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MOTIVO, PRINCPIO , DESTINO 1
Capa
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2 BREVE HISTRIADA REALIDADE
COPYRIGHT 2000BYIEDITORA
CRDITOSCAPAEPROJETOGRFICO: Simone MontoroDIAGRAMAOEREVISO: Mnica Hamada
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 5.988 de 14/ 12/ 1973.Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida seja qual for a forma ou
o meio eletrnico, mecnico por fotocpia, gravao ou outro sem a permissodos proprietrios de direitos autorais.
iEditoraRua da Balsa, 601 2 andar
Telefone: (11) 3933-2807Site: www.ieditora.com.br02910-000 So Paulo - SP - Brasil
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Br ev e
H i st r i ad ar e a l i d a d e
Mo t ivo , Pr in c pio , Dest in o
1 ed i o
G i o r g i o G aspa r r o
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Sumr io
CAPTULO 1Perguntas 8
CAPTULO 2A historieta que prope as explicaes 10
CAPTULO 3A Mente comeou a estudar um, dois... 11
CAPTULO 4Assim nasceu o conceito da pr-cincia... 13
CAPTULO 5Da Mente destacaram-se pontos luminoso... 14
CAPTULO 6
O Pari anotava na sua memria... 16CAPTULO 7Depois da grande exploso, os... 19
CAPTULO 8Splendor ficou impressionado. A idia... 20
CAPTULO 9Antes e depois deste evento, a Mente... 23
CAPTULO 10 grande distncia, a realidade... 25
CAPTULO 11 um ncleo de inteligncia ativa... 26
CAPTULO 12Splendor seguia com cuidado a difuso... 28
CAPTULO 13A Mente costumava descer da sua... 30CAPTULO 14
Mas a Mente no tinha sossego; era do... 31
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CAPTULO 15Na floresta mida e sombreada, viviam... 32
CAPTULO 16Seguiram-se dias estranhos: o ar... 34
CAPTULO 17Ele, como a me, tinha o hbito de... 36
CAPTULO 18Alguns pensadores, obstinados em... 37
CAPTULO 19Homo, aps ter afugentado os pretende... 39CAPTULO 20
A luz da manh mostrou pequenas poas... 41CAPTULO 21
Homo, favorecido pela benevolncia... 42CAPTULO 22
Comeou o pr-do-sol, as sombras... 44CAPTULO 23
Depois que o horizonte tornou-se... 45CAPTULO 24
O homem no se manifestara ainda... 47CAPTULO 25
A histria se repete (os autores so... 51CAPTULO 26Mais adiante, Homo constatou que aps... 53
CAPTULO 27Homo comeou a observar: o sol no... 54
CAPTULO 28Por que a Mente d ateno a um... 56
CAPTULO 29Usando o instinto enfraquecido, Homo... 58
CAPTULO 30O sol alto e o montculo de pedras... 59
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6 BREVE HISTRIADA REALIDADE
CAPTULO 31O homem comea a desgarrar do... 63
CAPTULO 32No incio do desgarramento, os... 65
CAPTULO 33Sob os efeitos dos novos estmulos... 66
CAPTULO 34 assim que a percepo capta a sua... 68
CAPTULO 35Como sempre acontece, a combinao... 69CAPTULO 36
No ambiente dos agrupamentos humanos... 71CAPTULO 37
Tpico caso do profeta iletrado, que... 72CAPTULO 38
O raciocnio espontneo e contnuo... 74CAPTULO 39
No existem documentos e sinais... 76CAPTULO 40
Aps a doao, o fara descobre o... 77CAPTULO 41
Abrao tinha uma sagrada misso a... 79CAPTULO 42Por volta do sculo XIV a.C. a... 81
CAPTULO 43Tu s nico Deus, ao Teu lado no... 82
CAPTULO 44Algumas mentes, entre os milhes de... 84
CAPTULO 45S o Nada intil, o restante pode... 86
CAPTULO 46O Karma sobrevive morte, acompanha... 87
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CAPTULO 47Para melhorar a pessoa necessrio... 90
CAPTULO 48Se a imaginao humana quisesse... 91
CAPTULO 49Assim caminha a humanidade... 94
CAPTULO 50Vivia em uma regio, entre o mar e a... 95
CAPTULO 51Depois, os ladres, de passagem pela... 97CAPTULO 52
noite, a fraqueza o venceu: Job... 99CAPTULO 53
Mais uma vez somos limitados pelos... 102CAPTULO 54
O Pari, recebidas as virtudes e a... 103
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P e r g u n t a s
A
ps apreciar algumas leis naturais, umas preci
sas, outras menos, vm Mente estas perguntas:1) lgico pensar que as leis no so casuais, mas ditadaspor um legislador?2) Aps o exame das leis, pode-se afirmar que o legisla-dor pessoa serena, equilibrada e racional, que persegueum desenho pr-fixado?
3) Por que o Criador-legislador comeou e continuacriando?4) Por que Ele d obra dimenses compreensveis so-mente ao pensamento, e no aos sentidos humanos?5) Por que a obra est em contnua expanso?6) Por que existem entidades astronmicas que transfor-
mam a energia em luz, a luz em matria e vice-versa, pro-jetando-a em todas as direes?7) Por que existe somente vida em um, talvez em algunscorpos astrais?8) Por que tem a natureza por lei abandonar as criaturasineptas a vencer as dificuldades da existncia, e favorece asaptas, obrigando-as a superar provas sempre mais difceis?9) Por que o homem no usa a totalidade cerebral? Talvezreserve a parte inusitada para funes hoje insuspeitas?10) A criao o produto da Razo superior ou de umsentimento?
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11) O conhecimento e a sua aplicao no so gratuitos, o
homem os adquire com sacrifcio e dispndio de energiaintelectual. assim tambm para o Criador-legislador?12) Afinal, qual a funo de um ser inteligente, criativo,volitivo, cujo esprito tem gradaes infinitas de sensibili-dade numa realidade deserta, vasta, que limita com o Nadaabsoluto?
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A h i st o r i et a q u e pr o p e a sexpl i c a es.
AMente continuava nica e solitria no Nada ena Eternidade. Existia, pois, sem um fim.
Nela fluam pensamentos: eram novos, repensados,contrapostos, modificados, tecidos como fios de linho paraformar uma tela intil.
Em um momento da seqncia reflexiva, suspeitouque a repetio de temas abstratos poderia causar-lhe mor-bidez. Ento, dirigiu a ateno para fora de sua pessoa.No achou nenhuma realidade, e experimentou dor in-tensa.
Consolou-se. Liberou a percepo aguda. Esta voltouafirmando que tinha constatado o Nada.
O Nada ilimitado: adianta-se ao nosso proceder.
O Nada insensvel: no reage a um ato. O Nada inexpressivo: no tem aspecto. O Nada onipresente: envolve-nos. O Nada nocivo: apaga nossos pensamentos e no
nos inspira novos. Ns somos o centro do Nada.
Assim, a Mente criou o Nada, caracterizando-o.Seguiu-se longo silncio intelectual...Agora, o Nada tangia a Mente, penetrando-a, per-
meando-a, sufocando sentimentos e impulsos, alastrando-
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se na concepo mental da magnitude, estabelecendo-se,
amide, o seu domnio no recesso da Mente, favorecendouma atmosfera que causa patogenia psquica.Em um instante a Mente tomou conscincia do peri-
go, e dele distinguiu as causas: a inrcia da razo e a inope-rncia das virtudes provocaram abulia e inatividade. Pro-vou dor em toda a sua pessoa, dor custica que queimava otoque do Nada, aliviando-o.
A Mente examinou-se; possua a razo nica, a fanta-sia ilimitada, a potncia inesgotvel, vontade determinante,sabedoria de tudo que pode ser e habilidade para qualquerempreendimento.
Tudo era nela, nada fora dela.
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AMente comeou a estudar um, dois, muitos te-mas criativos. Com a evoluo das idias, cada
projeto tornava-se complexo: os nexos, os detalhes, asmincias multiplicavam-se, pois a razo pedia harmonia elgica, sensos vivazes na conscincia da Mente.
Depois, nela se manifestou a dvida da escolha. Expe-
rimentou fortemente a necessidade da comunicao dialo-gada com algum alm de sua intimidade.O pensamento penetrou profundamente, como agu-
lha na carne, e alcanou o mago da pessoa. Na fantasia,
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apareceu um ponto que se aproximou sob o impulso de
um sentimento at ento ignorado. Quando prximo, ad-quiriu luminosidade palpitante. Nasceu o Conceito: Eu sou tu, tu s eu. Pessoas distintas, detentoras
das mesmas virtudes, embora variadamente combinadas,mas com um s intento.
A Mente encheu-se de entusiasmo, animou-se de pro-psito. A vontade agiu: clula nica, dilatou-se, a madeixadas virtudes desdobrou-se, o protoplasma espiritual pre-meu contra a membrana da individualidade, adensando-seaos plos, provocando senos cada vez mais salientes at aciso: duas pessoas distintas, com a mesma dignidade, asmesmas virtudes em propores diferentes, com vonta-des independentes, dirigidas ao mesmo escopo. A solidoangustiosa no Nada e na Eternidade era vencida, substitu-da pelo sentimento de companhia prxima. A Mente, apartir de ento, tem perto de si o Pari. Considerou-olongamente e comprazeu-se.
O Nada nos assedia, parecemos perdidos na suaimensido. inadmissvel. Faa a luz!
O que voc entende por luz? Uma coisa qualquer que nos distingua do Nada.Ento, o Pari avivou as virtudes das duas pessoas, tan-
to que o fulgor iluminou o ambiente. Duas luzes comea-ram a brilhar na imensido, difundindo graa e clareza.Agora, onde no chegava a luz, o Nada se revelava tal qual
era: trevas e vacuidade. Entre os dois nasceu um senso derecproca satisfao.Apesar de afastado pela luz, o Nada permanece imu-
tvel, no reage.
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A ssim nasceu o conceito da pr-cincia: do exis-tir e do no-existir, ou seja, de valores existen-tes e de nenhum valor.
Ele, embora nulo e distante, causa efeitos.Seguiu-se o silncio da reflexo. Conferimo-lhes caractersticas assim potentes, pois
somente algo perene poder perturb-lo. O Nada infinito, ento eterno, e nunca ser con-
quistado, mas se ns crissemos uma existncia em pereneexpanso, Ele se transformaria em uma abstrao junta-
mente com os atributos que lhe concedemos. Precisamos de algo que o povoe. Criaremos algo.A reflexo irradiou-se em todos os sentidos. Enfim a
Mente manifestou-se!Penso que seja bom criar seres semelhantes a ns, que
migrem em todas as direes, manifestem a nossa presen-a e a nossa vontade.Durante a ponderao, a Mente provou, no ntimo da
pessoa, um sentimento annimo, que por gravidade e in-sistncia era semelhante ao da solido. Muitos e muitoseventos depois, quando existir a realidade e nela o homem,
este sentimento ser gratificado aos artistas e neles se ma-nifestar como febre criativa.Do sentimento, fez partcipe o Pari, o qual obser-
vou:
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Somos duas pessoas porque a solido escurece o esp-
rito. O intelecto nos induz a criar conceitos; somos din-micos, sociais, amamos o dilogo, gostamos do ato perfei-to, que afugenta a monotonia insuportvel. o sentimentoque nos impele ao. Nada nos aborrece tanto quanto asolido.
A Mente seguia o Pari; a sensibilidade aprovava. Ele deve ser pessoa de muitas virtudes, de racioc-
nio sutil, prova e troca sentimentos para corresponderconosco, livre pensador, valendo-se dos conceitos estabe-lecidos. No poder criar.
... Nem se levantar contra ns. Eis definido o Minorita. Quantos? Alguns, muitos?
Uma infinidade.
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D a Mente destacaram-se pontos luminosos emto grande quantidade que formaram um inv-lucro esfrico em volta das pessoas. Eram pontos de exis-tncia luminosa que penetravam o Nada. Cada um possuadireo e movimentos prprios, mas o invlucro tinha umnico movimento expansivo. Do ncleo saam rpidas e pre-cisas fascas de pensamentos, da periferia respondiam outras,fracas e tmidas. Mas, rapidamente, a troca, num crescendo
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regular, foi to intensa que estabeleceu uma nova luminosi-
dade na luz. Algumas faixas do ncleo ultrapassaram o inv-lucro, penetraram as trevas e perderam-se no infinito.Das duas pessoas irradiou-se satisfao. Criamos uma vivaz companhia com a qual iniciamos
uma troca de novos sensos, que nos alegram e entretm. No somente este o escopo; queremos estabele-
cer a existncia no Nada.O invlucro esfrico explodiu, como fogos de artif-
cio, projetou pontos luminosos em todas as direes e umagrande luz.
Afastando-se, a luz esmoreceu, os cerrados grupos depontos luminosos rarearam, empalideceram como lanternacaindo no abismo. O Nada tinha vencido a primeira prova.
Como cientista frente do malogro da primeira ex-perincia, as pessoas silenciaram.
Enfim, a Mente ordenou: Chama os Minoritas.Eles voltaram... No podemos lanar os Minoritas em todas as di-
rees. Embora estabeleam conosco um relacionamentoideal, eles, diminudos pela solido, sem criatividade, per-dem-se na vastido obscura. No podemos criar continua-mente e somente Minoritas!
Devemos repensar e criar! O que podemos opor ao Nada infinito?
A Mente dirigiu a ele a pertinaz ateno. O adversrioformava cortinas tufadas de trevas onde ainda brilhavamperdidos Minoritas retardatrios: restos de um exrcito emretirada.
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O Nada um vazio infinito; o transformaremos
em vazio definido, cabendo dentro da energia que emana-mos continuamente: ser o espao, e para cont-lo criare-mos algo: o seu nome ser matria... A matria possuirnmero infinito de aspectos e muitas condies, produzi-remos luz para se destacar, e se multiplicar sem fim, por-que somos incansveis.
6
O Pari anotava na sua memria.Como se fosse gua viva, que jorra da rocha partida,
um fluxo de energia luminosa saiu da Mente e, com grandese prximos espirais, envolviam as pessoas e os Minoritas,
novamente reunidos em invlucro esfrico. O fluxo fluiumais copioso, afastou-se da origem, tornou-se incandescen-te, como magma eruptivo, embora parecesse uma graciosavitria rgia que ondeia sobre as guas do pntano. Ento foipenetrando at o centro por um ncleo ideal que comeoua vibrar intensamente, adensando os espirais. Quando as vi-
braes chegaram ao acme, mudou gradualmente a nature-za da luz: da delicada que afaga o esprito, cromtica queviolenta a razo. Seguiram-se momentos de tremor do fetoda realidade, depois o que se tinha transformado em uma
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nuvem, explodiu no Nada. Como um grande crisntemo,
cujas ptalas se alongam penetrando as trevas em todos ossentidos. Com a exploso, rompeu o primeiro e perptuoboato. Foi neste momento que a Mente solevou-se do tra-balho, fixou a ateno num imaginrio crculo que roda, dis-tinguiu um ponto da circunferncia e o fez saliente.
criada a matria, comea o princpio, inicia-se ofluir do tempo.-
Nem toda a energia adensada explodiu, e a outra setornou neblina, ambas comearam a vagar no nada.
o caos! A matria no tem ainda as leis que lhe regulam a
existncia. Ento imprime-as nela imediatamente. Ns no po-
demos dar perptua ateno ao caos. E se manifestou ansia criativa.
Deste momento e para sempre, vige entre a mat-ria a unio coesiva, a atrao varivel, o dinamismo de pe-quenos e grandes corpos, a fim de que se formem grupos esistemas; a expanso seja gradual e contnua, levando con-
sigo os transformadores de tudo. A luz vanguarda da nos-sa presena.O Pari liberou uma onda volitiva, que se difundiu pelo
infinito, assim como a alta mar ocenica alcana a remotapraia do continente.
A Mente diz serena:
Provamos grande satisfao por comear a obra,maior ainda, se considerarmos que os muitos conceitos nelaprofusos nos permitiro gerar, sem esforo, muitas com-binaes ideais, e com elas, pensamentos complexos.
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18 BREVE HISTRIADA REALIDADE
Enquanto isto, o espao grvido de matria se expan-
dia velozmente: aqui e acol explodiam, como pipocas napanela preta, sistemas estelares e cometas repentinos dei-xavam traos como golpes de giz sobre o quadro negro,imanes galxias viravam como girndolas na noite tropical.O que foi o Nada intil agora mostrava-se um desmedidocanteiro de obra repleto de materiais, som e luzes agitadospelo dinamismo.
Os Minoritas observavam estupefatos o desenvolvi-mento da criao. Depois de sarem do estupor, comea-ram dilogos e apresentaram observaes, cujos sensosenchiam o mbito.
Tambm disto o Criador se comprazia, porque era si-nal de existncia em torno de si.
Pouco a pouco os pensamentos dele se voltavam so-bre um s argumento: a emisso perene de energia. A in-teligncia deles no conseguia propor uma explicao.
Splendor, que entre os Minoritas tinha recebido maiornmero de virtudes, e em grau elevado, aplicou a inteli-gncia imaginao, de modo que lhe nasceu a intuio de
entender o que no exposto: a Mente ama a liberdade. Asleis, as regras, o destino imanente so determinaesirrevogveis, porque a liberam da vigilncia contnua, as obri-gaes criativas jamais a empenharo totalmente. Por isto, aMente deve ter estabelecido que a energia emitida espon-taneamente seja aproveitada na expanso da obra criativa.
Neste momento, a Mente disse ao Pari: O trabalho gerou, em torno de ns, o turbamentoda serenidade.
Cochilamos a nossa ateno para uma merecida pausa.
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Sobre a criao amanheceu a jornada perptua. O tem-
po flui, o ponto saliente passa e repassa pela chegada conti-nuamente.
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D epois da grande exploso, os desmesurados sis-temas comearam a migrar, tomando direesdivergentes entre si.
As galxias levaram consigo o espao que foi o Nada, asmirades de estrelas, verdadeiras fornalhas de elementosqumicos, o p e os meteoritos que esto, como carvo ematria indistinta, perto das bocas dos altos fornos estelares,as nebulosas, verdadeiras maternidades, nas quais nasceramas estrelas que substituiro as decadentes prximas ao co-lapso. Separadamente, na negritude absoluta, a voragemengole os destroos vagantes dos mundos at a luz, ondevomitar matria regenerada, quando a capacidade chegarao mximo. Pois na criao lei: nada se aniquila, mas tudose transforma tantas vezes quanto necessrio. Estes so oscomboios concebidos pela Mente para transportar a exis-tncia no Nada a uma velocidade vertiginosa. um simplesprojeto logstico autnomo, planificado pelo Pari.
Podia ser somente obra de uma dezena de estrelas,de uma centena de satlites, recheados de p csmico...Eis explicada a contnua efuso de energia, a magnitude dosespaos, os bilhes de bilhes de unidades de matria. Ser
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o perptuo comeo da sucessiva obra... um trabalho sem
fim... o triunfo da megalomania. disse Splendor. No o repreendeu Percept, um Minorita do-tado, mais do que os seus semelhantes, da virtude da per-cepo. A criao a necessria manifestao do intelec-to. A Mente, se no cria, no existe... Quem saberia dela?
Como podes saber estas coisas, se ningum as dizesa ti?
A tua ateno tem que acompanhar a Mente, quenada esconde a quem quer saber. Mas se tu no podes, de-duze-as da natureza das suas obras, do escopo.
Fbulas! A criao poderia ser definida e esttica,assim o Criador gozaria o imobilismo reflexivo. Ao contr-rio, imprimiu-lhe o dinamismo, e estabeleceu at um
Divenire. Ele irrequieto. Para ns a existncia seria f-cil e satisfatria, mas ao contrrio, ela ser tambm umcontnuo trabalho desassossegado.
Percept rebateu: Assim seguramente ns no existiramos, no ter-
amos o privilgio da conscincia inteligente na singularida-
de: seramos nada no Nada.
8
Splendor ficou impressionado. A idia de emular aMente, ser tambm o princpio de algo, o solevou.Emocionado se apresentou ao Criador.
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Desejo participar da obra criativa! Confia-me as
tuas concepes e realizarei fielmente como o faz o Pari.Seguiu-se um silncio de reflexo. Agrada-me a tua disposio, surpreende-me o teu
propsito. O procedimento estabelecido irrevogvel, oteu desejo o viola.
A interdio bloqueia os espritos. Tu no podes criar conceitos, mas somente gerar
idias e elaborar pensamentos; tu no possuis energia rea-lizadora, que vem do intelecto, durante o trabalho criati-vo; tu no tens a inteligncia polidrica e harmoniosa paracorporificar a realidade em detalhes; tu no tens originali-dade, s imaginaes. O Pari sabe, porque somos de am-bos... Agora v, segue o Divenire; pede explicaes que
em ti suscitaro sentimentos e estmulos.A interdio dissolveu-se, entre os Minoritas recome-
ou a troca de pensamentos.Splendor apequenou-se, no silncio se apagou. Quan-
do se deteve na mais absoluta solido, procurou organizaros pensamentos.
Afinal o que criar? formular um conceito, realiz-lo em todos os seus detalhes... Tenho virtude para isso.Tentou repetidamente, e constatou que a mente das
criaturas empregava somente produtos intelectuais exis-tentes. O pensar consiste na mudana e combinao deles.
O ambiente mental cheio desses produtos. Existe
somente o que foi criado. Ento o Divenire se realiza aose induzir a mente a usar alguns dos tais produtos a seutalento, porm, condicionado conscincia. Com tais prin-cpios, pode prever-se o destino.
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22 BREVE HISTRIADA REALIDADE
Depois da constatao, Splendor readquiriu a lumi-
nosidade. Se eu no posso criar, eu posso mudar, at melho-rar o que existe. Se algum me condenar, seguirei para oexlio nos limites da realidade ou alm. Mas a idia dasolido corrigiu-lhe o pensamento. ...Mas com um s-quito de sditos.
A Mente e o Pari examinaram os sensos manifestadospor Splendor.
inusitado o procedimento de Splendor. A inteligncia e a liberdade de pensamento pros-
pectaram-lhe uma nova situao. No dizer, manifestou-se a audcia da ambio. Se-
ria melhor induzi-lo humildade.
Ns amamos as criaturas, acima de tudo as racio-nais, pois lhes demos singularidade personificada, liberda-de de pensamento e de ao, sensibilidade psquica; um atocontrrio feriria Splendor.
Amor? Qual o significado originrio? Amar reconhecimento, entretenimento e troca
gratificante de sublimes sentimentos, estmulo a realizar. Prevemos: Splendor nos contrariar, fomentandoa subverso de muitos como ele.
Permaneceremos serenos. Agir a lei universalestabelecida: personalidade ou fora que adquirem predo-mnio, levantam contra si outra de igual valor.
Existe possibilidade de caos apocalptico aps a re-volta. Continuaremos serenos. Somos ns, e somente
ns, os construtores do destino. Temos potncia e inteli-
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MOTIVO, PRINCPIO , DESTINO 23
gncia infinita, superior quela que concedemos aos Mino-
ritas. Nunca chegaremos insnia de um apocalipse. Ento ser uma luta sem fim! Preferes permanecer em uma sonolncia esttica?
Introduzimos nos espritos o sentido absoluto da eqidadeque reaparece aps o turbilho das paixes. A contrio li-bera a razo. Assim o rebelde receber o perdo do Criador.
9
Antes e depois deste evento, a Mente, que secompraz de ser chamada Princpio, afagava no
seu ntimo, como a me o faz com a criana no seio, umsentimento que se acresceria sempre mais. Este era indefi-nido, possua o impulso da animao, o desejo do inespera-do, e acariciava o esprito. Outra vez a insatisfao moveu o
Princpio: A criao se expande em todas as direes, adquiremaior luminosidade, a transformao csmica procede. motivo de satisfao; mas alm dos efeitos causados pelasleis naturais, sempre previsveis, percebemos a ausncia dealgo que a anime...
De que mais sou o Princpio?O Pari props: Na natureza podemos imprimir uma infinidade de
carteres variveis para causar o imprevisto.
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24 BREVE HISTRIADA REALIDADE
Falta muito mais: o movimento, a difuso, o aspec-
to, a distino. Falta a vida. Qual o conceito da vida? A vida a transferncia da nossa existncia mat-
ria inanimada, que assume aspectos, funes e singularida-des perenes, mas caduca por que no eterna, se renovapara ser perptua.
No silncio seguinte, a Mente considerou o conceitocomo o pintor considera as ltimas pinceladas sobre a tela.
... E entreter a nossa ateno, excitando a nossafantasia.
Como procederemos? Espalha aqui e acol os impulsos de nossa existn-
cia, assim que do nico brote as mirades, do nfimo o gigan-
tesco, do simples o complexo, do exemplar a variedade.O Pari imprimiu firmemente o conceito na intelign-cia; assim sendo, a vontade, ao se manifestar, infunde nacriatura imaginada as caractersticas desejadas.
O realizador adentrou-se entre os corpos csmicosvelozes e em convulso. Distinguindo um, sereno e agra-
dvel, soprou-lhe o esprito de vida, ordenando: V e estabelece-te naquele stio, toma forma e mul-tiplica-te.
Pari disse Mente: A vida lanada, comear a gerar em um lugar
ameno, no to quente como o corao de uma estrela, enem frio, como fora da realidade; a existem leis naturaisclementes. A vida ser estimulada pela nossa ateno, a di-fuso, pela nossa graa.
Iniciava-se o segundo princpio.
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MOTIVO, PRINCPIO , DESTINO 25
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grande distncia, a realidade incomensurvelparece um aqurio esfrico e transparente, noqual suspenso como plncton, gros de matria lumino-sa, que se movem de maneira imperceptvel. Segura a esfe-ra um cinturo de galxias, que impede a disperso, masfavorece a expanso perptua.
O Nada agora absorvido progressivamente pelo vo-lume criativo, torna-se espao mensurvel repleto de pon-tos materiais.
Das muitas galxias parecidas com girndolas, uma tembraos na forma de foice; na extremidade de um braoexiste uma estrelinha; em volta dela, fazem roda sobre r-bitas elpticas satlites que giram tambm sobre os pr-prios eixos como pies.
Sobre um destes satlites, chegou o esprito da vida. Ovetor tangenciou a esfera deixando a carga e ricocheteou. A
casualidade cientfica o encaminhou a uma nova direo.A Terra, naquela era geolgica, no era verdadeiramen-
te um lugar ameno, dominado de leis fsicas clementes; aocontrrio.
As suas entranhas expeliam magmas fluidos, lapli ar-dentes, cinzas quentssimas; a atmosfera era nebulosa,
saturada de gases letais; a superfcie rochosa fendia-se emtodas as partes pelos tremores ssmicos, e o p infiltrava-se em qualquer rachadura.
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Neste ambiente, o esprito de vida teria gerado seres
estranhos, bem diferentes do gosto e da formosura nsitosna Mente.H muito tempo tinham-se formado os mares, vastos,
profundos, mornos. Nas profundezas no chegavam as ra-diaes mortferas, mas neste lugar dominavam a tranqi-lidade e o silncio absolutos. As diferentes temperaturasprovocavam a subida e a descida das guas que levavam con-sigo, na forma diluda, uma infinidade de partculas de ele-mentos. Prxima superfcie, a luz excitava-as de uma for-ma estranha, favorecendo a unio ntima, simples,formando um aglomerado de tantas simplicidades.
O esprito de vida desceu no mar, foi o mar que lhedeu um corpo, foi o mar quem lhe ensinou o movimento, a
expanso, enfim, foi o mar que, no momento oportuno,empurrou-o junto com seu corpo sobre a praia mida earenosa.
Mas, o que este esprito de vida?
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um ncleo de inteligncia ativa, codificado emconceitos adaptveis ao ambiente, munido de umagrande quantidade de impulsos de desenvolvimento ma-terial. Um novelo, no qual o fio, quando estendido, revelatodas as suas caractersticas.
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No princpio, o esprito de vida assimilou elementos
materiais para compor um programa gentico, depoiscindiu-se, multiplicando a individualidade e os aspectos. Ofenmeno um simples ato de engenharia gentica queprofetas nunca poderiam imaginar, apesar da inspiraosuperior, pois ignoravam um sem nmero de noes.
Ento: glria nas alturas aos pensadores e cientistasque nos revelaram os conceitos da Mente, a tecnologiamaravilhosa do Pari.
Assim nasceram as primeiras espcies.A Mente tornava-se livre para conceber novos argu-
mentos...No surpreende aos pensadores sagazes saber que a
Mente, livre de empenhos especulativos, persegue a for-
mulao de conceitos em harmonia com as leis naturais paratransferir a vida em outros stios, embora no existam se-res que superem os milhes de anos a serem percorridosna velocidade da luz. Isto sem violar o livre arbtrio huma-no, evitando a ingerncia nos eventos terrenos.
Atualmente, somente o pensamento humano alcana
instantaneamente corpos astrais, afastados da Terra milhesde anos-luz, mas ainda ele no sabe como, e com qual ma-tria recompor o seu corpo.
A terra comeou a verdejar sob o sol mitigado pelaatmosfera e por uma benvola garoa. Os boatos das erup-
es, o estalido das lavas, juntos ao ondear e queda dasguas, enchiam a paisagem. s vezes, o vento e a chuva ge-ravam sons entre ervas e arbustos. Porm, quando tudoparava, a existncia caa em uma estaticidade fona.
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A Mente, atenta e crtica, notou, de sbito, a falta de
algo. A vida movimento imprevisto, sons contrastantese harmoniosos, Divenire surpreendente. Mas este mun-do est longe do nosso desejo. Parece uma natureza morta.
Ns a criamos enraizada na terra da qual suga ali-mento; sobre a terra se eleva e se alastra, nada mais.
Faltam seres que se agitem na gua, que andem so-bre a terra, que se liberem no ar, pequenos, grandes, colori-dos, que tenham muitas formas. Ns amamos a variedade!
O Pari procurou o esprito da vida nas guas, encon-trando-o, excitou-lhe ainda mais a virtude da mutao.Apareceu um ser independente, andante, com novas ca-ractersticas.
Mais uma vez, foi o mar quem favoreceu a vida: com asondas, imprimiu o respiro profundo e compassado novacriatura. Foi o mar, com as correntezas a formar-lhe o siste-ma sangneo, com os vagalhes, a natureza nervosa. Foi omar a empurrar sobre a terra o anfbio, que mais tarde pe-netrou a floresta. A terra foi materna, facilitou-lhe a repro-
duo, o ambiente solicitou-lhe, sbito, a adaptabilidade.
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Splendor seguia com cuidado a difuso da vida.Causavam-lhe maravilhas os vegetais, mais aindaos animais.
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Como pode um ponto vivo absorver matria,
incorpor-la, crescer, mudar de aspecto embora per-manecendo o mesmo , reproduzir a si mesmo e, ao com-pletar o ciclo vital, dissolver-se?
Ento convenceu-se de que a vida difere da existn-cia, o produto de muitos conceitos, que sob o impriodas leis materiais do origem a muitos complementos jun-tados para formar o exemplar, ou seja, o prottipo. Avida no surgiu do acaso, foi uma criatura longamenteidealizada e pensada. Se assim no fosse, seria um ato demagia ilusionista, arte obscura que o Criador desdenha,porque pensador profundo, embora saiba us-la. Amagia e a casualidade so argumentos didticos de sbiosignorantes.
A observao revelou tambm a Splendor uma parti-cularidade maravilhosa: a chave da perpetuao. No reces-so mais ntimo da criatura existe um programa aparente-mente inativo, que quando excitado e condicionado d umavontade produtiva, dando origem tambm a um novo eigual indivduo da espcie.
Concluiu, ainda, que uma ninharia externa introduzidacasual ou voluntariamente no programa, alteraria a ordem,originando uma criatura diferente. A descoberta o encan-tou, e foi-lhe apresentada a possibilidade, na sua imagina-o excitada, de combinar um indivduo de singularidadesconfusas, ou seja, o ajuntamento de caractersticas contras-
tantes em um ambiente adverso para formar um indivduoanormal.
O esprito se dilatou pela incontida satisfao.
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No crio conceitos, no emano energia, mas tenho
inteligncia para elaborar uma originalidade. Posso trans-formar, pois sou um transformador.
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A Mente costumava descer da sua realidade emum vale para gozar a aura do entardecer na vagasombra vespertina e observar a obra em desenvolvimen-to. frente de uns seres gigantescos e plantas esquisitas,
surpreendeu-se e disse ao Pari: No so verdadeiramente estas as criaturas pensa-das e desejadas.
Algum nos quer imitar, mas desajeitado: violouo cdigo gentico. O resultado um mostrengo do ser ori-ginal.
Realmente perambulava pela pradaria um surio comrabo e pescoo compridos que partiam de um corpo volu-moso e disforme, sustentado por duas enormes patas pos-teriores, contrastando com as duas anteriores atrofiadaspela inutilidade. Desfolhava com dificuldade os brotos doscumes das rvores. Por ter corpo pesado e tamanho desco-munal, era lento e temia o cho mole dos pntanos. Viviauma lenta agonia.
Nessa criatura foram alteradas as propores cor-porais, desprezando o bom senso existencial. No se pode
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criar disparate para ser original, mas seguir o bom senso
em harmonia com o ambiente. A natureza extinguir estae outras monstruosidades.
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M as a Mente no tinha sossego; era dominadapela nsia criativa e no conseguia tracejar oobjeto de sua vontade.
Esta realidade construda com um sem nmero de
conceitos, idias, pensamentos, e uma enorme gerao deenergia, embora se dilate e conquiste o Nada, parece-meinerte, desalmada e at intil.
So insatisfatrios os aspectos variados da matria,os movimentos limitados dos vegetais, o comportamentoobtuso dos animais, comandados pelos astros e pelo am-
biente para manifestar o instinto deles. No corresponde nossa, outra inteligncia; ao nosso perceber, o ato da per-cepo alheia. Assim, no temos a troca de sensos, at osmenores, para animar as nossas pessoas, para alegrar-nosou entristecer-nos, e para mover-nos ao. Ningum sabede ns ou nos envia sentimentos vivos.
Os Minoritas sabem de ns, andam pela realidadea testemunhar a nossa existncia.
Porque conhecem as nossas pessoas e virtudes. Mas,se assim no fosse, como eles se comportariam? Eis as dvi-
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das da percepo: no existe uma criatura discente e volitiva
em outra realidade que nos perceba, embora no tenha ple-na certeza com os prprios meios. Ento a incerteza susci-taria nele, criatura duvidosa, monlogos apaixonados, fer-vorosas indagaes, atos honrosos de humildade.
Este j um conceito. Pode ser. O sentimento nos induz a fantasiar um novo ser
dentro da matria, esprito sensvel espiritualidade, comrazo equilibrada de percepo reveladora, livre, conscien-te, mas cego de ns.
Quais outras virtudes receber? O inestinguvel desejo de conhecer, a pluralidade
da pessoa, na sua singularidade; assim poder disputar so-
bre qualquer argumento, e disputando, raciocinar. Serigual a ns, e pelo desejo de conhecer tornar-se- senhorda realidade.
Assim ser.
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N a floresta mida e sombreada, viviam gruposde quadrmanos. Entre os integrantes, distin-guia-se, pelo porte, uma jovem fmea ntegra. Ela tinha ohbito de descer, todas as manhs, dos ramos, adentrar-seentre as ervas da savana e subir sobre um baob.
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A planta anosa, de mole colossal, dominava a planu-
ra, agitava a fronde ao vento matutino como cabeleiradesordenada e, sobre as razes retorcidas e salientes, pro-jetava uma sombra recortada. A fmea assentava-se na jun-o do tronco com o ramo. Parecia gostar da solido e docontato com a rvore gigantesca. Do seu lugar, observavaao redor o horizonte. Durante a observao, os msculosdas sobrancelhas baixavam e levantavam, conforme a in-cidncia dos raios solares, as plpebras moviam-se delica-damente enquanto as pupilas se dilatavam, a mo acarici-ava a cortia. Nada acontecia de excepcional durante aobservao panormica, que durava de manh at o lti-mo sol, nunca interrompida pela fome ou sede. Aoentardecer, a fmea reunia-se ao grupo.
Ela era atentamente observada. Ela percebe algo, levanta o velo sobre a cerviz, abre
a boca para inspirar tambm, mas no distingue. Nela, se manifesta uma sensibilidade natural e re-
finada, gravada indelevelmente na estrutura gentica. A nos-sa ateno doa um senso indistinto ao ambiente, que ela
percebe.Chegaram os dias de calor e do impulso de copular.Um macho seguia a fmea com um olhar dominador. Cer-to dia, aps seguimento furtivo, alcanou-a sobre um ramode baob. Entre gritos e movimentos agitados, a dominou.
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Seguiram-se dias estranhos: o ar se fez pesado, aluz opaca dominou o silncio da espera; osquadrmanos temiam e se escondiam entre a folhagem maisespessa.
Uma noite liberou-se a violncia dos elementos: ulu-lou o vento como mastim, arrancou folhas e ramos das r-vores maiores, estouraram os raios, incendiando a secura.Enfim, a chuva chicoteou a floresta para apagar e molhar.
A fmea, tremendo, espiou o cu, empurrou um ramoe folhas, mas logo cobriu os olhos com as mos. Entre as
conjunes dos dedos, viu o fulgor do relmpago fixo so-bre si, provou o calor, que das extremidades dos plos che-gava pele, penetrava os poros, as carnes, concentrando-se no abdmen, para depois sentir novamente o toque daatmosfera mida e quente.
Naquele mesmo dia, ela foi fecundada pelo macho
dominante.A criatura concebida em tais circunstncias nasceu nas
alturas, na cavidade de um tronco, sombra da folhagem,numa manh de sol, durante uma doce aragem.
O instinto foi mestre primoroso, mas a me o aban-donou durante o puerprio, morreu logo.
O neonato foi recebido no seio de uma velha fmea,ainda lactante .Cresceu rapidamente, revelou-se pequeno temporo,
acima de tudo no uso dos membros superiores e dos de-
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dos; manifestou gestos inslitos at entre adultos. Era in-
sistente na observao do mundo ao seu redor. Mais adi-ante na idade, manifestou momentos de imobilidade, naqual s as pupilas se moviam, seguiam o fluir das guas doregato, o vagar das altas nuvens nos claros da floresta, aagitao dos companheiros do bando. Havia luz, mas lheera difcil ver o sol por inteiro. s vezes, erguia a corcova,o pescoo, as pernas e emitia sons modulados, os compa-nheiros se calavam, se sentiam dominados, o olhavam debaixo, o temporo retribua l de cima, contraindo os l-bios em forma de arco. O instinto comandava as funesfisiolgicas: comia quando o estmago se contraa, evacu-ava ao primeiro impulso, copulava quando o cheiro e osangue o estimulavam, eriava os sentidos ao primeiro si-
nal inslito.Um dia teve um movimento contrrio ao instinto: abs-
teve-se de alimentos, embora frutas e brotos lhe estives-sem prximos. A languidez suscitou-lhe a imaginao. Re-viu sua frente, muito do que tinha visto no tempo passado.E mais: conseguiu com um instintivo esforo mental ima-
ginar: a nuvem flua como gua no regato, os ramos se agi-tavam como os companheiros durante a rixa, o sol zigueza-gueava tremendo como o relmpago.
Provou um contentamento indefinido: havia vencidoo imobilismo e a preguia mental.
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Ele, como a me, tinha o hbito de descer sobre aplancie e aproximar-se do baob. curta dis-tncia, parava para observ-lo com muito interesse. Atrsdas pupilas, agitavam-se imagens e sensos familiares, de umasimilaridade atvica.
Assim teve incio no primognito aquele fenmeno,no raro, de reviver experincias dos consangneos que jse foram, na verdade exerccios de uma das tantas virtudesrecebidas. provvel que, com o avanar da evoluo, ohomem tome conscincia de outras virtudes at hoje
insuspeitadas.Enfim subiu ao primeiro ramo, o mais forte, e o ex-
plorou por todo o seu comprimento. Repetiu a explora-o muitas vezes.
No dia seguinte subiu aos ramos superiores at al-canar a cimeira. A, afugentou um urubu que o irritava
com sua negra presena. Olhou longe como costumavafazer a me. Distinguiu a linha ondulada do horizonte.Acima dela permanecia uma cor tnue de flores, que sedissolvia na luz, embaixo destacava-se uma zona de ervasaltas, flexveis, manchada aqui e acol de terra descober-ta. Gozava o calor insipiente do dia, mas deliciava-se com
o frescor da floresta de origem. Depois, levantou a cabe-a e viu uma nuvem, atrs dela radiava o sol. Olhou-o pormuito tempo.
Ele comea a nos perceber.
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O esprito dele se manifesta e prevalece sobre a
bestialidade. Agora podemos cham-lo de Homo.
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A lguns pensadores, obstinados em explicar o sur-gimento e a existncia do homem na criao,admitem que a alma, soprada uma s vez na besta, vincu-lada perpetuamente ao gnero humano e se origina na pes-
soa no ato da concepo. A alma tem virtudes primordiaisde absorver e reter sensaes do seu ambiente, com os quaisforma uma coletnea, que a experincia enriquece e trans-forma em esprito ativo, sensvel, culto e realizador. Mas necessria a memria, hmus prodigioso que ajuda na ger-minao das idias e pensamentos semeados pela mente.
Agora, Homo mirava com interesse o ambiente e guar-dava os detalhes. A observao insistente o obrigava a lon-gas paradas que lhe moderavam os impulsos naturais, e lhepermitiam apreciar casos insuspeitos e surpreendentes.Uma raiz que aflora distante da rvore, a passagem que seforma, afastando ramos de plantas prximas.
Estes so alguns dos efeitos causados pela atividade
mental; com a vivncia, multiplicaram-se, e foram motivode imitao pela prole futura.
Ento, para pensar algo era necessria a imobilidade ea observao, mas s vezes tal postura no produzia imedia-
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tamente o resultado. Homo permanecia sentado, em siln-
cio, com os olhos arregalados, como um futuro asceta.Quando dispunha a dar-se um descanso para afrouxaras contraes nervosas provocadas pela imobilidade cor-poral, punha as mos sobre a regio lombar e se estendiapor toda a estatura, fechando os olhos. A energia despendidaprovocava-lhe uma correspondncia entre o centro ner-voso e as extremidades sensveis. E se o centro nervosofosse presidido atentamente pela mente, estabelecia-se umatransmisso do esprito aos sentidos, dando aparncias per-ceptveis ao primitivo sobrenatural.
O sobrenatural do primeiro homem era pobre, por-que a imaginao humana tinha poucas imagens, sensaessem eventos importantes, e no dispunha de materiais
mnemnicos atvicos, com os quais a inspirao, por inter-mdio da mente, compe o seu mundo.
Aps uma certa idade, Homo revelou um comporta-mento surpreendente: provava uma atrao irresistvel portodas as fmeas prximas. O uso da imaginao causava-lheexcitao sangnea e uma efervescncia efusiva. No es-
perava o perodo natural, o momento e o local apropria-dos, mas impunha a sua masculinidade ao seu querer. Tinhaelaborado at um ritual de seduo: chamava para si a aten-o da fmea com sons e movimentos, a interessava comcontraes dos lbios que s ele sabia fazer, paralisava-a comolhar incisivo e, quando a tinha perto, acariciava-lhe o ros-
to, as partes glabras do corpo. Quando o tato comunicava-lhe um estremecimento da companheira, a dominava. Elase sujeitava porque o ato era prazeroso e prolongado, em-bora fosse extemporneo.
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Os machos invejosos, alguns dos quais j revelavam
degenerao pela longa abstinncia, o hostilizavam peloorgulhoso domnio, mas Homo punha-os a correr, amea-ando-os e golpeando-os com um grosso ramo. Assim, eletinha para si todas as fmeas; nenhuma gota do preciososmen gerador de espritos e intelectos se perdia.
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H
omo, aps ter afugentado os pretendentes, vol-
tava triunfante para suas fmeas, como o reiSalomo e suas mil esposas e concubinas, a procriar seresde inteligncia superior para dominar espaos vazios e po-vos inferiores.
Naqueles tempos, ainda valia o preceito de amar e pro-lificar; hoje possvel somente nos territrios desertos... ou
nos mundos vazios.Passados os meses, nasceram os primeiros filhos deHomo. Semelhantes ao pai, revelaram-se logo temporose sensveis. Formavam uma famlia cada vez mais numero-sa, agora separada do bando de origem, pois as mes temi-am as hostilidades dos machos. A famlia adensava-se emvolta do patriarca, que assumia uma postura de protetor euma expresso ameaadora contra os estranhos.
Formara-se o primeiro cl de criatura, com espritogerado de matrizes animalescas.
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As criaturas de esprito se multiplicam rapidamen-
te, porm Homo o nico que nos procura. Convm dar tempo ao tempo. Penso que confiamos a esta criatura uma tarefa di-
ficlima, embora lhe tenhamos dado algo de nossas virtu-des e personalidade. Nada conseguir sem a nossa assistn-cia.
Ainda no aconteceram o evento impressionante ea observao surpreendente que induzem as mentes re-flexo insistente e profunda. Assim tudo acontecer natu-ralmente no livre arbtrio.
Homo entrou na idade da reflexo aplicada. Desciacom prazer sobre a plancie; entre as gramneas de muitostamanhos, observava o baob. Lembrou que dos ramos ele-
vados, olhara esttico o pr-do-sol. A cena se repetiu in-cessantemente na imaginao, at quando Homo conseguiucompor uma segunda: a subida do sol de uma zona de coralaranjada sobre o horizonte para o turquesa do cu maisacima. At ento, Homo nunca vira uma alvorada, a densavegetao ocultava tal cena.
Uma manh, ele reuniu as fmeas e as proles. Comum raminho na mo, impeliu-os atravs da savana. Passan-do pelo baob solitrio, fitou-o longamente. Parecia umadespedida. O calor moderado estimulava a tropa a avanarsobre a plancie desconhecida. Enfim, a canseira e a noiteimpuseram a parada. Uma nuvem nica pairou sobre os
migrantes e liberou uma garoa refrescante.
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A luz da manh mostrou pequenas poas dgua, eentre as ervas, vargens repletas de sementes ver-des e esfricas. A tropa alimentou-se imediatamente destas,at fartar-se. Homo, durante a mastigao das tenras e do-ces leguminosas e o deglutir da gua fresca, julgou o aconte-cimento esquisito. Apoiou a cabea sobre o ombro esquer-do e aguardou.
Defronte dos seus olhos, subiu o sol imponente, pas-toso como magma incandescente, cujos contornos conti-nham a agitao do ncleo, liberando raios de esplendor.
Quando emergiu por inteiro, as ervas e os sons pararampor momentos, depois a vida voltou a fluir. Homo perce-beu o dilatar das meninges pelo prazer de vivenciar umevento novo e sagrado. Tomou coragem, alongou o braoem direo ao astro e, com a mo, como se sentisse arotundidade, o afagou com carinho.
No reino do esprito, difundiu-se o regozijo. Nunca nos foi enviado semelhante sentimento comum simples gesto. gratificante, porque nos chega de umacriatura que nos percebe, mas nos ignora.
O louvor, como exalao de aroma, vagueou at che-gar ao entendimento de Splendor.
Como um animal pode merecer louvor e receberum destino seguramente importante?A sua inteligncia caiu nas profundezas obscuras, re-
pletas de pressentimentos indistintos.
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...A Mente nada esconde, mas somente a razo
pura e universal a compreende. No quero ser seu segui-dor, fantico raivoso, mas entendedor racional... Para issoo meu esprito deve estar sereno, convicto de possuir en-tendimento... Ter f...
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H omo, favorecido pela benevolncia superior, ani-mado pela companhia da grande famlia, alcan-ou enfim as verdes colinas vistas de longe. Algumas eramsoberbas, a maioria, doces corcovas, todas manchadas dearbustos viosos. Nos declives, escorriam guas claras e ta-garelas, entre margens cobertas de ervas aromticas e fres-cas. O ar era calmo, a sombra prazerosa. Nas alturas, pai-rava a tranqilidade que acariciava a mente. s vezes,
ouvia-se o zumbido das abelhas, o mugido da vaca que ama-mentava o vitelo no prado.Aqui, o predador se fez temeroso, no procurou vti-
mas. A morte guia o morituro como se fosse um velho ele-fante, o conduz no recesso de sombras e o deita em pazsobre a relva macia para expirar sem dor e lamento. Bemse pode afirmar que esta a terra onde escorre o leite e omel, jamais o sangue e o fel.
Os influxos do ambiente buclico foram to dominan-tes que o cl aquietou-se pela admirao. Recuperado, co-
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meou a colher os frutos pendentes e a experiment-los.
Homo, atento, saboreou um fruto pequeno, de casca te-naz e polpa enxuta, emitindo um som inusitado que cha-mou a ateno dos familiares; depois outro, carnoso, quena mordida espirrou suco e lanou um som bem diferentedo primeiro. Ento todos provaram os mesmos frutos epronunciaram os mesmos sons.
As criaturas comearam a distinguir e a falar.Homo, saciada a fome, comeou uma atenta observa-
o. Encontrando-se sobre uma elevao, mirou alm dosvales. A surgia uma montanha majestosa: o cimo subia agu-do, contornado de cmulos coloridos, dos declives des-ciam saraivas de seixos como torrentes petrificadas; sobreos prados inclinados, raros arbustos frondosos pareciam
esperar; no sop, uma lagoa oblonga, que possua nas mar-gens moitas de bambu, no meio dela, uma ilhota. Parecia oolho de um filho a mirar o cu. No vale profundo, pedras efendas.
A paisagem impressionava muito. Homo percebia umsentimento que no sabia explicar enquanto sugava a polpa
mole de um fruto e gotas de suco lhe escorriam pelo velo epela pele glabra.Ficou assim at quando o sol do znite comeou a de-
clinar. Ento, um bando de pssaros saiu de uma zona obs-cura e voou por algum tempo, festivo e estridente, em di-reo ao astro, depois desapareceu assim como tinha
chegado.
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C omeou o pr-do-sol, as sombras alongaram-se,o sol cansado hesitou junto ao cume, depois dei-tou-se atrs da montanha. Esta iluminou-se ainda mais detintas vermelhas, pareciam chegar de l vozes alegres.Homo as ouvia com os olhos arregalados, imvel...
A montanha a morada do sol!No dia seguinte, reuniu os seus e os encaminhou
montanha. Desceram o vale, caminharam muito. Chega-dos lagoa, a bordejaram por algum tempo, depois ataca-ram a subida pelo lado oposto, aquele mesmo observado
ontem. Homo ficou contente: a caminhada revelou-se fcilentre as sombras e o primeiro frescor da tarde. Com o tem-po, o afogo enxugou a boca dos migrantes. Estes, chama-dos pelo reflexo solar, se dirigiram desordenadamente auma poa dgua. Somente Homo, absorto no propsito,continuou a subida acompanhado do batimento cardaco,
amplificado no pavilho dos ouvidos. Quando no podemais, parou e agachou-se. Ainda ofegava quando ouviu atrsde si um deslizamento de terra e pedras. Voltou-se e viuum dos seus seguidores; este, quando prximo, parou etambm agachou-se. Homo olhou o cume, seu companheirofez o mesmo. Homo respirou profundamente e foi pron-
tamente imitado; o lder contraiu os lbios num sorriso efoi retribudo. A sede, o cansao e as feridas nos ps no osdesanimaram, os dois inturam que no alto encontrariamconforto. Quando, das ltimas luzes, chegaram a uma es-
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treita esplanada: encontraram uma poa dgua cristalina e
um ninho com ovos de pssaros numa sombra de musgofofo. O seguidor sorveu gua e ovos; quando satisfeito, co-lheu maos de musgo para mastigar. Homo, por sua vez,permanecia imvel e perplexo, enfim concluiu:
O sol grande, fica distante, livre de ir onde quei-ra, mas sempre me acompanha.
Olhou o companheiro e o imitou. Ambos satisfeitos,arrotaram.
O pr-do-sol se completava, dele s se via um peque-no segmento do qual se projetavam ntidos raios, mais pa-recendo dedos de fogo. Da a pouco, a ltima parte da moluminosa desapareceu juntamente com um bando de aves,depois de uma revoada espiral. Homo olhou atentamente,
seu rosto ficou rubro, seus olhos reverberaram, as plpe-bras pararam. O companheiro, que o observava, emitiu umgrito de terror.
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D epois que o horizonte tornou-se obscuro, os doisprocuraram um lugar para descansar. Logo o en-contraram: uma cova rasa forrada de musgo. O seguidordeitou-se nela, enquanto Homo procurava ainda entendero significado de tudo que havia visto. No conseguiu, masprovou o prazer de aspirar o ar fresco, o odor das flores
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noturnas, mesclado a aromas de ervas, que dilata as narinas
e desce at os pulmes, como se fosse um sopro de outroser. Mas no ar, captou um cheiro que no era o de vegetais.Ento, virou-se: o companheiro o olhava com insistnciadebaixo das plpebras cadas, a boca entreaberta, da qualsaa um som dbil, parecendo uma chamada. Homo farejourepetidamente, e s ento viu no acompanhante uma fmeapronta. Como se fosse um banhista quase enxuto, que danuca cabeluda lhe desce uma gota dgua que molha as vr-tebras, insinua-se entre os glteos, e provoca frmito, assima excitao chegou-lhe ao escroto, sentiu um formigamentoquente. Homo aproximou-se, abriu-lhe os membros, pe-netrou-a com doura at o desvelo e alm, depois comeoua rodar as ancas. Era gostoso assim; nunca mais como os com-
panheiros da floresta que dominavam a companheira, cain-do sobre as costas dela.
A lua mostrava-se a um quarto do cu, fria, indiferen-te, mas os seus eflvios estimulavam o prazer.
No mais o impulso animal que comanda o indi-vduo, mas a razo movida pela natureza para auxiliar o des-
tino. Havendo criaturas com esprito e razo, recebidosde ambos os pais, comeam as combinaes genticas.
Os perdidos durante a subida da montanha tambmso filhos de Homo: tem esprito, razo e sensibilidade.
Estes, mudando de aspecto, daro origem diver-
sidade.Naqueles tempos, ressoavam no ar bramidos ferozes,
boatos eruptivos e ssmicos, estouros de ondas sobre os re-
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cifes. A terra era povoada por animais de muitas espcies e
coberta de infinito nmero de vegetais. A adaptao ao am-biente solicitava mudanas nos organismos dos seres vivos.Difundia-se a variedade to desejada pela Mente criativa.
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O homem no se manifestara ainda. A sua menteera criana infante, a conscincia muda, pois dis-punha de poucas idias e situaes contrastantes. A
animalidade hereditria e latente o guiava no sustentamentocotidiano do corpo e na perpetuao da espcie. Com cer-teza, a Mente usou tal expediente a fim de que o primeiroancestral e os seus descendentes no se extinguissem entreas mandbulas dos predadores ou nas dificuldades naturais.E, de vez em quando, os favorecia na obscuridade da caver-
na. Quando solitrios, eles afugentavam a impotncia como imaginar de uma cena de sobrevivncia, lanando mgi-cas azagaias, matando, a golpes de tacapes, os mastodontescarnvoros. Oh espeluncas paleolticas! De quantas cenasde caa, projetadas pela imaginao humana fostes teatro!Hoje, restam somente algumas pinturas rupestres e res-qucios de fuligem de fogos antigos.
No se pode explicar diversamente como o homempodia enfrentar e vencer um mamute com muitas tonela-das de peso, sobreviver em um ambiente glacial, despido
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de um velo compacto, desprovido de uma proteo adiposa.
Nestas condies, a mente tinha dificuldade para construir.A memria inata, mas latente; somente o exercciorepetitivo revela a sua grande potencialidade. E, se no exer-ccio repetitivo, o improviso introduz uma variante que sejatambm pequena, inicia o raciocnio, comea a girar a rodado progresso. Mas, naquele tempo, a bagagem mnemnicadisponvel era mnima, eram dificlimas as imitaes esimilitudes. Nestas condies, no se podem atribuir cul-pas e castigos a uma mente que ainda no possui a capacida-de de querer e de compreender. O primeiro movimentoda evoluo humana passa a ser o trabalho constante daemotividade virtuosa, a mesma que o Criador sancionou epromulgou no esprito humano depois de constatar que
foi o sentimento natural que moveu a sua inteligncia.Semelhantes aos Quarks, os sentimentos so de ml-
tiplos sabores e de intensidade varivel. Nascem nosubstrato do esprito, suscitados pelas imagens, situaesguardadas na memria, juntamente com as lembranas. Ohomem que lembra, experimenta novamente o sentimen-
to, no com a mesma intensidade, mas com o sabor primi-tivo. Talvez at sinta as sensaes visual, auditiva, degusta-tiva, olfativa e ttil que acompanharam a manifestao dosentimento. A memria guarda tudo isso no arquivo at amorte, depois se dissolve, pois tudo foi imprimido na ma-tria que se decompe.
Ao contrrio, o esprito se comporta como dono, poisdomina a memria: avoca a si e sublima as lembranas comtodos os seus corolrios e as conserva de forma indelvelna sua biblioteca at aps a morte, juntamente com os pa-
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piros herdados por via gentica dos ancestrais. Os papiros,
escritos em idiomas antigos ou ignorados, dizem de even-tos longnquos no tempo, de sentimentos agora inexisten-tes. Entender o todo difcil. Os papiros atvicos, se exu-mados momentaneamente das profundezas do ser, em umaatmosfera dramtica, causam impresses fortes.
Como foi dito, a memria existe at a morte, postnon liquet. Porm: ante liquet, pode provocar situaessingulares.
Admitindo uma causa qualquer, seja esta fisiolgica,psquica, material ou ato volitivo, a memria abre o arqui-vo, e dela saem acontecimentos seguidos de sensaes. Ar-tistas aproveitam destas aberturas, mas profissionais, cien-tistas, mediante a concentrao, se servem dela para aplicar
os conhecimentos no trabalho cotidiano.Quando, porm, o esprito abre a sua biblioteca porum sopro de inspirao superior, se revela o sobrenatural:a iluso, a viso, a incorporao de traspassadoset similis.
Tudo construdo com elementos mnemnicos da prpriaexperincia, e daqueles nebulosos papiros recebidos por
via gentica. Se, depois, o contedo da biblioteca age so-bre o corpo material, pode-se suspeitar de um caso comsugesto desejada pela insistncia da vontade imaginativa.
Caso digno de nota universal aquele das profecias.Como foi dito, na biblioteca so conservados sentimentos,sensaes e imagens, mas no todos os elementos para com-
pletar uma profecia clara e completa. Quando faltam equase sempre faltam elementos, h uma profecia apro-ximativa, alegrica, que d origem a muitas interpreta-es. O pior o insuspeitvel, acontece quando a imagina-
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o exuma com os elementos mnemnicos os sentimentos
cidos, detestveis e malignos do profeta, que provavel-mente foi tambm pecador e pervertido. No deve sur-preender que as produes profticas sejam apocalipsescruis, massacres ignominiosos e epidemias continentais.
Parece que os profetas sofrem de uma mrbida ne-cessidade de prever as desgraas do prximo. Quantos equais profetas anunciaram amor sublime, a unio de na-es, as melhorias do gnero humano, o triunfo da igual-dade entre todas as gentes, o evento glorioso de imprimira pisada humana em solo lunar, a difuso da vida no cosmo?
Talvez nunca tenham existido tais argumentos na bibliote-ca do profeta, mas provavelmente obscenidades que se tor-naram sacras no entender dos infalveis.
Admitir um futuro apocalptico significaria, para a ra-zo, no intuir a misso do gnero humano de propagar avida nos mundos e, para o Todo Poderoso, o abandono deum projeto invivel.
Ento convm perguntar: Somos todos alterados?Talvez a resposta certa seja: na conscincia foi intro-
duzido malignamente o senso de culpa e de derrota paraque o homem permanea numa realidade imensa, vazia,intil.
Compete aos cientistas atentos, aos pensadores hones-tos, individualizar o ponto de contato entre os vrtices con-trapostos dos tringulos que encerram as reas dos campos
espiritual e material, como e quando h troca de energia, oque h de anmalo que dificulta a compreenso geral. Valeua pena lembrar que a criao est sendo feita com bom sen-so, em harmonia com as leis anteriormente promulgadas.
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A histria se repete (os autores so semelhantesentre si).O par que se destacou, deu origem a uma famlia, des-
ta famlia, um cl de poucos pais, de muitas proles. Na de-sordem natural da primitiva sociedade era praticada a poli-gamia, como hoje em algumas regies do globo. O incesto,no den, no era considerado culpa to grave quanto o furtoda fruta de uma rvore proibida.
Assim aconteceu ao velho Lot, bbado, induzido aoconbio pelas duas filhas solteiras e necessitadas; a Brgia
Alexandre VI (aquele que nunca dorme sozinho), que libouas primcias da filha Lucrcia. Hoje, em alguns casos, o in-cesto fraterno legalizado em poucos pases nrdicos daEuropa, apesar das proibies da eugenia. Ao contrrio, apoliandria, que existe ainda na regio do Himalaia, pareceoriginada pela falta de fmeas; ou porque as mulheres des-
prezavam a maternidade para satisfazer seu calor natural,assim, promscuo, como nos tempos modernos, nas ruasdas cidades.
Provavelmente vigorava nos primitivos cls ojusprimae noctis, com o escopo de multiplicar proles de che-fes virtuosos, direito este aceito posteriormente por mi-
nistros religiosos inescrupulosos e oportunistas. Vicissitu-des da moral plstica que se adapta aos novos tempos!Ento, nada de novo sob o sol, porque tudo procede
naturalmente.
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No foi fcil Mente induzir o selvagem, sem nunca
impor, a formar uma pequena sociedade familiar na qualnascem os nobres sentimentos, as grandes aspiraes, a tro-ca amorosa de sentimentos, de gestos e pensamentos. As-sim, surgiu a cooperao, til ordem necessria, propa-gao de pensamentos, tudo ao redor do fogo da unio.
Somente a Mente pode dizer quantas e quais inspira-es e casualidades destinou ao primitivo. Foi um trabalhode pacincia, de bordado, que observado de perto, pareceum emaranhado, de longe, depois de milnios, revela oescopo e o significado do desenho.
indiscutvel: o primitivo que no se sensibilizar comas inspiraes, deixando a mente inoperante, jamais se afas-tar da floresta equatorial ou da caverna para penetrar os
espaos siderais.Homo continuava a procriar, o instinto lhe impunha a
tarefa, mas no mais com o vigor juvenil. Comportava-secomo o ancio Jac, que se atarefava sobre a estril Ra-quel, e depois, sobre a irm dela, Lia, e para variar, prolife-rava com Bala e Zelfa, timas matrizes. J eram distantes
os anos de intensa atividade, que lhe exaltavam a masculi-nidade. Provavelmente superara o seu remoto descenden-te, rei Salomo, que dominava mil mulheres, contava to-neladas de ouro e outras copiosas riquezas, reinava,guerreava, poetava e achava tempo para os exerccios espi-rituais. Admirvel exemplo de homem privilegiado, sobre
cujos talentos, soprava o quentssimo hlito da imaginao.
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M ais adiante, Homo constatou que aps aexausto das mltiplas cpulas, durante o re-laxamento dos nervos, era dominado por uma inrcia re-flexiva, na qual os sentidos se calavam de modo que a ima-ginao ondeava longe de sua vontade.
Mas isto no acontecia com todas as fmeas que aca-bava de penetrar, afastando-as depois de si, o fato se repe-tia com Ea, a primeira fmea do segundo ciclo reprodutivo.Chamava-a Ea, voz onomatopica, pois assim a pedia per-to de si. Ela se rendia carinhosamente e durante a cpula
emitia sussurros sob o bufar rtmico do seu nico macho.Aps o desafogo, na imobilidade, fixava intensamenteHomo; agradecia-lhe lambendo seu rosto e lbios. O ma-cho deixava-a lamb-lo. No abandono, sentia-se embaladoentre imagens vaporosas que queria para si, por isso fun-gava Ea, autora das vises. A fmea Ea tornara-se a mulher
de Homo.Este constatara que, aps o sono reparador, o toque
frio da gua viva e do ar matinal, o sangue corria com vigor,a atividade mental se revelava vivaz e precisa, fcil a imagi-nao e a unio de idias e pensamentos. Comeava a cons-truir mentalmente. Porm, a atividade mental minguava
ao entardecer, quando surgiam as dvidas e os temores e,no sono, os pesadelos. Para vencer o medo, precisava docontato carnal da companheira, suscitando a tpida concu-piscncia.
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A percepo cada vez mais aguada, e a melhor sensi-
bilidade, o convenceram de que a alternncia devia-se aosol. Homo experimentou gratido, e julgou o astro in-dispensvel, pois quando ele montava no cu, nasciam-lhe pensamentos, facilitava a colheita de frutos e semen-tes. Precisava ento pedir-lhe algo mais. Nasceu-lhe umaidia.
Durante dias, catou sobre as encostas da montanha pe-dras de peso e propores que ele poderia carregar na su-bida, amontoou-as na forma de cone sobre o plano prxi-mo ao bosque, a oriente. Aps a construo da pequenaStonehenge, ao primeiro clarear matutino, sentou-se comas pernas cruzadas, em frente ao montculo, em posioestudada previamente. Da a pouco, surgiu o sol pr trsdas pedras: apareceu pelota fusa em cadinho azul,iluminador do cu e da terra, assim radioso de desbotar asestrelas. Pareceu ao observador que o astro, por graa ecomplacncia, parasse diante da sumidade do montculo.
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H omo comeou a observar: o sol no tem corpoe nem pernas, redondo e possui braos e mostantos quantos so os raios que iluminam o todo que est
abaixo dele; na luz cada coisa se distingue. Quando dominano cu, ningum lhe par; quando se vai, as trevas se fa-
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zem patroas... Oh sol! por que no permaneces para sem-
pre a dominar o cu e a terra?Suspeitou de um motivo incompreensvel, um mis-trio. Lembrou quando ele e os seus saram da floresta e anoite chegou quando todos estavam na plancie sob a ga-roa. Depois da escurido, a luz mostrou leguminosas egua.
A mudana necessria: tem-se que suportar astrevas, que causam tremores e medos, para gozar o con-tentamento.
O sol, lento e seguro, levantou vo de condor andino. Ele ave soberana, domina os montes e os vales
prximos.Ea, a mulher preferida, sempre ocupada em uma ges-
tao, adivinhando o pensamento de seu homem disse: Ele aquele que me d a vida nas entranhas com o
calor do dia, e me fortifica com o frio da noite.No reino do esprito, difundiu-se expectativa. Na ima-
ginao da nova criatura, a Mente era o sol radioso, avemagnfica, fluxo quente que vem de cima, atributos que
comeavam a determinar-lhe a majestade, sem Homo tertido mais contato, usando somente a percepo. No futu-ro, a razo, quando treinada especulao, alimentada comconhecimentos e experincias, pintar um retrato mais de-talhado. Podia-se afirmar que ao homem fora atribuda mis-so dificlima, provavelmente superior quela dos Minori-
tas, que pode ser resumida: do conhecimento zero sabedoria absoluta.Splendor, observador polidrico, raciocinador insis-
tente, deduziu:
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A Mente sbria, no impe para si louvores adu-
latrios, oraes refinadas, honrarias destiladas, liturgiasfantasmagricas, hinos ecoantes, reverncias nadegadas,coisas e atos que satisfazem somente os inventores eaclitos. Ela axiomtica; sensvel, racional, dinmica,fantstica. A solido horrenda na nulidade obscura foi o es-tmulo que movera a Mente a criar. Ela ama a troca de sen-sos elevados, que lhe suscitam nobres sentimentos, e quefaz fluir sobre o gume da razo na medida precisa. Somosns os nicos a prestar-lhe este tributo, somos ns, quelhe somos prximos, a saber de sua natureza.
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Por que a Mente d ateno a um animal, sopra-lhe o esprito, o coroa com virtudes, concede-lhe liberdade ilimitada e inviolvel, quando a senhoriados lugares onde a ventura o conduz e ainda chama Homode si. Qual o escopo?... Se ns no conseguimos satisfa-zer o desejo da Mente, esta criatura conseguir levantar-lhe emotividade se nada sabe do Criador?
Na mente de Splendor dilatou-se um grande silncio.Enfim a inteligncia ergueu-se e argumentou.
Para esta criatura hbrida, a percepo incerta onico meio de conhecimento da realidade superior. Paracomunic-la aos seus semelhantes, tem que traduzi-la em
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palavras, atos e imagens. Eu poderia ser preceptor e guia
da ignorante criatura. Serei soberano para elas se noensinamento incluir caractersticas da minha personalida-de. Exultou: A Mente tem personalidade nica e imu-tvel, mas o homem ter dela tantas personalidades quantaseu determinar. Saboreou longamente o prazer de uma so-luo genial.
Mas, enfim, chegou o amargo adstringente da refle-xo.
A majestade me seria atribuda pela ignorncia ecredulidade do homem...No honesto disse. A cons-cincia estremeceu. No posso impor a minha vontadeao homem, ele goza do livre arbtrio, to sagrado que aprpria Mente respeita e faz respeitar, nem obter a sua be-
nevolncia, pois tudo lhe vem da Mente.Lembrou-se do desejo manifestado de participar da
criao e a resposta sua pretenso: Tu no podes criarconceitos, mas somente gerar idias, elaborar pensamen-tos, tu no possuis energia realizadora...
Porm, posso propor argumentos deduzidos dos
conceitos existentes, posso iludir com vises de magia.As concluses lhe clarearam a inteligncia, e afastou-lhe a insatisfao.
melhor ser primeiro e nico no Nada insignifi-cante do que segundo entre os raciocinadores e crticos.
O ltimo impulso contraditrio foi aquele da cons-
cincia, que props um dilogo clarificador com a Mente,logo vencido pela inteligncia, que avanou argumentosenganadores e mirabolantes para converter o homem svontades de Splendor.
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U sando o instinto enfraquecido, Homo seguia asmudanas climticas: quando notava um formi-gamento nas narinas enxutas, temia a estiagem prolonga-da; uma frieza nos pulsos e tornozelos previa o frio notur-no iminente, umidade excessiva nos olhos, chegando aescorrer lgrimas, esperava tempo chuvoso. Agora as rea-es condicionadas eram conectadas observao mais queatenta: procurava de onde chegavam as neblinas, farejava ovento, degustando-o, examinava o horizonte e dizia:
Tudo vem de cima, a terra reage.
Quando chegou o tempo da seca, cu desbotado, lon-gos perodos de luminosidade, manteve-se calmo, mas vi-giava uma faixa opaca que contornava as longnquas ondu-laes.
Uma tarde, escureceu antes do tempo. No cu, avana-ram nimbos ameaadores, a luz solar esmorecera. Homo,
ento, reuniu os seus na caverna do pequeno promontriojunto selva. Mas ele, juntamente com sua companheira,pouco permaneceu na entrada, ambos estendidos na relvaficaram olhando. Entre as brechas da ramagem, observava asrepentinas fissuras luminosas produzidas pelos relmpagos,e esperava encolhido o estouro do trovo. Entre os clares
da tempestade, notou, entre tantos, dois velhos ramos queempinavam dois pequeninos, j secos, os quais se esfregavamentre si, ocasionado por um sopro de vento intermitente,efeito do balano de uma ramagem prxima. Cadas as cor-
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tias, os lenhos crepitaram, a pequena brasa, sob o sopro do
vento, tornou-se grande e viva, caiu juntamente com algunsraminhos, prxima ao observador. Enfim, o fogo tinha a suachama. Homo, apavorado, chamou a ateno da companhei-ra com o toque da mo. Ea, vencida a estupefao, pediu aocompanheiro para peg-la. Ele se aproximou com cautelasobre os quatro membros e, quando prximo, agarrou a cha-ma. Com a dor da queimadura, emitiu um grito animalesco.Enfim, o vento e os relmpagos terminaram, o fogo se apa-gou, as trevas se recompuseram. Homo no dormiu, reviacontinuamente na imaginao o nascimento do fogo em to-dos os seus detalhes. A noite foi longa e montona.
Na luz do novo dia, comeou a procurar perto de si,viu os carves e as cinzas no meio das folhas chamuscadas.
Catou dois gravetos e, repetindo as imagens da noite pas-sada, os esfregou entre si, soprando-os como o vento. Nas-ceu a chama e, com ela, a luz. Com gritos de alegria acor-dou o cl e repetiu a magia. Todos ficaram estarrecidos, etambm queimaram as mos.
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Osol alto e o montculo de pedras foram esque-
cidos.Quando Homo lembrou deles, provou ansiedade
culposa. A mulher que segurava com os braos o abdmenquase maduro e tudo sabia de seu homem, o exortou:
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Nada de culpa, agora tu podes ter a luz, o calor e
tudo o que queres. Tu no me tomastes, embora contrria,sobre a relva?O homem manifestou a primeira escolha. A vida sua e
de seus filhos o obrigar sempre a uma escolha, aps umaprendizado para cumprir o porvir!
Aps alguns dias de manhs luminosas seguiu uma queparecia noite. Levantou-se um vento raivoso que arranca-va as folhas novas e raminhos tenros das velhas plantas, ou-viram-se grandes exploses, caram raios semelhantes adardos dos Ciclopes, formaram-se incndios na selva se-denta. Das nuvens inchadas, precipitou-se chuva glida, quepungia a pele, depois granizo que fustigava como flageloss costas dos despidos. Assim foi por horas: depois os fogos
se apagaram. Entre a fumaa, o lugar se mostrou desolado,descia ar frio de cima das rvores, a fauna permanecia mudae escondida, o sol do fim do dia desapareceu entre cirrosprpuros. Os homens temiam; experimentavam uma fitaaguda que, da cerviz, descia pelas vrtebras e difundia-sepelos ossos. Nunca o cl tinha vivido um acontecimento
semelhante. Era a primeira e violenta mudana metereo-lgica vivida por ele. No reino do esprito comentou-se: O inevitvel aconteceu; o homem decidiu a pri-
meira escolha. No nos indispe a sua deciso. So trans-corridos alguns simples eventos, que pouco lhe ensinarama construir pensamentos lgicos. No exigimos comporta-
mento melhor, at quando no adquirir a plena capacidadede entender e querer. Por enquanto, e por geraes, assuas reaes sero temperamentais e instintivas.
A humanidade vive a sua infncia.
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Ser iniciado no uso da razo quando conhecer os
primeiros conceitos: o estar, o avanar, o dar, o receber, oser, o morrer. Sero necessrios milnios para saber do beme do mal, relacionados somente ao uso correto das virtu-des recebidas. Porm, j tributa respeito, pois admite aautoridade. Agora ns somos considerados doadores debens e de castigos, mas sero necessrias catervas de pen-samentos para aprender que o estado de esprito induz oindivduo a uma escolha, que quando racional, o aproximade ns e lhe revela o conhecimento de tudo, quando insen-sata, o conduz desordem e solido.
Algum deve proclamar com autoridade: ...Oshomens no nasceram para viver como brutos, mas paraseguir a virtude e a inteligncia, pois criamo-los nossa
imagem e semelhana.Por lei natural, o intento da Mente se amalgama sua
obra, de modo que o indagador teimoso, aps examinar osaspectos da realidade, acaba conhecendo-o embora de for-ma imperfeita.
Foi assim que a mente de Splendor, aps muitas ob-
servaes reflexivas, concluiu: Aps milhes de combinaes genticas, por efei-to da evoluo impressa no seu ser, que elimina paulatina-mente os resqucios animalescos e fixa as qualidades dointelecto, este hbrido se tornar senhor da realidade, emverdade, uma permisso irreflexiva. No posso aceitar o
rebaixamento a mensageiro entre rei e sdito, nem a pro-tetor de uma nfima criatura. Estas decises violam o sen-so de justia, nsito no estado de existncia, humilhando apessoa. A correspondncia de nobres sentimentos, entre
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criador e criatura, se tornaria spera, quando no inexis-
tente.O sentimento misto de desdm e revolta alcanou aincandescncia, depois apagou-se, mas o ntimo eraquentssimo.
Seria necessrio um apocalipse da realidade. Eu notenho poder de realizar tal empreendimento, mas poderiaprop-lo ao Onipotente. Lembro: na perspectiva das pos-sibilidades, o conceito surgiu aps a Mente constatar asaberraes nas criaturas, provocadas na calada, por mim.Para motivar uma destruio total, deveria difundir o ar-gumento entre os homens, os quais j revelam ressenti-mento entre eles, propagar mitos e lendas, estabelecerPathos, que se aceito e comentado, tornar-se-ia herana
atvica e at psicogentica, sacralizada por um profetaalucinado ou por uma eminncia autoritria. Deveria in-troduzir, na imaginao humana, elementos figurativos eidiomticos que, se adequadamente usados, podero com-por um apocalipse e alcanar a importncia de artigo de firracional... O homem um timo e estpido auxiliar... O
apocalipse de minha nica convenincia... Mas ningumtem que saber... A humanidade deveria causar uma grandedesiluso Mente, a qual, tomada de tremenda emoo,perderia o equilbrio emotivo e, de uma s vez, aniquilariaa realidade. ... O projetoHomo sidereus, se transformariaem um grande fiasco csmico. Eu, e somente eu, seria a
nica criatura, com os meus seguidores a oferecer compa-nhia e dilogo Mente e ainda levantar-lhe sentimentoscriativos.
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O homem comea a desgarrar do comportamen-to natural. Conta o escriba profeta o primeirofratricdio. Como o autor chegou ao conhecimento do fatono dado saber, porm, vale a suposio de que Um ve-lho contou o que ouviu de um ancestral..., ou seja, semnenhum indcio arqueolgico, pura mitologia. Mas, se ainspirao superior me permite, o fato pode ser assim con-tado:
O Onipotente aprecia e prefere o cheiro das gordascarnes de uma ovelha imolada pelo pastor fragrncia de
frutas oferecidas com extrema rudeza pelo agricultor sim-plrio. Este, por inveja, mata o irmo pastor. A autoridadecondena o assassino ao ostracismo, mas no lhe aplica a leido Talio. parte o prazer olfativo, sempre discutvel, porque o Onipotente olha com insistncia a oferenda do pas-tor? Quer provocar inveja e briga familiar?
O escriba, talvez por limitaes intelectuais, no intuique o pastor foi provavelmente o primeiro homem que,aplicando a inteligncia, inventou a oferenda sobre o bra-seiro para oferecer no uma simples ovelha abatida, mas oespiral sutil de fumaa; a essncia ascendente, o ato comalgo de pessoal, de inusitado. assim que se pode explicar
o olhar ostensivo, a ignorncia do escriba, desprovido deintuio e meios descritivos. Se assim no fosse, o leitormoderno seria induzido a duvidar da imutabilidade supe-rior: ontem, autoridade castigadora implacvel, hoje, pai
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misericordioso e compulsivo. E amanh? Provavelmente
abade corpulento e alegre. Mas, se o Onipotente no setivesse manifestado, respeitando o livre arbtrio humano,como sempre prometeu e cumpriu, poder-se-ia explicaro fratricdio com a averso congnita existente entre con-sangneos, vivssima entre os povos levantinos, mas tam-bm difundida entre as naes europias. Ento se confir-maria a lei natural: energias de mesmo sinal se repelem,de sinal contrrio se atraem. Efeitos diversos da mesmalei universal.
A limitao intelectual e moral nota-se mais avante. Oescriba narra as maldades de personagens, formando umelenco dos arqutipos de todos os pecados possveis: latro-cnio, onanismo, prostituio, incesto, perverso, abigeato,
falsidade ideolgica e outros farelos. Este o abecedriosobre o qual a humanidade formou cultura e conhecimen-to, quando ainda o esprito terreno era ignaro de morali-dade. A difuso foi um ato discutvel, porque, como diz ofilsofo, O homem nasce bom... e continuaria tal se al-gum no o desvirtuasse. O que mais impressiona nesta
incerta histria o personagem do Onipotente, apresen-tado no como pensador genial da lei, organizador de sis-temas, criador de uma ou talvez mais realidades, mas comosimples coadjuvante grosseiro e emotivo de algumas deze-nas de suas criaturas. difcil imaginar o desalento dos ex-cludos, os tormentos dos reflexivos.
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N o incio do desgarramento, os componentes docl eram caadores, pescadores, colhedores defrutas pendentes. Quando as reservas de sustentamentoda estncia se exauriam, eles procuravam outros lugaresem que havia sementes, frutas, caa, gua e resguardo dasintempries e dos perigos.
Eles eram nmades.Durante as andanas, nas mudanas de temperatura,
quota, ambiente, o aspecto humano suportava impercep-tveis mudanas que, repetindo-se nas sucessivas geraes,
tornavam-se genticas. Pode-se dizer, com superficialida-de, que o homem um produto do ambiente, mas pode-seinsinuar que este seja o procedimento escolhido pelo Cria-dor para modelar continuamente o seu barro vivente.
O cl, quando numeroso, por motivos circunstanciais,dividia-se em dois ou mais grupos, que migravam para lu-
gares diversos e longnquos. Assim, cada grupo adquirianovas mutaes, diferentes daquelas dos consangneos, jperdidos no tempo e no espao. Mas que, s vezes, casual-mente, reuniam-se aps sculos. O cruzamento de indiv-duos cria a diversidade to desejada pelo Criador. A diver-sidade no programa criativo indispensvel para originar
novos indivduos com destacadas qualidades fsicas e acen-tuar as virtudes intelectuais oriundas dos ancestrais: assimnascem novos pensamentos, concepes de vida. Alm dis-so, multiplica as combinaes genticas que podem pro-
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duzir uma ou mais mentes competitivas entre si, que al-
canam a abstrao complexa e intuem as leis universaisescondidas na natureza.Esta parece ser a estratgia do Artfice para transfor-
mar um selvagem antropfago em um Einstein racional ededutivo que abraa com um nico pensamento toda a re-alidade material.
A casualidade gentica parece mais um produto de ummanipulador farmacutico. Este agiria oportunamente,com a mxima calma, sem alarde milagroso, sem interven-o pessoal, porque prometeu respeitar o livre arbtrioalheio. Afinal, qual a utilidade de um Galileu, no dcimoquinto sculo na frica equatorial?
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Sob os efeitos dos novos estmulos interiores, ohomem melhorava o seu aspecto somtico. A cada
gerao, a fronte se fazia imperceptivelmente espaosa,polida, glabra, ereta, porque raciocinava com persistnciaao invs de fantasiar casualmente. Porque a razo, paratrabalhar, precisa de matria para novas unidades de me-mria, interligaes mltiplas; assim que se guarda a ex-perincia, se centuplicam os pensamentos. Tambm osolhos se transformavam em grandes claros sob o influxocomovente da espiritualidade, ou pequenos escuros pela
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vontade de indagar detalhes, o nariz pronunciava-se mais
afilado, s vezes pontudo, aquilino, porque ele se tornavaperspicaz, insistente, dominador, os lbios tornaram-secoloridos, bem desenhados, sorridentes, porque expres-sava cordialidade, ria, gostava de dizer, enfim, se tornoucantor por ter imitado o eco, modulando a voz, ao pontode cavar uma curta melodia.
E a prole se alindava sob o afago materno.Naquele tempo, a intuio comeou a manifestar
idias.A idia um produto mental que tem como ncleo
um conceito encontrado na natureza, completado de ele-mentos mnemnicos em aparente harmonia. A idia surgede repente, aparentemente injustificada, encanta o inte-
lecto, instiga a vontade sopita. axioma: alguma coisa nonasce do nada! Ento suspeita-se no homem, de uma men-te gmea, que tenha elaborado inconscientemente a idia.Prprio como um sapateiro na sua obscura oficina, que usabarbante, couro, pelica, sovela e outras miudezas para apre-sentar seu trabalho ao cliente que, s vezes, passa e olha
curioso alm dos vidros opacos da vitrine. Ento, na condi-o humana, existiria uma dualidade ignorada que impeleo dramaturgo a afirmar: existem razes que a prpria ra-zo desconhece.
Tambm neste tempo, a percepo emerge dasprofundezas do ser e sobe nebulosa do desconhecido. Tan-
ge qualquer argumento, comove o intelecto pela viagemaudaciosa, mas anda sem rumo e mtodo, pois lhe faltam ofio da lgica que conecta e os termos adequados para des-crever.
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assim que a percepo capta a profecia. Esta,para ser verdadeiramente til ao vulgo, deveriaser manifestada em termos precisos e convencionais, nosopro da conscincia moralmente correta. Todos os com-ponentes deveriam ser dosados com preciso farmacuti-ca, em ambiente assptico; mas, no mundo da percepo,domina o princpio da incerteza, o profeta utiliza do poucode que dispe. Por isso temerrio sagrar o produto dapercepo e imp-lo a outras mentes mediante sugestoobsessiva, oratria ardorosa, chantagem emotiva. Estes
procedimentos configuram violao de liberdade, de cons-cincia, lavagem cerebral. Nenhum profeta manifestoucontrio por cometer tais pecados sutis. Existe maior con-fuso no conhecimento do sobrenatural do que nas fusesdas galxias.
Fazia tempo que o homem se empenhava na indstrialtica e ssea. A casualidade o tinha premiado com achadosde ossos e pedras, que por forma e resistncia podiam serusados em alguma funo imaginada aps observao. Odesbastar, o afiar, o polir so atos repetitivos que solicitama ateno e a perseverana do operador. Durante o uso, os
companheiros, aps a admirao espontnea, propunhamao artfice mudana no utenslio, no manejo, e at no pro-cedimento do trabalho. Para tanto, era necessria a palavraonomatopica, o gesto descritivo, a similitude natural, o
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sinal do que foi imagin