, haja vista, a importncia das mesmas para a sade e a sobrevivncia de

    indivduos indgenas na regio do Tapajs-Arapiuns.

    PALAVRAS-CHAVE: Fisiologia, Povos Amaznidas, Sustentabilidade

    Borari Indians traditional knowledge (Novo Lugar village, west of Par state)

    associated with the use of plants

    ABSTRACT

    The indigenous people in the Amazon have a unique wealth of traditional knowledge

    about the use and management of plant species. Whereas the reproduction of traditional

    knowledge for future generations should be preserved valuing this knowledge, this

    project aimed to characterize with the Indians Borari from Novo Lugar Village,

    Santarm City, Par State (55.8 W, 2.9 S) plants used by them and drawing of this

    relationship. Thus, we conducted semi-structured interviews in order to obtain the

    relative frequency of quotes (RFQ), the use value (UV). To determine the main

    therapeutic indication was used fidelity level (FL) and Priority Planning (ROP). They

    listed 90 species useful to the village, among the plants with higher RFQ are arruda

    (Ruta graveolens L.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau (Theobrama grandiflorum

    Schum.) and goiaba (Psidium guajava L.). The species with the highest UV were ing

    xixi (Inga heterophylla Willd.) and andiroba (Carapa guianenses Aubl.). The analysis

    of the level of fidelity for medicinal species demonstrated that there is consensus among

    the therapeutic indications, and arruda (FL = 100) was indicated in the treatment of

    stomachache; andiroba (FL = 100), as a healing agent for coughs, influenza and

    pneumonia; goiaba and urubuca (Aristolachia trilobata L.) with FL = 100, in

  • 20

    combating diarrhea. It follows then that the species mentioned above should be seen as

    priority in management scenarios in agroforestry systems, due to the importance of the

    same for the health and survival of indigenous individuals in the Tapajs region-

    Arapiuns.

    KEYWORDS: Physiology, Amazonian People, Sustainability

    INTRODUO

    As florestas tropicais vm sofrendo uma reduo de suas reas por meio de

    desmatamentos para retirada de madeira, explorao de recursos minerais, implantao

    de projetos agropecurios e queimadas criminosas (Silva e Andrade 2005).

    A colonizao da Amaznia a partir da dcada de 1960 foi marcada pelo processo

    violento de ocupao e degradao ambiental, sem levar em considerao as

    peculiaridades dos diversos espaos ecolgicos amaznicos e os anseios da populao

    regional. Esse processo resultou em quase 600 mil km2 de ecossistemas modificados at

    o ano 2000 (Vieira et al. 2005). Atualmente o cenrio de degradao ambiental continua

    com a abertura de novas estradas, cada vez mais dentro da floresta; explorao

    madeireira e mineral, sem falar no aumento populacional (Hubbell et al. 2008). Existe

    ainda uma presso crescente por aumentar a produo agrcola brasileira, fato que

    somado aos anteriores demandam reas cada vez maiores da floresta amaznica e

    representam o que vem ocorrendo na regio oeste do Par.

    O desenvolvimento da Amaznia exige solues alternativas de utilizao

    sustentvel, considerando cdigos e leis de cunho ambiental e florestal, tendo em vista a

    necessidade de se conciliar o desenvolvimento econmico e social com a preservao

    do meio ambiente (Valois 2003). Neste contexto, estudos etnobiolgicos podem

    contribuir, pois representam uma ferramenta fundamental no processo de elaborao de

    estratgias de manejo por fornecer informaes de carter ecolgico, social e econmico

  • 21

    que podem resultar em planos de desenvolvimento melhor adaptados s condies

    locais (Barroso et al. 2010).

    Assim os estudos etnobotnicos tm se destacado, quanto ao fornecimento de

    subsdios para anlise da sustentabilidade de recursos naturais atravs da investigao

    da relao pessoas/plantas de modo a registrar e conhecer as estratgias e o

    conhecimento dos povos locais (Albuquerque 2010). Queiroz (2005) cita que a

    combinao entre conhecimento cientfico e o tradicional extremamente benfica e

    contribui de forma significativa para preservao do meio ambiente. visvel o papel

    que os povos tradicionais desempenham na explorao dos ambientes naturais,

    fornecendo informaes sobre as diferentes formas de manejo executados em seu

    cotidiano e usufruindo da explorao enquanto forma de sustentao desses povos (Pasa

    et al. 2005).

    Apesar de pouco estudado o saber dos povos locais pode ser um importante elemento

    nos debates sobre o uso dos recursos (Albuquerque 2010). Para Diegues (2001) a forma

    de utilizao dos recursos naturais est relacionada com a cultura de cada populao de

    forma que, a relao de indgenas e ribeirinhos tem contribudo para a preservao de

    grande parte das florestas tropicais, visto que, em muitos casos essa relao de

    verdadeira simbiose. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento

    etnobotnico das espcies utilizadas na comunidade de Novo Lugar, como forma de

    registrar o conhecimento tradicional dos indgenas Borari acerca da diversidade local.

  • 22

    MATERIAL E MTODOS

    A comunidade de Novo Lugar (55.8 W, 2.9 S) est localizada a margem esquerda

    do Rio Mar, afluente do Rio Arapiuns, em frente reserva extrativista Tapajs-

    Arapiuns, municpio de Santarm, regio Oeste do Par. Esta comunidade faz parte da

    Gleba Nova Olinda I. Uma rea de imenso valor para conservao da natureza que

    abriga uma enorme biodiversidade, sendo refgio para espcies endmicas e ameaadas,

    alm de possuir importncia na manuteno de servios ambientais (Dhesca, 2011).

    Composta por 14 comunidades, dentre as quais trs indgenas: So Jos, Cachoeira do

    Mar e Novo Lugar que formam terra indgena do Mar, atualmente em processo de

    legalizao e que abrange uma rea de aproximadamente 42.373ha destinados aos

    grupos identificados Arapiuns e etnia Borari, a qual pertence os populares de Novo

    Lugar.

    Os Borari de Novo Lugar apresentam um modo de vida tradicional cuja

    subsistncia baseada no extrativismo. A floresta desempenha um papel fundamental

    na vida de suas famlias, contribuindo, inclusive, com a sade dos mesmos, j que, os

    remdios caseiros so o principal meio de tratamento para vrias doenas. Alm disso, a

    floresta tambm fonte de alimentos, visto que os comunitrios vivem basicamente da

    coleta de produtos desta, como peixes e produtos da agricultura itinerante de mandioca e

    lavouras regionais. As famlias tambm aproveitam um grande nmero de espcie para

    obter diversos produtos para uso domstico, como cips, talas, resinas, sementes, folhas

    e razes. Quase no h comercializao de produo, sendo baixa a circulao de

    moedas, os indgenas tm dificuldades para garantir sua prpria economia, porm tem a

    venda de farinha de mandioca como uma das fontes de renda, sendo esta a principal

    atividade para esse fim (Projeto Sade e Alegria 2011).

  • 23

    O trabalho de campo foi realizado nos meses de maro de 2012 a fevereiro de 2013.

    Foram feitas entrevistas com aplicao de questionrios semi-estruturados

    (Albuquerque 2010) em 9 das 17 famlias de Novo Lugar, que continham perguntas de

    cunho scio- econmico e etnobotnicos. As entrevistas foram feitas sempre com o

    auxilio do segundo cacique da comunidade. Em cada residncia um dos membros da

    famlia era entrevistado, geralmente o chefe da famlia ou sua esposa, em alguns

    casos os dois estavam presentes e um auxiliava o outro. As plantas citadas foram

    coletas, identificadas e depositadas no hebrio do Instituto Nacional de Pesquisas da

    Amaznia-INPA e hebrio do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do

    Amazonas-EAFM.

    A anlise quantitativa dos dados foi feita atravs de certos ndices. Para determinar o

    valor local de cada espcie foi utilizado a Frequncia Relativa de Citaes-RFC

    (Relative Frequency of Citation), obtida atravs da formula: RFC=FC/N, onde FC

    nmero de informantes que mencionou o uso da espcie e N o nmero total de

    informantes (Tardo e Pardo- de- Santana, 2008). O valor de uso (VU) foi calculado

    segundo a metodologia descrita por Rossato et al. (1999), sendo calculado atravs da

    frmula VU=( U)/N, onde VU o somatrio do nmero de citaes por

    informantes(U), dividido pelo nmero total de informantes.

    Para categoria plantas medicinais foram aplicados o Nvel de fidelidade-FL (Fidelity

    level), Friedman et al. (1986) que baseia-se na concordncia entre as respostas dos

    informantes para indicao teraputica principal FL= (Ip/Iu) x 100% e a prioridade de

    ordenamento-ROP (Rank Order Priority) que combinado com o FL, calcula a

    popularidade relativa que dada pela frmula ROP=FL x RP; RP popularidade

  • 24

    relativa, dado pela razo do nmero de informantes que citaram uma dada espcie, pelo

    nmero de informantes que citaram a espcie mais citada, Friedman et al. (1986).

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Foram citadas 90 etnoespcies (Tabela 1), teis comunidade de Novo Lugar, as

    quais foram enquadradas em trs categorias: medicinal, alimentar e artesanal. O

    resultado da anlise multivariada, atravs do teste de Friedman (Tabela 2), demonstrou

    diferenas significativas (P= 0.0128) quanto ao conhecimento das famlias por

    categoria, principalmente quando se compara as categorias, medicinal e artesanal

    (p>0.05). Pode-se observar (figura2), que o nmero de plantas medicinais citadas

    significativamente maior que as demais categorias. Silva e Andrade (2005) destacam

    que em vrios trabalhos esta categoria aparece entre as mais representativas. Outros

    autores ressaltam a importncia desta categoria (Pasa 2011; Anderson e Posey 1985).

    Veiga Jnior e Pinto (2005) argumentam que o uso de plantas medicinais em pases em

    desenvolvimento assim como o Brasil, deve-se a fcil obteno e tradio no uso das

    mesmas, mas tambm ao fato de que apesar dos avanos dos medicamentos alopticos,

    ainda existem obstculos bsicos em sua utilizao pelas parcelas mais carentes da

    populao, que vo desde o acesso ao atendimento hospitalar, at a obteno de exames

    e medicamentos. Para Amoroso e Gly (1988), em muitos casos as plantas medicinais

    representam o nico recurso teraputico disponvel populao.

    A categoria alimentar, embora tenha registrado um nmero expressivo de espcies,

    no diferiu significativamente das categorias medicinal e artesanal, Tabela 2 e Figura 2

    (p>0.05). Houve predomnio de espcies frutferas, tais como, buriti (Mauritia flexuosa

    L.), cupuau (Theobrama grandiflorum Schum.) e goiaba (Psidium guajava L.). Entre

  • 25

    as espcies artesanais, as espcies principais so palmeiras, tais como arum, patau e

    buriti, utilizados na fabricao de utenslios como peneiras, tipiti, abano, balaio, panac

    e jamanchim. Algumas espcies so usadas para fazer biojoias, como o aa (Euterpe

    oleraceae Mart), chuburana (Cardiospermum halicacabum L.) e pu (Canna indica L.)

    A anlise de Shannon-Wiener Tabela 3, mostrou que num universo de nove famlias

    estudadas, h maior diversidade de plantas medicinais (0.8259), seguida de alimentcia

    (0.7476) e artesanal (0.6461). O ndice tambm evidenciou que existe maior

    equitabilidade no conhecimento das famlias para plantas medicinais, ou seja, o

    conhecimento entre as famlias homogneo (0.8655) e existe consenso nas respostas.

    A maior diversidade de plantas medicinais justificvel sob o ponto de vista cultural,

    pois o uso de plantas no tratamento de doenas de longa data entre os indgenas, mas

    deve-se tambm precariedade do sistema de sade. Eles frequentemente relatam que

    quando recorrem s unidades bsicas de sade no tem acesso aos medicamentos, por

    isso as doenas mais simples, como gripe e dores de barriga so tratadas com remdios

    caseiros. Resultados semelhantes aos apontados no Relatrio do Projeto Comunitrio da

    Gleba Nova Olinda I, que inclui Novo Lugar. Os moradores declararam trata-se com

    remdios caseiros, em algumas comunidades existem especialistas em medicina

    tradicional como rezadores, puxadores e desmentidores; nas comunidades indgenas, os

    pajs assumem este papel (IDEFLOR 2009). Corroborando com o verificado neste

    estudo, Freitas e Fernandes (2006) argumentam que as plantas medicinais so o

    principal meio de tratamento de doenas para a maioria das populaes, devido a

    influncias culturais e ao custo proibitivo dos produtos farmacuticos.

    A Figura 3 mostra como cada famlia contribuiu para o valor da diversidade total de

    cada parmetro (alimentar, medicinal e artesanal), onde observou-se que a primeira

  • 26

    famlia, foi a que citou maior nmero de espcies. A diversidade por categoria tambm

    foi medida atravs do ndice de Simpson, Tabela 4, que assim como o de Shannon-

    Wiener, apontou maior diversidade para plantas medicinais, mas, alm disso, exps as

    propores para cada famlia em relao diversidade total de cada categoria.

    A anlise estatstica atravs do teste de Friedman Tabela 5, para anlise do

    conhecimento tradicional no uso das partes das plantas, demonstrou diferenas muito

    significativas (p=0.0013) quando se analisa de forma geral. Contudo, a comparao

    entre os ranks, constatou-se diferenas significativas (p>0.05) apenas quando se

    compara o rank folhas com os ranks 3, 4, 5, e 6 respectivamente: casca, sementes, raiz e

    tronco, a comparao entre os demais ranks, no foi significativo (p

  • 27

    semelhantes ao encontrado por Amoroso e Gly (1988) em Barcarena-Par, onde as

    folhas respondem por 49% dos usos e por Freitas e Fernandes (2006) em Bragana

    tambm no Par, onde casca (29%), folhas (28%) e raiz (17%) foram as mais citadas.

    A anlise da diversidade para os rgos da planta atravs do ndice de Simpson

    (Tabela 7) revelou resultados semelhantes aos de Shannon, com maior diversidade para

    folhas (0.8408), seguido de sementes (0.7934) e frutos (0.7242), e menor diversidade

    para cascas (0.6094). Alm disso, mostrou as propores da contribuio de cada

    famlia para a diversidade total.

    A Tabela 8 mostra os resultados da Distribuio da Frequncia Relativa de Citaes-

    RFC por intervalos (Figura 6), mostrando frequencia absoluta e percentuais de citao

    para as noventa espcies usadas em Novo Lugar. Dentre as 90 espcies citadas (Figura

    7) pelos moradores de Novo Lugar, as plantas com maior RFC (Figura 8) esto: arruda

    (Ruta graveolens L.), buriti (Mauritia flexuosa L.), cupuau (Theobrama grandiflorum

    Schum.) e goiaba (Psidium guajava L.). A Tabela 9 apresenta os resultados das 11

    espcies com maior Freqncia Relativa de Citaes (RFC) e Valor de Uso (VU) por

    isso, mais teis e relevantes, dentre as 90 espcies citadas pelos moradores de Novo

    Lugar. As espcies ing (Inga heterophylla Willd.), andiroba (Carapa guianenses

    Aubl.), banana (Musa sp.), arruda (Ruta graveolens L.), buriti (Mauritia flexuosa L.) e

    goiaba (Psidium guajava L.), apresentaram maior valor de uso.

    A anlise do Nvel de Fidelidade- FL (Tabela 10) para as espcies medicinais mais

    citadas confirmou que existe consenso nas indicaes teraputicas e que as mesmas

    esto de acordo com o verificado em outros estudos. Arruda (FL=100) foi indicada no

    tratamento de dores de barriga e estmago. Van Den Berg & Silva (1988), ao estudar a

    flora medicinal de Roraima, verificaram que arruda, assim como em Novo Lugar

  • 28

    usada para tratar dores de estmago, mas tambm no combate a problemas de fgado e

    como abortivo. Andiroba (FL=100), como cicatrizante, para tosse, gripe e pneumonia.

    Goiaba e urubuca (Aristolachia trilobata L.) com FL=100 foram indicadas no combate

    a problemas intestinais, como dores de barriga. As propriedades farmacolgicas de P.

    guajava so mltiplas: antimicrobiana, antimutagnica, antioxidante, anti-inflamatria

    entre outras e tm sido comprovadas por diferentes autores (Begum et al. 2002; Sanches

    et al. 2005; Ilha et al. 2008). Segundo Begum et al. 2002, diferentes partes de P.

    guajava tm sido usadas no sistema de medicina indgena para o tratamento de

    diferentes doenas, como feridas, lceras, problemas intestinais e clera, as folhas so

    utilizadas principalmente no combate a doenas digestivas. A tabela 10 tambm

    apresenta atravs do ndice de Prioridade de Ordenamento-ROP, as espcies medicinais

    mais relevantes para sade dos moradores de Novo Lugar.

    CONCLUSES

    As famlias de Novo lugar possuem um amplo conhecimento sobre os recursos

    vegetais disponveis e fazem uso de uma grande diversidade de plantas, usadas

    principalmente na preparao de remdios. Andiroba (Carapa guianensis Aubl.),

    arruda (Ruta graveolens L.), arum (Ischnosiphon obliquus (Rudge) Korn.), algodo

    roxo (Gossypium arboreum L.), banana (Musa sp.), buriti (Mauritia flexuosa L.),

    cupuau (Theobroma grandiflorum Schum), goiaba (Psidium guajava L.), ing xixi

    (Inga heterophylla Willd.), murici (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e urubuca

    (Aristolachia trilobata L.) so as espcies mais importantes, por apresentarem maior

    Frequencia Relativa de Citaes e maior Valor de Uso. De fato, a vegetao possui

  • 29

    grande importncia na vida dos indgenas Borari de Novo Lugar, uma vez que fonte

    de subsistncia e essncia para sade e sobrevivncia dos mesmos.

    AGRADECIMENTOS

    As famlias de Novo Lugar, por permitirem participar deste estudo; ao Laboratrio de

    Estudos de Ecossistemas Amaznicos-LEEA e sua equipe, que me auxiliaram neste

    trabalho; a Prof. Dr. Patrcia Chaves de Oliveira pela orientao e a CAPES, pela

    concesso da minha bolsa.

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    Figura. 1- Mapa de localizao comunidade Novo Lugar, adaptado do Relatrio Gleba Nova

    Olinda I, IDEFLOR.

    Tabela1: Lista de espcies utilizadas pelos indgenas Borari, Comunidade de Novo Lugar-Territrio

    Indgena Mar, Santarm.

    Nome popular Familia Espcie

    1 Abacate Lauraceae Persea americana Mill.

    2 Abacaxi Bromeliaceae Ananas comosus (L.) Merril

    3 Aa Arecaceae Euterpe oleraceae Mart.

    4 Alfavaca Lamiaceae Ocimum basilicum L.

    5 Algodo branco Malvaceae Gossypium herbaceum L.

    6 Algodo roxo Malvaceae Gossypium arboreum L.

    7 Amb Araceae Philodendron imbe hort. ex Engl.

    8 Amor crescido Portulacaceae Portulaca pilosa L.

    9 Anador Amaranthaceae Alternanthera ficoidea (L.)SM

    10 Anan Rapataceae Rapatea paludosa Aubl.

    11 Andiroba Meliaceae Carapa guianensis Aubl.

    12 Apu Moraceae Ficus nymphaefolia Mill.

    13 Ara Myrtaceae Psidium guineense Sw.

    14 Araticum Annonaceae Annona montana Macf.

    15 Arraiaca Piperaceae Peperomia rotundifolia (L.) Kunth

    16 Arruda Rutaceae Ruta graveolens L.

    17 Arum Marantaceae Ischnosiphon obliquus (Rudge) Korn.

  • 34

    18 Bacaba Arecaceae Oenocarpus bacaba Mart

    19 Banana Musaceae Musa sp.

    20 Breu branco Burseraceae Protium altsonii Sandwith

    21 Buriti Arecaceae Mauritia flexuosa L.

    22 Caatinga de

    mulata

    Scrophulariaceae Aelanthus suaveolens L.

    23 Caj Anacardiaceae Anacardium occidentale L.

    24 Cama de menina Selaginellaceae Selaginella sp.

    25 Cana de aucar Poaceae Saccharum officinarum L.

    26 Cana mansa Zingiberaceae Costus spiralis (Jacq.) Rosc.

    27 Capim laranja Poaceae Hyparrhenia bracteata (Humb. & Bonpl. ex

    Willd.) Stapf

    28 Car Dioscoreaceae Dioscorea sp.

    29 Carcanfo Lamiaceae Ocimum minimum L.

    30 Carmelitana Verbenaceae Phyla scaberrima (Juss. ex Pers.) Moldenke

    31 Castanha do par Lecythidaceae Bertholletia excelsa Bonpl.

    32 Chicoria Apiaceae Eryngium foetidum L.

    33 Chumburana Sapindaceae Cardiospermum halicacabum L.

    34 Cidreira Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N.E. Br. Ex Britton & P.

    Wilson

    35 Cip Vernica Sapindaceae Serjania paradoxa Radlk.

    36 Cip-alho Bignoniaceae Adenocalymma sp

    37 Coco Arecaceae Cocos nucifera L.

    38 Copaiba Caesalpinoideae Copaifera sp.

    39 Couve Brassicaceae Brassica oleraceae L.

    40 Crajir Bignoneaceae Friedericia chica (Bonpl.) L.G.Lohmann

    41 Cuju-au Anacardiaceae Anacardium spruceanum Benth. ex Engl

    42 Cumaru Papilonidae Dipteryx odorata (Aubl.) Willd

    43 Cupuau Sterculaceae Theobroma grandiflorum Schum.

    44 Elixir paregrico Piperaceae Piper callosum Ruiz & Pav.

    45 Eviratia Anonaceae Duguetia calycina Benoist

    46 Folha grossa Crassulaceae Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.

    47 Goiaba Myrtaceae Psidium guajava L.

    48 Hortel Lamiaceae Mentha sp

    49 Inaj Arecaceae Maximiliana maripa (Mart)

    50 Ing grande Fabaceae Inga edulis Mart.

    51 Ing xixi Fabaceae Inga heterophylla Willd.

    52 Jacitara Arecaceae Desmoncus sp.

    53 Jambo Myrtaceae Syzygium jambos (L.) Alston

    54 Japana Asteraceae Eupatorium triplinervis (Vahl) R.M. King &

    H. Rob.

    55 Jatob Fabaceae Hymenae courbaril L.

    56 Limo Rutaceae Citrus aurantiifolia (Christm.) Swingle

    57 Mamona roxa Euphorbiaceae Ricinus communis L.

    58 Mandioca Euphobiaceae Manihot esculenta Crantz

  • 35

    59 Mangarataa Zingiberaceae Zingiber officinalis Rosc.

    60 Mangerico Lamiaceae Ocimum basilicum L.

    61 Marupazinho Iridaceae Eleutherine bulbosa (Mill.)