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CADERNO DE RESOLUÇÕES

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Caderno de resoluções

www.pt.org.br

Luiz Gushiken e MarceLo DeDa

caDerno De resoLuções

BrasíLia, 12 a 14 De DezeMBro De 2013

ínDice

3 Apresentação

4 Discurso de Rui Falcão, presidente nacional do PT

11 Resolução política: “Nunca Menos!”

26 Aprofundar o debate

27 Resolução sobre a Ação Penal 470

28 Resolução sobre os 50 anos do golpe militar de 1964

29 Moções

29 Projeto de Lei Complementar 122

29 Proposta de Emenda Constitucional 215

29 Orientação à bancada do PT no Congresso Nacional

29 Nelson Mandela

30 Cotas étnico-raciais

30 Fim da Polícia Militar

30 Fortalecimento do Plano Juventude Viva

31 Solidariedade às mulheres da CUT

32 Propostas ao Encontro nacional de Tática Eleitoral (2 e 3 de maio 2014)

35 Propostas à segunda etapa do 5º Congresso (2015)

37 Dirigentes nacionais eleitos no PED 2013

apresentação

Este caderno contém a versão editada das resoluções e moções aprovadas pela primeira etapa do 5º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores (12 a 14 de dezembro de 2013), as propostas apresentadas e remetidas ao Encontro de tática eleitoral (2 e 3 de maio de 2014) e à segunda etapa do 5º Congresso (2015), assim como o discurso que proferi no ato solene de abertura, na presença do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff.

As resoluções aqui publicadas incluem as emendas lidas e aprovadas pela primeira etapa do 5º Congresso, que nos autorizou a fazer as indispensáveis alterações de redação e estilo. Que a leitura deste Caderno de Resoluções contribua para a boa luta de nosso Partido por um Brasil democrático-popular e socialista.

Saudações petistas

Rui FalcãoPresidente nacional do PT

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Discurso De rui FaLcão, presiDente nacionaL Do pt

Companheiras e Companheiros,

Belos são os tempos quando podemos dizer que não vivemos um tempo comum.

Belas são as horas que têm o duplo poder de embalar nossas esperanças e de encorajar a vencer imensos desafios.

Únicos são os momentos que nos concedem o arrebatamento do sonho, sem tréguas e sem medo.

Este é o momento que o Brasil vive.

Este é o momento que vive o nosso grande -- e glorioso – Partido dos Trabalhadores.

Este é o momento no qual, humildemente, me inscrevo como cidadão, como militante e como agradecido presidente partidário.

Um presidente reeleito com maioria tão expressiva, que sente sobre seus ombros o peso de uma enorme responsabilidade.

Por isso, como cidadão brasileiro e como presidente eleito do mais vibrante e atuante partido de massas já nascido neste país, só posso começar este discurso com um sincero e profundo agradecimento.

Como brasileiro -- daquele tipo que jamais fugiu da luta -- quero agradecer aos nos-sos dois grandes líderes guerreiros, o presidente Lula e a presidenta Dilma, que vêm lutando, ao lado do nosso povo, para garantir mais liberdade, mais igualdade e mais oportunidades para todos.

Como militante, quero agradecer a todos vocês, queridos companheiros e companhei-ras de todas as tendências, que fortalecem e renovam incessantemente o nosso partido e o nosso país, e que acabam de me dar mais um voto de confiança.

Quero agradecer também a tolerância e a fraternidade do Markus Sokol, do Paulo Teixeira, do Renato Simões, do Serge Goulart e do Valter Pomar, que comigo disputa-ram a presidência no PED.

Como pai de família, quero agradecer a minha amada mulher, a Cris, aos meus que-ridos filhos Celina, Fernando e Mariana, que, com compreensão e sacrifício, têm me dado força para seguir nesta jornada.

Companheiras e Companheiros,

Nada mais feliz, simbólico e auspicioso que a posse dos novos dirigentes do PT ocorra, simultaneamente, com a fase preliminar do nosso 5º Congresso, muito apropriada-mente batizado de Luis Gushiken e Marcelo Deda.

Um momento profundo de reflexão, de reafirmação de rumo e renovação de propostas.

Nada mais oportuno que tudo isso ocorra quando as vozes reacionárias de sempre reincidem no propósito, senão de destruir o que é indestrutível, mas de tentar, pela força da mentira e da mistificação, diminuir o nosso papel e manchar a nossa imagem.

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À fragilidade de suas mentiras, respondamos com a força dos nossos argumentos. Respondamos com a contundência simbólica do testemunho inscrito como epígrafe deste congresso: “Nossos valores são eternos”. E com a prova demolidora de um parti-do que já tem no seu panteão figuras da dimensão de um Gushiken e de um Deda, e que possui em suas fileiras milhões de personagens honrados e heroicos, que não aban-donarão jamais nossos princípios, e nunca desistirão do compromisso de construir um Brasil para todos os brasileiros.

Um Brasil que não desiste nunca; um Brasil que não abre mão de realizar o sonho de ter um povo forte e feliz.

Companheiras e Companheiros,

Ninguém pode se arvorar no direito de nos dar lição de ética!

Ninguém pode se arvorar no direito de nos ensinar qual o verdadeiro sentido da política!

Ninguém pode se arvorar no direito de nos ensinar o que significa justiça social!

Mas nós, sim, podemos e devemos dar uma lição permanente, a nós mesmos, de reno-vação, autocrítica e de avanço.

Esta é uma tarefa permanente de todo partido democrático, e esta é uma tarefa que se torna ainda mais prioritária neste momento de grandes resultados, e de grandes desa-fios, vividos pelo Brasil e pelo PT.

Tenho a convicção de que nosso partido reúne todas as condições para retomar sua trajetória original, evidentemente que num período histórico distinto daquele da sua fundação e de seus primeiros anos.

Companheiros e companheiras,

O PT nasceu sob o signo da mudança.

Nossos governos aceleraram, como nunca, mudanças sociais profundas no País.

O Brasil mudou, em vários sentidos, graças à existência do PT. Como diz o presidente Lula, como seria o Brasil sem o PT e sem os nossos governos?

Agora, o partido defronta-se com vários desafios, muitos deles originários de transfor-mações que nós mesmos provocamos e conduzimos.

Compreender o sentido profundo dessas mudanças é fundamental para que o PT pos-sa continuar sendo um protagonista da maior relevância nesta conjuntura.

O PT mostrou, ao povo brasileiro, que é bom e é possível mudar para melhor.

Por isso, o povo brasileiro quer continuar mudando.

E, como mostram claramente as pesquisas, quer continuar mudando com o PT.

É hora, portanto, de acenar com reformas mais profundas, sendo a mais importante delas a reforma política, nos termos em que temos proposto em nosso abaixo-assinado.

A sua essência, e umbral de outras transformações profundas e subsequentes, está na proposta de plebiscito enviada ao Congresso pela presidenta Dilma, e que aguarda votação na Câmara dos Deputados.

É fundamental que os legisladores ajudem a acelerar este processo, e saibam que da mobilização da energia criativa do nosso povo, o PT e os demais partidos progressistas se incumbirão.

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Ao mesmo tempo que lutamos no Congresso, o PT apoia todas as iniciativas voltadas para uma reforma política que acabe com o peso do poder econômico nas eleições, que amplie a participação das mulheres na vida política nacional e que aprofunde a partici-pação popular nos processos políticos.

Por isso, também, nos associamos às entidades do movimento social que estão convo-cando um Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva, previsto para a Semana da Pátria de 2014.

A Constituinte Exclusiva é um instrumento fundamental para a realização de uma efetiva reforma política, como a presidenta Dilma e o PT defenderam no curso das manifestações populares de junho.

Mas há outras reformas decisivas e urgentes: como a reforma urbana, a ampliação da reforma agrária e a aceleração de uma reforma tributária progressiva, que desonere a produção e os salários.

É preciso, igualmente, como vem assinalando muito bem nossa presidenta Dilma, uma revolução de qualidade nos serviços públicos, capaz de garantir atendimento digno a todos os brasileiros e as brasileiras, das cidades mais ricas aos rincões mais remotos do país.

Numa época em que o mundo muda, não apenas a sua forma de se comunicar, mas quando é a própria forma de se comunicar que muda o mundo, não podemos deixar de participar ativamente da formulação das políticas de aprimoramento e avanços do setor de comunicação.

Mais que nunca, a sofisticação tecnológica e seu infinito raio de alcance fazem dos meios de comunicação canais eficientíssimos na circulação de ideias, cultura e conhe-cimento, dando-lhes uma força política descomunal.

Uma força política que, com o surgimento da internet, afortunadamente empoderou o cidadão.

É responsabilidade nossa garantir que este empoderamento se amplie ainda mais, ga-rantindo um salto gigantesco de qualidade no nosso sistema democrático.

Mas isso só se cumprirá caso sejamos capazes de formular políticas públicas corretas.

Elas passam, fortemente, pela votação do Marco Civil da Internet e, sobretudo, pela necessidade inadiável de se promover a democratização da mídia, com a regulamenta-ção dos artigos da Constituição que asseguram a liberdade de expressão, o pluralismo, a diversidade, e que proíbem, taxativamente, a existência de monopólios e oligopólios.

Não nos deixaremos intimidar, jamais, por certas vozes poderosas que tentam confun-dir, deliberadamente, o sagrado direito de liberdade de expressão com o espúrio desejo de expressão exclusivo de seus interesses.

Estes, jamais, nos darão lições de democracia e de liberdade; pois, da democracia e da liberdade, somos fiéis e legítimos representantes.

Companheiros e companheiras,

Nós e o povo brasileiro queremos mais mudanças!

E nossa primeira tarefa na garantia disso é a reeleição da presidenta Dilma.

Dilma no Planalto é a grande certeza, para o povo brasileiro, da continuidade do pro-cesso de transformações do país, inaugurado pelo presidente Lula.

Discurso De rui FaLcão, presiDente nacionaL Do pt

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O próximo governo Dilma precisa ser -- e será -- melhor do que o seu primeiro gover-no, assim como o segundo governo de Lula foi melhor que o primeiro.

Para isso é preciso manter e ampliar as ações em curso e trazer novos e impactantes programas e projetos.

É preciso novas ideias e novas propostas. Algumas delas já foram produzidas no ciclo recém-encerrado da Fundação Perseu Abramo, que mobilizou as contribuições de mais de 400 intelectuais.

Outras virão, rapidamente. Inclusive, repito, com a continuidade, aperfeiçoamento e melhoria do que já está em curso.

Com a ampliação das escolas em tempo integral, com a criação de novos empregos de qualidade, com mais creches, mais médicos, mais moradias, universalização da banda larga com qualidade e a preços acessíveis, e a esperada e factível revolução de qualidade dos serviços públicos, sobretudo transporte, saúde, segurança.

Mas, como nas outras eleições, não podemos fazer isso sozinhos.

É fundamental, portanto, ampliar nossas bases de sustentação na sociedade, nos gover-nos estaduais e nos legislativos em geral.

No que diz respeito a alianças, mais que nunca deve haver, para o PT, uma única e determinante questão de princípio: nunca fazer alianças sem princípios!

Ou seja, nacionalmente, e em cada Estado, vamos formalizar alianças e definir nossos parceiros em torno de compromissos que tenham sintonia e equilíbrio com o progra-ma nacional e, obviamente, observem certas circunstâncias regionais.

Mas não admitiremos alianças que desfigurem o núcleo estratégico dos nossos progra-mas de governo, nem tampouco que impliquem concessões de princípio ou perda da identidade partidária.

Um partido verdadeiramente democrático e, sobretudo, um campo político que busca o poder para concretizar ideias em favor do país sabe equilibrar e distinguir bem as coisas.

As alianças são necessárias para contribuir nas vitórias eleitorais e na governabilidade futu-ra, mas elas não são vitoriosas, nem efetivas, sem o apoio decisivo dos movimentos sociais.

A chamada governabilidade social não exclui as futuras alianças no parlamento, mas, quanto mais ampla e firme ela for, menos estaremos vulneráveis a pressões circunstan-ciais de aliados, e mais poderemos avançar no nosso projeto nacional.

É fundamental, ainda, enfatizar uma característica central das democracias e às vezes pouco entendida por alguns setores da sociedade brasileira: a de que aliança significa unidade, mas significa, também, luta, contradições e conflitos.

São estes choques e atritos que geram a faísca que dispara o mecanismo de aceleração da qualidade dos sistemas democráticos.

Companheiras e companheiros,

No tsunami de manipulação que foi o processo político -- e judicial -- da AP 470, tentaram incutir nas mentes do povo a ideia de que a origem de tudo teria sido uma política equivocada de aliança pela governabilidade, concebida pelo PT.

É o típico caso da manipulação realimentando a mentira e da mentira realimentando a manipulação.

A história vai provar que nossos companheiros foram condenados sem provas, em um processo nitidamente político, influenciado pela mídia conservadora.

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Repito, sem titubear: nenhum companheiro condenado comprou votos no Congresso Nacional, não usou dinheiro público, nem enriqueceu pessoalmente.

Surpreendentemente, o suposto sentimento de punição e justiça continua sem alcançar determinados setores e partidos, o que caracteriza uma inegável situação de dois pesos e duas medidas.

Por que o silêncio de mais de uma década, no martelo dos juízes, no famoso mensalão do PSDB mineiro?

Por que o tratamento diferenciado de certos setores da grande imprensa em relação ao “trensalão” do governo tucano de S. Paulo?

Por que a tentativa insidiosa de tentar reverter o escândalo da máfia do ISS denunciado pela prefeitura paulistana?

Uma coisa ninguém poderá negar: nunca antes neste país se combateu tanto a corrup-ção como nos governos Lula e Dilma.

Nunca se estimulou e se permitiu a investigação de atos ilícitos, doa a quem doer.

Não faremos uma campanha no estilo “mar de lama” como nossos adversários estão acostumados, e na qual, aliás, foram treinados por seus ancestrais. Mas se enganam os que pensam que vamos levar injustiça e desaforo para casa.

Companheiros e companheiras,

Nossa militância precisa, na campanha que se avizinha, como também no dia a dia, travar a disputa de ideias na sociedade, defender os nossos valores, elevar o nível de consciência da população, convidá-la a participar da política, que a mídia conservadora tanto abomina.

Precisamos ter bem claro, na nossa cabeça, que o PT não pode ser uma mera máquina eleitoral, que se mobiliza a cada dois anos.

Ao contrário, nascemos e nos propusemos a praticar a política no cotidiano, a trazer milhões de trabalhadores para a política e ser um instrumento fundamental para trans-formar o País, instituindo, no Brasil, uma sociedade justa, fraterna e solidária, sem exploração, opressão, preconceitos ou discriminação de qualquer espécie.

Precisamos combater sem trégua o “terrorismo econômico” dos que prognosticam ín-dices descabidos de inflação, torcem pelo rebaixamento do Brasil pelas desacreditadas agências internacionais de ratings e que fazem um permanente road show de descrédito do nosso país no exterior.

É duro para eles, eu sei, verem crescer o desemprego no mundo e notarem que o nosso Brasil bate recordes de emprego e de aumento do salário e da renda.

É duro para eles, mergulhados na mediocridade de suas ideias, e desmoralizados pela incompetência dos seus governos no passado e no presente, não conseguirem trazer ideias que apaixonem o povo brasileiro.

Nós somos diferentes deles. Fizemos, fazemos e faremos mais. E bem feito. O povo brasileiro sabe disso.

Companheiras e companheiros,

O Brasil quer mais mudanças. O PT quer mais mudanças.

De minha parte, assumo o compromisso de promover mudanças no funcionamento

Discurso De rui FaLcão, presiDente nacionaL Do pt

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do nosso partido: a ampliação da formação política, com ajuda da Fundação Perseu Abramo, da Escola Nacional de Formação Política, associando a formação com a co-municação, que precisa existir de fato, ativando as redes sociais, criando instrumentos mais eficazes de comunicação para dentro e com a sociedade.

Precisamos aprofundar o conhecimento da realidade brasileira, da nova estrutura de classes existente no País, de suas aspirações e interesses. Não vamos converter o PT numa academia, mas o ativismo tem de ceder espaço à reflexão política, que tem im-portância vital para uma ação transformadora da sociedade.

Comprometo-me, também, a fortalecer os setoriais, cuja implantação nos diretórios municipais passou a ser obrigatória, conforme decidiu nosso 4o Congresso.

Comprometo-me, ainda, a responsabilizar toda a direção para que esteja mais presente junto à base, invertendo o movimento que predomina hoje, das bases rumo à direção.

Para isso, pretendo criar uma comunicação permanente, em tempo real, da Executiva Nacional com os presidentes estaduais, com os presidentes das capitais e das cidades com mais de 500 mil habitantes, complementarmente ao esquema de viagens regio-nais, como tenho feito ao longo dos últimos dois anos e meio.

A presença regular dos dirigentes nos Estados ajuda a mobilizar localmente, atrai a mídia, além de recolher críticas, sugestões e aprofundamento do conhecimento da realidade.

Além da disputa eleitoral de 2014, durante nosso mandato -- que irá até dezembro de 2017 -- vamos estimular a participação em debates e na elaboração de teses para a segun-da etapa do 5o Congresso programático, que se realizará no primeiro semestre de 2015.

Será o tempo, também, de criarmos uma nova agenda para o PT. Uma agenda que dialogue mais com os jovens, com os sem partido, com os movimentos sociais novos e os mais conhecidos da gente.

Que nos reaproxime mais da intelectualidade, que leve para o conjunto do partido o gosto e a fruição da cultura em sentido amplo.

Como diz o texto de contribuição ao 5º Congresso, “a socialização dos bens culturais, a valorização das distintas expressões de cultura e a preservação do patrimônio histórico e natural são componentes fundamentais da democratização da sociedade”.

O PT precisa passar por uma “revolução cultural” que, inclusive, contribua para for-mar novos e mais quadros dirigentes.

Caberá a nós, também, cuidar para que se faça uma transição geracional, que associe a experiência dos dirigentes atuais à juventude dos quadros que estão sendo forjados.

Um aggiornamento é igualmente fundamental, para combater as velhas práticas, os riscos de burocratização e de esclerosamento das estruturas partidárias.

Uma grande dedicação de todos nós é necessária para que o PT volte a ser aquele “in-telectual coletivo”, à altura de um partido de esquerda que se pretende revolucionário e comprometido com o socialismo.

Companheiros e companheiras,

Para concluir, quero reafirmar minha confiança na eleição da presidenta Dilma.

Mas esta confiança não pode significar, em nenhum momento, ficarmos de salto alto.

Estamos bem, somos favoritos, mas nada de triunfalismo, de soberba ou de subestima-ção dos adversários.

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Temos de nos preparar para vencer no primeiro e, se preciso, também no segundo turno.

Por isso, o engajamento e a participação da militância são decisivos, indispensáveis.

Sobretudo a militância voluntária, com nossas bandeiras, que têm de ser desfralda-das massivamente, com a estrela no peito e o olhar no futuro.

Sim, futuro é nossa palavra mais sagrada, nosso endereço mais preciso.

Nascemos construindo o futuro e será de construção do futuro as últimas palavras que sairão dos nossos lábios.

Como nos ensinaram, nos seus murmúrios finais, Gushiken e Deda.

Murmúrios tão poderosos que, em nossos ouvidos, têm a força de um brado.

O brado que anuncia um futuro ainda mais promissor para nosso Brasil e para o nosso povo.

Viva o PT!!!

Viva a nossa militância!!!

Viva o Brasil!!!

Viva o povo brasileiro!!!

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resoLução poLítica: “nunca Menos!”

Na esteira da Convocatória do 5º Congresso (dezembro de 2012) e da Resolução sobre a situação política (29 de julho de 2013), ambas aprovadas pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, o documento a seguir aponta um conjunto de temas importantes para o debate e para a ação do partido.

No ano de 2014 a ação do PT estará concentrada na reeleição da companheira Dilma Rousseff à presidência da República, na expansão de suas bancadas no Senado Federal, na Câmara de Deputados e nas Assembleias Legislativas. Da mesma forma, terá papel central o aumento do número de seus governadores. Claro está que todos estes embates eleitorais exigirão a consolidação, ampliação e qualificação de nossas alianças políticas, essenciais não só para vencer as eleições como para o exercício futuro dos governos em nível nacional e estadual.

Ainda que as questões programáticas em jogo nas eleições de 2014 não possam ser separadas totalmente de uma política de longo prazo do partido, é necessário evitar que temas de natureza estratégica se sobreponham e confundam o debate eleitoral do próximo ano.

O Partido dos Trabalhadores constituiu-se em uma conjuntura muito particular de nossa história contemporânea. A ditadura militar começava a dar sinais de esgotamen-to e multiplicava mecanismos para protelar seu fim. As forças da oposição partidária consentida estavam divididas no que se refere à reconstrução democrática do país e a como conduzir a economia no futuro. A maioria das organizações de esquerda havia sido dizimada pela repressão e não eram capazes de, isoladamente, oferecerem alterna-tivas a quase duas décadas de autoritarismo político e de exclusão social.

Mas, do fundo da sociedade brasileira, renasciam movimentos de trabalhadores das cidades e do campo, somando-se à trajetória de construção do PT, dando grande capi-laridade social e eficácia política a suas demandas. É o caso, também, do movimento de mulheres, incorporando o feminismo no programa de construção de uma sociedade igualitária; de segmentos democráticos das “classes médias”, clamando por liberdade e justiça social; de intelectuais e artistas progressistas, participando decisivamente daque-le momento fundacional.

O PT não nasceu como decorrência de um projeto teórico pré-existente. Quando de seu surgimento, as grandes correntes da esquerda mundial viviam profunda crise político-ideológica. Foram novos sujeitos sociais que formularam, no seu interior, a estratégia e as táticas partidárias. Eles ajudaram a construir os programas e os instru-mentos de transformação da sociedade brasileira. Posteriormente, as experiências nos parlamentos, nos governos municipais e estaduais e as lutas sociais favoreceram a for-mulação das linhas gerais com as quais os governos Lula e Dilma começaram a realizar a grande mudança pela qual o Brasil vem passando nos últimos anos.

O Brasil mudou, em grande medida, graças à existência do PT. O partido viu-se con-frontado a novos desafios, muitos dos quais resultantes das mudanças que ele mesmo provocou e conduziu. Neste contexto está inserido o propósito do 5º Congresso do PT, ou seja, apontar um programa que responda aos desafios de disputar e vencer eleições

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locais, estaduais e principalmente nacionais, de ser governo e responder aos desafios imediatos em cada esfera e ao mesmo tempo apontar para o futuro, apresentar utopias e esperanças, agregando forças na disputa hegemônica, reafirmando nosso posiciona-mento de Partido que se propõe a representar os trabalhadores e trabalhadoras e os setores menos favorecidos da sociedade brasileira, que contribui com a construção do projeto estratégico do socialismo.

O debate programático proposto para o 5º Congresso é necessário porque o Brasil passou por mudanças significativas, especialmente na última década, combinou es-tabilidade econômica, crescimento e distribuição de renda, produziu uma mudança significativa na estrutura social, a emergência de novos atores sociais e políticos, novos valores e demandas, que requerem nosso olhar, reflexão e propostas de futuro. O PT também mudou, tanto frente ao desafio de ser governo, de ter que lidar com a estrutura política do poder central, com o sistema partidário e de governabilidade, quanto na sua relação com a sociedade e também no âmbito interno do funcionamento partidário.

Compreender o sentido profundo dessas mudanças -- internas, nacionais e internacio-nais -- é fundamental para que o Partido dos Trabalhadores possa continuar desempe-nhando o papel central que teve nesta quadra de nossa história republicana.

Se é verdade que as vertiginosas mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais pelas quais vem passando o mundo e nosso país exigem profundidade de análise e sofisticação de propostas, não é menos certo que devemos aplicar esse exercício crítico também a esse instrumento de ação política que é o Partido dos Trabalhadores. Nesse sentido, o último debate mais aprofundado sobre o tema do programa petista ocorreu há quase duas décadas e resultou na elaboração do programa democrático e popular, que serviu de referência para as disputas hegemônicas nesse período. Suas bases foram importantes como ponto de partida para a elaboração dos programas de governo apre-sentados a cada eleição presidencial, ainda que sofressem alterações e adequações às questões conjunturais e movimentos táticos de cada pleito eleitoral. Porém, depois das mudanças experimentadas pelo Brasil e do acúmulo de experiências da prática petista, nosso programa requer um novo olhar atento e aprofundado.

A reflexão que se iniciou nesta primeira etapa do 5º Congresso, ganhará mais profun-didade à medida que as vitórias eleitorais de 2014 exigem de nós clareza de análise e proposições que correspondam aos desafios que temos por diante. Para isso é necessá-rio, em primeiro lugar contextualizar a situação conjuntural, especialmente no âmbito econômico e político mundial, e os valores e estratégias que estão em disputa neste contexto, para em seguida avaliar criticamente a experiência do PT no governo federal, buscando também sistematizar as práticas dos nossos governos estaduais e locais e a relação política com os parlamentos em cada esfera.

A Convocatória do 5º Congresso conclamou o PT a realizar um balanço de seus 33 anos de existência e da experiência do Governo Democrático e Popular iniciado em 2003, com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, cuja continuida-de foi assegurada com a eleição de Dilma Rousseff, em 2010.

O documento destacou a Grande Transformação econômica, social e política que mu-dou a cara do Brasil, projetando o país, de forma inédita, na cena internacional. Agora, a presente resolução política desta primeira etapa do 5º Congresso serve de “pontapé inicial” para o debate, propondo um método de diálogo com os filiados do PT, com os simpatizantes e setores organizados que compartilham nossos objetivos estratégicos. Desta forma, o 5º Congresso do PT será capaz de apontar para o futuro do país, conti-nuar encantando mentes e corações e acumulando forças rumo ao socialismo.

resoLução poLítica “nunca Menos!”

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Ao mesmo tempo em que celebrava as conquistas de uma década, a Convocatória cha-mava a atenção para as lacunas que persistem na reflexão partidária. Entre elas, que o PT não tem sido capaz de construir uma narrativa de sua experiência governamental, tarefa de enorme importância política.

A um governo progressista não bastam realizações -- e elas foram muitas e relevantes --, é indispensável um discurso que dê conta das transformações realizadas, de seus alcan-ces e limites e, sobretudo, de seus desdobramentos futuros.

É fundamental mostrar como essas mudanças fazem parte de um projeto mais am-plo de transformação da sociedade brasileira. Temos de evitar a autocomplacência, a perda de perspectiva crítica e analisar os obstáculos que se colocam à ação gover-namental e partidária.

Em algum lugar do mundo, apareceu há tempos, nos muros de uma cidade, a consigna “Basta de realizações, queremos promessas!” Essa inscrição, bizarra e aparentemente insensata, apontava, no entanto, para uma questão crucial: as limitações de algumas experiências de governos de esquerda. Mostrava que o realismo político -- que o exercí-cio de responsabilidades governamentais exige -- não pode sufocar a utopia, ficar cego e surdo às demandas que surgem na sociedade, mesmo quando elas aparecem como contraditórias.

Resumindo: não é fácil para um governo, sobretudo de esquerda, estabelecer equilíbrio entre ação e reflexão, entre o urgente e o importante, resolver as dificuldades institu-cionais e burocráticas que se antepõem à ação governamental, entender e dar conta das novas reivindicações que surgem na sociedade.

Mas não é fácil para o Partido, tampouco, realizar a complexa tarefa de apoiar seu governo e, ao mesmo tempo, empurrá-lo para além dos limites que lhes impõem a conjuntura e/ou instituições, muitas vezes arcaicas.

Os partidos políticos de oposição, e os meios de comunicação que os substituíram, têm sua versão sobre os nossos quase doze anos de governo. Tem sido dito e escrito que os êxitos econômicos de Lula-Dilma foram apenas continuidade do governo FHC. Omitem a herança deixada: recessão, juros abusivos, fortes pressões inflacionárias, des-controle cambial, vulnerabilidade externa, para só citar alguns itens.

As políticas sociais têm sido apresentadas como extensão de iniciativas do governo anterior. Os mais radicais as desqualificam como “esmola populista”. A política externa soberana -- altiva e ativa -- é caracterizada como “isolacionista”, fruto de um “extremis-mo terceiro-mundista”.

Grupos que, no passado, haviam privatizado o Estado, promovendo desmandos e pri-vilégios, se transformaram em arautos da ética e da moralidade, escondendo as iniciati-vas de nossos governos, de transparência e de combate aos malfeitos.

Quem governou longe da sociedade, criminalizando os movimentos sociais, se sente hoje no direito de apontar para supostas tentações “autoritárias” -- quando não “tota-litárias” -- do PT. Esses e muitos outros exemplos mostram a necessidade do Partido construir a narrativa de seus governos. Sem ela, ficamos na defensiva, ao sabor das versões que os monopólios de comunicação constroem cotidianamente.

Desde 2003, sobretudo, temos enfrentado crescente dificuldade em mudar o sistema político brasileiro, verdadeira camisa de força que impede transformações mais profun-das e impõe um “presidencialismo de coalizão”, que corrói o conteúdo programático da ação governamental.

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Crítico à conciliação que tem marcado a história do Brasil, o partido tem conseguido imprimir novo rumo e ritmo às suas políticas. Mas é ainda prisioneiro de um sistema eleitoral que favorece a corrupção e de uma atividade parlamentar que dificulta a mu-dança, a despeito da vontade das forças progressistas. O sistema judicial, lento, elitista e pouco transparente, tem sido igualmente permeado por interesses privados.

As medidas de reforma do Estado não foram capazes de remover os obstáculos bu-rocráticos que criam empecilhos para o avanço mais rápido dos grandes projetos de infraestrutura, vitais para dar nova qualidade a nosso desenvolvimento.

A máquina estatal brasileira, em todos os níveis, está arraigada por uma cultura clien-telista e patrimonialista, que enfraquece o papel dos partidos, das ideologias e dos pro-gramas e favorece os interesses individuais e a corrupção. Apesar de alguns esforços partidários e de governo, ainda não foi possível quebrar essa lógica e promover uma ampla reforma política, capaz de fortalecer a representatividade dos partidos perante a sociedade, de implementar mecanismos de controle e transparência sobre a política de modo geral, que são essenciais para combater a corrupção e fortalecer a cidadania.

Partido e governo não souberam, afinal, desenvolver instrumentos de comunicação social que pudessem contra-arrestar a permanente ofensiva conservadora dos grandes proprietários de jornais, rádios e televisões.

Na justa celebração das conquistas dos governos democrático-populares, não podemos esquecer os enormes déficits sociais que ainda perpassam nossa sociedade: na saúde, na educação, no cotidiano das grandes cidades, especialmente na mobilidade urbana, no enfrentamento da violência e na segurança cidadã. É importante que o governo afirme que o fim da pobreza é apenas um começo. Mas é igualmente importante avançar na reforma político-institucional do país, para dar continuidade e mais velocidade à tran-sição econômica e política em curso.

É preciso valorizar as conquistas obtidas com as políticas para as mulheres, que tiveram expressão na criação dos organismos de política para mulheres, de enfrentamento da violência, de empoderamento das mulheres do Brasil, em diversos aspectos, como no caso das jovens negras, com a democratização do acesso à educação superior e técnica. E também buscar maiores avanços na promoção da igualdade em termos econômicos, sociais e culturais para a superação do patriarcado, ainda muito presente no Estado e na sociedade.

O governo e o PT, principais responsáveis pela Grande Transformação da última década, sofreram paradoxalmente os efeitos das mudanças que desencadeamos. Essas mudan-ças fizeram emergir novos segmentos sociais, portadores de novas demandas, valores e aspirações que, muitas vezes, não tivemos a capacidade de entender plenamente.

Em recentes processos eleitorais -- no último pleito municipal de São Paulo, por exem-plo -- já se havia manifestado o fenômeno da atração de parte do eleitorado tradicio-nalmente petista por um candidato conservador, revestido de discurso populista. Nas manifestações de rua, de junho de 2013, amplos segmentos da sociedade, sobretudo jovens, expressaram sua desconformidade para com a precariedade de muitas políticas públicas. Mais do que isso, manifestaram de forma difusa e não raro contraditória, seu desconforto com o sistema e as práticas políticas brasileiras. Esses protestos atingiram as instituições e os políticos em geral e não pouparam nem mesmo o PT e governantes ligados ao partido.

Sem compreender plenamente o alcance e os limites das mudanças realizadas e o que estão pensando e sentindo os novos atores sociais, será impossível superar as dificulda-des do momento.

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Não se trata de converter o Partido e o governo em uma academia, mas de atribuir à refle-xão política e econômica a importância decisiva que ela tem para uma ação transforma-dora. Neste sentido, é necessário também buscar uma síntese e um balanço das práticas dos governos petistas, no âmbito dos estados e municípios e na relação entre governo e parlamento, tanto nas situações em que somos governo, quanto onde somos oposição.

Para tanto, reconhecemos que houve uma acomodação e há grandes limites no que se refere ao registro das experiências e na elaboração do modo petista, especialmente se comparado ao que ocorreu em décadas anteriores, quando o modo petista de governar era destacado como uma referência para o conjunto do Partido e um instrumento de disputa de ideias e de projetos nos momentos eleitorais e fora deles, na base da socie-dade. Reconhecemos a necessidade de retomar essa prática e lançamos esse desafio para as direções do PT nos estados e municípios, para nossos executivos e bancadas, em cooperação com a Fundação Perseu Abramo.

uM MunDo eM transição

Em 2008, a falência do Lehman Brothers desencadeou a mais grave crise da econo-mia mundial desde 1929. Nos anos que antecederam esse episódio, muitos analistas denunciavam as ameaças que as políticas econômicas das grandes potências -- sobre-tudo dos Estados Unidos -- traziam para o conjunto da humanidade. A desregula-mentação financeira havia transformado a economia mundial em um grande cassino, aumentando os riscos inerentes à atividade especulativa. Os Estados Unidos e a União Europeia experimentaram desaceleração, quando não recessão, de suas economias. Já a República Popular da China, depois de mais de duas décadas de crescimento acelera-do, chegou à condição de segundo PIB global, com perspectiva de superar os EUA na próxima década, na dependência do êxito que tenha sua nova política de privilegiar a expansão de seu mercado interno.

Nos primeiros anos, a crise afetou desigualmente a economia mundial. Além da China, Brasil, Índia e Rússia experimentaram forte expansão, passando a ser responsáveis pelo crescimento da economia mundial.

Mas os efeitos prolongados da crise atingiram, mais tarde, também países ditos emer-gentes, que não conseguem hoje reproduzir os bons resultados dos últimos anos, como se pode ver do desempenho atual da China e do próprio Brasil, entre outros.

No caso brasileiro, o dinamismo que a expansão do mercado interno criou, ainda que muito importante, não foi suficiente para garantir o crescimento mais acelerado que o país necessitava para dar conta dos enormes desafios que tinha pela frente.

Apesar dos avanços que se observam no Sul do mundo, que a formação e desenvolvi-mento do BRICS ilustram, as dificuldades que ainda enfrentam as grandes economias capitalistas semeiam incerteza sobre o futuro.

A expansão monetária praticada originalmente pelos EUA e mais tarde pelo Japão acar-retou graves problemas para as economias “emergentes” -- sobrevalorização de moedas nacionais -- afetando sua capacidade exportadora. A mudança recente dessa orientação, por parte do Banco Central (FED) dos EUA, poderá comprometer os investimentos nos países chamados emergentes.

A União Europeia, mesmo tendo conseguido superar as ameaças que pesavam sobre o Euro, vive um prolongado período de recessão, agravado pelas políticas de “auste-ridade”, que estão desmontando o Estado de Bem-Estar construído no pós-Segunda Guerra Mundial. Milhões de homens e mulheres -- sobretudo jovens -- são lançados no desemprego e na desesperança. A persistência dessas políticas conservadoras, muito

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semelhantes àquelas praticadas pelos governos latino-americanos nos anos 80 e 90 do século passado, não encontra respostas à altura na maioria das forças de esquerda do Velho Mundo, estejam elas no governo ou na oposição. Abrem espaço para o cresci-mento de grupos de extrema-direita, para a proliferação do racismo e da xenofobia e corroem a democracia. Exemplo disso foram os “golpes” políticos aplicados pela alta finança na Grécia e na Itália, que desembocaram na constituição de governos tecnocrá-ticos nesses dois países.

A continuidade dessas políticas tende a aprofundar a recessão, produzindo resultados opostos àqueles pretendidos e anunciados. A América Latina, como foi dito, conhece bem essa história! O capitalismo, quando não sofre pressão das esquerdas, tende a mos-trar sua face mais cruel.

Do ponto de vista político, a situação europeia acompanha seu declínio econômico. A Europa tem sido “terceirizada” pelos Estados Unidos para aventuras militares neocolo-niais na África, sobretudo, ou para provocações como a que envolveu o constrangimen-to imposto ao Presidente Evo Morales, “acusado” de transportar em seu avião o cidadão norte-americano Edward Snowden.

Os Estados Unidos superaram a fase mais aguda da crise, em função da força de sua economia, da capacidade de sua produção científica, tecnológica e de inovação -- que injeta nova vitalidade a sua indústria -- de seu poderio militar, e da autonomia energé-tica que vêm conquistando. Mas essa potência está enfrentando graves problemas, na esfera social e política.

No âmbito social, a recuperação da economia norte-americana tem sido acompanhada de forte concentração de renda, que aprofunda a desigualdade social. A divisão que o país atravessa dificulta a adoção de políticas sociais para atenuar as desigualdades. A paralisação da atividade governamental, como consequência do boicote Republicano no Congresso, é um exemplo.

As pressões conservadoras têm empurrado a política externa mais para a direita, em linha semelhante ao governo Bush. A prioridade concedida à segurança tem sacrificado os proclamados ideais de liberdade. As “execuções” indiscriminadas e sem julgamen-to, cometidas por aviões não-tripulados dos EUA, as denúncias do WikiLeaks e, mais recentemente, de espionagem global, particularmente no Brasil, corroem a imagem li-beral que os EUA pretendem projetar no mundo. O fiasco da posição norte-americana em relação à Síria e as oscilações no caso do Irã mostram o caráter errático da posição do EUA no mundo.

Hostil ao multilateralismo, os EUA formulam uma política de contenção da China e, mais discretamente, do BRICS. Suas propostas de uma zona de livre comércio com a Europa e a TPP (Parceria Trans-Pacífica) fazem parte dessa estratégia, assim como o estímulo à formação da Aliança do Pacífico, que reedita, de forma pouco disfarçada, o derrotado projeto da ALCA e busca criar uma alternativa ao Mercosul, à União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e à Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (CELAC).

A humanidade vive tempos incertos, cuja análise se faz urgente. A história ensina que, em circunstâncias semelhantes, são fortes os riscos de soluções de força para enfrentar as grandes contradições mundiais.

Ganha importância, assim, a política externa brasileira fundada na luta pela paz, na defesa do princípio de não-intervenção nos assuntos internos de outros países, na afir-mação do multilateralismo e na constituição de um mundo multipolar, capaz de dar nascimento a uma nova correlação de forças mundial.

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Na América Latina, que tinha uma história de governos submetidos aos padrões de dominação colonial ou imperialistas, elegeram-se governos de esquerda na maioria dos países, que mesmo sem uma política articulada de desenvolvimento regional, significa-ram um freio na relação internacional subalterna e representaram avanços significativos no campo social e na consolidação das democracias.

Com o fim do apartheid, sob a liderança de Nelson Mandela, a África do Sul foi um marco importante na perspectiva de se iniciar um processo histórico distinto naquele continente, sempre visto como inferior principalmente pelos países colonialistas e impe-rialistas ocidentais. O Brasil vem buscando colocar em prática formas alternativas de re-lações internacionais com países africanos, tanto no que diz respeito ao perdão de dívidas externas, como na relação de integração solidária, para além dos aspectos econômicos e capitalistas, sempre respeitando a autonomia e autodeterminação dos povos africanos.

Por isso, continuamos acreditando que outro mundo é possível e reafirmamos nosso compromisso com um modelo de desenvolvimento equilibrado e sustentável, com a superação das desigualdades sociais, a erradicação da miséria e da fome, a articulação de um programa mundial de segurança alimentar, com uma política estratégica de acúmulo de forças para a superação do capitalismo e a reinvenção de um sistema glo-bal baseado na superação das assimetrias entre os povos, articulado com os valores da soberania dos povos, da multiculturalidade, do diálogo e da paz.

DesaFios proGraMáticos

Reiterando que a orientação programática do 5º Congresso do PT não se confunde com o enfoque que deve ter o programa de nossos candidatos nas eleições de 2014, ex-plicitam-se aqui os principais desafios do partido, em uma perspectiva mais duradoura.

Uma política econômica que, preservando a estabilidade macroeconômica, seja ca-paz de impulsionar crescimento mais acelerado do país. O fortalecimento do mercado interno é plenamente compatível com um maior dinamismo de nossas exportações. O desenvolvimento será logrado com a expansão do investimento, com a continuidade e aprofundamento da renovação da estrutura logística e energética do país, com maior produtividade, resultante do desenvolvimento da educação e da inovação, e com um controle e regulação maior do capital financeiro, dando prioridade à atividade produtiva.

Uma política de desenvolvimento que incorpore o bem viver e as necessidades das pessoas, que reconheça e visibilize o trabalho das mulheres como parte determinante da sustentabilidade da vida humana, que rompa com a divisão sexual do trabalho, tendo como aspectos essenciais a conquista da autonomia econômica e a emancipação social das mulheres.

Uma reforma tributária com taxação progressiva, que desonere os setores populares e sirva como medida redistributiva de renda.

Políticas sociais em sintonia com a política econômica, como vem ocorrendo, darão continuidade ao combate à pobreza e à desigualdade, por meio de políticas de empre-go e renda, crédito, apoio técnico e financeiro à pequena, micro e média propriedades (urbanas e rurais), educação e saúde de qualidade, habitação e saneamento, mobilidade urbana e segurança cidadã. Além disso, é importante ressaltar o papel da mulher nos programas de segurança alimentar, cujo protagonismo é um dos principais fatores de sucesso dessas políticas. Sugerimos, ainda, a constituição de um grupo de trabalho que estude as etapas para realizar a transição do Programa Bolsa Família para a Renda Básica de Cidadania (tal como aprovado pelo 4º Congresso do PT).

Novo desenvolvimento urbano, com reforma urbana para modificar a lógica da especu-lação imobiliária, um dos principais pilares do capitalismo, garantindo que morar deixe de

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ser um privilégio e passe a ser um direito assegurado. E uma política de mobilidade urbana que priorize o transporte coletivo, com controle público e que enfrente o poder das em-presas de transporte, além de políticas de desincentivo ao uso desnecessário do automóvel.

Fortalecimento e aprofundamento da democracia, o que exige um ritmo mais acele-rado da reforma do Estado e das instituições políticas e do combate à corrupção. Sem essas mudanças -- que incidirão sobre a organização dos partidos, sobre as eleições e a participação social -- será impossível superar a crise dos mecanismos de representação, que se arrasta há anos e que ganhou particular importância no último período. O país tem de realizar uma mudança constitucional, a ser obtida por meio de variados mecanismos de consulta ao povo, como o plebiscito. Somente a renovação de nossas instituições democráticas dará aos governos e à sociedade a estabilidade necessária para o desenvolvimento econômico e social e para o pleno exercício da liberdade. Também é preciso ampliar a participação das mulheres, bloqueada pelo atual sistema de represen-tação política, afirmando uma agenda de reforma política que garanta o financiamento público de campanha, lista fechada, pré-ordenada, alternada e paritária.

A luta por uma Assembleia Constituinte, unicameral, proporcional (um eleitor, um voto), com voto em lista e financiamento público, de modo a abrir caminho para as aspirações populares mais profundas de justiça social e soberania nacional. O PT apoia a iniciativa de movimentos sociais, centrais sindicais e outras entidades de orga-nizar, na Semana da Pátria de 2014, o Plebiscito Popular pela Constituinte Exclusiva para a Reforma Política. Somente a mobilização social amplificará a necessidade da Constituinte Exclusiva para uma efetiva reforma política, como a presidente Dilma e o PT defenderam no curso das manifestações populares de junho.

Combate à violência do Estado e na sociedade. É urgente desmilitarizar as polícias estaduais, combater a tortura, reformar radicalmente o sistema prisional. A cidadania e os direitos humanos são atingidos duramente pelo massacre sistemático de nossa ju-ventude, pela multiplicação dos atos de violência contra as mulheres, pelas recorrentes manifestações de racismo e homofobia. Não haverá democracia sem cidadania forte. É fundamental a expansão dos direitos civis e a garantia plena de direitos para todos os setores da sociedade -- minoritários ou não.

O combate ao patriarcado deve se dar sobre várias dimensões. A primeira delas é a construção de políticas públicas que rompam com a atribuição exclusiva das mulheres como responsáveis pelos cuidados da vida; com a visão machista que reduz as mulheres e seus corpos a condição de mercadoria; fortalecendo a autonomia pessoal, política e econômica das mulheres jovens, lésbicas, negras, rurais, da floresta e urbanas.

Avançar a reforma agrária, fundamental para rompermos com a lógica da concentra-ção fundiária, acabando com o latifúndio improdutivo e garantindo aos trabalhadores rurais o direito à terra, bem como buscando uma nova forma de produção agrícola.

Expansão e qualificação da educação, da ciência, tecnologia e inovação como ele-mentos essenciais para um novo projeto de desenvolvimento e para a extensão da cida-dania. Construir um projeto popular e democrático de educação, que avance a reforma universitária para além da democratização do acesso, transformando as estruturas bu-rocráticas e curriculares das universidades, que permanecem conservadores. É preciso uma reformulação do ensino médio e fundamental, que aponte para uma educação sócio-referenciada, interdisciplinar, que reconheça o estudante como protagonista da construção de sua aprendizagem, visando que a educação seja a ferramenta emancipa-dora dos cidadãos, para que esses sejam sujeitos de mudanças na sociedade. É preciso romper com a lógica ainda vigente, de mercantilização do conhecimento produzido nas universidades e centros de pesquisas públicos.

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Socialização dos bens culturais, valorização das distintas expressões da cultura e pre-servação do patrimônio histórico e natural, enquanto componentes fundamentais da democratização da sociedade. Para que esses princípios se afirmem será necessário ga-rantir a mais ampla e irrestrita liberdade de expressão, combater os monopólios da “indústria cultural” e regular os meios de comunicação, sem que isso implique em qualquer forma de censura ou controle de conteúdos.

Na política externa e interna, defesa dos princípios de uma economia social e am-bientalmente sustentável, com todas as consequências no plano energético, agrícola, industrial e no ordenamento urbano.

Uma política externa que continuará marcada pela presença soberana do país no mundo, pela busca da paz, respeito ao direito internacional e à autodeterminação dos povos, fortalecimento do multilateralismo e crescente integração da América do Sul, da América Latina e Caribe, assim como aliança com a África.

DeMocracia participativa

A reforma político-eleitoral como defendíamos, não foi aprovada no Congresso Nacional, nem mesmo chegou à ordem do dia. As eleições de 2014 serão novamente realizadas sob a égide do poder econômico.

Devemos, no entanto, fazer da campanha eleitoral um instrumento poderoso de agi-tação da proposta de lei de iniciativa popular, de engajamento partidário na defesa da Constituinte exclusiva e soberana para realizar a reforma político-eleitoral. O sucesso nesta luta não dependerá apenas do PT, mas de uma grande mobilização junto com outras forças políticas e sociais.

A luta pela reforma política, através da Constituinte exclusiva, é um viés da luta demo-crática que tem que ser desenvolvida plenamente. Há, no entanto, outra dimensão da participação popular, igualmente importante e fundamental para alterar a correlação de forças e construir a hegemonia política necessária ao processo de transformação: a construção de mecanismos de participação popular direta, combinada ao estímulo e fortalecimento das Conferências e dos Conselhos Nacionais setoriais, como órgãos de formulação de políticas públicas junto aos vários ministérios.

A Constituição e nosso Programa sustentam a iniciativa do Executivo, de devolver a so-berania delegada à Presidenta diretamente à população, para que de forma organizada se debata e delibere as prioridades no gasto público. Em cada Estado, os movimentos sociais de forma autônoma podem organizar reuniões regionais e estaduais para definir prioridades dos recursos federais no Estado. Os parlamentares federais e estaduais, enti-dades sindicais e associativas em geral, inclusive empresariais, devem ser chamados para esse processo democrático e transparente, que definirá prioridades para o uso de valores pré-estabelecidos do Orçamento Público, sendo que o ideal é que se conheça e discuta o conjunto da peça orçamentária. Os recursos destinados às emendas parlamentares são um bom começo. Estas, hoje, são um sinônimo de clientelismo e corrupção, além de pulveri-zarem recursos públicos de forma individual e deseducativa para a formação da cidadania.

Esse é um processo republicano, transparente, democrático; é um processo estratégico de construção de hegemonia na sociedade, pois sua abrangência permite disputar polí-ticas públicas, obras, serviços básicos e bens culturais.

Com um mínimo de recursos e com metodologia uniforme para o país, se estabelece outra relação de disputa de hegemonia e governabilidade, sem permanecer refém do jogo congressual já definido.

A estrutura e capilaridade federais já existentes, mais a relação com os movimentos sociais, garantem a materialização do processo. O exemplo das conferências -- que

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devem ser mantidas e ampliadas -- mostra como os movimentos sociais mobilizam-se, participam e querem fóruns deliberativos.

JuventuDe

As grandes mobilizações ocorridas no Brasil, especialmente a partir de junho de 2013, constituem motivo de comemoração e otimismo. O país, nosso governo e nosso Partido dos Trabalhadores necessitavam deste chacoalhão, que abre a possibilidade de avançarmos, e avançarmos mais rápido, no processo de reformas sociais e políticas, para melhorias nos serviços públicos, com ênfase para mobilidade urbana, saúde e educação.

Mas para que isto ocorra, é necessário que nosso Partido faça uma detida reflexão sobre os acontecimentos, que não constituíram um raio em céu azul, ao menos para os que vi-nham acompanhando a mudança nas condições do país, desde o início do governo Dilma.

As resoluções do próprio Partido já vinham apontando para a urgente necessidade de reformas estruturais mais profundas no país, inclusive no âmbito da comunicação, edu-cação e cultura. A Convocatória do 5º Congresso (dezembro de 2012) sinalizava para certos limites de nossa estratégia, para algumas contradições crescentes de nossa política, a alteração na postura do grande Capital, a ofensiva ideológica e política dos partidos de direita e da mídia, o distanciamento de várias de nossas bases sociais e eleitorais, o atendimento limitado de determinadas necessidades e demandas das massas populares, as mudanças sociológicas e geracionais que estavam ocorrendo no país.

Por exemplo: a mais alta proporção de jovens e jovens trabalhadores no conjunto da população, com acesso a empregos precários e mal remunerados, dividindo seu tempo entre trabalho, estudo e transporte, o que ajuda a entender porque a qualidade do transporte e o valor das tarifas são temas tão sensíveis.

A partir de 13 de junho de 2013, a quantidade converteu-se em qualidade, num pro-cesso de mobilização social que devemos analisar com o máximo de atenção. Cabe ao Partido elaborar uma síntese capaz de nos orientar melhor na luta política, inclusive caso episódios semelhantes voltem a ocorrer.

Em primeiro lugar, é preciso atentar para a heterogeneidade do processo. Não apenas a existência de múltiplos movimentos, setores sociais e políticos envolvidos, disputando e sendo disputados. Mas também a existência de etapas distintas no processo, as vezes com sentido e hegemonia distintas. Está claro, por exemplo, que o movimento começou em torno da luta contra as tarifas do transporte urbano; cresceu como movimento de solida-riedade contra a repressão policial; depois entrou numa terceira fase, onde a direita passou a disputar com força a condução do movimento; houve então uma reação do governo e das esquerdas, em torno principalmente da proposta de Plebiscito sobre a reforma política.

Em segundo lugar, é importante destacar a predominância da juventude. Cabe analisar melhor o perfil deste setor social que foi às ruas. E atentar para o fato de que a juven-tude, especialmente nas periferias, é alvo de uma pauta predominantemente negativa: violência do Estado, toque de recolher, redução da maioridade penal, com mais de 25 mil jovens negros morrendo vítimas de homicídio todo ano. Numa primeira aproxi-mação, podemos dizer que, ao menos na primeira etapa, foi às ruas uma juventude tra-balhadora ou filha de trabalhadores, com idade média até 25 anos e escolaridade mais elevada, exatamente o setor social e geracional que nossas próprias pesquisas e análises indicavam estar ganhando distância frente ao PT.

A intensa mobilização juvenil, de uma geração que nasceu depois da campanha das Diretas Já, quebrou dois mitos: o de que a juventude seria naturalmente de esquerda e progressista; e de que seria uma juventude alienada e desinteressada da política.

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Em terceiro lugar, é necessário reconhecer e reafirmar o sentido em geral progressista das demandas e do processo. Ampliação dos direitos sociais e mudança no sistema polí-tico do país são bandeiras do PT, da esquerda, dos setores progressistas do Brasil. Tarifa zero, como educação e saúde públicas, não são plataforma da direita, do grande Capital e dos setores conservadores, ainda que estes setores tentem dirigir um movimento cujo conteúdo é no limite contraditório com seus interesses de classe. Como já apontaram muitos, o sentido das ruas está em contradição com o desejo dos mercados.

Em quarto lugar, é fundamental perceber que se trata de um movimento originalmente espontâneo. Claro que em todo movimento espontâneo há incoerências e confusão, elementos organizados, disputa política, interferência da direita, momentos de fluxo e refluxo, desfechos incertos. Mas exatamente isto é um movimento espontâneo: cente-nas de milhares de pessoas que passam a querer ter ação política, as vezes superando e atropelando até mesmo as ações e forças sociais organizadas, que por exemplo, estive-ram presentes desde o início no Movimento Passe Livre.

Em quinto lugar, é preciso perceber que uma eclosão social como a ocorrida em junho de 2013 pode ajudar a deslocar a correlação de forças do país para a esquerda. Mas, se não houver a devida condução política, o oposto também pode ocorrer. O consórcio mídia-partidos de direita está sempre disputando a consciência popular, para converter um movimento de pressão por mais políticas públicas e mais democracia política, num movimento contra o PT e contra o governo. Aliás, setores da direita brasileira vem tentando incorporar no seu leque de alternativas uma tática de desestabilização que busca mimetizar aquela adotada pela direita venezuelana, articulando mídia e oposição partidária, com disputa de rua. Ainda que com propósitos distintos, setores da oposi-ção de esquerda têm o mesmo objetivo, acreditando que é possível “ultrapassar” o PT pela esquerda, embora os acontecimentos tenham demonstrado que uma derrota do PT abriria caminho para a derrota de toda a esquerda.

Nossa opção deve ser disputar os rumos do processo, não contra ele, mas estimulando e apoiando-se na mobilização, para realizar mais mudanças sociais e políticas no Brasil. Neste país em mudança, uma nova geração de jovens entra em cena. Contrariando o senso comum conservador de que a juventude é apática e despolitizada, acompanha-mos o surgimento cada vez maior de novas redes e formas de participação da juventu-de. No trabalho, nos estudos ou mesmo conectada ao mundo a partir da internet, per-cebemos na ação comunitária, nas redes sociais ou nas marchas e movimentos juvenis, uma atuação coletiva cada vez mais diversificada.

No entanto, estes novos atores não foram às ruas tendo o PT como referência princi-pal. O PT, mesmo com quase 30% da preferência do eleitorado nacional, tem perdido apoio nas novas gerações. Para grande parte dos jovens, o partido é visto como igual aos partidos tradicionais. A crescente institucionalização, o refluxo do debate ideológico, a ausência de discurso e diálogo com os movimentos juvenis reforçam este estigma.

A situação exige do PT a capacidade de disputar opinião junto a essa “nova juventude”, enfrentando a direita e a imprensa golpista, dialogando com novas frentes que vão além dos movimentos sociais convencionais. Em cada canto do Brasil, o PT deve dia-logar com as atuais gerações em torno de um programa radical de transformações, não apenas para convencê-las de que somos melhores gestores que os tucanos. A maioria dos jovens que foram às ruas em junho, e que devem voltar, são filhos de uma classe trabalhadora em ascensão, portanto base social do programa democrático e popular e possível de ser ganha para o socialismo.

Em face destes desafios, o 5º Congresso convoca para o primeiro semestre de 2014 o Encontro Nacional da JPT, precedido obrigatoriamente de etapas estaduais e com a

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possibilidade de renovação das direções, conforme critérios elaborados pelo Conselho Político da JPT e referendados pela Direção Nacional do PT.

DesenvoLviMento e DeMocracia

Os avanços que conquistamos ao longo dos governos Lula e Dilma foram fundamen-tais para barrar o neoliberalismo e iniciar um novo curso para o Brasil, com forte im-pacto na América Latina. Produzimos uma ampla inclusão social e política, que precisa ser aprofundada, porque a realidade brasileira continua marcada por desigualdades sociais extremadas e perigosos entraves à democracia.

Precisamos avançar na democratização do poder, com reforma política, democrati-zação dos meios de comunicação e o Marco Civil da Internet. É preciso simultanea-mente aprofundar os objetivos do desenvolvimento, com mais distribuição de renda e empregos de maior qualidade, com redução da jornada de trabalho, reforma tributária e maior capacidade do Estado, democratizado, sobrepor-se aos oligopólios privados, sobretudo ao capital financeiro e à sua campanha permanente por mais juros, mais superavit, autonomia do Banco Central e, por consequência, menos direitos sociais e menos democracia.

A construção de uma estratégia econômica de desenvolvimento é um elemento central para termos uma nação soberana, com igualdade e com democracia, ativa na constru-ção da paz e do desenvolvimento dos povos.

Essa estratégia contrapõe o predomínio do interesse público ao dos mercados, espe-cialmente aquele controlado por oligopólios e bancos. Contrapõe à tese neoliberal da autonomia do Banco Central (na verdade, ao seu controle pelos bancos privados e grandes especuladores), uma visão de Banco Central alinhada aos objetivos do desen-volvimento, bem estar social e pleno emprego, além da defesa da moeda. Contrapõe à privatização, um Estado capaz de retomar o planejamento e o investimento público.

Esse processo estratégico está no seu início e deve ser aprofundado. Sem uma estratégia econômica que aprofunde e avance além daquilo que já conquistamos, ficarão sempre a meio caminho potenciais avanços na própria democracia e mesmo na superação plena do neoliberalismo. Ao mesmo tempo, novos avanços na estratégia de desenvolvimento soberana, ativa internacionalmente e inclusiva social e politicamente, requerem uma democracia muito mais avançada que a que praticamos hoje.

Essa dupla combinação progressiva deve conduzir a uma estratégia política e econô-mica de desenvolvimento da revolução democrática, que expressa em última instância um processo de conquista de soberania popular para definição dos rumos do Brasil e do seu papel no mundo.

situação e perspectivas Do pt

O 5º Congresso do PT deve ser um momento de reflexão e debate sobre o presente e o futuro da estrutura partidária.

O Partido nasceu da grande efervescência dos anos 1970 e 1980, quando as lutas das classes trabalhadoras da cidade e do campo e de outros segmentos da sociedade brasi-leira colocaram na ordem do dia o fim da ditadura militar e, ao mesmo tempo, a cons-trução de um Brasil mais justo econômica e socialmente e de uma democracia onde se fizesse ouvir a voz de todos os brasileiros.

Mantendo uma enorme capilaridade em relação aos movimentos sociais, o Partido desenvolveu, por mais de uma década, importantes experiências governamentais em cidades e estados da federação, que serviram para acumular experiência e formar os

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quadros necessários para conduzir o governo da nação. Teve, igualmente, significativa atividade parlamentar.

Nos mais de trinta anos de existência do PT, a sociedade brasileira mudou profunda-mente. Mas nem sempre o Partido acompanhou essa mudança.

Preservou e aprofundou, por certo, sua democracia interna, garantindo um pluralismo político e ideológico que não existe em outras organizações partidárias. Incorporou as mulheres, de forma paritária, às suas direções. Abriu espaços importantes de partici-pação para os jovens, mulheres, negros e negras. O PED 2013 deu início a um novo momento. Mas as mudanças que as cotas introduzem no PT devem estar aliadas ao respeitoso tratamento, ouvidos atentos a novas pautas e opiniões, ao que jovens, mu-lheres, negros e negras, têm a propor como diretriz para o Partido dos Trabalhadores.

As atividades governamentais e parlamentares do PT contribuíram para enriquecer uma visão concreta, não doutrinária, dos problemas nacionais, mas, ao mesmo tempo acarretaram um certo afastamento do Partido em relação a suas bases originais e àque-les novos segmentos que foram sendo beneficiados pelas políticas aplicadas por petistas em seus governos.

Governantes e parlamentares do PT, pressionados por seus afazeres institucionais, ga-nharam exagerada autonomia em relação à atividade partidária. Sindicalistas e diri-gentes de organizações sociais nem sempre acompanharam as mudanças por que pas-saram seus movimentos. Esses e outros fatores contribuíram para certa burocratização do Partido e consequente perda de importância de suas direções junto aos governos. Perdemos capacidade de análise das conjunturas, bem como das perspectivas de médio e longo prazo de evolução do país e do mundo. O PT deixou de ser aquele “intelectual coletivo” que se espera deva ser um partido de esquerda. Afastou-se do socialismo, não por negá-lo, mas por ser incapaz de pensá-lo de forma criativa.

A democracia petista tem de expressar o pluralismo de ideias, nunca o conflito de inte-resses de indivíduos e/ou grupos.

Mas o partido dispõe de todas as condições para retomar sua trajetória original, dentro de um quadro histórico evidentemente distinto daquele de sua fundação e de seus primeiros anos.

Dispõe de bases sociais, fortemente ancoradas no povo brasileiro. Suas experiências no parlamento e em governos, sobretudo na Presidência da República, proporcionaram--lhe um conhecimento extraordinário do Brasil. É um partido democrático, capaz de conviver com as diferenças internas, o que alimenta a curiosidade e o interesse de seus militantes em discutir os grandes problemas do Brasil e do mundo. Está, assim, apto a renovar sua cultura política e suas formas de ação.

Deverá valer-se desses atributos para dar mais consistência a sua presença internacional, contribuindo para a recomposição das esquerdas em escala global, como ajudou a fazer na América Latina e Caribe com o Foro de São Paulo.

perspectivas Do sociaLisMo

O Partido dos Trabalhadores nasceu em meio a mais grave crise pela qual passaram os distintos projetos socialistas do século XX. No ano de seu surgimento, a eclosão do movimento Solidariedade, na Polônia, anunciava a crise do modelo soviético, que se aprofundaria em 1989 com a queda do Muro de Berlim e, em 1991, com a dissolução da URSS. Nesse mesmo período, a socialdemocracia da Europa, contaminada pelas ideias neoconservadoras, começava a abandonar parte das políticas que haviam propi-ciado importantes conquistas às classes trabalhadoras daquele continente.

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Esses dois movimentos históricos tiveram consequências profundas na correlação de forças internacional, aumentando o peso das grandes potências capitalistas, em particular os Estados Unidos. Frente a isto, o PT não reivindicou nem certa heran-ça autoritária do socialismo, nem sucumbiu à maré neoliberal em nome de uma suposta “modernização” programática, como ocorreu com vários movimentos e partidos de esquerda.

Pós-comunista e pós-socialdemocrata, o Partido dos Trabalhadores enfrentou combati-vamente, em fins dos anos 1980 e início dos 1990, a enorme pressão do neoliberalismo que se fez sentir no Brasil e na maioria dos países da América Latina. Contracorrente, contribuímos para a desconstrução do Consenso de Washington aqui e, sucessivamen-te, em quase toda a América do Sul. Pós-neoliberal, o PT aplicou políticas que fortale-ceram a democracia econômica, social e política.

Acossados pelas tarefas de governo e pelas vicissitudes da luta política, não fomos capa-zes, no entanto, de inserir as transformações que realizamos em uma estratégia de longo prazo, que pudesse apontar para uma efetiva renovação do socialismo no século XXI.

Para vencer esse desafio, é necessário o conhecimento teórico e histórico das distintas experiências socialistas, mas também uma análise da realidade brasileira que permita definir e lutar realisticamente por um projeto pós-capitalista no país.

A agenda é vasta e complexa e envolve a discussão de formas de propriedade e de orga-nização da economia, inclusive a democratização do espaço fabril e de todos os locais de trabalho. Envolve, também, a democratização e socialização da política, mudanças radicais na esfera da cultura e no cotidiano, sob a égide da mais ampla liberdade e do respeito aos direitos humanos.

A esse respeito, o 3º Congresso do PT (2007) aprovou uma resolução sobre o socialismo, que fala de profunda democratização; compromisso internacionalista; planejamento demo-crático e ambientalmente orientado; propriedade pública dos grandes meios de produção.

Lá está dito que precisamos de uma “economia colocada a serviço do atendimen-to às necessidades presentes e futuras do conjunto da humanidade. Para o que será necessário retirar o planejamento econômico das mãos de quem o faz hoje: da anarquia do mercado capitalista, bem como de uma minoria de tecnocratas estatais e de grandes empresários, a serviço da acumulação do capital e, por isso mesmo, dominados pelo imediatismo, pelo consumismo e pelo sacrifício de nossos recursos sociais e naturais”.

Na resolução do 3º Congresso do PT consta, também, que “as riquezas da humanidade são uma criação coletiva, histórica e social, de toda a humanidade. O socialismo que al-mejamos só existirá com efetiva democracia econômica. Deverá organizar-se, portanto, a partir da propriedade social dos meios de produção -- que não deve ser confundida com propriedade estatal, e sim assumir as formas (individual, cooperativa, estatal etc.) que a própria sociedade, democraticamente, decidir”.

Outro objetivo estratégico do PT é a realização de reformas democrático-populares. Tais reformas (reforma política, Lei da mídia democrática, reforma tributária, reforma agrária, reforma urbana, reforma do setor financeiro, adoção da jornada de trabalho de quarenta horas, ampliação do financiamento e da qualidade das políticas universais de saúde, educação, cultura e transportes) têm como meta democratizar a propriedade, a renda, a riqueza e o poder existentes em nossa sociedade.

Esses são os dois objetivos fundamentais do PT, cuja síntese está na estratégia democrá-tico-popular e socialista que sistematizamos em 1987, em nosso 5º Encontro Nacional.

resoLução poLítica “nunca Menos!”

caDerno De resoLuções

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o MoMento atuaL e seus DesaFios

A primeira etapa do 5º Congresso do PT realizou-se em uma conjuntura política ex-cepcional, marcada pelo renascimento de manifestações sociais, como as ocorridas em junho de 2013. A nova situação criada no país a partir dessas mobilizações e as soluções concretas que formos capazes de apresentar e realizar terão influência sobre a estratégia mais geral do Partido e do governo e, de forma especial, sobre as eleições de 2014.

A experiência acumulada nos últimos anos mostra que a superação de crises políticas semelhantes sempre passou pela mobilização da sociedade, especialmente dos amplos segmentos que historicamente nos têm acompanhado e daqueles que, mais recente-mente, foram beneficiados pelas transformações econômicas, sociais e políticas lide-radas pelos governos Lula e Dilma. O passado ensina, também, que a mobilização de nossas bases sociais e políticas ajuda a recompor a sustentação institucional do governo, inibe aventureiros, inclusive aqueles que se ocultam em uma fraseologia anticapitalista e frustra as tentações golpistas que uma crise possa despertar.

Parte da sociedade, inclusive aquela beneficiária das transformações dos últimos anos, está insatisfeita com o ritmo -- que considera lento -- das mudanças e não vê alternati-vas para suas demandas nos políticos e nas instituições atuais.

A violência e o vandalismo, que marcaram algumas mobilizações, provocam ao mes-mo tempo um sentimento de insegurança em parte da sociedade. Criam imagem de desgoverno e de ruptura do tecido social. Animam os aventureiros e os que defendem soluções autoritárias.

A Presidenta Dilma e o PT, diferentemente do ocorrido em situações análogas em ou-tras partes do mundo, saudaram as manifestações e dialogaram com os manifestantes. Apresentaram propostas que buscam soluções para as reivindicações concretas das ruas, propuseram ampla consulta popular para enfrentar as questões político-institucionais.

Mas é fundamental mostrar claramente o que está em jogo no atual momento: a con-tinuidade, o aprofundamento e inclusive a correção do que foi até agora conquistado. As oposições não apresentam um projeto alternativo e, na maior parte dos casos, não conseguem esconder a contra-reforma que pretendem levar adiante -- medidas de auste-ridade que diminuirão os investimentos e porão fim à atual política salarial e de rendas, junto com o abandono do pleno emprego, para só citar algumas propostas que afetarão os setores mais desfavorecidos da sociedade. O Mercosul e a UNASUL serão enfraque-cidos, quando não abandonados em proveito de projetos que reeditam a ALCA, ainda que sob forma distinta. A política externa soberana será substituída pelo alinhamento com as grandes potências. A América Latina, o Caribe e a África sairão de nossas prio-ridades.

O Partido dos Trabalhadores e o governo nada têm a temer, salvo sua omissão e parali-sia. Mais que um amplo conjunto de realizações passadas, temos um futuro a anunciar e a construir juntos.

Estes quase doze anos de Governo Democrático e Popular não serão um intervalo pro-gressista em uma larga trajetória conservadora de nossa história.

A última década mostrou que um outro Brasil foi possível, porque milhões de homens e mulheres compartilharam idéias generosas de mudança.

Quando saíamos da noite da ditadura, soubemos dizer “Nunca Mais!”

Agora, depois de uma década de grandes transformações, afirmamos “Nunca Menos!”

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aproFunDar o DeBate

A preparação da segunda etapa do 5º Congresso deve incluir debates profundos sobre temas de vital importância para definir uma visão estratégica da sociedade brasileira e de sua transformação radical. Entre estes temas, delegados e delegadas presentes à pri-meira etapa relacionaram os seguintes:

As mudanças da sociedade brasileira e sua nova estrutura de classes: “nova classe média” ou “nova classe trabalhadora”?

Nova estrutura social brasileira e as tarefas dos movimentos sociais;

Reforma do Estado e da sociedade. Combate à violência, defesa dos direitos hu-manos. Coesão social, violência e insegurança pública. Fortalecer a cidadania para ampliar a democracia;

Democratizar as relações de trabalho;

Democratização da informação e da cultura;

Tecnologia, comunicação e informação -- as bases da democracia e do desenvolvi-mento no século XXI;

Reconfiguração das ocupações e regulação das relações e condições de trabalho;

Integração e consolidação das políticas sociais frente às perspectivas de um novo padrão civilizatório;

Gestão pública diante da transição para a sociedade dos serviços;

Padrão de financiamento e a progressividade tributária;

Situações e soluções para as cidades e metrópoles brasileiras;

A sustentabilidade como desenvolvimento;

Multipolaridade na geopolítica e as questões da soberania nacional;

Pós-neoliberalismo e as experiências dos governos progressistas na América Latina;

Cadeias globais de valor e os desafios das políticas para o desenvolvimento produtivo;

O contexto internacional e a política externa brasileira;

Do pós-neoliberalismo a uma política econômica de desenvolvimento soberano e inclusivo;

O desafio pós-capitalista. Qual socialismo?

Globalização capitalista e caminhos para o socialismo;

Representatividade e governabilidade: o modo petista na política brasileira;

PT, um partido para enfrentar os desafios do século XXI. Visão estratégica. Democracia interna.

caDerno De resoLuções

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resoLução soBre a ação penaL 470

Considerando:

1. Os aspectos nitidamente políticos do julgamento da Ação Penal 470, que condenou sem provas lideranças petistas;

2. A exaustiva pressão da mídia conservadora e a utilização política da condenação dos companheiros pela oposição, numa tentativa de linchamento moral que visa também criminalizar o PT e influir na disputa eleitoral;

3. Todas as resoluções, notas e moções aprovadas pela direção nacional do PT a respeito dos desdobramentos do julgamento da Ação Penal 470;

4. A valorização da atitude democrática dos cidadãos e cidadãs que, desde 2005, se posicionaram contra a manipulação em torno dos episódios que resultaram na AP 470.

O 5º Congresso do PT resolve:

Apoiar todas as iniciativas e ações da militância petista, dos movimentos sociais, de personalidades e da sociedade civil em favor da reparação das injustiças e ilegalidades cometidas contra os companheiros condenados no julgamento da Ação Penal 470.

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resoLução soBre os 50 anos Do GoLpe MiLitar De 1964

O 5º Congresso Nacional do PT orienta o Diretório Nacional no sentido de pro-mover uma jornada de luta quando da passagem do cinquentenário do golpe mili-tar de 1º de abril de 1964, visando:

a) denunciar as sucessivas violações dos direitos humanos praticadas pela ditadura militar, exigir o esclarecimento das circunstâncias e dos agentes do Estado por elas responsáveis;

b) contribuir para a construção da memória dos lutadores e lutadoras que comba-teram a ditadura militar, e por isso foram perseguidos, presos, banidos, exilados, mortos e desaparecidos;

c) rememorar as lutas coletivas contra a ditadura militar e pela redemocratização, especialmente as greves e manifestações da classe trabalhadora, as lutas e manifes-tações estudantis, as manifestações da intelectualidade e as expressões artísticas, democráticas e libertárias;

d) recuperar o papel do PT na luta contra a ditadura e por liberdades democráticas;

e) apoiar os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, das varias comissões e comitês da sociedade civil, objetivando efetivar os direitos a memória, verdade e justiça.

caDerno De resoLuções

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Moção soBre o pLc 122

O 5º Congresso Nacional do PT reafirma as posições históricas de Congressos ante-riores e resoluções do Diretório Nacional que nos comprometem com a promoção dos direitos LGBT e a luta contra a homofobia, bem como a aprovação do PLC 122.

Em particular, reiteramos a resolução da última reunião da Executiva Nacional do PT, dirigida aos companheiros e companheiras da bancada petista no Senado Federal, para que tomem as providências para a imediata votação do PLC 122 na Comissão de Direitos Humanos daquela Casa de Leis.

Moção soBre a pec 215

O 5º Congresso Nacional do PT repudia as manobras da bancada ruralista na Câmara dos Deputados para retomar a tramitação da PEC 215 naquela Casa de Leis. Ao procu-rar retirar do Executivo e transferir para o Legislativo a competência para a demarcação de terras indígenas e quilombolas, bem como a revisão das terras já demarcadas, a PEC 215 fere cláusulas pétreas da atual Constituição e agride o movimento indígena e qui-lombola em sua dignidade e direitos adquiridos.

O 5º Congresso, na sequência de posicionamentos vários de nossas instâncias diri-gentes nacionais, manifesta-se contra a PEC 215 e dirige-se à bancada de deputados e deputadas do PT para que lutem junto a outras bancadas e aos movimentos sociais para denunciar e impedir a aprovação desta PEC, lesiva aos interesses nacionais e aos direitos humanos de indígenas e quilombolas.

Moção De orientação à BancaDa Do pt no conGresso nacionaL

O 5º Congresso Nacional orienta que a bancada do Partido no Congresso Nacional se abstenha de tomar posições públicas em relação ao PL 4221/2012, que “regulamenta a atividade dos profissionais do sexo” no Brasil, projeto de autoria do deputado federal Jean Willys (Psol), considerando que a Secretaria Nacional de Mulheres do PT irá promover seminário nacional em fevereiro de 2014 para debater e construir a posição do Partido sobre o tema.

Moção soBre neLson ManDeLa

Nelson Mandela: uma história que continua em nós do Partido dos Trabalhadores

Nelson Mandela, homem negro africano dotado de capacidade e sentimento especial pelo seu povo, defendendo a liberdade, a igualdade de direitos, a paz e combatendo a convicção racista de separação entre pessoas em seu país pela cor da pele.

Recebemos a passagem de Mandela como um momento que marca o término de um ciclo de sua resistência contra o racismo e as desigualdades na vida terrena, porém renasce em cada um de nós, ativistas e defensores dessa causa, a responsabilidade de assumir e preservar o legado deixado por nosso Madiba.

Mandela tem participação marcante na formação de cada ativista da luta antirracista no nosso país e também na reflexão dos governos brasileiros, a partir da sua represen-tação como estadista.

Moções

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A militância negra petista vem, através desta moção do 5º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, dirigir-se ao Congresso Nacional Africano, partido de Mandela, para reafirmar as palavras proferidas por nossa presidenta Dilma Rousseff ao povo sul-africano, no funeral do nosso saudoso líder, e manifestar nosso reconhecimen-to e admiração ao político justo, leal ao seu povo e as suas convicções transformadoras, que também é exemplo e inspiração para a militância petista.

Continuaremos firmes na luta pelo combate e denúncia à discriminação racial em nos-so país, tendo como uma de nossas reflexões a seguinte afirmativa de Nelson Mandela: “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem, ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.

Acreditamos na superação do racismo a partir da nossa luta, dos ideais de Mandela.

Salve! Salve! Mandiba!!!

Moção soBre cotas étnico-raciais

As delegadas e os delegados negros e negras presentes na abertura do 5º Congresso Nacional reafirmamos e reconhecemos os avanços do PT com a implantação das cotas étnico-raciais, a partir do PED 2013, nas direções do partido.

Hoje, a militância do Combate ao Racismo visualiza a nossa imagem com a composi-ção de negras e negros nas direções do PT.

Ao mesmo tempo queremos garantir o assento da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo na composição do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE), que terá o desafio de reeleger a presidenta Dilma em 2014.

Moção soBre FiM Da poLícia MiLitar

“Não acabou, tem que acabar, queremos o fim da Polícia Militar”.

Uma das principais permanências da Ditadura em nosso país é a atuação das polícias militares. Nossas forças policiais são as que mais matam no mundo e esses mortos têm idade, cor e origem, são jovens, negros e moradores da periferia. Durante a jornada de junho vimos o aparato repressor da PM nas ruas, coibindo movimentos sociais e ativistas. A desconfiança da população com a Polícia aumentou para 70%. Das ruas nasceu o grito: “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”. O que sempre foi uma luta histórica da militância em direitos humanos ganhou apoio popu-lar. O Partido dos Trabalhadores, que sempre esteve na trincheira de luta por direitos humanos, deve defender a desmilitarização da policia militar.

Moção peLo FortaLeciMento Do pLano JuventuDe viva

O Plano Juventude Viva, uma iniciativa do governo federal lançada no final de 2012, por meio da Secretaria Nacional de Juventude, conjuntamente com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, tem por objetivo a redução da vulnerabili-dade social e da desigualdade racial para a prevenção de homicídios de jovens negros/as, principalmente nas periferias urbanas. Consiste de um conjunto de ações, que pre-vê integrar programas federais de diversos ministérios, tais como Justiça, Educação, Cultura, Esporte, Saúde, Trabalho e Emprego. Depende, entretanto, da adesão de es-tados e municípios para a sua implementação.

Acima de tudo, o Juventude Viva é uma conquista dos movimentos de juventude negra, com forte protagonismo da JN13 (a juventude negra do PT), para enfrentar o que temos descrito como um verdadeiro genocídio -- expresso em dados oficialmente reconhecidos sobre a extrema desigualdade racial nos homicídios -- a que este segmen-to populacional tem sido submetido no Brasil.

Moções

caDerno De resoLuções

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Na prática, porém, mesmo com o compromisso expresso da própria Presidenta Dilma -- na sanção ao Estatuto da Juventude e na III CONAPIR -- o Juventude Viva não ganhou ainda a devida prioridade do conjunto do governo federal. O plano não cum-pre, por exemplo, o requisito indispensável de se tornar uma política intersetorial, pelo fraco compromisso de uma parte dos ministérios.

Assim sendo, defendemos o fortalecimento do Plano Juventude Viva, o que será pos-sível com o efetivo engajamento de todos os ministérios envolvidos, por determinação da Presidência da República. Também se faz necessária uma maior ofensiva da articula-ção política do governo federal para a adesão imediata de estados e municípios, garan-tindo ainda a participação dos movimentos locais de juventude negra, que contribuem para o controle social democrático desta política.

Moção De soLiDarieDaDe às MuLheres Da cut

O 5º Congresso do PT se solidariza com as companheiras da Central Única dos Trabalhadores (CUT), pelo processo de debate e reflexão que as levou a tomar um posicionamento contrário à regulamentação da prostituição.

A reação à posição da CUT, expressa pelo autor do atual projeto de lei que visa regula-mentar a prostituição, o deputado federal Jean Willys (Psol), expressou uma visão que desqualifica a luta feminista.

O argumento de que as feministas são moralistas e conservadoras porque questionam a prostituição, é desrespeitoso e não contribui para o debate.

O Coletivo Nacional de Mulheres da CUT tem sido pioneiro em pautar no conjunto do movimento sindical as lutas das mulheres.

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propostas ao encontro nacionaL De tática eLeitoraL (2 e 3 De Maio 2014)

A primeira etapa do 5º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores recebeu oficialmente um conjunto de emendas sobre a política de alianças e as remete à dis-cussão e deliberação do Encontro Nacional sobre Tática Eleitoral, política de alianças e diretrizes do programa de governo, a ser realizado entre os dias 2 e 3 de maio de 2014.

eMenDas apresentaDa peLa chapa constituinte por terra traBaLho e soBerania, através Do DeLeGaDo Markus sokoL

Onde está “exigirão a consolidação, ampliação e qualificação de nossas alianças políticas essencial não só para vencer...”, substituir pelo texto a seguir: “exigirão a revisão de nossas alianças políticas, essencial não só para vencer as eleições como para o exercício futuro dos governos em nível nacional e estadual, com o fim da ‘aliança nacional com o PMDB’ que, por exemplo, no governo e no Congresso sabota a reforma política essencial, e sua substituição por uma aliança com o PCdoB e setores populares de partidos como o PSB e PDT, dispostos a governar com uma plataforma social e nacional de caráter anti-im-perialista, capaz de dialogar com as organizações democráticas, populares e sindicais”.

eMenDa apresentaDa peLa MensaGeM ao partiDo, DeMocracia sociaLista, pt aMpLo e Mais, através Do DeLeGaDo carLos henrique áraBe

Substituir o parágrafo abaixo: “Ainda que as questões programáticas em jogo nas elei-ções de 2014 não possam ser separadas totalmente de uma política de longo prazo do partido, é necessário evitar que temas de natureza estratégica se sobreponham e con-fundam o debate eleitoral do próximo ano”...

...pelo texto a seguir:

“A tática e o programa eleitoral do PT devem estar inseridas em uma estratégia política de longo prazo, a fim de aproximar o programa de um segundo governo Dilma das metas históricas e estratégicas do PT e das aspirações democráticas e populares, visando qualificar programaticamente nossas alianças e nosso diálogo com os anseios da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. Somente assim nossos governos poderão dei-xar um legado que possibilite a alteração da correlação de forças necessária às rupturas fundamentais para o nosso projeto socialista”.

eMenDa suBstitutiva GLoBaL soBre poLítica De aLianças, apresentaDa peLa chapa a esperança é verMeLha, através Do DeLeGaDo Bruno eLias

1.A estratégia de centro-esquerda, implementada desde 1995, está esgotada. Entre ou-tros motivos porque fizemos “o máximo que era possível fazer” de mudanças sem refor-mas estruturais. Agora está posta a necessidade de outra estratégia, a saber, continuar as mudanças através de reformas estruturais.

2.Para fazer reformas estruturais, é necessário força, o que exige articular luta de idéias, ação partidária, disputa institucional, mobilização social e alianças. Esta orientação se traduz, do ponto de vista tático, na diretriz de reeleger Dilma criando as condições para ela fazer um segundo mandato superior ao atual, um segundo mandato que seja mar-cado por reformas estruturais (tributária, política, Lei da Mídia Democrática, agrária, urbana, 40 horas, políticas universais etc.);

caDerno De resoLuções

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3.As alianças necessárias para fazer reformas estruturais são as alianças estratégicas, com os setores sociais e políticos que estão de acordo com estas reformas. Isto inclui partidos e setores de partidos, mas inclui principalmente setores sociais, organizados ou não. No primeiro turno das eleições de 2014, estes devem ser nossos aliados fundamentais, prioritários.

4.Alianças fora deste arco estratégico, alianças de natureza tática ou pontual, podem ser feitas nas eleições de 2014, tanto no primeiro quanto no segundo turno, sempre e quando não constituam obstáculo para um segundo mandato marcado por reformas estruturais.

5.Por isto, aliás, nas eleições estaduais o PT não pode submeter-se aos interesses de par-tidos de centro-direita, nem de oligarquias regionais, nem tampouco virar moeda de troca para alianças pragmáticas. Por isto, por exemplo, é necessário afirmar de imediato a candidatura própria do PT em estados como Rio de Janeiro, Ceará e Maranhão.

6.Defender um programa de reformas estruturais implicará em uma aliança para 2014 diferente da aliança realizada em 2010. Para o PT e nossa estratégia, uma aliança pro-gramática no primeiro turno de 2014 será melhor do que uma aliança supostamente mais ampla, que só é possível rebaixando nosso programa.

7.Tanto no primeiro quanto no segundo turno, nossa política de alianças deve ser orientada pelo programa de reformas estruturais.

eMenDa aDitiva apresentaDa peLo setoriaL De MuLheres Do pt

Em seguida ao parágrafo “Preservou e aprofundou, por certo, sua democracia interna, garantindo um pluralismo político e ideológico que não existe em outras organizações partidárias. Incorporou as mulheres, de forma paritária, a suas direções. Abriu espaços importantes de participação para os jovens, negros/as e indígenas”.

Adicionar o texto que segue:

“O PT foi capaz de ser inovador ao incorporar o feminismo no programa e na vida partidária, ao mesmo tempo em que buscou fortalecer o movimento de mulheres au-tônomo. Destaque especial deve ser dado à defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e ao fato do PT ser o primeiro partido a implantar a paridade em todas as suas instancias deliberativas. A paridade necessita ser uma prática política no cotidiano do PT e não apenas uma regra estatutária, neste sentido é estratégico avançarmos no programa do PT, incorporando no centro deste programa a luta e agenda feminista. Fomos o primeiro partido a instituir cotas de participação das mulheres nas direções partidárias. Tivemos papel decisivo para a destinação de 30% de vagas nas chapas pro-porcionais para um dos gêneros. No 4º Congresso do PT outros avanços significativos foram garantidos: aprovamos a paridade e reafirmamos em nosso estatuto a aplicação de 5% do fundo para o Programa de Participação das Mulheres na política”.

“No 5º Congresso queremos dar o passo adiante. Com um sistema eleitoral vencido e ultrapassado, que gera uma desigualdade e a degradação de uma disputa eleitoral pautada por propostas e projetos, as mulheres são as maiores prejudicadas na disputa desleal do poder econômico que tem dominado os processos eleitorais no Brasil. Com a nova interpretação da legislação, com a obrigatoriedade do preenchimento das vagas de 30% de um gênero nas chapas proporcionais, as mulheres tem que ter condições de estruturação de campanha. Assim, entendemos que os congressistas podem dar um avanço significativo na participação das mulheres no processo eleitoral e no aumento da sua representação nos espaços de poder, em especial no legislativo, destinando 30% da arrecadação do fundo eleitoral para as campanhas de mulheres, até que a tão so-nhada reforma política com financiamento público de campanha, lista pré-ordenada, alternada e paritária seja uma realidade. O recurso deve ser assegurado em todas as

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instâncias e distribuído de forma proporcional à instância inferior pelo número de eleitores de cada estado ou município, que por sua vez deve utilizar o recurso de forma igualitária entre as candidaturas de mulheres, sob a responsabilidade da secretaria de mulheres do PT de cada instância”.

eMenDa aDitiva, onDe couBer, apresentaDa peLos DeLeGaDos richarD (aMapá) e coqueiro (Maranhão)

“Sarney não nos representa”

Os estados do Amapá e do Maranhão vivem, há anos, sobre a sombra de uma politica nefasta. Uma política pautada na oligarquia e no caciquismo. Temos, como militantes de uma sociedade mais igualitária, a obrigação de lutar contra este tipo de política. É por isso que nós, militantes do Partido dos Trabalhadores, repudiamos a forma como o senador José Sarney impõe sua política ao povo destes dois estados em especial.

A figura de Sarney busca sempre manipular a política local para beneficiar sua oligar-quia familiar e empresarial, que gera pobreza e miséria nos dois estados e impede a defesa dos interesses mais básicos de um povo sofrido.

Não podemos mais aceitar que o senador José Sarney seja representante de dois estados e que não defenda nenhum deles. O povo do Amapá não pode mais conceber a ideia de ter um senador que não representa os interesses do povo e nem sequer mora efetiva-mente no estado. O povo do Maranhão não pode mais conceber a ideia de uma família dominar e subjugar o estado, há quase 50 anos.

O Partido dos Trabalhadores não pode mais conceber José Sarney como Senador da República, porque Sarney não representa o povo e Sarney não nos representa e impede o Maranhão de ser um estado republicano.

propostastática eLeitoraL

caDerno De resoLuções

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propostas à seGunDa etapa Do 5º conGresso (2015)

A primeira etapa do 5º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores delegou ao Diretório Nacional a formação de uma comissão, cujo objetivo é apresentar à segunda etapa do 5º Congresso, em 2015, propostas visando aperfeiçoar o PED ou estabelecer outras formas de eleição da direção, incluindo a eleição nos encontros.Além disso, a primeira etapa do 5º Congresso recebeu oficialmente um conjunto de emendas sobre diversos temas e as remeteu à discussão e deliberação da segunda etapa, a ser realizada em 2015. A seguir tais emendas:

eMenDa Da MensaGeM ao partiDo soBre DeMocracia partiDáriaA experiência recente do PED demonstra o quanto precisamos ainda avançar e renovar a democracia petista em suas bases. Nossa democracia interna apresenta sinais fortes de tradicionalização, onde boa parte dos problemas que criticamos no sistema políti-co brasileiro vão ganhando corpo nas eleições internas do partido. Defendemos uma análise crítica profunda do último PED para servir de base a propostas de mudanças na nossa democracia interna que permitam maior igualdade entre as candidaturas e chapas, que permitam um processo democrático com mais debate político de idéias, projetos e programas. Não tem sentido permitir a influência do poder econômico nas nossas decisões, ainda mais quando priorizamos a luta pelo financiamento público das campanhas eleitorais. É preciso renovar a capacidade comunicativa do partido e inseri--lo, de modo coletivo, nas grandes redes dos movimentos sociais e nas novas formações das classes trabalhadoras. Novas lideranças de jovens, negros e mulheres só podem se formar em contato vivo com os movimentos sociais. É, sobretudo, preciso avançar nas formas compartilhadas de direção. É preciso reconstruir formas de participação de base, como os núcleos, que já cumpriram esse papel e que podem voltar a cumprir.

eMenDa De roMenio pereira e Markus sokoLPelo fim do PED: Uma experiência foi feita e um período se encerra. Nós, que subscrevemos esta moção, consideramos que o modelo de eleição e definição de orientação política do PED está superado. A redução da participação na edição 2013, apesar de várias flexibilizações, só confirma o esgotamento deste sistema, marca-do por vícios e objeto de várias críticas em todo o partido.Nesse sentido, propomos a adoção, no documento do 5º Congresso, de uma emen-da dando mandato ao novo diretório nacional para apresentar a sua segunda fase em 2015, uma proposta de reformulação das eleições internas do PT, baseada na primazia dos encontros de delegados eleitos desde a base.

eMenDa Da chapa a esperança é verMeLhaA questão organizativa é política: se não tivermos a linha correta, não vamos ser capazes de mobilizar a militância, os filiados, nossa base eleitoral e social.A questão política central é perceber que precisamos mudar de estratégia e, por isso, adotar uma política mais ousada em 2014.Mas mudar a política não basta. Temos de reatar nossos laços com a classe trabalhado-ra, especialmente com a juventude, com os movimentos sociais e populares, mulheres

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e negros, indígenas, LGBT, ambientalistas. Ainda que sejamos o partido com mais lutadores do povo, é preciso admitir que muitos lutadores do povo já enxergam o PT com desconfiança e até hostilidade.Além disso, há três ações organizativas fundamentais. Primeiro, criar as condições para o PT ter autonomia financeira: não podemos, como hoje, depender principalmente de recursos públicos e de doações empresariais. Sem autonomia financeira, não existe autonomia política.

Precisamos implementar uma campanha de formação massiva, até porque cerca de metade dos nossos filiados entrou no PT depois de 2003. Conhecem mal e mal o “PT governo”. E isso é uma das fontes que podem levar à peemedebização do partido. Precisamos que nossos filiados conheçam nosso programa e estratégia, a história do PT, da luta pelo socialismo no mundo e no Brasil.

E precisamos de comunicação de massa: redes sociais, rádio, TV, revistas, jornais, in-clusive um jornal diário. Tem quem ache que os jornais impressos “já eram”, mas todo dia compram e leem os jornalões do PIG (Partido da Imprensa Golpista). Precisamos de um jornal diário, que faça cotidianamente a batalha política com nossos adversários e inimigos acerca dos temas centrais da conjuntura.

Com autonomia financeira, formação e comunicação de massa, o partido ampliará sua democracia interna. Hoje, o Processo de Eleições Diretas (PED) garante ao militante a condição de eleitor. E só. Precisamos de instâncias partidárias funcionando, sedes parti-dárias que sejam centros culturais abertos à população, não apenas para debater política estrito senso, mas também espaços de arte, de lazer, de convivência. E precisamos retomar, em 2017, o método de eleição das direções partidárias através de encontros partidários.

eMenDa apresentaDa peLo secretário nacionaL Da JuventuDe Do pt, JeFFerson LiMa

Mais do que nunca, o passo organizativo a ser dado é conseguir dialogar com a ampla gama de jovens filiados ao PT, com os jovens da nova classe trabalhadora, oriundos da vigorosa mobilidade social experimentada pelo país e com a população em geral. Só assim contribuiremos para o PT retomar sua capacidade de organização, ação e resposta diante da sociedade, em processo dialético com as forças sociais, e da institu-cionalidade. Sem negar, nosso desafio é superar uma dinâmica internista, cuja formu-lação política se circunscreve a discutir políticas específicas para os jovens brasileiros, apresentadas e disputadas apenas em espaços de articulação juvenil. Os compromissos do programa político do PT se mantêm e deverão ser assumidos mais profundamente pelo nosso governo, através de um posicionamento sobre temas até então tangenciados pela correlação de forças estabelecida no congresso nacional e na sociedade. O nosso governo deve enfrentar o tema da descriminalização e legalização do aborto, legalização da maconha, o extermínio da juventude, em especial a negra e a desmilitarização das polícias, sobre tudo aprofundar os novos desafios da pauta ambiental.

O PT deve mudar seus rumos internos ao ampliar o seu diálogo com a juventude, aca-bar com a burocratização da organização e avançar em uma política forte de comuni-cação e de formação em todo Brasil. As sedes do PT nos municípios, nos estados e em nível nacional precisam ser espaços de atração de novos filiados, com áreas de cultura e arte dialogando cada vez mais com o valor simbólico e com a utopia dos jovens brasi-leiros. Inclusive renovando-se em formato e em linguagem, rompendo com a tradição burocratizada que segue a repetir fórmulas da esquerda das décadas de 1960 e 70.

Isto significa dizer que, mais do que nunca, o PT precisa assumir o papel de vanguarda no diálogo direto com a juventude brasileira e na defesa da política, como elemento fundamental para a construção do bem comum e das mudanças da sociedade brasilei-ra, tendo nos partidos políticos os seus grandes agentes.

propostas à seGunDa Fase

caDerno De resoLuções

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DiriGentes nacionais eLeitos no peD 2013

PresidenteRUI GOETHE DA COSTA FALCAODiretório NacionalADILSON NOGUEIRA PIRESADRIANO DE OLIVEIRAALBERTO LOPES CANTALICEANA LUCIA LIPPAUS PERUGINIANETE NEGREIROS ANDRADEANNE KAROLYNE MOURA DE SOUZAANTONIO ROBERTO OTONI GOMIDEBERENICE GOMES DA SILVABRUNO DE OLIVEIRA ELIASCARLOS HENRIQUE GOULART ARABECASSIO NOGUEIRA DA CONCEICAOCLARISSA LOPES VIEIRA ALVES DA CUNHACLAUDIO ALBERTO CASTELO BRANCO PUTYCRISOLEIDE CRISTINA RICARDO DORIGODEBORA FRANCISCO PEREIRADELCIDIO DO AMARAL GOMESDORALICE NASCIMENTO DE SOUZADURVAL ANGELO ANDRADEEDSON ANTONIO EDINHO DA SILVAFLORISVALDO RAIMUNDO DE SOUZAFRANCISCO DANIEL CELEGUIM DE MORAISGERALDO MAGELA PEREIRAGISLAINE ZILIOTTOGLEIDE ANDRADE DE OLIVEIRAISABEL BAMPI DE SOUZAJACKELINE OLIVEIRA ROCHAJANDYRA MASSUE UEHARA ALVESJEFFERSON FERREIRA LIMAJOAO DA COSTA BEZERRA FILHOJOAO PAULO LIMA E SILVAJOAO VACCARI NETOJOAQUIM CARTAXO FILHOJORGE LUIZ CABRAL COELHOJOSE AMERICO ASCENCIO DIASJOSE NOBRE GUIMARAESJOSE ROBERTO PALUDOJOSIAS GOMES DA SILVAJUÇARA MARIA DUTRA VIEIRAJULIANA CARDOSOKELLY CRISTINA DA COSTA

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LAURA SOARES SITOLENITA CRUZ DE SOUZALILIANE BARBOSA DE OLIVEIRALUIZ PAULO TEIXEIRA FERREIRALUIZ SOARES DULCILUIZIANNE DE OLIVEIRA LINSMARCO AURELIO DE ALMEIDA GARCIAMARCO AURELIO SPALL MAIAMARIA APARECIDA ROBERTO FERREIRAMARIA ASSUNCAO SOUSA DE AGUIARMARIA DE FATIMA BEZERRAMARIA DO ROSARIO NUNESMARIA MARGARIDA MARTINS SALOMAOMARIA SELMA DE MORAES ROCHAMARIA TERESA DE AGUIAR NOTARIMARISTELLA VICTOR DE MATOSMARKUS SOKOLMARTA REGINA DOMINGUESMOEMA ISABEL PASSOS GRAMACHOMONICA AGUIAR DE SOUZAMONICA VALENTENATALIA CINDRA FONSECAPAMELA MUSSI VALDEZPAULO ADALBERTO ALVES FERREIRAPEDRO EUGÊNIO DE CASTRO TOLEDO CABRALRAIANE QUEIROZ PIMENTELRAUL JORGE ANGLADA PONTREGINALDO LAZARO DE OLIVEIRA LOPESRICARDO JOSE RIBEIRO BERZOINIRODRIGO DE SOUSA SOARESROMENIO PEREIRAROSANA RAMOS DA CONCEICAOSEBASTIAO ALVES DE ALMEIDASHEILA MARIA ASSIS DE OLIVEIRASILBENE SANTANA DE OLIVEIRASONIA SOUZA DO NASCIMENTO BRAGATARSO FERNANDO HERZ GENROTASSIA RABELO DE PINHOVILSON AUGUSTO DE OLIVEIRAVIVIAN CRISTIANE GOMES DE FARIASWELLINGTON MOREIRA DA SILVAWILMAR LACERDA Conselho Fiscal DAMARCI OLIVI DA COSTAJACIRA DA SILVAJOSE ADELMO DOS SANTOSMARCO ANTONIO LANDIM PEREIRAPAULINA GOMES DO SACRAMENTOPAULO CEZAR BEZERRA DE LIMA

DiriGentes eLeitos

caDerno De resoLuções

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Comissão de Ética FERNANDA DUCLOS CARISIOFRANCISCO ROCHA DA SILVAGLEBER NAIME DE PAULA MACHADOMARCELO MIZAEL DA SILVAROSANA MARIA TENROLLERVERA LUCIA UBALDINO MACHADO

Caderno de Resoluções é uma publicação da Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores

PresidenteRui Falcão

Projeto gráfico, diagração e editoração:Caco Bisol

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