Upload
luan-rosario
View
87
Download
5
Embed Size (px)
Citation preview
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
1 Prova: 25/11
AULA 07/10/2013
Introduo ao Direito de Famlia
1. Histria da Famlia no Ordenamento Jurdico Brasileiro:
At a Constituio de 1988 s havia proteo da chamada famlia legtima. E, alm
disso, sanes s relaes fora do casamento estavam previstas (era proibido at mesmo o
reconhecimento do filho fruto de adultrio ou de relao incestuosa). De acordo com o
Cdigo de 1916, os filhos eram classificados em legtimos, ilegtimos ou legitimados.
O Cdigo Civil de 2012, enquanto norma objetiva do Direito Civil Brasileiro, ao longo
dos anos vem se adaptando s novas conjecturas emergentes da sociedade. que as leis,
na medida da evoluo social e dos costumes, tendem a se amoldar aos anseios da
sociedade.
Segundo Carlos Roberto Gonalves (2012, p. 17), de todos os ramos do direito, o
mais intimamente ligado prpria vida, uma vez que, de modo geral, as pessoas provm
de um organismo familiar e a ele conservam-se vinculados durante a sua existncia. O
autor salienta mais adiante que esse lao no se subordina necessariamente a famlia
tradicional, mas tambm aquela constituda pela unio estvel.
2. Alguns princpios do Direito de Famlia:
Na viso do jurista GONALVES (2012, p. 21), as alteraes introduzidas no direito civil
mais especificamente falando em matria de direito de famlia visam preservar a coeso
familiar e os valores culturais. Nota-se neste contexto uma preocupao especfica do
legislador em ampliar o leque de proteo desse instituto jurdico. A professora Nilza Reis
enumera alguns princpios que regem esse direito, como o princpio da liberdade em
constituir famlia; da paternidade responsvel; da isonomia entre os cnjuges; e da
prioridade do afeto nas relaes familiares.
a) Princpio da liberdade em constituir famlia;
Tambm chamado de Princpio da liberdade de constituir uma comunho de vida
familiar, est relacionado liberdade de o casal constituir uma famlia. O termo casal
tradicional nos leva a pensar a famlia tradicional formada pelo homem e pela mulher.
Contudo, este conceito est para muito alm do conceito antigo de famlia como clula
mater da sociedade. Hoje o conceito de famlia tambm est ligado ao fator social, assim
podemos entender que a famlia de hoje e sua liberdade de constituio se estende aos
casais homoafetivos, mes e pais solteiros, etc.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Conforme Maria Helena Diniz citada no artigo de Keith Diana da Silva (2008 apud
SILVA) concluiu em seu estudo: O princpio da liberdade refere-se ao livre poder de
formar comunho de vida, a livre deciso do casal no planejamento familiar, a livre escolha
do regime matrimonial de bens, a livre aquisio e administrao do poder familiar, bem
como a livre opo pelo modelo de formao educacional, cultural e religiosa da prole.
(http://www.fmr.edu.br/npi/045.pdf).
b) Princpio da paternidade responsvel;
Tambm chamado princpio da paternidade responsvel e do planejamento familiar.
A paternidade responsvel pode ser conceituada como a obrigao que os pais tm de
prover a assistncia moral, afetiva, intelectual e material aos filhos. E o planejamento
familiar compreende no s decidir sobre o nmero de filhos, mas tambm quanto a
aumentar o intervalo entre as gestaes, englobando as tcnicas de reproduo assistida
como ltimo recurso procriao, no praticando a seleo de embries com finalidades
eugnicas para escolha de atributos fsicos, bem como para suprimir a filiao por meio da
monoparentalidade, dentre outros.
c) Princpio da isonomia entre os cnjuges;
Tal princpio preconiza a igualdade jurdica dos cnjuges e os companheiros. O Cdigo
de 1916 dava tratamento distinto entre os cnjuges, a Carta Magna de 1988, em seu Art.
226 5, consagrou essa igualdade jurdica entre homens e mulheres tanto no casamento,
quanto na relao de companheirismo que norteou o Novo Cdigo Civil de 2002.
OBS.: At entrar em vigor, a Lei n 4121/1962, a mulher era considerada relativamente
incapaz. O marido era o chefe da sociedade conjugal, mantenedor exclusivo da famlia.
d) Princpio da prioridade do afeto nas relaes familiares.
Para Flvio Tartuce (200 : .flaviotartuce.adv.br artigos Tartuce princfam.doc ), o
afeto talvez seja apontado, atualmente, como o principal fundamento das relaes
familiares. Mesmo no constando a palavra afeto no Texto Maior como um direito
fundamental, podemos dizer que o afeto decorre da valorizao constante da dignidade
humana.
No que tange a relaes familiares, a valorizao do afeto remonta ao brilhante
trabalho de Joo Baptista Vilella, escrito no incio da dcada de 1980, tratando da
Desbiologizao da paternidade. Na essncia, o trabalho procurava dizer que o
vnculo familiar seria mais um vnculo de afeto do que um vnculo biolgico. Assim,
surgiria uma nova forma de parentesco civil, a parentalidade socioafetiva, baseada
na posse de estado de filho.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
A defesa da aplicao da paternidade socioafetiva, hoje, muito comum entre os
atuais doutrinadores do Direito de Famlia. Tanto isso verdade que, na I Jornada de
Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justia Federal sob a chancela do Superior
Tribunal de Justia, foi aprovado o Enunciado n. 103, com a seguinte redao: O
Cdigo Civil reconhece, no art. 1.593, outras espcies de parentesco civil alm
daquele decorrente da adoo, acolhendo, assim, a noo de que h tambm
parentesco civil no vnculo parental proveniente quer das tcnicas de reproduo
assistida heterloga relativamente ao pai (ou me) que no contribuiu com seu
material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado
de filho. Na mesma Jornada, aprovou-se o Enunciado n. 108, prevendo que: No
fato jurdico do nascimento, mencionado no art. 1.603, compreende-se luz do
disposto no art. 1.593, a filiao consangnea e tambm a socioafetiva. Em
continuidade, na III Jornada de Direito Civil, idealizada pelo mesmo STJ e promovida
em dezembro de 2004, foi aprovado o Enunciado n. 25 , pelo qual a posse de
estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco
civil. Na jurisprudncia nacional, o princpio da afetividade vem sendo muito bem
aplicado, com o reconhecimento da parentalidade socioafetiva, predominante sobre
o vnculo biolgico.1
Para ns, o princpio da afetividade importantssimo, pois quebra paradigmas,
trazendo a concepo da famlia de acordo com o meio social.
A doutrina elenca, ainda, outros princpios no suscitados neste tpico pela professora
na referida aula, mas mencionados por ela ao longo do semestre. Tais como o respeito
dignidade da pessoa humana; da igualdade jurdica dos filhos; da comunho plena de vida e
da comunho plena de vida. Vale a pena salientar:
e) O principio do respeito dignidade da pessoa humana;
1 NEGATRIA DE PATERNIDADE ADOO BRASILEIRA CONFRONTO ENTRE A VERDADE BIOLGICA E A SCIO-AFETIVA
TUTELA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA PROCEDNCIA DECISO REFORMADA. 1. A ao negatria de paternidade
imprescritvel, na esteira do entendimento consagrado na Smula 149/STF, j que a demanda versa sobre o estado da pessoa,
que emanao do direito da personalidade. 2. No confronto entre a verdade biolgica, atestada em exame de DNA, e a verdade
scio-afetiva, decorrente da adoo brasileira (isto , da situao de um casal ter registrado, com outro nome, menor, como se
deles filho fosse) e que perdura por quase quarenta anos, h de prevalecer soluo que melhor tutele a dignidade da pessoa
humana. 3. A paternidade scio-afetiva, estando baseada na tendncia de personificao do direito civil, v a famlia como
instrumento de realizao do ser humano; aniquilar a pessoa do apelante, apagando-lhe todo o histrico de vida e condio
social, em razo de aspectos formais inerentes irregular adoo brasileira, no tutelaria a dignidade humana, nem faria justia
ao caso concreto, mas, ao contrrio, por critrios meramente formais, proteger-se-ia as artimanhas, os ilcitos e as negligncias
utilizadas em benefcio do prprio apelado (Tribunal de Justia do Paran, Apelao Cvel 0108417-9, de Curitiba, 2 Vara de
Famlia. DJ 04/02/2002, Relator Acccio Cambi).
AO NEGATRIA DE PATERNIDADE ADOO BRASILEIRA PATERNIDADE SCIO-AFETIVA. O registro de nascimento
realizado com o nimo nobre de reconhecer a paternidade socioafetiva no merece ser anulado, nem deixado de se reconhecer o
direito do filho assim registrado. Negaram provimento. (Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul, 00502131NRO -
PROC70003587250, DATA 21/03/2002, Relator Rui Portanova, ORIGEM RIO GRANDE).
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
o principal e mais amplo princpio constitucional. No direito de famlia, diz respeito
garantia plena de desenvolvimento de todos os seus membros, para que possam ser
realizados seus anseios e interesses afetivos, assim como garantia de assistncia
educacional aos filhos, com o objetivo de manter a famlia duradoura e feliz, assim
preceitua Maria Helena Diniz2.
f) O principio da igualdade jurdica de todos os filhos;
Consagrado no Art. 226, 7 por este princpio probe-se qualquer distino entre os
filhos havidos dentro ou fora do casamento, no importando se este for adotivo. Hoje se
adota apenas a denominao filhos no existindo mais a distino filhos legtimos e
ilegtimos nem mesmo em relao a direitos, deveres e qualificao.
O Cdigo Civil de 1916 em seu artigo 377, dispunha que quando o adotante tiver
filhos legtimos, legitimados ou reconhecidos, a relao de adoo no envolve a de
sucesso hereditria. Entretanto, essa constante prevista foi revogada pelo Cdigo Civil de
2002 pelo artigo 1.596 e tambm previsto no artigo 41, caput da Lei n 8.069/90 (Estatuto
da Criana e do Adolescente) quando esta trata da adoo: A adoo atribui a condio de
filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessrios, desligando-o de
qualquer vnculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais3.
De igual modo, a adoo possui caractersticas muito peculiares em nosso direito -
eleva um filho adotivo ao mesmo status quo dos demais filhos de um casal, concorrendo
este de igual modo em direitos e deveres, bem como a qualificao que de modo algum
deva constar na certido de registro do mesmo qualquer meno do processo de adoo
em respeito ao presente princpio. Outro fato marcante a caracterstica de a mesma
incidir sobre o processo de investigao de paternidade que, conforme os artigos 5 e 6 da
Lei 8.560/92, dispensa o ajuizamento dessa ao pelo Ministrio Pblico se a criana j
estiver sido encaminhada para adoo4.
g) Principio da comunho plena de vida.
A famlia raiz e base de uma sociedade, historicamente este conceito foi se erigindo
em todos os ordenamentos jurdicos existentes. Na ainda hoje o conceito famlia persiste
no conceito de clula me e amplamente protegido pelo direito. Ao conceituar a famlia
como comunho plena de vida, o legislador adotou a moderna concepo tendente a
valorizar as relaes intrnsecas, relativas aos papis de estado de filho, de pai, de me etc.,
e no apenas as relaes extrnsecas da famlia, esta vista apenas sob o enfoque de seu
papel social de clula me da sociedade.
2 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito das sucesses. 21. ed. So Paulo: Saraiva, 2007. p 18.
3 BRASIL, Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criana e do Adolescente).
4 BRASIL, Lei n. 8.560, de 29 de dezembro de 1992.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Assim, Joo Baptista Villela (2005 apud BARBOSA, 2006) nos ensina que,
O amor est para o Direito de Famlia, assim como a vontade est para o Direito das
Obrigaes. Assim, a Mediao Familiar o instrumento para a compreenso dos
litgios de famlia, inserindo-se, definitivamente, no novo cdigo, como expresso da
principiologia norteadora das relaes jurdicas privadas, com nfase no Direito de
Famlia5.
Por isso, comunho plena de vida ter sempre contedo subjetivo, portanto, tangente
ao princpio fundamental da dignidade da pessoa humana, qual seja o reconhecimento de
que para cada pessoa h um caminho personalssimo para atingir este ideal contido na
norma da novel codificao, seja por meio de relaes homoafetivas, pelo casamento, pela
unio estvel e tantas outras formas que possam vir a se desenhar nas relaes humanas.
AULA 09/10/2013
Esponsais
1. Conceito
Esponsais ou promessa esponsalcia, do latim sponsus (esposo), importam o
compromisso de casamento que duas pessoas de sexos diferentes fazem, reciprocamente,
com a finalidade de que se conheam melhor para que aquilatem suas afinidades e gostos.
Segundo Daniel Baggio Maciel6, na sociedade tradicional, os esponsais praticamente se
confundem com o noivado ou cerimnia antenupcial. Embora no tenham sido previstos de
forma expressa pelo Cdigo Civil de 1916, tampouco pelo Cdigo atual, a doutrina
normalmente aceita que a ruptura da promessa de casamento por motivo no plausvel pode
acarretar a responsabilidade civil extracontratual com base no artigo 186 do novo Cdigo,
afinal, aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito.
Fundados especialmente nesse dispositivo legal, vrios escritores entendem possvel
a responsabilizao patrimonial daquele que ensejar o rompimento do noivado,
desde que a promessa tenha sido feita livremente pelos noivos, que tenha havido a
recusa tcita ou expressa de cumprir a promessa esponsalcia, que haja a ausncia
de justo motivo, bem como danos materiais ou morais a serem indenizados.
A professora Nilza Reis destaca que a unio estvel s se compara ao casamento na
medida em que tambm encontra amparo legal. No entanto, ainda comum que pessoas
que realizaro um casamento faam contrato preliminar, por ora, reconhecido como
esponsais. Assim, eles tm a finalidade de firmar um contrato posterior: o casamento.
5 BARBOSA, Aguida Arruda. A Mediao no Novo Cdigo Civil Brasileiro. Boletim do IBDFAM n 20/2005, publicado em 07/03/2006
disponvel em: http://www.pailegal.net/mediacao/55?rvTextoId=-2111197493, acesso em: 18/11/2012. 6 MACIEL, Daniel Baggio. A definio dos esponsais. Araatuba: Pgina eletrnica Isto Direito. Abril de 2008.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
1.1 Promessa de casamento: frustrao (descumprimento)
1.1.1 Consequncias Jurdicas
possvel, contudo, que haja rompimento da promessa de modo injustificvel sem
causa lcita. H, portanto, a possibilidade de responsabilizao do indivduo por ter causado
outra parte prejuzos, sejam eles de ordem material ou moral (Nesse caso, no h que se
observar a diferenciao existente em outros ramos como o Direito Penal acerca de dolo ou
culpa em termos gerais, no Direito Civil, utiliza-se a culpa em sentido lato, que abrange
ambos os conceitos). Assim, o rompimento injustificvel h de ser considerado um ato
ilcito, um abuso e, por isso, conduz a uma responsabilizao do agente.
1.2 Responsabilidade Civil Subjetiva
No caso em comento, diferentemente da responsabilidade objetiva, em que havendo
o nexo causal haver responsabilizao do sujeito pelo dano causado; a responsabilidade
em relao aos esponsais como no modelo clssico permanece subjetiva, sendo
necessria a culpa do sujeito que enseje a uma conduta indenizvel.
1.2.1 Posio da Jurisprudncia
Nos tribunais o tema nunca foi to pacfico, mas h julgados deferindo indenizaes
em casos tais, como se infere da seguinte ementa emanada do Tribunal de Justia de
Minas Gerais (EIAC 200791-0/2): O namoro prolongado, o noivado oficial, a
aquisio das alianas e a construo da casa, por si ss, levam segura deduo de
que se tratava de relacionamento srio, de atos preparatrios de futuros cnjuges,
dispensando uma promessa formal de casamento. O rompimento injustificado da
promessa de casamento enseja indenizao por dano moral, consistente na penosa
sensao da ofensa, da humilhao perante terceiros, na dor sofrida, enfim, nos
efeitos puramente psquicos e sensoriais experimentados pela vtima da leso. A
ruptura do noivado acarreta indenizao por danos materiais, provado que a mulher
contribuiu para a construo de uma casa. No h lugar para indenizao pelo
enxoval confeccionado pela noiva se ele continua em seu poder, sem lhe causar
desfalque patrimonial, uma vez que a reparao se condiciona constatao de
efetivo proveito de uma parte em detrimento da outra7.
2. Concluses
Assim, o rompimento dos esponsais pode gerar o dever de indenizar, mas os Tribunais
devem realizar uma anlise profunda acerca dos fatos e de seus possveis efeitos jurdicos,
sob pena de banalizao do Judicirio.
Famlia Decorrente do Casamento
1. Do casamento
7 MACIEL, Daniel Baggio. A definio dos esponsais. Araatuba: Pgina eletrnica Isto Direito. Abril de 2008.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
O casamento surge como ato ou negcio solenissimo e existe desde os tempos mais
remotos.
No Direito Romano Antigo, havia a previso de trs modalidades de casamento: o
usus, a coenpitio e a confarreatio.
a) Confarreatio
Inicialmente, havia a confarreatio (compartilhar as fatias do bolo). Era o
casamento da elite, dos patrcios. Era religioso, solene e havia dez testemunhas,
alm do sacerdote. Dentre outros traos, caracterizava-se pela oferta aos deuses
de um po de trigo, costume que, estilizado, sobreviveu at os nossos dias com o
tradicional bolo de noiva.
A confarreatio no tardou, todavia, a cair em desuso e j se tornava rara ao tempo
de Augusto8. Destacava-se, ainda, a defarreatio, espcie de separao em que as
fatias do bolo, agora, seriam comidas separadamente.
b) Coenptio
A Coenptio era o matrimnio da plebe; realizado na presena de cinco
testemunhas. Constituia espcie de casamento civil e era descrito por Gaio como
uma imaginaria venditio. Admitia a remancipatio, que era a devoluo.
c) Usus
J o Usus era um ato sem qualquer solenidade. Era a aquisio da mulher pela
posse, equivalendo a uma espcie de usucapio, pois a posse da mulher pelo
marido era reconhecida pelo ano de unio, sem interrupo de trs noites
consecutivas juntos.
1.1 Natureza Jurdica
Hoje, a concepo de casamento , em verdade, um vnculo jurdico formal, que impe
aos indivduos a sujeio para cumprimento de deveres.
Na poca da promulgao do Cdigo de Napoleo, o Cdigo Francs de 1804, alguns
autores diziam que o casamento era um ato-condio, em que no bastava a mera
manifestao de vontade, mas o surgimento de efeitos. No entanto, com o reconhecimento
da natureza contratual do casamento, a manifestao da vontade ganhou uma proporo
muito maior, sendo sua natureza, agora, contratual para a maior parte dos autores,
contudo, o casamento de natureza sui generis: patrimonial e contratual.
Para que o casamento ocorra, os sujeitos devem possuir capacidade nbil com o
auxlio de parmetros cientficos, o Cdigo Civil atual estipula a idade legal em 16 anos.
Nestes casos, quando o menor desejar contrair casamento, deve haver assistncia, pois que
8 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. So Paulo: Saraiva, 1997. p. 15.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
se trata de sujeito relativamente incapaz. Abaixo de 16 anos deve haver expressa
autorizao legal.
Assim, para que o maior de 16 anos e menor de 18 anos possa realizar casamento,
quando no houver autorizao ou negativa de assistncia imotivada por parte de seus
assistentes legais, o indivduo deve solicitar o suprimento judicial de sua incapac
idade. No caso em tela, contudo, o regime sempre dever ser o de separao total
obrigatria de bens. Embora as hipteses de autorizao no sejam taxativas, esta s deve
ocorrer em carter excepcional.
2. O casamento civil: gratuidade da celebrao
Existe, no Direito Brasileiro, a possibilidade de que pessoas reconhecidamente pobres
realizem o casamento, independentemente do pagamento de emolumentos do cartrio. O
Cdigo Civil, em seu artigo 1.512, pargrafo nico, assegura s pessoas cuja pobreza for
declarada, o direito iseno de emolumentos e despesas para o casamento, registro e
primeira certido.
O pargrafo nico do artigo 1 da Lei 1.060/50 dispe que: considera-se necessitado,
para os fins legais, todo aquele cuja situao econmica no lhe permita pagar as custas do
processo e os honorrios de advogado, sem prejuzo do sustento prprio ou da famlia. No
caso, a lei menciona processo e honorrios de advogado, mas pode se estender s taxas e
emolumentos do cartrio. J o artigo 1 da Lei n 7.115/83 diz que a declarao destinada
a fazer prova de vida, residncia, pobreza, dependncia econmica, homonmia ou bons
antecedentes, quando firmada pelo prprio interesse ou por procurador bastante, e sob as
penas da Lei, presume-se verdadeira.
Assim, a lei apenas exige uma Declarao de Pobreza que dever ser firmada por
ambos os noivos. Como a finalidade da lei facilitar o casamento para todo mundo, no
deve ser exigida nenhuma comprovao de renda. Se o oficial de registro tiver dvida sobre
a veracidade da declarao, dever esclarecer aos noivos de que a falsidade ensejar
responsabilidade civil e criminal do interessado (artigo 30, 3 da Lei de Registros
Pblicos).
Caso os noivos desejam realizar o casamento em diligncia (fora do cartrio), o ato
somente poder ser gratuito se eles estiverem em situao de extrema urgncia (exemplo:
noivo que est internado com cncer terminal e no pode se locomover ao cartrio). Como
a finalidade da lei assegurar o direito ao casamento a todos, esta hiptese no se
enquadra, pois o juiz ou o oficial de registro teria que se deslocar, o que causaria um custo
pessoal a eles.
A publicao de editais de proclamas custeada pelo Estado, por meio da imprensa
oficial, nas situaes em que o jornal que publica os editais de proclamas da Serventia no
fizer gratuitamente a publicao.
Modelo de declarao de pobreza, extrado do blog Casando Sem grana:
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
9
3. Processo de habilitao ao casamento: objetivos
O casamento deve ser realizado na forma prevista em lei. As pessoas interessadas
nubentes devem passar por um processo preliminar de habilitao. Os interessados
devem fazer o requerimento no cartrio de registros, anexando a documentao necessria
de forma que o oficial do cartrio possa emitir uma certido de habilitao ao casamento,
com validade de 90 dias.
Cumpre-se destacar:
CAPTULO V
Do Processo de Habilitao PARA O CASAMENTO
Art. 1.525. O requerimento de habilitao para o casamento ser firmado por ambos
os nubentes, de prprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser
instrudo com os seguintes documentos:
I - certido de nascimento ou documento equivalente;
II - autorizao por escrito das pessoas sob cuja dependncia legal estiverem, ou ato
judicial que a supra;
III - declarao de duas testemunhas maiores, parentes ou no, que atestem
conhec-los e afirmem no existir impedimento que os iniba de casar;
IV - declarao do estado civil, do domiclio e da residncia atual dos contraentes e
de seus pais, se forem conhecidos;
V - certido de bito do cnjuge falecido, de sentena declaratria de nulidade ou de
anulao de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentena de
divrcio.
Art. 1.526. A habilitao ser feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil,
com a audincia do Ministrio Pblico.
9Disponvel em Acesso em 24 de
Novembro de 2013.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Pargrafo nico. Caso haja impugnao do oficial, do Ministrio Pblico ou de
terceiro, a habilitao ser submetida ao juiz.
Art. 1.527. Estando em ordem a documentao, o oficial extrair o edital, que se
afixar durante quinze dias nas circunscries do Registro Civil de ambos os
nubentes, e, obrigatoriamente, se publicar na imprensa local, se houver.
Pargrafo nico. A autoridade competente, havendo urgncia, poder dispensar a
publicao.
Art. 1.528. dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos
que podem ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos
regimes de bens.
Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas sero opostos em
declarao escrita e assinada, instruda com as provas do fato alegado, ou com a
indicao do lugar onde possam ser obtidas.
Art. 1.530. O oficial do registro dar aos nubentes ou a seus representantes nota da
oposio, indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu.
Pargrafo nico. Podem os nubentes requerer prazo razovel para fazer prova
contrria aos fatos alegados, e promover as aes civis e criminais contra o oponente
de m-f.
Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a
inexistncia de fato obstativo, o oficial do registro extrair o certificado de
habilitao.
Art. 1.532. A eficcia da habilitao ser de noventa dias, a contar da data em que
foi extrado o certificado.
Aps a expedio do certificado de habilitao cuja eficcia de 90 dias deve haver
a celebrao do casamento, com a confirmao do ato no registro civil.
OBS.: Smula n 377 STF
STF Smula n 377 - 03/04/1964 - DJ de 8/5/1964, p. 1237; DJ de 11/5/1964, p.
1253; DJ de 12/5/1964, p. 1277.
Regime de Separao Legal de Bens - Comunicao - Constncia do Casamento
No regime de separao legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constncia do
casamento.
Por conta da boa-f de algum dos cnjuges, mesmo o casamento considerado nulo,
pois que maculados com impedimentos casamento putativo alguns efeitos podem ser
configurados, muito embora, nesses casos, a separao de bens seja obrigatria, devido s
causas suspensivas constantes do art. 1523 do Cdigo Civil.
AULA 14/10/2013
4. Dos impedimentos matrimoniais (art. 1.521, CC/02)
Primeiramente, cumpre-se realizar uma distino entre o Parentesco Biolgico e o
Parentesco Civil.
Parentesco biolgico aquele parentesco natural, fruto de relaes e combinaes
genticas. O parentesco civil, por sua vez, engloba a adoo e o parentesco por afinidade
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
(os familiares de um cnjuge, por exemplo, so familiares na lei do outro cnjuge, em
razo do vnculo matrimonial).
Irmos unilaterais: irmos s por um lado (s por parte de pai ou de
me). Antigamente eram chamados de irmos no germanos.
Irmos bilaterais: irmos pelos dois lados (por parte de pai e de me e, por isso,
podem ter mesmo sobrenome). Primos tambm podem ter o mesmo sobrenome e, neste
caso, so chamados de primos-irmos. Isso ocorre quando o irmo do pai tem um ou mais
filhos com a irm da me. Antigamente eram chamados de irmos germanos.
Colaterais: parentes que tm um ascendente comum. (No existem colaterais de 1
grau. De 2 grau: irmos. De 3 grau: tios e sobrinhos).
Afins em linha reta: sogro, sogra, enteados e avs, netos e bisnetos do cnjuge.
Art. 1.5221. No podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
Andou bem, o legislador, em no se referir como fazia o Cdigo de 1916, ao
parentesco e filiao legtima e ilegtima, discriminao proibida pelo art. 227 da
Constituio de 1988.
Entretanto, o Cdigo Civil no admite npcias incestuosas. uma preocupao de
natureza eugnica. A professora Nilza Reis mostra-se a favor de tal impedimento. que o
casamento entre parentes consanguneos prximos pode provocar o nascimento de filhos
defeituosos. E no importa se se trata de descente havido do matrimnio ou no. O
impedimento resultante do parentesco civil, existente entre adotante e adotado,
justificado pelo fato de a adoo imitar a famlia. Inspira-se, pois, em razes de moralidade
familiar.
OBS.: Da mesma forma que se coloca um impedimento ao matrimnio em sentido
estrito, isso se arrasta tambm para a tutela da Unio Estvel de modo que aquela
unio estvel maculada por qualquer vcio de impedimento, na maioria das vezes, no h
de receber amparo, proteo, do ordenamento jurdico ptrio.
II - os afins em linha reta;
Parentesco por afinidade o que liga um cnjuge ou companheiro aos parentes do
outro. Resulta, pois, do casamento ou da unio estvel. A proibio refere-se apenas linha
reta.
Entretanto, ainda que dissolvido o casamento ou a unio estvel que deu origem ao
aludido parentesco, o vivo no pode se casar com a enteada, nem com a sogra, porque a
afinidade em linha reta no se extingue com a dissoluo do casamento (ou da unio
estvel) que a originou (art. 1.595 CC/02).
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Como a afinidade em linha colateral no constitui empecilho ao casamento, o cnjuge
vivo ou divorciado pode casar-se com a(o) cunhada(o).
III - o adotante com quem foi cnjuge do adotado e o adotado com quem o foi do
adotante;
(...)
V - o adotado com o filho do adotante;
Frise-se que a adoo no nasceu como forma de beneficiar aquelas crianas
desamparadas, mas como forma de dar queles casais que no poderiam ter filhos
naturais, a oportunidade de ter um filho, ainda que fruto de uma relao artificial.
No entanto, naquela poca, a adoo no envolvia a sucesso, o que no ocorre
depois do advento da Constituio de Federal de 1988 - marco a partir do qual ao filho
adotado foram integrados todos os direitos daquela famlia, gozando dos mesmos
privilgios de que os filhos biolgicos fazem jus.
IV - os irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o terceiro grau
inclusive;
Os irmos so parentes colaterais em segundo grau por descenderem de um tronco
comum, e no um do outro. O impedimento alcana irmos havidos ou no de casamento,
sejam eles unilaterais ou bilaterais. Tios e sobrinhos so colaterais de terceiro grau e,
portanto, impedidos de casar.
OBS.: Decreto-Lei n 3.200/41 permite, entretanto, tal casamento, desde que se
submetam ao exame pr-nupcial (cuja realizao, por dois mdicos nomeados pelo juiz,
deve ser requerida no processo de habilitao e o resultado seja-lhes favorvel).
Primos podem casar-se porque so colaterais de quarto grau.
VI - as pessoas casadas;
No podem se casar as pessoas j casadas a consagrao do princpio ocidental
da monogamia. Todavia, alguns autores, como Paulo Lobo, acreditam que o Estado no
deveria interferir, nestes casos, na esfera privada. Destacando-se, ainda, a Teoria Poliamorista
defendida por Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho.
OBS.: No existe possibilidade de se estabelecer Unio Estvel com um companheiro
que j casado muito embora j se permita uma proteo mnima pelo ordenamento
jurdico, no se tratar de unio estvel, mas de mero concubinato.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
VII - o cnjuge sobrevivente com o condenado por homicdio ou tentativa de
homicdio contra o seu consorte.
Trata-se de impedimentum criminis. De acordo com Carlos Roberto Gonalves, o
dispositivo, malgrado no tenha feito nenhuma distino, abrange somente o homicdio
doloso, como da tradio de nosso direito. No se reclama que o outro seja conivente ou
esteja conluiado com o autor do conjugicdio, mas exige-se que tenha havido condenao.
Se ocorreu absolvio ou extino de punibilidade, no se configura o impedimento. O
impedimento obsta tambm que os impedidos de se casar passam a viver, legalmente, em
unio estvel (art. 1.723, CC/02).
Todavia, o novo Cdigo no contempla o impedimento relativo ao casamento do
cnjuge adltero com o seu cmplice por tal condenado, previsto anteriormente no diploma
de 1916.
AULA 16/10/2013
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, at o momento da celebrao do
casamento, por qualquer pessoa capaz.
Pargrafo nico. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existncia de algum
impedimento, ser obrigado a declar-lo.
Desse modo, a violao dos impedimentos representa uma leso, um prejuzo a toda a
sociedade; portanto, a legitimidade para oposio ampla: podem ser opostos, no perodo de
habilitao, por qualquer pessoa capaz.
Se algum contrai matrimnio infringindo a impedimento, aquela unio estar fadada
nulidade.
5. Das causas suspensivas (art. 1.523, CC/02)
I. O vivo ou a viva que tiver filho do cnjuge falecido, enquanto no fizer o
inventrio dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
H tal impedimento para evitar a confuso de patrimnios, pois, com a partilha,
definem-se os bens que comporo a herana dos filhos do casamento anterior, evitando a
referida confuso. Nos casos em que o matrimnio acabar por ser realizado, haver
obrigatoriedade do regime da separao de bens; bem como a incidncia da hipoteca legal em
favor dos filhos, sobre os imveis do pai ou da me que contrair outo casamento antes de
fazer o inventrio do casal anterior (Livro do Direito das Coisas, art. 1489, II, CC/02). Segundo
Carlos Roberto Gonalves, o bice no desaparece com o fato de haver sido iniciado o
inventrio. A lei exige mais: que haja partilha julgada por sentena.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Todavia, se o cnjuge falecido no tiver deixado algum filho, inexistir restrio, assim
como, ainda que tenha deixado algum, se o casal no tiver bens a partilhar. (Por esta razo
admitido o chamado inventrio negativo, instrudo com certido negativa de bens, que se
destina a comprovar a inexistncia de causa suspensiva).
II - a viva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, at dez meses depois do comeo da viuvez, ou da dissoluo da sociedade conjugal;
Trata-se de causa suspensiva imposta apnas mulher, com o objetivo de evitar
possveis dvidas/confuses acerca da paternidade (turbatio sanguinis). No persistir se a
nubente comprovar o nascimento do filho ou a inexistncia de gravidez na fluncia desse
prazo (tambm quando houver aborto; se a gravidez for evidente quando da viuvez ou da
anulao do casamento; ou se o casamento anterior foi anulado por impotncia do cnjuge
ou mesmo impossibilidade fsica de coabitao do casal).
III - o divorciado, enquanto no houver sido homologada ou decidida a partilha dos
bens do casal;
Procura-se evitar a controvrsia a respeito dos bens comuns, na hiptese de novo
casamento de um dos divorciados, em face do regime de bens adotado. Contudo, a restrio
ser afastada, provando-se a inexistncia de prejuzo para o ex-cnjuge.
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmos, cunhados ou
sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto no cessar a tutela ou curatela, e
no estiverem saldadas as respectivas contas.
Cumpre-se fazer uma distino entre o tutor e o curador.
O tutor o representante legal de menores destitudos de poder familiar, rfos ou
abandonados pelos pais, para a prtica dos atos da vida civil. J o curador aquele que,
efetivamente, cuida representa os interesses de incapazes (total ou relativamente, a partir
dos 16 anos de idade).
Pelo fato de administrarem bens alheios, tm a obrigao de prestar contas dos bens
pertencentes aos tutelados ou curatelados, sob fiscalizao judicial. Por isso, no
recomendado o casamento com estes, sobretudo quando tm bens que possam conduzir a um
casamento por interesse. Destarte, faz-se mister a obrigatoriedade do casamento sob o regime
de separao total de bens.
Pargrafo nico. permitido aos nubentes solicitar ao juiz que no lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistncia de prejuzo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cnjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente dever provar nascimento de filho, ou inexistncia de gravidez, na fluncia do prazo. Art. 1.524. As causas suspensivas da celebrao do casamento podem ser argidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam tambm consangneos ou afins.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
OBS.: Diferentemente dos impedimentos, as causas suspensivas s podem ser
argidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangneos ou afins, e
pelos colaterais em segundo grau, sejam tambm eles consangneos ou afins.
Casamentos Especiais
1. Casamento celebrado em razo de motivo urgente (urgncia)
Essa hiptese est prevista no art. 1527, pargrafo nico, que dispe que a
autoridade competente, havendo urgncia, poder dispensar a publicao. Contudo, no h
que se dispensar o processo de habilitao.
2. Casamento in extremis vitae momentis, in articulo mortis ou nuncupativo
O casamento in articulo mortis, in extremis vitae momentis ou nuncupativo aquele
realizado sob iminente risco de morte de um dos nubentes. Estabelece-se solenidade prpria
(art. 1.540): to apressado que no tem processo de habilitao, nem autoridade celebrante,
ao dispensar a presena de autoridades ou de eventuais substitutos, mas exige a presena de
seis testemunhas que no tenham parentesco colateral ou em linha reta com os nubentes
devendo procurar, no prazo de 10 dias, a autoridade judicial mais prxima, para que se tome o
termo de suas declaraes acerca da espontaneidade do ato (sob pena de inexistncia do
mesmo). Mas deve-se verificar que poderia haver a devida habilitao em tempo hbil, sem
oposies (impedimentos ou causas suspensivas), para que o juiz possa homologar.
Segundo Carlos Roberto Gonalves (p.133), a autoridade judiciria competente para
ouvir as testemunhas e proceder s diligncias a mais prxima do lugar em que se realizou o
casamento, ainda que no seja a do domiclio ou residncia dos cnjuges. Destaque-se:
O Juiz, se no for o competente ratione materiae ou ratione personae, encaminhar
as declaraes, depois de autuadas, autoridade judiciria que o for. Esta
determinar providncias para verificar a inexistncia de impedimentos, em
procedimento semelhante a uma habilitao a posteriori, ouvir o Ministrio Pblico
e realizar as diligncias necessrias, antes de proferir a sentena, da qual caber a
apelao em ambos os efeitos. Transitada em julgado, o juiz mandar registr-la no
Livro do Registro dos Casamentos, retroagindo os efeitos, quanto ao estado dos
cnjuges, data da celebrao (CC, art. 1.541, 1a 4).
A pessoa que est sob o risco iminente de morte no pode se casar atravs de
procurao. Porm, caso o nubente sobreviva, dever este confirmar a sua manifestao de
vontade, haja vista que ningum pode cas-lo, estando vivo, sem procurao.
As formalidades, contudo, sero dispensadas se o enfermo convalescer e puder
ratificar o casamento em presena da autoridade competente e do oficial de registro. Esta
ratificao feita mediante termo no livro do Registro dos Casamentos, devendo vir assinada
tambm pelo outro cnjuge e por duas testemunhas. Antes da lavratura do termo, exigem-se
os documentos do art. 1.525 e o certificado do art. 1.531, comprobatrio da inexistncia de
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
impedimentos. No havendo a ratificao, aps a convalescena, no tem valor o casamento.
A pessoa que est sob o risco iminente de morte no pode se casar atravs de procurao.
Porm, caso o nubente sobreviva, dever este confirmar a sua manifestao de vontade, haja
vista que ningum pode cas-lo, estando vivo, sem procurao.
H tambm o casamento realizado em caso de molstia grave, celebrado em face de
algum que est acometido de doena grave: no est morrendo, no est em extremo perigo
de vida, mas muito doente. Pode ser por procurao ou pessoalmente. A autoridade
celebrante vai aonde se encontra o enfermo e celebra o casamento perante duas
testemunhas.
Todavia, pressupe-se que j tenha sido expedido o certificado de habilitao, mas a
gravidade do estado de sade do mesmo o impea de se locomover e de adiar a cerimnia.
Assim, o juiz ir celebr-lo em sua casa ou onde estiver (no hospital, por exemplo), em
companhia do oficial, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. (Apenas em caso
de urgncia que o casamento poder ser realizado noite).
3. Casamento por procurao
A pessoa que est sob o risco iminente de morte no poder se casar atravs de
procurao.
Aqui, se entende por procurao o instrumento de mandato outorgado pelo
mandante ao mandatrio, devendo aquele mencionar, obrigatoriamente, na escritura pblica,
o futuro cnjuge.
Art. 1.5440, V: anulvel o casamento realizado pelo mandatrio, sem que ele ou o
outro contraente soubesse da revogao do mandato, e no sobrevindo coabitao entre os
cnjuges o mandante, neste caso, poder responder por perdas e danos.
Como supradito, o casamento nuncupativo permite a celebrao mediante
procurao.
AULA 21/10/2013
4. Casamento de parentes colaterais de 3 grau
Como o Novo Cdigo Civil disciplina no art. 1.521, IV a impossibilidade de casamento
entre irmos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, at o terceiro grau inclusive, num
primeiro momento, somos levados a crer que um tio no pode se casar com sua sobrinha sob
o prisma jurdico, uma vez que no estamos tratando da parte moral, a qual pode nos levar a
uma hiptese em que tio e sobrinha so unidos pelo afeto, o que nos permite cham-los de pai
e filha.
Para juristas como o professor Euclides Benedito de Oliveira,
O novo Cdigo no contempla a ressalva de autorizao judicial para o casamento
entre os colaterais de terceiro grau (tio e sobrinha), que no atual sistema jurdico
tem lugar por fora de disposio do Decreto-Lei 3.200/41. Resta questionvel se
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
estaria revogada essa norma excepcional, diante da norma genrica do novo
ordenamento civil, ou se mantida como regra especial prevalecente10.
No entanto, tais espcies de casamento vm sendo admitidas desde o advento desse
decreto-lei de maneira pacfica.
Segundo o Enunciado n 98, da 1 Jornada de Direito Civil do Conselho de Justia
Federal, o inc. IV do art. 1.521 do novo Cdigo Civil deve ser interpretado luz do Decreto-Lei
n. 3.200/41 no que se refere possibilidade de casamento entre colaterais de 3 grau. (Muito
embora este enunciado esteja longe de ser considerado lei, merece considervel respeito).
Em geral, defende-se a idade que, uma vez apresentados no mnimo dois atestados
mdicos afirmando a impossibilidade de defeitos eugnicos dos futuros descendentes,
possvel a unio em matrimnio de tio (a) e sobrinha (o), com fulcro no Decreto-Lei 3.200/41.
5. Casamento religioso com efeitos civis
possvel que a Lei de Organizao Judiciria do estado-membro defina qual rgo
ser competente para realizar o casamento civil. Na lei no mbito do estado da Bahia, h
possibilidade de delegao dessa competncia.
De acordo com a Lei n 6.015/73, de Registros Pblicos, o casamento civil (nica
modalidade reconhecida no ordenamento jurdico ptrio) deve ser registrado. Contudo,
comum que se celebre o casamento religioso com efeitos civis em quaisquer religies
devendo haver habilitao prvia ou posterior celebrao, com registro posterior data da
celebrao, momento em que passam a ocorrer os efeitos jurdicos, caso a habilitao seja
bem sucedida. (Verifica-se, in casu, uma hiptese de delegao, prevista no art. 1.515 do
Cdigo Civil de 2002).
OBS.: Aquele casamento religioso no registrado em cartrio civil no
propriamente um casamento, mas unio estvel, por no obedecer a formalidades
legalmente exigidas (quais sejam aquelas de habilitao prvia, com posterior registro, ou
habilitao posterior no registrada).
Confirmado o registro dentro do prazo de validade do certificado de habilitao (90
dias), os efeitos retroagem data da efetiva celebrao.
Ex.: A doao realizada por um dos cnjuges antes do registro mas aps a celebrao
religiosa, quando o regime ao qual escolheram se submeter no a permitir sem o
consentimento do outro, poder ser anulada. Muito embora possam existir clusulas de
incomunicabilidade de bens a serem gravadas pela autoridade competente (Consideradas
normas de Direito Privado que podem se comportar como normas de Ordem Pblica).
possvel que haja modificao do regime, a pedido de ambos os cnjuges, por justa
causa, a juzo competente.
10
OLIVEIRA, Euclides Benedito de, DIREITO DE FAMLIA NO NOVO CDIGO CIVIL, disponvel em Acesso em 24 de Novembro de 2013.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
6. Casamento de militares
Anteriormente, para que um militar pudesse se casar, de acordo com a Lei n
6.880/80, ele deveria pedir autorizao a seu comando superior. Hoje, no entanto, no h
mais necessidade de prvia autorizao, devendo o militar apenas comunicar, pois que seu
cnjuge ser seu dependente na produo dos efeitos jurdicos. possvel que haja
modificao do regime, a pedido de ambos os cnjuges, por justa causa, a juzo competente.
7. Casamento de funcionrios diplomticos, consulares e do Instituto Rio Branco
Primeiramente, cumpre-se realizar uma distino entre cnsul e diplomata.
O cnsul realiza uma representao administrativa de um pas dentro de outro (Cada
pas tem diversos consulados na nao estrangeira, geralmente nas capitais estaduais).
responsvel, basicamente, por resolver assuntos dos seus cidados no territrio estrangeiro
como vistos, vistoria de cargas, auxlio administrativo tanto para pessoa fsica como jurdica,
etc.
J o embaixador ou diplomata exerce a representao diplomtica de um pas dentro
de outro. Cada pas s tem uma embaixada na nao estrangeira, geralmente na capital
federal. responsvel por assuntos de interesse comuns entre as duas naes envolvendo
negociaes polticas, desenvolvimento econmico e cultural, informaes oficiais, etc.
No caso de funcionrios do servio exterior, alunos do Instituto, ou mesmo aqueles
que concorrem ao cargo, para se casarem com pessoa estrangeira, dependem de autorizao
do Presidente da Repblica; e, no caso de casamento com nacional, deve haver autorizao do
Ministrio das Relaes Exteriores.
Assim, no momento de requisio do processo de habilitao, os interessados devem
apresentar essa prvia autorizao das autoridades competentes supramencionadas.
8. Casamento de brasileiro em outro pas (que reside no estrangeiro)
Art. 32 da Lei n 6.015 de 1973: Os assentos de nascimento, bito e de casamento de
brasileiros em pas estrangeiro sero considerados autnticos, nos termos da lei do lugar em
que forem feitos, legalizadas as certides pelos cnsules ou quando por estes tomados, nos
termos do regulamento consular.
Tal modalidade tambm conhecida como casamento consular.
Caso o interessado queira se casar de acordo com as leis brasileiras, dever se casar no
consulado brasileiro devendo o ato ser registrado em 180 dias, a contar da volta de um ou
ambos os cnjuges ao Brasil, no cartrio do respectivo domiclio; ou, em sua fatal, no 1 Ofcio
da Capital do estado em que passarem a residir (Art. 1544 do Cdigo Civil). O mesmo se aplica
no caso de o casamento ser realizado por autoridades estrangeiras o que muda so as
formalidades.
9. Casamento de estrangeiro no Brasil
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
H duas hipteses: quando casam no consulado de seus respectivos pases ou quando
se casam sob as leis brasileiras. No primeiro caso, ainda que os estrangeiros sejam de
nacionalidades diferentes, devem se casar no consulado de apenas um deles, sob as leis de seu
pas de origem. J quando no h um consenso, podem realizar o ato sob a legislao
brasileira. O mesmo se aplica ao divrcio.
10. Casamento decorrente de converso de unio estvel
Art. 226, 3, CF 88: Para efeito da proteo do Estado, reconhecida a unio
estvel entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua
converso em casamento.
Percebe-se, desse modo, que a unio estvel um fato do cotidiano que teve seus
efeitos jurdicos reconhecidos. Cabendo ao legislador ordinrio facilitar a sua converso em
casamento, em observncia a esse comando constitucional.
Entretanto, antes de o novo Cdigo Civil ser promulgado, havia a previso de que tal
converso deveria ser feita mediante deciso judicial o que, na verdade, dificultava. Sendo
assim, hoje, para que os nubentes possam converter a unio estvel em casamento, devem
fazer o requerimento do processo de habilitao e, configurado o registro, os efeitos jurdicos
retroagiro data da unio.
AULA 30/10/2013
A prova do casamento
1. Consideraes gerais sobre prova
Em Direito, prova todo meio destinado a convencer o juiz, seu destinatrio, a
respeito da veracidade de um fato levado a julgamento. As provas fornecessem elementos
para que o juiz forme convencimento acerca de fatos controvertidos, relevantes para o
processo.
Em regra, a prova do casamento se faz atravs da certido.
2. Casamento: Meios de prova
2.1 Regra: Certido de casamento (extrada do assentamento)
Com fulcro no art. 1.543 do Cdigo Civil, o casamento celebrado no Brasil provado
pela certido do registro. Mas, justificada a falta ou a perda do registro civil, admissvel
qualquer outra espcie de prova (Ex.: cartrio incendiado, extravio do livro de registros, etc.)
Deve-se, desse modo, comprovar tambm a efetiva perda (ex.: notcia comprovando o
incndio).
2.2 Outros meios (Excepcionais): Justificar ao declaratria
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
A justificao no tem lide, mas to somente uma homologao por parte do juiz, e os
autos so entregues parte para que possa utiliz-los o que no significa que deva ser aceita
por quaisquer rgos pblicos como meio de prova.
Muito embora seja prevista no mesmo captulo das aes cautelares, no se trata de
ao cautelar, por no ser vinculante.
OBS.: Atravs dos meios de prova, possvel a demonstrao da verdade nas
alegaes sobre a matria ftica controvertida e importante para julgamento da causa. Os
meios so definidos em lei enumerados pelo Cdigo de Processo Civil como depoimento
pessoal (Arts. 342-347); a exibio de documentos ou coisas (Arts. 355-363); a prova
documental (Arts. 364-399); a confisso (Arts. 348-354); a prova testemunhal (Arts. 400-419);
a inspeo judicial (Arts. 440-443) e a prova pericial (Arts. 420-439).
Em relao quela prova produzida em um determinado processo, e que se deseja
ser aproveitada em outro (prova emprestada), esta s poder ser utilizada se a parte contra
quem se pretende produzir a prova tenha integrado o contraditrio no momento da
produo da mesma deve ser tratada como prova documental.
A justificao muito mais frgil em relao ao declaratria por se tratar de mera
homologao, em que o juiz no adentra nas questes de mrito.
3. Da posse do Estado de cnjuge
A depender das circunstncias, os descentes, a exemplo dos filhos, podem comprovar
a posse do estado de cnjuge de seus pais (A teor do art. 1545 o casamento de pessoas que,
na posse do estado de casadas, no possam manifestar a vontade, ou tenham falecido, no se
pode contestar em prejuzo da prole comum, salvo mediante certido do Registro Civil que
prove que j era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado.
4. Dvida entre as provas: soluo recomendada
Art. 1.547: Na dvida entre as provas favorveis e contrrias, julgar-se- pelo
casamento, se os cnjuges, cujo casamento se impugna, tiverem vivido na posse do estado de
casados.
5. Prova do casamento realizado no estrangeiro
Art. 32 da Lei n 6.015 de 1973: Os assentos de nascimento, bito e de casamento de
brasileiros em pas estrangeiro sero considerados autnticos, nos termos da lei do lugar em
que forem feitos, legalizadas as certides pelos cnsules ou quando por estes tomados, nos
termos do regulamento consular.
Do casamento invlido
1. Noes introdutrias
1.1 Plano de existncia (pressupostos essenciais)
1.2 Plano de validade
2. Da nulidade e da anulao do casamento
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
3. O casamento nulo: causas legais (taxativas)
3.1 Declarao de nulidade: sentena
3.1.1 Efeitos jurdicos
3.1.2 Casamento putativo (boa-f)
4. Do casamento anulvel: causas legais (Art. 1.550, CC/02)
4.1 Declarao judicial proposta pelo cnjuge prejudicado
4.1.1 Efeitos jurdicos
4.1.2 Casamento anulado, mas putativo
5. Concluses
1. Noes introdutrias
Casamento vlido aquele que alia o vnculo matrimonial sociedade conjugal,
atendendo s exigncias legais.
Quando ocorre a separao de fato h somente a ausncia da sociedade conjugal: o
vnculo matrimonial subsiste. No divrcio, entretanto, h dissoluo de ambos.
1.1 Plano de existncia (pressupostos essenciais)
Para que o casamento exista, preciso que haja na grande maioria dos pases a
diversidade de sexos. No Brasil, contudo, j existe resoluo pelo CNJ no sentido de permitir o
casamento entre pessoas do mesmo sexo. Exige-se, ainda, o consentimento e a celebrao
por uma autoridade so basicamente estes dois ltimos os critrios para aferio da
existncia do casamento em nosso ordenamento jurdico (mesmo que tal consentimento seja
viciado).
Atualmente, no Brasil, casamento inexistente h de ser aquele em que j ausncia de
consentimento e da celebrao por autoridade competente independentemente da
possibilidade de ser considerado invlido. Quando um destes itens no existir, o casamento
ser inexistente.
1.2 Plano de validade
OBS.: A nulidade a anulao so espcies de sanes civis muito embora na rea de
famlia, diferentemente do que aponta a teoria das nulidades, se admita a produo de
efeitos jurdicos, mesmo para aqueles casamentos reputados invlidos sobretudo quando
os cnjuges (ou um deles) atuam de boa f. O entendimento atual de que os filhos
provenientes de relaes matrimoniais nulas no devem ser prejudicados.
2. Da nulidade e da anulao do casamento
NULIDADE
Art. 1.548. nulo o casamento contrado:
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
I - pelo enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da vida civil;
II - por infringncia de impedimento.
Diferentemente dos enfermos mentais, para aqueles indivduos sob a curatela, a
exemplo dos prdigos e dos toxicmanos, o juiz poder, no caso concreto, decidir os limites da
diviso ou comunho de bens.
Art. 1.549. A decretao de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ao direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministrio Pblico.
A atuao do Ministrio Pblico se justifica quando, na fase de habilitao no houve
oposio, mas aquele casamento reputar-se nulo, pois prejudicados os interesses da sociedade
como um todo, no caso de infringncia dos impedimentos, que so absolutos, oponveis erga
omnes.
AULA 04/11/2013
ANULABILIDADE
Art. 1.550. anulvel o casamento:
I - de quem no completou a idade mnima para casar;
II - do menor em idade nbil, quando no autorizado por seu representante legal;
III - por vcio da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequvoco, o consentimento;
V - realizado pelo mandatrio, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogao do mandato, e no sobrevindo coabitao entre os cnjuges;
VI - por incompetncia da autoridade celebrante.
Pargrafo nico. Equipara-se revogao a invalidade do mandato judicialmente decretada.
No caso de incompetncia da autoridade celebrante, pode haver convalidao no
perodo de at dois anos, embora o casamento seja passvel de anulao.
No que concerne nulidade e anulabilidade, existem autores que as diferenciam de
acordo com seu carter absoluto ou relativo. A nulidade seria proveniente de vcio insanvel
nulidade absoluta. J as circunstncias que tornam o casamento passvel de anulao
comportam uma nulidade relativa, ao possibilitar que tal ato matrimonial seja convalidado,
quando sanados os vcios; ou anulados, a depender do caso concreto.
Diferentemente das nulidades, que so de interesse da sociedade, nos casos passveis
de anulao, as razes devem ser apresentadas pelos interessados.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Art. 1.551. No se anular, por motivo de idade, o casamento de que resultou gravidez.
Art. 1.552. A anulao do casamento dos menores de dezesseis anos ser requerida:
I - pelo prprio cnjuge menor;
II - por seus representantes legais;
III - por seus ascendentes.
No que tange a tais aspectos, devemos abrir um parntese para tratar da filiao.
A filiao, enquanto relao entre pais e filhos, antes da Constituio de 1988 s era
considerada legtima atravs do casamento, de modo que os filhos havidos fora do matrimnio
no fizessem parte do ncleo familiar: no podiam nem mesmo ser registrados com o nome
paterno, se este pai fosse casado. A filiao, desse modo, era dividida essencialmente em
legtima e ilegtima.
Frise-se que, aqui, filiao deve ser entendida como relao de parentesco
consanguneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa queles que a geraram,
ou a receberam como se as tivessem gerado.
De acordo com Slvio Salvo de Venosa, filiao legitima era aquela decorrente das
justas npcias, sendo legtimos os filhos de pessoas casadas entre si (ainda que o casamento
fosse anulado ou nulo contrado de boa f). J a filiao ilegtima se aplicava aos filhos havidos
fora do matrimnio, que poderiam ser naturais (nascidos de pessoas que no tinham
impedimentos matrimoniais entre si) ou esprios (frutos de adultrio ou de relaes
incestuosas).
OBS.: Antes do Cdigo de 1916 havia, ainda, nesta classificao, os chamados filhos
sacrlegos, filhos de padres ou freiras.
Tambm havia a filiao legitimada, que tornava legtimos os filhos havidos ou
concebidos em momento anterior ao casamento dos cnjuges que, com o matrimnio, os
legitimavam.
Com a Constituio de 1988, entretanto, houve a proibio do tratamento
discriminatrio entre os filhos, que devem receber tratamento igual, independente do
vnculo existente entre seus genitores.
Art. 1.553. O menor que no atingiu a idade nbil poder, depois de complet-la, confirmar seu casamento, com a autorizao de seus representantes legais, se necessria, ou com suprimento judicial.
Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem possuir a competncia exigida na lei, exercer publicamente as funes de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil.
Art. 1.555. O casamento do menor em idade nbil, quando no autorizado por seu representante legal, s poder ser anulado se a ao for proposta em cento e oitenta
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de s-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros necessrios.
1o O prazo estabelecido neste artigo ser contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento, no segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz.
2o No se anular o casamento quando sua celebrao houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua aprovao.
OBS.: Se um menor casado sem autorizao vem a falecer, seus ascendentes podem
anular o casamento para que o seu cnjuge no seja herdeiro.
Linha de sucesso: descendentes, ascendentes, cnjuge, colaterais, etc.
AULA 06/11/2013
O ordenamento brasileiro possui um rol taxativo de hipteses para as quais o
casamento possa ser considerado invlido. Alm das causas de nulidade absoluta quando o
casamento contrado por enfermo mental sem o necessrio discernimento para os atos da
vida civil ou quando h leso a algum dos impedimentos matrimoniais existem as causas de
anulabilidade: o erro essencial sobre a pessoa do cnjuge que torne a vida comum
insuportvel e a coao, que tambm so vcios de consentimento, com potencial para
invalidar o casamento.
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vcio da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto pessoa do outro.
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cnjuge:
I - o que diz respeito sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportvel a vida em comum ao cnjuge enganado;
II - a ignorncia de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportvel a vida conjugal;
III - a ignorncia, anterior ao casamento, de defeito fsico irremedivel, ou de molstia grave e transmissvel, pelo contgio ou herana, capaz de pr em risco a sade do outro cnjuge ou de sua descendncia;
IV - a ignorncia, anterior ao casamento, de doena mental grave que, por sua natureza, torne insuportvel a vida em comum ao cnjuge enganado.
Nestas hipteses, o prprio cnjuge prejudicado deve propor a demanda para
anulao do casamento, devendo comprovar que aquele erro essencial sobre a pessoa do
outro cnjuge torna a vida comum insuportvel.
AULA 11/11/2013
(Aula de leitura do Cdigo Civil)
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Art. 1.558. anulvel o casamento em virtude de coao, quando o consentimento de um ou de ambos os cnjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considervel e iminente para a vida, a sade e a honra, sua ou de seus familiares.
Art. 1.559. Somente o cnjuge que incidiu em erro, ou sofreu coao, pode demandar a anulao do casamento; mas a coabitao, havendo cincia do vcio, valida o ato, ressalvadas as hipteses dos incisos III e IV do art. 1.557.
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ao de anulao do casamento, a contar da data da celebrao, de:
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550;
II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;
III - trs anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;
IV - quatro anos, se houver coao.
1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus representantes legais ou ascendentes.
2o Na hiptese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulao do casamento de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante tiver conhecimento da celebrao
.
Art. 1.561. Embora anulvel ou mesmo nulo, se contrado de boa-f por ambos os cnjuges, o casamento, em relao a estes como aos filhos, produz todos os efeitos at o dia da sentena anulatria.
1o Se um dos cnjuges estava de boa-f ao celebrar o casamento, os seus efeitos
civis s a ele e aos filhos aproveitaro.
2o Se ambos os cnjuges estavam de m-f ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis s aos filhos aproveitaro.
Art. 1.562. Antes de mover a ao de nulidade do casamento, a de anulao, a de separao judicial, a de divrcio direto ou a de dissoluo de unio estvel, poder requerer a parte, comprovando sua necessidade, a separao de corpos, que ser concedida pelo juiz com a possvel brevidade.
Art. 1.563. A sentena que decretar a nulidade do casamento retroagir data da sua celebrao, sem prejudicar a aquisio de direitos, a ttulo oneroso, por terceiros de boa-f, nem a resultante de sentena transitada em julgado.
Art. 1.564. Quando o casamento for anulado por culpa de um dos cnjuges, este incorrer:
I - na perda de todas as vantagens havidas do cnjuge inocente;
II - na obrigao de cumprir as promessas que lhe fez no contrato antenupcial.
AULA 13/11/2013
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Da Eficcia do Casamento
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condio de consortes, companheiros e responsveis pelos encargos da famlia.
1o Qualquer dos nubentes, querendo, poder acrescer ao seu o sobrenome do outro.
2o O planejamento familiar de livre deciso do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exerccio desse direito, vedado qualquer tipo de coero por parte de instituies privadas ou pblicas.
O casamento, de forma geral, produz efeitos sociais, no estado de cnjuge
(importante, por exemplo, para fins previdencirios); bem como efeitos pessoais, que
envolvem direitos conjugais e deveres correlatos.
Um dos grandes avanos representados por este dispositivo do Cdigo Civil a
igualdade entre os cnjuges, pois anteriormente o homem era o nico chefe da sociedade
conjugal, haja vista que a mulher era considerada relativamente incapaz.
Com a Lei n 4.121 de 1962, o Estatuto da Mulher, a cnjuge do sexo feminino passou
a ser enxergada como colaboradora da sociedade conjugal, ao ter reconhecida a sua
capacidade plena, independentemente da condio de seu cnjuge. Isso foi fortalecido pela
Lei do Divrcio (n 6.515/1977), que transformou muitos conceitos anteriormente extrados do
Cdigo Civil de 1916, a exemplo das noes do desquite, substitudo pela separao judicial.
A Lei n 4.121/62 criou a figura dos bens reservados mulher, que tinha o direito
conservao daquilo havido em momento anterior ao casamento sob regime de comunho
garantia que, segundo alguns doutrinadores, foi estendida aos homens, posteriormente. O
que, ao ver da professora Nilza Reis, um grave equvoco, tendo em vista que a partir do texto
constitucional de 1988 houve a consolidao da isonomia entre os cnjuges no ordenamento
jurdico ptrio, sendo que os bens havidos anteriormente fazem parte do ato jurdico perfeito
ou da coisa julgada, concretizados, pois, em momento anterior celebrao do matrimnio.
A prpria nomenclatura de cnjuge, para era, tambm abrange essa isonomia, pois
utilizada tanto para o homem quanto para a mulher.
OBS.: O desquite no dissolvia o vnculo matrimonial, que s poderia ser dissolvido
com a morte de um dos cnjuges, caso contrrio, no havia possibilidade de dissoluo da
sociedade conjugal. Havia to somente uma separao de fato, a chamada separao de
corpos, hoje admitida apenas como meio de prova.
(Anteriormente, muitos casais costumavam realizar a separao judicial em outros
pases mas isso de nada valia para nosso ordenamento jurdico: seus efeitos eram os
mesmos do desquite no havia dissoluo do vnculo matrimonial por completo).
A possibilidade de desfazimento da sociedade conjugal s veio a existir a partir da Lei
do Divrcio.
A mudana de paradigmas ocorrida aps a Constituio de 1988 foi evidente na
medida em que se reconheceu a existncia de famlias provenientes no somente do
casamento, mas tambm da unio estvel, da unio monoparental, bem como de outras
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
entidades familiares que sempre existiram, desde os tempos mais remotos, embora sem
reconhecimento pelo ordenamento jurdico ptrio.
AULA 13/11/2013
Art. 1.566. So deveres de ambos os cnjuges:
I - fidelidade recproca;
II - vida em comum, no domiclio conjugal;
III - mtua assistncia;
IV - sustento, guarda e educao dos filhos;
V - respeito e considerao mtuos.
Art. 1.567. A direo da sociedade conjugal ser exercida, em colaborao, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.
Pargrafo nico. Havendo divergncia, qualquer dos cnjuges poder recorrer ao juiz, que decidir tendo em considerao aqueles interesses.
Art. 1.568. Os cnjuges so obrigados a concorrer, na proporo de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da famlia e a educao dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial.
Desse modo, podemos perceber que, hoje, h uma equiparao entre os cnjuges no
que se refere a direitos e deveres, haja vista o reconhecimento da capacidade plena da mulher
para a prtica de atos da vida civil.
H, ainda, em nosso ordenamento jurdico, o imprio da monogamia, na medida em
que se exige uma fidelidade recproca muito embora existam diversos defensores do
chamado Poliamorismo e at precedentes dos tribunais que reconhecem outras variedades e
concepes de famlia partindo-se do pressuposto de que a monogamia no se trata, em
verdade, de um princpio, mas uma modalidade consagrada, ao longo dos anos, pela sociedade
brasileira.
A fidelidade recproca sempre foi muito incentivada, a ponto de o adultrio j ter sido
conduta criminalizada. O adultrio era tambm causa de desquite na seara civil e servia de
corpo de delito para provocao de efeitos prova, evidentemente, muito difcil de ser obtida;
o que fez com que os efeitos do adultrio no campo do Direito Civil fossem minando.
O adultrio cometido pela mulher, anteriormente, ensejava a perda do sobrenome do
cnjuge e do direito percepo de alimentos.
Assunto da 2 Prova: 27/01
AULA 20/11/2013
O domiclio conjugal, atualmente, no considerado apenas o local dividido
pelos cnjuges at mesmo porque existem domiclios necessrios, de forma que admite
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
uma flexibilidade daquilo anteriormente compreendido como domiclio conjugal, sobretudo
por conta do exerccio de encargos pblicos. O casamento no se mantm pelo fato de os
cnjuges conviverem sob o mesmo teto, mas por compartilharem de uma vida comum, de
um planejamento familiar.
Art. 1.569. O domiclio do casal ser escolhido por ambos os cnjuges, mas um e outro podem ausentar-se do domiclio conjugal para atender a encargos pblicos, ao exerccio de sua profisso, ou a interesses particulares relevantes.
Art. 1.570. Se qualquer dos cnjuges estiver em lugar remoto ou no sabido, encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de conscincia, em virtude de enfermidade ou de acidente, o outro exercer com exclusividade a direo da famlia, cabendo-lhe a administrao dos bens.
O art. 1567 consagra a importncia da mulher, adquirida ao longo dos anos, na
sociedade conjugal. Da a possibilidade de a mesma exercer, com exclusividade a direo da
famlia, nas hipteses em que o seu cnjuge se encontrar enfermo ou mesmo preso em
instituio carcerria.
Efeitos Patrimoniais do Casamento
1. Regime de bens
Todo aquele que contrai casamento deve se submeter ao regime de bens previsto em
lei, que pode ser de comunho parcial ou universal; de separao total ou com participao
final nos aquestos.
At 1977, a comunho universal era oficialmente adotada pelo ordenamento jurdico
ptrio, inclusive em caso de omisso dos nubentes. Esta, todavia, no se confunde com a
comunho total, pois nela h possibilidade de haver bens incomunicveis, atravs da gravao
dos mesmos, retirando-lhe do patrimnio comum.
possvel que o menor de idade realize esse pacto antenupcial, desde que autorizado
por quem lhe deu autorizao para casar, e essa segunda autorizao dever ser transcrita na
escritura. Mas aqueles que casaram com suprimento judicial no podem (art. 1537).
Existem, ainda, os regimes de separao voluntria (absoluta ou aliada participao
final nos aquestos bens adquiridos onerosamente durante o casamento) e separao
obrigatria, que no plena, e representa as hipteses elencadas pelo art. 1.641 do Cdigo
Civil. Art. 1.639. lcito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto
aos seus bens, o que lhes aprouver.
1o O regime de bens entre os cnjuges comea a vigorar desde a data do
casamento.
2o admissvel alterao do regime de bens, mediante autorizao judicial em
pedido motivado de ambos os cnjuges, apurada a procedncia das razes invocadas
e ressalvados os direitos de terceiros.
Art. 1.640. No havendo conveno, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorar, quanto
aos bens entre os cnjuges, o regime da comunho parcial.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Pargrafo nico. Podero os nubentes, no processo de habilitao, optar por
qualquer dos regimes que este cdigo regula. Quanto forma, reduzir-se- a termo a
opo pela comunho parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pblica,
nas demais escolhas.
Existem os bens aquestos, como supracitado, adquiridos onerosamente durante o
curso do casamento e os bens aprestos, adquiridos antes do casamento. Nesse contexto,
importante destacar a smula n 377 do STF, segundo a qual no regime da separao legal de
bens, comunicam-se os adquiridos na constncia do casamento ou seja, os bens aquestos.
Quando houver a adoo de qualquer outro regime que no seja a comunho parcial
de bens, dever haver, durante o processo de habilitao, a elaborao de pacto antenupcial,
que um contrato anterior ao casamento.
A mudana do regime de bens s deve ocorrer em carter excepcional, devendo ser
requerida por ambos os cnjuges, judicialmente, devendo ser autorizada por deciso judicial
cartorial.
Art. 1.641. obrigatrio o regime da separao de bens no casamento:
I - das pessoas que o contrarem com inobservncia das causas suspensivas da
celebrao do casamento;
II - da pessoa maior de sessenta anos;
II da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redao dada pela Lei n 12.344, de
2010)
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.
Para a professora Nilza Reis, o inciso II deste artigo inconstitucional, pois a pessoa,
muito embora tenha idade avanada, quando est no gozo de suas capacidades plenas, deve
ter o direito constitucional de dispor de seus bens e casar sob o regime que lhe aprouver,
independentemente de sua idade biolgica. Desse modo, j existem decises judiciais
afastando a aplicabilidade desse inciso, via controle incidental.
Quando a causa de suprimento for sanada, sobretudo nos casos em que se fizer
relao com a idade do sujeito, h possibilidade, segundo Nilza Reis, de modificao do regime
de bens, por no ser uma pena insanvel este o entendimento do Superior Tribunal de
Justia: no se pode impedir, nestes casos, a mudana judicial do regime, at porque, para tal
alterao, h necessidade de motivao pelos cnjuges.
Mas, no caso de autorizao dos assistentes legais, os nubentes, desde que igualmente
autorizados, podero escolher o regime de bens, diverso da separao obrigatria.
Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher
podem livremente:
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
I - praticar todos os atos de disposio e de administrao necessrios ao
desempenho de sua profisso, com as limitaes estabelecida no inciso I do art.
1.647;
II - administrar os bens prprios;
III - desobrigar ou reivindicar os imveis que tenham sido gravados ou alienados sem
o seu consentimento ou sem suprimento judicial;
IV - demandar a resciso dos contratos de fiana e doao, ou a invalidao do aval,
realizados pelo outro cnjuge com infrao do disposto nos incisos III e IV do art.
1.647;
V - reivindicar os bens comuns, mveis ou imveis, doados ou transferidos pelo
outro cnjuge ao concubino, desde que provado que os bens no foram adquiridos
pelo esforo comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco
anos;
VI - praticar todos os atos que no lhes forem vedados expressamente.
Percebe-se, dessa forma, que a separao de fato, muito embora no altere o estado
civil nem dissolva a sociedade conjugal, provoca graves efeitos, a ponto de haver tal ressalva
no art. 1.642, V, com relao aos bens adquiridos por esforo comum do cnjuge com a
concubina, desde que passados cinco anos da separao de fato, os quais no podero ser alvo
de reivindicao pelo outro cnjuge.
Art. 1.643. Podem os cnjuges, independentemente de autorizao um do outro:
I - comprar, ainda a crdito, as coisas necessrias economia domstica;
II - obter, por emprstimo, as quantias que a aquisio dessas coisas possa exigir.
Art. 1.644. As dvidas contradas para os fins do artigo antecedente obrigam
solidariamente ambos os cnjuges.
Embora os cnjuges sejam igualmente responsveis pela manuteno da sociedade
conjugal e da vida comum, tal artigo no perde sua utilidade, pois a solidariedade, no
ordenamento jurdico ptrio, no que tange a obrigaes entre particulares, no deve ser
presumida.
Art. 1.645. As aes fundadas nos incisos III, IV e V do art. 1.642 competem ao
cnjuge prejudicado e a seus herdeiros.
Art. 1.646. No caso dos incisos III e IV do art. 1.642, o terceiro, prejudicado com a
sentena favorvel ao autor, ter direito regressivo contra o cnjuge, que realizou o
negcio jurdico, ou seus herdeiros.
AULA 27/11/2013
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
2. Da Sucesso Causa Mortis
A sucesso pode ser causa mortis. Quando algum, casado antes de morrer, vem a
falecer, o seu cnjuge tambm indicado legalmente como um dos seus sucessores.
Art. 1.829. A sucesso legtima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrncia com o cnjuge sobrevivente, salvo se casado
este com o falecido no regime da comunho universal, ou no da separao
obrigatria de bens (art. 1.640, pargrafo nico); ou se, no regime da comunho
parcial, o autor da herana no houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrncia com o cnjuge;
III - ao cnjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Vale salientar que essa ordem de sucesso preferencial.
O Cdigo Civil de 2002 deu ao cnjuge o status de herdeiro necessrio, todavia:
Art. 1.830. Somente reconhecido direito sucessrio ao cnjuge sobrevivente se, ao
tempo da morte do outro, no estavam separados judicialmente, nem separados de
fato h mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivncia se
tornara impossvel sem culpa do sobrevivente.
Art. 1.831. Ao cnjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, ser
assegurado, sem prejuzo da participao que lhe caiba na herana, o direito real de
habitao relativamente ao imvel destinado residncia da famlia, desde que seja
o nico daquela natureza a inventariar.
Art. 1.832. Em concorrncia com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caber ao
cnjuge quinho igual ao dos que sucederem por cabea, no podendo a sua quota
ser inferior quarta parte da herana, se for ascendente dos herdeiros com que
concorrer.
A meao resultado do regime, que comporta a sua existncia e maior na
comunho universal. S existe meao na comunho universal e na comunho parcial.
Frise-se que a meao resultado do regime de bens, e no da morte do outro. O
cnjuge herdeiro do outro em terceiro lugar, independentemente do regime de bens. A
meao s existe na comunho.
Para fins de herana, no importa se a comunho universal ou parcial, em que pese a
comunho universal tenha uma maior extenso.
Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais prximo excluem os mais
remotos, salvo o direito de representao.
Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe tm os mesmos direitos sucesso de
seus ascendentes.
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabea, e os outros
descendentes, por cabea ou por estirpe, conforme se achem ou no no mesmo
grau.
Art. 1.836. Na falta de descendentes, so chamados sucesso os ascendentes, em
concorrncia com o cnjuge sobrevivente.
1o Na classe dos ascendentes, o grau mais prximo exclui o mais remoto, sem
distino de linhas.
2o Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha
paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.
Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cnjuge tocar um
tero da herana; caber-lhe- a metade desta se houver um s ascendente, ou se
maior for aquele grau.
Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, ser deferida a sucesso por
inteiro ao cnjuge sobrevivente.
Art. 1.839. Se no houver cnjuge sobrevivente, nas condies estabelecidas no art.
1.830, sero chamados a suceder os colaterais at o quarto grau.
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais prximos excluem os mais remotos,
salvo o direito de representao concedido aos filhos de irmos.
Art. 1.841. Concorrendo herana do falecido irmos bilaterais com irmos
unilaterais, cada um destes herdar metade do que cada um daqueles herdar.
Art. 1.842. No concorrendo herana irmo bilateral, herdaro, em partes iguais,
os unilaterais.
Art. 1.843. Na falta de irmos, herdaro os filhos destes e, no os havendo, os tios.
1o Se concorrerem herana somente filhos de irmos falecidos, herdaro por
cabea.
2o Se concorrem filhos de irmos bilaterais com filhos de irmos unilaterais, cada
um destes herdar a metade do que herdar cada um daqueles.
3o Se todos forem filhos de irmos bilaterais, ou todos de irmos unilaterais,
herdaro por igual.
Art. 1.844. No sobrevivendo cnjuge, ou companheiro, nem parente algum
sucessvel, ou tendo eles renunciado a herana, esta se devolve ao Municpio ou ao
Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscries, ou Unio, quando
situada em territrio federal.
Essa ordem de sucesso preferencial.
I. Descendentes do morto
II. Ascendentes do morto
Caderno Digitado: Direito de Famlia - Nilza Reis (por Karol Freitas) 2013.2
III. Cnjuge sobrevivo do morto, desde que preencha os requisitos do art. 1.830
IV. Colaterais
A meao resultado do regime de bens, e no da morte do outro. O cnjuge
herdeiro do outro em terceiro lugar, independentemente do regime de bens. A meao s
existe na comunho.
Para fins de herana, no importa se a comunho universal ou parcial, em que pese a
comunho universal tenha uma maior extenso.
Bens aprestos. Bens adquiridos para o casamento.
3. Direito a Alimentos
I. Necessrios
II. Cngruos ou Civis
Direito a alimentos. A lei no fixa um percentual. Os alimentos so fixados de acordo
com o caso concreto. A pessoa que recebe alimentos no scia do alimentante.
AULA 11/12/2013
Alimentos
1. Conceito
Os alimentos se traduzem em prestaes para satisfao das necessidades vitais de
quem no pode prov-as por si. Tm por finalidade fornecer a um parente, cnjuge ou
companheiro ou necessrio sua subsistncia.
De acordo com Carlos Roberto Gonalves, alimentos no se restringem ao sentido
dado pelo uso do vocbulo comum, no se limitando ao necessrio para o sustento de uma
pessoa. Nele se compreende no somente a obrigao de prest-los, como tambm o
contedo da obrigao a ser prestada. A aludida expresso tem, no campo do Direito, uma
acepo tcnica de larga abrangncia, compreendendo no s o indispensvel ao sustento,
como tambm o necessrio manuteno da condio social e moral do alimentando.
2. Caracteres
Os alimentos manifestam-se atravs de algumas caractersticas, quais sejam:
a) Reciprocidade: Aquele que pede o alimento tambm poder, em algum
momento, conced-lo. Ex.: O filho que recebe alimentos deve amparar o pai, na velhice, da
mesma forma.