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“A característica central da
cultura global é hoje a política
do esforço mútuo da mesmice e
da diferença para se
canibalizarem uma à outra.”
João de Jesus Paes Loureiro, no debateDiversidade Cultural, Globalização ePluralismo
243
“e agora, você?”
“não veio a utopiae tudo acabou”
Caiu o muro de Berlim. A URSS desapareceu. Acabou o
mundo bipolar que caracterizou o pós-guerra. Altera-se a
geopolítica global. Novas tensões internacionais. O mundo
se organiza em blocos. O capitalismo passa por um processo
de reestruturação caracterizado por crescente flexibilidade
gerencial, descentralização e estabelecimento de redes,
constituindo um sistema interdependente que funciona em
tempo real. Forças produtivas incomensuráveis são
mobilizadas, mas se desenvolvem de forma irregular e
assimétrica, gerando áreas de dinamismo e de miséria.
Como enfrentar a ameaça de se tornar irrelevante, do ponto
de vista da lógica desse novo sistema? O papel da articulação
institucional — local, regional, internacional. A acessibilidade
ao bem cultural. A gestão das artes e da cultura. O
planejamento estratégico. A sustentabilidade. As redes.
Avaliação e monitoramento.
Novas Configurações do Mundo: O Impactosobre a Gestão e Administração da Cultura
244
De um lado, entendemos a globalização como sendo a era
da homogeneização cultural. De outro lado,
simultaneamente, temos uma tendência a considerar a
globalização como uma era de enorme diversidade cultural.”
Acho que somos obrigados a pensar sobre a ligação
conceitual e real entre a homogeneização e a diversificação.
Uma das manifestações da transformação da cultura na era
da globalização é a codificação/decodificação de todo o
conflito político e social em termos culturais.
(...) Acredito que um dos problemas de se conceber todo o
conflito político e social em termos culturais, e de conceber
a solução como sendo a tolerância, seria evitar um antigo
tema filosófico, um que talvez seja ainda mais fundamental,
mais importante que a tolerância, que é a justiça.
Porque se o multiculturalismo, de certo modo, for a lógica,
em um determinado nível, do próprio mercado, a promoção
de diferenças e a diferenciação de diferentes grupos que
devem se distinguir, de modo a vender a sua cidade, de
modo a vender o seu país, como um lugar desejável para
se fazer negócios, então, nós talvez devêssemos pensar
em uma concepção alternativa da cultura, um
multiculturalismo que se distanciasse e, talvez, nos
permitisse criticar aquelas dinâmicas.
Gopal Barikrishnan, no debate O Papel daCultura e das Artes nos Programas deDesenvolvimento
Vemos que o processo de mundialização da cultura em que
vivemos, pelo menos desde a última década, complica a
matriz que inscreve a cultura na dicotomia autóctone versus
alienígena ou interno versus externo. As desigualdades
internas fazem com que a dicotomia não seja mais esta,
mas aquela que resulta de diferentes públicos e produtores
de cultura dentro do nosso próprio país. É o caso da televisão
(brasileira), especialmente das telenovelas, e da indústria
fonográfica, que são fortemente dominadas pela produção
nacional que é até produto de exportação. Então, as coisas
são mais complicadas, não são assim tão simples.
Âmbar de Oliveira Barros, no debate OPapel da Cultura e das Artes em Programasde Desenvolvimento
“Pensar sobre a ligação conceitual e real entre a homogeneização
e a diversificação”
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Poderão os países emergentes afirmar-secomo produtores e não meros
consumidores de bens criativos?
Poderemos propor alianças globais comcontrapartidas referenciadas na
diversidade cultural?
Existe um diálogo possível entre excluídose incluídos, entre Norte e Sul?
É possível a sustentabilidade cultural eambiental?
O modelo econômico vigente funcionacomo modelo social e cultural?
Como lidar com o enfraquecimento doEstado, menor capacidade de governar e
mecanismos reguladores fragilizados?
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Laurent Heau, no debate DiversidadeCultural, Globalização e Pluralismo
247
(...) Eu gostaria de iniciar minha abordagem lembrando um
axioma quase muito caro à antropologia, mas muito familiar,
que é aquele segundo o qual a cultura é filha da agricultura.
Ou seja, a humanidade saiu do neolítico e conseguiu
desenvolver suas linguagens, seus sistemas de signos a
partir da fixação e da exploração da terra, do controle dos
ciclos do ano, ciclo das estações, enfim, a busca do controle
da natureza para a produção agrícola. Tirou o homem do
nomadismo, colocou no sedentarismo e com isso pôde
progressivamente desenvolver instrumentos e com eles os
sistemas de código para uso no trabalho cooperado entre
os homens. E assim nasceu a cultura e os processos
civilizatórios em geral.
De maneira correlata, eu diria que como a cultura é filha da
agricultura, a cidade é filha do comércio. Isso parece um
pouco estranho, mas para aqueles que se debruçam sobre
o tema é mais ou menos óbvio. Quer dizer, as cidades
nasceram sempre como entrepostos ou, no mínimo, pontos
de controle ou de armazenamento do excedente de grãos
para os períodos de entressafra e posteriormente a troca de
excedentes entre uma área e outra. Portanto, as cidades já
nasceram com essa função voltada para a agricultura, para
as trocas, para o comércio que são as funções de astronomia
associadas a princípios religiosos com a busca do controle
da natureza e as funções tipicamente de controle da moeda
para esse intercâmbio de excedentes. Ou seja, a urbanização
está estritamente vinculada às práticas de intercâmbio.
Durante muito tempo, no século XX, o urbanismo foi pautado
pela industrialização. Nós tivemos por uns bons 70 anos, no
século XX, o primado do industrialismo, o mundo passou
por revoluções tecnológicas, concentrações de fatores de
produção, de capitais e a liberação da mão-de-obra
assalariada pela exploração dos camponeses, que
antigamente eram servos, pelos fechamentos das áreas de
cultura na Europa e com isso se teve um progresso técnico-
científ ico extraordinário, que foi justamente esse
proporcionado pela Revolução Industrial. E a cidade industrial
que nasceu no fim do século XIX, onde talvez o caso mais
emblemático sejam as cidades inglesas como Manchester
e outras, com condições de vida extremamente miseráveis
de exploração da mão-de-obra assalariada, desumanas ao
limite. Mas, progressivamente, isso mudou de fisionomia
seja pela tecnologia seja pelo progresso das reivindicações
operárias e mesmo pelas cidades que foram sendo
associadas a essa noção de indústria. Quer dizer, a cidade e
a indústria pareciam que caminhavam juntas e continuariam
assim eternamente, isso é verdade. Nas últimas três décadas
do século XX, essa noção foi se dissolvendo com uma
velocidade, uma aceleração bastante grande, de tal maneira
que hoje já se tem como definitivo essa noção de cidade-
indústria, cidade-fábrica, digamos assim, cidade com um
grande conjunto de fatores de produção associados,
interligados, interdependentes, já praticamente superada pela
configuração atual.
(...) A cultura do comércio é predominantemente de paz e a
cultura do território, da defesa, é essencialmente de guerra
e obviamente elas se mesclam sob diversos aspectos.
Basicamente, eu gostaria de frisar aqui o caso brasileiro que
é muito ilustrativo. (...) Nós éramos do Atlântico Sul, ou seja,
o espaço econômico integrado do período colonial era o
Atlântico Sul, a costa oriental do Brasil e a costa ocidental da
África, onde se fazia exatamente o comércio de escravos.
E, através do comércio de escravos promovido inicialmente
pelos portugueses e depois pelos brasileiros amestiçados,
“A cultura do comércio é predominantemente de paz e a cultura do
território, da defesa”
248
se desenvolveu uma cultura em que muitos hábitos e
conhecimentos foram desenvolvidos. Obviamente era uma
cultura baseada no tráfico, não no comércio. Nós estamos
mais habituados a tratar do tema da cultura baseado no
tráfico que certamente proporciona muito mais guerra do
que paz, não é verdade? Ela se dá através da guerra, do
trabalho forçado etc.
Então, poderíamos dizer que nós construímos a primeira
grande civilização nos trópicos. Ela foi, de fato, fruto do tráfico,
esse é um ponto básico a se reconhecer, não apenas pela
contribuição da mão-de-obra escrava, mas porque toda
economia girava em torno dos negócios no Atlântico Sul.
Basta dizer que os grandes fornecedores de mão-de-obra
escrava para os Estados Unidos da América do Norte, para
as colônias do Sul que exploravam a agricultura, para o Caribe
e mesmo para Europa éramos nós, brasileiros da época que
fomos inclusive administradores de feitorias na África. Quer
dizer, os grandes executivos desse negócio eram brasileiros
ou se não se reconheciam como brasileiros também não
eram mais portugueses, já eram mestiços. Mas
inversamente, também pela guerra, pode-se dizer que o
Brasil se fez como civilização pelo tráfico, se fez como nação
pela guerra, pelo cerco de Lisboa que na primeira parte fez
com que a família real se mudasse, fugisse para o Brasil,
com isso, instalasse o império luso-brasileiro e começasse
a constituir a nação brasileira que até então não existia. Quer
dizer, era um espaço econômico do Atlântico Sul e uma
série de colônias esparsas ao longo da costa brasileira com
pouca relação entre si. Agora, eu acho que esse caso
brasileiro também desmistifica um pouco esse aspecto, quer
dizer, nós construímos uma civilização nos trópicos baseada
num comércio de tráfico negreiro. Nós nos constituímos
como nação com o ato de guerra de Napoleão Bonaparte
em busca da conquista de territórios. Agora, com isso, se
constituiu a pedra sobre a qual a rede de cidades aqui de
dentro do Brasil.
Também, outra figura muito familiar é que o Brasil, tendo
sido desenvolvido pela costa, quer dizer, grande parte da
rede de cidades que se constituiu foi constituída pelo interior,
sobretudo, pelo tropeirismo, que fornecia a logística de
transporte dos muares, de jegues, de jumentos etc. em
geral aqui na colônia das áreas de produção até a costa. E
foi esse comércio para o interior do Piauí até o Rio Grande
do Sul, passando por Sorocaba, em São Paulo etc. que se
constituiu a rede de cidades. Por exemplo, a capital do Piauí
foi fundada do interior em direção à Oeiras, que fica a 500
km, 700 km da costa e não da costa para o interior.
Eu queria lembrar aqui que esse comércio de intercâmbio
foi na Europa, através das feiras da Champagne,
principalmente, o intercâmbio de produtos entre as cidades
italianas e da Liga Hanseática que se fixou a primeira rede
de cidades e, de alguma maneira, contribuiu para o
renascimento ocidental.
E não há comércio sem moeda e não há moeda sem
confiança. Foi nessas feiras da Champagne que se
desenvolveu a moeda fiduciária, que é a letra, o papel, o
documento bancário de empréstimo que tem suas raízes
na palavra italiana fiduci, que quer dizer confiança, nada mais
que isso. Então, de alguma maneira, pelos comércios (...)
associados se teve a raiz do desenvolvimento de todas as
cidades ao longo da história da humanidade.
Contemporaneamente, comércio global e finanças também,
só que não se confundem, não são a mesma coisa.
“também há o processo da exclusão digital que nos próximos anos
vai se demonstrar mais perigosa no sentido do fóssil, dos guetos
de pobreza pelo mundo afora”
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Provavelmente, porque, a partir do instante em que os fluxos
financeiros se transformam em jogos de aplicação como
em cassinos, vai perdendo seu papel original, e faz-se o
jogo pelo jogo e talvez ficar olhando para o estado de
virtualidade que se descola de seu papel produtivo.
Acho que um aspecto importante a frisar na relação entre
comércio e/ou cultura do comércio e cultura das cidades é
que a sociedade contemporânea, segundo Manuel Castells
em sua famosa trilogia A era da Informação, é marcada pela
realidade virtual e cada vez mais se aprofunda essa
possibilidade de se estar simultaneamente em vários lugares
através da internet. E isso aprofunda a desterritorialização
da cultura. E, ao mesmo tempo, que nos proporciona
oportunidades globais instantâneas, também há o processo
da exclusão digital que nos próximos anos vai se demonstrar
mais perigosa no sentido do fóssil, dos guetos de pobreza
pelo mundo afora. Basta ver estatísticas de distribuição de
ligações de internet pelo mundo afora, e nós vamos notar
que os continentes menos desenvolvidos têm também muito
menos ligações, mas de uma maneira absolutamente
desproporcional. E, por que isso? Porque hoje não se tem
mais a volta atrás, quer dizer, o mundo da realidade virtual já
se instalou. Isso é um modo que para as cidades talvez seja
possível se buscar uma recontextualização, chamamos
assim, cultural através justamente do intercâmbio pela
internet, através desse preando das linguagens que a cultura
informacional proporcionou. Então, acho que, por exemplo,
um país como o nosso, com grandes populações marginais,
conta com uma rede de rádios clandestinas, de rádios piratas
de favelas que têm um papel importantíssimo.
Agora, muito provavelmente, havendo uma disseminação
da internet, ela assumirá um papel tão ou mais importante
que as rádios piratas onde se desenvolvem novas linguagens
e se buscam novas maneiras de se comunicar. Eu diria que
esse primado da informatização na sociedade
contemporânea é também um primado de linguagens, nós
temos o acesso e as possibilidades de recriação de
linguagens e homens. Então me parece que a despeito de
um certo risco de que essa vivência de realidade cultural,
virtual, nos proporcione projetos tão grandes que
provavelmente nós vamos ter a possibil idade de
recontextualizar nossas cidades e com elas, usinas de novas
linguagens.
Existia um temor hostil há dez anos talvez, de que a
vulgarização, a difusão da internet, da comunicação através
de computadores e tal, então, nos levasse a uma perda
irrecuperável de identidades. Hoje não é mais exatamente
essa noção que se tem, quer dizer, tem-se uma oportunidade
nova de recriação de linguagens, mas ela não acontece,
quer dizer, a cultura não é simplesmente a erudição, o
acúmulo de linguagens, mas, pelo contrário, é a sua recriação
permanente, ou seja, a digestão de sua recriação. Então,
através dessa sociedade em rede, como diz o Manuel
Castells, acho que temos uma possibilidade muito maior de
recriação das linguagens e na cidade, como disse no início,
há socialmente isso. Ela é um sistema de sinais, de signos,
de linguagens. Foi inventado, do ponto de vista social, nos
fluxos de intercâmbio, daí a minha idéia de abordar o tema
através do enfoque do comércio em que toda a história da
humanidade esteve presente de múltiplas maneiras e
contemporaneamente, e que se dá tendo como veículo a
rede de informações eletrônicas.
Pedro Taddei Neto, no debate Aldeia Global- Metrópolis Local
“a cultura não é simplesmente a erudição, o acúmulo de linguagens,
mas, pelo contrário, é a sua recriação permanente, ou seja, a
digestão de sua recriação”
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Pensávamos que estas idéias neoliberais da desregulação e
privatização dos meios de comunicação iam trazer a
multiplicação de propostas, os conteúdos iam ser
multiplicados. O que se multiplicou foi a repetição ao infinito
dos mesmos conteúdos, porque os espaços informativos e
de debate foram captados pelos jornalistas e empresários
que viviam dos avisos das corporações e exerceram, e ainda
exercem no meu país, um rol nefasto fazendo com que o
espectador creia num conjunto de mentiras, mentiras tais
que levaram a uma enorme dissociação entre o que cria o
imaginário dos espectadores e o que acontecia na realidade.
(…) estamos suportando a nível mundial a ação silenciosa e
destruidora, ou aculturante e uniformizadora do império
midiático do norte. Três ou quatro grandes grupos midiáticos
controlam hoje 90% da emissão mundial. Têm por certo
centenas de bocas nos nossos países que encadeiam,
utilizam parte de sua programação, ou copiam suas estéticas
ou suas formas. Nesse gigantesco espaço midiático o mais
surpreendente é que não caiba a nossa história. O espaço
audiovisual é amnésico. Nossos povos não têm história, não
há um documentário, um programa que resgate um evento
histórico, que resgate um personagem, um herói, um artista,
um cientista, um acontecimento. É como se nossos países
tivessem nascido ontem. Os jovens, que ficam mais horas
na frente da televisão que na escola ou universidade,
terminam sentindo e conhecendo mais as personagens e
efemérides de Los Angeles, Miami, New York, Paris ou Londres
que os nossos. É tão escandalosa a censura sobre os
conteúdos e as formas, e as nossas sensibilidades que nem
o cinema latino-americano é projetado nos canais latino-
americanos.
(…) Na Argentina uma parte da rede está nas mãos da
Telefônica da Espanha, mas na Espanha não há nenhum
canal que esteja nas mãos dos argentinos. Então faço
questão que sem democratização dos espaços televisivos
e audiovisuais será muito difícil aprofundar os anseios de
cidadania de nossos povos, será muito difícil avançar nos
conteúdos de uma democracia plena e social como desejam
nossos povos.
(...) Devemos criar novos canais, devemos criar canais
alternativos. É uma vergonha que a América Latina ainda
não tenha construído sua própria rede informativa, seu
próprio canal de televisão para emitir aos latino-americanos
e ao mundo a palavra, a informação e a imagem dos nossos
povos. Para conhecer o que acontece com a gente devemos
conectar a CNN. Estes são grandes déficits, pecados mortais
que devemos superar. Devemos criar estes meios
alternativos, novos canais, novas rádios.
Fernando Solanas, no debate Futuro daCultura no Mundo Não-hegemônico,Impasses e Perspectivas
“Nesse gigantesco espaço midiático o mais surpreendente é que
não caiba a nossa história”
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Na realidade, o mundo global é um fantástico caleidoscópio
de articulações e desencontros, buscas e extravios,
conceitos e realidades, ideologias e utopias, onde há sempre
perdas e ganhos, e é em meio a esse caldeirão efervescente
que ressurgem, no meu entender, realidades e metáforas
cultivadas ao longo do tempo pelo pensamento dos
dominadores de modo a reconhecer, a classificar, a delimitar,
a codificar, a destacar, a privilegiar, a marcar, a estigmatizar.
Em minha visão, vivemos ainda num mundo conceitual de
modernidade no qual as palavras definem os objetos e
orientam suas ações que, por sua vez, convalidam as formas
de poder e dominação, inauguradas estas na consolidação
do Estado nacional burguês. Eu sempre penso que a cultura
é um mundo de signos, então, nós pensamos, vemos e
enxergamos através desses signos e, dependendo dos
conceitos utilizados para definir determinadas coisas,
estamos repetindo muitas vezes os caminhos que já
percorremos em outros momentos, inclusive de grande
dominação, porque, se pensarmos com muita tranqüilidade,
a globalização não começou neste século XX, a globalização,
a mundialização da cultura européia começou no século XVI.
Numa ocasião, num encontro em Mendoza, na Argentina,
um belo representante dos índios quíchuas, que veio até o
jantar de encerramento do nosso encontro para falar, para
dançar, para apresentar uma dança tradicional de sua região,
ironicamente olhou para nós todos e disse: “vocês, que
vieram aqui discutir políticas culturais para o Mercosul, estão
muito ansiosos, preocupados com a globalização. Fiquem
tranqüilos, nós estamos sobrevivendo há cinco séculos.
Regina Moura Tavares, no debateDiversidade Cultural, Globalização ePluralismo
A produção cultural de escala, a par da enorme diversidade
que se encontra no mundo, é em termos industriais
concentrada em alguns poucos países. Vale lembrar que o
primeiro item da pauta de exportações dos EUA atualmente
não é de manufaturados, mas de cultura e entretenimento.
Mais e mais, a cultura é mirada como um item adicional a
tratar nas discussões sobre comércio internacional. Por
exemplo, a OMC deverá proximamente preparar debates
sobre a comercialização de serviços relacionados com
educação (a partir de propostas da Austrália, Estados Unidos,
Nova Zelândia e Japão), cujos resultados poderão afetar a
capacidade de um país de regular seu sistema educacional.
(...) não é possível preservar culturas específicas sem se
preocupar com a preservação do ecossistema em que elas
se originaram e desenvolveram.
Tadao Takahashi, em Diversidade culturale direito à comunicação, in http://www.campusoei.org/pensariberoamerica/3a
“Mais e mais, a cultura é mirada como um item adicional a tratar
nas discussões sobre comércio internacional”
256
257“Se todas as fronteiras estão fechadas, aonde devemos ir, aonde
podemos ir?”
Os programas de desenvolvimento só pensam na África com
a luta contra a pobreza, mas se esquecem da cultura africana.
Sou contra isso. O rico não vai lutar contra a pobreza, tão
pouco os pobres. Somos envolvidos em debates que não
nos dizem respeito. Eu vivo num contexto muçulmano, faço
prece quando acordo, falo em francês, somos jogados num
contexto que não é nosso. Somos um povo nômade, mas
se as fronteiras estão fechadas, para onde vamos?”
É que por termos acumulado todas essas realidades nós
ficamos soltos num contexto global, como dizia agora pouco
o professor, e nesse contexto global não encontramos nosso
lugar, não conseguimos mudar porque (...) as fronteiras estão
fechadas. Nós somos por natureza povos nômades,
precisamos nos deslocar, precisamos nos deslocar, para ir
aonde? Se todas as fronteiras estão fechadas aonde
devemos ir... aonde podemos ir?
Oumar Sall, no debate O Papel da Culturae das Artes em Programas deDesenvolvimento
Na Amazônia colonial, os jesuítas buscaram globalizar
unificando a língua denominada de geral como
ultrapassamento da língua diversa de cada etnia. A unidade
globalizadora traz o sentido ideológico de dominação e de
controle, castigo ou pena. É claro que esse jogo entre a
uniformidade e a diversidade, globalização e tribalismo, antes
era episódico, tendo se tornado evolutivamente um corolário
do enfraquecimento do Estado-nação. O caráter transnacional
da economia e da comunicação é talvez para o mercado de
consumo fruto dessa mercantilização do mundo que a
globalização tem necessidade de se impor aos localismos e
também como sustentar sua produção cada vez mais
centralizada.
João de Jesus Paes Loureiro, no debateDiversidade Cultural, Globalização ePluralismo
A necessidade de agradar ao mesmo tempo o público
americano e o público brasileiro, europeu, leva a procurar
tocar o que possa existir de comum entre todos estes
públicos, além das diferenças culturais e lingüísticas. Logo,
assistimos através dessa uniformização, à formação de uma
espécie de comunidade cultural mundial, sem consistência
real, fundada sobre este modelo hegemônico, mais
freqüentemente americano, que fragiliza as comunidades
não hegemônicas; comunidades no sentido amplo, já que
pode se referir a comunidades lingüísticas, nacionais, de
cultura, religião ou outras.
David Faroult, no debate GlobalizaçãoCultural e Uniformidade Estética
Nada prejudica mais o terceiro mundo que o conceito de
desenvolvimento, especialmente quando se trata de recursos
financeiros concebidos e provenientes do exterior.
Madji Elmadjra, no debate Cultura comofator chave para a sobrevivência da razãoHumana
(...) passar de uma diversidade cultural passiva, defensiva,
apenas a algo que é mais ativo.
Laurent Heau, no debate DiversidadeCultural, Globalização e Pluralismo
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259
O lugar é onde nossa vida acontece, nosso mundo se dá e,
portanto, nós temos alguma identidade enquanto
personagens da história que transcorre nessa base
territorial.”(...)
“A partir daí, começamos a nos deparar com uma novidade
na definição dos lugares. O lugar europeu ficou muito maior,
ocupando lugares no novo mundo. Lugares de pessoas cuja
territorialidade, cujo alcance da vista, cuja visão de mundo
era muito mais limitados na sua própria comunidade. Uma
conseqüência, que não podemos levar em consideração
das viagens das navegações, é que nós perdemos o medo,
isso também tem implicações no meio ambiente. Nós
perdemos o medo do fim do mundo. Quando assumimos
que o mundo é redondo, ele ficou menor embora os lugares
ficassem maiores, o mundo fica menor. E, portanto, nós
nos permitimos ocupar o lugar dos outros, a estender a
territorialidade dos nossos lugares sobrepondo-se outros com
lógicas diferenciadas e, no nosso caso, lógicas avassaladoras
no sentido de que o modo como nós lidamos com aquilo
que existe em cada lugar nem sempre corresponde ao modo
de que as populações que tradicionalmente ocupavam esses
lugares vêem a natureza e seu modo de vida.
Quando você se apropria de determinado território,
entendendo que ele tem de ser provedor de valores de troca,
automaticamente, estamos assumindo que é preciso
intensificar o uso do meio natural naquele lugar para que ele
gere riquezas que sejam transferidas a outros contextos.
Nesse sentido, esse conflito de escala representa uma
captura mercantil da natureza que tende a explicar parte da
crise ambiental.
É quando você chega a um território e se apropria dos
saberes, da natureza e, lá pelas tantas, tem de se apropriar
do modo de vida das populações daquele lugar. É quando
você chega ao território do outro e diz: “agora você vai comer
o meu queijo, o queijo que eu produzo e vendo para você,
porque o seu queijo não vale nada.” É o fenômeno da
globalização que vivemos hoje, com todas as benesses
[internet, Mc] que a globalização nos fornece, mas é uma
forma de subordinação de modos tradicionais de vida à algum
tipo de modo de vida hegemônico com todas as
conseqüências que isso possa vir a trazer.
Nesse jogo, primeiro, perde a cultura; segundo, a natureza,
resumindo, perde a diversidade. A diversidade cultural, a
diversidade natural. Perdemos todos. Segundo, quem é que
ganha nesse jogo? Ganha o mundo da mercadoria, se é
que isso é um ganho. (...) a generalização desse modo de
ser é insustentável. Não tem condições de ser sustentável.
Marcel Bursztyn, na atividade associadaConfluência da Cultura e da Natureza
“A globalização tem necessidade de se impor aos localismos”
260
261
(...) Voltando no tempo, especialistas afirmavam que para
se desenvolver a Amazônia, você deveria eliminar da floresta
seus habitantes indígenas e derrubá-la, no intuito de explorar
seus recursos naturais . Eles afirmavam que os índios não
sabiam como utilizar os recursos racionalmente, e confiscar
suas terras era economicamente justificável. Como um
jovem antropólogo, eu queria estudar como o povo Ashaninca
vivia no meio da Amazônia peruana e utilizavam a floresta,
no intuito de demonstrar que eles utilizavam seus recursos
racionalmente, e, portanto, mereciam e tinham o direito
sobre sua própria terra. O objetivo era contradizer os bancos
de desenvolvimentos internacionais e tentar promover uma
mudança na política. O povo Ashaninca com o qual eu
convivi, acolheram e demonstraram-me o que eles sabem
a respeito da floresta. (...) Surpreendentemente, o ashaninca
que me acompanhou pela floresta possuía os nomes de
quase todas as plantas, e atribuiu usos para metade delas.
Eles utilizam plantas como alimento, materiais de construção,
cosméticos, tingimento e medicação. Rapidamente, percebi
que eles possuem quase um conhecimento enciclopédico
das propriedades das plantas. Eles conhecem plantas que
aceleram a cicatrização de ferimentos, curam diarréia, ou
curam dores crônicas de costas. Eu mesmo utilizei esses
medicamentos quando necessários, somente para certificar-
me que eles funcionavam. Logo, comecei a perguntar aos
meus consultores ashanincas como eles sabiam a respeito
das plantas. Suas respostas foram enigmáticas. Disseram
que o conhecimento a respeito das plantas emana das
próprias plantas, e os “ayahuasqueros”, tabaqueiros ou
xamãs, tomam uma infusão de planta alucinógena chamada
ayahuasca, ou comem tabaco concentrado, e falam em suas
visões com as essências, os espíritos, que são comuns a
todas as formas de vida e são fontes de informações. Eles
dizem que a natureza é inteligente e fala com as pessoas
por meio de visões e sonhos.
Bem, eu não levei muito a sério o que essas pessoas
estavam me contando. (...) isso contradizia o ponto central
da minha pesquisa, demonstrar que essas pessoas utilizavam
seus recursos racionalmente.
Contudo, uma noite, após quatro meses nesta aldeia, eu
estava nas proximidades da vila bebendo chá de mandioca
com alguns homens e questionando a respeito da origem
dos conhecimentos sobre plantas, quando um deles disse:
“Irmão Jeremias, se você quiser descobrir a resposta para
sua pergunta, você deve beber ayahuasca, se você quiser,
eu assim poderei mostrar-lhe algum dia”. Ele a chamou de
tele-visão da floresta, ela permite que uma pessoa veja
imagens e aprenda coisas.
Algumas noites mais tarde, me encontrei com este
“ayahuasquero” no tablado de uma casa silenciosa, rodeada
pelos sons da floresta. Ele administrou a ayahuasca, que é
uma infusão amarga, então, após um longo silêncio, ele
começou a cantar na escuridão, refrões de sons
incompreensíveis e melodias levemente dissonantes.
Imagens apareceram na minha mente, e rapidamente me
encontrei rodeado por enormes serpentes fluorescentes de
13 metros de comprimento por um metro de altura,
realmente arrepiante, que começaram a conversar comigo
por meio de uma linguagem mental, contando-me coisas
consideradas dolorosas a meu respeito. Elas disseram, você
é apenas uma existência humana, uma sensível existência
humana. Eu pude ver, olhando para elas, que estavam certas
, que minha perspectiva materialista possuía limites, iniciando
pela pressuposição de que meus olhos mostravam-me
“O conhecimento a respeito das plantas emana das próprias
plantas.”
262
coisas que não existiam. E, pude ver que minha visão de
mundo possuía uma arrogância abismal, fazendo-me cair
para frente de joelhos. (...). Mas, assim que o xamã mudou
sua canção, eu retornei ao meu corpo, e vi centenas de
milhares de imagens, como veias de uma mão humana
que lembravam imagens de sulcos de uma folha verde; elas
pareciam iguais. Havia muitas imagens, era difícil lembrar-
me de todas elas. Era como estar dentro de uma máquina
de lavar.
No dia seguinte, tentei falar dessa experiência. Por um lado,
ela confirmou o que meus amigos ashanincas disseram.
Você pode ingerir a ayahuasca sob a orientação de um
praticante treinado e aprender coisas. Eu aprendi que eu era
insignificante e de alguma forma, fazia parte da natureza. Eu
olhei para a folha verde e em seguida para a pele da minha
mão, e descobri que éramos feitos da mesma matéria. A
experiência acima de tudo foi um antídoto à contemplação
antropocêntrica da antropologia. Isso demonstrou que as
noções aparentemente fantasiosas dos meus amigos
ashaninca correspondem a algo poderoso, que passou diante
da minha própria compreensão da realidade. Foi maravilhoso.
Como eu poderia falar para meus colegas a respeito disso e
ser levado à sério por eles? (...).
Os europeus chegaram à América há 500 anos atrás e
começaram a despovoar as terras. Segundo avançadas
estimativas conservadoras de historiadores europeus,
quarenta milhões de indígenas morreram, do Alaska à
Patagônia, à medida que os europeus apoderavam-se do
continente.
(...) O que podemos fazer com essa história? Não é sua
culpa, não é minha, mas estamos montados nela esta noite.
E acredite ou não, a religião cristã com sua forma missionária
evangélica continua a destruir as crenças dos índios
amazônicos. Eu recentemente visitei muitas regiões
amazônicas, nas quais os últimos xamãs foram levados à
morte pelos próprios indígenas, por sugestão missionária.
Muitos séculos após a inquisição, as pessoas afirmam agirem
em nome de Cristo, e continuam a erradicar o xamanismo.
O mundo industrial ameaça a diversidade biológica. Ele
também ameaça a diversidade humana. Das 6.000 línguas
ainda faladas, metade não está sendo ensinada às crianças.
A cada duas semanas, uma língua desaparece juntamente
com os mais idosos de uma tribo. Lingüistas estimam que
3.000 línguas desaparecerão durante este século, o que
representa metade das palavras no mundo. Uma língua é
mais do que um conjunto de palavras; é uma forma de
compreender o mundo. O que está em perigo é o repertório
da humanidade, por negociar com os desafios
desconhecidos do futuro. Tomados juntos, as culturas deste
mundo representam um vasto reservatório de conhecimento
contendo as memórias de todos os mais velhos, curandeiros,
guerreiros, fazendeiros, pescadores, parteiras, poetas e
visionários. Essa é a expressão plena da experiência humana.
A sociedade industrial possui somente 200 anos. Como uma
simples cultura, com tão frívola história, possui todas as
chaves para a sobrevivência das nossas espécies? (...).
Jeremy Narby, na apresentação/palestraAmazonia Ambient Project
“(...) e vi centenas de milhares de imagens, como veias de uma mão
humana que lembravam imagens de sulcos de uma folha verde; elas
pareciam iguais.”
263
Octavio Getino, no debate Conectando oMundo: Uma Política Cultural para asRelações Sul-Sul
“(...) fomos educados sobretudo
para levantar muros”
264
(...) os modelos identitários africanos desaparecem cada
vez mais entre os africanos que vivem nos países ocidentais,
há uma referência à África que é muito frágil e que
apresentará problemas a termo, porque nosso
desenvolvimento, o desenvolvimento do Mali, do Senegal e
de certos países da África subsaariana dependem desse
relacionamento entre a diáspora e a África. Outro elemento
importante é a desidentificação. Essas não são só palavras
complicadas, mas isso encerra uma realidade, porque há
um fenômeno novo, surgido nos anos 90 nos africanos que
estão na Europa, é que eles não invocam mais a África e
rejeitam mesmo identificar-se à África, e essas rejeições,
esses abandonos da África, fazem que finalmente, cada vez
mais, tenhamos a impressão de que essa rejeição, essas
referências à África, é mais um problema que uma solução.
Vocês sabem que houve um desaparecimento em termos
de infra-estrutura, sobretudo na sociedade africana de cultura
que desapareceu. Os estudos africanos na Europa diminuem,
há uma parte muito residual desses estudos. Os estudantes
africanos ou os estudantes que estudam ou fazem pesquisas
sobre a África diminuem — logo, diminuição da população
de pesquisadores sobre a África, diminuição das instituições
sobre a África —, tudo isso mostra efetivamente um
desinteresse progressivo. Da diáspora e das instituições
européias em relação à África, isso tem conseqüências que
são conseqüências a termo completamente dramáticas,
porque vocês sabem que a emigração, que é também uma
maneira de considerar a diáspora, contribui, e muito, para o
desenvolvimento dos países de origem e constitui também
uma fatia de comércio não negligenciável para o
desenvolvimento dos países africanos (...).
Babacar Sall, na atividade associada Casada África no Brasil.
“Eles não invocam mais a África e rejeitam mesmo identificar-se
com ela.”
Para que pensemos cultura como fluxos de sentido, de
matérias e formas de expressão, como trajetórias de
significação multidericionais, temos que pensar que a
produção cultural nunca respeitou fronteiras, nacionalidade
ou regionalidade é apenas um ponto de vista, uma nuance,
uma marca singular em fluxos que permanentemente
atravessam tempos e espaços. Dificilmente tenha existido
alguma cultura que tenha sido impermeável às influências
externas, às misturas, às conquistas estrangeiras, às
mutações de formas e sentidos”.
Creio que, na época dos consensos de Washington, da
unilateridade, do pensamento único, o que menos
precisamos é de entendimento. Precisamos aprender a nos
desentender, precisamos ser educados para isso, somente
assim seremos verdadeiramente democráticos, aceitaremos
o fato de que existem as diferenças, de que as pessoas têm
o direito de pensar diferente, que as culturas têm o direito
de continuarem existindo em suas singularidades. A busca
da verdade única, do entendimento, do esclarecimento
prometido pelo iluminismo levou este mundo aonde todos
se matam para impor o entendimento das coisas, e do que
deve ser o humano, o homem, a dignidade humana, os
direitos humanos, a democracia, a liberdade, inclusive à paz.
Os dogmatismos, os fundamentalismos, as verdades únicas
entronizadas no poder é que nos ameaçam de extermínio,
de genocídio e de morte, não o desentendimento.
Durval Muniz de Albuquerque, na mesaZabumba, sintetizador – cordel
265
Y el tema que nos queda a nosotros, ¿qué hacemos frente a
esta cuestión? ¿Si nos limitamos a criticar, o a atacar a las
industrias culturales, si desarrollamos mecanismos
alternativistas, sociales, boletines, revistas chicas, un cine
underground, grupos que trabajan en los barrios, etc., o,
como responsables de nuestras sociedades, aspiramos a
ocupar el espacio hegemónico también en el campo de las
industrias culturales? Vale decir, entonces, de criticar las
industrias que por lo general no están contribuyendo
demasiado a nuestras culturas, o por lo menos no lo están
haciendo en la medida que nosotros desearíamos, sino de
qué maneras nosotros podemos tener políticas para que
estas industrias nos representen culturalmente en el plano
interno, en el plano de la integración regional y también en
el plano de la competencia y de la proyección de nuestros
imaginarios colectivos sobre otros pueblos a fin de hacer
verdadera una democracia en el planeta.
Octavio Getino, no debate Conectando omundo: uma política cultural para asrelações sul-sul
Folheto de Cordel: Não conheço nada que seja ao mesmo
tempo tão tradicional e tão vanguardista. Tão nordestino e
tão cosmopolita. Tão singular em seu próprio perfil
diferenciado, e ao mesmo tempo tão moldável, flexível,
mutante, adaptável, e tão constantemente auto-recriando-
se... O folheto de cordel é o livro de quem não pode fazer
um livro, mas tem uma vontade tão grande de fazê-lo que
acaba fazendo algo, e redefinindo o conceito de livro”.
Bráulio Tavares na mesa Zabumba,sintetizador – cordel
“de que maneiras nós podemos ter políticas para que estas
indústrias nos representem culturalmente?”
(...) penso que é importante reconhecer que a cada vez que
utilizamos noções como diversidade, inclusão, qualidade,
etc. – e inovação no contexto da arte -, é importante
qualificálas; é importante colocá-las em um conceito histórico
mais amplo daquele em que se originam. Também é
importante lembrar, ao propomos um plano de noções como
qualidade no que se refere à arte, que estamos entrando no
domínio da contestação, ou deveria dizer, contestação
epistemológica, e isso é algo muito importante e que
considero incrivelmente vibrante neste Fórum Cultural
Mundial.
(...) realmente gostaria de dizer que o pós-colonial não está
abrigado em pequenos pacotes de, vocês sabem,
comunidades que tiveram histórias coloniais - mas todo o
palco do mundo, na verdade, poderia ser, podemos refletir
sobre todo o palco do mundo como sendo o local em que o
pós-colonial ocorreu, o surgimento máximo daquilo que
chamamos de pós-colonial.
Okwui Enwezor no debate NovasConfigurações do Mundo: o impacto sobrea gestão e administração da cultura