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O meu primeirO cadernO de pOesia escritO entre os anos 2000 e 2001, época em que eu estudei na escola estadual padre matias em belo horizonte. tratam-se de trabalhos nos quais eu procurei aprender sobre a arte de escolas literárias anteriores ao modernismo da maneira mais óbvia para mim: adentrando no universo dessas escolas.

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Primeiro caderno de poesia. Vitor Corleone Moreira da Silva

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O meu primeirO cadernO de pOesia escritO entre os anos 2000 e 2001, época em que eu estudei na escola estadual padre matias em belo horizonte. tratam-se de trabalhos nos quais eu procurei aprender sobre a arte de escolas literárias anteriores ao modernismo da maneira mais óbvia para mim: adentrando no universo dessas escolas.

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Amendoim Como aquele que sai da casca Eu sou semente dos cobertores da vida Meu fervor onírico e vespertino Encontra às canções ávidas do sol poente Ao meu redor a azálea azougada Dá ao meu nascimento O axioma da minha existência Como aquele que encontra os portais dos sonhos Eu sou cruzador das palavras e frases Meu tom grená revela a minha ousadia Ínclito em meu desabamento fescenino Encontro a terra minha mãe iniludível Como aquele que detesta o mal E como aquele que se edulcora Eu sou em defesa da minha existência Amendoim mordido pela vida que esparsa O sabor dulçoroso comove os lábios Desta vida madrasta assumidamente sibarita Como a gota de orvalho solitária Que se tornou escrava do jugo da terra Em que o poente faz embuste em sua elegia Como o grão de alpiste no papo das rolas Como o vento que balança as folhas da goiabeira E como a ferida na história Que teima em não cicatrizar nunca Sou guiador dos atos duvidosos Dileto pelos raios semi-ardentes do sol poente Como aquele ser cauto que canta a cantilena E como canhestro pardal que encontra a vida Eu sou principiante dessa comoção Como aquele que colima ser rei Colendo entre os que o viram um dia fraco Ardem sempre em meu peito as vontades Ora de ser somente imortal, ora livre

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Como aquele que surge no seio da terra E encontra os cordões dourados da vida Eu sou aluno nessa ingente escola Que me testa volta e meia Ora no nascente, ora no poente, ora agora Colimando me mostrar as fraquezas De ser somente um mortal Em meio à fúria dos dentes esparsos da vida Que se ajuntam e consomem minha puerícia E que retornam para derramar Como rio de óleo puríssimo de soja Minha essência senil Como barco solitário no oceano Eu sou sozinho nesse imenso chão Rodeado pela grama esverdeada E pelo passar sincronizado das centopéias Como aquele que se julga romântico Por ter sofrimento feroz em sua vida tola E como aquele que reverencia ao rei sabiá Sou juiz dos meus atos profanos Sou réu do meu julgamento Como a cachoeira que deságua pedra adentro Estou sempre correndo para o mesmo vazio Pois sou banhado pelos raios da incerteza Como a pérola filha de escusa ostra Sou filho da terra e do tempo E desafio sempre o albor matutino Até que o amanhã me surpreenda Como o conciliábulo dos gafanhotos Para destruir as lavouras Sou eu que hoje tenho compunção Por desafiar a heresia concreta A qual foi feita por azaléia chorosa Ao ver minha rebeldia florescer E se mostrar em minha pele grená

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Como aquele que erra um dia E tenta por toda vida sanar seu erro Sou escravo da minha imperfeição A qual foi dada por minha mãe terra Para que em minha existência Não fosse eu o leão tirano do meu reino O qual colimo conquistar algum dia E como aquele que tem benevolência E como aquele que provoca a bernada Eu sou ora bom e justo, ora não Sou aquele apedrejado Ao lutar por seu ideal Como a utopia coarctada Pelo sufoco dos atos da realidade Eu sou esmagado pelos dentes da vida E meu gemido único Ou minhas palavras ciciadas São os desejos impossíveis Em coleio banhando meu corpo grená Nesse cordame que encontro sempre Nos caminhos execrando o mal Na minha curta vivência Eu sou filho da existência do mundo Vítima do vento como a goiabeira 26/11/2000

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Velhas tardes Eram tardes fagueiras Meus dias de criança Belas tardes mineiras Carrossel de lembranças Toda tarde mineira É uma tarde igual Pôr-do-sol e fogueira Doce tempo imortal Seresta, refresco, quadrilha Quentão, canjica, brigadeiro Oh, vida! Que maravilha O velho pôr-do-sol mineiro Os pés provocando poeira Até a montanha embalou Naquelas tardes faceiras O andorinhão voejou Naquelas tardes cheirosas O bom seresteiro cantou Quadrilha que era gostosa Em nossa lembrança ficou Eram tardes de alegria As de hoje não são Aqueles velhos dias Ficaram na recordação E assim milhares de amantes Apreciando tarde jovial Belos tempos, os de antes Nas lembranças imortal Olhares atentos, salseiro

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De sonhos perdidos, mofino Mágico pôr-do-sol mineiro Nos meus dias de menino 19/04/2001

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O bar O mulato chega ao bar pedindo pinga Como celebridade que sobe ao palco Sorriso estampado no rosto Caminhando com tal malandragem Cumprimenta a rapaziada A guimba de cigarro entre os dentes Lateralmente Blusa aberta, calça jeans Chinelo de dedo O líquido escorre da fonte Faz barulho e cai no copo Toca um samba no radinho E o mulato cai na pinga Lá na porta um gavião observando Olhando as mulheres na rua Mexe com todas que passam carregando sacolas Enquanto mastiga um pedaço de churrasco Sua blusa amarrotada Seu cabelo despenteado E o zíper semi-aberto Um velho tomando catuaba na mesa do canto O garçon volta e meia limpando as mesas Um trinca ferro na gaiola Pendurada na parede Cantando 13/08/2000

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O abandono É que existe em meu corpo e como A réstia feroz desse abandono Que vive nas noites a me perturbar E meu corpo com a dor matutina Lembra sempre daquela menina Que foi embora para não voltar A madrugada sempre tão doída No meu peito não está esquecida E os olhos procuram desertos Minhas palavras com o passar dos dias Trazem ao corpo a cruel agonia Hoje sem ela vivo sem afetos Hoje sem ela vivo neste escuro Na solidão seu rosto procuro Nesse dia arteiro que me faz sofrer Hoje sem mim talvez ela chore Ou talvez sem mim meus beijos implore Pois sei que sem mim não pode viver 17/07/2000

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Atos e fatos Ou só na utopia Ou na realidade farta Que existe o ato Que o faz perecer Suspenso fragilmente Como um penduricalho Nos pequenos e frágeis cordões Da curta vida que rege O seu principado único Do reino que é você mesmo 23/05/2001

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Sem título E pai, quem veio primeiro: O ovo ou a galinha? - O galo! 23/05/2001

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Setilhas do pé de ipê Vilipendia-me pé de ipê Só porque aqui não vim descansar Acinte tanto fiz a você Que fez a queixa em seus galhos brotar Talante minha dar suor e história Mas rui em lágrimas voz e viola Por isso renega, pé de ipê Reprovável eu fui com você Em sua sombra não vim descansar Abstraí você pé de ipê Em outra sombra me pus a chorar Minha abjeção tem motivo soturno Afeito me fiz ao choro noturno Afã sua, me vilipendia pé de ipê 21/04/2001

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Plantação de maconha Incentivo fiscal Para o cultivo da maconha Em casa Na floresta Na roça Maconha! Produto cem por cento natural Todo mundo doidão ururfruindo da maconha Se todos usam Ninguém reclama Cresce o mercado de maconha na favela Tem play boy comprando maconha Médico, juiz, advogado, gringo Maconha! Mais barato do que pão Maconha! Ou vai ou racha baseado Fazendas improdutivas Viraram plantação de maconha Os sem terra querem casa Os sem terra querem terra A maconha não quer ir embora da terra Maconha importada, maconha exportada Maconha nacional Maconha! Produto cem por cento natural Maior laço de aliança entre Brasil e Colômbia Estão todos experimentando Tem produtor enriquecendo E consumidor na ruína Safra de maconha 08/08/2001

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Delírio Volúpia somente sua presença provoca Veraz é a magia de sua face Veleidade minha querer toca-la Veemente é seu andar arrogante Vezo de mim sempre ao vê-la chorar Vindita me faz meu corpo e paralisa Voeja pelos ventos do outono meu sonho alado Vontade é quere-te sempre Viviane Vê, que pura é a magia, inigualável o mar de cores Vê, de mim é poesia Intermitente são minhas dores Aduz de loucura ao meu corpo o coração Nica de todo meu ser querer suas bandícias E de meus lábios quererem sua boca Traceja minha saudade distância de ti Embriaga meus sentidos saudade de ti Advém à saudade tristeza crível Mofina teima de meus olhos procurarem-te, oh! Depois do primeiro suspiro relembro seu rosto E após a primeira recordação Me exalto em lembrar em poema Anoiteço exaltando em divino acalanto Imaginando o mundo de seonhos em Sua preferida canção Seria fácil se tudo fosse realizável Só não critico o poder e azar da sorte Soturnos versos compus nessas tardes mortas Sonhando um dia encontrar no mundo real Somente sonhos pois sei que não posso vê-la Siba existência: eu não gosto mais de você

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Seria fácil se o mundo só fosse riso Sei que não é, pois risos se tornam lágrimas quando vem Saudade 19/04/2001

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Insólito O amor é como um ácido Que corrói o coração O coração é como ácido Que corrói a mente A mente é como um ácido Que corrói o resto do corpo Saudade é trovoada Em tarde chuvosa A chuva é uma lágrima De um amor distante O amor distante é uma tristeza Que deixa rastros no caminho A luz é confidente Dos filhos do amor Filhos do amor são sementes Que crescerão um dia Sementes que virão a ser árvores E novas sementes farão germinar O homem é o seu próprio livro Que ele mesmo escreve e lê Livros são dias Que a cada página mudam Dias são provas Da resistência aos sentimentos A tristeza é como espera Sem esperança A esperança é a resistência Às dores da vida A vida é como um lápis Que risca o caderno da história 14/04/2001

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Lembrança poética Lembrança da vida são tantas Da vida passada a lembrar Se perde em versos o poeta De tantas histórias contar O verso é o fogo e a água Da ilha de sentimentos é o mar Por todo mundo a poesia chora E faz todo mundo poetizar Lembranças da vida são tantas Lembranças que fazem sonhar Histórias que fazem chorar Lembranças são sempre iguais A alma sente tristeza Quando o corpo com nostalgia Relembra dos velhos dias E torna os presentes banais Lembrança é perdida no tempo No tempo há de ser só uma mancha Cabe aos românticos fazerem Lembranças aos sonhos voltar Os sonhos são cantos serenos Histórias que inspiram a amar Lembranças são gestos pequenos Que trazem pureza ao olhar 18/04/2001

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Viso amoroso Silente me volto para o céu E nas estrelas meu olhar procura Para meus problemas a cura Na senda que sigo venenosa e cruel Acostumado à solitude Pois dos meus versos é o tema Dos meus lábios é o poema Por causa da distância rude Na luz do dia o corpo ruma E o que me faz passar o tempo É lembrar a todo momento E evitar que a travanca me consuma Na porta dos meus sonhos há fissura Para um copo tão melindroso Lá deixei o viso amoroso Pra acabar com a soez amargura 26/04/2001

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Conluio Ah! O que faço agora Com meu corpo em lassidão Qual real dos sentimentos Displicência de pensamentos Peripécia lídima ignora Peremptória incompreensão Milongas insólitas em picarescos momentos Saudade faz de todos plangentes Pois panacéia não cura do amor Tristeza faz o orbe postular Inerte é o coração doente Diante do descaso da dor Soturna saudade até o infinito faz chorar Quase um ímpeto esmaga orquídea Rocio jovial não faz lábios sorrirem Mar de lágrimas não inunda areia Sonho é lídimo! Sonho feérico é verdade Mas sempre um chora, dois partem em conluio Mas é pior maldizer que sonhar com sereia É melhor viver louco que morrer de saudade Qual real dos sentimentos Morrer de saudade Morrer de saudade 19/04/2001

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Noite só Olha só essa noite bonita que está lá fora Vê a luz simbólica da lua Derramada sobre muros brancos Esse cortiço é mais bonito à noite Se a minha namorada estivesse aqui Queria namorar lá no telhado Tendo como horizonte toda a cidade Olha as estrelas e o céu cintilado Olha o sereno e o silêncio acordado Como estou apaixonado O que vou fazer sem ela Mas voltar não posso mais Porque ela quis assim Sente esse vento que carrega respirações ofegantes Sente essa brisa que acorda um amante Que solidão Que quietude Tanto amor armazenado em mim Enquanto falta em certas partes do mundo Retorno a observar o muro branco e iluminado E somente Sem olhar a lua ou o céu Fala sério coração Parte pra outra Dá-me sossego Essa noite é bonita mas se repete a cada dia Quanto tempo mais vai se culpar Vai se arrasar Sobe suspiro Vai pro firmamento e me deixa dormir Um quarto de hora já se foi Cadê meu sono 28/02/2002

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Ardentes beijos E hoje em sonho beijo estrela Como orquídea beija o luar Todo beijo é uma asneira Há o tempo de acabar Quando é falso o corpo chora E verdadeiro a alma sente Mas é doce e bom, agora Amanhã será ausente E hoje em férias beijo o mar Como o vento à açucena Mas mesmo eu queria beijar Quem me ama e não quem teima Que adrede me faz injúria E me faz beijar o pecado A razão real da minha fúria É viver sem ela do lado E como o sol beija a montanha Quero eu beija-la também Acostumar à sua manha Dar aos lábios o que hoje não tem E como orvalho que beija a resedá E como os ventos beijando o roseiral Os lábios dela quero beijar Edulcorar minha curta vida mortal E como o colibri que beija margarida E como o Joaquim que beija a Vanessa Desejo beijar na vida Mas é laurel, desejo só de cabeça E como o zéfiro beijando o aloés E como o mar que beija os navios Quero implorar amor aos seus pés Prisioneiro eterno dos seus amavios

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E como as rochas beijando a cachoeira Sempre quero eu beija-la Como planalto que beija ladeira Ou como os tetos que beijam as salas Como a morte que beija a vida Ou como o azar que beija a sorte Quero eu beijar-te querida Como a cura que beija o corte Como primavera beijando setembro E como outrora beijei a saudade Saudade sim, me lembro Como o beijo do vento nas tardes Beijo é somente o que quero Além de abraço e carinho Como o ovo, beijo sempre eu espero Eu de ti, e o ovo do ninho E hoje beijo o nada Como as nuvens beijam o céu E ao relento, beijo a madrugada Enquanto o lápis beija o papel Como a rosa beija lábios de menina Quero beijar seus lábios também Como a rua que procura nas esquinas Procuro em ti o que meus lábios não têm E hoje beijo sua fotografia Como John Lennon beijava antes Yoko Se aqui estivesse, também a ti beijaria Viver sem ti é viver beijando o sufoco Como Senna, a curva Tamburelo O lírio, morto de sede no monte Beijar-te amor, ora é somente o que quero Como o bêbado, sempre beijando o ponche E hoje beijo a vontade De beijar-te sempre que a encontrasse

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Beijo bom, com sabor de felicidade Como a terra, que beija a petúnia que nasce Como a semente que beija os lábios da vida E como a criança beijando o sabor de morango Ou como o remédio beijando a ardente ferida Viver espero, aos seus doces lábios beijando Como o alpiste no bico do canarinho Ou como o vento embalando o rei sabiá Beijo sincero, repleto de intenso carinho Como a promessa que vive beijando o olhar Como a criança que beija um novo brinquedo Como a borracha sempre beijando os erros Ou a verdade sempre beijando o segredo Ou o pranto, o choro que beija o enterro A noite beija a lua que está no céu E o lago beija os saltos da gia Meu paladar que sente o sabor do mel Mas beija-la é somente o que ele queria Eu vi outrora morcego voando no escuro E vejo agora navio partindo pro mar Eu vi o verde se transformando em maduro Eu vi o sol, reverenciando o luar E como abelha beijando virgem violeta Ou como José beijando na foto Maria Como o riso que beija hoje a careta E como a vida beija o despertar do dia O rosto em choro pois antes não pude beija-la E eu sozinho provando o sabor do desejo Como a viagem que já sustentou minha maça É o retorno amanhã querendo seu beijo 22/05/2001

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