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 UM ESTUDO DE MODELOS DE GESTÃO DE AGLOMERADOS DE MARICULTURA PARA A PROPOSIÇÃO DE ARRANJO PRODUTIVO LOCAL – APL NA BAÍA DE ILHA GRANDE, ANGRA DOS REIS, RJ, BRASIL José da Silva - Mestre em Desenvolvimento Local – UNIABEU – Angra dos Reis  [email protected] RESUMO O presente artigo realiza um estudo sobre modelos administrativos na gestão de Arranjos Produtivos Locais (APLs). Para tanto , averi gua conceitos teóricos sobre empre ende dorismo, univer sidad es empre ende doras,  políticas de desenvolvimento de APLs e maricultura. Também realiza um estudo de caso em três aglomerados de maricultura, Ribeirão da Ilha em Santa Catarina, Arraial do Cabo e Angra dos Reis, ambos no Rio de Janeiro, a fim de averiguar as práticas de gestão destes e seus resultados, tecendo assim apreciações sobre a potencialidade do aglomerado de Angra dos Reis. PALAVRAS CHAVES: Empreendedorismo; maricultura, Arranjos Produtivos Locais. ABSTRACT This article pres ents a study on admin istra tive templates manageme nt in Loca l Prod uctive Arran gemen ts (LPAs). To do so, it explo res the theor etica l conc epts about entrepre neurs hip, entre prene urial unive rsitie s, deve lopme nt polic ies of LPAs and aquacultu re. Also condu cts a case study in thre e clust ers of aquaculture  ,  Ribeirão da Ilha Santa Catarina, Arraial do Cabo and Angra dos Reis, both in Rio de Janeiro, in order to investigate the management practices of these outcomes, so assessments on platted the capability of the cluster of Angra dos Reis. KEY WORDS: Entrepreneurship; aquaculture, Local Productive Arrangements. 1. INTRODUÇÃO O presente artigo trata da possibilidade de melhora no aproveitamento da maricultura no município de Angra dos Reis, situado no Estado do Rio de Janeiro, o qual é bem localizado geograficamente para tal atividade produtiva. Pois, a Baía de Ilha Grande está situad a no mu ni cípi o, o qu al poss ui 365 il has, co m in fi ni ta s po ss ib ilid ad es pa ra implementação de fazendas marinhas. A relevância deste tema se deve ao fato de que nas últimas décadas, mudanças significativas no cenário mundial, principalmente nos setores produtivos, vêm incentivando novas iniciativas de intervenção nos espaços locais e regionais. Neste contexto, os Arranjos Prod ut ivos Locais (APL s) to rn aram-se uma ma ne ir a de pe rmit ir o aume nt o do empr eendedorismo regi onal , que, por cons equê ncia , incrementa e fort ale ce a econ omia regional. Inclusive, no Brasil, como forma de organização das regiões produtivas, surgiu o Programa dos Arranjos Produtivos Locais (APLs), por meio do Ministério da Ciência e Tecnolog ia (MCT). Como os antigos pescadores do município de Angra dos Reis estão abandonando a  pesca para se dedicar a maricultura , demonstrando capacidade de empreended ores, justifica-se estudar a potencialidade de constituir uma APL no município. Para tanto, o presente artigo desenvolve conceitos teóricos acerca do tema, assim como um estudo de caso de caráter exploratório, investigando assim um fenômeno contemporâneo dentro de contexto teórico e 1 V Congresso de Administração da UFF – CADUFF 

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UM ESTUDO DE MODELOS DE GESTÃO DE AGLOMERADOS DEMARICULTURA PARA A PROPOSIÇÃO DE ARRANJO PRODUTIVO LOCAL – 

APL NA BAÍA DE ILHA GRANDE, ANGRA DOS REIS, RJ, BRASIL

José da Silva - Mestre em Desenvolvimento Local – UNIABEU – Angra dos Reis [email protected] 

RESUMO

O presente artigo realiza um estudo sobre modelos administrativos na gestão de Arranjos Produtivos Locais(APLs). Para tanto, averigua conceitos teóricos sobre empreendedorismo, universidades empreendedoras, políticas de desenvolvimento de APLs e maricultura. Também realiza um estudo de caso em três aglomerados demaricultura, Ribeirão da Ilha em Santa Catarina, Arraial do Cabo e Angra dos Reis, ambos no Rio de Janeiro, afim de averiguar as práticas de gestão destes e seus resultados, tecendo assim apreciações sobre a potencialidadedo aglomerado de Angra dos Reis.

PALAVRAS CHAVES: Empreendedorismo; maricultura, Arranjos Produtivos Locais.

ABSTRACT

This article presents a study on administrative templates management in Local Productive Arrangements

(LPAs). To do so, it explores the theoretical concepts about entrepreneurship, entrepreneurial universities,development policies of LPAs and aquaculture. Also conducts a case study in three clusters of  aquaculture , Ribeirão da Ilha Santa Catarina, Arraial do Cabo and Angra dos Reis, both in Rio de Janeiro, in order to

investigate the management practices of these outcomes, so assessments on platted the capability of the cluster of Angra dos Reis.

KEY WORDS: Entrepreneurship; aquaculture, Local Productive Arrangements.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo trata da possibilidade de melhora no aproveitamento da mariculturano município de Angra dos Reis, situado no Estado do Rio de Janeiro, o qual é bemlocalizado geograficamente para tal atividade produtiva. Pois, a Baía de Ilha Grande estásituada no município, o qual possui 365 ilhas, com infinitas possibilidades paraimplementação de fazendas marinhas.

A relevância deste tema se deve ao fato de que nas últimas décadas, mudanças

significativas no cenário mundial, principalmente nos setores produtivos, vêm incentivandonovas iniciativas de intervenção nos espaços locais e regionais. Neste contexto, os ArranjosProdutivos Locais (APLs) tornaram-se uma maneira de permitir o aumento doempreendedorismo regional, que, por consequência, incrementa e fortalece a economiaregional. Inclusive, no Brasil, como forma de organização das regiões produtivas, surgiu oPrograma dos Arranjos Produtivos Locais (APLs), por meio do Ministério da Ciência eTecnologia (MCT).

Como os antigos pescadores do município de Angra dos Reis estão abandonando a pesca para se dedicar a maricultura, demonstrando capacidade de empreendedores, justifica-seestudar a potencialidade de constituir uma APL no município. Para tanto, o presente artigo

desenvolve conceitos teóricos acerca do tema, assim como um estudo de caso de caráter exploratório, investigando assim um fenômeno contemporâneo dentro de contexto teórico e

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real.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O presente item ressalta alguns fundamentos teóricos relacionados à gestão

administrativa, como também destaca o conceito de maricultura, este último com ênfase nosaglomerados dos municípios de Angra dos Reis, Arraial do Cabo e Ribeirão da Ilha. Paramelhor compreensão do conteúdo teórico aqui proposto, o mesmo foi dividido em blocostemáticos, a saber: Empreendedorismo, Universidades empreendedoras, Arranjos ProdutivosLocais (APLs) e Maricultura.

2.1 EmpreendedorismoSegundo Kirzner (1973), as constantes mudanças na economia mundial alteraram

significativamente os padrões tecnológicos, produtivos e, em decorrência, a organização dasociedade moderna. Neste ambiente é necessário que empresas e empresários, para obteremseus espaços, tenham um espírito empreendedor aguçado. Apesar da sinalização do

economista (um dos principais da Escola Austríaca) ser de meados da década de 70, foisomente na década de 90 que o movimento do empreendedorismo tomou força no Brasil,através de instituições como Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas(SEBRAE) e a Sociedade Brasileira para Exportação de Software (SOFTEX). (BRASIL,1990)

Antes disso, Conforme Dolabela (2003), pouco se falava em empreendedorismo e nacriação de pequenas empresas no país. Os ambientes político e econômico do país não eram

 propícios e o empreendedor praticamente não encontrava informações para auxiliá-lo na jornada empreendedora.

Hisrich e Peters (2004) salientam que o papel do empreendedorismo trata-se da

iniciativa de mudar a estrutura não só de um negócio próprio, como também da sociedade,estimulando o desenvolvimento de novos produtos e serviços e fomentando o investimentoem novos empreendimentos. Neste contexto, o preparo do empreendedor para criar e gerir onegócio é de suma importância.

De acordo com Souza (2001), as competências do empreendedor são relacionadas pelacapacidade de identificar oportunidades e de torná-las viáveis, habilidades essenciais comoqualquer outra, constituindo assim, um novo padrão de pré-requisito para a inserção nomundo do trabalho. Uma metodologia para o desenvolvimento dessas competências envolve

 bem mais do que aquisição de conhecimentos, mas o ‘aprender a aprender’, ‘aprender a ser’,‘aprender a fazer’ e, principalmente, ‘aprender a conviver’. Assim, as habilidades requeridas

de um empreendedor, podem ser classificas em três áreas: técnicas, gerenciais ecaracterísticas pessoais.

As habilidades técnicas envolvem saber escrever, saber ouvir as pessoas e captar informações, ser um bom orador, ser organizado, saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know-how técnico na sua área de atuação. As habilidades gerenciais incluem as áreasenvolvidas na criação, desenvolvimento e gerenciamento de um negócio, tais como:marketing, administração, finanças, operação, produção, tomada de decisão, controle dasações da empresa e ser um bom negociador. Já as características pessoais englobam: ter disciplina, possuir capacidade de assumir riscos, ser inovador, ser orientado a mudanças, ter 

 persistência e ser um líder visionário. (SOUZA, 2001)

 Na criação ou desenvolvimento de empresas (micro e pequenas), é indispensável àshabilidades requeridas do empreendedor, contudo estes são vulneráveis aos fatores externos,

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vindos de seu ambiente cultural. Para Dornelas (2001) a geração de novos negócios não segueum modelo definido, possuindo forte influência cultural, derivada dos valores de umadeterminada sociedade, além de fatores vinculados ao caráter ambiental, às condiçõeseconômicas, legais e de infra-estrutura. Bolton (apud  SOUZA, 2001) acrescenta que o

 processo de criação e desenvolvimento de novas empresas implica na participação de algunsatores importantes, sendo estes:

Pessoas - tratam-se do elemento humano vinculado à criação e ao desenvolvimentode um novo negócio, ou seja, o empreendedor;

Universidades e os centros de pesquisa - oferecem conhecimentos para criação edesenvolvimento de tecnologias no empreendimento, estruturando ambiente para aempresa se manter competitiva;

Capital - significa o aporte financeiro responsável pelo desenvolvimento de novosempreendimentos;

Sociedade - representa o conjunto de valores éticos e morais, os quais fundamentame estimulam a atividade empresarial e com isso os novos empreendedores;

Governo - desempenha o papel de responsável pela organização política que confereao ambiente social as condições favoráveis ao desenvolvimento econômico, atravésde uma estrutura legal e políticas de incentivo e fomento, bem como pela criação dainfra-estrutura de apoio, composta em muitos casos pelas incubadoras e outrasestruturas organizacionais de modernização e inovação tecnológica.

Assim o desenvolvimento empresarial de determinada região dependerá de tais atores,

visto que o mesmo não se restringe ao emprego de teorias econômicas, apoiando-se tambémem conteúdos de mudança organizacional, devido ao fato do desenvolvimento local emergir das iniciativas e do dinamismo da comunidade, valorizando os recursos financeiros e osrecursos materiais locais. Então, deve-se apoiar principalmente o empreendedorismo de formaconcentrada, disseminando-o fortemente em comunidade, como fonte de geração de empregoe, consequentemente, como um instrumento de sucesso no desenvolvimento sócio-econômicolocal. (DOLABELA, 1999)

Além disso, o desenvolvimento empresarial encontrar-se ligado ao aspecto deeducação formal existente na sociedade, tendo em vista a necessidade de conhecimentosacerca da dinâmica da atividade empresarial. Desta forma, o empreendedorismo se estabelececomo um fenômeno cultural, fortemente relacionado e embasado no processo educacional,que impulsiona a criação de pequenas e médias empresas inovadoras de base tecnológica.

 No que se refere aos modelos educacionais vigentes nas instituições brasileiras, atérecentemente, o ensino tradicional não tinha ênfase na formação de profissionaisempreendedores, estando, na verdade, orientado para o emprego e para a formação deempregados. Atualmente, diversas escolas já incluem nos seus currículos a disciplina deempreendedorismo, estimulando e favorecendo a criação de novos empreendimentos.

2.2 Universidades empreendedoras

A interação universidade-empresa (U-E) não é nova. Ela tem variado ao longo dotempo e em diferentes países. Várias razões têm sido apontadas para a ampliação destarelação, tanto do lado das empresas, como das universidades.

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Gibbons (1992) e Pavitt (1993) destacam as razões do lado da empresa como: i) oaumento dos lucros, a manutenção e expansão de posições vantajosas, num mercado cada vezmais competitivo; e ii) a necessidade de compartilhar o custo e o risco das pesquisasassociadas ao desenvolvimento de produtos e processos, com instituições que dispõem de

suporte financeiro governamental. Já do lado da universidade, Webster et al (2000) ressaltamque as razões principais são: i) a dificuldade crescente em obter recursos públicos para a pesquisa universitária e a expectativa de que estes possam ser proporcionados pelo setor  privado, em função do maior potencial de aplicação de seus resultados na produção; e ii)interesse da comunidade acadêmica em legitimar seu trabalho junto à sociedade que é, emgrande medida, a responsável pela manutenção das instituições universitárias.

Logo, a ampliação da interação U-E estaria levando a universidade a incorporar asfunções de desenvolvimento econômico às suas já clássicas atividades de ensino e pesquisa.

 Neste contexto, a criação de diversos mecanismos e de estruturas organizacionais tem sidoobservada, no âmbito desta relação, como ferramenta de política industrial, tecnológica e de

 promoção do desenvolvimento local e regional. Essa transformação que vem ocorrendo nauniversidade, que induz a relação desta com a sociedade, dá a ela a denominação deuniversidade empreendedora.

Pode-se então dizer que a universidade vem, ao longo dos séculos, mudando paraacompanhar as transformações da sociedade. Entretanto, as teorias sobre a transformação dauniversidade geralmente falham ao se darem conta da metamorfose pela qual ela vem

  passando: a transformação de uma instituição medieval baseada em princípios deassistencialismo, em outra, capaz de gerar uma significante parte da sua própriasustentabilidade e desenrolar um papel econômico na sociedade baseada no conhecimento.

Hoje, a universidade empreendedora incorpora e transcende dicotomias acadêmicas

anteriores, tais como: torre de marfim, o politécnico, o ensino e a pesquisa, em uma novasíntese baseada na criação intensiva do conhecimento como diretriz para a inovação. Estastendências estão modificando o papel da universidade, onde o conhecimento está ligado,diretamente, à economia e, por conseguinte, ao desenvolvimento da sociedade.

Este novo modelo de universidade vem assumindo papel importante no mundoglobalizado. Nele o empreendedorismo acadêmico pode ser entendido, por um lado, como ummecanismo de extensão das atividades de ensino e pesquisa e por outro lado como um agentedo desenvolvimento regional, uma vez que internaliza as suas capacidades de transferência detecnologia, por meio de novas estruturas organizacionais e capitaliza o conhecimento para asociedade. Segundo Etzkowitz (2004) a universidade empreendedora trata-se:

de um fenômeno emergente onde o conhecimento produzido na instituição é

também disponibilizado para uso;

de um local onde a pesquisa se expandiu por um número crescente de disciplinas,

de forma que o aluno participa da criação do conhecimento, como parte da sua

formação;

de um considerável grau de independência do Estado e do setor produtivo mas

também uma alto grau de interação com essas esferas institucionais.

Como exemplo dessas novas estruturas organizacionais de uma universidade

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empreendedora, pode-se citar as incubadoras de empresas. São mecanismos indispensáveis àtransferência de conhecimento, pois o pequeno empreendedor deve encontrar dentro destaestrutura organizacional o espaço físico para desenvolver suas atividades, e mais uma gamavariada de serviços especializados, organizados para ajudá-los em questões gerenciais e

técnicas, de forma que sua empresa possa enfrentar o ambiente competitivo e agressivo domercado contemporâneo.

 Na maioria das vezes as incubadoras encontram-se instaladas dentro de universidades(também faculdades, institutos de pesquisa, escolas técnicas e centros tecnológicos). Locaisem que há um número considerável de ideias e projetos, advindos dos acadêmicos, que por sua vez têm a chance de colocar em prática a teoria estudada. Nesse sentido, o processo decriação das incubadoras de empresas baseia-se, sobretudo, na oferta do conhecimento por 

  parte da universidade, tendo como meta o fato de que tal conhecimento poderá ser transformado em produtos e serviços a serem ofertados no mercado no final do processo.

2.3 Arranjos Produtivos Locais (APLs)Entende-se por Arranjos Produtivos Locais (APLs) aglomerados de agentes

econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, que apresentam vínculosconsistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. O APL apresenta forte

  potencial para dinamizar e acelerar o processo de desenvolvimento da região na qual éimplementado, oferecendo sustentabilidade a esta, por meio da gestão do conhecimento

 presente na região. Todavia, Sicsú (2000) oferece outro conceito para APL, que é o deaglomerações de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam mesmaespecialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação interação, cooperação eaprendizagem entre si e com outros atores locais.

Para que seja efetiva tal perspectiva de Sicsú (2000), se pressupõe a articulação dosatores sociais segundo uma lógica que define a gestão como processo endógeno demobilização das energias sociais, que implementam mudanças, capazes de elevar asoportunidades sociais, o desenvolvimento e as condições de vida da população. SegundoBuarque (2002), este processo está baseado na execução de políticas de fortalecimento e naorganização das estruturas internas de uma região, visando à consolidação de umdesenvolvimento genuinamente local e criando condições sociais e econômicas para a geraçãoe atração de novas atividades produtivas mais competitivas.

Portanto, as vantagens econômicas e competitivas oferecidas por uma região tendem afuncionar como atrativos de novas empresas, impulsionando a produção e a rentabilidade das

empresas existentes. Vem daí o crescimento das aglomerações de empresas em diferentessetores e regiões do Brasil que têm introduzido o aumento da renda e do emprego regional.De maneira geral, essas aglomerações de empresas representam recortes do espaçogeográfico, que integram comumente sinais de identidade coletiva, constituindo-se em ativoslocais específicos e fundamentais para a geração de externalidades positivas em um sistemaeconômico.

A idéia de que existem ganhos na formação de aglomerações setoriais em determinadoespaço geográfico foi introduzida na economia industrial por Marshall (1985). O autor referiu-se a esses ganhos como ‘economias externas’, visando definir, por que e como, o fator locacional importa, e por que e como pequenas empresas podem ser eficientes e competitivasnos mercados. As localidades foram denominadas de ‘indústria localizada’ ou ‘distritosindustriais’. Para Marshall (1985), as vantagens econômicas que podem ser obtidas por empresas que pertencem a uma localidade onde predomina um setor produtivo específico,

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dizem respeito ao fácil acesso a trabalhadores qualificados, dada a concentração local de mão-de-obra especializada, a fornecedores de matérias-primas e a serviços correlatos à atividade

 principal, o que contribui para criar um ambiente propício a inovações.

Outros autores, além de Marshall (1985), também contribuíram com apreciações sobre

a questão da formação de aglomerações setoriais. Para Porter (1998) os APLs são formasalternativas de organização da cadeia de valor, promovendo tanto a concorrência como acooperação, sendo que estas ocorrem em dimensões diferentes e entre participantes distintos.O autor acrescenta que as relações existentes entre os APLs e as instituições a elesrelacionadas oferecem vantagens competitivas no tocante à eficiência e flexibilidade.Cassiolato et al (2003) também destacam que as aglomerações de empresas e oaproveitamento de suas sinergias vêm intensificando suas oportunidades de sobrevivência,constituindo-se em importante ponto de vantagem competitiva. Para o autor, onde existir 

 produção de qualquer bem haverá sempre um aglomerado envolvendo atividades e atoresrelacionados à sua comercialização, aquisição de matéria-prima, máquinas e demais insumos.Já Santos (2005) ressalta que o desenvolvimento das atividades relacionadas a um APLcontribui para o aumento da renda regional, seja através da massa salarial paga ou através da

  propensão de um maior número de pequenos e médios empresários reter seus lucros naregião.

De certo neste ambiente de incentivo a produtividade e a competitividade, os APLstornaram-se cada vez mais presentes na economia brasileira, principalmente, devido àimplementação de políticas públicas incentivadoras. Estas voltadas à promoção de umambiente dotado de infra-estrutura social e econômica e de organização institucional.Conforme Suzigan (2004) tais políticas públicas devem: i) promover o estímulo à governançalocal – pública ou privada; ii) ser pautadas por iniciativas coletivas de protagonistas locais; iii)introjetar o elemento tecnológico como estratégia competitiva, estimulando a adesão dos

 produtores a padrões tecnológicos, produtivos e comerciais superiores; e iv) ocorrer por meioda combinação de elementos de competição e cooperação.

Assim, é através dos APLs que o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) vemdando continuidade à organização de redes regionais, que tiveram início nos anos 80 em outro

 programa do governo, denominado Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico eTecnológico (PADCT III), que por meio do Componente de Desenvolvimento Tecnológico(CDT/PADCT III), implementaram as Plataformas Tecnológicas (PLAT), com a mesmafinalidade. Para o MCT, a existência de uma aglomeração de empresas de um determinadosegmento provavelmente está ligada a algum tipo de vantagem competitiva local. Caso nãohouvesse esta vantagem, as empresas estariam dispersas no território brasileiro de acordo com

a densidade econômica, ou com a oferta de matéria-prima. A justificativa do MCT para oestabelecimento dos APLs está pautada na afirmação de que no contexto mundial a existênciade inúmeros sistemas de produção regionalmente concentrados demonstra que a dimensãolocal vem assumindo uma importância crescente no processo de inovação tecnológica e nodesenvolvimento econômico e social. (QUIRICI, 2006)

Como exemplo desta iniciativa, temos o MCT, através da Financiadora de Estudos eProjetos (FINEP), atuando como ator financiador do desenvolvimento local e com base naPortaria Interministerial nº. 200, lançou uma chamada pública em parceria com o SEBRAE,

 para apoiar projetos de inovação em micro e pequenas empresas (MPEs) em três linhas de projetos, todas encaminhadas por Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs). Entretanto, a

  primeira linha, é voltada para grupos de MPEs inseridas em APLs, localizadas em umamesma região, que fabricam o mesmo tipo de produto. Tais empresas mantêm algum vínculode articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais

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como governo, associações empresariais, instituições de crédito e de ensino e pesquisa. OSEBRAE, a partir de uma de suas diretrizes estratégicas, é um dos atores que mais vematuando nos APLs, com o objetivo de promover a competitividade e a sustentabilidade dosmicro e pequenos negócios, estimulando processos locais de desenvolvimento.

Estimular o surgimento de APLs significa, conforme o documento básico apresentado  pelo Centro de Gestão de Estudos Estratégico (CGEE), estimular o aprimoramento dacapacidade associativa e o fortalecimento dos laços de cooperação entre empresas, e entreestas e o setor público, apoiando a construção de governanças compatíveis com oaproveitamento de economias de aglomeração e induzindo a sua capacidade de inovação. E,também, significa incentivar a modernização tecnológica e organizacional das empresas,aprofundar o conhecimento do mercado interno e externo e fomentar a construção de políticas

 públicas articuladas.

2.4 Maricultura

Maricultura é a denominação referente ao ramo da Aquicultura que trata da criação oucultivo de seres aquático marinhos, podendo ser animais ou vegetais, tais como peixes,moluscos, crustáceos e algas. Portanto, cada modalidade de cultivo recebe uma denominaçãoespecifica, a saber: i) peixe = piscicultura; ii) ostra = ostreicultura; iii) mexilhão =mitilicultura; iv) alga = algicultura; v) camarão = carcinicultura; e vi) vieira ( coquille Saint 

 Jaques) = pectinicultura. Já o cultivo de moluscos, que no Brasil concentra criação demexilhões, ostras e vieiras, recebe a denominação genérica de maricultura. Estes sãomoluscos bivalves, ou seja, possuem duas conchas, e alimentam-se através da filtração daágua do mar, retirando dela o plâncton e detritos orgânicos.

Segundo Proença (2001) apesar de ser uma atividade econômica em franca expansão, praticada em quase todos os países que dispõem de costa marítima, a maricultura no Brasil sótomou força a partir da década de 90, quando neste período o cultivo de mexilhão apresentouum crescimento da ordem de 5.233 %. E as 150 toneladas iniciais obtidas em 1990 evoluíram

  para 12.500 toneladas em 2000, assegurando ao País a liderança na produção latino-americana. O autor acrescenta que o desempenho positivo se deve: i) baixo investimento erápido retorno, principalmente quando comparado com outras modalidades de cultivo; ii)ocupação de um espaço físico de domínio público (mar); iii) dispensa de arraçoamento, umavez que os animais são filtradores; iv) tecnologia de cultivo de fácil aprendizado; e v) os

 produtos cultivados têm boa aceitação no mercado.

 No Estado do Rio de Janeiro, alguns municípios litorâneos desenvolvem as atividades

de maricultura, sendo: Angra dos Reis, Parati, Mangaratiba, Rio de Janeiro, Niterói, Arraialdo Cabo, Cabo Frio e Búzios. Porém, é na Baía da Ilha Grande a maior concentração decultivos - responsável por 90 % da produção total do Estado, sendo 17 em Parati e 58 emAngra dos Reis. A maricultura do Estado conta com o serviço de extensão pesqueira daFundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ). No entanto, por falta derecursos financeiros, materiais e humanos, este órgão tem dificuldades para concretizar suasações junto às comunidades pesqueiras, especialmente, nas quais há interesse pelamaricultura.

Constata-se, assim, que o município de Angra dos Reis é o de maior representatividade em maricultura no Estado - seguido por Arraial do Cabo e Mangaratiba. O

município conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, que implantou a  partir de 1996, através do Projeto Desenvolvimento Sustentado da Ilha Grande

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(PED/FNMA/MAA), políticas de incentivo a maricultura local. (PREFEITURAMUNICIPAL DE ANGRA DOS REIS, 2006)

Pode-se caracterizar o perfil dos maricultores de Angra dos Reis da seguinte forma: i)Empresários - estes tratam a atividade como hobby ou pretexto para privatização do espaço

marinho em frente às suas propriedades; e ii) Pescadores e/ou moradores de baixa renda -estes se transformaram em maricultores com o objetivo de obter uma complementação derenda, auxiliados pela ação do poder público. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ANGRADOS REIS, 2006)

Em Angra dos Reis, também se encontra o único laboratório de larvicultura demoluscos bivalves do País, com foco na produção de vieiras, de propriedade do Instituto deEcodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED/BIG), instituição não-governamental, semfins lucrativos, patrocinada pela ELETRONUCLEAR e Petrobras, tendo ainda como co-

  patrocinadora a empresa BIOTECMAR. Segundo Zaganelli (2007), diretor do InstitutoIED/BIG, o laboratório tem capacidade de produção anual de 10 milhões de sementes

(animais jovens). Entretanto, alega dificuldades em trabalhar com a carga máxima, sendo umadas causas o pouco espaço físico destinado ao assentamento das larvas, necessitando dessaforma, de uma ampliação da sala de fixação.

Já em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, apesar de menos produtivo que o municípiode Angra dos Reis, apresenta-se um modelo eficiente e bem estruturado de maricultura, comgestão da organização produtiva.

Porém, é no Estado de Santa Catarina que se encontra o modelo de sucesso demaricultura do país. O mesmo encontra-se em Ribeirão da Ilha, sua gestão está voltada para odesenvolvimento local e possui apoio da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP).De acordo com SEBRAE (2008) o APL da Ostra da Grande Florianópolis visa à promoção e

o desenvolvimento sustentável da maricultura catarinense, através de ações pontuais junto aos  produtores. A iniciativa contempla a organização e profissionalização dos maricultores,desenvolvimento de projetos para construção de máquinas e novos equipamentos paraotimizar a produção e adequação dos processos produtivos para certificação de qualidade daostra catarinense. Todas as ações seguem um plano de marketing elaborado para agregação devalor ao molusco produzido no estado, com apoio de consultoria tecnológica focada naampliação e consolidação do mercado consumidor para o produto.

O APL das Ostras é coordenado pelo SEBRAE-SC. O projeto é desenvolvido em  parceria com o Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis (IGEOF/PMF),Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Secretaria

de Estado do Desenvolvimento Regional da Grande Florianópolis, Secretaria Especial deAqüicultura e Pesca (SEAP-SC), Banco do Brasil, Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC) e Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Também participam da iniciativa asfazendas marinhas Ostravagante, Ostraviva, Atlântico Sul, Cavalo Marinho e a CooperativaAquícola da Ilha de Santa Catarina, que reúne os pequenos produtores de Florianópolis(Cooperilha).

3. ESTUDO DE CASO

Serão expostos a seguir, os resultados alcançados no estudo de caso, realizado atravésde entrevistas com 25 maricultores, os quais fazem parte de três centros de cultivo - cinco deRibeirão da Ilha em Santa Catarina, oito de Arraial do Cabo e 12 de Angra dos Reis, estes

últimos municípios do Rio de Janeiro. As entrevistas foram feitas com base em questionáriode característica quantitativa, moldado com perguntas fechadas, que teve sua apuração

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apresentada em blocos temáticos, conforme subitens a seguir, a saber: i) característicasorganizacionais; ii) características estratégicas; iii) estrutura de gestão; e iv) Universidade-arranjos-Governo.

3.1 Características Organizacionais

Encontrou-se um perfil comum entre os maricultores entrevistados, a maioria (85,7%)era do sexo masculino e, também, em sua maior parte (57,60%) eram pessoas advindas doramo da pesca (57,60%). Outro ponto comum entre os entrevistados foi o fato da maioria(78,6%) trabalhar em grupos.

Os grupos de maricultura, ou arranjos, apresentaram formas diferentes de escolha deliderança, sendo através de eleição (57%) e por tempo de experiência na atividade (26%), estaúltima constatou-se com forma única adotada pelos maricultores de Ribeirão da Ilha.

Quanto à produção, houve predomínio (66,7%) da mão de obra familiar e/ou exercida

 pelo próprio maricultor, utilizando pouco (33,3%) auxiliares de fora do âmbito familiar, sendoestes para serviços específicos como instalação e retirada da produção. E a obtenção dematerial necessário ao processo produtivo, caracterizou-se em sua maioria (76%) por ser obtida dentro do próprio Estado de atuação dos arranjos, uma minoria (24%) conta comfornecedores de fora. No que se referem à comercialização, a mão de obra familiar também

 predominou (83,3%), utilizando-se pouco (16,7%) auxiliares de fora do âmbito familiar. Estarelação direta parece refletir um maior engajamento da família nos processos de produção ecomercialização.

Ainda, sobre o âmbito da comercialização, a maricultura apresentou-se como um ramoeconômico eficiente, visto que não se averiguou dificuldade no escoo da produção para mais

da metade (53%) dos arranjos, poucos tiveram dificuldade para escoar sua produção. Do total(47%) que encontram dificuldades em escoar a produção, a maior parte encontrava-se (43%)em Angra dos Reis, outros poucos de Arraial do Cabo e, nenhum, em Ribeirão da Ilha.

Sobre a influência da maricultura na renda dos entrevistados, constatou-se boainfluência, apontando faturamentos mensais entre dois e três salários, seguidos pela faixasuperior a cinco salários mínimos. Porém, apesar da boa rentabilidade, em Angra dos Reis

 boa parte dos entrevistados (57%) exercia outras atividades de trabalho, sendo a principaldestas a pesca (43%).

  No âmbito dos aspectos legais, ou seja, legalização da atividade e licenciamentoambiental, mais da metade (52%) dos entrevistados se considerou sem amparo legal e

igualmente sem licenciamento ambiental. Sendo boa parte destes de Angra dos Reis, onde osentrevistados apontaram não ter a atividade de maricultor legalizada e, também, comlicenciamento ambiental pendente.

3.2 Características estratégicas

Os entrevistados apontaram o uso de planejamento estratégico, visto que estes por trabalhar em grupo precisam interagir ideias. Assim, a maioria (52%) dos maricultoresdemonstrou que em seus arranjos os planejamentos ocorriam em forma de cooperação,

havendo comum acordo entre os participantes da atividade, inclusive, em conjunto com asassociações de maricultores, fato que indicou alto grau de interação entre estes atores.

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A pesquisa demonstrou que todos (100%) os maricultores possuíam visão e missão donegócio. A maioria deles (74%) tinha perfil típico de empreendedor, tais comocomprometimento, determinação e perseverança com o arranjo. Poucos (28%) eram os quenão possuíam tal postura. A maioria (70%) deles também tinha senso de oportunidade e

iniciativa.Constatou-se na pesquisa, que o objetivo principal (69%) dos maricultores seria

transformar o cultivo dos arranjos em sua principal fonte de renda, seguido da expansão paraalém do mercado local (31%). O que demonstra a pretensão de substituir outras atividades detrabalho, especialmente a pesca, pela maricultura em arranjos.

Já a forma que prevalece (84%) para se conseguir a participação e comprometimentodo grupo de maricultores nos arranjos, configurou-se como ‘reuniões’. Nestas, as liderançascostumam apresentar e discutir objetivos, demonstrando envolvimento de todos em torno deobjetivos comuns, da manutenção e da ampliação dos arranjos.

Como pontos fortes e estratégicos dos arranjos foram encontrados os seguintes:responsabilidade social (41%), conhecimentos da maricultura (34%) e conhecimento dasatividades pesqueiras (25%). Quanto ao ponto fraco apontado, percebeu-se uma maior referência a falta de organização social dos maricultores (37%), especialmente, pelosmaricultores de Angra dos Reis e de Arraial do Cabo. Os maricultores de Ribeirão da Ilhaapresentaram-se com uma organização mais avançada.

Dentre as oportunidades estratégicas ligadas a atividade dos arranjos, os maricultoreselegeram o turismo (47%), atividade com relação intrínseca ao ambiente da maricultura.Ressalta-se que todos os arranjos pesquisados estão em municípios que têm boa parte dos seusrecursos econômicos advindos do turismo. E os turistas figuraram na pesquisa comoassessores estratégicos da produção, visto que ao oferecer  feedback, aceito pela maioria (78%)

dos maricultores, estão interferindo positivamente na estrutura organizacional das arranjos.Já as ameaças indicadas pelos maricultores para os arranjos foram: falta de incentivo

 público (54%) e falta de recursos econômicos (46%).

Quanto à avaliação dos resultados esperados, a maioria (56%) dos maricultores tinha  pleno conhecimento deles, enquanto que uma minoria (35%) não fazia nenhum tipo deacompanhamento e pouquíssimos (9%) não se prendiam em avaliações. Neste contexto,averiguou-se que o planejamento da produção é feito por mais da metade dos maricultores(56%), tratando-se de uma ferramenta para atingir os resultados esperados, contudo partedestes (44%) não se preocupam com o controle da produção.

Destes resultados, constatou-se que o planejamento e a motivação dos maricultoresestão calcados em, principalmente, comunicação interna entre arranjos (66%) e programas detreinamento (28%), sendo que outros meios com pouca expressividade (6%).

3.3 Estrutura de Gestão

As preocupações mais relevantes para o maricultor apresentaram-se como: controledos recursos (29%) e o controle dos estoques (22%). O motivo da atenção ao controle dosrecursos, segundo a pesquisa, traduz a preocupação do maricultor em ter renda durante os

 períodos nos quais não se pode extrair as sementes ou colher os mariscos. O controle deestoques refere-se à extração do mexilhão em costões rochosos; estes são extraídos e

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colocados em cativeiro para engorda, a qual de se dá em um período mais curto de tempo.

Quanto às tecnologias de gestão, tiveram peso preponderante para os maricultores: o planejamento integrado (47%) e a avaliação do impacto ambiental (53%). O planejamentointegrado demonstra a comunhão de interesses entre os atores participantes dos arranjos. A

 preocupação com o impacto ambiental deve-se à consciência do maricultor em preservar anatureza e, por consequência, resguardar a prosperidade da atividade de maricultura, quedepende do equilíbrio ambiental marinho para manutenção da produção. Tanto, que boa partedos maricultores adota medidas para mitigar os resíduos gerados pelos cultivos, como, por exemplo, o sistema de coleta seletiva dirigido principalmente às conchas, restos de cabos eoutros materiais oriundos das fazendas marinhas.

A pesquisa constatou que a maioria (91%) dos maricultores gere individualmente osrecursos financeiros, demonstrando nesta atividade produtiva que o empreendedor tem maior dificuldade em delegar.

A maioria (60%) dos maricultores apontou uso de instrumentos de divulgação damaricultura local. Em Ribeirão da Ilha ocorre o Fenaostra, um evento com duração de seisdias, que tem seminários, concursos gastronômicos, work shops. Em Angra dos Reis adota-seanualmente o Festival do Mexilhão, na praia de Araçatiba, Ilha Grande, um eventogastronômico com o objetivo de divulgar a maricultura. Só em Arraial do Cabo que não seidentificou nenhuma forma constante de divulgação da maricultura.

Sobre a qualidade, a pesquisa demonstrou uma preocupação do maricultor (40%)quanto ao serviço/produto comercializado. Constatou-se que esta preocupação ocorre por setratar de um produto final destinado à alimentação. Em algumas épocas o produto podetornar-se impróprio para o consumo, como, por exemplo, na ocasião da ‘maré vermelha’,quando há concentração de algas na água, que, ingeridas pelos moluscos, podem causar 

distúrbios intestinais aos consumidores.

3.4 Integração Universidade-Arranjos-Governo

Constatou-se na pesquisa junto aos maricultores a existência do envolvimento entreEstado, sociedade civil e da iniciativa privada - em seus respectivos papéis, de princípios,normas, regras, procedimentos decisórios e programas compartilhados, que delineiam aevolução de um determinado setor produtivo.

Embora no município de Angra dos Reis a maricultura não seja uma atividade recente,os resultados indicaram maior nível de integração entre governo e maricultores em Ribeirão

da Ilha. Contudo, deve-se destacar que em Angra dos Reis existe o Projeto Maricultura naCosta Verde, que foi desenvolvido com maricultores dos Municípios de Angra dos Reis,Mangaratiba e Paraty, o atendimento visa àqueles organizados em associações oucooperativas.

 No que se refere à participação em atividades, observou-se maior participação dosmaricultores, sendo que a maioria deles participou de seminários e cursos profissionalizantese esteve presente em caravanas, feiras e cursos gerenciais. É de se ressaltar que, desde 2005, oProjeto Maricultura na Costa Verde integra o modelo de Gestão Estratégica Orientada paraResultados (GEOR), adotada pelo Sistema SEBRAE desde 2003.

Os arranjos demonstraram uma boa integração Universidade-Empresa-Governo

(63%), através da difusão de tecnologia para maricultores. Em Ribeirão da Ilha existe suportetécnico da (Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade do Vale do

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Itajaí (UNIVALE), da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural deSanta Catarina S.A.) e do SEBRAE. Em Arraial do Cabo o apoio técnico é dado peloSEBRAE e em Angra dos Reis, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) e peloSEBRAE. A maioria (63%) dos entrevistados recebeu em maior ou menor grau algum suporte

técnico. Os que não tiveram, contaram com integração Universidade-Empresa-Governo, tendoconvênios com repasses de recursos (22%) e participando de acordos de cooperação técnica(15%).

A maior parte (57%) dos maricultores apontou conhecer a atuação do SEBRAE,todavia, muitos (43%) ainda não conhecem. Em Angra dos Reis e Ribeirão da Ilha averiguou-se participação dos maricultores em cursos ministrados pelo SEBRAE, palestras, feiras eviagens de intercâmbio. E apenas alguns maricultores (22%) informaram que participam de

 programas governamentais específicos para o setor de maricultura, a maioria (78%) informouque não participa.

Já a produção do conhecimento obtida nos arranjos, em sua maior parte (79%),

constatou-se como regulamentada, havendo minorias: não regulamentada (4%) e semconhecimento sobre regulamentação (17%). Destaca-se que a maior parte citada (79%),recebe apoio institucional de fora da região, esta aqui entendida como apoio de fora doslimites dos municípios onde estão inseridos os arranjos.

4. CONCLUSÃO

O referencial teórico e o estudo de campo conduziram a algumas considerações arespeito de práticas de gestão em arranjos de maricultura, para que estes venham a seconstituir em um APL. No caso do município de Angra dos Reis, constatou-se que há plena

condição empreendedora dos maricultores do município para tanto. Todavia, há necessidadede maior apoio legal e de incentivos governamentais, assim como de intensificação naintegração com Universidades e SEBRAE para que haja aprimoramento contínuo deconhecimento.

Tem-se assim a maricultura do município de Angra dos Reis como um diamante brutoa ser lapidado, pois: i) possui litoral como ambiente externo, espontâneo, não planejado quedetermina vantagens e potencialidades locais para ocorrência da aglomeração produtiva; e ii)tem os maricultores empreendedores como ambiente interno que atua sobre o externo econsegue gerar eficiência coletiva, economia de escala e inovação resultando em vantagenscompetitivas para expansão para novos mercados. Todavia, para fazer uso de tais

 potencialidades inerentes da região, faz-se necessário ainda aprimorar: i) ações do governo, deUniversidades e do SEBRAE, para se conseguir através da cooperação privada e das políticas públicas promover o desenvolvimento da aglomeração produtiva; e ii) o intercâmbio comoutros municípios com produção de maricultura, especialmente com Ribeirão da Ilha, que seencontra em estágio mais avançado de produção e de conhecimento.

Desta forma ficou demonstrado que a maricultura em Angra dos Reis possui potencialde se tornar um APL de forte impacto econômico, podendo melhorar a economia da região,servindo como fonte de geração de emprego, de renda e de receita para o município.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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