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C U P I M

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Revista Cupim. Criada com objetivos acadêmicos para a Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação.

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Sumário5

16

128Bichos no metrô Ensaio:

ParáPoliomielite

Gastronomia: dicasde sobrevivência...

Sexo virtual 20 Segurança:

DEIC

23 Política: Denúncia 26

30

18

32

39

46

41

CupimEdição nº 1

Cuba livre Banheirospúblicos

A magia da ilustração

53 55

CinelândiaEm que posso ajudar...?

Capa

Homenagem:Itagyba Kuhlmann

49Virada cultural

A balada que abala

57 Humor 58 Charge

... o cupins

C upim, segundo nosso amigo dicionário, é a denominação comum dada aos insetos sociais da ordem dos Isópteros. Não! Não somos insetos sociais, nem ao menos temos como primórdio corroer

de dentro para fora o mercado editorial. Mas como não temos interesse, no que a maioria das revistas publica, pode nos chamar de “do contra”.

Queremos falar sobre sexo e não pornografia, personalidades polêmicas e não celebridades instantâneas, falar de política e não politicagem, consumo e não consumismos, falar sobre interesse público, não interesse do público. Falar com intensidade e não, superficialidade.

Traremos aos leitores, matérias com linguagem objetiva e irreverente, apimentada e irônica. Trabalhando, ora com intertextualidade e referências históricas, ora com figuras de linguagem e metáforas imagéticas.

Faremos junções entre textos, fotos e ilustrações com o intuito de criar um universo imagético repleto de informações, objetivas ou não, que uma ilustração é capaz de proporcionar, permitindo ao leitor infinitas possibilidades de composição.

Nós...

... os cupins

carta ao leitor

Everson Bertucci

bichos no metrô

O celular despertou muito cedo.

-- bosta de vida!Acordei. Liguei o piloto automático, desliguei

o despertador, levantei, me troquei, escovei os den-tes, comi qualquer coisa, peguei minha mochila-

pen-drive-carteira-canetas-mar-mita-água-escova-de-dente-colí-rio-óculos-máquina-fotográfica-revistas-biscoito e fui trabalhar.

No trabalho, a rotina mortificante de sempre. Fim do dia. Felicidade, enfim. Durmo no trajeto até a faculdade. Fim da aula. Sigo até o metrô. O pi-loto automático sempre ligado. Pessoas, prédios, carros. Ouve-se muito barulho. No fim, é tan-ta coisa que tenho a impres-são, à noite, que não vi nada durante o dia.

Desço as escadas da es-tação Ana Rosa, passo pela ca-traca e me direciono à plataforma. Estou cansado. O metrô se aproxima, pára, abre as portas e num átimo de se-gundo sou arremessado para dentro. Foi tão rápido que só me dou conta que estou no va-gão quando sinto meu rosto grudado no vidro de uma das portas.

Após um certo esforço, consigo virar meu rosto para trás para ver o que acontecia e para minha surpresa e espanto não havia pessoas no vagão. Apenas bichos. Pareciam selva-gens. Vacas, cavalos, éguas, ga-linhas, veados, muitos burros, um elefante e uma girafa. Eram grunhidos, relinches, mu-gidos e outros tantos sons mis-turados que mal podia distin-

APERTADINHO

guir seus emissores.Não sabia o que fazer, nem co-

mo reagir. Preferi ficar imóvel, esperan-do pacientemente pela morte. Percebo que há um certo código entre eles, que foram se dividindo em núcleos. As gali-nhas cacarejavam entre si, os burros se reuniram num canto, a girafa e o ele-fante se juntaram nas poltronas cin-zas, as vacas mugiam demonstrando uma certa felicidade e os veados fica-ram sentados e quietos numa posição muito reservada.

Estava começando a ficar tranqüilo quando uma égua deu uma virada e sua crina veio de encontro di-reto com o meu rosto. Aquilo queimou minha face. Senti uma vontade de xin-gar ou mesmo de esmurrar, mas fiquei intimidado pela possibilidade de levar um coice fulminante do cavalo que a acompanhava.

Ao parar na estação São Joa-quim a situação piorou. Mais bichos fo-ram empurrados para dentro do vagão e aquilo virou uma lata de sardinha. Fi-quei prensado entre um burro, um ca-valo e uma égua. Os pêlos do cavalo, que eram de uma espessura grosseira e de um cheiro insuportável, começa-ram a me incomodar - embora não des-se para saber se o mal cheiro era do burro ou do cavalo. Da égua não digo, pois parecia bem limpa e muito bem cuidada.

Tudo estava indo bem até que umas galinhas, distraídas, pisaram no joanete da girafa, que ficou irritadíssi-ma. Começaram uma discussão ofensi-va. Identificava-se apenas os gritos. As outras galinhas entraram na discus-são. O elefante tentou apaziguar, mas foi totalmente ofendido por uma das ga-linhas, surgindo então uma nova dis-cussão. Travaram uma briga ferrenha até que uma galinha foi arremessada na porta. Viu-se apenas seu deslizar até o chão, desmaiada. Os cavalos

fim e se intrometeram na briga. -- vaca!-- galinha!-- veado!-- cavalo!-- égua!-- girafa!-- elefante!

Para a minha sorte, ao chegar na estação da Sé as portas do lado on-de eu me encontrava foram as que se abriram. Saí apressado, tentando fu-gir daquela selvageria. Ao olhar para trás, noto que todos aqueles bichos saíam acelerados do vagão. O elefante enfiou o pé entre o vagão e a platafor-ma e esparramado no chão foi pisotea-do. Por um momento senti vontade de ajudá-lo, mas fui impedido pelo arras-tão de bichos vindo em minha dire-ção. Corri até a saída e finalmente passei pela catraca. Estava a salvo, pensei, eles não conseguirão atraves-sar. Fui para um canto e, tremendo, fi-quei olhando.

Para meu desespero, todos eles também começaram a atravessar a ca-traca. Fechei os olhos e aproveitei pa-ra pedir, resumidamente, perdão a Deus por todos os meus pecados. “Ave Maria, cheia de graça, o senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres”... Começou a demorar e na-da de um ataque. Nenhuma agressão, nenhum coice, nada. Resolvi abrir os olhos e ver o que estava acontecendo. Surpresa: ao atravessar a catraca, to-dos mudavam de comportamento. O jeito, os gestos. Nenhum sinal de agressividade. Passavam direto por mim e seguiam em frente. Pareciam não ser mais os mesmos. Cada um se-guindo distintos caminhos. Uns apres-sados, outros, nem tanto. Não pude evitar as interrogações.

Saí correndo da estação à pro-cura de um espelho. фф

ensaioLais Mendonça

"Lágrima que brota dos andesCordilheira cristalina de esperança

Eldorado do povo amazônicoLabirinto nativo de águas barrentas

Gigante de encantos e lendasSantuário de peixes e mananciais

Fertilizador de igarapés, lagos, furos e paranás

Amazonas, das AmazonasDo repiquete, da piracema,Do pasto novo na vazanteE vida nova na enchente

Amazonas, das AmazonasDa pororoca

E bem nutridos afluentesNegro magnífico, grandioso JuruáBravo Madeira, misterioso Xingú

Rico Trombetas, lendário NhamundáImponente Purus,

Maravilhoso TapajósDeslumbrante Jiapurá"

"Rei dos Rios" Marcos Lima e Inaldo Medeiros

quarto A123

Para quem sempre se utiliza do Metrô Clíni-cas que fica a poucos metros do Instituto de

Ortopedia (HC), não imagina que há 33 anos Eliana Zagui, 35, reside nesse que tornou-se seu lar após ter contraído o ví-rus da poliomielite quando ti-nha um ano e nove meses de idade. Ela é natural de Guari-ba (SP) onde vive seus pais Carlos Zagui e Tereza Jorge Vil-kas Zagui. Eliana é uma exí-mia pintora de quadros com a boca, técnica que vem adqui-rindo há 11 anos com a volun-tária Ursula J. Carvalhaes e já obteve reconhecimento na Suí-ça por meio de exposições.

Com extrema destreza manipula o pincel em sua boca como se o fizesse com as mãos. A duras penas obteve essa autonomia. Ursula demonstra extrema admiração por sua tutelada e enche-se de orgulho ao descrever seus primeiros passos para adquirir tamanho nível técni-co. Enquanto conversávamos, Zagui, em meio a risadas tomava seu suco com um canudinho, desempenhando sua “perfor-mance” extremamente eficiente não der-rubando uma gota sequer e ajeitando o copo apenas com uma palheta. Eliana respira por meio de aparelhos sem os quais só agüentaria 6 horas. Apesar das circunstâncias ela se demonstra muito otimista e esperançosa.

No quarto A123 reside com mais um colega Paulo Oliveira desde sua infân-cia, também portador de Poliomielite. Al-moça as 11h30 e janta as 17h30. Cedo, por motivos de regulamento interno. Ela gosta de comer pizza. Eliana tem uma roti-na bastante cheia para um portador de Pólio. Entre ida e vinda de enfermeiros, assim como a pintura, ela também escre-ve um livro autobiográfico iniciado em 2002, por idéia de uma enfermeira e pre-tende lançá-lo em 2010, pela editora Bela Letra. Gosta de navegar pela internet (se utiliza de uma palheta para digitar eficien-temente bem) e também está cursando o ensino médio que após conclui-lo, preten-

Alexandre Oliveira da Silva

A história da mulher que vive há 33 anos no Hospital das Clínicas em São Paulo

se graduar em psicologia. Apesar de sua condição,

Eliana tenta manter-se o mais próximo de uma vida normal. “Aceitar é extremamente difícil, me acostumei a conviver nessa si-tuação e como qualquer ser hu-mano, dito "normal", tenho meus momentos de depressão, angús-tia, raiva, revolta, mas é superá-vel, pois não perco a fé.

Quando se é criança, a de-pressão, angústia, raiva, revolta, é lidada de uma maneira e hoje é de outra maneira, outro olhar, pensar, enfim”. “Acordam-me en-tre 08h30, 09h00, tiram todos os calços do meu corpo (travessei-ros, rolo feito de cobertor forrado com lençol) me colocam para fa-zer xixi e escovam meus dentes. De segunda, quarta e sexta, são os dias de lavar a cabeça.

Depois do banho tomado, corpo arrumado na lateral esquer-da (lado que se inclina para pin-tar), tomo café, vem a voluntária (Ursula) para me ajudar na pintu-ra (às sextas-feiras). Chega a ho-ra do almoço, que sempre antes elas (as enfermeiras) vêm para dar os cuidados. Faço xixi, às ve-zes cocô, aspiram minha traquéia, me viram para o lado di-reito e aí senta uma delas ao meu lado para me servir o almoço.

Às duas horas da tarde, vêm de novo para me virar, por para fazer (as necessidades) se eu tiver com vontade. Às vezes tenho aula, ou pinto os artesanatos quando recebo uma amiga que me ajuda, às vezes leio a tarde to-da, ou tenho visita.

Chega a janta. É a hora da higiene íntima, faço xixi, lavam com sabonete e trocam a calcinha.

Passam um pano molhando no meu rosto, lavam meu óculos, me aspiram, colocam o compu-tador do meu lado e senta uma delas para me dar a janta, mas nem sempre eu janto todos os dias”. Seu café da manha é: pacote com duas torradas, mamão, ameixa e chá.

Eliana recebe visitas quase que diariamen-te e dispõe, diz ela, de vários amigos que esporadi-camente acompanham-na em passeios fora do Hospital. “são esporádicos porque demanda muita mobilização para minha saída e esse processo é muito burocrático” - reclama. “Para eu ficar 12 ho-ras fora daqui, preciso de um mês de antecedên-cia. A pessoa que quiser me levar para passar um dia em sua casa, seja onde for, tem que assinar um termo de responsabilidade, tem que haver um médico, um auxiliar de enfermagem e um técnico de gasoterapia, sendo que essas três pessoas não podem estar trabalhando em lugar nenhum e sim estarem de folga. O médico tem que vir assinar um termo de responsabilidade, o hospital inteiro assina a papelada, alugo ambulância. Mesmo re-solvendo dentro de um mês, se chegar no dia do passeio e acontecer de alguém não puder acompa-nhar, vai tudo por água abaixo”. Conta que em 2002 foi para o casamento do irmão de helicópte-ro particular, cedido pelo então governador Mario Covas.

Apesar de estar “sempre” rodeada de ami-gos, diz se sentir muito só. Em conversas pelo MSN, pois o acessa quase todas as noites perma-necendo muitas vezes até a madrugada em conta-to com amigos, confessou sonhar em conhecer alguém e poder sair do Hospital. Porém não gosta de comentar tal situação, quanto mais fala sobre sua “solidão” mais ela aumenta. Contudo relata já ter vivenciado um romance com alguém que ape-nas denomina de Ro/SP (assegurando-lhe anoni-mato) em 1997. Foi o seu primeiro beijo. Falando um pouco sobre sua família, coloca que não há muito contato entre eles: “Infelizmente, a família num modo geral é estranho, porque não existiu o convívio diário. Garanto que você sabe um pouco mais sobre mim do que meus pais e irmão”. Há certo sentimento de culpa entre todos, relata. “Meu pai em si, se culpa por ter feito pouco ou na-da e o meu irmão não comenta muito, mas emoci-onalmente ele sofreu muito.

Minha mãe não aguenta falar do assunto, pois co-meça a chorar. Zagui tem noção que seu quadro é irrever-sível, contudo diz esperar por um milagre.

Sobre seus gostos pessoais, revela que gosta de fil-mes como Jogos Mortais e Pássaros Feridos (The Thorn-birds). Na internet adora conversar, conhecer novas amizades e ficar respondendo emails de amigos, mas só os que classifica como sinceros. Além da pintura, lê livros e faz artesanato. ”Pinto porta-retratos, caixas, coisas de MDF no geral”. “Gosto muito de uma escritora chamada Danielle Steell, ela escreve muitos romances, dramas e têm alguns que são muitos bons, o último que li dela foi “Porto Seguro”. Agora estou lendo um que se chama: “A Sombra do Vento”. É um suspense meio misterioso, meio terror, é mais misterioso do que terror, muito bom!”.

Perguntamos se gostaria que sua vida fosse diferen-te e se teria raiva da situação a qual se encontra, respon-de: “A questão de tentar entender o porquê tive poliomielite, hoje em dia já estou muito mais tranqüila, pois não culpo meus pais e nem a Deus. Tudo aconteceu porque tinha que acontecer e ainda bem que estou viva. Se Já fiquei revoltada? Conflitante? Tive fases terríveis! Se já deixaram de existir hoje em dia? Não, porém, minha revol-ta hoje em dia, está muito ligada a decepções com o ser humano, no modo geral. O modo que as pessoas vêem e cuidam da vida dos outros, a pressa de querer fazer tudo

rápido para ganhar di-nheiro.

O que eu queria que fosse diferente hoje em dia, é que as pessoas parassem de matar umas às outras e a si mesmas no sentido inter-no. Todos se tornam egoístas, frios, ganancio-sos, ficam competindo para quem vai ficar com o prêmio do mais malva-do ou preguiçoso a troco de nada, sendo que to-dos irão morrer virar bos-ta para os vermes comerem.

Queria poder al-gum dia na minha vida, ter a experiência de per-manecer uns dias fora daqui, mas com a garan-tia de que não perderei meu lugar e nem, muito menos, ter a ameaça de ser retirada, só por ficar uns dias fora. Acredito que se isso acontecesse, será uma vez só, sem o direito de repetir a dose e claro, não repetiria sem-pre, só em casos extre-mamente excepcionais.

Mas sonho é so-nho. Meus conflitos hoje em dia, estão ligados no fator emocional, a minha extrema teimosia, ao fa-tor de viver verdadeira-mente uma relação amorosa independente de sexo, mas sem ser muito interrogada, vigia-da, atrapalhada, negada, sem falatórios maléficos para atrapalhar a rela-ção, enfim”. фф

manual prático de sobrevivência num boteco de quinta durante um ataque de fome no meio do nada

Fabi Catarse*

MEXEU... FEDEU!

1°° oo tteessttee ddoo bbaallccããoo - a fome é grande, a localidade não oferece opções, o jeito é entrar no único 'estabelecimento' que oferece 'coisas' de comer. Assim que en-

trar, de modo algum sente-se a mesa (se hou-ver), antes, vá ao balcão para um rápido teste: encoste seu antebraço balcão e conte até 3. Se sua pele não aderir à gordura acumulada do bal-cão, fique parcialmente feliz, sinal de que ele foi limpo há pelo menos 6 meses. Caso sua pele fi-que grudada, mas se solte depois um leve pu-xãozinho, é um sinal de que ele foi limpo há 1 ou 2 anos, hora de decidir se sua fome é maior do que o nojo dessa informação. No entanto, se seu antebraço ficar completamente grudado no balcão e não se soltar nem com a ajuda do bal-conista, peça um pouco de água morna, jogue entre a pele e o balcão, assim que a gordura amolecer, recolha seu bracinho querido e saia o mais rápido possível do local, sem olhar para trás;

22°° ccooppoo ddeessccaarrttáávveell - na hipótese de ter perma-necido no local, peça algo para beber, talvez sua fome seja apenas sede! Comece pedindo uma água. Peça uma cujo copo ou garrafa venha la-crado, vedado, isolado da atmosfera do boteco. Caso o balconista diga que ele não 'trabalha' com esse tipo de mercadoria, pergunte qual se-ria a procedência da água vendida. Se ele disser que a procedência é uma bica que fica logo ali, no mínimo peça que ele use um copo descartá-vel! Mas pense na possibilidade de pedir que ele

abra um pacote novo, nem que para isso você tenha que pagar por todo o pacote... afinal, existe a possibilidade do digníssimo bal-conista ser do tipo que 'reutiliza' copos descartáveis!

33°° ttaallhheerreess ddeessccaarrttáávveeiiss - você é a pessoa mais corajosa e faminta do mundo, o copinho d'água só abriu ainda mais seu apetite, o único jeito de resolver o proble-ma é comer! Prefira coisas que podem ser comidas com as mãos, como lanche, esfirra, pas-

tel. No caso desse último, o lado bom é que o óleo quente pode ter matado todas as bactérias, mas o lado ruim é que o óleo super-hiper-mega-ultra-saturado completando 5 anos no tacho pode matar você. Se o balconista disser que não frita, não assa e não prepara nada na hora, repense. Pergunte pelo PF, com muita, muita, muita sorte o 'maitrê' irá dizer que fica pronto em 15 minutos... isso será um óti-mo sinal de que está sendo preparado no mesmo dia! Caso sua fome já esteja grande a ponto salivar só de pensar no 'cheirinho' do 'bife' sendo frito, aceite um conselho: peça ta-lheres de plástico. Do contrário, seu bife pode ganhar sabor de dobradinha... que estava no cardápio de ontem!

44°° oovvoo ccoozziiddoo - o bom e velho ovo, herói no combate a tan-tos momentos de fome, ele pode salvar você mais uma vez! Pense bem: ele tem embalagem própria e lacrada, pode ser comido sem talheres, é rica fonte de proteínas e vitaminas, não precisando de muito para matar (ainda que temporaria-mente) sua fome, não é frito nem assado, é cozido! Mas é preciso que seu poder de persuasão seja forte, afinal, você terá de convencer o balconista de que faz questão de que seu ovinho seja cozido na hora e por pelo menos uma hora (pra garantir a eliminação de qualquer tipo de bactérias). Diga que é uma receita da sua mãe! Caso consiga, vá fundo!

55°° oo rreeccuurrssoo ffiinnaall - o balconista se nega a cozer um ovinho, não serve pf, o único pastel que tem é de ontem, só tem co-pos de vidro, sua pressão caiu, sua fome já está embaçan-do sua visão. O que fazer?! De repente, não mais do que de repente, você avista um pacote vermelho, escondido atrás de algumas garrafas de 51, Velho Barreiro e Pitu... sim, sim! É um pacote de Fandangos de presunto!!! Peça-o! Che-que se está na validade, sacuda o pó da embalagem, pague, nem que custe 5 vezes mais que o normal, e saia correndo! Com certeza um pacote de Fandangos ( que rende mais do que qualquer outro salgadinho!) vai conseguir aplacar sua fome, de quebra, vai resolver seu problema de súbita queda de pressão arterial já que possui níveis ressuscitadores de sódio!

Originalmente publicado em: http://www.claraemne-ve.blogspot.com/Contato: [email protected]

*Fabi Catarse é cronista de pequenas bobagens da vida, lingüista e pensa que é chef, mas só da cozinha dela. Escre-ve semanalmente no blog Clara em Neve sempre pensando em comida. фф

dígitos do desejoQuando o teclado e o monitor substituem o contato sexual

Everson Bertucci

... MAS... É GOSTOSO!

O sexo foi e, mui-to provável, sempre será mo-tivo de curiosi-

dade, excitação, êxtase, euforia e outros tantos ad-jetivos. Claro que o grau de cada um deles varia de acordo com a idade, sexo, meio etc.

Em todos os perío-dos históricos o sexo teve suas influências e particu-laridades, seja na idade da pedra, com uma certa violência e submissão, nas orgias dos grandes pa-lácios medievais, ou até mesmo a partir das fotono-velas, na era dos folhetins e revistas românticas.

Com toda essa evo-lução e diversificação se-xual, os meios sempre tiveram seu papel dentro dessas mudanças. Não há como negar uma grande modificação depois da che-gada da internet. Impossí-vel não participar dessa revolução, mesmo aqueles mais resistentes e conser-vadores. De alguma for-ma, suas vidas foram

afetadas, direta ou indire-tamente.

Muitos se questio-nam se isso é bom ou ruim. Independente da resposta, o fato é que não somos mais os mesmos, ou talvez, sejamos sim os mesmos, só que transfor-mados. Uns mais, outros, nem tanto.

E o que dizer sobre o sexo depois da entrada da internet? Mudou? É inegável uma grande mu-dança comportamental dentro desse universo tão complexo. Com a chegada da internet e das salas de bate-papo, o sexo ganhou outro aliado. Cada vez mais aumenta o número de pessoas a procura de relacionamentos através dos meios virtuais. As sa-las de bate-papo vivem lo-tadas. Basta entrar num desses provedores com chats sobre sexo para con-ferir. São inúmeras as pes-

soas em busca de uma re-lação virtual.

Alguns usam este meio como uma espécie de liberação dos desejos mais secretos e que não conseguiriam fazer no mundo real. Outros estão à procura apenas de uma conversa um pouco mais picante, que no fundo não têm coragem de fazer dis-tante da tela. Medo, pu-dor, repressão religiosa. São vários os motivos.

Há também aque-les que sentem um imen-so prazer em fazer sexo virtual. Como isso é possí-vel? Simples, tem a manei-ra textual, em que duas pessoas estão conectadas e, numa conversa, come-çam a digitar frases exci-tantes, a se liberarem

sexualmente através de fantasias, fetiches, pala-vras picantes, obscenida-des.

Neste caso o imagi-nário é o grande aliado ao que é escrito. O indivíduo começa a imaginar como é o outro, como ele se com-porta, como o tocaria, o beijaria, enfim, como seria uma relação sexual com quem está do outro lado.

Nem sempre este ti-po de relação termina em orgasmo. Muitas vezes a pessoa está apenas a fim de se excitar, se sentir de-sejada, bem quista, ou de despertar o prazer em al-guém. Há também os que só querem se divertir.

Como eles não es-tão se vendo, nunca pode-rão garantir que o seu parceiro virtual chegou ao ápice, pois este pode mui-to bem estar mentindo. Mas tal fator não tem grande relevância neste ti-po de contexto. O impor-tante é se sentir bem e realizado.

Aliada com a possi-bilidade de conversar tex-tualmente com pessoas de qualquer lugar do mundo, desconhecidas ou não, a webcam se torna elemen-to fundamental na relação virtual. Ela proporciona a visualização do outro. Nes-te jogo, a beleza e os gos-tos pessoais contam mais do que simplesmente tro-car mensagens de texto.

Os envolvidos ago-ra podem se excitar visual-

mente. Como? Mostrando seus órgãos genitais, se masturbando, se tocando, utilizando acessórios co-mo vibradores, roupas sensuais, óleos... Elemen-tos estes que ajudam nes-ta festa sexual, onde algumas máscaras caem para dar lugar a outras.

Obviamente, uma das muitas vantagens de se relacionar virtualmente é que não há absoluta-mente nenhum risco de contrair uma doença sexu-almente transmissível, por não haver nenhuma transferência de fluidos corporais.

OO sseexxoo ee oo eeuu nnaa wweebbccaamm

Com a chegada da internet e a possibilidade de conexão com outros in-divíduos, estando eles em qualquer parte do mundo, o sexo ganhou um novo meio tanto para encontros ocasionais somente para satisfazer o corpo - sem compromisso, e pela prati-cidade provável das par-tes nunca mais se verem - ou simplesmente pela prá-tica “solitária-virtual”.

Nestas práticas ci-bernéticas, o indivíduo se sente liberto de seus pudo-res e mais a vontade para falar e fazer coisas que não teria coragem de fazer em outros ambientes. Tal-vez, possa-se dizer que ele expõe o seu verdadeiro "eu", ou simplesmente o

"eu" que não lhe é habitual – pelo menos socialmente.

Diante de uma tela de computador, parece que o indivíduo se liberta de conceitos religiosos e fami-liares relacionados ao se-xo. Na frente dela, se despe de pudores, moralis-mos e deixa aflorar seus desejos mais íntimos e se-cretos.

O fato de estar se re-lacionando pela internet o faz ter a impressão de que aquelas pessoas também estão despidas de hipocrisi-as sociais, igualando-os, e também pelo fato de que não terão nenhum laço so-cial ou afetivo – embora possa haver exceção - num jogo de criação de "eus"

A webcam possibili-ta ao indivíduo criar um "cano de escape" para a so-lidão. É como se a webcam se transformasse numa companheira fiel do sujei-to, trazendo companhias diversas e descartáveis num frenético e constante reality-show. Muitas vezes o indivíduo se torna escra-vo deste universo vicioso e, porque não dizer, nocivo.

É a necessidade de ver e de ser visto. A câme-ra ligada somente não bas-ta, ele tem a necessidade de saber que está sendo visto por alguém e, de pre-ferência, que o número de espectadores seja sempre o maior possível, para que se sinta real, existente.

É a necessidade de existir. фф

virtual e obscuroCupim trata um dos tipos de crimes mais comuns do momento e mostra como a demora na obtenção de informações e a falta

de leis específicas prejudicam todo o processo

Tatianna FelixCom o avanço da Internet, o au-mento do núme-ro de crimes

virtuais vem crescendo a cada dia. Segundo estatís-ticas da Central Nacional de Crimes Cibernéticos, só em abril deste ano fo-ram 7.640 denúncias. Em 2008 foram 91.038, das quais 57.574 (63%) eram relativas à pornografia in-fantil. Desde 1997 até ho-je no Brasil, foram mais de 17 mil decisões judici-ais relacionadas ao cha-mado "direito eletrônico".

Em São Paulo exis-te o Departamento de In-vestigações sobre o Crime Organizado (DEIC). Den-tro dele há uma delegacia especializada em crimes eletrônicos, a 4ª Delegacia de Investigações Gerais (DIG), que atende várias ocorrências por meios vir-tuais com autorias desco-nhecidas.

As ocorrências mais comuns são contra a honra. Existem outras como ameaça, estelionato, fraudes bancárias, falsifi-cações e roubos de se-nhas bancárias. Os crimes realizados por mei-os eletrônicos sempre dei-xam vestígios, o que faz com que não exista crime perfeito, entretanto, é ne-cessário apenas um com-putador com acesso a internet para que uma sé-rie de delitos sejam come-tidos.

O Internet Protocol - Protocolo de Internet -, mais conhecido como IP, é uma das principais for-mas para se chegar aos culpados. Ele é a identida-de que todo computador tem e que indica o endere-ço do proprietário. O dele-

gado da 4ª DIG, José Ma-riano Araújo Filho, expli-ca que ao acessar o menu arquivo, em seguida pro-priedades e posteriormen-te detalhes, no corpo do texto aparecerá o IP de quem remeteu a mensa-gem. A partir daí é pedido uma busca e apreensão para que se possa ir ao lo-cal e obter a informação no próprio computador.

A principal dificul-dade para a resolução dos casos é conseguir informa-ções, pois existe uma len-tidão na obtenção das requisições junto às repre-sentações judiciais, o que prejudica, na maioria das vezes, a agilidade nas

Cupim Cupim- número 1 - Junho 2009

Editor ChefeFlávio Rocha

[email protected]

Editores de Arte Everson Bertucci

[email protected] Mendonça

[email protected]

Editor de PublicidadeFernando Nowikow

[email protected]

Editora de FotografiaTatianna Felix

[email protected]

RepórterAlexandre Oliveira da [email protected]

Ilustrador Flávio Leal

[email protected]

PARTICIPARAM DESTA EDIÇÃO Caroline Regine

Fabi CatarseFabiana Machado Gutierres Siqueira

Capa Flávio Leal

Blog Cupimwww.revistacupim.blogspot.com

apreensões e investigações de mate-riais que facilitam o rastreamento das informações que contribuem pa-ra a solução das denúncias registra-das. É fundamental que as partes envolvidas facilitem o acesso da polí-cia às informações para que as auto-rizações judiciais sejam mais rápidas, com isso, o número de ca-sos solucionados poderá ser maior.

Em 2005, um caso de estelio-nato envolvendo uma empresa de im-portação e exportação, que recebeu via e-mail uma proposta para trans-portar uma carga, foi solucionado. Eles receberiam um milhão de reais para realizar o transporte. O gerente da empresa acionou a polícia que no momento do fechamento do suposto acordo deteve três pessoas.

No Brasil não existe uma le-gislação própria para os crimes virtu-ais, o que facilitaria o trabalho da polícia e faria com que muitos não saíssem impunes por falta de uma lei específica para enquadrar os cri-minosos.

Para não cair em golpes é im-portante seguir algumas recomenda-ções, como não abrir nenhum e-mail de pessoas desconhecidas, não envi-ar senhas ou dados pessoais pela In-ternet, manter um antivírus e o computador sempre atualizados. As pessoas que se sentirem prejudica-das devem procurar o auxílio de uma delegacia especializada ou do distrito policial mais próximo para que todos os casos possam ser inves-tigados e os responsáveis punidos.

DIG-DEIC – 4ª Delegacia de Delitos Cometidos por Meios Eletrônicos de São Paulo (SP) Endereço: Av. Zack Narchi, 152, Ca-randiru – São Paulo (SP) Fone: (11) 2221-7011 ou 2221-7030 фф

mais um caso de milhõesVereador omite mansão de R$ 2 mi

à Justiça EleitoralFernando Nowikow

Reeleito com 29.915 votos, o vereador Ushitaro Kamia (DEM), de 62 anos, ‘esqueceu’ de declarar à Justiça Eleitoral, man-são de R$ 2 milhões. Conhecido como “palacete imperial” por causa da arquitetura japonesa, o imóvel fica na região

da Serra da Cantareira, zona norte de São Paulo. Com três andares e cerca de 500 metros quadrados, a mansão

possui três suítes, salão de festa e jogos, duas salas de estar, salas de jantar e meditação, piscina com cascata de pedra, avaliada em

R$ 200 mil, e deverá contar também com dois elevadores panorâmicos. Cercado de ver-de, o “palacete imperial” do ve-reador Kamia, fica no luxuoso condomínio Residencial Jardim Bibi II, no bairro de Vila Alberti-na.

O caso chamou a aten-ção da Justiça Eleitoral, pois perante a Lei, o vereador decla-rou possuir um apartamento de R$ 118,69 mil, na Avenida Nova Cantareira, e três carros, que somam R$ 80 mil. Ou seja, um patrimônio de R$ 194.694. Em entrevista aos jornais, Ka-mia confirmou ser o dono do imóvel, mas se enrolou ao res-ponder por que não consta na sua declaração de bens. Primei-ro, ele disse que a mansão esta-va em seu nome. Depois, alegou que comprou no nome do cunhado e aguarda transfe-

ENFIANDO O DEDO

rência para seu nome. Os jornais também

flagraram o carro oficial do vereador - um Astra Advantage 2.0 sedan, que custa mensalmente cerca de R$ 1.6 mil aos cofres públicos municipais, sen-do usado para transpor-tar material de construção para a obra.

O caso está sendo investigado pelo Ministé-rio Público Federal, que vê indício de que o valor da obra é incompatível com a renda declarada pe-lo parlamentar, que pode, em tese, pegar até 5 anos de reclusão e perder o mandato por improbidade administrativa. Já para a Corregedoria da Câmara

Municipal, representada pelo vereador Wadih Mu-tran (PP), existe uma enor-me pressão por parte de seus colegas vereadores pela absolvição ‘a seco’ do vereador Kamia. “A publi-cação da denúncia pela imprensa não é motivo pa-ra alarde. Temos que exa-minar isso com carinho”, declarou o corregedor.

O vereador Kamia (DEM) está em seu 4º mandato na Câmara Mu-nicipal, cargo pelo qual re-cebe salário de R$ 9,2 mil. Membro da base de apoio do prefeito Gilberto Kassab (DEM), Kamia é formado em Direito. Já foi deputado federal duas ve-zes pelo PPB, em 1994 e

1998. É filho de imigran-tes japoneses que se esta-beleceram na zona norte, onde mantém seu reduto eleitoral.

O caso do vereador mostra, mais uma vez, o mar-de-lama que se insta-lou na política brasileira. Semelhante, porém em menor escala ao caso do deputado federal Edmar Moreira, que colocou à venda um castelo avalia-do em R$ 25 milhões, no interior de Minas Gerais, o “palacete imperial” do vereador Kamia reafirma a falta de transparência e de credibilidade dos nos-sos políticos, que parecem pensar apenas em gran-des castelos. фф

sessão nostalgiaO retorno da cinelândia paulistana

Flávio Rocha e Lais Mendonça

Neste trecho Heródoto expressa o sentimento de quem viveu numa época onde o cinema era a diver-são da família paulistana. É atra-

vés do olhar de três protagonistas que contaremos essa história que vai além das poltronas de couro, do Sensurround*, dos trajes de gala ou dos grandes projetores das antigas salas de cinema: Myrthes Costa, Gil e André Mazzaropi.

A Cinelândia ficou caracterizada pelo surgimento de cinemas no eixo da Avenida São João, no centro de São Paulo. O circuito agitou os dias paulistanos entre as décadas de 1940 a 1970.

Muitos romances começaram nas pol-tronas do centro, como conta Myrthes, que não revela a idade: “Vim da fazenda para São Paulo em 1942, morava na região do Ipi-ranga. Conheci o Nelson, que foi quem me convidou para ir ao cinema, mas a mamãe não deixava eu ir sozinha porque não era de bom tom ir só com um rapaz ao cinema, en-tão a condição era ter que levar a minha ir-

mã mais velha. Fomos ao Santa He-lena, só que na saída da sessão, saí sozinha e minha irmã com o Nelson”. E completa: “perdi o namo-rado para ela”.

Mas nem só de romances vi-viam os cinemas. André Mazzaropi, filho do eterno caipira paulista Maz-zaropi, afirma: “O cinema foi sua vi-da e é a sua história, seu reduto profissional o Largo do Paissandu”.

“Hoje em dia, tudo é muito diferen-te”

Como diziam os também cai-piras e compositores Chico Rey e Paraná. Os adjetivos das avenidas Ipiranga e Rio Branco, além das ru-as Direita, 7 de Abril, Aurora, e das praças República e Júlio de Mes-quita mudaram tanto nas últimas décadas, que poucas lembranças

“Tinha cinema para todo lado, todo preço e vestimenta. Com terno e gravata, era possível entrar no cine República, ou no Ritz, ou mesmo

no Normandie, na Rua Dom José de Barros. Com roupa ‘comum’, era possível entrar no Broadway, ou no Oásis, ambos na Avenida São João, onde ficava também o Metro – mas, para freqüentar este último, só de fato completo, como diziam os velhos portugueses da cidade”. (Heródoto Barbeiro no livro Meu velho centro, publicado

pela Edições Sesc São Paulo).

nos restam de seus tempos áureos.Onde antes encontrávamos

casas de chá, cinemas, teatros, pes-soas desfilando com roupas da últi-ma moda de Paris, celebridades, entre outras centenas de peculiari-dades; hoje vemos o abandono e o descaso. Mendigos, camelôs e sujei-ra.

Vestidos longuetes, luvas e chapéus eram os trajes das damas, enquanto os moços trajavam seus ternos bem alinhados com sapatos engraxados e com toda a pompa e elegância iam até os cinemas do centro.

Durante trinta anos o cine-ma reinou absoluto, atraindo crian-ças, jovens, homens e mulheres indistintamente. Nas suntuosas sa-las a diversão era certa.

Após uma sessão no Marabá ou no Cine Ipiranga, podia-se cami-nhar calmamente entre as ruas, en-contrar amigos, paquerar ou esticar a noite em uma das casas de chá. Eram várias as atrações que perme-avam as ruas de mosaico portu-guês e luzes amareladas.

Mesmo quem não possuía condições financeiras para ir ao Me-tro ou ao Ritz, que eram considera-dos os “elitizados” da época, não deixava de se divertir, pois a preços bem mais convidativos podiam ir ao Santa Helena, Oásis ou Alhambra, com a possibilidade de assistir du-

as sessões pelo preço de uma. “O Brás inteiro vai pra lá”, contou Gil,

advogado que jura ter mais de mil anos, so-bre os comentários tecidos pela elite morado-ra dos arredores da avenida Paulista e do ainda glamuroso bairro de Higienópolis, so-bre os cinemas mais baratos do centro.

“Esses cines populares que cercavam as salas nobres da Cinelândia, eram mais simples, não precisava se arrumar tanto pa-ra freqüentá-los, e era mais barato, porém ti-nha muitas pulgas. Bem, era o que diziam, porque eu não freqüentava, acho que é por isso que ficaram conhecidos como pulguei-ros”, comenta a sorridente Myrthes.

A Cinelândia não só oferecia preços para vários bolsos, como também filmes pa-ra todos os gostos. O cinema Jussara, por exemplo, só passava filmes da Nouvelle Va-gue. O Broadway tinha como característica os filmes mexicanos. E, como se não bastas-sem os elementos já citados, muitos cine-mas contavam com ambientação, decorações especiais e ante-salas para convi-vência, como o cine Marrocos.

“São Paulo não pode parar”A década de 1950 foi única para São

Paulo. Segundo censo demográfico da época, ela havia atingido dois milhões de habitan-tes comparando-se com o Rio de Janeiro, que até então era a capital federal do Brasil.

Nas avenidas começava o crescimento da circulação dos automóveis, a cidade cres-cia vertiginosamente. O slogan era “São Pau-lo não pode parar”.

A cidade experimentava os fluidos po-sitivos da idealização do bem-estar que cer-cavam as metrópoles e que vinham das principais cidades européias e norte-ameri-canas. Neste contexto, o conjunto de salas de cinema tem um papel muito importante, pois personificava a mais gratificante forma

de lazer do habitante da cidade. Era a sua janela para o mundo.

As pessoas se deslocavam até a Ci-nelândia para se envolver na magia da modernidade em meio aos prédios gigan-tescos, se misturando às multidões que circulavam pelas calçadas antes (ou de-pois) do escurinho do cinema. “Ah! Na-quela época, o cinema fazia propaganda da 2ª Guerra e a literatura francesa dita-va nossos costumes”, conta Gil sobre o sentimento que levava todos às ruas.

Com o tempo, a relação entre o paulistano e a metrópole se alterou subs-tancialmente. O slogan agora mudou, São Paulo: “Maior parque industrial da América Latina”. Isso refletiu até mesmo no lazer, substituindo as formas tradicio-nais de sociabilidade por novos rituais.

“Chatô, que você deve conhecer bem, trouxe da Europa a máquina da TV. Estava decretada a morte do cinema de

rua”, lamenta Gil. A televisão passou a centralizar a atenção da família, enquanto o ato de ir ao cinema foi saindo cada vez mais de foco.

Alguns fatores extra-cinemato-gráficos contribuíram para o agrava-mento da questão, a transformação urbana foi um dos principais. A cida-de deixava de ter uma concepção idí-lica de metrópole e passava a ter destaque as dificuldades que já nos são costumeiras. Trânsito, congestio-namento, violência, alto custo de vi-da, transporte coletivo deficiente, são itens que passaram a prender o paulistano dentro de suas casas.

O perfil do circuito e do públi-co cinematográfico se altera muito neste período, os palácios cinemato-gráficos, por exemplo, tornaram-se obsoletos, desestimulando mudan-ças. Delírios arquitetônicos que con-tribuíram para a notoriedade do Cine Marrocos tornaram-se coisa do passado.

Os Shoppings Centers chega-ram à capital, trazendo as compras, o cinema, a comida e toda comodida-de que proporcionam estes espaços.

A Cinelândia entrou em deca-dência e as enormes edificações pare-ciam ainda mais gigantescas com o esvaziamento das platéias, a solução então foi dividi-la apressadamente em nome da sobrevivência.

Assim, construiu-se um novo cenário. “Sai de cartaz o casal IV Centenário (terno & gravata & colar de pérolas) e surgem os personagens das ‘tribos’ urbanas que circulam com desenvoltura e alguma arrogân-cia”. Como relata Inimá Simões em seu livro “Salas de Cinema de São Paulo”.

Hoje em dia, o público dos ci-

nemas que ainda estão em funciona-mento são compostos em sua maioria por office boys, desempregados, estu-dantes, comerciantes e homossexuais. Não existe mais o antigo glamour que era visto, e o inconsciente coletivo das pessoas já não mais enxerga os cine-mas do centro como foi outrora.

“Na decadência destes cinemas, ninguém ‘direita’ mais entrava neles. Você vai vendo as coisas acabarem e fi-cando mais tristes, muitos ficaram co-nhecidos como cinemas pornôs, como o caso do Paissandu e o Olido, que já pelas nove horas da manhã se via ho-mens entrando”, comenta Myrthes.

A existência destes espaços é muito inferior em relação ao que já foi um dia, alguns se transformaram em igrejas (Metro), outros ainda exibem fil-mes pornográficos (Cine Saci), simples-mente foram demolidos e deram lugar a estacionamento (Apolo) ou comércio, mas podemos ainda encontrar cine-mas que estão simplesmente fechados ou adornados com a placa de “aluga-se” (Cine Ipiranga, Metrópole, Éden).

Alguns projetos vão na contra-mão da atual situação dos cinemas do centro de São Paulo. Já é possível ver tentativas de revitalizar salas e colocar a Cinelândia Paulistana de volta no co-tidiano dos habitantes. O projeto “Bro-adway Paulistana”, iniciativa do governo de São Paulo, prevê uma abrangente reabilitação local com a re-cuperação de dez cinemas antigos, que seriam reativados ou transformados em casas de espetáculo.

Talvez as casas de chá, chapéus e bondes não voltem mais a ser uma realidade no centro da capital, mas res-ta-nos acreditar que o centro volte a ser um lugar de bem-estar e lazer e não somente de passagem. фф

Iniciativas começam a surgir

Diferente de tantas salas his-tóricas da cidade de São Paulo, que se transformaram em outros tipos de estabelecimento, o Cine Marabá, localizado na Avenida Ipiranga - 757, foi reaberto ao público em gran-de estilo.

Em Julho de 2008, deu-se iní-cio ao processo de revitalização do ci-nema, que transformou uma das maiores salas do Brasil em um mo-derno complexo, mantendo o seu charme histórico. São cinco salas nos formatos stadium e convencio-nais, projetores e poltronas importa-das, som Dolby Digital e capacidade de 1150 lugares.

O projeto de renovação do Ci-ne Marabá que foi realizado pelo Grupo PlayArte e assinado por Ruy Ohtake, tramitou na Prefeitura de São Paulo por três anos e depois de atendidas todas as especificações técnicas pôde ser colocado em práti-ca.

Além da reforma, o prédio também passou simultaneamente por um processo de restauro. Por ser um edifício tombado pelo patrimônio histórico, a Prefeitura exigiu que o projeto mantivesse elementos intac-tos. Segundo a PlayArte, todos os cuidados necessários foram tomados para manter as características que se tornaram tradicionais no centro paulistano.

“Essa é nossa contribuição pa-ra a manutenção de um dos marcos da cultura paulistana e também pa-ra a revitalização do centro de São Paulo, que não pode ser esquecido nunca”, comenta Otelo Bettin Coltro, vice-presidente executivo do Grupo PlayArte.

Alexandre Oliveira da Silva

em que posso ajudar...?

APERTADINHO

Em um minuto é impossível se fa-zer muitas coi-sas, há quem

diga o contrário (nós, os tele-operadores). Mas pa-ra um profissional que tra-balha em Call Center a palavra “não” é pecado e a religião adotada nas em-presas desse ramo ortodo-xas puritanas é viril.

O atual modelo bra-sileiro instituído por lei adota que, o atendimento por meio do telefone tem que ser o mais rápido pos-sível e de qualidade (não esqueçamos), exigindo as-sim que empresas que ofertam esse serviço se adequem para tal faça-nha. Sobrou para o opera-dor. Stress, depressão e baixa estima rola solto nas centrais de atendi-mento.

Dias atrás soltei

um “caralho” em voz alta di-ante da tela do computador, socando a mesa em seguida. Nunca havia me exaltado a tal ponto. Meu algoz, deno-minada supervisora, me fuzi-lou com seu olhar austero. Sempre fui um cara calmo, calado em meu canto. De pouco relacionamento.

Nunca gostei de fofo-cas e conversar era o mesmo que saltar de pára-quedas (Pula... Pula!). Tinha que gos-tar muito de mim para enca-rar. Sim, após ter entrado nesse ramo

фф

retrato em

As possibilidades de cores de quem vive na pele a marca do vitiligo

Com cinco anos de idade, Laura era uma menina como outra qual-

quer. Filha de um casal simples, sua casa sempre foi repleta de crianças. Eram filhos de parentes, vizinhos e amigos. A mãe, Dona Analú, fazia muitos doces e petiscos para agra-dar a criançada. Sempre pronta para acolher quem quer que fosse, procurava oferecer o que tinha de me-lhor em sua casa. Não só ela, como seu esposo, Seu Jonas, mais conhecido co-mo Jaú – apelido do fute-bol. Este, dono de uma simpatia e generosidade que servia de exemplo pa-ra muitas pessoas.

Como uma boa par-te das meninas da sua ida-de, Laura cresceu dentro do universo de Monteiro Lobato, suas histórias, seus personagens cativan-tes, seu universo fantásti-co. Uma menina que sempre vivia num mundo cor-de-rosa, tinha muito medo da morte e sonhava em ser bailarina. Era leva-da, adorava doces - todos

eles - inclusive os mais simples, como aquela ma-ria-mole vendida em um co-pinho e que vinha com um pequeno brinde que Laura chama de “figuinha”.

Apenas um detalhe começou a diferenciá-la das outras crianças, umas man-chinhas brancas começa-ram a aparecer em seu nariz por volta dos seis anos de idade. Era o surgi-mento do vitiligo.

Os anos foram pas-sando e no início de sua vi-da escolar seus medos

mudam, o complexo e o isolamento surgem e com o passar do tempo, alguns fantasmas come-çam a freqüentar seu o cotidiano. A fuga da es-cola se torna a melhor opção.

Adolescente, Lau-ra tem sede por conheci-mento e a psicologia passa a fazer parte de seu sonho e faz desper-tar seu interesse de estu-do nesta área, pois deseja desvendar os mis-térios da mente, ajudar as crianças e àqueles que necessitam de auxí-lio emocional e encon-tram dificuldades, assim como ela.

Hoje, já mulher, Laura nos conta um pou-co sobre a doença, os medos, o tratamento, a aceitação, o preconceito, os dissabores do amor, além da perda do sobri-nho Nicolau de 14 anos, a importância da rela-ção familiar, seu encon-tro com Chico Xavier, o desejo de ser mãe e ou-tros aspectos relativos à sua vida.

preto ebranco

CCUUPPIIMM - Quando tudo co-meçou?LLAAUURRAA – Quando era pe-quena, tinha muito medo da morte, ficava sabendo que alguém tinha partido, mesmo não conhecendo a pessoa, naquela noite eu não dormia. Tinha um do-ce que era uma maria-mo-le dentro de um copinho e vinha uma "figuinha" den-tro. Um dia eu comi o doce e fiquei com a figuinha na boca, engoli e fiquei com ela atravessada, e com me-do de morrer, apavorei, gri-tei pela minha mãe... Enfiava o dedo na gargan-ta com medo de morrer. Eu cheguei a engolir o ob-jeto, mesmo assim eu enfi-ava a mão na garganta e cheguei a machucá-la. Mi-nha mãe me levou ao médi-co várias vezes, porque eu comecei a ficar com dor de estômago... Tinha de 5 pa-ra 6 anos, na época. O mé-dico disse que eu estava com dor de estômago por-que eu tinha passado ner-voso. Ele medicou um tranqüilizante. Eu melho-rei, mas depois de certo tempo, começou a sair uma mancha no nariz, que foi constatado que era viti-ligo.CCUUPPIIMM - Nesse período, qual era seu sonho?LLAAUURRAA – Eu sempre gostei de filmes clássicos, aque-las bailarinas, aquelas danças. Sempre me fasci-naram. Meu sonho era ser bailarina. Tanto que eu

adoro dançar. Foi passan-do o tempo e eu nunca fui atrás, agora até estou com vontade de entrar nu-ma aula de dança (risos) sabe essa dança de salão? Então, estou com vontade de fazer.CCUUPPIIMM - Como foi sua vi-da escolar? LLAAUURRAA – Foi um período que tive dificuldade, en-trei na escola com sete anos, e que comecei a sen-tir determinadas coisas (complexo). Eu tive sem-pre bons amigos à minha volta, tanto no primário quanto no ginásio. A esco-la e os amigos não faziam diferença, o complexo es-tava em mim, não neles, tanto que os amigos fala-vam que para eles não ti-nha nenhum problema. Fui crescendo e me isolan-do, dei uma parada nos estudos, minha mãe tinha problema (de saúde) e eu não querendo me mostrar para a sociedade, então tudo se encaixou.CCUUPPIIMM - Você associava seus problemas ao vitiligo?LLAAUURRAA – Sim, eu associa-va. Um dia durante uma conversa entre meu pai e minha mãe, sem que eles me vissem, ouvi minha mãe falar: “Velho, nós te-mos que ver o futuro da Laura. As outras (filhas) estão trabalhando, vão ter a aposentadoria delas, e nós não vamos viver a vi-da inteira. O que vai ser dela?” Eu tinha 22 anos,

e comecei a me olhar desde os pés e fui subindo. Pensa-va “nossa, mais eu não sou aleijada, eu tenho perna, eu tenho pés...”. E eles (os pais) até aceitaram que eu ficasse em casa porque eu cheguei a ir procurar em-prego, mas eu via no jornal que precisava ter boa apa-rência e sempre tinha aqui-lo na minha cabeça “duvido que vão me acei-tar, não vai adiantar eu ir, eles vão me ver, lógico que vão querer a outra ou o ou-tro”, e assim sucessivamen-te. Eu voltava para casa chorando. Então meus pais, cansados de ver esta cena toda vez que ia procu-rar emprego, resolveram me manter em casa. Me de-ram salário, me pagavam o correto. Parece que isso doía neles. Então, quando escutei aquela conversa... Eu falei comigo mesma que eu tinha que reverter. Pare-ce que levei um choque, pois muita gente que esta-va em cadeira de rodas es-tava trabalhando. Quando eu estava sofrendo o com-plexo na íntegra eu não per-cebia essas coisas, foi então que decidi trabalhar fora. CCUUPPIIMM - Como foi esse tra-balho? LLAAUURRAA - O primeiro traba-lho fora de casa foi com uma amiga, onde fui mani-cure em domicílio. Logo passei para um salão, onde fiquei quatro anos. Foi tranqüila, a minha relação

com as pessoas, desde que não me deixasse me envolver pelo complexo. Depois desses quatro anos eu fui tra-balhar numa escola, no Walt Disney (Escola Infantil). CCUUPPIIMM - Houve algum fato que te sur-preendeu lá? LLAAUURRAA – Quando houve uma mudan-ça de direção na escola, a nova direto-ra disse que naquele ano os próprios alunos escolheriam quem homenage-ar. Então a professora de português pediu para eu subir até a sala do ter-ceiro colegial. Logo pensei “Ai meu Deus, aí vem problema”. Fui até a classe e o líder da classe me disse, “Laura, por unanimidade você foi es-colhida para ser a homenageada do ano”.CCUUPPIIMM - Você sofreu algum preconcei-to neste período?LLAAUURRAA – Pelo contrário, eles até me defendiam e falavam: “Olha, não mexe com a Laurinha, não, hein! A Lauri-nha é sangue bom!” (risos).CCUUPPIIMM - Os adolescentes e crianças, na escola, te perguntavam o que eram as manchas no seu rosto?LLAAUURRAA – As crianças, sim. Uma vez percebi que duas meninas me olha-vam, eu as chamei e elas pergunta-ram: “O que é isso que você tem?”. Eu expliquei que eram manchinhas que saíram, e se contentavam com isso. Como eu sempre estava com elas dan-do carinho e atenção...CCUUPPIIMM - Como era a sua relação fami-liar?LLAAUURRAA – Com as minhas irmãs foi as-sim: como a “Laura” sofria devido ao vitiligo, o amparo era maior, elas fo-ram trabalhar cedo, e eu fiquei como a “bebezinha” da casa. Todo mundo amparava para eu não sofrer. Isso de certa forma influenciou na relação com minhas irmãs. Tanto que hoje sinto a distância delas em relação a

O que é o vitiligo?

Doença caracterizada por descoloração da pele em certas áreas, de causa desconhecida e, embora não provoque danos à saúde, é um problema com pou-cas alternativas de tratamento.

Sendo assim, o Vitiligo é uma patologia de despigmentação da pele em que manchas brancas podem surgir em várias partes do corpo. Normalmente são bilate-rais (simétrico), mas pode ser as-simétrico, segmentar, circunscrito, universal, congêni-to, generalizado e ocular. Várias hipóteses foram atribuídas acerca das causas da doença.

Estatísticas mostram que cerca de 4% da população mundi-al é portadora de vitiligo. Surge como se fosse uma resposta do or-ganismo às tensões emocionais, como grandes perdas materiais, brigas de família, morte de um en-te querido, ou viagem dos pais pa-ra o exterior.

Segundo especialistas, Viti-ligo, não pega, não mata e não dói . A maioria dos pacientes com vitiligo já foi vítima de algum tipo de preconceito. Especialistas no setor afirmam que isso colabora para atrasar a reação positiva do organismo dos portadores aos me-dicamentos. Discriminar um por-tador de Vitiligo é uma atitude que não se justifica, porque Vitili-go não é doença, é apenas um problema de pele e como tal deve ser encarado pela família e ami-gos. Dermatologistas atestam que não há o menor risco de contágio direto ou indireto.

mim. Meus pais sempre me trataram com mais cuidado, mais preocupa-ção, e elas (irmãs) se senti-ram como que deixadas de lado. Elas queriam que as tratassem igual. Meus pais foram assim, aonde falavam que tinham médi-co para tratar o vitiligo, eles me levavam. Iam, fala-vam com o médico e de-pois me levavam.CCUUPPIIMM - E a relação atual com suas irmãs, como é?LLAAUURRAA – Eu gosto de coi-sas clássicas, elas de pa-gode; elas vivem de novelas e eu não suporto; adoro ler, elas já não gos-tam. Eu sou diferente. Até hoje se você conversar com elas vai ouvir “meus pais só faltavam colocar a Laura dentro de uma redo-ma de vidro para ninguém machucar, para ninguém tocar”. Eu quero que elas vejam a Laura de agora. Pois quando eu saí para trabalhar, eu dei uma mu-dança de trezentos e ses-senta graus.CCUUPPIIMM - E como foi esse processo?LLAAUURRAA – Eu me senti co-mo se tivesse uma força interior falando assim “Agora você vai ou vai”. Porque a forma que a gen-te pensa, ou a gente abre ou fecha os caminhos. E como falei para mim, que eu era uma pessoa nor-mal, que precisava traba-lhar, os caminhos começaram a se abrir. Foi

aí que veio uma amiga, me levou na delegacia do ensino, para escolher a escola onde tinha lugar para eu trabalhar. Ela fa-zia a unha comigo e dizia “Laura, eu não sei por que você não trabalha fo-ra, você se comunica bem, é uma pessoa inteli-gente”.CCUUPPIIMM - Fale um pouco dos seus pais.LLAAUURRAA – Meu pai era co-nhecido como Jaú, apeli-do do futebol. Um encanto de pessoa. Uma bondade que só faltava ti-rar a roupa do corpo para doar pro outro. E até hoje é uma pessoa homenagea-da. Até hoje ouço das pes-soas que conheceu ele “o seu pai é um exemplo de vida pra gente!”. Isso quer dizer tudo. Nas horas enérgicas, no momento certo, foi enérgico sim, porque era necessário, pra dar uma educação, mas sempre com bondade e nisso construiu a Lau-ra. Minha mãe era uma mulher lutadora, forte. Uma pessoa que casou com o homem certo. Ao mesmo tempo ela ficou em casa cumprindo o pa-pel dela, ajudando aquele homem a enfrentar cada obstáculo que aparecia. Hoje eu estou aqui em no-me dessa força dos dois. Deixaram uma riqueza imensa não só pra mim, como pra todos que esta-vam em sua volta. Me en-

sinaram a ter força, humil-dade e a querer o bem do próximo.CCUUPPIIMM - Fale sobre sua en-trada no Fórum de Mauá.LLAAUURRAA – Eu estava acostu-mada a trabalhar com cri-ança e adolescente, onde havia uma troca. Você da-va e recebia. No Fórum (on-de trabalha atualmente) era o inverso. Quando eu entrei lá, as pessoas eram duras, como se fossem robôs. Aquilo me chocou. Na época eu fazia terapia com um psicólogo, o Sr. Rubens. Disse a ele que não queria ficar no Fórum. Ele me explicou que cada lugar que a gente vai temos uma missão, e se recusar-mos essa missão, nós volta-mos atrás para cumprí-la. Tudo é uma conquista. Fi-zemos um trabalho emocio-nal, que eu poderia ser a Laura em qualquer lugar que eu fosse. Vai fazer 12 anos que estou no Fórum e nunca deixei de cumpri-mentar, de sorrir, de lidar com um, com outro. O que você leva, surte um efeito nas pessoas, independente do que você é.CCUUPPIIMM - Você sentiu algum tipo de preconceito lá?LLAAUURRAA – Eu mudei a mi-nha maneira de pensar. Quando eu estava vendo eles como robô... Eu afir-mava “não gosto daqui, as pessoas são duras, são in-sensíveis”. Enquanto eu es-tava tendo essa visão, a coisa não iria mudar.

CCUUPPIIMM - E você acha que as pessoas te viam dife-rente em relação ao as-pecto visual?LLAAUURRAA – Como certeza, mas não tive nenhuma forma de não aceitação ou receio como relação ao vitiligo.CCUUPPIIMM - Você já sofreu al-guma discriminação vela-da?LLAAUURRAA – Que tenha che-gado até a mim, não. Nunca senti que isso aconteceu.CCUUPPIIMM - Você vai fazer ou está fazendo algum tratamento?LLAAUURRAA – Eu estou fazen-do. Tanto a parte psicoló-gica quanto a parte médica.CCUUPPIIMM - Como é o proces-so de tratamento?LLAAUURRAA – É lento, mas de-pende de como a pessoa lida com o problema. A ênfase da coisa está no emocional.CCUUPPIIMM - E já sente os re-sultados?LLAAUURRAA – Com certeza. O remédio em si é uma coi-sa que você tem que acre-ditar naquilo que está fazendo. Quando eu pro-curava uma dermatologis-ta, o que acontecia? A Laura ia especificamente só pelo vitiligo, esquecia da Laura mulher, da bele-za, que poderia estar fa-zendo um tratamento. Eu estou em busca de elimi-nar o vitiligo, mas tam-bém cuidar de mim.

Tratando da pele, não só do vitiligo. Não é tudo que eu posso usar. No lugar do claro (da pele) é muito sen-sível. Mas em em mim, não. Eu caminho, eu faço ioga, eu não paro. CCUUPPIIMM - O sol não chega a te afetar?LLAAUURRAA – Não. A única coi-sa é que fica um pouco ver-melhinho. Mas arder, machucar, coisa assim, não. Eu passo o protetor solar normalmente. Só. CCUUPPIIMM - O que dizem os especialistas em relação ao tratamento? O que você já ouviu?LLAAUURRAA – Em termos de medicina, já ouvi de tudo, aliás, na minha adolescên-cia o que levou eu ter com-plexo foi o que ouvi de um médico, que falou, assim, na lata: “Isso não tem cu-ra, tem que saber lidar com isso”. Aquilo acabou comigo. Foi aí que veio o complexo mais difícil na minha vida. Um profissio-nal tem que saber falar, sa-ber orientar. O dia em que ele falou isso eu chorei du-as semanas sem parar. Meus pais até se arrepen-deram de ter me levado ne-le, coitados! Eu tinha quinze anos. Foi duro.CCUUPPIIMM – Nessa idade, qual era seu sonho?LLAAUURRAA – (Fica pensativa por alguns segundos) Aos quinze... A psicologia sem-pre me fascinou. Essa fase eu já estava pensando em psicologia. Era meu sonho.

CCUUPPIIMM - E hoje, o que di-zem os médicos?LLAAUURRAA – Sempre me de-ram esperança. E uma coisa que sempre me for-taleceu também, como eu já falei, é a parte espiritu-al. A parte espiritual aju-da muito, muito, muito mesmo. Quando eu fui pra Uberaba foi já procu-rando algo tanto pro vitili-go como pra essa coisa, de medo da morte, coisa que eu já tinha superado um pouco por estar a al-gum tempo no kardecis-mo, (muito serena) é ali que eu tive a confirmação que a morte não existe... Que a vida continua. Através duma palestra do Chico Xavier.CCUUPPIIMM - Como foi este contato? Você conversou com ele diretamente?LLAAUURRAA – Olha, lá eu vi tantos casos mais difí-ceis, complicados, que di-ante de todos os problemas das outras pessoas, eu percebi que eu não tinha nada, enten-deu? E quando eu passei perto dele, ele me entre-gou uma rosa, eu peguei ia saindo. Foi quando ele me segurou pela mão, o Chico Xavier, e falou “fica tranqüila, você vai sarar, viu?”. Falou desse jeito. CCUUPPIIMM - E sobre as ques-tões do amor...LLAAUURRAA – O coração não escolhe quem gostar. Vo-cê quer escolher, po-rém...

Certa vez eu ouvi da pes-soa que eu gostava que eu era maravilhosa, mas fica-va sempre na amizade, e eu tinha que entender is-so, mas também não esta-va preparada para relacionamentos. Não ha-via preparado isso em mim. Obviamente qual-quer tipo de relacionamen-to não iria dar certo. Eu achava que eu não conse-guia uma relação mais for-te por causa do vitiligo, e isso fazia com que eu não conseguisse ver que mi-nhas amigas que não ti-nham vitiligo também não conseguiam se relacionar com ninguém (risos). E is-so é uma coisa que eu ain-da vou superar... Como eu superei no trabalho. Eu tenho certeza disso.CCUUPPIIMM - Você tem vonta-de de ter filhos?LLAAUURRAA – Claro. Eu tenho vontade de ter trigêmeos (risos) até vejo os três, as-sim, deitadinhos, o cari-nho, aquela coisa toda. Eu tenho essa vontade... De ter um casamento e disso resultar em filhos. Eu sempre tive muito for-te esse lado com universo infantil, aliás, minha famí-lia é assim. As crianças gostavam muito de ir à mi-nha casa. Meu sonho era casar e ter filhos...CCUUPPIIMM - Era?LLAAUURRAA – Não, é (risos) é meu sonho, formar uma família junto com a pes-soa que eu goste e que ela

goste de mim porque eu posso amar a pessoa, mas se ela não correspon-der, isso não serve pra mim. Não serve.CCUUPPIIMM – Tem algum ou-tro sonho?LLAAUURRAA – Fazer uma facul-dade de psicologia. CCUUPPIIMM - Há pouco tempo você viveu um momento muito delicado que foi o falecimento do seu sobri-nho de 14 anos. Como era sua relação com ele?LLAAUURRAA – Nós tivemos uma ligação muito forte. Muito mais eu com ele do que ele comigo. Quando ele era pequeno, eu fica-va todo o tempo cuidan-do dele. Nós não nos parecíamos tia e sobri-nho, éramos como irmão-zinhos, tanto que, quando eu falava do Ni (Nicolau) todo mundo achava que fosse meu ir-mão e não meu sobrinho. A morte de Ni foi surpre-sa. Muito, muito dolori-da, mas muito mesmo. Tanto que eu voltei a fa-zer terapia. Eu não espe-rava isso. Não esperava mesmo. Eu tenho tanta fé que achava que ele ia sair dessa. Hoje eu consi-go falar sem chorar, mas tinha vez que qualquer coisa que eu lembrava de-le, eu chorava. Embora eu tenha voltado a fazer terapia por causa disso. Eu não tinha vitiligo nes-sa parte (lado direito do rosto), nas mãos também

não tinha (mostra as mãos). Eu acho que a gen-te tem que extravasar, co-locar pra fora tudo o que a gente está sentindo, mas eu me segurei muito por causa da minha irmã (mãe de Nicolau) e isso é um erro. Acredito agora, que Deus tem um propósi-to maior por tê-lo levado. CCUUPPIIMM - Qual foi a causa do falecimento dele?LLAAUURRAA – Começou com problema na garganta e fe-bre, mas acho que a infec-ção foi tão grande que começou a complicar os órgãos e, principalmente, o rim. Chegou a fazer he-modiálise. CCUUPPIIMM - Como você lida com isso, hoje?LLAAUURRAA – O tempo ajuda muito.CCUUPPIIMM – O que pode ser mais importante na vida de uma pessoa?LLAAUURRAA – O mais importan-te é se gostar. É a coisa principal. Se você não se ama, você não vai conse-guir amar o outro. CCUUPPIIMM - Se vendo de fora, quem é Laura?LLAAUURRAA – (pensa um pou-co, sorri) A Laura... Olha, a Laura é o Coração de Deus. Porque o que eu quero pra mim, eu quero pra você, quero pra to-dos... (muito emocionada) principalmente para as cri-anças. фф

Everson Bertucci Flávio Rocha

cuba livreCUTUCANDO

Gutierres Siqueira

Uma reflexão sobre comunismo, neoliberalismo e social-democracia

Quando eu era um pré-adolescente, meu pai recebeu de presente o CD do seu primo, um cantor não profissiona-lizado. O título do CD era “Cuba Li-

vre”. Lembro que então com 11 anos, o “Cuba Livre” me chamava mais atenção do que as mú-sicas MPB daquele disco. Infelizmente ainda não contemplamos o “Cuba Livre”, mas o dita-dor Fidel continua a jogar todo o seu ódio con-tra o “maldoso” e “feroz” liberalismo econômico. Realmente, ditadores não gostam dos liberais.

Nessa última semana, o cubano falou mais uma vez sobre a crise em suas reflexões [1]. Sempre que vejo uma pessoa como ele opi-nando sobre economia, olho isso como uma grande piada. O que é a economia de Cuba? Nada, absolutamente nada! Bem, na verdade Fidel não opina nesse texto, simplesmente re-produz as palavras de um “companheiro comu-na economista”.

A única coisa que Fidel fala, logo no fi-nal do texto, é uma crítica à grande imprensa. Aliás, os comunistas sempre acusam a grande imprensa de alguma coisa. Não é a toa que os regimes “neo-socialistas” latinos, como de Hu-go Chávez persigam jornalistas por meio de mi-lícias que estão a serviço do governo.

Por que Fidel é tão contra o liberalismo econômico? Ora, pois liberalismo combina com democracia, liberalismo político, pouca interfe-rência do Estado em nossa vida particular. Tu-do isso Fidel, como ditador, tem pavor em ouvir. Fidel sabe que se a ilha cubana implan-tasse o regime econômico neoliberal, os habi-tantes dessa ilha logo clamariam por uma abertura democrática. Isso é inadmissível para

o sanguinário Fidel. Liberalismo é a defesa intransigente da liberdade in-dividual.

Em nome da liberdade defen-demos mercados competitivos (e não essa palhaçada do monopólio no Brasil), livre concorrência (princí-pio pouco observado em nosso país), facilitação de ingresso comer-cial e evitar ao máximo a interven-ção econômica do Estado, pois a mão dele sempre é pesada, burocrá-tica e ineficiente.

Neoliberalismo é o pai da crise econômica mundial?

Acusar o neoliberalismo de pai da crise econômica mundial é uma grande falácia, como mostra o ex-ministro da fazenda, Maílson da Nóbrega:

A crise teria sido efeito da crença cega no mercado. Ocorre que não existe livre mercado no sis-tema financeiro. Na verdade, o deto-nador da crise nasceu de intervenção do estado, qual seja a norma pela qual se financiou a casa própria para milhões de americanos sem condições de pagar. Analistas de esquerda adoram apontar a des-regulação. A culpa seria da revoga-ção do Glass-Steagall Act, no governo de Bill Clinton. Essa lei, dos anos 30, separava as atividades de banco comercial das de investi-mento, mas ficou gagá com a sofisti-cação e a globalização dos mercados. Penalizava os bancos

americanos. [2]Portanto, ainda na era mais “re-

gulamentada” do governo democrata, os Estados Unidos tomaram algumas medidas. O neoliberalismo simplesmen-te é o saco de pancadas de todos os ma-les desse mundo, incluindo a crise econômica.

Social-Democracia como solução?A social-democracia ou “liberalis-

mo-socialismo” falhou, na década de 70, com seu programa de “bem-estar social” (Welfare Stat), mas nos últimos anos voltou com força da Europa e es-pecialmente na Inglaterra de Tony Blair. O modelo desregulamentado dos Estados Unidos caiu na crise, isso é um fato, mas não tão profundamente como na mais “regulamentada” Europa social-democrata. Vários analistas econômicos apontam que os Estados Unidos saíram primeiro da crise do que a Europa. Promover o “bem-estar soci-al” pesa o Estado e chama a ineficiên-cia econômica- financeira. Logo, essa política deu certo em países que já ti-nham feito o dever liberal, portanto já eram ricos e pequenos em sua popula-ção, mas promoveram o desejo de aca-bar com as desigualdades e implantaram essa política meio socialis-ta, meio liberal.

ConclusãoPortanto, bom seria para aquela

pequena ilha do Caribe implantar o li-beralismo, tanto na economia e na polí-tica. Cuba assim seria livre, assim como o título daquele CD.

Notas:[1] Veja a “reflexão” de Fidel nesse site: http://www.vermelho.org.br/ba-se.asp?texto=52131[2] NÓBREGA, Maílson da. Crise: como chegamos a este ponto? Revista Veja. Ed. 2103, ano 42, n. 10. p 106 фф

Tudo começou quando soubemos do lançamento de um tal guia de banheiros que um grupo de médicos do Hospital das Clíni-

cas (HC) havia escrito. Lembro na época - início de fevereiro - que o tal guia não saía das páginas dos principais jornais durante semanas. Lembro que eles (jor-nais) pautaram de tudo, desde os ba-nheiros aconselhados pelo guia até os desaconselhados. Entrevistaram quem tomava conta destes equipamentos e quem os depredava, além de informar as dificuldades em administrá-los. Outro ponto importante tratado pelo manual foi o risco gerado pela contenção urina-ria que pode provocar uma série de pro-blemas às pessoas, estes, um dos principais focos do guia, que a propósito chama-se: ‘Banheiros em São Paulo. On-de ir,como fazer?’

A intenção dos médicos, além de informar todos os problemas causados pela contenção urinária, como o fato de termos necessidade de urinar a cada 4 horas, em média, ou que cerca de 15% da população adulta sofre com proble-mas de bexiga hiperativa - pessoas que não conseguem reter o líquido por muito tempo, era também de formular um guia que pudesse orientar a população dos lo-cais onde haja banheiros para uso públi-co.

E foi dessa maneira que a equipe de médicos percorreu cerca de 150 ba-

nheiros – públicos ou não - espalhados pela cidade, avaliando suas condições de higiene, de acessibilidade, se possuem ou não sinalização adequada e se dis-põem de materiais de higiene pessoal (sa-bonete, papel higiênico e papel para secar as mãos e o rosto). E, sem muitas surpresas, a avaliação do guia mostrou a clara e enorme defasagem destes equipa-mentos na cidade.

Para termos idéia do tamanho des-sa disparidade, imagine uma metrópole como São Paulo, onde cerca de 10 mi-lhões de habitantes circulam regular-mente pelas ruas, seja para trabalhar, estudar, passear, etc. Imagine agora, que para atender todo este público, a ci-dade disponibilize apenas três banheiros públicos. Ou seja, são três banheiros pú-blicos para aproximadamente 10 mi-lhões de pessoas. Incrível, não é mesmo? Pois esse é o tema da nossa reportagem.

Comecemos pelo centro da cidade, região histórica de arquitetura imponen-te e comércio pujante, onde milhares de pessoas circulam todos os dias. Região que abriga a Praça da Sé, marco zero da capital, ou então a centenária Praça da República, que recentemente foi reforma-da pela Prefeitura de São Paulo, mas que agora está completamente desfigurada pelas obras do Metrô. Só que isso não vem ao caso, nosso assunto são os ba-nheiros públicos, ou melhor, a falta de-les.

Saiba como mais de 10 milhões de pessoas dividem apenas três banheiros públicos

PINTOU SUJEIRA Fernando Nowikow

banheiros públicos:quem irá nos salvar?

Na Estação Sé do Metrô, por exem-plo, onde centenas de pessoas se esbar-ram diariamente seguindo para os quatro cantos da cidade, um único ba-nheiro é encarregado de atender todo es-se mundaréu de gente, e o que é pior, ele fica na parte de fora da estação. Ou seja, caso esteja em apuros fisiológicos e não consiga esperar nem mais um instante, terá de ultrapassar a catraca – sair do Metrô - para utilizar o bendito banheiro, que, aliás, de bendito não tem nada. Além de pequeno, com um mictório cole-tivo e apenas quatro cabines com vasos sanitários, o banheiro não tem papel hi-giênico e trinco nas portas das cabines, isso sem falar no forte odor que é senti-do de longe. No mais, o banheiro da Sé, possui pias com sabonete e papel para secar as mãos. Tem sinalização cor-reta e acessibilidade para deficientes físi-cos, com rampas e corrimão, além de um banheiro exclusivo. No entanto, sen-do público e estando em uma área onde ficam muitos moradores de rua, é co-mum esbarrar com o “pessoal” tomando banho nas torneiras.

Já na Praça da República fica um dos três banheiros realmente públicos que a cidade disponibiliza para seus mo-radores, que afinal de contas pagam pe-

los impostos mais caros do planeta e de-veriam, por isso, contar com os melho-res serviços públicos. Só que isso novamente é uma outra história. O ba-nheiro administrado pela Prefeitura, fica próximo à Avenida Ipiranga. De longe, a casinha rústica mais parece um cenário de desenho animado, só que de perto... Bem, de perto, além da falta de sinaliza-ção e do risco iminente de ser assaltado com a ‘boca na botija’, o banheiro é pe-queno e só tem um mictório e uma pia, as outras duas portas estavam tranca-das, pois as privadas estavam entupidas há duas semanas, segundo alguns usuá-rios. Não há sabonete e nem papel. O chão, todo empoçado com água suja e mal cheirosa inibe a permanência de qualquer um no local. Portanto, se esti-ver passando por lá e precisar usar o ba-nheiro público da Praça da República não se engane.

Além do banheiro da República, os outros dois banheiros realmente pú-blicos da cidade são: o da rua Brigadeiro Galvão Bueno, no bairro da Liberdade, que segundo o guia do HC, apresenta bo-as condições de uso, e o banheiro do Va-le do Anhangabaú, este que disponibilizaremos os próximos parágra-fos para descrever sua enorme varieda-

de de ‘coisas’. Vale do Anhangabaú: local histórico e

privilegiado com uma vista fantástica de São Paulo. Ali, por debaixo de sua monumental ar-quitetura corre o rio Anhangabaú, canalizado no final da década de 1940. No vale também es-tão prédios como o da Prefeitura de São Paulo, o da Central dos Correios, e outros tantos arra-nha-céus de fazer inveja a qualquer grande me-trópole do planeta. E, é lá também que está o nosso terceiro banheiro realmente público da cidade.

Reformado três vezes nos últimos dois anos com custo estimado de R$ 120 mil por re-forma, totalizando cerca de R$ 360 mil. Admi-nistrado nos últimos anos pela Subprefeitura Sé, depois pela Secretaria Municipal de Assis-tência e Desenvolvimento Social e agora devol-vido novamente para a tutela da Subprefeitura Sé. Senhoras e Senhores apresentamos: o ba-nheiro público do Vale do Anhangabaú.

Imagine um lugar sujo, muito sujo mes-mo. Agora multiplique essa sujeira por cem, ou melhor, por mil. Imaginou? Muito bem, assim é o banheiro público do Vale do Anhangabaú, um verdadeiro lixão a céu aberto. É lixo espa-lhado por todos os lados. Tem lixo misturado com fezes, entulho misturado com urina, gra-des arrombadas, vidros e luminárias quebra-das, paredes pichadas, enfim... uma verdadeira catástrofe ambiental urbana no local onde de-veria funcionar um banheiro público para a po-pulação.

É tanto lixo e tanto cocô que as paredes recém cobertas por azulejos novinhos já estão todas ‘grafitadas de merda’. Localizado bem abaixo do prédio central dos Correios, o local lembra o fim dos tempos, o Apocalipse. Tudo está quebrado ou foi furtado: grades, pias, vi-dros e luminárias. As privadas sumiram possi-velmente levadas por alguém que precisou muito delas.

Abandonado pelo poder público e pela população, hoje, o banheiro do Vale do Anhan-gabaú atrai somente mendigos (os mais corajo-sos), usuários de drogas, e alguns cidadãos de aparência ameaçadora que ficam por ali pedin-

do alguma moeda, “para com-prar um lanche”, dizem eles. Ou-tras formas de vida que habitam o local são os ‘animais urbaniza-dos’ (ratos, baratas e pombos). Além deste seleto grupo, outra espécie encontrada por ali são repórteres à procura de mais uma manchete. O caso, no en-tanto, já não se trata mais de uma manchete e sim de uma profunda análise sociológica pa-ra fins científicos.

A mais paulista de todas as avenidas também sofre com a falta de banheiros públicos

Cartão postal da cidade e um dos centros comerciais de maior envergadura do país, a Avenida Paulista tem apenas um banheiro de uso público. Imagine, são 2,67 quilômetros de extensão, por onde circulam diariamente aproximadamente cerca de dois milhões de pesso-as tendo que dividir apenas um banheiro público. O jeito é ape-lar para os banheiros privados, que segundo o guia do HC, nem sempre estão disponíveis para o público. Ou seja, na hora do aperto é bom contar com a sorte e com o bom humor dos lojistas da região.

A pesquisa feita pelos mé-dicos do HC mostra também que apesar da dificuldade em encon-trar alguma privada, muitos lo-jistas da avenida, no entanto, disponibilizaram seus sanitários para o uso público. Aliás, muito bem avaliados pelo guia, com si-nalização adequada e kit de lim-peza completo. E foi logo em uma farmácia, que teoricamente deveria preocupar-se com a saú-

de, que o pedido para usar o banheiro foi negado, ale-gando ser de uso exclusivo para os funcionários da lo-ja. Portanto, uma dica: em casos de emergência, não recorra às farmácias.

A opção pública fica por conta dos banheiros do Parque Trianon, que apesar da falta de sinalização exter-na (na entrada do Parque), apresenta ótimas condições de uso. O banheiro que é mantido pela Prefeitura, tem pias, privadas e mictó-rio em perfeitas condições de uso. Funciona das 7h às 18h, e sempre tem um fun-cionário do parque cuidan-do da limpeza do local. O diferencial neste caso, além da agradável trilha que leva até os banheiros, é a sua ar-quitetura nostálgica manti-da em perfeitas condições. Este sim, dá para relaxar e gozar.

Conclusão

Antes de sair de casa tente lembrar de usar o ba-nheiro.

Mais do que atender às necessidades físicas das pessoas, os banheiros públicos deveriam servir de orgu-lho para a cidade. Uma cidade que respeita seus mora-dores deve obrigatoriamente atender suas principais necessidades e não suprimi-las transferindo responsa-bilidades.

Por outro lado, todo povo tem aquilo que mere-ce, e como aqui, o que é público nunca é de ninguém, continuaremos colhendo nossos próprios frutos, mes-mo que muitas vezes, amargos.

Dicas Cupim

- Câmara Municipal de São Paulo (aproveite para to-mar um café e saber como anda o seu vereador);- Prefeitura de São Paulo (segundo o guia do HC, é um dos melhores banheiros públicos da cidade);- Subprefeituras (são 31 subprefeituras espalhadas pe-los quatro cantos da cidade. Basta pedir licença);- Praça Fernando Costa (a R$ 0,65 é uma boa opção pa-ra quem está na região da rua 25 de Março);- Estação Ana Rosa do Metrô (é limpo e fica aberto até às 22h, o problema são os garotos de programa ofere-cendo serviços); - Bourbon Shopping (um dos toaletes mais luxuosos da cidade. Aproveite também para fazer massagem rela-xante enquanto engraxam seus sapatos). фф

o universo mágico da ilustração

Uma viagem lúdica através das impressões

e traços do ilustrador Adams Carvalho

Everson Bertucci

Na vida de Adams Carva-lho a ilustração sempre esteve presente. Ele nos conta que, como toda cri-

ança, gostava de desenhar, a dife-rença é que: “eu apenas não parei. Pra mim era um extensão das brin-cadeiras. Acho que continua sen-do”, afirma.

Formado em pintura, pela ECA-USP e apaixonado por cinema – mais do que qualquer outra lin-guagem, segundo ele mesmo - sua maior fonte de inspiração é a foto-grafia. Talvez por isso, em muitas das suas obras, há a impressão de estarmos próximos de um retrato quando nos deparamos com a pre-ciosidade dos traços, a singeleza dos olhares, a força das expres-sões, a vivacidade das cores, as particularidades gestuais e a natu-ralidade dos movimentos, notáveis em suas obras (algumas nesta matéria).

No início da carreira, Adams apenas pinta-va. “Mas achei esse universo (o circuito em galerias e espaços institucionais) um pouco fecha-do e limitado. Comecei a querer trabalhar com ou-tros suportes como a ilustração e a animação, que atingem outros públicos e tratam de assun-tos diferentes”, diz.

Mas quando perguntado sobre que tipo de trabalho mais gosta de fazer, nos revela que se di-verte entre as ilustrações, pinturas e animações. “Gosto de todas, indistintamente. Pois cada uma tem seu espaço e não acho nenhuma melhor, mais importante ou mais gostosa de fazer”.

Entre as principais referências estão as fo-tografias e stills de filmes. Na pintura e desenho, ele demonstra preferência pelo trabalho de Hop-per, Degas e Toulouse Lautrec. “Gosto dessas re-ferências mais clássicas, apesar de achar que já não existem mais fronteiras de gêneros”.

OO llúúddiiccoo

Escrever sobre ilustração é pensar no universo mágico que esta arte é capaz de produzir. Ainda cri-ança, como a maioria, era fascinado por desenhos. Como ainda não sa-bia ler, ficava folheando os livros in-fantis em busca de ilustrações e, a partir delas, montava as histórias na minha cabeça. Era o meio de trans-porte para o universo que eu gosta-ria de ficar para sempre.

Lá eu podia fazer o que qui-sesse, na hora em que desejasse e com quem eu bem entendesse. E as-sim eu fazia. Mergulhava de corpo e alma num mundo cheio de vida, de cores, de doces, de alegria e de brin-cadeiras. Me empanturrar de pipo-ca, me lambuzar de chocolate, me entupir de leite condensado, lamber a forma de bolo da vovó e o melhor, não ter dor de barriga, nem nenhum adulto chato me dizendo “não pode

Há três anos Adams ilustra para a Fo-lha de São Paulo, sendo um dos cinco finalistas de um concurso. Foi quando o cha-maram para ilustrar a coluna do Gilberto Di-menstein e a Revista da Folha, onde permanece até hoje.

Seu contato com a ilustração infantil aconteceu quando convidado para ilustrar o li-vro "No Meio do Caminho Tinha uma Luz”, de Débora Brenga. “Foi meu primeiro trabalho de ilustração editorial e o primeiro, e único, até agora”, diz. Sobre esta experiência ele complementa: “fiquei feliz com o resultado, as ilustrações são bastante pictóricas, ilumina-das, curiosas, com imagens que nasceram de um ponto de vista diferente, assim como o tex-to da Débora”.

Sobre a ilustração no universo infantil ele nos conta: “eu adoro. Imensamente. O meu tipo de trabalho não tem a ver com esse universo, infelizmente. Mas chego a achar que a ilustração infantil é tão, ou mais, impor-tante do que a ilustração adulta”. E explica: “pois atinge as pessoas no começo de suas vi-das. É aí que começa a fazer a diferença na vi-da das pessoas”.

Principais Trabalhos

Livros: “No Meio do Caminho Tinha uma Luz”, de Débora Brenga; “O Tempo das Surpresas”, de Caio Riter e "Turbilhão em Macapá”, de Ivan Jaf.

CD’s: Duofel; Francisco Forró y Fre-vo”, de Chico César e “Pode Entrar”, de Ivete Sangalo [ainda não lançado].

Teatro: Toda programação gráfica do grupo “Comida dos Astros” e “Mi-nha Nossa”, de Renata Sofredinni.

Cinema: “Olho de Boi”, de Hermano Penna.

Revista: Rolling Stone, Revista da TAM e Contra-Relógio.

www.adamscarvalho.com

isso, não pode aquilo”. Havia os amigos imaginários e os lon-

gos diálogos com os personagens de Montei-ro Lobato, representados pela esperta Emília. Vinha também o Fominha, o Desas-trado, o Gargamel com seu gato Cruel (Os Smurfs), o Coração Valente, o Malvado e a Laurinha – com sua deliciosa voz esganiça-da (Ursinhos Carinhosos). Tinha também a Magali, o Cascão e o Chico Bento (Turma da Mônica) e muitos outros.

Nesta atmosfera era possível fazer uma viagem quixotesca nos cavalos-de-ca-bo-de-vassoura , sem receio de cair; subir no galho mais fino e alto dos pés-de-manga, sem medo de se estatelar no chão; me trans-formar em Super-Homem e sair voando quando minha mãe vinha com aquela vara verde me sapecar a bunda. Enfim, era possí-vel fazer mil estripulias numa mescla de inocência, esperteza e um toque sutil de malvadeza.

Bom seria se os adultos não perdes-sem essa beleza infantil, o poder de se diver-tir e se fazer colorir por tão pouco. Apenas um traço, um desenho, uma figura, uma ilustração é suficiente para transportar uma criança para dentro do céu, do seu pró-prio céu. E lá poder exercer a função de ser feliz, a função que ninguém poderia lhe ti-rar, a função única de ser criança. ф

relembrar é viverA virada cultural reviveu momentos do passado e apresentou

aos jovens um mundo vivido apenas pelos mais velhos

Em sua 5ª edição, a Vi-rada Cultural da capi-tal paulista conseguiu reunir um público re-

corde de cerca de quatro mi-lhões de pessoas. Tudo isso em pleno feriadão e sob muito frio. Nossa, é muita gente!

Com o mapa na mão e uma série de atrações ficou difí-cil escolher. Teatro, circo, dan-ça, cinema e muita música me deixaram sem saber para onde ir e ao mesmo tempo querendo ser várias para poder estar em

todos os lugares. Tudo bem, isso só é possível na minha fértil imaginação, mas não custa nada so-nhar!

Pensei em Jon Lord, o lendário tecladista e organista do Deep Purple, ou talvez Wando, (coleci-onador de calcinhas ), imagine a mulherada na fai-xa de 30 a 50 anos delirando “ ... eu querooo... me enroscar nos teus cabelos... ( ok, eu sei a letra! e cantaria junto, só não comprei a calcinha para pre-senteá-lo ). Acabei escolhendo o palco principal, na inspiradora São João com a Ipiranga. Reviver Tim Maia ao som da banda Instituto foi inesquecí-vel. Sem falar no reencontro dos Novos Baianos

Tatianna Felix

com o guitarrista Pepeu Gomes, as vozes de Baby do Brasil e Paulinho Boca de Cantor, o swing dos irmãos Jorginho (Bateria) e Didi Gomes (Bai-xo) e a poesia de Luiz Galvão. Só fal-tou Moraes Moreira cantando o refrão: “Preta, preta, pretinha”.

A cada vez que passava pelo Teatro Municipal, na Praça Ramos, centenas de pessoas formavam uma fila gigante em busca de um ingres-so para assistir diversos shows que trariam de volta velhas lembranças. Por lá, artistas seminais da música brasileira tocaram na íntegra álbuns do passado, da primeira à última fai-xa, como o Chico César que apresen-tou seu primeiro álbum, Aos Vivos de 1995.

Na Praça da República, um palco foi todo dedicado ao rock. Deu pra ver como a galera se divertiu ao som de camisa de Vênus ou Ike Wil-lis, lendário cantor do grupo de Frank Zappa. E por falar em rock, impossível não lembrar da homena-gem a Raul, no Palco da Estação da Luz. Desta vez ninguém precisou gri-tar aquela conhecida frase: “Toca Raul!”. Não há como negar, nesta edição relembrar foi viver, sentir e descobrir o que muitos conheciam apenas por livros ou CD’s, quer di-zer LP’s.

Agora, pra quem não estava muito in-teressado em shows musicais, houve diver-sas peças de teatro, como o grande classico grego, Édipo Rei, encenada por alunos de direito da Faculdade São Francisco, um ôni-bus itinerante com aulas de dança, espaços dedicados a filmes de terror ou o grupo francês Carabosse, fazendo uso do fogo em um lindo espetáculo, daqueles pra você as-sistir bem coladinho ao namorado. E claro, centenas de outras atrações.

Adoraria poder ter visto o show de encerramento. Assistir, ouvir Maria Rita era um sonho, mas quem aguenta 24 horas de festa? Será que estou ficando velha? Não sei, mas a verdade é que as pernas não aguentaram. No outro dia só ouvi vários di-zerem “Ela é demais!”.

É, a festa terminou e mais uma vez a Virada Cultural foi um sucesso. Diversos estilos, gêneros, tribos, passado e presente, tudo reunido em um único lugar. Agora é esperar por 2010 e se preparar pra mais uma festa, que aliás poderia muito bem se chamar “Diversidade Cultural”.

HHiissttóórriiaa

O evento foi inspirado nas Noites Brancas ou Nuit Blanche, uma miscelânea cultural que acontece no primeiro sábado de outubro desde 2002 em Paris, capital da França. A expressão significa uma noite voluntariamente passada “em claro”.

José Mauro disse que a Virada é a repre-sentação da vocação da cidade paulistana que tem uma vida ininterrupta e que nesta data não é diferente, porém de forma festiva.

EEddiiççõõeess aanntteerriioorreess

A primeira edição da Virada Cultural aconteceu nos dias 19 e 20 de novembro de 2005. Foram gastos cerca de 2,5 milhões de re-ais para levar mais de 400 atividades para 111 locais, distribuídos nas cinco regiões da Capital. Entre os shows desta edição estiveram Elza Soa-res, Tom Zé, Antônio Nóbrega e Banda Manti-queira.

Em 2006, o evento passou a acontecer em maio, para evitar que possíveis chuvas atra-palhassem o divertimento do público. Neste ano, melhor estruturada e mais organizada, a Virada Cultural contou com um público aproximado de 1,5 milhões de pessoas mesmo com os ataques do PCC que precederam aqueles dias. Foram mais de 600 atividades artísticas espalhadas pe-la capital, entre elas, Luiz Melodia, Belchior e Moraes Moreira.

A edição de 2007 que investiu aproxima-damente 3,7 milhões de reais e atraiu cerca de 3,5 milhões de pessoas foi marcada por uma grande confusão no show da banda Racionais Mcs. A Praça da Sé e as ruas em torno transfor-maram-se em um campo de batalha entre polici-ais e o público.

Em 2008, o investimento foi de cerca de 6 milhões de reais. Com shows de Gal Costa, Zé Ramalho, Mutantes e Jorge Ben Jor, há quem diga que esta é uma edição insuperável.

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A Virada Cultural se tornou um dos even-

tos festivos mais importantes do cenário nacional e por isso mes-mo nem só de paulistanos é composto o público do evento. Pessoas de diversos lugares do Brasil, da América Latina e do mundo movimentam a econo-mia paulistana com o intuito de se divertir e fazer parte dessa grande confraternização de po-vos, sons e gostos.

A estudante Ana Paula disse que vem à Virada desde a primeira edição. “Na Virada en-contramos gente de todas as tri-bos, com as mais variadas preferências musicais e todas elas com produtos para satisfazê-las. Pra mim, é o grande evento do ano. Não perco por nada.”

O estudante argentino, Juan Carlos, disse que essa é a segunda vez que vem ao evento. “Ano passado vim com uma ami-ga brasileira. Gostei tanto que voltei.”

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A Virada Cultural faz esco-la e se espalha pelo Brasil. O evento que já existe em várias ci-dades do interior paulista, agora estará presente no Rio de Janei-ro. A idéia surgiu da Secretaria Municipal de Cultura e tem o apoio institucional da Globo Rio.

O evento acontecerá entre 5 e 7 de junho, tendo duração de 48 horas, o dobro da capital pau-lista.

Quatro palcos serão mon-tados, preferencialmente nas pe-riferias da cidade carioca. Nesses locais, ocorrerão shows, peças, exposições, tributos, fil-mes, além de outras atrações. фф

Para quem não o conheceu (uma pe-na), filho do pesquisador Moisés Kuhlmann, que participou da funda-ção do Jardim Botânico de São Paulo

em 1928 e contribuiu com a sistematização do processo de influência da fauna sobre a flora, ele foi além de poeta e criador de coe-lhos, um exímio jornalista político de crôni-cas sutis como um elefante à situações cotidianamente pitorescas do cenário político - brasileiro. Seu patrimônio intelectual não está editado. Ele nunca se propusera a tal fa-çanha, mas algumas de suas crônicas e arti-gos estão disponibilizados através dos extintos jornais FATO EXPRESSO e CIDA-DES DA SERRA e na revista CONTEMPORÂ-NEA. Seu pseudônimo mais conhecido é o “Tio Marcos da Portela: -Aquele Abraço!”

Itagyba participava do Coral Municipal de Embu das artes “Cantares ao Meu Povo”, nome em referência à obra de Solano Trindade, sob regência de Wilma Abondanza (sua esposa) até 2008. Simples e sereno, sempre às ordens magistradas pela regente, dava o tom com sua voz grossa e veemente.

Embalava os ensaios na Biblio-teca Municipal Moacir F. Jordão, no centro do Embu. Era uma diversão. Mais empolgante que as próprias apre-sentações. Sempre havia uma nova to-ada, com vocalizes e exercícios musculares à luz apagada (para não deixar ninguém envergonhado). Quan-do afinavam e executavam por comple-to uma obra como “Estrela Estrela”, de Vitor Ramil ou “Cio da Terra”, de Chi-co Buarque, uma paz assolava a sala fria e desconfortável que os abriga-va.

Nas apresentações, Itagyba, aco-lhedor com seu sorriso discreto, sem-pre recebia a todos como um “paizão”. Lúcido ao extremo e simples com seu ar poético, era o contraponto de Wil-ma, brincalhona e extravagante com suas piadas e deixas. Professor por na-tureza, Itagyba sempre ilustrava suas conversas com política, cultura, jorna-lismo, e informática, já que ele era ‘ex-pert’ em programação LINUX – UBUNTO.

A doençaItagyba fumou por 45 anos. Es-

se vício o prejudicou, e um de seus pulmões o deixara na mão. Tempos di-fíceis contam, onde pensaram que ele não agüentaria. “BRAÇO DE PEDRA”: em tupi, "ita" é "pedra" e "gyba", "bra-ço", assim o caracterizaram após esse episódio, pois o significado indígena do seu nome se fez valer neste momen-to.

Uma coluna sem desviosPoeta contemporâneo, jornalista e um pai exemplar, Itagyba

Kuhlmann tornou-se referencial em Embu das Artes

Alexandre Oliveira da Silva

Parou de fumar e começou a buscar uma vida mais saudável. Exemplo disso: sua família nunca usou forno microondas por precaução. Contudo, o destino ou o acaso, levou-o novamente ao leito do hospital. Devido a sua debilidade física, um tumor crescera em seu cérebro. Os médicos indicaram que, pelo nível de ramificações, tal tumor poderia estar alojado de longa data. Por esta ninguém esperava.

A descobertaA partir de meados de 2008,

alguns episódios na Prefeitura de Embu, onde prestou serviços até seus últimos dias, deixaram-no profundamente descontente e um enorme sentimento de impotência apoderou-se dele. O encaminhamento da política local pode ter sido seu calvário. Nesse ponto já não tinha mais força e sempre tentava acalmar a todos dizendo que só precisava descansar. Sua companheira, Wilma, tentou de tudo para animá-lo. Em vão, relembrava situações pelas quais passaram, para que pelo passado pudesse convencê-lo a lutar pelo presente.

O dia da certezaA situação piorou. Logo já não

conseguia formar uma frase, sempre lhe faltara a última palavra, muitas vezes o substantivo. Seu lado direito começou a não mais responder aos estímulos. Com muito sacrifício segurava uma colher para tomar sopa, pois só este alimento conseguiria ingerir. Foi um mês muito difícil. Deslocou-se várias vezes entre o pronto socorro e o hospital para a realização de inúmeros exames antes de dirigir-se definitivamente ao Hospital Geral do Pirajussara, seu leito de morte.

Na semana em que se dera sua internação veio a notícia. Um tumor. Seus familiares tentavam consolar Wilma que, em prantos, não acreditava

na real situação. Logo em seguida soube-se que, o que se pensava ter sido derrame na verdade fora uma hemorragia intracraniana motivada pelo tumor, este responsável pela paralisação do lado direito do seu corpo. Seus filhos revezavam-se para estar presentes 24 horas no hospital, acompanhando-o e dando força na sua improvável recuperação. Foi quando no dia 04 de abril de 2009 veio a falecer, contraindo uma pneumonia hospitalar que complicou seu quadro já humanamente insuportável.

Suas lembranças trazem dor a seus familiares e amigos próximos, pois é difícil separar-se de algo que faz tão bem. Contudo, fica a certeza que para muitos não se pode dizer o mesmo: ele fará falta! Como homenagem, suas cinzas foram dispersas no recanto Moisés Kuhlmann, localizado no Jardim Botânico de São Paulo e no Parque do Lago Francisco Rizzo em Embu.

ITAGYBA KUHLMANN, como dito no texto: O "Braço de Pedra" de Embu das Artes, por ESTÊVÃO BERTONI para a FOLHA (obituário), deixa sete filhos, 5 netos, noras e uma amada esposa. фф

a balada que abalaFlávio Rocha

A tecnologia e os avanços dos aparelhos celulares vêm causan-do transtornos aos usuários do transporte público. Pelo menos

a mim, o incômodo é diário e constante.Parece que algumas pessoas resol-

veram fazer dos trens e ônibus da cidade uma verdadeira “balada do transporte”.São ritmos conhecidos e variados, serta-nejo, funk, forró, axé, rap, se escuta de

tudo um pouco e um pouco de tudo.Pior do que a qualidade musical

expressa pelos usuários, é a sua determi-nação de escutar tudo ao mesmo tempo. Chega até mesmo parecer uma verdadei-ra batalha musical.

E neste caso, quem pode mais, chora menos, pois quem tem o celular com maior potência de som ganha a bata-lha. E quem perde? Adivinha? São as ou

APERTADINHO

tras pessoas – me incluo neste caso - que se encolhem em seus lugares e ten-tam inutilmente mais alguns minutos de sono até chegar ao ponto final.

Imagine uma balada que toque funk com rap, forró com axé, ou tudo ao mesmo tempo. Imaginou? Essa é a mi-nha rotina.

Chego a pensar que os celulares perderam sua maior importância. Pra que falar com alguém, se podemos fazer todos nos escutarem.

Pra que serve o celular mesmo? Já nem sei mais, são tantas as funções deste pequeno aparelho, que hoje ele se confunde com outros. Acho até que já vem com canivete suíço. Se não vem, é uma opção.

Neste momento acredito que sua principal utilidade é ser um aparelho pa-ra expressar a ideologia ou gosto pessoal de música. Você já reconhece as pessoas pelo que ela escuta. Olha lá o funkeiro, lá vem o do forró, olha o pagodeiro che-gando...

Não, eu não sou um chato que não gosta de música, muito pelo contrá-rio, gosto sim e muito. Tudo bem, não gosto dos ritmos que citei acima, porém, mesmo que gostasse concordaria que 6 horas da manhã não é o melhor horário para escutá-las, e muito menos às 18, horário que nos encontramos, cansados, vindo de um dia estressante de trabalho, aborrecidos com o aperto e tendo que es-cutar:

“São as cachorras, hu, hu, hu, hu, as preparadas, hu, hu, hu, hu, as popozudas hu, hu, hu, hu, o baile to-do...”, ou então, “Quem vai querer a mi-nha periquita, a minha periquita”.

É, meu caro, vivemos em um país livre, o que é uma verdade, concordo e respeito a diversidade cultural, mas e o respeito que devemos ter com as outras pessoas que não querem ouvir este tipo de música?

Tenho até uma solução para isso, e pasmem não vai ter custo algum pra ninguém. É ele, minha gente, o bom e velho fone de ouvido, acessório atual-mente obrigatório e gratuito para quem compra celulares que tenha rádios e mp3.

Bem, mas há algo intrigante em tudo isso, se o fone é gratuito, onde eles estão? Será que todos estão quebrados? Ou é melhor mesmo se equilibrar no ba-lanço da condução com uma mão no fer-ro de segurança e a outra segurando o aparelho do transtorno?

Já pensei até em montar uma campanha dentro dos transportes. Seria mais ou menos assim: “se você tem edu-cação, coloque o fonão” ou então “para não importunar quem vai trabalhar, des-ligue o seu celular”.

Tudo bem, tudo bem, talvez eu não seja muito bom em jargões, mas, por favor, eu peço com educação, você usuário da condução, respeite o cida-dão. Este ficou bom, hein!? фф

MADAME CHARLA