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Caçadores de almas: segredos e maldições

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Um grupo de jovens unido por um juramento. Uma garota resgatada de um ritual de magia negra descobre que carrega a chave que abrirá o portal para o inferno. Um rapaz misterioso, condenado a vagar pelo mundo caçando aqueles dos quais um dia foi aliado. Unidos, tentam livrar a Terra dos que querem passar para este lado. Serão eles capazes de superar seus piores medos e vencer essa guerra?

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Caçadores de Almas

São Paulo, 2015

Segredos e Maldições

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Caçadores de Almas: Segredos e MaldiçõesCopyright © 2015 by Ana Beatriz BrandãoCopyright © 2015 by Novo Século Editora Ltda.

gerente editorial

Lindsay Gois

editorial

João Paulo PutiniNair FerrazRebeca LacerdaVitor Donofrio

gerente de aquisições

Renata de Mello do Valeassistente de aquisições

Acácio Alvesauxiliar de produção

Luís Pereira

coordenação editorial

Letícia Teófilo

preparação

Equipe Novo Século

diagramação

Equipe Novo Século

revisão

Samuel Vidilli

ilustração de capa

Alexandre Santos | Pergaminno Design

capa

Renato Klisman

novo século editora ltda.Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – BrasilTel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br | [email protected]

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Brandão, Ana Beatriz AzevedoCaçadores de almas: segredos e maldiçõesAna Beatriz Azevedo Brandão.Barueri, SP: Novo Século Editora, 2015.

1. Ficção brasileira 2.Ficção de suspense. 3. Mistério i. Título

15-02808 cdd-869.93

Índice para catálogo sistemático:1. Ficção de suspense: Literatura brasileira 869.93

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Até que as estrelas caiam. Até que o último raio de sol brilhe. Até que a escuridão tome o mundo e até que todos

aqueles que amamos tenham perecido, eu prometo que caçarei aqueles que não merecem o perdão. Não permitirei

que vidas inocentes sejam sacrificadas. Darei minha vida por aqueles que dão as suas por mim. Meus irmãos, a

partir de agora, serão parte de mim, e eu serei parte deles. Seremos um e assim viveremos eternamente e, até que o

fim da eternidade chegue, eu serei um Caçador de Almas.

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Hoje o sentimento que me move é a gratidão.Gratidão por todo o carinho que recebo dos meus leitores, gratidão por

todo apoio que minha família me dá, gratidão por todos os sonhos que estão se realizando.

Sou grata a Deus por me dar forças para continuar a escrever e a buscar sempre o melhor de mim.

Aos meus anjinhos leitores, agradeço e dedico este livro, por sempre acreditarem em mim, no meu trabalho e por estarem sempre me apoiando e me dando tanto carinho.

Agradeço aos meus pais por todo apoio que me dão e por não me deixa-rem desistir dos meus sonhos, mesmo quando surtei e quis desistir de tudo, graças a vocês cheguei até aqui.

Agradecimentos

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Acuediate = Acordo

Aer = Ao

Ai = A

Aia = As

Alle = Aqui

Antetut = Primeiro

Aprelie = Medo

Aprielys = Medos

Aunte = Ainda

Biera = Quem

Biere = Ser

Cellatre = Chegando

Cepreya = Entender

Cepreyare = Entendendo

Collente = Fogo

Dai = Da

Daia = Das

Debaya = Deveria

Delaniet = Deverá

Delene = Deve

Dellira = Garota

Demonderes = Demônios

Demondo = Demônio

Der = Do

Deraya = Evitar

Dessete = Diz

Eia = Se

Enare = Frente

Er = O

Eraia = Ouse

Eres = Os

Esueno = Este

Eve = Em

Exaliarelle = Exatamente

Falle = Fez

Felle = Fiz

Fellene = Fazia

Fellore = Faça

Fenca = Estar

Fencan = Está

Fencante = Estão

Fessing = Engolindo

Fessiré = Engolirei

Fractiai = Parte

Gaia = Humana

Gevante = Dar

Geve = Dê

Goraia = Prazer

Grette = Vocês

Gretto = Você

Hadiare = Mãos

Dicionárioda língua demoníaca

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Hadiere = Mão

Hemaia = Vão

Hemoe = Vou

Hemoen = Vai

Hiruece = Seguidores

Inea = Saiba

Intiere = Todo

Intiore = Tudo

Jeve = Vida

Keme = Há

Ladielay = Machucar

Laia = Eles

Laie = Ela

Laien= Ele

Lefe = Eu

Lire = Deixe

Lo = E

Locuentro = Onde

Lorat = Adoro

Maienaia = Minhas

Loratie = Adoram

Maiene = Minha

Malette = Maldita

Maletto = Maldito

Maloerto = Inferno

Mentelli = Almas

Merte = Me

Mondo = Mundo

Nai = Na

Naiara = Uma

Naiare = Um

Ner = No

Nessey = Não

Nigorian = Enfrente

Oblivy = Ilusão

Omarion = Dominar

Oratche = Ordens

Oellie = Conseguiu

Oie = Se

Orum = Embora

Paiare = Para

Patre = Pai

Pelle = Ponto

Perfente = Por Favor

Perme = Permanecerei

Pollede = Pode

Polpexy = Salvei

Possem = Invade

Quera = Com

Razier = Acontecer

Serilla = Pertencentes

Siemalle = Mandar

Solumbre = Trevas

Swei = Abrir

Swelle = Escuridão

Tempelo = Hora

Teten = Que

Tizia = Algo

Tore = Portas

Treve = Pelo

Vilear = Ir

Viré = Olhos

Waiera = Quer

Xessy = É

Xyes = Seus

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Estávamos no escuro. Tudo o que se podia ouvir eram as respirações pesadas das pessoas à nossa volta. Não sabíamos o que nos observava enquanto estávamos momentaneamente cegos, e acho que a maioria de nós não queria nem imaginar.

Sussurros. Sussurros envolviam o ambiente, fazendo arrepios subirem por nossos braços, chamando por nós, pedindo que fôssemos até o inocente cômodo escuro no fim do corredor. Por que não? Aquela voz demoníaca me parecia muito confiável.

Assim fomos, ignorando os protestos de quem estava ao nosso redor, nos chamando de burros e idiotas, dizendo que morreríamos merecidamen-te. Fomos de maneira hesitante e barulhenta, mas fomos. Quando entramos, sentimos uma sensação de frio intenso atingir nossos corpos e o cheiro ruim de corpos em decomposição entrando pelo nariz. A porta se fechou com um baque, nos fazendo dar um salto, porque aquilo não era nada esperado.

Todos gritaram à minha volta no cinema, e eu comecei a rir. Diziam que aquele era o melhor filme de terror de todos os tempos, mas aquela criatura

O início“

Não há fórmulas matemáticas que possam demonstrar o quanto o mundo pode nos surpreender, provando que nem

tudo tem uma explicação lógica.

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grudada ao teto como um Homem Aranha tendo ataques de epilepsia era extremamente cômica pra mim.

Meu namorado, sentado ao meu lado, me olhou como se eu fosse com-pletamente louca por começar a rir na parte mais impactante do filme. Ainda não havia entendido como eu podia achar toda aquela história de demônios e possessões algo banal e sem sentido, mas ele não se lembrava de que eu tinha dezoito anos e sabia mais de ciências exatas e nomotéticas do que muitos pro-fissionais por aí. Falei, já sabendo que não aguentaria mais nenhum segundo no meio daquela gente pateticamente assustada:

– Vou ao banheiro, já volto.Me levantei da poltrona, ignorando todos os xingamentos proferidos pe-

las pessoas sentadas atrás de mim e desci as escadas laterais da sala apressa-damente, batendo contra a porta de saída e indo parar na praça de entrada do lugar. O cinema ficava dentro de um shopping e, como eram quase duas da manhã, estava tudo completamente vazio. Era a estreia do filme.

Todas as lojas já haviam fechado e os jovens que trabalhavam nos caixas do cinema haviam saído de seus postos. A única pessoa restante era uma ga-rota de mais ou menos dezenove anos, parada em frente à caixa registradora no balcão de doces me olhando esperançosamente, como se implorasse men-talmente para que eu fosse até lá comprar algo apenas para matar o tempo e para que ela tivesse algo pra falar com alguém.

Eu a entendia.Sabia o quanto poderia ser tedioso ficar horas sozinha apenas esperando

alguém aparecer para ter uma conversa minimamente inteligente e tirar da-quele horrível estado vítreo de tédio.

Olhei pra ela com certo pesar, como se me desculpasse por não ter di-nheiro o suficiente para comprar algo (o que era verdade), e virei o rosto para o outro lado, esperando que não continuasse me encarando com aqueles olhi-nhos grandes, brilhantes e persuasivos de vendedora.

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Uma brisa estranha me atingiu. Não deveria haver brisas dentro de um shopping vazio, ou deveria? Sorri com descrença, balançando a cabeça. Ti-nha acabado de assistir um filme de terror e não deixaria aquelas paranoias malucas, que geralmente tomam conta da mente daqueles que se deixam enganar por efeitos especiais horríveis e que induzem à sensação de que es-tamos sendo perseguidos por algo sobrenatural, entrarem na minha cabeça. Fui até o banheiro, parando em frente ao enorme espelho em cima da pia de mármore negro.

Meu cabelo ruivo cacheado estava completa e permanentemente desgre-nhado. Não importava o quanto eu o penteasse ou tentasse ajeitá-lo, ele sem-pre se tornava um enorme redemoinho que ia até alguns centímetros acima da cintura, e meus grandes olhos verdes eram apenas um farol um pouco menos chamativo no meio de meu rosto pálido cheio de sardas claras nas bochechas e nariz.

Suspirei, verificando a caixa de mensagens do celular. Ainda esperava a resposta do meu professor de Física a respeito do trabalho que fiz sobre a dinâmica de elétrons em sólidos. Havia sido a única aluna da classe a fa-zer aquele trabalho (qualquer coisa por nota extra!), por isso tinha pedido que me mandasse uma mensagem. Não havia necessidade de expor minha “cdfzisse” para o resto da sala. É claro que eu sabia que ele nunca me manda-ria essa resposta de madrugada, mas era impossível conter minha ansiedade. Eu simplesmente não conseguia parar de olhar. Aquilo me permitiria ganhar uma bolsa de estudos na melhor faculdade da Inglaterra. Seria minha liber-dade, minha passagem só de ida pra longe desse fim de mundo.

Meus pais não queriam que eu fosse. Não queriam que eu viajasse para outro país e me distanciasse deles “apenas” para estudar. Achavam que a fa-culdade da cidade, na qual eles e meu irmão se formaram, era boa o suficiente. Mas “suficiente” não era bom o bastante pra mim. Se queria fazer algo, tinha que ser a melhor, e se isso significasse que eu teria que me mudar para outro

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país, então eu o faria. Nunca perderia essa oportunidade, ainda mais sabendo que tinha mais chances de ganhá-la do que qualquer um da sala. A maioria deles tinha o cérebro do tamanho de uma lata de sardinha, um cérebro que só servia para zombar dos outros, ou melhor, de mim.

Por sorte, o namorado que por milagre eu havia arranjado, estudava em outra escola, que ficava na cidade vizinha, e nem sonhava com a existência desses imbecis.

Estávamos juntos fazia dois anos. O nome dele era Alex e não enten-dia metade das coisas que eu dizia. Era como namorar uma criança de cinco anos, que acha tudo o que você diz engraçado mesmo sem entender, e faz o que você pedir.

Nosso namoro era mais de conveniência do que por amor. Ele estava comigo porque eu o ajudava a fazer os deveres (todos eles, não importava a matéria), e o namorava pelo simples fato de não gostar de estar sozinha. Também gostava dele, mas não o amava. É claro que sabia que Alex estava me usando, mas pra que mexer em algo que já está feito, resolvido e com o qual você já se acostumou?

Subi o olhar para o espelho, encontrando minha única amiga parada de pé ao meu lado, me observando com certa curiosidade. Seus olhos eram grandes e ficavam ainda maiores por trás das lentes garrafais de seus óculos de aros pretos. O cabelo castanho claro liso estava repuxado em um rabo de cavalo apertado e suas grossas sobrancelhas estavam juntas. Ela avisou:

– O filme acabou. Alex está esperando você.Assenti com a cabeça, guardando o celular de volta no bolso e fechando

mais o casaco preto de tecido impermeável que eu usava. O capuz era envolto por pelos artificiais da mesma cor, que me causavam uma alergia extrema, mas minha mãe me obrigava a usá-lo.

Saímos do banheiro, entrando no enorme mar de rostos das pessoas que haviam saído da sala de cinema. Odiava aglomerações como aquela, nas quais

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não se sabe o que ou quem está à sua volta apesar de enxergar muito bem. Fui empurrada, como em uma correnteza, para fora do fluxo de pessoas, parando em frente a Alex, ao lado da porta do cinema. Sorri para ele. Tinha os cabelos dourados que caíam até a altura dos olhos azuis-celestes. A pele era bronzea-da como a de um surfista que havia passado muito tempo debaixo do sol no fim de semana. E de certa forma isso era verdade, ele adorava passar o dia inteiro em cima de uma prancha esperando a onda perfeita.

– Não acredito que começou a rir na parte mais…– Não tem parte mais forte, Alex – interrompi. – O filme todo é uma por-

caria. Esperei mesmo que fosse, mas era pior do que eu pensava.– Como você pode não ter medo?– Não tenho medo do que não acredito. Se a coisa não pode ser expli-

cada, quantificada e não há provas de sua existência, é porque ela não existe.Institivamente, Alex colocou as duas mãos em meu rosto, apertando os

lábios contra os meus antes que pudesse começar a tagarelar sobre o ponto de vista científico sobre todas as coisas. Ele odiava quando eu fazia isso. O afas-tei, olhando em volta. Toda a multidão parecia ter sido desintegrada naqueles dois segundos em que fiquei dispersa. Briana, minha amiga, parecia muito entretida ao encarar as pedras de mármore brilhantes e amareladas do chão do shopping. Perguntei:

– Pode me dar uma carona até em casa, B.?– Desde que não fique me enchendo o saco quando eu violar as leis de

trânsito, tudo bem.Sorri levemente pra ela antes que se virasse, indo na direção do estacio-

namento, e nós a seguimos. Briana tinha um carro bem velho e barulhento, coberto de tinta vermelha descascada e bancos rasgados e encardidos. Ela não costumava jogar fora as embalagens dos montes de fast-food que ela tan-to comia.

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Paramos em frente a ele e ao enorme, caro e brilhante carro de Alex. As diferenças de classes sociais entre eles não afetavam em nada sua relação de amizade, embora tenha sido eu a responsável por juntar os dois, já que não se suportavam antes de eu aparecer. Por sorte, já haviam feito seu tratado de paz há um ano.

Sorri, mordendo o lábio inferior enquanto Alex passava os braços em torno da minha cintura, beijando a minha bochecha demoradamente, se des-pedindo. Entrou em seu carro depois de fazer um simples gesto com a cabeça na direção de Briana.

Quando já estávamos na rua, com as janelas fechadas e o ar-condiciona-do barulhento ligado, me permiti voltar a falar.

– O que vocês dois têm?– Nada, por quê?– Ele não disse nada antes de ir. Pensei que já tivessem se resolvido.– Já nos resolvemos, Serena – disse, com um tom mais severo do que an-

tes. Continuou, num tom um pouco mais baixo. – Há muito tempo. – Depois, pareceu se perder em seus pensamentos.

Serena. Esse era o meu nome, que combinava bastante com a minha per-sonalidade. Nada me tirava do sério, nada perturbava meu estado de espírito. Nunca havia me metido em uma briga na vida. Apenas seguia em frente sem olhar para trás.

Seguimos em silêncio até que ela me deixasse em casa, e a despedida se resumiu a apenas um “te vejo amanhã”. Não entrei pela porta da frente, e sim pela escada de incêndio que dava direto no meu quarto, pois não queria que meus pais me vissem chegar e dar a oportunidade a eles de me perturbarem de novo com o assunto da faculdade. Suspirei ao entrar nele. Em minhas pa-redes e teto eu tinha centenas e mais centenas de folhas com fórmulas de Física e Matemática, por isso já nem sabia mais qual era a cor das paredes por baixo daquilo tudo.

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Gostava disso, de saber que pra onde eu olhasse haveria informações a aprender. Não deixava meu cérebro descansar nem por um segundo. Já tinha tido pesadelos sobre as folhas criando vida e vindo atrás de mim, me enter-rando viva, mas isso foi quando eu comecei a colá-las nas paredes, aos dez anos de idade.

Arranquei minhas roupas, colocando o pijama preto e me jogando na cama. Peguei meu celular, verificando mais uma vez se havia alguma men-sagem. Só uma. Me sentei com um pulo, sorrindo. Será que era meu profes-sor com a nota do trabalho? Infelizmente, não. Como o eticamente esperado, soaria muito estranho, pra dizer o mínimo, um professor enviar mensagens a uma aluna de madrugada. Juntei as sobrancelhas, olhando em volta depois de ler o que estava escrito.

Estamos observando você. Meu sorriso se tornou descrente, e balancei a cabeça. Devia ser algum

idiota bêbado mandando mensagens a esmo. Que idiota. Coloquei o celular em cima do criado-mudo, voltando a me deitar e colocando o travesseiro por cima da cabeça, bloqueando qualquer som que pudesse vir do lado de fora e esperando que contivesse a minha ansiedade em sabe a maldita nota do trabalho. Tudo o que eu queria era ter finalmente uma boa noite de sono sem ser consumida pelos pesadelos que me assolavam quase todas as noites. Eram realmente macabros, mas não era por esse motivo que me assustavam, mas sim porque… bem, era melhor não pensar no assunto naquele momento.

∞Acordei com um grito abafado. O meu grito. Tapava a boca com as mãos.

Minha respiração e os batimentos cardíacos estavam acelerados e podia sen-tir o suor escorrendo pela testa.

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Sentei na cama, me encostando a cabeceira enquanto tentava me acal-mar um pouco. Como sempre, a pior parte de acordar dos meus pesadelos ainda não havia chegado, mas sempre tinha esperança de que, por um mi-lagre, estivesse curada dessa minha paranoia maluca que só se manifestava à noite. Ficava horas e horas acordada, olhando em volta esperando que alguma criatura saltasse em mim do nada. Minha parte racional, a que fun-cionava de dia, parecia adormecer a noite, deixando espaço apenas para o medo incontrolável.

Olhei em volta. Chovia do lado de fora. Era uma grande tempestade e seus raios iluminavam meu quarto com flashes de luz. A cada vez que isso acontecia, as sombras em meu quarto pareciam mais escuras e maiores. Os móveis pareciam estralar como se estivessem sob algum tipo de força invisí-vel. Respirei fundo. Era a variação da temperatura agindo sobre a madeira: quanto mais quente, mais o material se dilatava, e quando voltava a esfriar seu volume voltava ao normal, causando os estalos.

Os minutos se passavam, e cada vez mais eu me via presa ao ato de obser-var aquelas sombras nas paredes. Sombras que pareciam maiores, diferentes e mais deformadas a cada raio. Eu sabia que era coisa da minha imaginação, mas não podia deixar de encarar. Esperava pelo momento em que alguma imagem de algo maligno aparecesse entre elas, como qualquer pessoa paranoica espera. As observava com atenção, esperando com paciência por alguma mudança real quando, pela primeira vez, algo aconteceu. Não foi no meu quarto ou do lado de fora. Foi no andar de baixo, na sala. Uma das televisões da casa ligou, liberando um chiado irritantemente contínuo e alto. Me levantei da cama, cal-çando os chinelos que deixava no chão ao lado dela, e coloquei meu moletom cinza-claro que estava sobre a escrivaninha, porque o ar estava congelante.

Via vapor sair da minha boca e do nariz ao respirar, e minhas unhas dos pés e das mãos haviam atingido um tom azulado meio assustador. Caminhei devagar até o lado de fora do quarto, sem fazer qualquer barulho. Não acendi

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luz alguma. Os raios eram o suficiente, e não queria acordar minha irmã me-nor e meus pais por uma simples televisão.

A partir do momento em que levantei da cama o medo se dissipou, dan-do lugar à irritação. Eu tinha sono pesado, e quase nada podia me acordar, mas era difícil pegar no sono. Se estivesse dormindo quando isso aconteceu, talvez não fosse eu a responsável por ter que descer e desligar a televisão.

A cada passo que eu dava para mais próximo do andar de baixo, mais congelante o ar ficava, até chegar a um ponto em que me fez parar para pen-sar. Aquilo não era natural. De jeito nenhum. Suspirei. A paranoia estava de volta…

Apertei o passo na escada, correndo até a televisão próxima à porta da cozinha. Parei em frente à tela. Havia algo ali. Não uma imagem, não um ruí-do além do normal, e sim palavras em preto.

Estamos observando você.Ri, balançando a cabeça. Tá, agora aquilo já estava passando dos limites.

Olhei em volta, procurando pela minha irmã, que adorava pregar peças em mim, apenas pra ver se eu sentia medo. Falei:

– Cassidy, isso não tem graça. – Nenhum movimento a mais.Juntei as sobrancelhas, sentindo a irritação crescer. – Cassie, isso não tem a menor graça.Já era para ela estar rindo, não? Bufei, me abaixando para desligar a tele-

visão, e quando tornei a me levantar, eu os vi. Eram olhos arregalados, olhan-do em minha direção por trás da televisão, e estavam a centímetros de mim. Suas íris eram completamente negras. Os cabelos eram loiros e lisos, e quase conseguiam esconder o terror em seu olhar.

Dei um salto para trás, caindo sobre a mesa de centro e soltando um grito abafado pelas mãos, mas quando eu pisquei, no segundo seguinte, já não estavam mais lá. Senti um arrepio subir pela minha espinha enquanto me encolhia contra o sofá, esperando que eles voltassem. Aqueles olhos. Mas não

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houve mais nada, apenas os raios, iluminando os móveis e fazendo a estrutura da casa estremecer.

Coloquei a cabeça entre as mãos, tentando acalmar a respiração. Coisa da minha cabeça. Era simplesmente a minha mente me pregando uma peça. Só isso. Olhei em volta. Nada de anormal. O frio havia passado e a televisão estava desligada.

Meus cachos ruivos eram o único ponto de cor em toda a sala, composta somente por uma mistura de preto com branco entediante. Meus pais eram médicos; minha irmã de catorze anos era a melhor da sala em todas as maté-rias e tinha um irmão, Michael, de vinte e seis anos, que já era um advogado respeitado. Minha família toda era muito séria e não se preocupava muito com as cores das coisas.

Por algum milagre genético, era a única pessoa ruiva da família. Diziam que eu era igualzinha à minha tataravó, e que seus genes haviam passado de-sapercebidos durante todas as gerações até fazer uma combinação que resul-tasse em mim. Todos os outros eram loiros, sem uma sarda sequer no rosto. A única coisa que tinha igual a eles eram os olhos verdes.

Me deitei no sofá. Tinha que admitir que estava com um pouco de medo de sair dele, medo de me mover e aparecer mais alguma coisa na minha fren-te, então me enrolei com a colcha que alguém tinha deixado sobre o móvel e me encolhi, mantendo os olhos bem abertos.

Apesar de ter pesadelos que me mantinham acordada quase todas as noi-tes, com a sensação de que alguém me observava, nunca havia acontecido algo parecido. Mordi o lábio. Eu encarava as sombras nas paredes, e elas pa-reciam me encarar de volta. Não queria gritar pelos meus pais. Nunca faria uma coisa dessas. Continuava sendo a mesma garota orgulhosa de antes, só que em estado de choque.

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