caderno07-1 responsabilidade civil na construçao civil

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cadernosdoCREA-PRSriedefascculossobretica,responsabilidade,legislao,valorizaoeexerccio dasprossesdaEngenharia,daArquitetura,AgronomiaeGeocinciasnoParan.n.7RESPONSABILIDADE NACONSTRUO CIVILEng. Civil Valmir Luiz PelacaniResponsabilidade na Construo CivilEng. Civil Valmir Luiz PelacaniCURITIBA - 20105Gesto 2010PRESIDENTE: Eng. Agrnomo lvaro Jos Cabrini Jnior1 VICE-PRESIDENTE: Eng. Civil Gilberto Piva2 VICE-PRESIDENTE: Eng. Civil Hlio Sabino Deitos1 SECRETRIO: Tcnico em Edicaes Mrcio Gamba2 SECRETRIO: Eng. Mecnico Elmar Pessoa Silva 3 SECRETRIO: Eng. Agrnomo Paulo Gatti Paiva1 TESOUREIRO: Eng. Civil Joel Kruger2 TESOUREIRO: Engenheiro Eletricista Aldino BealDIRETOR ADJUNTO: Eng. Agrnomo Carlos Scipioni[ contedo de responsabilidade do autor ]Cadernos do CREA-PRN. 1 - tica e Responsabilidade ProssionalN. 2 - tica e Direitos ProssionaisN. 3 - tica e Organizao ProssionalN. 4 - Acessibilidade: Responsabilidade ProssionalN. 5 - As Entidades de Classe e a tica ProssionalN. 6 - Responsabilidade SocialN. 7 - Responsabilidade na Construo CivilCREA-PR - Rua Dr. Zamenhof, 35 - CEP 80.030-320 - Curitiba - PRCentral de Informaes: 0800-410067E-mail: [email protected] www.crea-pr.org.brtwitter.com/CREA_PRSUMRIOAPRESENTAO ..................................................................... 13INTRODUO ........................................................................... 141DA ORIGEM DA CONSTRUO E NECESSIDADE AO SER HUMANO ..........................................................172EVOLUO DA CONSTRUO EM HARMONIA AO URBANISMO ................................................................193A INDSTRIA DA CONSTRUO CIVIL E SUAS BASES ................................................................................204CONSTRUIR TRATA-SE DE CINCIA EXATA? .................................................................................................21Captulo I -DIREITO DE CONSTRUIR E A HARMONIA NA VIDA COMUNITRIA1DIREITO DE PROPRIEDADE: FUNO E EVOLUO ...................................................................................232CONSTRUO OU EDIFICAO QUAL A DIFERENA? .............................................................................233O SIGNIFICADO DE PRDIO ..........................................................................................................................244CONSTRUO E SEU LIMITE AO INICIAR ......................................................................................................25Captulo II -RESTRIES DE VIZINHANA CONSTRUO1VIZINHANA E EXTENSO DE SEU CONCEITO ............................................................................................272AVANAR A CONSTRUO E INVADIR O VIZINHO? SAIBA COMO NO INCORRER NESTE ERRO.........27Captulo III - LIMITAES ADMINISTRATIVAS CONSTRUO1VINCULAO DAS RESTRIES DE VIZINHANA S LIMITAES ADMINISTRATIVAS EM PROL DO BEM-ESTAR DA POPULAO .................................................................................................................................33Captulo IV - LIBERDADE DE USO DA PROPRIEDADE ........ 351NORMALIDADE E ANORMALIDADE DE USO DA PROPRIEDADE .................................................................362DIREITOS DO VIZINHO .....................................................................................................................................363INCMODOS AO ATO DE CONSTRUIR: AT ONDE SE CONSIDERA UM ERRO OU FALHA TCNICA? ....36Captulo V -RESPONSABILIDADES NA CONSTRUO CIVIL .. 391RESPONSABILIDADE QUE INDEPENDE DE CULPA ......................................................................................401.1RESPONSABILIDADE OBJETIVA ............................................................................................................401.2RESPONSABILIDADE SUBJETIVA ..........................................................................................................412PRIMEIRO PASSO ANTES DE CONSTRUIR: FAA UMA VISTORIA PRVIA DAVIZINHANA ...................41Responsabilidade na Construo Civil 6 73DAS RESPONSABILIDADES ADVINDAS DO ATO DE CONSTRUIR ...............................................................433.1O FUNDAMENTO DA RESPONSABILIDADE ..........................................................................................443.1.1CULPA E DOLO ............................................................................................................................453.2FONTES DE RESPONSABILIDADES ......................................................................................................453.2.1RESPONSABILIDADE LEGAL .....................................................................................................453.2.2RESPONSABILIDADE CONTRATUAL .........................................................................................453.2.3RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL .............................................................................453.3DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CDC - ..........................................................................463.4CARACTERSTICAS PRINCIPAIS DAS RESPONSABILIDADES ...........................................................473.4.1DA PERFEIO ...........................................................................................................................483.4.1.1PRAZO PARA A RECLAMAO: DECADNCIA E PRESCRIO .............................483.4.1.2DOS DEFEITOS ...........................................................................................................493.4.1.3PENALIDADES .............................................................................................................503.4.1.4DOS VCIOS OCULTOS OU REDIBITRIOS ..............................................................503.4.1.5DOS VCIOS APARENTES, IMPERFEIES OU FALHAS APARENTES ..................523.4.1.6DO NO ATENDIMENTO RECLAMAO ................................................................523.4.2DA SOLIDEZ E SEGURANA ......................................................................................................533.4.2.1PRAZO DE GARANTIA E PRAZO PRESCRICIONAL ..................................................543.4.2.2DO SOLO ......................................................................................................................563.4.2.3SEQUNCIA PROFISSIONAL DE RESPONSABILIDADES ........................................563.4.3DOS DANOS A VIZINHOS E TERCEIROS ..................................................................................583.4.3.1CONCEITO E RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR E PROPRIETRIO.......583.4.3.2RUNA DE CONSTRUO; NOEXCLUSO DE RESPONSABILIDADE DO PROPRIETRIO ...........................................................................................................593.4.3.3CONSTRUO PELA ADMINISTRAO PBLICA ....................................................603.4.3.4MATERIAIS DE CONSTRUO DEPOSITADOS ........................................................603.4.4TICO-PROFISSIONAL ...............................................................................................................603.4.4.1FALTAS TICAS ...........................................................................................................613.4.4.2O PLGIO DE PROJETO .............................................................................................613.4.4.3A USURPAO DE PROJETO.....................................................................................613.4.4.4A ALTERAO DE PROJETO ......................................................................................613.4.5TRABALHISTA E PREVIDENCIRIA ...........................................................................................623.4.5.1A ADMINISTRAO PBLICA .....................................................................................623.4.6DOS FORNECIMENTOS ..............................................................................................................633.4.6.1CONSTRUO POR EMPREITADA ............................................................................633.4.6.1.1EMPREITADA DE LAVOR ................................................................................................. 633.4.6.1.2EMPREITADA DE MATERIAIS .....................................................................................633.4.6.1.3DAIMPORTNCIADO REGISTRO DO CONTRATO DE EMPREITADA...........................633.4.6.2CONSTRUO POR ADMINISTRAO .....................................................................643.4.6.2.1RESPONSABILIDADE DA COMPRA DE MATERIAIS DE CONSTRUO .................64 3.4.6.2.2DA IMPORTNCIA DO REGISTRO DO CONTRATO DE EMPREITADA ....................643.4.6.2.3RESPONSABILIDADE DO RECEBIMENTO DOS MATERIAIS DE CONSTRUO ...653.4.6.3CONSTRUO POR TAREFA .....................................................................................653.4.7DOS TRIBUTOS ...........................................................................................................................65 3.4.8ADMINISTRATIVA .........................................................................................................................663.4.8.1DO AUTOR DO PROJETO ...........................................................................................663.4.8.2DAS SANES ADMINISTRATIVAS ...........................................................................673.4.9DO DESABAMENTO ....................................................................................................................683.4.9.1TRIPLA FINALIDADE DE PUNIO E REFLEXOS NOS DIFERENTES RAMOS DO DIREITO ........................................................................................................................683.4.9.2DO CDIGO PENAL.....................................................................................................693.4.9.2.1DA ATITUDE DOLOSA ..................................................................................................693.4.9.3CASO PARTICULAR DA IMPLOSO DE CONSTRUO ..........................................693.4.9.4DA QUEDA DE MATERIAL OU FERRAMENTAS DE CONSTRUO ........................703.4.9.4.1DO PERIGO EVENTUAL ..............................................................................................703.4.9.5DO ESTADO DE RUNA DA CONSTRUO ...............................................................713.4.10DA CONSTRUO CLANDESTINA .............................................................................................713.4.10.1RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR OU DO PROPRIETRIO ........................723.4.10.2DO PROMISSRIO COMPRADOR ..............................................................................723.4.10.3SANES .....................................................................................................................723.4.10.3.1 MULTA ..........................................................................................................................723.4.10.3.2 EMBARGO ...................................................................................................................723.4.10.3.3 DEMOLIO ................................................................................................................733.4.10.4DAS ADAPTAES POSTERIORES S NORMAS ....................................................733.4.11DA FISCALIZAO MUNICIPAL ..................................................................................................73Captulo VI - DA ISENO DE RESPONSABILIDADENA CONSTRUO1EM LEGTIMA DEFESA ......................................................................................................................................752 EM ESTADO DE NECESSIDADE ......................................................................................................................753 EXERCCIO REGULAR DE UM DIREITO RECONHECIDO ..............................................................................754OCORRNCIA DE CASO FORTUITO ...............................................................................................................755DE FORA MAIOR .............................................................................................................................................756DO FATO NECESSRIO ISENO DE RESPONSABILIDADE. NO CONFUNDIR COM IMPREVISIBILI-DADE .........................................................................................................................................................................766.1DO DESGASTE NATURAL OU FALTA DE MANUTENO.....................................................................766.2PROVOCADO POR TERCEIROS ............................................................................................................79Responsabilidade na Construo Civil 8 9Captulo VII - PATOLOGIA DE EDIFICAES - FALHAS TCNICAS E DEFEITOS - CASOS PRTICOS DE PERCIA EM CONSTRUO .............................. 811PATOLOGIA DAS CONTRUES .....................................................................................................................821.1ORIGENS..................................................................................................................................................821.1.1EXGENA ....................................................................................................................................821.1.2ENDGENA ..................................................................................................................................831.1.3NA NATUREZA .............................................................................................................................831.2ESTATSTICAS DE INCIDNCIA DAS PATOLOGIAS..............................................................................842ESTUDO DE CASOS:.......................................................................................................................................862.1FALHAS TCNICAS .................................................................................................................................862.2DESABAMENTOS ....................................................................................................................................942.2.1A IDIA DE INSPEO PREDIAL OBRIGATRIA ......................................................................952.3FISSURAS ..............................................................................................................................................1012.3.1FISSURAS POR RETRAO ....................................................................................................1032.3.2FISSURAS POR VARIAO DE TEMPERATURA ....................................................................1052.3.3FISSURAS POR ESFOROS ....................................................................................................1062.3.3.1DE TRAO ...............................................................................................................1062.3.3.2DE COMPRESSO OU FLAMBAGEM DE ARMADURAS .........................................1072.3.3.3DE FLEXO ................................................................................................................1082.3.3.4POR FORA CORTANTE OU CISALHAMENTO .......................................................1092.3.3.5POR TORO ............................................................................................................ 1102.3.4FISSURAS POR CORROSO DA ARMADURA EM CONCRETO ARMADO ............................ 1102.3.5RECALQUE DE FUNDAES ................................................................................................... 1132.3.6FISSURAS POR MOVIMENTAO HIGROSCPICA .............................................................. 1142.3.7FISSURAS POR ASSENTAMENTO PLSTICO ........................................................................ 1152.3.8FISSURAS POR MOVIMENTAO DE FORMAS E ESCORAMENTOS .................................. 1162.4MOVIMENTO DE TERRAS/BULBO DE PRESSO E PERDA DE RESISTNCIA DE ESTACAS DE DIVISA RECALQUE DIFERENCIAL .................................................................................................... 1162.5ALTERAO DE UMIDADE/SATURAO DO SOLO ARGILOSO EM TERRENO VIZINHO .. 1182.5.1CASO DE AO JUDICIAL ........................................................................................122Captulo VIII - A FALHA OU O ERRO; ASPECTOS PSICOLGICOS ENVOLVENTES .................... 1231COMO O SER HUMANO SE COMPORTA COM O PRPRIO ERRO OU FALHA? ........................................1232ELE EST PREPARADO PARA ENFRENTAR O PRPRIO ERRO OU FALHA? QUAL A CONSEQUNCIA DISTO? ....................................................................................................................................................................1243O SER HUMANO TRANSFERE SUAS FALHAS PESSOAIS EM UMA ATIVIDADE OU FUNO OU PROFIS-SO QUE ELE EXERA FUTURAMENTE? COMO E POR QU ISTO ACONTECE?........................................127Captulo IX - NOTAS E CONCLUSO DO AUTOR1A ARTE DE CONSTRUIR: SITUAO PARADOXAL.....................................................................................1292PERGUNTAS E RESPOSTAS. O QUE MAIS IMPORTANTE? .....................................................................129Referncia Bibliogrca ........................................................ 135CC = Cdigo Civil Brasileiro; CDC = Cdigo de Defesa do Consumidor; CP = Cdigo Penal Brasileiro; ABNT = Associao Brasileira de Normas Tcnicas;NBR = Normas Tcnicas BrasileirasResponsabilidade na Construo Civil 10 11Responsabilidade na Construo CivilResponsabilidade na Construo Civil 12 13APRESENTAOA presente publicao traz como contribuio aos prossionais da constru-o civil informaes importantes com relao s responsabilidades no momen-to do exerccio da prosso em obras e servios. O assunto extremamente atu-al e as informaes necessrias ao tico exerccio prossional. No texto o autor relata o resultado de um extenso trabalho cientco alicerado no conhecimento do dia a dia da prosso e na relao com o contratante e o meio relacionado ao local onde a obra ou servio est sendo executado. Traa com propriedade as responsabilidades legal, contratual e extracontratual, suas caractersticas e penalidades impostas ao prossional, passando pelo que diz o Cdigo de Defesa doConsumidor,aslegislaeseprazosvigentescomrelaoagarantia,por exemplo. Traz ainda inmeras situaes pelas quais muitos prossionais j se depararam ou ainda viro a vicenciar no exerccio das prosses e que contri-buem sem dvida para uma conduta tica e responsvel.Que esta leitura subsidie os prossionais que atuam na rea da construo civil e que incentive contribuies para prximas publicaes a serem editadas pelo CREA-PR.Boa leitura a todos.Eng. Agr. lvaro Cabrini JrPresidente do CREA-PRResponsabilidade na Construo Civil 14 15INTRODUOA indstria da construo civil trata essencialmente de atividades que envol-vem conhecimentos tcnicos especializados e conhecimentos jurdicos que se integram e consequentemente se harmonizam nas caractersticas do conjunto engenharia-legal, engenharia-direito.Estetrabalhovisa,almdeaspectosjurdicosdiretamenterelacionados atividade de construir, aos cuidados e precaues com a vizinhana que devem ter os prossionais e proprietrios, quando assim exercem esta atividade, acom-panhando e tratando tecnicamente alguns exemplos de defeitos, anomalias ou patologias em trabalhos periciais, de experincia do autor ao longo destes mais de vinte anos, bem como, em anlise de resultados/sentenas de aes judiciais pertinentes, sem contudo, ter a pretenso neste momento, com esta colabora-o literria, de esgotar o assunto. Temos a inteno precpua de que os interessados e detentores do conheci-mento tcnico da atividade de construir, possam se familiarizar, onde por mais que queiramos no devemos tapar nossa mente e nossa viso e a que pre-tendemos, modestamente, atingir do leitor, esta precauo e, at servindo de alerta a determinadas situaes que surgem na atividade de construir, que no somente pelo fato das imprevises estarem previstas em lei, pois elas aconte-cem e com bastante frequncia, acreditem os senhores leitores ou no.Responsabilidade na Construo Civil 16 171DA ORIGEM DA CONSTRUOE NECESSIDADE AO SER HUMANOSabemos que a construo remonta s origens da humanidade.Meirelles (1996) enfatiza que a intuio do perigo e o instinto de conservao levaram o homem a procurar abrigo nos recncavos da natureza. Depois, escavou a rocha e habitou a caverna; abateu a rvore e fez a choupana; lascou a pedra e cons-truiu a casa; argamassou a areia e ergueu o palcio; forjou o ferro e levantou o arranha-cu, num lento e perene aprimoramento da tcnica de construir, que marcou o advento da Engenharia e da Arquitetura.Construindo a habitao, o homem construiu a cidade. Urbanizou-se. Sur-giram os problemas de segurana, de higiene e de esttica; reclamando uma arte o Urbanismo, para ordenar os espaos habitveis e uma tcnica para o cultivo do campo a Agronomia.Na cidade, passou o homem a desenvolver suas funes sociais precpuas habitar, trabalhar, circular, recrear, utilizando-se da propriedade particular e dos bens pblicos, num estreitamento, cada vez maior, das relaes comunitrias. Da adveio a necessidade de normas tcnicas reguladoras da construo e de regras legais normativas do Direito de Construir.Martins(2001)traduzemsuaobraliterria,queoconsumidoremsua aquisio de uma habitao na cadeia produtiva tem, de acordo com Cabrita (1990),vriosobjetivosdequalidade,eapontadoporGomes(1990),como sendo o elemento mais fraco da cadeia produtiva, pois na maioria das situa-es, ele no intervm na escolha ou deciso sobre o local da construo, rara-mente inui no projeto, e no lhe permitido interferir na execuo da obra. Completaaindaque,oconceitodaqualidadeinverteestepapelondeo consumidor de mero espectador, transformado em ator principal, e Paladini (1994) chama a ateno a este respeito, com a seguinte colocao: a meta de uma empresa atender ao consumidor, porque no h outro meio de se manter no mercado e, sem isso, a sobrevivncia da organizao est ameaada. E nes-ta situao, a empresa depende do consumidor e no o contrrio.Existe, segundo Ross (1988), a necessidade de estabelecer um elo de liga-o entre o consumidor, os projetistas e os empresrios construtores. Ocorre em muitos casos, uma incompatibilidade entre o consumidor e os construtores, que Responsabilidade na Construo Civil 18 19pode chegar a um impasse, no que se refere aos objetivos e ao ponto de vista de cada um em relao qualidade do produto. Contudo, o consumidor afetado pela congurao, pelo custo, bem como por qualquer eventualidade prejudicial que venha a ocorrer com o produto adquirido.Conclui ainda que, na atualidade, e cada vez mais no futuro necessrio tratar a questo da qualidade habitacional no como uma mera questo norma-lizadora e tcnica, mas, sobretudo, como a busca ao atendimento satisfao das necessidades sociais do bem-estar e da qualidade de vida do ser humano. 2EVOLUO DA CONSTRUOEM HARMONIA AO URBANISMOMeirelles (1996) destaca que a construo, com origens em atividade leiga eindividual,evoluiuparaumaatividadetcnicaesocial.Osedentarismo,o trabalho habitual como meio de subsistncia e a inveno da cidade passaram a exigir habitaes duradouras e afeioadas s imposies sociais. A construo civil, como atividade tcnica, sucedeu construo blica, e seus prossionais formaram-se, inicialmente, nas escolas de Engenharia Militar, eparaatenderdiversidadedaconstruocivilepereneevoluodesua tcnica, as primitivas escolas de Engenharia Militar se foram transmudando em escolas mistas militar e civil. Depois se desmembraram em cursos autnomos e, anal, as escolas de Engenharia Civil se transformaram em escolas politcni-cas, repartindo seus cursos nas vrias especializaes contemporneas. Pouco a pouco, as construes de paz sobrepujaram as obras de guerra, as fortica-es e os engenhos blicos. Meirelles (1996) relata que principiou com a edicao urbana, estendeu-se gradativamente a todos os domnios da atividade pacca do homem como fator de progresso e elemento de civilizao. Transformou-se em indstria a indstria da construo civil, descobriu novos campos, aplicou novas tcnicas, utilizounovosmateriais,solicitounovasespecializaes,ensejando,assim,o orescer da Engenharia Civil e da Arquitetura e, paralelamente, o alvorecer do Urbanismo.Finalmente, a complexidade da vida urbana e a trama das metrpoles con-verteram a construo numa atividade eminentemente tcnica e especializada, privativa de prossionais habilitados, que poram em adaptar a estrutura e a forma funo social que a construo desempenha em nossos dias. Responsabilidade na Construo Civil 20 213A INDSTRIA DA CONSTRUOCIVIL E SUAS BASESA inuncia que a construo civil notadamente a habitao (MEIRELLES1996), passou a ter na vida do indivduo e na existncia da comunidade exigiu sujeio dessa atividade s normas tcnicas e normas legais que assegurassem ao proprietrio a solidez e a perfeio da obra contratada e pusessem a coleti-vidade a salvo dos riscos da insegurana das edicaes. Estabeleceram-se, assim, requisitos mnimos de solidez, higiene, funciona-lidade e esttica das obras, a serem atendidas desde a elaborao do projeto atsuacabalexecuo,oqueexigedoPoderPblicopermanenteeatenta scalizao, para sua el observncia. Almdisso,desdequeaconstruocivilsetransformounumaatividade, passou a exigir prossionais habilitados e auxiliares especializados nos vrios elementos e servios que compem a edicao particular e a obra pblica.Todos esses aspectos relacionados com a construo civil constituiro objeto de estudo nos tpicos subsequentes desta obra literria. 4CONSTRUIR TRATA-SE DE CINCIA EXATA?Emtodaaatividadehumanaqueenvolveautilizaodeconhecimento, tratamento manual e observatrio do ser humano, onde podemos enumerar na construocivilafunodomestredeobras,doconstrutor,doarquiteto,do engenheiro,dopedreiro,docarpinteiro,advmconjuntamenteecomumente de tudo o que o ser humano traz de bagagem consigo (a contar principalmente da atitude frente ao seu conhecimento e experincia ou no do conhecimento e da experincia tica e tcnica), em poder observar, reconhecer e transferir na aplicao ou no desempenho de sua funo prossional, em algum momento, inegavelmente, podero vir a ocorrer falhas. Falhas ou erros da atividade prossional que trataremos, tambm, nesta obra literria, j a nvel de parecer psicolgico frente a um parecer de pros-sional da rea, onde avalia que enquanto atividade de construir, transcende a rea da cincia exata.Em juzo ou opinio sem fundamento preciso, e, pois, raciocinando em n-vel aqum do cientco, acredito, at como prossional da rea de engenharia e j construir, inclusive para uso prprio, que depois de solucionarmos viavelmen-teesolidariamentee/ouatapassaraconvivernaconstruocomalgumas situaes negativas de mnima ordem, certo: TEMOS QUE NOS PREPARAR, NOSTECNICAMENTEEJURIDICAMENTE,MAS,EPRINCIPALMENTE, PSICOLOGICAMENTE PARA CONSTRUIR.Responsabilidade na Construo Civil 22 23Captulo I DIREITO DE CONSTRUIR E A HARMONIA NA VIDA COMUNITRIA1DIREITO DE PROPRIEDADE: FUNO E EVOLUOMeirelles(1996)beminiciasuacomposioliterria,descrevendoqueo direito de propriedade o que afeta diretamente as coisas corpreas mveis ou imveis, subordinando-as vontade do homem. O direito de propriedade real, no sentido que incide imediatamente sobre a coisa e a segue em todas as suas mutaes e, o domnio particular se vem socializando ao encontro da ar-mativa de Lon Duguit*1, de que: a propriedade no mais o direito subjetivo do proprietrio; a funo social do detentor da riqueza.Alves (1999) destaca: Com efeito, o direito de propriedade considerado no-ilimitado e de exerccio condicionado. Sempre o fora, mas hoje o elemen-to social, nele implcito, aora de modo palmar.Inegavelmente, a armativa de Ren Dekkers*2 , transcrito por Alves (1999), procede em todo os seus termos, em que os progressos da tecnologia e o xodo do campo cidade densicaram a sociedade moderna, de tal modo que os con-itos entre vizinhos se tornaram praticamente inevitveis, e que, a vizinhana, comocrculosocial,organismosocial,antecedeuapropriedadeimvel.Essa surgiu com a interveno, e apenas a, operada pelo elemento territorial, causa mesma de evoluo do grupo social. 2CONSTRUO OU EDIFICAO QUAL A DIFERENA?Inicialmente, impe-se a xao de alguns conceitos tcnicos da construo ci-vil: Construo e edicao so expresses tcnicas de sentido diverso, comu-mente confundidas pelos leigos. Construo o gnero, do qual a edicao a espcie. Construo, em sentido tcnico, oferece-nos o duplo signicado de atividade e de obra. 1Las Transformaciones Generales del Derecho Privado, ed. Posada, p. 37, 19312Regime Democrtico e o Direito Civil Moderno, p.233, 1937Responsabilidade na Construo Civil 24 25Como atividade, indica o conjunto de operaes empregadas na execuo de um projeto; como obra, signica toda realizao material e intencional do homem, visando adaptar a natureza s suas convenincias. Neste sentido, at mesmo a demolio se enquadra no conceito de construo, porque objetiva, em ltima anlise, a preparao do terreno para subsequente e melhor apro-veitamento.Edicao a obra destinada a habitao, trabalho, culto, ensino ou recre-ao. Nas edicaes distingue-se, ainda, o edifcio das edculas: edifcio a obra principal; edculas so as obras complementares (garagem, dependncias de servios etc).Alves (1999) trata o termo construo que, a exemplo de edicao, obra. Toma-se, com ele, a obra pelo gnero, de que espcie so a edicao, a demo-lio, a reforma, a reconstruo, a reparao. Se se destina, coberta, a abrigar atividade humana ou qualquer instalao, equipamento e material, a obra de construo denomina-se edicao. 3O SIGNIFICADO DE PRDIOComumente, ouvimos e at tratamos, genericamente, em mais de um termo o signicado de construo: o termo construo propriamente dito, a edicao, e atribumos um terceiro termo: prdio mais s edicaes de mdio a grande porte, principalmente quando possui mais de um pavimento.Mas,ovocbuloprdioemDireito,signica,genericamente,aproprie-dade fundiria: a terra com suas construes e servides; mas, na linguagem comum,otermoprdiovem-setornandoprivativodaconstruo,oumais propriamentedaedicao,ondeseencontracomfreqncianasescrituras dealienao,arefernciaespecca:terrenoeprdioneleconstrudo... (MEIRELLES 1996).Alves(1999)bemcomplementaquenoconceitodeprdiointegram-seo de subsolo, solo e sobressolo. Ainda, o de edicao ou, mais largamente, o de construo. A ideia de prdio mais ampla que a de terreno, pedao da terra, que est no substrato.4CONSTRUO E SEU LIMITE AO INICIARAlves (1999) conceitua, no sentido prprio, que obra a realizao de tra-balhonobemimveldousuriovizinho,desdeseuincioataconcluso, implicandooresultadonaalteraodoestadofsicoanterior.*3Osmateriais destinados a qualquer construo, quando ainda no utilizados, so tratados e conservam a qualidade de bens mveis (CC/2002, art.84)).Sobreestettulo,bemobservaMeirelles(1996)que,essaaorientao corretanasconstrues,principalmentenasedicaesurbanas,queconsti-tuem a tessitura*4 dos bairros, e dela dependem o bem-estar recproco dos vizi-nhos e a harmonia na vida comunitria. Da por que o particular pode exigir de seu vizinho, o respeito s normas administrativas e urbansticas da construo, to essenciais como s restries civis de vizinhana*5.Comojvimosemcaptuloanterior,entende-seporconstruotodarea-lizaomaterialeintencionaldohomem,visandoadaptaroimvelssuas convenincias. Tanto construo a edicao ou a reforma como a demolio, a murao, ondetodoaquelequeseerguerentelinhadedivisadestinadovedao de suas propriedades/pertencente a quem o constri (C/C2002, arts.1.297 e 1.327 a 1.330), nunca podendo ser utilizado como elemento de sustentao.Meirelles (1996) destaca que as paredes divisrias so as que integram a estrutu-ra do edifcio na linha de divisa, com duas possibilidades legais de assentamento: Paredesomentenoseuterrenoouatmeiaespessuranointeriordoterrenovizi-nho;noprimeirocaso,ovizinhoquenecessitarutiliz-laparatravamento,desdequesu-porte,terquepagarmeiovalordaparedeedochocorrespondente,e,nosegundocaso terquepagarmetadedovalordaparedee,mesmotratando-sedeparede-meiainsu-cienteparasuportaraobradovizinho,esteterquefazernovaparede,renteaprimei-ra,comotambmnopoderembutir,semconsentimentodovizinho,armriosouobras semelhantescorrespondendoaoutras,doladoopostodemodoaporemriscoasuase-guranafornosdeforjaoufundio,canosdeesgoto,fossos,aparelhoshiginicos, depsitodesaloudesubstnciascorrosivas(C/C2002,arts.1.305a1.308,sendomais prudenteanoprticadeparede-meia,evitando-seinconvenientesdeordemtcnica), aescavao,oaterro,apinturaedemaistrabalhosdestinadosabeneciar,tapar(enten-3Cdigo de Obras e Edicaes do Municpio de So Paulo, Lei 11228 / 92, Anexo I, 1-1.4As Limitaes Urbansticas que so todas as imposies do Poder Pblico destinadas a organizar os espaos habitveis (rea em que o homem exerce coletivamente qualquer das seguintes funes sociais: habitao, trabalho, circulao, recreao), de modo a propiciar ao homem as melhores condies de vida na comunidade. 5A inveno da cidade regular e a enunciao das primeiras regras de Urbanismo, no sculo IV a.C., atribuem-se a Hipodamus de Mileto.Responsabilidade na Construo Civil 26 27de-setodomeiodevedaodapropriedadeurbanaerural,permitidopelasnormasad-ministrativas,incluindoosmuros,cercas,sebesvivas,gradis,valos,tabiquesdeproteo aosedifciosemconstruoeoquemaissedestinaaseparar,vedarouprotegeroim-velouimpedirodevassamentodoprdio),desobstruir,conservarouembelezaroprdio.Captulo IIRESTRIES DE VIZINHANA CONSTRUOFaremos meno, que restringiremos, nesta obra literria, nosso estudo aos aspectos fsicos das restries de vizinhana, no objetivando alcanar, portan-to, de todos os tipos de aes judiciais cabveis para cada caso (indenizatria, demolitria, nunciao de obra nova etc).1VIZINHANA E EXTENSO DE SEU CONCEITOParansdeDireito,oconceitodevizinhanaabrange,nasistemticado Cdigo Civil brasileiro, no s os prdios connantes como os mais afastados, desdequesujeitossconsequnciasdousonocivodaspropriedadesqueos rodeiam, quenem por isso cam desprotegidos contra os danos de vizinhana. Vinculam no s proprietrio (titular do domnio) como o possuidor do imvel aqualquerttulolegtimo(compromissriocomprador,locatrio,comodatrio etc).2AVANAR A CONSTRUO E INVADIR O VIZINHO? SAIBA COMO NO INCORRER NESTE ERRODe invaso em rea vizinha, a primeira regra que no pode avanar a cons-truo alm da meia espessura da parede sobre a linha divisria, tanto quanto os alicerces so colocados alm dos limites do terreno quanto ao avano dos pavimentos superiores balanos.Meirelles (1996) destaca ainda quanto a possveis situaes de invaso em vizinhana previstas em lei, a saber: a)Goteirasoriundasdebeiraldetelhadonodevemserdespejadossobreoprdiovi-zinho,quandoporoutromodonopossaevitaragoteira(CC/2002,art.1.300),que comautilizaodecalhasquerecolhamasgoteirasenoasdeixemcairnapro-priedadevizinha,poderencostarotelhadonalinhadivisrianoseopondoovi-zinho(expressaoutacitamente*6)dentrodeumanoediadotrminodaconstruo, decairdodireitodeexigirquesedesfaaessasituao(CC/2002,art.1.302)*7; Grandiski(2001)trazsuavaliosacolaboraoquantoaoprescritono art.1.289 do Cdigo Civil, e cita interessante caso ocorrido, onde fora constru-do prdio de 17 (dezessete) andares, justaposto divisa da casa vizinha, que na 6Do termo tacitamente, AURLIO, pgina 1346, 4. Tcito, explica: Que, por no ser expresso, de algum modo se deduz.7GRANDISKI ( 2001 ) colabora em seu valioso trabalho 2 TACIVIL Ap. c/ Rev. 538.263 7 Cm. Rel. Juiz Miguel Cucinelli j. 22.09.1998: Direito de vizinhana Nunciao de obra nova Construo de beiral que invade terreno vizinho. A existncia de beiral por sobre terreno alheio no traz qualquer direito quele que construiu, pois violado o direito de propriedade do vizinho contguo.Responsabilidade na Construo Civil 28 29poca a legislao permitia. A calha da casa vizinha estava bem dimensionada para receber as guas pluviais de seu telhado, mas tornou-se insuciente com o aumento da vazo provocado pelas chuvas que incidiam no paredo construdo do prdio, provocando danos na casa. A construtora, que apenas havia provi-denciado a colocao de rufo, transferindo as guas para a calha vizinha, foi aconselhada a reconhecer sua falha, criando nova calha acima do telhado do vizinho, para receber esta nova contribuio de guas pluviais provocada pela ao do vento, canalizando-a para a rua, conforme esquema abaixo.fonte: Grandiski (2001) Caso prtico de percia judicial de obrigao de canalizao de guas, em direito de vizinhana.b)Parajanela,terraoouvarandadefesoaconstruoamenosdemetroemeioda divisadovizinho(CC/2002,art.1.301),entendendoquejanelaqualquerabertu-raouvodemaisde10centmetrosdelarguraoudemaisde20centmetrosdecom-primentocomqualquermaterialvedanteouno,desdequepermitaapassagemdeluz*8 e,queterraoevarandasignicamosespaosabertosinternaouexternamentenospr-dios,envidraadosouno*9;asjanelascujavisonoincidasobrealinhadivis-ria,bemcomoasperpendiculares,nopoderoserabertasamenosde75centmetros;c)Dervoresqueseencontramnalinhadivisriapresume-sepertenceremcomum aosconfrontantes(CC/2002,art.1.282)ounassuasproximidadesequeinterferemnas construescomsuasrazes,galhos,folhasquandoavanandosobreovizinhopoder cort-lonoplanoverticaldivisrio(CC/2002,art.1.283)oufrutosquepertenceaam-bosquandoarvoreseacharnalinhadivisriadosprdios(CC/2002,art.1.284)e,es-tandoforadalinhadivisriaspertenceraovizinhoosquesedesprenderemdarvore ecairemseulado,pertencendoaquemapanharquandocairemviaouterrenopblico; d)Acanalizaodasguaspelosvizinhos,atravsdeprdiosalheios,permitidapelo Cdigodeguas(CC/2002,arts.1.288a1.296),desdequesejamindenizadosospro-prietriosprejudicadoseoaqueduto(canos,tubos,manilhasetc)noatravessechcaras oustiosmurados,quintais,ptios,hortas,jardins,bemcomocasasdehabitaoesuas dependncias,sendojusticadaquandoparaatendersprimeirasnecessidadesdevida, paraosserviosdaagriculturaoudaindstria,escoamentodeguassuperabundantesou paraoenxugoedrenagemdosterrenos,eabrangeaconduo,captaoerepresamen-todagua;oproprietriodoterrenoemnvelinferiornopodeseescusardereceberas guaspluviaisoucorrentesquedesamnaturalmentedoterrenosuperior,nopodendoo vizinhoachadoemnvelsuperiorpioraracondiodeescoamento,alterandoodesagua-douro,connandoasguas,ounelasadicionandooutrasquenoascompunhamante-riormente, pode ser impedida pelo prejudicado que tem direito a exigir que se desfaam as obrasprejudiciais,serestabeleaasituaoanteriordeescoamentoeselheindenizemos danosconsumados(verexemplodetrabalhopericialdesteautor,emcaptuloposterior); Grandiski (2001) complementa que as despesas correro por conta do dono do prdio superior, e, se houver possibilidade de encaminhamento de parte das guaspluviaisdoprdiosuperiordiretamenteruaparaaqualfazfrente,o vizinho inferior no estar obrigado a receb-las*10.e)Aentradaemprdiovizinhoparareparaes,construeselimpezas(CC/2002,art. 1.313)sopermitidas,desdequepreviamenteinformadoecondicionadonecessidade dasconstrues(exemplo:rebocoexternodeparededivisriacomexecuodeandaimes), reparaesemgeral,limpezaoucortesdervores,eminentementedecartertemporrio. Alves(1999)complementa,quenosehaveriapr-excluirdocampode incidnciadaleiotrabalhodedemolio*11,muitavezpressupostoftico reconstruo mesma, ou reparao, ou qui, limpeza; f)Em condomnio de apartamentos para quaisquer ns, onde alm do j avenado, regula-do pela Lei Federal n 4.591, de 1964 que impedem: I e II a manuteno da estrutura e do aspecto original do edifcio (alterar a forma, tonalidade ou cores diversas externa da fachada no conjunto da edicao, ou parte ou em esquadrias externas ). 8So permitido frestas para dar passagem luz nas paredes divisrias nunca maiores de 10 centmetros de largura sobre 20 centme-tros de comprimento ( Artigo 1301, pargrafo 2 do Cdigo Civil ) e construdas a mais de dois metros de altura de cada piso.9GRANDISKI ( 2001 ) traz em seu trabalho - DJU 06/12/99 RESP 229164 STJ Maranho (99/0080312-4) Rel. Ministro Eduardo Ribeiro - ementa: Nunciao de obra nova. Abertura de janela. No se opondo o proprietrio, no prazo de ano e dia, abertura de janela sobre seu prdio, car impossibilitado de exigir o desfazimento da obra, mas da no resulta siga obrigado ao recuo de metro e meio ao edicar nos limites de sua propriedade. 10GRANDISKI ( 2001 ) colabora em seu trabalho trazendo do 2 TACIVIL Ap. c/ Rev. 478.751 9 Cm. Rel. Juiz Ferraz de Arruda j. 05.03.1997: Responsabilidade civil Danos em prdio urbano Irregular escoamento de gua Culpa do proprietrio do imvel superior Indenizao Cabimento. Pela lei civil, o dono do prdio inferior est obrigado a receber as guas naturais ou articiais do prdio superior, contudo, o proprietrio deste h de cuidar de que o escoamento se faa de maneira a no causar dano propriedade inferior.11Gabriele Pescatore, Della Propriet, III, p.204.CALHAADICIONAL NECESSRIAPrdioconstrudoResponsabilidade na Construo Civil 30 31fonte: PELACANI (2006) Detalhe do beiral da cobertura da churrasqueira executada aps habite-se no pavimento superior do apartamento duplex 17 andar do edifcio. Participei como assistente tcnico, onde originou ao judicial do condomnio contra o proprietrio, alegando alterao de fachada. Vista lateral esquerda, da calada oposta ao do edifcio. Grandiski (2001) destaca para este tpico ainda que, a alterao de facha-da sempre assunto polmico, a comear pela prpria denio do que seja a fachada, entendida nas percias como a superfcie mais externa que envolve a construo. SegundooProf.AlexandreAlbuquerque,seriaoaladodaparteexterior de um edifcio, sendo o termo alado em tudo o que for visvel de um ponto externo fachada faria parte dela. Quando a alterao for de pequena monta, sem comprometer a segurana do imvel, no prejudicando algum ou o aspecto esttico da fachada (exemplo: substituiodeesquadriadeferroporoutrasemelhante,masemalumnio), mas preservando vidas humanas, tais como as colocaes de redes protetoras. As cores das esquadrias externas no podem ser alteradas pelo condmino, quebrandoauniformidadedafachada.Portanto,aosubstituiresquadriasde ferro por outras de mesmo tipo, mas de alumnio, este dever ser pintado na cor original. J o forro da cortina interna no faz parte da fachada, e, portanto, poderia ser de qualquer cor, embora afetando o aspecto visvel externamente. Nestecaso,aconvenopoderiaespecicarpreviamenteacordoforrodas cortinas, uniformizando esse aspecto externo*12*13*14.III preservao da nalidade do prdio, segurana da edicao e o bem-estar dos condminos e ocupantes*15; IV utilizao das reas e equipamentos comuns; g)Comoltimasrestriesdestacamosasindividuaisegerais,ondeaprimeiraservepara atenderainteressespeculiaresdevizinhose,demaneirageralcomoinibiodeincmo-dosparaoconfrontante(tipodeconstruoquepossatiraravistapanormicaoucausar sombreamento)e,asegunda,deordemurbanstica,comumefrequentesnosloteamentos, visandoasseguraraobairroosrequisitosurbansticosconvenientes(planodiretordomuni-cpioqueregeousoeocupaodosoloindividualizadosporbairroclassicadoemlei dezoneamentozonasresidencial/comercial/industrial/especial,comsuasatividadesper-mitidas,recuosexigidos,taxadeocupaodesolo,coecientedeaproveitamento,delimi-taodazonaurbanapermitidoregidoporlegislaourbanaespecca)suadestinao.12TJRJ Ap.Civ. 4054/94 Reg. 31/10/94 8 Cm.Cv. Unn. Des. Laerson Mauro Julg. 13/09/94: Condomnio Alterao de fachada Inocorrncia. Colocao de pelcula de insulme. Alterao de fachada. Inocorrente. Edifcio construdo em centro de terreno, com fachada em vidro, inteiramente ao sol, todo o dia. A colocao de pelcula de insulme, para amenizar os efeitos incmodos dos raios solares nas unidades autnomas, a princpio no implica em modicao da fachada e esttica do prdio, tal como concluiu a percia, mas deve-se reconhecer ao Condomnio a faculdade de regulamentar a matria, visando uniformizao e padronizao da obra. 13TJESP, Ap. 116.406-2, 16 Cm.: Alterao de fachada do pavimento trreo do edifcio. Admissibilidade. Prova Pericial no sentido da valorizao da fachada, bem como no da inocorrncia de comprometimento esttico do conjunto. Hiptese, ademais, de exis-tncia de distncia suciente entre a obra em questo e o prdio de apartamentos. Recurso provido.14TJSP 9 Cm. de Direito Privado; AC n. 116.497.4/2 SP; Rel. Des. Ruiter Oliva; j. 28/9/1999.152 TACIVIL Ap. c/Rev. 488.076 6 Cm. Rel. Juiz Thales do Amaral J. 06.08.1997: Responsabilidade Civil Indenizao Danos em prdio urbano Obras realizadas por vizinho. Ao Cominatria. Danos em prdio urbano. Edifcio de apartamentos. Compete ao proprietrio do imvel superior proceder aos reparos para que cessem vazamentos e inltraes que danicam o imvel inferior. Recurso improvido.Responsabilidade na Construo Civil 32 33Captulo IIILIMITAES ADMINISTRATIVAS CONSTRUO1VINCULAO DAS RESTRIES DE VIZINHANA S LIMITAES ADMINISTRATIVAS EM PROL DO BEM-ESTAR DA POPULAOMeirelles (1996) traduz a questo da restrio de vizinhana (abordado no captulo anterior), como sequencial s limitaes administrativas na atividade de construir.Das limitaes administrativas, que protegem, genericamente, a coletivida-de (em benefcio do bem-estar da comunidade tendo em vista a funo social dapropriedade,ondejtratamosnestetrabalhoanteriormente),muitobem arma, Gustavo Filadelfo Azevedo: O Direito de Construir est sujeito s res-triesdecarterregulamentar,destinadasaimpedirousodapropriedade de forma nociva sade, contrria segurana ou qualquer outro motivo de interesse pblico dessa natureza, com liberdade ampla, dentro da rbita re-clamada pelo bem-estar coletivo e do respeito substncia do prprio direito de propriedade.Por expressa determinao do Cdigo Civil, as normas ou restries de vizi-nhana so sempre complementadas pelas limitaes administrativas ordena-doras da construo e asseguradoras da funcionalidade urbana.Tambmseinseremasnormasparaconstruonasvizinhanasdeaero-portos e nas margens das rodovias, que requerem tratamento especial quanto segurana tanto para edicaes e culturas em reas adjacentes ao pouso de aeronaves, bem como do espao areo, e, em rodovias xa-se um recuo obriga-trio non aedicandi rea no permitida edicao, a m de evitar sejam invadidas pela poeira e pela fumaa dos veculos, e no prejudicar a visibilidade e a segurana do trnsito na via expressa. Meirelles (1996) declina ainda que os superiores interesses da comunidade justiquem as limitaes urbansticas de toda ordem, notadamente as imposi-es sobre rea edicvel, altura e estilo dos edifcios, volume e estrutura das construes. Responsabilidade na Construo Civil 34 35Complementaaindaqueemnomedointeressepblico,aadministrao exige alinhamento, nivelamento, afastamento, reas livres e espaos verdes; im-pe determinados tipos de material de construo; xa mnimos de insolao, iluminao, aerao e cubagem; estabelece zoneamento; prescreve sobre lotea-mento, arruamento, habitaes coletivas e formao de novas povoaes; regu-la o sistema virio e os servios pblicos e de utilidade pblica; ordena, enm, a cidade e todas as atividades das quais depende o bem-estar da comunidade.Essa enumerao evidencia, desde logo, que as limitaes urbansticas con-nam com as normas sanitrias e as regras de trnsito, uma vez que todas elas conuem para o mesmo objetivo: o bem-estar da populao. Alves (1999) entende e comenta que as limitaes de vizinhana, como acen-tuouPontesdeMiranda,nosointromisses.Sodiminuiesdecontedo; portanto, em sentido preciso, limitaes*16.Acrescenta ainda que, absoluto, o direito de propriedade assim concebido, a princpio, com o passar dos tempos viu-se na contingncia da limitao, para a possibilidade mesma do fato social da vizinhana, eis que a aniquilao de um dos termos da relao impediria a sua prpria existncia. Fundamenta-se do direito de construir no direito de propriedade e, tratando-se de propriedade imvel, existe a necessidade das construes para colher as vantagens que o terreno propriedade imvel, lhe proporciona.Meirelles (1996) insiste em advertir que o direito de construir no absolu-to, porque as relaes de vizinhana e o bem-estar coletivo impem ao proprie-trio certas limitaes a esse direito, visando assegurar a coexistncia pacca dos indivduos em sociedade.Captulo IVLIBERDADE DE USO DA PROPRIEDADEO Cdigo Civil em seu art. 1.299, prescreve que o proprietrio pode levantar emseuterrenoasconstruesquelheaprouver,salvoodireitodosvizinhos eosregulamentosadministrativos,quenopoderdelevantaremseuterreno as construes que entender, est consignado, para o proprietrio, a regra da liberdade de construo; na proibio do mau uso da propriedade est o limite dessa liberdade, assim comenta Meirelles (1996). Grandiski (2001) admite que as restries e limitaes ao direito de cons-truir, correspondem sempre a excees regra, excees estas que podem ser administrativas (leis federais, estaduais e municipais) ou regras contratuais, tais como as que regulam os loteamentos, condomnios, etc*17..Este mau uso da propriedade, est consignado mais especicamente no art. 1.277 do Cdigo Civil, em que o proprietrio ou inquilino de um prdio tem o direito de impedir que o mau uso da propriedade possa prejudicar a segurana, o sossego e a sade dos que o habitam.Destacaracterstica,noseadmiteousodeformaanormaldoDireitode Construir em que o direito de propriedade possui limites, onde o interesse social o imperativo exigido pelas relaes de vizinhana. Em consequncia, o homem, como ser inserido na sociedade, tem o seu direito simplesmente relativo, o que adverte Georges Ripert*18, onde evolumos da propriedade-direito para a proprie-dade-funo e, desta funo social da propriedade situa-se ainda como princpio da ordem econmica, ao lado do reconhecimento da propriedade privada*19 .16Tratado de Direito Privado, II, p. 312.17TJSP9Cm.deDireitoPrivado;Ap.Cveln.63745.4/5-Barueri-SP;Rel.Des.RuiterOliva;j.21.10.1997;v.u.;ementa: Direito de Construir Demolio Loteamento Restrio convencional imposta pelo loteador Obrigao propter rem Projeto aprovado observando tais restries Obrigao comum assumida pelo proprietrio de executar a obra segundo o projeto apro-vado Descumprimento da obrigao Irrelevncia da concesso do habite-se pela Prefeitura Municipal, em decorrncia de lei de anistia das construes irregulares Ato jurdico perfeito e acabado, que est inclume aos efeitos da lei ( Artigo 5, XXXVI da Constituio Federal ) Recurso provido Segundo o nosso direito, a regra a liberdade de construir, mas as restries e limitaes a esse direito formam as excees, e somente so admitidas quando expressamente previstas em lei, regulamento ou contrato. Quando previstas em Regulamento do Loteamento, e consignadas do ttulo traslativo da propriedade, constituem obrigao propter rem, isto , obrigao daquele que o titular da propriedade. Da que a concesso do habite-se pela Prefeitura Municipal por fora de lei que concedeu anistia s construes irregulares, no elide a obrigao do devedor, em face da proteo outorgada pela Carta Magna ao ato jurdico perfeito e acabado ( Artigo 5, XXXVI ). No estando a edicao de acordo com as restries negociais, e nem com o projeto aprovado segundo a obedincia dessas restries, impe-se a correo das irregularidades, demolindo-se a parte da construo em desacordo com tais restries. 18TJSP Tribunal de Justia de So Paulo, RT 251/256, 265/275 e 673/5419TJSP Tribunal de Justia de So Paulo, RT 152/639Responsabilidade na Construo Civil 36 371NORMALIDADEE ANORMALIDADE DE USO DA PROPRIEDADEMeirelles(1996)destacaque,daTeoriadaNormalidadedeseuexerccio Direito Positivo Princpio do Direito de Propriedade explica que a norma-lidade se analisa em cada caso, levando-se em conta a utilizao do imvel, a destinao do bairro, a natureza da obra ou da atividade, a poca, a hora e demais circunstncias atendveis na apreciao do ato molesto ao vizinho. Anormal toda a construo ou atividade que lese o vizinho na segurana do prdio, ou no sossego ou na sade dos que o habitam, enquadrando-se no conceito de mau uso da propriedade.2DIREITOS DO VIZINHOMeirelles(1996)registraqueovizinhotemodireitodeimpedirqueos outros daniquem a sua propriedade, prejudiquem o seu sossego ou ponham em risco a sua sade com obras nocivas, trabalhos perigosos, rudos intoler-veis, emanaes molestas, vibraes insuportveis, odores nauseabundos*20 e quaisquer outras atividades ou imisses prejudiciais vizinhana, sendo permi-tido aos lesados vedar essa utilizao anormal da propriedade vizinha e obter a reparao dos danos consumados*21.3 INCMODOS AO ATO DE CONSTRUIR: AT ONDE SE CONSIDERA UM ERRO OU FALHA TCNICA?Entende-se que nem todos os incmodos no so reprimveis, mas, ento somente os insuportveis, mesmo causados sem o intuito de culpa ou dolo do vizinho.Meirelles(1996)destacaque,agecomculpatodoaqueleque,porao ou omisso voluntria, viola direito ou causa dano a outrem, por negligncia, imprudncia ou impercia de conduta, embora no desejando o resultado lesivo ( CC/art.186 e CP, art.18,II). Da depreendemos que se inclui como culpa o dever de ateno, da cautela, da habilidade, da prudncia, da precauo, da leso no desejada mas ocorrida por imprudncia, impercia ou negligncia em todos os atos tcnicos/humanos no decorrer da construo. Nestacategoriaincluem-setodosostrabalhosqueproduzemdanonaes-truturadoprdio,trepidaes,abalosemovimentosdosolo(comoocaso deperfuraodesolocomousodebate-estacaemovimentodemquinas ecaminhesemterrenosvizinhosquandosemodicaonvelnaturaldos mesmosvertrabalhopericialemtpicoposteriordestaobraliterria*22e art.1311CC/2002),inltraesdaninhas(faltaderufosentreedicao emconstruoeexistentes,bloqueandoumpossveleincontrolvelpoten-cializadordeconcentraodeumidadeemsolo),explosesviolentas,ema-naesvenenosasoualergnicas,e,tudooquemaispossaprejudicar sicamenteconsequnciasdestesatosdescritos,oprdioouseusmorado-res. 1)2) fonte: PELACANI (2009) 1) Muro de arrimo e aterro de terras em terreno vizinho; 2) abertura e deslocamento vertical da parede do BWC social da residncia recalque diferencial.Tratamos mais especicamente tambm de ato lesivo, a queda de madeira-mento de construo com dano pessoal, a falta de tapume divisrio que permita a depredao do imvel vizinho, a falta de muro de arrimo de conteno de terras que enseja dano ao prdio inferior (ver trabalho pericial em tpico posterior desta obra literria), a existncia de poo em terreno aberto que d causa queda de 20Do termo nauseabundos, AURLIO, pgina 965, 2. Fig., explica: Nojento,(...), repugnante.21Em GRANDISKI ( 2001 ) TJRJ 5 Cm. Cvel; AC n. 13.039/99-RJ; Rel. Des. Carlos Raymundo Cardoso; j. 30/11/1999; v.u.: Direito de vizinhana Mau uso da propriedade Dano material Comprovao necessria Sentena ilquida Impossibilidade Dano moral Congurao Arbitramento Embora comprovada a violao do direito de vizinhana, pelo mau uso da propriedade por parte do vizinho, pela constante emisso de rudos e euentes de odores, fumaa e gordura advindos da maquinaria utilizada por pizzaria, h necessidade, para que sobrevenha decreto condenatrio, da efetiva comprovao do dano material, consubstan-ciado em alegada depreciao da propriedade imobiliria dos autores. Se esta comprovao no se faz, impossvel a prolao de sentena condenando a r a reparar o dano, cuja comprovao se remeteu subseqente liquidao. Se o pedido certo e lquido, no pode o juiz proferir sentena ilquida, nem, tampouco, sentena condicional, em que a condenao nela estabelecida que condicionada prova do dano que vier a ser feita na fase de liquidao. A perturbao tranqilidade, ao sossego e ao repouso do morador pela constante emisso de rudos e euentes de fumaa, gordura e odores, congura dano moral indenizvel, face a violao do direito ao descanso e do recesso do lar. Provimento de ambos os recursos; dos autores, para reconhecer a incidncia do dano moral e determinar sua reparao; dos rus, para excluir a condenao pelo dano material, no comprovado. 222 TACS 9 Cm. Ap. Rel. Marcial Hollandi j. 6.8.1997 RT 748/290: O proprietrio ou possuidor do imvel no qual foi realizadoaterrocausadordosdanosemprdiovizinhorespondepelarespectivareparao,aindaquenotenhahavidoprova segura de que foi o autor direto da obra, por ser obrigao propter rem.Responsabilidade na Construo Civil 38 39transeunte,odanoapessoaresultantedemaufuncionamentodeelevador,a emisso de fuligem de indstria, prejudicial aos prdios vizinhos, o rebaixamento de solo danoso construo connante, a pulverizao de leo com impregnao no mobilirio do prdio vizinho, a falta de fecho que permita a entrada de me-nores e o consequente acidente em os de eletricidade, a explorao de pedreira com dinamite de modo perigoso aos vizinhos, aterro ou desaterro lesivo ao prdio vizinho (apresentamos estudo de casos, em captulo posterior desta obra literria, com apresentao de parte de sentena judicial, como o caso requereu), o rom-pimento de represa com dano aos prdios inferiores, a alterao do escoamento natural das guas pluviais com dano para os prdios inferiores.Fonte: PELACANI ( 2006 ) Detalhe de corte de terras em terreno urbano da cidade. Vista de estacas cortina e muro de arrimo executados para a conteno de terras do terreno vizinho.Age com dolo todo aquele que almeja o resultado lesivo ou assume o risco de produzi-lo (CP. art.18,I), depreendendo da leso que o agente desejou, onde trataremos com maiores detalhes no captulo posterior.Captulo VRESPONSABILIDADES NA CONSTRUO CIVILDaatividadedeconstruir,delegadoafunoaoperriose,isto,porsi s, j controlado e, presume-se de responsabilidade prtica, a elaborao do servio delegado, a uma segunda pessoa e, portanto, no estar o prossional tecnicamente e teoricamente responsvel pela atividade, no controle do servi-o. Da, e no poderia ser diferente, a lei trata e se refere no mais a segunda pessoa que exerceu a sua funo em servio delegado, e sim a pessoa de cuja responsabilidade tcnica, ao prossional que delegou a funo. A propsito, Grandiski (2001) destaca em sua obra literria, do acrdo do TJSP Tribunal de Justia de So Paulo, publicado na RT Revista dos Tribu-nais, n 621, p.76, tendo como Relator o Dr. Roque Komatsu: ( ... ) Assentado que o autor tem ilegitimidade para agir contra o co-ru M.A.D., engenheiro responsvel pela obra e no apenas autor do projeto (s. 14-15), a sua responsabilidade inafastvel, dela no se eximindo pelo fato de ter alertado o construtor, que era o dono da obra, a respeito das fundaes e do desvio das instrues do projeto, como armado na contestao (s. 81). Alis,oquearmaoco-ruM.A.D.atrevelacomportamentonegligente, uma vez que quando passou pela primeira vez na obra, as fundaes j esta-vam prontas e as paredes em elevao (s. 81).Escreve, a propsito, Pontes de Miranda: O fato de dar instrues, o em-preitante no exime o empreiteiro das suas responsabilidades na execuo da obra. O empreiteiro recebe-as, mas autnomo. As instrues que lhe tiras-sem a independncia seriam infringentes do contrato. (...). Fazaluso,ainda,aotermoresponsabilidadecomoumsignicadoge-nricoderessarcimento,recomposio,obrigaoderestituir.Nalinguagem coloquial, responsabilidade a qualidade de quem tem de cumprir obrigaes suas, ou daquele que tem que responder pelos atos seus ou alheios.Responsabilidade na Construo Civil 40 411RESPONSABILIDADE QUE INDEPENDE DE CULPAMeirelles (1996) relata bem em captulo sobre a responsabilidade por danos a vizinhos e terceiros, que: A construo, por sua prpria natureza, e mesmo sem culpa de seus executores, comumente causa danos vizinhana, por recalques do terreno, vibraes do estaqueamento, queda de materiais e outros eventos comuns na edicao. Tais danos ho de ser reparados por quem os causa e por quem aufere os proveitos da construo. um encargo de vizinhana, expressamen-te previsto no CC/2002, art.1.299, que, ao garantir ao proprietrio a faculdade de levantar em seu terreno as construes que lhe aprouver, assegurou aos vizinhos a incolumidade de seus bens e de suas pessoas e condicionou as obras ao atendimento das normas administrativas. Essa responsabilidade independe da culpa do proprietrio ou do construtor, uma vez que se origi-na da ilicitude do ato de construir, mas, sim, da lesividade do fato da construo. um caso tpico de responsabilidade sem culpa, consagrado pela lei civil, como exceo defensiva da seguran-a, da sade e do sossego dos vizinhos ( CC/2002, art.1.277), exigindo no mais que a prova da leso e do nexo de causalidade entre a construo vizinha e o dano*23, surgindo a respon-sabilidade objetiva e solidria de quem ordenou e de quem executou a obra lesiva ao vizinho.Da a armativa de Pontes De Miranda que: a pretenso indenizao que nasce da ofensa a direito de vizinhana independente de culpa. *24 Grandiski(2001)complementaqueconformeateoriaclssica,arespon-sabilidade civil se assenta em trs pressupostos: que haja um dano, que seja identicada a culpa do autor do dano, e que haja uma relao de causalidade entre o fato culposo e o mesmo dano.Acrescenta ainda que outra forma clssica de classicao de responsabili-dades distingue a objetiva da subjetiva:1.1 RESPONSABILIDADE OBJETIVAIndependedaexistnciadeculpa,bastanteprovaronexodecausali-dadeentreoeventoeodanoparaquesurjaodeverdeindenizar,inde-pendentemente de haver ou no culpa do causador. Conforme esta teoria, oexercciodeumaatividadederiscocria,paraoagentecausador,uma responsabilidade objetiva, que independe da existncia de culpa, bastando provararelaodecausaeefeitoentreocomportamentodoagenteeo dano causado vtima, para que esta possa exercer o direito de ser inde-nizada.Nestecaso,aexistnciaounodeculpadoagentedemenor relevncia. o conceito bsico adotado pelo Cdigo de Defesa do Consumidor, a partir do dia 11.09.1991, como a TEORIA DO RISCO.1.2 RESPONSABILIDADE SUBJETIVAMeirelles(1996)destacaqueindispensvelprovarantecipadamentea culpa, para que da emerga o dever de indenizar, e o causador responda pelas perdas e danos. Portanto, neste caso, a responsabilidade depende do compor-tamento do sujeito, e s se materializa se o causador agiu de forma culposa ou dolosa.Grandiski (2001) ressalta que no constituem atos ilcitos os praticados em legtimadefesaounoexerccioregulardeumdireitoreconhecido(CC/2002, art.188,I),oqueimplicadizerqueaorepeliragressoocorridanaquelemo-mento, ou na iminncia de ocorrer, a pessoa faz uso moderado dos meios ne-cessrios, que pode causar leso ao oponente, e exercendo de regular direito reconhecido em praticando ato previsto em lei, o responsvel estar isentado de culpa, mesmo causando danos a terceiros. o conceito bsico adotado pelo Cdigo Civil, como a TEORIA DA CULPA, devendo ser provado atravs de parecer tcnico fundamentado. 2PRIMEIRO PASSO ANTES DE CONSTRUIR: FAA UMA VISTORIA PRVIA DA VIZINHANADaconstruo,comorealizaomaterialeintencionaldohomem*25,po-dem resultar responsabilidades diversas do construtor para com o proprietrio da obra, e deste para com vizinhos e terceiros que venham a ser prejudicados pelo s fato da construo ou por ato dos que a executam, como j vimos em captulo anterior deste trabalho.Amelhorprecauoantesdeseiniciaraconstruir,adevistoriada vizinhana em seu entorno, contratando prossional para realizar uma vis-toriacomrelatriotcnicofotografadodenominadaVistoriaCautelar, ad perpetuam rei memorian, na gura de Engenheiro Avaliador capacitado, paranoincorrernaseguintesituao:noprdiovizinhojhaviassura ou ssuras anterior a construo nova, e o seu vizinho pode vir a aproveitar aoportunidadedeconsertarosseusdefeitosatravsdesuaconstruo 23STF, RT 614/240; 1 TACivSP, RT 632/1324Tratado de Direito Privado, 2 ed., XIII / 29325Sobre o conceito de construo, ver ainda: Captulo X, I e II Responsabilidade Decorrente de Construo, Marco Aurlio Viana, Contrato deConstruoeResponsabilidadeCivil,SoPaulo,Saraiva,1980;LuizRodriguesWambier,ResponsabilidadeCivildoConstrutor,RT 659/14.Responsabilidade na Construo Civil 42 43ltima,quantoainterferir/contribuircomqualquermodicaodoterreno natural (aterro ou desaterro corte e retirada de terras) ou at com estacas combasedepressobulbodepresso,emsubsoloqueinterferenare-sistnciadeatritolateraldasestacas(principalmentededivisasmelhor detalhadoemcaptuloposteriordestaobraliterria)daedicaojexis-tente, vindo a surgir defeitos/ssuras, rebaixamento de piso, fossas e caixas de passagens com consequncias inclusive em rompimento de tubulaes, potencializadoras de defeitos/patologias, onde o prossional mal informado tcnico-juridicamente, simplesmente prefere atribuir, sem antes se preca-ver, das ocorrncias patolgicas que a edicao existente possua, antes do incio da construo nova. Grandiski (2001) complementa em seu trabalho, que as vistorias em im-veis vizinhos obra que ir se iniciar nas imediaes (no h necessidade de ser vizinho justaposto, no caso de cravao de estacas, por exemplo), corres-pondem a casos muito comuns de produo antecipada de provas, envolvendo patologias das construes.Maia Neto (1993) trata deste assunto, que um exemplo muito comum da utilizao deste expediente, que vem crescendo sem a realizao de uma ao judicial, mas por iniciativa das partes, a realizao de vistorias preliminares em imveis vizinhos a um terreno onde ir ser iniciada uma obra, que constitui uma medida segura para a construtora, que no se responsabilizar por danos eventualmente j existentes, e para os proprietrios dos imveis, que tero ga-rantia da integridade de seu patrimnio.Completaaindaque,ocorrem,norarasvezes,quandoaobraestperto do m, ou mesmo acabada, surgem reclamaes de vizinhos sobre danos cuja origem duvidosa, ocorrendo em construes j abaladas ou desgastadas pelo tempo e uso, causando um impasse entre o construtor e o vizinho, onde o desfe-cho ir ser resolvido nos tribunais. O caminho correto para evitar tais dissabores o procedimento, hoje adotado por muitas construtoras, da realizao de uma vistoriacautelar,contratandoprossionaisouempresashabilitadas,preferen-cialmenteengenheirosespecializadosemperciasjudiciais,queprocedeeste trabalho nos imveis vizinhos ao terreno onde ser iniciada a obra.Objetivamente, ao construtor, interessa provar a preexistncia antes do incio da obra, de trincas, vazamentos, deslocamentos de argamassas e pisos, desa-linhamento ou inclinaes do prdio principal e dos muros divisrios etc., para que no possa vir a ser responsabilizado como seu causador.Ao vizinho, por sua vez, interessa provar a inexistncia de trincas, vazamen-tos, telhas quebradas, salpicos em pisos e paredes externas, recalques diferen-ciais,enmoestadodoimvel,deformaquesepossapresumiraculpado construtor no caso de aparecimento de novas anomalias, ou agravamento das existentes. Em no tomando esta precauo,consequentemente, advm processo judi-cial de indenizao, combinando com a opinio conclusiva de Meirelles (1996) quanto a responsabilidade por danos a vizinhos e terceiros:Ajurisprudnciaptria,hesitanteaprincpio,rmou-se,agora,nares-ponsabilidade solidria do construtor e do proprietrio e na dispensa de prova de culpa pelo evento danoso ao vizinho, admitindo, porm, a reduo da in-denizao quando a obra prejudicada concorreu para o dano, por insegurana prpria, ou defeito de construo. Tal critrio jurisprudencial razovel e eqitativo, mas deve ser aplicado com prudncia e restries. Se a construo vizinha, embora sem a resistn-cia das edicaes modernas, se mantinha rme e intacta na sua estrutura e veio a ser abalada ou danicada pelas obras das proximidades, no h lugar para desconto na indenizao, porque o dano se deve, to-s, construo superveniente; se, porm, a obra lesada, por sua idade ou vcios de edicao, j se apresentava abalada, trincada ou desgastada pelo tempo e uso, e tais efeitos se agravaram com a construo vizinha, a indenizao h de se limitar aos danos agravados. O que convm xar que a idade das edicaes vizinhas e a sua maior oumenorsolideznoeximem,desdelogo,oproprietrioeoconstrutorde responsabilidade civil pelo que suas obras venham a produzir ou a agravar a vizinhana por todas as leses ocasionadas; por exceo, poder-se- reduzir essaresponsabilidade,provando-seaconcorrnciadeeventosdeambosos vizinhos para a leso em causa. Sendo o princpio do Direito que quem aufere os cmodos suporta o nus, um e outro devem responder pelas leses decorrentes da construo.3DAS RESPONSABILIDADES ADVINDAS DO ATO DE CONSTRUIRMeirelles (1996) acrescenta que se uma obra vier a desabar, por impercia do construtor, causando danos materiais a terceiros e leses pessoais em operrios, dar ensejo, simultaneamente, s quatro espcies de responsabilidades, ou seja, reparao do dano patrimonial (responsabilidade civil), punio criminalres-ponsabilidade penal), sano prossional (responsabilidade administrativa) e indenizao do acidente dos operrios (responsabilidade trabalhista). Responsabilidade na Construo Civil 44 45O exemplo pe ao vivo a importncia do conhecimento das responsabilida-des decorrentes da construo, e que, em certos casos, podem abranger e soli-darizar, com o construtor, o autor do projeto (arquitetnico e complementares), o scal da obra e o proprietrio que a encomendou.3.1 O FUNDAMENTO DA RESPONSABILIDADEOfundamentonormaldaresponsabilidadeaculpaouodolo,mas comoobservouoProf.AlvinoLima*26:olegisladorbrasileiro,consa-grandoateoriadaculpa,nemporissodeixoudeabrirexceoaoprinc-pio,admitindocasosderesponsabilidadesemculpa,emqueMeirelles (1996)complementaqueseexigeapenasonexocausalentreoatooua omissoeodano,denominadatambmderesponsabilidadeobjetiva,como ocorrenoscasosdedanodeobravizinhaoudeinseguranadaconstruo no quinqunio de sua concluso, bastando a constatao do fato danoso, sem participao da vtima, para ensejar a reparao civil. Menoaparte,oC.D.C.CdigodeProteoeDefesadoConsumidor (CC/2002, art.186 e CP, art.18,II) regulando as responsabilidades dos fornece-dores de bens, produtos e servios, previu a obrigao destes de indenizarem os consumidores independentemente de existncia de culpa pelos danos causados por defeitos relativos aos fatos do produto e do servio, relacionando ao pros-sional liberal, ser a sua responsabilidade pessoal condicionada apurao de culpa, ou seja, subjetivamente (art.14, caput e 4).Como previamente abrangido em captulo anterior, age com culpa todo aque-le que, por ao ou omisso voluntria, viola direito ou causa dano a outrem, por negligncia, imprudncia ou impercia de conduta, embora no desejando o resultado lesivo (Artigo 186 do Cdigo Civil e Artigo 18, II do Cdigo Penal).Grandiski(2001)adicionaliterariamentequedanotodaconsequncia provocada por falhas construtivas. Juridicamente falando, atualmente consi-derado como qualquer leso causada a um bem jurdico. ( ... ) Apud Agostinho Alvim: aprecia-se o dano tendo em vista a diminuio sofrida no patrimnio. Logo, a matria do dano prende-se da indenizao, de modo que s interes-sa o estudo do dano indenizvel.3.1.1CULPA E DOLOCulpaaviolaodeumdeverpreexistente:deverdeateno,deverde cautela, dever de habilidade, dever de prudncia em todos os atos da conduta humana.Meirelles (1996) acrescenta ainda, que a culpa revela-se na leso no de-sejada, mas ocorrida por imprudncia, impercia ou negligncia na conduta de quem a causa.Grandiski (2001) complementa que existem vrias modalidades de culpa, entre as quais aqui so destacadas: Age com dolo todo aquele que almeja o resultado lesivo ou assume o risco de produzi-lo (CP, art.18,I), exterioriza-se na leso desejada pelo agente.3.2FONTES DE RESPONSABILIDADESMeirelles(1996)destacaqueexistemtrsfontesderesponsabilidades oriundas da atividade da construo civil: 3.2.1RESPONSABILIDADE LEGALToda aquela que a lei impe para determinada conduta, de ordem pblica e por isso mesmo irrenuncivel e intransacionvel entre as partes, onde tratare-mos nesta obra literria, com maiores detalhes em captulo posterior.3.2.2RESPONSABILIDADE CONTRATUALAquela que surge do ajuste entre as partes, nos limites em que for conven-cionadaparaocumprimentodaobrigaodecadacontratante,podendoser renunciada e transacionada pelos contratantes a qualquer tempo e em quais-quercircunstncias,normalmenteestabelecidaparagarantiadaexecuodo contrato.3.2.3RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUALAquela que surge do ato ilcito, isto , contrrio ao Direito.Grandiski(2001)complementaquesoasqueseoriginamnalegislao vigente ou nas tradies, usos e costumes do lugar, criando obrigaes legais resultantesdoquenelasdisposto,eobrigamtodososagentesenvolvidos, quer sejam assumidas por escrito ou de forma verbal. Fazem parte deste grupo as responsabilidades decorrentes de atos ilcitos.26Da Culpa ao Risco, So Paulo, 1938, p.215.Responsabilidade na Construo Civil 46 473.3 DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR CDCMeirelles (1996) resume que a responsabilidade do fornecedor, conforme os arts.14 e 20 do Cdigo do Consumidor, pode consistir, segundo opo do con-sumidor, na reexecuo dos servios, inclusive atravs de terceiros, restituio das quantias pagas ou abatimento proporcional do preo.Grandiski (2001) explica que no CDC Cdigo de Defesa do Consumidor, art.50, a responsabilidade contratual complementar legal e ser conferida mediante termo escrito. Acrescenta ainda que o Cdigo de Defesa do Consumidor preveja a respon-sabilidade do construtor nas trs fases do empreendimento:-Na fase de projeto, quando os vcios previsveis podem ser evitados;-Na fase de fabricao ou execuo, quando outros vcios imprevistos podem e devem ser contornados;Fonte: MAIA LIMA & PACHA ( 2005 ), apud Revista Tchne, n. 08, p. 23 Ninho de concretagem na viga de concreto, originalmente encoberto por concreto, que no penetrou entre a forma de madeira e as armaduras.- FALHA DE PROJETO E GRAVE DE EXECUO - Fonte: MAIA LIMA & PACHA (2005) Ninhos de concretagem no encontro do pilar com a viga/laje, posteriormente preenchido com tijolo cermico.-FALHA GRAVE DE EXECUO - -Na fase ps-ocupao, dentro do prazo de garantia, dentro do qual de se esperar desempenho da obra correspondente ao prometido, e onde informaes ou instrues adequadas pdem evitar o aparecimento de novos problemas.Fonte: CARBONARI ( 2002 ) Fases que compreendem as responsabilidades na construo civil.Essas responsabilidades, mostram a abrangncia multidisciplinar do CDC, que inova na criao de um microssistema jurdico, envolvendo as reas cvel, comercial, administrativa, processual civil e penal e de direito penal, visando a facilitao da aplicao da justia aos casos individuais (Procon, Juizados Es-pecias Cveis, Promotorias nas cidades do interior ), assim como nos coletivos ( interesses individuais homogneos de origem comum, ou interesses difusos, com nmero indenido de titulares, como por exemplo nas clusulas abusivas, publicidade etc.).3.4 CARACTERSTICAS PRINCIPAIS DAS RESPONSABILIDADESDas responsabilidades decorrentes da construo, Meirelles (1996) declina queaconstruodeobraparticularoupblica,almdasresponsabilidades estabelecidas no contrato, independentes da conveno das partes, pode acar-retar outras para o construtor, para o autor do projeto (arquitetnico, estrutural, eltrico,hidrulicoetc.),paraoscalouconsultoreparaoproprietrioou Administrao contraente. Responsabilidade na Construo Civil 48 49Segue enumerando as seguintes caractersticas de responsabilidades, a saber:3.4.1DA PERFEIODever legal de todo prossional ou empresa de Engenharia ou Arquitetura, onde o Cdigo Civil autoriza quem encomendou a obra a rejeit-la quando defeituosa, ou a receb-la com abatimento no preo, se assim lhe convier (arts. 615 e 616). No se exime desta responsabilidade, ainda que tenha seguido instrues do proprietrio ou da Administrao (em obra pblica), quando aplicar material inade-quado ou insuciente, nem relegar a tcnica ou norma tcnica ou mtodo apropria-do, ou na falta de cuidados usuais na elaborao do projeto ou na sua execuo.3.4.1.1PRAZO PARA A RECLAMAO: DECADNCIA E DA PRESCRIO Dos defeitos, imperfeies ou vcios aparentes e ocultos, o Cdigo de Defesa do Consumidor - CDC (art.26) passou a regular a matria, estabelecendo o pra-zo de 90 ( noventa ) dias para qualquer reclamao, que o prazo para decair do direito, perda, perecimento ou extino do direito em si, por consequncia da inrcia ou negligncia no uso de prazo legal ou direito a que estava subordinado (NBR 13.752/96 item 3.27), complementa Grandiski (2001).Salienta ainda que, de acordo com o art. 27 do Cdigo de Defesa do Con-sumidor,prescreveem5(cinco)anosapretensoreparaopelosdanos causados por fato do produto ou do servio prevista na Seo II deste Captulo (defeitos casos que afetam a sade e segurana do consumidor, melhor deta-lhado adiante, dessa obra literria ). Ainda, em seu Artigo 47 que: As clusulas contratuais sero interpretadas de maneira mais favorvel ao consumidor. E no h dvida de que a aplicao do prazo de 90 (noventa) dias de prescrio previsto no art.26 do CDC, mesmo considerando que ele deve ocorrer dentro do prazo de garantia de 5 (cinco) anos. Acrescenta ainda que, para quaisquer reparos efetuados pela construtora (e apenas para estes), o prazo de garantia de 5 (cinco) anos recomea a conta-gem, at que se completem os 5 (cinco) anos originais de garantia.Exceo regra, pode ser o caso de prescrio referente a falhas nas reas comuns de prdios em condomnio. Neste caso, a data de eleio do primeiro sndico e recebimento das partes comuns por ele, que assume a representao legal do condomnio, substituindo a Comisso de Representantes, conside-rada como data do incio da contagem dos prazos legais. Como esta costuma sermuitoprximadatadaexpediodoautodeconcluso(Habite-se), rotineiramente a jurisprudncia costuma contar esse prazo de garantia para as reas comuns dos condomnios: a partir do Habite-se. Grandiski (2001) melhor esclarece, que de acordo com a teoria j apresen-tada, a pretenso prescreve e o direito caduca. Em outras palavras, a prescrio atingeaaoenoodireitodeproporaao.Nainterpretaoespecca doCDCCdigodeDefesadoConsumidor,adecadnciaafetaodireitode reclamarosvcioscaducam(decadnciacitadanoCDC,art.26),enquanto prescreve (CDC, art.27) a pretenso de reclamar em juzo dos danos, ou seja, dos prejuzos resultantes de um defeito (fato do produto ou servio).Diferem da contagem, do incio do prazo para a reclamao, dos defeitos, dos vcios ocultos ou redibitrios e dos vcios aparentes ou imperfeies, a saber: 3.4.1.2DOS DEFEITOSInicia-secomaentregadaobra(CDC,art.26,II,X1).Soaquelesdanos (consequncias dos defeitos e vcios do produto ou servio) que afeta, ou ameaa afetar, a sade ou a segurana do consumidor (NBR 13752/96, item: 3.28). Exemplos que Grandiski (2001) traz luz em sua obra literria, acrescendo que defeito um vcio acrescido de uma coisa extrnseca, que causa um dano maior que simplesmente o mau funcionamento: a) Percutindo o revestimento do teto de uma cozinha, percebe-se que no hdeslocamento,poisosomemitidonocavo*27.Portanto,aspequenas ssuras ali investigadas, so simples vcios construtivos. Mas, se o som emitido for cavo, em ampla rea desse teto, ca caracterizado o descolamento do reves-timento, que pode representar ameaa de queda. A, o antigo vcio passa a ser considerado um defeito, pois em sua queda pode afetar a sade do morador; Fonte: PELACANI (2009) Abertura em teto de sacada de edifcio 13 pavimento; revestimen-to de pastilhas cermica na iminncia de queda.27Do termo cavo, AURLIO, pgina 301, 2., explica: Oco. Vazio.Responsabilidade na Construo Civil 50 51b)Canos de esgoto mal instalados que contaminam a caixa dgua (po-dem causar doenas);c)Os pisos escorregadios; pisos soltos; degraus com alturas no unifor-mes;falhasconstrutivasdegrandeporte,quepermitaminltraodegua, com formao de fungos e mofo, resultando numa edicao inabitvel;d)Vigas altas diminuindo o p-direito em escadas ou no meio de ambien-tes, permitindo que pessoas altas batam a cabea;e)Construodecaixadguaenterrada,comsuaparedeefundoem contato direto com a terra: pode haver contaminao da gua.3.4.1.3 PENALIDADESPelo fato de envolver risco ou ameaa de risco a sade e segurana, consti-tuem crimes, sem prejuzo das cominaes legais do disposto no Cdigo Penal e leis especiais, previstas as penas tambm no Cdigo de Defesa do Consumidor CDC. Do art. 66, para exemplicar: - Fazer armao falsa ou enganosa, ouomitirinformaorelevantesobreanatureza,caracterstica,qualidade, quantidade, segurana, desempenho, durabilidade, preo ou garantia de pro-dutos ou servios, onde podemos concluir que desde a qualidade, quantidade e segurana estar o prossional responsabilizado, e com a pena estipulada: Pena Deteno de trs meses a um ano e multa. Grandiski(2001)relata,maisdetalhadamente,queestoprevistasnos arts.61 a 80 do CDC, e preveem penas de deteno para cada uma das infra-es que venham a ser cometidas, ( ... ). ( ... ) onde as penalidades so mais fortes para os defeitos do que para os vcios, pois trata da sade e segurana do consumidor. 3.4.1.4DOS VCIOS OCULTOS OU REDIBITRIOSInicia-se no momento em que car evidenciado o vcio (CDC, art.26,II, 3), no devendo ser confundidos com os vcios de solidez e segurana da obra, que veremos a seguir. Grandiski (2001) dene que so anomalias as que afetam o desempenho deprodutosouservios,ouostornaminadequadosaosnsaquesedesti-nam, causando transtornos ou prejuzos materiais ao consumidor (afeta mate-rialmente o consumidor). Podem decorrer de falha de projeto, ou da execuo, ou ainda da informao defeituosa sobre sua utilizao ou manuteno (NBR 13.752/96, item 3.75). Vciosocultosouredibitriossoosquediminuemovalordacoisaoua tornam imprpria ao uso a que se destina, e que, se fossem do conhecimento prvio do comprador, ensejariam pedido de abatimento do preo pago, ou invia-bilizariam a compra (NBR 13.752/96, item 3.76).Exemplos: I) vazamentos em canalizaes de prdios que aparecem dentro do prazo legal de garantia de 5 anos; II) falhas em instalaes eltricas de pr-dios que aparecem dentro do prazo legal de garantia de 5 anos; III) queda de revestimentos de tetos e fachadas que aparecem dentro do prazo legal de ga-rantia de 5 anos; IV) vcios por inadequao de qualidade, surgindo ssuras ou trincas; V) vcios por inadequao de quantidade, com metragem em desacordo com as plantas aprovadas; VI) entrega de construo com atraso injusticado; VII) no aplicao de normas tcnicas. 1)2) Fonte: PELACANI ( 2009 ) 1) trinca em fechamento de alvenaria com tijolo do tipo sikal; 2) queda de cermica externa de fachada de edifcio.Ainda,podemoscitaremregiosobousobreaaberturadejanelas,em seprovando,comrelatriotcnicodevidamentefundamentado,notersido executado elemento estrutural (verga) em concreto armado para resistir a ten-ses atuantes, causando, ssuras, principalmente em direo no sentido de 45 (quarenta e cinco graus). Estudo de caso sobre ssuras, est apresentado em tpico posterior desta obra literria, com suas causas e caractersticas princi-pais em estudo de caso.Fonte: PELACANI ( 2006 ) Vista de edicao sem a execuo de elemento estrutural ( vergas ) nas aberturas de janelas. Responsabilidade na Construo Civil 52 53Segue ainda, alertando que importante salientar que no Cdigo de Defesa do Consumidor CDC, indiferente a gravidade do vcio para que se responsa-bilize o fornecedor, pois a prpria existncia do vcio prejudica a expectativa do consumidor, afetando subjetivamente o valor que este atribui ao bem. Portanto, na viso dos autores do CDC, no importa se o problema uma simples ssura de retrao de argamassa ou uma trinca de origem estrutural: o aparecimento de qualquer uma, pode dar origem reclamao. No obstante, a indenizao ser orada,tecnicamente, conforme o seu custo.3.4.1.5DOS VCIOS APARENTES, IMPERFEIES OU FALHAS APARENTESDemesmacontagemdoprazodereclamaodosdefeitos(ttuloanterior desta obra literria), a contar da data da entrega do empreendimento, estando otermoperfeitoexplicitadoporDePlcidoESilva(1999):comosemv-cios, ou defeitos ( ... ). E compreendido, assim, como aquilo que se tem com defeito ou vcio, imperfeito quer tambm dizer irregular, ou falho, isto , com falha. Imperfeito podemos atribuir s falhas como simples ssuras de origem na aplicao da argamassa (do tipo mapeamento), em guarnio de batente mal encaixados, ou de marcas de inltrao efeito capilaridade, prximo aos rodaps. Fonte: PELACANI ( 2009 ) Vista de marca de inltrao em parede prximo ao rodap, por falta de impermeabili-zao daviga baldrame. 3.4.1.6DO NO ATENDIMENTO RECLAMAOGrandiski (2001) alerta que a reclamao deve ser feita ao construtor por escrito, to logo a falha tenha sido constatada, de preferncia mediante noti-cao atravs de Cartrio de Registro de Ttulos e Documentos. O consumidor deve aguardar o decurso do prazo mximo de 30 ( trinta ) dias aps o recebi-mento da noticao, para que o construtor corrija a falha, ou negue a inteno de faz-lo. Essetempo,entreadatadorecebimentodanoticaoeanegativado construtor, no contado como tempo decorrido dos 90 (noventa) dias da de-cadncia do direito de reclamar. Ocorrendo esse fato, o consumidor deve acio-nar judicialmente o construtor dentro do prazo restante para completar os 90 (noventa) dias, apresentando desta vez, outra reclamao, em juzo, que agora tem novo objetivo.*283.4.2DA SOLIDEZ E SEGURANAO empreiteiro de materiais e execuo, responde sempre e necessariamente pelos defeitos do material que aplica e pela imperfeio dos servios que exe-cuta. Meirelles (1996) acrescenta que se a obra assim realizada apresentar vcios de solidez e segurana, j se entende que outro no pode ser o responsvel por esses defeitos, seno o construtor, qualquer que seja a modalidade contratual da construo; at os erros do projeto enquanto no demonstrar a sua origem, tambm o so. 1)2) 3)Fonte: PELACANI ( 2009 e 2008 ) DE PATOLOGIAS QUE COMPROMETEM A SEGURANA E SOLIDEZ DA EDIFICAO 1) Vista da expanso por corroso de ferragem estgio avanado, em pilar do pavimento trreo de edifcio; 2) idem, com vista da ferragem corroda aps a abertura do local; 3) vista de inltrao avanada stalactite, com incio de comprometimento da estabilidade estrutural da viga processo avanado de corroso. 28Carlos Roberto Gonalves. Responsabilidade Civil, SARAIVA, 6ed., pg. 283: ( ... ) os dias que antecederam a primeira recla-mao e aqueles que transcorrerem entre a negativa do fornecedor ou o decurso do prazo, legal ou contratual, para que sanasse o vcio, e a nova reclamao, so computados para efeito de contagem do prazo decadencial.Responsabilidade na Construo Civil 54 553.4.2.1PRAZO DE GARANTIA E PRAZO PRESCRICIONAL uma presuno legal e absoluta de culpa por todo e qualquer defeito de estabilidade da obra que venha a apresentar dentro de 05 ( cinco ) anos de sua entrega ao proprietrio. Grandiski (2001) complementa que dentro deste prazo, o reclamante ca dispensado de provar por que a falha ocorre e qual a sua causa basta provar que ela existe.Meirelles (2001) em continuidade, arma que o prazo quinquenal de ga-rantia e no de prescrio, como erroneamente tem entendido alguns julgados. Aqui a responsabilidade objetiva, como j vimos anteriormente, na TEO-RIA DO RISCO, ou culpa presumida (CC/2002, art.618).Desde que a falta de solidez ou de segurana da obra apresente-se dentro de 5 (cinco) anos de seu recebimento, a ao contra o construtor e demais par-ticipantes do empreendimento subsiste pelo prazo prescricional comum de 10 ( dez) anos, a contar do dia em que surgiu o defeito (CC/2002, art.205).Grandiski (2001) em sua obra literria, descreve que prescrio a perda do direito a uma ao judicial, ou liberao de uma obrigao, por decurso de tempo, sem que seja exercido por inrcia dos interessados (NBR 13.752/96, item 3.64). Em outras palavras, extino da responsabilidade do acusado por ter decorrido prazo legal da punio; perda do direito a uma ao judicial por inrciadoreclamantequedeixoudeexerc-lonotempooportuno,deixando escoar o prazo legal sem que fosse exercido direito subjetivo; pode ser interrom-pida por uma citao, por exemplo.Passa a responsabilidade ser subjetiva, como tambm j vimos anteriormen-te, na TEORIA DA CULPA, devendo ser provada a culpa. Como arma Grandiski (2001), se este prazo (de 5 anos) for ultrapassado, a responsabilidade do cons-trutor deveria ser provada (no seria presumida). O nus da prova, a partir dos 5 (cinco) anos, caria por conta do comprador, que ainda assim poderia mover ao contra o construtor, que prescreveria em 10 (dez) anos. A, cabe a concluso expressa e inevitvel que, em tendo sido constatado o de-feito, com prazo prximo do nal dos primeiros cinco anos de entrega do empreen-dimento, e, contados os seus dez anos seguintes prazo prescricional, podemos, com certeza, armar que o prazo de garantia se estender, neste caso, para at 14 (quatorze) anos mais 11 (onze) meses mais 29 (vinte e nove) dias.Conclui ainda, que a reexecuo de servios por parte do construtor inicial, faz com que recomece, aps o seu trmino, o prazo de garantia relativo a esses servios. RESUMO DE PRAZOS DE RECLAMAO / GARANTIA NA CONSTRUO CIVILC.D.C. - Cdigo de Defesa do Consumidor (1990) / Teoria do Risco / Responsabilidade ObjetivaC.C. - CDIGO CIVIL (2002)PERFEIODEFEITOS (Sade e Segurana do Consumidor). Ex.: Piso escorregadio; deslocamento de revestimento; cano de esgoto mal instalado / cx. dgua; viga alta = menor p-direito.5 ANOS (a partir do conhecimento do dano) - Art. 26 e 27VCIOS OCULTOS (material / afeta o bolso do consumidor / que no afetam a segurana e solidez). Ex.: Mau funcionamento de instalaes eltricas; diferena na metragem; atraso; no aplicao de normas tcnicas. Exceo: desgaste natural e manuteno.90 DIAS (dentro do prazo de 5 anos da entrega) - Art. 26 e 471 ANO (a partir do conhecimento do vcio) - Art. 445VCIOS APARENTES / IMPERFEIES (material/de fcil constatao visual). Ex.: guarnio mal xada; janelas que no trancam; pintura respingada.90 DIAS - Art. 26Ato da entrega - Art. 615SEGURANA E SOLIDEZ10 ANOS (5 primeiros anos da entrega = TEORIA DO RISCO / RESPONSABILIDADE OBJETIVA; 5 ltimos anos da entrega = TEORIA DA CULPA / RESPONSABILIDADE SUBJETIVA = PROVA FUNDAMENTADA) - Art. 618 FONTE: PELACANI ( 2009 ) TABELA RESUMO DOS PRAZOS DE GARANTIA DA CONSTRUO CIVIL - CDIGO CIVIL (CC) E CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (CDC).Responsabilidade na Construo Civil 56 573.4.2.2DO SOLODe defeitos decorrentes da falta de estabilidade/resistncia ou rmeza do solo, mesmo sendo comunicado ao proprietrio da obra, ao construtor cabe a responsa-bilidade (nal do prescrito no CC/2002, art.618), ao contrrio do que apontava o antigo Cdigo Civil em caso de comunicado ao proprietrio das condies do solo. Meirelles (1996) acrescenta que aos decorrentes de concepo ou de clcu-lo de projeto tornam seus autores responsveis pelos danos deles resultantes. Responde o construtor perante o proprietrio ou a Administrao Pblica, mas com direito a chamamento de quem elaborou o projeto ou efetuou os clculos (cargas e resistncias), comprovados as origens em falhas desses prossionais ou empresa especializad