BREVE PASSEIO PELA HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO

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  • 8/7/2019 BREVE PASSEIO PELA HISTRIA DO DIREITO BRASILEIRO

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    BREVE PASSEIO PELA HISTRIADO DIREITO BRASILEIRO,

    PASSANDO PELOS TRIBUTOS

    CARLOS FERNANDO MATHIAS DE SOUZAJuiz do Tribunal Regional Federal da 1 Regio

    (...) Onde esto todos eles?

    Esto todos dormindo

    Esto todos deitados

    Dormindo

    Profundamente

    (Manuel Bandeira, in Profundamente)

    Aos meus Mestres e Amigos de sempre,

    Pedro Calmon,

    San Tiago Dantas,

    E. de Castro Rebelo,

    J. Pereira-Lira,

    Afonso Arinos,

    Haroldo Vallado e

    Insia Moraes de Souza (minha me), que me deramgrandes lies de e para a vida, ofereo esta publicao.

    C.F.M.S

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    COMO SE PREFCIO FORA

    A leitura de Breve Passeio pela Histria do Direito Brasileiro, passando pelostributos, trabalho do Professor e Magistrado Carlos Fernando Mathias de Souza, afiz com a ateno intensa que o texto, por forma e contedo seus, reclama.

    O autor figura proscenial no espao em que os atores do Direito semovimentam. Sua produo intelectual chega, mesmo, a mares distantes (AFormao do Direito e o advento das Cidades no Brasil A Situao especial deBraslia, em Ricerche Giuridiche e Politiche / Roma-Braslia II, Roma 1990;Ciudadania y Integracion Latinoamericana en la Constitucion Brasilea de 1988,Universidade de Sassari Itlia, 1993; Los Derechos Humanos y La DeudaExterna, CD-ROM, Ediciones Universidad de Salamanca, 1996).

    Na obra que agora traz a lume, ao passear pela Histria do direito ptrio vaiclareando desvos e esconsos seculares.

    A Histria fundamental ao conhecimento do Direito, pois, como observouNelson Saldanha,

    Colocada sobre prisma histrico, a teoria da cincia do direito poder exercercom plenitude uma tarefa crtica, e sua autocrtica ser histrico-crtica. Muitosconceitos e problemas da teoria contempornea do Direito, em torno dos quais tanto semaletende inclusive por causa de formulaes puramente abstratas, podem receber luznova se se olham na histria as realidades correspondentes a eles (O Problema daHistria da Cincia Jurdica Contempornea, p. 101, Recife:ImprensaUniversitria, 1964).

    Vale, a propsito, retrazer tona a assero de Tobias Barreto de que o direito nocai do cu sobre as cabeas dos homens.

    A casa editora de Jacintho Ribeiro dos Santos, ao comemorar o Centenrio daIndependncia do Brasil deu estampa a portentosa obra Systema de Scincia Positiva doDireito, do grande Pontes de Miranda. Nela, tratando do historicismo e racionalismo, jmestreava ele:

    ... exposio e para que mais exato e percucientemente se versem os problemasjurdicos, ser preciso enfrentar o estudo dos acontecimentos do mundo do direito comose fosse a janela que temos para o real: se nas asas de um inseto est a histria douniverso, mais ainda na regra que dirige e retifica a atividade de ser como o homem, que soma e sntese de evolues (p. 50).

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    No que diz com os tributos, que tm fautorizado mudanas no viver doshomens e na vida dos Estados, impe-se a considerao que no alvorar do sculoagora findante fez Manoel Bonfim, em A Amrica Latina Males de Origem:

    ... impostos que pesam tanto sobre as classes desfavorecidas, como sobre asabastadas; e, como o nmero de pobres e desfavorecidos muito maior, sucede que soas classes proletrias que concorrem com a maior parte das rendas pblicas. Istorepresenta uma iniquidade, a qual, porm, no comove os estadistas e financeiros,porque estes exigem as taxas e imposies, atribuindo ao Estado um papel e umasituao inteiramente idntica que lhe atribuam os representantes da metrpole. Oimposto , ainda hoje, no Brasil, um tributo, a que as populaes, se vem obrigadas,como os vencidos e conquistados como os tributrios das pocas antigas... Umademocracia no democracia se no faz o imposto progressivamente proporcional aosrecursos de cada contribuinte, e se no o emprega no custeio de servios de interessegeral ... ( p. 197, Rio de Janeiro:Topbooks, 4 ed., 1993).

    O escrito do Professor e Magistrado Carlos Fernando Mathias de Souzadispensaria de verdade apresentao. Fique este meu texto, todavia, para honraminha, como se prefcio fora.

    Fontes de Alencar

    Ministro do Superior Tribunal de Justia

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    NOTA EXPLICATIVA

    O presente estudo teve, de incio, um carter que se poderia designar de naturezapragmtica, na medida em que uma palestra possa assumir tal perfil.

    Na realidade, o autor foi convidado a discorrer sobre um tema, vinculado atributos, para ps graduandos em Direito Tributrio da AEUDF (comumente chamadade Universidade do Distrito Federal).

    Da surgiu, em boa parte, o texto que ora se apresenta.

    Em verdade, reflete ele alguns estudos realizados pelo autor, anteriormente, e, decerto modo, muitos j publicados sob a forma de artigos (em especial na coluna Pontofinal do Suplemento Direito e Justia do Correio Braziliense) e de textos preparadospara os alunos do curso de Direito da Universidade de Braslia, no ensino da disciplinaHistria do Direito Brasileiro.

    Assim, este breve passeio histrico, com itinerrio pelos tributos, uma fuso (ourefuso?), muito embora conte com o acrscimo de alguns textos novos.

    Na esperana de que possa ter alguma utilidade, por mnima que seja, que seoferece (e, pode-se dizer, mais uma vez) ao pblico e, sempre, na esperana da crticaque, no s bem-vinda como, at mesmo, imprescindvel para testar o prprio

    conhecimento e (ou) idias aqui registrados.

    Braslia, primavera de 1999

    O autor

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    1 INTRODUO

    guisa de introduo, inicie-se com uma pergunta: o que Histria?

    Muitas tm sido as definies propostas para a Histria como, por exemplo, adimenso temporal do mundo vivido pelo homem.

    Dicamor Morais, em sntese feliz, define-a com a reconstituio cientfica dopassado cultural humano.

    Assim, toda criao humana, que interfira no mundo cultural, pode e deve serobjeto de estudo histrico.

    Da decorre que pode haver, dentre outras, uma histria das cincias, uma dosmeios de comunicaes, uma outra das construes, ou, ainda, da arquitetura, ou da arte

    e, naturalmente, uma histria do direito.

    Quando se fala em histria do direito, impe-se, desde logo, consider-la sob doisaspectos, a saber: a histria interna e histria externa.

    A primeira vez que se falou nisso, recorde-se, foi com o filsofo Leibniz (1646-1716), (Nova methodus discendae docendaeque jurisprudentiae, algo como mtodo daaprendizagem e do ensino da jurisprudncia), para quem o direito pblico constitua oobjeto da histria externa e o direito privado o era da histria interna.

    Contudo, o mais aceito que histria interna seja a histria dos institutos ou dasinstituies.

    Assim, por exemplo, quando se d tratamento histrico propriedade, aocasamento, aos contratos, ao usucapio, etc., o que se est fazendo histria interna. Ja histria externa a histria das fontes.

    por ela, pois, que se estudam, por exemplo, a formao dos corpos do direito, oadvento dos cdigos, a cincia dos jurisconsultos (communis opinio doctorum), ajurisprudncia, etc.

    Repita-se que considerar a histria interna como a da formao e evoluo dasinstituies jurdicas e a externa como a das fontes a corrente predominante e foicondensada desde a chamada teoria de Klimarth (Travaux sur l'histoire du Droitfranais).

    Tem-se, assim, que se pode ter uma Histria Geral do Direito, tanto das fontescomo das instituies. So bastante conhecidas as histrias das idias jurdicas, dossistemas de direito, das instituies jurdicas, etc.

    Se, por um lado, pode-se ter essa histria geral (ou histrias gerais), de outro,podem-se encontrar histrias nacionais ou ainda setoriais do direito.

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    Como meras ilustraes, lembrem-se, como obras setoriais de histria do direito, aHistria do Direito Privado Moderno, de Franz Wieacker, e as que tratam de sistemascomo a Histria do Direito Romano, de Mrio Bretone, ou a RomischeRechtgeschichte (Histria do Direito Romano) de Max Kaser.

    So bem conhecidas tambm as obras versando sobre as histrias de direitosnacionais como a Histria do Direito Portugus, de Marcelo Caetano, e os diversostrabalhos sobre a histria do direito brasileiro.

    Dos que tratam (ou trataram) bem da histria do direito brasileiro, merecemdestaque J. Isidoro Martins Jr. (Histria do Direito Nacional), Csar Tripoli (Histria doDireito Brasileiro), Jos Gomes B. Cmara (Subsdios para a Histria do Direito Ptrio),Luiz Delgado (Quadro Histrico do Direito Brasileiro), Waldemar Ferreira (Histria doDireito Brasileiro) e Haroldo Vallado (Histria do Direito especialmente do DireitoBrasileiro).

    O primeiro trabalho editado no Brasil sobre a histria do direito ptrio, como sesabe, foi precisamente o de J. Isidoro Martins Jr., do qual tem-se trs edies, a primeiradelas dada a lume em 1895 e a mais recente em 1979, (esta constituindo o primeirovolume da coleo Memria Jurdica Nacional, Departamento de Imprensa Nacional,Ministrio da Justia, em co-edio com a Editora UnB.)

    O autor dividiu a obra em duas grandes partes: Parte Geral (poca dosantecedentes, na qual estuda basicamente a imiso das correntes romana, germnica ecannica, os forais, as Ordenaes Afonsinas, Manuelinas e Filipinas) e Parte Especial(abrangendo o perodo de 1500 a 1822, em que estuda o peregrinismo do DireitoNacional, o sistema de Capitanias, os Governos Gerais, a organizao judiciria eeclesistica, as leis relativas aos estados das pessoas em que se destaca o designadolivro negro da raa amarela) e o Brasil Corte e o Brasil-Reino.

    Integra o livro, em apenso (ou anexo), a transcrio de sete importantesdocumentos (espcimen das Cartas de doaes e Forais de capitanias, regimento deTom de Sousa, regimento do Governador Geral Roque Barreta, regimento da Ouvidor-Geral, de 1628, regimento da Relao da Bahia, Carta Rgia da abertura das portos(1808) e Carta elevando o Brasil categoria de reino unido ao de Portugal e Algarves,de 1815).

    J. Isidoro Martins Jnior sofreu" naturalmente influncia (ou mais do que isso)da chamada Escola de Recife. Da resultou a forma de estudo da ligao entre osfenmenos jurdicos com a realidade social concreta, sob ptica historicista.

    Ainda que mais prximo de lhering do que de Savigny, as lies de ambos fazem-se sentir no seu importante trabalho.

    A propsito, o autor, na edio princeps, usou trs epgrafes (uma de Ginoulhiac Histoire Gnerale du Droit Franais -, outra de De Roberty, em La Sociologie, e mais umade LEsprit des Lois, de Montesquieu).

    Por simples ilustrao e oportunidade, transcreva-se a do enciclopedista: Il fauteclairer l' histoire par les lois et les lois par l'histoire (o que em portugus,

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    obviamente, pode ser dito assim: preciso esclarecer as leis pela histria e a histriapelas leis).

    Caberia, agora, uma segunda indagao: o que se deve entender por tributo, aomenos para o presente estudo?

    A tarefa de definio e classificao dos institutos jurdicos, como bem sabido, matria para doutrina.

    Mais modernamente, contudo, muitos institutos tm tido suas definiespositivadas.

    A Constituio, por exemplo (em seu art. 146, III, a), remete lei complementar adefinio de tributos e espcies.

    Dir-se- que definio a no a da doutrina, mas to-s a legal.

    O fato que o Cdigo Tributrio Nacional (Lei n 5.172/66) define tributo como sendotoda prestao pecuniria compulsria, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, queno constitua sano de ato ilcito, instituda em lei e cobrada mediante atividadeadministrativa plenamente vinculada(q.v. art. 3).

    Assim, o tributo tem carter pecunirio e compulsrio, alm de no ter naturezade sano e deve ser sempre institudo por lei e no vinculado atividadeadministrativa, mediante a qual ele cobrado.

    Por oportuno, recorde-se, desde logo, que a idia de tributo no tem sido a mesma

    no correr da histria e nos mais diferentes quadrantes.

    Com propriedade assinala Manuel de Juano (Curso de Finanzas y DerechoTributario, Rosario, Ed. Molachino, 1 ed. 1963) que, em face das contribuiesreveladas pela histria, podem invoc-las a ttulo ilustrativo, mas no como fiisantecedentes dos gravames atuais, que descansam sobre bases e razes diferentes.

    De outra parte, colhe-se, pela etimologia, que tributo, provem do latim, tributum,i, particpio passado do verto tribuere, cujos tempos primitivos so: tribuo, -is, -ere,tribui, tributum, que tem, dentre outros significados, o de distribuir, dividir ou repartirentre as tribos.

    Da adveio a semntica de carga pblica distribuda entre o povo.

    Trabalhar-se-, assim, nesse breve histrico, naturalmente, com conceito umpouco flexvel, vale dizer, tratar-se- do tributo exigido, ainda que (em muitos casos)sem o rigor tcnico, principalmente se observado da ptica atual.

    O tema que se prope tratar aqui passa, portanto, por uma brevssima histria dodireito tributrio no Brasil, isto , dos tempos coloniais aos nossos dias, tanto externa,isto , a histria das fontes, em particular, dos diplomas legais que criaram asobrigaes tributrias.

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    2 OS TRIBUTOS DO BRASIL COLNIA DE 1500 A 1822

    (poca do arrendamento e das expedies colonizadoras e (ou) exploradoras.Governo-Geral. Domnio espanhol. Brasil-holands. Perodo da restaurao. Tempos dePombal. Transmigrao da famlia real para o Brasil)

    De plano, observe-se que no Brasil Colnia se obedecia a um direito geralportugus, que valia para todo o reino, e a um direito que se poderia designar colonial,expresso por uma legislao especial.

    Dessa legislao especial constavam a) leis do reino, reformadas para a colnia (pormeros exemplos a disciplina sobre os concelhos ou municpios ou sobre os juzes ordinrios,

    etc.); b) leis originariamente especiais para o Brasil (vejam-se as referentes aos ndios ou sminas tambm, por mera ilustrao); c) e leis emanadas na prpria colnia (lembre-se que osforais e os regimentos autorizavam os governadores, dentro de certos limites, complementaremas leis da metrpole, alm disso, as cmaras ou senados das cmaras das vilas e cidadeselaboravam leis, com vistas s necessidades da administrao municipal).

    Acrescente-se a obedincia a um direito consuetudinrio decorrente dos usos ecostumes locais, inclusive os adquiridos dos ndios.

    assim que o direito tributrio do Brasil Colnia foi diferente do que vigorava nametrpole.

    2.1 A fase do arrendamento

    Antes de iniciar a colonizao propriamente dita, recorde-se que Portugalarrendou as terras de Santa Cruz ao cristo-novo (judeu convertido) Fernando deNoronha.

    Recorde-se, um pouco, o direito portugus a esse tempo.

    Ao ser descoberto o Brasil (22 de abril de 1500), dizer-se quando avistado umgrande monte muito alto e redondo, que levou o nome de Monte Pascoal (porque ocalendrio litrgico indicava as oitavas da Pscoa crist), parte dele j pertencia aPortugal, por efeito do Tratado de Tordesilhas (7/6/1494).

    Com efeito, pela Capitulao da Partio do Mar Oceano, que foi o nome dotratado em destaque, em sntese, admitidas foram duas linhas demarcatrias; a saber:caso a Espanha descobrisse novas terras a oeste (at 20 de junho de 1494) a linhapassaria a 250 lguas da ilha de Cabo Verde; na hiptese em contrrio (como de fatoocorreu) passaria a 370 lguas.

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    Essa linha (um meridiano) imaginria, evidentemente, seria considerada a oestedo arquiplago de Cabo Verde e, a partir do que, o que ficasse a leste seria dosportugueses e a oeste dos castelhanos.

    Naturalmente, muitos problemas adviriam da, a comear pela demarcao

    ajustada, que nunca se efetivou.

    De passagem, recorde-se que Francisco I, da Frana, ironizou o Tratado, aoregistrar que gostaria de ver o testamento de Ado, conferindo ao Papa (no casoAlexandre VI) o poder para dividir o mundo entre Portugal e Espanha (Castela, Leo,Arago e Granada).

    Assim, o Tratado de Tordesilhas, de 7/6/1494, firmado cerca de seis anos dadescoberta, o primeiro diploma legal afetando o Brasil.

    que, para edificar entre gente remota o novo reino sublimado, os portugueses

    enfrentaram, desde logo, grandes dificuldades e, mingua de recursos, resolveram darem contrato a explorao do pau-brasil, sendo um dos arrematantes o cristo-novoFernando de Noronha.

    Tem-se, assim, que, a rigor esse autntico contrato de arrendamento (1502) foi, oefetivo primeiro diploma legal (ainda que por meio de um ajuste) a referir-sediretamente sobre a nova colnia.

    Tratava o contrato no s do arrendamento do pau-brasil, mas tambm de umcompromisso do contratado de explorar o litoral de Santa Cruz (a essas alturas o reiManuel I j mudara o nome da ilha de Vera Cruz).

    Fernando de Noronha, em 1503, organizou uma frota, para dar cumprimento aocontrato, recebendo de el-rei, em 1504, a ilha de So Joo ou de Quaresma (principalilha do arquiplago que hoje leva o nome de Fernando de Noronha).

    Na realidade, essa seria a primeira capitania, ainda que tal regime de colonizaos se instalaria a partir de 1534, ao tempo de Joo III.

    Enquanto isso, no direito geral portugus, vigoravam as Ordenaes Alfonsinas(que vigeram de 1446 a 1514), substitudas pelas Ordenaes Manuelinas, tendo como

    direito subsidirio o direito romano, o direito cannico e o direito consuetudinrio, almdas leis avulsas, mais particularmente as extravagantes.

    As Ordenaes Afonsinas tomaram essa denominao porque muito embora essacompilao do direito luso tenha se iniciado ao tempo de Joo I (1385 1433), a obras se completou em 17 de julho de 1446, j ao tempo de Afonso V.

    Tiveram essas ordenaes, por fonte, colees das leis gerais portuguesas, como olivro das leis e posturas e as Ordenaes de d. Duarte; as resolues das Cortes (algocomo um parlamento); os usos e costumes (os costumes propriamente ditos, os foros, asfaanhas, as respostas e os estilos); o direito foralcio; o direito romano; o direito

    cannico, e a Lei das Setes Partidas de Afonso de Castela, que eram assim designadasporque eram divididas em sete livros, cada um tratando de matria especfica.

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    A propsito, registre-se que os foros referidos, constituam privilgios e imunidades,vlidos somente em determinados stios; as faanhas eram as decises dos juzes municipais; asrespostas expressavam os pareceres dos jurisconsultos, e os estilos eram as regras que deveriamser respeitadas nos processos em curso na Casa da Suplicao de Lisboa (a mais alta corte dajustia do reino).

    As Ordenaes Afonsinas (1446), no que seria seguida pelas Manuelinas (1514) eestas pelas Filipinas (1603) eram divididas em cinco livros e, por certo, os compiladoresinspiraram-se na ordem das matrias como na Lei das Doze Tbuas (sc. V. a.C.) e noEdito de Slvio Juliano (sc. II, d.C).

    Dentre as leis extravagantes, isto , leis fora da sua sede prpria, tm-se as cartas de lei(que quase sempre continham disposies gerais); os decretos (prximos dos decretos hoje,posto que interpretavam as leis e detinham carter particular quando dirigidos, por exemplo, aministros ou tribunais); os alvars (que continham disposies que no deviam durar mais doque um ano; as cartas-rgias (dirigidas a certas autoridades ou a pessoas, com determinaesexpressas); as resolues (decises do soberano em face dos pronunciamentos dos tribunais); as

    provises (que ora eram sinnimos de lei e ora mero deferimento pelo rei de splica dossditos); os assentos da Casa de Suplicao (interpretaes com fora de lei, emanadas do altotribunal); os regimentos (regulavam servios pblicos e os direitos e deveres de determinadosfuncionrios); os estatutos (que eram os regimentos das corporaes); as instrues (continhamregras para andamento dos servios); os avisos (ordens expedidas pelos secretrios de Estado,em nome do rei), e as portarias (atos, sob forma de carta, expedidas pelas secretarias de Estado,de modo abstrato, isto , no dirigidas a algum, precisamente).

    Eis, em apertada sntese, o direito portugus ao tempo do descobrimento doBrasil.

    A primeira iniciativa de dar algum passo no sentido de explorao das novasterras, adveio com o contrato de arrendamento ao cristo-novo Fernando de Noronha(ou Loronha), o qual tambm recebeu do rei Manuel I a Ilha de So Joo (ou deQuaresma), como autntica capitania, a terra que novamente achou e descobriucinqenta lguas no mar da nova Terra de Santa Cruz.

    Assim, de par com o ensaio do regime de capitanias na nova colnia, tem-se umprimeiro ajuste disciplinando relaes jurdicas na quarta parte nova.

    Dvidas no h quanto ao regime em destaque, tanto que Joo III, em 1522, aoconfirmar a doao a Fernando de Noronha deixou expresso que era a fim de que o

    donatrio na ilha lanasse gado e a rompesse e aproveitasse, segundo lhe aprouvesse,obrigando-se ao tributo do quarto e do dzimo.

    A verdade, porm, que Portugal sabia ainda, relativamente, muito pouco dessanova conquista, que inicialmente chegou a pensar tratar-se de uma ilha a ilha de VeraCruz: ilha cheia de graa / ilha cheia de pssaros / ilha cheia de luz, como na poticaimorredoura de Cassiano Ricardo.

    Alm dos problemas que se punham, em particular no sentido de dar efetivo incioa algum tipo de colonizao, houve, desde logo, o referente ao reconhecimento doprprio domnio das novas terras descobertas.

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    Assim, assume importncia especial a bula do papa Jlio II (24 de janeiro de1506), confirmando a el-rei Manuel I, na qualidade de gro-mestre da Ordem de Cristoe soberano de Portugal, os direitos sobre as braslicas terras, nos estritos limites doestabelecido na Capitulao da Partio do Mar Oceano, como mais conhecido doTratado de Tordesilhas.

    A rigor, ainda que de natureza pontifcia ou eclesistica, era o primeiro diplomaou ato que se poderia designar legislativo versando diretamente sobre as terras doBrasil.

    A bula de Jlio II seria confirmada por outra, de Leo X.

    Assinale-se que, em face de muitas restries de potncias europias de ento,houve a necessidade de outra bula, editada em 1551 pelo papa Jlio III, pela qual oBrasil ficaria unido coroa e ao domnio dos reis de Portugal como gro-mestres eperptuos administradores da Ordem de Cristo.

    Como primeiros atos legislativos, promanados da coroa lusitana (abstraindo-se ocontrato de arrendamento com Fernando de Noronha), tm-se dois alvars de Manuel I,em 1516 e trs cartas-rgias de Joo III, datadas de 20 de novembro de 1530.

    Os alvars, como se recorda, eram diplomas legais que continham disposiescujo efeito, em regra, no deveria durar mais de um ano; j as cartas-rgias eramdocumentos com fora de lei, dirigidas a certas autoridades ou a determinadas pessoas,as quais continham medidas de carter geral e quase sempre, permanente.

    Sob o aspecto formal as cartas-rgias iniciavam-se sempre com a frmula: Eu el-rei vos envio muito saudar, e, ao seu trmino, constava a rubrica do monarca.

    Pelos alvars de 1516, Manuel I determinaria medidas da maior importncia.

    No primeiro, dirigido Casa da ndia (ou dos importantes rgos daadministrao colonial, eis que somente em 1642 os vrios rgos, encarregados daadministrao da colnia, seriam unificados em um s: o conselho ultramarino), que sefornecessem machados e enxadas e toda mais ferramenta s pessoas que fossempovoar o Brasil. J, pelo segundo, ordenava el-rei que o feitor e oficiais da Casa dandia procurassem e elegessem um homem prtico e capaz de ir ao Brasil dar

    princpio a um engenho de acar; e se lhe desse sua ajuda de custo, e tambm todo ocobre e ferro e mais coisas necessrias a tal objetivo.

    O homem prtico e capaz escolhido foi Martim Afonso de Sousa e a ele,naturalmente, foram dirigidas as trs cartas-rgias de 20 de novembro de 1530.

    Convencido Joo III da necessidade de povoar as novas terras do Brasil epesquisar suas riquezas para, em conseqncia, dar incio ao processo de colonizao,houve por bem organizar uma expedio sob a chefia do citado fidalgo portugus(Martim Afonso de Sousa) e, por isso, expediu-lhe os destacados documentos, queassumem especial relevo na histria do direito brasileiro, posto que integram a srie dos

    primeiros diplomas legais, diretamente ligados colonizao propriamente dita.

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    Essas cartas-rgias continham atribuio de poderes (quase se diria ilimitados),concediam efetiva autoridade a Martim Afonso, investido como governador e capito-mor das terras do Brasil.

    Abrangiam, ademais, praticamente tudo o que fora previsvel para implantao do

    primeiro regime colonial portugus ao Brasil.

    Assim, eles continham normas de administrao, de carter poltico, de direitopblico, de judicirio (o capito-mor ou governador estava investido tambm na funojudicante), de carter militar, de direito criminal e respectivo processo e tantas outras.

    Em suma, um conjunto de normas, expressas sob forma reduzida, que,evidentemente, necessitavam de complementao pelas leis gerais do reino ou supridaspelo prudente critrio ou bom senso do governador ou capito-mor, quando fosseinoportuna ou de todo inaplicvel a legislao portuguesa.

    O fato que as circunstncias exigiam esses poderes excepcionais que eramtantos, a tal ponto que o historiador Rocha Pombo assinalou que Martim Afonso deSousa veio investido com a autoridade de um verdadeiro locotenente do soberano.

    Em apertada sntese dir-se-ia que no exerccio desses poderes de capito-mor daarmada e governador das terras que achasse ou descobrisse, tinha ele inteira jurisdiosobre as pessoas que nelas se achassem.

    Especificamente, em termos de judicirio, tinha a jurisdio plena, tanto no cvelcomo no criminal, e poder suficiente para aplicar at a pena de morte (que se dizianatural), sem admisso de qualquer recurso.

    Esse poder judicial deixaria de ser concentrado nas mos do capito-mor, logoque fundada a primeira vila (22/1/1532) a de So Vicente , quando foramnomeadas autoridades municipais e juzes do povo, alm de escrives, meirinhos,almotacs e outros oficiais pblicos.

    Pode-se, sem receio, afirmar que os dois alvars (de 1516) de Manuel I,complementados pelas trs cartas-rgias (de 1530), de Joo III, no foram to-s osprimeiros diplomas legais referentes (de forma mais precisa) colonizao do Brasil,posto que, na realidade, tenham sido marcos decisivos no incio do prprio processo

    colonizador.

    Todavia, consigne-se que j na fase inicial (a do comeo da explorao do pau-brasil), j se estabelecera o primeiro nus fiscal nas novas terras, qual seja, o quinto dopau-brasil.

    De outra parte, observe-se que o Brasil Colnia no conheceu muitos tributostradicionais portugueses (e no poderia deixar de ser assim), como os foros de julgada, afossadeira, o relego, as portagens, as aougagens, o montado e a coima, por exemplo.1

    2.2 Capitanias hereditrias

    http://www.cjf.jus.br/revista/seriemon08.htm#_ftn1http://www.cjf.jus.br/revista/seriemon08.htm#_ftn1http://www.cjf.jus.br/revista/seriemon08.htm#_ftn1
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    Da frica tem martimos assentos; na sia mais que todas soberana; Naquarta parte nova os campos ara, / E, se mais mundo houvera, l chegara (Cames,Lusadas, canto VII, estrofe XIV).

    Literatura parte, j no se podia, nas primeiras dcadas do sculo XVI, falar,tranqilamente, em uma supremacia portuguesa, em termos asiticos.

    Ao contrrio, um sentimento antiasitico fermentava na conscincia lusitana, mormenteem face dos insucessos econmicos, ao tempo em que as terras no novo mundo, deixavam deser uma rea desrtica, maravilhosa e intil.

    A ndia a observao de Joo Ribeiro comeava logo a despertar arepulsa entre os espritos mais eminentes; era um sorvedouro de homens vlidos e deesquadras que o oceano devorava; a empresa de Cabral, sem embargo de perder a

    metade ou seis navios, rendia aos capites 500%; agora j as empresas da ndia eramum sacrifcio. Em trinta anos (1521-1551) perderam-se 32 naus reais no valor de maisde quinhentos mil cruzados.

    dentro desse quadro que Portugal, aps a experincia com Martim Afonso deSouza, resolve voltar-se para a colonizao do Brasil e o faz pelo caminho dascapitanias hereditrias.

    Era ruim a situao financeira de D. Joo III a lio de Pedro Calmon atazanado pela desvalorizao das especiarias, pelos infortnios da ndia, pelosgastos do Estado e incessante aumento de sua responsabilidade de alm-mar, no

    trgico e longnquo Oriente.

    Curioso observar que esse sistema de capitanias donatrias ou hereditrias seenquadrava em uma sistemtica anacrnica com relao prpria contemporaneidadelusa de ento.

    Portugal, sem embargo de j contar quela cultura com as OrdenaesManuelinas, adota em sua frmula colonizatria da quarta parte uma legislaolocalista e pessoal, como no tempo do nascimento do prprio reino.

    Recorde-se, recuando um pouco mais na histria, que nos sculos IX e X, aotempo em que os visigodos desceram das Astrias ganhando terrenos aos infiis (rabese mouros) e, do mesmo modo, nos sculos XII e XIII, quando os monarcas do antigocondado portucalense avanaram para o sul, e uma vez conquistadas as terras, surgia oproblema de defend-las, conservando-as com o povoamento e o cultivo.

    Para tanto, algum, da confiana do rei, era feito capito ou governador,encarregando-se da ocupao e da defesa.

    No regime das capitanias, esse capito tinha poderes expressos em doisdocumentos (ou diplomas legais bsicos); a saber: a carta de doao e o foral da

    capitania, tambm designada carta foral.

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    Mais especificamente, como sistema de colonizao, Portugal j o empregara naMadeira, em Porto Santo, nos Aores, em Cabo-Verde e em So Tom e, nas prpriasterras de Santa Cruz (como se relembra), houve um ensaio, quando Manuel I doou aIlha de So Joo (ou de Quaresma) a Fernando de Loronha (Noronha).

    A capitania era, como bem observa Luiz Delgado, uma unidade territorial,abrangendo uma dupla realidade geogrfica uma terra e uma costa, sinal de que ainteno no se limitava a contactos de passagem, feitorias para negcios com osnativos e portos para aguada das naus.

    Amplos poderes eram concedidos ao governador ou capito-mor pela carta de doao (e,a rigor, no era propriamente uma doao) em que se estabeleciam tambm seus deveres paracom a coroa, alm da fixao dos limites territoriais da capitania e pelos forais estes, porassim dizer, autnticos cdigos tributrios.

    Capistrano de Abreu, in Captulos de Histria Colonial, resume as disposies das

    cartas de doao e dos forais: os donatrios seriam de juro e herdade senhores de suasterras, teriam jurisdio civil e criminal, com alada at cem mil ris da primeira, comalada no crime at por morte natural para escravos, ndios, pees e homens livres,para pessoas de mor qualidade at dez anos de degredo ou cem cruzados de pena; naheresia (se o herege fosse entregue pelo eclesistico), traio, sodomia, a alada iriaat morte natural, qualquer que fosse a qualidade do ru (dando-se-lhe apelao ouagravo somente se a pena no fosse capital).

    Ademais, os donatrios podiam (ou melhor, deviam) fundar vilas, com termo,jurisdio e insgnias, ao longo das costas e rios navegveis; seriam senhores das ilhasadjacentes at distncia de dez lguas da costa; os ouvidores, os tabelies do pblico e

    judicial eram nomeados pelo capito, e este poderia conceder terras de sesmarias, salvopara a prpria mulher ou seu filho herdeiro.

    Uma parte da capitania era concedida, pessoalmente, ao donatrio, a ttulorigorosamente privado.

    Assim, dez lguas de terras ao longo da costa de um a outro extremo da capitania,lhes eram destinadas, livres ou isentas de qualquer direito ou tributo (exceto o dzimo)distribudas em quatro ou cinco lotes, de modo a intercalar-se entre um e outro, pelomenos, a distncia de duas lguas.

    A carta de doao fixava tambm fontes de receitas para o donatrio como a meiadzima do pescado e a redzima de todas as rendas e direitos devidos ordem de Cristoou ao rei.

    J os forais, alm de tributos, asseguravam, dentre outros direitos, permisso deexplorar minas, salvo o quinto real; liberdade de exportao para o reino, exceto deescravos (estes limitados a um certo nmero), e certas drogas proibidas; direitospreferenciais para os proteger da concorrncia estrangeira; entrada livre demantimentos, armas, artilharia, plvora, salitre, enxofre, chumbo e quaisquer outrasmunies de guerra, alm da liberdade de comunicao entre as capitanias, inclusive

    sem cobrana de mercadorias em circulao entre elas.

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    Alm disso, um dos direitos assegurados ao capito-mor era o de conceder coutoou homizio.

    Assim, se algum fugisse de uma outra capitania, por prtica de um crime, porexemplo, poderia o donatrio garantir-lhe o homizio. Naturalmente, isso gerava muitos

    atritos entre os governadores das capitanias.

    Observe-se, quanto a natureza jurdica da capitania, que no se tratava, pelo rigorde direito, de autntica doao at porque aos donatrios era apenas concedido ousufruto de suas terras e no a sua propriedade territorial, coerente mesmo com o carterpatrimonial do Estado portugus de ento.

    No necessria maior ilustrao sobre o particular que a prpria letra expressadas Cartas de Doao, quando asseguravam ao donatrio o poder de arrendar e aforarenfiteuta, ou em pessoas ou como quiser e lhe convier, e para os foros e tributos quequiser.

    Em sntese, pode-se dizer, ressalvadas aquelas dez lguas que iam para o domnioprivado do capito-mor a ttulo de verdadeira doao, que em relao ao territrio decapitania em geral, o que ocorria estava mais prximo da enfiteuse do direito civil,posto que o Estado portugus, no caso, na condio de proprietrio das terras stransmitia o domnio til, ficando o donatrio obrigado pelo foro. Alis, um pouco maisdo que isso.

    De outra parte, se observada a relao da ptica do direito pblico, ter-se-ia acaracterizao do instituto da concesso, que no direito administrativo moderno seconceitua pela faculdade que o Estado, mediante contrato, confere a algum (pessoafsica ou jurdica particular) mediante certos encargos ou obrigaes, o direito (ouprivilgio) de explorar atividade que por outra forma no se poderia realizar em carterprivado, ou, em outras palavras, a delegao contratual de servio na forma legalmenteautorizada.

    O sistema de capitanias, observe-se, no se realizou de todo satisfatoriamente (exceo de So Vicente e de Pernambuco), a comear pela necessidade, que se imps,de um governo geral na colnia, o que se implantaria em 1549.

    As capitanias, contudo, no deixariam, desde logo, de existir at porque s foram

    efetivamente extintas no sculo XVIII, ao tempo de Pombal.

    Dois eram os diplomas bsicos (enfatize-se, com a repetio) em tal regimecolonial: as cartas de doao e o foral, sendo este o documento que mais interessaquanto questo dos tributos.

    Com efeito, o foral continha a disciplina da tributao, havendo at quem odesigne como o primeiro cdigo tributrio.

    Em apertada sntese, poder-se-ia falar, com relao a essa poca, em tributos ourendas para o real errio, ou seja, os da metrpole e os do donatrio.

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    Dos primeiros, o monoplio do pau-brasil, das especiarias e das drogas; osdireitos alfandegrios (de importao, de exportao ou de mercadorias naufragadas queviessem dar s costas), 10% (dez por cento) do valor das mercadorias; o quinto ouvigsimo do ouro, prata, cobre, coral, prola, chumbo, etc.), o dzimo do pescado e dosdemais produtos da terra e a sisa (transmisso) por cabea de ndio escravizado.

    Dos segundos, o monoplio das exploraes das moedas e quaisquer outrosengenhos, a barcagem (direitos de passagem dos rios), quinto ou vigsimo do produtodo pau-brasil, das especiarias e das drogas, o dzimo do quinto do outro e mineraispreciosos, encontrados na capitania; meia dzima do pescado, ou seja, a cada grupo devinte peixes, um deles para o donatrio, capito-mor ou governador, e a redzima (isto ,a dcima parte da dzima) sobre todas as rendas da coroa.

    2.3 Governo geral

    A criao do governo geral implicaria, naturalmente, em uma grande mudana nosistema de colonizao do Brasil, em particular no que diz respeito organizaocolonial, ao mesmo tempo que fazia surgir (por conseqncia da vida coletiva que, acada momento, tornava-se mais complexa), uma nova legislao no s de ordemadministrativa, mas tambm eclesistica, alm de normas referentes aos ndios, e sobreo trfico dos escravos negros.

    Dos diplomas sobre a organizao colonial propriamente dita, destacam-se osregimentos, como o do governador-geral, o do provedor-mor, o do ouvidor-geral e oreferente aos provedores parciais.

    A par disso, nas demais matrias, a disciplina provinha por meio de alvars ecartas-rgias.

    Os regimentos, por exemplo, substituiriam em grande parte as cartas de doao eos forais, at porque dispunham de forma diferente sobre os assuntos tratados nosdocumentos bsicos das capitanias donatrias.

    O regimento do primeiro governador-geral (17 de dezembro de 1548), estabeleciaa misso dessa autoridade, que, alis, recebeu, por carta-rgia de 7 de janeiro de 1549,delegao de parte da prpria autoridade real. Em outras palavras, o governador-geralera de direito e de fato, sob muitos aspectos, o locotenente do rei.

    Alm disso, no regimento em destaque, eram fixadas suas atribuies militares, osmodos de inspeo das capitanias, as modalidades de trato com o gentio (em que sefazia distino entre ndios amigos e inimigos), as hipteses de concesso de terras desesmaria (no s no termo da Bahia, mas tambm fora dele), e a execuo, dentreoutras, das leis sunturias, entendidas como tal aquelas que, em carter excepcional (eem pocas de crise), restringiam os gastos imoderados e o luxo.

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    J o regimento do provedor-geral tratava, basicamente, de suas atribuiesmilitares, das inspees das capitanias (em companhia do governador-geral), dasalfndegas, da fabricao de navios, e dos negcios da fazenda real.

    O regimento do ouvidor-geral dispunha sobre sua jurisdio e alada, obviamente,

    estabelecendo seus poderes.

    Os provedores parciais tambm possuam o seu regimento, no qual se fixavam,com mincias, suas atribuies, como importantes funcionrios fiscais das capitaniasque eram.

    Por ilustrativo, recorde-se que, no mais das vezes, os regimentos no eram dadosdiretamente s autoridades, que vinham servir na colnia, posto que o comum era o rei,por meio de cartas-rgias ou de instrues, determinar o cumprimento do respectivoregimento anterior, com as ressalvas ou modificaes que lhe aprouvessem.

    Foi assim, por exemplo, que o regimento dado a Tom de Sousa (de 17 dedezembro de 1548), vigorou (com alteraes, evidente) at 25 de janeiro de 1667.

    Registre-se que boa parte das mudanas nesse diploma foram efetuadas porregimentos parciais, salvo o referente capitanias independentes do Maranho, do Riode Janeiro e de Pernambuco, que contaram, efetivamente, com regimentos novos.

    No concernente legislao de natureza eclesistica cumpre destacardois diplomas, por sua relevncia (ou importncia); a saber: a bula de 25 defevereiro de 1551, do papa Inocncio III, criando o primeiro bispado doBrasil, com sede na cidade S. Salvador da Bahia e a bula que lhe precedeu

    (de 30 de dezembro de 1550), a Praeclara charissimi, pela qual, em sntese,ao poder real no Brasil, coube, tambm, a representao das igrejas e acobrana e a administrao dos dzimos.

    A legislao sobre ndios foi nesse perodo relativamente farta, muitas delasrecomendando que os gentios fossem bem tratados, assegurando-lhes, inclusive,reparaes e conseqente castigo a quem os molestassem.

    Em outras palavras, a liberdade dos ndios foi algo que muito comumente apareciaassegurada na legislao, isso sem falar no trabalho desenvolvido pelos jesutas, em suacatequizao.

    bvio que (como j assinalado), como se fazia distino entre ndios amigos einimigos, estes ltimos poderiam sofrer represso, por consentimento expresso contidona prpria legislao.

    Aos indgenas amigos, contudo, at terras de sesmaria poderiam ser concedidas,com a condio de que se fixassem nas proximidades das terras dos colonos.

    A partir do alvar de 29 de maro de 1559, ficaram os senhores de engenhoautorizados a trazer escravos de So Tom, desde que autorizadas pelo governador-geral.

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    A merecer destaque, no perodo em exame, a legislao geral portuguesa (isto ,aquela que se dirigia a todo reino e no apenas ao Brasil, vale dizer, a legislaoespecificamente colonial) como o Cdigo Sebastinico (como tambm conhecida aColeo de D. Duarte e a de carter eclesistico), por efeito do Conclio de Trento eda concrdia ou concordata, celebrada em 1578.

    Concordata ou concrdia, como se recorda, ajuste celebrado entre a IgrejaCatlica e um Estado soberano.

    O que se denomina Cdigo Sebastinico a compilao determinada pelo cardealHenrique, quando regente de Portugal (15611567), contendo as leis, ou melhor, osdiplomas de natureza legislativa editadas durante o reinado de Joo III (15211557),da regncia de Catarina (1557-1561) e da prpria regncia henriquina.

    Como a tarefa da compilao coube ao jurisconsulto Duarte Nunes Leo, acoletnea conhecida, tambm, porColeo de D. Duarte.

    Registre-se que, alm da legislao extravagante, foram colecionadas, tambm, osassentos da Casa de Suplicao de Lisboa.

    Como s ao tempo do rei Sebastio (alvar de 14 de fevereiro de 1569) foimandada a coleo ser observada, ficou ela conhecida como Cdigo Sebastinico.

    J a legislao geral de cunho eclesistico decorre diretamente do Conclio deTrento.

    O cardeal Henrique determinou (por alvar de 12 de setembro de 1564 e pordecreto de 8 de abril de 1569), que as autoridades do reino e seus domnios (obviamentea est includo o Brasil) estavam obrigadas a dar a ajuda solicitada pelos prelados parafiel execuo dos decretos tridentinos.

    De fato, esse cumprimento nunca se deu inteiramente, at porque haveria conflitomanifesto de jurisdio com o Estado portugus, alm (at mesmo) de preterio dodireito nacional luso, j que (por efeito dos decretos de Trento) a Igreja ficava investidade jurisdio em diversas matrias tipicamente temporais. De outra parte, muitas dessasnormas eclesisticas colidiam diretamente com as leis internas do reino.

    Uma concordata imps-se (18 de maro de 1578) e, por ela, a Igreja Catlica viuampliada sua jurisdio sobre os estabelecimentos de piedade, o padroado das igrejas eos bens eclesisticos.

    Ademais, ficava vedada a inspeo alfandegria e sobre quaisquer gneros erendas da igreja.

    Quanto aos tribunais, da resultou um autntico dualismo jurisdicional, inclusivecom a extenso igreja de ampla jurisdio civil.

    Com o domnio espanhol (a partir de 1580) e, mais precisamente a partir das

    Ordenaes Filipinas (editadas em 1603), a matria referente a essa concrdia passou aintegrar o seu Livro II.

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    O cdigo filipino, contudo, mitigou alguns poderes conferidos igreja.

    No perodo do governo geral encontram-se tributos ordinrios (tanto da realfazenda como do governo geral) e extraordinrios.

    Pertenciam real fazenda os mesmos tributos, como ao tempo do regime plenodas capitanias. De igual sorte, as rendas do governador-geral, s quais eram acrescidosos direitos dos escravos.

    No que se refere aos tributos extraordinrios, lembre-se que esses s eramexigidos em ocasies excepcionais, como para cobrir despesas com tropas ouconstrues de fortalezas ou cidades, por exemplo.

    Trs eram os tipos de tributos: as derramas (independente dorendimento do contribuinte), as fintas (obedeciam a uma proporo com arendado contribuinte, a rigor, uma derrama paroquial) e as contribuies

    (na realidade donativos, dos mais variados).

    Desde logo, adiante-se, que no sculo XVIII, como, alis, bastante sabido, aderrama significou a cobrana de quintos do ouro em atraso.

    Da resultou, como do conhecimento geral, bela pgina da histria, em que sedestacou o protomrtir da independncia, o alferes Tiradentes.

    Na realidade, de par com outros aspectos, a conjura mineira, significou umcaptulo da histria da resistncia tributria.

    Talvez seja ainda oportuno recordar-se que to impopular eram osquintos, que fizeram originar a expresso quintos do inferno.

    2.4 O domnio espanhol (1581 1640)

    Esteve Portugal, por cerca de sessenta anos, sob o domnio espanhol (ainda que doponto de vista jurdico fosse uma unio pessoal, ou seja, dois reinos com um s rei).

    Da rivalidade com a Espanha, os holandeses, por intermdio de uma CompanhiaComercial, invadiram, por duas vezes, o Nordeste brasileiro. Primeiro, em 1624 at1625, na Bahia, e, depois, entre 1630 a 1654, em Pernambuco (na realidade, a geografiado Brasil holands ia da foz do rio Real, em Sergipe, do rio Gurupi, no Maranho).

    Em 1621 era fundada a "Companhia Privilegiada das ndias Ocidentais", cujaorganizao, sob planejamento de Willem Usselinx (natural da Anturpia), estavaultimada em 1623.

    Seu principal objetivo era conquistar terras na frica Ocidental e na AmricaOriental.

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    De passagem, lembre-se que a colonizao holandesa se fez por meio deCompanhias Comerciais (alm da citada Companhia das ndias Ocidentais, tm-seCompanhia dos Pases Longnquos, fundada em 1595, e a Companhia das ndiasOrientais, fundada em 1602, esta com objetivo de conquistar o Indosto e as ilhas doPacfico).

    Naturalmente, o objetivo imediato da Companhia Privilegiada das ndiasOcidentais era a conquista do Brasil.

    A bem da verdade, na primeira tentativa (1624-1625), ao invadir o centro polticosediado na Bahia, fracassara. Voltaram os holandeses em 1630 (quando ficaram at1654) para fixarem-se no centro econmico do Brasil de ento, Pernambuco, que eleschamavam de Zuickerland (terra do acar).

    Registre-se que em 1624, Jan Andries Moerberck escreveu um famoso folhetointitulado "Motivos porque a Companhia das ndias Ocidentais deve tentar tomar ao

    rei de Espanha a terra do Brasil (como se sabe Portugal esteve sob o domnioespanhol de 1580 a 1640).

    Em seu trabalho, Moerberck fez minucioso levantamento das vantagens queadviriam para a Companhia, em especial no referente cana-de-acar.

    Por outro lado, lembre-se que o famoso livro "Dilogos das grandezas do Brasil",que falava da riqueza econmica do Nordeste brasileiro (e a maior parte dos engenhosde acar estava situada em Pernambuco), teve seu manuscrito encontrado precisamentena Holanda.

    A Companhia em destaque, que era dirigida por um Conselho o Conselho dosXIX muito embora tivesse por escopo primordial os resultados econmicos doempreendimento, em especial durante o perodo do governador (statthalter), conde JooMaurcio de Nassau-Siege, fez de Mauritia importante centro cultural.

    Para o Brasil-holands, vieram, no perodo, sbios como Piso e Marcgraf, autoresda Histria Naturalis Brasiliae, pintores como Arckhout, Zacarias Wagner e Franz Post,poetas como Franz Plante, historiador como Gaspar Barlaeus autor da clebre "Histriados feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil" e a quem se atribui aobservao, pela primeira vez, de que "no existe pecado do lado de baixo do Equador".

    To importantes essas presenas que o historiador Joaquim Ribeiro chegou aafirmar que "O Brasil holands, antes de ser urna colnia batava, foi um quisto doRenascimento na Amrica".

    Do ponto de vista do direito, interessante observar que os holandeses no scriaram leis prprias para o Brasil como tornaram obrigatrias em seus domnios (e oBrasil-holands ia da foz do rio Real, em Sergipe, do rio Gurupi, no Maranho) as leisholandesas.

    O principal diploma legal batavo foi o Regulamento de 23 de agosto de 1636, que

    se pode denominar de autntica Carta Magna do Brasil-holands.

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    Nele estavam as instrues para o statthalter e para o Conselho e seu assessor.

    Ao statthalter (governador, capito e almirante-general) competia, alm depresidir o Alto Conselho Secreto, funes militares (nomear comandantes dasfortalezas, dos regimentos e oficiais de alferes para cima, e o almirante da costa

    brasileira, este com aprovao do Conselho dos XIX); a criao de novos postosadministrativos, mediante a aprovao do Diretrio-Geral da Companhia das ndiasOcidentais e o estabelecimento dos salrios, tambm com a aprovao do dito Diretrio.

    J o Alto Conselho Secreto tinha por competncia a cooperao com o statthalter,tanto em matria militar como administrativa e a promoo e a fiscalizao suprema(die oberste Kontrole) dos negcios judicirios e financeiros.

    Ao assessor cabia escriturar o protocolo do Conselho, lavrar os termos sobre todosos assuntos, assinar cartas e "enviar trimestralmente ao Diretrio-Geral as atas dassesses e o registro das plantaes, fazendas e propriedades rurais desobrigadas do

    pagamento de tributos".

    O Regulamento em destaque criou ainda um autntico tribunal de jurisdio civile penal (o antigo Conselho Poltico transformado), composto de nove membros (quatrodesignados por Amsterdain, dois pela Zelndia e mais trs: um da circunscrio deMosa, um do Norte e outro de Gloninga).

    A esse conselho cabia julgar todos os processos cveis e criminais, bem como, emgrau de apelao, as decises dos conselhos dos escabinos (esses conselhos, tambmcriados pelo Regulamento, eram tribunais municipais, compostos por quatro membros,dois holandeses e dois portugueses).

    Um dos conselheiros polticos exercia as funes de advocaat fiskaad(algo comopromotor pblico).

    Havia ainda em cada municpio o Conselho comunal que resultava da soma doConselho dos escabinos mais o escuteto (schout), que era o chefe administrativomunicipal.

    Todavia, o escuteto tinha funes de promotor de justia, alm de exator dafazenda e chefe de polcia local.

    Finalmente, na organizao judiciria e administrativa do Brasil-holands tinham-se os curadores (Waisenmeister), com a obrigao de amparar os rfos, em especial noque dizia respeito aos seus direitos patrimoniais.

    Cada municpio devia ter trs Waisenmeister (dois portugueses e um holands).

    No que se poderia chamar de poder legislativo, teve-se a iniciativa de Maurcio deNassau de convocar o Parlamento de 1640, considerado a primeira exponencialparlamentar nas Amricas.

    Na realidade quis Nassau, com a iniciativa, tentar conciliar interesses antagnicos.

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    A autoridade poltica desloca-se das mos dos proprietrios rurais, aobservao de Jos Honrio Rodrigues, que constituam a classe dominante e quepassara no domnio holands a ser a classe mdia, para as dos negociantes da cidade,tanto judeus como holandeses, mercadores particulares e casas comerciais daHolanda. A pretenso de Nassau conciliar os interesses econmicos das duas classes

    para assim tornar possvel uma harmonia mais profunda".

    Recorde-se, por outro lado, que nem sempre a cobrana dos impostos holandesesera feita diretamente pelo escuteto, mas por arrendatrios, em especial comerciantesjudeus.

    Ilustre-se, ademais, que os tributos eram pagos em florins, primeira moedacunhada no Brasil, s que pelos holandeses, em seu patrimnio.

    2.5 Perodo da restaurao, tempos de Pombal e

    transmigrao da famlia real para o Brasil (1640 a 1808)

    Nesse quase 170 anos, a colnia experimenta grandes mudanas, a comearporque no perodo compreende-se, tambm, o chamado ciclo de minerao.

    Contribuies fiscais significativas surgiram, s que aps a administraopombalina em Portugal (1750 a 1777).

    2.6 Duas palavras sobre Pombal

    O sculo XVIII gerou o iluminismo ou a filosofia das luzes que consagrava,sobretudo, a liberdade.

    Paralelamente, surgiram os dspotas esclarecidos, assim entendidosos governantes que, muito embora fossem autoritrios, tinham aconscincia crtica do processo de mudanas por que passava ahumanidade naquele ento e agiam, tambm, em funo disso.

    Dspotas de tal tipo foram, por exemplo, Catarina da Rssia, Frederico da Prssia,Jos II da ustria e o ministro de Jos I de Portugal, Sebastio Jos de Carvalho e Melo conde de Oeiras e marqus de Pombal.

    Muito embora seu carter nada isento e, muitas vezes, at mesmo, tirnico e cruel,h quem exalte Pombal, a ponto de nele identificar o que de melhor teve Portugal. o

    caso, por exemplo, da escritora Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, que no fez

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    por menos, ao proclamar: Portugal conta com trs heris imortais: Vasco da Gama, odescobridor; Luis de Cames, o poeta; e o Marqus de Pombal, o grande estadista.

    Por vezes, o julgamento do Marqus no era to encomistico, quando ao anteriormenteregistrado.

    O trabalho de K. Maxwell, por exemplo, registra observao de SirBenjamin Keene (extrada de "The private correspondence of Sir BenjaminKeene", Cambridge, 1993) nada laudatria ao ministro de Jos I: " umapobre cabea de Coimbra como nunca vi outra; sendo to teimoso, toobtuso, tem a verdadeira qualidade do asno (...) s devo dizer que umpequeno gnio que tem o intelecto para seu grande gnio em um paispequeno um animal muito difcil."

    Paixes parte e loas ou condenaes margem, o fato que o marqus dePombal revolucionou, ao seu tempo, o reino portugus por completo, to intensas e

    extensas foram as mudanas que patrocinou.Dentre as reformas pombalinas, que afetaram diretamente o Brasil, tem-se a

    extino definitiva das capitanias hereditrias ainda que tivesse instalado a de MatoGrosso (concebida por Joo V) e criado as do Rio Grande de So Pedro (Rio Grande doSul), de So Jos do Rio Negro (no alto Amazonas) e do Piau; a abolio da Inquisioe de todos direitos ditos temporais do clero; a imigrao com a vinda para a colnia,inicialmente, de cerca de 20.000 aorianos: o incremento do comrcio, pela diminuiodos monoplios e a instituio de bancos comerciais, como o de Pernambuco e o deGro-Par, e a administrao das minas, do que resultou no desenvolvimento da regiodas Minas Gerais.

    Recorde-se, de outra parte, que a questo de limites no sul do Brasil (a regio dasMisses), agravada com o atentado contra o rei Jos I (1758), em Portugal, levouPombal a expulsar os jesutas do reino (1759).

    Ademais, conseguiu adeso de outras cortes europias contra a Companhia deJesus, o que levou o papa Clemente XIV a extinguir a ordem religiosa que, s maistarde, seria restabelecida.

    Com a expulso dos jesutas (s do Brasil saram cerca de seiscentospadres), fecharam-se todos os seus colgios, os quais foram substitudos pelas

    aulas rgias financiadas pelo subsdio literrio (imposto especfico parafinanciar a educao, algo como o primeiro salrio-educao).

    Lembre-se ainda que na administrao de Pombal foi a capital transferida deSalvador para o Rio de Janeiro (1763), por estar a ltima cidade citada mais prximano s da regio das minas aurferas e diamantferas, mas tambm do Sul, onde seformaram freqentes os conflitos fronteirios com os espanhis.

    De passagem, registre-se o papel que desempenhou na reconstruo de Lisboa,aps o terremoto de 1755.

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    Por outro lado, reformas das mais importantes ocorreram no campo do direito,quer no ordenamento positivo propriamente dito, quer no ensino jurdico, quer, ainda,na organizao judiciria.

    No que diz respeito s reformas da legislao, certamente a mais

    importante foi a Lei da Boa Razo (18 de agosto de 1769) que, em sntese,mandava prestigiar as glosas do chanceler da Casa de Suplicao de Lisboa,na aplicao das Ordenaes.

    De outra parte, o direito romano s seria aplicado no caso de omisso,nas leis lusitanas, da hiptese a ser tutelada, mas sempre com fundamentona boa razo.

    A reforma dos estudos jurdicos est intimamente ligada da prpriaUniversidade de Coimbra, expressa no Compndio Histrico e nos Estatutos daUniversidade, tambm conhecidos como Estatutos Pombalinos.

    Por essa nova ordem pedaggica, o direito romano continuaria a serestudado, s que pela ptica do uso moderno das Pandectas.

    De outra parte, muitas reformas foram feitas no direito civil (posse civil deherdeiro, arrendamentos, sucesso testamentria, famlia, insinuao das doaes, etc.),no direito comercial (contratos mercantis, presas, seguros, ttulos de crditos, etc.) esobre a mineira (tanto sobre minas de ouro como as de diamantes).

    Finalmente, quanto organizao judiciria, tem-se que, com respeito ao Brasilforam criados o Tribunal da Relao do Rio de Janeiro e as Juntas de Justia nas

    diversas capitanias.

    Finalmente, veja-se que muito embora seus amplos poderes, Pombalsempre dependeu do apoio do rei. Morto este, adveio a Viradeira eSebastio Jos de Carvalho e Melo amargaria um processo em que foideclarado ru merecedor de exemplar castigo.

    Foi-lhe fatal veridictum proferido por dom Joo Cosme, cardeal daCunha: Vossa Excelncia nada mais tem a fazer aqui.

    2.7 Os tributos

    O subsdio literrio, criado por alvar de 23 de novembro de 1772, j referido, temsido apresentado como o primeiro salrio-educao, ainda que as comparaes emhistria ofeream sempre certo perigo.

    Na realidade, era um tributo cobrado sobre cada rs abatida, bem como sobre aaguardente destilada e sobre a chamada carne verde.

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    Alm do subsdio literrio, foi criado o mestrado das ordens militares, por alvarde 2 de junho de 1774.

    No reinado de Maria I, surgiram mais quatro contribuies, com filiaotributria; a saber: 1 direitos (de 10, 20, 24 ou 40%, conforme o caso)

    relativos plvora de origem estrangeira (alvar de 13 de julho de 1778); 2 por carta rgia de 19 de maio de 1779, subsdio do acar e do algodo;3 subsdio do tabaco em p, por alvar de 18 de setembro de 1779, e 4 imposto sobre o ouro, sobre botequins e tabernas e sobre a aguardente(alvar de 18 de maro de 1801).

    O mais importante, contudo, no perodo, para a histria do Brasil e comvinculao a tributos, foi a derrama referente ao quinto do ouro, como j referido.

    2.8 A transmigrao da famlia real

    A transmigrao da Corte portuguesa para o Brasil (18071808), que, com todapropriedade, Slvio Romero denominou a inverso brasileira, fez gerar profundastransformaes na legislao, em especial no direito pblico (em direito privado foipraticamente inexistente), no respeitante a tratados e acordos, mormente com a Gr-Bretanha.

    De passagem, recorde-se que o prncipe regente D. Joo, mais tarde D. Joo VI),

    ao deixar o Tejo, sob a proteo de Strangford e da esquadra inglesa, em 29 de no-vembro de 1807, no se livraria mais de seus protetores como se ver.

    A carta rgia de 28 de janeiro de 1808 foi o primeiro ato de D. Joo no Brasil edaria cabo ao regime de segregao comercial da antiga colnia, em especial: l admitindo nas alfndegas brasileiras produtos, gneros, fazendas e mercadorias, aindaque transportadas em navios estrangeiros e 2 facultando a exportao porestrangeiros, para os portos que entendessem, todos e quaisquer gneros do Brasil exceo do pau-brasil e outros, notoriamente estancados (monopolizados).

    Alguns historiadores identificam nessa carta rgia a inspirao do

    jurista, advogado e economista baiano Jos da Silva Lisboa (Visconde deCairu). Oliveira Martins, contudo, nela divisa simplesmente as conveninciasinglesas, registrando, textualmente, que ''os tratados de 1810 punham clarae evidente a poltica dos interesses insulares, indiretamente servida pelasmedidas de 1808".

    Que tratados de 1810 eram esses?

    Eram os assinados, de um lado, pelo Conde de Linhares, em nome do regente D.Joo e, de outro, por Lord Strangford, representando Jorge III da Inglaterra, todos comdata de 19 de fevereiro de 1810: o tratado de aliana e amizade com 11 artigos, a que se

    acrescentaram dois outros secretos; o de comrcio e navegao com 34 artigos, e aconveno sobre o estabelecimento de paquetes (navios) com 13 clusulas.

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    Por significativo, observe-se que a presena de muitos anglicismos naverso portuguesa indica que foram redigidos em ingls.

    Voltando carta rgia de 28 de janeiro de 1808: lembre-se, toda via, observaode Isidoro Martins Jnior (Histria do Direito Nacional): "Qualquer que fosse, porm, a

    moral do Decreto de 28 de janeiro, ele ficou sendo nos arquivos do direito ptrio, anossa primeira carta de alforria econmica, o ttulo primitivo de nossa emancipaocomercial".

    No campo do que hoje se chama direito administrativo, a transformao dalegislao foi extensa e basta que se compulse o Cdigo Brasiliense (organizado epublicado por ordem de D. Joo, desde 1811, no melhor estilo de Josefinas, que, comose sabe, eram colees de leis portuguesas do sculo XVIII).

    Por relevante, ressalte-se a Carta de Lei de 16 de dezembro de 1815,da qual destacam-se trs pontos: 1 o reconhecimento da existncia do

    Estado do Brasil; 2 a elevao do Brasil categoria de reino e 3 aConstituio de um novo Estado, como Reino Unido de Portugal, Brasil eAlgarves.

    De outra parte, muitas Leis de Portugal foram transplantadas para a nova sede daCoroa, ainda que, em contrapartida, encontrem-se inmeras leis elaboradas no Brasil,para vigorarem em Portugal, como, por exemplo, o Decreto de 30 de agosto de 1820,regulando a Casa de Seguros da Praa de Lisboa.

    A sombra inglesa continuava, contudo, uma constante em todos os negcios donovo Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

    Tal a intromisso, que o Prncipe Regente chegou a escrever Carta a Jorge IV,queixando-se de seu representante no Rio de Janeiro (o j citado Lord Strangford).Veja-se: "Senhor meu bom irmo e Primo o meu Corao est verdadeiramentepenalizado do dever, que me impe a minha dignidade soberana, de levar aoconhecimento de Vossa Alteza Real fatos que poderiam resultar algum desgosto, se noexistissem entre ns ligaes to amigveis e polticas" (...)

    Nada iguala porm as expresses que Lord Strangford ousou proferir perantemim, por causa da nomeao que acabo de fazer de um ministro de Estado (a doConselheiro de Estado Arajo) (...) Logo que Lord Strangford teve conhecimento destanomeao apresento-me e com um ar fora de toda a decncia, disse-me ia dar parte sua Corte desta notcia, e que contribuiria, quanto pudesse para que Vossa Alteza Realrompesse todos os vnculos de amizade comigo; que em seis meses no haveria maisque um Cnsul britnico aqui, e que no me entregaria mais uma Carta de Vossa AltezaReal, que me anunciara".

    No , pois, de difcil compreenso a existncia de jurisdio no Brasil, privativapara Sditos de sua majestade britnica, expressa pelos juzes conservadores asseguradano art. 10 do tratado de comrcio e navegao de 1810, j referido. Alis, o tratadoapenas os manteve ou os ratificou, porque j existiam.

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    Transcreva-se, por ilustrativa, parte da disposio em destaque: Sua Alteza Realo prncipe regente de Portugal, desejando proteger e facilitar nos seus domnios ocomrcio dos vassalos da grande Bretanha assim como as suas relaes e comunicaescom os seus prprios vassalos, h por bem conceder-lhe privilgio de nomearem eterem magistrados especiais para observarem em seu favor como juzes conservadores

    naqueles pontos e cidades dos seus domnios em que houverem tribunais de justia, oupossam ser estabelecidos para o futuro. Esses juzes julgaro e decidiro todas as causasque forem levadas perante eles pelos vassalos britnicos, do mesmo modo que sepraticava antigamentee a sua autoridade e sentenas sero respeitas...etc.

    Como se pode observar, o direito luso-brasileiro (j se poderia cham-lo assim) noperodo joanino tinha muita coisa que no era s para ingls ver.

    Nesse perodo, de par com os tributos j existentes, foram criadosnovos, a saber: l pela carta rgia de 28 de janeiro de 1808 (a daconhecida abertura dos portos s naes amigas), direitos de importao,

    naturalmente exigidos pela entrada de produtos no Brasil;2 direitos de guindaste, alvar de 25 de abril de 1808; 3 dcima dosprdios urbanos, ou seja, 10% sobre os rendimentos lquidos dos imveissituados no litoral ou em regies populosas do interior (alvar de 27 dejunho de 1808). Esse tributo mudaria de nome, primeiro para dcimaurbana e, posteriormente, para imposto sobre prdios urbanos; 4 pensopara a Capela Real, criada por alvar de 20 de agosto de 1808; 5 contribuio de polcia, criada por ato de 13 de maio de 1809; 6 impostode sisa dos bens de raiz (alvar de 3 de junho de 1809). Tempos mais tarde,o tributo passaria a denominar-se imposto sobre a transmisso imobiliriapor ato inter-vivos. A alquota era de 10% sobre o valor do imvel; 7 meiasisa dos escravos, criada por alvar de 3 de junho de 1809, e significava a

    cobrana de 5% sobre toda a venda de escravo ladino, ou seja, o sabedordo oficio; 8 a dcima das heranas e legados (alvar de 17 de junho de1809); 9 imposto do selo sobre papel (criado, tambm, pelo referidoalvar de 17 de junho de 1809). O tributo tem sua origem nos conhecidosvelhos e novos direitos e perdurou de 1809 at 1965; 10 por alvar de22 de junho de 1910, foram criados direitos de entrada de escravos novos;11 alvar, de 20 de outubro de 1812, criou um imposto que seria, porassim dizer, uma espcie de semente do imposto de indstria e profisses.

    Tal tributo onerava as carruagens, lojas, armazns ou sobrados e navios; 12 sobre a carne verde e as ls grosseiras produzidas no Brasil, foi criada a

    obrigao de um subsdio real, e 13 finalmente, um tributo com relaoao qual alguns divisam como sendo o primeiro ensaio de imposto sobre arenda, que eram os direitos de 10% exigidos sobre os vencimentos dosfuncionrios da Fazenda e da Justia.

    Paul Hugon, em O imposto, observa que a falta de separao fiscal nessa pocatrazia, como conseqncia inevitvel, a existncia paralela de impostos idnticos aoscobrados pela Corte, pelas provncias e mesmo pelos municpios.

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    3 OS TRIBUTOS NO BRASIL INDEPENDENTE (1822-1889)

    A sete de setembro de 1822, como mais do que sabido, foi proclamada a

    independncia. Formar-se-ia, a partir da, um novo Estado: o Imprio do Brasil.

    Em 25 de maro de 1824, adviria a primeira Constituio brasileira.

    Muito embora outorgada (e de passagem, recorde-se que a sociedade da poca eraescravocrata), a Carta do Imprio inspirava-se em muitas idias do constitucionalismoliberal.

    Dentre elas, algumas referentes tributao, ainda que silenciasse sobre adiscriminao das rendas fiscais.

    No seu art. 15, inciso X, prescrevia que era da atribuio da Assemblia Geral(Cmara dos Deputados e Cmara de Senadores ou Senado) fixar anualmente asdespesas pblicas, e repartir a contribuio direta e, no art. 36, 1, que era dacompetncia da Cmara dos Deputados a iniciativa sobre impostos.

    Como se sabe, o princpio da fixao dos impostos pelo legislativo bem como daaprovao oramentria so conquistas liberais.

    No iderio da resoluo americana, que culminou com a independncia dosEstados Unidos, constava o princpio do taxation without representation is tyranny(em linguagem cabocla, tributao sem representao tirania).

    O constitucionalismo dos sculos XVIII e XIX (e da em diante) consagrou oprincpio da indispensabilidade da aprovao dos tributos pelo poder legislativo, ouseja, o princpio da legalidade.

    De par disso, outros princpios foram se impondo tambm como garantiasconstitucionais, como o da anuidade, o da igualdade ou da isonomia, o da anterioridade,o da tipicidade, o da irretroatividade da lei tributria, o da uniformidade, o dacapacidade contributiva, o da vedao do tributo confiscatrio, dentre outros.

    A Constituio do Imprio j agasalhava, pelo menos, os princpios da legalidade,da capacidade contributiva, da isonomia e o da irretroatividade da lei, em que se inclua ade natureza fiscal, evidentemente.

    De outra parte, no se conhecia discriminao de rendas e, muito embora setratasse de um Estado unitrio, havia, de par com a receita federal, a receita provincial(esta constituda por tributos no compreendidos na primeira enunciada), alm dostributos municipais.

    Amaro Cavalcanti (in Elementos de Finanas, 1 edio, 1896) observou que, aesse tempo, a receita pblica era constituda de 151 rubricas, cuja nomenclatura, por

    si s nos convence dos defeitos do sistema. E isso sem se falar na tributao exigidapelas provncias e pelos municpios.

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    Com o advento do Ato Adicional Constituio do Imprio de 1834 (Lei16, de 12/VIII/1834) que se encontra um ensaio de discriminao dasrendas tributrias, em particular quando, em seu art. 10, 5, disps quecompetia s Assemblias Provinciais legislar sobre a fixao das despesasmunicipais e os impostos necessrios, contanto que estes no prejudiquemas imposies gerais do Estado. As Cmaras (municipais, evidentemente)podero propor os meios de ocorrer s despesas dos seus municpios.

    A Lei n 99, de 31 de outubro de 1835, tratou da discriminao derendas (em rendas gerais e provinciais), ainda que s especificasse as dogoverno central.

    Aliomar Baleeiro, em sua Introduo Cincia das Finanas (Rio,Forense, 5 ed., 1968), assinala que as 58 formas de imposies fiscais,expressas no art. 11 da Lei n 99 so cinqenta e oito receitas compitorescos e vetustos nomes.

    Na realidade, a essas alturas, encontravam-se assim discriminados ostributos: I) Receitas Gerais: a) direitos sobre importao (15%), sobre o ch(30%), sobre a plvora (50%), sobre reexportao (2%), sobre exportao(7%), etc.; b) direitos sobre as embarcaes estrangeiras que passam a sernacionais (15% de seu valor) (lei de 15 de novembro de 1831, art. 51); c)direitos novos e velhos dos empregos e ofcios gerais, pelas mercs gerais(privilgios e faculdades recebidas por exemplo) mas suas origensremontam lei de 11 de abril de 1661; d) emolumentos de certides depolcia, etc.; e) dzima da chancelaria. Inicialmente era uma pena que seimpunha quele que fazia m demanda (perdia), revertendo a respectivareceita para o fisco. Eram 10% sobre o valor da causa, conforme antigo

    alvar, datado de 25 de setembro de 1655. Mais tarde, essa penalidade foisubstituda por um imposto de 2% (lei n 98, de 31 de

    outubro de 1835); f) dcima adicional das corporaes de mo morta(decreto n 98, de 31 de outubro de 1835); g) sisa dos bens de raiz, com aalquota de 10% sobre a compra e venda, arremataes, trocas ou doaesde bens de raiz (alvar de 3 de junho de 1809); h) imposto adicional sobrebebidas espirituosas; i) imposto sobre barcos do interior; j) imposto sobredespachantes e corretores; l) imposto sobre exportao (alvar de 25 deabril de 1818); m) imposto sobre minerao de ouro e de outros metais (leide 27 de outubro de 1827); n) imposto do selo do papel (alvar de 17 dejunho de 1809), incidindo sobre ttulos, folhas de livros, papis forenses ecomerciais; o) imposto sobre as lojas (alvar de 20 de outubro de 1812); p)imposto sobre seges, carruagens e carrinhos (alvar de 20 de outubro de1812); q) imposto sobre venda de embarcaes nacionais (alvar de 20 deoutubro de 1812); r) imposto sobre loterias (lei de 11 de outubro de 1837);s) taxa dos escravos (lei de 8 de outubro de 1835), cobrada por escravopossudo; II) Receitas Provinciais: a) dcima dos legados e herana; b)dzima dos gneros (acar, caf etc.); c) imposto sobre a transmisso dapropriedade mvel; d) novos e velhos direitos; e) meia sisa dos escravosladinos; f) emolumentos; g) subsdio literrio, com diversas finalidadesassistenciais; h) dcima dos prdios urbanos; i) taxa de viao em estradasprovinciais e de navegao em rios internos (passagem dos rios); j) imposto

    sobre casas de leiles e casas de modas (lei de 15 de novembro de 1831); l)outros tributos, desde que diferentes dos privativos do governo central, e III)

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    os municpios arrecadavam os tributos que a provncia, em que estavaminsertos, lhes outorgava.

    Na realidade, quem sofria era o contribuinte que, no raro, ficava sobrecarregadocom carga tributria cumulativa, quando no absurda.

    Em 1842, pode-se dizer que houve uma reforma tributria, tantas que foram asmodificaes nos regulamentos sobre tributos.

    A Lei n 317, de 21 de outubro de 1843, criou novos impostos emajorou os j existentes.

    Dentre os novos tributos, estava uma contribuio extraordinria a incidir sobrepessoas que auferissem vencimentos dos cofres pblicos. Sem dvida, um tributoprecursor do imposto de renda.

    Grandes alteraes, registre-se ainda se fizeram quanto s tarifas aduaneiras,passando por um confronto entre o livre-cmbio e o protecionismo alfandegrio.

    De par com o Tratado de 1810 (celebrado entre Portugal e Inglaterra) e o Tratadode Amizade, Comrcio e Navegao, de 1827 (entre o Brasil e a Gr-Bretanha) firmou oimprio, tambm, idnticos ajustes com a Frana, ustria, Prssia, Holanda, CidadesHanseticas, Dinamarca e Estados Unidos.

    Enfim, o Brasil aderira a um sistema econmico livre-cambista.

    Todavia, j a partir da Regncia (1831-1840) esses tratados passaram a ser

    denunciados.

    A Inglaterra (cujo Tratado com o Brasil expirar-se-ia em 1842), conseguiu, porargumentos de chicana, que a expirao s ocorresse em 1842.

    Da adviria a clebre tarifa Alves Branco.

    J era corrente, a essas alturas, que o Brasil devesse adotar um sistema deprotecionismo alfandegrio em oposio ao livre-cambista.

    Em 1844, quando o ministro da Fazenda era Manuel Alves Branco (2Visconde de Caravelas), foi adotada a nova poltica econmica, dentro dessalinha protecionista.

    Assim, adotou-se uma nova nomenclatura, alcanando 2.919 artigos deimportao.

    Houve, por conseqncia, aumento considervel da taxa ad valoremque, conforme o caso, passava a ser de 30%, 40%, 50% ou 60%.

    Foram excepcionadas apenas as importaes que interessavam ao fomentocultural (livros, atlas, mapas, etc.) ou que concorressem para aumentar o patrimnionacional.

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    Praticamente, a partir de ento, as tarifas aduaneiras no 2 Imprioforam protecionistas, merecendo destaque a baixada pelo gabinetepresidido pelo baro de Cotegipe (18851887) quando foi ministro daFazenda Francisco Belisanto Soares de Sousa, que aumentou os direitos(aqui, obviamente, no sentido de tributo aduaneiro) dos artigosestrangeiros, que tivessem similares na indstria nacional, inclusive, eexcluindo da proteo as indstrias que no utilizassem as matrias-primasdo pas.

    De outra parte, observe-se que no chamado segundo imprio (18401889),houve melhoria efetiva no sistema fiscal, com a correo, pela reduo, das espciestributrias.

    Contudo, como observou Amaro Cavalcanti: O Imprio chegou a seu termo, semter podido fundar um sistema tributrio que, ao menos satisfizesse a esses dois fins:1) uma distribuio e arrecadao conscientemente baseadas nas condies

    econmicas do Pas; 2) uma diviso razovel das contribuies pblicas, entre areceita geral do Imprio e a receita particular das provncias.

    4 OS TRIBUTOS NA REPBLICA

    4.1 A Repblica Velha (18891930)

    Com o advento da Constituio de 1891 (24 de fevereiro), inspirada naConstituio norte-americana e redigida em sua maior parte por Rui Barbosa, noficaria margem a disciplina fiscal, inclusive o estabelecimento de um sistema rgido dediscriminao de rendas tributrias, tanto da Unio, como dos estados, ficando de foraos municpios.

    A primeira Constituio Republicana (em seu art. 7) era expressa:

    da competncia exclusiva da Unio decretar: 1) Impostos sobre aimportao de procedncia estrangeira; 2) Direitos de entrada, sada eestada de navios, sendo livre o comrcio de cabotagem s mercadoriasnacionais, bem como as estrangeiras que j tenham pago imposto deimportao; 3) Taxas de selo, ressalvada a estadual; 4) Taxas de correiose telgrafos federais. Ademais, competiam, privativamente Unio ainstituio de bancos emissores e a criao (e a respectiva manuteno)das alfndegas.

    Por outro lado, ficou expressamente vedado ao governo federal criar distines epreferncias com relao aos portos estaduais.

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    No art. 9, a Constituio de 1891, definiu os impostos estaduais; asaber: sobre a exportao de mercadorias de sua prpria produo sobreimveis rurais e urbanos, sobre transmisso de propriedade e sobreindstria e profisses.

    Tambm ficou reservada competncia estadual a decretao de taxa de selo,quanto aos atos emanados de seus respectivos governos e negcios de sua economia econtribuies concernentes aos seus telgrafos e correios

    A primeira Constituio da Repblica isentou de impostos, no estado em que seexportasse a produo dos outros estados e estabeleceu a imunidade recproca (art. 10) aoprescrever que proibido aos estados tributar bens e rendas federais ou servios a cargoda Unio, e reciprocamente.

    Ademais, tambm ficaram vedados tanto aos estados como Unio:1) criar impostos de trnsito pelo territrio de um estado, ou na passagem

    de um para outro, sobre produtos de outros estados da repblica, ouestrangeiros, e bem assim sobre veculos, de terra e gua, que ostransportarem; 2) estabelecer, subvencionar, ou embaraar o exerccio decultos religiosos; e 3) prescrever leis retroativas.

    A Carta de 1891, admitia ainda (art. 12) que, alm das fontes de receitasdiscriminadas, era lcito aos estados e Unio, cumulativamente ou no, criar outras,no colidindo, naturalmente, com as vedaes expressas e obedecidas as respectivascompetncias para tributar.

    Em sua Declarao de Direitos, expressa em 31 pargrafos do art. 72 (alm das

    disposies dos arts. 73 a 79) a Lei Fundamental de 1891 consigna as garantias clssicasdos direitos fundamentais de primeira gerao, sendo expressa que nenhum imposto dequalquer natureza poder ser cobrado seno em virtude de uma lei que o autorize.

    Registre-se, de passagem, que a competncia concorrente cumulativa, prevista naConstituio, sempre foi objeto de muitas crticas.

    4.2 Um pouco sobre a Revoluo de 1930

    O mundo, na fase do entre guerras, experimentou uma grande crise econmicaque chegou s culminncias com o crack de 1929, na bolsa de valores de NovaIorque.

    Da crise mundial iniciada na Europa e extendida aos Estados Unidos, ningumescapou. Bancos faliam, empresas fechavam, o desemprego grassava por toda Europa.Em 1929, tem-se nos Estados Unidos o crack: era a Grande Depresso.

    Talvez o setor mais atingido fosse o rural, sendo o bastante lembrar que o preodo trigo no mercado mundial caiu ao mais baixo nvel desde o sculo XVI.

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    Reduzida a realidade em foco sua expresso mais simples, poder-se-ia dizer:ningum vendia nada; ningum comprava nada.

    No Brasil, em resumo, assinale-se que, de 1920 a 1930, o cafrepresentava 70% das exportaes brasileiras, e os Estados Unidos eram os

    maiores compradores. A reduo quase total das importaes norte-americanas trouxe uma sria crise para a balana comercial brasileira, doque resultaram: a) a poltica do governo brasileiro de financiar os estoquespara manter o preo do caf no mercado internacional foi afetadanegativamente pela crise; b) o preo de outros produtos primrios tambmcaram, aprofundando a crise; c) a indstria foi de certa forma beneficiada,pois capitais anteriormente investidos no caf passaram a ser aplicados naindstria; d) com a desvalorizao da moeda brasileira e a conseqenteelevao dos preos dos produtos estrangeiros, houve um estmulo para afabricao de produtos similares no Brasil. Os fazendeiros, que sofreramgrandes perdas, tiraram seu apoio ao governo que no solucionava seusproblemas e essa atitude criou condies para uma ao radical e violenta

    contra o governo. Washington Luiz, que era o presidente da Repblica em1930, foi derrubado, e em seu lugar subiu Getlio Vargas, apoiado pelosmilitares. (Carlos Fernando Mathias de Souza, em A Revoluo de 30: Omodernismo na poltica?, Revistas Universitas (revista de cultura do CEUB,Braslia, n 4, 1983).

    Nesse perodo revolucionrio foram criados (decreto 21.335, de 29 de abril de1932) a taxa de educao e sade, recaindo sobre quaisquer documentos no mbitofederal, estadual ou municipal, a contribuio de melhoria (decreto 21.930, de 11/5/32),e o imposto proporcional sobre capitais empregados em hipotecas (decreto 21.949, de12/10/32).

    Em 1934, pelo decreto 24.036, de 26 de maro, seria determinada uma reforma noTesouro Nacional.

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    4.3 O regime da Constituio de 1934

    A Constituio de 16 de julho de 1934 inspirou-se em boa parte na da repblica deWeimar (Alemanha) e, com ela, introduzem-se no Brasil, os chamados direitosfundamentais de segunda gerao.

    Nela ntida a preocupao com o social, sendo o bastante recordar-se que, aodispor sobre os direitos e garantias individuais, foi expressa em que: garantido odireito de propriedade, que no poder ser exercido contra o interesse social oucoletivo na forma que a lei determinar (...) (art. l 13, 17).

    No concernente discriminao de rendas, inovou, posto que, alm das federais edas estaduais, tratasse tambm das municipais.

    De outra parte, criou ela o imposto de venda e o de consumo, como tributosfederais e o imposto de rendas e consignaes para os estados, alm de ter vedado abitributao, cujo conceito, de certo modo, fixou.

    Era expressa (em seu art. 6) a Carta de 1934: compete tambm,privativamente, Unio: I) decretar impostos: a) sobre a importao demercadorias de procedncia estrangeira; b) de consumo de quaisquermercadorias, exceto os combustveis de motor exploso; c) de renda eproventos de qualquer natureza, excetuada a renda cedular de imveis; d)de transferncia de fundos para o exterior; e) sobre os atos emanados do

    seu governo, negcios de sua economia e instrumentos de contratos ouatos regulados por lei federal, e f) nos territrios, ainda, os que aConstituio atribui aos estados.

    Ademais, era da competncia da Unio cobrar taxas telegrficas, postais e deoutros servios federais de entrada, sada e estadia de navios e aeronaves sendo livre ocomrcio de cabotagem s mercadorias nacionais, e s estrangeiras que j (tivessem)pago o imposto de importao.

    Aos estados competiam, privativamente, decretar impostos sobre: a)propriedade territorial, exceto a urbana; b) transmisso de propriedade

    causa mortis; c) transmisso de propriedade imobiliria inter vivos, inclusivea sua incorporao ao capital da sociedade; d) consumo de combustveis demotor exploso; e) vendas e consignaes efetuadas por comerciantes eprodutores, inclusive as industriais, ficando isenta a primeira operao dopequeno produtor, como tal definido na lei estadual; f) exportao demercadorias de sua produo at o mximo de dez por cento ad valorem,vedados quaisquer adicionais; g) indstrias e profisses; e h) atosemanados do seu governo e negcio de sua economia, ou regulados por leiestadual.

    Alm dos impostos podiam os estados, na sua competncia tributria, cobrar taxas

    de servios estaduais.

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    Estabelecia, ademais, a Constituio de 1934, que o imposto de vendas (seria)uniforme, sem distino de procedncia, destino ou espcie de produtos.

    De outra parte, estabelecia a Lei Fundamental em destaque que o imposto deindstrias e profisses (seria) lanado pelo estado e arrecadado por este e pelos

    municpios em partes iguais.

    No art. 10 a Constituio, tratando de competncia concorrente da Unio e dosestados, admitia a criao de outros impostos, alm dos que lhes so atribudosprivativamente de cuja arrecadao (a ser entregue no primeiro trimestre do exerccioseguinte) trinta por cento caberiam Unio e vinte por cento aos municpios, de ondetinham provindo.

    Como j adiantado, tratou a Carta da bitributao nos termos seguintes:

    vedada a bitributao, prevalecendo o imposto decretado pela Unio quando a

    competncia for concorrente. Sem prejuzo do recurso judicial que couber, incumbe aoSenado Federal, ex-officio ou mediante provocao de qualquer contribuinte, declarara existncia da bitributao e determinar a qual dos dois tributos cabe a prevalncia.

    As rendas tributrias dos municpios, alm da participao no impostode indstrias e profisses e de vinte por cento sobre impostoseventualmente criados, segundo a previso do inciso VII, do art. 10,estavam descriminados no art. 13, 2, incisos I a V; a saber: I impostode licenas; II os impostos predial e territorial urbanos, cobrado, oprimeiro, sob a forma dcima ou de cdula de renda; III o imposto sobrediverses pblicas; IV o imposto cedular sobre a renda dos imveis rurais;

    e, V as taxas sobre servios municipais.

    A merecer nfase que, no Captulo dos Direitos e Garantias Individuais (art. 113),a Constituio criou um privilgio fiscal para jornalistas, escritores e professores, aoprescrever ( 36) que nenhum imposto gravar diretamente a profisso de escritor,jornalista ou professor.

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    4.4 A Carta de 1937 regime tributrio

    A Carta de 1937, tambm conhecida como a polaca, instituiu, como bemsabido, o Estado Novo no Brasil, que perduraria at 1945, quando os militares acabaramcom o consulado Vargas.

    Como assinalou Afonso Arinos era apenas formalmente uma Constituio, postoque no amparada em qualquer poder constituinte.

    Do ponto de vista da discriminao de rendas, com pequeninas alteraes, a novaCarta praticamente manteve as disposies da de 1934.

    Dentre essas pequenas mudanas tem-se a suspenso do imposto estadual sobre

    consumo de motor a exploso e o municipal sobre rendas de imveis rurais.

    Resultou da a unificao dos impostos de consumo e de renda, que ficaramreservados Unio.

    Cinco medidas vinculadas a tributos, no perodo em destaque, soencontradas: l o advento do decreto-lei 960, de 17 de dezembro de 1938,dispondo sobre o processo do executivo fiscal; 2 reduo de cerca de1000 rubricas relativas a ttulos, para menos de cinqenta; 3 leiconstitucional n 3, de 18 setembro de 1940, que proibiu a tributao, pelosestados, Distrito Federal e municpios, direta ou indiretamente, sobre a

    produo e o comrcio de carvo mineral nacional e dos combustveis elubrificantes lquidos de qualquer origem; 4 lei constitucional n 4, de 20de setembro de 1940 que atribuiu Unio a competncia para tributar, comcaracterstica de imposto nico, o tributo de que tratava a lei constitucional3, o que foi regulamentado pelo decreto 2.615, de 21 de setembro de 1940;e, 5 decreto 3.200, de 19 de abril de 1941, criando um adicional aoimposto de renda, sob o fundamento de proteo famlia, tributo querecaa sobre pessoas solteiras, vivas e sobre casais sem filhos.

    4.5 Os tributos na Constituio de 1946

    A Constituio de 18 de setembro de 1946 fixou discriminao de rendas maisrgida, alm de ter sido assinaladamente municipalista.

    Alis, em defesa dos municpios que foi promulgada a EmendaConstitucional n 5, de 21 de novembro de 1961, instruindo em seu favornova discriminao de rendas.

    De passagem, observe-se que com apoio no instituto de direito anglo-saxo dogrants-in-aid (subsdio em ajuda ou auxlio) adotou-se a tcnica de participao na

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    arrecadao e at dos excessos como, por exemplo, a participao dos municpios comrelao s receitas estaduais.

    Em sntese, assim ficou a discriminao de rendas, resultante da citadaEC n 5/61 : I tributos de Competncia da Unio: 1 imposto sobre

    importao de mercadorias de procedncia estrangeira; 2 imposto sobreconsumo de mercadorias (do total da arrecadao, 10% pertencem aosmunicpios, efetuada a distribuio em partes iguais, independentementede suas condies); 3 impos