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C M Y K C M Y K CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 29 de março de 2011 • Opinião 19 » JORGE FONTOURA Professor titular do Instituto Rio Branco, é presidente do Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul Duas décadas de Mercosul Distritais » A Câmara Legislativa do Distrito Federal tem TV fora do ar há meses. O povo paga, mas é privado de saber o que acontece por lá. Todos os dias realiza sessões. É que em menos de três meses de mandato, pelo menos três deputados estão sob suspeita. Responsável » Especialistas da saúde, do direito e da economia esperam abertura de comissão. Desejam saber quem é o principal responsável pela venda de drogas. Está esclarecido, mas falta ordem da punição. Quem fabrica, produz, distribui e recebe dinheiro proveniente do crack. Destrói irremediavelmente o corpo, o espírito e o comportamento do viciado. Atinge todas as classes sociais. A campanha será ativa. Ceará » Jair Ximenes reuniu os cearenses de Brasília. Foi num encontro convocado pela Casa do Ceará. Almoço festivo, conversa alegre e ambiente favorável. Valeu a reunião, que ocorre todos os meses. Fernando César Mesquita divide a Presidência da Casa do Ceará com as obrigações como responsável pela Secretaria de Comunicação Social do Senado Federal. Princesa » Expectativa em relação ao Reino Unido. O príncipe William poderá oferecer modernidade. Como é jovem, as esperanças são de mudanças na Inglaterra. Com Winston Churchill começaram os bombardeios com foguetes alemães. Londres estava quase a zero quando o primeiro-ministro se dirigiu à nação com mensagem de esperança no futuro. O povo encheu-se de entusiasmo. A Inglaterra levantou a cabeça. Disposição à luta foi a grande vitória. Elizabeth II receberá na família Kate Minddelton, filha de piloto com uma comissária. O casamento será em abril próximo. Endemias » Começando por São Paulo, constata-se grande aumento nas endemias. A Alert, com trabalho organizado, fornece dados para facilitar o controle. Ao mesmo tempo, a comunicação com os estados coloca povo e autoridades prontos para iniciar campanha rápida, como merece o combate às doenças localizadas. Educação » Eugenio Giovenardi mostra que a coluna foi complacente com os parlamentares brasileiros. A Unicef levantou os dados. Há dois anos havia 680 milhões de crianças fora da escola. Os discursos são muitos e as ações não melhoram a situação. O leitor tem razão. Artesanato » Na área da Ceasa do DF há um grande mercado de artesanato. As portas estão fechadas, mas o lugar parece pronto para funcionar. Não há a menor explicação sobre o assunto. O povo, ao passar por lá, não encontra aviso. Museu do som » Ricardo Albin criou o Museu da Imagem e do Som em estados brasileiros. Detalhe à parte é que na Romênia também. Ali estão assuntos antigos ligados à colonização do Brasil. Melhorias » Foi feio o protesto no Novo Gama. A falta de iniciativa para melhorar a vida do trabalhador levou a população ao extremo. Quem trabalha no Plano Piloto leva até duas horas de viagem. Isso quando os ônibus funcionam todo o percurso. A briga é por melhorias. Japão » Já chegou a 10.035 o número de mortos na Japão. O desastre não acabou. Novo tremor e plutônio no solo das usinas são a má notícia. “A gargalhada é o sol que varre o inverno do rosto humano.” » Receita de Victor Hugo. A frase que não foi pronunciada Lucro a jato Foi uma discussão acalorada dentro do avião. Ao ver que o pas- sageiro escolheu o assento da saída de emergência, a aeromoça co- brou uma taxa adicional, já que o espaço era maior. A briga foi feia. O argumento do passageiro era plausível. Se escolheu a cadeira perto da saída de emergência, a sua responsabilidade seria maior, já que cabia a ele abrir a passagem em caso de necessidade. Não adiantou. Outros passageiros protestavam, dando o preço justo pe- lo espaço da cadeira apertada que ocupavam. Houve até quem fi- zesse piada. Em voos nacionais, uma barra de cereal. Internacio- nal, um tijolo. Por falar em alimentação, o sanduíche é tão ruim que a própria tripulação rejeita. Vai acabar virando moda levar farnel em viagem aérea. Para aferir a sanha por lucro das empresas aé- reas, o exemplo final. Se um médico estiver a bordo e for chamado para atendimento, pode passar a noite acordado, acompanhando o passageiro doente até o pouso da aeronave. Difícil acreditar que aquela aeromoça que cobrou o passageiro por sentar na poltrona de emergência tenha recebido instruções para pagar os honorários médicos do passageiro que trabalhou nas férias. (Circe Cunha) O presidente Barack Obama, dos Es- tados Unidos, assim justificou a in- tervenção armada na Líbia: “Eu quero que o povo americano saiba que o uso da força não é a nossa primeira opção e que não a adoto facilmente. Mas nós não poderíamos ficar inertes enquan- to um tirano dizia a seu povo que não ha- veria complacência”. Na véspera, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas dera a au- torização que legitimava a ação militar des- tinada a impedir o massacre das populações que haviam aderido à rebelião contra o go- verno de Muamar Kadafi. As nações buscavam justificativa para a guerra no tempo em que o direito interna- cional consistia tão somente na celebração e cumprimento de tratados, convenções e acordos entre as nações, até que os interes- ses de uma delas falasse mais alto que a ou- tra, para que todos os pactos se rompessem e começasse a carnificina. No plano das relações internacionais, em que prevalece a igualdade entre as par- tes, todas detentoras de soberania, não se havia criado qualquer medida sanciona- tória que correspondesse à penalidade prevista em abstrato na lei e determinada em concreto pelo juiz, até que o filósofo Emanuel Kant, num opúsculo que vale por muitos tratados, A paz dos cemitérios, pregou o concerto das nações, a formação de um organismo que reunisse todos os países em busca da realização da justiça em âmbito global. Criou-se, após o Tratado de Versalhes, que encerrou canhestramente a Primeira Guerra Mundial, com a imposição de san- ções exageradas aos vencidos, a Liga das Na- ções para tornar realidade o ideal kantiano, mas a loucura de Hitler, empolgando a rea- ção alemã, transformou a bandeira interna- cional em farrapos manchados do sangue de milhões de vítimas da Segunda Guerra. A persistência humana produziu a Organiza- ção das Nações Unidas que, mesmo enfra- quecida pela sucessão de genocídios mal re- solvidos, consegue equilibrar a insensatez dos grupos humanos. Hoje em dia os países civilizados não vão à guerra senão com a autorização do Conse- lho de Segurança da ONU. As sanções tradi- cionais como a retorsão (conjunto de pres- crições legais que, como represália de legis- lação idêntica, se aplicam aos súditos de na- ção estrangeira) e a retaliação (represália equivalente à pena de talião), como a sus- pensão da ajuda externa e o bloqueio eco- nômico, não têm eficácia porque há muitos meios de o país infrator suportar os efeitos adversos, muitas vezes refletidos sobre esta- dos inocentes. Quanto à autodefesa, a resposta armada a uma agressão externa, restou desmoraliza- da pela repetição de alegações mentirosas para o desfecho da guerra, como o assassi- nato do arquiduque Ferdinando, com que os alemães encobriam a volúpia pela con- quista de território e consolidação do domí- nio de sua indústria sobre a Europa de 1914. Ainda bem que essa não é mais a primeira opção de um país poderoso. A ONU engloba atualmente 192 nações que se reúnem em assembleia geral e for- mam organismos encarregados de atuação diversificada voltada para a promoção da paz e do desenvolvimento harmônico. A sua organização se faz no plano horizontal, um concerto de iguais, mas o seu Conselho de Segurança, que o Brasil pretende integrar como membro permanente, atualmente in- tegrado pelos Estados Unidos, França, Ingla- terra, Rússia e China, é o principal responsá- vel pela decisão quanto ao uso de força. Nos conflitos decorrentes do esfacela- mento da antiga Iugoslávia, com os conflitos étnicos entre sérvios, bósnios e croatas, a in- tervenção das Nações Unidas, utilizando tropas de diversos países, não evitou a perda de centenas de milhares de vidas e a bárbara prática de exterminação coletiva, que os lí- deres da matança denominavam “limpeza étnica”, mas, ao cabo de alguns anos, apli- cando a Resolução nº 1.674 do Conselho de Segurança, conseguiu estabilizar a região. Situação idêntica ocorreu em Ruanda, na África, em 1994, com o extermínio dos povos tutsi pelos hutus. Agora, o mundo espera que as forças in- terventoras da ONU, por enquanto limita- das à exclusão da zona aérea, consigam evi- tar a mortandade dos líbios rebeldes e livrar a Líbia da ditadura de Kadafi. C omo as efemérides são motivadoras de relembranças, o tempo é de refletir acerca do Mercosul, único processo de integração consequente da histó- ria latino-americana, com duas décadas de conquistas e de frustrações, desde sua ori- gem no Tratado de Assunção, em 26 de mar- ço de 1991. Para o Brasil, em particular, que nasceu e cresceu de costas para o continente, a possi- bilidade de aproximar-se de seus vizinhos significou divisor de águas e permitiu que o país assumisse seu viés sul-americano, ape- nas que de fala lusitana. No entanto, os atro- pelos para o aprofundamento do bloco, difi- culdades mormente derivadas dos regimes presidencialistas atrelado à soberania e ao imediatismo das soluções que ele requer, têm atuado em desfavor da instituição e de seus propósitos. Ainda a comprometer melhor desempe- nho há o contexto externo, com sucessivas crises nacionais e internacionais, a criar obstáculos e a agravar assimetrias entre paí- ses membros. Com isso, parece inevitável a tentação dos governos a reavivarem a vora- gem do protecionismo econômico, grande inimigo da integração regional. As duas grandes massas críticas que refle- tem e opinam sobre o Mercosul têm sido não apenas no Brasil a imprensa e a acade- mia. A imprensa, no mais das vezes, é condi- cionada pelo nacionalismo que emociona e a academia, pela ingenuidade que tira boas notas. Assim, a reflexão acerca do real signi- ficado do convívio comunitário entre os paí- ses do Cone Sul tem sido eclipsiada por gra- ves dilemas de origem. Ademais, a tendência de comparar-se a integração daqui com aquela que se verifica na Europa parece irrefreável, inconsciente da absoluta distinção a permear os dois pro- cessos: basta lembrar que todos os estados comunitários europeus são parlamentaris- tas. Talvez o nome Mercado Comum do Sul não tenha sido boa escolha, a induzir expec- tativas vãs e mal-entendidos inevitáveis. Em meio ao recorrente noticiário pesa- roso sobre o Mercosul, no entanto, os si- nais vitais do bloco continuam fortes e in- cisivos, com razões de sobra para motivar as comemorações. A partir das conquistas verificadas, não é temerário afirmar que nunca mais haverá uma América Latina sem o Mercosul, ou, pelo menos, sem os princípios e sem as soluções forjados pela vida comunitária. Assim como os povos nunca voltam a comer com as mãos, há certas conquistas históricas que não com- portam retrocessos. Se de fato há dificuldades econômicas, com travas ao comércio internacional e com o uso de medidas protecionistas, a integra- ção regional é mais que isso: além do comér- cio que se expressa pela lógica fácil das ci- fras, nem todas as questões importantes po- dem restringir-se a números. A consolida- ção das relações entre Brasil e Argentina é, nesse sentido, valioso exemplo de substrato mercosulino, inconteste na primeira viagem internacional realizada pela nova mandatá- ria brasileira, destinada a Buenos Aires. O breve e denso percurso do Mercosul é, por conseguinte, importante exemplo de como projetos estratégicos, ainda que intra- duzíveis em cifras, podem transcender co- mo processo histórico. Ademais, países ca- rentes de inserção internacional não podem prescindir de blocos econômicos, que sedi- mentam a convivência harmoniosa entre democracias pluralistas. Caberá ao novo gestor da integração dos sócios de Assunção, embaixador Samuel Pi- nheiro Guimarães, recentemente escolhido pelos países membros como mentor co- mum do bloco, a responsabilidade de em- balar os cristais e de abrir portas recalcitran- tes aos avanços inadiáveis que o Mercosul demanda. Para o Brasil da hora, que se destaca no cenário mundial e que pode fomentar o desenvolvimento dos vizinhos, é oportu- no ter sempre em mente a exortação de Marguerite Yourcenar, em memorável conferência no Instituto Francês de Tó- quio: o conhecimento dos mundos estran- geiros, seja no tempo, seja no espaço, tem por resultado destruir a estreiteza de espi- rito e os preconceitos, mas também o en- tusiasmo ingênuo que nos faz acreditar na existência do paraíso e na ideia tola de que temos alguma importância. O uso da força nas relações internacionais » LÁZARO GUIMARÃES Magistrado e professor ([email protected]) Nós havíamos combatido, daqui, as comissões de sindicância da Novacap, que não atingiram a plenitude de sua atividade. Novos argumentos surgem com o correr dos dias, e queremos suspender os conceitos, até que novos esclarecimentos venham à lume. (Publicado em 5/4/1961) História de Brasília VISTO, LIDO E OUVIDO ARI CUNHA DESDE 1960 [email protected] c co om m C Ci i r rc ce e C Cu un nh ha a / / / / [email protected]

C B Opinião Ousodaforçanas ARICUNHA - Mercosur · 2011. 12. 22. · C M Y K C M Y K CORREIO BRAZILIENSE • Brasília,terça-feira,29demarçode2011 • Opinião • 19 »JORGEFONTOURA

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Page 1: C B Opinião Ousodaforçanas ARICUNHA - Mercosur · 2011. 12. 22. · C M Y K C M Y K CORREIO BRAZILIENSE • Brasília,terça-feira,29demarçode2011 • Opinião • 19 »JORGEFONTOURA

C M Y KCMYK

CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 29 de março de 2011 • Opinião • 19

» JORGE FONTOURAProfessor titular do Instituto Rio Branco, é presidente do Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul

Duas décadas de Mercosul

Distritais» A Câmara Legislativa do

Distrito Federal tem TV forado ar há meses. O povopaga, mas é privado desaber o que acontece por lá.Todos os dias realizasessões. É que em menos detrês meses de mandato,pelo menos três deputadosestão sob suspeita.

Responsável» Especialistas da saúde, do

direito e da economiaesperam abertura decomissão. Desejam saberquem é o principalresponsável pela venda dedrogas. Está esclarecido,mas falta ordem dapunição. Quem fabrica,produz, distribui e recebedinheiro proveniente docrack. Destróiirremediavelmente o corpo,o espírito e ocomportamento doviciado. Atinge todas asclasses sociais.A campanha será ativa.

Ceará» Jair Ximenes reuniu os

cearenses de Brasília. Foinum encontro convocadopela Casa do Ceará. Almoçofestivo, conversa alegre eambiente favorável. Valeu areunião, que ocorre todosos meses. Fernando CésarMesquita divide aPresidência da Casa doCeará com as obrigaçõescomo responsável pelaSecretaria de ComunicaçãoSocial do Senado Federal.

Princesa» Expectativa em relação ao

Reino Unido. O príncipeWilliam poderá oferecermodernidade. Como éjovem, as esperanças são demudanças na Inglaterra.ComWinston Churchillcomeçaram os bombardeioscom foguetes alemães.Londres estava quase a zeroquando o primeiro-ministrose dirigiu à nação commensagem de esperança nofuturo. O povo encheu-se deentusiasmo. A Inglaterralevantou a cabeça.Disposição à luta foi a grandevitória. Elizabeth II receberána família Kate Minddelton,filha de piloto com umacomissária. O casamentoserá em abril próximo.

Endemias» Começando por São Paulo,

constata-se grandeaumento nas endemias. AAlert, com trabalhoorganizado, fornece dadospara facilitar o controle. Aomesmo tempo, acomunicação com osestados coloca povo eautoridades prontos parainiciar campanha rápida,como merece o combate àsdoenças localizadas.

Educação» Eugenio Giovenardi mostra

que a coluna foicomplacente com osparlamentares brasileiros. AUnicef levantou os dados.Há dois anos havia 680milhões de crianças fora daescola. Os discursos sãomuitos e as ações nãomelhoram a situação. Oleitor tem razão.

Artesanato» Na área da Ceasa do DF há

um grande mercado deartesanato. As portas estãofechadas, mas o lugarparece pronto parafuncionar. Não há a menorexplicação sobre o assunto.O povo, ao passar por lá,não encontra aviso.

Museu do som» Ricardo Albin criou o

Museu da Imagem e doSom em estados brasileiros.Detalhe à parte é que naRomênia também. Ali estãoassuntos antigos ligados àcolonização do Brasil.

Melhorias» Foi feio o protesto no Novo

Gama. A falta de iniciativapara melhorar a vida dotrabalhador levou apopulação ao extremo.Quem trabalha no PlanoPiloto leva até duas horas deviagem. Isso quando osônibus funcionam todo opercurso. A briga é pormelhorias.

Japão» Já chegou a 10.035 o

número de mortos naJapão. O desastre nãoacabou. Novo tremor eplutônio no solo das usinassão a má notícia.

“A gargalhada é o sol que varreo inverno do rosto humano.”» Receita de Victor Hugo.

A frase que não foi pronunciada

Lucro a jatoFoi uma discussão acalorada dentro do avião. Ao ver que o pas-

sageiro escolheu o assento da saída de emergência, a aeromoça co-brou uma taxa adicional, já que o espaço era maior. A briga foi feia.O argumento do passageiro era plausível. Se escolheu a cadeiraperto da saída de emergência, a sua responsabilidade seria maior,já que cabia a ele abrir a passagem em caso de necessidade. Nãoadiantou. Outros passageiros protestavam, dando o preço justo pe-lo espaço da cadeira apertada que ocupavam. Houve até quem fi-zesse piada. Em voos nacionais, uma barra de cereal. Internacio-nal, um tijolo. Por falar em alimentação, o sanduíche é tão ruim quea própria tripulação rejeita. Vai acabar virando moda levar farnelem viagem aérea. Para aferir a sanha por lucro das empresas aé-reas, o exemplo final. Se um médico estiver a bordo e for chamadopara atendimento, pode passar a noite acordado, acompanhandoo passageiro doente até o pouso da aeronave. Difícil acreditar queaquela aeromoça que cobrou o passageiro por sentar na poltronade emergência tenha recebido instruções para pagar os honoráriosmédicos do passageiro que trabalhou nas férias. (Circe Cunha)

Opresidente Barack Obama, dos Es-tados Unidos, assim justificou a in-tervenção armada na Líbia: “Euquero que o povo americano saiba

que o uso da força não é a nossa primeiraopção e que não a adoto facilmente. Masnós não poderíamos ficar inertes enquan-to um tirano dizia a seu povo que não ha-veria complacência”.

Na véspera, o Conselho de Segurança daOrganização das Nações Unidas dera a au-torização que legitimava a ação militar des-tinada a impedir o massacre das populaçõesque haviam aderido à rebelião contra o go-verno de Muamar Kadafi.

As nações buscavam justificativa para aguerra no tempo em que o direito interna-cional consistia tão somente na celebração ecumprimento de tratados, convenções eacordos entre as nações, até que os interes-ses de uma delas falasse mais alto que a ou-tra, para que todos os pactos se rompesseme começasse a carnificina.

No plano das relações internacionais,em que prevalece a igualdade entre as par-tes, todas detentoras de soberania, não sehavia criado qualquer medida sanciona-tória que correspondesse à penalidadeprevista em abstrato na lei e determinadaem concreto pelo juiz, até que o filósofoEmanuel Kant, num opúsculo que valepor muitos tratados, A paz dos cemitérios,pregou o concerto das nações, a formaçãode um organismo que reunisse todos ospaíses em busca da realização da justiçaem âmbito global.

Criou-se, após o Tratado de Versalhes,que encerrou canhestramente a PrimeiraGuerra Mundial, com a imposição de san-ções exageradas aos vencidos, a Liga das Na-ções para tornar realidade o ideal kantiano,mas a loucura de Hitler, empolgando a rea-ção alemã, transformou a bandeira interna-cional em farrapos manchados do sanguede milhões de vítimas da Segunda Guerra. Apersistência humana produziu a Organiza-ção das Nações Unidas que, mesmo enfra-quecida pela sucessão de genocídios mal re-solvidos, consegue equilibrar a insensatezdos grupos humanos.

Hoje em dia os países civilizados não vãoà guerra senão com a autorização do Conse-lho de Segurança da ONU. As sanções tradi-cionais como a retorsão (conjunto de pres-crições legais que, como represália de legis-lação idêntica, se aplicam aos súditos de na-ção estrangeira) e a retaliação (represáliaequivalente à pena de talião), como a sus-pensão da ajuda externa e o bloqueio eco-nômico, não têm eficácia porque há muitosmeios de o país infrator suportar os efeitosadversos, muitas vezes refletidos sobre esta-dos inocentes.

Quanto à autodefesa, a resposta armadaa uma agressão externa, restou desmoraliza-da pela repetição de alegações mentirosaspara o desfecho da guerra, como o assassi-nato do arquiduque Ferdinando, com queos alemães encobriam a volúpia pela con-quista de território e consolidação do domí-nio de sua indústria sobre a Europa de 1914.Ainda bem que essa não é mais a primeiraopção de um país poderoso.

A ONU engloba atualmente 192 nações

que se reúnem em assembleia geral e for-mam organismos encarregados de atuaçãodiversificada voltada para a promoção dapaz e do desenvolvimento harmônico. A suaorganização se faz no plano horizontal, umconcerto de iguais, mas o seu Conselho deSegurança, que o Brasil pretende integrarcomo membro permanente, atualmente in-tegrado pelos Estados Unidos, França, Ingla-terra, Rússia e China, é o principal responsá-vel pela decisão quanto ao uso de força.

Nos conflitos decorrentes do esfacela-mento da antiga Iugoslávia, com os conflitosétnicos entre sérvios, bósnios e croatas, a in-tervenção das Nações Unidas, utilizando

tropas de diversos países, não evitou a perdade centenas de milhares de vidas e a bárbaraprática de exterminação coletiva, que os lí-deres da matança denominavam “limpezaétnica”, mas, ao cabo de alguns anos, apli-cando a Resolução nº 1.674 do Conselho deSegurança, conseguiu estabilizar a região.Situação idêntica ocorreu em Ruanda, naÁfrica, em 1994, com o extermínio dos povostutsi pelos hutus.

Agora, o mundo espera que as forças in-terventoras da ONU, por enquanto limita-das à exclusão da zona aérea, consigam evi-tar a mortandade dos líbios rebeldes e livrara Líbia da ditadura de Kadafi.

Como as efemérides são motivadorasde relembranças, o tempo é de refletiracerca do Mercosul, único processode integração consequente da histó-

ria latino-americana, com duas décadas deconquistas e de frustrações, desde sua ori-gem no Tratado de Assunção, em 26 de mar-ço de 1991.

Para o Brasil, em particular, que nasceu ecresceu de costas para o continente, a possi-bilidade de aproximar-se de seus vizinhossignificou divisor de águas e permitiu que opaís assumisse seu viés sul-americano, ape-nas que de fala lusitana. No entanto, os atro-pelos para o aprofundamento do bloco, difi-culdades mormente derivadas dos regimespresidencialistas atrelado à soberania e aoimediatismo das soluções que ele requer,têm atuado em desfavor da instituição e deseus propósitos.

Ainda a comprometer melhor desempe-nho há o contexto externo, com sucessivascrises nacionais e internacionais, a criarobstáculos e a agravar assimetrias entre paí-ses membros. Com isso, parece inevitável atentação dos governos a reavivarem a vora-gem do protecionismo econômico, grandeinimigo da integração regional.

As duas grandes massas críticas que refle-tem e opinam sobre o Mercosul têm sidonão apenas no Brasil a imprensa e a acade-mia. A imprensa, no mais das vezes, é condi-cionada pelo nacionalismo que emociona ea academia, pela ingenuidade que tira boas

notas. Assim, a reflexão acerca do real signi-ficado do convívio comunitário entre os paí-ses do Cone Sul tem sido eclipsiada por gra-ves dilemas de origem.

Ademais, a tendência de comparar-se aintegração daqui com aquela que se verificana Europa parece irrefreável, inconscienteda absoluta distinção a permear os dois pro-cessos: basta lembrar que todos os estadoscomunitários europeus são parlamentaris-tas. Talvez o nome Mercado Comum do Sulnão tenha sido boa escolha, a induzir expec-tativas vãs e mal-entendidos inevitáveis.

Em meio ao recorrente noticiário pesa-roso sobre o Mercosul, no entanto, os si-nais vitais do bloco continuam fortes e in-cisivos, com razões de sobra para motivaras comemorações. A partir das conquistasverificadas, não é temerário afirmar quenunca mais haverá uma América Latinasem o Mercosul, ou, pelo menos, sem osprincípios e sem as soluções forjados pelavida comunitária. Assim como os povosnunca voltam a comer com as mãos, hácertas conquistas históricas que não com-portam retrocessos.

Se de fato há dificuldades econômicas,com travas ao comércio internacional e como uso de medidas protecionistas, a integra-ção regional é mais que isso: além do comér-cio que se expressa pela lógica fácil das ci-fras, nem todas as questões importantes po-dem restringir-se a números. A consolida-ção das relações entre Brasil e Argentina é,

nesse sentido, valioso exemplo de substratomercosulino, inconteste na primeira viageminternacional realizada pela nova mandatá-ria brasileira, destinada a Buenos Aires.

O breve e denso percurso do Mercosul é,por conseguinte, importante exemplo decomo projetos estratégicos, ainda que intra-duzíveis em cifras, podem transcender co-mo processo histórico. Ademais, países ca-rentes de inserção internacional não podemprescindir de blocos econômicos, que sedi-mentam a convivência harmoniosa entredemocracias pluralistas.

Caberá ao novo gestor da integração dossócios de Assunção, embaixador Samuel Pi-nheiro Guimarães, recentemente escolhidopelos países membros como mentor co-mum do bloco, a responsabilidade de em-balar os cristais e de abrir portas recalcitran-tes aos avanços inadiáveis que o Mercosuldemanda.

Para o Brasil da hora, que se destaca nocenário mundial e que pode fomentar odesenvolvimento dos vizinhos, é oportu-no ter sempre em mente a exortação deMarguerite Yourcenar, em memorávelconferência no Instituto Francês de Tó-quio: o conhecimento dos mundos estran-geiros, seja no tempo, seja no espaço, tempor resultado destruir a estreiteza de espi-rito e os preconceitos, mas também o en-tusiasmo ingênuo que nos faz acreditar naexistência do paraíso e na ideia tola de quetemos alguma importância.

O uso da força nasrelações internacionais

» LÁZARO GUIMARÃESMagistrado e professor ([email protected])

Nós havíamos combatido, daqui, as comissões de sindicânciada Novacap, que não atingiram a plenitude de sua atividade.Novos argumentos surgem com o correr dos dias, e queremossuspender os conceitos, até que novos esclarecimentos venham àlume. (Publicado em 5/4/1961)

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VISTO, LIDO E OUVIDO

ARI CUNHADESDE 1960

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