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Brecht Libre

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O seu trabalho com os atores aborda os hábitos, os maneirismos e os costumes.Influência do cinema de Charles Chaplin.Este método deve muito à sua apetência anti aristotélica. Brecht critica o teatro psicologista queacusa de se focar na expressão facial como espelho da alma, em detrimento da importância detodos os outros gestos.

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HISTÓRIA DO TEATRO E DO ESPECTÁCULO II 2011 / 2012 – 2º Semestre Lição 7 30 de Março de 2012

FICHA DE LEITURA (resumo feito a partir do capítulo 2 de MUMFORD, Meg, Bertolt Brecht. London and New York, Routledge, 2009)

Bertolt Brecht (Augsburg, 1989 – Berlin, 1956)

Brecht trabalha no sentido de um teatro anti aristotélico. Marx e a Ação Política Revolucionária: a prática material de observar e

contemplar, deve ser integrada à prática da ação política revolucionária. Pragmatismo: podemos testar e corrigir a nossa perceção dos objetos, pondo-os em

uso. Principais teorizações do teatro de Brecht:

1. Gestus 2. Verfremdung (estranhamento) 3. Historicismo 4. Teatro Épico 5. Dialética 6. Realismo

Gestus Reflexo da paixão de Brecht pelo jogo de palavras e pelo diálogo entre arte e política. O gesto como expressão social codificada:

1. Pode ser empregue conscientemente; 2. Pode ser moldado e subconsciente, e denunciar uma classe social ou função laboral.

O seu trabalho com os atores aborda os hábitos, os maneirismos e os costumes. Influência do cinema de Charles Chaplin. Este método deve muito à sua apetência anti aristotélica. Brecht critica o teatro psicologista que acusa de se focar na expressão facial como espelho da alma, em detrimento da importância de todos os outros gestos. Comportamento: a relação socialmente condicionada do corpo pensante com o tempo, o espaço e as outras pessoas. A partir desta ideia, Brecht define o Gestus como uma demonstração e seleção artística do comportamento.

1. Gesticulação social(izada), em oposição à expressão facial psicológica; 2. Comportamento contextualizado e alterável; 3. Gestos retóricos trabalhados do ator.

Expor o Gestus significa apresentar artisticamente as mutações socioeconómicas e construções ideológicas do comportamento humano e das relações.

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O Gestus social como aquele verdadeiramente relevante à sociedade, o gesto que permite desenhar conclusões sobre as circunstâncias sociais. Verfremdung (estranhamento) O gestus de mostrar é um dos dispositivos de Estranhamento a que Brecht recorria de forma a tornar os atores em observadores críticos da sociedade. O Estranhamento é, segundo Brecht, desenhado de forma a libertar o fenómeno socialmente condicionado do peso da familiaridade. Esta forma de representar permite–nos reconhecer o nosso sujeito, mas ao mesmo tempo tornando-o estranho a nós. Este método, no entanto, não rejeita totalmente a ideia de emoção e de empatia. Para Brecht, pensar e sentir devem ser trabalhados juntos. E a emoção pode ser mesmo socialmente produtiva. O que Brecht desconfia no Teatro Dramático é a forma como este canaliza a energia de ambos atores e espectadores no sentido de produzir emoções semelhantes sobre uma mesma personagem. Segundo Brecht, isto reforça a tendência em tomar estas experiências como familiares, reais e normais, em lugar de questionar se elas são antes norma e, se sim, se o deverão ser. O ator deve combinar a representação (demonstração) e a experiência (empatia). É da tensão entre estes dois opostos que nasce o trabalho. Brecha teorizou da seguinte forma a diferença entre o Teatro Dramático e o Teatro Épico (p.64):

O Teatro Dramático como um conjunto de “truques”: 1. Um auditório escuro e uma luz ambiente que faz o espectador esquecer a presença dos outros espectadores e focar-se apenas na ação e personagens; 2. Dispositivos audiovisuais dissimulados, tais como os músicos ou projetores, e uma cortina que oculta as mudanças de cenário; 3. Adereços, cenários e figurinos historicamente realistas. Brecht recorreu ao Estranhamento de forma a acabar com a ilusão da Quarta Parede que servia para preservar o status quo burguês e que manipulava os espectadores a envolverem-se na narrativa e a identificarem-se com as personagens, inibindo qualquer hipótese de crítica social. Algumas das técnicas de Estranhamento são: 1. Dispositivos técnicos à vista; 2. Iluminação forte;

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3. Confronto direto com o público (quebra da quarta parede). 4. Uso da terceira pessoa; 5. O texto da personagem na forma verbal passada; 6. Debitar as indicações cénicas relevantes em voz alta; 7. Traduzir o verso para prosa; 8. Traduzir a prosa para o dialeto nativo do ator. Ator: deve sempre trabalhar sobre a ideia de oposto (binários). Por exemplo, a ação alternativa de um determinado gesto deve estar sempre presente nesse mesmo gesto. Se o ator produz uma determinada ação ou afirmação, é porque não fez ou disse uma outra. Historicismo Uma atitude inquisitória do presente, através do seu passado. Dispositivos do Historicismo: 1. Provocar uma estranheza em relação aos fenómenos contemporâneos, colocando-os no

passado; 2. Apresentar os eventos como o produto de condições e opções historicamente específicas; 3. Revelar as diferenças entre passado e presente e realçar as evoluções; 4. Revelar as semelhanças entre passado e presente e instigar a mudança; 5. Tomar as leituras históricas como a visão da classe dominante; 6. Dar voz aos factos históricos intervencionistas e suprimidos; 7. Apresentar todas as versões da história como estando ao serviço de interesses. "Representar" significa que se está a re-presentar o que a personagem fez no passado, em lugar de tentar criar uma impressão do aqui e agora da personagem. Espectador do Teatro Dramático: atitude antecipatória de "o que é que vai acontecer a seguir?" Espectador do Teatro Épico: atitude que procura uma solução de "porque fizeram aquilo?"

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Teatro Épico

(p.80) O termo "épico", aplicado à literatura e ao teatro, significa uma ênfase no contar alguma coisa do passado, em oposição ao Drama, que apresenta o presente. 1918: fundação da República de Weimar. Surge em força o Expressionismo Alemão, nas artes. Em sua oposição, surge o Novo Objetivismo que, a par do teatro Agitprop das companhias do partido comunista, procuravam levar um sentido crítico para os palcos, adotando o registo jornalístico e os novos media. A figura do Narrador chama a atenção para as causas dos eventos. O Teatro Épico acaba por ser um termo que abarca todos os outros dispositivos brechtianos e métodos de representação, que contribuem para uma perspetiva narrativa analítica.

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Dialética O Teatro Épico aos poucos dá lugar ao conceito de Teatro Dialético. Nos anos 1950, Brecht diz que é altura de abandonar o conceito de Teatro Épico, alegando que, se por um lado, ele reforçou o elemento narrativo no teatro, por outro, tornou-se demasiado inflexível na sua oposição ao Dramático. Teatro Dialético: a contradição como o motor da mudança e do desenvolvimento progressivo. A lógica dialética está presente na paixão de Brecht pelo diálogo e pelo debate, pela procura de ideias mais úteis e verdadeiras no confronto de argumentos. Realismo A dialética está na origem do Realismo Socialista particular de Brecht, em oposição ao Naturalismo. Se o teatro de Brecht é tido como a antítese do realismo psicológico e naturalismo de finais do século XIX, na realidade, ele absorveu aquilo que considerava serem os seus elementos progressistas: 1. Uma observação atenta ao mundo material; 2. A sua preocupação com a relação entre personagem e envolvente social.