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BREVES ESTÓRIAS SOBRE O TUDO E O NADA E O QUASE FIM DO MUNDO

Breves estorias sobre o tudo e o nada - jornaldepoesia.jor.br · E o diabo naquelas paragens nunca mais apareceu Do Zé, anti-herói dos fins dos tempos, pouco se fala Ou se deu Mas

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BREVES ESTÓRIAS SOBRE O TUDO E O NADA E O QUASE FIM DO MUNDO

Dalton Miranda

BREVES ESTÓRIAS SOBRE O TUDO E O NADA E

O QUASE FIM DO MUNDO

Brasília-Brasil, 201 2

Copyrigth © Dalton Miranda, 2012

LER Editora Ltda.SIG Quadra 04 Lote 283 – 1º Andar

Tel.: (61) 3362-0008 – Fax: (61) [email protected]

www.lgeeditora.com.br

EditorAntonio Carlos Navarro

Projeto gráfico e capaSamuel Tabosa

Impressão e acabamentoLER Editora Ltda

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio

sem a autorização por escrito do autor.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Miranda, DaltonBreves estórias sobre o tudo e o nada e o quase fim do mundo.

Dalton Miranda . – Brasília: LER Editora, 2012.52 p. 12,5 x 17,5 cm.

ISBN

1. Literatura, Brasileira. 2. Contos. I. Título.CDU 82-34

Dedicatória

Às Bragas Cordeiro de Miranda, meus amores, minhas vidas

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BREVE I

Qual a semelhança entre a nadadora grande e o grande nadador?Um potinho de xixi.E a diferença entre os grandes?Uma medalha olímpica

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BREVE II

Um tirinho de espingarda: – um passarinhoUma bala perdida: – um inocenteUm carro-bomba: – um prédio e várias vidasMatemática final: + + + + + + + + + +

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BREVE III

UmDoisTrês...?

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BREVE IV

Tenta o tentoTanto o tontoPouco atentoCom o passar do tempo

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BREVE V

O começo (do namoro) é difícilDurante (o casamento) é difícilO rompimento (a separação) é difícilViver sem Você, sim, é impossível.

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BREVE VI

Foram criados para estudarNa Universidade vão passarLá, descobriram que o bom era ‘apertar’Sem a polícia a lhos vigiar.

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BREVE VII

100 frescuras, Você diz70, mas não resolveEntão, 60, mas não descansa10 mentir a certeza numérica é tema que nos envolve

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BREVE VIII

Helicópteros, casas e carros oficiaisAmigos, lobistas, empresáriosPolíticos profissionaisÉ a democracia, estúpido!

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BREVE IX

Marcha, pode! Fumar, não?Marcha, pode! Publicitar, não?Ué? Marcha, fumar, marcha, publicitar, ... .Não entendi!

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BREVE X

Gula, putaPuta, gulaNo pico da agulhaCurta e engula

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BREVE XI

ArarPrepararSemearColher ... e ... Comer

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BREVE XII

– Filha da puta? Chamou um– Filha da puta? Gritaram outros tantos– Filha da puta? Esbravejaram muitos, tentando chamar a atençãoMas, a garotinha na soleira do puteiro nem deu bola para a molecada

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BREVE XIII

– Alô?– Alô!– Alô?... tututututututututu

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BREVE XIV

Ao fim do show a popstar agradece a massa: – Vocês são do caralho ... uhuA pequenina em frente à TV vira-se para a mãe e solta: – Mãe, o que é caralho?– É pinto, secamente responde a mãe– Hum, vocês são do pinto?! Coisa estranha pensou a menina

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BREVE XV

A verdade dóiA mentira corróiO corpo sente dorA alma está no corredor

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BREVE XVI

Sangue nos olhosPunhos cerrados na altura dos joelhosSuor frioÉ tudo ou nada, hei de cagar

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BREVE XVII

Perdoar é divinoDesculpar é humanoPerdoo a todos, desculpo poucosEis minha redenção

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BREVE XVIII

O ‘pedreiro’ corta a pedraAssenta-a e a queimaA fuga é rápidaDaí e voltar a construção do fim

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BREVE XIX

Tem de pastar muita gramaPra levantar uma granaVendendo alguns gramasPro um monte de sacanas

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BREVE XX

A curiosidade que te incendeiaA mim chateiaPouco faço da vida alheiaOu assim finjo para não me enredar na tua teia

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BREVE XXI

Timidez o caceteTurrão e malcriadoUm babacaQue não valho uma pataca

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BREVE XXII

A carola reza por elaE peca por todosPia e fervorosaPeca desavergonhada e fogosa

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BREVE XXIII

O velho faz a mão-boba percorrer a cintura da moçaEla resigna-se a lançar um sorriso marotoVira daqui, vira acolá, ajeita-se com carinho Pronto, finda a troca da fralda geriátrica

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BREVE XXIV

– Perdeu, perdeu!– A casa caiu!– Pro chão, tá tudo dominado!É a polícia ou os ladrão?

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BREVE XXV

Roer as unhas (é ansiedade)Esfregar os olhos (é conjuntivite)Coçar o nariz (é droga ou meleca)Que nada, isto é ... TRUCO!

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BREVE XXVI

0800, já fizestes um?Digite “X”, tecle “Y”, ressoa a voz mecânicaFale com Ciclano, mas quem resolverá é BeltranoQuanta aporrinhação para – ao fim e a cabo – ouvir um sonoro não

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BREVE XXVII

Só ganha quem jogaSomente perde quem um dia conquistouPerde e ganha. Vitória e derrotaEis o jogo jogado da vida

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BREVE XXVIII

Beijo na boca é bãoMão naquilo, aquilo na mão, opa oba!Furnicação com finalização, melhor aindaSem pudor e com (muito) amor

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BREVE XIX

Quem foi?Fui eu!Fizestes o quê?Sei não!

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BREVE XXX

A manga (da camisa)A manga (do lampião)A manga (a fruta)Diferenças da mesma

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BREVE XXXI

?,!.

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BREVE XXXII

Uma boa alimentação horas antesAlongamento minutos antesMeditação com foco segundos antesE: – Pronto pra dormir?

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BREVE XXXIII

Eita escuridãoEscuro? Escuro?Pensa, pensa, será sonho ou passou desta para melhorPorra, esqueceu mais uma vez da mascara de dormir

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BREVE XXXIV

SeisTrêsQuatroE continuo jogando os dados

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BREVE XXXV

Uai vai, e Por que sim vem.Uai foi, e Por que sim volta.O matuto não entendia o gringo com aquela prosa danada.N’um preguntava e o alienígena só lhe respondia Por que sim

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BREVE XXXVI

Foi até a esquina comprar cigarroE voltouPulou do penhascoE voou

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BREVE XXXVII

Está faltando tinta na canetaE ideia na cabeçaFlutua a pena no papel com ligeirezaAté que a cousa boa lhe pareça

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BREVE XXXVIII

Fotografou?O trem já passouGracejou?A dama com outro já dançou

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BREVE XL

Este de fato foi breveMais breve do que esperavaTão breve que nem se sentavaFica aqui um até breve

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O QUASE FIM DO MUNDO

Nossa estória se passa em NovaTerra árida de lábios secos e almas úmidasD’um povo triste e sabedoria angularDe homens doces e mulheres brutasQue cabisbaixos seguiam devagar

Mas um dia o profeta gritou que novos tempos arrudiavam trás dos montesDe fartura e alegria, após o sacrifício que o povo vivenciariaApós ferrenha disputa a luz do dia

E assim seguiu a massa de Nova sua sinaOrando junto das beatasSacando água do fundo sujo da mina

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O sol pretejou, as nuvens acinzentaramOs homens choravamEnquanto as mulheres os facões amolavamFio a fio

Gritos se silenciaram ao redorSussurros se ouviram ao longeO profeta ajoelhado levava as mãos da poeira ao rosto Do rosto ao chãoEstava tomado

O padre – e havia um – corria ao redor da igreja com a mitra queimando no incensórioRogava a Deus e a todos os santosPelo povo e pela própria pele a redenção com salvaçãoEstava domado

Um alvoroço ainda maior se deuUm corre-corre sem fimQuando do rabo do redemoinhoApareceu o coisa ruim

Todos arderam com o bafejado quenteOs próximos e os distantesAs mulheres de cócoras se meteramOs homens nem se mexeram

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Parado, com um sorriso cortanteO cramunhão no meio da praça a tudo assistiaOs crentes excomungouDos outros ninguém mais falou

Quando estava para decretar o juízo final daqueles despreparadosE a tampa do caldeirão do inferno abrirEis que uma voz miúda ao fundo se fez ouvir

Era Zé que ao belzebu se dirigiaTroçando-o com uma rimaCocho foi ao encontro do chifrudoDisposto a acabar com aquilo tudo

As reses ficaram cantarolando salmos ao bater de péAtônitas ao teatro da vida que se desenrolavaO capeta estaca fincou e prometeu a todos arrastarPrincipalmente o manco Zé

Como n’um filme de bandido e mocinho os duelistas agora se fitavamCada qual com suas armasO vermelho a rabiscar os pecados de Zé na caatinga com suas unhasZé com sua língua fria cheia de mumunhas

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Cada qual desfiou seu rol de odiosas e escandalosasMas o duelo foi Zé quem venceuCuspindo salivas venenosas

Quando o povo já dava por certo o fim e celebravaEis que o chão se abre aos pés de Zé Que é tragado aos confins do mundoPois que era pecador moribundo

Nova renasceuE o diabo naquelas paragens nunca mais apareceuDo Zé, anti-herói dos fins dos tempos, pouco se falaOu se deu

Mas uma lenda ainda se assovia entre os anciõesA de que o Zé, em tarde de ventaniaÉ visto em Má companhiaCantarolando rimas cheio de alegria

É (quase) o fim!

Em apoio à sustentabilidade à preservação ambiental,

a LER Editora declara que este livro foi impresso com

papel produzido de florestas cultivadas em áreas não

degradadas e que é inteiramente reciclável.