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BRAZ FIRMINO DE SOUZA MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA PRESERVAÇÃO DE VIDA AQUÁTICA DO RIO SANTO ANASTÁCIO Presidente Prudente 2006

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BRAZ FIRMINO DE SOUZA

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA PRESERVAÇÃO DE

VIDA AQUÁTICA DO RIO SANTO ANASTÁCIO

Presidente Prudente 2006

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BRAZ FIRMINO DE SOUZA

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA PRESERVAÇÃO DE

VIDA AQUÁTICA DO RIO SANTO ANASTÁCIO

Monografia apresentada ao Conselho de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Antonio Cezar Leal

Presidente Prudente 2006

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AGRADECIMENTOS

Este espaço é dedicado àqueles que, de maneira direta ou indireta,

contribuíram para que este trabalho fosse realizado. A todos meus sinceros

agradecimentos e de forma particular:

Aos meus pais, pelo incentivo, apoio e por compartilhar comigo deste sonho

que ora torna-se realidade.

Aos membros do GADIS, nas pessoas de André Loppi, Kátia Fernanda,

Leandro Borges, Marcelo Franzin, Michele Balbin, Rafael Lapa Alonso e Rubens

Matos, pela significativa contribuição na coleta e análise de material e na sistematização

e elaboração de banco de dados, tornando-se verdadeiros co-autores deste trabalho.

À bióloga Nuria Morral, pelo companheirismo e pela dedicação e

contribuição nas análises biológicas, apesar do pouco tempo de convívio.

Ao Marcos Ruivo, pelas fotografias realizadas e pela ajuda no AutoCad.

Ao professor Antonio Cezar Leal, pela orientação neste trabalho.

À professora Renata Rocha, pela orientação para a realização das análises

físico-químicas da água.

Ao professor João Osvaldo e à professora Margarete Amorim, pela

contribuição durante a disciplina Pesquisa em Geografia Física e pela simpatia e

dedicação que sempre dispensaram a seus alunos.

À professora Rosângela Hespanhol, com quem aprendi a trilhar os primeiros

caminhos do mundo científico.

À Fátima, funcionária da biblioteca da FCT, pela dedicação que realiza seu

trabalho e pela simpatia que dispensa aos freqüentadores da biblioteca.

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SUMÁRIO RESUMO ...................................................................................................................................

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RESUMEN ..............................................................................................................................

08

INTRODUÇÃO .........................................................................................................................

09

CAPÍTULO 1 – GESTÃO E GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS: ALTERNATIVAS PARA ENFRENTAR A ESCASSEZ ...........................................

14

1.1. A valoração da água .............................................................................................. 16 1.1.2. Bacia hidrográfica como unidade físico-territorial para gestão de recursos hídricos .........................................................................................................................

18

1.2. Gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil:.................................................... 20 1.3. Gerenciamento dos recursos hídricos no Estado de São Paulo ............................. 25 CAPÍTULO 2 – FATORES QUE AFETAM A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................................................................

29

2.1. Poluição dos recursos hídricos .............................................................................. 31 2.2. Fontes naturais de poluição ................................................................................... 31 2.3. Fontes antrópicas de poluição ............................................................................... 32 2.3.1. Fontes domésticas .............................................................................................. 32 2.3.2. Efluentes industriais ........................................................................................... 34 2.3.3. Disposição de resíduos sólidos ........................................................................... 35 2.3.4. Fontes agropastoris ............................................................................................. 36 CAPÍTULO 3 – MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA ..................... 37 3.1. Tipos de monitoramento ....................................................................................... 37 3.2. Enquadramento hídrico ......................................................................................... 38 3.3. Rede de monitoramento de qualidade da água do Estado de São Paulo ............... 40 3.2.1. Índice de qualidade de água bruta para fins de abastecimento público ............. 43 3.2.2. Índice de qualidade da água para proteção de vida aquática ............................. 44 CAPÍTULO 4 – A BACIA DO RIO SANTO ANASTÁCIO ...................................... 46 4.1. Aspectos físico-naturais da bacia do rio Santo Anastácio .................................... 47 4.1.1. Geologia ............................................................................................................. 47 4.1.2. Geomorfologia ................................................................................................... 48 4.1.3. Pedologia ............................................................................................................ 48 4.1.4. Clima .................................................................................................................. 49 4.2. Vegetação original, ocupação, desmatamento e problemas físico-ambientais na bacia do rio Santo Anastácio......................................................................................... 4.3. Degradação da qualidade da água da bacia do Santo Anastácio ...........................

50 53

CAPÍTULO 5 – MONITORAMENTO FÍSICO-QUÍMICO E BIOLÓGICO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO SANTO ANASTÁCIO ......................................

56

5.1. Importância dos parâmetros utilizados .................................................................. 60 5.1.1. Parâmetros físicos .............................................................................................. 60 5.1.2. Parâmetros químicos .......................................................................................... 61 5.1.3. Índices biológicos ............................................................................................... 63 5.2. Apresentação dos resultados ................................................................................. 66 5.2.1. Análise das variações das variáveis físico-químicas no mês de maio ............... 68 5.2.2. Análise das variações das variáveis físico-químicas no mês de outubro ........... 69 5.2.3. Análise temporal dos parâmetros físico-químicos ............................................. 69

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5.2.4. Análise dos indicadores biológicos .................................................................... 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 80 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 82

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RESUMO O objetivo do presente trabalho foi fazer um diagnóstico da qualidade da água na área

de manancial do rio Santo Anastácio, localizada na região oeste do Estado de São Paulo,

com a finalidade de saber se sua qualidade permite a preservação da vida aquática. Foi

realizado o monitoramento de variáveis físicas, químicas e biológicas em trechos do rio

previamente selecionados com a finalidade de avaliar a concentração dessas variáveis

desses parâmetros ao longo do alto curso do rio. As variáveis utilizadas foram: físicas

(temperatura, turbidez e vazão); químicas (pH, oxigênio dissolvido e condutividade

elétrica) e biológicas – a partir da presença de macroinvertebrados bentônicos

bioindicadores da qualidade da água. Através do trabalho realizado pode-se constatar

que, o manancial do rio Santo Anastácio, apesar da degradação ambiental em que se

encontra sua bacia hidrográfica, principalmente pela erosão acelerada, ainda conserva

condições entre satisfatórias a adequadas para a presença de vida aquática em todos os

trechos monitorados.

PALAVRAS-CHAVE: Recursos hídricos – Qualidade da água – Rio Santo Anastácio

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RESUMEN

El objetivo del presente trabajo fue hacer un diagnóstico de la calidad del agua en el

área del manantial del río Santo Anastácio, localizada en la región oeste del Estado de

São Paulo, con la finalidad de saber si su calidad permite la preservación de la vida

acuática. Fue realizado un monitoreo de parámetros físicos, químicos y biológicos en

algunas áreas del río previamente seleccionadas, con la finalidad de evaluar la

distribución espacial de esos parámetros a lo largo del alto curso del río. Los parámetros

utilizados fueron: físicos (temperatura, turbiedad y vaciamiento); químicos (pH,

oxígeno disuelto y conductividad eléctrica) y biológicos – con base en la presencia de

macroinvertebrados bentónicos como bioindicadores de la calidad del agua. A través del

trabajo realizado se puede constatar que, el manantial del río Santo Anastácio, a pesar

de la degradación ambiental en que se encuentra su cuenca hidrográfica, principalmente

por la erosión acelerada, aún mantiene condiciones entre satisfactorias y buenas para la

presencia de la vida acuática en todas las áreas monitoreadas.

PALABRAS-CLAVE: Recursos hídricos – Calidad del agua – Río Santo Anastácio

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INTRODUÇÃO

O aumento da demanda aliada à degradação e poluição dos mananciais, devido ao adensamento populacional e ao intenso processo urbano-industrial, tem diminuído consideravelmente a disponibilidade de água – e trazido o comprometimento de sua qualidade, em particular – produzindo sérios problemas de escassez em diversas regiões do mundo.

Onde a água já é escassa, a luta por ela passa a ser uma questão de sobrevivência; onde a água ainda é abundante, como no Brasil, por exemplo, passa a ser prioritária a elaboração de políticas e ações de conservação e recuperação dos mananciais, além da prática do uso racional de água. Ressalte-se, de passagem, que várias regiões do planeta já estão passando sérios problemas em decorrência de estresse hídrico, ou seja, a água existente não é suficiente para suprir as necessidades de toda a população. Segundo FONSECA (2004 p. 119), “Considera-se que um país sofre de estresse hídrico quando dispõe, por ano, de menos de 1,7 mil m3 de água por pessoa”.

A escassez de água de qualidade está posta para a humanidade como um

grande desafio em termos de problemas ambientais para os próximos anos.

Estudos da ONU estimam que problemas de abastecimento {de água} irão afetar dois terços da humanidade por volta de 2025. Hoje um quinto já não tem acesso à água potável e o estoque vem sendo contaminado. Entre 1990 e 1995 a demanda por água cresceu duas vezes mais que a população, como resultado de uso intensivo em atividades industriais e agrícolas (MORAES; FRANCO, 2000, p.101).

O problema da escassez e da potabilidade de água doce tem sido

preocupação crescente das Nações Unidas, estando presente em praticamente todos os

Congressos e Conferências intergovernamentais que enfocam a ordem ambiental

mundial, como segue-se nos exemplos abaixo.

A Conferência de Mar Del Plata (Argentina), realizada em 1977 que estabeleceu o período de 1981-1990 como a “Década Internacional do Abastecimento de Água e Saneamento”, tinha como meta “ [...] proporcionar abastecimento adequado de água segura e saneamento apropriado para todos, até o ano de 1990” (HESPANHOL, 1999, p. 249).

Em janeiro de 1992 ocorre em Dublin (Irlanda) a segunda grande

conferência internacional organizada pela ONU – a Conferência Internacional de Água

e Desenvolvimento Sustentável – que apontava para a necessidade do uso racional da

água e para os problemas ambientais e humanos decorrentes da escassez do precioso

líquido.

Em junho do mesmo ano, durante a realização da Conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, que

entrou para a história do Brasil como Eco-92 ou Rio-92, fora redigida a Agenda 21,

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documento cujo principal objetivo é estabelecer ações eficazes de desenvolvimento

sustentável.

A Agenda 21 é um programa de ação ambiental, dividido em quarenta capítulos, estabelecido por um comum acordo entre governos e ONGs de 179 países. O objetivo é estruturar um novo padrão de desenvolvimento planetário capaz de consolidar proteção ambiental, justiça social e desenvolvimento econômico (FONSECA, 2004, p. 118).

O Capítulo 18 da Agenda 21, intitulado “Proteção da Qualidade de

Abastecimento de Água: aplicação de métodos integrados para o desenvolvimento dos

recursos hídricos”, foi inteiramente dedicado à problemática dos recursos hídricos,

principalmente no que concerne ao abastecimento de água e saneamento básico.

Preocupações atinentes à água ainda aparecem em outros capítulos da Agenda, como no

capítulo 6, que “[...] salienta que atenção especial deve ser dada à implementação de

políticas amplas e sustentáveis para assegurar água potável e saneamento”

(HESPANHOL, 1999, p. 252), e no Capítulo 21, que “[...] aborda a necessidade de

ampliar os sistemas de coleta, tratamento e disposição de resíduos líquidos e

sólidos”(HESPANHOL, 1999, p. 252).

Em março de 1997, no I Fórum Mundial sobre Água, realizado em Marraquesh (Marrocos), a UNESCO juntamente com a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgam o documento “Água no Mundo: Há o Bastante?”, documento esse que procura alertar a comunidade internacional para o problema crescente de escassez de água potável no mundo. Segundo o documento,

[...] a diminuição dos recursos hídricos, associada a uma maior demanda por água potável, ameaça transformar essa matéria em uma explosiva questão geopolítica, já que aproximadamente 200 bacias hidrológicas se localizam em áreas de fronteiras de vários países (apud SALATI et alii 1999, p. 58).

Estes são só alguns exemplos que demonstram bem a crescente preocupação

internacional quanto ao problema de escassez de água doce no mundo. Outros eventos

que colocavam a água no centro do debate se sucederam, como o II Fórum Mundial da

Água, realizado em Haya (Holanda), em 2000; em 2001, a Conferência Internacional

sobre Água Doce, em Bonn (Alemanha); em 2002 acontece em Johanesburgo (África

do Sul) a Rio + 10; e, em 2003, Quioto (Japão) sedia o III Fórum Mundial de Água.

O Brasil, por seu turno, com uma extensão territorial de ultrapassa 8,5

milhões de km2 e localizado quase que totalmente na zona intertropical, é, sem dúvida,

um dos países melhores servidos por rios perenes do mundo, respondendo por 12% das

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reservas de água doce mundial, o que possibilita a existência de áreas bem chuvosas, ou

seja, com alto índice pluviométrico. No entanto, a água no Brasil não está distribuída

uniformemente, apresentando regiões de baixo índice pluviométrico e que apresentam

grande irregularidade de chuva, como é o caso do sertão nordestino, onde a falta de

água potável já é uma triste realidade.

A seca aliada a graves problemas sociais – concentração da propriedade da

terra, baixo nível de renda da população, falta de perspectivas de melhora de vida – há

muito tempo tem sido fator de expulsão de vários nordestinos em especial para o

Centro-Sul do país. No Centro-Sul do país, por outro lado, a concentração populacional

e a conseqüente degradação dos mananciais têm provocado sérios problemas de

abastecimento hídrico, principalmente nos grandes centros urbanos.

No caso da região de Presidente Prudente, localizado na porção oeste do

Estado de São Paulo, o estado de degradação de seus recursos hídricos superficiais não

está aquém do estado verificado no restante do país. Apesar da região ser relativamente

bem servida por rios perenes – situa-se entre os rio Paranapanema e Paraná – vem

passando por sérios problemas de abastecimento hídrico, sendo preciso transpor água de

cerca de 45 Km de distância (rio do Peixe) para abastecimento público da cidade de

Presidente Prudente.

Não obstante a toda problemática decorrente da escassez de água potável

para o consumo humano, o crescente comprometimento da qualidade da água tem

trazido também sérias conseqüências para os ecossistemas aquáticos das águas

interiores, produto direto da emissão de agentes poluentes e de outros impactos

decorrentes das atividades humanas que afetam diretamente as características físico-

químicas das águas, comprometendo em larga escala o desenvolvimento de sua biota, o

que deve ser levado em consideração, haja vista que a biota aquática desempenha

importante papel no funcionamento dos ecossistemas continentais, sejam eles lagos,

rios, represas.

Em toda essa variedade de ecossistemas aquáticos, algas, invertebrados, peixes e outros vertebrados como aves e alguns mamíferos têm papel relevante na manutenção dos ciclos biogeoquímicos, na constante reprodução de biomassa viável que interage permanentemente com os vários componentes do sistema (TUNDISI, 2003, p. 52).

Como conseqüência direta do comprometimento da qualidade das águas tem-se

assistido a depleção dessa biodiversidade, alterando a rede trófica desses ecossistemas.

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A preocupação com o elevado grau de degradação dos recursos hídricos é que

norteia este trabalho, que tem como principal objetivo avaliar a qualidade da água do manancial

do rio Santo Anastácio, localizado na região oeste do Estado de São Paulo, com vistas à sua

qualidade para preservação de vida aquática.

Outro objetivo estabelecido neste trabalho foi o de monitorar a qualidade da água

através de variáveis físico-químicas e biológicas, com a finalidade de avaliar a variação dos

valores lidos em trechos previamente selecionados ao longo do manancial.

Na realização do trabalho foram considerados as variáveis físicas (turbidez,

temperatura e vazão), químicas (pH, oxigênio dissolvido e condutividade elétrica), além dos

indicadores biológicos de qualidade da água, a partir da presença de macroinvertebrados

bentônicos – bioindicadores da qualidade da água.

Enquanto as variáveis físico-químicas permitem uma avaliação momentânea

das características da qualidade da água num dado momento, os indicadores biológicos,

por outro lado, permitem avaliar como estes parâmetros se comportam no espaço e no

tempo, haja vista que as comunidades aquáticas guardam estreitas relações com os

fatores físico-químicos, uma vez que a concentração desproporcional destes afeta

diretamente os ecossistemas aquáticos.

A pesquisa baseou-se em levantamento bibliográfico que versa sobre temas

atinentes aos recursos hídricos, poluição e qualidade da água, bacias hidrográficas,

legislação ambiental; levantamento de material cartográfico sobre a bacia do rio Santo

Anastácio; acesso a sites relacionados com recursos hídricos; trabalho de campo para

seleção dos trechos monitorados e para medição dos parâmetros selecionados; registro

fotográfico da área de estudo e de organismos encontrados; utilização dos programas

Excel para a organização de planilhas e elaboração de gráficos; utilização do programa

Access para elaboração de banco de dados; utilização do programa AutoCad para a

confecção de mapas.

O presente trabalho encontra-se estruturado em cinco capítulos. No primeiro

capítulo buscou-se fazer uma avaliação da importância que assume hoje as políticas de

gestão e de gerenciamento dos recursos hídricos como forma de enfrentar a escassez de

água doce no mundo em face o consumo crescente e a degradação da qualidade das

águas existentes.

No segundo capítulo buscou-se fazer um levantamento dos fatores que

afetam a qualidade dos recursos hídricos, sejam eles naturais ou antrópicos e os

problemas decorrentes das alterações causadas nas características naturais das águas.

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No terceiro capítulo trata-se da importância do monitoramento da qualidade

da água e das redes de monitoramentos utilizadas pela CETESB no Estado de São Paulo

e faz-se também uma discussão acerca da importância do enquadramento hídrico.

No quarto capítulo faz-se uma caracterização dos aspectos físico-naturais

(Geologia, Geomorfologia, Pedologia e Clima) da bacia do rio Santo Anastácio e uma

análise do estado de conservação em que se encontra hoje a referida bacia hidrográfica.

O quinto capítulo consiste no trabalho realizado de monitoramento físico-

químico e biológico do rio Santo Anastácio e apresentação dos resultados obtidos.

E, finalmente, nas considerações finais, tece-se algumas considerações sobre

o trabalho realizado como também apresenta algumas propostas de recuperação da bacia

do rio em estudo.

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Capítulo 1

GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS: ALTERNATIVAS PARA ENFRENTAR A ESCASSEZ

O elevado grau de degradação dos recursos hídricos e o aumento

consubstancial da demanda em virtude do aumento populacional e do intenso processo

urbano-industrial têm levado as diferentes esferas governamentais, organismos

internacionais e a sociedade civil como um todo, a uma preocupação crescente, qual

seja, a necessidade de fomentar políticas públicas de gestão e gerenciamento adequados

dos recursos hídricos, de modo a enfrentar a escassez relativa de água e garantir água

em qualidade e quantidade adequadas para atender seus múltiplos usos.

Nesse contexto, o atual momento histórico exige políticas de gestão e

gerenciamento dos recursos hídricos que propiciem diretrizes para a proteção e

recuperação dos mananciais degradados, bem como que possam contribuir para uma

mudança cultural no que concerne ao uso racional dos recursos hídricos.

A gestão dos recursos hídricos deve ser entendida como o conjunto de ações

cujo objetivo seja garantir a disponibilidade e qualidade da água para atender as

diversas demandas. Botelho e Silva (2004, p184) avaliam que

O objetivo da gestão é preservar e recuperar os recursos hídricos. Esta gestão é feita por um conjunto de órgãos e instituições, que assumem, cada um, responsabilidades e funções, entre as quais: coordenar, arbitrar os conflitos, implementar a política, planejar, regular, controlar o uso, preservar e recuperar os recursos hídricos. A gestão passa necessariamente pela cobrança do uso dos recursos hídricos e pela administração e aplicação no âmbito da bacia onde são arrecadados esses recursos.

É importante ressaltar, no entanto, que as diretrizes de gestão dos recursos

hídricos não podem estar desvinculadas da política de planejamento regional na qual

sejam contemplados tanto os aspectos físico-territoriais como as características sócio-

econômicas e culturais da sociedade, considerando-se as peculiaridades específicas de

cada região.

Coimbra et al. (1999 apud LEAL, 2000), aponta que, para um gerenciamento

eficaz dos recursos hídricos, três bases fundamentais devem ser seguidas, quais sejam, a

base técnica, a base legal e o ordenamento institucional.

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A base técnica deve ser composta por uma equipe multidisciplinar, com

sólidos conhecimentos científicos acerca dos regimes dos rios e suas sazonalidades e do

controle de novas tecnologias, de modo que esteja apta para a elaboração de

instrumentos tais como Planos Diretores de Bacias, Planos Regionais de Recursos

Hídricos, entre outros dispositivos concernentes à política de gerenciamento dos

recursos hídricos.

Quanto à base legal, esta se constitui dos dispositivos legais que disciplinam

e coordenam a política de recursos hídricos. O aparato legal é de extrema importância

para se proceder a uma gestão eficiente dos recursos hídricos, pois dará suporte às

ações dos gestores, haja vista que é o aparato legal que vai determinar os objetivos e a

estrutura dos órgãos institucionais que controlam a política de uso, controle e

conservação dos recursos hídricos.

No que compete ao ordenamento institucional, deve este engendrar o

envolvimento de entidades governamentais e não-governamentais ocupadas com a

gestão e “[...] estabelecer uma forma sistêmica de gerenciamento dos recursos hídricos,

adotando a composição de colegiados em diversos níveis, seguindo a estrutura básica –

colegiado superior, colegiados de bacias hidrográficas e apoio técnico e administrativo”

(LEAL, 2000, p.11).

Os diferentes modelos de gestão de recursos hídricos adotados na maioria

dos países do mundo partem de premissas comuns, como, por exemplo: 1) a água é um

bem universal, recurso finito e dotado de valor econômico; 2) necessidade de

gerenciamento integrado dos recursos hídricos, de modo a contemplar seus múltiplos

usos; 3) a descentralização na gestão, com participação dos Estados, Municípios,

usuários e sociedade nas tomadas de decisões atinentes aos usos da água, visando a uma

eficácia maior no gerenciamento; 4) a adoção da bacia hidrográfica como unidade

físico-territorial de planejamento e gestão.

O gerenciamento integrado passa a ser cogitado como proposta a ser adotada

visando a um gerenciamento mais eficaz dos recursos hídricos, a partir da década de

1980, em face da “[...] incapacidade de se construir um processo dinâmico e interativo

somente com a visão parcial e exclusivamente técnica” (TUNDISI, 2003 p. 116).

A mudança de paradigma – de uma abordagem tradicional, compartimentada

e não integrada para uma abordagem integrada dos recursos hídricos –, demonstrou-se

fundamental para um avanço significativo em termos de gestão, haja vista que os

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recursos hídricos passaram a ser pensados dentro do contexto do planejamento,

incorporando aspectos sociais e econômicos, tendo em vista a otimização do seu uso.

Tundisi (2003, p. 117) aponta alguns tópicos importantes para o

planejamento e gerenciamento integrado dos recursos hídricos, como se verifica a

seguir:

• Bacia hidrográfica como unidade de gerenciamento, planejamento e ação.

• Água como fator econômico. • Participação da comunidade, usuários, organizações. • Educação sanitária e ambiental da comunidade. • Treinamento técnico. • Monitoramento entre engenharia, operação e gerenciamento de

ecossistemas aquáticos. • Permanente prospecção e avaliação de impactos e tendências. • Implantação de sistemas de suporte à decisão.

Outra questão pertinente quando se trata de gerenciamento integrado é a

participação efetiva de cooperação e parceria entre setores públicos e privados (como

organizações governamentais e não-governamentais) e a interação dialógica entre as

instâncias governamentais – União, Estados e Municípios.

Na legislação brasileira, por exemplo, as águas são de domínio da União e

dos Estados, portanto não existem águas municipais. No entanto, os municípios têm

papel importante para a conservação dos mananciais, pois é de competência deles

legislar sobre o ordenamento e ocupação do solo que, quando feitos inapropriadamente,

danos irreversíveis podem causar às áreas de mananciais de abastecimento público.

1.1. A valoração da água

É mais que sabido, por qualquer pessoa, que a água é elemento essencial

para toda atividade humana, desde as mais elementares (como plantio agrícola, por

exemplo), às mais sofisticadas atividades industriais. Seja qual for a atividade exercida

pelo homem, em um determinado momento ela requer a utilização de água, seja como

matéria-prima, seja como insumo, de modo que, além de ser indispensável para a

própria manutenção da vida humana, a água também o é para a execução de suas

atividades econômicas.

As diferentes atividades humanas requerem qualidade e quantidade de água

igualmente diferentes, desde as mais exigentes, como o fabrico de alimentos e fármacos,

até as que praticamente não exigem qualidade alguma, como a utilização de água para a

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diluição e assimilação de resíduos industriais, por exemplo. Seja qual for a atividade,

ressalte-se, em menor ou maior grau, direta ou indiretamente, acarretam impactos sobre

os corpos hídricos.

Por muito tempo norteou a mente humana a ilusão intelectual de que a água

era um recurso infinito, inesgotável, haja vista que faz parte de um ciclo, portanto, trata-

se de um fenômeno infindo. No entanto, o aumento da demanda, seja em virtude do

aumento do contingente populacional ou do aumento da complexidade das atividades

humanas, foi, paulatinamente, conferindo à água valoração enquanto recurso natural.

A este propósito, distinguir água de recurso hídrico se faz necessário. Nas

palavras de Rebouças (1999, p 1),

O termo água refere-se, regra geral, ao elemento natural, desvinculado de qualquer uso ou utilização. Por sua vez, o termo recurso hídrico é a consideração da água como bem econômico, passível de utilização com tal fim. Entretanto, deve-se ressaltar que toda a água da Terra não é, necessariamente, um recurso hídrico, na medida em que seu uso ou utilização nem sempre tem viabilidade econômica.

A valoração econômica da água, que só recentemente passou a ser

reconhecida por economistas, gestores e administradores (TUNDISI, 2003) – ao

contrário de outros recursos naturais, como o petróleo, por exemplo – apresenta-se

como um importante instrumento para controlar – ou no mínimo, diminuir – a

degradação dos corpos hídricos, bem como para a implementação de políticas de gestão

e gerenciamento, visando a uma utilização racional dos recursos hídricos, de modo a

não comprometer o abastecimento de água às gerações presentes e futuras.

O princípio da valoração econômica da água tem dado novas conotações às

políticas de gestão e gerenciamento dos recursos hídricos, apontando sempre para a

necessidade de se garantir a otimização do uso e de se investir em novas tecnologias.

Abordagens econômicas para valoração da água estão sendo analisadas e estudadas. O princípio do poluidor/pagador, auditorias ambientais e Avaliações de Impactos Ambientais são novos desenvolvimentos em aplicação em muitos países. Tecnologias limpas são abordagens também utilizadas pela indústria para melhorar os lucros e aumentar o controle sobre a poluição, principalmente levando-se em conta a cobrança pelo uso da água e os custos do tratamento de afluentes. Neste caso, o reuso da água tem papel econômico a desempenhar (TUNDISI, 2003 p. 157).

O problema do gerenciamento eficiente dos recursos hídricos existentes está

posto para a humanidade como um grande desafio a ser enfrentado neste início de

século, desafio esse que requer atitudes precisas e contundentes para garantir

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abastecimento de água em quantidade e qualidade suficientes para suas múltiplas

demandas. O valor econômico da água tende a ser crescente em face da sua

disponibilidade cada vez mais escassa.

Quando muitos falam (ambientalista, geralmente) que a água tende a assumir

uma valoração econômica maior que a valoração que o petróleo assume hoje, muitos

consideram exagero, tendo em vista a quantidade relativa de água existente na Terra.

Vale aqui uma pequena exemplificação:

Talvez não estejamos mesmo longe disso. Vale farejar alguns indícios. No terminal rodoviário de São Paulo, por exemplo, podemos encontrar lanchonetes que vendem uma garrafa de 510 ml (meio litro) de água mineral por R$ 1,40 – o que daria, aproximadamente, R$ 2,75 o litro – ou seja, mais caro que o litro da gasolina vendido por pouco mais de R$ 2,00 (FONSECA, 2004 p. 131).

Indubitavelmente, o século XX foi o século do petróleo. O século XXI será

da água. Há de se considerar, no entanto, que o petróleo é dispensável para a existência

humana; a água, não.

A questão que gira em torno da valoração econômica da água enquanto

elemento essencial para a realização das atividades humanas tem preterido uma questão

crucial, que é a valoração da água enquanto fonte de vida. É mais que sabido que todos

os seres vivos em suas diferentes formas (animal, vegetal) necessitam de água para seus

processos metabólicos e, conseqüentemente, para sua sobrevivência. É mais que sabido,

também, que é a água responsável pela enorme biodiversidade existente no planeta. A

valoração da água enquanto fonte de vida deve ser calcada numa abordagem sistêmica

em que todos os seres vivos são interdependentes dos demais. Sendo a água

indispensável para a vida, não pode estar enquadrada dentro de uma abordagem

mercadológica, dentro das leis de mercado.

1.2. Bacia Hidrográfica como unidade físico-territorial para gestão de recursos

hídricos

Reconhecida como unidade espacial da Geografia Física desde a década de

1960, e ganhando a adesão de outras ciências ambientais mais recentemente

(BOTELHO; SILVA, 2003), a bacia hidrográfica vem se consolidando como a unidade

geofísica por excelência mais apropriada para a gestão de recursos hídricos, de modo

que consta dos modelos de gestão e gerenciamento dos países mais avançados em

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termos de legislação ambiental, como França, Estados Unidos e Alemanha, que a

adotam como unidade de gestão dos seus recursos hídricos (MIRANDA, 2001).

Definida como “[...] a área drenada por um determinado rio ou por um

sistema fluvial” (CRISTOFOLETTI, 1974, p. 81), a bacia hidrográfica assume

importância cada vez maior na gestão de recursos hídricos, pois esta unidade espacial

torna possível “[...] avaliar de forma integrada as ações humanas sobre o ambiente e

seus desdobramentos sobre o equilíbrio hidrológico, presente no sistema representado

pela bacia de drenagem” (BOTELHO; SILVA, p. 155). Em outras palavras, todas as

atividades humanas que ocorrerem no domínio da bacia hidrográfica, refletirá direta ou

indiretamente na qualidade e quantidade das águas dos rios que a integram. Neste

contexto, Leal (2003 p.71) salienta que

Considerar uma bacia hidrográfica como uma unidade de gestão, portanto, impõe abordar todos seus elementos (água, solo, flora, fauna, uso e ocupação do solo, etc.), e compreendê-la como uma totalidade composta por elementos sociais, inter-relacionais e dinâmicos.

Tundisi e Straskraba apud Tundisi (2003 p. 148-149), apontam 11 princípios

básicos a serem adotados para um gerenciamento eficaz de bacias hidrográficas:

• considerar a dinâmica do ecossistema; • reter as estruturas naturais; • reter e proteger a biodiversidade; • considerar a sensibilidade das bacias hidrográficas às entradas

externas de material; • utilizar o conhecimento das interações entre fatores abióticos e

bióticos; • respeitar a sustentabilidade do desenvolvimento; • gerenciar a bacia hidrográfica como parte de um todo e adotar

uma visão sistêmica; • avaliar opções de longo prazo; • avaliar efeitos globais do gerenciamento; • confrontar usos conflitantes; • determinar a capacidade assimilativa do sistema e não excedê-la.

O autor ressalta ainda que “Para o gerenciamento adequado da bacia hidrográfica, a

interação entre o setor privado e usuários, universidade e setor público é fundamental”

(TUNDISI, 2003 p. 109).

Embora seja consenso entre os diferentes autores a importância e eficácia de

se adotar a bacia hidrográfica não somente para fins de gestão dos recursos hídricos,

mas também para a análise e planejamento ambientais (BOTELHO; SILVA, 2004;

LEAL, 2003; PITTON, 2003; TUNDISI, 2003, MOTA, 1995), esta unidade apresenta,

porém, algumas limitações que, no entanto devem ser ponderadas.

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19

Os limites físicos de uma bacia hidrográfica não correspondem,

necessariamente, aos limites territoriais das unidades administrativas. Tal fato reforça a

necessidade de se considerar a gestão de bacias hidrográficas dentro de um contexto

maior, ou seja, no âmbito do planejamento regional integrado, envolvendo diferentes

entidades administrativas que ultrapassem os limites territoriais dos municípios (ou até

mesmo dos estados em alguns casos), de modo a evitar contendas no gerenciamento e

nos usos múltiplos das águas e potencializar o desenvolvimento social e econômico da

região.

No entanto, os aspectos positivos de se adotar a bacia hidrográfica como

unidade física para gestão integrada dos recursos hídricos sobrepõem-se em larga escala

às limitações existentes. Dentre estes aspectos positivos, Leal (2003 p.72) destaca:

a) possibilidade de organizar a população em relação à temática ambiental, em função das águas, superando deste modo as barreiras impostas por limites e setores políticos e administrativos, facilitando a comunicação entre eles;

b) permite uma maior facilidade para sistematizar e executar ações dentro de um espaço onde se pode colimar os interesses dos atores ao redor do uso do território da bacia, de uso múltiplo da água e do controle de fenômenos naturais adversos;

c) possibilidade de avaliar os resultados alcançados em termos de manejo dos recursos naturais, visto a sua repercussão na descarga d’água, ou seja, trabalhando com base nas bacias hidrográficas pode-se medir o que está se conseguindo em termos da desejada sustentabilidade ambiental;

d) o uso de critérios hídricos ambientais estabelece como princípio o respeito ao ambiente e seu funcionamento físico e ecológico; ao considerar os critérios sociais pode-se obter a eqüidade, a minimização de conflitos e a segurança da população;

e) favorece o crescimento econômico, mediante o melhor uso dos recursos naturais da bacia e dos recursos de infra-estrutura existente de modo harmônico com as metas de transformação produtivas e de uso.

Em síntese, equivale a dizer que a bacia hidrográfica tem características

peculiares que permitem a realização de estudos multidisciplinares quanto às propostas

de gerenciamento, estudos e atividades de cunho ambiental.

1.3. Gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil

Os primeiros dispositivos legais atinentes ao aproveitamento hídrico no

Brasil datam do início do século XX e tinham como objetivo primeiro o suprimento

hidrelétrico dos centros urbanos e atender às atividades industriais.

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Os poderes concedentes dos aproveitamentos {hídricos} eram os Estados e os Municípios, pois os interesses de uso da água eram restritos a essas esferas de Governo e não se configuravam conflitos entre as diversas utilizações (Barth, 1999, p. 563).

No entanto, a necessidade de novos empreendimentos hidrelétricos para

atender a demanda crescente suscitou o debate jurídico da necessidade de um aparato

legal em nível federal sobre os aproveitamentos hídricos. Surge, então, o primeiro

dispositivo jurídico em âmbito federal, o Código das Águas (Lei Alfredo Valadão), que

o Governo Federal apresentou ao Congresso Nacional em 1907 (BARTH, 1999).

O autor ainda ressalta que o Código das Águas tramitou durante 27 anos no

Congresso Nacional, sendo promulgado somente em 1934 pelo Decreto nº 24.643, de

10 de setembro, que regulamenta, em nível federal, o aproveitamento hidrelétrico

brasileiro. “A concessão dos aproveitamentos hidrelétricos e dos serviços de

distribuição de energia elétrica, antes de responsabilidade de Estados e Municípios, com

o Código das Águas passou para o âmbito da União” (BARTH, 1999, p. 563).

A partir do pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Brasil passou por

uma forte expansão industrial com pesados investimentos no setor industrial brasileiro,

em decorrência do incremento da política de substituição de importações.

A Constituição de 1946 delega aos Estados e Municípios a competência de

legislar sobre recursos hídricos, numa tentativa de descentralizar o poder do Governo

Federal. No entanto, o setor hidrelétrico continuou centrado nas mãos do Governo

Federal, principalmente com a regulamentação da Lei nº 3.890-A, de 25 de abril de

1961, que cria a ELETROBRÁS, estatal brasileira responsável pelo setor energético.

Com o Golpe Militar de 1964, fica exclusivamente sobre a égide da União

legislar sobre as águas, que, não diferentemente dos governos anteriores, centra esforços

no setor hidrelétrico. Aos Estados cabia somente implementar leis complementares.

Dois marcos ocorridos na década de 1970 foram de grande importância em

termos de políticas de recursos hídricos no Brasil.

O primeiro, em nível internacional, foi a Assembléia Geral das Nações

Unidas, realizada na cidade de Estocolmo (Suécia), em 1972. Na ocasião, especialistas e

autoridades políticas do mundo inteiro se reuniram para discutir e propor soluções

ambientais no âmbito internacional.

O evento, de acordo com Barth (1999, p. 564),

[...] despertou a sociedade brasileira para a necessidade de proteção e conservação do meio ambiente, em particular, das águas. As

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legislações estaduais passaram a se preocupar com a proteção do meio ambiente, embora o tema não estivesse contido na Constituição Federal.

O segundo evento, este no âmbito do governo nacional, decorreu do acordo

firmado entre o Ministério de Minas e Energia e o Ministério do Interior, em 1978, que

culminou na criação do Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas

(CEEIBH), cujos principais objetivos eram a “[...] classificação dos cursos de água da

União e o estudo integrado e o acompanhamento da utilização racional dos recursos

hídricos” (BARTH, 1999 p. 564).

Estes dois eventos tiveram forte repercussão no âmbito das políticas

ambientais e em particular no surgimento de propostas de gerenciamento integrado dos

recursos hídricos, seja entre os governos estaduais, como no governo federal.

A Constituição Federativa do Brasil de 1988 estabelece que as águas

interiores são de domínio da União e dos Estados, de modo que não existem águas

municipais.

À União pertencem os lagos, rios e quaisquer correntes que banhem mais de

um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro

ou dele provenham (CF artigo 20 inciso III). Aos Estados, por seu turno, pertencem as

águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas,

nesse caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União ( CF artigo 26 inciso I).

É privativo da União legislar sobre as águas. No entanto, a competência da

União para legislar sobre normas gerais não exclui competência suplementar dos

Estados (CF artigo 24 § 2º).

As principais mudanças introduzidas pela Constituição Federal de 1988 dizem respeito ao domínio das águas onde, salvo decisão em contrário do Poder Judiciário, desaparecem as águas municipais, as comuns e as particulares e foi definido o domínio das águas subterrâneas para os Estados (Barth, 1999, p. 564).

As legislações estaduais, no que concerne aos recursos hídricos, tratam

especificamente de políticas, diretrizes e critérios de gerenciamento. Como salienta

Barth (1999, p. 170), “[...] são disposições sobre a organização dos Estados para a

administração de águas de seu domínio subordinado à legislação federal sobre as

águas”. O autor ainda ressalta que ao legislar sobre os recursos hídricos os Estados “[...]

não contrariam a disposição constitucional de exclusividade da União para legislar

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sobre água, mas somente exercem o poder e, mais que isso, o dever de zelar pela

quantidade e qualidade de seus recursos hídricos” (BARTH, 1999, p. 170).

Embora os municípios não tenham a competência direta de legislar sobre os

recursos hídricos, a legislação municipal tem um papel importante na proteção e

conservação dos mesmos. É da competência do município, por exemplo, ordenar e

disciplinar o uso e ocupação do solo, que, quando feitos de modo apropriado,

contribuem sobremaneira para a proteção e conservação das águas de seu território.

Outras atribuições dos municípios para a proteção dos recursos hídricos são

apontadas por Tundisi (2003, p. 114):

• Proteção dos mananciais e das bacias hidrográficas • Tratamento de esgotos e de águas residuárias industriais • Tratamento e disposição dos resíduos sólidos industriais • Tratamento e disposição dos resíduos sólidos (lixo doméstico,

industrial e de construção civil) • Controle da poluição difusa • Treinamento de gerentes, técnicos ambientais e de recursos

hídricos • Educação sanitária da população • Programas de mobilização comunitária e institucional • Campanhas de introdução de tecnologia para diminuir o

desperdício da água tratada. • Estímulo e apoio às práticas coletivas de organização dos usos da

água por associações ou grupos de pessoas.

Em resumo, as três esferas governamentais – União, Estados e Municípios –

têm funções diferentes e complementares em se tratando de gestão e gerenciamento de

recursos hídricos. Aos governos estaduais e municipais cabem, prioritariamente,

diretrizes de uso e gerenciamento e proteção dos recursos hídricos de seus territórios.

A Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a Política

Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos e

regulamenta o inciso XIX do artigo 21 da Constituição Federal, significa o que há de

mais avançado em termos de políticas hídricas em âmbito federal. A referida lei

estabelece que fica sob a incumbência da Agência Nacional de Águas (ANA), criada

pela Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, a responsabilidade de implementar a Política

Nacional de Recursos Hídricos.

A Lei 9.433/97 estabeleceu instrumentos importantes como: planos de

recursos hídricos; enquadramento dos corpos d’água em classes segundo os usos

preponderantes da água; outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; cobrança pelo

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uso da água; criação do Sistema de Informações sobre os Recursos Hídricos, e

estabelece outras medidas e diretrizes igualmente importantes.

Com a implementação da Lei 9.433/97, o arranjo institucional dos

organismos criados pelo atual sistema de gerenciamento hídrico no Brasil ficou

configurado da seguinte forma:

• Conselho Nacional de Recursos Hídricos – regulamentado pelo Decreto

nº 4.613, de 11 de março de 2003, tem como prerrogativa coordenar a

política e o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. O Conselho

Nacional de Recursos Hídricos é o “[...] órgão mais elevado da hierarquia

do Sistema Nacional de Recursos Hídricos em termos administrativos, a

quem cabe decidir sobre as grandes questões do setor, além de dirimir as

contendas de maior vulto” (BOTELHO; SILVA, 2004, p. 185).

• Comitês de Bacias Hidrográficas – comissões que atuam no âmbito das

bacias hidrográficas, compostas por representantes dos governos Federal,

Estadual e Municipal, usuários de suas águas e entidades civis. Dentre

suas competências, nos termos do artigo 39 incisos I-IX da Lei 9.433/97,

destaca-se: debater questões atinentes aos recursos hídricos; arbitrar

conflitos em primeira instância; aprovar o Plano de Recursos Hídricos da

Bacia e acompanhar sua execução; estabelecer os mecanismos de

cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

• Agências de Águas – tendo como área de atuação a mesma área de um ou

mais Comitês de Bacia Hidrográfica, a Agência de Águas exercerão a

função de secretaria executiva do (s) respectivo (s) Comitê (s), de Bacia

Hidrográfica; é “ [...] também um tipo de organismo que serve de ‘braço

técnico’ de seu (s) correspondente (s) Comitê (s), destinado a gerir os

recursos oriundos da cobrança pelo uso da água” (BOTELHO; SILVA,

p.185).

• Organizações Civis de Recursos Hídricos – formadas por entidades que

atuam no setor de planejamento e gestão de recursos hídricos, sejam elas

governamentais ou não governamentais, como consórcios e associações

intermunicipais de bacias hidrográficas, associações de usuários – desde

que sejam organizações legalmente constituídas e efetivamente

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reconhecidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos ou pelos

Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos.

1.4. Gerenciamento dos recursos hídricos no Estado de São Paulo

O modelo de gestão e gerenciamento dos recursos hídricos do Estado de São

Paulo, com forte inspiração do modelo francês e inspirador da Lei Federal nº 9.433/97,

prima pelo planejamento integrado, adoção da bacia hidrográfica como unidade de

planejamento e gestão, decisões tomadas por colegiados formados por representantes do

poder público e da sociedade civil (MIRANDA, 2003, p.136).

A Lei Estadual nº 7.663, de 30 de dezembro de 1991, que instituiu normas

de orientação à Política Estadual de Recursos Hídrico bem como ao Sistema Integrado

de Gerenciamento de Recursos Hídricos estabelece os seguintes órgãos e entidades

diretamente relacionados ao gerenciamento dos recursos hídricos no Estado:

• Conselho Estadual de Recursos Hídricos – órgão central, de caráter

colegiado, consultivo e deliberativo, composto por representantes do

Estado, dos Municípios e da sociedade civil, ao qual compete, entre

outras atribuições: discutir e aprovar propostas de projetos de lei

referentes ao Plano Estadual de Recursos Hídricos; exercer funções

normativas e deliberativas relativas à formulação, implantação e

acompanhamento da Política Estadual de Recursos Hídricos; efetuar o

enquadramento dos corpos de água em classes; dirimir, originalmente, os

conflitos entre os Comitês de Bacias Hidrográficas. O Conselho tem

assegurada a participação de representantes de universidades, institutos

de ensino superior e de pesquisa, do Ministério público e da sociedade

civil organizada.

• Comitês de Bacias Hidrográficas – outro órgão também de caráter

colegiado, consultivo e deliberativo, composto por representantes do

governo estadual, municipal, sociedades civis e usuários. Dentre suas

competências, destaca-se: aprovar propostas da bacia hidrográfica para

integrar o Plano Estadual de Recursos Hídricos; aprovar propostas do

plano de utilização, conservação, proteção e recuperação dos recursos

hídricos da bacia hidrográfica e o enquadramento dos corpos d’águas em

classes de usos preponderantes; promover atendimentos, cooperação e

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eventual conciliação entre os usuários; promover estudos, divulgação e

debates, dos programas prioritários de serviços e obras a serem

realizados no interesse da coletividade.

• Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos (CORHI) –

órgão responsável pela coordenação do Plano Estadual de Recursos

Hídricos que deverá oferecer apoio às atividades do Conselho Estadual

de Recursos Hídricos e dos Comitês de Bacias; incube-se de desencadear

ações para a concretização dos programas prioritários, em articulação

com órgãos e entidades do Estado, Municípios e sociedade civil.

• Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO) – tem como objetivo

dar suporte financeiro à Política Estadual de Recursos Hídricos e conta

com recursos financeiros do Estado, dos Municípios e da União. O

FEHIDRO é supervisionado pelo Conselho de Orientação do Fundo

Estadual de Recursos Hídricos e é composto por representantes do

Estado, dos Municípios e da sociedade civil e tem a prerrogativa de

orientar e aprovar a captação e aplicação dos recursos do Fundo, em

consonância com os objetivos e metas estabelecidos pelo Plano Estadual

de Recursos Hídricos (PERH).

A Lei nº 9.034, de 27 de dezembro de 1994, que institui normas de

orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos, definiu a divisão hidrográfica do

Estado de São Paulo em 22 Unidades Hidrográficas de Gerenciamento de Recursos

Hídricos (UGRHIs), conforme mostrado no mapa 1.

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Mapa 1 – Divisão hidrográfica do Estado de São Paulo

Fonte: Tundisi, 2003

De acordo com Leal (2003, p. 72),

As UGRHIs constituem as unidades físico-territoriais nas quais devem ocorrer a compatibilização, consolidação e integração dos planos de bacias, programas, normas e procedimentos técnicos e administrativos a serem formulados ou adotados no processo de gerenciamento descentralizado dos recursos hídricos.

A definição das UGRHIs leva em conta tanto características físico-

territoriais (geologia, geomorfologia, hidrologia) como aspectos político-sociais

(demográficos, sócio-econômicos, planejamento regional). Outros aspectos também são

considerados, como, por exemplo: nenhuma UGRHI pode ultrapassar um conjunto de

50 municípios; nenhuma UGRHI pode ter área superior a 25 km2; suas denominações

obedecem a critérios que consideram tanto o rio principal, divisão segundo o trecho dos

cursos dos rios (alto, médio e baixo) e denominações regionais. As UGRHIs ainda são

classificadas segundo as atividades predominantes em cada uma delas em industrial,

agropecuária, conservação e em industrialização.

A tabela 1 mostra as 22 UGRHIs que compõem o Estado de São Paulo com

suas respectivas denominações, tipo (de acordo com o uso predominante do solo), área,

população total e densidade populacional.

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Tabela 1 – Divisão hidrográfica do Estado de São Paulo em UGRHs UGRHI Nome Tipo Área em

km2 Pop. Total* Dens. Pop.*

1 Mantiqueira Conservação 679 60.904 89,70 2 Paraíba do Sul Industrial 14.547 1.770.227 121,69 3 Litoral Norte Conservação 1.987 223.914 112,69 4 Pardo Em

industrialização 9.038 971.011 107,44

5 Piracicaba, Capivari e Jundiaí

Industrial 14.314 4.314.242 301,40

6 Alto Tietê Industrial 5.985 17.696.946 2.956,88 7 Baixada

Santista Industrial 2.886 1.474.665 510,97

8 Sapucaí / Grande

Em industrialização

9.170 609.635 66,48

9 Mogi-Guaçu Em industrialização

9.170 609.635 66,48

10 Sorocaba / Médio Tietê

Industrial 11.708 1.561.475 133,37

11 Ribeira de Iguape/Litoral Sul

Conservação 16.607 358.565 21,59

12 Baixo Pardo / Grande

Em industrialização

7.249 311.896 43,03

13 Tietê / Jacaré Em industrialização

11.749 1.324.270 112,71

14 Alto Paranapanema

Conservação 22.795 678.607 29,77

15 Turvo / Grande

Agropecuária 16.037 619.330 36,80

16 Tietê / Batalha

Agropecuária 13.151 619.330 36,80

17 Médio Paranapanema

Agropecuária 16.829 619.330 36,80

18 São José dos Dourado

Agropecuária 6.732 214.597 31,88

19 Baixo Tietê Agropecuária 15.787 684.641 43,37 20 Aguapeí Agropecuária 13.068 347.435 26,59 21 Peixe Agropecuária 10.780 417.726 38,75 22 Pontal do

Paranapanema Agropecuária 12.493 452.131 36,19

Fonte: http://www.cetesb.sp.gov.br – acesso em 8/9/06 Org. SOUZA, B. F * IBGE - Censo demográfico 2000

Apesar da existência de 22 unidades de gerenciamento no Estado de São

Paulo, o Estado conta com apenas 21 comitês de bacias hidrográficas, haja vista que as

UGRHIs Aguapeí/Peixe formam um único comitê.

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Capítulo 2

FATORES QUE AFETAM A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS

O dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa traz cinco definições

para o verbete “qualidade”. Duas delas, em particular, interessam neste capítulo, que

tratará especificamente dos fatores que afetam a qualidade da água.

A primeira definição diz respeito ao conjunto de propriedades, atributos ou

condições das coisas, capaz de lhes determinar a natureza; representa, aqui, uma

característica absoluta do objeto, não derivando de uma comparação com outro. Neste

sentido, pode-se dizer da qualidade da água: é uma substância líquida, cujas moléculas

são formadas por um átomo de oxigênio e dois átomos de nitrogênio que, em condições

normais de pressão e temperatura, apresenta-se incolor, insípida e inodora, etc... Neste

sentido, ressalte-se, a qualidade da água independe do uso ou de quaisquer outros

atributos que lhe sejam conferidos.

A segunda definição, por sua vez, diz respeito aos aspectos valorativos que

permitem avaliar e, conseqüentemente, aprovar, aceitar ou recusar qualquer coisa,

conferindo-lhe um mérito, um valor.

A qualidade da água, neste sentido, então, tem um caráter avaliativo. Falar

que uma determinada água é de qualidade equivale a dizer que ela poder ser empregada

para uma finalidade específica.

Nas palavras de Branco e Rocha (1977, p. 7),

Entre as qualidades naturais dos objetivos em geral, são incluídas a cor, o aspecto, etc. Com relação à água, entretanto, é necessário salientar que o que chamamos de ‘cor’ e de ‘aspecto’ não são qualidades intrínsecas ou naturais da substância água (que é incolor e de aspecto sui generis), mas sim derivadas de interferências estranhas à sua natureza. Por isso, tais qualidades passam a ser avaliativas, controláveis ou padronizáveis. Em suma, não avaliamos ou padronizamos as qualidades da água em si, mas sim aquilo que ela pode conter de estranho.

O debate acerca da qualidade da água – na segunda acepção aqui apresentada

–, tem sido uma constante nos dias atuais, haja vista o estado avassalador de degradação

dos recursos hídricos verificado sobretudo nos centros urbanos, onde a complexidade

das atividades humanas e o adensamento populacional aumentam cada vez mais o

consumo de água resultando, por conseguinte, no comprometimento de sua qualidade.

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Qualidade da água, entretanto, deve ser compreendida como um termo

relativo, uma vez que a qualidade propriamente dita de uma determinada água vai

depender da utilização a que ela se destina, como, por exemplo:

• para o abastecimento humano;

• para irrigação agrícola;

• para dessedentação de animais;

• para recreação de contato primário ou secundário;

• para a manutenção de vida aquática.

A água para sua utilização mais nobre – o consumo humano – deve seguir

determinados critérios mínimos de qualidade estética e sanitária, de modo que não

ponham em risco a saúde daqueles que a consomem. Quando estes critérios são

estabelecidos por autoridades competentes, diz-se de padrões de qualidade, que no

âmbito internacional são estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMC).

É importante salientar, que as diretrizes da OMS para água potável, servem apenas como referência, devendo ser adaptadas ao perfil de qualidade ambiental de cada região específica, que determina as características de poluição do manancial utilizado para abastecimento público (REBOUÇAS, 1999, p. 26).

No Brasil, os padrões de qualidade da água são estabelecidos pelo Ministério

da Saúde, através da Portaria nº. 1469/GM, de 29 de dezembro de 2000, que estabelece

o padrão de potabilidade da água para o consumo humano de uso obrigatório em todo o

território nacional. Segundo a Portaria, toda água destinada ao consumo humano deve

obedecer ao padrão de potabilidade e está sujeita à vigilância da qualidade da água. Esta

Norma não se aplica às águas envasadas e a outras, cujos usos e padrões de qualidade

são estabelecidos em legislação específica (Anexo, Capítulo I, artigos 2º e 3º ).

A qualidade da água de uma bacia hidrográfica está intimamente relacionada

com as características físico-naturais, bem como às atividades humanas ali

desenvolvidas.

Quanto às condições naturais, dependendo das características pedológicas

(solos friáveis, por exemplo, permitem maior carregamento de sedimentos para os

corpos d’água) e o tipo de cobertura vegetal podem contribuir, em maior ou menor

grau, com materiais particulados em suspensão ou materiais dissolvidos para os corpos

d’água, alterando sua qualidade.

O homem, por seu turno, pode comprometer a qualidade da água de acordo

com o uso e ocupação do solo que propicia no entorno da bacia, como por exemplo:

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• Intensidade de ocupação da bacia;

• Prática de atividades poluidoras (indústria, mineração);

• Uso de fertilizantes e defensivos agrícolas;

• Criação de animais (cloriformes fecais, etc).

2.1 Poluição dos recursos hídricos

Poluição, nos termos do artigo 3º inciso III da Lei Federal nº. 6. 938/81, que

dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, é definida como sendo a

degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições

adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d)

afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou

energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Verifica-se, entretanto,

uma amplitude de significados.

Em se tratando de recurso hídrico, especificamente, Mota (1995, p. 37)

considera poluição “[...] qualquer alteração de suas características de modo a torná-lo

prejudicial às formas de vida que ele normalmente abriga ou que dificulte ou impeça um

uso benéfico definido para ele”. Observa-se, novamente, a relatividade do termo, haja

vista que a água pode estar poluída ou não de acordo com um determinado uso a que se

destina, pois “[...] uma água com certos teores de impurezas pode ser considerada

poluída para um determinado uso e não ser para outro” (Mota, 1995, p. 37).

A alteração da qualidade dos corpos d’água decorre comumente de causas

naturais como também de causas antrópicas.

2.2. Fontes naturais que alteram a qualidade dos corpos d’água

As fontes naturais que alteram a qualidade da água para determinados usos

de uma bacia hidrográfica decorrem da própria dinâmica da natureza, se bem que as

atividades humanas podem perfeitamente intensificar esse processo. São oriundas das

características pedológicas (dependendo dos componentes predominantes dos solos,

estes podem ter maior ou menor susceptibilidade à erosão), decomposição de vegetais e

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de animais mortos, interferências climatológicas (períodos de chuva ou de estiagem) –

são fatores naturais que podem, em certa medida, alterar a qualidade das águas de uma

bacia hidrográfica, podendo prejudicar determinados usos.

O carregamento de sedimentos pedológicos e de decompostos de vegetais e

animais para os fundos de vale, por exemplo, tem grande implicância no equilíbrio

ecológico dos mananciais. Nas palavras de Mota (1995, p. 46),

(...) a deposição de materiais nos leitos dos mananciais, além de provocar o assoreamento, com a conseqüente diminuição da capacidade de acumulação da água e os problemas disto resultantes, pode ocasionar, também, distúrbios ecológicos. O material sedimentado provoca soterramento de pequenos animais, plantas ou ovos de peixes, destruindo-os por asfixia, podendo, também, arrastar para o fundo organismos que vivem em suspensão, ou obstruir os órgãos respiratórios de peixes e outros animais aquáticos.

2.3 Fontes antrópicas de poluição

As fontes de origem antrópicas, por outro lado, são muito mais complexas e

implicam em um grau muito maior de comprometimento da qualidade da água e do

manancial como um todo. Decorrem das atividades desenvolvidas como o uso e

ocupação do solo e podem ser categorizadas, grosso modo, em domésticas (esgotos e

resíduos sólidos), industriais (efluentes e resíduos sólidos) e agropastoris.

2.3.1 Fontes domésticas

Os esgotos domésticos, entendidos como a água residuária de uso domiciliar

decorrente de sua imensa gama de atividades (descargas sanitárias, água de pia, de

banho, lavagem de roupas, de utensílios domésticos) constituem-se em uma importante

fonte de degradação da qualidade das águas superficiais, haja vista que quando lançados

“in natura” nos corpos d’água receptores é um grande responsável pela poluição dos

mesmos.

Os esgotos domésticos se caracterizam por possuir uma composição mais ou

menos definida, variando apenas a concentração residuária em função dos padrões

sócio-econômicos e culturais das famílias e sazonais.

Uma característica importante dos esgotos domésticos e que está diretamente

relacionada com a qualidade da água do corpo receptor, consiste na concentração

elevada de matérias orgânicas ricas em nutrientes (substâncias biodegradáveis) que,

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dependendo da concentração lançada, podem provocar fortes impactos nos corpos

d’águas, isto por que tais substâncias

(...) promovem um desequilíbrio das comunidades aquáticas, pois ocasionam uma incorporação supra alimentar para os organismos decompositores fazendo com que estes organismos cresçam demasiadamente. [...] A ação da decomposição da matéria orgânica consome o oxigênio dissolvido na água impossibilitando a sobrevivência de organismos aeróbicos como os peixes (CAMARGO, 2003, p. 53).

As doenças de veiculação hídrica também são um problema que guarda estreitas

relações com a poluição das águas por fontes domésticas, pois os organismos patogênicos

(...) não se desenvolvem espontaneamente nos rios ou em outros corpos d’água, mas são aí introduzidos graças à prática de emprego com água como elemento de lavagem e destino final de resíduos das habitações ou de áreas contaminadas por excrementos de origem humana (BRANCO, 1999, p. 229).

As doenças infecto-contagiosas de veiculação hídrica são comumente

classificadas em três grupos, em consonância com os modos de propagação, que são:

1. Ingestão de água contaminada – quando organismos patogênicos são

lançados nos corpos d’água e esta é ingerida sem um prévio

tratamento de desinfecção (cólera, febre tifóide, gastrointerite).

2. Contado com água contaminada – doenças transmitidas ao seres

humanos a partir do contato destes com organismos patogênicos

presentes na água. (sarna, tracoma, esquistossomose).

3. Vetores que se desenvolvem na água – doenças transmitidas por

insetos que se desenvolvem na água (dengue, malária, febre amarela).

A maioria das doenças transmitidas pela água poderia ser evitada se fossem

tomadas algumas medidas profiláticas, com, por exemplo:

• proceder a proteção dos mananciais, evitando a poluição dos

mesmos;

• tratamento prévio dos esgotos domésticos antes de serem

lançados nos corpos d’água;

• evitar o consumo e contato primário com águas

contaminadas;

• medidas educacionais, de saúde e de higiene para a

população.

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Estas simples medidas seriam suficientes para diminuir as milhares de

mortes e internações que ocorrem no mundo inteiro em decorrência de doenças

relacionadas com a contaminação das águas.

2.3.2 Efluentes industriais

Todas as atividades industriais utilizam água em seus processos produtivos,

que vai culminar na geração de resíduos líquidos, cujo potencial poluidor está

diretamente relacionado com a natureza das atividades desenvolvidas.

Os efluentes industriais, ao contrário dos esgotos domésticos, sofrem uma

grande variação em sua composição, de acordo com os tipos de atividades

desenvolvidas pelos diferentes ramos industriais, podendo acarretar um efeito maior ou

menor sobre os corpos d’água receptores.

As indústrias químicas, por exemplo, tem sido motivo de preocupação e de

uma vigilância mais rigorosa por parte das autoridades sanitárias devido ao seu enorme

potencial de gerar efluentes oriundos de elementos ou compostos químicos altamente

tóxicos, que nem sempre são retirados ou neutralizados pelos modernos sistemas de

tratamento de efluentes (MARTIN, 2000), podendo causar danos irreversíveis aos

ambientes aquáticos.

Outro uso industrial da água altamente maléfico para os corpos hídricos é a

utilização destes para a diluição e/ou assimilação de resíduos que, dependendo da carga

de poluentes lançada, pode acarretar danos igualmente irreversíveis aos corpos hídricos.

Mota (1995, p. 39) apresenta as principais alterações causadas pelos resíduos

líquidos industriais nos corpos d’água receptores:

• Demanda Bioquímica de Oxigênio, em muitas indústrias, elevada; • Presença de compostos químicos tóxicos; • Temperatura elevada, presente em águas de resfriamento; • Cor, turbidez e odor; • Nutrientes; • Sólidos dissolvidos; • Ácidos e álcalis; • Óleos, graxas e similares; • Microorganismos patogênicos.

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O autor salienta ainda que as indústrias que mais poluem os recursos hídricos

no Brasil são as fábricas de papel e celulose; indústria química; açúcar e álcool; aços e

metais; têxtil; alimentícias (bebidas, laticínios); curtumes; matadouros; petroquímicas.

2.3.3 Disposição de resíduos sólidos

A disposição de resíduos sólidos, sejam eles de origem doméstica, industrial,

comercial ou quaisquer outras, é outra fonte importante de comprometimento da

qualidade da água, quando feitos inapropriadamente, como próximo às margens dos

cursos d’água ou até mesmo dentro do manancial propriamente dito.

A disposição irregular dos resíduos sólidos pode causar nos corpos d’água

perturbações de ordem física, química e biológica (CONDINI, 2001).

• Perturbações físicas – as perturbações mais comuns de ordem física

em decorrência do acúmulo de resíduos sólidos nos corpos d’água

decorrem do aumento da turbidez da água; formação de bancos de

lodos e sedimentos no fundo provocando assoreamento e alteração no

sistema de vida aquática e variação da temperatura.

• Perturbações químicas – decorrem da presença de elementos ou

compostos químicos nos resíduos que quando em contato com os

corpos d’água, podem causar mudanças na cor, acidez, toxidez,

envenenamento de plantas e de animais aquáticos, etc.

• Perturbações biológicas – os resíduos lançados na água tanto podem

provocar a extinção de organismos aquáticos como também podem

fornecer nutrientes favorecendo a proliferação de organismos

aquáticos, culminando da eutrofização do corpo d’água, que nada

mais é senão “ [...] o enriquecimento das águas com nutrientes,

causando a proliferação da flora aquática – algas e plantas aquáticas

[...]” (MOTA, 1995, p. 50), o que traz como conseqüência alterações

na água como sabor, odor, toxidez, favorecimento de organismos

patogênicos, principalmente em ambientes lênticos.

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2.3.4 Fontes agropastoris

As principais fontes de poluição dos recursos hídricos decorrentes das

atividades agropastoris consistem no uso de fertilizantes e defensivos agrícolas

(inseticidas, fungicidas, bactericidas, herbicidas que visam proporcionar uma maior

produtividade) e nos excrementos de animais – muitas vezes, ricos em microorganismos

patogênicos.

Utiliza-se nas atividades agropastoris dois tipos de pesticidas: os pesticidas

clorados orgânicos (não biodegradáveis) e os pesticidas fosforados orgânicos

(biodegradáveis). Embora estes tenham um maior grau de toxicidade, permanecem

muito menos tempo no solo, enquanto os primeiros, pelo fato de serem recalcitrantes,

permanecem por muito mais tempo no solo e subsolo, tempo esse que pode durar até

vários anos (MOTA, 1995).

De maneira geral,

Além dos efeitos sobre o homem, a poluição da água por pesticidas pode ocasionar: morte de invertebrados aquáticos, como camarões e caranguejos, e também de peixes; enfraquecimento e conseqüente destruição de ovos de aves que se alimentam de peixes contaminados; morte de animais, após a ingestão de águas com pesticidas (MOTA, 1995, 48).

O autor salienta ainda que “[...] o tratamento convencional da água para

abastecimento humano tem pequeno efeito sobre os pesticidas. Por isso, os padrões de

qualidade da água potabilizável são muito rigorosos com relação a estes produtos”

(MOTA, 1995, p.48).

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Capítulo 3

3. MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA

O aumento consubstancial do consumo de água face da intensificação da

complexidade das atividades humanas trazendo, como conseqüência, o

comprometimento cada vez maior na qualidade das águas, tem despertado as

autoridades ligadas ao setor de gerenciamento de recursos hídricos para a necessidade

do acompanhamento e controle da qualidade das águas dos mananciais, de modo a

garantir os seus usos múltiplos e integrado.

O monitoramento da qualidade da água constitui-se em uma ferramenta

importante para exercer esse acompanhamento e controle da qualidade da água.

Nos termos do artigo 2º inciso XXV da Resolução CONAMA nº 357/05 –

que dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu

enquadramento – monitoramento consiste na medição ou verificação de parâmetros de

qualidade e quantidade de água, que pode ser contínua ou periódica, utilizada para

acompanhamento da condição e controle da qualidade do corpo de água.

O monitoramento da qualidade da água, assim entendido, não consiste tão-

somente da verificação de seus parâmetros de qualidade e quantidade, mais é uma

atividade fundamental no gerenciamento de recursos hídricos, pois oferece informações

importantes sobre o estado de evolução da qualidade da água, informações de suma

importância para as tomadas de decisão dos planejadores.

Nas palavras de Braga et. al. (1999, p. 639),

O conceito de monitoramento da qualidade da água é muito mais amplo do

que o simples verificar se os padrões legais de qualidade da água estão sendo

obedecidos ou não. Deve atender à necessidade de se responder o que está sendo

alterado e por que estas modificações estão ocorrendo. O gerenciamento da qualidade

da qualidade da água precisa dessas respostas para que as ações tomadas sejam

eficientes na redução dos danos ao meio ambiente, atuais e futuros. É importante que se

estabeleçam formas de utilização desses dados coletados, permitindo que essas

informações sejam úteis ao gestor dos recursos hídricos e à sociedade e que delas resulte

um passo a mais no conhecimento dos processos da natureza.

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O monitoramento, então, assume um papel cada vez mais relevante ante o

estado de degradação em que se encontra a maioria dos mananciais superficiais.

3.1 Tipos de monitoramento

Existem, segundo Tundisi (2003), dois tipos básicos de monitoramento de

qualidade da água: o monitoramento para orientação (freqüência limitada, poucos

parâmetros utilizados) e o monitoramento sistemático (alta freqüência, constante e

periódico e se utiliza de muitos parâmetros). Ambos, respectivamente,

[...] referem-se à avaliação inicial, e à avaliação permanente regular de um

sistema com a repetição de um conjunto de análises e informações que possibilitem

verificar tendências, avaliar impactos, prevenir eventos catastróficos até certo ponto e

dar orientações para futuras ações. (TUNDISI, 2003, p. 128).

Para se proceder ao monitoramento sistemático da qualidade da água é

necessário, primeiramente, selecionar os parâmetros de qualidade da água a serem

empregados, definir pontos para as coletas de amostras e a freqüência das mesmas.

Deste modo, têm-se as ferramentas necessárias para avaliar têmporo-espacialmete a

qualidade do manancial, analisando a diversidade de concentrações medidas, podendo,

então, ser avaliada a evolução da qualidade da água do manancial, obtendo-se uma fonte

de informações importante para direcionar as ações dos gestores no que concerne às

medidas de proteção e conservação do manancial em padrões adequados.

Sob esta ótica, o monitoramento tem como meta os seguintes objetivos

(BRAGA et. al., 1999, p. 642):

• identificação de concentrações anormais, por lançamentos contínuos ou acidentes, para fins de fiscalização

• detecção de tendências de alteração das concentrações • avaliação de alterações do ecossistema • estimativas de fluxo de poluentes • monitoramento de fluxo de poluentes em eventos • avaliação geral da bacia.

A criação de um banco de dados contendo todas as informações colhidas no

monitoramento é o passo seguinte a ser tomado, pois vai possibilitar o acompanhamento

da qualidade da água o que é de fundamental importância para orientar as tomadas de

decisão dos gestores.

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3.2. Enquadramento hídrico

O enquadramento hídrico em classes – atendendo os dispositivos da Lei

Federal 9.433/97 – nos termos do artigo 3º inciso XX da Resolução CONAMA nº. 357,

de 18 de março de 2005 – consiste no estabelecimento de meta ou objetivo de qualidade

da água a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um segmento de corpo de

água, de acordo com os usos preponderantes pretendidos. Procura-se, com isso,

diminuir ao longo do tempo os custos de combate à poluição das águas, mediante ações

preventivas e permanentes.

De acordo com a referida resolução, as águas do território nacional são

classificadas em: águas doces (águas com salinidade igual ou inferior a 0,5‰); águas

salobras (águas com salinidade superior a 5‰ e inferior a 30‰); e águas salgadas

(águas com salinidade igual ou superior a 30‰) – totalizando treze classes distintas.

As águas doces recebem cinco classes de qualidade, em consonância com os

usos preponderantes ou pretendidos.

o Classe Especial – podem ser destinadas:

• ao abastecimento para o consumo humano, com desinfecção (remoção ou

inativação de organismos potencialmente patogênicos);

• à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas;

• à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção

integral.

o Classe 1 – podem ser destinadas:

• ao abastecimento para o consumo humano, após tratamento simplificado, que

consiste na clarificação por meio de filtração e desinfecção e correção do pH

quando necessário;

• à proteção das comunidades aquáticas;

• à recreação de contato primário (contato direto e prolongado com a água, como

esqui aquático, natação, mergulho, atividades nas quais a possibilidade de

ingestão de água é elevada);

• à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se

desenvolvem rente ao solo e sejam ingeridas cruas sem a remoção da película.

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o Classe 2 – podem ser destinadas:

• ao abastecimento para o consumo humano, após tratamento convencional

(clarificação com utilização de coagulação e floculação, seguida de desinfecção

e correção de pH) ou avançado (técnicas de remoção e/ou inativação de

constituintes refratários aos processos convencionais de tratamento);

• à proteção das comunidades aquáticas;

• à recreação de contato primário (esqui aquático, natação, mergulho);

• à irrigação de hortaliças, frutas e de parques, campos de esportes e lazer,

podendo haver contato direto;

• à aqüicultura e atividade de pesca.

o Classe 3 – podem ser destinadas:

• ao abastecimento para o consumo humano, após tratamento convencional ou

avançado;

• à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;

• à pesca amadora;

• à recreação de contato secundário (onde o contato com a água é esporádico ou

acidental, com pesca e navegação);

• à dessedentação de animais.

o Classe 4 – podem ser destinadas:

• à navegação;

• à harmonia paisagísticas.

O enquadramento das águas em classes, no entanto, nos termos da resolução

nº 357/05, não significa que as águas de melhor qualidade não possam ser aproveitadas

em usos menos exigentes; podem sim, desde que tais usos não comprometam a

qualidade da água. No entanto, todo outorga de direito de uso da água deve respeitar as

classes em que os corpos d’água estão enquadrados, não podendo comprometer sua

qualidade alterando-a para classes inferiores.

3.3. Rede de monitoramento da qualidade da água no Estado de São Paulo

A rede de monitoramento da qualidade das águas interiores no Estado de São

Paulo fica sob a responsabilidade da Companhia de Tecnologia Ambiental (CETESB) e

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opera desde 1974. Até o ano de 2005, a CETESB contava com 395 pontos de

amostragem de qualidade da água distribuídos entre os principais rios e reservatórios

que compõem as 22 UGRHIs do Estado, o que permite um amplo conhecimento das

condições reinantes nestas unidades.

A rede de monitoramento de qualidade água da CETESB tem como objetivo

geral levar ao conhecimento dos grupos técnicos (Secretarias de Estado / Comitês de

Bacias Hidrográficas / Empresas de Saneamento) e ao público em geral, informações

atinentes à qualidade da água dos mananciais de abastecimento público e à qualidade da

balneabilidade das principais praias visitadas nos finais de semana.

Quanto ao público técnico, procura-se (CETESB):

• avaliar a evolução da qualidade da água doce;

• propiciar o levantamento das áreas prioritárias para o controle da

poluição das águas;

• identificar trechos de rios onde a qualidade da água possa estar mais

degradada, possibilitando ações preventivas e de controle da

CETESB, como a construção de estações de tratamento de esgotos

(ETEs) por parte dos municípios responsáveis pela poluição ou a

adequação de lançamentos industriais;

• subsidiar o diagnóstico da qualidade das águas doces utilizadas para

o abastecimento público e outros usos e

• dar subsídio técnico para a elaboração dos Relatórios de Situação dos

Recursos Hídricos, realizados pelos Comitês de Bacias

Hidrográficas.

Quanto à população em geral, procura-se, principalmente:

• informar as condições de balneabilidade das praias de reservatórios

em boletins semanais e

• informar a situação de qualidade dos principais mananciais de

abastecimento público do Estado de São Paulo - divulgação bimestral

do Índice de Qualidade de Água Bruta para fins de Abastecimento

Público (IAP).

Até o ano de 2001, a CETESB utilizou no seu monitoramento o Índice de

Qualidade da Água (IQA), índice adaptado da “Nation Sanitation Foundation” dos

Estados Unidos, para o levantamento da qualidade das águas. O IQA utilizava os

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seguintes parâmetros: temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido (OD), demanda

bioquímica de oxigênio (DBO), coliformes termotolerantes, nitrogênio total, fósforo

total, resíduo total e turbidez. Tais parâmetros têm como característica primeira refletir a

contaminação dos corpos hídricos por lançamentos de esgotos domésticos. “É

importante também salientar que este índice foi desenvolvido para avaliar a qualidade

das águas, tendo como determinante principal a sua utilização para o abastecimento

público, considerando aspectos relativos ao tratamento dessas águas” (CETESB).

A partir de 2002, no entanto, a CETESB passou a adotar a utilização de dois

índices de qualidade da água dos reservatórios de água doce, quais sejam, o Índice de

qualidade de água bruta para fins de abastecimento público (IAP) e o Índice de

qualidade de água para a proteção de vida aquática (IVA).

O quadro a seguir mostra a distribuição dos pontos de monitoramento do

IAP e do IVA distribuídos entre 22 unidades de gerenciamento e Recursos Hídricos do

Estado de São Paulo.��

Quadro 2 – Distribuição da rede de monitoramento do IAP e do IVA em 2005 nas 22 UGRHIs do Estado de São Paulo UGRHI Nome IAP IVA

1 Mantiqueira 01 01 2 Paraíba do Sul 16 16 3 Litoral Norte 07 07 4 Pardo 04 04 5 Piracicaba, Capivari e

Jundiaí 12 26

6 Alto Tietê 41 29 7 Baixada Santista 07 06 8 Sapucaí / Grande 04 03 9 Mogi-Guaçu 04 16

10 Sorocaba / Médio Tietê 21 18 11 Ribeira de Iguape/Litoral

Sul 06 06

12 Baixo Pardo / Grande 02 02 13 Tietê / Jacaré 05 05 14 Alto Paranapanema 06 05 15 Turvo / Grande 10 08 16 Tietê / Batalha 03 03 17 Médio Paranapanema 03 03 18 São José dos Dourado 01 01 19 Baixo Tietê 07 07 20 Aguapeí 05 05 21 Peixe 03 03 22 Pontal do Paranapanema 05 04

Fonte: http://www.cetesb.sp.gov.br - acesso em 25/10/2006 Org. SOUZA, B. F.

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3.2.1. Índice de qualidade de água bruta para fins de abastecimento público (IAP)

O IAP é composto por um conjunto de dois grupos de índices: o Índice de

Qualidade da Água (IQA), que já era utilizado anteriormente, e tem por objetivo medir

o grupo de parâmetros básicos de qualidade da água (temperatura da água, pH, oxigênio

dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, coliforme fecal, nitrogênio total, fósforo

total, resíduo total e turbidez) e o Índice de substância tóxicas e organolépticas (ISTO),

índice esse relacionado com a medição dos parâmetros que indicam substâncias tóxicas

(teste de mutagenicidade, potencial de formação de trihalometanos { THM, que são

compostos orgânicos derivados do metano}, cádmio, chumbo, cromo total, mercúrio e

níquel) e de parâmetros que indicam substâncias organolépticas (fenóis, ferro,

manganês, alumínio, cobre e zinco). Desde modo, o IAP será o produto da ponderação

do IQA e do ISTO (IAP = IQA x ISTO).

O IAP completo será designado como sendo aquele que inclui no grupo de Substâncias Tóxicas (ST) do ISTO, o Teste de Ames e o Potencial de Formação de THM, e será aplicado para todos os pontos da Rede de Monitoramento que são utilizados para abastecimento público. Nos demais pontos, o IAP será calculado excluindo-se tais parâmetros. [...] Parte dos parâmetros do ISTO apresentam freqüência semestral, uma vez que os dados históricos dos mesmos retratam concentrações baixas nas águas. Sendo assim, nos meses onde não existem resultados para esses parâmetros, o ISTO será calculado desconsiderando tais ausências (CETESB). �

O IAP, então, enquadrará a qualidade das águas em cinco classificações,

como mostrado no quadro a seguir.

���������������� � �������������������������������������������

Condição da água Pontuação

Qualidade ótima� 79 < IAP ≤� 100�

���� ��������� 51 < IAP ≤ 79�

���� ������������� 36 < IAP ≤ 51�

���� ������� �� 19 < IAP ≤ 36�

���� ��������� ��� IAP < 19�

������������ !!"""������������#����

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3.2.2. Índice de Qualidade de Água para a Proteção de Vida Aquática (IVA)

O IVA é o índice de qualidade da água utilizado pela CETESB para avaliar a

qualidade das águas para fins de proteção da biota aquática, seja ela faunística ou

florística, de modo que é um parâmetro específico para este fim, diferenciando-se por

completo do IAP. Este índice é aplicado nos reservatórios hídricos, cujas águas sejam

adequadas para a proteção de comunidade aquática, enquadrados segundo legislação

específica ( Lei Estadual nº 997/76, Decreto Estadual nº 8468/76).

O IVA tem como finalidade avaliar a concentração de contaminantes

químicos tóxicos, os parâmetros pH e oxigênio dissolvido – que são essenciais para a

presença de vida aquática – e a medição do grau trófico do corpo hídrico.

Deste modo, o IVA é composto pelo Índice de Parâmetros Mínimos para a

Preservação da Vida Aquática (IPMCA) e pelo Índice do Estado Trófico (IET).

O IPMCA é composto por dois grupos de parâmetros. O primeiro avalia a

concentração de substâncias tóxicas que identificam o nível de contaminação de

substâncias potencialmente danosas à biota aquática (cobre, zinco, chumbo, cromo,

mercúrio, níquel, cádmio, surfactantes e fenóis ), enquanto o segundo grupo engloba os

parâmetros essenciais para a preservação de vida aquática (pH, oxigênio dissolvido e

toxicidade).

O IET, por sua vez, avalia os diferentes graus de trofia dos corpos hídricos,

ou seja, o grau de enriquecimento dos corpos hídricos por nutrientes (principalmente

fósforo e nitrogênio) resultando no crescimento excessivo de algas e de macrófitas

aquáticas.

O IET utilizado pela CETESB considera em suas análises, dois parâmetros: o fósforo (principal agente causador da eutrofização) e a clorofila (considerada como uma unidade de medida de resposta do corpo hídrico ao agente causador, ou seja, ao fósforo). Assim, o índice médio engloba, de forma satisfatória, a causa e o efeito do processo. Deve-se ter em conta que num corpo hídrico, em que o processo de eutrofização encontre-se plenamente estabelecido, o estado trófico determinado pelo índice da clorofila � certamente coincidirá com o estado trófico determinado pelo índice do fósforo. Já nos corpos hídricos em que o processo esteja limitado por fatores ambientais, como a temperatura da água ou a baixa transparência, o índice relativo à clorofila a irá refletir esse fato, classificando o estado trófico em um nível inferior àquele determinado pelo índice do fósforo. Além disso, caso sejam aplicados algicidas, a conseqüente diminuição das concentrações de clorofila a resultará em uma redução na classificação obtida a partir do seu índice (CETESB – grifo nosso).��

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�O IET permite classificar o estado trófico dos corpos d’água em quatro

classes de trofia:

• Classe 1 – corpos d’água oligotróficos: limpos ou apresentam baixa

eutrofização, não ocorrendo interferências indesejáveis sobre o uso

da água.

• Classe 2 – corpos d’água mesotróficos: apresentam eutrofização em

estado intermediário, com possíveis implicações sobre a qualidade da

água, mais em níveis ainda aceitáveis, na maioria dos casos.

• Classe 3 – corpos d’água eutróficos: apresentam eutrofização

elevada, acima dos níveis em condições naturais, portanto, indicam

ambientes impactados por atividades antrópicas, ocorrendo alterações

indesejáveis na qualidade da água, interferindo nos seus usos

múltiplos.

• Classe 4 – corpos d’água hipereutróficos: apresentam alto grau de

eutrofização, com elevadas concentrações de matéria orgânica e

nutrientes, indicando o comprometimento acentuado de sua

qualidade e dos seus usos, podendo acarretar em afloração de algas,

mortandade de peixes e causar conseqüências indesejáveis às

atividades pecuárias nas regiões ribeirinhas. �

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Capítulo 4 A BACIA DO RIO SANTO ANASTÁCIO

Localizada na porção oeste do Estado de São Paulo, a bacia do rio Santo

Anastácio possui uma área de 2.135,60 km2 e localiza-se geograficamente entre as

coordenadas 21º 49’ 07’’ a 22º 16’ 54’’ de latitude S e 51º 24’27’’ a 52º 06’ 33’’ de

longitude W Gr. A bacia pertence à UGRHI 22, de acordo com a divisão hidrográfica

do Estado de São Paulo (Lei nº 9.034/94) e sua gestão é feita pelo Comitê das Bacias

Hidrográficas do Pontal do Paranapanema.

A UGRHI 22 – Pontal do Paranapanema limita-se ao sul com o rio Paraná;

ao norte com a UGRHI do Peixe; a oeste com o rio Paraná e a leste, com a UGRHI

Paranapanema (mapa 2).

Mapa 2 – Localização da UGRHI 22 – Pontal do Paranapanema

Fonte: Meneguetti, (2001)

Área de estudo

Bacia do Rio Santo Anastácio

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Leal (2003, p. 73) apresenta algumas características peculiares que tornam a

UGRHI 22 diferente das demais, de modo que esta UGRHI

(...) não constitui uma Bacia Hidrográfica única, que possa ser delimitada segundo critérios geomorfológicos, com divisores de águas e rede de drenagem principal; dois de seus limites são constituídos por rios, os quais, na nova política hídrica, devem constituir os meios de união das terras ou territórios e não os limites de áreas de atuação de Comitês de bacias”.

A bacia do rio Santo Anastácio abrange terras de 12 municípios paulistas que

estão sob o domínio da UGRHI 22 – Pontal do Paranapanema: Regente Feijó,

Anhumas, Presidente Prudente, Álvares Machado, Pirapozinho, Presidente Bernardes,

Santo Anastácio, Piquerobi, Presidente Venceslau, Marabá Paulista, Caiuá e Presidente

Epitácio – o que por si só demonstra sua importância para a região.

4.1 Aspectos físico-naturais da bacia do Santo Anastácio

4.1.1 Geologia

A bacia do rio Santo Anastácio está situada sobre a província

geomorfológica denominada de Planalto Ocidental Paulista, onde ocorre o Grupo Bauru

(formação do Cretáceo Superior), grupo que compreende as Formações Caiuá, Santo

Anastácio, Adamantina e Marília.

A Formação Adamantina abrange a maior parte da bacia. De acordo com

Almeida (1996), esta formação se caracteriza por apresentar sedimentos mais finos e

bem selecionados com maior riqueza de estruturas em relação aos sedimentos das outras

formações que compõem o Grupo Bauru. A autora ainda salienta que

Na Bacia do Santo Anastácio, esta formação apresenta uma diversidade litológica muito grande com variações composicionais de estratos horizontais arenosos e siltosos, mais restritamente argilosos, com freqüência de cimento e nódulos carbonáticos. Essas características contribuem para originar formas de relevo com colinas suavizadas ou suavemente onduladas nas quais, as rupturas de declives e morrotes estão sempre ligadas à existência de rochas ricas em cimento carbonático que são mais resistentes à erosão” (ALMEIDA, 1996, p. 27).

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4.1.2 Geomorfologia A geomorfologia da bacia do Santo Anastácio, bem como toda a região do

oeste do Estado de São Paulo, é caracterizada pelo predomínio de colinas suavemente

onduladas entremeadas por esparsos morrotes residuais rebaixados pela erosão, assim

como extensos chapadões areníticos rebaixados pela erosão (CARVALHO, 1997, p.

12). Ainda com relação à sua morfologia, “A maior parte da bacia apresenta uma feição

constituída por colinas médias, onde predominam interflúvios com área superior a 4

km2, topos extensos e aplainadas, vertentes com perfis retilíneo e convexos”

(SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, apud MARTIN, 2000, p. 79).

4.1.3 Pedologia

Os solos predominantes na Bacia do Santo Anastácio apresentam-se

arenosos, com predominância de frações finas a muito finas e apresentam teor de argila

inferior a 30% (SUDO, 1980).

Pedologicamente, os solos da bacia são enquadrados nas classes: Latossolo

Vermelho Escuro, Latossolo Vermelho Amarelo, Podzólico Vermelho Escuro,

Podzólico Vermelho Amarelo, Cambissolos, Solos Litólicos, Glei Pouco Húmido e

Solos Aluviais (STEIN, 1999).

Latossolo Vermelho Escuro – segundo Carvalho (1997, p.12), “[...] ocorrem

em colinas convexas de relevo suavemente ondulado, com declividade de 3 a 8% e

vertentes, normalmente, longas (250 a 500m) a muito longas (superiores a 500m). Esta

unidade pedológica é composta por solos minerais não hidromórficos, de coloração

vermelho-escuro e apresentam textura do substrato arenito, variando de argilosa a média

argilosa.

Os perfis apresentam horizontes praticamente homogêneo, de estrutura granular, maciça, sendo difícil notar qualquer descontinuidade, além de serem relativamente profundos, até métricos, friáveis e acentuadamente drenados na maior parte do perfil, pelo menos nos horizontes mais superficiais (STEIN, 1999, p. 98).

Latossolo Vermelho Amarelo – esta unidade pedológica é bem similar à

primeira aqui apresentada. A principal diferença está em apresentar teores mais baixos

de Fe2O3 e cores mais amareladas, e “[...] sua presença é muito limitada, aliando-se

exclusivamente a setores de relevo quase planos, suave ondulado, preferencialmente nas

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porções mais suavizadas próximas às calhas principais ou a níveis de terraços” (STEIN,

1999, p. 98).

Podzólico Vermelho Escuro – os solos desta unidade pedológica “[...]

ocorrem em relevos de colinas onduladas dos níveis escalonados com declividade de 8 a

20%, vertentes médias (100 a 250 m) e retas ou mistas (convexa/reta)” (CARVALHO,

1997, 13). Possuem textura arenosa-média ou média, substrato rochoso arenítico e teor

de argila variado ao longo do perfil.

Podzólico Vermelho Amarelo – apresentam-se semelhantes aos solos

Podzólico Vermelho Escuro.

São solos bem a moderadamente drenados, variando de rasos a profundos e textura variando de arenosa/média a argilosa muito argilosa. Distribuem-se em relevos de encostas declivosas, de colinas médias e morrotes alongados (MARTIN, 2000, p. 81).

Cambissolos – solos minerais não hidromórficos e apresentam textura

arenosa-média. Segundo Stein, (1999, p. 100),

Ocorrem geralmente associados a litólicos e são igualmente rasos. Têm expressão limitada na bacia, sendo mais afeitos a feições locais e mais enérgicas das fontes de relevo, como divisores secundários mais estreitos, encostas de anfiteatros mais íngrimes e rupturas de declividade conspícua.

Solos Litólicos – grupo de solos minerais pouco desenvolvidos, assentando-

se o horizonte A diretamente sobre o horizonte C ou sobre a própria rocha.

Caracterizam-se ainda por possuir texturas arenosa-média ou média e alta friabilidade.

“A característica estrutural dos relevos do alto e de boa parte do médio vale possibilitam

o desenvolvimento freqüente de Litólicos, porém com expressão local e relacionada às

porções de declividade mais acentuada das formas de relevo” (STEIN, 1999, p. 100).

Glei Pouco Húmido –solos hidromórficos mal drenados que possuem

redução de ferro durante o seu desenvolvimento e apresentam-se de cor acinzentada.

“São solos rasos que ocorrem em relevos planos associados aos baixos terraços fluviais,

principalmente ao longo do Santo Anastácio” (STEIN, 1999, p. 100).

Solos Aluviais – “são solos cujas texturas refletem diretamente a variação da

deposição fluvial, predominantemente arenosos, com colorações alternadas em tons de

claros e escuros de cinza.” (STEIN, 1999, p. 100).

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4.1.4. Clima

O oeste paulista apresenta um clima de transição do subtropical para o

tropical devido à sobreposição de três principais correntes de circulação atmosférica

regional que são a Massa Polar Continental, a Massa Polar Atlântica e a Massa Tropical

continental.

Nas palavras de Carvalho (1997, p. 16),

O clima predominante na Bacia do rio Santo Anastácio, segundo a classificação de Koeppen é Aw, tropical com estação chuvosa no verão e seca no inverno, onde a temperatura do mês mais quente é superior a 22º C e a do mês mais frio é superior a 18º C. Apenas para a região de Pirapozinho, a sudoeste da Bacia, o clima é Cfa, mesotérmico úmido sem estiagem em que a temperatura do mês mais frio é inferior a 18º C e a do mês mais quente superior a 22º C e a precipitação do mês mais seco e maior que 30 mm e menor que 60 mm.

De acordo com Sant’anna Neto (1996), a pluviosidade média da região gira

em torno de 1.200 a 1.500 mm anuais.

4.2. Vegetação original, ocupação, desmatamento e problemas físico-ambientais na

bacia do rio Santo Anastácio

A região da Bacia do rio Santo Anastácio era coberta originalmente por

florestas densas, latifoliada tropical e áreas de florestas semidecíduas ou

subcaducifólias. Quanto ao vale do Santo Anastácio, especificamente, Leite, (1970 p.

26), afirma que, segundo relatos da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São

Paulo de 1905, apresentava-se “ [...] revestido também de uma mata alta que se estende

da cabeceira à foz desse rio e, em cujo centro, aparecem, de quando em quando,

pequenos campos rodeados de uma vegetação frondosa”.

O desmatamento da bacia do Santo Anastácio tal como em toda a porção

oeste do Estado de São Paulo aconteceu concomitantemente às primeiras ocupações,

consubstanciadas a partir do avanço da Estrada de Ferro Sorocabana para o Oeste que,

em 1919, inaugurou a estação de Presidente Prudente (STEIN, 1999), efetivando-se de

fato a colonização da região.

É importante ressaltar, no entanto, que mesmo antes da chegada da estrada

de ferro, a região já possuía uma tímida ocupação caracterizada pela criação de gado,

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atividade pouco expressiva economicamente naquele momento. Como assinala Almeida

(1996, p. 7-8),

A mata densa com enclaves de campos naturais, e fertilidade do solo rico em húmus aliado a uma topografia de planalto com o relevo em forma de colinas suavemente onduladas, fartura de água, clima quente e úmido e temperatura elevada de verão coincidindo com chuvas abundantes, fizeram desta região uma frente pioneira para migrantes mineiros que buscavam novas terras para o plantio de café e criação de gado.

O início da colonização do oeste paulista confunde-se com o início do

desmatamento da região. Intensificando-se a colonização, o desmatamento também se

intensificava.

A colonização pioneira, como já salientado, foi imensamente estimulada

pelo avanço da estrada de ferro para o oeste, que chegou a Presidente Prudente em

1919. Já no ano de 1920, o café apontava como atividade importante no oeste paulista,

estimulado pela importância do produto no mercado internacional e em detrimento do

esgotamento dos solos no Vale do Paraíba, região que até então detinha o monopólio do

plantio do produto no Brasil. Imensas áreas de matas deram lugar aos cafezais e o

desmatamento estava instaurado. Do período de 1930 a 1940, a região de Presidente

Prudente se tornou a maior produtora de café do Estado.

A partir da década de 1940, no entanto, verifica-se uma acentuada

decadência da cultura cafeeira em virtude do desgaste do solo arenoso, geadas que

dizimaram lavouras e da entrada no mercado internacional de outros países produtores

de café, declinando substancialmente as exportações brasileiras.

O algodão foi o produto que veio logo subseqüente ao café, gozando de certo

prestígio no mercado interno e externo durante um longo período. O desmatamento,

contudo, acentuou-se sobremaneira a partir das décadas de 1940 e 1950,

contemporaneamente à fase áurea do algodão. A partir da década de 1960 restava muito

pouco da cobertura vegetal original na região do oeste paulista, restringindo-se à

Reserva Florestal do Morro do Diabo (em Teodoro Sampaio) e alguns vestígios de

matas já bastantes degradadas, espalhadas pela região (ALMEIDA, 1996).

Quanto à criação de gado, atividade que vinha sendo desenvolvida desde os

primeiros colonizadores, foi ganhando projeção ao longo dos tempos e hoje é a

principal atividade econômica desenvolvida na região. As primeiras criações de gado da

região da bacia do Santo Anastácio eram praticadas em pastagens naturais (campos),

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mas logo com o crescimento e expansão do rebanho, áreas florestadas foram dando

lugar às pastagens cultivadas.

Na Alta Sorocabana, segundo Leite (1970), em 1940 as áreas ocupadas por pastagens eram inferiores às de lavouras e representavam 11,5% da área total. Em 1967 já atingiam mais da metade dessa área. Na bacia do Santo Anastácio, hoje, atingem quase 90% de sua área, o que representa aproximadamente 188.000 hectares (STEIN, 1999, p. 112).

A ocupação generalizada do oeste paulista seguindo os modelos tradicionais,

caracterizados pelo desmatamento indiscriminado procedido pelo cultivo de culturas

sem as devidas medidas conservacionistas do solo, até a exaustão dos mesmos, pode ser

apontada como as primeiras causas dos problemas ambientais registrados na região.

O desmatamento acompanhava a necessidade de novas terras para o cultivo

agrícola e pastagem, atividades que foram ocupando desde as partes mais altas das

vertentes até os fundos dos vales, onde se encontravam as melhores terras para a prática

agrícola – terras inundáveis e ricas em húmus.

O desmatamento, contudo, foi a causa primeira de fortes desequilíbrios

ecológicos que advieram, dos quais o empobrecimento dos solos (seja em virtude das

próprias colheitas ou da lixiviação) e os processos erosivos em suas diferentes formas

(ravina, voçoroca e laminar) figuram entre os principais problemas de degradação das

terras decorrentes da ocupação e manejo inapropriados.

Vale ressaltar, a esta altura, que as formas erosivas supracitadas podem

decorrer da própria dinâmica da natureza como também podem ser largamente

influenciadas pela ação antrópica, principalmente a partir da prática da mecanização

agrícola, introduzida na região na década de 1950.

A este propósito, Stein (1999 p. 10) categoriza três grandes conjuntos de

fatores condicionantes naturais de erosão:

• Ligados à natureza do solo, envolvendo sua textura, estrutura e drenagem e que podem ser englobadas no conceito de erodibilidade;

• Ligados à morfologia do terreno, que dizem respeito à conformação da encosta e expressas através da declividade e do comprimento das mesmas;

• Ligados ao clima, essencialmente às chuvas que atingem a superfície do terreno, provocando desagregação e remoção do solo, e que podem ser considerados através do conceito de erosividade.

Com relação à atuação humana nos processos erosivos, o autor explica que

As atividades humanas constituem o principal fator na deflagração dos processos erosivos. Desde o impacto inicial, causado por

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desmatamentos e outras formas de destruição do meio, há uma ruptura no equilíbrio natural do meio físico e biótico. A erosão normal, própria da evolução da paisagem, cede lugar para a erosão acelerada, resposta incontinenti de um meio na busca de novas condições de estabilidade. Denotam-se os dois conjuntos básicos de fatores condicionantes dos processos erosivos, o natural, que pode ser simplificadamente expresso por fatores do meio físico representados por clima, substrato rochoso, relevo e solo, e o antrópico, extremamente variado ante as muitas possibilidades de ocupação das terras, obrigatoriamente abordado segundo os objetivos e o tipo de uso do solo (STEIN, 1999, p. 8).

As erosões em ravina e em voçoroca são reconhecidamente tidas como as

mais danosas ao meio ambiente em decorrência do seu grande poder de destruição dos

solos cultiváveis e da capacidade de produzir enormes quantidades de sedimentos que

são carregados para os fundos de vale, colmatando os cursos d’água. As erosões

laminares, por outro lado, embora sejam consideradas menos danosas, por não provocar

alterações significativas no relevo, também detém grande capacidade de remoção de

terras e de gerar grandes volumes de sedimentos, principalmente sob a ação de chuvas

prolongadas, tendo, como conseqüência, a lixiviação dos solos, culminando na perda de

nutrientes e aumentando sobremaneira os custos da produção agrícola.

4.3. Degradação da qualidade da água da bacia do Santo Anastácio

A qualidade da água de uma bacia hidrográfica está diretamente relacionada

com o uso e ocupação dos solos do seu entorno, mais especificamente do topo das

vertentes aos fundos de vale.

A bacia do rio Santo Anastácio, aqui em enfoque, desde o período das

colonizações pioneiras do oeste paulista até os dias atuais, vem passando por sérios e

sucessivos problemas de degradação ambiental com comprometimento direto tanto da

quantidade como da qualidade de suas águas.

A degradação porque passa atualmente a bacia do rio Santo Anastácio teve

início com o desmatamento generalizado, como também decorre dos sucessivos usos

dos solos sem as devidas medidas de proteção, desrespeitando-se por completo a

capacidade de suporte das terras tendo, como corolário, os processos erosivos

acelerados.

O desmatamento, sem dúvida, foi o primeiro grande impacto na bacia do rio

Santo Anastácio. A primeira conseqüência da desvegetação das vertentes é o

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carregamento de enormes volumes de sedimentos para os cursos d’água, resultando no

assoreamento dos mesmos.

A retirada da cobertura vegetal marginal dos rios (mata ciliar), que

desempenha importante função de proteção dos corpos d’água, está posta também como

outro grande fator de comprometimento da qualidade das águas. As matas ciliares – ou

matas galerias – são estreitas faixas de florestas marginais aos cursos d’águas que, por

efeito de lei, devem ser consideradas como áreas de preservação permanente (APP).

Segundo o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 4.771/65) e suas modificações

posteriores, a mata ciliar deve ser de no mínimo de 30 metros para cursos d’águas de

até dez metros de largura, podendo atingir até 500 metros, para cursos d’águas com

largura superior a 600 metros. Em se tratando de nascentes, independentemente da

situação topográfica, deverá ser preservado um raio de no mínimo 50 metros de largura.

As matas ciliares desempenham importantes funções em relação à

preservação dos cursos d’água, dentre as quais destacam-se: proteção contra a erosão;

conservação da biodiversidade; ciclos de nutrientes presentes na água; interesse

paisagístico; preservação de inundações; depuração das águas; estabilidade das margens

e barrancos dos cursos d’água, evitando o assoreamento do rio.

A pecuária extensiva, que hoje ocupa a maior parte da bacia, num primeiro

momento, provocou certo declínio na degradação, pois como salienta Stein (1999, p.

113),

A instalação de pastagens amaina parcialmente o quadro de degradação estabelecido com o desmatamento e lavoura. Inicialmente porque o manejo é menos agressivo quanto à remobilização dos solos, e depois ante a possibilidade de replantio após alguns anos, embora a prática de queimadas para a sua remoção ao fim do inverno e a inexistência de cuidados com a intensidade de pastoreio.

No entanto, o acesso do gado diretamente às margens do rio Santo Anastácio

e de seus afluentes tem provocado importantes danos de ordem ambiental como

processos erosivos (erosão zoógena), solapamento das margens resultando no aumento

da turbidez, podendo acarretar sérios problemas de desequilíbrio ecológico dos rios.

Além dos problemas de comprometimento da qualidade da água já

mencionados, outras importantes fontes de poluição verificadas atualmente, como

lançamento de esgotos domésticos “in natura” e de efluentes industriais, engrossam a

lista.

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O rio Santo Anastácio, de acordo com Martin (2000) recebia esgotos

domésticos de três importantes cidades da região: Presidente Prudente, Santo Anastácio

e Presidente Venceslau, e apenas a cidade de Santo Anastácio dispunha de sistema de

tratamento atingindo 80% de eficiência. Em setembro de 2004, no entanto, Presidente

Prudente inaugura sua estação de tratamento de esgoto, com estimativas de atingir 80%

de eficiência.

A demanda atual da água da bacia consiste primeiramente no abastecimento

público de Presidente Prudente, seguido pelo uso da água para a dessedentação animal

na pecuária extensiva (uso mais difundido na zona rural) e uso pouco expressivo para a

irrigação de culturas. A perfuração de poços é uma constante na zona rural, pois como

salienta Stein (1999, p. 126), a partir de coletas de dados de campo na região, “[...]

razoável parte dos núcleos rurais principalmente os mais estruturados, dispõe de poço

tubular para uso doméstico e para as demais atividades locais”.

O quadro atual da bacia do Santo Anastácio demonstra que esta bacia, ao

longo dos tempos, veio passando por sucessivos processos de comprometimento da

qualidade de suas águas, iniciados com o desmatamento decorrente das primeiras

ocupações até os mais recentes lançamentos de esgotos domésticos e efluentes

industriais em suas águas, fazendo com que a bacia figurasse, já na década de 1980, de

acordo com estudos do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São

Paulo (DAEE) como uma das bacias mais críticas da região (STEIN, 1999). Quanto a

este quadro de degradação da bacia do Santo Anastácio, como enfatiza Martin (2000,

pp. 92-93),

Trata-se de uma situação séria, porque apesar da rede hidrográfica relativamente densa e da relativa proximidade em relação aos dois grandes rios Paraná e Paranapanema, a maioria dos municípios vêm enfrentando problemas quanto à disponibilidade de mananciais a serem utilizados, principalmente, para o abastecimento público. Isso tem feito com que venham utilizando, cada vez com mais intensidade, as águas subterrâneas para usos mais exigentes e os mananciais superficiais para a diluição e transporte de esgotos domésticos e efluentes industriais.

Isto demonstra a necessidade premente de se recuperar a bacia do Santo

Anastácio, manancial potencialmente relevante para a região.

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Capítulo 5

MONITORAMENTO FÍSICO-QUÍMICO E BIOLÓGICO DA QUALIDADE DA

ÁGUA DO RIO SANTO ANASTÁCIO

Com uma área de drenagem de 1.965 km2, o rio Santo Anastácio possui suas

principais nascentes nos municípios de Anhumas e Regente Feijó e deságua na margem

esquerda do rio Paraná, em Presidente Epitácio. No seu percurso o rio passa por 12

municípios no Estado de São Paulo: Regente Feijó, Anhumas, Presidente Prudente,

Álvares Machado, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Santo Anastácio, Piquerobi,

Presidente Venceslau, Caiuá e Presidente Epitácio.

Para o monitoramento da qualidade da água do rio Santo Anastácio foram

considerados as variáveis físicas temperatura, turbidez e vazão média do rio nos trechos

monitorados, químicas pH, oxigênio dissolvido e condutividade elétrica e indicadores

biológicos, a partir da presença de macroinvertebrados bentônicos.

As medições foram realizadas nos meses de maio (dias 16 e 17) e outubro

(dias 30 e 31) do ano corrente. A escolha dos referidos meses se deu de modo a

contemplar as diferentes variações sazonais da pluviosidade do oeste paulista, uma vez

que as variações das variáveis de qualidade das águas dos rios possuem estreitas

relações com as intensidades pluviométricas. De acordo com Sant’anna Neto (1996), a

sazonalidade das precipitações na região de Presidente Prudente acontece da seguinte

maneira: na primavera/verão ocorre cerca de 70 a 75% das precipitações na região,

enquanto no outono/inverno as precipitações giram em torno de 25 a 30%. Em outras

palavras, o período mais chuvoso na região de Presidente Prudente se dá de outubro a

março enquanto o período mais seco se dá de abril a setembro.

Na escolha dos referidos meses, portanto, procurou-se avaliar a qualidade da

água exatamente nos períodos em que ocorre maior variação de seus parâmetros de

qualidade.

Para o monitoramento da qualidade da água do rio Santo Anastácio foram

selecionados quatro pontos distribuídos ao longo da área de manancial do rio. Os

trechos selecionados estão localizados na zona rural dos municípios de Anhumas e de

Presidente Prudente, onde predomina a pecuária extensiva, havendo também ocorrência

de cultivo de culturas agrícolas. No mapa 3 é indicada a localização dos pontos

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selecionados para a realização de amostragens da qualidade da água do rio Santo

Anastácio.

Ponto 1: Localizado sob as coordenadas geográficas S 22o 23’ 88,8’’ e W

51o 36’ 97,4’’, o ponto 1 está situado no bairro do Palmitalzinho, no Município de

Anhumas, e é o ponto mais próximo à nascente. A mata ciliar está presente nas duas

margens do rio em relativo bom estado. É o trecho que se apresenta em melhor estado

em termos de preservação das características físico-ambientais (foto 1).

Ponto 2: Sob as coordenadas geográficas S 22o 20’ 43,3’’ e W 51o 39’

89,7’’, o ponto 2 é um trecho da bacia cuja atividade predominante é a criação de gado

(área de pastagem). Este trecho encontra-se desprovido de qualquer cobertura de mata

ciliar e apresenta avançados processos de solapamento das margens em decorrência do

pisoteio do gado, que tem acesso livre às ambas as margens do rio, caracterizando-o

como um dos trechos mais erodidos e assoreados (foto 2).

Ponto 3: Localizado nas coordenadas geográficas S 22o 19’ 83,7’’ e W 51o

41’ 74,2’’, o ponto 3 está no bairro da Aviação em Presidente Prudente e apresenta

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acentuados processos de erosão e de assoreamento. A vegetação ciliar é escassa em

ambas as margens (foto 3).

Ponto 4: Localiza-se sob as coordenadas geográficas S 22o 20’ 43,6’’ e W

51o 43’ 45,2’’ e está situado sob a ponte que faz divisa com os municípios de Presidente

Prudente-Pirapozinho. As margens estão erodidas/assoreadas, apresentam vegetação

rasteira e há a presença de pastagem e zona de acesso a pessoas na margem direita (foto

4).

Foto 1- Ponto 1 – Bairro do Palmitalzinho (Anhumas) – apresenta-se melhor protegido por mata ciliar

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Foto 2 – Ponto 2 – predomínio de vegetação rasteira

Foto 3 – Ponto 3. Apresenta fortes processos de assoreamento e uma tímida vegetação

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Foto 4 – Ponto 4. Apresenta pouca cobertura vegetal e uma tímida mata ciliar

O rio Santo Anastácio é de domínio do Estado de São Paulo e, segundo o

Decreto Estadual nº10.755/77 que dispõe sobre o enquadramento dos corpos d’água,

tem suas águas enquadradas nas classes 2, 3 e 4 ao longo de seu percurso (conforme

mostra o mapa 4), de acordo com a variabilidade espacial das fontes poluidoras. As

principais fontes de poluição estão ligadas às ações antrópicas, como emissão de

esgotos domésticos e efluentes industriais e o uso indiscriminado de defensivos

agrícolas (agrotóxicos).

A melhora da qualidade da água ao longo do curso do rio deve-se,

principalmente, à diminuição das fontes pontuais de poluição e à entrada de alguns

tributários que desempenham importante papel na diluição da carga de poluição

recebida à montante (MARTIN, 2000).

5.1. Importância das variáveis utilizadas

5.1.1 Variáveis físicas

- Temperatura – a temperatura, ou a intensidade de calor de um corpo d’água, está

diretamente relacionada com fatores como latitude, altitude, estação do ano,

período do dia, profundidade do curso d’água, como também pode estar

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60

relacionada às atividades antrópicas, como, por exemplo, despejos industriais

(VON SPERLING, 2005).

A temperatura desempenha um papel principal de controle no meio aquático, condicionando as influências de uma série de parâmetros físico-químicos. Em geral, à medida que a temperatura aumenta, de 0 a 30º C, a viscosidade, tensão superficial, compressibilidade, calor específico, constante de ionização e calor latente de vaporização diminuem, enquanto a condutividade térmica e a pressão de vapor aumentam as solubilidades com a elevação da temperatura. Organismos aquáticos possuem limites de tolerância térmica superior e inferior, temperaturas ótimas para crescimento, temperatura preferida em gradientes térmicos e limitações de temperatura para migração, desova, incubação do ovo (CETESB).

Turbidez – a turbidez de um corpo d’água é medida em unidade nefelométrica de turbidez

(UNT) e consiste no grau de atenuação de intensidade que um feixe de luz sofre ao

atravessar um corpo d’água. A turbidez se intensifica de acordo com a presença de materiais

dissolvidos ou particulados em suspensão, sejam partículas inorgânicas (areia, silte, argila),

sejam detritos orgânicos (algas, bactérias, plâncton) e outros fatores de origem antrópica,

como emissão de esgotos sanitários, de efluentes industriais e erosão, resultando na

diminuição da transparência da água. De acordo com a Resolução CONAMA nº 357/05,

para a preservação de vida aquática de um curso d’água, a turbidez não deve ser superior a

100 UNT.

Alta turbidez reduz a fotossíntese de vegetação enraizada submersa e algas. Esse desenvolvimento reduzido de plantas pode, por sua vez, suprimir a produtividade de peixes. Logo, a turbidez pode influenciar nas comunidades biológicas aquáticas. Além disso, afeta adversamente os usos doméstico, industrial e recreacional (CETESB,).

- Vazão média – quanto à medida da vazão, é importante não somente porque mede

o volume de água num determinado trecho do rio, mas também por ser a vazão

de extrema importância para a qualidade e equilíbrio ecológico do rio, haja vista

que influencia nos processos de depuração das águas (diluição de esgotos

domésticos, dejetos industriais, elementos físico-químicos e bacteriológicos).

5.1.2. Variáveis químicas

- Potencial de Hidrogênio (pH) – o pH indica a acidez, neutralidade ou a

alcalinidade (concentração de íons de hidrogênio na água). A origem natural do

pH de um corpo d’água decorre de processos como dissolução de rochas,

absorção de gases da atmosfera, oxidação da matéria orgânica e fotossíntese,

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mas também pode provir de origem antrópica, como oxidação da matéria

orgânica em virtude de lançamentos de esgotos domésticos e de efluentes

industriais (VON SPERLING, 2005). A concentração de pH num corpo d’água

tem estreitas relações com o período do dia e a profundidade (quanto maior a

profundidade do rio, menor a concentração do pH).

A influência do pH sobre os ecossistemas aquáticos naturais dá-se diretamente devido a seus efeitos sobre a fisiologia das diversas espécies. Também o efeito indireto é muito importante podendo, determinadas condições de pH contribuírem para a precipitação de elementos químicos tóxicos como metais pesados; outras condições podem exercer efeitos sobre as solubilidades de nutrientes. [...] Os critérios de proteção à vida aquática fixam o pH entre 6 e 9 (CETESB).

- Oxigênio Dissolvido – o oxigênio dissolvido, grosso modo, indica a capacidade

de um corpo d’água natural manter vida aquática – haja vista que qualquer

organismo vivo depende do oxigênio para manter os processos metabólicos de

produção de energia e de reprodução – e é o principal parâmetro que caracteriza

os efeitos da poluição das águas por matéria orgânica (VON SPERLING, 2005).

A taxa de oxigênio num corpo d’água depende de características como

velocidade (quanto maior a velocidade da água, maior a renovação do oxigênio),

temperatura da água (quanto maior a temperatura, menor a taxa de oxigênio),

poluição (águas poluídas apresentam baixa concentração de oxigênio por causa

do consumo na decomposição de compostos orgânicos).

O teor de oxigênio dissolvido é um indicador de suas condições de poluição por matéria orgânica. Assim, uma água não poluída (por matéria orgânica) deve estar saturada de oxigênio. Por outro lado, teores baixos de oxigênio dissolvido podem indicar que houve uma intensa atividade bacteriana decompondo matéria orgânica lançada na água (MOTA, 1995, p.7).

De acordo com a Resolução COMANA nº 357/05, o teor de OD indicado

para a presença de vida aquática deve ser superior a 5 mg/l.

- Condutividade elétrica – a condutividade elétrica expressa numericamente a

capacidade de um corpo d’água conduzir corrente elétrica.

A condutividade também fornece uma boa indicação das modificações na composição de uma água, especialmente na sua concentração mineral, mas não fornece nenhuma indicação das quantidades relativas dos vários componentes. À medida que mais sólidos dissolvidos são adicionados, a condutividade da água aumenta. Altos valores podem indicar características corrosivas da água (CETESB,).

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62

A condutividade da água é medida em micrômetros por centímetro (µS/cm) e níveis superiores a 100 µS/cm indicam ambientes impactados (CETESB).

5.1.3 Indicadores biológicos de qualidade da água

Outro indicador utilizado neste trabalho para diagnosticar a qualidade da

água do rio Santo Anastácio consiste na utilização de macroinvertebrados bentônicos –

organismos cujo ciclo de vida ocorre total ou parcialmente em ambientes aquáticos –

como indicadores da qualidade da água. Os macroinvertebrados bentônicos são

organismos compostos por uma variedade de grupos taxonômicos, como Crustácea,

Mollusca, Heteroptera, Insecta, sendo o grupo dos insetos o mais variado e abundante.

Habitam, principalmente, o substrato de fundo (sedimentos, detritos, troncos, macrófitas

aquáticas, algas filamentosas, etc) e desempenham importantes funções como fonte de

alimentação para peixes, influenciam na ciclagem de nutrientes, na produtividade

primária, na decomposição e podem ser utilizados como indicadores da qualidade da

água (Resolução CONAMA nº. 357/05 artigo 8 § 3º).

Com relação à eficácia do método da utilização de organismos biológicos

como indicadores da qualidade da água, Souza (2001, p.60) salienta que os

[...] macroinveterbrados bentônicos, por exemplo, são mais comumente empregados em medidas e monitoramento de contaminação por pesticidas, mas também têm um papel importante na classificação do estado trófico de lagos e rios, sendo muito utilizados no monitoramento de reservatórios e trechos importantes de bacias hidrográficas sob diferentes níveis de impacto antrópico.

De acordo com Morral (2005), estes organismos possuem certas vantagens

de serem utilizados como indicadores da qualidade da água, haja vista que são de

tamanho relativamente grande, podendo ser visíveis a olho nu, ou simplesmente com o

auxílio de lupa de campo; as técnicas de coleta não requerem equipamentos caros e os

organismos são diversos e abundantes, havendo uma infinita gama de tolerância a

diferentes parâmetros de poluição.

La ventaja de utilizar a los macroinvertebrados es que, en principio, no es necesario realizar identificaciones a nivel de especie para aplicar los índices, sino que basta con realizar el reconocimiento de grupos taxonómicos más sencillos. Normalmente, se identifican a nivel de familias, para lo cual sólo se necesita, como mucho, una lupa manual de campo de 10 aumentos y una guía de macroinvertebrados. Con estas dos herramientas, cualquier persona tiene que ser capaz de realizar una identificación precisa y poder aplicar los índices biológicos (PUIG, 1999, p.139).

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Os microorganismos ainda possuem uma característica peculiar para a

avaliação dos recursos hídricos, pois “[...] enquanto amostragens químicas somente

indicam um potencial efeito de poluição em processos biológicos e ecológicos,

indicadores biológicos medem diretamente esse efeito, sendo um aliado decisivo na real

constatação da qualidade da água” (SOUZA, 2001, 62). A autora ainda salienta que “

[...] os bioindicadores podem integrar espacialmente os efeitos dos poluentes e também

indicar uma dimensão temporal dos mesmos, corroborando na identificação do estado

do sistema”.

A metodologia adotada para avaliar a qualidade da água a partir da presença

de macroinvertebrados como indicadores da qualidade da água, consiste numa

adaptação do Índice Iberian Biological Monitoring Working Party (Índice IBMWP),

desenvolvido por pesquisadores europeus, que consiste na atribuição de valores aos

diferentes táxons de macroinvertebrados, considerando-se para tal o grau de intolerância

à poluição ao nível da família.

Segundo esta metodologia, a partir dos indicadores biológicos é possível

avaliar o estado de conservação do rio em ruim, regular, bom ou muito bom, de acordo

com a presença das famílias de macroinvertebrados e sua intolerância à poluição. Cada

família recebe uma pontuação que varia de 1 a 10 pontos, consoante sua sensibilidade à

poluição. Quanto maior a pontuação que uma determinada família recebe, mais

intolerante ela é à poluição e sua presença no rio indica boa qualidade da água. Deste

modo, os organismos macroinvertebrados presentes num determinado trecho do rio

permitem diagnosticar a qualidade ecológica do rio naquele dado local.

Os procedimentos metodológicos para a análise das comunidades de

macroinvertebrados bioindicadores presentes num determinado trecho do rio divide-se

em três partes: a) coletas de amostras: b) triagem e identificação dos organismos ao

nível das famílias e c) análise dos dados.

A coleta dos organismos deve ser efetuada com um a rede de 250 µm de

porosidade (foto 5), posicionada contracorrente do rio, removendo-se a vegetação

submersa, pedras, substratos de fundo com a finalidade de coletar o maior número

possível de organismos presentes nestes subhabitats.

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Foto 5 – Procedimento de coleta de organismos

Coletados os organismos, deve-se colocá-los numa vasilha de plástico

preferencialmente de cor branca (foto 6) e, com o auxílio de pinças e de lupas de campo,

procede-se a triagem, separando os organismos por ordem e famílias a que pertencem,

de modo que sejam identificados todos os organismos presentes na amostra (foto 8).

Foto 6 – coleta de organismos Foto 7 – identificação dos organismos

Identificados os organismos, procede-se, agora, a atribuição de pontos que

cada um deles presentes na amostra recebe, consoante seu grau de exigência de

qualidade da água.

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5.2. Apresentação dos resultados

5.2.1. Análise das variáveis físico-químicas no mês de maio

As amostragens das variáveis físico-químicas realizadas no mês de maio

permitem analisar espacialmente as concentrações dos mesmos no rio Santo Anastácio,

como apresentado no quadro 1.

Quadro1 – Resultados obtidos para as variáveis físico-químicas analisadas, referentes ao mês

de maio de 2006

Variáveis Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4

pH 7,37 6,6 7,75 7,75

Oxigênio (mg/l) 9,9 9,6 9,1 8,7

Temperatura (ºC) 15,6 16,6 17,6 20,5

Cond. (µS/cm) 219,6 245,7 298,5 313,7

Turbidez (UNT) 25,15 77,6 20,22 35,57

Vazão (l/s) 65,807 213,757 234,0 231,607

As variáveis pH e oxigênio dissolvido (OD) estão dentro dos padrões

estabelecidos para a manutenção de vida aquática, que para tal o pH é estabelecido entre

6-9 e o OD maior de 5mg/l.

Quanto à temperatura, varia de 15,6ºC (primeiro ponto) a 20,5ºC (quarto ponto).

A medição do ponto 1 foi realizada pela manhã enquanto a medição do ponto 4, à tarde.

Portanto, pode-se inferir que tal variação pode decorrer do aumento natural da

temperatura ao longo do dia. Outro fator importante a ser considerado é que no ponto 1

há presença de mata ciliar que protege o trecho do rio da ação direta dos raios solares. É

importante notar a relação entre o aumento da temperatura e a diminuição do oxigênio

(gráfico 1).

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Relação temp x OD

10

12

14

16

18

20

22

1 2 3 4

Pontos

Tem

pera

tura

(ºC

)

8

8,5

9

9,5

10

OD

(mg/

l)

Temperatura oxigênio

Gráfico 1 – relação temperatura x oxigênio no mês de maio

Quanto à condutividade elétrica, esta se apresenta bem acima dos 100 µS/cm, o

que indica ambientes impactados, haja vista que cresce progressivamente do primeiro

ponto (219,6 µS/cm ) ao quarto ponto (313,7 µS/cm ). Nota-se estreitas relações entre o

aumento da temperatura e o aumento a condutividade elétrica, podendo estar

relacionados (gráfico 2).

Relação temp. x cond. elétrica

10

12

14

16

18

20

22

1 2 3 4

Pontos

Tem

pera

tura

(ºC

)

50

100

150

200

250

300

350

Con

d. e

létr

ica

(µS

/cm

)

Temperatura Condutividade

Gráfico 2 – Relação temperatura x oxigênio dissolvido

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67

Quanto à turbidez, esta tem maior grau no ponto 2 e menor no ponto 3. O

aumento da turbidez no ponto 2 (77,6 UNT) explica-se pelo fato de ser este ponto o

mais assoreado em decorrência do acesso do gado em todo o trecho e no momento da

medição havia a presença de gado no leito do rio à montante, de modo que o pisoteio do

gado contribuiu sobremaneira para aumentar turbidez da água. A melhora significativa

da turbidez do ponto 2 ao ponto 3, onde a turbidez é de 20,22 UNT, pode-se ser auferida

à incorporação de outros tributários (o aumento da vazão no ponto 3 é um indicador

disto) que contribui consideravelmente para a diminuição da turbidez neste ponto.

Quanto à vazão, registra-se menor vazão no primeiro ponto (65,807 l/s),

aumentando sistematicamente no segundo e no terceiro pontos, atingindo,

respectivamente, 213,757 l/s e 234 l/s. Do terceiro ao quarto ponto, no entanto, a vazão

declina para 231,129 l/s. O aumento da vazão do primeiro para o segundo e terceiro

pontos pode ser atribuída à incorporação de pequenos tributários do rio Santo Anastácio

e ao afloramento da água do lençol freático, enquanto à diminuição do terceiro ao

quarto ponto pode ser atribuída a processos de assoreamento do rio e solapamento das

margens culminando no alargamento do canal.

5.2.2 Análise das variações das variáveis físico-químicas no mês de outubro

O quadro a seguir mostra a variação das variáveis medidas nos pontos do

alto curso do rio Santo Anastácio no mês de outubro.

Quadro1 – Resultados obtidos para os parâmetros analisados, referentes ao mês de outubro de

2006

Variáveis Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4

pH 7,5 6,63 7,17 7,3

Oxigênio (mg/l) 12,1 11,3 9,1 9,9

Temperatura (ºC) 23,8 26,6 25,1 26,1

Condutividade (µS/cm) 208,8 228,7 286,4 284,1

Turbidez (UNT) 45,93 15,24 98,72 22,04

Vazão (l/s) 47,637 126,838 145,251 163,129

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O pH no mês de outubro teve maior concentração no primeiro ponto (7,5) e

menor concentração no ponto subseqüente (6,63). Em todos os pontos, portanto,

apresenta-se em níveis aceitáveis para a preservação de vida aquática.

Quanto ao OD, apresenta maior concentração no primeiro ponto (12,1 mg/l)

e menor concentração no terceiro ponto (9,1 mg/l). Em todos os pontos apresenta-se

adequado para a proteção de vida aquática.

Quanto à temperatura, apresenta-se menor no primeiro ponto (23,8o C), até

mesmo pelo fato de ser este ponto protegido diretamente dos raios solares pela presença

da mata ciliar, e apresenta-se maior no segundo ponto (26,6o C), cujas características

são totalmente adversas com relação ao primeiro ponto.

Com relação à condutividade elétrica, apresenta-se menor no primeiro ponto

(208,8 µS/cm) e maior no terceiro ponto (286,4 µS/cm). Em todos os pontos apresenta-

se maior que 100 UTN, o que indica ambiente impactado.

A turbidez apresenta-se menor no segundo ponto (15,24 UNT) e maior no

terceiro ponto (98,72 UNT), o que significa que, apesar de muito elevada no neste

ponto, ainda está apropriada para a manutenção de vida aquática, que de acordo com a

Resolução CONAMA nº357/05, deve ser até 100 UNT.

Quanto à vazão, verifica-se menor no primeiro ponto (47,637 l/s),

aumentando substancialmente nos demais pontos (126,838 l/s; 145,251 l/s e 163,129 l/s,

respectivamente). O aumento da vazão pode ser atribuído à entrada de pequenos

tributários ao longo dos trechos monitorados, bem como ao afloramento da água do

lençol freático no curso do rio.

5.2.3. Análise temporal das variáveis físico-químicas

Proceder-se-á, agora, a análise dos parâmetros físico-químicos

temporalmente, avaliando-se suas concentrações nos dois períodos em que foram

realizadas as medições. Tal análise se faz importante porque permite avaliar a

sazonalidade das variáveis no decorrer do ano.

- pH – com relação ao pH, não há variações significativas nos dois períodos

analisados. Em todos os pontos monitorados nos dois períodos analisados, o pH

está dentro dos padrões estabelecidos para a proteção de vida aquática.

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- Oxigênio Dissolvido – quanto ao OD, registra-se maior concentração no mês de

outubro no primeiro, segundo e quarto pontos e está em igual medida no terceiro

ponto em maio e outubro, como demonstra o gráfico 3.

OD maio x outubro

7

8

9

10

11

12

13

1 2 3 4

Pontos

mg/

l

maio outubro

Gráfico 3 – variação temporal do Oxigênio Dissolvido

Em ambos os meses, o oxigênio dissolvido está acima dos níveis mínimos

considerados para a proteção de vida aquática.

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70

- Temperatura – a temperatura se registra com maior intensidade no mês de outubro

em todos os pontos monitorados, como mostra o gráfico 4.

Temperatura maio x outubro

10

15

20

25

30

1 2 3 4

Pontos

°C

maio outubro

Gráfico 4 – variação temporal da temperatura

A análise do gráfico mostra que no mês de maio a temperatura foi crescendo

continuamente do primeiro ao quarto ponto (de 15,6º C a 20,6º C). Quanto ao mês de outubro,

percebe-se alternâncias na variação da temperatura ao longo dos trechos monitorados.

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- Condutividade elétrica – a condutividade elétrica manteve-se mais elevada no mês

de maio, crescendo continuamente do primeiro ao quarto ponto. Quanto ao mês de outubro,

houve um crescimento do primeiro ao terceiro ponto com uma leve queda a partir deste para o

quarto ponto (gráfico 5).

Cond. elétrica maio x outubro

200

220

240

260

280

300

320

1 2 3 4

Pontos

µm/c

m

maio outubro

Gráfico 5 – variação temporal da condutividade elétrica

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- Turbidez – quanto à turbidez, verifica-se períodos de alternâncias entre os pontos

monitorados nos dois meses (gráfico 6).

Turbidez maio x outubro

1030507090

110

1 2 3 4

Pontos

UN

T

maio outubro

Gráfico 6 – variação temporal da turbidez

No mês de maio turbidez apresenta-se maior nos pontos 2 e 4 (77,6 e 35,57

respectivamente), enquanto no mês de outubro a maior intensidade da turbidez está

centrada nos pontos 1 e 3 (45,93 e 98,72 respectivamente).

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- Vazão – a vazão se encontra mais elevada em todos os pontos no mês de

maio, como demonstrado no gráfico 7.

Vazão maio X outubro

10

60

110

160

210

260

1 2 3 4

Pontos

l/s

maio outubro

Gráfico 7 – variação temporal da vazão

Enquanto no mês de maio há o aumento da vazão do primeiro ao terceiro

ponto (65,807 l/s, 213,757 l/s e 234 l/s, respectivamente) e um leve declínio do terceiro

ao quarto ponto (231,607 l/s), no mês de outubro o aumento da vazão é crescente do

primeiro ao quarto ponto (47,637 l/s, 126,838 l/s, 145,251 l/s e 163,129 l/s,

respectivamente).

5.2.4. Análise dos indicadores biológicos

Para a análise dos macroinvertebrados foram consideradas a ordem e a

família a que pertencem os organismos. Dentro de cada ordem, as famílias recebem uma

pontuação que varia de 1 a 10 pontos, de acordo com o seu grau de intolerância à

poluição. A unidade taxonômica, então, considerada para a análise da qualidade da água

a partir dos indicadores biológicos será a família.

Em vista da grande heterogeneidade de organismos existentes, alguns dos

quais autóctones e, portanto, desconhecidos pelo Índice IBMWP adaptado aqui para a

classificação da qualidade da água, optou-se, então, em apresentar apenas os organismos

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mais freqüentes e mais importantes e que se repetiram com maior freqüência nas

amostras analisadas nos diferentes pontos monitorados.

As principais ordens e suas respectivas famílias encontradas foram:

Ephemeroptera (Baetidae e Potamanthidae); Odonata (Gomphidae, Calopterygidae e

Corduliidae); Heteroptera (Naucoridae); Coleoptera (Dytiscidae; Elmidae;

Hydrophilidae e Haliplidae ); Mollusca ( Ancylidae, Hydrobiidae, Planorbidae)

Diptera (Ceratopogonidae, Chironomidae, Simuliidae e Thaumaleidae, Stratiomyidae);

Plecoptera (Perlidae).

Ephemeroptera – A ordem Ephemeroptera, pertencente ao grupo Insecta,

constitui-se um dos grupos mais antigos dentre os insetos alados. Recebe este nome

devido à curta duração de vida durante o estágio adulto.

Os ephemeropteras ocorrem desde riachos de altitudes de águas frias, limpas

e altas concentrações de oxigênio até lagoas temporárias, com alta temperatura e pouco

oxigênio dissolvido.

Seus integrantes são obrigatoriamente anfibióticos, com imaturos aquáticos e adultos terrestres. Enquanto as ninfas de Ephemeroptera exibem uma variedade de estratégias alimentares (podem ser filtradoras, raspadoras, fragmentadoras, coletoras ou até mesmo predadoras) e vivem de algumas semanas a poucos anos, os adultos não se alimentam, possuem as peças bucais atrofiadas e têm um curto período de vida, que em alguns casos não chega a mais de duas horas. (SALLES, at al.).

As principais famílias da ordem ephemeroptera encontrada foram a Baetidae (foto 8) e

a Potamanthidae. A Baetidae é, sem dúvida, a família mais numerosa da ordem dos

efêmeras. Salles et al. (2004) enfatiza que,

As ninfas de Baetidae ocupam com freqüência grande variedade de habitat de água doce, atingindo maior diversidade em ambientes lóticos. Nesse tipo de ambiente, onde colonizam os mais distintos meso-hábitats, desde áreas de forte correnteza até aquelas de remanso, o número de gêneros e espécies, assim como de indivíduos numa determinada área, pode ser extremamente elevado. [...] Sendo assim, ninfas de Baetidae constituem um dos principais grupos de macroinvertebrados bentônicos e, conseqüentemente, um amplo conhecimento de seus integrantes torna-se essencial para os crescentes estudos visando a recuperação e manejo de recursos hídricos.

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Foto 8 – organismo da ordem Ephemeroptera pertencente Família Baetidae, recebe 3 pontos

Dentro da ordem dos efêmeras, a família Baetidae recebe pontuação 4, o que

significa que não é dos mais exigentes em termos de intolerância à poluição.

Quanto à família Potamanthidae, uma das mais raras entre os efêmeras, é,

também, uma das mais exigentes em termos intolerância à contaminação – recebe

pontuação 10. Devido ao seu alto grau de exigência, vivem em águas limpas, portanto

sua presença no rio indica boa qualidade da água.

Odonata – Popularmente conhecida como “libélula” ou “lavadeira”, os

odonatas podem permanecer no estado de ninfas de alguns meses a até três anos,

dependendo da espécie e do clima. Devido ao grau elevado de intolerância à poluição (a

maioria recebe pontuação 6 e 8), vivem principalmente nas margens de rios ou lagos

que possuem vegetação abundante e águas limpas ou pouco poluídas.

Da ordem Odonata as principais famílias encontradas foram a Gomphidae,

Calopterygidae e Corduliidae – todas recebem pontuação 8, que significa baixa

tolerância à poluição. Estes organismos, portanto, dentro desta ordem recebem a

pontuação mais elevada.

Foto 8 - Odonata Calopterygidae – recebe Foto 9 - Odonata – Corduliidae – recebe 8 pontos 8 pontos

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Coleoptera – Os coleopteras, os populares besouros, de acordo com Morral

(2006), podem ocupar desde o segundo nível trófico (herbívoros) até serem predadores

do topo da cadeia alimentar. Vivem em rios e lagos com concentrações variáveis de

oxigênio. Algumas espécies desenvolvem todo seu ciclo de vida na água, enquanto

outras possuem somente larva e pupa aquática, se tornando adultos aéreos. Apesar de

ser a ordem dos insetos mais abundante, correspondendo cerca de 40% das espécies

conhecidas, não apresenta alto nível de intolerância à poluição, haja vista que a

pontuação da maioria dos organismos desta ordem oscila entre 3 e 5 pontos.

As famílias da ordem Coleoptera encontradas no monitoramento, e suas

respectivas pontuações, foram: Dytiscidae (3 pontos); Elmidae (5 pontos);

Hydrophilidae (3 pontos); Haliplidae (4 pontos).

Foto 10 – organismo da ordem Coleoptera pertencente à Família Dytiscidae, recebe 3 pontos

Mollusca – os moluscos são organismos de corpo mole (não é à-toa que a

palavra deriva do latim “molluscus”, que significa “macio”, “mole”) e estes animais são

caracterizados por produzir um exoesqueleto (concha, uma carapaça calcítica), que lhe

serve de abrigo e proteção. São conhecidos popularmente como caramujos, caracóis,

entre outros nomes. Os moluscos desenvolveram uma grande capacidade de habitar

praticamente todos os ambientes – vão de águas oceânicas, águas doces a ambientes

terrestres. Quanto aos organismos de água doce, presentes nos rios, em consonância

com Índice IBMWP recebem até seis pontos de nível de intolerância à poluição, e as

principais famílias encontradas no monitoramento do rio Santo Anastácio foram a

Hydrobiidae (foto 11), que recebe 3 pontos.

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Foto 11 – organismo da ordem Mollusca pertencente à família Hydrobiidae, recebe 3 pontos

Diptera – os dipteras constituem uma das ordens de insetos mais numerosa e

são espécies cosmopolitas existindo em quase toda parte do mundo. Enquanto as ninfas

vivem em ambiente aquático continental, os adultos são aéreos. Os dipteras recebem

uma ampla variação em termos de exigência quanto à qualidade da água, variando de 2

a 10 pontos. As famílias encontradas no rio Santo Anastácio com suas respectivas

pontuações foram: Ceratopogonidae (2 pontos); Chironomidae (4 pontos); Simuliidae

(5 pontos); Stratiomyidae (4 pontos) e Thaumaleidae (2 pontos).

Foto 12 – organismo da ordem Diptera pertencente à família Chironomidae, recebe 2 pontos

Plecoptera – ordem de insetos aquáticos cosmopolita, cujo nome deriva dos

radicais gregos pleco + ptera, que significa “asa dobrada” e são conhecidos

popularmente com “moscas de pedra”. São insetos muito pequenos (de 4 a 50 mm) o

dificulta sua identificação em campo e se caracterizam ainda por serem muito exigentes

à poluição, de modo que a maioria recebe pontuação 7 e 10.

Foto 13 - organismo da ordem Plecoptera pertencente à família Perlidae, recebe 10 pontos

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O quadro a seguir mostra detalhadamente os organismos encontrados por

ordem e família, pontuação recebida e ponto do rio encontrado.

Quadro 2 – Distribuição dos organismos por ordem e família e pontuação recebida Ordem e família Pontuação Ponto em foi encontrado Diptera (Chironomidae) 2 1 Diptera (Thaumaleidae) 2 2 Mollusca (hydrobiidae) 3 1, 2, 3 Heteroptera (Naucoridae) 3 1 e 4 Coleóptera (Dytiscidae) 3 3 Ephemeroptera (Baetidae) 4 1,3 e 4 Coleóptera (Haliplidae) 4 4 Diptera (Ceratopogonidae) 4 1, 3 e 4 Diptera ( Stratiomyidae) 4 2 Tricladida (Planariidae) 5 1 Coleóptera (Elmidae e hidroemidae)

5 2

Diptera (Similiidae) 5 3 e 4 Odonata (Platycnemididae) 6 3 e 4 Tricoptera (Economidae) 7 3 Odonata (Corduliidae) 8 1, 2 e 3 Odonata (Gonfidae) 8 1 Odonata (Calopterygidae) 8 1, e 2 Odonata (Libelulidae) 8 1 Odonata (Aeshimidae) 8 3 Ephemeroptera (Potamanthidae)

10 1 e 4

Plecoptera (Perlidae) 10 1 Ephemeroptera (Leptophlebiidae)

10 3

Tricoptera (Phryganeidae) 10 3

Com relação à distribuição dos organismos ao longo dos trechos

monitorados do rio Santo Anastácio, percebe-se que no mês de maio foram encontrados

organismos, cuja pontuação oscila de 3 a 10 pontos. Organismos de pontuação 10 foram

encontrados somente nos trechos 1 e 4. Nos pontos 2 e 3 os organismos encontrados que

recebem maior pontuação em termos de exigência da qualidade da água foi de 8 pontos.

Com relação ao mês de maio, organismos de 10 pontos foram encontrados

nos trechos monitorados 1, 3 e 4. No trecho 2, no entanto, foram encontrados

organismos cuja maior pontuação recebida chegou a 8 pontos. Organismos de menor

pontuação foram encontrados em todos os trechos do rio nos dois meses de

monitoramento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gestão dos recursos hídricos está posta como um grande desafio a ser

enfrentado pelas gerações de agora e pelas futuras gerações. O escasseamento da água

juntamente com o crescente comprometimento da sua qualidade têm figurado entre os

grandes problemas da sociedade hodierna, exigindo medidas eficazes de combate à

poluição e à degradação dos recursos hídricos, no âmbito municipal, estadual, nacional

e até mesmo internacional, de modo a garantir abastecimento de água de qualidade para

as sociedades humanas. Problemas de escassez hídrica é uma realidade que hoje afeta

pessoas em várias partes do mundo.

Propostas de proteção e recuperação de mananciais de abastecimento público

é sem dúvida uma questão que pauta em todas as discussões atinentes aos recursos

hídricos. Medidas de proteção e recuperação de mananciais tem de passar

necessariamente por duas questões básicas: formação de recursos humanos em

gerenciamento e gestão de recursos hídricos e legislação eficiente que disciplinem o

aproveitamento hídrico, de modo a não comprometer sua qualidade.

No caso específico do Estado de São Paulo, a Lei nº 9.866, de 28 de janeiro

de 1997, que dispõe sobre a proteção e recuperação de mananciais, tem como objetivo

primeiro estabelecer diretrizes e normas para a proteção e recuperação da qualidade

ambiental das bacias hidrográficas dos mananciais de interesses regional. Nos termos da

referida lei, são mananciais de interesse regional as águas interiores subterrâneas,

superficiais, fluentes, emergentes ou em depósito, efetiva ou potencialmente utilizáveis

para o abastecimento público. Dentre seus objetivos estão: preservar e recuperar os

mananciais de interesse regional do Estado; compatibilizar as ações de preservação dos

mananciais de abastecimento e as de proteção ao meio ambiente com o uso e ocupação

do solo e o desenvolvimento socioeconôminco; promover uma gestão participativa,

integrando setores e instâncias governamentais, bem como a sociedade civil;

descentralizar o planejamento e a gestão desses mananciais e integrar os programas e

políticas habitacionais à preservação do meio ambiente.

Para atingir seus objetivos, Lei nº 9.866 institui a criação de Áreas de

Proteção e Recuperação de Mananciais (APRMs), nas quais serão implementados

instrumentos de planejamento e gestão, visando orientar as ações do poder público e da

sociedade civil voltadas à proteção, à recuperação e à preservação dos mananciais de

interesse regional. Para tanto, a criação das APRMs deverá promover: o

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disciplinamento do uso e ocupação do solo nas áreas dos mananciais; o controle da

erosão dos solos nas áreas rurais, por meio de práticas convervacionistas; o controle da

geração e do destino final de resíduos sólidos e líquidos; a recuperação da mata ciliar

nas áreas de preservação permanente; o controle da expansão urbana sobre as áreas de

mananciais; o aumento nas exigências e fiscalização de áreas não impermeabilizadas

nos loteamentos, visando a infiltração da água e a conseqüente recarga de aqüíferos e

cursos d’água.

Através da realização do presente trabalho, constata-se que o rio Santo

Anastácio encontra-se com elevados índices de degradação, tais como ausência de

matas ciliares, erosão zoógena (produto do pisoteio do gado) e avançados processos de

voçorocamento e assoreamento do rio – problemas esses que estão diretamente

relacionados com o uso e ocupação do solo, feitos, geralmente, de modo inapropriado.

O desmatamento indiscriminado que caracterizou todo o processo de

ocupação do oeste paulista trouxe sérias conseqüências para a qualidade dos rios, como

a perda das matas ciliares, que são de extrema importância para a conservação dos

cursos d’águas.

As erosões aceleradas podem ser apontadas como os principais impactos

físico-ambientais diretamente relacionados com as formas de uso e ocupação do solo.

Não obstante o desmatamento desenfreado, a prática de atividades agrícolas sem

medidas conservacionistas de manejo do solo está intimamente ligada às causas

originárias de perda de solo por erosão pluvial, que além da perda da fertilidade da terra

e da destruição dos solos cultiváveis, contribui sobremaneira com a produção de

enormes volumes de sedimentos que se depositam nos fundos de vales assoreando os

cursos d’águas.

Apesar de toda a degradação ambiental porque passa o rio Santo Anastácio

bem como toda a sua bacia hidrográfica, através das verificações físico-químicas

realizadas constata-se que, à exceção da condutividade elétrica, que se apresentou

elevada em todos os pontos monitorados, os demais parâmetros medidos estão em

níveis aceitáveis para a preservação de vida aquática. Quanto à análise da qualidade da

água partir dos macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores, estes vêem a

confirmar esta afirmação, haja vista que, à exceção do ponto 2, em todos os outros

pontos monitorados foram encontrados organismos com alto grau de exigência de

qualidade da água, demonstrando que o rio ainda preserva boas condições para a

manutenção de vida aquática.

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Caberia, no entanto, ações efetivas do poder público no cumprimento da

legislação, bem como de toda a sociedade para engendrar uma política de recuperação

do rio, de modo que possa torna-lo um importante manancial de abastecimento público

para a região.

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