Burrel e Morgan

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    suas fronteiras aparecem como satlites definindo pontos de vista alternativos.Contudo, o impacto deles na ortodoxia raramente muito significante. Eles sofreqentemente muito fortes para se estabelecerem como algo mais que um conjuntode abordagens at certo ponto desviantes. Como resultado as possibilidades que elesoferecem so raramente pouca exploradas e so deixadas de lado.

    A fim de entender pontos de vista alternativos importante que o cientista esteja

    totalmente consciente dos pressupostos em que sua perspectiva est baseada. Estaapreciao envolve uma excurso intelectual que o coloca fora do campo de seufamiliar domnio. Esta tarefa requer que ele se torne consciente das fronteiras quedefinem sua perspectiva. Isto tambm requer que ele excursione no inexplorado.Requer mais que ele se torne familiar com paradigmas que no so o seu prprio.Somente ento ele pode olhar para traz e apreciar inteiramente a natureza precisa deseu ponto de partida.

    O trabalho aqui apresentado uma tentativa de levar o estudante de organizaesaos domnios que provavelmente ele jamais explorou antes. Esta uma jornada emque ns, os autores, embarcamos despercebidamente como resultado de certas

    dvidas importunantes e de incertezas a cerca da utilidade e validade de muitas dasteorias e pesquisas contemporneas em nosso assunto. Estamos conscientes damaneira como os estudos das atividades organizacionais tem gerado montanhas deteorias e pesquisas que pareciam no ter ligaes bvias fora das estreitas reas dedisciplinas. Estamos conscientes da natureza essencialmente efmera de nossoassunto. Estamos a par do sectarismo acadmico refletido vrias vezes na hostilidadeaberta, na indiferena tipo avestruz e no dilogo e debate geralmente de baixaqualidade entre escolas de pensamento relacionadas em essncia. Em suma, sentimosque nossa rea de temtica exigiu um cuidadoso exame dos pressupostos sobre osquais se baseou com vistas a v-la numa nova e esperanosamente refrescante luz.Em essncia nosso livro apresenta uma prestao de contas de nossa jornada e umregistro das concluses e insightsque emergiram.

    Comeamos nossa tarefa pela considerao de como poderamos distinguir entrediferentes abordagens ao estudo das organizaes. A viso de que "todas as teorias deorganizao esto baseadas em uma filosofia de cincia e numa teoria da sociedade"voltou freqentemente em nossas conversas e logo descobrimo-la definindo as duasprincipais dimenses de anlise. Embora os tericos organizacionais nem sempresejam muito explcitos sobre os pressupostos bsicos que informam seus pontos devista, claro que todos eles tomam uma posio em cada um destas questes. Querestejam conscientes disto ou no eles trazem para seus temas de estudos um quadro

    de referncia que reflete uma total srie de pressupostos sobre a natureza do mundosocial e da maneira como ele deveria ser investigado.

    Nossa tentativa de explorar estes pressupostos levou-nos para os domnios dafilosofia social. Nos defrontamos com problemas de ontologia e epistemologia e outrasquestes que raramente recebem considerao dentro do campo de estudo daorganizao. A medida em que investigamos estas questes descobrimos que elassustentaram os grandes debates filosficos entre cientistas sociais de tradiesintelectuais rivais. Constatamos que a ortodoxia em nossos objetos de estudo estavaapoiada essencialmente em apenas uma destas tradies e que as perspectivassatlites que observamos como rodeando a ortodoxia eram, de fato, derivadas de uma

    fonte intelectual completamente separada. Constatamos que eles estavam tentandoarticular pontos de vista que derivavam de pressupostos diametralmente opostos sobrea natureza bsica do mundo social; deste modo eles subscreveram pressupostos

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    completamente diferentes sobre a verdadeira natureza do prprio empreendimentocientfico-social.

    Ao investigar os pressupostos relacionados com a natureza da sociedade nostornamos, em princpio, capazes de operar em terreno mais firme. A sociologia dosanos 60 tinha colocado o seu foco no "debate ordem-conflito" quer fosse enfatizando o"problema da ordem" quer fosse o "problema de conflito e mudana". No fim dos anos

    60 o debate tinha sido considerado morto, e estas duas vises da sociedade eramvistas meramente como dois aspectos da mesma problemtica. Ao revisar a literaturarelevante deste debate tornamo-nos crescentemente convencidos de que aqueledebate tinha tido uma morte prematura. Enquanto estava claro que os socilogosacadmicos tinham se convencido de que o "problema do conflito poderia sesubordinar ao "problema da ordem", cientistas fora desta tradio, particularmenteaqueles interessados na teoria marxista, estavam ativamente engajados nodesenvolvimento de teorias sociais que colocavam os problemas de conflito e mudanana linha de frente de suas anlises. Embora os socilogos acadmicos e os cientistassociais marxistas aparentassem estar contentes trabalharem isoladamente, ignorandoas perspectivas contraditrias que apresentavam, parecia que quaisquer anlises dasteorias da sociedade deveriam levar em conta as perspectivas rivais.

    Nossa incurso literatura marxista nos conduziu a um novo campo mais alem denosso interesse inicial. Ficamos surpresos em descobrir chocantes paralelos entredesenvolvimentos dentro da teoria marxista e da sociologia acadmica. Constatamosque os pressupostos sobre a natureza da cincia social que dividiu os socilogos emdiferentes escolas de pensamento tambm dividiram os cientistas marxistas. Naquelecampo, tambm, o quadro terico dominante estava arrodeado por escolas depensamento satlites oferecendo explicaes rivalizantes. Perseguindo estas tradiesa partir de suas fontes, descobrimos que elas emergiram a partir precisamente dasmesmas fronteiras da filosofia social que tinham comprometido elementos divergentesdentro da prpria sociologia. Isto tornou claro que as tradies divergentes queenfatizavam "ordem" como oposto a "conflito" compartilhavam da mesma linhagem desuas razes em filosofia social. Derivando de pressupostos similares sobre o statusontolgico e epistemolgico da cincia social, eles tinham estado ligados a quadro dereferncia fundamentalmente diferentes com relao a natureza da sociedade.

    Ao fazer estas ligaes cruzadas entre estas tradies intelectuais antagnicas,tornou-se claro para ns que nossos dois conjuntos de pressupostos poderiam sercolocados um contra o outro para produzir um esquema analtico para o estudo dateoria social em geral: os dois conjuntos definiam quatro paradigmas bsicos refletindo

    vises da realidade social absolutamente diferentes. Ao tentar relacionar este esquemacom a literatura em cincia social verificamos que estvamos de posse de umaferramenta extremamente poderosa para negociar nosso caminho atravs de diferentesreas temticas, e particularmente uma que fez sentido devido a grande confuso quecaracteriza a maioria do atual debate dentro das cincias sociais. O esquema ofereceu-se como uma forma de mapa intelectual mediante o qual as teorias sociais poderiamser localizadas de acordo com suas fontes e tradies. As teorias raramente ou quasenunca aparecem fora de seu espao estreito; elas geralmente tm por traz uma historiabem estabelecida. Descobrimos que nosso mapa intelectual permitia-nos rastrear aevoluo das teorias. Estas se localizaram de acordo com suas origens. Onde astradies intelectuais antagnicas tinham sido fundidas, verses hbridas distintas

    pareciam aparecer. O que primeiro se ofereceu como um simples dispositivoclassificatrio para organizar a literatura passou a apresentar-se como uma ferramentaanaltica. Isto nos indicou novas reas de investigao. Isto permitiu-nos estimar eavaliar as teorias comparando com o pano de fundo da tradio intelectual que elas

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    pensavam rivalizar. Isto permitiu-nos identificar teorias embrionrias e anteciparpotenciais linhas de desenvolvimento. Isto finalmente permitiu-nos escrever este livro.

    Nos captulos que se seguem procuramos apresentar nosso esquema analtico eus-lo para abrir caminho atravs da literatura em teoria social e anliseorganizacional. Tivemos a inteno de apresent-lo to clara e diretamente quantopossvel ao mesmo tempo evitando os inconvenientes de super-simplificao. Porem

    os conceitos de um paradigma no podem facilmente serem interpretados nos termosdaqueles conceitos de um outro. Para entender um novo paradigma a pessoa tem queexplor-lo a partir de dentro dele, em termos de sua problemtica que o distingue.Assim, enquanto fazamos cada esforo para prestar conta to plenamente quantopossvel at onde nos permitiu a lngua inglesa, tivemos necessariamente que nosvaler de conceitos que as vezes no so familiares.

    Os demais captulos que complementam a Parte I definem a natureza de nossasduas dimenses de anlise chaves e os paradigmas que emergem dentro de seuslimites. Nesta anlise ns polarizamos uma quantidade de questes e fazemos muitouso de grosseiras dicotomias como meio de apresentar nossos casos. Assim

    procedemos no meramente com propsitos de classificao, mas para forjar umaferramenta de trabalho. Ns advogamos nosso esquema como um dispositivoheurstico em lugar de um conjunto de definies rgidas.

    Na Parte II colocamos nosso quadro analtico em operao. Para cada um denossos quatro paradigmas conduzimos uma anlise da teoria social relevante e entoprecedemos o relacionamento das teorias de organizao com seus backgroundsmaisamplos. Cada um dos paradigmas so tratados em termos consistentes com seuprprio quadro de referncia que o distingue. No se faz qualquer tentativa de criticar eavaliar a partir de uma perspectiva forado paradigma. Tal crtica to fcil mas auto-destrutiva, uma vez que usualmente dirigida para os fundamentos do prprioparadigma. Todos os quatro paradigmas podem ser demolidos com sucesso nestestermos. O que buscamos fazer desenvolver a perspectiva que caracterstica doparadigma e ressaltar algumas das implicaes para a anlise social. Ao assim fazertemos descoberto que freqentemente somos capazes de fortalecer as conceituaesgeradas em cada paradigma de interesse para o estudo as organizaes. Nossa regraguia tem sido a de oferecer algo para cada paradigma nos termos de sua prpriaproblemtica. Os captulos na Parte II, portanto, so por natureza essencialmenteexpositivos. Eles procuram proporcionar um minucioso quadro de referncia a partir doqual futuros debates podero ser frutiferamente baseados.

    A Parte III apresenta uma curta concluso que focaliza alguns dos principaisassuntos que emergem de nossa anlise.

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    BURRELL & MORGAN, "Sociological Paradigms and Organizational Analysis",Heinemann, London, 1979.

    (traduo livre do Prof. Wellington Martins, EA/UFBa.)

    1. PRESSUPOSTOS SOBRE A NATUREZA DA CINCIA SOCIAL.

    Central para nossa tese a idia de que "todas as teorias de organizao sobaseadas em uma filosofia da cincia e em uma teoria da sociedade". Neste captulodesejamos nos reportar ao primeiro aspecto desta tese e examinar alguns dospressupostos filosficos que subjazem as diferentes abordagens cincia social.Iremos argumentar que conveniente conceituar cincia social em termos de quatro

    conjuntos de pressupostos relativos a ontologia, a epistemologia, a natureza humana ea metodologia.

    Todos os cientistas sociais abordam seus temas por meio de pressupostos implcitosou explcitos a cerca da natureza do mundo social e da maneira como ele pode serinvestigado. Em primeiro lugar, h pressupostos de natureza ontolgica- pressupostosque dizem respeito verdadeira essncia do fenmeno sob investigao. Os cientistassociais, por exemplo, so colocados frente a frente com a questo: a "realidade" a serinvestigada uma realidade externa ao indivduo - impondo-se sua conscincia apartir de fora - ou produto de sua conscincia; se uma realidade de naturezaobjetiva ou produto da cognio do indivduo; se uma realidade que dada "l fora"

    no mundo ou produto da propriamente?Associados com esta questo ontolgica, h um segundo conjunto de pressupostos

    de natureza epistemolgica. Estes so pressupostos sobre as bases do conhecimento -de como algum poderia comear a entender o mundo e transmitir este conhecimentopara seus semelhantes em forma de comunicao. Estes pressupostos abarcamidias, por exemplo, sobre que formas de conhecimento podem ser obtidas, e comoalgum pode separar o que para ser visto como "verdadeiro" do que para ser vistocomo "falso". Na verdade esta dicotomia de "falso" e "verdadeiro" por si s pressupeuma certa posio epistemolgica. Ela atribuda mediante uma viso da prprianatureza do conhecimento: se, por exemplo, o conhecimento algo slido, real e capaz

    de ser transmitido de modo tangvel ou algo mais malevel, subjetivo, espiritual oumesmo transcendental, baseado na experincia e no insight de natureza nica eessencialmente pessoal. Os pressupostos epistemolgicos nestes exemplosdeterminam posies extremas na questo de se por um lado o conhecimento ser algoque pode ser adquirido ou se por outro lado algo que tem que ser experimentadopessoalmente.

    Associado com as questes ontolgicas e epistemolgicas, mas conceitualmenteseparada delas, est um terceiro conjunto de pressupostos relacionados com anatureza humanae, em particular, a relao entre os seres humanos e seu ambiente.Fica bem claro que toda cincia social deve ser predita mediante este tipo de

    pressuposto, uma vez que a vida humana essencialmente o sujeito e o objeto dainvestigao. Portanto, podemos identificar em cincia social perspectivas quevinculam uma viso dos seres humanos respondendo, em um mecnico ou mesmo emuma forma determinista, a situaes encontradas em seu mundo exterior. Esta viso

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    A dimenso subjetiva -objetiva

    A abordagem subjetiva A abordagem objetiva

    cincia social cincia social

    Nominalismo ----------- ontologia ---------- Realismo

    Antepositivismo ---- epistemologia -------- Positivismo

    Voluntarismo ------ natureza humana ------- Determinismo

    Ideogrfico ---------- metodologia --------- Nomottico

    Fig. 1.1. Esquema para analisar os pressupostos sobre a

    natureza das cincias sociais.

    Neste breve esboo dos vrios pontos de apoio ontolgicos, epistemolgicos,humanos e metodolgicos que caracterizam as abordagens cincia social, temosprocurado ilustrar duas perspectivas amplas e de certo modo polarizadas. A figura 1.1.busca retratar estas perspectivas em um modelo mais rigoroso em termos do quedescrevemos como a dimenso objetiva - subjetiva. Este modelo identifica os quatroconjuntos de pressupostos que so relevantes para o entendimento da cincia social,caracterizando cada um por seus rtulos descritivos sob os quais eles tm sido

    debatidos na literatura de filosofia social. Na sesso seguinte deste captulo faremosuma reviso de cada um destes quatro debates em necessariamente breves massistemticos termos.

    OS FIOS DO DEBATE.

    O Debate Ontolgico.: Nominalismo - realismo.1

    Estes termos tm sido objeto de muita discusso na literatura e h grandes reas decontrovrsia em torno delas. A posio nominalista gira em torno do pressuposto deque o mundo social externo cognio do indivduo construdo de nada mais que

    1. Para uma discusso mais profunda sobre o debate nominalismo -realismo, ver Kolakowski (1972),pp.15-16.

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    nomes, conceitos e ttulos que so usados para estruturar a realidade. O nominalistano admite a existncia de qualquer estrutura 'real' para o mundo em que taisconceitos so usados para descrever. Os 'nomes' usados so vistos como criaesartificiais cuja utilidade baseada em suas convenincias como ferramentas paradescrever, dar sentido de e negociar com mundo externo. O nominalismo freqentemente comparado com o convencionalismo, e ns no faremos qualquerdistino entre eles.1

    O realismo, por outro lado, postula que o mundo social externo cognio doindivduo, um mundo real composto de estruturas concretas, tangveis erelativamente imutveis. Quer ns as percebamos e as rotulemos ou no, ainda assim,elas existem independentemente de ns, como entidades empricas. Podemos at noestar conscientes de certas estruturas cruciais e apesar disto no termos 'nomes' ouconceitos para articul-las. Para o realista, o mundo social existe independentementede uma apreciao dele pelo indivduo. O indivduo nasce e vive dentro de um mundosocial que tem sua prpria realidade. No h nada que o indivduo possa criar - eleexiste "l fora". Ontologicamente ele anterior existncia e conscincia de qualquerser humano em particular. Para o realista, o mundo social tem uma existncia que slida e concreta como o mundo natural.2

    O Debate Epistemolgico: Positivismo - Antipositivismo.3

    Tem se afirmado que a palavra 'positivista' do mesmo modo que a palavra'burguesia' tem se tornado mais um epiteto depreciativo do que um conceito descritivotil'.4 Temos a inteno de us-lo aqui nesse ltimo sentido, como um conceitodescritivo que pode ser utilizado para caracterizar um tipo particular de epistemologia.Muitas das descries do positivismo em uso corrente se refere a uma ou mais das

    dimenses ontolgicas, epistemolgicas e metodolgicas de nosso esquema paraanalisar pressupostos com relao a cincia social. Ele tambm algumas vezeserradamente equiparado com o empirismo. Tais misturas encobrem questes bsicas econtribui para o uso do termo no sentido depreciativo.

    Usamos o termo "positivista" aqui para caracterizar epistemologias que buscamexplicar e predizer o que acontece no mundo social, pela procura de regularidades erelaes causais entre seus elementos constituintes. A epistemologia positivista , emessncia, baseada nas abordagens tradicionais que dominam as cincias naturais. Ospositivistas podem diferir em termos de abordagens detalhadas. Alguns poderiamdefender, por exemplo, que regularidades estabelecidas como hipteses podem serverificadas atravs de um programa de pesquisa experimental adequado. Outrossustentam que hipteses somente podem ser falsificadas e nunca demonstradas como

    1. Kolakowski (1972), pp. 158 - 9. Em sua forma mais extrema onominalismo no reconhece a existncia de qualquer mundo forados domnios da conscincia do indivduo. Esta a posiosolipsista, que discutiremos em mais detalhes no Captulo 6.2. Para uma reviso mais abrangente do 'realismo', ver Keat eUrry (1975), pp. 27 - 45. Eles fazem muita distino entre'positivismo' e 'realismo' mas, como eles prprios admitem,

    estes termos so usados de uma maneira de certo modo noconvencional.3. Para uma maior discusso do debate positivismo - anti-positivismo ver, por exemplo, Giddens (1974) e Walsh (1972).4. Giddens (1974), p. 1.

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    "verdade"5. Contudo, tanto os verificacionistas como os falsificacionistas aceitamque o crescimento do conhecimento como um processo essencialmente cumulativo emque novas descobertas so adicionadas ao estoque de conhecimento existente e asfalsas hipteses eliminadas.

    A epistemologia do anti-positivismo pode tomar vrias formas porem se colocafirmemente contra a inutilidade da busca de leis e de regularidades subjacentes e de

    relaes causais no mundo dos afazeres sociais. Para os anti-positivistas , o mundosocial essencialmente relativista e pode somente ser entendido do ponto de vista dosindivduos que esto diretamente envolvidos nas atividades que esto sendoestudadas. Os anti-positivistas rejeitam o ponto de vista do 'observador', quecaracteriza a epistemologia positivista, como um ponto vantajoso para entender asatividades humanas. Eles sustentam que uma pessoa somente pode 'entender'ocupando-se de um quadro de referncia do participante na ao. a pessoa tem queentender a partir de dentro ao invs de fora. Deste ponto de vista a cincia social vista como essencialmente subjetiva em lugar de um empreendimento objetivo. Osanti-positivistas tendem a rejeitar a noo de que a cincia pode gerar conhecimentoobjetivo de qualquer espcie.6

    O Debate sobre a "Natureza Humana":Voluntarismo - Determinismo.

    Este debate gira em torno do modelo de homem contido em uma dada teoria socialcientfica. Em um extremo est a viso determinista que v o homem e suas atividadescomo sendo completamente determinadas pela situao ou pelo ambiente em que elese situa. No outro extremo identificamos a viso voluntarista do homem completamenteautnomo e possuidor de livre arbtrio. At onde alcanam as teorias sociais no queconcerne o entendimento das atividades humanas, elas devem se inclinar implcita ouexplicitamente para um ou outro destes pontos de vista, ou adotar um pontointermedirio que permite a influncia tanto de fatores situacionais ou voluntrios naconstatao de atividades dos seres humanos. Tais pressupostos so elementosessenciais nas teorias sociais cientficas, uma vez que define em termos amplos anatureza das relaes entre o homem e a sociedade em que ele vive.7

    O Debate Metodolgico:Teoria Ideogrfica - Nomottica.

    A abordagem ideogrfica cincia social baseada no ponto de vista que s sepode entender o mundo social pela obteno, em primeira Mo, do conhecimento sobInvestigao.

    Esta abordagem coloca considervel nfase no tornar-se mais prximo do subjetivodas pessoas e em explorar seus detalhados backgrounds e histria de vida. A

    5. Ver, por exemplo, Popper (1963).6. Para uma boa ilustrao de uma viso anti-positivista decincia, ver Douglas (1970b),pp. 3 - 44.

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    7. O debate sobre a natureza humana em seu mais amplo sentidoenvolve muitos outros aspectos que no nos referimos aqui Opreciso modelo de homem a ser empregado em qualquer esquemaanaltico, contudo, est subscrito por pressupostos que refletemquestes de voluntarismo-determinismo de uma maneira ou deoutra. Isolamos aqui este elemento do debate como um meio de

    tratar a este nvel mais bsico um pressuposto necessrio atodas as teorias sociais cientficas que pretenda levar em contaas atividades humanas. Proposies detalhadas com relao a umaprecisa explanao das atividades humanas de uma maneira ou deoutra elaboram estes temas bsicos.

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    percepo. Ela essencialmente nominalista em sua abordagem realidade social.Em contraste com as cincias naturais, ela enfatiza a natureza essencialmentesubjetiva dos afazeres humanos, negando a utilidade e a relevncia dos modelos emtodos da cincia natural para os estudos neste campo. Ela "anti-positivista" emepistemologia, "voluntarista" com relao a natureza humana e favorece os mtodosideogrficos como fundamentao da anlise social. O positivismo sociolgico e oidealismo Germnico deste modo definem os extremos objetivo e subjetivo de nosso

    modelo.

    Muitos socilogos e tericos de organizao foram criados dentro da tradio dopositivismo sociolgico, sem se expor doutrina bsica do idealismo Germnico. Paraeles a cincia social vista como concordante com a configurao dos pressupostosque caracterizam o extremo objetivo de nosso modelo. Contudo, nos ltimos setentaanos ou mais tem havido uma crescente interao entre estas duas tradies,particularmente no nvel scio-filosfico. Como resultado tm surgido pontos de vista,cada um deles com suas prprias configuraes distintivas dos pressupostos sobre anatureza da cincia social. Eles todos desovaram teorias, idias e abordagenscaractersticas de suas posies intermedirias. Como argumentaremos em captulosmais na frente, os desenvolvimentos em fenomenologia, etnometodologia e o quadrode referncia da ao devero ser entendidos nestes termos. Estas perspectivas,enquanto oferecendo sua prpria marca de descoberta, tm sido freqentementeusadas como almodas de lanamento para ataque ao positivismo social e tm geradouma considervel quantidade de debates entre escolas de pensamento rivais. anatureza deste debate pode somente ser completamente entendido pela apreenso eapreciao de pressupostos diferentes que esto embasando os pontos de vista emcompetio.

    nosso contentamento que o esquema analtico oferecido aqui torne as pessoascapazes de fazer precisamente isto. Ele oferecido no como um mero dispositivoclassificatrio, mas como uma importante ferramenta para transacionar a teoria social.Ele chama ateno para pressupostos chaves. Ele permite que as pessoas focalizemem questes precisas que diferenciam as abordagens scio-cientificas. Chamatambm ateno para o grau de congruncia entre os quatro conjuntos depressupostos sobre a cincia social que caracterizam quaisquer dos pontos de vista detericos. Oferecemos aqui como a primeira dimenso principal de nosso esquematerico para analisar a teoria em geral e a teoria organizacional em particular. Porconvenincia podemos normalmente nos referir a ele como a dimenso "subjetiva -objetiva", dois rtulos descritivos que talvez capturem os pontos de comunalidade entreas quatro linhas analticas.

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    2. PRESSUPOSTOS SOBRE A NATUREZA DA SOCIEDADE..

    O debate Ordem - Conflito.

    Os ltimos vinte anos ou mais tm testemunhado um nmero de tentativas de socilogos emdelinear as diferenas que separam as vrias escolas de pensamento e os pressupostos meta-socilogicos que elas refletem.

    Foram Dahrendorf (1959) e Lockwood (1956) quem iniciaram a distino entre aquelasabordagens sociologia que se concentraram em explanar a natureza da ordem e do equilbriosocial por um lado, e daquelas que tinham mais a ver com problemas de mudana, conflito ecoero nas estruturas sociais por outro. Os "tericos da ordem" eram bem mais numerosos doque os "tericos do conflito".

    Muitos socilogos vem agora este debate como morto ou como tendo sido um no-debate, decerto modo esprio, por entenderem ser o conflito um aspecto social funcional e, portanto, umavarivel dentro dos limites de teorias que so primordialmente engendradas para explanar aordem social. Neste sentido as vises de ordem e conflito da sociedade so os dois lados damesma moeda. Por conta deste argumento, deixou-se de lado o debate ordem - conflito, e naesteira do movimento de contracultura dos anos 60, os socilogos ortodoxos se tornaram maisinteressados e envolvidos com os problemas do "indivduo" em oposio queles da "estrutura"da sociedade em geral. A influncia dos movimentos "subjetivistas" tais como a fenomenologia,a etnometodologia e a teoria de ao, tornaram-se muito mais atrativos e mais merecedores deateno.

    No entanto, no entender de Burrel & Morgan, ao revisar as fontes intelectuais e osfundamentos do debate - ordem e conflito - se forado a concluir que este debate teve umamorte prematura. Dahrendorf e Lockwood pensaram em revitalizar o trabalho de Marx atravsde seus escritos e a resgat-los conduzindo-os a um lugar central na teoria sociolgica, uma vezque Marx sempre foi grandemente ignorado por renomados socilogos, pela enorme influnciade Durkheim, Weber e Pareto, cujo principal interesse era o da ordem social. Era em Marx queestava a preocupao com o papel do conflito como uma fora impulsora por traz da mudanasocial. Dito desta maneira, portanto, o debate est comprometido com diferenas de perspectivase de interesses de tericos sociais proeminentes do sculo dezenove e inicio do sculo vinte. Asociologia moderna tem feito pouco mais do que articular e desenvolver os temas bsicosiniciados por aqueles pioneiros da anlise social.

    No se pode ignorar as substanciais diferenas entre os trabalhos de Marx e os de Durkheim,Weber e Pareto. Qualquer um familiar com os trabalhos destes tericos e conscientes daprofunda diviso que existe entre Marxismo e sociologia forado a admitir que h diferenasfundamentais, que ainda esto longe de serem conciliadas.

    Para melhor entender a questo voltemos ao trabalho de Dahrendorf que pode seresquematizado como a seguir:

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    Tabela 2.1

    Duas teorias da sociedade: "ordem" e "conflito"

    ___________________________________________________________

    A ordem ou "integracionismo" O "conflito" ou "coero"

    visa visa

    ____________________________________________________________

    Estabilidade Mudana

    Integrao Conflito

    Coordenao Funcional Desintegrao

    Consenso Coero

    ____________________________________________________________

    Embora represente uma supersimplificao, esta conceituao fornece uma til ferramentapara se distinguir as diferenas entre os dois pontos de vista. A tentativa de incorporar a noode "conflito" como mecanismo de integrao forar muito a barra. No se pode simplesmenteincorporar a dimenso conflito/integrao dentro do interesse da sociologia tradicional para

    explicar a ordem. A falcia desta posio torna-se clara se consideramos formas extremas deconflito tais como conflito de classe, revoluo e guerra, que somente podem ser incorporados aomodelo integracionista, por maior que seja o alongamento da imaginao. No se pode igualarconflitos macroestruturais com conflitos funcionais, como os identificados por Coser (1956). Huma importante questo de gradao a ser considerada ao dicotomizar integrao x conflito; narealidade a distino entre os dois muito mais a de um contnuo do que a maioria dos escritorestm reconhecido.

    Um outro aspecto do esquema de Dahrendorf tido como problemtico reside na distinoentre consenso e coero. Embora parea bvio e claro, ao focar em valores compartilhados porum lado, e em imposio de algum tipo de fora por outro, isto implica em certa ambigidade.De onde provem os valores compartilhados? So eles adquiridos autonomamente ou impostossobre alguns membros da sociedade por outros? Estas questes identificam a possibilidade deque consenso pode ser o produto do uso de alguma forma de fora coercitiva. Wright Mills(1959), por exemplo, nos chama a ateno para o que Parsons e outros grandes tericos chamamde "orientaes para valores" e "estrutura normativa" como tendo muito a ver com smbolosdominantes de legitimao. A estrutura normativa aqui - que Dahrendorf teria visto comoconsenso - tratada como um sistema legitimando a estrutura de poder. Do ponto de vista deMills, ela reflete o fato de dominao. Em outras palavras, os valores compartilhados podem servistos no somente como um ndice de grau de integrao que caracteriza uma sociedade, comoum que reflete o sucesso das foras de dominao de uma sociedade predisposta a desintegrao.

    De um ponto de vista , idias compartilhadas, valores e normas so algo a ser preservado; deoutro, eles representam um modo de dominao que o homem necessita se livrar. A dimensoconsenso/coero pode assim ser vista como focalizando assuntos de controle social.

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    Ao distinguir entre estabilidade e mudana como aspectos respectivamente de ordem econflito, o modelo de Dahrendorf abre a possibilidade interpretao errnea, ainda que eleexplicite que afirmou no ter a inteno de concluir que a teoria da ordem admite que asociedade esttica. Seu interesse foi mostrar como as teorias funcionais so essencialmenteenvolvidas com aqueles processos que servem para manter os padres do sistema como um todo.Em outras palavras, as teorias funcionais so vistas como estticas no sentido em que estointeressadas na explanao do status quo. Neste respeito as teorias de conflito so claramente denatureza diferente; elas esto comprometidas com, e buscam explicar, o processo e a natureza damudana estrutural profundamente assentada na sociedade, em oposio mudana de naturezamais superficial e efmera da teoria da ordem.

    Nota do tradutor:Estes dois aspectos de mudana tm muito a ver com o meu trabalho. Noestou interessado nessa mudana superficial e efmera das teorias organizacionais

    funcionalistas e, como tal, me distancio das estratgias de D.O e de outras tantas de naturezasemelhante. O atalho que Argyris tomou e que estou seguindo com os devidos cuidados, atacade frente a estrutura normativa da sociedade pela raiz: os valores governantes bsicos queorientam as aes dos indivduos nas suas relaes com o outro e/ou com o contexto. Embora

    no se possa afastar o carter funcional da busca de eficincia e eficcia , o certo que oquestionamento de valores governantes contidos na estrutura normativa da sociedade (e porextenso, das organizaes), pode levar, e esperamos que efetivamente leve , a profundasmudanas nas organizaes, a partir da reestruturao cognitiva dos indivduos.

    As noes de Dahrendorf de coordenao funcional e de desintegrao pode ser vista comoconstituindo uma das mais poderosas linhas de pensamento que distingue ordem de conflito.Todavia, h tambm lugar para interpretaes errneas. Seu conceito de integrao deriva dointeresse funcionalista com a contribuio que os elementos de um sistema fazem para o todo.Isto uma super-simplificao, no s porque h disfunes (Merton, 1948) como tambmporque, como o prprio trabalho de Dahrendorf sugere, vrias partes de um sistema podem ter

    um alto grau de autonomia e podem contribuir muito pouco para a integrao do sistema comoum todo.

    Por esta razo pode se tornar bem mais claro se a posio da teoria do conflito, nestadimenso, tivesse sido apresentada em termos mais radicais e distintos. H muito mais na teoriaMarxiana, por exemplo, no que se refere a noo de contradio e de incompatibilidade bsicaentre diferentes elementos da estrutura social. Contradio implica em heterogeneidade,desequilbrio e foras sociais essencialmente antagnicas e divergentes. Argumentar que oconceito de contradio pode ser abarcado pela anlise funcional, requer um ato de f ou, nomnimo um considervel vo de imaginao.

    Alinhados com esta anlise, os autores (B&M) argumentam que a tentativa de reduzir os doismodelos a uma base comum ignora as diferenas fundamentais que existem entre elas. A teoriado conflito baseado no conflito estrutural, profundamente arraigado e relacionado comtransformaes radicais da sociedade, no consistente com a perspectiva funcionalista.

    'Regulao" e "Mudana Radical".

    As expresses "regulao" e "mudana radical" sugeridas pelos autores, substituem comvantagens as noes de ordem e conflito at agora discutidas.

    O termo sociologia da regulao refere-se aos escritos dos tericos que esto

    primordialmente interessados em prover explanaes da sociedade em termos que enfatizam suaunidade subjacente e coeso. uma sociologia essencialmente interessada na necessidade deregulao dos afazeres humanos; as questes bsicas que ela faz tende a focar na necessidade deentender porque a sociedade mantida como uma entidade. O trabalho de Durkheim, com sua

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    nfase na natureza da coeso e da solidariedade social, por exemplo, d uma clara ecompreensiva ilustrao de um interesse pela sociologia da regulao.

    A sociologia da mudana radical se contrape sociologia da regulao naquilo em que seuinteresse bsico descobrir explicaes para a mudana radical, para o conflito estruturalprofundamente arraigado, para os modos de dominao e das contradies estruturais que ostericos vem como caracterizando a moderna sociedade. a sociologia interessada

    essencialmente com a emancipao do homem de suas estruturas, que limitam e impedem seupotencial de desenvolvimento. As questes bsicas que ela faz, focalizam na privao do homem, tanto material como psquica. freqentemente visionria e utpica, naquilo que olha comopotencialidade, muito mais do que como realidade presente; est interessada no que possvel,mais do que com o que a coisa ; com alternativas, mais do que com a aceitao do status quo. Atabela 2.2 sumariza a situao.

    Tabela 2.2.

    A dimenso regulao - mudana radical.

    ____________________________________________________________

    REGULAO MUDANA RADICAL

    tem a ver com: tem a ver com:

    _________________________________________________________

    (a) o status quo (a) mudana radical

    (b) ordem social (b) conflito estrutural

    (c) consenso (c) modos de DOMINAO

    (d) INTEGRAO e COESO social (d) CONTRADIO

    (e) solidariedade (e) emancipao

    (f) satisfao de necessidade (f) privao

    g) realidade presente (g) potencialidade

    ____________________________________________________________

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    BURREL & MORGAN, "Sociological Paradigms and Organizational Analysis", Heineman,London, l979.

    (traduo livre do prof. Wellington Martins, EA/UFBa.)

    3. DUAS DIMENSES : QUATRO PARADIGMAS.

    Do que at agora foi examinado, pode-se observar que os pressupostos sobre a natureza dacincia esto contidos numa dimenso: subjetiva - objetiva; e os pressupostos sobre a naturezada sociedade em uma dimenso: regulao - mudana radical, como se pode ver na Figura 3.1abaixo.

    A SOCIOLOGIA DA MUDANA RADICAL

    SUBJETIVO OBJETIVOHumanismo Estruturalismo

    radical radical

    Interpretativo Funcionalismo

    A SOCIOLOGIA DA REGULAO

    Figura 3.1. Quatro paradigmas para anlise da teoria social.

    Dentro da sociologia da regulao o debate tem surgido entre a sociologia interpretativa ofuncionalismo. Na esteira do tratado de Berger & Luckman (1966) sobre a sociologia doconhecimento, no trabalho de Garfinkel (1967) sobre etnometodologia e no ressurgimento geraldo interesse na fenomenologia, o status questionvel dos pressupostos ontolgico eepistemolgico da perspectiva funcionalista tem sido crescentemente exposto.

    Similarmente, dentro do contexto da sociologia da mudana radical tem havido uma divisoentre os tericos que adotam os pontos de vista subjetivo e objetivo da sociedade. Este debatefoi, em grande medida, liderado pela publicao na Frana (1966) e na Inglaterra (1969) dotrabalho de Louis Althusser chamando a ateno para a "quebra epistemolgica" do trabalho deMarx, que enfatizou a polarizao dos tericos Marxistas em dois campos: aqueles queenfatizavam os aspectos subjetivos (por exemplo, Lukcs, e a Escola de Frankfurt) e aquelesque advogavam mais abordagens objetivas tais como as daqueles associados ao estruturalismoAlthussiano.

    O debate entre as sociologias da regulao e da mudana radical que aconteceu na segundametade dos anos 60, foi substitudo por um dilogo interno dentro do contexto de escolas depensamento separadas. Ao se voltarem para elas prprias e ao defenderem suas posies comrelao a dimenso subjetivo - objetivo, negligenciaram a dimenso mudana-regulao radical.

    No momento j existe amadurecimento para consideraes do caminho a frente, e os autoressubmetem as duas independentes dimenses chaves de anlise que ressuscitam os assuntossociolgicos dos anos 60 e os colocam ao daqueles do fim dos anos 60 e inicio dos anos 70.

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    Tomados em conjunto, eles distinguem 4 paradigmas distintos: o humanismo radical, oestruturalismo radical, Interpretativo e funcionalista.

    Natureza e Usos dos Quatro Paradigmas.

    Vemos os 4 paradigmas definidos por pressupostos metatericos muito bsicos quesubscrevem o quadro de referncia , o modo de teorizar e o modus operandi dos tericos sociais

    que operam dentro deles. um termo que tem a inteno de enfatizar o que tem de comum nasperspectivas que liga o trabalho de um grupo de tericos de tal modo que podem ser usualmentevistos como abordando uma teoria social dentro dos limites da mesma problemtica.

    Esta definio no implica completa unidade de pensamento. O paradigma tem uma unidadesubjacente em termos de seus pressupostos bsicos e freqentemente "tidos como verdades" queseparam um grupo de tericos de maneira fundamentalmente diferente de tericos localizadosem outros paradigmas. A unidade do paradigma portanto deriva da referncia a pontos de vistaalternativos da realidade que se posiciona alem de suas fronteiras e que pode no sernecessariamente nem mesmo reconhecido como existente.

    Os 4 paradigmas tomados em conjunto fornecem um mapa para negociar a rea sujeito, queoferece uma maneira conveniente de identificar similaridades bsicas e diferenas o trabalho dosvrios tericos e, em particular, os quadros de referncia subjacentes que eles adotam. Tambmfornece uma conveniente meio de localizar o prprio quadro de referncia com relao a teoriasocial, e deste modo um meio de entender porque certas teorias e perspectivas podem ter maisatrativo pessoal do que outras. Como qualquer outro mapa, ele fornece uma ferramenta paraestabelecer onde esto, onde esteve e pra onde se possvel ir no futuro.

    Um fato que merece ateno que os 4 paradigmas so mutuamente exclusivos. Elesoferecem pontos de vista alternativos sobre a realidade social.

    O Paradigma Funcionalista.

    Este paradigma tem provido um quadro dominante na conduo da sociologia acadmica e noestudo das organizaes firmemente enraizado na sociologia da regulao e aborda o sujeitoprincipal de um ponto de vista objetivista. Caracteriza-se pelo interesse em dar explicaes dostatus quo , da ordem social, da integrao social, da solidariedade, e da necessidade desatisfao e atualizao. Ele aborda estes assuntos sociolgicos gerais sob o ponto de vista quetende para ser realista, positivista, determinista e nomottico.

    Est voltado para explanaes essencialmente racionais de assuntos sociais. Altamentepragmtico em orientao, freqentemente orientado para o problema, envolvido em proversolues prticas. usual e firmemente envolvido com a filosofia de engenharia social comobase para a mudana social, enfatizando a importncia de entender a ordem, o equilbrio e aestabilidade na sociedade e os meios pelos quais eles podem ser mantidos. Est envolvida com aefetiva regulao e controle dos affairs sociais

    Originado na Frana nas primeiras dcadas do sculo XIX, recebeu suas maiores influnciasatravs dos trabalhos de Augusto Comte, Herbert Spencer, Emile Durkheim e Valfrido Pareto. Aabordagem funcionalista cincia social tende a assumir que o mundo social composto deartefatos empricos relativamente concretos e de relaes que podem ser identificadas, estudadase medidas atravs de abordagens derivadas das cincias naturais.

    Para ilustrar, vejamos o trabalho de Durkheim. Central em sua posio foi a idia de que os"fatos sociais" existem fora da conscincia dos homens, e restringe o homem em suas atividadesdirias.

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    O paradigma interpretativo tambm produto direto do idealismo Germnico. Seusfundamentos vm do trabalho de Kant e reflete a filosofia social que enfatiza essencialmente anatureza espiritual do mundo social. No princpio do sculo sofreu a influncia dos neo-idealistas tais como Dilthey, Weber, Husserl e Schutz. Em termos sociolgicos nota-se 4 grandescorrentes: a hermenutica, a sociologia fenomenolgica, a fenomenologia e o solipsismo. Emtermos da teoria das organizaes: a etnometodologia e o interacionismo simblicofenomenolgico.

    A fig. 3.3 e 3.4 ilustram a maneira como o paradigma foi explorado tomando como referncianosso interesse na teoria social e no estudo das organizaes. Enquanto tenha havido umpequeno nmero de tentativas de estudar os conceitos de organizao e situaes a partir desteponto de vista, o paradigma no gerou muitas teorias organizacionais. Como ficar claro a partirde nossa anlise, h boas razes para isto. As premissas do paradigma interpretativo questionamse as organizaes existem seno no sentido conceitual e, como tal, desafia a validade dospressupostos ontolgicos subjacentes s abordagens funcionalistas da sociologia em geral e aoestudo das organizaes em particular.

    O Paradigma do Humanismo Radical.

    definido por seu interesse em desenvolver a sociologia da mudana radical. de um pontode vista subjetivista. V o mundo social de uma perspectiva que tende a ser nominalista,antepositivista, voluntarista e ideogrfica. Seu quadro de referncia est envolvido com umaviso da sociedade que enfatiza a importncia de destruir ou de transcender as limitaes dosarranjos sociais existentes.

    Uma das noes mais bsicas que subjacem o todo deste paradigma o de que a conscinciado homem dominada pelas superestruturas ideolgicas com o qual ele interage, e que estasdirigem uma cunha cognitiva entre o prprio indivduo e a verdadeira conscincia. Esta cunha a da "alienao" ou da "falsa conscincia" que inibe ou evita o verdadeiro preenchimentohumano. O maior interesse dos tericos abordando a condio humana nestes termos o delivrar o ser humano das restries que os arranjos sociais colocam sobre o desenvolvimentohumano. Critica-se o status quo. V-se a sociedade como anti-humana e se est interessado emarticular meios para que os seres humanos possam transcender os vnculos e grilhes que osprendem aos padres sociais existentes e, portanto, a realizar seu potencial pleno.

    O humanismo radical coloca nfase na mudana radical, nos modos de dominao,emancipao, potencialidade e privao. Os conceitos de conflito estrutural e de contradiono figuram proeminentemente nesta perspectiva, desde que elas so caractersticas de visesmais objetivas contidas no estruturalismo radical. A principal nfase do humanismo radical na

    conscincia humana. Deriva tambm do idealismo Germnico, particularmente expresso nostrabalhos de Kant e Hegel (como reinterpretado nos escritos do jovem Marx). atravs de Marxque a tradio idealista foi primeiro utilizada como base da filosofia social radical, e muitoshumanistas radicais tm derivado sua inspirao desta fonte. Em essncia Marx inverteu oquadro de referncia refletido no idealismo Hegeliano e deste modo forjou a base do humanismoradical. O paradigma tambm tem sido influenciado por uma infuso da fenomenologia deHusserl.

    Foram Luckcs e Gramsci quem reviveram o interesse na interpretao subjetiva da teoriaMarxista. Este interesse foi encampado pelos membros da Escola de Frankfurt, particularmenteHabermas e Marcuse. A filosofia existencialista de Sartre tambm pertence a este paradigma, do

    mesmo modo que os escritos de Illich, Castaneda e Laing. Cada um deles, a sua maneira,dividem um interesse comum pela libertao da conscincia e da experincia de dominaopelos vrios aspectos da superestrutura ideolgica do mundo social dentro da qual os homens

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    vivem fora de suas vidas. Eles buscam mudar o mundo social atravs da mudana nos modos decognio e conscincia

    A fig. 3.3 e 3.4 mais uma vez proporciona um grosseiro e pronto sumrio da maneira comoeste paradigma tem sido explorado em termos da teoria social e do estudo das organizaes.Como argumentaremos no Captulo 9, os escritores que tm algo a dizer sobre as organizaes apartir desta perspectiva tm colocado as bases de uma nascente teoria anti-organizao. Em

    essncia o humanismo radical baseado na inverso. No seria surpresa, portanto, que a teoriaanti-organizao inverte a problemtica que define a teoria da organizao funcionalista emtodos os sentidos.

    O Paradigma do Estruturalismo Radical.

    Os tericos localizados dentro deste paradigma advogam a sociologia da mudana radicalsob o ponto de vista objetivista. Embora com muitas similaridades com a teoria funcionalista, ela dirigida para fins fundamentalmente diferentes. O estruturalismo radical est comprometidocom mudana radical, emancipao e potencialidade, em uma anlise que enfatiza conflitoestrutural, modos de dominao, contradio e privao. Ele aborda estes assuntos gerais doponto de vista realista, positivista, determinista e nomottico.

    Enquanto o humanismo radical forja sua perspectiva focando a conscincia , o estruturalismoradical se concentra nas relaes estruturais dentro de um mundo social real. Os estruturalistasenfatizam o fato de que a mudana radical se constri na verdadeira natureza e estrutura dasociedade contempornea, e buscam prover explanaes das inter-relaes bsicas dentro docontexto total das formaes sociais. H um amplo debate dentro do paradigma, e diferentesteorias chamam a ateno de papeis de diferentes foras como meios de explicar a mudanasocial. Enquanto alguns focalizam nas contradies internas profundamente arraigadas, outrosfocam nas estruturas e nas anlises das relaes de poder. Comum a todos os tericos a viso

    de que a sociedade contempornea se caracteriza por conflitos fundamentais que geram mudanaradical atravs de crises polticas e econmicas. atravs de tais conflitos e mudanas que aemancipao dos homens das estruturas sociais em que eles vivem vista como acontecendo.

    O principal fonte de debate intelectual provem dos trabalhos do Marx maduro, aps a "quebraepistemolgica" em seu trabalho. Dentro da teoria social Russa destacam-se os nomes de Engels,Plekhanov, Lnin e Bukarin. Entre os estruturalistas radicais fora do reino da teoria social Russa,destacam-se Althusser, Poulantzas, Colleti e vrios socilogos Marxistas da Nova Esquerda. Htambm a forte influncia Weberiana que j se fez referncia acima, atravs dos trabalhos deDarhrendorf e Lockwood, alem de outros.

    Em termos de teoria sociolgica, o estruturalismo radical composto da teoria social Russa,da teoria do conflito e do marxismo Mediterrneo contemporneo. Quanto a escolas de anliseorganizacional h meno apenas a teoria da organizao radical.

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    BURREL & MORGAN, "Sociological Paradigms and Organizational Analysis", Heineman,London, l979.

    (traduo livre do prof. Wellington Martins, EA/UFBa.)

    3. DUAS DIMENSES : QUATRO PARADIGMAS.

    Do que at agora foi examinado, pode-se observar que os pressupostos sobre a natureza dacincia esto contidos numa dimenso: subjetiva - objetiva; e os pressupostos sobre a naturezada sociedade em uma dimenso: regulao - mudana radical, como se pode ver na Figura 3.1abaixo.

    A SOCIOLOGIA DA MUDANA RADICAL

    SUBJETIVO OBJETIVOHumanismo Estruturalismo

    radical radical

    Interpretativo Funcionalismo

    A SOCIOLOGIA DA REGULAO

    Figura 3.1. Quatro paradigmas para anlise da teoria social.

    Dentro da sociologia da regulao o debate tem surgido entre a sociologia interpretativa ofuncionalismo. Na esteira do tratado de Berger & Luckman (1966) sobre a sociologia doconhecimento, no trabalho de Garfinkel (1967) sobre etnometodologia e no ressurgimento geraldo interesse na fenomenologia, o status questionvel dos pressupostos ontolgico eepistemolgico da perspectiva funcionalista tem sido crescentemente exposto.

    Similarmente, dentro do contexto da sociologia da mudana radical tem havido uma divisoentre os tericos que adotam os pontos de vista subjetivo e objetivo da sociedade. Este debatefoi, em grande medida, liderado pela publicao na Frana (1966) e na Inglaterra (1969) dotrabalho de Louis Althusser chamando a ateno para a "quebra epistemolgica" do trabalho deMarx, que enfatizou a polarizao dos tericos Marxistas em dois campos: aqueles queenfatizavam os aspectos subjetivos (por exemplo, Lukcs, e a Escola de Frankfurt) e aquelesque advogavam mais abordagens objetivas tais como as daqueles associados ao estruturalismoAlthussiano.

    O debate entre as sociologias da regulao e da mudana radical que aconteceu na segundametade dos anos 60, foi substitudo por um dilogo interno dentro do contexto de escolas depensamento separadas. Ao se voltarem para elas prprias e ao defenderem suas posies comrelao a dimenso subjetivo - objetivo, negligenciaram a dimenso mudana-regulao radical.

    No momento j existe amadurecimento para consideraes do caminho a frente, e os autoressubmetem as duas independentes dimenses chaves de anlise que ressuscitam os assuntossociolgicos dos anos 60 e os colocam ao daqueles do fim dos anos 60 e inicio dos anos 70.

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    Tomados em conjunto, eles distinguem 4 paradigmas distintos: o humanismo radical, oestruturalismo radical, Interpretativo e funcionalista.

    Natureza e Usos dos Quatro Paradigmas.

    Vemos os 4 paradigmas definidos por pressupostos metatericos muito bsicos quesubscrevem o quadro de referncia , o modo de teorizar e o modus operandi dos tericos sociais

    que operam dentro deles. um termo que tem a inteno de enfatizar o que tem de comum nasperspectivas que liga o trabalho de um grupo de tericos de tal modo que podem ser usualmentevistos como abordando uma teoria social dentro dos limites da mesma problemtica.

    Esta definio no implica completa unidade de pensamento. O paradigma tem uma unidadesubjacente em termos de seus pressupostos bsicos e freqentemente "tidos como verdades" queseparam um grupo de tericos de maneira fundamentalmente diferente de tericos localizadosem outros paradigmas. A unidade do paradigma portanto deriva da referncia a pontos de vistaalternativos da realidade que se posiciona alem de suas fronteiras e que pode no sernecessariamente nem mesmo reconhecido como existente.

    Os 4 paradigmas tomados em conjunto fornecem um mapa para negociar a rea sujeito, queoferece uma maneira conveniente de identificar similaridades bsicas e diferenas o trabalho dosvrios tericos e, em particular, os quadros de referncia subjacentes que eles adotam. Tambmfornece uma conveniente meio de localizar o prprio quadro de referncia com relao a teoriasocial, e deste modo um meio de entender porque certas teorias e perspectivas podem ter maisatrativo pessoal do que outras. Como qualquer outro mapa, ele fornece uma ferramenta paraestabelecer onde esto, onde esteve e pra onde se possvel ir no futuro.

    Um fato que merece ateno que os 4 paradigmas so mutuamente exclusivos. Elesoferecem pontos de vista alternativos sobre a realidade social.

    O Paradigma Funcionalista.

    Este paradigma tem provido um quadro dominante na conduo da sociologia acadmica e noestudo das organizaes firmemente enraizado na sociologia da regulao e aborda o sujeitoprincipal de um ponto de vista objetivista. Caracteriza-se pelo interesse em dar explicaes dostatus quo , da ordem social, da integrao social, da solidariedade, e da necessidade desatisfao e atualizao. Ele aborda estes assuntos sociolgicos gerais sob o ponto de vista quetende para ser realista, positivista, determinista e nomottico.

    Est voltado para explanaes essencialmente racionais de assuntos sociais. Altamentepragmtico em orientao, freqentemente orientado para o problema, envolvido em proversolues prticas. usual e firmemente envolvido com a filosofia de engenharia social comobase para a mudana social, enfatizando a importncia de entender a ordem, o equilbrio e aestabilidade na sociedade e os meios pelos quais eles podem ser mantidos. Est envolvida com aefetiva regulao e controle dos affairs sociais

    Originado na Frana nas primeiras dcadas do sculo XIX, recebeu suas maiores influnciasatravs dos trabalhos de Augusto Comte, Herbert Spencer, Emile Durkheim e Valfrido Pareto. Aabordagem funcionalista cincia social tende a assumir que o mundo social composto deartefatos empricos relativamente concretos e de relaes que podem ser identificadas, estudadase medidas atravs de abordagens derivadas das cincias naturais.

    Para ilustrar, vejamos o trabalho de Durkheim. Central em sua posio foi a idia de que os"fatos sociais" existem fora da conscincia dos homens, e restringe o homem em suas atividadesdirias.

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    Desde as primeiras dcadas do sculo XX que o paradigma funcionalista tem sidoinfluenciado por elementos do idealismo Germnico de pensamento social. Atravs dos trabalhosde Weber, George Simmel e George Herbert Mead, a abordagem idealista tem sido utilizada nocontexto das teorias sociais numa tentativa de fazer a ponte entre as duas tradies. Assimfazendo, esqueceram algumas perspectivas tericas caractersticas da ltima regio doobjetivismo", fronteiria do paradigma interpretativo. Tais teorias tm rejeitado o uso deanalogias mecnicas e biolgicas no estudo do mundo social e tem introduzido idias quecolocam nfase na importncia de entender o mundo social do ponto de vista dos atores queesto realmente engajados no desempenho das atividades sociais.

    A partir dos anos 40 tem havido tambm uma infuso de certas influncias Marxistascaractersticas da sociologia da mudana radical que tem ajudado a radicalizar a teoriafuncionalista e a recusar a pecha geral de que o funcionalismo essencialmente conservador eincapaz de prover explicaes para a mudana social.

    A SOCIOLOGIA DA MUDANA RADICAL

    SUBJETIVO OBJETIVO

    Idealismo Germnico Teoria Marxista

    SOCIOLOGIA DA REGULAO Positivismo sociolgico

    Fig. 3.2. Influncias intelectuais sobre o paradigma funcionalista.

    Cruamente falando, a formao do paradigma funcionalista pode ser entendido em termos dainterao de trs conjuntos de foras intelectuais: a teoria marxista, o idealismo germnico e opositivismo sociolgico, sendo esta ltima a mais influente. O cruzamento destas foras temdado lugar a um numero de distintas escolas de pensamento. Na sociologia as principais so : oobjetivismo, a teoria dos sistemas sociais, a teoria integrativa e a escola do interacionismo e dateoria da ao social. Na anlise das organizaes as principais so: o objetivismo, a teoria dosistema social, o pluralismo, as teorias das disfunes burocrticas e o quadro de referncia daao.

    O Paradigma Interpretativo.

    Embora identificado com a sociologia da regulao o paradigma interpretativo informado por um interesse em entender o mundo como ele , mas de entender a naturezafundamental do mundo social ao nvel da experincia subjetiva. Ele busca explanao dentro doreino da conscincia individual e da subjetividade, dentro do quadro de referncia doparticipante, em oposio ao do observador da ao. nominalista, antepositivista, voluntaristae ideogrfico. Atravs dele se v o mundo social como um processo social emergente que foicriado pelos indivduos envolvidos. A realidade social no tem existncia fora da conscincia dequalquer indivduo em particular ; visto como sendo pouco mais do que uma rede depressupostos e de significados compartilhados inter-subjetivamente

    A sociologia interpretativa est interessada em entender a essncia do mundo do dia a dia. Em

    termos do esquema analtico dos autores, est envolvida com assuntos relacionados com anatureza do status quo, da ordem social, do consenso, da integrao e coeso, e dasolidariedade e atualizao.

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    O paradigma interpretativo tambm produto direto do idealismo Germnico. Seusfundamentos vm do trabalho de Kant e reflete a filosofia social que enfatiza essencialmente anatureza espiritual do mundo social. No princpio do sculo sofreu a influncia dos neo-idealistas tais como Dilthey, Weber, Husserl e Schutz. Em termos sociolgicos nota-se 4 grandescorrentes: a hermenutica, a sociologia fenomenolgica, a fenomenologia e o solipsismo. Emtermos da teoria das organizaes: a etnometodologia e o interacionismo simblicofenomenolgico.

    A fig. 3.3 e 3.4 ilustram a maneira como o paradigma foi explorado tomando como referncianosso interesse na teoria social e no estudo das organizaes. Enquanto tenha havido umpequeno nmero de tentativas de estudar os conceitos de organizao e situaes a partir desteponto de vista, o paradigma no gerou muitas teorias organizacionais. Como ficar claro a partirde nossa anlise, h boas razes para isto. As premissas do paradigma interpretativo questionamse as organizaes existem seno no sentido conceitual e, como tal, desafia a validade dospressupostos ontolgicos subjacentes s abordagens funcionalistas da sociologia em geral e aoestudo das organizaes em particular.

    O Paradigma do Humanismo Radical.

    definido por seu interesse em desenvolver a sociologia da mudana radical. de um pontode vista subjetivista. V o mundo social de uma perspectiva que tende a ser nominalista,antepositivista, voluntarista e ideogrfica. Seu quadro de referncia est envolvido com umaviso da sociedade que enfatiza a importncia de destruir ou de transcender as limitaes dosarranjos sociais existentes.

    Uma das noes mais bsicas que subjacem o todo deste paradigma o de que a conscinciado homem dominada pelas superestruturas ideolgicas com o qual ele interage, e que estasdirigem uma cunha cognitiva entre o prprio indivduo e a verdadeira conscincia. Esta cunha a da "alienao" ou da "falsa conscincia" que inibe ou evita o verdadeiro preenchimentohumano. O maior interesse dos tericos abordando a condio humana nestes termos o delivrar o ser humano das restries que os arranjos sociais colocam sobre o desenvolvimentohumano. Critica-se o status quo. V-se a sociedade como anti-humana e se est interessado emarticular meios para que os seres humanos possam transcender os vnculos e grilhes que osprendem aos padres sociais existentes e, portanto, a realizar seu potencial pleno.

    O humanismo radical coloca nfase na mudana radical, nos modos de dominao,emancipao, potencialidade e privao. Os conceitos de conflito estrutural e de contradiono figuram proeminentemente nesta perspectiva, desde que elas so caractersticas de visesmais objetivas contidas no estruturalismo radical. A principal nfase do humanismo radical na

    conscincia humana. Deriva tambm do idealismo Germnico, particularmente expresso nostrabalhos de Kant e Hegel (como reinterpretado nos escritos do jovem Marx). atravs de Marxque a tradio idealista foi primeiro utilizada como base da filosofia social radical, e muitoshumanistas radicais tm derivado sua inspirao desta fonte. Em essncia Marx inverteu oquadro de referncia refletido no idealismo Hegeliano e deste modo forjou a base do humanismoradical. O paradigma tambm tem sido influenciado por uma infuso da fenomenologia deHusserl.

    Foram Luckcs e Gramsci quem reviveram o interesse na interpretao subjetiva da teoriaMarxista. Este interesse foi encampado pelos membros da Escola de Frankfurt, particularmenteHabermas e Marcuse. A filosofia existencialista de Sartre tambm pertence a este paradigma, do

    mesmo modo que os escritos de Illich, Castaneda e Laing. Cada um deles, a sua maneira,dividem um interesse comum pela libertao da conscincia e da experincia de dominaopelos vrios aspectos da superestrutura ideolgica do mundo social dentro da qual os homens

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    vivem fora de suas vidas. Eles buscam mudar o mundo social atravs da mudana nos modos decognio e conscincia

    A fig. 3.3 e 3.4 mais uma vez proporciona um grosseiro e pronto sumrio da maneira comoeste paradigma tem sido explorado em termos da teoria social e do estudo das organizaes.Como argumentaremos no Captulo 9, os escritores que tm algo a dizer sobre as organizaes apartir desta perspectiva tm colocado as bases de uma nascente teoria anti-organizao. Em

    essncia o humanismo radical baseado na inverso. No seria surpresa, portanto, que a teoriaanti-organizao inverte a problemtica que define a teoria da organizao funcionalista emtodos os sentidos.

    O Paradigma do Estruturalismo Radical.

    Os tericos localizados dentro deste paradigma advogam a sociologia da mudana radicalsob o ponto de vista objetivista. Embora com muitas similaridades com a teoria funcionalista, ela dirigida para fins fundamentalmente diferentes. O estruturalismo radical est comprometidocom mudana radical, emancipao e potencialidade, em uma anlise que enfatiza conflitoestrutural, modos de dominao, contradio e privao. Ele aborda estes assuntos gerais doponto de vista realista, positivista, determinista e nomottico.

    Enquanto o humanismo radical forja sua perspectiva focando a conscincia , o estruturalismoradical se concentra nas relaes estruturais dentro de um mundo social real. Os estruturalistasenfatizam o fato de que a mudana radical se constri na verdadeira natureza e estrutura dasociedade contempornea, e buscam prover explanaes das inter-relaes bsicas dentro docontexto total das formaes sociais. H um amplo debate dentro do paradigma, e diferentesteorias chamam a ateno de papeis de diferentes foras como meios de explicar a mudanasocial. Enquanto alguns focalizam nas contradies internas profundamente arraigadas, outrosfocam nas estruturas e nas anlises das relaes de poder. Comum a todos os tericos a viso

    de que a sociedade contempornea se caracteriza por conflitos fundamentais que geram mudanaradical atravs de crises polticas e econmicas. atravs de tais conflitos e mudanas que aemancipao dos homens das estruturas sociais em que eles vivem vista como acontecendo.

    O principal fonte de debate intelectual provem dos trabalhos do Marx maduro, aps a "quebraepistemolgica" em seu trabalho. Dentro da teoria social Russa destacam-se os nomes de Engels,Plekhanov, Lnin e Bukarin. Entre os estruturalistas radicais fora do reino da teoria social Russa,destacam-se Althusser, Poulantzas, Colleti e vrios socilogos Marxistas da Nova Esquerda. Htambm a forte influncia Weberiana que j se fez referncia acima, atravs dos trabalhos deDarhrendorf e Lockwood, alem de outros.

    Em termos de teoria sociolgica, o estruturalismo radical composto da teoria social Russa,da teoria do conflito e do marxismo Mediterrneo contemporneo. Quanto a escolas de anliseorganizacional h meno apenas a teoria da organizao radical.

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    Burrel & Morgan, "Sociological Paradigms and Organizational Analysis", Heinemann,London, 1979.

    (traduo livre do Prof. Wellington Martins, EA/UFBa.)

    4. SOCIOLOGIA FUNCIONALISTA

    Origens e tradio Intelectual.

    Suas origens remontam as razes da sociologia como disciplina, e s primeiras tentativas defilsofos sociais de aplicar as idias e mtodos das cincias naturais ao reino dos negciossociais.

    Devido a sua longa histria, difcil localizar um ponto inicial. Poderia se fazer um

    retrospecto ao pensamento poltico e social da antiga Grcia todavia, por convenincia pode-secomear a anlise por Augusto Comte (1789-1857).

    Comte pode ser visto como, o primeiro e mais importante socilogo da unidade humana esocial. Ele acreditava que o conhecimento e a sociedade estavam em um processo de transioevolutiva, e que a funo da sociologia era de entender o necessrio, indispensvel e inevitvelcurso da histria de tal modo a promover a realizao de uma nova ordem social. A viso deComte era de um mundo em que a racionalidade cientfica estava em ascendncia, subjacendoa base de uma ordem social bem regulada.

    Comte colocou os fundamentos de uma teorizao sociolgica caracterstica do paradigma

    funcionalista. Baseado no modelo positivo das cincias naturais, utilizou analogias mecnicase orgnicas, distinguiu entre esttico (estrutura) e dinmico (processo) e advogou um holismometodolgico. Iniciou importantes regras bsicas para uma empresa sociolgica dirigida a umaexplanao da ordem e da regulao social.

    Herbert Spencer (1820-1903) teve uma grande influncia no desenvolvimento da sociologianos anos 1870 e 1880. Sua principal contribuio foi uma mais detalhadas e extensivas maneirasde implicao da analogia biolgica na sociologia. Influenciado pelo trabalho de Darwin, ele viuo estudo da sociologia como um estudo de evoluo em sua forma mais complexa. Seu trabalhomuito contribuiu para colocar as fundaes para a anlise do fenmeno social em termos deestrutura e funo, elaborando a noo Comtiana de totalidade e a necessidade de entender

    as partes no contexto do todo.

    Muitas das noes suportando o que hoje conhecemos como funcionalismo estrutural derivado trabalho de Spencer. Sua viso da sociedade era de um sistema auto-regulado que podia serentendido atravs do estudo de seus vrios elementos ou rgos e da maneira como eles se inter-relacionavam. Viu a sociedade como sendo estabelecida em um curso evolutivo dedesenvolvimento em que as mudanas de estrutura eram caracterizadas por um processo decrescente diferenciao e integrao. A idia de evoluo teve aplicabilidade universal e foi achave para o entendimento tanto do mundo social como do natural.

    Desde os anos 1880 Durkheim se orientou para o estudo das relaes indivduo-sociedade e

    de personalidade do indivduo-solidariedade social. Ele viu as sociedades tradicionais comosendo mantidas na base de uma solidariedade mecnica derivando da similaridade das partes,tendo a conscincia do indivduo como simples apndice do tipo coletivo, que a segue emtodos os seus movimentos. A conscincia coletiva era baseada em um sistema compartilhado

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    de valores, normas e crenas. Na sociedade industrial com seu sistema extensivo de divisode trabalho e de diferenciao funcional ele viu uma solidariedade orgnica emergindo dainterdependncia das partes.

    Valfrido Pareto (1848-1923) ingressou na sociologia atravs da economia com vistas asuplementar teorias econmicas cientficas baseado em seus pressupostos de lgica e de condutaracional, com uma teoria cientfica de conduta no-lgica e no-racional. Sua viso da sociedade

    era de um sistema de partes inter-relacionadas em que, embora em um estado de fluxo superficialcontinuo, estavam tambm em um estado de equilbrio imutvel, em que os movimentos fora daposio de equilbrio eram contrabalanados por mudanas tendendo a restaur-lo. Pareto viu noconceito de equilbrio uma ferramenta til para entender a complexidade da vida social.

    Tambm devem ser includos na tradio funcionalista os socilogos Alfred Marshall, MaxWeber, John Stuart Mill, Georg Simmel, George Herbert Mead, e William James, dentre outros.

    A Estrutura do Paradigma.

    O paradigma funcionalista est identificado com 4 grandes categorias de pensamento : a) a

    teoria do sistema social; b) interacionismo e teoria da ao social; c) teoria integrativa; e d)objetivismo.

    Teoria do Sistema Social.

    Sob este ttulo so consideradas 2 escolas de pensamento: o funcionalismo estrutural e ateoria dos sistemas, que tiveram importante impacto no campo da anlise organizacional.

    Construdo sob os conceitos de holismo, inter-relao entre partes, estruturas, funes enecessidades, a analogia biolgica tem sido desenvolvida para produzir uma perspectiva decincia social firmemente enraizada na sociologia da regulao. Como teoria e mtodo de anlise

    o funcionalismo estrutural recebeu sua primeira expresso coerente da antropologia socialatravs do estudo de sociedades de pequena escala, que proporcionaram situaes ideais paraaplicao de viso holstica da sociedade num contexto emprico manejvel. Dois nomes sesobressaem ai - Malinowski e Radcliffe-Brown.

    A sobrepujante contribuio de Malinowski foi a de estabelecer a importncia do trabalho decampo. Sua viso era de que sociedade e cultura deveriam ser olhados como um todocomplexo e entendidas em termos de relaes entre as vrias partes e suas adjacnciasecolgicas. Organizao social, religio, lngua, economia, organizao poltica, etc., deviam serentendidas no mais como refletindo uma mentalidade primitiva ou um estgio de subdesenvolvimento mas em termos das funes desempenhadas.

    Malinowski advogou uma explicao funcionalista onde argumentava que as caractersticasusuais ou especiais de sistemas sociais primitivos podiam ser entendidos em termos das funesque elas desempenhavam.

    Radcliffe-Brown, por outro lado, especificamente reconheceu que o conceito de funo, comoaplicado s sociedades humanas, era baseado na analogia entre a vida social e a vida orgnica., eque ela tinha j recebido uma certa quantidade de considerao em filosofia e em sociologia.Desenvolvendo analogia com organismos animais, ele argumentou que as sociedades podiam serconceituadas como redes de relaes entre partes constituintes - estruturas sociais- que tinhamuma certa continuidade. Nos animais como nas sociedades, a continuidade estrutural chama-sevida. A continuidade da vida de uma sociedade poderia ser concebida em termos dofuncionamento de suas estruturas - da a noo de funcionalismo estrutural.

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    Teoria dos Sistemas.

    Deste os anos 50 a teoria dos sistemas assumiu crescente importncia nas vrias correntesde anlise social. Em sociologia, psicologia, antropologia, arqueologia, lingstica, teoriaorganizacional, relaes industriais e muitas outras, a teoria dos sistemas estabeleceu-se comoum importante mtodo de anlise.

    A despeito de sua popularidade, a noo de sistema ilusria. Muitos livros sobre teoria dossistemas no oferecem uma definio formal do conceito de sistemas, e aqueles onde se tentauma definio, esta de considervel generalidade. As noes de holismo e de interao departes no exclusivo da teoria de sistemas, e definies genricas nada mais so do que velhasconceituaes travestidas de novos e desnecessrios jarges complexos.

    Contudo, a situao ainda mais complicada do que isto. Von Bertalanffy usou a noo desistema como meio de reduzir as diferenas substantivas que existem entre as diferentesdisciplinas acadmicas.Os sujeitos da qumica, fsica, biologia, sociologia, etc., se ligam em suaviso pelo fato de que estudam elementos complexos que ficam em interao ou seja,sistemas. A tarefa da teoria geral dos sistemas descobrir princpios de organizao que

    subjacem tais sistemas. Um de seus objetivos gerais o de alcanar a unidade da cinciabaseado nas leis do isomorfismo em campos diferentes(von Bertalanffy, 1956 p.8).

    Em muitos aspectos o objetivo de Bertalanffy pode ser visto como arqutipo da perspectivapositivista: ele baseado em pressupostos epistemolgicos dominados por um interesse embuscar e explicar regularidades e uniformidades estruturais que caracterizam o mundo em geral.Isto difere da maioria dos positivistas, pois von Bertalanffy coloca-se firmemente contrrio aoreducionismo que caracteriza a maioria das reas de esforo cientfico que enfatiza modos deinvestigao baseados em mtodos e princpios da fsica convencional. Ele busca umaalternativa: ao invs de reduzir todos os fenmenos estudados a eventos fsicos, ele advoga oestudo deles como sistemas. Sua idia de sistema tem contido um conceito organizativo(organizing concept).

    Sua diferenciao entre sistema aberto e fechado muito importante. SegundoBertalanffy os sistemas fechados devem, de acordo com a segunda lei da termodinmica,eventualmente atender a um estado de equilbrio independente de tempo, com mxima entropia eum mnimo de energia livre, onde a razo entre suas fases permanece constante. Os sistemasabertos so bem diferentes, pois se engajam em transaes com seu ambiente, importando eexportando energia do ambiente e se transformando em processo. O conceito de sistema aberto essencialmente processual. O sistema aberto comporta uma variedade de situaes: podepermanecer eventualmente estvel, pode ser dirigido para um objetivo, evoluir, retornar, ou

    desintegrar-se. Um dos propsitos da teoria dos sistemas abertos o de estudar um padro derelaes que caracteriza um sistema e as relaes com seu ambiente, a fim de entender a maneiracomo ele opera. A abordagem dos sistemas abertos no traz consigo a implicao de quequalquer tipo particular de analogia seja apropriado para estudar todos os tipos de sistemas, umavez que possvel discernir diferentes tipos de sistemas abertos na prtica.

    Os sistemas fechados, a despeito de suas deficincias largamente reconhecidas comoconstrutos tericos nas cincias sociais, so muito mais usados e tendem a ser baseados emanalogias mecnicas e biolgicas, recentemente, tem havido uma crescente ateno aos modeloscibernticos como uma base de anlise.

    Interacionismo e Teoria da Ao Social.

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    Como tradio intelectual tanto o interacionismo como a teoria da ao social podem serentendidos como representando a fuso de certos aspectos do idealismo Germnico e dopositivismo sociolgico Anglo-germnico.

    Interacionismo.

    Georg Simmel (1858-1918) foi um filsofo e historiador que se tornou socilogo.

    contribuindo livremente para uma ampla gama de reas de investigao. Rejeitando os extremosdas posies do idealismo Germnico e do positivismo Franco-germnico, argumentou em favorde uma anlise de associao e interao humanas. Nas palavras de Coser (1965), ele estavainteressado no estudo da sociedade como "um intrincado entrelaamento de mltiplas relaesestabelecidas entre indivduos em constante interao uns com os outros. As estruturas supraindividuais mais amplas - o estado, o cl, a famlia, a cidade, ou o sindicato - resultam dascristalizaes destas interaes, ainda que possam atingir autonomia e permanncia e confrontaros indivduos como se eles fossem poderes alheios. O principal campo de estudo para oestudante de sociedade , pois, a associao e no a sociedade" (Coser, 1965, p. 5).

    Simmel portanto, focou sua ateno nos seres humanos em seu contexto social. Ele estava

    interessado , acima de qualquer coisa, no que ele descreve como interaes entre os tomos dasociedade. A maior parte de seu trabalho foi devotado anlise das formas de interao grupalfossem as dades, as trades, ou outras formaes grupais, seus processos e influncias, na aohumana e no comportamento.

    A despeito de seu interesse por normas e padres nos assuntos sociais, Simmel viu a vidasocial como sendo caracterizada por um contnuo conflito entre o indivduo e seu mundo social.O interesse de Simmel por um nvel de anlise micro conduziu a muitos insights com relao adinmica da vida social. O tema de conflito entre o indivduo e o contexto social, por exemplo, um que corre atravs de muitos aspectos de seu trabalho e que permite uma base de umapenetrante anlise do estado de alienao do homem moderno. Para ele, o indivduo tornou-seum mero dente de engrenagem numa grande organizao de coisas e poderes que lhe arranca dasmos todo o progresso, espiritualidade e valor, a fim de transform-los de suas formas subjetivasem forma de uma vida puramente objetiva (Simmel, 1950, p. 422).

    Os escritos de Simmel influenciaram desenvolvimentos em muitas reas, particularmenteaquelas de sociologia urbana, pesquisas em grupos experimentais, comportamento de grupos dereferncia, teoria de papeis e conflito funcionalista.

    George Herbert Mead (1863-1931) foi um dos filsofos sociais Americanos tambminfluenciado por correntes cruzadas de pensamento emergentes das ltimas dcadas do sculo

    XIX e primeiras dcadas do sculo XX. Em sua ampla contribuio filosofia social e psicologia social, percebe-se uma fuso das duas tradies do idealismo Germnico e dopositivismo Anglo-francs.

    Em seu livro Mind, Self and Society busca estabelecer como mente e pessoa surgemdentro do contexto de conduta social e interao. Sua explicao coloca nfase no papel dosgestos no processo de interao. V a noo de gesto em termos sociais - como parte de umato. Na interao entre animais o ato social ou conversa de gestos pode ser entendida emtermos de uma srie de smbolos para os quais as vrias partes respondem de acordo com ainterpretao colocada nos vrios gestos. Tal ao pode ser vista como uma forma decomunicao , em que os vrios gestos ou smbolos envolvidos influenciam estgios posteriores

    do ato.

    No caso dos seres humanos a situao um tanto diferente dos animais, uma vez que atravsde gestos vocais ou linguagem os indivduos tm a capacidade de se tornarem conscientes do

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    que esto fazendo. Para Mead, o mecanismo da linguagem que subjaz o desenvolvimento damente. Atravs de operao da mente o indivduo pode tornar-se o objeto de seus prpriospensamentos. Este o processo que subjaz o desenvolvimento da pessoa.

    Deste modo, para Mead, a conscincia do ser humano evolui atravs de um processo social;um processo de interao que envolve o desenvolvimento da linguagem e portanto mente epessoa. O ser humano, diferente dos outros origenismos animais, tem a capacidade de se tornar

    consciente do que ele est a fim. Para que isto acontea, ele deve ser capaz de interpretar osignificado de seus gestos. Isto envolve uma conversa interna ou processo de pensar de umponto de vista do que Mead chamou de o outro generalizado (Mead, 1934, p.155).

    Mead reconhece o papel desempenhado por seres humanos em influenciar seu ambiente,particularmente atravs da interpretao simblica das conseqncias dos vrios tipos decondies ambientais e de modos de interao. Concorda-se assim que os atores individuais tmno mnimo um papel mediador e interpretativo, seno inteiramente de controle ou de criao emrelao ao seu ambiente.

    Interacionismo Simblico.

    A noo deriva diretamente do trabalho de Mead e da distino que ele faz entre interaono-simblica e simblica. Como colocado por Blumer , um de seus ex-alunos e interpretes:

    "Na interao no-simblica os seres humanos respondem uns aos outros diretamente porgestos ou aes. Na interao simblica eles interpretam os gestos e atos uns dos outros na basedo significado produzido pela interpretao... A interao simblica envolve interpretao, oudeterminao de significado das aes ou afirmaes das outras pessoas, e definio, ouindicaes convergentes para outras pessoas de como elas devem agir. A associao humanaconsiste de um processo de interpretao e definio assim. Atravs deste processo osparticipantes ajustam seus prprios atos aos atos em andamento de outra pessoas e os guia aoassim fazer. (Blumer, 1966,p. 537 - 8).

    Teoria da Ao Social.

    A teoria da ao social deriva largamente do trabalho de Weber(1864-1920). O mtodo doentendimento interpretativo - verstehen - introduzido por Dilthey e elaborado por Weber, omtodo de algum se colocar no papel do ator como meio de relacionar a experincia interior aaes externas.

    Max Weber foi um tanto positivista em sua epistemologia geral, vez que desejou construiruma cincia social objetiva capaz de prover explicaes causais do fenmeno social. Para ele, asexplicaes sobre o mundo social tinham que ser adequadas ao nvel de significado.

    Weber construiu uma tipologia de ao social que distinguia entre: (a) ao orientada para atradio; (b) ao dominada por fatores emocionais; (c) ao orientada para algum valorabsoluto; e (d) ao racionalmente orientada para o alcance de fins especficos e em que se tomaem considerao as vantagens e desvantagens relativas de meios alternativos. Era seu ponto devista que estes tipos de ao poderiam ser teis ferramentas sociolgicas para analisar os modosde orientao de ao social na prtica. Este esquema foi normalmente negligenciado em favorde uma interpretao mais generalizada da perspectiva de ao que focaliza as maneiras como osindivduos interpretam a situao em que se encontram.

    Como sugerido por Cohen, a teoria da ao pode ser vista como consistindo de um nmero depressupostos que proporciona um modo de anlise para explicar a ao e conduta de indivduostpicos (atores e atores sociais) em situaes tpicas:

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    (i) o ator tem objetivos (ou metas, ou fins); suas aes so levadas avante para perseguir estesobjetivos.

    (ii) A ao freqentemente envolve a seleo de meios para atender a objetivos; mas mesmoonde parece que ela no existe, ainda assim possvel a um observador distinguir analiticamenteentre meios e objetivos.

    (iii) Um ator sempre tem muitos objetivos; suas aes em perseguio de qualquer um afetame so afetadas por suas aes em perseguio de outras.

    (iv) a perseguio de objetivos e a seleo de meios sempre ocorre dentro de situaes queinfluenciam o curso da ao.

    (v) o ator sempre faz certos pressupostos concernentes a natureza de seus objetivos e dapossibilidade de seu atendimento.

    (vi) a ao influenciada no somente pela situao mas tambm pelo conhecimento que oator tem dela.

    (vii) o ator tem certos sentimentos ou disposies afetivas que afetam tanto sua percepo desituaes como sua escolha de objetivos.

    (viii) o ator tem certas normas e valores que governam sua seleo de objetivos e seuordenamento deles a partir de um esquema de prioridades. (Cohen, 1968, p.69).

    Interpretado a partir deste ponto de vista, o efeito da teoria de ao Weberiana tem sido o deinjetar medidas de voluntarismo nas teorias de comportamento social permitindo o fato dosindivduos interpretarem e definirem suas situaes e agir de acordo com elas.

    Um dos mais proeminentes seguidores da teoria de ao Weberiana foi Talcott Parsons, emcujo trabalho clssicoA Estrutura da Ao Social (1949), argumentou que havia uma tendnciado trabalho de Durkheim, Marshall, Pareto e Weber convergirem em torno de uma teoria deAo voluntarista. Embora Parsons advogasse esta teoria voluntarista como uma perspectivasociolgica geral, na verdade seu prprio trabalho tornou-se muito mais firmemente deterministae foi eventualmente incorporado teoria dos sistemas sociais que se localizava numa regio maisobjetivista. Na observao de Giddens (1976, p.16) no havia qualquer ao na "estrutura dereferncia de ao" de Parsons, somente comportamento que propelido por disposies denecessidades e expectativas de papeis. Estabelece-se o cenrio, mas os atores apenasdesempenham de acordo com o script que j tinha sido escrito para ele. Tal a natureza daperspectiva funcionalista; seus pressupostos metatericos subjacentes somente permitem uma

    medio limitada de voluntarismo no comportamento humano.

    Teoria Integrativa.

    A teoria integrativa rene 4 correntes de pensamento: (a) o modelo de troca e poder de Blau;(b) a teoria de estrutura social e cultural de Merton; (c) o conflito funcionalista; e (d) a teoria dossistemas morfognicos.

    Cada um destas 4 linhas de pensamento se apiam no pressuposto de que o atingimento daordem social dentro da sociedade de algum modo problemtico e requer explicaes que noso normalmente proporcionadas dentro das fronteiras da teoria dos sistemas sociais.

    A teoria de Blau enfatiza o papel da troca e poder como uma fonte de integrao da vidasocial. A teoria de Merton da estrutura social e cultural tende a enfatizar as funesdesempenhadas por elementos da estrutura social no processo integrativo. O conflito

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    um sistema central de valores normativos. Ao fazer um rastreamento das possveis relaes entredois elementos da estrutura social - os objetivos culturais e os meios institucionalizados dealcan-los - Merton capaz de desenvolver uma tipologia de adaptao do indivduo que, emadio a conformidade, d lugar a comportamento aberrante associado com inovao,ritualismo, fuga e rebelio. (Merton, 1968, p. 194).

    Seu tratamento de comportamento desviante ou aberrante se coloca em total oposio a viso

    do interreacionismo simblico que ressalta o carter emergente de normas e valores. De umaperspectiva interacionista, as normas e valores so socialmente geradas e sustentadas pelos sereshumanos em suas interaes diria com os outros. Para Merton, eles so parte de um contextosocial predefinido dentro do qual a ao social acontece.

    De acordo com Merton, a teoria do grupo de referncia objetiva sistematizar as determinantese conseqncias daqueles processos de evoluo e de auto-avaliao em que o indivduo toma osvalores e padres de outros indivduos ou grupos como uma estrutura de referncia comparativa.(Merton, 1968, 288). A viso dos grupos de referncia um desenvolvimento direto do outrogeneralizado de Mead, noo esta que Mead usou para explicar a emergncia do selfatravs dainterao.

    Conflito Funcionalista.

    Representa uma fuso da tradio funcionalista com as teorias de Simmel e uma incorporaodo trabalho de Marx. As bases do conflito funcionalista em muitos aspectos foi colocado noclssico artigo de Merten de 1958, Funes Latentes e Manifestas. Seus argumentos foramdirigidos contra 3 postulados centrais da tradicional anlise funcional que ele argumentava seremdebatveis e desnecessrias a orientao funcional como tal. Estes eram: (a) o postulado daunidade funcional da sociedade - ou seja - que atividades sociais padronizadas ou itens culturaisso funcionais para o todo social ou sistema cultural; (b) o postulado do funcionalismo universalou seja, que todos os itens sociais e culturais preenchem funes sociolgicas; (c) o postulado daindispensabilidade - ou seja - que estes itens so conseqentemente indispensveis.

    Teoria dos Sistemas Morfognicos.

    um ramo da teoria integrativa principalmente associada com o trabalho de Buckley (1967) ecom o modelo de processo que ele advoga para o estudo da sociedade. Seu trabalho umatentativa de introduzir nas cincias sociais a moderna teoria dos sistemas refletida naciberntica, na teoria da informao e comunicao e na pesquisa dos sistemas gerais. Seutrabalho apresenta um modelo de sistema com a capacidade de explicar a maneira como associedades mudam e elaboram suas estruturas bsicas. Seu modelo abarca e tenta sintetizar toda

    uma gama de pensamento contido no paradigma funcionalista, desde o interacionismo at ateoria dos sistemas sociais, de passagem fazendo referncia a algumas idias de Marx.

    Depois de fazer uma ampla crtica aos modelos de sistemas orgnico e mecnico, comreferncia especfica a Parsons (1951) e a Homans (1950), Buckley desenvolve um modelo deprocesso que, em essncia, representa uma fuso das vrias correntes de interacionismo e damoderna teoria dos sistemas. Seu modelo tenta ligar os nveis de anlise micro