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CAFÉ:VIDA,PRODUÇÃOeTRABALHO CAFÉ:VIDA,PRODUÇÃOeTRABALHO AGRICULTORES FAMILIARES E ASSALARIADOS RURAIS R BRASIL

Café: vida, produção e trabalho - agricultores familiares e assalariados rurais

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“Café: Vida, Produção e Trabalho - Agricultores Familiares e Assalariados Rurais” é um estudo que analisa a cadeia produtiva do café, com ênfase nas condições de vida e trabalho nas duas principais regiões produtoras do Brasil: Sul de Minas Gerais e Noroeste do Espírito Santo. Diferente das publicações anteriores, o estudo atual tem uma perspectiva de pesquisa, buscando identificar e tratar os elos da cadeia de produção do café ao mesmo tempo em que prioriza apresentar a situação dos assalariados rurais.

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CAFÉ:VIDA,PRODUÇÃOeTRABALHOCAFÉ:VIDA,PRODUÇÃOeTRABALHOAGRICULTORES FAMILIARES E ASSALARIADOS RURAIS

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BRA

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SCS Quadra 8, Bloco B-50, Sala 403,Edifício Venâncio 2000, CEP 70333-970Brasília DFFONE - (61) 321-4044 FAX - (61) 323-8552BRASIL

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coalitie

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APRESENT

APRESENT

APRESENT

APRESENT

APRESENTAÇÃO

AÇÃO

AÇÃO

AÇÃO

AÇÃO

A Coalizão do Café, que é uma iniciativa de organizações sindicais eONGs holandesas, atua em âmbito mundial pelas melhores condiçõessócio-trabalhistas na produção e comércio do café. No Brasil, aCoalizão se articula com a Aliança Nacional do Café - formada porOxfam Internacional, Central Única dos Trabalhadores (CUT),Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag),federações estaduais dos trabalhadores na agricultura, sindicatos e oInstituto Observatório Social - que atua pelos mesmos objetivos.

Em setembro de 2002 foi lançada a campanha global “O que tem nasua xícara” que trata da crise do café e busca apresentar propostas queimpliquem em melhores condições para os agricultores(as) familiares,bem como para os assalariados(as) rurais. Naquele momento, a AliançaNacional apresentou a publicação “Café do Brazil - O sabor amargoda crise”, uma reportagem mostrando os caminhos do café no Brasil esua importância para agricultores familiares e assalariados rurais. Emmaio de 2003, já como uma parceria entre a Aliança Nacional e aCoalizão do Café da Holanda, foi lançado “Café e Pobreza - Sara Lee:teoria e prática na responsabilidade social”, que trata da atuação dessamultinacional no Brasil a partir deste produto.

Em continuidade ao trabalho, as organizações acima apresentamagora uma nova publicação. “Café: Vida, Produção e Trabalho -Agricultores Familiares e Assalariados Rurais” é um estudo queanalisa a cadeia produtiva do café, com ênfase nas condições de vida etrabalho nas duas principais regiões produtoras do Brasil: Sul deMinas Gerais e Noroeste do Espírito Santo. Diferente das publicaçõesanteriores, o estudo atual tem uma perspectiva de pesquisa, buscandoidentificar e tratar os elos da cadeia de produção do café ao mesmotempo em que prioriza apresentar a situação dos assalariados rurais.

Esta publicação, a exemplo das anteriores, foi desenvolvida pela equipedo Instituto Observatório Social e vem somar-se às ações dasorganizações da Coalizão do Café e da Aliança Nacional do Café paraatingirem sua meta comum: a melhoria das condições de vida e deprodução dos agricultores familiares, trabalhadores rurais e demaistrabalhadores do café.

Coalizão do CaféContagCUTOxfam InternacionalInstituto Observatório Social

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ÍNDICEUMA VISÃO GERAL DO COMPLEXOUMA VISÃO GERAL DO COMPLEXOUMA VISÃO GERAL DO COMPLEXOUMA VISÃO GERAL DO COMPLEXOUMA VISÃO GERAL DO COMPLEXO _____________________________________________________________________________________________________________________________ 07

Mercado externo ______________________________________ 08

O mercado de café nos últimos anos ___________________________ 12

Mercado interno ______________________________________ 13

Exportar café com maior valor agregado _________________________ 14

A desregulamentação dos anos 90 ____________________________ 17

Agricultura familiar e mão-de-obra____________________________ 18

CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAISCADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAISCADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAISCADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAISCADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAIS __________________________________________________ 23

Características populacional e sócio-econômica da região sul de Minas Gerais ____ 24

Café – aspectos técnicos e produtivos __________________________ 26

Estrutura de produção do café arábica no sul de Minas ________________ 28

Colheita do café ______________________________________ 30

Pós colheita _________________________________________ 32

Assalariados do café no sul de Minas – salários e condições de trabalho ______ 36

Demais atores e seus papéis na cadeia produtiva do café _______________ 38

Cooperativas ________________________________________ 40

Corretores __________________________________________ 40

Indústrias __________________________________________ 41

A CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO NOROESTE DO ESPÍRITO SANTOA CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO NOROESTE DO ESPÍRITO SANTOA CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO NOROESTE DO ESPÍRITO SANTOA CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO NOROESTE DO ESPÍRITO SANTOA CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO NOROESTE DO ESPÍRITO SANTO _______________ 43

Características populacional e sócio-econômica da região _______________ 44

Café - aspectos técnicos e produtivos ___________________________ 46

Estrutura e características da cadeia produtiva do café ________________ 49

Aspectos do emprego na cadeia do café _________________________ 51

Parceria no café ______________________________________ 51

Trabalhadores assalariados ________________________________ 53

Salários ___________________________________________ 53

Principais problemas da cadeia do café - a opinião dos atores ____________ 53

A questão da representação sindical dos assalariados rurais _____________ 54

A questão da intermediação _______________________________ 55

ALTERNATIVAS NO ENFRENTAMENTO DAS DIFICULDADES _______________ 57

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Trabalhadores assalariados ruraise agricultores familiares do setordo café lutam pela melhoria dascondições de vida nesse contexto

de concentração e exclusão social

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O complexo agroindustrial do café é um dos mais tradicionais e importantesna economia brasileira, tanto pela geração de renda, quanto no número deprodutores e trabalhadores empregados, constituindo-se na segunda cultura quemais gera empregos no campo, sendo superado apenas pela de grãos. O com-plexo, em 2003, foi responsável por 2,1% do total das exportações brasileiras, oque significou US$ 1,5 bilhão em divisas.

Embora exista uma vasta bibliografia sobre o complexo agroindustrial docafé, esta, em geral, pouco se detém sobre o segmento agrícola, sobre os agricul-tores familiares e, principalmente, sobre os trabalhadores assalariados rurais. Osestudos e pesquisas neste setor, em geral, enfocam as questões de mercado,novas tecnologias de produção, redução de custos, aumento do valor agregado àcultura e aumento das exportações. Grande parte dos estudos, enfocando ascondições de trabalho na lavoura cafeeira, foi produzida ainda nas décadas de1970/1980 e dava conta, em geral, do processo de expulsão dos trabalhadoresmoradores das grandes propriedades, que se tornaram assalariados contratadospara trabalhos de curta duração.

Este relatório analisa a cadeia produtiva do café, tendo como ênfase ascondições de vida e trabalho dos agricultores familiares e dos assalariados rurais,tendo como base de investigação de campo as duas principais regiões produtorasdo país: Sul de Minas, produtora de café do tipo arábica, ou café de altitude; eNoroeste do Espírito Santo, onde se produz café do tipo robusta, ou conillon.

Um de seus objetivos é contribuir para o estabelecimento de normas deconduta para a cadeia produtiva do café, que apontem para a melhoria dascondições de vida e trabalho dos trabalhadores assalariados rurais e dos agricul-tores familiares que cultivam café, vítimas do processo de concentração e exclu-são presentes neste complexo agroindustrial.

O trabalho dá atenção também às possibilidades de melhoria no negócio docafé, objetivando o aumento da agregação de valor, nas duas regiões estudadas.Todavia, parte-se da constatação de que apenas a agregação de valor nãoresolve o problema da distribuição desigual dos ganhos entre os elos que com-põem a cadeia produtiva do café.

As informações coletadas ao longo da pesquisa foram organizadas nesteRelatório partindo do geral para o específico. Inicialmente é apresentada umabreve caracterização dos estados e das regiões estudadas, a partir de informa-ções sócio-econômicas; em seguida, estão os aspectos técnicos e produtivos docafé, as estruturas da cadeia produtiva nas regiões, os atores envolvidos noprocesso, as questões relativas ao emprego e à atuação sindical. Buscou-sesalientar os principais problemas vivenciados na cadeia produtiva, segundo aopinião dos atores, e apresentar recomendações para a elaboração de propostasalternativas no enfrentamento desses problemas.

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VISÃO

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Mercado ExternoMercado ExternoMercado ExternoMercado ExternoMercado ExternoO complexo do café é de grande importância

na geração de renda e de divisas, resultantes dasexportações. O Brasil mantém-se como o maiorprodutor e exportador mundial, embora sua partici-pação no mercado internacional1 esteja decrescen-do. Se na década de 1960 o Brasil era responsávelpor mais de 40% das exportações mundiais decafé, na primeira metade da década de 1990, essaparticipação tinha se reduzido para cerca de 20%.Apenas no final dos anos 90, com a desvalorizaçãodo real em relação ao dólar, houve uma recupera-ção parcial da importância do Brasil no comérciointernacional do produto. O mesmo comportamen-to teve a produção brasileira de café em grão, quenos últimos 30 anos decresceu.

Na década de 1990 houve uma mudançaimportante no cenário mundial dos países produto-res do café. Esta mudança reflete um aumentoconsiderável da produção para exportação dospaíses asiáticos, com destaque para o Vietnã, quepassou a ser o segundo país produtor de café nomundo, assumindo a posição até então ocupadapela Colômbia.

O decréscimo da produção brasileira foiresultado de uma política de erradicação de pés econtrole de estoques, empreendida pelo governobrasileiro, até a década de 1990. A partir daí, coma desregulamentação2 , a produção de café passoua ser definida por produtores ou por grupos deprodutores. A redução da produção de café emgrãos afetou também o comportamento do seg-mento de produção de café solúvel, que teve perdade participação no mercado internacional.

UMA

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Mesmo com participaçãodecrescente no mercado mundial,

o Brasil ainda é o maiorexportador de café. Estima-se quemais de 700 mil pessoas trabalhem

na cultura cafeeira

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GRÁFICO 1 - PARTICIPAÇÃO DA PRODUÇÃO BRASILEIRA NA PRODUÇÃO MUNDIAL (%)

TABELA 1 - OFERTA MUNDIAL DE CAFÉ: BRASIL E MUNDO (EM MIL SACAS DE 60 KG)

1990 1995 2000 2002Brasil 27.321 15.784 32.005 48.480Colômbia 14.231 12.878 10.532 11.250Vietnã 1.390 3.938 14.775 10.000Indonésia 7.441 5.865 6.947 5.670Índia 2.829 3.560 4.526 4.588México 4.674 5.300 4.815 4.000Etiópia 2.909 2.860 2.768 3.750Costa do Marfim 2.940 2.532 4.846 3.433Guatemala 3.271 4.002 4.940 3.143Peru 937 1.871 2.596 2.900Demais Países 25.378 26.660 23.584 21.589Total Geral 93.321 85.250 112.334 118.803Total sem Brasil 66.000 69.466 80.329 70.323Brasil/Total (%) 29,28 18,51 28,49 40,81

Fonte: Organização Internacional do CaféElaboração: Observatório Social

Fonte: Organização Internacional do Café.Elaboração: Observatório Social

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GRÁFICO 2 - PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES DECAFÉ DO BRASIL (EM MIL SACAS DE 60 KG) 1992 – 2001

Fonte: IBGE; SECEX/MDICElaboração: Observatório Social

O principal país importador de café do mundoe do Brasil é, sem dúvida, os Estados Unidos, comomostrado no Gráfico 2. Mas chama a atenção aposição ocupada pela Alemanha, que detendo umapopulação muitas vezes menor que a estadunidense,importa quase tanto quanto este. Também têm papelde destaque, entre os principais importadores, aItália e o Japão. Nesse aspecto, deve-se salientarpara a prática da reexportação adotada pelos paíseseuropeus, fundamentalmente, a Alemanha, a Itália ea Holanda, que compram mais café do que suasnecessidades de consumo internas, visando a reven-da a outros países, não mais com café em grão, mascom café torrado e moído, café torrado e solúvel,enfim, café com maior valor agregado.

TABELA 2 - EXPORTAÇÃO DE CAFÉ (EM MIL SACAS DE 60 KG)

PAÍS 1990 1995 2000 2002Brasil 16.971 14.411 18.016 27.908Vietnã 1.145 3.546 11.619 11.771Colômbia 13.944 9.814 9.175 10.273Indonésia 6.903 3.947 5.355 3.967Índia 1.979 2.469 4.441 3.516Guatemala 3.240 3.701 4.852 3.491Uganda 2.353 3.079 2.513 3.358Costa do Marfim 4.283 2.494 6.110 2.901Peru 1.105 1.760 2.362 2.789Honduras 1.735 1.796 2.879 2.711Demais Países 26.903 20.553 21.841 14.623Total 80.562 67.573 89.162 87.309

Fonte: Organização Internacional do Café.Elaboração: Observatório Social

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Este mercado da reexportação poderia serocupado pelo Brasil, assim como pelos demaispaíses produtores, na medida em que estes detêm aprodução e a tecnologia para processamento docafé e, como no caso do Brasil, têm capacidade deprocessamento. Evidentemente que este espaço

não é ocupado pelos países produtores de cafédevido às barreiras comerciais existentes, funda-mentalmente na Europa e nos Estados Unidos edevido, também, à estratégia de expansão e con-centração das grandes empresas transnacionaisatuantes no mercado de café e alimentos.

Nos tradicionais mercados importadores decafé do Brasil ocorreu o crescimento da demandapor cafés especiais3 , frente à demanda por cafécommodity, ou café verde. Embora já houvessesinais de mudança na demanda externa nesta dire-ção, o Brasil pouco investiu, enquanto país produtor,neste segmento de café de qualidade. A movimenta-ção do Brasil e dos governos foi sempre no sentidode controle da produção e dos estoques nacionais einternacionais e não na diferenciação das exporta-

ções. Por outro lado, os produtores brasileiros,acostumados ao peso das exportações brasileiras nomercado de café commodity, também pouco investi-ram neste segmento de cafés especiais, que apresen-tam preços diferenciados e mais elevados no merca-do externo. Mais adiante, quando tratada a produ-ção de café no Sul de Minas, as iniciativas em cursona produção de cafés especiais, que vêm tentandoreverter mesmo que tardiamente este quadro, serãomelhor exploradas.

TABELA 3 - REEXPORTAÇÃO DE CAFÉ (EM MIL SACAS DE 60 KG)

Países/Anos 1990 1995 2000 2002Alemanha 3.292 3.220 5.099 6.669Estados Unidos 825 1.841 2.301 2.506Bélgica 891 1.328 2.455 2.416Cingapura 1.142 1.862 1.411 1.892França 913 1.081 1.198 1.428Itália 383 749 1.181 1.376Espanha 265 397 762 1.180Holanda 585 617 1.133 1.102Inglaterra 482 633 715 863Áustria 415 229 439 552Demais Países 454 842 1.247 1.401Total 9.645 12.798 17.939 21.385Fonte: Organização Internacional do Café.Elaboração: Observatório Social

TABELA 4 - IMPORTAÇÃO DE CAFÉ (EM MIL SACAS DE 60 KG)

Países/Anos 1990 1995 2000 2002Estados Unidos 21.007 17.107 23.827 21.701Alemanha 13.671 12.852 14.382 15.733Japão 5.506 5.597 6.975 7.367França 6.301 6.214 6.643 7.055Itália 5.242 5.388 6.344 6.556Espanha 3.053 3.146 3.820 4.088Bélgica 2.015 2.401 3.759 4.030Inglaterra 2.898 2.807 3.096 3.021Holanda 3.128 2.910 3.044 2.864Áustria 1.880 1.231 1.301 1.497Demais Países 8.323 7.105 8.138 8.667Total 73.023 66.759 81.319 82.580Fonte: Organização Internacional do Café.Elaboração: Observatório Social

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O MERCADO DE CAFÉ NOS ÚLO MERCADO DE CAFÉ NOS ÚLO MERCADO DE CAFÉ NOS ÚLO MERCADO DE CAFÉ NOS ÚLO MERCADO DE CAFÉ NOS ÚLTIMOS ANOSTIMOS ANOSTIMOS ANOSTIMOS ANOSTIMOS ANOSO Gráfico 3 apresenta a evolução dos custos

de produção e preços pagos ao produtor noestado de Minas Gerais. Os dados são daCooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultoresem Guaxupé Ltda)4 , a maior cooperativa deprodutores de café do Brasil, o que dá uma boaamostra dos custos de produção de café arábicano país. Os dados foram calculados para umaprodutividade média de 20 sacas por hectare.

A linha de custo de produção indica umatendência de crescimento ao longo dos anos obser-vados. Já a linha de preços mostra a volatilidadedo mercado, além de apontar um longo período(1991 a 1994) de preços médios, recebidos pelosprodutores, inferiores aos custos totais de produ-ção. Embora não dispondo de gráficos de custos

mais atualizados, foi possível perceber, através dapesquisa de campo, que os produtores de café nasafra 2003/2004 tiveram seus preços cotados doscustos de produção. Isto porque houve uma rápidaelevação do dólar no segundo semestre de 2002,que perdurou até o início de 2003, provocando aalta dos insumos utilizados no café, cotados nestamoeda. Isso ocorreu num momento em que eraimprescindível a aplicação destes insumos para nãocomprometer a safra 2003/2004. Porém, ospreços internacionais do café permaneceram osmesmos da safra anterior, embora o volumeproduzido, devido a bianualidade5 do café arábica,tenha sido menor. Com isso, os produtores destetipo de café não puderam ressarcir-se do gastocom os insumos, fechando a safra com prejuízos.

GRÁFICO 3 - PREÇOS E CUSTOS DO CAFÉ ARÁBICA NO MERCADO BRASILEIRO - MÉDIA MINAS GERAIS (US$/SACA)

Fonte: Cooxupé.Elaboração: Observatório Social

Para o café arábica, a Tabela 5 revela que,entre os maiores produtores mundiais, o Brasil é oque possui menor custo de produção. Com relaçãoà produtividade, embora o Brasil apresente umdesempenho inferior ao da Colômbia, sabe-se que,com as técnicas de adensamento que estão sendoincorporadas nas novas áreas de produção, aprodutividade média brasileira deve aumentar paraalgo em torno de 1.000 a 1.200 kg/ha (20 sacas/ha).

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MERCADO INTERNOMERCADO INTERNOMERCADO INTERNOMERCADO INTERNOMERCADO INTERNOO mercado consumidor interno de café é o

segundo maior do mundo e, nos últimos cinco anos,tem apresentado um consumo crescente, embora oconsumo per capita permaneça quase constante,contrariando a tendência que vinha se apresentandona década de 19806 . Em 1997, o consumo do-méstico de café alcançou o patamar de 11,5 mi-lhões de sacas e, em 2002, 13,5 milhões, conformegráfico a seguir.

PAÍSES Custo Produtividade Produçãode Produção (kg/ha) (mil de sacas(US$ ton/ha) de 60 kg)

Brasil 1.546,1 709 22.700Colômbia 1.954,7 771 12.900México 2.260,5 447 4.075Guatemala 1.635,9 771 3.150Etiópia 761,3 528 3.300Costa Rica 2.287,5 1.548 2.450Honduras 1.738,3 575 2.050El Salvador 1.868,1 822 2.330

Fonte: USDA, OICElaboração: Observatório Social

TABELA 5 - CUSTO DE PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE DOS PRINCIPAISPAÍSES PRODUTORES DE CAFÉ ARÁBICA (SAFRA 1994/95)

GRÁFICO 4 - PREÇOS MÉDIOS DO CAFÉARÁBICO-BRASILEIRO, PREÇOS MÉDIOS DO

CAFÉ ARÁBICO-COLOMBIANO, PREÇOSMÉDIOS DO CAFÉ ROBUSTA (EM US$/LB)

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GRÁFICO 5 - CONSUMO INTERNO DE CAFÉ (MILHÕES DE SACAS DE 60 KG)

Fonte: Organização Internacional do CaféElaboração: Observatório Social

EXPOREXPOREXPOREXPOREXPORTTTTTAR CAFÉ COM MAIOR VAR CAFÉ COM MAIOR VAR CAFÉ COM MAIOR VAR CAFÉ COM MAIOR VAR CAFÉ COM MAIOR VALOR AGREGADOALOR AGREGADOALOR AGREGADOALOR AGREGADOALOR AGREGADONo complexo agroindustrial do café, como

em todos os complexos agroindustriais brasileiros,têm surgido análises que defendem a necessidadede exportar café com maior valor agregado. Istosignifica incorporar ao produto mais serviços e/ouinsumos, de tal forma que os preços alcançados nomercado externo sejam superiores aos atualmenteauferidos, pela exportação do café em grão.

Existem várias formas de se agregar valor àexportação de café, a mais evidenciada pelas ten-dências internacionais é a de aumentar a produção eexportação de cafés especiais ou diferenciados,assim como de café solúvel. Medidas de promoçãoe marketing são outras formas válidas, pois esseprocesso tende a criar uma posição monopolísticapara o produto, possibilitando assim um diferencialde preços no mercado. Porém, a produção de cafésespeciais requer investimentos, dado que envolvegastos em cuidados nas operações de colheita epós-colheita, para a conseqüente melhoria na quali-dade. Além da disposição de investir na produção eno marketing, a agregação de valor não leva a umadistribuição mais igualitária dos ganhos, internamente,para todos os elos da cadeia, e, de outro lado,esbarra também na posição oligopsônica das gran-des empresas transnacionais que têm margenselevadas de ganhos na reexportação de cafés espe-ciais, já com blendies7 elaborados segundo asdemandas dos importadores. Do total dos mais de82,58 milhões de sacas de café reexportados no

mundo em 2002 (ver Tabela 3), estima-se que 1/3seja na forma de café verde, após sofrer processode rebeneficiamento.

É necessário, no sentido da agregação devalor, desenvolver pesquisas enfocando não só aquestão da produtividade agronômica, comotambém a diferenciação da bebida (diferentesaromas/corpos, buquês, acidez etc.). Incluem-se asinovações tecnológicas, ou seja, novos tipos deprodutos industrializados, como o café solúvel e ocafé já torrado, o café torrado e moído com mar-cas nacionais, que são as principais formas deagregação de valor ao café, além do mercado debalas, bolos, doces, sorvetes etc.

Também, no segmento de cafés especiais,uma tendência parece estar em crescimento – a decafés rastreados. Ou seja, cafés que chegam àsmãos do consumidor com todas as informações doprocesso de produção – onde foi produzido, porque família, sob que condições climáticas, agríco-las, sociais, trabalhistas e ambientais, quais insumosforam utilizados etc. E nesta tendência está contidauma outra que é a do comércio justo e transparen-te. Isto é, no acompanhamento do processo deprodução a existência da possibilidade do consumi-dor de visualizar a distribuição dos ganhos portodos os elos da cadeia produtiva, e em que condi-ções esse café está sendo produzido.

Entretanto, quando se fala em exportar cafécom maior valor agregado, a questão que tem

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chamado mais atenção no momento se refere aocafé torrado e moído (T&M), que é uma forma deagregar valor com mais baixo investimento. Aquestão de exportar café torrado e moído agora estáganhando maior destaque com o engajamento, nesseprocesso, do Governo Federal, através da Comis-são do Café do Ministério da Agricultura, em con-junto com a Confederação Nacional da Agricultura(CNA)8 . Recentemente foi aprovada ata recomen-dando que o Governo atue não só no sentido deeliminar barreiras, como também de criar facilidadespara a exportação de café especial torrado e moído.

O comércio mundial de café T&M alcança hojemais de 6,5 milhões de sacas, tendo a França como oprincipal importador, com cerca de um milhão desacas, seguida de Canadá e Estados Unidos. Quantoaos países produtores de café, o total exportado foiinferior a 118 mil sacas em 2000, equivalente a 1,82%deste mercado. O que significa que a reexportação9

pelos países importadores abrange mais de 98%deste segmento de mercado. Como o processo detorrefação e moagem é tecnologicamente simples, asbarreiras para ampliação das exportações de caféT&M não são tecnológicas, mas comerciais

Estima-se que, dado o atual parque industrialexistente no país, poder-se-ia exportar perto de 4milhões de sacas de café T&M. Isto demonstra que aexportação de café T&M esbarra, não apenas emesforço individual de produtores, mas em barreirascomerciais poderosas, levantadas pelas empresastransnacionais que atuam no segmento de reexporta-ção de café verde e T&M. Estas barreiras só pode-rão ser retiradas a partir de políticas comerciais, quedependem também dos Estados Nacionais e nãoapenas de esforço dos empresários do setor. Nestesentido, a atuação dos países exportadores na Orga-nização Mundial do Comércio (OMC) é crucial parao levantamento e/ou abrandamento destas barreiras.

Embora a estratégia de aumentar a exportaçãode café com maior valor agregado (cafés especiais,café solúvel e café T&M) seja interessante para opaís, e já esteja sendo perseguida por empresários dosetor, é necessário que haja preocupação com amelhor distribuição dos ganhos por toda a cadeiaprodutiva, propiciados por esta agregação de valor.Isto poderá fazer, de uma só vez, tanto a desejávelinternalização de ganhos existentes no mercadoexterno, que são açambarcados pelas empresastransnacionais, como também tornar-se uma estratégiaredistributiva, necessária para reverter o processo deexclusão econômica e social que vêm passando ostrabalhadores assalariados e os agricultores familiares.

O que se verifica na maior parte dos comple-xos agroindustriais em que é adotada a estratégiade aumento do valor agregado (citrícola ecanavieiro, apenas para citar dois), é o fortaleci-mento de alguns elos da cadeia em detrimento deoutros. Em geral, os agricultores familiares e, maisfortemente, os trabalhadores assalariados não têmse beneficiado dessa estratégia, que tem concentra-do os ganhos nos segmentos tradicionais exporta-dores, ou nos novos exportadores, surgidos após oprocesso de desregulamentação da economia, apósa década de 1990.

Em todos os complexos agroindustriaisestruturados, a partir da desregulamentação dadécada de 1990 e da extensão para todos oscomplexos do paradigma de produção enxuta, noqual os elos mais fortes transmitem para os maisdébeis o ônus da redução de custos, verifica-setambém uma redução da rentabilidade dos produ-tores menores e menos capitalizados e aumento dadeterioração das condições de vida e trabalho dosassalariados rurais, embora haja crescido o valor ea quantidade de produtos exportados.

A tabela a seguir demonstra que a produçãode café continua tendo na Região Sudeste a suaprincipal região produtora, com destaque nosestados de Minas Gerais e Espírito Santo. Mas épossível perceber que as Regiões Norte e Nordes-te e, mais especificamente, os estados de Rondôniae Bahia começam a despontar, no final da décadade 1990, como as regiões e os estados em quemais cresceu a produção de café. A tendênciaesperada, e que tem sido apontada pelos atoressociais do complexo cafeeiro, é que a Bahia venhaa alterar significativamente o mapa do café noBrasil, devido aos investimentos ocorridos após adécada de 1990.

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Está ocorrendo no café uma espécie de retornoàs origens. Isto porque a cultura do café começouno Brasil no estado do Pará, gradativamente ela seexpandiu para outros estados do Nordeste e, poste-riormente, chegou ao Rio de Janeiro e ao Vale doParaíba. Através deste, ela chega a São Paulo e aoParaná e depois a Minas Gerais. Este trajeto pareceter sido impulsionado pela busca de solos maisférteis e pela fuga das geadas.

Mais recentemente, o café sobe de MinasGerais para o Espírito Santo, para as novas Regi-ões do Cerrado Mineiro e chega a Rondônia e àBahia, na região das chapadas, reiniciando ocaminho de volta às origens, em regiões maisquentes, seu hábitat natural. Porém, neste novomovimento, o que impulsiona não é mais a fertilida-de dos solos, mas parece ser a planura das áreas,que possibilita a motomecanização, a disponibilida-de de água para irrigação, a correção da fertilidadepela adubação química e a existência de terras abaixos preços e não sujeitas a geadas.

Após a desregulamentação, está havendo nocafé um processo de reconcentração fundiária eeconômica. Como resultado deste processo, deveráocorrer uma redução da participação relativa das

regiões tradicionais produtoras, nas quais a pequenaprodução e a produção familiar têm maior peso. Aprodução de café, nestas novas regiões, passa aocorrer em grandes plantações, empregandotecnologia de ponta, propiciadas pelo baixo preçoda terra nestes estados, relativamente aos preços daterra em São Paulo e Sul de Minas. Este é o caso daBahia, onde, devido às condições propícias doclima, mesmo pesando a pobreza dos solos, estáatraindo produtores mais modernos e mais capitali-zados, que estão investindo na produção irrigada decafé em áreas não suscetíveis a geadas.

A maior parte dos produtos agrários deexportação brasileiros tem como vantagem compe-titiva quatro fatores: terras a baixos preços, baixossalários, baixa remuneração dos produtores rurais,principalmente os pequenos, e condições climáticas(sol o ano inteiro). No café, a variável chaveparece estar reduzindo o peso destes quatrofatores principais a dois: terra barata e sol, atrela-dos à tecnologia de ponta em grandes produções.Desta forma, o café, caso esta tendência venha a seconfirmar, afasta-se do grupo dos complexosagroindustriais da cana-de-açúcar e da laranja eaproxima-se da soja, guardadas as especificidades.

TABELA 6 - PRODUÇÃO, ÁREA PLANTADA E PRODUTIVIDADE DE CAFÉ EM COCO NO BRASIL POR ESTADOS EREGIÕES EM 2001

Quantidade produzida % relação Área plantada % relação Produtividade(tonelada) Brasil/Estado (hectare) Brasil/Estado (ton/ha)

Brasil 3.639.138 2.356.954 1,54Norte 290.388 7,9796 248.109 10,53 1,17Rondônia 255.701 88,0549 222.926 89,85 1,15Pará 29.433 10,1357 22.218 8,95 1,32Demais Estados 5.254 1,8093 2.965 1,20 1,77Nordeste 178.567 4,9068 164.042 6,96 1,09Bahia 171.579 96,0866 151.039 92,07 1,14Ceará 4.730 2,6489 7.399 4,51 0,64Demais Estados 2.258 1,2645 5.604 3,42 0,40Sudeste 3.044.575 83,6620 1.826.972 77,51 1,67Minas Gerais 1.703.316 55,9459 1.062.821 58,17 1,60Espírito Santo 970.920 31,8902 539.927 29,55 1,80São Paulo 356.000 11,6929 213.400 11,68 1,67Rio de Janeiro 14.339 0,4710 10.824 0,59 1,32Sul 57.484 1,5796 66.224 2,81 0,87Paraná 57.464 99,9652 66214 99,98 0,87Demais Estados 20 0,0348 10 0,02 2,00Centro-Oeste 68.124 1,87 51.607 2,19 1,32Mato Grosso 53.582 78,65 43.277 83,86 1,24Goiás 10.731 15,75 5.559 10,77 1,93Demais Estados 3.811 5,59 2.771 5,37 1,38Fonte: IBGE – Produção Agrícola MunicipalElaboração: Observatório Social

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De uma forma geral, os estudos realizadossobre o complexo agroindustrial do café atribuema perda de competitividade à regulamentação,exercida pelo Estado desde o período colonial.Segundo os autores citados aqui, a forte presençado estado no complexo inibia a modernizaçãonecessária e atenuava a incerteza, fatores queimpulsionam a busca por margens maiores de lucro,fundamento da chamada competitividade. Napesquisa de COUTINHO, Competitividade daEconomia Brasileira de 1993, o autor atribui à fortepresença do estado no complexo como um doselementos para a perda de competitividade externado café brasileiro, especialmente no fato de apolítica externa fundamentar-se no controle deestoques e não se derivar, como em outros países,para a produção de cafés mais finos, fora docomércio de commodity. No trabalho deFARINA, Estudo da Competitividade doAgronegócio Brasileiro, de 1998, esta posição deatribuir à regulamentação a perda decompetitividade é mais enfática ainda.

Estes trabalhos, porém, não explicam porque,embora a desregulamentação já tenha ocorrido hámais de 10 anos, a competitividade do complexo noexterior piorou. O Brasil participa hoje com apenas32% do mercado externo, contra os 60% da décadade 1960, no auge da regulamentação.

De um determinado ponto de vista, a regula-mentação pode ter, em alguns aspectos, fundamen-talmente no que tange à falta de agressividadenecessária aos exportadores brasileiros para acompetição internacional e a pequena inversão emagregação de valor, pesado para a redução dacompetitividade do café brasileiro. Mas, por outrolado, é necessário perceber que, com o chamado

processo de globalização, cresceu o poder demercado das grandes corporações transnacionaisdo setor de alimentos, que controlam os fluxosagroindustriais globais, visando a produção dealimentos com maior valor agregado, para merca-dos mais sofisticados e não para o mercado demassa, que é o mercado tradicional do café.

O café foi instituído no mercado mundial coma revolução industrial. O objetivo era a difusão deuma bebida com elevado poder energético, propi-ciado pela cafeína, presente no café, capaz desustentar a massa trabalhadora na dureza dotrabalho urbano industrial, com suas longas jorna-das de trabalho em condições insalubres. Portanto,o café se torna bebida de massa, um produto quepassa a estar presente em todos os lares, princi-palmente nos da classe trabalhadora. Porém, apartir da década de 1970, com a redução do ritmode crescimento da economia mundial, passa aocorrer o crescimento de produtos com maiorvalor agregado, relativamente ao crescimento demercado de produtos de massa, resultado doencolhimento do mercado mundial de bens salários.

As grandes corporações transnacionais tende-ram a elevar o seu poder competitivo em detrimentodos estados nacionais, da mesma forma quealavancaram a capacidade exportadora de paísesnos quais elas detinham maior poder de fogo, comoé o caso dos países asiáticos. Ao crescimento dopoder das grandes corporações, deve ser acrescen-tada a debilidade da política externa brasileira e dosdemais países exportadores de produtos primários,absolutamente vacilante em tentar reduzir as barrei-ras alfandegárias e extra-alfandegárias, impostaspelos países importadores e reexportadores, queprotegem suas empresas transnacionais.

A DESREGULAMENTA DESREGULAMENTA DESREGULAMENTA DESREGULAMENTA DESREGULAMENTAÇÃO DOS ANOS 90AÇÃO DOS ANOS 90AÇÃO DOS ANOS 90AÇÃO DOS ANOS 90AÇÃO DOS ANOS 90

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O comportamento pouco agressivo e condes-cendente da política externa brasileira provocou efeitonefasto aos nossos produtos agroindustriais noexterior. Todos os produtos (café, suco de laranja,açúcar, soja e, mais recentemente o aço) apresenta-ram baixa competitividade externa, pós-desregulamentação, inclusive aqueles em que oEstado sempre deteve um papel secundário nacoordenação, suco de laranja e soja, por exemplo.Portanto, hoje, consideramos simplista jogar naregulamentação do Estado o peso de nossa baixacompetitividade externa. É necessário colocar emprimeiro plano a mudança do quadro internacional, noqual se destaca o crescimento do papel das grandescorporações transnacionais e a política externa con-descendente dos países produtores de commodities,dependentes e ávidos por recursos externos.

Esta dependência por recursos externos tornouos países exportadores mais condescendentes àscontrapartidas impostas: a abertura de suas econo-mias; política externa complacente aos ditames dospaíses importadores de commodities e baixa exi-gência para a instalação no país de filiais das empre-sas transnacionais, desnacionalizando o setor produ-tor de alimentos para o mercado interno.

A desregulamentação e a inexistência depolíticas internas de sustentação geral do complexoacarretaram um processo interno de diferenciaçãoentre os produtores. As cafeiculturas empresariaiscom alta produtividade tendem a permanecer nocomplexo, porém tendem a eliminar as cafeiculturasfamiliares de pequena escala e regiões decadentes.Isto é, a desregulamentação está tendo comoresultado, de um lado, o aumento da concentraçãocom a tendência à expulsão do complexo dosagricultores familiares e, de outro, a transferênciapara os trabalhadores da necessidade de reduçãodos custos de produção, decorrendo daí o aumen-to da precarização do trabalho.

AGRICULAGRICULAGRICULAGRICULAGRICULTURA FTURA FTURA FTURA FTURA FAMILIAR (PRODUÇÃO DEAMILIAR (PRODUÇÃO DEAMILIAR (PRODUÇÃO DEAMILIAR (PRODUÇÃO DEAMILIAR (PRODUÇÃO DEPEQUENA ESCALA) E MÃO-DE-OBRAPEQUENA ESCALA) E MÃO-DE-OBRAPEQUENA ESCALA) E MÃO-DE-OBRAPEQUENA ESCALA) E MÃO-DE-OBRAPEQUENA ESCALA) E MÃO-DE-OBRA

No café, há o predomínio da agricultura debase familiar com produção de pequena escala, comutilização predominante de força de trabalho familiare o contrato de trabalhadores assalariados noperíodo da safra. Ocorre também em regiões deelevada concentração de agricultores familiares aorganização de mutirões para a colheita. Segundo

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A inserção destas duas tabelas se deve ànecessidade de demonstrar que os dados sobre onúmero de pessoas empregadas e beneficiadas,direta e indiretamente, variam de acordo com afonte e com a forma de estimativa utilizada.Inexistem fontes precisas sobre a quantidade detrabalhadores empregados diretamente nos com-plexos agroindustriais que utilizam uma grandequantidade de assalariados em contratos de curtaduração, como o complexo do café. Como sãocontratos sem registro formal, há uma tendência

Vegro e outros(1992), a partir de dados básicosdos Censos Agropecuários de 1970, 1980, 1985,cerca de 54% da produção do café em coco (grãoseco) é obtida em estabelecimentos de até 100 ha.Já uma Comissão Especial da Assembléia Legislativade Minas Gerais afirma que 90% dos produtores decafé brasileiros têm propriedades com menos de100 ha e que 36% do total produz em áreas de até10 ha. Isto apesar de que a queda de preços dasexportações, após plano Real, tenha gerado umaprofunda reestruturação na participação dos agricul-tores familiares, na produção de pequena escala e nacomposição do volume anualmente produzido.

O café é uma das culturas de maior absorção demão-de-obra rural, porém, com a desregulamentaçãoe com a crise de preços, ocorre o aumento da con-centração, com a inexorável tendência à expulsão dosprodutores menos competitivos do complexo, o queintensificou o êxodo rural, com conseqüente esvazia-mento populacional nas áreas cafeicultoras. A Tabela7 sugere que a erradicação e/ou abandono de cercade 780.000 ha de cafezais implicou na eliminação decerca de 249.600 empregos. Isto significa a conjuga-ção de três fatores absolutamente nefastos do pontode vista social: redução do número de empregos,exclusão social e êxodo rural.

dos produtores de informar contingentes menoresdo que realmente empregados, ou de não declarar.Além disto, um mesmo trabalhador executa ativida-de remunerada em mais de uma cadeiaagroindustrial, propiciando dupla contagem. É poristo que se apresenta abaixo a estimativa daFundação SEADE de São Paulo, baseada emequivalentes homem-ano empregados pela cultura.

De acordo com o acompanhamento feito pelaFundação SEADE, a cultura do café permanececomo a segunda maior empregadora na agricultura

TABELA 8 - BRASIL: EMPREGO E PESSOAS BENEFICIADAS DIRETA E INDIRETAMENTE NA CADEIA DO CAFÉ NOSPRINCIPAIS ESTADOS PRODUTORES

Estados Área em produção N.ºCafeeiros Pessoas Pessoas Pessoas(ha) (1.000 covas) empregadas/dia beneficiadas beneficiadas

(média) diretamente indiretamente(média) (média)

Minas Gerais 1.062.000 2.295.300 307.980 1.231.920 3.695.760Espírito Santo 538.960 1.130.920 156.298 625.192 1.875.576São Paulo 228.520 418.120 66.271 265.084 795.252Paraná 120.000 284.000 34.800 139.200 417.600Bahia 101.440 276.378 29.417 117.668 353.004Rondônia 208.000 302.500 60.320 241.280 723.840Outros 87.860 177.860 25.480 101.920 305.760Total 2.346.780 4.885.078 680.566 2.722.264 8.166.792

FONTE: CECAFÉ / DECEX/MDIC 2003

TABELA 7 - BRASIL: EMPREGO GERADO PELA CAFEICULTURA

Ano Área Empregos Gerados Pessoas BeneficiadasDiretamente Indiretamente

1988 2.720.000 870.400 3.481.600 10.444.8001992 1.940.000 620.800 2.483.200 7.449.600Diferença 780.000 249.600 998.400 2.995.200Fonte: Campanha (1992)Elaboração: Observatório Social

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Além da redução do número de empregosgerados pela erradicação de cafezais e a expulsãodos pequenos produtores descapitalizados docomplexo, entre a porção mais moderna que tende apermanecer no complexo, a tendência em curso é ade mecanização da colheita e das demais fases demaior emprego de mão-de-obra. A mecanização, nocaso do café, ocorre pressionada pela necessidadede redução dos custos de produção. De acordo comestimativas das cooperativas, a colheita de caféefetuada por mão-de-obra braçal representa de 40%a 60% do custo de produção de uma saca de café,dependendo da região produtora, e como a evoluçãodos custos de produção, e em particular os da mão-de-obra na colheita, tem sido uma das grandespreocupações dos produtores, a tendência à mecani-zação parece ser inexorável.

Nas áreas novas de produção - CerradoMineiro e Baiano - a tendência à mecanização vemsendo largamente utilizada, visando reduzir custos damão-de-obra, o que tem levado à intensificação dosinvestimentos na aquisição de colhedeiras. Estatendência parece mais acentuada nestas duas regiõespor três motivos fundamentais: primeiro, para estasregiões migraram produtores mais capitalizados, quelevaram de outras regiões o que havia na ponta doconhecimento, em termos técnicos de produção(maquinaria, insumos, mudas, variedades e práticasgerenciais); segundo, nestas regiões, principalmentenos Cerrados Mineiro e Baiano, não há asuperpopulação relativa existente em outras regiões,o que reduz o custo com mão-de-obra11 , e terceiro,o relevo dessas regiões facilita a mecanização.

Estimativas de produtores admitem que, com a

brasileira. Embora o levantamento desta Fundaçãoseja feito com base no Equivalente Homem-Ano10 enão em número de trabalhadores, ele é capaz demostrar com maior grau de precisão a demanda deforça de trabalho, na medida em que na agricultura

colheita mecânica, os custos da saca se reduzem emquase 30%12 . As máquinas, como a Jacto, produzi-da em Pompéia (SP), substitui 150 homens/dia, já aBrastoff, produzida em Piracicaba (SP) substitui até500 homens/dia (FARINA, 1998). O grandeproblema da introdução desses equipamentos são osseus preços, que chegam a R$ 170 mil. Estimativasdo setor, de 1992, indicavam que a mecanização jáera responsável pela colheita de um pouco mais de4% da área nacional de café.

Para as zonas menos adaptadas à mecanização,em virtude de declividade mais acentuada, como é ocaso do Sul de Minas, há diversas iniciativas visandoreduzir os gastos com a colheita. Observa-se umaintensificação em investimentos na adaptação deequipamentos para terrenos ondulados e plantaçõesadensadas. Entre eles, pode-se citar: 1) o convênioEmbrapa com a Cooxupé, que desenvolveu um tipode colhedeira, ainda em fase de ajustes, que éoperada por uma pessoa e substitui o trabalho deseis a oito trabalhadores (produzida pela Jacto); 2)colhedeira Jacto que se adapta ao trator, com custoestimado em R$ 90 mil; 3) adaptação dederriçadeiras pneumáticas manuais da Itália, utiliza-das na colheita de azeitonas (Pinhalense); 4) estudoscom colhedeiras adaptadas de colheita de uva noChile (Korvan); e 5) teste com modelos compactosde colhedeiras da New Holland.

A partir dessa apresentação mais geral docomplexo do café, seguem-se os estudos de caso,resultados de pesquisa de campo realizada nas duasprincipais regiões produtoras de café arábica erobusta, respectivamente, Sul de Minas Gerais eNoroeste espírito-santense.

moderna predomina a contratação de curta duraçãode trabalhadores assalariados, que significa quedurante um mesmo ano agrícola, um mesmo trabalha-dor pode, e freqüentemente o faz, prestar serviço emmais de uma cultura, o que possibilita dupla contagem.

TABELA 9 - REQUERIMENTO EM EQUIVALENTE-HOMEM/ANO DAS PRINCIPAIS CULTURAS DO BRASIL - 2000-2001

Cultura EHA 2000 EHA 2001 Variação % Área (1000 ha) Área(1000 ha) Variação%2000 2001

Café 771.636 770.171 -0,2 2.269,9 2.305,4 1,6Laranja 126.928 124.945 -1,6 850,9 818,8 -3,8Cana 582.507 594.858 2,1 5.815,2 5.863,0 0,8Grãos 2.471.859 2.269.329 -8,2 36.253,0 36.656,4 1,1Brasil 5.813.461 5.644.197 -2,9 49.972,2 50.473,9 1,0

Fonte: Fundação SEADEElaboração: Observatório Social

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Notas1 Existem muitas espécies e variedades de café. As espécies de importância econômica são o Coffea arabica e

o Coffea Cannephora (conhecida como Robusta). A primeira é a mais conhecida e cultivada principalmen-te na América do Sul e Central, Quênia e Tanzânia, na África, fornecendo cerca de 70% do produtocomercializado. A segunda é cultivada em maior escala na Costa do Marfim, Angola, Uganda, Índia e váriosoutros países da África, Ásia e Oceania. O Brasil produz dois cultivares de café: o arábica e o robusta, noBrasil conhecido como conillon. O primeiro é característico dos estados de Minas Gerais, São Paulo eParaná. O segundo é plantado, principalmente, no estado do Espírito Santo. Na produção do café solúvelutiliza-se o café robusta, uma vez que a taxa de extração de sólidos no processo de fabricação deste café ésuperior que a do arábica” (FARINA 1998).

2 Deu-se o nome de processo de desregulamentação da economia brasileira ao amplo programa de retiradagradual do Estado da atividade econômica, iniciado no governo Collor de Mello (1990/1992) e tendoprosseguimento nos dois governos de Cardoso (1995/2002). A principal medida que afetou o complexoagroindustrial do café foi a extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC) em março de 1990, juntamente coma extinção do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), fazendo com que os preços e estoques de caféficassem a cargo dos produtores e exportadores sem intermediação do Estado, desta forma o complexoperdeu uma arena importante de mediação de conflitos entre produtores/exportadores.

3 Cafés Especiais “Diferenciam-se por características como qualidade superior da bebida, aspecto do grão,forma de colheita, tipo de preparo, história, origem do plantio, variedades raras e quantidades limitadas,entre outras. Podem também incluir parâmetros de diferenciação que se relacionam à sustentabilidadeeconômica, ambiental e social da produção, de modo a promover uma maior eqüidade entre os elos dacadeia produtiva. Mudanças no processo industrial (...)”. In: SAES, Maria Sylvia. “Diagnóstico sobre osistema agroindustrial de cafés especiais e qualidade superior do estado de Minas Gerais”. São Paulo: USP,s.d.

4 A cooperativa possui 9 mil cooperados em 103 municípios de Minas Gerais e no Vale do Rio Pardo, em SãoPaulo. In: https://www.cooxupe.com.br/empresa.htm; visitado em 07/05/2004.

5 Esta bianualidade do café se refere a sua característica de alternar grande safra em um ano e pequena safraem outro.

6 - Até a década de 1980 havia uma tendência clara de aumento do consumo do café no mercado interno, tantoem quantidades totais, quanto em quantidades per capita consumidas

7 Misturas de tipos de cafés que resultam em aromas, sabores e bebidas específicas. Por exemplo, é muitocomum blendar uma proporção média de 30% de café arábica com 70% de café robusta para produzir o cafésolúvel, porque o robusta apresenta um maior rendimento para esse processo e o arábica tem o sabor maisapreciado. Mas, também para satisfazer o gosto de determinados clientes, blenda-se tipos de café arábicaprocedentes de várias regiões produtoras, dado que cada um apresenta características específicas.

8 FARINA, E. e outros, 1998.9 Reexportação. Alguns países, com destaque para Alemanha, Holanda e Estados Unidos, têm adotado este

procedimento, que consiste na compra de café em grão dos países exportadores e a revenda no mercadoexterno de café torrado e moído.

10 Um EHA (Equivalente-Homem/Ano) representa a jornada de trabalho de um homem adulto, por 8 horastrabalhadas, durante 200 dias no ano (SEADE).

11 Na pesquisa de campo foi detectada a existência de um contingente de trabalhadores migrantes do café.Isto é, são trabalhadores que se aproveitam da defasagem da safra do café arábica e robusta e da defasa-gem de safra do café do Sul de Minas e dos Cerrado de Mineiro e Baiano e sai de região em região, fazendoas diferentes safras de café.

12 Informações dos produtores, em 1998, indicam que na região do Triângulo Mineiro, a colheita com amáquina se situa em R$ 80,00, e manualmente fica por volta de R$ 110,00.

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CARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ECARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ECARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ECARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ECARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ESÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃO SUL DESÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃO SUL DESÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃO SUL DESÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃO SUL DESÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃO SUL DEMINAS GERAISMINAS GERAISMINAS GERAISMINAS GERAISMINAS GERAIS

O estado de Minas Gerais é composto de853 municípios, distribuídos entre 12 mesorregiões.Segundo informações do Censo Demográfico 2000do IBGE, a população total do estado de MinasGerais nesse ano era de 17.891.494 habitantes,correspondendo a mais de 10% do total da popu-lação do Brasil. Com um Produto Interno Bruto naordem de R$ 106.169 milhões a preços de merca-do, Minas Gerais ocupa o 3º lugar dentre os 27estados brasileiros. Essa mesma performance nãose repete para o PIB per capita, onde ocupa o 10ºlugar no ranking nacional. O IPEA considera que oÍndice de Desenvolvimento Humano (Atlas doDesenvolvimento Humano no Brasil, IPEA 2000)de Minas o coloca num nível médio e sua coloca-ção entre os estados ficou em 9º lugar, com umíndice de 0,773.

O estado de Minas Gerais, com a sua princi-pal economia na capital, Belo Horizonte, respon-dendo por quase 20% do produto estadual, tem naprodução agropecuária uma grande fonte geradorade divisas e, principalmente, de emprego. Segundoinformações do IBGE – Contas Regionais 2000 - ovalor da produção agropecuária foi da ordem deR$ 14.714 milhões, no ano de 2000,correspondendo a 13,6% do total do Estado. Casodesconsidere-se a Região Metropolitana de BeloHorizonte, o peso desse setor será ainda maisexpressivo no Produto do Estado.

Minas Gerais é um grande produtor em váriossegmentos agrícolas, como a agropecuária, a cana-de-açúcar, o milho, a soja, a laranja e o café,dentre outros. O segmento em estudo – café –apesar de não se caracterizar como o principalsegmento agrícola, em termos econômicos, é umdos maiores empregadores, assim como o segundomaior exportador - café em grão - perdendoapenas para os minérios1 .

A cultura do café, o beneficiamento e acomercialização, ocorrem em vários municípiosespalhados nas diversas regiões do estado – Sul/Sudoeste, Triângulo/Alto Paranaíba, Zona da Mata,Centro Oeste, e, com menor importância, emoutras. Todos os estudos sobre a produção de caféapontam a mesorregião do Sul de Minas como a

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Os trabalhadores do café sãopressionados a aceitar qualquer

tipo de trabalho, nas piorescondições e com ganho muito

baixo

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maior produtora do Estado. Segundo informaçõesda Federação da Agricultura e Pecuária do Estadode Minas Gerais (FAEMG), esta região respondepor 47,2% da produção total de café no Estado.Se a importância do café, em termos estaduais, jáé bastante significativa – sendo responsável por 3,7milhões de pessoas direta e indiretamente benefici-adas2 - para a região Sul de Minas ela se caracte-riza como vital. Pois nesta região predomina acultura do café, bem como todas as demais ativida-des de sua cadeia produtiva.

Dentre as microrregiões que compõem amesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais, aprincipal produtora, tanto em número de produto-

res quanto em quantidade produzida, é amicrorregião de Varginha, composta por 16 municí-pios, segundo classificação do IBGE.

Nessa microrregião a cultura do café se carac-teriza como a principal atividade econômica, junta-mente com todas as demais atividades desenvolvidasna cadeia produtiva do café – beneficiamento,industrialização, comercialização em grãos verdes,interna e externa. Existe a separação territorialdessas atividades, por exemplo, as atividades deindustrialização, armazenamento/comercializaçãointerna, exportação estão concentradas na sede domunicípio de Varginha, que agrega o porto seco e oaeroporto da região. Já o cultivo e a comercialização

de varejo se desenvolvem na zona rural de todos osmunicípios da região.

Do ponto de vista da distribuição da riqueza,gerada na cadeia produtiva do café, todavia,estudos apontam3 que apenas 8% do total de valoragregado na cadeia fica no Brasil e, a partir deindicadores e dados contidos nas estatísticasoficiais internas, pode-se inferir que a distribuiçãodesse percentual que fica no Brasil também ocorrede forma bastante desigual, sobrando muito poucopara o agricultor familiar e o assalariado rural.

Na Tabela 10 estão apresentadas informaçõesde caráter populacional, sócio e econômico (para oano de 2000), além do número de informantes naprodução de café (para o período 1995/96), paratodos os municípios da microrregião de Varginha,permitindo uma comparabilidade dessas informa-ções, inclusive, permitindo-se fazer um parâmetro

entre os principais municípios produtores de caféda microrregião e o município no qual se concen-tram as demais atividades da cadeia produtiva -Varginha.

A população rural da microrregião deVarginha corresponde a 18% da população total daregião. Em alguns municípios a concentração rural ébem maior – como Guapé, Coqueiral, CamposGerais e São Thomé das Letras. Nestes municípiostipicamente rurais4 , tanto a renda per capita quantoa remuneração média dos chefes de famílias sãorelativamente menores do que nos municípios maisurbanizados. Essa diferença se torna mais significa-tiva quando a comparação é feita especificamentecom a sede do município de Varginha. Tais dadosconfirmam um fato já conhecido de que dentre asatividades da cadeia produtiva do café a quemenos agrega valor é a atividade rural.

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TABELA 10 – INFORMAÇÕES SOBRE POPULAÇÃO, ASPECTOS SÓCIO–ECONÔMICOS E INFORMANTES PRODUTORESDE CAFÉ DOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM A MICRORREGIÃO DE VARGINHA/MG

Informações População IDHM Renda (%) Rem. **ProdutoresTotal Rural % Pop Per Taxa de Nom. Média de Café

Rural Capita Alfabetização (R$)* (N.º)microrregião de Varginha 406.850 72.338 18 0,761 240,22 87,8 692,23 8.465Boa Esperança 37.074 6.682 18 0,783 278,86 89,4 614,85 786Campanha 14.098 2.363 17 0,784 278,72 89,0 585,13 256Campo do Meio 11.436 1.397 2 0,749 199,19 87,1 487,31 247Campos Gerais 26.541 8.802 33 0,750 208,97 86,9 491,55 1.581Carmo da Cachoeira 11.600 4.073 35 0,744 199,86 85,6 454,12 320Coqueiral 9.612 3.494 36 0,751 197,57 89,1 458,77 461Elói Mendes 21.947 4.892 22 0,768 271,99 86,9 572,62 1.063Guapé 13.620 7.333 54 0,752 190,88 89,4 442,42 865Ilicínea 10.532 2.895 27 0,758 229,24 86,4 509,10 835Monsenhor Paulo 7.615 2.247 30 0,764 243,37 87,3 520,34 235Santana da Vargem 7.521 2.824 38 0,749 249,37 87,2 537,95 326São Bento Abade 3.737 285 8 0,712 164,92 84,8 359,55 20São Thomé das Letras 6.204 2.992 48 0,717 191,54 82,4 403,02 195Três Corações 65.291 6.872 11 0,780 281,02 90,8 782,18 334Três Pontas 51.024 10.354 20 0,773 275,71 89,2 687,84 695Varginha 108.998 4.833 4 0,824 382,27 93,5 935,91 247* Valor do rendimento nominal médio mensal das pessoas com rendimento, responsáveis pelos domicílios particularespermanentes (R$)** Período 1995/96Fontes: IDH e Renda Per Capita: Relatório PNUD – FJP/IPEA/PNUD; Número de Produtores: IBGE – CensoAgropecuário 1995/96; Demais dados apresentados na Tabela 1: IBGE – Censo Populacional 2000.Elaboração: Observatório Social

CAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS ECAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS ECAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS ECAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS ECAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS EPRODUTIVOSPRODUTIVOSPRODUTIVOSPRODUTIVOSPRODUTIVOS

Na região pesquisada, o café produzido é dotipo arábica, café de altitude, que se desenvolvebem nas regiões montanhosas, e é exatamente poresta especificidade que a cultura expandiu-se noSul de Minas. O café arábica é a variedade maisconsumida no mundo devido a suas qualidadesorganolépticas superiores às do café robusta,produzido em regiões de clima mais quente e demais baixa altitude. Devido a estas qualidades acotação do café arábica é, em geral, 100% superi-or à do Robusta nas bolsas internacionais.

O café arábica, produzido na região, é desti-nado à exportação em grão, à torrefação e moa-gem, e para compor blends, tão necessários para aprodução de café solúvel5 , como para a produçãode café não solúvel, neste caso para realçar carac-terísticas de aroma, sabor e corpo da bebida.

O café do tipo Arábica apresenta diversasclassificações relativas a sua qualidade que, por suavez, está relacionada às variedades plantadas,

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condições de plantio (tipo de solo, altitude,microclima) e de colheita e pós-colheita (grãosmaduros, grãos inteiros, grau de umidade – formade secagem, número de defeitos, medidos pelaproporção de grãos quebrados, estragados, mofa-dos, definidos por lote, entre outras característi-cas). Com base nesses aspectos, o café recebedeterminada pontuação que, pelo que pôde serapreendido nas entrevistas, vai de 1 a 18, sendoque quanto menor o número, pior a classificação;também recebe uma classificação por número dedefeitos, nesse caso, quanto maior número dedefeitos, pior a qualidade do café.

Na região Sul de Minas, segundo informaçõesdos entrevistados, o café nunca é vendido no pé, anegociação ocorre apenas após a colheita. Porémhá casos em que o corretor, representando poten-ciais compradores, enumera as característicasrequeridas para uma futura compra a preçosdiferenciados, o que determinará os tratos culturaisque o cafezal deverá receber para que os grãos aliproduzidos tenham as características desejadas.Isto determinará o tratamento do solo, o uso dedefensivos e de que tipo, a forma de colheita e desecagem, visando a produção de um café especial.Os cafés diferenciam-se, como já dito, por carac-terísticas que determinam qualidade superior dabebida, tais como:

● aspecto do grão;● forma de colheita;● tipo de preparo;● história da variedade e do grupo social que o

produz;● origem do plantio;● variedades raras e quantidades limitadas;● altura média da região de produção;● características de clima (temperatura,

pluviometria da safra); e● época de florescimento e colheita.

Além destas características, alguns mercadoscomeçam a exigir parâmetros de sustentabilidade,que incluem a viabilidade econômica da produção,a proteção, preservação e melhoria ambiental e amelhoria das condições de vida e trabalho dosprodutores e trabalhadores rurais.

Um café com todas essas características ecom rastreabilidade e certificação, deixa de sercommodity e pode alcançar preços de mercadosuperiores. Durante a pesquisa de campo verificou-se que alguns desses cafés especiais chegam aatingir preços quatro vezes superiores ao alcançadopelo arábica normal.

Apesar de essa região contar com muitasindústrias de torrefação e moagem, a maior partedo café aí produzido ainda é vendida em coco(grão seco), isto é, in natura, ou beneficiado(descascado), para ser industrializado, em geral,fora do país. A Tabela 11 apresenta algumasinformações sobre a produção primária de café namicrorregião de Varginha, que servem apenascomo parâmetro indicativo, dada a defasagemdesses dados (1995/96).

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TABELA 11 - COLHEITA E VALOR DA PRODUÇÃO DE CAFÉ EM COCO, SEGUNDO AS MICRORREGIÕES EMUNICÍPIOS DO SUL DE MINAS GERAIS (1995/1996) - EFETIVOS EM 31-07-96 (MIL PÉS)

Messoregiões, Quantidade Valor Pés Área Pés Pés NovosMicrorregiões Colhida (t) Vendida (t) da Produção colhidos Colhida em Idade Total Plantadose Municípios (mil reais) (mil pés) (ha) Produtiva no PeríodoTotal Geral 1 506 692 340 564 1 351 216 1 199 026 790 030 1 286 757 527 003 262 027Sul/Sudoeste de Minas 648 175 97 957 587 592 472 360 312 227 503 012 207 104 102 009Varginha 205 143 2 414 177 717 158 638 91 017 167 481 51 903 29 306Três Pontas 31 624 280 29 849 26 359 14 711 27 491 7 981 3 745Campos Gerais 31 877 76 30 100 22 512 12 791 23 102 6 840 3 291Boa Esperança 28 593 12 23 929 20 322 12 509 22 340 6 753 3 437Elói Mendes 11 633 32 11 602 11 896 7 549 12 850 2 105 1 607Varginha 13 892 393 10 069 9 676 6 110 10 333 3 159 1 269Santana da Vargem 13 233 - 10 652 9 382 5 413 9 664 2 293 1 618Carmo da Cachoeira 13 342 4 12 462 10 373 5 361 11 141 3 514 2 000Ilicínea 8 764 28 8 117 10 091 4 901 10 635 3 921 2 631Guapé 12 199 57 8 820 9 831 4 796 10 457 6 188 3 381Coqueiral 7 742 0 7 908 7 348 4 399 7 435 2 874 2 328Três Corações 9 780 80 10 619 6 515 4 075 7 155 2 714 1 844Campo do Meio 13 930 12 7 002 7 433 3 234 7 509 1 004 712Monsenhor Paulo 4 646 1 219 2 692 3 071 2 394 3 044 1 032 716Campanha 2 767 208 2 984 2 513 1 851 2 826 1 255 591São Thomé das Letras 730 - 566 975 753 1 053 164 60São Bento Abade 391 13 346 341 169 444 106 77Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995/96Elaboração: Observatório Social

ESTRUTURA DE PRODUÇÃO DO CAFÉESTRUTURA DE PRODUÇÃO DO CAFÉESTRUTURA DE PRODUÇÃO DO CAFÉESTRUTURA DE PRODUÇÃO DO CAFÉESTRUTURA DE PRODUÇÃO DO CAFÉARÁBICA NO SUL DE MINASARÁBICA NO SUL DE MINASARÁBICA NO SUL DE MINASARÁBICA NO SUL DE MINASARÁBICA NO SUL DE MINAS

A cadeia produtiva do café arábica no Sul deMinas é composta por diferentes atores sociais,que desempenham papéis diferenciados e imbrica-dos ao longo da cadeia.

No primeiro elo da cadeia encontram-se osprodutores de insumos para agricultura. Emboranão existam, na região, indústrias produtoras deinsumos para agricultura, há um grande número derepresentantes destas indústrias, para o prontoatendimento aos produtores. No entanto, verifica-se que não há uma participação muito intensa deórgãos de extensão rural para dar suporte técnicoàs necessidades dos produtores. O serviço deextensão é prestado pelas cooperativas atuantes naregião e estas cooperativas, além de prestaremassistência técnica, são também distribuidoras deinsumos para agricultura, abrangendo uma linhabem diversificada de produtos, que compreende demáquinas agrícolas a adubos e defensivos agrícolas.

Após este elo da cadeia de apoio à atividadeagrícola, há o elo mais importante composto por

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produtores rurais de café. Segundo informaçõeslocais, não há mais no Sul de Minas grandes pro-dutores de café, em grandes propriedades, istoporque, após gerações de plantio do produto, aspropriedades fundiárias passaram por um processode desmembramento, resultado do processonatural de partilha de terra entre os herdeiros, e nãohouve, como em outras regiões, um processo dereconcentração fundiária, como pode ser visto nosdados do IBGE.

A grande diferença entre os produtores sedá entre os produtores familiares, que utilizamfundamentalmente mão-de-obra familiar em todasas fases do ciclo de produção do café, e produto-

res não familiares, que utilizam mão-de-obraassalariada, ou outras relações de trabalho6 , paraas diferentes atividades do ciclo produtivo do caféArábica. Isto não quer dizer que o produtorfamiliar não utilize trabalhadores assalariados,quer dizer apenas que na categoria produtorfamiliar predomina a utilização de mão-de-obrafamiliar em todas as atividades do ciclo produtivodo café. Porém, eventualmente, dependendo damagnitude da produção, a velocidade em que acolheita deva ser realizada, na falta ocasional detrabalhadores familiares, é comum o emprego detrabalhadores assalariados, ou a troca de dias deserviço, ou o mutirão.

TABELA 12 - ESTABELECIMENTOS POR GRUPO DE ÁREA TOTAL (%) – MINAS GERAIS

Mesorregião, Menos de 10 a 100 a 200 a 500 a 2000 ha s e mMicrorregiões 10ha menos de menos de menos de menos de e mais declaraçãoe Municípios (%) 100ha (%) 200ha (%) 500ha (%) 2000ha (%) (%) (%)Estado de Minas Gerais 34,15 49,59 8,06 5,59 2,21 0,31 0,08Mesorregião Sul/Sudoestede Minas Gerais 43,30 48,01 5,41 2,68 0,53 0,03 0,05Microrregião de Varginha 37,63 49,51 7,85 4,18 0,81 0,01 0,01

Campos Gerais 48,73 44,08 5,28 1,71 0,21 0,00 0,00Elói Mendes 47,07 45,23 5,13 2,42 0,15 0,00 0,00Guapé 33,43 54,63 6,85 3,98 1,11 0,00 0,00Boa Esperança 36,85 46,56 9,60 5,85 1,15 0,00 0,00Três Pontas 28,07 52,55 11,55 6,71 1,12 0,00 0,00Ilicínea 51,52 42,17 3,25 2,74 0,30 0,00 0,00Três Corações 15,35 59,31 13,41 9,84 2,09 0,00 0,00Campanha 26,29 62,32 7,90 2,57 0,92 0,00 0,00Coqueiral 38,10 52,95 6,44 1,97 0,54 0,00 0,00São Thomé das Letras 25,00 60,57 9,02 4,64 0,77 0,00 0,00Carmo da Cachoeira 11,81 56,14 20,72 9,88 1,45 0,00 0,00Monsenhor Paulo 26,92 58,97 8,33 4,49 1,28 0,00 0,00Varginha 25,31 51,54 13,58 7,10 2,16 0,00 0,31Campo do Meio 51,92 39,84 4,12 2,75 1,10 0,27 0,00Santana da Vargem 50,43 37,18 7,20 4,61 0,58 0,00 0,00São Bento Abade 24,19 51,61 14,52 8,06 1,61 0,00 0,00

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995-1996Elaboração Observatório Social

Dentre os produtores não familiares, com áreamenor do que 100 hectares, que é o módulo demaior concentração de produtores, a diferençaentre eles se dá pelo capital investido na cultura,que dá uma idéia do grau de modernização daprodução de café. Nesta medida, há produtoresque fazem na própria fazenda todo o processo debeneficiamento do café, com diferentes cuidadosculturais, até produtores em que o processo de

beneficiamento do café se dá fora da propriedadeatravés da compra de serviço de beneficiamento.

Pelo que foi percebido nas entrevistas, osprodutores mais capitalizados dispõem de máquinas eequipamentos para beneficiamento na propriedade. Jáo agricultor familiar, e mesmo uma parte dos produto-res de médio porte, não dispõem desses recursos,tendo que alugar máquinas, ou mesmo vender o seuproduto sem beneficiamento, diminuindo o valor

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agregado. Um pequeno produtor, entrevistado emGuapé, chega a pagar ao maquinista R$ 5,00 porsaca de 60Kg, para beneficiar o café (secar edescascar), o preço varia de acordo com o volumeproduzido – quanto maior for o volume, menor opreço por saca. No período da entrevista, agostode 2003, este produtor disse que pagou R$ 4,00por saca, porque a safra nesse ano foi ruim e omaquinista estava com pouca demanda de serviço.Segundo esse produtor, a prefeitura subsidiava umaparte das despesas com o beneficiamento, mas,nos últimos dois anos, isso não ocorreu. Embora oprodutor fosse participante da cooperativa local,esta não disponibilizava o serviço aos seus coope-rados, por falta de equipamento.

COLHEITCOLHEITCOLHEITCOLHEITCOLHEITA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉNeste ponto, é necessário fazer uma rápida

descrição do processo de colheita do café e suasvariantes, responsáveis pela maior ou menor valori-zação do produto. Os cuidados tomados nessaatividade e no pós-colheita determinam a classifica-ções que o café pode obter e influenciando nopreço alcançado.

A colheita do café arábica pode ser rasa ouselecionada. Na colheita rasa, o trabalhador debu-lha com a mão (usando os dedos indicador epolegar fechados) galho por galho do cafeeiro.Neste processo de trabalho, todo café é retiradodo galho, independentemente de sua cor (verde,vermelho e preto), junto com folhas, pedaços degalhos secos etc. É por isto que o café tem de ser

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peneirado antes de ser ensacado, para retirar asimpurezas. A colheita rasa pode se dar dos galhospara a peneira e desta para o saco, ou pode serfeita dos galhos para o chão. Neste caso, o solo érastelado, o material recolhido é peneirado e osfrutos livres de impurezas são finalmenteensacados.

Já na colheita selecionada, o trabalhadorcolhe fruto a fruto, retirando apenas os frutosvermelhos. Nesta forma de colher são necessáriasvárias colheitas no mesmo pé, realizadas diariamen-te, para que se colham apenas os frutos vermelhos.

A determinação da forma como se dará acolheita depende de uma série de fatores, determi-nados pelos proprietários, e deverá ser supervisio-nada pelo fiscal7 , que controla o trabalho realizadopelos colhedores.

Na colheita do café o ritmo que a atividade érealizada depende de características pessoais dotrabalhador, como: destreza; velocidade em realizaras diferentes atividades e resistência física. O fiscalsupervisiona a atividade do colhedor, para nãopermitir que ele colha de qualquer jeito, o que podedanificar os pés, e para que ele não misture impure-zas no saco. Porém, quanto maiores os cuidadosna colheita, determinados pelo fiscal, maior é otrabalho do colhedor e menor será a quantidade decafé colhida no dia de trabalho.

Devido a estas características, os colhedoressão pagos por produção: quantidade de cafécolhido, medida em saco. O pagamento por produ-ção é a forma encontrada pelos proprietários paraaumentar a produtividade. O problema é que esta

“”

O Sindicato dos TrabalhadoresAssalariados Rurais de Guapé

denunciou a existência detrabalho escravo na lavoura do

café

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forma de pagamento é perversa, pois transfereaos trabalhadores o controle da produtividadeatrelando-a ao ganho. Nestes casos, quantomais baixos os salários, maior o incentivo aoaumento da produtividade. A conseqüêncianefasta é que esta forma de pagamento tende acontribuir para um desgaste precoce da força detrabalho e o surgimento de inúmeras doenças dotrabalho.

A colheita seletiva do café exige maioresforço e maior atenção, reduzindo a produtivi-dade e o ganho dos trabalhadores. Estes sótendem a aceitá-la caso a remuneração sejamaior do que na colheita convencional. Porém,como a cultura do café só exige trabalho duranteum curto período de tempo - junho a agosto -,combinado com a bianualidade do café, há umapressão sobre os trabalhadores para que acei-tem qualquer tipo de trabalho, nas piores condi-ções e com ganho muito baixo. Algumas pro-priedades, que adotam a colheita selecionada,visando alcançar maiores preços, têm feito baixoinvestimento porque o diferencial de pagamentotem sido muito inferior ao diferencial de preçoalcançado, transferindo, desta forma, um ganhomaior aos proprietários a custa da pauperizaçãoe esgotamento dos trabalhadores. Desta forma,pode-se afirmar que o aumento do valor agrega-do ao produto não implica, necessariamente, emmelhoria da distribuição de renda.

O salário dos trabalhadores depende, nãoapenas, da quantidade de café colhido, mas,fundamentalmente, do poder de barganha dostrabalhadores, e estes têm, por sua vez, umconjunto de outros determinantes, que vão dograu de organização e luta até à quantidade detrabalhadores disponíveis. Como na safra docafé, trabalhadores são atraídos de diferentesregiões do país e a organização sindical dostrabalhadores rurais é débil, fica claro que opoder de barganha dos trabalhadores é bastantereduzido, o que permite a superexploração dostrabalhadores assalariados rurais, nas regiõesprodutoras de café.

PÓS COLHEITPÓS COLHEITPÓS COLHEITPÓS COLHEITPÓS COLHEITAAAAAApós a colheita, a primeira atividade a ser

realizada é a secagem dos frutos, para a posteri-or retirada da semente, que é o café propria-

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mente dito. A secagem pode ser de dois tipos:manual ou mecânica; caso seja manual, ela poderáocorrer de duas formas: em terreiro, a mais co-mum, e em varais.

A secagem de terreiro é a mais tradicional, emque o café, depois de colhido e ensacado nocampo, é estendido no terreiro e exposto ao solpara secar. Nesta atividade entra em cena um outrotrabalhador, o terrereiro, que não participa dacolheita e desempenha uma atividade importantepara a valorização do café, porque os frutos mo-lhados ficam sujeitos a mofo e têm menor durabili-dade, o que abate a classificação. O terrereiro temque ter o cuidado de expor os frutos ao sol parasecar, sem que haja quebra dos grãos.

A secagem é feita em um terreiro cimentadoou em varais de arame. Embora a secagem emterreiros cimentados seja a mais difundida naregião, não é a que mais acrescenta valor ao café.Isso ocorre porque alguns frutos permanecemúmidos ao ficarem em contato com o solo e nãohaver uma exposição uniforme ao sol. Além disto,caso ocorra chuva, a umidade poderá acarretarelevadas perdas ao produtor. A vantagem dasecagem em varal de arames consiste na açãocombinada da luz solar e da passagem do ar, já queos varais ficam a cerca de ½ metro do solo

Há ainda a secagem mecânica, bastanteutilizada pelos agricultores familiares, que nãodispõem de terreiros. Este processo é criticadopelos técnicos porque a utilização de temperaturaselevadas nos secadores (p. ex. regulação incorretaou falha nos equipamentos) pode escurecer, quei-mar ou retirar umidade em excesso dos grãos,tornando-os mais suscetíveis de quebra na etapado beneficiamento. Há na região, inclusive, cami-nhões com secadores e descascadores, que fazemeste serviço nas propriedades. O pagamento poresta atividade mecânica pode ser em dinheiro ouem quilos de café, na medida em que em toda aregião cafeeira o café é “quase moeda”8 . NoMunicípio de Guapé, a prefeitura, até recentemen-te, subsidiava a secagem mecânica, através decaminhões, porém, com a falta de recursos dasprefeituras municipais, este serviço aos produtoresfoi cancelado.

Uma outra atividade do terrereiro é medir aprodução dos colhedores e indicar a quantidade desacas colhidas, para posterior pagamento. Istoporque os trabalhadores colhem o café e deposi-

tam-no em sacos. Porém, é necessário que ossacos estejam bem cheios e tenham a mesmaquantidade de frutos. É o terrereiro quem verificase aquele saco daquele colhedor está com a quanti-dade de frutos esperada, se não tem outros com-ponentes além do café (pedra, terra, folha, galhosetc.). Embora os trabalhadores contem a quantida-de de sacos colhidos, esta quantidade é sancionadapelo terrereiro, e o pagamento é feito pela quanti-dade de sacos indicada por estes, e não pelaquantidade indicada pelo trabalhador.

Depois da secagem, é realizado odescascamento, que é uma atividade mecânica,após a qual obtêm-se os grãos. As máquinasdescascadoras devem estar bem calibradas, por-que no processo de descascamento podem danifi-car os grãos. Esta operação é realizada por umoutro trabalhador, chamado maquinista, quando adescascadora existe na propriedade, porém,apenas os produtores mais capitalizados possuemesta máquina.

Para os produtores que não dispõem demáquinas, a venda do café já pode ocorrer naatividade de descascamento . Isto porque odescascamento é uma atividade industrial, realizadapor máquina, e os produtores que não dispõem demáquinas podem alugar o serviço, ou podembeneficiar os grãos nas cooperativas, nos armazénsde maquinistas, diretamente nos exportadores, ounas indústrias de torrefação. Ou seja, a atividadede descascamento dá início à longa cadeia deintermediação comercial do café, do produtor atéos mercados interno ou externo.

Há, portanto, na fase de colheita ebeneficiamento, cinco tipos de atividades, desem-penhadas, em geral por trabalhadores diferentes: osapanhadores de café; os feitores ou fiscais; oscarregadores; os terrereiros e os maquinistas.

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Estes trabalhadores são, em geral, assalariados,pagos por produção e são remunerados diferen-temente, cabendo a maior remuneração aosfiscais, maquinistas e terrereiros e as menores aosapanhadores e carregadores9 . Em algumaspropriedades são os próprios apanhadores quetransportam os sacos colhidos do talhão para oscarreadores. Porém, não foi observado naspropriedades visitadas, e nem foi apontado pelosinformantes, se os apanhadores que realizavamtambém o carregamento recebem por estaatividade. Algumas vezes, o motorista do cami-nhão leva junto com ele os carregadores e estessão pagos pelos motoristas, em outras, nasmaiores propriedades, é designado um conjuntode trabalhadores para fazer o carregamento,quando os talhões ficam distantes do local deembarque da carga.

A unidade de pagamento de todos estestrabalhadores é o saco de café de 60 quilos. O

valor da saca paga ao trabalhador varia de acordocom a qualidade do talhão de café: um talhão commuito café, com pés jovens e de alta produção,paga menos do que um talhão de pés mais velhos ecom baixa produção. Ao mesmo tempo, a colheitaseletiva de café, diferente da apanha rasa, pagamelhor.

Os trabalhadores, apanhadores de café,podem ser de diferentes origens: nas propriedades dos agricultores familiares, os

apanhadores podem ser membros da família,que trabalham sem remuneração; ser vizi-nhos, que trocam dias de trabalho; ou assala-riados, em geral, da própria comunidade. Maspodem ser também migrantes, contratadosatravés de gatos. Porém, só ocorre trabalhoassalariado quando a safra é grande e não hámembros da família disponível;

nas propriedades médias, predomina o uso detrabalhadores assalariados, contratados

“ Estes trabalhadores são, em geral,assalariados, pagos por produção e

são remunerados diferentemente

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o seu ganho aumente. É exatamente por isto que aatividade de fiscalização, em geral, é desempenha-da pelo gato, porque o seu pagamento depende daprodutividade da turma. (ALVES, 1991;MORAES, 2002)

Os trabalhadores pertencentes a uma determi-nada turma, de um determinado gato, apresentam-se diariamente nos pontos de embarque combina-do, no horário definido. Os trabalhadores dirigem-se aos pontos de embarque, portando a marmita, ocafé, a água e a peneira, seu instrumentos detrabalho . Os demais instrumentos de trabalho,rastelo e escada são disponibilizados pelos proprie-tários ou pelos gatos. Os equipamentos de prote-ção individual (luvas, botas, perneiras), assim comoas vestimentas próprias para o trabalho, são deresponsabilidade e pertencem a cada trabalha-dor10 . A jornada de trabalho inicia-se, portanto, às5h30min, quando os trabalhadores estão disponí-veis para o embarque, e termina às 19h, quando ostrabalhadores são devolvidos ao ponto. Isto signifi-ca que o trabalhador encontra-se disponível para otrabalho e já submetido ao gato durante 13 horas emeia, em média, por dia, porém, só é consideradocomo tempo de trabalho o que o trabalhador estáefetivamente trabalhando.

Esta jornada efetiva de trabalho inicia-se às7h e termina às 17h30min, havendo 40 minutospara o almoço, que em geral ocorre entre 8h30mine 9h, e 30 minutos para o café, em geral por voltadas 13h30min11 . A jornada de trabalho efetivo temduração de 9 horas, isto é, enquanto durar a luz dosol, e enquanto houver café para ser colhido. Éverdade que, não havendo mais café, o trabalhotermina antes do por do sol. Caso a colheita da-quela área não termine em um só dia, no seguinteos trabalhadores retornam ao trabalho naquelecafezal, até que toda a colheita seja realizada.

No Sul de Minas, a jornada de trabalho é de9 horas, não havendo o pagamento de horas inittineré, que a lei garante sempre que os trabalha-dores precisem ser transportados até seus locaisde trabalho. Esse transporte também deve serpago pelo patrão, tendo em vista que o trabalha-dor está à disposição do primeiro durante operíodo da viagem. Como é difícil determinar otempo de duração da viagem de caminhão, dacidade até a fazenda e o tempo de deslocamentoa pé, entre o local de desembarque do trabalha-dor e o cafezal onde será feita a colheita, este

através de gatos, ou diretamente pelo proprie-tário ou pelo administrador da fazenda, quepodem ser moradores da região, ou trabalha-dores de fora, normalmente do Norte doParaná, Norte de Minas e da Bahia;

nas grandes propriedades predomina o trabalhoassalariado em todas as fases do ciclo produ-tivo do café. Estas propriedades são bastantemecanizadas e dispõem de maquinário neces-sário para o beneficiamento do café. Portanto,são assalariados, desde os trabalhadoresrurais até os maquinistas, operadores dasmáquinas de beneficiamento, de um modogeral.Os feitores ou fiscais são, em geral, os traba-

lhadores permanentes das propriedades. É comumtambém que o gato, ou turmeiro, responsável peloagenciamento da turma de colhedores, executetambém a atividade de fiscalização. Esta figuraemblemática do trabalho assalariado rural, emgeral, execrada pelos trabalhadores e pelo movi-mento sindical, é encarregada de disponibilizartrabalhadores para a colheita e para outras ativida-des demandadoras de mão-de-obra do ciclo deprodução do café. Porém, é na atividade de colhei-ta que é maior o número de trabalhadores. Asformas utilizadas pelos gatos para persuadir ostrabalhadores para trabalhos duros, penosos e combaixa remuneração, variam do compadrio eassistencialismo à agressão física, passando pelatortura física e moral e pelo endividamento. Ogrande disponibilizador de trabalhadores, que sesujeitam às mais precárias condições de trabalho,é, sem dúvida, o processo de concentração derenda existente no Brasil.

Cada gato é responsável por uma ou maisturmas de trabalhadores, que variam de 10 a 60pessoas, que podem ser da região, ou mesmomigrantes. O gato contrata o trabalho com osproprietários, calcula a quantidade de trabalhado-res necessários para a atividade e acerta com oproprietário o pagamento e as condições que eledeseja para a realização da colheita. Em função danegociação entre os gatos e os proprietários, édeterminado o pagamento por saco colhido e ascondições em que os trabalhadores realizarão acolheita. O ganho do gato é uma percentagem dopagamento dos trabalhadores, também medida emsacos de café. Desta forma, interessa ao gato que aturma imprima um ritmo forte de atividade para que

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tempo não é considerado, no Sul de Minas,como tempo de trabalho e os trabalhadoresnada recebem por ele. Dependendo da distân-cia da fazenda e da distância do cafezal, algu-mas vezes, o tempo de deslocamento chega aaté quatro horas por dia.

A contratação de trabalhadores de fora dolocal e da região ocorre mais nos anos degrande produção de café12. Nos anos de grandesafra, vêm trabalhadores do Paraná, MinasGerais e Bahia, porém, nos anos de baixa safra,a mão-de-obra da colheita é fundamentalmentelocal ou regional.

Os apanhadores que trabalham em cafe-zais próximos aos centros urbanos são transpor-tados diariamente, por caminhões, dos pontosde embarque até os cafezais. As condições detransporte são absolutamente precárias. Algunscaminhões são adaptados para o transporte depassageiros, dispondo de bancos de madeira,presos às carrocerias, e de capotas de lona,madeira, ou plástico. Grande parte dos traba-lhadores ainda é transportada em caminhõescomuns, sem bancos, sem capota fixa e semseparação das ferramentas de trabalho, estandoestas condições de transporte em completodesacordo com a legislação em vigor.

Em algumas propriedades mais distantesdos centros urbanos, os trabalhadores ficamalojados na propriedade e deslocam-se a pépara os talhões de colheita. No período dacolheita, os trabalhadores ficam alojados emantigas casas de colono, existentes na propri-edade, em geral em instalações precárias, taiscomo galpões, quartos de armazenamento deinsumos agrícolas, inclusive agrotóxicos, seminstalações sanitárias. Nestes alojamentosadaptados, os trabalhadores são os responsá-veis por sua alimentação (queima-lata)13 , oupagam por ela quando é fornecida peloproprietário.

O Sindicato dos Trabalhadores Assalaria-dos Rurais de Guapé denunciou a existência detrabalho escravo em lavoura de café no Sul deMinas, num município próximo à Varginha. Nestapropriedade, os trabalhadores estavam alojadosem barracas de lona plástica, sem banheiro e semágua potável. A água era a retirada de umacacimba existente na propriedade.

ASSALARIADOS DO CAFÉ NO SUL DEASSALARIADOS DO CAFÉ NO SUL DEASSALARIADOS DO CAFÉ NO SUL DEASSALARIADOS DO CAFÉ NO SUL DEASSALARIADOS DO CAFÉ NO SUL DEMINAS – SALÁRIOS E CONDIÇÕES DEMINAS – SALÁRIOS E CONDIÇÕES DEMINAS – SALÁRIOS E CONDIÇÕES DEMINAS – SALÁRIOS E CONDIÇÕES DEMINAS – SALÁRIOS E CONDIÇÕES DETRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHO

Com base nas entrevistas realizadas comseis trabalhadores (sendo um fiscal e cincoapanhadores, que também realizam outras fun-ções, como capina, plantio etc.) em uma fazendaem Guapé (Sul de Minas), é possível ter umanoção das condições de vida dos trabalhadoresnessa região. Embora sejam, no mínimo precári-as, não são as piores possíveis de serem encon-tradas, segundo a afirmação da presidente doSTR da região.

Dos trabalhadores entrevistados, todospossuíam registro em carteira, todavia, com muitosdesvios. Isto é, alguns já estavam trabalhando háoito meses, mas só tiveram o registro em carteirano período da safra (isso ocorre pela probabilidadede o aparecimento de fiscais do trabalho nesseperíodo ser maior). Quatro dos seis trabalhadoresmoravam na fazenda e os outros dois não tinhamtransporte, deslocando-se a pé até o trabalho (maisou menos 4 km). Dos quatro que moravam nafazenda, três habitavam barraco, sem infra-estrutu-ra sanitária, inclusive sem banheiros. Todos elesafirmaram pagar sua alimentação: quatro pagavam-na integralmente e dois, a metade.

Formalmente a jornada de trabalho diáriainicia às 7h e termina às 16h30m, com uma horapara o almoço e 30 minutos para o café. Nosábado, o trabalho se estende até o meio dia. Mas,os entrevistados afirmaram (exceto o fiscal) quetrabalhavam de domingo a domingo, inclusive nosferiados, não recebendo remuneração extra poristo, apenas a produção.

Como ganham por produção, a remuneraçãovaria de trabalhador para trabalhador. Todavia,quando questionados sobre a remuneração médiamensal, os apanhadores disseram que recebementre R$ 300,00 e R$ 350,00 mensais; já o fiscalrecebe fixo dois e meio salários mínimos mais umacomissão de 1,5% sobre a produção dos trabalha-dores. A produção é medida por saca de 60quilos, que, à época, pagava R$ 4,00 por saca.

A não disponibilização e o uso de Equipa-mentos de Proteção Individual (EPI) é um dosfatores que afetam negativamente as condições de

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trabalho e, por conseguinte, de vida dos traba-lhadores do café. Todos os entrevistados foramcategóricos em afirmar que os EPI só sãodisponibilizados na aplicação de agrotóxicos,mesmo assim, um dos empregados que já haviaaplicado agrotóxicos naquela propriedade, disseque os equipamentos disponibilizados foramapenas botas e luvas, mas não recebeu máscara,nem avental ou macacão. Na colheita, apesar danecessidade do uso de luva, pois o processo éofensivo aos tecidos das mãos e antebraços, oproprietário proíbe o seu uso, sob a alegação deque prejudica o pé de café, pois retira maisfolhas da planta afetando o desenvolvimento dapróxima safra. Constatou-se que não hádisponibilização de EPI, e na maioria das vezeshá proibição de seu uso, em qualquer fase doprocesso produtivo para os trabalhadores, o queparece ser uma prática na região.

O quadro 1 faz um comparativo entre osdireitos acordados em Convenção Coletivaentre o Sindicato dos Empregados Rurais daRegião Sul de Minas e aqueles efetivamenteusufruídos pelos trabalhadores entrevistados,segundo seus relatos.

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DEMAIS ADEMAIS ADEMAIS ADEMAIS ADEMAIS ATORES E SEUS PTORES E SEUS PTORES E SEUS PTORES E SEUS PTORES E SEUS PAPÉIS NAAPÉIS NAAPÉIS NAAPÉIS NAAPÉIS NACADEIA PRODUTIVCADEIA PRODUTIVCADEIA PRODUTIVCADEIA PRODUTIVCADEIA PRODUTIVA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉ

Para melhor esclarecimento do papel dosdemais atores sociais presentes no ComplexoAgroindustrial do Café, será apresentado umfluxograma14.

Os produtores, mesmo estando dispostosnuma única categoria, apresentam algumas diferen-ças entre si. O que difere agricultores familiares,produtores médios e grandes, como dito anterior-mente, é a disponibilidade de capital, tanto próprio,quanto através de financiamentos, para investir emtecnologia e maquinário. Alguns dos entrevistados,entre eles, o representante do maior armazém daregião (Agaservice – Armazéns Gerais eBeneficiamento), acredita que 40% da produçãodo Sul de Minas ainda é feita por agricultoresfamiliares, com menos de 80 hectares, contudo,acha que estes estão perdendo espaço pela falta decapacidade de investir.

Fontes: Informações do STR do Sul de Minas e Pesquisade Campo Observatório Social, em 08/2003

QUADRO 1 – COMPARATIVO ENTRE DIREITOSESTABELECIDOS EM CC E AQUELES EFETIVAMENTEUSUFRUIDOS PELOS EMPREGADOS RURAIS DA REGIÃOSUL DE MINAS

Só disponibiliza aosaplicadores deagrotóxicos, ainda assimincompletos, pois nãodisponibiliza máscaras eroupas.

Obrigatoriedade dedisponibilização e uso deEPI

Não temPrevê local adequadopara higiene

Não temPrevê local adequadopara refeição

Nem todos os emprega-dos que são de fora rece-bem moradia, a maioriatem que dividir pequenosbarracos com mais cincoou seis pessoas

Prevê a disponibilizaçãode alojamento para ostrabalhadores de fora domunicípio

Não ocorre. Aqueles quemoram fora têm que vir apé para o trabalho

Prevê o fornecimento detransporte para aquelesque moram fora da fazenda

Está de AcordoPrevê intervalos de 1hpara almoço e 30 min.Para o café

Trabalham sempre mais,visto que trabalham emdomingos e feriados, semrecebimento de extra

Jornada de Trabalho Se-manal: 44 horas

Como recebem por produ-ção e trabalham aos do-mingos e feriados, a re-muneração líquida, emgeral, é menor do que osalário-base, que excluios domingos, como finalde semana remunerado,pago pelo empregador

Salário-base da catego-ria: R$ 264,00

Direitos efetivamente usu-fruídos pelos empregados

Direitos Estabelecidosem Convenção Coletiva

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QUADRO 2 - FLUXOGRAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ NO SUL DE MINAS

“”

No sul de Minas, estima-se que osagricultores familiares sejam

responsáveis por 40% da produçãodo café. Eles estão perdendo

espaço pela falta de capacidade deinvestir

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COOPERACOOPERACOOPERACOOPERACOOPERATIVTIVTIVTIVTIVASASASASASOs produtores, em sua maior parte participam

das cooperativas existentes na região. Para orepresentante da Cooxupé, em torno de 50% dosprodutores são cooperativados, e entre 40% a50% da produção da região é negociada atravésde cooperativas15 . Não existe obrigatoriedade doscooperados comercializarem sua produção atravésdas cooperativas.

Em geral, os cooperados entregam nas coo-perativas a sua produção para beneficiamento earmazenagem. Isto é decorrente de as compras dosinsumos para a lavoura terem sido feitas na coope-rativa. Embora a sua produção esteja armazenadana cooperativa, ele vende o produto de acordocom as suas necessidades de dinheiro e de acordocom o preço oferecido pelos diferentes comprado-res. Isto é, as cooperativas beneficiam e armaze-nam a produção de seus associados e estes ven-dem o café no momento que consideram oportuno.Todavia, todos estão liberados para a venda aqualquer intermediário, bastando para isto o paga-mento pelo beneficiamento e armazenagem àcooperativa. Alguns produtores vendem parte desua produção através da cooperativa, parte ven-dem a maquinistas/armazéns de exportação, outrosàs indústrias produtoras de café pronto para consu-

mo, tudo depende da necessidade de dinheiro e dopreço oferecido pelo produto. Estas vendas podemser ou não intermediadas pelos corretores.

As cooperativas, dependendo de suas linhas deatuação, participam dos seguintes canais de venda:

mercado externo, diretamente, através detrades company, ou através de armazéns deexportação, mas vende apenas café em grão;

mercado interno, quer através de marca própria,ou através de marcas de terceiros, vende o cafétorrado e moído, ou café apenas torrado; indústrias produtoras de café T&M, ousolúvel, ou apenas torrado.Algumas cooperativas, para aumentar a venda

de seus cooperados por ela própria, criam açõesestratégicas para manter o produtor fiel na entregado produto. A Cooxupé, por exemplo, tem umprograma de fidelização que garante prêmios aoprodutor proporcionais ao volume negociado nacooperativa – bônus para aquisição de adubos,defensivos, máquinas e equipamentos.

CORRETORESCORRETORESCORRETORESCORRETORESCORRETORESCom base nos depoimentos dados pelos

informantes, a figura chave do processo decomercialização do café no Sul de Minas Gerais é ado corretor. A maior parte do café comercializado

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INDÚSTRIASINDÚSTRIASINDÚSTRIASINDÚSTRIASINDÚSTRIASNas indústrias que atuam na região, são

produzidos diversos tipos de derivados do café– café solúvel, café torrado e moído, café apenastorrado, especial para máquinas de café expres-so. Nestes ainda estão incorporados os cafésespeciais – orgânicos, rastreados, bebida superi-or, dentre outros, e em cada linha de produtos,operam com diferentes marcas. Para cada umadestas marcas há diferentes blends e tipos decafé: forte, fraco, extra-forte, típicos regionaisetc. Isto é conseguido pela combinação dediferentes tipos de café arábica com diferentestipos de café robusta, o que dá uma grandepossibilidade de combinações, buscando comisto atingir nichos específicos de mercado. Énecessário agregar estes diferentes tipos de caféàs diferentes possibilidades de embalagens (empapel, a vácuo, em sacos etc.). Algumas dessasindústrias atuam apenas no mercado local ouregional, outras, em associações com supermer-cados e grandes redes varejistas atuam tambémno mercado nacional. Outras indústrias, daprópria região, atuam também no mercadoexterno, vendendo com suas marcas, já embala-dos, ou fabricando para outras empresas quecolocam suas marcas próprias.

na região é feita através dos corretores, que agemnas negociações entre: produtores/mercado; coope-rativas/mercado; maquinistas/armazéns/mercado.Esse agente atua como qualquer corretor, isto é,como um facilitador das negociações, aquele queaproxima ofertantes dos demandantes. O seu papelé a busca de negócio, encontrando para os produto-res o melhor preço, e para as indústrias e exporta-dores o produto desejado, na quantidade requerida.Pelos seus serviços, ele recebe um percentual de0,5% sobre o montante negociado.

Foi possível identificar, no entanto, que opapel representado pelo corretor não se resume aode um mero intermediário. Alguns deles dispõemde armazéns de beneficiamento e, portanto, ope-ram como maquinistas, comprando eles próprios aprodução e, operando seus estoques, buscandomelhores preços no mercado, passando a atuarcomo comerciantes de café e, neste caso, o seuganho deixa de ser apenas uma percentagem domontante comercializado, mas passa a ser o dife-rencial de preço pago ao produtor e recebido nomercado. Desta forma, existem diferentes correto-res: aqueles que atuam estritamente enquantocorretores, buscando pôr em contatodemandadores e ofertantes e aqueles que anexam àfunção de intermediação, atividades de maquinistas,armazenadores, financistas, e especuladores.

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Notas1 Balança Comercial de Minas Gerais. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.2 Relatório Final da Comissão Especial da Cafeicultura Mineira, da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Belo Horizonte, dezembro de 2003.3 Idem.4 Uma boa medida seria o número de informantes do café relativo ao tamanho da população rural, todavia,

por se tratar de dados coletados em anos diferentes (população rural medida em 2000 e informantes do cafémedidos em 1995/96) fica impossibilitada essa comparação.

5 Segundo informações de um técnico da empresa Café Solúvel Brasília, o café utilizado na produção desolúveis é do tipo Robusta, que para este fim apresenta uma produtividade superior ao Arábica, somenteusado na produção de solúveis quando o comprador assim o exige.

6 No Sul de Minas, não se encontrou um número expressivo de parceiros, como foi visto no Espírito Santo. Amaior parte dos trabalhadores é assalariada safrista, sem carteira assinada. Há também um número relativa-mente grande de trabalhadores permanentes e de membros não remunerados da família.

7 Fiscal ou Fiscal de turma, é a pessoa designada para a realização da tarefa de fiscalizar o trabalho dosapanhadores de café, no sentido de evitar danos aos pés, de evitar roubos, de assegurar que a colheita sejafeita da forma necessária. Em geral a atividade de fiscal também é desempenhada pelo gato, daí o termofiscal de turma, em propriedades onde os trabalhadores são contratados diretamente pelo proprietário, sema intermediação dos gatos esta atividade é desempenhada pelo capataz da propriedade ou pelo próprioproprietário.

8 Foi verificado, durante a pesquisa de campo, que o café funciona quase como moeda, todos os débitos ecréditos são convertidos em sacas de café no dia dos seus vencimentos, a partir da cotação do café naBMF. Toda a região fica ligada na cotação de café do dia. Esta cotação do café é utilizada na conversão dosdébitos e créditos em dinheiro e em café. A compra de um bem ou serviço qualquer tem um valor emdinheiro, este valor pode ser quitado em café, pela sua cotação no momento.

9 Os carregadores são os trabalhadores que transportam os sacos colhidos pelos apanhadores, dos talhõesaté os carreadores e embarcam no caminhão.

10 A vestimenta utilizada pelos colhedores é bastante parecida: roupas quentes, porque em geral pela manhã fazfrio, sobrepostas a outras roupas, e as peças vão sendo retiradas na medida em que o calor aumenta, atérestar a calça, a camisa de manga comprida, a botina e o chapéu. As mulheres usam também roupas sobrepos-tas, sem faltar a saia, que é colocada sobre a calça comprida, e os lenços para o pescoço, cabelos e chapéu.

11 Cabe lembrar que os trabalhadores iniciam seu dia ainda durante a madrugada, o que explica estes horáriosde almoço.

12 Como o ciclo do café é bianual, num ano a produção é elevada e no ano seguinte a produção é fraca,dependendo das condições de água, isto é, caso a seca não seja muito grande. A safra 2003/2004, foiconsiderada fraca, relacionada à safra, 2002/2003, que foi ano de “safrona”. A perspectiva é de que a safra2004/2005, dependendo das chuvas de verão, seja também uma “safrona” porém menor do que a safra 2002/2003, já que a seca do ano de 2003 está maior do que a do ano de 2002.Desde abril não há uma grandechuva, a seca já se prolonga por nove meses e a previsão é de quebra da próxima safra.

13 Este termo designa os trabalhadores que fazem sua própria comida nos alojamentos ou nas casas de aluguel.Eles fazem uma compra de mantimentos em conjunto e cada um fica responsável por cozinhar um dia para osdemais. Em geral, a comida é feita após a volta do trabalho e o que sobra desta comida será o almoço do diaseguinte. Alguns trabalhadores deslocam-se com a família e a mulher é encarregada de fazer a comida.

14 Para se chegar a essa estrutura dinâmica, a pesquisa recorreu às informações coletadas junto aos diversosatores da cadeia produtiva do café – técnicos e diretores de torrefadoras, cooperativa, armazém deestocagem e exportação, pequeno produtor rural e diretores de sindicatos.

15 Pesquisa de campo.

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CARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ECARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ECARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ECARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ECARACTERÍSTICAS POPULACIONAL ESÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃOSÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃOSÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃOSÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃOSÓCIO-ECONÔMICA DA REGIÃO

O estado do Espírito Santo é composto de 78municípios, distribuídos entre quatromesorregiões. Segundo informações do CensoDemográfico 2000 do IBGE, a população total doestado do Espírito Santo, nesse ano, era de3.097.232 habitantes, sendo que desse total, emtorno de 42% estão concentrados na capital e naregião metropolitana. Com um Produto InternoBruto na ordem de R$ 21.530 milhões a preços demercado, o Espírito Santo tem uma participação de1,96% no PIB Nacional e esta participação vemcrescendo ano a ano.

O PIB do Estado é composto pelas seguintesparticipações: agropecuária – 7.6%; Indústria –37.4%; Serviços em geral – 55% (dados de 1999).A produção agropecuária se espalha por todointerior do Estado, sendo seus principais segmentosa produção de cana-de-açúcar; café; mandioca;banana; mamão; milho; tomate; cacau; pimenta doreino; coco baía; reflorestamento; além das ativida-des extrativas vegetal e mineral e da pecuária.

O estado do Espírito Santo apresentou, noano de 2000, um IDH de 0,765, considerado umnível médio pelo PNUD. Com isso, ocupa o 11ºlugar no ranking nacional, segundo o Atlas doDesenvolvimento Humano 2000.CA

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De todas as atividades da cadeiraprodutiva do café, a que menos

agrega valor é a agricultura

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Esse Estado vem sendo considerado um dosmais abertos à comercialização internacional e vemapresentando crescimento superior ao nacional.Segundo a FRECOMEX1 , o porto do Estadoconcentra a maior renda per capta de exportaçãodo Brasil.

A sua balança comercial se apresenta equili-brada (importação = exportação), com um volumede exportação na ordem de US$ 2,4 bilhões, a suaestrutura obedece ao seguinte grau de importância:Ferro, ferro fundido e aço com 35,7% do total;minérios, escórias e cinzas vêm a seguir, com25,1%; em terceiro a celulose, com 20,9%; e emquarto o café solúvel e em grãos, com 7,4% dototal; outros setores respondem pelos restantes10,9% das exportações2 .

O café – agregando produção primária eindustrial -, como demonstrado, é um dos princi-pais itens da balança comercial do Estado, e apesarde não ser o componente mais importante do PIBEstadual, este segmento se caracteriza como omaior empregador do Estado. Segundo estudopublicado pelo Observatório Social3 , esta atividadegera 362 mil empregos diretos e 150 mil indiretos,totalizando mais de 500 mil postos de trabalho.

A atividade cafeeira é desenvolvida emdiversas regiões do Estado. Segundo informaçõesdo Censo Agropecuário 1995/96 do IBGE, o caféem coco é produzido nas mesorregiões: Central,Litoral Norte, Noroeste e Sul. Dentre estas, amesorregião do Noroeste espírito santense é amaior produtora. Essa mesorregião é formada portrês microrregiões: Barra de São Francisco,Colatina, e Nova Venécia, que por sua vez, agre-gam 15 municípios. Em todos esses municípios aatividade cafeeira é desenvolvida predominante-mente e tem grande importância na composição darenda e na geração de empregos.

A Tabela 13 apresenta informações de caráterpopulacional e socioeconômico (para o ano de2000), além do número de informantes na produ-ção de café (para o período 1995/96), para todosos municípios das três microrregiões do Noroesteespírito santense. Um dado que chama a atençãorefere-se à classificação dos municípios da regiãoNoroeste no Ranking Estadual do IDH, excetopara Colatina, Marilândia, Nova Venécia e SãoGabriel da Palha, os demais municípios ocupamposições a partir da 50º, inclusive, os dois pioresmunicípios em IDH do Estado estão nessa região –

Água Doce do Norte e Pancas – dentre um totalde 78 municípios, eles ocupam, respectivamente, asposições 77º e 76º.

Uma outra constatação que merece destaque,mesmo porque repete o que ocorre no Sul deMinas Gerais, é a comparação da remuneraçãonominal média dos chefes de famílias com opercentual da população rural. Ou seja, pode-seconstatar que, salvo raras exceções, como Alto RioNovo e Baixo Guandu, quanto menor a taxa deurbanização do município, menor a remuneraçãomédia dos chefes de famílias com remuneração.Inclusive, apenas três municípios apresentam médiamaior do que a média da Mesorregião observada –Colatina, Nova Venécia e São Gabriel da Palha -, etodas têm médias abaixo da média do Estado. Nãoé demais frisar que esses três municípios sãocentros de serviços regionais e concentram a maiorparte das indústrias da região e dos armazéns deintermediação de café. No caso de Colatina e deSão Gabriel da Palha, segundo informações obtidasdurante as entrevistas, a indústria têxtil instaladanesses dois municípios tem importância fundamentalna geração de emprego e renda.

Com bases nas informações contidas naTabela 13, agregadas às informações da Tabela 14,pode-se confirmar que das atividades da cadeiaprodutiva do café a que menos agrega valor é aatividade rural.

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TABELA 13 – INFORMAÇÕES SOBRE POPULAÇÃO, ASPECTOS SÓCIO –ECONÔMICO E INFORMANTES PRODUTORESDE CAFÉ DOS MUNICÍPIOS QUE COMPÕEM A MESOREGIÃO NOROESTE ESPÍRITO SANTENSE

Informações População IDH-M Renda (%) Taxa Rem. Nom. **ProdutoresTotal Rural % da Per Capita de Alfabetização Média de Café

Pop Tot. (R$) de Adultos (R$)* (N.º)Espírito Santo 3.097.232 634.183 20 - 721,57 55.469Região Noroeste 386.981 146.549 38 - 179,40 82,38 507,44 15.428MicrorregiãoBarrade S. Francisco 86.528 39.496 46 - 158,39 78,57 410,35 4.220Água Doce do Norte 12.751 6.638 52 0.583 128,43 76,20 369,08 868Barra de S. Francisco 37.597 16.941 45 0,645 185,77 80,91 457,19 2.002Ecoporanga 23.979 11.085 46 0.612 152,18 77,60 361,39 742Mantenópolis 12.201 4.832 40 0.627 167,18 79,58 401,54 608MicrorregiãoColatina 185.367 55.268 30 - 190,34 84,60 555,48 5.826Alto Rio Novo 6.964 3.396 49 0.634 174,25 80,03 502,39 458Baixo Guandu 27.819 8.143 29 0,646 187,53 84,37 484,10 755Colatina 112.711 21.413 19 0,709 272,35 89,41 610,52 2.276Marilândia 9.924 5.943 60 0,648 188,97 87,06 425,64 670Pancas 20.402 11.560 57 0,613 153,43 81,97 453,87 1.098S. Domingos do Norte 7.547 4.813 64 0,626 165,51 84,78 433,96 569Microrreg. Nova Venécia 115.086 51.785 45 - 189,48 83,97 505,09 5.382Águia Branca 9.599 7.258 76 0,630 170,08 82,80 437,27 906Boa Esperança 13.679 4.510 33 0,631 171,30 82,26 431,67 415Nova Venécia 43.015 15.625 36 0,673 220,08 85,62 531,44 1.690São Gabriel da Palha 26.588 8.223 31 0,689 242,48 86,73 529,32 1.384Vila Pavão 8.330 6.387 77 0,602 143,44 82,43 386,74 987* Valor do rendimento nominal médio mensal das pessoas com rendimento, responsáveis pelos domicílios parti-culares permanentes (R$)** Período 1995/96Fontes: IDH-M, Taxa de Alfabetização e Renda Per Capita: Relatório PNUD/IPEA - 2000; Número de Produtores:IBGE – Censo Agropecuário 1995/96; Demais dados apresentados na Tabela 1: IBGE – Censo Populacional2000.

CAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS ECAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS ECAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS ECAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS ECAFÉ – ASPECTOS TÉCNICOS EPRODUTIVOSPRODUTIVOSPRODUTIVOSPRODUTIVOSPRODUTIVOS

O Espírito Santo é o maior produtor nacionalde café Robusta, ou Conillon, respondendo porcerca de 70% da produção nacional, a produçãoanual no Estado varia entre 2,5 a 3,5 milhões desacas de café Robusta. Na região pesquisada –Noroeste espírito santense, o café produzido épredominantemente do tipo Robusta ou Conillon.Esse tipo de café, de baixa altitude, consideradocom qualidade inferior ao tipo Arábica, é principal-mente utilizado na fabricação de café solúvel e, emproporção que varia entre 20 a 40%, é tambémutilizado em blendies de café torrado e moído ouem café torrado para máquinas de café expresso,segundo os produtores é porque ele dá gosto maisforte e encorpado à bebida. Por esse motivo, ocafé Robusta é cotado no mercado a preço inferior

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ao tipo Arábica, e em determinados períodos essadiferença pode chegar a até 50%

Em virtude das secas freqüentes, o caféproduzido no Noroeste do Espírito Santo, temnecessitado de irrigação. A necessidade de irriga-ção do café Robusta entra em confronto com oregime de águas do Estado. Isto porque o EspíritoSanto possui pouca água subterrânea e odesmatamento a que o estado foi submetido,principalmente no final dos anos 1960, agravoubastante tanto a quantidade de água disponível,quanto o regime de chuvas. A situação de depen-dência de irrigação e escassez de água agrava osproblemas enfrentados pelos produtores da região.No ano de 2003, por exemplo, até o mês desetembro (mês da pesquisa de campo) a regiãovinha sofrendo com uma seca persistente, quedurou de abril a novembro, o que, segundo osentrevistados, já havia comprometido 70% da safra2004, para quem não irrigou, e 30%, para oprodutor que irriga.

A irrigação aumenta bastante os custos deprodução, especialmente devido ao custo daenergia elétrica, além da mão-de-obra utilizada notrabalho. A irrigação por aspersores de alta potên-cia, chamado canhão, é predominante, mas gastamuita energia e desperdiça água, que já é escassa,porque de 30% a 40% da água é perdida pelaevaporação e uma outra parte é perdida pelainfiltração rápida no solo. Há pouca utilização dachamada irrigação por gotejamento, que é a formamais racional de irrigação, porque dispõe à planta aquantidade de água necessária, sem desperdício. Oproblema é que a irrigação por gotejamento temum elevado custo fixo, devido ao custo maior pelaquantidade de mangueiras, registros e dosmicroaspersores ao pé de cada árvore. Este custofixo exige investimentos relativamente elevadoscomparados à irrigação com canhão. Porém airrigação a canhão aumenta bastante o custo comeletricidade (custo variável). Além disto, os produ-tores acreditam em chuvas fora de época, o queeconomiza no uso do canhão e na eletricidade.Durante a pesquisa de campo encontramos umgrande número de produtores que dispunham decanhão para irrigação, mas já não dispunham deágua para irrigar, um outro conjunto dispunha decanhão, de água, mas não estava irrigando devidoao elevado custo da energia.

Estes dois problemas associados à necessida-

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de de irrigação do café e à escassez de águadeixam sérias dúvidas sobre a capacidade desustentabilidade do café Conillon no estado doEspírito Santo.

A Tabela 14 apresenta algumas informaçõessobre a produção primária de café na mesorregiãoNoroeste espírito santense.

TABELA 14 – COLHEITA, VALOR DA PRODUÇÃO, INFORMANTES, DE CAFÉ EM COCO DOS MUNICÍPIOS QUECOMPÕEM A MESOREGIÃO NOROESTE ESPÍRITO SANTENSE – 1995/96

Informações N.º de Quantidade Quantidade Valor da Pés Área Hectare ToneladaInformantes Colhida (t) Vendida (t) Produção Colhidos Colhida Colhido/ Colhida /

(em mil R$) (mil pés) (em ha) 1 Informante 1 HectareEspírito Santo 55.469 665.728 59.913 428.698 484.803 437.134 7.88 1.52Região Noroeste 15.428 202.165 8.726 129.116 162.830 147.451 9.56 1.37MicrorregiãoBarrade S. Francisco 4.220 37.848 3.145 23.636 37.811 36.105 8.56 1.05Água Doce do Norte 868 8.736 - 5.639 11.114 11.745 13.53 0.74Barra de S. Francisco 2.002 14.245 915 8.922 15.187 14.921 7.45 0.95Ecoporanga 742 6.808 2.200 3.560 5.568 4.793 6.46 1.42Mantenópolis 608 8.059 31 5.515 5.942 4.646 7.64 1.73MicrorregiãoColatina 5.826 82.885 2.633 59.360 71.465 63.200 10.85 1.31Alto Rio Novo 458 9.252 274 5.652 7.199 7.253 15.84 1.28Baixo Guandu 755 7.871 939 6.679 7.954 6.856 9.08 1.15Colatina 2.276 34.430 738 21.970 26.206 23.621 10.38 1.46Marilândia 670 8.034 121 7.564 7.993 7.359 10.98 1.09Pancas 1.098 15.693 503 12.084 16.184 13.344 12.15 1.18S. Domingos do Norte 569 7.604 58 5.411 5.930 4.767 8.38 1.60Microrreg. Nova Venécia 5.382 81.433 2.947 46.120 53.554 48.146 8.95 1.69Águia Branca 906 14.768 318 6.867 8.738 8.341 9.21 1.77Boa Esperança 415 14.407 953 5.255 5.541 5.464 13.17 2.64Nova Venécia 1.690 24.547 219 15.114 17.707 15.824 9.36 1.55São Gabriel da Palha 1.384 18.417 717 12.961 13.244 11.030 7.97 1.67Vila Pavão 987 9.292 740 5.924 8.324 7.487 7.59 1.24Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995/96Elaboração: Observatório Social

“”

No Espírito Santo, asustentabilidade do café

Conillon está em risco pordois fatores: escassez de água

e alto custo para irrigação

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TABELA 15 - ESTABELECIMENTOS POR GRUPO DE ÁREA TOTAL (%) – ESPÍRITO SANTO

Mesorregião, Menos 10 a 100 a 200 a 500 a 2000 e semMicrorregiões de 10 (%) menos de menos de menos de menos de mais (%) declaraçãoe Municípios 100 (%) 200 (%) 500 (%) 2000 (%) (%)Espírito Santo 32,05 59,23 5,04 2,65 0,83 0,08 0,11Microrregião NoroesteEspírito-Santense 23,22 66,18 6,20 3,23 1,05 0,07 0,05Microrregião Colatina 20,22 68,67 7,05 3,19 0,72 0,03 0,12 Colatina 20,12 68,02 7,33 3,40 0,85 0,00 0,28 Pancas 19,24 72,02 5,91 2,12 0,71 0,00 0,00 Baixo Guandu 15,90 68,75 8,27 5,79 1,10 0,18 0,00 Marilândia 19,54 72,27 6,32 1,44 0,29 0,00 0,14 São Domingos do Norte 25,28 65,98 6,68 1,91 0,16 0,00 0,00 Alto Rio Novo 27,12 62,32 7,04 2,90 0,62 0,00 0,00Microrregião Barra deSão Francisco 26,59 61,46 6,14 3,88 1,77 0,17 0,00 Barra de São Francisco 37,73 56,92 3,67 1,13 0,50 0,05 0,00 Ecoporanga 12,90 59,89 11,20 9,99 5,46 0,57 0,00 Água Doce do Norte 20,52 70,58 5,97 2,72 0,21 0,00 0,00 Mantenópolis 27,35 66,57 3,91 1,74 0,43 0,00 0,00Microrregião Nova Venécia 23,53 67,68 5,30 2,70 0,77 0,02 0,00 Nova Venécia 20,71 65,48 7,97 4,78 1,06 0,00 0,00 São Gabriel da Palha 25,14 70,36 3,28 0,82 0,41 0,00 0,00 Vila Pavão 22,67 71,31 3,57 1,69 0,75 0,00 0,00 Águia Branca 28,63 65,79 3,26 1,89 0,42 0,00 0,00 Boa Esperança 21,37 63,66 9,03 4,19 1,54 0,22 0,00Microrregião CentralEspírito-Santense 35,50 59,83 3,01 1,16 0,20 0,01 0,29Mesorregião SulEspírito-Santense 39,49 52,89 4,78 2,31 0,46 0,05 0,01Mesorregião LitoralNorte Espírito-Santense 26,76 57,85 7,66 5,19 2,26 0,28 0,01Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995-1996

ESTRUTURA E CARACTERÍSTICAS DA CADEIA PRODUTIVESTRUTURA E CARACTERÍSTICAS DA CADEIA PRODUTIVESTRUTURA E CARACTERÍSTICAS DA CADEIA PRODUTIVESTRUTURA E CARACTERÍSTICAS DA CADEIA PRODUTIVESTRUTURA E CARACTERÍSTICAS DA CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉA DO CAFÉassalariados, temporária e sem registro emcarteira de trabalho. Segundo relato de umdos trabalhadores entrevistados, apenas nosúltimos tempos as fazendas têm registradoseus trabalhadores, mas isso não se caracteri-za como uma prática comum na região. Muitopelo contrário, a prática comum é o contratosem carteira.No sistema de parceria, o que é produzido

pelo parceiro/meeiro é dividido com o proprietárioda terra, depois do processo de secagem ebeneficiamento. Nesse processo, o parceiro,normalmente, leva o café para ser beneficiado noarmazém de algum comerciante (que eles própriosdenominam de atravessador) que cobra em tornode 10% pela secagem e beneficiamento do café. A

As informações expostas neste item dotrabalho foram coletadas através de entrevistascom agricultores familiares, parceiros/meeiros,sindicato de trabalhadores, trabalhadores assalaria-dos e empresa torrefadora, atores que compõemessa cadeia produtiva e desenvolvem suas ativida-des na região, especialmente na região de Colatinae São Gabriel da Palha.

As relações de trabalho predominantes nacadeia produtiva do café na região pesquisada seestruturam, de modo geral, da seguinte forma:

entre os agricultores familiares e de pequenoporte tem-se a relação de trabalho baseadano sistema de parceria ou meia; entre os de médio e grande portes a relaçãode trabalho mais utilizada é a contratação de

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maioria dos parceiros e também dos proprietáriosnão tem local para armazenar o café produzido,deixando o produto armazenado no estabeleci-mento desse mesmo comerciante.

Segundo as exposições dos entrevistados, naregião é bastante comum a prática de deixar oproduto armazenado no galpão de um comerciante,seja o mesmo que beneficiou o produto ou não (oque ocorre na maioria das vezes), e ao qual, normal-mente, o produtor e o parceiro são obrigados avender seu produto. Aparece aí o terceiro ator doprocesso – o intermediário. Na região, o intermediá-rio parece desempenhar, mais comumente, o papelde especulador. A opinião, quanto a sua atuação nacadeia produtiva, é dividida: alguns acham que ele énecessário, pelas dificuldades que têm de enfrentarpara comercializar o seu produto, outros acham (eaqui está a opinião da maioria dos entrevistados) quea sua atuação empobrece o produtor.

Não foi possível, na pesquisa de campo,identificar o número de indústrias de café existentesna região. A pesquisa entrevistou apenas o repre-sentante da empresa Café Meridiano, a maior daregião, com uma produção em torno de 1.800 a2.200 sacas ao mês e um total de 100 funcionários.

Essa empresa produz café torrado, para máqui-nas de café expresso, e café torrado e moído dediversos tipos. Como o café utilizado nessa produção

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é, em grande parcela, o tipo Arábica (70%), a empre-sa adquire o café em três mercados – no próprioestado, no Sul de Minas e no Sul da Bahia. Segundo opresidente da empresa, a compra é efetuada direta-mente no produtor já selecionado ou em cooperativas.Apesar disso, acha que o atravessador desempenhaum papel importante na intermediação, justamentepelas dificuldades que um pequeno produtor tem nacomercialização do seu produto.

A café Meridiano vende apenas para o merca-do interno regional. Há pouco tempo, a indústriaenviou um lote experimental para o exterior, mas,por enquanto acha difícil entrar nesse mercado porcausa do número de taxas cobradas, o que daria umretorno muito baixo.

ASPECTOS DO EMPREGO NA CADEIAASPECTOS DO EMPREGO NA CADEIAASPECTOS DO EMPREGO NA CADEIAASPECTOS DO EMPREGO NA CADEIAASPECTOS DO EMPREGO NA CADEIADO CAFÉDO CAFÉDO CAFÉDO CAFÉDO CAFÉ

Não existem números exatos sobre o númerototal de trabalhadores na cadeia produtiva do caféna região, sabe-se apenas que o número é muitosignificativo, na medida em que o café é a segundacultura que mais emprega força de trabalho no paíse dada a extensão da lavoura cafeeira. Este grandenúmero de trabalhadores e de agricultores familiarestorna a cadeia produtiva do café responsável poruma parcela considerável da renda movimentada noEstado e pela maior geração de renda e trabalhonas regiões cafeeiras, como a estudada.

A especificidade do emprego nessa cadeiaprodutiva está na grande incidência da parceria e ouso de trabalhadores assalariados.

PPPPPARCERIA NO CAFÉARCERIA NO CAFÉARCERIA NO CAFÉARCERIA NO CAFÉARCERIA NO CAFÉUma característica da região pesquisada é a

alta utilização da parceria na produção de café. Aparceria no café se caracteriza pela cessão de parteda terra, pelo proprietário a um trabalhador rural,através de contrato escrito e registrado, ou semcontrato. A importância do contrato escrito é queele torna-se um instrumento de prova que permiteao trabalhador ter acesso a financiamento bancário(PRONAF) e a benefícios previdenciários.

No contrato de parceria fica explícito que oparceiro tem direito à metade da produção de caféda área sob sua responsabilidade. Nesta parcerianão se divide o dinheiro apurado com a venda, masé dividido o produto, medido em sacas de café,

após a retirada da casca. O que significa que oproprietário não tem o monopólio dacomercialização. O parceiro também participa dacomercialização do café por ele produzido.

Nessa parceria o trabalhador recebe a terracom café já plantado e fica responsável pelos tratosculturais e pela colheita do café. Isto porque o caféé uma cultura perene e dura em média 20 anos.Para evitar vínculo com a propriedade e com opagamento de indenização pelos seus pés de café,é firmado um contrato entre as partes por umperíodo(em média cinco anos), sendo renovadoautomaticamente caso não haja manifestação pelarescisão de uma das partes. No acordo firmado,normalmente, tratam da indenização do períodorestante do contrato, em caso de rompimento domesmo por uma das partes. A indenização écalculada pelos rendimentos dos pés ao longo desua vida útil.

Quando há necessidade de renovação docafezal, ou de replantio de mudas, a responsabili-dade é do proprietário. É ele quem compra asmudas e contrata trabalhadores para executarem opreparo do solo e o plantio. Algumas vezes, opróprio parceiro executa estas atividades na condi-ção de trabalhador assalariado. Nenhuma atividadena propriedade que implique em investimento alongo prazo (casas, cercas, construções, canaisetc.) pode ser realizada pelo parceiro sob o contra-to de parceria. Se isso ocorrer o proprietáriodeverá remunerá-lo a parte por tais atividades. Istosignifica que o parceiro algumas vezes assume acondição de trabalhador assalariado.

Os insumos necessários à produção do café(adubos, herbicidas, fungicidas) são de responsabi-lidade de ambos, proprietário e parceiro. Algumasvezes o proprietário adianta o pagamento dosinsumos e, na colheita, este adiantamento é pagopelo parceiro, com a cobrança de juros. Outrasvezes o parceiro consegue pagar de imediato, ou,através do documento de parceria, tem acesso aoPRONAF, que lhe permite recursos para o custeioda produção. O parceiro recebe a casa para morare as despesas de energia da casa, em geral, ficampor conta do parceiro. Porém, a energia gasta nacultura, principalmente com irrigação, são divididasao meio.

Ao parceiro cabe, fundamentalmente, a mão-de-obra, empregada em todas fases do processode produção. Em geral é utilizada mão-de-obra

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familiar, algumas vezes, principalmente na colheita,o parceiro utiliza mão-de-obra assalariada.

Dependendo do contrato, o parceiro podeproduzir junto com o café, quando este ainda ébem novo, produtos de subsistência. Outras vezesna propriedade é destinada uma área para que otrabalhador cultive outros produtos para sua sub-sistência. Estes são, em geral, produzidos peloparceiro sem adiantamentos dos proprietários esobre estes produtos não cabe a meia.

Há casos em que os parceiros, através doPRONAF, conseguem recursos para o desenvolvi-mento na propriedade de outra(s) cultura(s) emmaior escala. Mas isto depende de consentimentodos proprietários. Encontra-se em expansão acultura do coco da Bahia (variedade anão) consor-ciada com o café. Muitos parceiros têm buscadono PRONAF recursos para o investimento nestacultura, mas, por ser também uma cultura perene,necessita ser plantada pelo proprietário.

Há casos em que os parceiros fazem a cria-ção de animais, em geral de pequeno porte, tam-bém destinados à subsistência. A criação deanimais de grande porte parece não ser muitoaceita para parceiros.

Embora o parceiro seja responsável pelautilização de mão-de-obra, e a que ele utiliza emmaior quantidade durante todo o ciclo de produçãodo café seja a mão-de-obra familiar, e embora otamanho da família do parceiro seja determinanteda quantidade de terra que estará sob a sua res-ponsabilidade, é comum o parceiro contratartrabalhadores assalariados na safra. Ou seja, osagricultores familiares produtores de café, e dentreestes os parceiros, utilizam-se comumente detrabalhadores assalariados durante a colheita. Esteuso se dá pela necessidade de colher rápido, oupor falta de braços familiares, ou por uma safrasuperior à possível de ser colhida pela própriaunidade de produção familiar.

A contratação de mão-de-obra assalariadapor parte do parceiro e do agricultor familiar, tornaas relações de trabalho no Espírito Santo bastantecomplexas. Isto porque, a parceria não é umarelação de trabalho exclusiva da grande proprieda-de, ela ocorre também entre agricultores familiares.Tanto o agricultor familiar proprietário da terraquanto o parceiro são representados pelo mesmoórgão sindical, o sindicato dos trabalhadores rurais.Quando o parceiro contrata mão-de-obra assalari-

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ada, as três categorias estão representadas nomesmo sindicato. Caso surjam, e normalmenteacontecem, litígios entre as categorias (proprietárioX parceiro e parceiro X trabalhadores assalaria-dos), estes litígios são mediados pelo sindicato, quedificilmente consegue sair ileso desta trama.

TRABALHADORES ASSALARIADOSTRABALHADORES ASSALARIADOSTRABALHADORES ASSALARIADOSTRABALHADORES ASSALARIADOSTRABALHADORES ASSALARIADOSEm Colatina os trabalhadores assalariados

também moram nas periferias da cidade. Nesteslocais há vilas de assalariados. Por volta das 5 h damanhã já há grupos de trabalhadores dirigindo-seaos pontos e, antes deste horário, é possível perce-ber a agitação no interior das casas, para o preparodas marmitas, como se estivéssemos na hora doalmoço.

Foram entrevistados alguns trabalhadoresassalariados dessas vilas. Pode-se perceber que oregistro em carteira não é uma prática usual para oscolhedores e mesmo para aqueles que executamatividades específicas para a agricultura. O registroem carteira ocorre, com maior incidência, para ostrabalhadores permanentes, mas não é usual paraos trabalhadores assalariados nesta região. Um dosentrevistados afirmou que o registro em carteira éuma prática que vem aumentando agora na região.

Através das entrevistas, foi possível perceberas péssimas condições de vida e trabalho tantodeste contingente de trabalhadores, quanto dostrabalhadores produtores familiares e parceiros.Um dos entrevistados era trabalhador permanentenuma propriedade e era registrado. O outro nãoera permanente, fazia qualquer atividade queaparecesse, mas nunca tinha tido registro emcarteira. Na safra do café trabalhava na colheita. Acolheita do Conillon vai de abril a julho, mas,devido à seca, a safra havia sido pequena e como aestiagem estava muito longa, praticamente nãohavia trabalho no campo. A alternativa nestes casosé a migração, ou o emprego numa outra atividadeexistente na região, que é a retirada de granito, naspedreiras. O trabalho nas pedreiras também éprecário, sem carteira assinada e o trabalhador ficaexposto a uma temperatura superior aos 50 grauscentígrados, devido ao sol na pedra. Além disto, otrabalhador fica exposto às constantes explosões.

O trabalhador permanente entrevistado, quetambém colhia café, realizava outras atividades napropriedade agrícola, desde cuidado com os

animais, consertos de cerca e outros afazeres,designados pelo encarregado. A particularidadedeste trabalhador registrado é que ele tinha proble-mas de saúde, provavelmente advindos da exposi-ção a agrotóxicos e, talvez, isto justificasse oregistro. Embora tivesse direito a férias, ele apenasassinava o recebimento das mesmas, mas nunca ashavia gozado e nem recebido os direitos delaadvindos, como o pagamento em dobro e o adicio-nal constitucional de 1/3 da remuneração4 . Afirmouque apenas recebia o 13º salário.

A jornada de trabalho desses trabalhadoresvai das 7 às 17h, com 40 minutos para o almoço e30 minutos para o café. Não está contado najornada de trabalho o deslocamento em caminhãoda cidade para o campo, o que torna o tempo àdisposição do empregador bem maior, ultrapassan-do 10 horas, assim como verificado no Sul deMinas. Os assalariados também trabalham aossábados, até o meio-dia, e quase todos os feriados,exceto Ano Novo, Natal e Sexta-feira Santa.

SALÁRIOSSALÁRIOSSALÁRIOSSALÁRIOSSALÁRIOSEm geral, os trabalhadores safristas recebem

por produção ou diária. Segundo os entrevistados,o valor da diária varia entre R$ 12,00 e R$ 15,00 ,e o pagamento da produção é feito tendo comoreferência a saca de 60 quilos, cujo preço varia deacordo com a produtividade do cafezal: muitoprodutivo – R$ 3,00 a saca; produtividade média –entre R$ 4,00 e R$ 5,00; e pouco produtivo –entre R$ 6,00 e R$ 7,00. Todavia, os entrevistadosdisseram que o normal pago na região fica entre R$3,00 e R$ 4,00 por saca colhida. O trabalhadorentrevistado disse que tem registro de um saláriomínimo em carteira, mas consegue retirar R$400,00 mensais.

PRINCIPPRINCIPPRINCIPPRINCIPPRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTAIS PROBLEMAS ENFRENTAIS PROBLEMAS ENFRENTAIS PROBLEMAS ENFRENTAIS PROBLEMAS ENFRENTADOSADOSADOSADOSADOSNA CADEIA DO CAFÉ - A OPINIÃO DOSNA CADEIA DO CAFÉ - A OPINIÃO DOSNA CADEIA DO CAFÉ - A OPINIÃO DOSNA CADEIA DO CAFÉ - A OPINIÃO DOSNA CADEIA DO CAFÉ - A OPINIÃO DOSAAAAATORESTORESTORESTORESTORES

Apresentam características diversas os pro-blemas enfrentados pelos atores que compõem acadeia produtiva do café Conillon no EspíritoSanto. Um deles se refere à questão climática. Osprodutores locais vêm enfrentando uma seca que jácomprometeu boa parte da produção local, princi-

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palmente a das culturas de sequeiro, o que prejudi-cando a manutenção dos agricultores familiaresprodutores de café, também dedicados a culturasde subsistência. O uso de irrigação também estárestrito, por conta da pouca disponibilidade deágua, ocasionada não apenas pelo baixo nívelpluviométrico nos últimos anos e, especialmentenos primeiros nove meses do ano de 2003, mas,também, pelo uso incorreto desse recurso natural,segundo informaram os próprios entrevistados.

A baixa produtividade do solo também é umproblema enfrentado pelos produtores. O empo-brecimento do solo se deve, em primeiro lugar, aoritmo de desmatamento sofrido pelo Estado,especialmente no final dos anos 1960. Um Estadoque era riquíssimo em mata Atlântica, em poucasdécadas teve esta cobertura reduzida a menos de5% de sua área. A retirada da Mata Atlântica e asqueimadas empobreceram o solo e reduziu ovolume de água. O uso indevido de técnicas deprodução, do preparo do solo, plantio e tratosculturais e a quimificação, associados à prática damonocultura do café também contribuíram para oempobrecimento do solo. A assistência técnica e apesquisa insuficientes e o pouco apoio do poderpúblico agravam bastante esses problemas.

O uso indiscriminado de agrotóxicos, proble-ma recorrente na produção agrícola, tem causadoum grave prejuízo ao trabalhador rural. Não sãoraros os relatos sobre envenenamentos, inclusivecom morte. Na região, há vários casos sem soluçãoe, segundo a presidente do Sindicato dos Trabalha-dores Rurais, os médicos alegam que o Estado nãodispõe de laboratórios que comprovem o nexocausal entre o uso de agrotóxicos e o comprometi-mento da saúde. Embora a prática de produção emanejo deixe claro o uso de agrotóxicos, emboratambém as doenças apresentadas com suas carac-terísticas mostrem traços inequívocos de envenena-mento por agrotóxicos, são necessárias provas

laboratoriais, que permitam a sustentação deprocessos jurídicos.

O agricultor familiar não dispõe de recursos emenos ainda de conhecimento técnico e de instru-ção básica para criar alternativas ao uso deagrotóxicos. Alguns poucos que buscam a inserçãonos projetos do Sindicato ou de outras organiza-ções para a utilização de práticas agrícolas susten-táveis, sem agrotóxicos e com diversificação daprodução agrícola, têm conseguido sobreviver emmelhores condições. A grande maioria ainda seencontra fora destes projetos e conta com práticasagrícolas insustentáveis, que já deixam traços deexaustão deste modelo: monocultura comquimificação e irrigação.

Pelo fato de serem agricultores de basefamiliar, dispõem de pouco capital. Associe-se aisto a falta de conhecimento, de informação, derecursos técnicos e financeiros e a insuficiência depolíticas públicas, todos estes ingredientes criamgraves problemas para a sustentabilidade da culturado café no Espírito Santo.

A comercialização, para esses pequenosprodutores, só tem condições de ocorrer com aintermediação de um atravessador, visto que,segundo um deles, para carregar um caminhão, sãonecessárias 200 sacas de 60kg, o que nenhumdesses agricultores consegue sozinho.

A QUESTÃO DA REPRESENTA QUESTÃO DA REPRESENTA QUESTÃO DA REPRESENTA QUESTÃO DA REPRESENTA QUESTÃO DA REPRESENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOSINDICAL DOS ASSALARIADOS RURAISSINDICAL DOS ASSALARIADOS RURAISSINDICAL DOS ASSALARIADOS RURAISSINDICAL DOS ASSALARIADOS RURAISSINDICAL DOS ASSALARIADOS RURAIS

Outros problemas já foram relatados ao longodo estudo, como a dificuldade dos trabalhadoresassalariados rurais que, mesmo tendo carteiraassinada, não gozam dos seus diretos, além daque-les trabalhadores que, por falta de registro aoserem demitidos no período pós-safra, não têmcondições de solicitar o Seguro Desemprego e/oureceber seu FGTS5 .

A esses dois problemas une-se um terceiro,pelo menos na região de Colatina, foi observado noestudo de caso que a atuação sindical voltada paraos trabalhadores assalariados rurais praticamenteinexiste. Ocorre que o sindicato da região, assimcomo a grande maioria dos sindicatos de trabalha-dores rurais no Brasil funciona em regime deenquadramento amplo, abrigando diferentes cate-gorias de trabalhadores:

agricultor familiar, com área inferior a quatro

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módulos fiscais e que não contrata trabalhado-res permanentes; posseiros; pequenos arrendatários; parceiros; trabalhadores assalariados rurais; outros - pescadores artesanais, seringueiros,colhedores de frutos etc.

Todas estas categorias podem ser definidasenquanto trabalhadores rurais, há, porém, umadistinção fundamental entre elas, que é o acesso aomeio de produção básico da agricultura - a terra.Uma parte desta grande categoria, trabalhadoresrurais, tem acesso à terra, quer diretamente, comoos agricultores familiares e posseiros, quer indireta-mente, como os parceiros e pequenos arrendatári-os e, além destes, há os assalariados que não têmacesso à terra e sobrevivem exclusivamente davenda de sua força de trabalho.

No entanto, nem todos esses sindicatos conse-guem atender a contento todas essas categorias eacabam por se concentrar em apenas uma ou duasdelas. Este é o caso do Sindicato dos Trabalhado-res Rurais (STR) da Região de Colatina, que nãodispõe de uma secretaria específica para atender eatuar junto aos trabalhadores assalariados.

Neste caso, isso decorre do fato da parcelade trabalhadores mais próxima ao STR e quecompõe a sua diretoria sindical ser formada, exclu-sivamente, por pequenos proprietários e parceiros.Um outro fato gerador desse problema deriva,inclusive, da própria condição de trabalho dosassalariados (especialmente em culturas como a docafé que agrega grande contingente de trabalhado-

res apenas no período da colheita, que ocorre empoucos meses do ano), isto é, trabalhadores tem-porários cuja maioria vem de outros municípios,estados e regiões apenas no período da colheita.Inclusive, essa foi uma das explicações do STR daRegião de Colatina para justificar a sua insipienteatuação junto aos trabalhadores assalariados.

Constata-se que a inexistência de atuaçãosindical nessa região dificulta a eliminação, ou aomenos a diminuição, dos problemas anteriormenterelatados, como a falta de registro em carteira, odescumprimento de direitos, mesmo quando háregistro em carteira, e uma série de outras ocorrên-cias que mantêm péssimas condições de vida e detrabalho dessa parcela de trabalhadores rurais.

A QUESTÃO DA INTERMEDIAÇÃOA QUESTÃO DA INTERMEDIAÇÃOA QUESTÃO DA INTERMEDIAÇÃOA QUESTÃO DA INTERMEDIAÇÃOA QUESTÃO DA INTERMEDIAÇÃOPara o representante da empresa Café

Meridiano, o principal problema seria a especulaçãopraticada tanto por produtores, de qualquer porte,quanto por intermediários. A especulação seria o fatode estes atores segurarem a produção após a colheitae esperarem para vendê-la quando o preço estivessecompensador. Ele acha que segurar o café, da formacomo se faz na região, a espera de preços mais altosapenas prejudica o mercado. Muitas vezes, disse ele,o preço não sobe e, quando percebem que está emmovimento de queda, todos querem vender de vez,daí, o preço cai mais ainda. Ele acredita que um outroproblema é a falta de informação do produtor, e afalta de investimento público em educação – formal etécnica -, além da falta de uma política de valorizaçãodo café e de incentivo às industrias nacionais.

Notas1 FRECOMEX Comércio Exterior Ltda: www.frecomex.com.br2 Gazeta On Line. http://gazetaonline.globo.com/valores; visitado em 07/05/04.3 Revista do Observatório Social – Café, o Sabor Amargo da Crise. In: www.observatoriosocial.org.br Acesso

em 19/09/2003.4 A Constituição Federal garante aos trabalhadores um adicional salarial correspondente a 1/3 do salário

mensal, a ser pago por ocasião das férias anuais.5 “O FGTS, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, foi instituído pela Lei nº 5.107, de 13/09/66. Formado por

depósitos mensais, efetuados pelas empresas em nome de seus empregados, no valor equivalente aopercentual de 8% das remunerações que lhes são pagas ou devidas; em se tratando de contrato temporáriode trabalho com prazo determinado, o percentual é de 2%. ... O Fundo constitui-se em um pecúliodisponibilizado quando da aposentadoria ou morte do trabalhador, e representa uma garantia para aindenização do tempo de serviço, nos casos de demissão imotivada.” Ministério do Trabalho e Emprego,http://www.mtb.gov.br/Temas/FGTS/Oquee/Conteudo/1128.asp; visitado em 04/05/04.

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A partir do quadro apresentado neste estudo edando seqüência à campanha que vem sendo desen-volvida pela Aliança Nacional do Café e Coalizãodo Café, as organizações envolvidas apresentamalgumas ações a serem realizadas comoenfrentamento dos problemas identificados, especial-mente na perspectiva dos assalariados rurais:

GOVERNO Ratificação pelo Brasil da Convenção nº 184 da

Organização Internacional do Trabalho (OIT) quetrata da segurança e saúde no trabalho, visandomelhorar e adequar a legislação brasileira pararegulação e normatização do cumprimento dosdiretos trabalhistas. A Convenção 184 da OITajudará a coibir a prática desleal do patronato queexplora a mão-de-obra assalariada sem registroem carteira de trabalho, paga salários baixos, nãooferece transporte seguro e adequado, não ofere-ce alojamentos apropriados para moradia erepouso dos trabalhadores e não oferecem materi-ais e equipamentos de proteção para o trabalho derisco e insalubre (como é o caso do uso dosagrotóxicos nas lavouras de café).

Publicação e aplicação da Norma RegulamentarRural – NRR – nº 33, permitindo base de susten-

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Para enfrentar os problemas queatingem os assalariados rurais, os

governos e as empresas sãoconvidados a agir

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agroecológica e certificados, além de uma políticade preço mínimo.

Pesquisa e geração de tecnologias e infra-estrutu-ra apropriadas para a produção eagroindustrialização, visando a melhoria daqualidade do café a ser produzido ecomercializado pelos agricultores familiares.

Acesso a terra, através da reforma agrária e daexpansão do crédito fundiário, para que osmeeiros, arrendatários e filhos de agricultoresfamiliares possam melhorar suas condições devida na produção do café.

EMPRESAS As torrefadoras de café assumem compromissos

claros com respeito à garantia dos direitos dostrabalhadores envolvidos na produção do café,incluindo os assalariados rurais, estabelecendomecanismos efetivos de monitoramento. Especifi-camente, firmando acordos com organizaçõessindicais, que promovam e apliquem códigos deconduta perante seus fornecedores no que serefere ao cumprimento da legislação trabalhista, amelhores salários, transporte seguro e adequado,alojamentos de boa qualidade para moradia emateriais e equipamentos de proteção para otrabalho de risco e insalubre.

As empresas envolvidas na cadeia do café, especi-almente torrefadoras e aquelas que atuam nacomercialização, comprometem-se a negociarcom entidades representativas dos agricultoresfamiliares a compra direta e o apoio a programasde capacitação e outros que possam garantir apermanência destes agricultores na produção decafé, bem como a estabelecer programas demelhoria de qualidade.

tação ao Ministério do Trabalho e Emprego nafiscalização do cumprimento das condições desegurança e saúde, prevenção de acidentes detrabalho, principalmente no uso de agrotóxicos edurante o período de colheita do café, quandoaumenta o nível de desrespeito e exploração dostrabalhadores assalariados rurais.

Apoio a Proposta de Emenda Constitucional (PEC)nº 438/2001 que expropria as terras para reformaagrária de fazendeiros que usarem trabalho escra-vo na agricultura.

Criação de uma legislação específica para que ocontrato de safra seja feito de forma coletiva,através dos Sindicatos dos TrabalhadoresRurais (STRs), garantindo os direitos trabalhis-tas e previdenciários.

Aumento da fiscalização no meio rural, realizadapelas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs),garantindo aplicação das leis e normas queprotegem os direitos dos trabalhadores.

Suspensão do crédito público aos empregadoresque desrespeitarem as legislações trabalhistas eprevidenciárias.

Criação de um programa de capacitação dostrabalhadores quanto ao uso de Equipamentosde Proteção Individual (EPIs), manuseio deprodutos químicos e técnicas que diminuam osriscos de acidente no campo.

Criação e implementação de um Programa Nacio-nal e Programas Estaduais de Revitalização daCafeicultura na Agricultura Familiar viabilizando oacesso dos agricultores familiares à assistênciatécnica, a tecnologias adaptadas, a diversificação,a créditos de investimento e ao custeio e instala-ção de infra-estrutura necessária à produção ecomercialização, incluindo produção

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EXPEDIENTE

Fotografia:

Editoração de Fotografia

Projeto Gráfico:

Diagramação:

Revisão Gramatical e Ortográfica:

Sérgio Vignes/Banco de Imagens OS

Ana Iervolino

Observatório Social

Silvio da Costa Pereira (MTb/SC00881JP)

Jane Maria Viana CardosoLaura Tuyama

Coordenadora de Comunicação:Maria José H.Coelho (Mtb 930 PR)

Avenida Mauro Ramos, 1624 sala 204CEP: 88 020-302 Florianópolis - SC.FONE/FAX: (48) 3028 4400E-mail [email protected] www.observatoriosocial.org.br

Agradecemos a valiosa colaboração, na forma de

comentários às versões preliminares deste estudo, de

Guilherme Brady e Kátia Maia, da OXFAM; José

Geronimo Brumatti, da CUT; Luiz Vicente Facco,

Alberto Brock e Guilherme Pedro Neto, da CONTAG; e

Sjoerd Panhuysen, da Coalizão do Café - Holanda.

EQUIPE TÉCNICA

Revisão e validação técnica:

Francisco Alves -

Ana Margaret Simões -Alda Maria N.Sanchez -

Clóvis Scherer e Odilon Luís Faccio

Depto de Engenharia de Produção /Universidade Federal de São Carlos (DEP/UFSCAR)

Observatório Social

Depto de Engenharia deProdução/Universidade Federal de São Carlos (DEP/UFSCAR)

Pesquisa realizada noperíodo de março a novembro de 2003

CONSELHO DIRETORPresidente:

DIRETORIA EXECUTIVA

COORDENAÇÃO TÉCNICA

Kjeld A. Jakobsen (CUT)

João Vaccari Neto(Secretaria de Relações Internacionais, CUT)Rosane da Silva(Secretaria de Políticas Sindicais, CUT)Artur Henrique dos Santos(Secretaria de Organização, CUT)José Celestino Lourenço(Secretaria Nacional de Formação, CUT)Maria Ednalva B. de Lima(Secretaria da Mulher Trabalhadora, CUT)Gilda Almeida de Souza(Secretaria de Políticas Sociais, CUT)Antônio Carlos Spis(Secretaria de Comunicação)Wagner Firmino Santana (DIEESE)Mara Luzia Feltes (DIEESE)Francisco Mazzeu (UNITRABALHO)Silvia Araújo (UNITRABALHO)Tullo Vigevani (CEDEC)Maria Inês Barreto (CEDEC)

Kjeld A. Jakobsen: PresidenteArtur Henrique dos Santos (SNO/CUT)Ari Aloraldo do Nascimento (CUT)Carlos Roberto Horta (UNITRABALHO)Clemente Ganz Lúcio (DIEESE)Clóvis Scherer (Coordenador Técnico/IOS)Maria Inês Barreto (CEDEC)Maria Ednalva B. de Lima (SNMT/CUT)Odilon Luís Faccio (Coordenador Institucional/IOS)

Arthur Borges Filho: Coordenador AdministrativoClóvis Scherer: Coordenador TécnicoMaria José H. Coelho: Coordenadora de ComunicaçãoOdilon Luís Faccio: Coordenador InstitucionalPieter Sijbrandij: Coordenador de ProjetosRonaldo Baltar: Coordenador Sistema de Informação

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BRA

SIL