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1 Camille Santos Wegner CANAL RURAL: UM ESTUDO DE RECEPÇÃO A PARTIR DOS USOS DA PROGRAMAÇÃO DA EMISSORA. Santa Maria 2013

Camille Santos W egner CANAL RURAL: UM ESTUDO DE ... · Mãe Fátima , aqui qualquer agradecimento poderia parecer clichê, ... foi para o meu bem e eu vou levar isso comigo sempre

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Camille Santos Wegner

CANAL RURAL: UM ESTUDO DE RECEPÇÃO A PARTIR DOS USO S DA PROGRAMAÇÃO DA EMISSORA .

Santa Maria

2013

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Camille Santos Wegner

CANAL RURAL: UM ESTUDO DE RECEPÇÃO A PARTIR DOS USO S E APROPRIAÇÕES DA PROGRAMAÇÃO DA EMISSORA

Trabalho final de graduação apresentado ao Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para obter o grau de Bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Profª Ms. Glaíse Bohrer Palma

Santa Maria / RS

2013

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Camille Santos Wegner

CANAL RURAL: UM ESTUDO DE RECEPÇÃO A PARTIR DOS USO S DA PROGRAMAÇÃO DA EMISSORA.

Trabalho final de graduação apresentado ao Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo do Centro Universitário Franciscano, como requisito parcial para o grau de Bacharel em Jornalismo.

______________________________________

Profª Mestre Glaíse Bohrer Palma

Orientadora

Centro Universitário Franciscano

_____________________________________

Mestranda Tissiana Nogueira Pereira Cechella

Universidade Federal de Santa Maria

_____________________________________

Prof. Dr. Maicon Elias Kroth

Centro Universitário Franciscano

Aprovado em ...........de...............................2013

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos três casais da comunidade rural de São Sepé que tornaram este trabalho possível. Cada palavra dita por vocês me tornou ainda mais encantada com a simplicidade e a riqueza de caráter das pessoas que vivem no meio rural. Obrigada: José Paulo, Maria Célia, Chico, Veroni, João e Zelma.

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AGRADECIMENTOS

“...Se alguém já lhe deu a mão e não pediu mais nada em troca, pense bem, hoje é um

dia especial...” Hoje realmente é um dia especial, de agradecer aqueles que tornaram esta

caminhada mais fácil, mais leve, mais especial. E como não começar por ele, pelo meu

companheiro, pelo meu amor, meu estímulo. Ao meu namorado Natan, quero agradecer pela

paciência neste momento de total concentração para a realização dessa pesquisa. O teu

estímulo foi essencial para que eu concluísse esse ciclo. A escolha de morar junto contigo este

ano só facilitou esse momento conturbado e cheio de obstáculos. As tuas cobranças repetindo

que eu ia conseguir, que ia dar certo, que tu não te importava que eu ficasse quanto tempo

fosse preciso escrevendo, me fizeram perceber o quanto tu pensa no meu crescimento e o

quanto és especial. Tu tornaste tudo mais leve e mais lindo. Obrigada. Te amo!

“De todo o amor que eu tenho, metade foi tu que me deu, salvando minh'alma da vida,

sorrindo e fazendo o meu eu..” Essa letra da música de Mara Gadú consegue descrever o

significado e a importância que ela tem para mim. Mãe Fátima, aqui qualquer agradecimento

poderia parecer clichê, mas hoje tem um significado diferente. A ti, agradeço pela minha

formação, pela formação da minha personalidade, do meu caráter. Obrigada por colocar em

mim o teu caráter sem precedentes, tua bondade, o teu carinho e a tua sensibilidade, sem isso,

com certeza não conseguiria chegar até aqui. Obrigada por ser meu amparo e nunca ter

deixado me faltar nada, principalmente amor. Obrigada por ter me ensinado valores morais e

éticos que tornaram minha caminhada mais leve e digna, mas acima de tudo obrigada por

fazer de tudo para que as coisas dessem certo. Cada palavra que escrevo aqui é repleta de

carinho, tentando te mostrar, que eu TE AMO e te tenho como espelho da minha vida.

Aos meus irmãos, Sabrina, Roger e Anderson, obrigada por serem um exemplo e me

mostrarem que a caminhada é longa, mas que para se chegar a algum lugar é necessário

empenho e dedicação. Os exemplos de profissionais que são se tornaram um estímulo para

que eu seguisse em frente mesmo nas dificuldades. Obrigada por serem meu amparo e meu

exemplo. Amo vocês.

A minha Vó Zinha querida, que sempre quer minha presença por perto, “Mas ela

sabe que depois que cresce, o filho vira passarinho e quer voar”. Obrigada minha vó amada

por me transmitir só bons exemplos e ensinamentos, mas acima de tudo obrigada por torcer

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para que desse tudo sempre com esse lema: “Por onde você for eu sigo, com meu pensamento

sempre onde estiver. Em minhas orações eu vou pedir a Deus, que ilumine os passos seus.”

Te amo com todas as forças. Essa conquista é para ti.

A Mô, minha amiga desde sempre e para sempre, o meu muito obrigada. Obrigada por

ter abdicado da minha presença várias vezes em decorrência da loucura do TFG. Obrigada por

entender minhas ausências e por manter nossa amizade sempre forte mesmo que na distância.

Te amo e te levo comigo sempre.

As amigas, companheiras fiéis de jornadas - Mauren, Mari e Ingrid – Vocês são

meus presentes da faculdade. Cada uma, na sua diferença, conseguiu agregar sentimento e

carinho a minha vida. Foi com vocês que eu me senti segura, que eu pude ter amparo, que eu

pude enlouquecer e dizer que ia desistir de tudo. Obrigada, Mauren, por ser minha segunda

mãe, pela fidelidade que tem a mim, pelo carinho que me transmite e principalmente pelas

tantas vezes que me estendeu a mão. Obrigada Mari, pela tua sensibilidade, pela tua forma

simples de ver a vida, que me cativa e faz querer o teu bem acima de tudo. Obrigada Ingrid ,

pelas tuas risadas incríveis, que fizeram essa jornada ter mais alegria e obrigada por ter me

aceito do meu jeito e estar aqui comigo, junto nesta conquista.

Aos queridos Bibi e Rômulo: Obrigada por dividirem comigo momentos especiais e

inesquecíveis na nossa temporada de monitoria. A amizade de vocês começou na faculdade,

mas vai comigo pela vida inteira. Obrigada principalmente por torcerem por mim, como se

fosse por vocês.

Aos mestres, que tanto me ensinaram nesses quatro anos: a minha eterna gratidão a

vocês que repassaram tudo o que sabiam para me tornar uma profissional. Tenho orgulho de

ter aprendido com todos os professores que me transmitiram conhecimento nesta jornada. Em

especial ao Maicon Elias Kroth – que me fez amar ainda mais o jornalismo através de suas

aulas de Teoria da Comunicação, ao Bebeto Badke – que na sua imensa sabedoria, sempre

fez questão de mostrar sua paixão a todos os alunos, a professora Rosana Zucolo - que

sempre quis que buscássemos mais, que não ficássemos apenas no comum, obrigada por me

fazer querer alçar vôos maiores, a querida professora Áurea - que no seu carisma trouxe

conceitos de jornalismo ambiental e radiojornalismo de uma forma pura e cheia de leveza.

Obrigada meus mestres, saio da academia levando um pouquinho de cada um de vocês.

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A equipe da TV UNIFRA o meu muito obrigada. Obrigada pela oportunidade de

crescimento e aprendizado ainda dentro da academia. Obrigada Quintana por todos os

ensinamentos e principalmente por me fazer entender que cobranças são necessárias,

principalmente no mundo dos adultos, e que são elas que nos fazem crescer. Muito do que sou

hoje profissionalmente, aprendi contigo.

A ela, não haveria espaço suficiente para agradecer, pela sua importância não só como

professora, mas como amiga. Minha orientadora Glaíse, meu amor, minha flor, meu bem:

Obrigada. Obrigada por ser simplesmente quem tu és, sem máscaras, sem exibicionismo. Sem

a tua parceria e amizade este trabalho não teria dado certo. Cada ensinamento teu me tornou

uma profissional e uma pessoa melhor. Por coincidência ou não, o destino nos uniu, e eu

agradeço imensamente por isso, porque não existiria outra pessoa que pudesse ter sido como

tu foi para mim. Obrigada por ter me ensinado com leveza e amor. O teu conhecimento e a tua

simplicidade me fizeram me encantar e me espelhar em ser como tu. Sei que tudo o que fez

foi para o meu bem e eu vou levar isso comigo sempre. Hoje tu não és mais somente a minha

ex-professora e orientadora Glaise e sim a minha amiga.

Ao meu pai, Antônio, que hoje me ilumina lá do céu. Obrigada pelos ensinamentos

repassados enquanto ainda estava nesse plano. Obrigada principalmente, por ter deixado em

mim, antes de partir, traços teus, que me fazem lembrar de ti sempre: a personalidade, o

caráter e a humildade. Vou te amar sempre, independente de onde eu estiver.

Finalizo agradecendo a Deus, que sempre me deu forças e me mostrou o caminho

certo a seguir.

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“Não é questão de tentar a sorte, mas de viver seu destino, encarar o risco, jogar suas fichas no que acredita, mobilizando sua força materializadora para a realização do seu sonho. Nada como ser inteiro e integral no que se faz e se é, uno com o seu propósito. Ao que se tem luz própria, nenhum escuro pode apagar” (Autor Desconhecido)

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RESUMO O eixo norteador desta pesquisa diz respeito a seguinte indagação: como se dá o processo de usos e apropriações na comunidade rural de São Sepé referente à programação do Canal Rural. Desta forma, busca-se analisar como a comunidade rural de São Sepé interpreta o conteúdo veiculado pela emissora. Para tanto, foram descritas as características do objeto empírico, identificadas as interpretações feitas pelas comunidades sobre o mesmo e, por fim, analisados os usos stabelecidos entre comunidade e o Canal Rural. Diante dos apontamentos pertinentes para o desenvolvimento de um estudo de recepção, determinaram-se as técnicas de coleta de dados que melhor satisfazem a proposta dessa pesquisa: o questionário e o grupo de discussão. O aporte teórico está estruturado a partir dos conceitos de: telejornalismo, jornalismo especializado rural, a recepção compreendida a partir dos estudos culturais e as apropriações no meio rural. A análise foi realizada considerando-se três mediações propostas por Martín-Barbero: cotidianidade familiar, temporalidade social e competência cultural. As considerações finais demonstram que as famílias estudadas vêem o Canal Rural e produzem sentidos influenciadas fortemente a partir de mediações familiares, culturais e temporais.

Palavras-chave Jornalismo especializado; canal rural; recepção

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................12

2. REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................................14

2.1. TELEJORNALISMO .....................................................................................................14

2.3 A RECEPÇÃO NA CONCEPÇÃO TEÓRICA ......................................................................19

3. METODOLOGIA E CORPUS DE PESQUISA ......................................................................22

3.1. ESTUDOS DE RECEPÇÃO COMO PRÁTICA METODOLÓGICA ........................................23

3.2. NATUREZA DA PESQUISA: QUALITATIVA ...................................................................23

3.3. TÉCNICA DE PESQUISA: .............................................................................................24

3.3.1 Questionário:..........................................................................................................24

3.3.2. Grupo de discussão: ...............................................................................................25

3.4. OBJETO EMPÍRICO: O CANAL RURAL.........................................................................26

3.5 LOCALIDADES PESQUISADAS......................................................................................30

3.5.1 Perfil das famílias rurais: .........................................................................................31

4. ANÁLISE.......................................................................................................................35

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...........................................................................................48

APÊNDICES......................................................................................................................50

APÊNDICE 1 .....................................................................................................................51

Questionário ...................................................................................................................51

APÊNDICE 2 .....................................................................................................................54

Questionários respondidos..............................................................................................54

O que te motiva a viver no campo? Sou apaixonado por cavalos......................................65

APÊNDICE 3 .....................................................................................................................66

Roteiro do grupo de discussão geral ................................................................................66

APÊNDICE 4 .....................................................................................................................68

Transcrição grupo de discussão geral ...............................................................................68

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APÊNDICE 5 .....................................................................................................................77

Roteiro grupo de discussão por gênero ............................................................................77

APÊNDICE 6 .....................................................................................................................79

Transcrição do grupo de discussão masculino ..................................................................79

APÊNDICE 7 .....................................................................................................................87

Transcrição do grupo de discussão feminino ....................................................................87

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1. INTRODUÇÃO

A mídia oferece hoje uma ampla gama de conteúdos segmentados com a

expansão do jornalismo especializado e a oferta para todo tipo de público. Assim, os

canais televisivos também dão conta desses diferentes conteúdos e interesses dos

telespectadores. Hoje, os agricultores e trabalhadores rurais conseguem midiatizar suas

práticas e interesses. A TV a cabo é uma aliada neste sentido, visto que proporciona ao

telespectador um vasto número de canais com interesses diversos. No Brasil, o Canal

Rural é um dos responsáveis por oferecer uma programação voltada para o homem do

campo.

A partir deste contexto, o interesse dessa pesquisa é investigar como o

público telespectador usa as notícias segmentadas, aqui denominadas como de

jornalismo especializado rural.

Isto posto, o trabalho delimita a sua proposta na busca de entender como um

grupo pertencente à população rural da cidade de São Sepé/RS se apropria das notícias

veiculadas no Canal Rural. Ou seja, quer se descobrir os usos que este público faz e o

que ele pensa sobre as matérias produzidas e veiculadas por este objeto midiático.

Sendo assim, o eixo norteador desta pesquisa diz respeito a seguinte indagação: que

processos de recepção percebem-se na comunidade rural de São Sepé referentes à

programação do Canal Rural? Para tanto, neste trabalho é investigado um grupo de

pessoas pertencente a três localidades distintas da zona rural da cidade, visando

elencar sinais da leitura e usos que este público faz dos conteúdos midiáticos

televisivos do Canal Rural.

A partir disto, busca-se descrever as características da programação do Canal

Rural, identificar as interpretações feitas pelo público pesquisado sobre o Canal Rural

e analisar os usos e apropriações estabelecidos entre comunidade e emissora a partir

das mediações propostas por Martín-Barbero.

Esta temática foi escolhida a partir de uma motivação pessoal da pesquisadora,

que morou até os dezenove anos na cidade de São Sepé. Durante esse período várias

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vezes a pesquisadora visitou famílias que moraram a vida inteira no meio rural, e uma

observação era constante: em quase todos os locais a TV estava sempre ligada na

programação do Canal Rural. Assim, várias questões começaram a surgir no intuito de

entender como essas pessoas, longe de toda a intelectualidade e urbanização se vêem

na TV. Como elas vêem o conteúdo apresentado? O conteúdo do Canal Rural os

representa de alguma forma? A partir daí surgiu o interesse que se transformou neste

trabalho final de Graduação.

Visto desta forma, o presente trabalho tem grande importância no campo da

comunicação, por se tratar de um tema pouco explorado. As temáticas rurais ainda são

pouco vistas em trabalhos de comunicação, assim como ainda representam uma

minoria os jornalistas que se interessam por essa área. Dessa forma, esta pesquisa tem

a intenção de mostrar o público rural como receptor e produtor de sentido da

informação trazida pela televisão, especificamente do Canal Rural. Um outro aspecto

importante de ser mencionado é referente aos trabalhos de recepção na área de

comunicação, que ainda são pouco numerosos, carecendo de atenção por parte dos

pesquisadores.

Assim o referencial teórico está organizado tendo no primeiro capítulo

conceitos sobre o surgimento do telejornalismo e suas implicações na sociedade. No

segundo capítulo é apresentado o jornalismo especializado rural, caracterizado por

oferecer notícias segmentadas ao homem campo. Já em um terceiro momento são

abordados os conceitos de recepção na concepção teórica a partir dos estudos

culturais. No último capítulo do referencial teórico são abordados os conceitos de

apropriação no meio rural, buscando traçar as formas que estas famílias rurais

estudadas entendem o conteúdo veiculado no Canal Rural. A metodologia é definida a

partir dos estudos de recepção, tendo como técnicas de pesquisa o questionário e o

grupo de discussão. A análise é desenvolvida no quarto capítulo, onde são resgatados

os norteadores teóricos destacados no referencial, subsidiando a reflexão do material

empírico produzido através da aplicação do questionário e da realização dos grupos de

discussão, a fim de esclarecer os objetivos desse trabalho. As considerações finais

encerram o texto, sendo apresentada logo a seguir a bibliografia consultada. Os

apêndices com o roteiro do questionário e dos grupos de discussão, assim como a

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transcrição desses instrumentos aplicados estão disponibilizados no final deste

trabalho.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. TELEJORNALISMO

A televisão iniciou suas primeiras transmissões no mundo na década de 30. No

Brasil, ela surgiu no início dos anos 50, tendo como seu idealizador Assis

Chateaubriand, que trouxe a tecnologia de transmissão de imagens para o país. Na

época, Chateaubriand possuía parte do mercado brasileiro de comunicação e teve em

seus empreendimentos uma fase áurea. As primeiras transmissões ocorreram em 18 de

setembro de 1950, quando entrava no ar a primeira emissora de televisão brasileira, a

TV Tupi Difusora de São Paulo.

A televisão é uma área dinâmica que desperta interesse e a preferência dos

telespectadores que buscam nela diferentes possibilidades. Gomes (2004) defende que

a TV é atualmente um dos principais laços da sociedade:

Os receptores são entendidos de início como uma massa de indivíduos anônimos, fácil de conduzir, absolutamente à mercê dos poderosos meios e emissores; ou, o que não é contraditório, como indivíduos socialmente isolados. Mas aos poucos começa-se a levar em consideração características socioestruturais e culturais dos indivíduos que integram a audiência, tais como grau de instrução, classe social, profissão, faixa etária, gênero, e outros mais relativos ao grau e tipo de consumo dos mass media. Vai-se mostrando, pouco a pouco, que os receptores não comparecem vazios à relação com emissores, meios e mensagens. Essas características funcionam como “filtros” ou “instâncias mediadoras” e serão responsáveis por determinar a “seletividade” e, portanto, a limitar os efeitos (GOMES, 2004, p. 225).

A TV é um meio de comunicação que está voltado para atender um público

imenso e heterogêneo. Ela possibilita a relação com o público através das

possibilidades da imagem, sonorização e produção, atingindo assim os principais

sentidos humanos. Wolton (2006) acredita que a TV seja o espelho da sociedade,

porque ela se vê através da televisão, que oferece uma representação de si mesma. Ao

fazer a sociedade refletir-se, a televisão cria não apenas uma imagem e uma

representação, mas a oferece a todos aqueles que a assistem simultaneamente.

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Ela é, além disso, um dos únicos exemplos em que essa sociedade se reflete. Permitindo que cada um tenha acesso a essa representação.(...) Trata-se, portanto, de um laço social tênue, menos forte e menos limitador do que as situações institucionais ou as interações sociais. Mas a força da televisão como laço social vem justamente do seu caráter ao mesmo tempo ligeiramente restritivo, lúdico, livre e especular. É também nisso que ela se mostra adequada a uma sociedade individualista de massa, caracterizada simultaneamente por essa dupla valorização da liberdade individual e da busca de uma coesão social (WOLTON, 2006, p. 124).

O telejornalismo começa a surgir junto à geração das primeiras imagens da

televisão brasileira. O início da produção brasileira de aparelhos de TV, em 1951,

diminui o custo do televisor e o aparecimento de aparelhos nos lares brasileiros é

evidente. Para Barbeiro (2002), a televisão é um fenômeno de massa de grande

impacto na vida social. É um dispositivo audiovisual através do qual a sociedade pode

divulgar os seus feitos, anseios, sonhos e crenças de toda a humanidade.

O telejornal é uma forma de transmitir aos espectadores informações acerca

de todos os acontecimentos importantes. Curado (2002) acrescenta que a

noticiabilidade de um acontecimento é avaliada por profissionais nas redações das

emissoras de TV, responsáveis por julgar se o fato é noticiável. A autora afirma que a

importância de um fato pode estar vinculada à abrangência.

A importância da notícia é geralmente julgada de acordo com a sua abrangência, isto é, segundo o universo de pessoas às quais pode interessar. Esse é o critério mais utilizado em jornalismo de televisão que, dando ênfase ao aspecto da amplitude, pode tender a transformar a notícia em entretenimento ou em espetáculo, tratando apenas de questões amenas ou desprovidas de polêmica (CURADO, 2002, p. 16).

Para entender como as notícias ganham relevância ou não, é necessário ir além

e pensar também em outras lógicas, que não sejam as de interesse público. Vizeu

(2005) acredita que estes fatores estejam, implicitamente, relacionados à construção

daquilo que denomina audiência presumida.

Os fatos constituem um imenso universo de matéria-prima, a estratificação desse recurso consiste na seleção do que irá ser tratado, ou seja, na escolha do que se julga matéria-prima digna de adquirir existência pública de notícia, ser noticiável, ter noticiabilidade. Eles [a noticiabilidadee os valores-notícia] estão relacionados de uma forma implícita numa idéia de construção da audiência (VIZEU, 2005, p. 25).

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A partir dessas considerações pode-se entender que durante o processo de

produção de notícias, a noticiabilidade de um fato pode estar voltada para interesses e

restrições das empresas jornalísticas e para a cultura profissional.

Para compreender melhor esta área específica do jornalismo, seus objetivos e o

público que atinge, no próximo capítulo são abordadas as características do jornalismo

especializado rural, alguns trabalhos que permeiam a pesquisa sobre o tema e algumas

questões norteadoras da presente pesquisa.

2.2. JORNALISMO ESPECIALIZADO RURAL

O jornalismo especializado está relacionado a busca de segmentação do

mercado para atingir grupos separados entre si. Ou seja, o jornalismo especializado traz

diferentes áreas para atrair gostos e interesses diversos.

Muito além de ser uma ferramenta mais eficaz de lucro para os conglomerados midiáticos, o jornalismo especializado é uma resposta a essa demanda por informações direcionadas que caracteriza a formação das audiências específicas. (ABIAHY, 2000, p.5)

Neste sentido pode-se dizer que o jornalismo especializado realiza mudanças

nos paradigmas da informação, visto que proporciona que os laços de coletividade se

desmanchem aos poucos e os indivíduos fiquem cada vez mais fechados em seus

interesses particulares caracterizando assim a formação das audiências específicas.

As publicações especializadas servem como um termômetro da gama de interesses das mais diversas áreas, expõem, então, o nível de dissociação entre os componentes da Sociedade da Informação. Mas por outro lado, podemos considerar que as produções segmentadas são uma resposta para determinados grupos que buscavam, anteriormente, uma linguagem e/ou uma temática apropriada ao seu interesse e/ou contexto. Esses grupos agora encontram publicações ou programas segmentados com o qual possam se identificar mais facilmente. Neste caso, o papel de coesão social no jornalismo especializado passa a cumprir a função de agregar indivíduos de acordo com suas afinidades ao invés de tentar nivelar a sociedade em torno de um padrão médio de interesses que jamais atenderia à especificidade de cada grupo. (ABIAHY, 2000, p. 6)

Na busca de textos para a construção do estado da arte para a presente

pesquisa, foram localizadas algumas publicações e pesquisas já desenvolvidas sobre

este tema. Neste contexto Patrícia Kolling (2006) trabalha “A recepção das

informações jornalísticas ambientais do programa Globo Rural: Os sentidos produzidos

por agricultores familiares do município de Santa Rosa(RS)”. A pesquisa analisa o

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Programa Globo Rural e três famílias de produtores rurais de Santa Rosa, para assim

verificar os sentidos produzidos sobre o meio ambiente por estes agricultores.

Joseline Pippi (2010) também acrescenta colocações a este tema estudando as

“Antigas práticas e novos significados: as relações entre a mídia e o rural na

contemporaneidade. Tendo por base processos de ordem cultural e sociológica, a

reflexão aborda a possibilidade de o espaço rural ter um novo significado frente à

ampliação das relações sociais propiciadas pela globalização e pela amplificação da

mídia, fator que reconfigura o entendimento das semelhanças/diferenças entre rural e

urbano.

Outro estudo relevante sobre o tema é a pesquisa “Canal Rural: O telejornal

Rural Notícias como fonte de informação para o produtor do Distrito Federal”. Ao

analisar o telejornal Rural Notícias e os produtores Rurais do Distrito federal a autora

Lisiane Cardoso (2008) busca verificar como estes produtores rurais, que assistem o

telejornal, utilizam-no como informação jornalística para subsidiar suas atividades no

agronegócio.

No Centro Universitário Franciscano, a hoje jornalista, Leticia Poerschke de

Almeida, também pesquisou sobre o meio rural em seu trabalho final de graduação no

ano de 2012. Sua pesquisa refletiu sobre a temática das relações entre mídia, rádio e

recepção junto ao público do meio rural. O trabalho buscou entender o processo de

recepção do rádio a partir deste público segmentado composto por pessoas que vivem

no campo. Por meio da pesquisa a autora esclarece o processo de recepção, as

mediações e os sentidos do rádio na vida destes ouvintes. O objetivo geral da pesquisa

foi de verificar, através do estudo de recepção, o papel do rádio no contexto rural e, por

meio do trabalho de campo, analisou-se os modos de como os ouvintes se apropriam e

fazem uso dos conteúdos propostos pelo programa matinal Show da Manhã veiculado

na Rádio14 de Julho AM, da cidade de Júlio de Castilhos.

A partir da busca por esses estudos relacionados ao presente tema, alguns se

tornaram fonte de informação para realização dessa pesquisa por possuírem maior

afinidade com este trabalho. A pesquisa de Lisiane Cardoso (2008) que foca

especificamente em um programa do Canal Rural é uma delas.

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Para a autora, a comunicação com agentes do mesmo setor é imprescindível

para produtores rurais que buscam o aperfeiçoamento e a informação. A mídia, em

especial a televisão (por ser um veículo de grande abrangência), tem um papel

fundamental neste caso. A televisão possibilita aos agentes do agronegócio o

fornecimento de informações sobre o meio em que atuam e sobre o cenário nacional e

internacional do agronegócio. Dentro desse cenário a informação especializada, com

informações e editorias voltadas para o setor rural, cresce no Brasil. A autora acredita

que o jornalismo de Agronegócio hoje trata de questões amplas da agricultura. Com

essa modernização a editoria rural ganhou força no Brasil e pode se tornar uma editoria

autônoma e com faturamento próprio. Esse tipo de jornalismo teve a contribuição

pioneira de alguns veículos como Balde Branco e A Lavoura, o programa Globo Rural

e a revista também com o mesmo nome da editora Globo, há mais de um século no

Brasil.

Além do Canal Rural, outros canais de televisão praticam o jornalismo voltado

para noticias da área rural. É o caso do Canal do Boi e Canal Terra (do grupo

Bandeirantes). Esta segmentação tem origem nos anos 60 quando são registradas as

primeiras abordagens das temáticas rurais. Isso em decorrência da modernização do

campo, da existência de um mercado consumidor deste tipo de informação, um

mercado de anunciantes e principalmente a expansão da televisão para todo o país.

Cardoso (2008) acrescenta que a consolidação desta relação se dá em 1996 com

a criação de um programa voltado totalmente a esta temática. O Canal Rural foi o

primeiro canal que direcionou sua temática apenas para o meio rural, e permaneceu

nesta vantagem durante um ano. Nestes 12 anos de existência, o Canal Rural construiu

credibilidade junto aos pares do agronegócio.

Considera-se que o uso da informação dos meios de comunicação pode

melhorar o nível de conhecimento do público e contribuir para o desenvolvimento do

seu trabalho. Ivo Martins Cezar comenta a importância de informação para o trabalho

profissional dos agricultores:

Os produtores rurais estão cada vez mais dependentes de informação e tecnologia para tomarem decisões que atendam as suas necessidades de produção e satisfaçam novas demandas da sociedade. Questões ambientais e mudanças políticas, econômicas, sociais e exigências do consumidor surgem como forças no desenvolvimento rural contrastando com a dominância de abastecimento de mercado

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que estimulou a produção agrícola e a “revolução verde” no passado. (CÉZAR, 2001, p. 20)

Para entender a dinâmica dos trabalhadores do setor rural na busca por

informação que subsidie suas atividades econômicas, Ana Paula da Silva (2005)

estudou os meios de comunicação mais utilizados e considerados confiáveis pelos

agentes do agronegócio. No estudo, a Internet lidera com vantagem sobre a

comunicação pessoal, segunda colocada no ranking dos meios mais utilizados na

busca por informação agropecuária; e a TV supera o rádio e também os jornais

regionais, ficando apenas atrás da internet, tanto no quesito meio mais utilizado

quanto o de maior confiança. Quando a pergunta enfoca o canal de que mais gosta, a

TV passa na frente também dos boletins de entidades de classe ou cooperativas. Silva

(2005) considera que as trocas de informações primárias com membros do próprio

meio são necessárias, mas ao mesmo tempo insuficientes para subsidiar as decisões.

As trocas entre mídia e produtores rurais são essenciais para o

desenvolvimento no campo. O público rural pode ter acesso a informações de todo o

mundo a respeito dessa área, podendo assim se profissionalizar e aumentar sua

produção rural.

Para refletir sobre essa relação, entre o público rural e o jornalismo

especializado rural, nesta pesquisa é utilizada também a vertente dos estudos

culturais, especificamente no campo da recepção.

2.3 A RECEPÇÃO NA CONCEPÇÃO TEÓRICA

Segundo Escosteguy (2001), os estudos culturais devem ser vistos tanto pela

ótica política, quanto pela teórica. Na visão política eles estão ligados à constituição de

um projeto político e na teórica na intenção da criação de um novo campo de estudos.

Com relação à perspectiva teórica, são resultados da insatisfação com os limites de

algumas disciplinas e propõem, então, a interdisciplinaridade.

A autora descreve os estudos culturais como uma área onde diversas

disciplinas interagem buscando o estudo de práticas culturais da sociedade. Assim, a

comunicação de massa é observada como integrada às demais práticas da vida

cotidiana e, a partir disso, essas atividades sociais são percebidas como processos de

produção de sentido. Ou seja, os estudos culturais tratam a cultura como algo amplo,

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considerando que a cultura está em tudo. Assim o receptores da informação a

interpretam a partir de valores culturais que carregam. Neste sentido é necessário

entender a recepção como um processo metodológico.

Pode-se falar em recepção para designar quaisquer práticas de recepção

midiática, pois seu uso já está consolidado “tanto para designar as relações que se

estabelecem entre os membros da audiência e os meios, quanto para denominar a área

de estudos sobre tais questões” (JACKS e ESCOSTEGUY, 2005, p. 14). É importante

ressaltar também que, conforme as autoras, a adequação ou não do termo recepção para

a denominação das relações das pessoas com os meios de comunicação é bastante

discutido, pois muitos autores ainda entendem a recepção como uma palavra que

designa pessoas que se submetem a mensagem sem autocrítica ao discurso, sem leitura,

sem interpretação.

Contribuindo com as definições deste processo metodológico Lopes (2000)

observa que o estudo do processo de recepção é uma perspectiva de investigação que

tenta superar a investigação fragmentadora e, portanto, redutora do processo de

comunicação em áreas autônomas da análise: da produção, da mensagem, do meio e da

audiência, integrando todas as áreas em um só estudo.

Assim, a recepção é um contexto complexo, em que, ao mesmo tempo em que

pessoas vivem o seu dia a dia, se inscrevem em relações de poder históricas, que

extrapolam as práticas cotidianas. Martín-Barbero (2003) explica os estudos da

recepção como um espaço da produção de sentidos das comunicações. Não é somente

uma etapa no interior do processo de comunicação, um momento separável em termos

de disciplinas, de metodologia. “É uma espécie de um outro lugar, o de rever e

repensar o processo inteiro da comunicação, da produção a recepção, em nossos países,

em nossas culturas, em nossas sociedades” (MARTÍN-BARBERO, 2002, p. 42). Seria

um espaço de entender as diferentes formas através das quais as pessoas entendem e

interpretam os conteúdos midiáticos.

Por isso, de acordo com os estudos culturais, “a pesquisa de comunicação não é

a que focaliza estritamente os meios, mas a que se dá no espaço de um circuito

composto pela produção, circulação e consumo da cultura midiática” (JACKS e

ESCOSTEGUY, 2005, p. 39). Assim, as autoras afirmam que este campo está

21

interessado na relação entre textos, grupos sociais e contextos, ou ainda, entre práticas

simbólicas e estruturas de poder. Pode-se dizer que os estudos culturais transformaram

a cultura como um processo global de produção de sentido, mas também deram espaço

para a cultura popular.

O interesse central dos estudos culturais é perceber as intersecções entre as estruturas sociais e as formas e práticas culturais. Assim, a análise dos meios de comunicação pelo prisma dessa perspectiva, na América Latina, é vista como comunicação, mas em relação à cultura e aos processos políticos, isto é, como parte da problemática do poder e hegemonia. (ESCOSTEGUY, 2001, p.49)

Do mesmo modo, o receptor deixa de ser visto apenas como um agente

passivo do processo de comunicação e passa a ser observado também como um

produtor de sentidos que interpreta o que é emitido. Jacks (2006) explica esse modo

de entender os telespectadores:

Os receptores, por sua vez, são concebidos como produtores de sentido, que negociam, reinterpretam e reelaboram as mensagens dos meios, segundo características como idade, sexo, etnia, grupo social, personalidade, caráter e valores, assim como por influência de agentes sociais como a família, escola, religião, partido político e empresa, ou ainda conforme a sua identidade cultural e vivência cotidiana, ou seja, segundo determinadas mediações. Os estudos comportamentais centram-se mais nos aspectos individuais dos receptores, pois a recepção dependeria dos interesses e características de cada um, pautada por aspectos mentais e predisposições psicológicas. (JACKS, 2006)

Assim, os receptores são vistos como seres críticos, capazes de interpretar o

que lêem, ouvem ou vêem, podendo assim julgar o que querem e o que não querem

levar disso para sua vida pessoal. Aqui o receptor não é omisso e sim capaz de

interpretar a partir de suas vivências e impressões.

Neste sentido, Kolling (2006) afirma que o espaço da mediação promove a

articulação entre os processos de produção de sentido em torno dos meios de

comunicação e outras práticas cotidianas de significação. Sendo assim, é necessário

estudar a recepção dos meios a partir das mediações e tornar assim a cultura como

espaço de reflexão para a comunicação. Então, pode-se entender os estudos sócios-

culturais como um espaço onde não há um emissor onipotente manipulando um

passivo e sim um processo duplo, onde há negociação e exploração de sentidos. E é

neste contexto que existem as mediações.

22

Assim, Martín-Barbero (2003) define o conceito de mediação para poder

identificar a interação entre produção e recepção. Em um pensamento inicial, o autor

estabelece que as mediações são lugares que estão entre a produção e a recepção. E é

por esse eixo que, primeiramente, o autor sugeriu três hipóteses de mediações que

interferem e alteram a maneira como os receptores recebem os conteúdos midiáticos.

São eles: a cotidianidade familiar, a temporalidade social e a competência cultural.

A cotidianidade familiar seria o espaço em que as pessoas se confrontam e se

unem ao mesmo tempo, através da interação dos sujeitos com as instituições. Já a

temporalidade social coloca em oposição o tempo do cotidiano com o produtivo, ou

seja, o tempo da televisão e o tempo diário de trabalho das pessoas. E, por último, a

competência cultural deve ser entendida como um produto do cotidiano das pessoas,

sendo relacionadas a questões étnicas e de gênero, por exemplo.

Mais tarde, em um avanço de sua reflexão, Martín-Barbero (2009) apresenta

novas dimensões de mediações: sociabilidade, ritualidade e tecnicidade. A primeira se

refere à interação constante do indivíduo com o poder e com as instituições. A

ritualidade aborda as rotinas de trabalho relacionadas com a produção cultural. Já a

tecnicidade trata das características do próprio meio televisivo, ou seja, está voltada

para os estudos sobre produção e recepção. Optou-se, neste trabalho monográfico, por

fazer a análise utilizando as mediações inicialmente propostas por Martín-Barbero

(2003), visto que, em uma observação inicial, os casais analisados utilizam essas

mediações fortemente. Assim o presente trabalho busca entender de que forma esse

produtores e produtoras rurais se apropriam dos programas do Canal Rural, mesmo

com as tarefas do dia-a-dia.

3. METODOLOGIA E CORPUS DE PESQUISA

Diante dos apontamentos relevantes ao desenvolvimento de um estudo de

recepção, determinaram-se as técnicas de coleta de dados que melhor satisfazem a

proposta dessa pesquisa: o questionário e o grupo de discussão. Para entender a fundo

o conjunto de respostas obtidas no grupo de discussão será feita uma análise a partir de

conceitos apresentados por Martín-Barbero.

23

3.1. ESTUDOS DE RECEPÇÃO COMO PRÁTICA METODOLÓGICA

Os estudos de recepção são recentes no campo da comunicação social,

realizados a partir da década de 1980, e enfatizam as disputas ideológicas no processo

de comunicação, através da pesquisa qualitativa. Esse tipo de pesquisa considera o

estudo dos receptores enquanto participantes ativos do processo de comunicação.

Quando se pretende estudar a interação mídia/receptor – como é o caso deste

trabalho –, a pesquisa de recepção é a mais adequada. “A recepção é concebida como

um processo de apreensão e reapropriação das mensagens por parte dos receptores”

(BUDAG e BACCEGA, 2008, p. 3). Sendo assim, o objetivo é identificar e analisar os

possíveis sentidos que a audiência constrói frente às mensagens midiáticas.

Considera-se, portanto, que o estudo de recepção recai sobre o receptor, com o

intuito de observar quais significações este define a partir do que lhe foi emitido

(BUDAG e BACCEGA, 2008). A ênfase é aplicada nas interpretações passíveis de

serem identificadas nos grupos sociais formados a partir de receptores com

características similares, levando em consideração, sobretudo, o contexto social e

cultural em torno desses indivíduos. Por isso, pode-se classificar este estudo como uma

pesquisa de natureza qualitativa.

3.2. NATUREZA DA PESQUISA: QUALITATIVA

Conforme explica Gil (2002) a pesquisa é um procedimento racional e

sistemático que visa proporcionar respostas aos problemas que são propostos. O

objetivo principal da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o

emprego de procedimentos científicos.

Neste estudo a pesquisa pode ser classificada como de natureza qualitativa.

Conforme Godoy (1995), os estudos de pesquisa qualitativa diferem entre si quanto ao

método, à forma e aos objetivos.

24

Bodgan apud Trivinõs (1990) destaca algumas características que são

fundamentais para este tipo de pesquisa: ter o ambiente natural como fonte direta dos

dados e o pesquisador como instrumento-chave, ser descritiva, ser preocupada com o

processo e não simplesmente com os resultados e o produto, analisar dados

indutivamente e ter como preocupação principal o significado.

Dessa forma, o presente estudo utiliza a pesquisa qualitativa a partir de algumas

técnicas exploratórias que têm como objetivo entender como a programação do Canal

Rural é recebido por três casais da comunidade rural de São Sepé.

3.3. TÉCNICA DE PESQUISA: 3.3.1 Questionário:

Segundo Gil (2006) o questionário pode ser definido como uma técnica

investigativa que tem o propósito de obter conhecimento a respeito de determinado

assunto. O questionário compõe-se através de perguntas previamente elaboradas de

forma objetiva, contendo alguns elementos que determinam o objetivo da pesquisa.

Dessa maneira, Gil (2006) destaca uma série de vantagens do questionário com

relação às entrevistas, conforme citado abaixo:

• Possibilita atingir grande número de pessoas, mesmo que estejam dispersas em

uma área geográfica muito extensa, já que o questionário pode ser enviado pelo

correio;

• Implica em menores gastos com pessoal, posto que o questionário não exige o

treinamento dos pesquisadores;

• Garante o anonimato das respostas;

• Permite que as pessoas o respondam no momento em que julgarem mais

conveniente;

• Não expõe os pesquisados à influência das opiniões e do aspecto pessoal do

entrevistado;

Mas, como toda a técnica de pesquisa, o questionário também apresenta alguns

pontos negativos como o fato de excluir as pessoas que não sabem ler nem escrever de

25

responder as perguntas e também a questão do número de questões, que deve ser

pequeno para que não corra o risco de ficar alguma questão sem resposta. Dessa forma,

ressalta-se ainda mais a importância da elaboração minuciosa das perguntas por parte do

pesquisador.

As questões devem ser objetivas, mas apresentar conteúdo. Elas podem ser

organizadas de forma aberta (dando a oportunidade do entrevistado responder da

maneira que julgar melhor) ou fechada (oferecendo alternativas para o entrevistado

escolher e apenas marcar a que melhor se adéqua a pergunta).

Neste caso foi utilizado o questionário aberto, para dar maior liberdade aos

entrevistados e possuir assim uma maior quantidade e qualidade de detalhes. Dessa

forma, foi apresentado aos entrevistados um questionário com vinte e três perguntas

para traçar um perfil desses sujeitos. Todas as perguntas e respostas foram gravadas

para que nenhum dado fosse esquecido, ao mesmo tempo em que a pesquisadora ia

fazendo anotações . A partir do perfil construído seguindo as respostas do questionário

foi possível definir com maior clareza as questões a serem abordadas no grupo de

discussão, assim como conhecer melhor cada um dos entrevistados. As respostas do

questionário apresentaram os primeiros indícios do que se poderia encontrar em termos

de interpretações, usos e apropriações dos conteúdos televisivos.

3.3.2. Grupo de discussão:

Os grupos de discussão começaram a ser utilizados nas pesquisas empíricas a

partir dos anos 50 do século passado. Alguns autores acreditam quem para que eles se

tornem método é necessário interação e aspectos discursivos de interação entre

pesquisadores e fontes. Weller (2006) explica este método:

As opiniões de grupo (Gruppenmeinungen) não são formuladas, mas apenas atualizadas no momento da entrevista. Em outras palavras: as opiniões trazidas pelo grupo não podem ser vistas como tentativa de ordenação ou como resultado de uma influência mútua no momento da entrevista. Essas posições refletem acima de tudo as orientações coletivas ou as visões de mundo do grupo social ao qual o entrevistado pertence. (WELLER, 2006, p. 245)

Assim, as opiniões discutidas em grupo não são uma soma e sim uma mistura de

aspectos coletivos. Ainda segundo Weller (2006) os grupo de discussão podem ser

26

entendidos como um instrumento onde o pesquisador reconstrói diferentes aspectos

sociais:

Seu objetivo principal é a análise dos epifenômenos (subproduto ocasional de outro) relacionados ao meio social, ao contexto geracional, às experiências de exclusão social, entre outros. A análise do discurso dos sujeitos, tanto do ponto de vista organizacional como dramatúrgico, é fundamental e auxiliará na identificação da importância coletiva de um determinado tema. (WELLER, 2006, p. 247 )

O trabalho de campo exige não só o domínio metodológico, como também um

conhecimento sobre o tema, área estudada, a situação das pessoas pesquisadas. Assim

o pesquisador deve escolher as técnicas adequadas para o estilo de determinado grupo.

A autora ainda estabelece a diferenciação entre grupos focais e grupos de

discussão. Os grupos focais, segundo a autora, são utilizados normalmente em

pesquisas da área da saúde, onde o papel do entrevistador se confunde com a de um

jornalista moderador, que é o responsável pela organização das falas e do conteúdo.

Além disso, os entrevistados não precisam se conhecer e nem ter vínculos. Essas

características fazem dos grupos de discussão um procedimento distinto aos grupos

focais, uma vez que o objetivo principal desse tipo de entrevista é a obtenção de dados

que permitam a análise do meio social dos entrevistados, assim como suas visões de

mundo. Dessa forma, os grupos de discussão se caracterizam por ser um instrumento

por meio do qual o pesquisador estabelece uma via de acesso que permite a

reconstrução da vida diária do grupo. O objetivo principal deste método é a análise de

fatores referentes ao meio social, ao contexto das gerações, entre outros.

Neste trabalho o grupo de discussão foi escolhido por ser simples e de fácil

compreensão, como os objetos de estudo. Dessa forma, várias informações a respeito

da programação do Canal Rural foram colhidas através da realização de grupos de

discussão com os produtores rurais analisados. Neste caso, foram executados três

grupos de discussão: um com todos os casais reunidos e os outros dois por gêneros

(homens e mulheres separados). A opção de fazer um novo grupo de discussão por

gênero foi para que eles se sentissem mais livres em falar distantes dos maridos e

esposas, já que no primeiro encontro havia muita repetição do que o outro falava.

3.4. OBJETO EMPÍRICO: O CANAL RURAL

27

O Canal Rural foi criado em 1996 através de uma parceria entre o Grupo RBS e

a GloboSat. Em 1996 o veículo foi criado em São Paulo e, no ano seguinte, a sociedade

com a Globo terminou e a sede do Canal foi para Porto Alegre, onde ficou até 2008. Em

1999 o Canal iniciou a transmissão de leilões, marcando uma nova fase para o veículo e

para a pecuária nacional. Com esse crescimento foram abertas sucursais em Londrina,

no Paraná, Campo Grande, em Mato Grosso do Sul e Uberaba, em Minas Gerais.

Em 2007 o Canal Rural começou o processo de nacionalização de seus

conteúdos com a consultoria do publicitário Nizan Guanaes. Naquele ano houve uma

grande mudança de programação e da marca do Canal. Em 2008, o Canal Rural ganhou

diversos novos programas e iniciou as transmissões de provas de rodeios e competições

eqüestres. Em 2010, foi aberta a sucursal de Cuiabá, em Mato Grosso. Neste mesmo

ano, foi lançado o C2Rural, site de transmissão de leilões e eventos ao vivo pela

internet. Em 2011 foi aberta a sucursal de Petrolina, em Pernambuco e lançado o novo

portal de internet da plataforma Rural do Grupo RBS, o Rural BR.

Atualmente o Canal passa por mudanças, visto que no início deste ano, o

Grupo RBS vendeu o Canal Rural ao Grupo J&F. Para a RBS, a mudança fez parte de

uma estratégia de expansão nacional via negócios digitais e foco na operação sul de

mídias tradicionais. Neste contexto instaurou-se um processo de venda do veículo, que

durou cerca de um ano e o Grupo J&F foi o vencedor. Hoje o Canal Rural conta com 77

jornalistas, 32 programas na grade, sendo 17 destes de jornalismo.

Neste capítulo, destinado ao objeto empírico dessa pesquisa, vale salientar

algumas mudanças que ocorreram durante a realização da mesma. Em um primeiro

momento o objeto principal a ser analisado seria o telejornal Bom dia Campo, mas

através dos primeiros encontros e aplicação do questionário pôde-se perceber que eles

não têm fidelidade a um único programa e sim ao Canal Rural como um todo. As

questões que explicam essa preferência pela programação geral do Canal Rural estão

presentes na análise dessa pesquisa, onde os casais entrevistados se mostram aprendizes

com o Canal Rural, independente de seus horários de exibição. Através da

temporalidade social, uma mediação proposta por Martín-Barbero, mesmo não estando

o tempo todo na frente da TV, eles sabem os programas que gostam de acordo com os

horários de intervalo do trabalho no campo.

28

A programação do Canal Rural é diversificada e tem alguns programas que

possuem horário fixo e outros que são intercalados. Além disso, a programação muda

durante os finais de semana, que são destinados, na maioria das vezes, a leilões. Os

programas apresentam informação, entretenimento, valores de produtos agrícolas, assim

como o ensinamento de práticas artesanais. O horário de veiculação de alguns

programas muda durante os dias da semana, sendo também reprisado em horários

diferentes, mas isso não impede que os telespectadores tenham fidelidade à

programação, visto que conhecem o conteúdo de cada programa e assim sabem em que

horário assistir o Canal Rural. Abaixo, a descrição dos principais programas fixos da

emissora que foram citados também pelos produtores rurais estudados:

Técnica Rural - Didático e explicativo, o Técnica Rural aborda temas sobre

agricultura, pecuária, gestão e inovação, além de trazer alternativas de cultivo e criação

para os produtores de todo o Brasil. O objetivo é apresentar técnicas para melhorar o

desenvolvimento das lavouras e aumentar a produtividade nas propriedades, sempre

com a participação de pesquisadores, técnicos e profissionais das áreas específicas de

cada segmentação. O programa vai ao ar sempre às 6h com reprise às 18h.

Bom Dia Campo – Apresenta as primeiras notícias do dia e serviço no

amanhecer do Brasil do campo. Antes de sair de casa e para orientar os trabalhos na

lavoura, os produtores rurais podem se atualizar dos destaques como a previsão do

tempo. Tem ainda as manchetes dos principais jornais do Brasil, além de entrevistas de

análises de mercado, tecnologia e inovações no campo. O Bom Dia Campo também traz

música diariamente, abrindo espaço para consagrados cantores e novos talentos da

música brasileira. A apresentação é de Renata Maron e o programa vai ao ar de segunda

a sexta-feira às 7h.

Mercado e Companhia – Traz as principais informações do mercado agrícola e

financeiro. Análises dos acontecimentos que influenciam o setor e entrevistas que

esclarecem dúvidas sobre os assuntos que movimentam o mercado. O produtor Rural

pode tira dúvidas através do Fala Produtor ligando para o número 0800 541 58 58. A

apresentação é de João Batista Olivi e Kellen Severo. O programa vai ao ar de segunda

a sexta-feira em três horários: às 8h30, ao meio dia e meia e às 18h30.

29

Arte Brasil – O Arte Brasil é um programa totalmente voltado para o artesanato

que apresenta as mais variadas técnicas e dicas para ajudar o telespectador a aprender

todos os detalhes de maneira simples e fácil. O programa incentiva a prática do

artesanato como uma fonte de renda, um hobby ou uma terapia, e colabora com ideias

atuais e inovadoras como a reciclagem. A apresentação é de Rogério Chiaravalli e o

programa vai ao ar de segunda a sexta-feira às 15h.

Rural Notícias – O programa apresenta as principais notícias do agronegócio,

sempre com uma análise completa. Um telejornal dinâmico e moderno, que traz os

últimos fatos relevantes do setor, além de correspondentes na Bolsa de Mercadorias e

Futuros e Agência Safras. Daniela Castro traz as informações que mais impactaram o

dia em Brasília. Os apresentadores são Alessandra Mello e Marcio Fernandes. O

telejornal vai ao ar às 19h e reprisa à meia noite.

Horse Brasil - Com foco nos esportes equestres, o Horse Brasil tem espaço para

todas as raças equinas e suas modalidades esportivas: tambor, baliza, polo, hipismo,

apartação, doma. Além disso, o programa visita os principais haras do país e mostra os

detalhes da criação de cavalos quarto-de-milha, árabe, lusitano, pampa, campolina, puro

sangue inglês, paint horse, entre outros. A apresentação é por conta de Hermano

Henning e o programa vai ao ar de segunda a sexta-feira às 20h30.

Pecuária em Foco - O Pecuária em Foco apresenta as melhores opções de

negócios aos criadores. O programa visita os grandes projetos de pecuária, os

importantes eventos do setor, mostra as empresas e suas técnicas de melhoramento

genético e também os animais que fazem a diferença. O programa vai ao ar de segunda

a sexta-feira às 20h45.

Além dessa programação fixa, o Canal Rural também apresenta leilões em

horários alternativos, principalmente nos finais de semana. Programas como o “E Por

Falar em Vinhos”, que mostra a produção de vinícolas conceituadas, “Na Estrada”,

onde a equipe do Canal Rural percorre caminhos junto com caminhoneiros para mostrar

a supersafra de grãos, “Radar” que mostra os bastidores da vida de profissionais que

desenvolvem tecnologias para o agronegócio, entre outros, fazem parte da programação

da programação fixa da emissora, mas que dependendo do dia da semana é veiculada

em horários diferentes.

30

3.5 LOCALIDADES PESQUISADAS

O município de São Sepé situa-se na região central do Rio Grande do Sul,

possuindo uma superfície de 2.056,80 km², distando 270 km da capital Porto Alegre.

Limita-Se ao norte com Santa Maria, Formigueiro e Restinga Seca, ao sul com

Caçapava do Sul, a oeste com São Gabriel e Vila Nova do Sul e a leste com Cachoeira

do Sul, possuindo um clima temperado com temperatura média anual de 20ºC e

precipitação média anual em torno de 1.700 mm.

Segundo a Emater de São Sepé, político-administrativamente o município está

organizado em 5 distritos: 1º distrito, São Sepé; 2º distrito, Cerrito do Ouro; 3º distrito,

Jazidas; 4º distrito, Vila Block e 5º distrito, Tupanci.

Seu relevo é aproximadamente 30% plano, 50% ondulado e 20% muito

ondulado, sendo que 70% das terras são consideradas próprias para agropecuária. Há

uma bem distribuída rede hidrográfica, constituída por numerosos córregos e riachos

afluentes dos três principais rios que cortam o município: São Sepé, Santa Bárbara e

Vacacaí, pertencentes a bacia do Rio Vacacaí.

A população total do município apresenta decréscimo nas últimas décadas,

devido a significativas diminuições na população rural, sendo que parte dessa redução

deve-se ao desmembramento do distrito de Vila Nova do Sul, transformado em

município em 1992. Segundo o último Censo Demográfico, a população total do

município era de 24.926 habitantes, das quais 5.695 pessoas residentes em áreas rurais,

correspondendo a 23,13% da população total (IBGE, 2000).

A economia primária do município possui como principal cultivo agrícola, o

arroz irrigado com características de intensificação tecnológica. Também se destaca o

cultivo de soja, com tendência de crescimento econômico e área nos últimos anos,

embora o atual desempenho negativo da cultura, devido a questões climáticas e baixo

preço do produto em função de flutuações cambiais.

Na área de criações, a bovinocultura de corte é a atividade de maior tradição

histórica no município, tendo constituído-se no principal sustentáculo econômico nos

primórdios da criação do município, adaptando-se à perda de espaços para os novos

31

cultivos agrícolas através de alguns avanços e melhorias tecnológicas, mantendo-se

praticamente estável (190 mil cabeças em 1990 e 145 mil cabeças em 2002). Já a

ovinocultura, outra criação importante na história do município, apresentou severo

declínio, similar ao que ocorreu a nível estadual, passando de um rebanho de 120 mil

cabeças para as atuais 31 mil cabeças em 2004 (IBGE, 2004).

3.5.1 Perfil das famílias rurais:

Para a realização desta pesquisa três casais foram selecionados através de uma

semelhança de idade, classe social, nível de escolaridade e profissão. Todos moram em

comunidades rurais de São Sepé e têm ensino fundamental incompleto. Em conversa

realizada previamente todos demonstraram gosto e interesse pelo Canal Rural, aceitando

participar da pesquisa. Além disso, todos os casais se conheciam e possuíam vínculos de

amizade, o que caracteriza o método de grupo de discussão escolhido. Com o intuito de

traçar os perfis dessas pessoas, foi realizado um questionário, e este foi aplicado

pessoalmente em encontros separados com cada casal na casa da pesquisadora. Mesmo

que cada casal estive junto na hora de responder ao questionário, cada um respondeu as

questões individualmente e, como já foi citado anteriormente, as respostas foram todas

gravadas para não perder nenhum detalhe do que foi dito por eles. Optou-se por essa

forma de “preencher” o questionário, em vez de cada indivíduo respondê-lo a caneta,

por se acreditar que através do diálogo e das perguntas “faladas” haveria menos

probabilidade de deixar passar alguma informação que fosse importante, e também pelo

fato dos entrevistados terem pouca instrução formal e não terem muita habilidade com a

escrita. Deste modo, a pesquisadora pode mediar as questões, para que ficasse clara

cada pergunta, obtendo-se uma resposta igualmente clara, dentro do pretendido a partir

da produção do questionário.

Na localidade de Jazidas, que fica a 30 quilômetros do município, o casal

escolhido para ser estudado foi José Paulo Nascimento, de 70 anos, e Maria Célia

Nascimento, de 68 anos. José Paulo tem como base de seu trabalho a agricultura, com

ênfase na criação de gado e plantação de grãos. Sua mulher é responsável pelos afazeres

domésticos e ajuda no trabalho do campo.

Os dois vivem na zona rural desde que nasceram e estão satisfeitos com a vida

que levam, apesar de alguns problemas citados por José Paulo: “No setor primário a

32

gente encontra dificuldade em financiamento e comercialização. Esses são fatores que

mais nos preocupam”. As atividades de lazer são comuns aos dois: a participação em

Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e grupos artísticos. Os dois foram da patronagem

de CTG por mais de trinta anos e também foram fundadores de um Grupo de Arte

Nativa em São Sepé. Eles têm uma filha psicóloga que trabalha na cidade e um filho

que trabalha no campo junto com os pais. Quando indagados sobre a mídia, os dois

relembram o surgimento do rádio, ainda quando eram crianças e, depois, a chegada da

televisão.

Durante o dia, quem mais assiste aos programas é Maria Célia, que fica

responsável pelos afazeres da casa, mas também vê à programação:

“Eu gosto muito de olhar a novela, mas o Canal Rural está sempre ligado

porque dá a função de agronegócio e metereologia. Eu gosto muito da parte de

artesanato e música também.” (Maria Célia)

Quando termina os afazeres do campo, no final da tarde, José Paulo acompanha

a esposa em frente a TV com a companhia do chimarrão. Ficar atualizado a respeito da

área de trabalho é a principal motivação do casal em assistir o Canal Rural.

“Gosto de todos os programas que falam sobre o gado leiteiro, onde explica o

manejo de vaca, da pastagem. É importante saber e estar atualizada” (Maria Célia)

Já na localidade de Lageado Grande, que fica a 20 quilômetros de São Sepé, o

casal escolhido foi Franscisco Auri Schroder, de 59 anos, e Veroni Penteado Schroder,

de 54 anos. Franscisco é produtor rural de médio porte e também se dedica a criação de

gado. Veroni também é produtora rural, faz o trabalho de casa, e tem uma paixão como

atividade: o artesanato. Eles têm dois filhos, a mais velha é professora e trabalha em

uma escola na cidade. O filho mais novo trabalha no campo junto com os pais. Os dois,

assim como José Paulo e Maria Célia, moram no campo desde que nasceram e não

pensam em se mudar para a cidade como mostram os trechos da entrevista abaixo:

“Eu amo viver aqui. A paz me motiva a viver no campo, eu tenho tudo que eu

posso ter na cidade e ainda tenho mais a paz, o silêncio e o contato com a natureza”

(Veroni)

33

“Ontem tava conversando com a Veroni. Cidade só pra ir e voltar. Me criei

para fora.” (Francisco)

Veroni considera como lazer receber a família e os amigos em sua casa, já

Francisco tem os rodeios campeiros como principal atividade de lazer. Os dois assistem

a programação do Canal Rural quase sempre juntos, normalmente no intervalo de

almoço e no final da tarde, mesmo que o assunto não seja de interesse dos dois.

Francisco tem acesso somente ao rádio e a TV, já Veroni domina também a internet.

Para os dois, além de aprenderem sobre o meio em que vivem, o Canal Rural

proporciona uma visão mais leve da vida, sem tragédias e notícias tristes, como

demostram os trechos da entrevista abaixo:

“Me motiva porque os acontecimentos trágicos eu não gosto. Já pulo para

outro canal. No canal rural, por exemplo, tem programas que eles vão na fazenda e

cmostram como fazer. É muito importante. Tu aprende muita coisa. Tem muita coisa

que tu aprende mais do que tu sabe”. (Francisco)

Em Tupanci, localizado há 33 quilômetros da cidade, o casal escolhido foi João

Antônio Neves Pinto e Zelma Wegner Pinto, de 69 e 60 anos respectivamente. João se

dedica a criação de gado e Zelma ajuda nos afazeres domésticos, além de fazer doces

para festas. O casal também vive no campo desde a infância e não pretendem se mudar

para a cidade, pois acreditam que têm tudo o que precisam no campo. Eles têm uma

filha professora que leciona na cidade e também em uma escola rural.

O momento de assistir TV para os dois é a tardinha, depois dos afazeres.

Normalmente eles assistem junto à programação do Canal Rural tomando chimarrão.

João tem uma motivação única pelos programas: a paixão por cavalos, como mostra o

trecho da entrevista abaixo:

“A minha atividade é campeira, é lidar com bicho, com cavalo e gado. Então

quanto mais assiste, mais aprende. Sou um apaixonado por cavalos e isso me motiva

a assistir.” (João)

Zelma acompanha o marido nas programações referentes ao campo, mas

também possui a sua preferência: a culinária. Ela afirma que muitas das receitas que faz

hoje, aprendeu com o Canal Rural.

34

Os filhos que ajudam no trabalho da propriedade rural dos pais moram em

casas separadas. Dessa forma não convivem diariamente nos momentos de lazer dos

pais, onde esses assistem TV e discutem sobre o que vêem. Mesmo assim, o que os

casais aprendem eles repassam para os filhos, como uma forma de aprendizado de novas

técnicas campeiras.

Depois de traçar este perfil individual dos casais pode-se perceber mais ainda a

afinidade que eles possuem com o tema estudado. Mesmo com algumas diferenças na

forma de trabalho, de valores e de pensar a vida, todos conseguem se mostrar abertos a

possibilidade de aprender, não só com o Canal Rural, mas também com o outro. Então,

a partir da realização desse questionário, foi marcado o primeiro grupo de discussão

com todos os casais, para explorar ainda mais o objeto empírico desta pesquisa.

35

4. ANÁLISE

O primeiro encontro com todos os casais foi realizado na propriedade rural de

Francisco e Veroni. Todos chegaram no horário marcado e se mostraram dispostos a

participar e agregar ainda mais à pesquisa.

Num primeiro momento foi explicado que as perguntas seriam mais no sentido

de indicar o caminho da discussão e que seriam destinadas a todos para que cada um

expusesse sua opinião. Também foi avisado que toda a discussão seria gravada, mas que

a conversa poderia ser natural e que eles não precisariam se preocupar com o uso do

gravador. Todos entenderam e não demonstraram nenhuma reação contrária ao fator.

Como já mencionado anteriormente, para analisar o material colhido nos grupos

de discussão, serão utilizados conceitos propostos por Martín-Barbero (2003): a

cotidianidade familiar, a temporalidade social e a competência cultural. Antes de

propor esses conceitos o autor explica as mediações a partir da televisão. Para ele,

mesmo com as novas tecnologias, a mediação a partir da qual esse meio opera social e

culturalmente não parece estar sofrendo mudanças na América Latina.

Por isso, em vez de fazer as pesquisa a partir da análise das lógicas de produção e recepção, para depois procurar suas relações de imbricação ou enfrentamento, propomos partir das mediações, isto é dos lugares dos quais provém as construções que delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade cultural da televisão. (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 304)

Assim é importante salientar que essa reflexão foi em começo dos anos 2000 e

que agora muita coisa já mudou e mesmo com os novos estudos que estão sendo feitos

não há nada conclusivo. Embora pesquisas apontem novas formas de ver televisão,

como assistir TV comentando nas redes sociais, não era o caso deste público avaliar

essas questões visto que eles não usam internet, ou usam em situações e horários

esporádicos, como é o caso de Veroni, que hoje consegue dominar o uso da internet:

“Eu consigo conciliar três coisas: o Chico, a internet e a televisão. Respondo

pra ele, escrevo na internet e olho televisão.”(Veroni)

Neste sentido, pode se entender a família como uma situação primordial de

reconhecimento. Então a mediação cotidianidade familiar se refere ao espaço de

convivência, de liberdade de ser e pensar das pessoas.

36

Rompendo com as ultrapassadas considerações moralistas – a televisão corruptora das tradições familiares – e com uma filosofia que atribui a televisão a uma função puramente reflexa, começa a se estabelecer uma concepção que vê na família um dos espaços fundamentais de leitura e codificação da televisão. Contudo, a mediação que a cotidianidade familiar cumpre na configuração da televisão não inscreve suas marcas no próprio discurso televisivo. Da família como espaço das relações estreitas e da proximidade, a televisão assume e forja os dispositivos fundamentais: a simulação do contato e a retórica do direito. (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 305)

Desses dois conceitos apresentados por Martín-Barbero – a simulação do

contato e a retórica do direito – podemos fazer algumas reflexões. A primeira se refere

a um mecanismo que a TV utiliza para expressar o seu modo de comunicação,

mantendo o contato com o receptor através de apresentadores e pessoas que possa

representar a pessoa que está em casa assistindo a programação. Por retórica do direito

podemos entender como um espaço de proximidade entre personagens e receptores.

Seria a familiarização através do discurso.

Assim, pode-se perceber a presença dessa mediação nos discursos expostos

pelas famílias estudadas. O momento em que assistem TV é importante tanto para

aprenderem, quanto para ouvir a opinião do outro a respeito do assunto. Trata-se de um

espaço de discussão sobre a vida do casal e assuntos ligados à área rural. Abaixo alguns

trechos dos encontros com as famílias que demonstram esta mediação:

“Se o assunto interessa aos dois é importante ouvir a opinião do outro porque

troca ideias. Pode fazer comparação, troca de conteúdo.”

“Eu sempre olho com a Veroni, mesmo que o programa interesse só a ela. Eu

acompanho ela e ela me acompanha também.” (Francisco)

“Olho o que o Chico olha independente de não ser sempre do meu interesse.”

(Veroni)

“Quando um tá olhando sozinho comenta com outro para ver a opinião”

(João)

Dessa forma a família é mostrada como o espaço de maior contato e interação

das pessoas estudadas. É nesse convívio familiar que elas se sentem livres para discutir

e interagir. Assim a TV se torna uma aliada por proporcionar este ambiente familiar e

cotidianizado. Neste sentido, é importante destacar novamente a pesquisa desenvolvida

por Ana Paula Silva (2005), onde esta buscou descobrir os veículos midiáticos mais

utilizados pela população rural. Ela descobriu que a internet lidera com vantagem sobre

37

a comunicação pessoal, segunda colocada no ranking dos meios mais utilizados na

busca por informação agropecuária; e a TV supera o rádio e também os jornais

regionais, ficando apenas atrás da internet, tanto no quesito meio mais utilizado quanto

o de maior confiança.

No caso desta pesquisa, o meio mais utilizado é o rádio, pela possibilidade de

levá-lo para qualquer lugar, visto que eles passam mais tempo no campo do que em

casa. Mesmo assim a TV ainda é um meio importante para os entrevistados, onde eles

se atualizam das notícias do campo e se sentem parte do que está sendo mostrado. Já a

internet não tem adeptos nos casais entrevistados, com exceção de Veroni, que além de

acompanhar a programação do Canal Rural pela TV, busca também informações pelo

site.

“Muitas vezes se eu perco vou pra internet ver o que passou e o que vai ter

amanha para não perder” (Veroni)

Outra questão importante a ser ressaltada é a mediação através da temporalidade

social que coloca em disputa o tempo de produção dos programas de televisão e o

tempo diário das pessoas. Neste caso, as famílias rurais, trabalham durante o dia e têm

apenas os intervalos em que fazem as refeições para assistir TV. Por este fator elas não

têm fidelidade a um único programa e sim ao Canal Rural como um todo, que retrata a

vida deles, a do homem do campo.

Enquanto em nossa sociedade o tempo produtivo, valorizado pelo capital, é o tempo que “transcorre” e é medido, o outro, constituinte da cotidianidade, é um tempo repetitivo, que começa e acaba para recomeçar, um tempo feito não de unidades contáveis, mas sim de fragmentos. (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 307)

Dessa forma é possível entender que a programação de TV não obedece o tempo

real do cotidiano. Oferecendo de uma maneira contínua informações e entretenimento,

pode-se falar em estética da repetição e sentimento de duração. A primeira trabalha a

variação de um idêntico, ou seja, a variação de um mesmo programa, em um mesmo

horário, provocando nos receptores um sentimento de duração. Por exemplo, o receptor

não sabe o nome do programa, mas sabe o horário em que ele passa e os temas que

serão abordados. Alguns trechos da discussão demonstram a utilização dessa mediação:

38

“Culinária, artesanato, metereologia eu gosto muito. A metereologia eu cuido

o relógio e quando dá 30 minutos eu sei que dá a previsão”. (Veroni)

“Os programas que passam a uma hora, depois do almoço eu gosto muito.”

(Francisco)

“O João e eu gostamos dos da noite. (Zelma falando dos programas que gosta

de assistir no Canal Rural)

“Os da tardinha eu gosto”. (Maria Célia se referindo aos programas que

passam a tardinha no Canal Rural.)

“Eu sinto falta porque é uma coisa que é um vício tu ouvir todo o dia a mesma

informação. Meu relógio mental já vai ali que eu to acostumada a ver. É um círculo

vicioso.” (Veroni ao responder se sente falta quando não pode assistir o Canal Rural)

Todas essas questões levantadas pela mediação através da temporalidade social

só demonstram o gosto dessas pessoas pelo objeto estudado. Mesmo não tendo um

programa específico, eles têm sim fidelidade ao conteúdo veiculado no Canal Rural.

Através do sentimento de duração, eles sabem que mesmo não estando presentes na

frente da TV, quando forem assistir novamente terá assuntos de seus interesses.

Outra mediação apresentada por Martín-Barbero (2003), que também cabe a esta

análise é a competência cultural. Ela se trata de todas as relações cotidianas das pessoas,

seja com amigos, instituições, família. Refere-se ao conteúdo cultural que essa pessoa

carrega e de que forma isto interfere no modo de ver as coisas.

Poucos mal-entendidos são tão persistentes e intricados quanto esse que sustenta e no qual desemboca a relação televisão/cultura. De um lado, os críticos que encaram a televisão a partir do paradigma da arte – que para eles seria a única coisa que valeria a pena chamar de cultura – e que denunciam dia após dia, com os mesmos fatigados argumentos, a decadência cultural que a televisão representa e acarreta intrinsecamente. Os poucos que, dentre estes, se arriscam a abandonar a denúncia e partir para a ação propõem uma elevação cultural da televisão que se materializa quase sempre num insuportável didatismo. De outro lado, os folclóricos que situam a verdadeira cultura no povo, mas no povo-povo, ou seja naquele que conserva a verdade sem contaminações ou mestiçagens, quer dizer, sem história. E quando à sua proposta cultural? Tornar televisivo o patrimônio de danças e canções, indumentárias e iconografias nacionais. Sobre outro eixo, aparece a oposição entre os comerciantes, defendendo à moda populista as demandas manifestadas pela coletividade através das pesquisas de audiência, e o setor público falando à moda paternalista em nome das verdadeiras necessidades culturais das pessoas. (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 309)

39

De acordo com este pensamento de Martín-Barbero (2003), podemos entender as

diferentes formas que pessoas, com distintos níveis culturais, têm de ver a cultura

relacionada à TV. No caso desta pesquisa, as famílias estudadas são pouco

intelectualizadas (tem somente o ensino fundamental incompleto) e evidenciam o fato

de aprender com o Canal Rural. Eles estão abertos a essa mudança, têm sede de

aprender e agregar às suas práticas rurais. Abaixo alguns trechos da entrevista que

demonstram a mediação através da competência cultural:

“Eu aprendi a gostar mais de leite porque fizemos um curso do SEBRAE só

para o gado de leite e me voltei mais para o gado do leite. E Canal Rural sempre me

ensina mais”. (Maria Célia)

“O Canal Rural é sempre agregativo ao que tu conhece e ao que tu já tem.”

(Veroni)

“O manejo do leite, por exemplo, ensina como dá a quantidade, mostra tudo.”

(Zelma)

“Muitas coisas aprendi com o Canal Rural e procuro adaptar as minhas

necessidades. Não vamos copiar tudo, mas vamos adaptar ao nosso meio.” (José

Paulo)

“Eu quero que ela (Maria Célia) aprenda muito mais porque daí ela me ajuda

muito mais no campo.” (José Paulo)

“Aprendo para somar ao que sei. Pastagem, manejo... Minha mangueira

sofria muito. Eu vi na TV, reformei e mudou muito. Me ajudou muito.” (Francisco)

“Eu acho que a gente aprende muito com o Canal Rural. Uma que me

chamou atenção é uma ferradura de cavalo que eu vi um rapaz ferrando no Canal

Rural. Eles esquentam a ferradura para colar no casco do cavalo par depois sentar os

grampos. Nós aqui ajeitamos todo deixamos até o ferro torto e sentamo o grampo.

Tem que deixar o grampo sentado. Para nós tá bom. Mas tamo errado. Tem que ficar

sentado no casco pra não prejudicar casco do animal. Achei muito importante. As

vezes tá fazendo e não é certo. Tem que saber.” (João)

“Neste momento que a soja estava numa loucura: vou vender amanhã, depois

de amanhã. Esses dias eu cheguei já tinha passado e eu comentei que tinha perdido, é

40

o teu negócio que tá em jogo. Quantas vezes já ganhamos por ser antecipados pelo

Canal Rural ao ver que o produto está em alta ou em baixa.” (José Paulo)

De acordo com os trechos dessa conversa, corroborando também com as ideias

de Martín-Barbero (2003), pode-se dizer que a dinâmica cultural da televisão atua pelos

seus gêneros, ativando a competência cultural de cada um, e é esse modo que dá conta

das diferenças sociais. “Os gêneros, que articulam narrativamente as serialidades,

constituem ume mediação fundamental entre as lógicas do sistema produtivo e as do

sistema de consumo, entre a do formato e a dos modos de ler, dos usos”(MARTÍN-

BARBERO, 2003, p. 311).

Assim entendemos esses receptores como produtores de sentido que através de

competências culturais, carregadas desde que nasceram, recebem a informação, mas

acima de tudo interpretam e agregam esse conteúdo da maneira que acham melhor ao

seu cotidiano. Além disso, foi possível notar, através dessa mediação, que por terem

pouca educação formal, os entrevistados apresentam poucas críticas ao Canal Rural.

Eles se vêem tanto como “alunos” desta emissora que não se mostram capazes de

criticá-la. Talvez se fossem pessoas mais intelectualizadas poderiam evidenciar mais

fatores a serem melhorados. Neste sentido, cabe também ressaltar o papel do jornalismo

especializado rural, que é aprovado pelos entrevistados, visto que oferece uma

linguagem acessível a este público que tem baixa escolaridade.

“A linguagem do Canal Rural é bem diferente. Eu entendo tudo.” (Francisco)

“Eu também acho. Em outras as vezes eu não sei nem do que tão falando. Porque nós que vivemos pra fora estudamos bem pouquinho. Já a linguagem mais popular nós entendemos.” (João)

“Também acho mais acessível. Como a gente se identifica, fica mais fácil entender.” (José Paulo)

“É bem explicado tudo. Talvez pra quem é leigo no assunto não seja bom. É uma aula pra gente aprender mais ainda. O Canal Rural não deixa dúvida nenhuma, eu acho que tem uns canais que deixam, que eu não entendo.”(Zelma)

Os casais admiram, aprendem e se sentem parte do Canal Rural, mas também

relatam que gostariam que o homem gaúcho do campo fosse mais abordado na

emissora. Como a sede do Canal Rural é em São Paulo, diversos assuntos ligados a essa

região são abordados, como é o caso dos leilões. Ao serem questionados sobre o que

41

falta no Canal Rural, a maioria falou sobre a redução do tempo em leilões e a

priorização de mais assuntos ligados ao sul do país. Para eles a entrada da pesquisadora

no Canal Rural seria uma forma de levar para lá um pouco mais sobre a realidade em

que vivem.

“Falta tu integrar a equipe. Tu tá sabendo todos os nossos gostos tem que ir pra lá e falar pra nós.” (José Paulo)

Após a realização deste primeiro grupo de discussão, com todos os casais juntos,

optou-se pela realização de um grupo de discussão por gênero, conforme apêndice 5.

Essa escolha visou dar mais liberdade para cada um deles, visto que em algumas

situações do primeiro encontro foi possível perceber que eles não se sentiam a vontade

em discordar do que o marido ou esposa falavam. Este novo encontro foi marcado no

mesmo horário para todos na casa da pesquisadora, visto que as mulheres dependiam do

homem para vir à cidade. Todos já sabiam que conversariam separadamente com a

pesquisadora, então, assim que chegaram fizeram algumas brincadeiras, dizendo que

iam poder falar livremente das esposas/maridos sem que estes soubessem.

Depois de receber todos os casais, os homens ficaram na sala com a televisão

ligada, tomando chimarrão e as mulheres foram para a garagem com a pesquisadora.

Depois foi a vez dos homens responderem as questões e as mulheres ficarem na sala. As

questões abordadas foram praticamente as mesmas para ambos, com algumas exceções.

Eles puderam contar especificamente suas rotinas, falar de suas preferências, se

descreverem como são e como mostra o Canal Rural, entre outras peculiaridades.

Algumas questões como os horários em que assistem TV, a abertura para as

possibilidades de aprendizado com o Canal Rural, e as preferências de programas

televisivos ligados ao campo se mantiveram de acordo com o primeiro encontro. Outras

chamaram a atenção pela disparidade com as respostas de homens e mulheres.

Em resposta à questão sobre o direcionamento do Canal Rural, se seria para

homens ou mulheres, essas responderam que o Canal seria destinado a ambos, visto que

a mulher faria, na visão delas, “frente”, ao homem, trabalhando junto, fazendo as

mesmas coisas que eles, sendo produtoras rurais, como elas mesmas se nominaram. Já

os homens, em uma visão um tanto conservadora, disseram que o Canal Rural era

destinado mais as mulheres, visto que elas passam mais tempo em casa, realizando os

42

trabalhos domésticos. Em alguns momentos eles até citam que as mulheres trabalham

junto, fazem como eles, mas na maioria das vezes destinam o trabalho “pesado” da

propriedade a eles.

“Eu tenho dúvidas, mas eu acho que talvez, pela atividade do homem não sei

se é mais que a mulher, tem esse espaço que é mais fora de casa e não tem tanto

tempo pra ficar em frente a TV, no trabalho de dona de casa.” (José Paulo)

“Eu acho que para a mulher (que o Canal Rural é destinado). Porque ela fica

em casa, lavando roupa, fazendo comida, limpando a casa e consegue dar conta de

tudo e tem mais tempo para olhar TV.” (João)

“É que nem eu disse depende do horário. De manhã cedinho é para homem. A

parte da tarde é mais pra mulher que fica em casa.”(Francisco).

Aqui cabe destacar as diferentes formas de apropriação entre homens e

mulheres. A reconstrução das identidades dos entrevistados se dá de maneira distinta,

através da identificação do homem e da mulher do campo. Essa questão reforça o

conceito já citado neste trabalho, onde Martin-Barbero (2003) afirma que não só há

culturas diferentes, como também desigualdades de apropriação.

Outra questão importante levantada foi com relação ao motivo de assistirem ao

Canal Rural, se seria por diversão, para passar o tempo, para se informar, ou para

aprender. Todos eles, homens e mulheres responderam que seria para se informar e

aprender, ou seja, ambos acham que tem o que aprender apesar de terem nascido no

meio rural e aprendido com seus familiares, já que é tradição nas famílias passar de pai

para filho, sucessivamente, a aprendizagem da lida no campo. O grupo analisado,

independente do gênero, demonstra ser bastante aberto para aprendizados, deixando o

conservadorismo do “fazer do seu jeito” de lado.

Além disso, pode-se perceber ainda mais a importância do Canal Rural para

estas famílias, que demonstraram assistir outros programas, emissoras, que tratam como

passatempo ou até mesmo por diversão. O Canal Rural seria o espaço de informação e

aprendizagem, de inovação dos meios rurais, enquanto as outras emissoras seriam um

espaço livre para entretenimento. Dentro desse aspecto é importante ressaltar a

mediação de acordo com a competência cultural, onde essas famílias pouco

43

intelectualizadas se colocam a disposição de novos aprendizados e novas formas de ver

o mundo, através da televisão. Assim, também cabe também trazer novamente um

conceito já utilizado no referencial teórico deste trabalho, onde as pessoas se interessam

cada vez mais pela segmentação, e a mídia está seguindo esses passos através da

disponibilização de canais de diferentes áreas. No caso desta pesquisa, as famílias

estudadas assistem diversos canais, mas o que realmente importa são as notícias

voltadas ao meio em que vivem.

Além do Canal Rural, as mulheres gostam de assistir novelas e programas de

entretenimento em outras emissoras, já os homens não gostam de novelas. Eles afirmam

que não tem um programa fixo em qualquer emissora para assistir, ou seja, vêem o que

está passando no momento. A maioria assiste o Jornal Nacional, mas reclama da

quantidade de tragédia que é mostrada.

“O bom da TV pra mim não é, não é novela, não é filme.. Televisão pra mim é

um noticiário de fundamento, um futebolzinho, e o que me prende são as

informações. Eu não sou de ficar até tarde pra assistir um filme.. Pra começar eu

nunca assisti um filme completo.. Então as coisas que te interessam mais é isso.

Então a grande vantagem do Canal Rural com relação a outros é que ela te traz essas

informações em vários horários. É que o Canal Rural é mais voltado pra nós. Não é

que não te interesse o que passa lá nos Estados Unidos. É claro que me interessa, mas

é que o que mais nos interessa é o que tá passando aqui, tá informado do nosso

mundo.” (José Paulo)

“O meu (programa que para tudo para assistir) é o Bem Estar de manhã. Depois que entrou eu olho todo o dia. (Zelma)

“ O Vida e Saúde de sábado e o da Fátima eu adoro” (Veroni)

“Eu também é o da Fátima e o Vida e Saúde” (Maria Célia)

Através dessas notícias eles se atualizam e compartilham o aprendizado com

amigos, familiares e vizinhos. Eles valorizam a discussão e troca de informações para

um melhor desenvolvimento de suas lidas campeiras.

“No meu caso, às vezes vou na casa do Paulo Henrique na cidade e pergunto,

tu vou na televisão tal coisa? Não precisa ser só do Canal Rural, mas as informações

no geral.” (José Paulo)

44

“Eu acho que a tecnologia tá muito avançada desde a parte campeira e o que eu

aprendo eu falo.” (João)

“Tudo que eu acho interessante eu repasso. Tanto com a Veroni quanto com o

mano.” (Francisco)

Além disso, pode-se perceber a troca de informações entre as três mulheres que

fazem parte dessa pesquisa. Enquanto falavam sobre as preferências na programação do

Canal Rural, elas mesmas se indagaram sobre coisas que uma tinha visto na televisão e

outra não.

“Hoje mesmo tava comentando que tava dando uma receita de quinoua.”

(Maria Célia)

“O que é quinoua? Eu vi a receita mas não consigo me lembrar o que é a

quinoua.” (Veroni)

“Quinoua é uma sementinha, é muito boa pra saúde. Tem um rapaz que é

primo do José Paulo que disse que pode faltar tudo na casa dele menos quinoua. Ele

teve câncer e a quinoua é um complemento necessário pra ele. Uma sementinha

bastante saudável.” (Maria Célia)

Esse novo encontro também reforçou que todos eles, independente de gênero

não têm um programa específico que assistem. Ou seja, a programação do Canal Rural é

importante como um todo. Eles sabem que em qualquer momento que ligarem a TV

neste Canal vão encontrar informações sobre os seus modos de vida, demonstrando a

importância da mediação de acordo com a temporalidade social, já citada nesse

trabalho. Dessa forma o tempo televisivo torna as pessoas ainda mais conectadas a este

mundo que está sempre disponível, independente dos afazeres do dia a dia. Através da

repetição, já citada por Martín-Barbero, as famílias sentem o Canal Rural como uma

aula, que as mostra como realmente são e acima de tudo trazem novidades sobre o meio

em que vivem.

Essa maneira de ver o Canal Rural como um espelho de suas vidas foi

evidenciada pelas mulheres e pelos homens, mesmo que eles não tenham conseguido

descrever a mulher e o homem do campo retratados por esta emissora. As mulheres

disseram que a mulher retratada pelo Canal Rural atua junto nas lidas campeiras, que

45

faz o trabalho tanto quanto igual ao do homem. Os homens em alguns momentos até

falaram dessa igualdade entre homens e mulheres, mas mesmo sendo diversas vezes

indagados, de formas diferentes, não conseguiram responder a pergunta de forma

completa.

“A Zelma às vezes eu até acho que trabalha mais do que eu. Acho que como

toda a mulher campeira trabalha bastante. Claro que não nas mesmas coisas que o

homem, tem umas que saem pro campo, mas é mais difícil.” (João)

“Eu acho que é um trabalho integrado. Quem tá no campo é o marido e mulher.

Não adianta, eu não teria nem com quem conversar, dialogar se ela não entendesse

do campo. Assim como não me cai pedaço em ir pra cozinha, fazer comida enquanto

ela descansa. Então eu acho que essa integração deve acontecer e é mostrado no

Canal Rural.” (José Paulo)

Essa visão reforça o conservadorismo citado anteriormente na questão com relação

ao direcionamento do Canal Rural. Estes discursos demonstram a presença da

cotidianidade familiar, uma visão passada de geração em geração, onde a família é o

principal professor. Onde os homens sempre foram os mantenedores das casas, e as

mulheres as donas de casa.

46

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Num primeiro momento, o objeto empírico dessa pesquisa seria o programa

Bom Dia Campo, do Canal Rural. A partir da aplicação do questionário com os casais

escolhidos, optou-se por analisar a programação geral do Canal Rural, visto que os

entrevistados não assistiam a um programa específico. Dessa forma, somente o objeto

empírico mudou, mas a problemática e os objetivos continuaram os mesmos. Assim

pode-se dizer que foi possível entender como os três casais da comunidade rural de São

Sepé/RS se apropriam das notícias veiculadas no Canal Rural. Para isso foi necessário

descobrir como se davam os processos de recepção por parte deste grupo com relação à

programação desta emissora.

Pode-se considerar que os objetivos propostos para essa pesquisa foram

atingidos, visto que a programação do Canal Rural foi devidamente descrita, os casais

foram escolhidos através da percepção de vínculos com a emissora, sendo possível

entender as interpretações de cada um deles, considerando inclusive a questão de gênero

e assim a análise conseguiu mostrar os usos e apropriações estabelecidos entre grupo

pesquisado e emissora.

Neste trabalho, fica evidenciado que os três casais escolhidos interpretam e

produzem sentido dos conteúdos do Canal Rural a partir das três mediações propostas

por Martín-Barbero (2003): a cotidianidade familiar, a temporalidade social e a

competência cultural.

É importante destacar também a influência do nível de educação formal dessas

pessoas na compreensão e produção de significado. Os três casais possuem baixa

instrução e essa condição interfere nos modos de se ver o mundo e de entender o que

chega até eles através da televisão. Mesmo assim, todos eles demonstraram ter

facilidade em entender o que o Canal Rural mostra, por serem assuntos próximos à sua

realidade. Aqui vale salientar o papel do jornalismo especializado rural, que consegue

levar para a TV os desejos, o vocabulário e as formas de ver a vida dos telespectadores.

Mesmo sendo de uma realidade onde a educação é passada de geração em

geração, sem condições de realizar efetivamente a conclusão do ensino fundamental,

essas famílias demonstram interesse no aprendizado, no crescimento de suas funções.

Isso caracteriza a mediação através da competência cultural, onde eles se colocam

47

sempre em posição de aprendizado. Assim, pode-se perceber que os casais se enxergam

no Canal Rural e se sentem “aprendizes” dessa emissora, que é considerada por eles a

única que os representa de uma maneira efetiva.

A partir dos conceitos apresentados por Martín-Barbero, também pode-se notar a

presença de formas desiguais de apropriação, entre homens e mulheres, onde os

entrevistados do gênero masculino através de uma visão conservadora, consideram que

o Canal Rural é destinado mais às mulheres, por passarem mais tempo em casa. Já as

mulheres se colocam fazendo frente aos homens, evidenciando uma desigualdade de

pensamento.

A realização deste trabalho reforçou a importância dos receptores do conteúdo

midiático. Pode-se perceber que não há receptores omissos e sim produtores de

sentidos, cuja carga cultural é construída a partir de suas vivências, do meio em que

vivem e do tempo social em que estão inscritos .

A pesquisa também trouxe crescimento profissional para a pesquisadora que

pode ir a fundo e mostrar, através do objeto empírico, uma temática diferenciada e

pouco estudada mas que tem um importante público a ser analisado. Enquanto quase

jornalista, a pesquisadora pode conhecer as preferências do público rural e assim criar

vínculos de confiança com essas pessoas.

Com relação ao âmbito acadêmico, o presente trabalho acredita ter contribuído

para a área de pesquisa em comunicação, por trazer a tona um tema pouco explorado no

meio das ciências sociais. Através dessa pesquisa o público rural se mostra como

consumidor e interpretador das notícias veiculadas na televisão, abrindo mais

possibilidades para novas pesquisas a respeito do tema.

Trabalhos como este podem servir para instigar futuras pesquisas que se

aprofundem em questões relativas ao meio rural, tendo como foco grupos maiores e

mais representativos, por exemplo, para compreender os sentidos arraigados nas

culturas a partir de estudos de recepção.

48

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49

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WOLTON, Dominique. Elogio do Grande Público. São Paulo: Ática, 2006.

50

APÊNDICES

51

APÊNDICE 1

Questionário

52

Questionário:

1) Nome:

2) Idade:

3) Ocupação:

4) Escolaridade:

5) Estado Civil:

6) Tem filhos?Quantos?

7) Religião?

8) Há quanto tempo vive para fora?

9) Está satisfeito com a vida que leva no campo? Porque?

10) Qual a principal fonte de renda para o sustento da família?

11) Costuma ir com freqüência a cidade?

12) Gostaria de morar na cidade?

13) Quais as opções de lazer?

14) Desde quando que a mídia está presente na vida de vocès?

15) O que vocês consomem da midia?

16) Que programas de TV assiste?

17) Vocês assistem os programas sozinhos?

18) Faz alguma outra coisa quando está assistindo TV?

19) O Bom Dia Campo, já assistiram? E nos programas do Canal Rural, qual a parte que mais gosta?

20) Assiste com freqüência?

21) Como classifica o programa que assiste: misto de entretenimento?

22) Assistir o os programas é importante, porque?

23) O que te motiva a assistir os programas do Canal Rural?

53

54

APÊNDICE 2

Questionários respondidos

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Questionário José Paulo e Maria Célia

(O questionário deste casal foi respondido junto porque Maria Célia estava tímida e não queria falar longe do marido)

JP = José Paulo

MC = Maria Célia

Nome: José Paulo Lopes do Nascimento/ Maria Célia Santos do Nascimento

Idade: setenta anos/ sessenta e oito

Ocupação: agricultor/ do lar

Escolaridade: primário/ primário incompleto

Estado civil: casados

Tem filhos? Quantos: dois

Religiao? Católicos

Há quanto tempo vive para fora? Desde que nasceram

Está satisfeito com a vida que leva no campo? Porque?

JP - Apesar das dificuldades que tem no nosso meio de vida, no setor primário a gente encontra dificuldade em financiamento, comercialização.. Esses são fatores que mais nos preocupam.

MC - Sim eu gosto lá de fora. Eu gosto porque é o meio que eu sempre vivi. Acho bom por causa da diferença da cidade eu gostei sempre. Fui criada assim e criei os meus filhos assim

Qual a principal fonte de renda para o sustento da familia?

JP - Agricultura, produção de soja, leite e atividades da agricultura

MC - O sustento é o alimento, a agricultura, o leite que a gente tem, a criação de galinha, horta. Tudo ajuda.

Costuma ir com frequência a cidade?

JP - Mais ou menos

MC - Semanalmente

Gostaria de morar na cidade?

56

JP - Olha futuramente sim, mas enquanto tiver condições vivo lá fora

MC - A mesma visão do José Paulo é a minha, mas quando tiver mais idade vamos ter que ir para a cidade.

Quais as opções de lazer?

JP - São varias eu gosto de bailes, festas, de participar de movimentos sociais, tradicionalismo, dança.. Quando tem isso eu to no meio

MC - Mais ou menos isso que o Zé Paulo já falou. A gente viveu sempre no mesmo meio. Gosto de baile, já fomos patrões de CTG. Já fui da patronagem de CTG por trinta anos .

Desde quando que a mídia está presente na vida de vocês?

JP - O rádio desde que nasci. Acho que fui um dos primeiros portadores de rádio de pilha existentes. E depois tem a TV. Pra mim o importante da TV é saber usar, selecionar os programas que realmente te interessam, que fazem parte do meio, como é o caso do Canal Rural que pra mim é uma das fontes mais importantes de informação, principalmente para quem vive no campo, que necessitamos isso. É fundamental e é os meios que eu assisto. Se eu pudesse ficar o dia todo em casa, eu ficaria só assistindo programas rurais.

MC - Começou pelo rádio, televisão. Acesso ao computador a gente não tem, mas os filhos tem.

O que vocês consomem da midia?

JP - Eu consomo mais radio. Até pela questão de tempo. Tu não vai poder carregar a televisão onde tu vai. O rádio tu tem essa facilidade. Por exemplo, tu gosta de uma entrevista, de um programa, eu agarro e levo o rádio. Eu ouço independente do que estiver fazendo. E como a atividade no campo tu não dispõe de tanto tempo sentado na frente da TV, o melhor é o rádio.

MC – Eu também é o rádio

Que programas de TV vocês assistem?

JP - Eu sou ligado nos programas de informações de campo porque é a principal atividade, independente disso, gosto de futebol, de noticiários, para poder se atualizar das coisas que acontecem. Então a TV me prende nesses aspectos: futebol e noticiário de agricultura.

MC - Eu gosto muito de olhar a novela, mas o Canal Rural está sempre ligado porque dá a função de agronegócio, metereologia. Eu gosto muito da parte de artesanato e também de música. Lendas do Sul eu gosto muito.

Vocês assistem os programas sozinhos?

JP - Na nossa atividade ela fica mais no lar e eu no campo nem sempre coincidem nossos horários para assistir TV junto. De manhã cedo assisto o Bom Dia Rio Grande junto e já vou pro trabalho, volto ao meio dia já a gente olha um pouquinho. A tarde é horário que eu olho

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mais os programas do Canal Rural, é o tempo que eu tenho. Minha atividade não permite que eu tenha mais tempo. Assisto na sala. E tenho uma no quarto, que eu tentei separar o espaço da novela. Principalmente no inverno acabamos assistindo juntos por causa da lareira.

MC - Normalmente sozinha.. Artesanato eu assisto sozinha. Mais na sala.

Faz alguma outra coisa quando está assistindo TV?

JP - Só chimarrão.

MC - Eu tomo chimarrão só também.

O Bom Dia Campo, já assistiram? E nos programas do Canal Rural, qual a parte que mais gostam?

JP - Às vezes. Sete horas da manhã já é hora de estar no campo. Os noticiários da tardinha me interessam, antes do Rural Notícias. Fala sobre as cotações de soja, cotação do dólar, dá entrevistas sobre pessoas influentes, para transmitir informações. É o que falta para nós que moramos no capo, já que não temos internet, para ter uma ideia para nos orientar para nos orientar sobre como comercializar o nosso produto. Por isso que eu me apego tanto neste programa. Eu não posso dizer que eu assisto todos os dias, não. Eu assisto quando tenho tempo, porque a nossa atividade varia. Eu sou daqueles que levanto cedo, mas durmo cedo também, para poder aproveitar bem o dia.

MC - Artesanato eu to sempre atenta na previsão do tempo e cotações também. As vezes eu digo para o Zé Paulo: ah.. A cotação é tal.

Assiste com frequência?

Assistimos quando dá tempo.

Como classifica os programas que assistem: misto de entretenimento?

JP - Eu acho que para mim ele agrega todas as categorias

MC - Eu também acho.

Assistir o os programas é importante, porque?

JP - É importante pelas informações que tu tem. A gente não tem outro veículo direcionado para nossa atividade. No Canal Rural eu tenho tudo isso.

MC - Porque nos atualizam em todos os setores. Gosto de todos os programas que falam sobre o gado leiteiro. Explica manejo de vaca, pasta. É importante saber, estar atualizada.

O que te motiva a assistir o programa?

JP - É estar atualizado no meio agrícola.

MC - É isso.

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Questionário Veroni

Nome: Veroni Penteado Schroder

Idade: cinquenta e quatro

Ocupação: produtora rural

Escolaridade: fundamental

Estado civil: casada

Tem filhos? Quantos? dois

Religião? católica

Há quanto tempo vive para fora? desde que nasci, nasci e me criei para fora

Está satisfeito com a vida que leva no campo? Porque? Gosto. Eu amo viver aqui. A paz me motiva a viver no campo.

Qual a principal fonte de renda para o sustento da família? Agropecuária, criação de gado e produção de arroz

Costuma ir com freqüência a cidade? Não muito

Gostaria de morar na cidade? Não. Eu tenho tudo que eu posso ter na cidade e ainda tenho mais a paz, o silêncio o contato com a natureza

Quais as opções de lazer? Receber meus amigos, andar a cavalo, mais ou menos isso

Desde quando que a mídia está presente na vida de vocês? TV há uns trinta anos atrás. Primeiro foi o rádio. Tenho acesso a internet, não sou nenhuma ninja na coisa, mas mexo..

O que vocês consomem da mídia?

Eu gosto de programas que falam de fora, das coisas que eu vivo, da produção caseira, artesanato, TV e internet.

Que programas de TV assiste? Do Canal Rural eu assisto quase todos, mais os programas do meio dia, tarde a parte do artesanato, as sete também tem programa que eu gosto, sempre é polêmica coisas voltadas para fora. De manhã no domingo também gosto.

Vocês assistem os programas sozinhos? Na maioria com o Chico ou sozinha. Se ele tá assistimos juntos.

Faz alguma outra coisa quando está assistindo TV? Dependendo da programação eu faço, se não eu não faço. O canal rural quando tô assistindo geralmente eu não tô fazendo nada.

O Bom Dia Campo, já assistiu? E nos programas do Canal Rural, qual a parte que mais gosta?

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Já assisti. Acho muito interessante tudo, gosto porque sempre é do nosso meio. Eu não tenho uma parte específica. Gosto de tudo, principalmente da culinária

Assiste com frequência? Não é muito. O restante do Canal Rural é diário.

Como classifica o programa que assiste: misto de entretenimento? Misto. Eu assisto de tudo, porque eu assisto metereologia, culinária, gosto de ver quando os produtores ligam para lá.

Assistir o os programas é importante, porque? Pra mim é importante porque sempre alguma coisa me traz de lição. Sempre aprendo algo assistindo

O que te motiva a assistir o programa? Sempre é assuntos variados que eu vejo, pode não ser do meu interesse, mas sempre presto atenção.

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Questionário Chico

Nome: Francisco Auri Schroder

Idade: cinquenta e nove

Ocupação: agropecuária

Escolaridade: primeiro grau incompleto

Estado civil: casado

Tem filhos? Quantos? Dois

Religiao? Católico

Há qto tempo vive para fora? Desde que nasci

Está satisfeito com a vida que leva no campo? Porque? Muito satisfeito, ontem tava conversando com a Veroni, cidade só pra ir e voltar. Me criei para fora.

Qual a principal fonte de renda para o sustento da família? Lavoura e o gado

Costuma ir com freqüência a cidade? Só quando precisa. Para buscar peças às vezes

Gostaria de morar na cidade? Não pretendo.

Quais as opções de lazer? Rodeio eu gosto muito.

Desde quando que a mídia está presente na vida de vocês? Rádio veio primeiro, mas já era grande. A TV foi em 74. Não sei mexer na internet, mas tem aqui em casa.

O que vocês consomem da mídia? Rádio e TV

Que programas de TV assiste? Eu assisto a RBS, termina eu já passo par o Canal Rural depois das sete. E depois o Jornal Nacional e depois outra coisa é novela. O campo e lavoura também gosto.

Vocês assistem os programas sozinhos? Dificilmente ela não está junto.

Faz alguma outra coisa quando está assistindo TV? Não.

O Bom Dia Campo, já assistiram? E nos programas do Canal Rural, qual a parte que mais gosta? Eu olho. Termina o da Carla, da RBS e eu passo pra lá. Eu gosto da conversa com os produtores, do tempo. E sobre os preços também.

Assiste com frequência? Sim.

Como classifica o programa que assiste: misto de entretenimento?Misto

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Assistir o os programas é importante porque? Porque eu vivo disso ai. Penso que seja por isso que eu tenho mais atenção para este lado.

O que te motiva a assistir o programa?

Me motiva porque os acontecimentos trágicos eu não gosto. Já pulo para outro canal. Na pecuária mesmo tem programas que eles vão na fazenda e fazem. É muito importante. Tu aprende muita coisa. Tem muita coisa que tu aprende mais do que tu sabe.

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Questionário Zelma

Nome: Zelma Terezinha Wegner Pinto

Idade: sessenta anos

Ocupação: doceira

Escolaridade: primário incompleto

Estado civil: casada

Tem filhos? Quantos? Um

Religião? Católica

Há quanto tempo vive para fora? A vida toda

Está satisfeita com a vida que leva no campo? Porque? Ótima. Adoro, porque a vida no campo é tranquila, fácil, tem tudo, planta tudo.

Qual a principal fonte de renda para o sustento da familia? Gado, ovelha.

Costuma ir com freqüência a cidade? Geralmente três vezes por mês.

Gostaria de morar na cidade? Não

Quais as opções de lazer? Eu gosto de me reunir com amigos, de ir na missa

Desde quando que a mídia está presente na vida de vocês? Televisão desde que veio a luz ali fora. A gente tinha TV a bateria. Faz uns 20 anos com elétrica. Antes de tudo tinha radio a pilha. Tem internet a minha filha, mas não sei mexer.

O que vocês consomem da midia? TV a gente olha bastante. Canal Rural bastante. Mais a gente olha é a noite.

Que programas de TV assiste? cavalos crioulos, rural noticias, previsão de tempo

Vocês assistem os programas sozinho? Sempre com o João.

Faz alguma outra coisa quando está assistindo TV? Não, sento para olhar, tomar chimarrão e olhar.

O Bom Dia Campo, já assistiu? E nos programas do Canal Rural, qual a parte que mais gosta?

Olha mais a noite este não muito. Gosto muito da criação, valores das coisas.

Assiste com freqüência?

Mais ou menos. Quando estou desocupada

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Como classifica os programas que assiste: misto de entretenimento?

Tem bastante informação. Mais informação, que a gente olha.

Assistir o os programas é importante, porque?

Porque eu acho que o pessoal que mora pra fora tem que estar ligado no campo, nas informações da vida do campo.

O que te motiva a assistir os programas?

Eu acho que tu ir olhar que não tenha fundamento. É melhor olhar sobre a vida do interior. O canal rural te á todas as informações do campo. É completo, certinho.

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Questionário João

Nome: João Antônio Neves Pinto

Idade: sessenta e oito

Ocupação: agricultura e pecuária

Escolaridade: fundamental incompleto

Estado civil? Casado

Tem filhos? Quantos? Um

Religião? Católico

Há quanto tempo vive para fora? Desde que nasceu

Está satisfeito com a vida que leva no campo? Porque? Muito porque é o que sempre fiz, aprendi a fazer e por isso que continuo e tenho prazer em trabalhar na lida campeira

Qual a principal fonte de renda para o sustento da familia? gado e leite

Costuma ir com freqüência a cidade? Duas por mês

Gostaria de morar na cidade? Não

Quais as opções de lazer? Rodeio

Desde quando que a mídia está presente na vida de vocês? A TV há uns quarenta anos. Primeiro o rádio de pilha.

O que vocês consomem da mídia? Mais o rádio

Que programas de TV assiste? Novela, jornal e o Canal Rural

Vocês assistem os programas sozinhos? Sempre com a Zelma

Faz alguma outra coisa quando está assistindo TV? Só o chimarrão

O Bom Dia Campo, já assistiram? E nos programas do Canal Rural, qual a parte que mais gosta? Não muito. Os de cavalos eu gosto muito.

Assiste com frequência? Mais ou menos, quando tenho tempo.

Como classifica os programas que assiste: misto de entretenimento? Mais de informação. Instrutivo, fala de doma, explica.

Assistir os programas é importante porque? Porque a minha atividade é campeira, é lidar com bicho, com cavalo e gado. Então quanto mais assiste, mais aprende.

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O que te motiva a viver no campo? Sou apaixonado por cavalos

66

APÊNDICE 3

Roteiro do grupo de discussão geral

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Roteiro do grupo de discussão geral

1) O que vocês acham do Canal Rural?

2) O que mais gostam de assistir?

3) O que menos gostam?

4) Comentam os conteúdos uns com outros?

5) Acham que a opinião do outro interfere na sua maneira de pensar o que veem?

6) Já aprenderam coisas para o dia a dia com o Canal Rural? O quê?

7) É bom assistir junto a programação, porque?

8) Acham que o gosto é diferente pelos programas por homens e mulheres?

9) Acham que o canal rural mostra na TV como é realmente o homem e a mulher do

campo, se identificam?

10) Quando não podem assistir por um ou mais dias o Canal, sentem falta? Porque?

11) O que falta no Canal Rural, que vocês gostariam de ver?

12) Tem um programa específico que gosta, qual, porque?

68

APÊNDICE 4

Transcrição grupo de

discussão geral

69

Transcrição:

MC = Maria Célia

JP = José Paulo

V = Veroni

Ch= Chico

Z – Zelma

J = João

As falas da pesquisadora Camille estão em negrito

Eu vou deixar gravando tá mas não se preocupem. Não se preocupem. Só eu vou ouvir. Eu vou fazer algumas perguntas todas relacionadas ao Canal Rural e vocês ficam livres para ver quem vai começar, mas cada um tem que falar um pouquinho, pelo menos um pouquinho a respeito dessa pergunta que eu fiz. Se não souber, se não tiver o que dizer pode dizer não sei, não pensei sobre isso. É bem tranqüilo. E por exemplo se a Veroni tiver falando uma coisa e a Tia Zelma pensar. Ahh isso eu também acho, pode interagir, buscar o que o outro está falando.

Então eu vou começar perguntando o que vocês acham do Canal Rural assim, quem quiser começar, pode ir começando.

Silêncio

Z - Começa pelo Chico que assiste todos os dias quase... (risos de todos)

Pode começar, quem quiser pode ir falando que os outros vão conversando na sequência..

CH – Eu pra mim por eu ser do campo é muito importante, porque tem muita coisa ali relacionada ao campo.

JP – Eu acho o Canal Rural tudo a ver com o homem do campo. Tem todos os programas que precisa pra ter uma orientação. Para mim vale pela informação que eu tenho, que eu necessito e ali tem.

CH - Os outros canais nada passa o interesse para nós produtores. O canal rural tem tudo.

E tu Tio João, o que tu acha?

70

J – Reforço as palavras do Zé Paulo e Chico. Para nós que semos da atividade campeira é o melhor canal que tem. Nem sempre a gente tem tempo de olhar. Eu principalmente olho porque sou apaixonado por cavalos e principalmente o Horse do canal rural, ta instruindo, ta ensinando até a pega de um potro até o final, até chegar com reprova. Então é isso aí.

Agora vamos para as mulheres. Maria Celia, pode falar bem o que tu acha, tu acha da mesma maneira que os homens como é que é?

MC – É um local onde tu encontra todas as respostas. Eu não olho muito, mas quando olho gosto. Na parte de artesanato eu gosto muito apesar de não fazer eu assisto. Não sei como é o nome daquele programa, tem uma senhora fazendo comida, eu gosto também.

È de tarde?

MC – É de tarde..

CH – Volta da serra?

MC - Isso.

Todos concordam.

Agora tu Veroni.

V – Eu gosto da tardinha que o Chico olha. Eu não me lembro o nome do programa, que dá a novela das sete na globo e no canal rural dá esse. Rural notícias eu acho. Dá informações, metereologia, artesanato sempre das três as quatro a tarde. Meio dia tem um programa que eu gosto de olhar. Meio dia uma hora por ai que dá e de culinária também eu gosto. É um programa que traz de volta para tuas raízes, para o que tu aprende ou que tu vai aprender e vivencia hoje. Ás vezes tu olha de uma forma, mas depois que tu vive aquilo no campo, tu entende. E as tecnologias que tu pode incrementar no teu dia a dia.

E tu tia Zelma?

Z - Eu também, que nem a a Veroni, tudo o que ela pensa e faz eu também penso, é bem isso aí..

Bom vocês me falaram então do que vocês gostam de assistir, então o que vocês menos gostam de assistir no canal rural, tem alguma coisa que vocês menos gostam?

MC- Ah eu já não gosto muito de leilão e remate

Z – Eu de cavalo eu gosto muito.

CH – Eu até concordo que tenha leilão, mas que nem no domingo ocupa toda a programação. Daí é ruim.

Ahh... Que daí acaba ficando enjoativo, poderia ter outra coisa ali né?!

Sim. Todos concordam.

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Vocês gostam de um pouco de tudo, mais ligado a área de vocês né?!

Sim. Todos concordam.

Vocês me falaram assim, com exceção ali do José Paulo e da Maria Célia que em alguns momentos não assistem juntos. A maioria em alguns momentos assiste junto o programa com o marido né? É importante assistir entre duas pessoas? Porque vocês acham importante?

JP - Se o assunto interessa aos dois é importante porque troca ideias. Pode fazer comparação, troca de conteúdo. O tempo que às vezes não permite.

O que vocês acham?

CH – Eu sempre olho com a Veroni, mesmo que interesse só a ela. Se ela tá olhando aqui eu olho junto com ela eu não digo troca de canal. Eu acompanho ela que me acompanha também.

V – Olho o que o Chico olha independente de não ser sempre do meu interesse. Não é que eu fique aqui sentada olhando tudo. Eu fico circulando e o que me interessa eu paro.

È isso que eu pensei assim. Antes eu ia analisar um programa e ver o que vocês achavam deste programa. Depois de conversar específica com cada um de vocês eu percebi que o Canal Rural não é uma coisa fixa, do tipo bom agora eu vou sentar e assistir o Canal Rural. É uma fonte de informação, mas o trabalho de vocês exige muito tempo fora de casa, então aquela televisão é um momento de passagem. Vocês estão passando por li, ouvem algo importante e daí param para assistir. Não tem um programa certo. E é isso que eu quero entender. Que mesmo não tendo um programa fixo vocês se interessam por aquela programação e buscam no tempo pequeno que tem buscam para assistir.

CH– No caso de manhã eu tomo mate e fico assistindo.

Z - O João olha muito o da noite. O Jornal Rural Notícias.

CH – Olho a novela das seis eu já passo para o Canal Rural

J – Eu acho que o Canal Rural é onde mais informa, principalmente o homem do campo. Como maneja o gado, como se faz pastagem. A doma hoje é moderna. Não é mais antiga que pegava e derrubava o potro. Hoje nem se derruba mais o cavalo para domar.

JP – É o diferencial dos outros canais. Claro mas eu também assisto o jogo do meu time e outros canais.

É isso que eu acho importante. Não que seja uma coisa obrigatória, mas é uma coisa que faz falta na vida de vocês. Que serve de alguma forma.

Z - Na globo é só o Campo e Lavoura. Se tu quiser algo relacionado ao campo é no Canal Rural.

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CH - Que nem eu disse aquele dia a globo eu não olho o Jornal da manha porque já olhei a noite e de manha repete tudo.

JP– E outra que é só tragédia. Para nós que passamos o dia trabalhando não tem importância.

Todos concordam

Até porque essas notícias não são direcionadas a vocês. No jornal nacional, por exemplo, são poucas as coisas que são direcionadas a vocês.

CH - nem tem nada direcionado a nós.

Todos concordam.

Se um tá assistindo sozinha e vê algo importante. Daí vai lá e comenta. Ah passou tal coisa no Canal Rural. Vocês acha importante isso? Acontece isso de um não está vendo e outro comentar?

V – Isso acontece de lembrar o outro do que eu vi sozinha. Ahh ta dando tal coisa vem aqui.

Todos falam que também acontece com eles.

A Maria Célia comentou aquele dia que ás vezes chama o Zé Paulo quando ele não tá vendo.

MC– Eu aprendi a gostar mais de leite porque fizemos um curso do Sebrae só para o gado de leite e me voltei mais para o gado do leite. E canal rural sempre me ensina mais

V – É sempre agregativo ao que tu conhece ao que tu já tem.

Z - O manejo do leite. Ensina como dá a quantidade, dá tudo.

E quando vocês conversam entre si, vocês acham importante a opinião do outro? Mesmo que não sejam opinião semelhantes, vocês acham importante ouvir a opinião do outro?

JP – Eu acho, troca de ideias forma de pensar, de agir

E tu o que acha Tio João?

J - Quando um tá olhando sozinho comenta com outro para ver a opinião.

Vocês já falaram aqui no geral, mas agora eu vou pedir mais especificamente. Vocês já aprenderam coisas com o Canal Rural, seja culinária, manejo do gado, pecuária, agricultura?

Z - Receitas eu aprendo muito eu sou a base da culinária

V - Culinária, artesanato, metereologia. Cuido o relógio quando dá 30 minutos eu olho a previsão. Aprendo muito, por exemplo, o boi ta no pasto, mas precisa de tempo bom pra comer e engordar

73

JP - Sempre com informações novas. Muitas coisas aprendi e procuro adaptar as minhas necessidades. Não vamos copiar tudo, mas vamos adaptar ao nosso meio.

V – É enriquecer conhecimentos.

MC - Aprendo muito. O manejo do torneiro principalmente.

JP - Eu quero que ela aprenda muito mais porque daí ela me ajuda muito mais no campo.

Risos

CH - Aprendo para somar ao que sei. Pastagem, manejo. Minha mangueira sofria muito daí eu vi na TV, reformei e mudou muito. Me ajudou muito, muitas outras coisas.

J - Eu acho que a gente aprende muito com o Canal Rural. Uma que me chamou atenção é uma ferradura de cavalo que eu vi um rapaz ferrando no canal rural. Eles esquentam a ferradura para colar no casco do cavalo para depois sentar os grampos. Nos aqui ajeitamos tudo deixamos até o ferro torto e sentamo o grampo. Tem que deixar o grampo sentado. Para nós tá bom, mas tamo errado, tem que ficar sentado no casco pra não prejudicar o casco do animal. Achei muito importante. Ás vezes ta fazendo e não é certo. Tem que saber.

JP - Pra ter noção da abrangência que tem. Nos temos três pessoas ligadas a diferentes campos: gado leiteiros, cavalos, gado. As mulheres a artesanato culinária, tempo. Então já ta demonstrando que tem muita abrangência.

Já que tu falou da abrangência. Eu pergunto se vocês acham que o gosto do canal rural é diferente para homens mulheres?

V – Não. Todos os assuntos eu me identifico

Todas concordam

CH- Eu mesmo assisto com ela. A culinária eu assisto com ela.

Vocês acham que o canal rural mostra o homem e mulheres do campo como realmente é? Sem mascarar uma forma?Vocês se vêem no canal rural?

CH - Mostra verdadeira, pelo que eu sei

JP - Tenho a mesma impressão. Tem uma fidelidade muito grande. Se tu tá aprendendo tu tá tirando proveito, tá interessante

Z - É a nossa vida rural

J - Acho que tem alguém muito ligado ao campo. Alguém que vive como a gente e mostra a realidade da vida campeira

Quando não podem assistir por algum período. Vocês sentem falta?

74

JP – Mas certamente. Principalmente neste momento que a soja estava numa loucura. Vou vender amanhã, depois de amanhã. Esses dias eu cheguei já tinha passado e eu comentei que tinha perdido. É o teu negócio que tá em jogo. Quantas vezes já ganhamos por ser antecipados pelo Canal Rural ao ver que o produto esta em alta ou em baixa.

Z - E não é sé soja, arroz, trigo milho. É gado. Tem preço de tudo.

J - Sim é uma necessidade de ser informado. Antes há anos atrás tinham que ver na cooperativa. Hoje em casa tá informado de preço de tudo

CH- É o único canal que dá isso.

Tu sente falta Veroni?

V - Eu sinto porque é uma coisa que é um vício tu ouvir todo o dia a mesma informação. Meu relógio mental já vai ali que eu to acostumada a ver.

Mesmo que vocês não saibam os nomes. Digam um programa que vocês olham e gostam?

JP - O meu seria Mercado e Cia

CH – Os programas que passam a uma hora, depois do almoço.

Z – Os da noite.

JP - Os da tardinha

MC – É o rural noticias.

V – Os que fazem entrevistas com produtores rurais eu adoro.

Já tiveram interesse em ligar para o Canal e tirar duvidas pelo 0800?

CH– Já. O telefone que eles dão no canal rural para a gente ligar é uma forma de acesso, mas é ruim porque gasta.

Vocês me falaram da informação, mas vocês gostam quando tem entretenimento?

V- tem clipes, musicas. A gente gosta.

MC- Eu gosto muito de música quando tem

Por último eu vou pedir que vocês me digam o que vocês acham que falta no canal rural?

JP - Falta tu integrar a equipe. Tu tá sabendo todos os nossos gostos tem que ir pra lá e falar pra nós.

Eu também acho. Risos. Nada melhor do que eu ir pra lá.

75

CH – Mas eles tem sede aqui em Santa Maria?

Não. O canal rural era do Grupo RBS e no inicio deste ano ele foi vendido para uma grande empresa.

CH – Acho que foi para a JBS né?

Pode ser até, eu tenho anotado ali depois posso até mostrar para vocês. Eles venderam para esta empresa e não tem mais nada aqui no RS. A sede deles e toda a organização é em São Paulo e é isso que me deixa intrigada. Mesmo sendo em São Paulo que é uma realidade totalmente diferente de vocês eles conseguem abordar um pouquinho das características daquela comunidade do interior do RS. Isso que me chamou a atenção e até me despertou o interesse. Inclusive eu consegui, através da RBS, o contato com o coordenador do canal rural que foi coordenador da RBS por um tempo quando morava em Santa Maria. E através desse contato eu consegui entender o funcionamento do canal. Consegui também o contato com a diretora do programa bom dia campo que reforçou que eles querem pessoas que mostrem realmente o homem do campo, que sejam isso. Trabalham com pessoas especializadas com isso.

CH– Mas tinha em Porto Alegre?

Tinha.

JP – Por exemplo o Rio de Janeiro. Daí ninguém fala nada de lá?

Daí o que acontece eles conseguem repórteres em diferentes cidades para mostrar nem que seja um pouquinho daquilo. Não fixo, mas um repórter que possa trabalhar em outra coisa e ser correspondente deles aqui. Essa área rural tem muito pouca gente que se interessa.

O que faltaria seria mesclar um pouquinho com relação ao leilão né? Como a programação é toda diversificada então no domingo não ser tão ingessada. Já que vocês tão em casa né?!

JP - Não ter tempo destinado só a leilão. Isso é o maior problema.

J - Tem tanto criador de zebu em São Paulo que todos os finais de semana tem leilão.

Olha da minha parte é isso. Tem algo que vocês queiram acrescentar que vocês não falaram. Que eu não perguntei?

V- É muito bom. Sou fã do canal rural.

Ch - Só tem que crescer mais o canal rural. Não sei nem como é a audiência. Acho que na cidade não é muito, mas no interior é grande.

E vocês gostaram dessa discussão sobre o canal rural? De repente se não fosse esse trabalho vocês nem falariam sobre isso né?!

76

Sim. Todos concordam.

JP – Mas Camille, pra ti ter uma idéia. Por exemplo, nos cursinhos que a gente faz. Às vezes a gente não aprende tanto com o curso em si como com os colegas produtores. E é assim aqui também. Diálogo é fundamental. É a mesma coisa de tu viver sozinho ou ter uma associação. Tu ganha muito mais força.

Todos concordam.

V - Muitas vezes se eu perco e vou pra internet ver o que passou e o que vai ter amanha para não perder.

77

APÊNDICE 5

Roteiro grupo de

discussão por gênero

78

Roteiro grupo de discussão por gênero: 1) Me relatem como é a rotina de cada um de vocês desde que acordam até a hora em que

vão dormir. Em que momentos a televisão está presente nesta rotina?

2) E no fim de semana?

3) Vocês comentam o que vêem na TV com os amigos no CTG? Se comentam, o que?

4) Vocês comentam, ensinam aos outros o que vocês vêem na TV? Que tipo de conteúdo

vocês comentam e/ou ensinam?

5) O que é mais importante do conteúdo que vêem no Canal Rural?

6) O que vocês mais aproveitam do que vocês vêem?

7) Como o Canal Rural retrata a mulher do campo? Características claras/descrever

características

8) Como o Canal Rural retrata o homem do campo? Características claras / descrever

características

9) Vocês acham que a linguagem utilizada no Canal é boa? É diferente dos outros canais

que vocês vêem? Como é diferente?

10) Vocês acham que o que vocês vêem no Canal Rural é mais voltado para a mulher ou para

o homem do campo?

11) Vocês se vêem como donas de casa ou como trabalhadoras rurais? (Para as mulheres)

12) A opinião do outro faz vocês mudarem de opinião sobre algo que viram na TV?

13) Vocês assistem o Jornal Nacional e a novela?

14) Vocês assistem o Canal Rural pra se divertir, para passar o tempo, pra se informar ou pra

aprender?

15) Qual a diferença entre os telejornais de outras emissoras, como da Globo, e os do Canal

Rural? Qual é melhor e porque?

16) Tem algum programa que vocês não perdem, que param tudo para assistir?

79

APÊNDICE 6

Transcrição do grupo

de discussão masculino

80

Transcrição do grupo de discussão masculino

Bom como já falei eu reuni os homens separados das mulheres para que de repente vocês tenham mais liberdade de falar. Eu quero que vocês me relatem como é a rotina de vocês desde que acordam. Pode começar por ti Chico.

CH – Acordar, acordar depende. No verão é um horário, no inverno é outro. Nessa época mesmo é seis horas e eu to de pé.

Daí tu levanta, toma café? Faz o que?

CH – Levanto, esquento a água, faço um mate. Tomo café depois.

A TV tá ligada neste período?

CH – Claro, tá sempre ligada.

Ligada na Globo, no Canal Rural?

CH – Primeiro na globo e depois das sete no Canal Rural

Tá aí depois já começam as tuas atividades no campo. E que tu faz assim, quais são as tuas principais atividades?

CH – Depende da época. Agora eu to plantando.

E volta que horas?

CH – A não tem horário. Normalmente quando escurece.

Mas volta para almoçar em casa?

CH – Agora que eu to nivelando quando escurece eu volto. Sim almoço em casa com a TV ligada até a meia hora na RBS depois passo para o Canal Rural. Daí dou uma cochilada ali e a uma e meia saio de novo.

Daí a tardinha é o horário que vocês ficam assistindo TV juntos, ali?

CH - Sim. Tomando mate e assistindo TV até tarde.

E que horário vocês vão dormir?

CH - Ahh.. Agora com esse horário aí pelas onze horas. Até mais as vezes.

E no final de semana, o que tu faz?

CH – Quando eu não to plantando eu vou pra rodeio. Se eu to trabalho direto.

Quando não tá trabalhando tá nas atividades de lazer?

81

CH – Sim

Normalmente as tuas atividades de lazer são para fora ou para a cidade?

CH – Na cidade é difícil. Ir pra rodeio, marcação.

E tu Tio João como é a tua rotina?

J – Eu me levanto mais ou menos cinco e meia seis horas e daí faço um chimarrão e já começo a dar bóia para as galinhas, para os carneiros. As ovelhas que posam na frente da casa já vou tocando elas e colocando pro campo. Daí vou tomando mate e tirando o leite. Serviço campeiro que o cara tem que fazer. Almoço em casa, chego até mais do meio dia as vezes. E a uma e meia já saio de novo.

No horário do almoço a TV fica ligada?

J – Agora não tem ficado tanto porque estamos com pouco tempo. Mais o rádio fica ligado na Nativa. Já é ligado, só liga na tomada e já está na Nativa. Daí a Zelma levanta e põem na Cotrisel. Mais tardar duas horas eu saio pra fazer minhas coisas. Eu digo, o cara morre e não fez tudo o que tem que fazer né?! O serviço tá sempre na frente do cara.

O horário que vocês para pra assistir a TV é a tardinha?

J – É. Chego tomo banho e tomo chimarrão assistindo TV.

CH – É que o cara aproveita bem o tempo do campo para fazer os trabalhos da gente. Daí chega em casa e tem pouco tempo.

J – E a manhã pra nós é muito curta

E que horas tu dorme Tio João?

J – Ahh.. É oito e meia nove horas, as vezes até mais. Depende do que o cara faz durante o dia.

No final de semana o que tu costuma fazer?

J - No final de semana, sábado quando eu não faço um churrasco em casa eu saio vou lá no Kiko e fico até umas três quatro horas lá.

Mas fica pra fora?

J – Sim. Quando não to em casa, ou visitando alguém, to no rodeio.

E tu Zé Paulo como é a tua rotina?

JP – Não é muito diferente. Levanto as seis, faço meu mate de cara e ainda ligo na Globo, por causa daqueles programas de Globo Rural. E às vezes quando começa o Bom dia Rio Grande eu já vou pro campo, que daí eu já tomei meu café. A minha rotina eu diria que é, além de ter um tombo de leite, que nem sempre é eu que faço isso, lavoura, na medida eu

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trabalho, já era pra tá aposentado em função de doença, de um ponte de safena que eu fiz, mas eu sou teimoso. É uma das razões da mulher brigar mais comigo. Mas não adianta, quando vê a gente já tá fazendo. Aí eu se tem época de planta, arroz, soja. Independente de não ser eu que faço, meu filho pergunta tudo. E isso é culpa minha. Criei muito dependente. Era pra ter deixado passar mais trabalho.

CH– É mesmo. Lá em casa é bem assim. O mano é dependente um horror.

JP – Bom se eu te contar o Paulo Henrique era moço, noivo e não ia para um baile sem passar lá em casa pra eu atar o lenço dele.

Risos de todos.

JP – Então isso cria uma dependência muito grande. Daí eu não tenho muito horário certo pra voltar pra casa. Maria Célia às vezes me pergunta o que tu vai fazer amanhã e eu digo não sei. Porque o que vai surgindo a gente vai fazendo e sempre tem o que fazer.

Mas tu sempre almoço em casa?

JP – Sempre. Nem sempre tomo chimarrão antes, se o almoço já tá pronto eu já almoço. Que o meio dia é muito curto. Eu gosto de olhar um futebolzinho. E como sou gremista e a gente tá numa fase boa eu to aproveitando mais. Olho um futebolzinho e também dou uma cochilada, que isso é um vício meu. Pode ser quinze ou vinte minutinhos e já levanto novo. Daí neste horário eu não consigo prestar muito a atenção nas notícias, só sei que tem alguém falando na volta. E já saio pra minha rotina de novo.. E daí depende do que tem pra fazer, pela falta de gente pra trabalhar. Tem que fazer de tudo um pouquinho, tem que saber de tudo um pouquinho. Quem é proprietário sabe.. É a mesma coisa que uma dona de casa ela trabalha o dia todo e às vezes o cara chega em casa e pergunta, mas tu não fez isso? Não tá pronto isso, não tá pronto aquilo? Mas as vezes é o serviço que não aparece, mas tu não para. Como o tombo de leite é uma coisa que dá trabalho, tem que tá sempre junto com quem ta fazendo.. Por isso a gente cansa.. Chega tarde em casa cansado, tomo um chimarrão, janto e quando muito dou uma olhadinha na televisão e vou m deitar cedo que é a hora que eu tenho pra descansar.. Porque a gente cansa.. Mas a minha atividade é essa aí mesmo..

Vocês me disseram que comentam com as mulheres o que vêem na TV, com amigos, com filhos vocês também comentam?

JP – É uma das formas que a gente mais vê TV é através desses comentários.. Eu digo, eu olho TV sem olhar, daí a Maria Célia me comenta..Sobre leite, criação de gado.. Esses dias eu tava vendo sobre conservação de silos, que se a gente tivesse mais tempo aproveitada mais.. Eu gosto de comentar, de ver a opinião de outras pessoas.

E tu Tio João, gosta de comentar?

J – Eu também faço a mesma coisa.. TV a gente que tá lá fora tem muita vontade de olhar, mas não tem tempo.. Às vezes a gente sabe que tem uma coisa, mas não pode olhar porque

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tem que ir lá reparar um bicho, mas a gente comenta e ouve dos outros que tem mais tempo para olhar..

CH– Ontem mesmo tava dando a propaganda dum remate bom de olhar, mas eu não pude..

J – O que é mais comum de vocês comentarem ou ensinarem do que vocês já viram na TV?

JP – Acho que o que mais a gente comenta é o que está ligado a nossa atividade né?! Eu mesmo que eu tava contando pro Chico sobre o Leite.. Quanta coisa o Canal Rural nos mostra sobre isso, sobre agricultura.. O bom da TV pra mim não é não é novela, não é filme.. Televisão pra mim é um noticiário de fundamento, um futebolzinho, e o que me prende são as informações. Eu não sou de ficar até tarde pra assistir um filme.. Pra começar eu nunca assisti um filme completo.. Então as coisas que te interessam mais é isso. Então a grande vantagem do Canal Rural com relação a outros é que ela te traz essas informações em vários horários..

J – É mesmo.. No Canal Rural não dá novela..

CH – Que nem eu comentei sobre a função dos índios lá.. Outra mídia não fala daquilo lá né? Pra gente que é de fora é importante saber, nós não semo dono.. Eles foram os primeiros a habitar o Brasil.. E o Canal tá lá, em cima, mostrando..

JP – É que o Canal Rural é mais voltado pra nós.. Não é que não te interesse o que passa lá nos Estados Unidos... É claro que me interessa, mas é que o que mais nos interessa é o que tá passando aqui, tá informado do nosso mundo..

Vocês já me disseram que aprenderam com o Canal Rural, O tio João mesmo falou da doma. E em algum momento vocês repassam isso que aprenderam?

Todos dizem juntos que sim.

JP – No meu caso, às vezes vou na casa do Paulo Henrique na cidade e pergunto, tu vou na televisão tal coisa? Não precisa ser só do Canal Rural.. Informações no geral..

E tu Tio João repassa isso?

J – Repasso.. Eu acho que a tecnologia tá muito avançada desde a parte campeira.. O que eu aprendo eu falo..

Tu também Chico?

CH – Tudo que eu acho interessante eu repasso. Tanto com a Veroni quanto com o mano..

JP – Vários remates por exemplo que tão fazendo no RJ.. Tão levando nossos animais pra lá, nossa cultura, nossa indumentária.. Isso aí é gostoso de ver que o gaúcho é admirado por todo o Brasil.

Agora me citem cada um, uma coisa que seja a mais importante do que vocês vêem no Canal Rural?

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CH - Eu me interesso pelos preços das coisas..o que eu aprendo também..

J – O mais importante é a previsão do tempo que da de meia em meia hora.. E eu acho que a previsão que dá no Canal Rural é a mais certa..

JP – Eu além das informações é o avanço da tecnologia, os maquinários. Se tu não tivesse tu não teria como fazer. O que eu digo pro meu neto, que tá fazendo o curso de técnico agrícola lá em São Vicente. Tchê, se tu inventasse de ficar aqui fora tu ia ser mais um peão, mandado, sem saber o que fazer..Hoje o conhecimento da pessoa que trabalha no campo tem que ser igual ou mais do que o do patrão.. Porque o patrão tem que sabe de tudo.. Por exemplo te dão uma máquina dessas e tu não sabe usar, tem que ter estudos. Os mais jovens dão um banho em como lidar nessas máquinas, mas se tu não tem esse tipo de informação tu fica perdido

Vocês me disseram que o homem e a mulher do campo do Canal Rural são iguais a vocês, vocês se enxergam no Canal Rural.. Me descrevam características desse homem e da mulher do campo.. Eles tratam o homem e mulher trabalhando junto, separados?

CH– Eu acho que é igual.. A mulher dona de casa..

E tu Tio João?

J – Eu também acho. A Zelma às vezes eu até acho que trabalha mais do que eu.. Acho que como toda a mulher campeira trabalha bastante.. Claro que não nas mesmas coisas que o homem.. Tem umas que saem, mas é mais difícil..

JP – Eu acho que é um trabalho integrado. Quem ta no campo é marido e mulher.. Não adianta, não teria nem com quem conversar, dialogar se ela não entendesse do campo.. Assim como não me cai pedaço em ir pra cozinha, fazer comida enquanto ela descansa.. Então eu acho que essa integração deve acontecer e é mostrado no Cala Rural..

E vocês acham que a programação do Canal Rural é mais voltada para o homem ou para a mulher?

JP – Eu tenho dúvidas, mas eu acho que talvez, pela atividade do homem não sei se é mais que a mulher, tem esse espaço que é mais fora de casa e não tem tanto tempo pra ficar em frente a TV, no trabalho de dona de casa..

Ou seria destinado aos dois vocês acham?

JP – Não sei se seria tão repartido assim, acho que as mulheres ainda ganham..

E tu Tio João?

J – Eu acho que para a mulher. Porque ela fica em casa, lavando roupa, fazendo comida, limpando a casa e consegue dar conta de tudo e tem mais tempo para olhar TV. Ela consegue ouvir uma vaca no campo e me pergunta o que acontece..

CH - É que nem eu disse depende do horário..De manhã cedinho é para homem.. A parte da tarde é mais pra mulher que fica em casa..

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Todos dizem é muito difícil dizer.

JP – As novelas nos atrapalham também, que as mulheres gostam de olhar.. A novela me incomoda, porque eu não vejo nada instrutivo.. Não te traz grandes subsídios pra vida..

E a linguagem que o Canal Rural usa, é uma linguagem boa, é diferente dos outras emissoras?

CH – É bem diferente.. Eu entendo tudo..

J – Eu também acho.. Em outras as vezes eu não sei nem do que tão falando.. Porque nós que vivemos pra fora estudamos bem pouquinho.. Já mais popular nos entendemos..

JP – Também acho mais acessível. Como a gente se identifica, fica mais fácil entender..

A opinião do outro, seja amigo, mulher, filho, faz com que vocês mudem a opinião a partir de algo que viram na TV?

JP – Eu acho que eu não sou radical.. Gosto de conversar, discutir e achar o melhor caminho.. O bom é quando a gente consegue trocar ideias..

J – Eu também gosto de ouvir opiniões para ver qual lado seguir.. Não sou desses que só que sei.. Gosto de procurar o lado certo..

CH - Eu também acho que tem que ser assim..Se não tem diálogo nada vai dar certo.. Tu tendo uma opinião de outro tu consegue enxergar o outro lado.. É que nem casamento, se tu endurecer aí não dá certo.

Vocês assistem Jornal Nacional e novela?

JP – Quando eu to em casa assisto o Jornal Nacional.. Novela não.

J – Um pouco pelo menos.. Novela não

Ch – Termina o jornal do Canal Rural eu passo pro JN.. Novela as vezes assisto.. Reparo com a Veroni, tem só uma TV..

JP – O brabo da novela é que um dia tu tem tempo e outro não.. Daí tu perde tudo..

Assistem o Canal Rural, pra se divertir pra passar o tempo, pra se informar ou pra aprender?

Todos dizem pra se informar e pra aprender..

Mesmo tendo vivido este tempo todo no campo, vocês acham que ainda tem o que aprender? Estão dispostos a mudar?

Todos dizem que sim. Com certeza..

JP – Quem parar e não quiser aprender mais então que se aposente..

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J – O cara tá sempre aprendendo.

C – Qual é a diferença dos jornais do Canal Rural e o de outras emissoras? Qual o melhor e pq?

CH - Pra mim é os do Canal Rural. Os outros é só desgraça e bandido e mataram. Pra ti trabalhar um dia inteiro e olhar aquilo ali é brabo..

JP – É muita tragédia.. É roubos assaltos, mortes.. O Canal Rural não tem esse tipo de informação.. Aí tu vê uma coisa que mostra campo, mostra animais, aí tu descansa..

J- Os outros jornais dá mais tragédia do que notícia.. Pra nós aquilo ali não tem fundamento nenhum.

Ch – Eu não sei.. A globo não tem interesse com o campo..

JP – Eu acho que o Canal Rural é uma necessidade.

Tem algum programa que vocês param tudo para ver, que assistem tudo?

JP – Pelo meu tempo eu não tenho um só..

J – Nós lá fora não temos isso de ter um único.

CH– Eu também não tenho.

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APÊNDICE 7

Transcrição do grupo de discussão feminino

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Transcrição do grupo de discussão feminino

O objetivo de conversar separado o homem da mulher é pra que vocês tenham mais liberdade e se sintam mais a vontade de repente. A gente vai começar por ordem pra que cada um possa falar um pouquinho. Vamos começar aqui pela Tia Zelma

Z – Começa pela Maria Célia

Pode ser.

V – Eu o que eu souber eu te respondo. Se não não falo nada..

Não tem problema. Eu quero que vocês sejam vocês e falem livremente

Eu quero que vocês me relatem como é a rotina de vocês desde que acordam.. O que vocês fazem.. Se ligam a TV.. Quero saber como é a ordem do dia de vocês..

MC – Ahh.. A primeira coisa que eu faço é acordar e tomar chimarrão junto com o Zé Paulo.. E com a TV ligada.. E agora ultimamente a gente tem olhado o Bom Dia Rio Grande.. E esses dias eu levantei mais cedo e liguei a TV primeiro no Canal Rural e tava dando o Bom Dia Campo.. E eu até comentei que tava dando umas coisas sobre vacas holandesas.. É aquilo da geada.. Muito bom.. Para o nosso ramo que a gente tem gado de leite é muito bom.. Daí eu segui acompanhando.. Daí em seguida eles já vão para o campo, já tão tomando o café deles e eu sigo ali acompanhando.

Vocês tomam café juntos?

MC – Sim. Eu o José Paulo e o Paulo Henrique. Daí eles saem para as atividades e eu fico ali. dou comida para as galinhas, vou na horta, se eu preciso ir lá no tombo de leite eu vou, depois tem que ta supervisionando o nosso caseiro. Daí volto pra dentro de casa pra fazer o almoço

A TV fica ligada todo o tempo?

MC – Não.. Daí quando eu vou ali pra cozinha eu desligo.. Quando tem um programa que eu quero ver eu vou lá e ligo...

Daí vocês almoçam juntos? Ligam a TV?

MC – Não.. O José Paulo gosta dum radinho.. pra acompanhar o esporte.. Eu é que gosto de ir lá assistir o jornal. E depois meio dia e quinze, meio dia e meia tem aquele do canal rural que eu também gosto de olhar.

Daí vocês ficam separados neste horário, um na TV e outro no radio?

MC – Não.. Daí ele fica assistindo as coisas dele no radio e eu almoço e quando eles comem a sobremesa eu vou lá olhar.

E depois do almoço ele volta a trabalhar e tu fica nos afazeres da casa?

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MC – É.. Dai de tarde que eu tenho tempo de limpar a casa, lavar roupa..

E a tardinha quando eles voltam.. O que vocês fazem?

MC – A gente senta ali e vai tomar chimarrão..Aí o José Paulo olha aquele programa do canal rural. Se eu vejo um programa que me interessa eu comento com ele..

Daí é a TV janta e dormem? Que horas costumam ir dormir?

MC – O José Paulo bem cedo, agora é oito horas e ele dorme.. Levantamos as seis horas, bem cedo e vamos tomar mate e olhar TV juntos..

E tu Veroni qual é a tua rotina?

V – A minha rotina também é a mesma. A gente mora lá, só que eu não é todo o dia que eu acordo na hora que o Chico acorda.. Eu às vezes acordo depois..Tô um pouco preguiçosa.. Mas sempre acordo, tomo chimarrão olhando TV.. E sempre o Chico olha o Canal Rural de manhã.. Daí a gente toma o café junto e ele sai e eu fico dentro de casa fazendo meus afazeres.. Nisso a TV fica sempre ligada.. Até as dez fica no Canal Rural.. Quando dá aquele programa um canal que da só artesanato dai eu mudo pra lá.. E eu olho sentada tomando chimarrão.. Depois termina e vou pra cozinha e coloco pra Globo pra olhar a Fátima... Depois dali eu faço almoço, vou na horta no jardim..

Daí o Chico vem pro almoço e vocês almoçam com a TV ligada? Em qual Canal?

V – Sim.. Com a TV ligada no Jornal do Almoço.

Que horário vocês passam para o Canal Rural?

V – Tipo uma hora por ai.. Começa um programa do gordinho aquele dos cabelinhos brancos.

Vocês pegam a informação do Jornal do Almoço e já passam para o Canal Rural?

V – Sim.. Fica até a hora que começa aquele programa que tem música sertaneja.. Neste intervalo eu já arrumei minha cozinha, já fiz todas as minhas lida ali.. Ai eu gosto de dormir um pouquinho daí eu desligo a televisão. Daí duas e quinze eu ligo de novo até as três eu assisto um outro canal que é só artesanato.. Assisto se me convém.. Se é coisa que me interessa.. Aí depois passo para o Canal Rural que tem artesanato de novo até as quatro.. A maior parte do tempo fica no Canal Rural..

Aí de tarde tu fica envolvida nisso?

V – Isso.. Bordando, costurando, vejo a previsão.. Daí às seis horas, seis e vinte eu olho a novela na Globo.. Termina a novela eu ponho no Canal Rural que tem um jornal.. Eu acho que é o mesmo que dá de manhã.. E depois a gente olha até terminando a novela das seis a gente olha até começar o Jornal Nacional.. Daí a gente muda para a globo para assistir.. Assistimos a novela.. daí dependendo a gente fica ali, se não vamos para outro canal.. Durmo em torno de 11 horas..

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Acordam que horas?

V – Por volta de seis horas o Chico.. Eu não.. risos.. Eu tomo remédio para dormir então eu sempre durmo mais.. Quando eu vejo que ele levantou eu levanto também...

E tu Tia Zelma, como é a tua rotina?

Z – Aii.. A minha rotina.. Deixa eu ver se eu vou conseguir responder direito.. Tomei um susto hoje to meia perdida.. Me acordo meio cedinho.. Antes do meu marido..

Que horas tu te acorda? 6,7?

Z – Não.. Cinco e meia eu já to acordada.. Não sei porque.. O jaques levanta as cinco e começa a mexer com os gansos e eu já me acordo. O João tem o sono muito pesado e não ve..

E o que tu faz tão cedo?

Z – As seis eu levanto vou fazer o meu mate.. Daí ligo a Tv e fico tomando mate..

E o Tio João que horas levanta?

Z – Às seis e meia.. Às vezes mais cedo que eu.. Geralmente eu mais cedo.. Daí faço minhas higienes e tomo chimarrão.. Sem tomar bastante chimarrão eu não acordo.. Antes do café.. O meu café é lá pelas nove horas. Olho o Canal Rural.. Olho bastante a globo.. Olho o Bem estar.. Depois que começou eu não perdi mais nenhum.. Geralmente mais é o Jornal do Almoço e o rádio que fica ligado.. Como faço meus doces, minhas coisas, não tenho tanto tempo de tá ali né..

Tá e além dos afazeres da casa tu faz os teus doces sempre?

Z – Sim.. Todos os dias.. Principalmente agora.. Limpo casa, horta, crio pinto.. E o João faz as lidas campeiras, campereadas, cercas.. Tomamos o chimarrão das 11h30.. Olhamos o Jornal do Almoço... E depois almoçamos.. TV eu olho mais de noite.. Durante o dia é mais corrido..

Daí de tarde o Tio João segue nas campereadas e tu nos afazeres de casa?

Z – Sim.. Mas não é todo o dia que tem campereada, todo o dia tem trabalho dele.. Daí a tardinha tem o chimarrão de novo, janta. O João gosta muito de olhar o Canal Rural de noite, remate o João gosta muito.. Daí eu assisto com ele.. Daí ele vai deitar e eu fico olhando televisão até a meia noite..

O tio João vai deitar que horas?

Z – Ahh.. Ele ronca cedinho.. Nunca vi.. Ele deita e já tá dormindo.. Antes da meia noite eu não consigo dormir.. Às vezes eu tento desligar a TV pra dormir, mas eu volto e ligo pra vir o sono..Aí eu fico olhando a TV, olho o Canal Rural e tudo que tiver até vir o sono.. Se eu to só dentro de casa a TV fica o dia inteiro ligada.. Mas como às vezes eu saio pra horta, para os pintos, daí não dá

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V – Eu não tenho TV no quarto, só na sala, e fico lá olhando até me dar sono..

Vocês me disseram na outra conversa que comentam o que dá no Canal Rural com os maridos. Eu queria saber se vocês também comentam alguma coisa da programação da TV, com a família, amigos, filhos?

Z – Sim eu comento..

Não só do Canal Rural, mas de tudo..

Z – A Loiva tem só SKY.. Daí eu disse Loiva porque vocês não botam o sinal da RBS? Que

Vocês comentam também?

V – Sim.. Quando tem uma novidade também gosto de comentar..

MC concorda com cabeça.

E quando vocês aprendem alguma coisa.. Vocês gostam de repassar para as pessoas que vocês convivem? O que vocês lembram que já aprenderam na TV e contaram/mostraram para alguém?

Z – Eu gosto muito de repassar as receitas que eu aprendo, gosto muito.

V – Eu também.. Eu chamo os cobaias..risos

MC– Eu também.. Hoje mesmo tava comentando que tava dando uma receita de quinoua..

V – O que é quinoua? Eu vi a receita, mas não consigo me lembrar o que é a quinoua..

MC – Quinoua é uma sementinha, é muito boa pra saúde.. Tem um rapaz que é primo do José Paulo que disse que pode faltar tudo na casa dele menos quinoua.. Ele teve câncer e a quinoua é um complemento necessário pra ele.. Sementinha bastante saudável..

V – Outra coisa que eu adoro comentar e gosto de ver é coisa de pastagem eu adoro essa área.. De aprender como fazer, como cuidar, saber de quanto em quanto tempo é o manejo.. Gosto de ensinar isso.. O próprio Chico às vezes eu dou as dicas..

MC – Os meus vizinhos ali eles tem gado de leite eles não olham o Canal Rural daí eles vão lá em casa e eu pergunto se eles não assistiram tal coisa e eles dizem que não.. Daí eu digo pelos menos assistam o tempo.. A previsão do tempo.. Eu olho também as pastagens.. Daí eu comento com o Zé Paulo e ele me diz que é uma pastagem que não é pra o nosso clima..

Quero que vocês que vocês me digam o que é mais importante do conteúdo que vocês vêem no Canal Rural?

MC – O que eu vejo ali é sobre o gado leiteiro, manejo, coisas bem simples.. Como assim o caso de homeopatia.. Volta e meia eles falam sobre homeopatia.

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V – Eu gosto de toda a programação do Canal Rural porque é ligada a minha vida.. Mas eu gosto muito das receitas. Tô sempre com uma canetinha e um papelzinho pra anotar tudo.

Z – Eu também é que nem a Veroni com as receitas.. E também sobre os preços das coisas.. Pra ver o mundo como tá.. Tu mora fora, tu não lê jornal, então com o Canal Rural tu fica a par de tudo né! A previsão também.

V – Eu consigo conciliar três coisas: o Chico, a internet e a televisão..risos.. Respondo pra ele, escrevo na internet e olho televisão..

E o que vocês mais aproveitam do Canal Rural, que é mais acessível para vocês?

MC – É o gado leiteiro. O Zé Paulo gosta mais da soja, do arroz.. A gente faz o curso do Sebrae que também é um complemento..

V – O que eu mais gosto de ver é as cotações e as pastagens.. A área de pastagem sempre me interessa e comento.. Uso na minha vida, me ajuda, às vezes o Chico chega dizendo: plantei dia tal e não cresceu ainda e eu digo falta luminosidade, falta o calor.. É uma coisa que eu me baseio olhando que é o complemento daquilo que eu aprendi..

Z – Nós também é a criação de gado de ovelha, cavalo.. coisas que interessam ao campo..

Da outra vez eu perguntei se vocês achavam que o Canal retratava exatamente a mulher e homem do campo e vocês me disseram que sim. Hoje eu quero que me descrevam, me deem características de como é a mulher do campo e o homem do campo que o canal rural mostra.

Silêncio..

Como vocês acham que o Canal Rural mostra?

MC – No meu caso é o gado de leite.. Às vezes o Ze Paulo ta lá fazendo e eu digo mas não foi assim que eu aprendi.. Daí ele diz que aos poucos a gente vai encaixando ao que a gente tem..

Pelo que o Canal Rural fala.. Vocês acham que eles entendem a mulher como uma pessoa que fica em casa, fazendo só os afazeres da casa e o homem do campo? É isso que eu quero que vocês me digam, como eles tratam o homem e a mulher do campo?

MC– Eles tratam por igual. Eu acredito que sim porque a mulher tanto na lavoura mesmo agrega as mulheres, o manejo do gado leiteiro a mesma coisa, eu acho que sim..

V – Eu acho que sim. Hoje tem as produtoras rurais. Antigamente falavam só no termo masculino.. Não sabiam que atrás deles tinham uma mulher que trabalhava também,.. Eu mesmo quando comecei, comecei trabalhando com o Chico na lavoura.. Hoje que não é bem assim porque a saúde não é mais a mesma.. Então eu acho assim que a mulher tá igualada.. Antes falavam assim: o produtor rural.. Hoje falam produtor para homem e mulher.. E mostram isso no Canal Rural, tem palestras, dicas.. Daí tu pensa ai se meu marido não puder eu não sei o que fazer.. Não se tu quiser tu faz tudo assim como ele faz no campo..

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E é exatamente como vocês vivem no campo, como é a vida de vocês?

Z – Sim.. Muita coisa quando o João não tá eu mesma faço, decido e faço. Sei fazer..

V – Sim.. Muitas vezes até substituímos eles... Quem não sabe fazer não sabe mandar.. Isso eu aprendi na marra.

A linguagem do Canal Rural é boa? Vocês entendem? É diferente das outras?

Todas juntas dizem que sim.

E todas dizem que não é diferente das outras.

Zelma discorda.

Z – Bem explicado tudo.. Talvez pra quem é leigo no assunto não seja bom, é uma aula pra gente aprender mais ainda.. O Canal Rural não deixa dúvida nenhuma.. Eu acho que tem uns canais que deixam, que eu não entendo..

Vocês acham que o que vocês veem no Canal Rural é mais voltado para o homem ou para a mulher?

Todas dizem que para os dois..

MC– Sempre tem a mulher junto..

Z – As mulheres tão fazendo muita frente..

MC – Tem mulher criadora de cavalo, de gado..

A opinião do outro faz com que vocês mudem de opinião a respeito de algo que viram na TV?

Z – A mim não..

V – A minha é independente..

MC – Às vezes tenta adequar a minha com a dela para que ambos saiam satisfeitos.

Vocês se vêem como donas de casa ou produtoras rurais?

V – Eu como produtora.

MC – Eu como produtora.

Z – Na verdade eu sou doceira e dona de casa, mas auxilio no trabalho do campo.. O meu dona de casa envolve o trabalho rural.

Assistem Jornal Nacional e novela?

Todas dizem que sim..

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Assistem o Canal Rural para se divertir, para passar o tempo, pra se informar ou para aprender?

Todas dizem juntas para se informar e aprender..

Vocês acham que ainda tem o que aprender? Ou já sabem tudo?

V – Não.. De maneira nenhuma, ainda temos muito o que aprender.. Cada dia é um aprendizado novo..

Z – Enquanto a gente tiver vivendo vamos ta aprendendo..

Vocês acham que mesmo tendo vivido todo esse tempo para fora ainda tem o que aprender?

V – E muito

Z – Só melhora com o tempo..

MC – Com certeza.. Facilita muito essa aprendizagem.. Às vezes é um detalhe que muda tudo..

Qual modelo de jornais que vocês mais gostam? Os de outra emissora ou os do Canal Rural?

V – Eu gosto do Canal Rural.. O Jornal Nacional eu gosto mas é muita tragédia, e eu não quero ficar sabendo disso.

MC – O Canal Rural abrange todos os setores sem coisas ruins, é muito bom..

Z – Jornal Nacional dá muita tragédia.. No Canal Rural não se vê esses absurdos de matação de assaltos..

V – O Canal Rural é só o que nos interessa

Tem algum programa que vocês não percam por nada, que param tudo para assistir?

Z – O meu é o Bem Estar de manhã, depois que entrou eu olho todo o dia..

V – O Vida e Saúde de sábado e o da Fátima eu adoro..

MC – Eu também é o da Fátima e o Vida e Saúde..

Tem algum do Canal Rural que vocês para tudo para assistir?

V – Eu paro.. O artesanato eu paro..

Z – Eu é das receitas, mas não é fixo..

MC– Eu mesmo não fazendo adoro olhar o artesanato..

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