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Brasil, Paisagem de Infinitas Possibilidades Pavilhão do Brasil na EXPO Dubai 2020 O pavilhão contemporâneo como um lugar de lugares, como entidade sintética da complexidade. Trata-se de um não-objeto, de uma infraestrutura possibilitadora de usos múltiplos e simultâneos, de caráter interior-exterior. Assume a necessidade de caixa-preta expositiva e de espaço público, entendendo-as como contrapropostas e aliadas ao mesmo tempo. Lá reside o potencial da possibilidade. (Devemos deixar de lado a concepção de pavilhão como cenografia do puro efeito, para passar a ser um espaço de produção e troca).

Brasil, O pavilhão contemporâneo como um lugar de lugares ... · (Devemos deixar de lado a concepção de pavilhão como cenografia do puro efeito, para passar a ser um espaço

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Page 1: Brasil, O pavilhão contemporâneo como um lugar de lugares ... · (Devemos deixar de lado a concepção de pavilhão como cenografia do puro efeito, para passar a ser um espaço

Brasil,Paisagem de Infinitas PossibilidadesPavilhão do Brasil na EXPO Dubai 2020

O pavilhão contemporâneo como um lugar de lugares, como entidade sintética da complexidade. Trata-se de um não-objeto, de uma infraestrutura possibilitadora de usos múltiplos e simultâneos, de caráter interior-exterior. Assume a necessidade de caixa-preta expositiva e de espaço público, entendendo-as como contrapropostas e aliadas ao mesmo tempo. Lá reside o potencial da possibilidade.

(Devemos deixar de lado a concepção de pavilhão como cenografia do puro efeito, para passar a ser um espaço de produção e troca).

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A. O Vão Livre, o espaço do possível

C. A Tectônica da Trama,o espaço do tempo

D. O Evento e a Coleção,o espaço do conceito

B. A Escala do Sublime,o espaço de implicações

O vão livre é cânone inegável da brasilidade moderna. É a verdadeira emancipação do espaço, que se entrega plenamente ao democrático. Faz do privado, o público. Relaciona a arquitetura à diversidade e também ao inesperado.

O espaço somente é pautado por presenças fundamentais, sua essência não é definida, não se explicita, não se estrutura. Ao não se definir, não se determina de que modo usá-lo. É a liberdade do espaço público que se traduz no pavilhão. Cidade e cidadão.

A noção de tectônica é elemento central da arquitetura como fenômeno, é base autônoma da própria disciplina. A tectonicidade do objeto é a nascente de suas qualidades ontológicas, transformando o edifício em um “ser” e não apenas um “signo”.

É o que permite a existência de algo subjacente ao fazer construtivo, uma

expressividade simbólica sem uma intenção representacional. A unidade estrutural como essência irredutível. “A forma construída como uma presença e não apenas representante de uma ausência”. (Frampton, Kenneth. Rappel a L’ordre: The case for the Tectonic.) É a autonomia poética do edifício.

O vão livre, como operação arquitetônica, liberta o edifício ao outro, incorporando outras lógicas que não aquelas estabelecidas pelo seu próprio projeto. Democratiza o espaço em sua totalidade e, dessa maneira, incorpora a imprevisibilidade da diversidade.

Poucas coisas provocam o afloramento da noção de sublime como a escala de um espaço. O oceano, a contemplação da via láctea, o interior de uma catedral causam em quem os contempla sentimentos de “estremecimento e finalmente ação” (Kant, Immanuel. A Philosophical Inquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful. 1756). A escala do sublime gera reações diversas, sempre de implicação e compromisso com o espaço. Um convite a fazer parte.

Antropologicamente a produção têxtil é uma unidade tectônica fundamental, fruto do impulso humano primordial de unir elementos de diferentes comprimentos em sistemas de malha coesos. A construção é a elevação desse acontecimento. Dessa forma, uma trama implica um argumento, um tempo implícito.

Todos os ciclos da natureza exuberante do Brasil estão presentes na madeira. Todo seu solo e todo seu sol.

MASP - Museu de Arte de São Paulo, São Paulo. Fotomontagem e Desenho por Lina Bo Bardi.

Perspectiva com colagem indicando objetos e esculturas expostas. Fotomontagem e Desenho por Lina Bo Bardi. Acervo Lina Bo, São Paulo. 1967 - 1958

Comparação entre vãos emblemáticos da arquitetura brasileira:(1) MASP; (2) MAM-RJ; (3) Pavilhão de Osaka; (4) MUBE

Caspar David Friedrich, Morning on the Riesengebirge, 1810 - 1811.

Estrutura da Oca durante a expedição ao Xingu em 1957, com Orlando Villas Boas. Foto: Domiciano Pereira.

Agostinho Batista de Freitas, Circo Piolim no vão do MASP, 1972, acervo MASP.

Caspar David Friedrich, Caminhante Sobre o Mar de Névoa, 1818. Vista da instalação na exposição, “Sol LeWitt”, 3 de Fevereiro, 1978 – 4 de Abril de 1978. Arquivo Fotográfico. The Museum of Modern Art Archives. Fotografia por Katherine Keller.

Lina Bo Bardi. Estudo preliminar – Esculturas praticáveis do Belvedere do Masp, 1968. (Coleção Masp/Masp).

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O anti-pavilhão4 estratégias de projeto

O pavilhão organiza-se através de quatro estratégias fundamentais. Apresenta-se como um condensador de significados, no qual espaço, função e significado trabalham juntos para criar um elemento espacial e conceitual potente.

O espaço, a escala, a trama e o evento trabalham juntos para produzir um novo tipo de dinâmica:

O anti-pavilhão.

(1) (2) (3)

O sublime surge do ímpeto de exprimir o inexprimível. De traduzir aquilo que transcende o belo. É a qualidade estética do extremo. É a inacessibilidade diante do incomensurável.

O sublime existe, por definição, acima de qualquer capacidade de cálculo, medida ou imitação. O sentimento humano perante aquilo que supera

o belo, que não pode ser descrito somente por suas implicações estéticas. A sensação de presenciar uma tempestade, de testemunhar o que excede as expectativas e se torna extraordinário.

Um complementa o outro.

Entender o Brasil como energia vibrante, como seu povo, como evento. Seu futuro e toda sua potência paisagística como natureza, como coleção.

Dois hemisférios do mesmo mundo, complementares. Abaixo, a feira, a praça, o povo, burburinho, o

indeterminado, o móvel. Até a paisagem é mutável, assim como sua umidade, sombra e luz. É lúdico. Acima, separado desse mundo, a exposição nos fala sobre a complexidade do Brasil, sua gente, sua natureza e seu futuro.

Essa percepção se traduz na cultura, sendo a do Brasil de hoje produto de fusões, mesclas, encontros e desencontros complexos entre os diversos grupos culturais que o habitaram. Europeus, indígenas, asiáticos e africanos moldaram e alimentaram as veias deste corpo vivo. A proposta expositiva reconhece essa visão para traduzi-la em espaço.

Paredes suaves, iluminação e projeções marcam o percurso do participante, em uma experiência contínua, onde os limiares são espaços de reflexão e mudança entre uma temática e outra.

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C94

C95

C194

C195

N

M

110

550

Climatizadores

Acesso serviços

Acesso principalElevadores

Loja

Tenda

Acesso VIP

Apoio (BoH)

Apoio/Sanitários (BoH)

Cortinas

O espaço do evento

Pontos distribuídos por todo o térreo emitem névoas compostas por micropartículas de água, que reduzem a temperatura e aumentam a umidade, gerando zonas de maior conforto térmico.

O núcleo contempla a circulação vertical de serviços, composta por um elevador e uma escada auxiliar.

Assim como os elevadores do núcleo à esquerda, uma imponente escada conduz o público à exposição permanente e ao restaurante.

Nesse núcleo encontram-se três elevadores que, juntamente com a escada principal, levam o público geral à exposição permanente e ao restaurante.

Com acesso independente da exposição, a loja apresenta layout flexível podendo ser rearranjada no âmbito do vão livre.

Elemento retrátil do vão, a tenda se desenvolve como auditório, área fechada da exposição temporária,

A chegada dos convidados VIP/VVIP se dá através de um hall que faz o intermédio entre a aproximação dos veículos e o elevador exclusivo.

1. o solo ocupado

2.a liberação do solo

Implantação

3. a estruturação do prisma

4.a trama como estrutura

O volume reúne as áreas destinadas aos funcionários, assim como o depósito da loja, a sala de controle e uma área técnica.

Um conjunto de sanitários, implantado ao fundo do terreno, serve de apoio à área de exposição temporária.

Presas à estrutura do pavilhão, cortinas configuram diferentes espaços de acordo com a necessidade das atividades desenvolvidas.

ACESSO PRINCIPAL

ACESSO SECUNDÁRIO

CirculaçãoO monta-cargas conecta o térreo ao pavimento da exposição permanente, servindo ao transporte do material expográfico e de apoio.

EfêmeroAtividades temporárias aludindo a elementos da cultura brasileira, como o comércio ambulante urbano, complementam o uso do grande espaço livre.

Vão livreO grande espaço livre do térreo se configura como um palco aberto às diferentes atividades, sejam elas gastronômicas, esportivas, lúdicas ou de entretenimento.

N

M

N

M

1 10

5 50

Planta Térreo1:200

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Show Parque

GastronomiaEsportes

O espaço do possível “A arquitetura deve indagar tanto sobre os eventos que ocorrem nos espaços quanto os espaços em si... A noção de forma e função estabelecidas pelo discurso arquitetônico moderno devem ser substituídos pela valorização de ações e eventos que se produzem no interior dos espaçtos – como o movimento dos corpos, das atividades, das aspirações e, finalmente, pela dimensão propriamente política e social da arquitetura...”

Bernard Tshcumi em Event Cities

Espetáculos inusitados que trazem a tradição musical e performativa da complexa cultura brasileira.

Eventos circenses e lúdicos que resgatam as festas e celebrações tradicionais das diversas regiões do Brasi.

Feiras gastronômicas representando mapas da culinária brasileira. Pensada como ilhas, cada uma refletindo as especificidades da complexa diversidades de sabores do Brasil.

Arenas efêmeras montadas para levar as tradições esportivas do país para os espaços do vão livre, ilustrando uma faceta importante da cultura nacional.