De Canibais, Turistas e Etngrafos

Edward M. Bruner Departamento de Antropologia da University of Illinois

Cannibal Tours. Dennis ORourke. 77 minutos, cor, 1987.

O filme Cannibal Tours, do cineasta australiano ORourke, sobre turistas alemes, italianos e americanos que fazem um tour comercial em grupo no Rio Sepik na Papua Nova Guin. O ttulo do filme deriva da fascinao dos turistas ocidentais com o canibalismo. Os turistas esto cientes de que a Nova Guin foi pacificada e que o canibalismo foi proibido, mas eles querem ter a experincia do primitivo, visitar o local onde se praticou o canibalismo, observar os povos cujos ancestrais comeram carne humana e ouvir histrias sobre a selva, o selvagem e o extico. Se o canibalismo ainda fosse praticado, ou se fosse um perigo real, ou ainda se a infra-estrutura de navios luxuosos, hotis de primeira classe com ar condicionado e transporte areo moderno no estivessem presentes, certamente os turistas no iriam Nova Guin. Eles procuram a excitao de uma vicria e breve experincia com o perigo. Querem ver o supremo Outro selvagem em primeira mo, com estojo peniano, cara pintada e lana, mas somente de um local seguro e vantajoso que o turismo de luxo lhes proporciona, e somente depois do desaparecimento do objeto original. O turismo prefere o objeto reconstrudo e, certamente, essa preferncia pelo simulacro a essncia do turismo ps-moderno, onde a cpia mais do que o original. (Baudrillard 1983; Eco 1986).

No mundo no ocidental, provavelmente h um tempo mais favorvel na histria local para cada tipo de visitante europeu. Exploradores, comerciantes, missionrios e colonizadores chegam primeiro para descobrir, explorar, converter e colonizar, so seguidos por etngrafos e, eventualmente, os turistas, que vm estudar ou somente observar os Outros. O turismo, como a etnografia, no est equipado para lidar com os rigores do primeiro contato, mas isso melhora depois de outros agentes da civilizao europia terem pacificado os povos indgenas e depois de o poder estar firmemente nas mos dos europeus. De fato, depois de a cultura primitiva ter sido conquistada, ela pode ento ser reconstituda no turismo, j que o mundo do turista um mundo de reconstruo e simulacro. O turismo na Nova Guin pode ser um ponto de equilbrio histrico, um ponto em que os nativos no so mais ameaadores mas em que ainda no h hordas de outros turistas. um turismo de aventura em alta escala, um lugar fora do comum e pouco conhecido, onde a dominao europia to recente que os turistas se sentem prximos era passada de canibalismo e selvageria, uma era reproduzida para eles em narrativa e performance.

No que Rosaldo (1989) chama de nostalgia imperialista nota-se que o colonialismo freqentemente aspira pela cultura tradicional, a mesma cultura que os colonizadores intencionalmente alteraram ou destruram. Mas, precisamente essa cultura tradicional que os turistas vm ver e j que ela no existe mais, a cultura tem que ser reconstruda para eles. Os turistas anseiam pelo buclico, por suas origens, o no poludo, o puro e o original (Bruner 1989), e na Nova Guin eles se vem explorando a floresta primitiva. A ironia que o turismo procura e ocupa o presente etnogrfico, o prprio espao discursivo cuja morte o colonialismo lamenta e que a etnografia h muito abandonou. Por mais que tentemos negar ou evitar, o colonialismo, a etnografia e o turismo tm muito em comum, j que nasceram juntos e so parentes (Crick 1985; Graburn 1983). Colonialismo, etnografia e turismo ocorrem em diferentes perodos histricos, mas surgem da mesma formao social e so formas variantes de expansionismo que ocupam o espao aberto por extenses de poder. Segundo a perspectiva da etnografia, o turismo uma criana ilegtima, uma simplificao infame e um impostor (de Certeau 1984: 143), e ns lutamos para distinguir a etnografia do turismo, pois o turismo um ataque a nossa autoridade e posio privilegiada de etngrafos. Apesar de o turismo ser uma vergonha para ns, de acordo com a perspectiva dos povos nativos, que s vezes se confundem com as distines sociais, que aparentemente so to importantes para ns, o que ns rotulamos como colonialismo, etnografia e turismo so vivenciados de uma forma comparvel. O colonizador, o etngrafo e o turista so similarmente estrangeiros com grande riqueza e poder que vieram Nova Guin, cada um com suas demandas particulares e requisitos idiossincrticos. Para os povos nativos, ns somos o Outro.

Isso nos traz aos mais recentes desses visitantes estrangeiros Nova Guin, os turistas alemes, italianos e americanos e aquele que os representa, o cineasta australiano Dennis ORourke.

Como um antroplogo interpretativo com uma tendncia reflexiva e que est escrevendo um livro sobre performances tursticas, acho o filme de ORourke uma explorao fascinante sobre o turismo no terceiro mundo, levantando questes que ainda no receberam a devida ateno pela maioria dos antroplogos na antropologia em voga. Tivemos um bom comeo no estudo de turismo (Cohen 1984; Graburn 1983; MacCannell 1976; Smith 1977) e devido ao trabalho de Foucault, Bourdieu, Said e outros, temos nos tornado, mais sofisticados com relao ao tipo de teoria social que necessria na teoria de pesquisa de turismo. Esta lida com representao e poder, prtica e discurso. O simulacro e o autntico. Neste ensaio resenha, eu discuto algumas dessas questes tericas, como me foram sugeridas ao assistir o filme.

O turismo canibal pode parecer uma exceo bizarra comparado ao funcionamento geral do turismo ocidental, que parece ser to brando e afvel, mas esse no o caso. Os tours oferecidos nos pases industriais apelam para o mais profundo esconderijo da imaginao ocidental. O turismo tem menos a ver com o modo como os outros povos realmente so do que como os imaginamos ser, e nesse sentido como qualquer outra forma de representao, incluindo a etnografia. Aqui est uma lista de tours organizados oferecidos nos ltimos anos:

Turismo sexual; no qual um grupo de homens viaja para a Tailndia, Coria ou Taiwan, por uma semana, para realizarem toda e qualquer fantasia sexual, com qualquer combinao, incluindo sexo com crianas. O turismo sexual mais comum na Alemanha Ocidental e no Japo e transforma o pas visitado em um grande bordel.

Turismo colonial; desenvolvido na Indonsia para ex-colonizadores holandeses ou suas famlias. Esse turismo est focado em locais e tempos coloniais, incluindo visitas aos campos de concentrao japoneses da Segunda Guerra Mundial.

Turismo de compra; leva grupos de americanos Itlia para exibies privativas de roupas de estilistas italianos e outros bens, com visitas a pequenas butiques, todas com desconto. Um tour inteiramente dedicado s compras, tpico da quintessncia do consumismo.

Turismo militar (de comando); nos Estados Unidos, onde americanos comuns recebem treinamento militar, em combate de guerrilha e em expedies militares, incluindo instrues sobre vrios sistemas de armas, com munio real.

Turismo de explorao, que reproduz as grandes exploraes da Era das Descobertas, para que o turista possa seguir o caminho e reviver a experincia de ser o primeiro em uma nova terra. Existem tours de $35.000 no Plo Sul e at mesmo planos para um turismo no espao. Nota-se que o barco que leva os turistas pelo Rio Sepik chamado de Melanesian Explorer, um nome que soa romntico

Os tours canibais, sexuais, coloniais, de consumo, militares e de explorao tm suas razes na conscincia ocidental capitalista. Eles so tours de desejo e nos falam mais sobre a nossa sociedade do que sobre a sociedade a ser visitada. Eles refletem um mundo onde um segmento rico, civilizado e industrial projeta seus desejos em outro segmento, mais pobre, mais primitivo e menos desenvolvido. No turismo, o Terceiro Mundo se torna um playground do imaginrio ocidental, onde o espao discursivo dado aos ricos, para encenarem suas fantasias. Numa cena notvel de Cannibal Tours, no ltimo dia do tour deles, os turistas fazem uma festa de despedida em seu barco. Na festa eles pintam suas caras com listas brancas de desenhos Sepik e brincam de ser selvagens. Eles do o bote como se fossem atacar e danam sem parar, fazem piadas sobre as esculturas compradas de pnis de madeira e, numa atitude de fazer de conta, eles curtem uma temporria regresso selvageria. Mas mesmo durante o dia, durante a rotina do tour, os turistas, em suas roupas de safri Banana Republic, esto vivendo uma fantasia.

O que ORourke faz bem mostrar as atividades e interaes dos turistas, alm de revelar, atravs de entrevistas, as concepes que eles tm dos povos nativos. Como os turistas no so um grupo monoltico, existe uma vasta diferena em seus entendimentos sobre o povo de Papua Nova Guin. Um turista italiano diz o seguinte sobre o povo da Nova Guin: a natureza os abastece para as necessidades da vida, ento eles esto satisfeitos, felizes e bem nutridos e no pensam sobre o amanh. O homem natural. Esse turista relata que o canibalismo foi um costume, praticado por razes de sobrevivncia apesar de dizer que a vida selvagem era abundante. Mas, ele corrigido por uma jovem, aparentemente sua filha, que diz que o canibalismo era simblico; ento num esprito de conciliao, o turista diz que o canibalismo era na maior parte para a sobrevivncia, mas que tambm era simblico. Nuances de Marvin Harris, materialismo versus simbolismo! Outro turista relata que a vida nativa lenta e tranqila, e que valeu a pena viajar para a Nova Guin para ver um estilo de vida to oposta ao estilo europeu. A binria oposio entre ns e eles, entre sujeito e objeto, inerente ao discurso do turista.

Uma mulher de Nova York relata que fez o tour porque ela havia visto exposies sobre a Nova Guin em museus e ficou interessada em arte primitiva. Entretanto, sua preocupao agora que ao invs de produzir arte para ele mesmo, o povo est produzindo souvenirs para turistas. O mote do primitivo que est desaparecendo surge muitas vezes no discurso turstico, assim como tinha sido proeminente no discurso antropolgico (Clifford 1986). Um turista alemo, que j viajou muito, nota que a cultura nativa foi alterada e que a Nova Guin um pas pobre, ento ns devemos dividir nossa riqueza com eles. As perspectivas dos turistas a respeito dos nativos variam desde ingnuas at sofisticadas, mas apesar da variao, os turistas so fascinados pelo canibalismo e pelas crenas espirituais, e todos eles se voltam para as mesmas atividades no tour; basicamente, tiram fotos e barganham por souvenirs. No filme de ORourke, na maior parte do tempo, os turistas so mostrados tirando fotos ou comprando artesanato, e isso est de acordo com minhas prprias observaes de campo, com relao ao comportamento dos turistas na Indonsia, assim como no Qunia, Egito e outras regies do terceiro mundo.

Um ancio papua diz: Ns no entendemos por que esses estrangeiros tiram foto de tudo, o que uma tima pergunta antropolgica. Uma resposta a essa pergunta pode se encontrar nas colocaes que se seguem. (Barthes 1981; Mulvey 1975; Sontag 1973). O principal uso sensorial para a percepo do nativo outro visual, atravs do visor de uma cmera. Tal perspectiva isola o povo nativo de seu contexto social mais abrangente, na medida em que tudo que est fora do enquadramento do visor da cmera retirado da vista, inclusive a poltica da situao. Nesse sentido, a fotografia descontextualiza e essencialmente conservadora. Alm disso, a cmera serve como um dispositivo protetor para os turistas-fotgrafos, isolando-os socialmente para que eles no tenham de se relacionar diretamente com os papuas, cara a cara, olho no olho. Eles podem se esconder por trs das lentes da cmera. Ela um dispositivo incrvel para voyeurs escondidos, na medida em que eles podem olhar, at mesmo olhar fixo, sem constrangimento.

Depois que a visita turstica acaba e os turistas voltam para casa, a maior lembrana fsica de sua viagem so as fotografias e os souvenirs, que servem como dispositivos para trazer tona histrias e memrias. As narrativas contadas pelos turistas so menos sobre a cultura nativa enquanto tal e mais sobre as situaes em que as fotografias foram tiradas, e sobre as ocasies especficas em que os souvenirs foram comprados. As fotografias e os souvenirs so objetos de coleo e no faz muita diferena se as fotos so muito boas, ou se os souvenirs so autnticos com relao cultura, o que importa se as fotografias e souvenirs so autnticos experincia do turista e ao contexto em que os objetos de coleo foram adquiridos (Stewart 1984). Ter histrias para contar sobre as fotos ou sobre os objetos comprados serve para personalizar um grupo impessoal de visita turstica, pois o turista se torna o heri da histria. Meus comentrios sobre a funo das fotografias e souvenirs so especulativos, claro, mas vlidos ou no, no h dvida quanto importncia central das fotografias e souvenirs no turismo, e a sua proeminncia em Cannibal Tours.

As perspectivas nativas sobre o encontro com turistas so perspicazes e realistas, pelo menos assim que ORourke apresenta a viso local. Um velho papua diz que os turistas lem a nosso respeito em livros e vm ver se somos civilizados ou no. Os papuas se referem a si mesmos como povos nativos e como povos retrgrados. Um homem diz: Ns no temos dinheiro ento ns ficamos na vila; ns no vamos ver outros pases, e outro observa: Se eles pagassem mais (pelas suas gravuras), eu poderia estar naquele navio com os turistas. O tema que mais aparece nas entrevistas com os papuas a disparidade com relao riqueza, entre eles e os turistas. Uma mulher diz; Todo o dinheiro est com vocs brancos, e se sente particularmente incomodada pelas prticas de barganha dos turistas que, induzidos pelos guias tursticos, sempre rejeitam o primeiro preo oferecido e pedem um segundo preo, e at mesmo um terceiro preo. Um velho nota que quando ele vai comprar uma camisa ou cala na cidade, ele tem que pagar um preo fixo.

O sistema para lidar com o dinheiro em visitas tursticas em grupo traz uma espcie de mistificao. Os turistas devem pagar aos agentes tursticos adiantado, pelo tour inteiro, um pagamento a vista para um pacote com tudo includo: transporte, acomodao e refeies, para que enquanto estiverem no tour no haja mais nenhuma troca de dinheiro. Portanto, nas interaes entre turistas e representantes locais da agncia de turismo, no h nenhuma necessidade de se pagar por nada na visita, j que tudo j foi pr-pago, e os turistas no precisam nem perguntar quanto custam as coisas. Sendo assim, os agentes locais e os guias podem se apresentar como ajudantes amigveis no comerciais. No h nenhuma ocasio que faa o turista lembrar-se da parte econmica do relacionamento, do fato de que o servio e a ajuda que so to graciosamente oferecidos, s so proporcionados porque foram previamente pagos.

Em oposio a isso, os turistas do dinheiro aos povos nativos que posam para as fotografias e um empresrio local cobra $2 por cmera para tirar fotos dentro da casa dos espritos. Dinheiro como troca. Quando os turistas compram artesanato nativo e souvenirs a barganha violenta, com os guias tursticos tomando o lado dos turistas. Eles no esto familiarizados com prticas locais de compra, esto numa terra estranha e tm medo de comprar os objetos errados ou pagar demais por eles. Muitos turistas so mais velhos ou aposentados e parte do que eles pagaram na visita turstica a garantia de que sero protegidos e cuidados. Os guias tursticos, que conhecem o sistema local, se apresentam ajudando os turistas a comprarem os melhores objetos pelo preo certo. Em muitos pases, os guias recebem uma comisso em todas as compras, mas isso no revelado aos turistas. O sistema to montado que os operadores tursticos e seus agentes, que so os idealizadores de toda a operao e que ganham a maior parte dos lucros, posam como os defensores dos turistas contra os nativos trapaceiros que esto tentando burlar ao cobrar mais por seus artesanatos. As vtimas do sistema so os vendedores nativos, que ficam confusos com sua dificuldade em lidar com turistas, claramente ricos que, estranhamente, insistem em barganhar por cada item. Os turistas que gastam $4.000 num pacote de duas semanas de visita turstica iro barganhar o preo de uma gravura de $5 para $3, pois parte do discurso turstico que os turistas ingnuos pagam preos mais altos que os residentes locais, e eles no querem ser enganados. Certamente, alguns turistas so enganados, mas a forma como o sistema opera em Nova Guin e outros locais, vitimiza os povos nativos. Dado que o turismo internacional de massa parte de uma transao puramente comercial, uma troca de dinheiro por experincia e lembranas, eu penso que a metfora host-guest (hospedeiro-visitante), s vezes usada para descrever o relacionamento turista-nativo, um completo engano.

Em Cannibal Tours, escutam-se as vozes dos turistas e dos nativos, mas e a voz do cineasta? Minha maior crtica a ORourke que seu filme no reflexivo o suficiente. s vezes escutamos uma pergunta feita pelo entrevistador, mas com bastante frequncia as declaraes dos informantes so apresentadas sem nenhuma indicao do contexto da entrevista, ou da presena do entrevistador. Acho especialmente irritante quando o que claramente uma nica entrevista se encontra cortado em duas ou trs partes, creio que por um efeito esttico, mas fazendo com que seja difcil acompanhar o argumento. Entremeadas com o filme mostrando o presente na Nova Guin, encontram-se antigas fotografias em preto e branco da era colonial, do tempo da colonizao alem antes da Primeira Guerra Mundial. Algumas dessas fotografias so de uma qualidade maravilhosa e servem ao propsito de ORourke de contrastar os velhos dias com o presente, de comparar o colonialismo com o turismo. ORourke muito sofisticado no seu uso de efeito sonoro, e eu gostei especialmente da msica de Mozart e dos sons de algum girando o boto de um rdio de ondas curtas, como se fosse para nos lembrar que ainda estamos no mundo moderno civilizado.

H muita coisa sobre turismo em Papua Nova Guin que ORourke deixou fora do filme e que eu gostaria que ele tivesse includo. Gostaria de ver mais das performances para os turistas, as cantorias e danas, e queria que houvesse mais ateno dedicada aos agentes de turismo e guias tursticos. Por que no houve entrevistas com esses guias, para ouvirmos suas vozes e perspectivas? Toda a infra-estrutura do turismo, no s os agentes e guias, mas os hotis, a tripulao do Malanesian Explorer e certamente a cena nas cidades poderiam ter sido includas, mas talvez isso seja pedir demais. ORourke no um etngrafo, um cineasta, e no h dvida de que ele fez um filme visualmente interessante sobre um tema fascinante, e que mostrei em meu seminrio sobre turismo e representao etnogrfica. Essa mostra do filme resultou numa boa discusso comparando filme e etnografia, ou representaes visuais e verbais, e numa comparao das foras de cada veculo.

A propaganda para o filme diz: Esse filme gentilmente irnico, nem desculpa nem condena os turistas ou os papuas. Eu discordo. O que vejo no filme que, segundo a viso de ORourke, turismo neo-colonialismo e os nativos de Nova Guin so explorados. O filme no ruidoso, mas ele zomba dos turistas mesmo que gentilmente. No que haja algo de errado com a perspectiva de ORourke, mas ao invs de apresent-la to sutilmente, esconder ou negar, ou apresentar o filme como um relatrio objetivo, que nem desculpa e nem condena, gostaria que a perspectiva de ORourke fosse mais explicitamente apresentada no filme, que fosse tomada como um objeto de investigao, algo discutido e pensado. Nos filmes etnogrficos, nos distanciamos da voz de narrao da cmera impositiva e estamos fazendo mais, como fez ORourke, deixando os atores, nesse caso os turistas e os nativos, falarem por si. Agora precisamos ouvir uma voz mais forte e mais explcita do cineasta.

Traduo de Isadora de Vasconcelos Contins Gonalves