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Caderno Digitado: Direito de Família - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2 1ª Prova: 25/11 AULA 07/10/2013 Introdução ao Direito de Família 1. História da Família no Ordenamento Jurídico Brasileiro: Até a Constituição de 1988 só havia proteção da chamada família legítima. E, além disso, sanções às relações fora do casamento estavam previstas (era proibido até mesmo o reconhecimento do filho fruto de adultério ou de relação incestuosa). De acordo com o Código de 1916, os filhos eram classificados em legítimos, ilegítimos ou legitimados. O Código Civil de 2012, enquanto norma objetiva do Direito Civil Brasileiro, ao longo dos anos vem se adaptando às novas conjecturas emergentes da sociedade. É que as leis, na medida da evolução social e dos costumes, tendem a se amoldar aos anseios da sociedade. Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 17), “é de todos os ramos do direito, o mais intimamente ligado à própria vida, uma vez que, de modo geral, as pessoas provêm de um organismo familiar e a ele conservam-se vinculados durante a sua existência”. O autor salienta mais adiante que esse laço não se subordina necessariamente a família tradicional, mas também aquela constituída pela união estável. 2. Alguns princípios do Direito de Família: Na visão do jurista GONÇALVES (2012, p. 21), as alterações introduzidas no direito civil mais especificamente falando em matéria de direito de família “visam preservar a coesão familiar e os valores culturais.” Nota-se neste contexto uma preocupação específica do legislador em ampliar o leque de proteção desse instituto jurídico. A professora Nilza Reis enumera alguns princípios que regem esse direito, como o princípio da liberdade em constituir família; da paternidade responsável; da isonomia entre os cônjuges; e da prioridade do afeto nas relações familiares. a) Princípio da liberdade em constituir família; Também chamado de Princípio da liberdade de constituir uma comunhão de vida familiar, está relacionado à liberdade de o casal constituir uma família. O termo casal tradicional nos leva a pensar a família tradicional formada pelo homem e pela mulher. Contudo, este conceito está para muito além do conceito antigo de família como célula mater da sociedade. Hoje o conceito de família também está ligado ao fator social, assim podemos entender que a família de hoje e sua liberdade de constituição se estende aos casais homoafetivos, mães e pais solteiros, etc.

Caderno de Direito de Família (Com Nilza Reis) - Karol Freitas

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  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    1 Prova: 25/11

    AULA 07/10/2013

    Introduo ao Direito de Famlia

    1. Histria da Famlia no Ordenamento Jurdico Brasileiro:

    At a Constituio de 1988 s havia proteo da chamada famlia legtima. E, alm

    disso, sanes s relaes fora do casamento estavam previstas (era proibido at mesmo o

    reconhecimento do filho fruto de adultrio ou de relao incestuosa). De acordo com o

    Cdigo de 1916, os filhos eram classificados em legtimos, ilegtimos ou legitimados.

    O Cdigo Civil de 2012, enquanto norma objetiva do Direito Civil Brasileiro, ao longo

    dos anos vem se adaptando s novas conjecturas emergentes da sociedade. que as leis,

    na medida da evoluo social e dos costumes, tendem a se amoldar aos anseios da

    sociedade.

    Segundo Carlos Roberto Gonalves (2012, p. 17), de todos os ramos do direito, o

    mais intimamente ligado prpria vida, uma vez que, de modo geral, as pessoas provm

    de um organismo familiar e a ele conservam-se vinculados durante a sua existncia. O

    autor salienta mais adiante que esse lao no se subordina necessariamente a famlia

    tradicional, mas tambm aquela constituda pela unio estvel.

    2. Alguns princpios do Direito de Famlia:

    Na viso do jurista GONALVES (2012, p. 21), as alteraes introduzidas no direito civil

    mais especificamente falando em matria de direito de famlia visam preservar a coeso

    familiar e os valores culturais. Nota-se neste contexto uma preocupao especfica do

    legislador em ampliar o leque de proteo desse instituto jurdico. A professora Nilza Reis

    enumera alguns princpios que regem esse direito, como o princpio da liberdade em

    constituir famlia; da paternidade responsvel; da isonomia entre os cnjuges; e da

    prioridade do afeto nas relaes familiares.

    a) Princpio da liberdade em constituir famlia;

    Tambm chamado de Princpio da liberdade de constituir uma comunho de vida

    familiar, est relacionado liberdade de o casal constituir uma famlia. O termo casal

    tradicional nos leva a pensar a famlia tradicional formada pelo homem e pela mulher.

    Contudo, este conceito est para muito alm do conceito antigo de famlia como clula

    mater da sociedade. Hoje o conceito de famlia tambm est ligado ao fator social, assim

    podemos entender que a famlia de hoje e sua liberdade de constituio se estende aos

    casais homoafetivos, mes e pais solteiros, etc.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Conforme Maria Helena Diniz citada no artigo de Keith Diana da Silva (2008 apud

    SILVA) concluiu em seu estudo: O princpio da liberdade refere-se ao livre poder de

    formar comunho de vida, a livre deciso do casal no planejamento familiar, a livre escolha

    do regime matrimonial de bens, a livre aquisio e administrao do poder familiar, bem

    como a livre opo pelo modelo de formao educacional, cultural e religiosa da prole.

    (http://www.fmr.edu.br/npi/045.pdf).

    b) Princpio da paternidade responsvel;

    Tambm chamado princpio da paternidade responsvel e do planejamento familiar.

    A paternidade responsvel pode ser conceituada como a obrigao que os pais tm de

    prover a assistncia moral, afetiva, intelectual e material aos filhos. E o planejamento

    familiar compreende no s decidir sobre o nmero de filhos, mas tambm quanto a

    aumentar o intervalo entre as gestaes, englobando as tcnicas de reproduo assistida

    como ltimo recurso procriao, no praticando a seleo de embries com finalidades

    eugnicas para escolha de atributos fsicos, bem como para suprimir a filiao por meio da

    monoparentalidade, dentre outros.

    c) Princpio da isonomia entre os cnjuges;

    Tal princpio preconiza a igualdade jurdica dos cnjuges e os companheiros. O Cdigo

    de 1916 dava tratamento distinto entre os cnjuges, a Carta Magna de 1988, em seu Art.

    226 5, consagrou essa igualdade jurdica entre homens e mulheres tanto no casamento,

    quanto na relao de companheirismo que norteou o Novo Cdigo Civil de 2002.

    OBS.: At entrar em vigor, a Lei n 4121/1962, a mulher era considerada relativamente

    incapaz. O marido era o chefe da sociedade conjugal, mantenedor exclusivo da famlia.

    d) Princpio da prioridade do afeto nas relaes familiares.

    Para Flvio Tartuce (200 : .flaviotartuce.adv.br artigos Tartuce princfam.doc ), o

    afeto talvez seja apontado, atualmente, como o principal fundamento das relaes

    familiares. Mesmo no constando a palavra afeto no Texto Maior como um direito

    fundamental, podemos dizer que o afeto decorre da valorizao constante da dignidade

    humana.

    No que tange a relaes familiares, a valorizao do afeto remonta ao brilhante

    trabalho de Joo Baptista Vilella, escrito no incio da dcada de 1980, tratando da

    Desbiologizao da paternidade. Na essncia, o trabalho procurava dizer que o

    vnculo familiar seria mais um vnculo de afeto do que um vnculo biolgico. Assim,

    surgiria uma nova forma de parentesco civil, a parentalidade socioafetiva, baseada

    na posse de estado de filho.

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    A defesa da aplicao da paternidade socioafetiva, hoje, muito comum entre os

    atuais doutrinadores do Direito de Famlia. Tanto isso verdade que, na I Jornada de

    Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justia Federal sob a chancela do Superior

    Tribunal de Justia, foi aprovado o Enunciado n. 103, com a seguinte redao: O

    Cdigo Civil reconhece, no art. 1.593, outras espcies de parentesco civil alm

    daquele decorrente da adoo, acolhendo, assim, a noo de que h tambm

    parentesco civil no vnculo parental proveniente quer das tcnicas de reproduo

    assistida heterloga relativamente ao pai (ou me) que no contribuiu com seu

    material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado

    de filho. Na mesma Jornada, aprovou-se o Enunciado n. 108, prevendo que: No

    fato jurdico do nascimento, mencionado no art. 1.603, compreende-se luz do

    disposto no art. 1.593, a filiao consangnea e tambm a socioafetiva. Em

    continuidade, na III Jornada de Direito Civil, idealizada pelo mesmo STJ e promovida

    em dezembro de 2004, foi aprovado o Enunciado n. 25 , pelo qual a posse de

    estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco

    civil. Na jurisprudncia nacional, o princpio da afetividade vem sendo muito bem

    aplicado, com o reconhecimento da parentalidade socioafetiva, predominante sobre

    o vnculo biolgico.1

    Para ns, o princpio da afetividade importantssimo, pois quebra paradigmas,

    trazendo a concepo da famlia de acordo com o meio social.

    A doutrina elenca, ainda, outros princpios no suscitados neste tpico pela professora

    na referida aula, mas mencionados por ela ao longo do semestre. Tais como o respeito

    dignidade da pessoa humana; da igualdade jurdica dos filhos; da comunho plena de vida e

    da comunho plena de vida. Vale a pena salientar:

    e) O principio do respeito dignidade da pessoa humana;

    1 NEGATRIA DE PATERNIDADE ADOO BRASILEIRA CONFRONTO ENTRE A VERDADE BIOLGICA E A SCIO-AFETIVA

    TUTELA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA PROCEDNCIA DECISO REFORMADA. 1. A ao negatria de paternidade

    imprescritvel, na esteira do entendimento consagrado na Smula 149/STF, j que a demanda versa sobre o estado da pessoa,

    que emanao do direito da personalidade. 2. No confronto entre a verdade biolgica, atestada em exame de DNA, e a verdade

    scio-afetiva, decorrente da adoo brasileira (isto , da situao de um casal ter registrado, com outro nome, menor, como se

    deles filho fosse) e que perdura por quase quarenta anos, h de prevalecer soluo que melhor tutele a dignidade da pessoa

    humana. 3. A paternidade scio-afetiva, estando baseada na tendncia de personificao do direito civil, v a famlia como

    instrumento de realizao do ser humano; aniquilar a pessoa do apelante, apagando-lhe todo o histrico de vida e condio

    social, em razo de aspectos formais inerentes irregular adoo brasileira, no tutelaria a dignidade humana, nem faria justia

    ao caso concreto, mas, ao contrrio, por critrios meramente formais, proteger-se-ia as artimanhas, os ilcitos e as negligncias

    utilizadas em benefcio do prprio apelado (Tribunal de Justia do Paran, Apelao Cvel 0108417-9, de Curitiba, 2 Vara de

    Famlia. DJ 04/02/2002, Relator Acccio Cambi).

    AO NEGATRIA DE PATERNIDADE ADOO BRASILEIRA PATERNIDADE SCIO-AFETIVA. O registro de nascimento

    realizado com o nimo nobre de reconhecer a paternidade socioafetiva no merece ser anulado, nem deixado de se reconhecer o

    direito do filho assim registrado. Negaram provimento. (Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, 00502131NRO -

    PROC70003587250, DATA 21/03/2002, Relator Rui Portanova, ORIGEM RIO GRANDE).

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    o principal e mais amplo princpio constitucional. No direito de famlia, diz respeito

    garantia plena de desenvolvimento de todos os seus membros, para que possam ser

    realizados seus anseios e interesses afetivos, assim como garantia de assistncia

    educacional aos filhos, com o objetivo de manter a famlia duradoura e feliz, assim

    preceitua Maria Helena Diniz2.

    f) O principio da igualdade jurdica de todos os filhos;

    Consagrado no Art. 226, 7 por este princpio probe-se qualquer distino entre os

    filhos havidos dentro ou fora do casamento, no importando se este for adotivo. Hoje se

    adota apenas a denominao filhos no existindo mais a distino filhos legtimos e

    ilegtimos nem mesmo em relao a direitos, deveres e qualificao.

    O Cdigo Civil de 1916 em seu artigo 377, dispunha que quando o adotante tiver

    filhos legtimos, legitimados ou reconhecidos, a relao de adoo no envolve a de

    sucesso hereditria. Entretanto, essa constante prevista foi revogada pelo Cdigo Civil de

    2002 pelo artigo 1.596 e tambm previsto no artigo 41, caput da Lei n 8.069/90 (Estatuto

    da Criana e do Adolescente) quando esta trata da adoo: A adoo atribui a condio de

    filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessrios, desligando-o de

    qualquer vnculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais3.

    De igual modo, a adoo possui caractersticas muito peculiares em nosso direito -

    eleva um filho adotivo ao mesmo status quo dos demais filhos de um casal, concorrendo

    este de igual modo em direitos e deveres, bem como a qualificao que de modo algum

    deva constar na certido de registro do mesmo qualquer meno do processo de adoo

    em respeito ao presente princpio. Outro fato marcante a caracterstica de a mesma

    incidir sobre o processo de investigao de paternidade que, conforme os artigos 5 e 6 da

    Lei 8.560/92, dispensa o ajuizamento dessa ao pelo Ministrio Pblico se a criana j

    estiver sido encaminhada para adoo4.

    g) Principio da comunho plena de vida.

    A famlia raiz e base de uma sociedade, historicamente este conceito foi se erigindo

    em todos os ordenamentos jurdicos existentes. Na ainda hoje o conceito famlia persiste

    no conceito de clula me e amplamente protegido pelo direito. Ao conceituar a famlia

    como comunho plena de vida, o legislador adotou a moderna concepo tendente a

    valorizar as relaes intrnsecas, relativas aos papis de estado de filho, de pai, de me etc.,

    e no apenas as relaes extrnsecas da famlia, esta vista apenas sob o enfoque de seu

    papel social de clula me da sociedade.

    2 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito das sucesses. 21. ed. So Paulo: Saraiva, 2007. p 18.

    3 BRASIL, Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criana e do Adolescente).

    4 BRASIL, Lei n. 8.560, de 29 de dezembro de 1992.

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    Assim, Joo Baptista Villela (2005 apud BARBOSA, 2006) nos ensina que,

    O amor est para o Direito de Famlia, assim como a vontade est para o Direito das

    Obrigaes. Assim, a Mediao Familiar o instrumento para a compreenso dos

    litgios de famlia, inserindo-se, definitivamente, no novo cdigo, como expresso da

    principiologia norteadora das relaes jurdicas privadas, com nfase no Direito de

    Famlia5.

    Por isso, comunho plena de vida ter sempre contedo subjetivo, portanto, tangente

    ao princpio fundamental da dignidade da pessoa humana, qual seja o reconhecimento de

    que para cada pessoa h um caminho personalssimo para atingir este ideal contido na

    norma da novel codificao, seja por meio de relaes homoafetivas, pelo casamento, pela

    unio estvel e tantas outras formas que possam vir a se desenhar nas relaes humanas.

    AULA 09/10/2013

    Esponsais

    1. Conceito

    Esponsais ou promessa esponsalcia, do latim sponsus (esposo), importam o

    compromisso de casamento que duas pessoas de sexos diferentes fazem, reciprocamente,

    com a finalidade de que se conheam melhor para que aquilatem suas afinidades e gostos.

    Segundo Daniel Baggio Maciel6, na sociedade tradicional, os esponsais praticamente se

    confundem com o noivado ou cerimnia antenupcial. Embora no tenham sido previstos de

    forma expressa pelo Cdigo Civil de 1916, tampouco pelo Cdigo atual, a doutrina

    normalmente aceita que a ruptura da promessa de casamento por motivo no plausvel pode

    acarretar a responsabilidade civil extracontratual com base no artigo 186 do novo Cdigo,

    afinal, aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito

    e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito.

    Fundados especialmente nesse dispositivo legal, vrios escritores entendem possvel

    a responsabilizao patrimonial daquele que ensejar o rompimento do noivado,

    desde que a promessa tenha sido feita livremente pelos noivos, que tenha havido a

    recusa tcita ou expressa de cumprir a promessa esponsalcia, que haja a ausncia

    de justo motivo, bem como danos materiais ou morais a serem indenizados.

    A professora Nilza Reis destaca que a unio estvel s se compara ao casamento na

    medida em que tambm encontra amparo legal. No entanto, ainda comum que pessoas

    que realizaro um casamento faam contrato preliminar, por ora, reconhecido como

    esponsais. Assim, eles tm a finalidade de firmar um contrato posterior: o casamento.

    5 BARBOSA, Aguida Arruda. A Mediao no Novo Cdigo Civil Brasileiro. Boletim do IBDFAM n 20/2005, publicado em 07/03/2006

    disponvel em: http://www.pailegal.net/mediacao/55?rvTextoId=-2111197493, acesso em: 18/11/2012. 6 MACIEL, Daniel Baggio. A definio dos esponsais. Araatuba: Pgina eletrnica Isto Direito. Abril de 2008.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    1.1 Promessa de casamento: frustrao (descumprimento)

    1.1.1 Consequncias Jurdicas

    possvel, contudo, que haja rompimento da promessa de modo injustificvel sem

    causa lcita. H, portanto, a possibilidade de responsabilizao do indivduo por ter causado

    outra parte prejuzos, sejam eles de ordem material ou moral (Nesse caso, no h que se

    observar a diferenciao existente em outros ramos como o Direito Penal acerca de dolo ou

    culpa em termos gerais, no Direito Civil, utiliza-se a culpa em sentido lato, que abrange

    ambos os conceitos). Assim, o rompimento injustificvel h de ser considerado um ato

    ilcito, um abuso e, por isso, conduz a uma responsabilizao do agente.

    1.2 Responsabilidade Civil Subjetiva

    No caso em comento, diferentemente da responsabilidade objetiva, em que havendo

    o nexo causal haver responsabilizao do sujeito pelo dano causado; a responsabilidade

    em relao aos esponsais como no modelo clssico permanece subjetiva, sendo

    necessria a culpa do sujeito que enseje a uma conduta indenizvel.

    1.2.1 Posio da Jurisprudncia

    Nos tribunais o tema nunca foi to pacfico, mas h julgados deferindo indenizaes

    em casos tais, como se infere da seguinte ementa emanada do Tribunal de Justia de

    Minas Gerais (EIAC 200791-0/2): O namoro prolongado, o noivado oficial, a

    aquisio das alianas e a construo da casa, por si ss, levam segura deduo de

    que se tratava de relacionamento srio, de atos preparatrios de futuros cnjuges,

    dispensando uma promessa formal de casamento. O rompimento injustificado da

    promessa de casamento enseja indenizao por dano moral, consistente na penosa

    sensao da ofensa, da humilhao perante terceiros, na dor sofrida, enfim, nos

    efeitos puramente psquicos e sensoriais experimentados pela vtima da leso. A

    ruptura do noivado acarreta indenizao por danos materiais, provado que a mulher

    contribuiu para a construo de uma casa. No h lugar para indenizao pelo

    enxoval confeccionado pela noiva se ele continua em seu poder, sem lhe causar

    desfalque patrimonial, uma vez que a reparao se condiciona constatao de

    efetivo proveito de uma parte em detrimento da outra7.

    2. Concluses

    Assim, o rompimento dos esponsais pode gerar o dever de indenizar, mas os Tribunais

    devem realizar uma anlise profunda acerca dos fatos e de seus possveis efeitos jurdicos,

    sob pena de banalizao do Judicirio.

    Famlia Decorrente do Casamento

    1. Do casamento

    7 MACIEL, Daniel Baggio. A definio dos esponsais. Araatuba: Pgina eletrnica Isto Direito. Abril de 2008.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    O casamento surge como ato ou negcio solenissimo e existe desde os tempos mais

    remotos.

    No Direito Romano Antigo, havia a previso de trs modalidades de casamento: o

    usus, a coenpitio e a confarreatio.

    a) Confarreatio

    Inicialmente, havia a confarreatio (compartilhar as fatias do bolo). Era o

    casamento da elite, dos patrcios. Era religioso, solene e havia dez testemunhas,

    alm do sacerdote. Dentre outros traos, caracterizava-se pela oferta aos deuses

    de um po de trigo, costume que, estilizado, sobreviveu at os nossos dias com o

    tradicional bolo de noiva.

    A confarreatio no tardou, todavia, a cair em desuso e j se tornava rara ao tempo

    de Augusto8. Destacava-se, ainda, a defarreatio, espcie de separao em que as

    fatias do bolo, agora, seriam comidas separadamente.

    b) Coenptio

    A Coenptio era o matrimnio da plebe; realizado na presena de cinco

    testemunhas. Constituia espcie de casamento civil e era descrito por Gaio como

    uma imaginaria venditio. Admitia a remancipatio, que era a devoluo.

    c) Usus

    J o Usus era um ato sem qualquer solenidade. Era a aquisio da mulher pela

    posse, equivalendo a uma espcie de usucapio, pois a posse da mulher pelo

    marido era reconhecida pelo ano de unio, sem interrupo de trs noites

    consecutivas juntos.

    1.1 Natureza Jurdica

    Hoje, a concepo de casamento , em verdade, um vnculo jurdico formal, que impe

    aos indivduos a sujeio para cumprimento de deveres.

    Na poca da promulgao do Cdigo de Napoleo, o Cdigo Francs de 1804, alguns

    autores diziam que o casamento era um ato-condio, em que no bastava a mera

    manifestao de vontade, mas o surgimento de efeitos. No entanto, com o reconhecimento

    da natureza contratual do casamento, a manifestao da vontade ganhou uma proporo

    muito maior, sendo sua natureza, agora, contratual para a maior parte dos autores,

    contudo, o casamento de natureza sui generis: patrimonial e contratual.

    Para que o casamento ocorra, os sujeitos devem possuir capacidade nbil com o

    auxlio de parmetros cientficos, o Cdigo Civil atual estipula a idade legal em 16 anos.

    Nestes casos, quando o menor desejar contrair casamento, deve haver assistncia, pois que

    8 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. So Paulo: Saraiva, 1997. p. 15.

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    se trata de sujeito relativamente incapaz. Abaixo de 16 anos deve haver expressa

    autorizao legal.

    Assim, para que o maior de 16 anos e menor de 18 anos possa realizar casamento,

    quando no houver autorizao ou negativa de assistncia imotivada por parte de seus

    assistentes legais, o indivduo deve solicitar o suprimento judicial de sua incapac

    idade. No caso em tela, contudo, o regime sempre dever ser o de separao total

    obrigatria de bens. Embora as hipteses de autorizao no sejam taxativas, esta s deve

    ocorrer em carter excepcional.

    2. O casamento civil: gratuidade da celebrao

    Existe, no Direito Brasileiro, a possibilidade de que pessoas reconhecidamente pobres

    realizem o casamento, independentemente do pagamento de emolumentos do cartrio. O

    Cdigo Civil, em seu artigo 1.512, pargrafo nico, assegura s pessoas cuja pobreza for

    declarada, o direito iseno de emolumentos e despesas para o casamento, registro e

    primeira certido.

    O pargrafo nico do artigo 1 da Lei 1.060/50 dispe que: considera-se necessitado,

    para os fins legais, todo aquele cuja situao econmica no lhe permita pagar as custas do

    processo e os honorrios de advogado, sem prejuzo do sustento prprio ou da famlia. No

    caso, a lei menciona processo e honorrios de advogado, mas pode se estender s taxas e

    emolumentos do cartrio. J o artigo 1 da Lei n 7.115/83 diz que a declarao destinada

    a fazer prova de vida, residncia, pobreza, dependncia econmica, homonmia ou bons

    antecedentes, quando firmada pelo prprio interesse ou por procurador bastante, e sob as

    penas da Lei, presume-se verdadeira.

    Assim, a lei apenas exige uma Declarao de Pobreza que dever ser firmada por

    ambos os noivos. Como a finalidade da lei facilitar o casamento para todo mundo, no

    deve ser exigida nenhuma comprovao de renda. Se o oficial de registro tiver dvida sobre

    a veracidade da declarao, dever esclarecer aos noivos de que a falsidade ensejar

    responsabilidade civil e criminal do interessado (artigo 30, 3 da Lei de Registros

    Pblicos).

    Caso os noivos desejam realizar o casamento em diligncia (fora do cartrio), o ato

    somente poder ser gratuito se eles estiverem em situao de extrema urgncia (exemplo:

    noivo que est internado com cncer terminal e no pode se locomover ao cartrio). Como

    a finalidade da lei assegurar o direito ao casamento a todos, esta hiptese no se

    enquadra, pois o juiz ou o oficial de registro teria que se deslocar, o que causaria um custo

    pessoal a eles.

    A publicao de editais de proclamas custeada pelo Estado, por meio da imprensa

    oficial, nas situaes em que o jornal que publica os editais de proclamas da Serventia no

    fizer gratuitamente a publicao.

    Modelo de declarao de pobreza, extrado do blog Casando Sem grana:

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    3. Processo de habilitao ao casamento: objetivos

    O casamento deve ser realizado na forma prevista em lei. As pessoas interessadas

    nubentes devem passar por um processo preliminar de habilitao. Os interessados

    devem fazer o requerimento no cartrio de registros, anexando a documentao necessria

    de forma que o oficial do cartrio possa emitir uma certido de habilitao ao casamento,

    com validade de 90 dias.

    Cumpre-se destacar:

    CAPTULO V

    Do Processo de Habilitao PARA O CASAMENTO

    Art. 1.525. O requerimento de habilitao para o casamento ser firmado por ambos

    os nubentes, de prprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser

    instrudo com os seguintes documentos:

    I - certido de nascimento ou documento equivalente;

    II - autorizao por escrito das pessoas sob cuja dependncia legal estiverem, ou ato

    judicial que a supra;

    III - declarao de duas testemunhas maiores, parentes ou no, que atestem

    conhec-los e afirmem no existir impedimento que os iniba de casar;

    IV - declarao do estado civil, do domiclio e da residncia atual dos contraentes e

    de seus pais, se forem conhecidos;

    V - certido de bito do cnjuge falecido, de sentena declaratria de nulidade ou de

    anulao de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentena de

    divrcio.

    Art. 1.526. A habilitao ser feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil,

    com a audincia do Ministrio Pblico.

    9Disponvel em Acesso em 24 de

    Novembro de 2013.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Pargrafo nico. Caso haja impugnao do oficial, do Ministrio Pblico ou de

    terceiro, a habilitao ser submetida ao juiz.

    Art. 1.527. Estando em ordem a documentao, o oficial extrair o edital, que se

    afixar durante quinze dias nas circunscries do Registro Civil de ambos os

    nubentes, e, obrigatoriamente, se publicar na imprensa local, se houver.

    Pargrafo nico. A autoridade competente, havendo urgncia, poder dispensar a

    publicao.

    Art. 1.528. dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos

    que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos

    regimes de bens.

    Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas sero opostos em

    declarao escrita e assinada, instruda com as provas do fato alegado, ou com a

    indicao do lugar onde possam ser obtidas.

    Art. 1.530. O oficial do registro dar aos nubentes ou a seus representantes nota da

    oposio, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu.

    Pargrafo nico. Podem os nubentes requerer prazo razovel para fazer prova

    contrria aos fatos alegados, e promover as aes civis e criminais contra o oponente

    de m-f.

    Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a

    inexistncia de fato obstativo, o oficial do registro extrair o certificado de

    habilitao.

    Art. 1.532. A eficcia da habilitao ser de noventa dias, a contar da data em que

    foi extrado o certificado.

    Aps a expedio do certificado de habilitao cuja eficcia de 90 dias deve haver

    a celebrao do casamento, com a confirmao do ato no registro civil.

    OBS.: Smula n 377 STF

    STF Smula n 377 - 03/04/1964 - DJ de 8/5/1964, p. 1237; DJ de 11/5/1964, p.

    1253; DJ de 12/5/1964, p. 1277.

    Regime de Separao Legal de Bens - Comunicao - Constncia do Casamento

    No regime de separao legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constncia do

    casamento.

    Por conta da boa-f de algum dos cnjuges, mesmo o casamento considerado nulo,

    pois que maculados com impedimentos casamento putativo alguns efeitos podem ser

    configurados, muito embora, nesses casos, a separao de bens seja obrigatria, devido s

    causas suspensivas constantes do art. 1523 do Cdigo Civil.

    AULA 14/10/2013

    4. Dos impedimentos matrimoniais (art. 1.521, CC/02)

    Primeiramente, cumpre-se realizar uma distino entre o Parentesco Biolgico e o

    Parentesco Civil.

    Parentesco biolgico aquele parentesco natural, fruto de relaes e combinaes

    genticas. O parentesco civil, por sua vez, engloba a adoo e o parentesco por afinidade

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    (os familiares de um cnjuge, por exemplo, so familiares na lei do outro cnjuge, em

    razo do vnculo matrimonial).

    Irmos unilaterais: irmos s por um lado (s por parte de pai ou de

    me). Antigamente eram chamados de irmos no germanos.

    Irmos bilaterais: irmos pelos dois lados (por parte de pai e de me e, por isso,

    podem ter mesmo sobrenome). Primos tambm podem ter o mesmo sobrenome e, neste

    caso, so chamados de primos-irmos. Isso ocorre quando o irmo do pai tem um ou mais

    filhos com a irm da me. Antigamente eram chamados de irmos germanos.

    Colaterais: parentes que tm um ascendente comum. (No existem colaterais de 1

    grau. De 2 grau: irmos. De 3 grau: tios e sobrinhos).

    Afins em linha reta: sogro, sogra, enteados e avs, netos e bisnetos do cnjuge.

    Art. 1.5221. No podem casar:

    I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

    Andou bem, o legislador, em no se referir como fazia o Cdigo de 1916, ao

    parentesco e filiao legtima e ilegtima, discriminao proibida pelo art. 227 da

    Constituio de 1988.

    Entretanto, o Cdigo Civil no admite npcias incestuosas. uma preocupao de

    natureza eugnica. A professora Nilza Reis mostra-se a favor de tal impedimento. que o

    casamento entre parentes consanguneos prximos pode provocar o nascimento de filhos

    defeituosos. E no importa se se trata de descente havido do matrimnio ou no. O

    impedimento resultante do parentesco civil, existente entre adotante e adotado,

    justificado pelo fato de a adoo imitar a famlia. Inspira-se, pois, em razes de moralidade

    familiar.

    OBS.: Da mesma forma que se coloca um impedimento ao matrimnio em sentido

    estrito, isso se arrasta tambm para a tutela da Unio Estvel de modo que aquela

    unio estvel maculada por qualquer vcio de impedimento, na maioria das vezes, no h

    de receber amparo, proteo, do ordenamento jurdico ptrio.

    II - os afins em linha reta;

    Parentesco por afinidade o que liga um cnjuge ou companheiro aos parentes do

    outro. Resulta, pois, do casamento ou da unio estvel. A proibio refere-se apenas linha

    reta.

    Entretanto, ainda que dissolvido o casamento ou a unio estvel que deu origem ao

    aludido parentesco, o vivo no pode se casar com a enteada, nem com a sogra, porque a

    afinidade em linha reta no se extingue com a dissoluo do casamento (ou da unio

    estvel) que a originou (art. 1.595 CC/02).

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Como a afinidade em linha colateral no constitui empecilho ao casamento, o cnjuge

    vivo ou divorciado pode casar-se com a(o) cunhada(o).

    III - o adotante com quem foi cnjuge do adotado e o adotado com quem o foi do

    adotante;

    (...)

    V - o adotado com o filho do adotante;

    Frise-se que a adoo no nasceu como forma de beneficiar aquelas crianas

    desamparadas, mas como forma de dar queles casais que no poderiam ter filhos

    naturais, a oportunidade de ter um filho, ainda que fruto de uma relao artificial.

    No entanto, naquela poca, a adoo no envolvia a sucesso, o que no ocorre

    depois do advento da Constituio de Federal de 1988 - marco a partir do qual ao filho

    adotado foram integrados todos os direitos daquela famlia, gozando dos mesmos

    privilgios de que os filhos biolgicos fazem jus.

    IV - os irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o terceiro grau

    inclusive;

    Os irmos so parentes colaterais em segundo grau por descenderem de um tronco

    comum, e no um do outro. O impedimento alcana irmos havidos ou no de casamento,

    sejam eles unilaterais ou bilaterais. Tios e sobrinhos so colaterais de terceiro grau e,

    portanto, impedidos de casar.

    OBS.: Decreto-Lei n 3.200/41 permite, entretanto, tal casamento, desde que se

    submetam ao exame pr-nupcial (cuja realizao, por dois mdicos nomeados pelo juiz,

    deve ser requerida no processo de habilitao e o resultado seja-lhes favorvel).

    Primos podem casar-se porque so colaterais de quarto grau.

    VI - as pessoas casadas;

    No podem se casar as pessoas j casadas a consagrao do princpio ocidental

    da monogamia. Todavia, alguns autores, como Paulo Lobo, acreditam que o Estado no

    deveria interferir, nestes casos, na esfera privada. Destacando-se, ainda, a Teoria Poliamorista

    defendida por Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho.

    OBS.: No existe possibilidade de se estabelecer Unio Estvel com um companheiro

    que j casado muito embora j se permita uma proteo mnima pelo ordenamento

    jurdico, no se tratar de unio estvel, mas de mero concubinato.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    VII - o cnjuge sobrevivente com o condenado por homicdio ou tentativa de

    homicdio contra o seu consorte.

    Trata-se de impedimentum criminis. De acordo com Carlos Roberto Gonalves, o

    dispositivo, malgrado no tenha feito nenhuma distino, abrange somente o homicdio

    doloso, como da tradio de nosso direito. No se reclama que o outro seja conivente ou

    esteja conluiado com o autor do conjugicdio, mas exige-se que tenha havido condenao.

    Se ocorreu absolvio ou extino de punibilidade, no se configura o impedimento. O

    impedimento obsta tambm que os impedidos de se casar passam a viver, legalmente, em

    unio estvel (art. 1.723, CC/02).

    Todavia, o novo Cdigo no contempla o impedimento relativo ao casamento do

    cnjuge adltero com o seu cmplice por tal condenado, previsto anteriormente no diploma

    de 1916.

    AULA 16/10/2013

    Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, at o momento da celebrao do

    casamento, por qualquer pessoa capaz.

    Pargrafo nico. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existncia de algum

    impedimento, ser obrigado a declar-lo.

    Desse modo, a violao dos impedimentos representa uma leso, um prejuzo a toda a

    sociedade; portanto, a legitimidade para oposio ampla: podem ser opostos, no perodo de

    habilitao, por qualquer pessoa capaz.

    Se algum contrai matrimnio infringindo a impedimento, aquela unio estar fadada

    nulidade.

    5. Das causas suspensivas (art. 1.523, CC/02)

    I. O vivo ou a viva que tiver filho do cnjuge falecido, enquanto no fizer o

    inventrio dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;

    H tal impedimento para evitar a confuso de patrimnios, pois, com a partilha,

    definem-se os bens que comporo a herana dos filhos do casamento anterior, evitando a

    referida confuso. Nos casos em que o matrimnio acabar por ser realizado, haver

    obrigatoriedade do regime da separao de bens; bem como a incidncia da hipoteca legal em

    favor dos filhos, sobre os imveis do pai ou da me que contrair outo casamento antes de

    fazer o inventrio do casal anterior (Livro do Direito das Coisas, art. 1489, II, CC/02). Segundo

    Carlos Roberto Gonalves, o bice no desaparece com o fato de haver sido iniciado o

    inventrio. A lei exige mais: que haja partilha julgada por sentena.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Todavia, se o cnjuge falecido no tiver deixado algum filho, inexistir restrio, assim

    como, ainda que tenha deixado algum, se o casal no tiver bens a partilhar. (Por esta razo

    admitido o chamado inventrio negativo, instrudo com certido negativa de bens, que se

    destina a comprovar a inexistncia de causa suspensiva).

    II - a viva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, at dez meses depois do comeo da viuvez, ou da dissoluo da sociedade conjugal;

    Trata-se de causa suspensiva imposta apnas mulher, com o objetivo de evitar

    possveis dvidas/confuses acerca da paternidade (turbatio sanguinis). No persistir se a

    nubente comprovar o nascimento do filho ou a inexistncia de gravidez na fluncia desse

    prazo (tambm quando houver aborto; se a gravidez for evidente quando da viuvez ou da

    anulao do casamento; ou se o casamento anterior foi anulado por impotncia do cnjuge

    ou mesmo impossibilidade fsica de coabitao do casal).

    III - o divorciado, enquanto no houver sido homologada ou decidida a partilha dos

    bens do casal;

    Procura-se evitar a controvrsia a respeito dos bens comuns, na hiptese de novo

    casamento de um dos divorciados, em face do regime de bens adotado. Contudo, a restrio

    ser afastada, provando-se a inexistncia de prejuzo para o ex-cnjuge.

    IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmos, cunhados ou

    sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto no cessar a tutela ou curatela, e

    no estiverem saldadas as respectivas contas.

    Cumpre-se fazer uma distino entre o tutor e o curador.

    O tutor o representante legal de menores destitudos de poder familiar, rfos ou

    abandonados pelos pais, para a prtica dos atos da vida civil. J o curador aquele que,

    efetivamente, cuida representa os interesses de incapazes (total ou relativamente, a partir

    dos 16 anos de idade).

    Pelo fato de administrarem bens alheios, tm a obrigao de prestar contas dos bens

    pertencentes aos tutelados ou curatelados, sob fiscalizao judicial. Por isso, no

    recomendado o casamento com estes, sobretudo quando tm bens que possam conduzir a um

    casamento por interesse. Destarte, faz-se mister a obrigatoriedade do casamento sob o regime

    de separao total de bens.

    Pargrafo nico. permitido aos nubentes solicitar ao juiz que no lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistncia de prejuzo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cnjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente dever provar nascimento de filho, ou inexistncia de gravidez, na fluncia do prazo. Art. 1.524. As causas suspensivas da celebrao do casamento podem ser argidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam tambm consangneos ou afins.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    OBS.: Diferentemente dos impedimentos, as causas suspensivas s podem ser

    argidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangneos ou afins, e

    pelos colaterais em segundo grau, sejam tambm eles consangneos ou afins.

    Casamentos Especiais

    1. Casamento celebrado em razo de motivo urgente (urgncia)

    Essa hiptese est prevista no art. 1527, pargrafo nico, que dispe que a

    autoridade competente, havendo urgncia, poder dispensar a publicao. Contudo, no h

    que se dispensar o processo de habilitao.

    2. Casamento in extremis vitae momentis, in articulo mortis ou nuncupativo

    O casamento in articulo mortis, in extremis vitae momentis ou nuncupativo aquele

    realizado sob iminente risco de morte de um dos nubentes. Estabelece-se solenidade prpria

    (art. 1.540): to apressado que no tem processo de habilitao, nem autoridade celebrante,

    ao dispensar a presena de autoridades ou de eventuais substitutos, mas exige a presena de

    seis testemunhas que no tenham parentesco colateral ou em linha reta com os nubentes

    devendo procurar, no prazo de 10 dias, a autoridade judicial mais prxima, para que se tome o

    termo de suas declaraes acerca da espontaneidade do ato (sob pena de inexistncia do

    mesmo). Mas deve-se verificar que poderia haver a devida habilitao em tempo hbil, sem

    oposies (impedimentos ou causas suspensivas), para que o juiz possa homologar.

    Segundo Carlos Roberto Gonalves (p.133), a autoridade judiciria competente para

    ouvir as testemunhas e proceder s diligncias a mais prxima do lugar em que se realizou o

    casamento, ainda que no seja a do domiclio ou residncia dos cnjuges. Destaque-se:

    O Juiz, se no for o competente ratione materiae ou ratione personae, encaminhar

    as declaraes, depois de autuadas, autoridade judiciria que o for. Esta

    determinar providncias para verificar a inexistncia de impedimentos, em

    procedimento semelhante a uma habilitao a posteriori, ouvir o Ministrio Pblico

    e realizar as diligncias necessrias, antes de proferir a sentena, da qual caber a

    apelao em ambos os efeitos. Transitada em julgado, o juiz mandar registr-la no

    Livro do Registro dos Casamentos, retroagindo os efeitos, quanto ao estado dos

    cnjuges, data da celebrao (CC, art. 1.541, 1a 4).

    A pessoa que est sob o risco iminente de morte no pode se casar atravs de

    procurao. Porm, caso o nubente sobreviva, dever este confirmar a sua manifestao de

    vontade, haja vista que ningum pode cas-lo, estando vivo, sem procurao.

    As formalidades, contudo, sero dispensadas se o enfermo convalescer e puder

    ratificar o casamento em presena da autoridade competente e do oficial de registro. Esta

    ratificao feita mediante termo no livro do Registro dos Casamentos, devendo vir assinada

    tambm pelo outro cnjuge e por duas testemunhas. Antes da lavratura do termo, exigem-se

    os documentos do art. 1.525 e o certificado do art. 1.531, comprobatrio da inexistncia de

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    impedimentos. No havendo a ratificao, aps a convalescena, no tem valor o casamento.

    A pessoa que est sob o risco iminente de morte no pode se casar atravs de procurao.

    Porm, caso o nubente sobreviva, dever este confirmar a sua manifestao de vontade, haja

    vista que ningum pode cas-lo, estando vivo, sem procurao.

    H tambm o casamento realizado em caso de molstia grave, celebrado em face de

    algum que est acometido de doena grave: no est morrendo, no est em extremo perigo

    de vida, mas muito doente. Pode ser por procurao ou pessoalmente. A autoridade

    celebrante vai aonde se encontra o enfermo e celebra o casamento perante duas

    testemunhas.

    Todavia, pressupe-se que j tenha sido expedido o certificado de habilitao, mas a

    gravidade do estado de sade do mesmo o impea de se locomover e de adiar a cerimnia.

    Assim, o juiz ir celebr-lo em sua casa ou onde estiver (no hospital, por exemplo), em

    companhia do oficial, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. (Apenas em caso

    de urgncia que o casamento poder ser realizado noite).

    3. Casamento por procurao

    A pessoa que est sob o risco iminente de morte no poder se casar atravs de

    procurao.

    Aqui, se entende por procurao o instrumento de mandato outorgado pelo

    mandante ao mandatrio, devendo aquele mencionar, obrigatoriamente, na escritura pblica,

    o futuro cnjuge.

    Art. 1.5440, V: anulvel o casamento realizado pelo mandatrio, sem que ele ou o

    outro contraente soubesse da revogao do mandato, e no sobrevindo coabitao entre os

    cnjuges o mandante, neste caso, poder responder por perdas e danos.

    Como supradito, o casamento nuncupativo permite a celebrao mediante

    procurao.

    AULA 21/10/2013

    4. Casamento de parentes colaterais de 3 grau

    Como o Novo Cdigo Civil disciplina no art. 1.521, IV a impossibilidade de casamento

    entre irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o terceiro grau inclusive, num

    primeiro momento, somos levados a crer que um tio no pode se casar com sua sobrinha sob

    o prisma jurdico, uma vez que no estamos tratando da parte moral, a qual pode nos levar a

    uma hiptese em que tio e sobrinha so unidos pelo afeto, o que nos permite cham-los de pai

    e filha.

    Para juristas como o professor Euclides Benedito de Oliveira,

    O novo Cdigo no contempla a ressalva de autorizao judicial para o casamento

    entre os colaterais de terceiro grau (tio e sobrinha), que no atual sistema jurdico

    tem lugar por fora de disposio do Decreto-Lei 3.200/41. Resta questionvel se

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    estaria revogada essa norma excepcional, diante da norma genrica do novo

    ordenamento civil, ou se mantida como regra especial prevalecente10.

    No entanto, tais espcies de casamento vm sendo admitidas desde o advento desse

    decreto-lei de maneira pacfica.

    Segundo o Enunciado n 98, da 1 Jornada de Direito Civil do Conselho de Justia

    Federal, o inc. IV do art. 1.521 do novo Cdigo Civil deve ser interpretado luz do Decreto-Lei

    n. 3.200/41 no que se refere possibilidade de casamento entre colaterais de 3 grau. (Muito

    embora este enunciado esteja longe de ser considerado lei, merece considervel respeito).

    Em geral, defende-se a idade que, uma vez apresentados no mnimo dois atestados

    mdicos afirmando a impossibilidade de defeitos eugnicos dos futuros descendentes,

    possvel a unio em matrimnio de tio (a) e sobrinha (o), com fulcro no Decreto-Lei 3.200/41.

    5. Casamento religioso com efeitos civis

    possvel que a Lei de Organizao Judiciria do estado-membro defina qual rgo

    ser competente para realizar o casamento civil. Na lei no mbito do estado da Bahia, h

    possibilidade de delegao dessa competncia.

    De acordo com a Lei n 6.015/73, de Registros Pblicos, o casamento civil (nica

    modalidade reconhecida no ordenamento jurdico ptrio) deve ser registrado. Contudo,

    comum que se celebre o casamento religioso com efeitos civis em quaisquer religies

    devendo haver habilitao prvia ou posterior celebrao, com registro posterior data da

    celebrao, momento em que passam a ocorrer os efeitos jurdicos, caso a habilitao seja

    bem sucedida. (Verifica-se, in casu, uma hiptese de delegao, prevista no art. 1.515 do

    Cdigo Civil de 2002).

    OBS.: Aquele casamento religioso no registrado em cartrio civil no

    propriamente um casamento, mas unio estvel, por no obedecer a formalidades

    legalmente exigidas (quais sejam aquelas de habilitao prvia, com posterior registro, ou

    habilitao posterior no registrada).

    Confirmado o registro dentro do prazo de validade do certificado de habilitao (90

    dias), os efeitos retroagem data da efetiva celebrao.

    Ex.: A doao realizada por um dos cnjuges antes do registro mas aps a celebrao

    religiosa, quando o regime ao qual escolheram se submeter no a permitir sem o

    consentimento do outro, poder ser anulada. Muito embora possam existir clusulas de

    incomunicabilidade de bens a serem gravadas pela autoridade competente (Consideradas

    normas de Direito Privado que podem se comportar como normas de Ordem Pblica).

    possvel que haja modificao do regime, a pedido de ambos os cnjuges, por justa

    causa, a juzo competente.

    10

    OLIVEIRA, Euclides Benedito de, DIREITO DE FAMLIA NO NOVO CDIGO CIVIL, disponvel em Acesso em 24 de Novembro de 2013.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    6. Casamento de militares

    Anteriormente, para que um militar pudesse se casar, de acordo com a Lei n

    6.880/80, ele deveria pedir autorizao a seu comando superior. Hoje, no entanto, no h

    mais necessidade de prvia autorizao, devendo o militar apenas comunicar, pois que seu

    cnjuge ser seu dependente na produo dos efeitos jurdicos. possvel que haja

    modificao do regime, a pedido de ambos os cnjuges, por justa causa, a juzo competente.

    7. Casamento de funcionrios diplomticos, consulares e do Instituto Rio Branco

    Primeiramente, cumpre-se realizar uma distino entre cnsul e diplomata.

    O cnsul realiza uma representao administrativa de um pas dentro de outro (Cada

    pas tem diversos consulados na nao estrangeira, geralmente nas capitais estaduais).

    responsvel, basicamente, por resolver assuntos dos seus cidados no territrio estrangeiro

    como vistos, vistoria de cargas, auxlio administrativo tanto para pessoa fsica como jurdica,

    etc.

    J o embaixador ou diplomata exerce a representao diplomtica de um pas dentro

    de outro. Cada pas s tem uma embaixada na nao estrangeira, geralmente na capital

    federal. responsvel por assuntos de interesse comuns entre as duas naes envolvendo

    negociaes polticas, desenvolvimento econmico e cultural, informaes oficiais, etc.

    No caso de funcionrios do servio exterior, alunos do Instituto, ou mesmo aqueles

    que concorrem ao cargo, para se casarem com pessoa estrangeira, dependem de autorizao

    do Presidente da Repblica; e, no caso de casamento com nacional, deve haver autorizao do

    Ministrio das Relaes Exteriores.

    Assim, no momento de requisio do processo de habilitao, os interessados devem

    apresentar essa prvia autorizao das autoridades competentes supramencionadas.

    8. Casamento de brasileiro em outro pas (que reside no estrangeiro)

    Art. 32 da Lei n 6.015 de 1973: Os assentos de nascimento, bito e de casamento de

    brasileiros em pas estrangeiro sero considerados autnticos, nos termos da lei do lugar em

    que forem feitos, legalizadas as certides pelos cnsules ou quando por estes tomados, nos

    termos do regulamento consular.

    Tal modalidade tambm conhecida como casamento consular.

    Caso o interessado queira se casar de acordo com as leis brasileiras, dever se casar no

    consulado brasileiro devendo o ato ser registrado em 180 dias, a contar da volta de um ou

    ambos os cnjuges ao Brasil, no cartrio do respectivo domiclio; ou, em sua fatal, no 1 Ofcio

    da Capital do estado em que passarem a residir (Art. 1544 do Cdigo Civil). O mesmo se aplica

    no caso de o casamento ser realizado por autoridades estrangeiras o que muda so as

    formalidades.

    9. Casamento de estrangeiro no Brasil

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    H duas hipteses: quando casam no consulado de seus respectivos pases ou quando

    se casam sob as leis brasileiras. No primeiro caso, ainda que os estrangeiros sejam de

    nacionalidades diferentes, devem se casar no consulado de apenas um deles, sob as leis de seu

    pas de origem. J quando no h um consenso, podem realizar o ato sob a legislao

    brasileira. O mesmo se aplica ao divrcio.

    10. Casamento decorrente de converso de unio estvel

    Art. 226, 3, CF 88: Para efeito da proteo do Estado, reconhecida a unio

    estvel entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua

    converso em casamento.

    Percebe-se, desse modo, que a unio estvel um fato do cotidiano que teve seus

    efeitos jurdicos reconhecidos. Cabendo ao legislador ordinrio facilitar a sua converso em

    casamento, em observncia a esse comando constitucional.

    Entretanto, antes de o novo Cdigo Civil ser promulgado, havia a previso de que tal

    converso deveria ser feita mediante deciso judicial o que, na verdade, dificultava. Sendo

    assim, hoje, para que os nubentes possam converter a unio estvel em casamento, devem

    fazer o requerimento do processo de habilitao e, configurado o registro, os efeitos jurdicos

    retroagiro data da unio.

    AULA 30/10/2013

    A prova do casamento

    1. Consideraes gerais sobre prova

    Em Direito, prova todo meio destinado a convencer o juiz, seu destinatrio, a

    respeito da veracidade de um fato levado a julgamento. As provas fornecessem elementos

    para que o juiz forme convencimento acerca de fatos controvertidos, relevantes para o

    processo.

    Em regra, a prova do casamento se faz atravs da certido.

    2. Casamento: Meios de prova

    2.1 Regra: Certido de casamento (extrada do assentamento)

    Com fulcro no art. 1.543 do Cdigo Civil, o casamento celebrado no Brasil provado

    pela certido do registro. Mas, justificada a falta ou a perda do registro civil, admissvel

    qualquer outra espcie de prova (Ex.: cartrio incendiado, extravio do livro de registros, etc.)

    Deve-se, desse modo, comprovar tambm a efetiva perda (ex.: notcia comprovando o

    incndio).

    2.2 Outros meios (Excepcionais): Justificar ao declaratria

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    A justificao no tem lide, mas to somente uma homologao por parte do juiz, e os

    autos so entregues parte para que possa utiliz-los o que no significa que deva ser aceita

    por quaisquer rgos pblicos como meio de prova.

    Muito embora seja prevista no mesmo captulo das aes cautelares, no se trata de

    ao cautelar, por no ser vinculante.

    OBS.: Atravs dos meios de prova, possvel a demonstrao da verdade nas

    alegaes sobre a matria ftica controvertida e importante para julgamento da causa. Os

    meios so definidos em lei enumerados pelo Cdigo de Processo Civil como depoimento

    pessoal (Arts. 342-347); a exibio de documentos ou coisas (Arts. 355-363); a prova

    documental (Arts. 364-399); a confisso (Arts. 348-354); a prova testemunhal (Arts. 400-419);

    a inspeo judicial (Arts. 440-443) e a prova pericial (Arts. 420-439).

    Em relao quela prova produzida em um determinado processo, e que se deseja

    ser aproveitada em outro (prova emprestada), esta s poder ser utilizada se a parte contra

    quem se pretende produzir a prova tenha integrado o contraditrio no momento da

    produo da mesma deve ser tratada como prova documental.

    A justificao muito mais frgil em relao ao declaratria por se tratar de mera

    homologao, em que o juiz no adentra nas questes de mrito.

    3. Da posse do Estado de cnjuge

    A depender das circunstncias, os descentes, a exemplo dos filhos, podem comprovar

    a posse do estado de cnjuge de seus pais (A teor do art. 1545 o casamento de pessoas que,

    na posse do estado de casadas, no possam manifestar a vontade, ou tenham falecido, no se

    pode contestar em prejuzo da prole comum, salvo mediante certido do Registro Civil que

    prove que j era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado.

    4. Dvida entre as provas: soluo recomendada

    Art. 1.547: Na dvida entre as provas favorveis e contrrias, julgar-se- pelo

    casamento, se os cnjuges, cujo casamento se impugna, tiverem vivido na posse do estado de

    casados.

    5. Prova do casamento realizado no estrangeiro

    Art. 32 da Lei n 6.015 de 1973: Os assentos de nascimento, bito e de casamento de

    brasileiros em pas estrangeiro sero considerados autnticos, nos termos da lei do lugar em

    que forem feitos, legalizadas as certides pelos cnsules ou quando por estes tomados, nos

    termos do regulamento consular.

    Do casamento invlido

    1. Noes introdutrias

    1.1 Plano de existncia (pressupostos essenciais)

    1.2 Plano de validade

    2. Da nulidade e da anulao do casamento

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    3. O casamento nulo: causas legais (taxativas)

    3.1 Declarao de nulidade: sentena

    3.1.1 Efeitos jurdicos

    3.1.2 Casamento putativo (boa-f)

    4. Do casamento anulvel: causas legais (Art. 1.550, CC/02)

    4.1 Declarao judicial proposta pelo cnjuge prejudicado

    4.1.1 Efeitos jurdicos

    4.1.2 Casamento anulado, mas putativo

    5. Concluses

    1. Noes introdutrias

    Casamento vlido aquele que alia o vnculo matrimonial sociedade conjugal,

    atendendo s exigncias legais.

    Quando ocorre a separao de fato h somente a ausncia da sociedade conjugal: o

    vnculo matrimonial subsiste. No divrcio, entretanto, h dissoluo de ambos.

    1.1 Plano de existncia (pressupostos essenciais)

    Para que o casamento exista, preciso que haja na grande maioria dos pases a

    diversidade de sexos. No Brasil, contudo, j existe resoluo pelo CNJ no sentido de permitir o

    casamento entre pessoas do mesmo sexo. Exige-se, ainda, o consentimento e a celebrao

    por uma autoridade so basicamente estes dois ltimos os critrios para aferio da

    existncia do casamento em nosso ordenamento jurdico (mesmo que tal consentimento seja

    viciado).

    Atualmente, no Brasil, casamento inexistente h de ser aquele em que j ausncia de

    consentimento e da celebrao por autoridade competente independentemente da

    possibilidade de ser considerado invlido. Quando um destes itens no existir, o casamento

    ser inexistente.

    1.2 Plano de validade

    OBS.: A nulidade a anulao so espcies de sanes civis muito embora na rea de

    famlia, diferentemente do que aponta a teoria das nulidades, se admita a produo de

    efeitos jurdicos, mesmo para aqueles casamentos reputados invlidos sobretudo quando

    os cnjuges (ou um deles) atuam de boa f. O entendimento atual de que os filhos

    provenientes de relaes matrimoniais nulas no devem ser prejudicados.

    2. Da nulidade e da anulao do casamento

    NULIDADE

    Art. 1.548. nulo o casamento contrado:

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    I - pelo enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da vida civil;

    II - por infringncia de impedimento.

    Diferentemente dos enfermos mentais, para aqueles indivduos sob a curatela, a

    exemplo dos prdigos e dos toxicmanos, o juiz poder, no caso concreto, decidir os limites da

    diviso ou comunho de bens.

    Art. 1.549. A decretao de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ao direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministrio Pblico.

    A atuao do Ministrio Pblico se justifica quando, na fase de habilitao no houve

    oposio, mas aquele casamento reputar-se nulo, pois prejudicados os interesses da sociedade

    como um todo, no caso de infringncia dos impedimentos, que so absolutos, oponveis erga

    omnes.

    AULA 04/11/2013

    ANULABILIDADE

    Art. 1.550. anulvel o casamento:

    I - de quem no completou a idade mnima para casar;

    II - do menor em idade nbil, quando no autorizado por seu representante legal;

    III - por vcio da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;

    IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequvoco, o consentimento;

    V - realizado pelo mandatrio, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogao do mandato, e no sobrevindo coabitao entre os cnjuges;

    VI - por incompetncia da autoridade celebrante.

    Pargrafo nico. Equipara-se revogao a invalidade do mandato judicialmente decretada.

    No caso de incompetncia da autoridade celebrante, pode haver convalidao no

    perodo de at dois anos, embora o casamento seja passvel de anulao.

    No que concerne nulidade e anulabilidade, existem autores que as diferenciam de

    acordo com seu carter absoluto ou relativo. A nulidade seria proveniente de vcio insanvel

    nulidade absoluta. J as circunstncias que tornam o casamento passvel de anulao

    comportam uma nulidade relativa, ao possibilitar que tal ato matrimonial seja convalidado,

    quando sanados os vcios; ou anulados, a depender do caso concreto.

    Diferentemente das nulidades, que so de interesse da sociedade, nos casos passveis

    de anulao, as razes devem ser apresentadas pelos interessados.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Art. 1.551. No se anular, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez.

    Art. 1.552. A anulao do casamento dos menores de dezesseis anos ser requerida:

    I - pelo prprio cnjuge menor;

    II - por seus representantes legais;

    III - por seus ascendentes.

    No que tange a tais aspectos, devemos abrir um parntese para tratar da filiao.

    A filiao, enquanto relao entre pais e filhos, antes da Constituio de 1988 s era

    considerada legtima atravs do casamento, de modo que os filhos havidos fora do matrimnio

    no fizessem parte do ncleo familiar: no podiam nem mesmo ser registrados com o nome

    paterno, se este pai fosse casado. A filiao, desse modo, era dividida essencialmente em

    legtima e ilegtima.

    Frise-se que, aqui, filiao deve ser entendida como relao de parentesco

    consanguneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa queles que a geraram,

    ou a receberam como se as tivessem gerado.

    De acordo com Slvio Salvo de Venosa, filiao legitima era aquela decorrente das

    justas npcias, sendo legtimos os filhos de pessoas casadas entre si (ainda que o casamento

    fosse anulado ou nulo contrado de boa f). J a filiao ilegtima se aplicava aos filhos havidos

    fora do matrimnio, que poderiam ser naturais (nascidos de pessoas que no tinham

    impedimentos matrimoniais entre si) ou esprios (frutos de adultrio ou de relaes

    incestuosas).

    OBS.: Antes do Cdigo de 1916 havia, ainda, nesta classificao, os chamados filhos

    sacrlegos, filhos de padres ou freiras.

    Tambm havia a filiao legitimada, que tornava legtimos os filhos havidos ou

    concebidos em momento anterior ao casamento dos cnjuges que, com o matrimnio, os

    legitimavam.

    Com a Constituio de 1988, entretanto, houve a proibio do tratamento

    discriminatrio entre os filhos, que devem receber tratamento igual, independente do

    vnculo existente entre seus genitores.

    Art. 1.553. O menor que no atingiu a idade nbil poder, depois de complet-la, confirmar seu casamento, com a autorizao de seus representantes legais, se necessria, ou com suprimento judicial.

    Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competncia exigida na lei, exercer publicamente as funes de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil.

    Art. 1.555. O casamento do menor em idade nbil, quando no autorizado por seu representante legal, s poder ser anulado se a ao for proposta em cento e oitenta

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de s-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros necessrios.

    1o O prazo estabelecido neste artigo ser contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento, no segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz.

    2o No se anular o casamento quando sua celebrao houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua aprovao.

    OBS.: Se um menor casado sem autorizao vem a falecer, seus ascendentes podem

    anular o casamento para que o seu cnjuge no seja herdeiro.

    Linha de sucesso: descendentes, ascendentes, cnjuge, colaterais, etc.

    AULA 06/11/2013

    O ordenamento brasileiro possui um rol taxativo de hipteses para as quais o

    casamento possa ser considerado invlido. Alm das causas de nulidade absoluta quando o

    casamento contrado por enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da

    vida civil ou quando h leso a algum dos impedimentos matrimoniais existem as causas de

    anulabilidade: o erro essencial sobre a pessoa do cnjuge que torne a vida comum

    insuportvel e a coao, que tambm so vcios de consentimento, com potencial para

    invalidar o casamento.

    Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vcio da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto pessoa do outro.

    Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cnjuge:

    I - o que diz respeito sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportvel a vida em comum ao cnjuge enganado;

    II - a ignorncia de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportvel a vida conjugal;

    III - a ignorncia, anterior ao casamento, de defeito fsico irremedivel, ou de molstia grave e transmissvel, pelo contgio ou herana, capaz de pr em risco a sade do outro cnjuge ou de sua descendncia;

    IV - a ignorncia, anterior ao casamento, de doena mental grave que, por sua natureza, torne insuportvel a vida em comum ao cnjuge enganado.

    Nestas hipteses, o prprio cnjuge prejudicado deve propor a demanda para

    anulao do casamento, devendo comprovar que aquele erro essencial sobre a pessoa do

    outro cnjuge torna a vida comum insuportvel.

    AULA 11/11/2013

    (Aula de leitura do Cdigo Civil)

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Art. 1.558. anulvel o casamento em virtude de coao, quando o consentimento de um ou de ambos os cnjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considervel e iminente para a vida, a sade e a honra, sua ou de seus familiares.

    Art. 1.559. Somente o cnjuge que incidiu em erro, ou sofreu coao, pode demandar a anulao do casamento; mas a coabitao, havendo cincia do vcio, valida o ato, ressalvadas as hipteses dos incisos III e IV do art. 1.557.

    Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ao de anulao do casamento, a contar da data da celebrao, de:

    I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550;

    II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;

    III - trs anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;

    IV - quatro anos, se houver coao.

    1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes.

    2o Na hiptese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulao do casamento de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebrao

    .

    Art. 1.561. Embora anulvel ou mesmo nulo, se contrado de boa-f por ambos os cnjuges, o casamento, em relao a estes como aos filhos, produz todos os efeitos at o dia da sentena anulatria.

    1o Se um dos cnjuges estava de boa-f ao celebrar o casamento, os seus efeitos

    civis s a ele e aos filhos aproveitaro.

    2o Se ambos os cnjuges estavam de m-f ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis s aos filhos aproveitaro.

    Art. 1.562. Antes de mover a ao de nulidade do casamento, a de anulao, a de separao judicial, a de divrcio direto ou a de dissoluo de unio estvel, poder requerer a parte, comprovando sua necessidade, a separao de corpos, que ser concedida pelo juiz com a possvel brevidade.

    Art. 1.563. A sentena que decretar a nulidade do casamento retroagir data da sua celebrao, sem prejudicar a aquisio de direitos, a ttulo oneroso, por terceiros de boa-f, nem a resultante de sentena transitada em julgado.

    Art. 1.564. Quando o casamento for anulado por culpa de um dos cnjuges, este incorrer:

    I - na perda de todas as vantagens havidas do cnjuge inocente;

    II - na obrigao de cumprir as promessas que lhe fez no contrato antenupcial.

    AULA 13/11/2013

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Da Eficcia do Casamento

    Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condio de consortes, companheiros e responsveis pelos encargos da famlia.

    1o Qualquer dos nubentes, querendo, poder acrescer ao seu o sobrenome do outro.

    2o O planejamento familiar de livre deciso do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exerccio desse direito, vedado qualquer tipo de coero por parte de instituies privadas ou pblicas.

    O casamento, de forma geral, produz efeitos sociais, no estado de cnjuge

    (importante, por exemplo, para fins previdencirios); bem como efeitos pessoais, que

    envolvem direitos conjugais e deveres correlatos.

    Um dos grandes avanos representados por este dispositivo do Cdigo Civil a

    igualdade entre os cnjuges, pois anteriormente o homem era o nico chefe da sociedade

    conjugal, haja vista que a mulher era considerada relativamente incapaz.

    Com a Lei n 4.121 de 1962, o Estatuto da Mulher, a cnjuge do sexo feminino passou

    a ser enxergada como colaboradora da sociedade conjugal, ao ter reconhecida a sua

    capacidade plena, independentemente da condio de seu cnjuge. Isso foi fortalecido pela

    Lei do Divrcio (n 6.515/1977), que transformou muitos conceitos anteriormente extrados do

    Cdigo Civil de 1916, a exemplo das noes do desquite, substitudo pela separao judicial.

    A Lei n 4.121/62 criou a figura dos bens reservados mulher, que tinha o direito

    conservao daquilo havido em momento anterior ao casamento sob regime de comunho

    garantia que, segundo alguns doutrinadores, foi estendida aos homens, posteriormente. O

    que, ao ver da professora Nilza Reis, um grave equvoco, tendo em vista que a partir do texto

    constitucional de 1988 houve a consolidao da isonomia entre os cnjuges no ordenamento

    jurdico ptrio, sendo que os bens havidos anteriormente fazem parte do ato jurdico perfeito

    ou da coisa julgada, concretizados, pois, em momento anterior celebrao do matrimnio.

    A prpria nomenclatura de cnjuge, para era, tambm abrange essa isonomia, pois

    utilizada tanto para o homem quanto para a mulher.

    OBS.: O desquite no dissolvia o vnculo matrimonial, que s poderia ser dissolvido

    com a morte de um dos cnjuges, caso contrrio, no havia possibilidade de dissoluo da

    sociedade conjugal. Havia to somente uma separao de fato, a chamada separao de

    corpos, hoje admitida apenas como meio de prova.

    (Anteriormente, muitos casais costumavam realizar a separao judicial em outros

    pases mas isso de nada valia para nosso ordenamento jurdico: seus efeitos eram os

    mesmos do desquite no havia dissoluo do vnculo matrimonial por completo).

    A possibilidade de desfazimento da sociedade conjugal s veio a existir a partir da Lei

    do Divrcio.

    A mudana de paradigmas ocorrida aps a Constituio de 1988 foi evidente na

    medida em que se reconheceu a existncia de famlias provenientes no somente do

    casamento, mas tambm da unio estvel, da unio monoparental, bem como de outras

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    entidades familiares que sempre existiram, desde os tempos mais remotos, embora sem

    reconhecimento pelo ordenamento jurdico ptrio.

    AULA 13/11/2013

    Art. 1.566. So deveres de ambos os cnjuges:

    I - fidelidade recproca;

    II - vida em comum, no domiclio conjugal;

    III - mtua assistncia;

    IV - sustento, guarda e educao dos filhos;

    V - respeito e considerao mtuos.

    Art. 1.567. A direo da sociedade conjugal ser exercida, em colaborao, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.

    Pargrafo nico. Havendo divergncia, qualquer dos cnjuges poder recorrer ao juiz, que decidir tendo em considerao aqueles interesses.

    Art. 1.568. Os cnjuges so obrigados a concorrer, na proporo de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da famlia e a educao dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial.

    Desse modo, podemos perceber que, hoje, h uma equiparao entre os cnjuges no

    que se refere a direitos e deveres, haja vista o reconhecimento da capacidade plena da mulher

    para a prtica de atos da vida civil.

    H, ainda, em nosso ordenamento jurdico, o imprio da monogamia, na medida em

    que se exige uma fidelidade recproca muito embora existam diversos defensores do

    chamado Poliamorismo e at precedentes dos tribunais que reconhecem outras variedades e

    concepes de famlia partindo-se do pressuposto de que a monogamia no se trata, em

    verdade, de um princpio, mas uma modalidade consagrada, ao longo dos anos, pela sociedade

    brasileira.

    A fidelidade recproca sempre foi muito incentivada, a ponto de o adultrio j ter sido

    conduta criminalizada. O adultrio era tambm causa de desquite na seara civil e servia de

    corpo de delito para provocao de efeitos prova, evidentemente, muito difcil de ser obtida;

    o que fez com que os efeitos do adultrio no campo do Direito Civil fossem minando.

    O adultrio cometido pela mulher, anteriormente, ensejava a perda do sobrenome do

    cnjuge e do direito percepo de alimentos.

    Assunto da 2 Prova: 27/01

    AULA 20/11/2013

    O domiclio conjugal, atualmente, no considerado apenas o local dividido

    pelos cnjuges at mesmo porque existem domiclios necessrios, de forma que admite

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    uma flexibilidade daquilo anteriormente compreendido como domiclio conjugal, sobretudo

    por conta do exerccio de encargos pblicos. O casamento no se mantm pelo fato de os

    cnjuges conviverem sob o mesmo teto, mas por compartilharem de uma vida comum, de

    um planejamento familiar.

    Art. 1.569. O domiclio do casal ser escolhido por ambos os cnjuges, mas um e outro podem ausentar-se do domiclio conjugal para atender a encargos pblicos, ao exerccio de sua profisso, ou a interesses particulares relevantes.

    Art. 1.570. Se qualquer dos cnjuges estiver em lugar remoto ou no sabido, encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de conscincia, em virtude de enfermidade ou de acidente, o outro exercer com exclusividade a direo da famlia, cabendo-lhe a administrao dos bens.

    O art. 1567 consagra a importncia da mulher, adquirida ao longo dos anos, na

    sociedade conjugal. Da a possibilidade de a mesma exercer, com exclusividade a direo da

    famlia, nas hipteses em que o seu cnjuge se encontrar enfermo ou mesmo preso em

    instituio carcerria.

    Efeitos Patrimoniais do Casamento

    1. Regime de bens

    Todo aquele que contrai casamento deve se submeter ao regime de bens previsto em

    lei, que pode ser de comunho parcial ou universal; de separao total ou com participao

    final nos aquestos.

    At 1977, a comunho universal era oficialmente adotada pelo ordenamento jurdico

    ptrio, inclusive em caso de omisso dos nubentes. Esta, todavia, no se confunde com a

    comunho total, pois nela h possibilidade de haver bens incomunicveis, atravs da gravao

    dos mesmos, retirando-lhe do patrimnio comum.

    possvel que o menor de idade realize esse pacto antenupcial, desde que autorizado

    por quem lhe deu autorizao para casar, e essa segunda autorizao dever ser transcrita na

    escritura. Mas aqueles que casaram com suprimento judicial no podem (art. 1537).

    Existem, ainda, os regimes de separao voluntria (absoluta ou aliada participao

    final nos aquestos bens adquiridos onerosamente durante o casamento) e separao

    obrigatria, que no plena, e representa as hipteses elencadas pelo art. 1.641 do Cdigo

    Civil. Art. 1.639. lcito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto

    aos seus bens, o que lhes aprouver.

    1o O regime de bens entre os cnjuges comea a vigorar desde a data do

    casamento.

    2o admissvel alterao do regime de bens, mediante autorizao judicial em

    pedido motivado de ambos os cnjuges, apurada a procedncia das razes invocadas

    e ressalvados os direitos de terceiros.

    Art. 1.640. No havendo conveno, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorar, quanto

    aos bens entre os cnjuges, o regime da comunho parcial.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Pargrafo nico. Podero os nubentes, no processo de habilitao, optar por

    qualquer dos regimes que este cdigo regula. Quanto forma, reduzir-se- a termo a

    opo pela comunho parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pblica,

    nas demais escolhas.

    Existem os bens aquestos, como supracitado, adquiridos onerosamente durante o

    curso do casamento e os bens aprestos, adquiridos antes do casamento. Nesse contexto,

    importante destacar a smula n 377 do STF, segundo a qual no regime da separao legal de

    bens, comunicam-se os adquiridos na constncia do casamento ou seja, os bens aquestos.

    Quando houver a adoo de qualquer outro regime que no seja a comunho parcial

    de bens, dever haver, durante o processo de habilitao, a elaborao de pacto antenupcial,

    que um contrato anterior ao casamento.

    A mudana do regime de bens s deve ocorrer em carter excepcional, devendo ser

    requerida por ambos os cnjuges, judicialmente, devendo ser autorizada por deciso judicial

    cartorial.

    Art. 1.641. obrigatrio o regime da separao de bens no casamento:

    I - das pessoas que o contrarem com inobservncia das causas suspensivas da

    celebrao do casamento;

    II - da pessoa maior de sessenta anos;

    II da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redao dada pela Lei n 12.344, de

    2010)

    III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

    Para a professora Nilza Reis, o inciso II deste artigo inconstitucional, pois a pessoa,

    muito embora tenha idade avanada, quando est no gozo de suas capacidades plenas, deve

    ter o direito constitucional de dispor de seus bens e casar sob o regime que lhe aprouver,

    independentemente de sua idade biolgica. Desse modo, j existem decises judiciais

    afastando a aplicabilidade desse inciso, via controle incidental.

    Quando a causa de suprimento for sanada, sobretudo nos casos em que se fizer

    relao com a idade do sujeito, h possibilidade, segundo Nilza Reis, de modificao do regime

    de bens, por no ser uma pena insanvel este o entendimento do Superior Tribunal de

    Justia: no se pode impedir, nestes casos, a mudana judicial do regime, at porque, para tal

    alterao, h necessidade de motivao pelos cnjuges.

    Mas, no caso de autorizao dos assistentes legais, os nubentes, desde que igualmente

    autorizados, podero escolher o regime de bens, diverso da separao obrigatria.

    Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher

    podem livremente:

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    I - praticar todos os atos de disposio e de administrao necessrios ao

    desempenho de sua profisso, com as limitaes estabelecida no inciso I do art.

    1.647;

    II - administrar os bens prprios;

    III - desobrigar ou reivindicar os imveis que tenham sido gravados ou alienados sem

    o seu consentimento ou sem suprimento judicial;

    IV - demandar a resciso dos contratos de fiana e doao, ou a invalidao do aval,

    realizados pelo outro cnjuge com infrao do disposto nos incisos III e IV do art.

    1.647;

    V - reivindicar os bens comuns, mveis ou imveis, doados ou transferidos pelo

    outro cnjuge ao concubino, desde que provado que os bens no foram adquiridos

    pelo esforo comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco

    anos;

    VI - praticar todos os atos que no lhes forem vedados expressamente.

    Percebe-se, dessa forma, que a separao de fato, muito embora no altere o estado

    civil nem dissolva a sociedade conjugal, provoca graves efeitos, a ponto de haver tal ressalva

    no art. 1.642, V, com relao aos bens adquiridos por esforo comum do cnjuge com a

    concubina, desde que passados cinco anos da separao de fato, os quais no podero ser alvo

    de reivindicao pelo outro cnjuge.

    Art. 1.643. Podem os cnjuges, independentemente de autorizao um do outro:

    I - comprar, ainda a crdito, as coisas necessrias economia domstica;

    II - obter, por emprstimo, as quantias que a aquisio dessas coisas possa exigir.

    Art. 1.644. As dvidas contradas para os fins do artigo antecedente obrigam

    solidariamente ambos os cnjuges.

    Embora os cnjuges sejam igualmente responsveis pela manuteno da sociedade

    conjugal e da vida comum, tal artigo no perde sua utilidade, pois a solidariedade, no

    ordenamento jurdico ptrio, no que tange a obrigaes entre particulares, no deve ser

    presumida.

    Art. 1.645. As aes fundadas nos incisos III, IV e V do art. 1.642 competem ao

    cnjuge prejudicado e a seus herdeiros.

    Art. 1.646. No caso dos incisos III e IV do art. 1.642, o terceiro, prejudicado com a

    sentena favorvel ao autor, ter direito regressivo contra o cnjuge, que realizou o

    negcio jurdico, ou seus herdeiros.

    AULA 27/11/2013

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    2. Da Sucesso Causa Mortis

    A sucesso pode ser causa mortis. Quando algum, casado antes de morrer, vem a

    falecer, o seu cnjuge tambm indicado legalmente como um dos seus sucessores.

    Art. 1.829. A sucesso legtima defere-se na ordem seguinte:

    I - aos descendentes, em concorrncia com o cnjuge sobrevivente, salvo se casado

    este com o falecido no regime da comunho universal, ou no da separao

    obrigatria de bens (art. 1.640, pargrafo nico); ou se, no regime da comunho

    parcial, o autor da herana no houver deixado bens particulares;

    II - aos ascendentes, em concorrncia com o cnjuge;

    III - ao cnjuge sobrevivente;

    IV - aos colaterais.

    Vale salientar que essa ordem de sucesso preferencial.

    O Cdigo Civil de 2002 deu ao cnjuge o status de herdeiro necessrio, todavia:

    Art. 1.830. Somente reconhecido direito sucessrio ao cnjuge sobrevivente se, ao

    tempo da morte do outro, no estavam separados judicialmente, nem separados de

    fato h mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivncia se

    tornara impossvel sem culpa do sobrevivente.

    Art. 1.831. Ao cnjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, ser

    assegurado, sem prejuzo da participao que lhe caiba na herana, o direito real de

    habitao relativamente ao imvel destinado residncia da famlia, desde que seja

    o nico daquela natureza a inventariar.

    Art. 1.832. Em concorrncia com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caber ao

    cnjuge quinho igual ao dos que sucederem por cabea, no podendo a sua quota

    ser inferior quarta parte da herana, se for ascendente dos herdeiros com que

    concorrer.

    A meao resultado do regime, que comporta a sua existncia e maior na

    comunho universal. S existe meao na comunho universal e na comunho parcial.

    Frise-se que a meao resultado do regime de bens, e no da morte do outro. O

    cnjuge herdeiro do outro em terceiro lugar, independentemente do regime de bens. A

    meao s existe na comunho.

    Para fins de herana, no importa se a comunho universal ou parcial, em que pese a

    comunho universal tenha uma maior extenso.

    Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais prximo excluem os mais

    remotos, salvo o direito de representao.

    Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe tm os mesmos direitos sucesso de

    seus ascendentes.

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabea, e os outros

    descendentes, por cabea ou por estirpe, conforme se achem ou no no mesmo

    grau.

    Art. 1.836. Na falta de descendentes, so chamados sucesso os ascendentes, em

    concorrncia com o cnjuge sobrevivente.

    1o Na classe dos ascendentes, o grau mais prximo exclui o mais remoto, sem

    distino de linhas.

    2o Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha

    paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.

    Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cnjuge tocar um

    tero da herana; caber-lhe- a metade desta se houver um s ascendente, ou se

    maior for aquele grau.

    Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, ser deferida a sucesso por

    inteiro ao cnjuge sobrevivente.

    Art. 1.839. Se no houver cnjuge sobrevivente, nas condies estabelecidas no art.

    1.830, sero chamados a suceder os colaterais at o quarto grau.

    Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais prximos excluem os mais remotos,

    salvo o direito de representao concedido aos filhos de irmos.

    Art. 1.841. Concorrendo herana do falecido irmos bilaterais com irmos

    unilaterais, cada um destes herdar metade do que cada um daqueles herdar.

    Art. 1.842. No concorrendo herana irmo bilateral, herdaro, em partes iguais,

    os unilaterais.

    Art. 1.843. Na falta de irmos, herdaro os filhos destes e, no os havendo, os tios.

    1o Se concorrerem herana somente filhos de irmos falecidos, herdaro por

    cabea.

    2o Se concorrem filhos de irmos bilaterais com filhos de irmos unilaterais, cada

    um destes herdar a metade do que herdar cada um daqueles.

    3o Se todos forem filhos de irmos bilaterais, ou todos de irmos unilaterais,

    herdaro por igual.

    Art. 1.844. No sobrevivendo cnjuge, ou companheiro, nem parente algum

    sucessvel, ou tendo eles renunciado a herana, esta se devolve ao Municpio ou ao

    Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscries, ou Unio, quando

    situada em territrio federal.

    Essa ordem de sucesso preferencial.

    I. Descendentes do morto

    II. Ascendentes do morto

  • Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2

    III. Cnjuge sobrevivo do morto, desde que preencha os requisitos do art. 1.830

    IV. Colaterais

    A meao resultado do regime de bens, e no da morte do outro. O cnjuge

    herdeiro do outro em terceiro lugar, independentemente do regime de bens. A meao s

    existe na comunho.

    Para fins de herana, no importa se a comunho universal ou parcial, em que pese a

    comunho universal tenha uma maior extenso.

    Bens aprestos. Bens adquiridos para o casamento.

    3. Direito a Alimentos

    I. Necessrios

    II. Cngruos ou Civis

    Direito a alimentos. A lei no fixa um percentual. Os alimentos so fixados de acordo

    com o caso concreto. A pessoa que recebe alimentos no scia do alimentante.

    AULA 11/12/2013

    Alimentos

    1. Conceito

    Os alimentos se traduzem em prestaes para satisfao das necessidades vitais de

    quem no pode prov-as por si. Tm por finalidade fornecer a um parente, cnjuge ou

    companheiro ou necessrio sua subsistncia.

    De acordo com Carlos Roberto Gonalves, alimentos no se restringem ao sentido

    dado pelo uso do vocbulo comum, no se limitando ao necessrio para o sustento de uma

    pessoa. Nele se compreende no somente a obrigao de prest-los, como tambm o

    contedo da obrigao a ser prestada. A aludida expresso tem, no campo do Direito, uma

    acepo tcnica de larga abrangncia, compreendendo no s o indispensvel ao sustento,

    como tambm o necessrio manuteno da condio social e moral do alimentando.

    2. Caracteres

    Os alimentos manifestam-se atravs de algumas caractersticas, quais sejam:

    a) Reciprocidade: Aquele que pede o alimento tambm poder, em algum

    momento, conced-lo. Ex.: O filho que recebe alimentos deve amparar o pai, na velhice, da

    mesma forma.