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Breve simbologia do Templo-Monumento de Santa Luzia

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Neste artigo abordamos o tema do monte sagrado, e de que forma é que o local da implantação do edifício contribui para a sua valorização espiritual, artística e cultural. Fizemos ainda uma reflexão acerca dos conceitos de monumento, identidade, cultura e património, e de que forma é que estes se co-relacionam.Publicado em "Cadernos Vianenses", Tomo 48, 2014

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    Breve simBologia do Templo-monumenTo de sanTa luzia

    O Templo-Monumento de Santa Luzia em Viana do Castelo um testemunho da f e da persistncia de um povo que durante longos anos se dedicou a erguer um monumento que representasse a devoo por duas entidades Santa Luzia e o Sagrado Corao de Jesus no deixando que as dificuldades o desviassem do seu propsito. Hoje, o Templo-Monumento que se ergue no alto do monte de Santa Luzia parece dizer-nos que se sente orgulhoso do seu povo e das provaes que passaram para o erguer, dominando a paisagem como se a sua lo-calizao lhe permitisse proteger a cidade que tem a seus ps, olhando e zelando por ela como um vigilante que nunca dorme. Assim, e se a sua natureza o permitisse, o Templo certamente nos diria que no tem apenas orgulho em si prprio pela sua magnificente e esplendorosa beleza, admirvel a quilmetros de distncia, mas tambm da cidade que o construiu.

    Nesta reflexo abordamos o tema do sacro-monte, ou monte sa-grado, nomeadamente na forma como este se relaciona com o Templo--Monumento. Este tipo de localizao vital para a compreenso do edifcio que nele se insere, atribuindo-lhe caractersticas que o tornam detentor de um aglomerado de significados inerentes ao ambiente de que faz parte. O edifcio no existe como um elemento isolado, mas inserido numa paisagem que tem os seus prprios significados e con-tedos. Neste contexto, observaremos o Templo-Monumento como parte integrante de um conjunto de elementos que atribuem ao local de Santa Luzia uma identidade muito prpria. O edifcio deixa de ser visto de forma individual para ser observado num contexto orgnico e colectivo. Encetaremos tambm a busca pelos significados que ele colhe, viajando pelo seu papel enquanto patrimnio artstico, enquan-to agente da memria, enquanto manifestao de cultura e marco da identidade.

    ANA CLUDIA MArqUES

    Tomo 48, 2014, p. 63 - 81

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    a consagrao

    Debrucemo-nos, numa primeira instncia, sobre a designao deste edifcio, tanto pela tipologia, como pelas entidades a que consagra-do. Comecemos por esta ltima. Santa Luzia foi o primeiro orago do lugar, pela existncia da extinta capela consagrada santa, anterior construo do Templo-Monumento. Os primeiros registos desta invo-cao remontam ao sculo XVIII, relatados por Antnio Carvalho da Costa na sua Corographia portugueza, onde o autor menciona hum alto monte para a parte do Norte, onde hoje est a Ermida de Santa Luzia.1 As Memrias Paroquiais de 1758 tambm do sinal da sua existncia, na raiz do monte, a que se tem dado o nome de Santa Luzia, porque no alto delle esta situada e edificada huma ermida desta glorioza santta.2

    Dada a sua importncia primordial, o monte acaba por obter a mesma designao. Contudo, no interior do Templo-Monumento, o espao reservado santa secundrio, resumindo-se a um altar late-ral. J a devoo ao Sagrado Corao de Jesus ocupa o altar-mor. Foi a esta entidade que se construiu a esttua de Aleixo queiroz ribeiro, hoje colocada na fachada principal do edifcio, ainda antes do templo se comear a erguer, ou mesmo existir em papel. Ao mesmo tempo, consideramos que a antiga ermida foi primeiramente dedicada a Santa gueda, depois a Nossa Senhora da Abadia, e Santa Luzia apenas ocu-pava um altar lateral, acabando esta ltima devoo por se impor. No estaremos a assistir ao mesmo processo, em que desta vez o culto ao Sagrado Corao de Jesus se impe ao de Santa Luzia? difcil dizer. Podemos constatar que o culto ao Sagrado Corao de Jesus dotado de maior carga no templo. A sua presena impe-se no altar-mor e na esttua que recebe o visitante prestes a entrar no templo, assumindo--se como padroeiro. Porm, a questo da antiguidade pende a favor de Santa Luzia, e observamos que o monte se denomina monte de Santa Luzia e no monte do Sagrado Corao de Jesus.

    Paralelamente, Santa Luzia existe ainda enquanto local. No ape-nas como uma entidade ou um culto, ou como uma ermida e/ou mon-te com essa denominao. Existe como lugar, um espao fsico que possuidor de um determinado ambiente, abrangendo o que se en-contra dentro desse mesmo espao. Ao considerarmos que o Templo-

    1 COSTA, Antnio Carvalho da - Corographia portugueza, e descripo topographica do famoso Reino de Portugal, com as noticias das fundaes das cidades, villas, & lugares, que contm; vares illustres, genealogias das familias nobres, fundaes de conventos, catalogos dos bispos, antiguidades, maravilhas da natureza, edificios & outras curiosas observaes [on-line]. Disponvel em: (http://purl.pt/434/1/) p. 2072 CAPELA, Jos Viriato As freguesias do distrito de Viana do Castelo nas Memrias Paroquiais de 1758. Alto Minho: Memria Histria e Patrimnio. Braga: Casa Museu de Mono/Universidade do Minho, 2005.

    Fonte - Arquivo Histrico da Confraria de Santa Luzia

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    -Monumento no se resume a um edifcio per se, inclumos elementos como as colunas que o ladeiam e a esttua que nele se abriga, pois sem eles o edifcio no completo. Imaginemos que este um primeiro aglomerado arquitectnico. Adicionemos-lhe o Hotel de Santa Luzia, a Citnia de Santa Luzia, o Funicular de Santa Luzia e os espaos en-volventes. No estamos apenas a definir um objecto isolado, mas sim um conjunto - uma estncia. E esta estncia ser possuidora de um es-prito comum, enraizado nas suas origens e significados primordiais, ligando os elementos como um todo.

    Ao mencionarmos Santa Luzia, no nos estamos somente a referir um culto ou um edifcio, estamos a abranger todo um local e toda uma histria que envolve esse local, considerando o espao como um conjunto recheado de significado. Importante tambm a designao corrente para a populao; afinal no dela e para ela o monumento que l est? E nisto, h unanimidade. O templo o Templo de Santa Luzia, diz-se Fui a Santa Luzia, as placas que apontam o caminho para o templo dizem Santa Luzia, Santa Luzia est na boca do povo. A isto acrescentamos a designao da entidade que tutela o monu-mento, a Confraria de Santa Luzia, da Comisso de Melhoramentos do Monte de Santa Luzia, e ainda o Jornal de Santa Luzia e, nas notcias que, desde o incio da construo, e ao longo dos anos foram saindo no jornal Aurora do Lima, os ttulos dos artigos nomeiam, na esmagadora maioria, Santa Luzia.

    Podemos concluir que as duas terminologias so correctas. Mas, por ser a sua designao mais comum, porque o monte tem o mesmo

    Fonte - Arquivo Histrico da

    Confraria de Santa Luzia

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    nome, e sobretudo porque temos em considerao que o templo faz parte de um conjunto que extrapola o edifcio, design-lo-emos Tem-plo de Santa Luzia.

    o local

    Faamos agora uma reflexo sobre a localizao deste edifcio: o Templo-Monumento encontra-se situado no alto do monte de Santa Luzia, que por sua vez uma ramificao da serra de Arga. O seu posi-cionamento elevado concede-lhe uma posio privilegiada, dominan-do a paisagem daquela regio, constituindo um ponto de referncia a quilmetros de distncia. No cenrio da regio minhota, este no o nico exemplar. Podemos observar a existncia de outros santurios situados em locais elevados, como o caso do Bom Jesus e do Sameiro em Braga, e da Nossa Senhora da Penha em Guimares. Este fen-meno no de estranhar se tivermos em considerao as palavras de Carlos Alberto Ferreira de Almeida: Uma gama de razes diz respeito ao aspecto paisagstico do local eleito para a implantao da capela, escolhido por ser ameno, por ser dominante, ou por ser espao invulgar. No por acaso que nos stios mais deslumbrantes, ou mais aprazveis, encontramos sistemati-camente ermidas.3 A escolha do alto de um monte para a implantao de uma capela faz todo o sentido quando pensamos que o monte por si s rene uma srie de significados importantes para a populao que se encontra aos seus ps. Ao recuarmos no tempo, verificamos que, sistematicamente, estes locais foram eleitos para a instalao de povoados, sobretudo pelo seu carcter defensivo e estratgico, como se comprova pela existncia de inmeros exemplos de castros.

    O monte, enquanto local, colhe desde cedo um determinado sig-nificado, mutvel com o tempo; e porque o homem tem uma necessidade fundamental de significados, tornam a imaginabilidade desse local muito rica, at pelas lendas etiolgicas que se lhe associam, permitindo um conjunto de vivncias que os passam a unir a esse ambiente.4 Assim, a escolha dos montes sobranceiros s parquias e s agras para a implantao de capelas resulta tambm de crenas, segundo as quais essas ermidas [] protegiam os campos e as povoaes.5 Por outro lado, a altitude um factor desejado na medida em que est mais prximo do cu, e portanto, de Deus. O monte funciona como um ponto de encontro entre o terreno e o divino, levando o crente a estabelecer uma maior ligao com o objecto da

    3 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de Religiosidade popular e ermidas in Estudos Contemporneos, dir. de Joaquim Azevedo. Porto: Imprensa Nacional Casa da Moeda. p. 78.4 Idem ibidem, p. 79.5 Idem ibidem, p. 79-80.

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    sua devoo. O monte aufere de um carcter mstico muito particular, tornando-o ideal para receber capelas que reflictam as preocupaes e a espiritualidade da populao que por ele se encontra abrigada, formando um plo sacralizado e protector do espao em redor, exor-cizando os males.

    Ao mesmo tempo, esta localizao favorece a realizao de roma-rias ou procisses, que tanta importncia tm na cultura religiosa do Norte de Portugal. O conceito de peregrinao e romaria algo com-plexo de explicar, dada a dificuldade em sondar as profundidades da alma colectiva e individual6, mas podemos sublinhar algumas das mo-tivaes deste fenmeno religioso. Existe um primeiro sentimento da prestao da homenagem, de devoo. O peregrino age em demons-trao pela gratido, pela fidelidade e atravs da splica ao santo, pro-curando beneficiar da sua proteco. Este aspecto oferece segurana anmica ao devoto, confortando-o. A peregrinao sobretudo uma manifestao de f, que se materializa numa celebrao religiosa atra-vs de uma jornada onde os seus intervenientes participam de forma individual ou colectiva.

    6 Idem ibidem, p. 83.

    Fonte - Arquivo Histrico da

    Confraria de Santa Luzia

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    Ainda nas palavras de Carlos Alberto Ferreira de Almeida, as capelas isoladas prestam-se muito melhor que as paroquiais s vivncias do peregrinar que partir (saindo do seu espao quotidiano), fazer uma viagem, idealmente a p (passando por espao no-familiar e por vezes custoso), para ter a sensao do encontro dum espao sagrado e a saudar o santo, dar as voltas capela, entrar, rezar, tocar ou beijar a imagem e deixar a esmola7. Sendo parte deste percurso ou viagem no sentido ascensional, est implcita a ideia do sacrifcio necessrio para chegar meta, o local

    sagrado onde o santo aguarda o fiel. O percurso ou caminho a percor-rer encontra correspondncia com a Via-Sacra, tendo como trmino o topo, a zona de passagem csmica, onde o devoto entra em contacto com sagrado.

    O monte sacro possuidor de outro tipo de significados e/ou ca-ractersticas que enfatizam a sua condio. usual encontrarmos refe-rncias a lendas, mitos ou milagres que atestem a sacralizao do local. A capela do santo est nesse local por sua vontade, porque a sua imagem foi a encontrada ou porque a aconteceu qualquer milagre ou facto extraordin-rio que patenteia esse desejo.8 Isto opera como um indicador divino que transcende a dimenso humana de atribuio de significado ao local;

    7 Idem ibidem, p. 81.8 Idem ibidem, p. 81.

    Fonte - Arquivo Histrico da Confraria de Santa Luzia

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    Por outro lado, funciona exactamente como esse desejo inconsciente da procura do significado, to vital para o homem.

    A este fenmeno acresce a fenomenologia do ambiente - as carac-tersticas paisagsticas em redor e a forma como estas se associam aos aspectos j referidos. No podemos deixar de sublinhar que Santa Luzia se insere num ambiente com elevada reputao internacional, considerada pela National Geographic Magazine como tendo uma das melhores paisagens mundiais. A paisagem tem um papel relevante na composio do ambiente, dado que ele no se constri apenas do que imaterial, mas tambm do que visual. Tal permite uma excitao sensorial que conduz ao numinoso9, o estado religioso da alma ins-pirado ou vivenciado pelas qualidades transcendentes da divindade.

    Assim, falamos do monte sacro enquanto hierofania10, se o qualifi-carmos como um elemento da natureza, portanto profano, que adquire uma conotao ou um sentido divino, porque lhe atribudo um signi-ficado sagrado pelo homo religiosus.11 O objecto passa a ser uma hierofania no momento em que deixa de ser um simples objecto profano e adquire uma nova dimenso: a sacralidade.12 Deste ponto de vista, o monte enquanto elemento natural no ter qualquer outra significao ou valor espiri-tual para o homem profano. J para o religioso, o monte transcende os valores laicos, transmutando o lugar profano em lugar sagrado.

    Em ltima instncia, o monte habitado por mais uma entidade o genius loci. O termo refere-se ao esprito do lugar, estabelecendo que o local possuidor de um conjunto de significados que o caracterizam. Nas palavras de Christian Norberg-Schulz, podemos dizer que os sig-nificados que so reunidos por um local constituem o seu genius loci13. O genius loci est directamente relacionado com as razes e significado do local, e portanto, nas relaes dos diferentes elementos que com-pem o local: este genius determinado por tudo aquilo que visualizado, complementado, simbolizado ou reunido14. So estas caractersticas arti-culadas que lhe vo atribuir identidade, ou esprito. Assim, quando se

    9 rudolf Otto, na sua obra Das Heilige (1917) prope o termo numinous para a experincia sen-sorial vivida ante o sentimento de medo/fascnio provocado pelo sagrado. 10 Hierofania um conceito desenvolvido por Mircea Eliade, filsofo e historiador de religies. Ele define hierofania como sendo uma manifestao do sagrado, ou a manifestao de uma realidade superior atravs de objectos que so parte integrante do nosso mundo. in ELIADE, Mircea O sagrado e o profano. Lisboa, Livros do Brasil, 2006.11 Homo religiosus refere-se ao ser humano enquanto um ser religioso, ou pertencente a uma comu-nidade religiosa.12 ELIADE, Mircea Trait [1948] trad. It. p.17 in GIL, Fernando Enciclopdia Einaudi. Vol.12: Mythos/Logos, Sagrado/Profano. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1987.13 We may say that the meanings which are gathered by a place constitute its genius loci in NOrBErG--SCHULZ, Christian Genius Loci towards a phenomenology of architecture. Londres: Academy Edi-tions, 1980. p. 170. traduo da autora.14 This genius is determined by what is visualized, complemented, symbolized or gathered in idem ibidem, p.58. traduo da autora.

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    constri uma estrutura arquitectnica neste local, ela ir ser imbuda deste esprito, inclusive tornando-se parte dele. O edifcio ir funcio-nar como a materializao do esprito, atravs da mo do homem que o edifica, pois atravs da construo o homem atribui aos significados uma presena concreta.15 O invisvel encontra-se, desta forma, projectado no que visvel. Os significados e o esprito representam ambas o mesmo conceito. Os significados so o esprito, o genius loci, e o esp-rito o conjunto de significados. Da a constante repetio, sendo os significados to relevantes, dado que a necessidade mais fundamental do homem atribuir significado sua prpria existncia.16 Podemos en-to concluir que uma capela ou templo no cimo do monte toma as propriedades do local da sua implantao, dando-lhe uma dimenso fsica ou material. Assim, o significado de qualquer objecto consiste na maneira como se relaciona com outros objectos, ou seja, consiste naquilo que o objecto rene.17

    a Tipologia

    Templo? Porque no Santurio? Ou Baslica? Ou Catedral, ou Igre-ja, ou ainda Capela? Afinal em que categoria se insere este edifcio? Analisemos ento a tipologia do edifcio. Decididamente no uma catedral, dado que no a igreja principal onde se encontra a sede da diocese do bispado, onde o bispo ou arcebispo tem a sua ctedra.18 Embora seja comummente conhecida como baslica, no rene as condies para s-lo. Para obter o ttulo de Baslica maior, ou Patriarcal, seria necessrio que estivesse sob a autoridade do Papa, contendo um altar e trono papal, e uma Porta Sancta. Para o ttulo honorfico de baslica ou baslica menor tambm necessria a aprovao papal, concedi-da quando a igreja possuidora de determinadas caractersticas que a definem como relevante enquanto uma igreja catlica. Encontramos ainda a seguinte definio: Igreja crist do sc. IV ao XI, construda se-gundo o plano das baslicas romanas e, por extenso, toda a igreja catlica de grandes propores. [] Hoje recebe aquele nome s o templo titular com es-peciais dignidades, decorrentes de certas funes consideradas importantes e especiais.19 Portanto Santa Luzia no est abrangida na tipologia, uma

    15 Through building man gives meanings concrete presence in idem ibidem, p.170. traduo da autora.16 Mans most fundamental need is to experience his existence as meaningfull in idem ibidem, p.166. tra-duo da autora.17 the meaning of any object consists in its relationships to other objects, that is, it consists in what the object gathers in idem ibidem,. p. 166 traduo da autora.18 SILVA, Jorge Henrique Pais da, CALADO, Margarida Dicionrio de termos de arte e arquitectura. Lisboa: Editorial Presena, 2005, pg. 79.19 Idem ibidem, p. 56.

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    vez que no abrange nenhum destes parmetros.20 um tem-plo; o vocbulo tem origem no latim templum que significa local sagrado; templo exige, ainda, que seja aclamado a uma entida-de sagrada: Lugar consagrado divindade. Os templos antigos no eram, como as igrejas crists ou as sinagogas judias, locais de assem-bleia para os fiis, mas uma caixa de mrmore para a esttua do deus21. O nosso edifcio encaixa perfeita-mente nesta definio. tambm um santurio: novamente no latim encontramos fanum, reme-tendo para local sagrado ou tem-plo, e sacrarium de lugar onde se guardam objectos sagrados, ou

    seja, relquias, bem como templo dedicado a um culto de especialidade de-voo. Altar ou capela onde se guarda o Santo Lenho ou relquias de santos.22 Carlos Alberto Ferreira de Almeida acrescenta ainda que santurio de-signa, sistematicamente, um templo que, apesar de originariamente no ter sido igreja-paroquial, tem uma certa grandeza arquitectnica, onde o con-curso de gente devota grande, e a autoridade eclesistica reconhece uma particular manifestao do sagrado, como o seu nome indica. A atribuio de milagres pois essencial23. Santa Luzia possui uma relquia da santa, certificada e remetida pelo Vaticano em 1957, para ser a venerada. E nunca demais sublinhar a importncia do culto das relquias para o local onde elas se encontram. Pois, por muito nfimo que fosse este objec-to e qualquer que fosse a sua natureza, este conservava a sua inteira graa de que o santo era investido em vida. Por isso, uma relquia santificava o local onde se encontrava, de uma maneira no menos eficaz que o prprio santo

    20 Acerca deste assunto, Antnio de Carvalho refere: Detendo na hierarquia das igrejas a simples cate-goria de santurio diocesano () e sabendo-se que o ttulo de Baslica pode ser requerido ao Sumo Pontfice, por intermdio da Sagrada Congregao de Ritos, depois de obtido o consentimento do Ordinrio, bastando para isso que este considere o Templo-Monumento no quadro das igrejas principais, notveis pela sua anti-guidade, beleza arquitectnica ou importncia peculiar () o que falta ento para que seja requerido o ttulo de Baslica para este testemunho eloquente da crena dos vianenses, que o Templo-Monumento? in CAr-VALHO, Antnio de Acontecimentos que Viana sentiu. in Santa Luzia, n424, p.8.21 SILVA, Jorge Henrique Pais da, CALADO, Margarida Dicionrio de termos de arte e arquitectura. Lisboa: Editorial Presena, 2005, pp. 350-351.22 Idem ibidem, p. 327.23 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de Religiosidade popular e ermidas in Estudos Contemporneos, dir. de Joaquim Azevedo. Porto: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 75

    Fonte - Arquivo Histrico da

    Confraria de Santa Luzia

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    o teria feito.24 Uma capela diferencia-se de uma igreja por ser mais vasta do oratrio porque serve o culto pblico.25 As capelas so, em geral, semelhantes a pequenas igrejas; a diferena entre ambas de carcter ad-ministrativo, regulada pelo direito cannico. Capela o templo que no sede de parquia e por isso desprovido de padre com assistncia permanente.26 Assim, a capela ter menos afluncia que a igreja, dado que serve um menor nmero de devotos, podendo no prestar o servio litrgico regularmente. A extinta Capela de Santa Luzia seria um exemplo desta tipologia, mas este templo vai mais alm desse culto primitivo.

    o monumenTo

    Ao longo desta reflexo, referimo-nos constantemente a este edifcio como Templo-Monumento de Santa Luzia. J resolvemos a questo da terminologia da consagrao, e justificamos este termo tipolgi-co. resta-nos legitimar a incluso de monumento nesta denomina-o. Comecemos ento por dissecar o vocbulo, tendo como ponto de partida novamente o latim: Monumentum significa monumento, re-cordao, testemunho. Designa ainda uma estrutura erigida por mo-tivaes simblicas e/ou comemorativas. Atendendo s suas origens filolgicas, o monumento tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordao.27 Numa anlise imediata, verificamos a ligao directa e inerente ideia de memria.

    reflectindo sobre a definio de monumento, encontramos na Ale-goria do Patrimnio de Franoise Choay o seguinte: Em primeiro lu-gar, o que entender por monumento? O sentido original do termo do latim monumentum, ele prprio derivado de monere (advertir, recordar), o que interpela memria. A natureza efectiva do destino essencial: () excitar, pela emoo, uma memria viva. Neste primeiro sentido, chamar-se- monu-mento a qualquer artefacto edificado por uma comunidade de indivduos para se recordarem, ou fazer recordar, a outras geraes, pessoas, acontecimentos, sacrifcios, ritos ou crenas. A especificidade do monumento prende-se, en-to, precisamente com o seu modo de aco sobre a memria. No s ele a trabalha, como tambm a mobiliza pela mediao da afectividade, de forma a fazer recordar o passado, fazendo-o vibrar maneira do presente. Mas, esse passado invocado e convocado no um passado qualquer: foi localizado e

    24 GIL, Fernando Enciclopdia Einaudi. Vol. 1: Memria-Histria. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1894. p. 60.25 SILVA, Jorge Henrique Pais da, CALADO, Margarida Dicionrio de termos de arte e arquitectura. Lisboa: Editorial Presena, 2005, pg. 199.26 Idem ibidem, pg. 76.27 GIL, Fernando Enciclopdia Einaudi. Vol. 1: Memria-Histria. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1894. p. 95.

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    seleccionado para fins vitais, na medida em que pode, directamente, contribuir para manter e preservar a identidade de uma comunidade (). garantia das origens (). A sua relao com o tempo vivido e com a memria, noutras pa-lavras, a sua funo antropolgica, constitui a essncia de um monumento28; continuando, diz-nos ainda que um monumento encarregue pela sua presena de objecto metafrico de recordar vida um passado privilegiado e de a reemergir aqueles que o olham.29

    A abordagem caracteriza o monumento como um agente da me-mria, que recorda ou evoca uma especificidade, recuperando o pas-sado ao reviv-lo no presente. O que recordado ou revivido dotado de uma importncia vital para a comunidade a que se dirige, ou de outra forma no seria relevante essa transmisso para a posteridade. Os acontecimentos, pessoas, crenas, ou outros registos assumem-se como parte integrante da identidade dessa comunidade, ao sublinhar aspectos do percurso desta. Isto funciona nos dois sentidos, pois tanto serve para as pessoas que recebem esse testemunho, como assegura as que tomaram parte na sua construo que essa mensagem ser transmitida. E exactamente isto a que se refere o termo monere: uma ateno solicitada, um pensamento virado para o passado, mas tambm uma advertncia para o futuro, uma monio contra o esquecimento.30

    Esta preocupao com a perpetuao da memria inata ao ser hu-mano, que faz de tudo para que o seu ser individual ou colectivo no caia no esquecimento. queremos ser recordados. De tal forma que, no Antigo Egipto, os faras mandavam gravar nas paredes dos templos a sua efgie, e se o seu governo desagradava a populao, aps a sua morte todas as suas representaes eram apagadas. Esta era, como em tantas outras culturas, a derradeira punio que se podia oferecer a queda no esquecimento. No inferno rfico, o morto deve evitar a fonte do esquecimento, no deve beber no Lethes, mas, pelo contrrio, deve nutrir-se na fonte da Memria, que uma fonte da imortalidade.31 A memria actua ento como uma garantia de vida aps a morte; ainda que esta no seja literal ou fsica, mas uma perpetuao daquilo que fomos, enquanto indivduos, comunidade ou ideologia, sabendo que continuaremos presentes nas sociedades que nos sucedero.

    Ainda segundo esta linha de pensamento, distinguimos dois tipos de testemunho: o directo/intencional e o indirecto/ no intencional. O primeiro refere-se s construes que foram erguidas com o prprio

    28 CHOAY, Franoise Alegoria do Patrimnio. Coimbra: Edies 70, 2008. pp. 17 e 18.29 Idem, ibidem, p. 20.30 VALLET, Odon - Les Mots du Monument, in Cahiers de Mdiologie, n7, Gallimard, 1999, p. 21, in ABrEU, Jos Guilherme - A problemtica do monumento moderno [on-line]. Disponvel em: 31 GIL, Fernando Enciclopdia Einaudi. Vol. 1: Memria-Histria. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1894. p.21.

    Autoria - Pako Guerrero

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    desgnio de perpetuar uma memria, em geral muito particular. Fala-mos dos monumentos narrativos, comemorativos ou histricos.32 Este tipo de monumento tem como funo celebrar um acontecimento es-pecfico, de modo a que esse acontecimento seja imediatamente asso-ciado ao monumento que lhe d corpo. Observemos, a ttulo de exem-plo, a Coluna de Trajano, mandada construir pelo imperador com o mesmo nome, para celebrar as vitrias militares sobre os dcios. Este tipo de monumento permite uma associao imediata memria que ele pretende conservar, sendo essa a sua funo primria. A narrao dos acontecimentos neste caso bastante evidente (com a utilizao da banda espiralada de baixos-relevos), mas no tem de o ser necessaria-mente. A utilizao de elementos simblicos suficiente para suportar este carcter narrativo que sublinha determinados aspectos do tema que comemora. , portanto, uma referncia directa memria que exaltada pela construo.

    O testemunho indirecto ou no intencional aquele cujo signifi-cado no imediatamente inteligvel quando se nos apresenta o mo-numento, ou cuja funo principal no a de comemorar ou assinalar determinado facto. O que no significa que ele esteja ausente, pelo contrrio. Uma construo pode ser dotada de uma carga simblica bastante especfica sem que ela esteja bem patente. Enquadramos aqui o nosso edifcio. O Templo-Monumento de Santa Luzia afigura-se--nos como um agente da memria no sentido em que atravs dele nos recordamos de indivduos importantes para a sua histria e para a cidade de Viana do Castelo. De um culto arcaico que habitou longos anos aquele local, de uma promessa e uma consagrao feita em hora de necessidade. E de um esforo colectivo para a construo de um verdadeiro testemunho da f de uma cidade e de uma regio. No narrativo ou comemorativo na medida em que no foi construdo com esse propsito, e portanto no directa a sua relao com as memrias que ostenta. Mas elas existem e esto presentes. Concluindo, o monu-mento tem como caracterstica o ligar-se ao poder de perpetuao, voluntria ou involuntria, das sociedades histricas33, assumindo-se como uma he-rana memria colectiva que nos foi transmitida.

    Um monumento -o ainda ao ser detentor de outro tipo de valo-

    32 Jos Guilherme Abreu refere que: Da que monumento-histrico seja o mesmo que monumento-nar-rativo j que quando se fala em monumento-histrico no tanto da vinculao ao passado deste que se fala, como se um mero vestgio arqueolgico se tratasse, mas sim da circunstncia de lhe estar associada ou de lhe ser incutida uma determinada narrativa histrica, que tende a tornar-se totalizante, impondo-se como valor primeiro, ao tutelar e converter sua prpria imagem o valor artstico. in ABrEU, Jos Guilherme - A problemtica do monumento moderno [on-line]. Disponvel em 33 GIL, Fernando Enciclopdia Einaudi. Vol. 1: Memria-Histria. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1894. p.95.

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    res. Talvez aquele que seja mais fa-cilmente identificvel seja o seu va-lor esttico/artstico. Na linguagem corrente, define-se monumento por uma qualquer construo que seja visualmente apelativa, excitando os sentidos. Diz-se que um monumento belo, grandioso, magnfico, impo-nente, soberbo, ou utilizando-se mes-mo o adjectivo monumental. Impor-ta perceber que tipo de caractersticas notveis possuidor, como a execu-o tcnica, a mestria do projecto, a qualidade decorativa, de que forma que estas qualidades artsticas se re-lacionam e/ou reflectem o panorama cultural coetneo e a sociedade que o criou. Enfim, aquilo a que nos habi-tuamos a ter em considerao numa obra de arte.

    Abreviando, e nas palavras de Argan e Fagiolo, o conceito de arte no define, pois, categorias de coisas, mas um tipo de valor. Ele est sempre ligado ao trabalho humano e s suas tcnicas e indica o resultado de uma relao entre uma actividade mental e uma actividade operacional. [] O valor artstico de um objecto aquele que se evidencia na sua configurao visvel ou como vulgarmente se diz, na sua forma.34 Desta-camos esta ltima palavra, pois encontramo-la quando rgis Debray institui um novo tipo de monumento o monumento-forma: herdeiro do castelo ou da igreja [] que se impe pelas suas qualidades intrnsecas, de ordem esttica ou decorativa, independentemente das suas funes utilitrias ou de testemunho.35 Deste ponto de vista, atribumos ao ser humano uma relao mais activa com o monumento. Este um produto das suas capacidades cognitivas, da sua sensibilidade, da sua posio num

    34 ArGAN, Giulio Carlo, e FAGIOLO, Maurizio Guia da Histria da Arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1994, p. 14.35 DEBrAY, rgis Trace, forme ou message? in Cahiers de Mdiologie, n7, 1999, pp. 30-34 in ABrEU, Jos Guilherme - A problemtica do monumento moderno [on-line]. Disponvel em

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    determinado contexto cultural, enfim, do seu saber e do seu sentir. Existe um louvor ao trabalho humano, uma valorizao do seu papel enquan-to artista/criador. A qualidade aqui impressa na forma, o seu valor arts-tico, passam ento a ter um carcter predominante sobre outro tipo de valores. Este monumento-forma denota um carcter sensorial, eminente-mente da ordem do visvel36 por oposio ao monumento-memria que denota um carcter mental.37 Estas duas componentes interligam-se, sendo que uma no anula a outra, antes co-existindo. O que advm que, nestas circunstncias, o valor puramente esttico/artstico se so-brepe ao valor de testemunho ou ao valor utilitrio do objecto.

    Choay tambm entra em consideraes sobre este assunto: apli-cada s obras de arquitectura, esta palavra [monumento] designa um edi-fcio, quer construdo para eternizar a recordao de coisas memorveis, quer concebido, erguido ou disposto de forma a tornar-se num agente de embele-zamento e de magnificncia nas cidades [] Monumento denota, a partir de ento, o poder, a grandeza, a beleza: compete-lhe explicitamente afirmar grandes desgnios pblicos, promover os estilos, dirigir-se sensibilidade

    36 Idem ibidem37 Idem ibidem

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    esttica.38 Assim, o valor e o significado do monumento expandem-se para alm de si mesmo, constituindo um factor de aformoseamento e prestgio para a regio. Evidencia-se a sua relevncia no plano urbano onde est inserido, ou apenas na ambincia que o envolve, actuando decisivamente como um agente de notoriedade local. um modo de enriquecimento cultural e artstico. Obviamente que, sendo uma ma-nifestao da cultura, retornamos sua condio de modo de aco sobre a memria; mas como vimos anteriormente, uma realidade no invalida a outra, fundindo-se ambas no mesmo edifcio, qualificando e sinalizando o espao urbano, constituindo a excelncia esttica da cidade como obra de arte.39

    Enfim, um monumento, e este (Templo-)Monumento em particu-lar, assume-se como um exemplar admirvel da produo cultural de uma sociedade, e um legado para a memria colectiva das sociedades que lhe adviro. Entramos assim em consideraes patrimoniais. Ar-gan e Fagiolo referem que a arte uma componente constitutiva do sis-tema cultural, [e] existe decerto uma relao entre os problemas artsticos e a problemtica geral da poca.40 A cultura produz o patrimnio e este, por sua vez, pode ser artstico ou no. O patrimnio artstico um produto da cultura da sociedade, e esta obedece conjuntura histrica onde est inserida. A obra de arte produzida no interior dessa sociedade, com local e poca especfica e da qual o artista ou artistas fazem parte. Assim, torna-se impossvel analisar qualquer objecto artstico isolada-mente, sem termos em conta as suas razes culturais, porque ela nunca pode ser descontextualizada da sociedade e da cultura que a criou. Sem ela a obra no faz sentido.

    A cultura um processo contnuo de herana, assimilao e trans-misso de valores de uma gerao para a gerao seguinte. Os seus sucessores incorporam-na na sua memria colectiva e na sua cultura. Assim, o patrimnio uma herana histrico-social que est em cons-tante mutao, funcionando como um organismo vivo. Este pressu-posto funciona de igual maneira para o patrimnio artstico, nunca esquecendo que porque a obra de arte se destina a durar no tempo, no vale apenas por aquilo que significou na situao do momento, mas por aquilo que significou depois, significa para ns, significar para quem vier depois de ns. Cada poca deve definir o que significam as obras de arte do passado no mbito da sua prpria cultura e que problemas representam no quadro dos seus pr-

    38 CHOAY, Franoise Alegoria do Patrimnio. Coimbra: Edies 70, 2008, p. 19.39 ABrEU, Jos Guilherme - A problemtica do monumento moderno [on-line]. Disponvel em 40 ArGAN, Giulio Carlo, e FAGIOLO, Maurizio Guia da Histria da Arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1994, p. 17.

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    prios problemas.41 O patrimnio artstico ou, se quisermos especificar, a obra de arte arquitectnica como o Templo-Monumento, um esp-lio de cultura artstica, de valores sociais, de histria, de manifestaes do pensamento colectivo e da sensibilidade humana.

    A herana que nos transmitida pelo patrimnio importantssi-ma na estruturao da memria colectiva e da matriz cultural de uma sociedade como se tratasse de construir uma imagem da identidade humana, por via da acumulao de todas essas conquistas e de todos esses vestgios.42 Conhecer e sentir o passado a forma de nos construirmos enquanto seres individuais e colectivos, e de contribuirmos para o fu-turo, sabendo onde se estabelecem as nossas origens. saber quem somos. A identidade indispensvel ao ser humano porque ela que nos define, que nos descreve, que nos faz pertencer a uma determi-nada comunidade ou local. Percebe-se assim a estreita relao entre identidade e memria, dado que uma o veculo que leva consti-tuio da outra, e vice-versa. Portanto, os objectos que nos remetem memria so marcos fundamentais para o processo social e cognitivo: indivduos e sociedades no podem preservar e desenvolver a sua identidade seno na durao e atravs de memria.43 O patrimnio artstico ento um representante material de toda uma cultura que, por sua vez, o sustentculo identitrio do indivduo.

    41 ArGAN, Giulio Carlo, e FAGIOLO, Maurizio Guia da Histria da Arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1994, p. 29.42 CHOAY, Franoise Alegoria do Patrimnio. Coimbra: Edies 70, 2008. p. 253.43 Idem ibidem, p. 116.

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    concluindo

    Encerrando a reflexo, conclumos que a localizao do Templo-Monumento de Santa Luzia no topo de um sacro-monte relevante para a sua leitura, dado que a sua situao envolve um conjunto de significados que transcendem a anlise do objecto per se. O templo parte integrante da estncia que coroa o cimo do monte, e torna-se necessrio olharmos estes elementos como um agregado; os desgnios da Confraria de Santa Luzia no se restringiram a erguer um edifcio isolado, mas a criar todo um conjunto de organismos que conferissem quele local um ambiente muito particular. Pretenderam que fosse um ponto de referncia no mbito religioso e cultural, no apenas para a cidade de Viana do Castelo, mas traando um paralelismo e rivalizando com situaes semelhantes no Minho. Por ltimo, considerando que Templo-Monumento uma terminologia algo incomum para designar um edifcio religioso, analisamos detalhadamente esta designao, legitimando a sua antiguidade e permanncia at hoje no nosso vocbulo. Para tal, foi natural a articulao dos conceitos de memria, identidade, patrimnio e cultura que, tratando-se de um objecto artstico, esto necessariamente implcitos.

    Este artigo foi escrito ao abrigo da antiga ortografia.Texto adaptado de MArqUES, Ana O Templo-Monumento de Santa Luzia em Viana do Castelo. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2011.

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