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vitória vitória Revista da aRquidiocese de vitóRia - es Ano X Nº 120 Agosto de 2015 Cuidar não é brincadeira A JUSTIçA: CAMINHO DE COMUNHãO COM O PROJETO DE DEUS CAMINHOS DA BÍBLIA presente para a Nossa Casa ATUALIDADE Um REPORTAGEM

caminhos da bíblia A justiçA: CAminho de Comunhão Com o ...aves.org.br/wp-content/uploads/2015/08/REVISTAVITORIAAgosto2015... · matéria. Agora é o momento de agir”. Mas não

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vitóriavitóriaRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

Ano X • Nº 120 • Agosto de 2015

Cuidar não ébrincadeira

A justiçA: CAminho de Comunhão Com o projeto de deus

caminhos da bíblia

presentepara a Nossa Casa

atualidadeUm

RepoRtagem

arquivix

@arquivix

EEspiritualidade, que foi durante muito tempo tema restrito à religião, começa a entrar em outros am-bientes e ser considerada como elemento que faz

diferença seja no contexto empresarial, seja no contexto escolar. Neste último, mesmo considerando as discussões sobre diversidade religiosa, o ser espiritual ganha espa-ço e firma-se como a dimensão do equilíbrio. Buscar o equilíbrio, aliás é a tentativa humana principalmente em tempo de crises de valores. Esta edição traz um pouco de buscas e ausências e, umas e outras, reafirmam a importância de dar à vida uma dimensão que vai além de valores tangíveis e calculáveis. Cuidar das pessoas, proteger, preservar a natureza é cuidar do humano e para tal é necessário espiritualizar a vida, colocar nos relacionamentos e no trabalho a dimensão espiritual, ser espiritual para ser mais humano. Boa leitura! n

A dimensão do equilíbrio

editoRial

fale com a gente

maria da luz fernandeseditora

Envie suas opiniões e sugestões de pauta para [email protected]

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(27) 3198-0850 ou [email protected]

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mitraaves

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vitóriavitóriaRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

Ano X – Edição 120 – Agosto/2015Publicação da Arquidiocese de Vitória

miCronotíCiAsVolunturismo em alta

ideiAsO tempo parece exaurir-se

Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispo auxiliar: Dom Rubens Sevilha • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão: de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 Ilustrador: Richelmy Lorencini e Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica e Editora GSA - (27) 3232-1266

AtuAlidAdeUm presente para a nossa casa

especiAlO serviço policial natrilha do autoconhecimento

economiA políticA Quem paga a conta?

AspAsSanta Teresinha

cArismAs religiosos Filhos da Divina Providência

diálogosServos e Servas da Paz

05

24

27

32

39

43

11

15

17

21

08

12entrevistA

A paixão por discos de vinil

29

03 editoriAl

16 espirituAlidAde

18 cAminhos dA bíbliA

22 viver bem

28 comunicAção

34 reportAgem

40 ensinAmentos

45 culturA cApixAbA

46 AconteceArquivo memóriAA construção da Catedral de Vitória

mundo litúrgicoLiturgia e Unidade

pergunte A quem sAbePor que todo mundo vira bom quando morre?

sugestõesConhecendo o Espírito Santo

atualidade

um presente para a

Nossa CasaQue o Papa Francisco conse-

gue atingir com sua comuni-cação e suas atitudes o cora-

ção dos ouvintes é uma constatação que se faz desde sua eleição, mas a Encíclica Laudato si, que introduz o conceito de ‘ecologia integral’, con-seguiu reunir opiniões não esperadas e surpreender pela repercussão em ambientes fora da Igreja Católica. Achim Steiner, Diretor Executivo do PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, afir-mou: “esta Encíclica é um apelo que ressoa não só nos católicos, mas em todos os povos da Terra. A ciência e a religião estão alinhadas nesta matéria. Agora é o momento de agir”. Mas não foi apenas Steiner, o Presidente Barack Obama, a Presi-dente Michelle Bachelet, o Presidente François Hollande, a FAO, Organi-zação da ONU para a Alimentação e Agricultura e a WWF, Fundo Mun-dial para a Natureza, salientaram a perspectiva humanista da encíclica e a importância do tema nas pautas mundiais perante a realidade atual. De fato, a Encíclica “ L a u -dato si - sobre o cuidado da casa comum” fala da ecologia humana

gilliard ZuqueVander silva

revista vitória I Agosto/20155

atualidade

Encíclica Laudato Si”, disse o papa. E ainda afirmou: “não é uma encíclica verde é uma encí-clica social, porque da vida social dos homens não podemos separar o cuidado com o ambiente, que é uma atitude social”. O papa cita dados referentes às mudanças climáticas, à questão da água, à erosão da biodiversi-dade, à deterioração da qualidade da vida humana e à degradação da vida social, denuncia a alta taxa de iniquidade planetária, afetando todos os âmbitos da vida, sendo que as principais vítimas são os pobres. E mais uma vez o papa que escolheu o nome de Francisco, explicou que o nome da Encíclica foi inspirado na invocação de São Francisco “Louvado sejas, meu Senhor”, quando compara a terra com uma irmã ou uma mãe. A nova Encíclica é com-posta por seis capítulos: “O que está a acontecer à nossa casa”, “O Evangelho da criação”, “A raiz humana da crise ecológica”, “Uma ecologia integral”, “Algu-mas linhas de orientação e ação” e “Educação e espiritualidade ecológicas”. Na véspera do lançamento do

e o clima é uma das preocupa-ções apresentadas. Além disso, são apontadas as problemáticas e desafios de preservação e pre-venção, como também aspectos da proteção à criação e questões como a fome no mundo, pobreza, globalização e escassez. O pontífice vai muito além da questão ambiental simples-mente, ele incorpora no texto as questões sociais ligadas direta-mente à pobreza. “Essa atitude de cuidar do ambiente, não é uma atitude verde é muito mais; cui-dar do ambiente significa uma atitude de ecologia humana, a ecologia é total, é humana. E isso é o que eu quis desenvolver na

texto, o papa Francisco afirmou que a Terra tem sido maltratada e saqueada. “Esta nossa ‘casa’ está sendo arruinada e isso prejudica a todos, especialmente os mais pobres. Portanto, o meu apelo é à responsabilidade, com base na ta-refa que Deus deu ao ser humano na criação: ‘cultivar e preservar’ o ‘jardim’ em que ele o colocou. Convido todos a acolher com âni-mo aberto este Documento, que está em sintonia com a Doutrina Social da Igreja”.

repercussões Em todo o mundo os am-bientalistas se pronunciaram e comemoraram o posicionamen-to da Igreja em relação ao meio ambiente. “Esta encíclica terá um grande impacto. Francisco está diretamente envolvido como nenhum papa antes dele. Ele está animado com o que esta encíclica comunicará”, afirmou Christiana Figueres, presidente da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáti-cas (UNFCCC), em uma reunião em Bonn, na Alemanha. Ambientalistas encaram a Encíclica como um “presente”

“Em acordo com a Encíclica do papa, Em 2016,

a campanha da FratErnidadE Ecumênica da

cnBB tErá como tEma “AsA Comum, nossA responsAbilidAde” e lemA “Quero ver o

direito brotAr Como fonte e Correr A justiçA QuAl riACho Que não seCA”.

cedentes à mobilização de toda a humanidade, e não só dos cató-licos, nas questões ambientais e por um mundo socialmente justo e ambientalmente equilibrado”, afirma a diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota. “Como ambienta-listas, valorizamos e nos sentimos honrados com o nobre engaja-mento do papa Francisco”. “No âmbito científico, já está

comprovado de que a ação do homem sobre a natureza é

que está provocando as mudanças climáticas

atuais; as grandes empresas já per-ceberam que precisam adotar uma estratégia que cuide do

que deve alertar ainda mais so-bre a urgência da preservação da natureza. “A encíclica papal vai direto ao ponto ao criticar, com detalha-mento e de maneira contundente, nosso atual modelo insustentável de desenvolvimento. Com um texto claro e de fácil acesso, traz ainda uma contribuição sem pre-

“no âmbito CientífiCo, já está ComprovAdo de Que A Ação do homem sobre A nAturezA é Que está provoCAndo As mudAnçAs ClimátiCAs AtuAis;as graNdEs EmprEsas já pErCEbEram QUE prECisam adotar

Uma Estratégia QUE CUidE do mEio ambiENtE; E os govErNos já

ENtENdEram QUE é mais barato CUidar da NatUrEza do QUE arCar

Com as CoNsEQUêNCias, Em todos os QUEsitos. ”

meio ambiente; e os governos já entenderam que é mais barato cuidar da natureza do que arcar com as consequências, em todos os quesitos. A encíclica do papa Francisco vem complementar es-ses três aspectos, trazendo emba-samentos éticos e morais”, afirma Carlos Nomoto, secretário-geral do WWF-Brasil. “As palavras do papa devem servir para afastar os governantes de seu comportamento apático”, acredita Márcio Astrini, coorde-nador de políticas públicas do Greenpeace Brasil. Em acordo com a encíclica do papa, em 2016, a Campanha da Fraternidade Ecumênica da CNBB terá como tema “Casa comum, nossa responsabilidade” e lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”. A atividade será coordenada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). n

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Confiança nos cientistas

volunturismo em alta

Um estudo divulgado na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos (SP), revelou que, apesar de manter pouco contato com a ciência, o brasileiro tem uma visão positiva sobre a área e confia mais nos pes-

micRonotícias

Cada vez mais brasileiros estão buscando programas de “volunturismo”, modalidade de intercâmbio cuja finalidade é fazer um trabalho voluntá-rio no exterior. É um programa que reúne um pouco de tudo do mundo do intercâmbio: o idioma estrangeiro, o contato com a população local e a experiência do trabalho fora do país. Os programas duram de duas semanas a um ano e podem ser combinados com cursos de idiomas. Além da experiência singular, optar por esses intercâmbios também pode significar economia. Como muitas vezes envolvem acomodação em casas de família ou quartos compartilhados, eles custam de 30% a 40% menos que um programa convencional.

dedicaçãoAs imagens de um ga-rotinho de 9 anos es-tudando na calçada de uma rua em Cebu, nas Filipinas, comoveram internautas. A cena foi fotografada pela estu-dante Joyce Torrefranca e publicada em seu per-fil no Facebook. Após o sucesso na rede social, Daniel Cabrera acabou recebendo uma bolsa de estudos. O menino tem o costume de estudar na calçada do restaurante onde sua mãe e seu ir-mão trabalham.

quisadores do que nos médicos. 73% das pessoas acreditam que a ciência e a tecnologia trazem mais benefícios do que malefícios para a humanidade e, para 50% dos entrevistados, cientistas são “pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade”.

uma criança, uma árvoreCada bebê que nasce nas cidades de Itaperuna, no Rio de Janeiro e Passo Fundo no Rio Grande do Sul ganha uma árvore com seu nome. Segundo a prefeitura de Passo Fundo o programa “Uma Criança, uma árvore” já plantou mais de seis mil árvores na cidade. Além de fazer uma homenagem, arborizar a área urbana do município é criar uma ação permanente de preservação do meio ambiente.

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Guerra ao isopor

Amor ao próximo

Compartilhar carona

Nova York se juntou às cidades que declararam guerra contra as embalagens, pratos e copos de isopor, material que é tão atraente para os negócios e a praticidade do dia a dia quanto tóxico ao meio ambiente. Desde

Aos 9 anos, a menina Hai-ley Fort já tem uma meta solidária e audaciosa para cumprir: construir 12 abrigos móveis para os sem-teto de uma cidade em Washington neste ano. A missão dela com essas pessoas iniciou há quatro anos quando pe-diu à mãe que comprasse alimento para um sem teto. O custo de cada abrigo é de cerca de US$ 300. O preço acaba não sendo alto, por-que muitos dos itens vêm de doações. As paredes são feitas de pallets. A casa terá cortinas, uma lâmpada mo-vida a energia solar e tranca na porta. Além de trabalhar na construção dos abrigos, Hailey planta frutas e ve-getais. Ela pretende culti-var cerca de 100 quilos de comida para os mendigos neste ano.

A carona solidária tem inúme-ros benefícios. Contribui para a redução do trânsito e a conse-quente poluição, reduz custos de uma viagem e promove a interação entre os passageiros. Unindo tudo isso, a Tripda se propõe a ser uma comunida-de online e gratuita para quem

deseja procurar ou oferecer ca-rona. Os passageiros buscam diretamente os motoristas de sua escolha e os motoristas podem facilmente aceitar ou rejeitar seus pedidos. Os mem-bros também podem conhecer melhor a outra parte através das páginas de perfil dos usu-ários, de maneira a tornar a viagem o mais agradável pos-sível. Quer saber mais? Acesse www.tripda.com.br

o primeiro dia do mês de julho, está proibido vender, oferecer ou possuir qualquer produto feito de isopor na metrópole ameri-cana. A dificuldade em reciclar o material é uma das principais razões para Nova York bani-lo.

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especial

heli schimitteldiretor da academia de polícia civil

o serviço policial natrilha do autoconhecimento

Em maio de 2015, 22 Dele-gados de Polícia e 27 In-vestigadores de Polícia,

todos integrantes do Curso de Formação Profissional para o ingresso na Polícia Civil do Espí-rito Santo (PCES), participaram de um treinamento realizado no Mosteiro Zen Budista, em Ibiraçu. O local escolhido possui rotina baseada na disciplina, na atenção, na vida participa-tiva e no respeito ao próximo; elementos essenciais para que qualquer pessoa, independente de convicções religiosas, possa realizar introspecção, buscando o autoconhecimento e os recur-sos disponíveis em cada um de nós na solução dos problemas. A atividade consiste em ampliar conhecimentos dos servidores para discutir sobre os aspectos de liderança, poder, criatividade, motivação e comu-nicação; bem como desenvol-ver e exercitar habilidades para pensar em estratégias de ação visando à melhoria das relações. A experiência de estar em um mosteiro, local para descan-sar a mente e se concentrar em um único ponto, foi crucial para uma reflexão sobre a vivência cotidiana, os desafios a serem vencidos, como também para buscar como e onde encontrar

forças positivas internas e ex-ternas nos momentos críticos. Em recente encontro com familiares de policiais feridos ou mortos em serviço, o Papa Fran-cisco definiu, em seu discurso, a profissão policial como uma “missão autêntica, que comporta o acolhimento e a aplicação de atitudes e valores de relevância especial para a vida civil, como a disciplina, a disponibilidade ao sacrifício, o combate à criminali-dade organizada e ao terrorismo”. A postura do Pontífice vem corroborar todo esse trabalho desenvolvido. Nossos cursos, tanto de Formação quanto de Atualização, além de preparar o policial para a atividade fim,

também possui o compromisso de mostrar o quanto esse profis-sional que se coloca à disposi-ção da comunidade, assumindo toda ordem de perigo e riscos, inclusive sua própria vida, é um ser humano com forças e fra-quezas. E esses sentimentos se esbarram nas relações interpes-soais produzindo tanto resulta-dos positivos quanto negativos. Com base nessa propos-ta, houve a necessidade de um treinamento que oferecesse condições aos servidores para criarem ações de melhoria das fraquezas e transformação da realidade, a princípio adversa, em possibilidades de crescimen-to e gerenciamento de crises. Durante a estada no mosteiro foram desenvolvidas atividades que mostram a necessidade do ser humano resgatar valores es-senciais para a construção de um mundo melhor. Cada pro-fissional e, em especial o poli-cial civil, possui a obrigação de compreender o outro (empatia, identidade, solidariedade, al-teridade), de comunicar-se de forma eficaz e eficiente, e de trabalhar em equipe respeitan-do as diferenças individuais. n

Foram desenvolvidas atividades que

mostram a necessidade do ser humano resgatar valores essenciais para a construção

de um mundo melhor.

revista vitória I Agosto/201511

ideias

O tempo parece exaurir-sedar-se ao agora, ao que che-

ga, dar-se ao próprio tempo, encantar-se e assombrar-se

com o mundo e com a realidade, exigir de si respostas, mesmo que peque-nas, para as muitas complexidades do mundo são chamados permanentes da existência. Esta convocação esteve nas horas primeiras de todas as religiões: assustado e encantado o homem abriu suas sensibilidades para as utopias. Esta convocação ressoa ainda mais fortemente nos nossos dias, marcados que são pelas agressividades, pelos fundamentalismos, pelas ameaças à vida tão assustadoramente reais. Se as religiões surgem do as-sombro diante do que se encontra, do que acontece e do que se descobre ao se viver, ainda mais aqueles que se afiliam em comunidades de fé preci-sam se dar ao presente em modos de espanto, respostas, ousadias. “Não nos é lícito ignorar o que está acontecendo ao nosso redor, como se determinadas situações não existissem ou não tives-sem nada a ver com a nossa realidade”, disse o Papa Francisco em Quito. Não dominamos os aconteci-mentos que delineiam os territórios

revista vitória I Agosto/201512

O tempo parece exaurir-sedas nossas experiências, isso é um fato. Mas, em contrapartida, diu-turnamente, nos são oferecidas as possibilidades de viver e agir para que o que é de um jeito possa ser de outro. E estas possibilidades só se apresentam no humilde, pequeno e limitado espaço do presente, o tempo que temos. E o tempo, diz o Papa Francisco em Santa Cruz de La Sierra, o tempo parece exaurir-se. É sabido que esse deparar-se espantosamente com a vida e com os mistérios que lhe são inerentes não apenas se constituiu como um momento fundante das religiões lá longe no passado em uma terra de prodígios, encantos, e homens espe-ciais, mas configura-se permanente-mente como um evento estruturante e atualizante das mesmas aqui no mundo dos comuns e dos eventos cotidianos. Aliás, religião sempre é evento atual, que envolve viventes, a despeito de que muitas vezes ela se assemelhe mais a um grande e portentoso arquivo. Confrontar-se com o que acon-tece parece ser o exercício que man-tém as religiões como pontes entre o

“ConfrontAr-se Com o Que AConteCe pAreCe ser o exerCíCio Que mAntém As reliGiões Como pontes entre o mundo Que é e o mundo Que pode ser. sE assim Não

for Elas sErão apENas as aprEsENtadoras

do passado Em liNdos ritos E tExtos, Em

EstrUtUras E orgaNizaçõEs.”

mundo que é e o mundo que pode ser. Se assim não for elas serão apenas as apresentadoras do passado em lindos ritos e textos, em estruturas e organizações. Ouvir do momento presente, da realidade, do que nos cerca e acontece o sagrado apelo que nos convoca a todos a fazer algo pela vida e pelo mundo parece ser um convite a nos reconectar com as intuições, sensibilidades e utopias que guiaram nossos pais na fé. E ao se falar em mudanças, não apenas falamos de “grandes” mudanças. Falamos em modos e práticas, em posturas e jeitos, em afetos e gestos que podem fazer a diferença nesses

tempos difíceis. Somos muito mais livres do que pensamos. Somos mui-to mais solidários do que temos sido. Somos muito mais generosos do que supomos. O presente é a página sagrada que temos o prazer e a responsabi-lidade de escrever para as gerações futuras. Claro que é preciso pensar o que escrevemos, o que não é fácil, dada a complexidade dos dias atuais e também pela nossa imersão neles. Mas, como disse o Papa em Quito, “é urgente que nos animemos a pensar, a buscar, a discutir sobre a nossa situação atual”. n

dauri batisti

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Quem paga a conta?

economia política

arlindo Vilaschiprofessor de economia e coordenador do grupo de pesquisa em inovação e desenvolvimento capixaba da ufes

discutir como o estoque do que é de-vido foi gerado e que taxa de juros está sendo paga sobre esse estoque. O que é normal em negociações entre credores e devedores – tanto pessoas quanto empresas – é de difícil aceitação para alguns quando se trata de dívida pública. A crescente representação política dos interesses do sistema fi-nanceiro – tanto em instâncias do poder público quanto naquelas com forte in-fluência sobre a opinião pública, como

os meios de comu-nicação de mas-sa – transformam esse necessário debate em algo crescentemente ideologizado. O contur-bado momento político pelo qual passa o Brasil é

justificativa fraca para a paralisia de discussão de temas estruturais para o desenvolvimento do País. Um deles é o de quem deve pagar a maior parcela do necessário ajuste fiscal. Há que ser colocado na balança o quanto o governo paga de juros ao sistema financeiro; o quanto precisa para compensar eventu-ais déficits da previdência; e o quanto precisa para aprofundar uma política de Estado de coesão social. A política de coesão social passa pela geração de empregos, pela me-lhoria continuada do nível de educa-ção, saúde e de qualidade de vida da maioria da população. Fazer ajuste fiscal tirando desses segmentos para garantir ganhos continuados ao sistema financeiro, além de eticamente ques-tionável é economicamente míope. n

independentemente do tamanho do Estado, ele precisa ser capaz de articular forças para o desenho e a

operacionalização de programas de dis-tribuição de rendas, pois essas tendem à concentração quando deixadas ao sabor do mercado. A presença articuladora estatal também tem sido marcante em trajetórias de crescimento, inclusive das chamadas economias liberais. No caso brasileiro, há que, por um lado, aprofundar políticas de distribui-

ção de renda. O internacionalmente reconhecido sucesso do programa de transferência condicionada de renda, Bolsa Família, foi um primeiro passo que precisa ir muito além do alcançado desde sua criação. Por outro lado, há que se abrir o de-bate sobre um fator que todos reconhe-cem como sendo limitante do processo de crescimento da economia brasileira – o déficit fiscal. Como mais de 40% da despesa do setor público brasileiro está ligado ao chamado serviço da dívida, essa dívida precisa ser melhor entendida e discutida pelas forças políticas do País. Por mais simplista que possa pa-recer a analogia, com tal percentual de orçamento comprometido com o pagamento de juros, qualquer família ou empresa procura os credores para

“o CoNtUrbado momENto polítiCo pElo QUal

passa o brasil é jUstifiCativa fraCa para a

paralisia dE disCUssão dE tEmas EstrUtUrais para

o dEsENvolvimENto do país. um deles é o de Quem deve pAGAr A mAior pArCelA do

neCessário Ajuste fisCAl.”

revista vitória I Agosto/201515

espiRitualidade

dom Rubens sevilha, ocdbispo auxiliar da arquidiocese de Vitória

Alegria não é euforialidade humana e depende das circunstâncias, enquanto que a esperança é fruto da total confiança no Pai. Existe, ainda, a alegria de Deus, que é fruto do Espírito Santo (Gal 5, 22). Essa alegria é permanente e atinge o pro-fundo da alma. Essa alegria não depende das circunstân-cias boas ou desagradáveis

Há vários tipos de ale-gria. Vamos resumi--las em três: a alegria

que vem de Deus, a alegria “natural” e a alegria do mundo. A alegria do mundo é a mais artificial e superficial de todas elas. É a alegria provocada pela bebida, pelas drogas, pelo consumismo, pelo prazer. Essa alegria atinge somente a “pele” da alma e é extremamente pas-sageira. No nosso mundo sobra euforia e falta alegria. A eufo-ria sempre dá lugar ao vazio e à tristeza. Formando-se assim um círculo vicioso. Existe também uma alegria “natural”, própria da condição humana. É a alegria decorrente dos momentos felizes e bons da nossa vida. É uma alegria saudável e menos superficial. Mas, como tudo o que é so-mente humano, essa alegria tem a marca da transitoriedade. Basta um acontecimento infe-liz, um problema sério, uma tragédia ou até mesmo uma contrariedade, para que essa alegria desapareça. O nosso Papa Francisco exortou-nos a não confundir otimismo com esperança: o otimismo é qua-

“essA AleGriA não depende dAs CirCunstânCiAs boAs ou desAGrAdáveis dA vidA, pois Ela sE

apoia Na total CoNfiaNça (fé) Em dEUs.”

da vida, pois ela se apoia na total confiança (fé) em Deus. Assemelha-se à criança que se encontra segura e tranquila nos fortes braços do Pai. Essa alegria é como um chão (rocha firme) sobre o qual acontecem os dramas e as peripécias da vida. Nada ou ninguém tira essa serena alegria da alma, pois ela vem de Deus. Essa alegria de Deus é exemplar em Maria Santíssima e nos santos. A alegria de Deus só brota nas coisas boas. Onde há bon-dade aí está a alegria verda-deira. Existe também a alegria perfeita e eterna, mas, essa pertence ao céu. Todavia, Deus nos criou para a alegria e a prova disso é que enviou seu Filho Jesus “para que minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa” (João 15,11). n

revista vitória I Agosto/201516

aspas

santa teresinhaDeus inspirou-me os sentimentos que acabo

de escrever. Fez-me compreender também que a minha glória não apareceria aos olhos dos mortais, consistiria em tornar-me uma

grande Santa! [...] Esse desejo poderia parecer temerário se se considera como era fraca e

imperfeita e como ainda o sou após sete anos passados em religião. Porém, sinto sempre a

mesma confiança audaciosa de tornar-me uma grande santa.

Percebi também, por experiência, que a felicidade consiste em esconder-se, em ignorar

as coisas criadas. Compreendi que sem o amor todas as obras são nada, mesmo as mais

brilhantes, como ressuscitar os mortos ou converter os povos...

Nas menores como nas maiores coisas, Deus dá o cêntuplo desde aqui na terra para aqueles

que deixaram tudo por seu amor.

Oh! Como é doce o caminho do Amor! Como quero me esforçar para fazer sempre, com o maior desprendimento, a vontade de Deus!...

Muitos servem Jesus, quando Ele os consola, mas poucos aceitam permanecer na companhia de Jesus dormindo sobre as ondas ou sofrendo no jardim da agonia! Quem

estará disposto a servir Jesus por Ele mesmo?

revista vitória I Agosto/201517

os direitos de cada pessoa, uma justiça distributiva, tão necessária na ética natural. A justiça bíblica por sua vez, é muito mais fascinante, profunda e rica, pois ilustra um dos aspectos essenciais da pessoa de Deus. De fato

caminhos da bíblia

Quando falamos do Profe t i smo logo nos vem à mente

a clássica figura do profeta que tanto conhecemos, sua experiência de Deus e o seu vigor na defesa da Aliança. Nos profetas vemos a enér-gica defesa e proclamação da justiça, e a reivindicação da mesma diante de injusti-ças cometidas contra os mais pobres e indefesos. Quando falamos de jus-tiça o que primeiro nos vem à mente é o dever de dar a cada pessoa o que lhe é devido, neste caso, fazer valer a justiça significa reconhecer e defender

A justiça:caminho de comunhãocom o projeto de deus

“A justiçA é então umA QuAlidAde essenCiAl do deus de isrAel e o fiel

deve deixAr-se orientAr por elA pArA Que vivA de formA justA E dEfENda

a jUstiça E o dirEito, CombatENdo a iNjUstiça

EspalHada Em todos os lUgarEs da soCiEdadE. ”

revista vitória I Agosto/201518

pe. andherson franklin, professor de sagrada escritura no iftaV e doutor em sagrada escritura

a justiça humana encontra no modo de agir de Deus o seu fundamento, o qual deve orientar e sustentar o agir, a vida e as escolhas do fiel. A justiça é então uma qualidade essencial do Deus de Israel, e o fiel deve deixar-se orientar por ela para que viva de forma justa e defenda a justiça e o direito, combatendo a injustiça espalhada em todos os lugares da sociedade. Um dos preceitos mais antigos de toda a Sagrada Es-critura, o Decálogo, exorta a não cometer injúrias contra o semelhante, respeitando-o e protegendo a sua dignida-de (Ex 20,16ss; Dt 5,16ss). Uma vida animada pela de-fesa e promoção da justiça é tão querida aos olhos de Deus que faz passar o culto para segundo plano, já que ele não possui nenhum valor quando realizado por pessoas que pra-ticam a injustiça (Is,1,11ss; Am 5,21). O primeiro lugar na vida do fiel deve ser a defesa dos pequenos, dos pobres, dos órfãos, dos estrangeiros e das viúvas, todos que formam o grupo privilegiado e ao qual o Senhor dedica especial atenção (Is 1,17).

quando em suas relações com os outros refletir tal atitude. Uma vida justa, ou viver como um justo implica na prática da justiça, consiste no esco-lher modos de agir segundo a Aliança, algo que está para além de um agir de forma reta, partindo de uma ética baseada num modelo abstrato. Assim sendo, o homem promove a justiça e a realiza na vida quanto mais aceita, por meio da fé e adere à jus-tiça de Deus. Isto é, quanto mais o homem comungar com o desejo divino expres-so em seu plano na criação e confirmado na história da salvação, mais promoverá a justiça. Desta forma, o ho-mem se conformaria, por seus atos, à fidelidade de Deus para com o Seu projeto, prati-cando a justiça a exemplo do Deus fiel à sua Aliança com o povo eleito. Ao contemplar os feitos de justiça de Deus, o homem aprenderia o caminho da justiça e se tornaria justo, diante de Deus e junto aos seus semelhantes. n

O termo justiça no he-braico do Antigo Testamento indica a relação estabelecida entre Deus e os homens no campo da Aliança, o conceito é profundamente relacional. Este significado está para além da ideia grega de jus-tiça que indica: dar a alguém aquilo que lhe é devido. Já que para a concepção do An-tigo Testamento a justiça é uma atribuição divina, e se relaciona diretamente à fide-lidade de Deus à sua Alian-ça. A justiça de Deus no AT pode ser descrita como a pro-pensão divina em proteger, defender e assistir o pobre: “Ele distribui aos indigentes com largueza; sua justiça per-manece para sempre” (cf. Sl 112,9). O Deus de Israel, não era somente o Deus da Lei, mas, sobretudo, Aquele que a Lei se mantinha fiel. Sendo assim, a justiça de Deus se manifestava nas suas ações salvíficas em correspondên-cia com a Aliança concluída com o povo eleito. Partindo desta compreen-são de justiça presente no AT, o homem será considerado justo quando agir conforme a relação de Aliança com Deus e

revista vitória I Agosto/201519

Foto

: Elia

s Silv

a / S

ingu

lar

pensaR

caRismas Religiosos

pastorinhas

paulinas

nesta edição, vamos conhecer congregações que vivem da providência, anúncio do evangelho, comunicação e trabalhos pastorais presentes na Arquidiocese de vitória. “sede mulheres e homens de comunhão, marcai presença com coragem onde há disparidades e tensões, e sede sinal credível da presença do espírito que infunde nos corações a paixão por todos serem um só (Jo 17, 21). vivei a mística do encontro: a capacidade de ouvir atentamente as outras pessoas (...)”

(Papa Francisco, Carta Apostólica para Proclamação do Ano da Vida Consagrada).

filhos da divina providênciaConhecidos popularmente por Orionitas, uma alusão ao fundador São Luís Orione, a Congregação dos Filhos da Divina Providência exerce os seus trabalhos no campo da caridade e ação pastoral evangelizadora. A fundação foi em 1954. A comunidade religiosa é composta por 03 padres e está localizada na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, Barra do Jucu, Vila Velha, sendo um de seus membros o pároco neste local.

verbitas No ano de 1875, Santo Arnaldo Janssen funda, na Holanda, uma congregação com missão centrada no Verbo Divino para promover a vida humana. Vinte anos mais tarde, em 1895, os verbitas chegaram ao Brasil, para prestar assistência religiosa aos colonos alemães radicados no Espírito Santo. As comunida-des religiosas estão concentradas na Área Serrana de nossa Arquidiocese e trabalham nas paróquias de

Santa Leopoldi-na, Santa Isabel, Marechal Floria-no e Pedra Azul.

Há 100 anos, Pe. Tiago Alberione e Ir. Tecla Merlo deram início a uma con-gregação com o carisma de evangelizar nos meios de comunicação. Assim surgiram as Filhas de São Paulo ou, simplesmente, Irmãs Paulinas. A figura do Apóstolo Paulo é a grande inspiração para os trabalhos, daí a origem do nome. Três irmãs compõem a comunidade na cidade de Vitória, colaborando em atividades pastorais e formações, além da livraria.

marcus tullius

Pertenceram à Família Paulina e foram fundadas pelo Beato Tia-go Alberione, no ano de 1938. As Irmãs Pastorinhas dedicam-se à colaboração nas dioceses e paró-quias, a exemplo de Cristo Bom Pastor, para a edificação do povo de Deus. Ajudam na formação pas-toral, catequese, liturgia, formação bíblica e diversos trabalhos. A casa religiosa está localizada na Paróquia São José, Maruípe, Vitória.

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Extensão dos dedos e punhos(abrir a palma da mão)

Rotação do tronco e pescoço(para ambos os lados)

ViVeR bem

Em toda sua história, o homem sempre traba-lhou para seu sustento e

de sua família. Durante muito tempo foi capaz de controlar o seu próprio tempo e o ritmo da produção, pois conhecia o passo a passo da fabricação de um determinado produto. Com a revolução indus-trial surgiu a ideia de dividir o trabalho e transformar as tarefas em ações mecânicas e repetitivas para, com isso, aumentar a produtividade. Com a ideia central do capitalismo de que tempo é dinheiro, a produção não pode parar, o trabalhador não pode perder nem um segundo para que a engrenagem não pare de funcionar, a revolução in-dustrial passa a compreender o trabalhador como se ele fosse parte daquele maqui-

nário, como se ele fosse uma verdadeira engrenagem. Ro-botizado, esse trabalhador é tratado como não humano. Portanto o trabalhador é descartável, é substituível, pode ser mandado embora, pois outros entram em seu lugar e apertam os parafusos. O salário era tão baixo que a mulher, além das funções da casa, foi trabalhar nas fábri-cas. A revolução industrial foi muito negativa para o tra-balhador e com isso surgiram as doenças ocupacionais que representaram per-das para a produtivi-dade. As em-presas perce-beram que o homem doen-

Ginástica laboral

Flexão dos dedos(fechar a mão)

te não seria o homem ideal. Ele não representaria a produ-tividade ideal. Assim viu-se a necessidade de promover sua saúde. O primeiro vestígio desta ideia vem da Polônia, datado de 1925 com o nome “Ginás-tica de Pausa”. Anos depois, espalhou-se pela Holanda e na Rússia. Na década de 60, além de se difundir por outros países da Europa, consolidou-se princi-

revista vitória I Agosto/201522

audinei das nevesfisioterapeuta

Flexão da perna e extensãoda coxa (quadricípetes)

Abdução e flexão da coxa(Glúteo)

Flexão dorsal do pé(gémeos e solear)

Flexão do tronco(lombar)

palmente no Japão. No Brasil, a ginástica laboral compensatória che-gou em 1973 como forma de prevenção aos problemas cau-sados pelas lesões de esforço repetitivo, porém somente se firmou na década de 90. Atualmente, dados esta-tísticos demonstram como as empresas que implementaram

a ginástica laboral para seus funcionários têm

obtido resultados

significativos na redução do absenteísmo e do afastamen-to, na melhora das relações interpessoais no ambiente de trabalho, com a redução no número de acidentes e demais despesas com saúde. Hoje, só continua compe-titiva no mercado a empresa que se volta à qualidade de vida de seus funcionários, visto que a produtividade é diretamente proporcional à saúde do indivíduo. As diversas experiências

e o conhecimento desenvol-vido desde o momento em que se iniciou a revolução industrial até os dias atuais, fez com que as empresas e os trabalhadores entendessem a importância da humanização nos ambientes de trabalho e, a ginástica laboral contribuiu com essa realidade onde todos ganham, agregando valor ao produto final. n

Abdução e rotação externada coxa (cruzar a perna)

revista vitória I Agosto/201523

diálogos Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. • Arcebispo de Vitória ES

servos e servas da paz

revista vitória I Agosto/201524

Nesta última década adquirimos uma acentuada baixa

estima. Nosso Estado do Espírito Santo aparece na mídia brasileira como um Estado violento. Infeliz-mente não podemos dizer que a mídia está injusta em sua comunicação sobre a desvalorização da vida em nossa região urbana ou ru-ral. Penso que a saída desta situação é, primeiramente, reconhecer o fato. A vio-lência é, na verdade, uma triste realidade entre nós,

especialmente a violência contra o jovem e a mulher, sem nos esquecermos da mais covarde das violên-cias que é o assassinato do nascituro, o crime contra o inocente. Contudo, o Estado do Espírito Santo, desde quan-do era uma mera capitania, já crescia tendo consigo e fazendo história uma for-ça positiva humanizadora e educadora. A presença desta força humana e edu-cadora marcou o Estado do Espírito Santo. A maioria

absoluta dos cidadãos e cidadãs capixabas bebeu desta fonte e se fortaleceu positivamente, adquirindo valores que vieram a com-por e somar à identidade do capixaba. A violência não faz parte da identidade do ca-pixaba, mas a fé cristã que proclama o amor como o eixo da humanidade nova. Faz parte da identidade do capixaba a educação cristã e a devoção à Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora da Penha, a

Senhora das Alegrias. Ela vem enraizada na índole cristã católica do capixaba desde o primeiro século do descobrimento do Brasil. A força positiva, que sempre contrapôs a vio-lência, é a presença da Vida Religiosa ou Vida Consagrada na então Ca-pitania do Espírito Santo até nossos dias. Não pode-mos ignorar esta presen-ça de grande valor para o nosso Estado. Das Ordens da Companhia de Jesus e da Ordem Franciscana

servos e servas da paz

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volta de maneira especial durante todo ano, tendo como objetivo pôr em evidência reflexiva este carisma tão precioso para o testemunho e anúncio do Evangelho de Jesus Cris-to, no interior da própria Igreja como no diálogo com o mundo. É necessário ir às Fontes! Há que se renovar o seu Sinal, de tal forma que se destaque e fortaleça o lugar da Vida Religio-sa, enquanto testemunha e enquanto evangeliza-dora e construtora de um mundo novo, recriado pela Humanidade Nova, Jesus Cristo, na história deste mundo que vive uma época de mudanças. Há que se manter e fortalecer este carisma eclesial como força de paz num mundo agressivo como o atual.

Tenho para mim que o carisma da Vida Religiosa ajudou, e muito, a plasmar o povo capixaba, seja atra-vés da comunicação da fé cristã, seja na sua huma-nização evangelizadora, no esforço de construção de um mundo novo, “nova terra e novos céus”. O Estado do Espírito Santo continua a necessi-tar desta força humaniza-dora proveniente de um profundo testemunho de fé cristã que, entre tan-tos, sobressai no teste-munho de um São José de Anchieta, SJ, do Frei Pedro Palácio, como de Irmã Cleusa, OAR, e do Pe. Gabriel Maire, ambos assassinados porque eram testemunhas de um mundo novo, o mundo da justiça e da paz. Esta força positiva

destacaram-se entre tantos heróis missionários, São José de Anchieta, SJ, e Frei Pedro Palácios. Nos séculos XIX, XX e início deste século XXI destacaram-se entre estas forças positivas oriundas da Europa, Congregações Missionárias femininas e masculinas educadoras e formadoras da juventude, promotoras humanas na caridade em hospitais, asilos, na formação da consciência crítica, cola-boradoras com os páro-cos atuando na cateque-se infantil, juvenil e dos adultos. Acrescente-se, ainda, tantas outras as-sociações como as leigas consagradas e as novas comunidades com o ob-jetivo de colaborar com o capixaba, ajudando-o no seu desenvolvimento humano e cristão ou vi-vendo na extrema caridade do lava-pés. Ao chamar- lhe a atenção para esta força positiva em contraposição à violência, quero somar com o Santo Padre que proclama o ano de 2015 como Ano da Vida reli-giosa. A Igreja Católica se

e tão marcante na histó-ria do Estado do Espíri-to Santo contrapõe-se à caricatura de Estado vio-lento e deve junto com tantas iniciativas positivas sobrepor-se à tendência atual de cultura da morte e da violência, por uma cultura da vida e da paz. Com toda certeza o carisma da Vida Religio-sa, no meio da Igreja e do mundo capixaba, é pre-cioso porque faz emergir no seu testemunho e no anúncio, os servidores da vida e da paz, autênticos colaboradores no estabele-cimento e no trabalho por uma política pública pela paz em nosso Estado. Obrigado, queridos (as) Religiosos (as) pelo belo testemunho, força po-sitiva e promotora de um mundo de paz e da vida! n

“A violênCiA não fAz pArte dA identidAde do CApixAbA, mAs A fé Cristã Que proClAmA o Amor Como o eixo dA humAnidAde novA. faz partE da idENtidadE

do Capixaba a EdUCação Cristã E a dEvoção à mãE

dE jEsUs, sob o títUlo dE Nossa sENHora da pENHa, a

sENHora das alEgrias.”

Em 1918, Dom Bene-dito Paulo Alves de Souza (2° Bispo do

Espírito Santo), autorizou a demolição da velha Ca-tedral de Vitória, para que fosse construída uma nova Igreja, em estilo neogótico. Dom Benedito era amante das Belas Artes e sua opinião era de que o templo de Deus deveria ser belo, grande e solene. A antiga Catedral era considerada pequena pelo Bispo e, além disso, não contava com salas anexas. A construção da nova Cate-dral foi uma decisão corajosa

aRquiVo e memóRia

giovanna Valfrécoordenação do cedoc

A construção da Catedral de vitória

desenho de 1936 da perspectiva externa da Catedral de vitória do Arquiteto russo Wladimir bogdanoff

e arrojada, pois a Diocese não possuía recursos finan-ceiros nem mesmo para o início das obras. O Bispo foi considerado louco, utópico, fora da realidade. As pessoas zombavam dele e diziam que iria levar a Diocese à falên-cia. A obra arrastou-se até a década de 1970, quando foi concluída por Dom João Ba-tista da Mota e Albuquerque (6° Bispo e 1° Arcebispo do Espírito Santo). Hoje a Ca-tedral de Vitória encontra-se em reforma com conclusão prevista para dezembro de 2015. n

finalização da parte externa da Catedral (foto da década de 1960)

revista vitória I Agosto/201527

omundo está sendo reinven-tado. Informação e tecnolo-gia alcançaram o status de

commodities, bens essenciais para a humanidade. Numa era em que tudo está em rede, vemos rupturas e mudanças importantes de compor-tamento. Das relações de trabalho ao consumo.O que vale é a qualidade da entrega, não mais as horas registradas no cartão de ponto, e toda uma geração já reflete sobre as possibilidades de trabalhar em home office. A como-didade de pesquisar e comprar pela internet leva a preços mais baratos e produtos mais variados, vindos de qualquer lugar do mundo. Com a tec-nologia tão profundamente presente em nosso cotidiano, um dos mais importantes hábitos da sociedade também sofre influências: a forma de consumir notícias. O Brasil tem 154 milhões de smartphones, número superior ao de computadores e tablets soma-dos (152 milhões). Significa que mais da metade dos 204 milhões de brasileiros tem acesso à internet de qualquer lugar (na fila do banco, dentro do ônibus, na sala de espera do médico…). E o relatório 2014 do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, já constatou uma tendência crescente de ler no-

comunicação

informaçãoos novos caminhos da

tícias pelo telefone. Segundo a pesquisa, que ouviu mais de 20 mil pessoas em 12 países, incluindo o Brasil, 46% dos entre-vistados acessam notícias através de seus smartphones – no levantamento anterior, o índice era de 37%. O Instituto Reuters aponta os brasileiros como os maiores con-sumidores de blogs e redes sociais do mundo. Nisso, o Facebook ganha destaque como fonte de informa-ções. Entre as redes sociais, ele é o mais usado com a finalidade de se informar – 40% dos entrevistados afirmaram ter acessado notícias via Facebook, seguido de YouTube e Twitter. Não é só o meio onde se lê as notícias que está mudando. A expe-riência de seleção do conteúdo que chega ao leitor e a possibilidade de interação estão transformando toda a nossa relação com o noticiário. O trabalho dos jornais, rádios e TVs de pautar o interesse da so-ciedade começa a ser enfraquecido. Os leitores continuam priorizando a confiabilidade do conteúdo pro-duzido pelas redes de comunicação tradicionais, mas a seleção de quais desses assuntos chegam aos leitores e espectadores está cada vez mais a cargo do Facebook. A rede social usa algoritmos (fórmulas de programação) para

Rimaldo de sápublicitário e empresário da comunicaçãochairman do grupo prospectar

identificar os interesses dos usuários e apresentar na tela os assuntos que podem chamar sua atenção. Apesar dos muitos pontos positivos, corre-mos o risco de nos fecharmos em um “looping eterno”, tendo acesso apenas ao que já nos é familiar, sem “esbarrar” em algo completamente novo. Isso se soma ao fato de que, ainda segundo o Instituto Reuters, o brasileiro prefere receber as notícias de pessoas e emissoras que compar-tilhem de ponto de vista similar ao seu – o que sugere uma tendência de seguir indivíduos que espelhem suas convicções pessoais, compro-metendo a diversidade de opiniões. Mas se não confrontamos ideias, o debate fica simplificado ao dualismo e à bipolarização, que são restritivos. As redes sociais permitem di-álogo e troca de opiniões a cada notícia postada e compartilhada, uma experiência que pode ser enrique-cedora. Quem se cerca de verdades absolutas, muralhas intransponíveis, perde a grande oportunidade de viver esse momento de transformação e evoluir com os diferentes pontos de vista do mundo multidimensional em que temos o privilégio de viver. n

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entReVista Leticia Bazet

vitória - Você não tem ce-lular?Golias - Não. Vem a loucura de tanta procura, eu estou no mer-cado há 50 anos. São 50 anos vendendo LP. Em 98 eu quebrei e 99 eu voltei, aí fui chamado de louco.

vitória - Por ter acreditado no vinil?Golias - Eu continuo acreditando. Essa volta do LP no mundo todo está deixando todo mundo malu-co. Isso me deixa feliz porque a minha paixão é vender LP.

vitória - E a aversão a celular é por causa desse retorno do LP?Golias - Não. Desde quando saiu eu nunca tive. Porque as pessoas

A paixão por discos de vinilGolias é uma figura histórica do Centro de vitória pela venda de lps, paixão que ele afirma não ser de colecionador, e sim de comerciante. Aos 69 anos, 50 dedicados à venda de discos, ele conta um pouco do que viveu (e ainda vive) com o vinil.

procuram muito o Golias. Você teve um exemplo aqui agora. O rapaz ganhou dois videolaser e não sabia o que era aquilo. Colo-cou pra tocar e não tocou, porque não era LP, era videolaser. Foi até bom porque você viu com seus próprios olhos que vem todo mundo procurar o Golias, para resolver todo tipo de problema.

vitória - O que surgiu pri-meiro: a paixão pela música ou pelo LP?Golias - Na verdade foi a necessi-dade de trabalhar (risos). Eu perdi meu pai muito novo e eu tinha que trabalhar para ajudar mamãe e meus irmãos. Então primeiro foi a necessidade, depois veio o amor e o carinho, aí virou paixão.

vitória - Ao quebrar em 98, o que passou pela cabeça do senhor?Golias - Eu chorei muito. Porque o CD veio com muita violência. E eu não quebrei sozinho! Logo de-pois veio a pirataria, e aí quebrou meio mundo. Mas em 99 eu reco-mecei e todo mundo me chamou de louco e agora por ironia do destino voltou tudo novamente.

vitória - São tendências que voltam como um ciclo?Golias - É, porque o LP você não tem como piratear. E o som do LP é diferente do CD. O CD você tem beleza, tem pureza, tem comodismo, que eu também ado-ro. Seria uma covardia da minha parte não reconhecer isso ou dizer

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entReVista

que isso ou aquilo é ruim. O proble-ma é que a garotada bateu de cabeça em cima do LP agora e procura coisas que você nem imagina.

vitória - São mais jovens?Golias - Eu atendo mais os jovens do que a coroada. Eles querem aquilo que o pai ouvia há 30, 40 anos, como Pink Floyd, Led Zeppelin, Beatles e vai embora por aí. Hoje querem comprar seu próprio disco. Porque na música tudo é lindo, não tem esse negócio de cafonagem, tudo é bonito, só depende da sua cabeça.

vitória - E a sua cabeça dança em qual ritmo?Golias - É muito difícil dizer pra você, porque a música, quando se está envolvido com o produto, in-toxica, porque você é obrigado a ouvir tudo. Eu quando era novo tive que ouvir do sertanejo ao clássico, porque eu tinha responsabilidade na loja em que trabalhava, de compras e vendas. E eu também fazia pro-gramação pra rádio e trabalhava de discotecagem.

vitória - Você recebe todo tipo de público e existe aqui uma imensidão de discos que dá pra se perder...Golias - Quando eu recebi a home-nagem da Prefeitura de Vitória no mês de setembro, foi prometido que após a reforma do mercado capixaba eles querem que eu volte, mas vamos ver se vai se tornar realidade. E isso aqui é um sebo, uma loja de usado

improvisado. Isso aqui não é uma loja de discos, é um improviso de uma loja de coisas usadas, LPs usados, e o sistema é compra, vende, troca e aluga.

vitória - Há quantos anos está aqui no improviso?Golias - Tem dois anos. Isso aqui foi uma bênção de Deus, porque eu sou apaixonado pelo Centro, estou aqui há 50 anos trabalhando.

vitória - O senhor tem religião?Golias - Católico, desde criança. Olha aqui (tira um santinho com a imagem de Nossa Senhora da Penha do bolso da camisa), eu não largo por nada.

vitória - E a sua religiosidade ajudou no momento difícil que passou?Golias - Eu perdi tudo que você pode imaginar do que eu fiz até 97, 98. Mas eu não gosto de falar muito dessa parte porque logo depois veio a alegria de continuar trabalhando com o produto que eu gosto, que é o disco. E hoje eu me sinto mais feliz ainda porque eu trabalho com isso, consegui sobreviver, e agora com esse retorno no mundo todo é gratificante, bom para a minha cabeça, para a saúde, pra tudo.

vitória - Como o senhor come-çou com a venda de Lps?Golias - A minha vida começou na Lau Magazan, eu tinha 17 pra 18 anos. Era uma loja de departamento

que tinha de tudo, e eu comecei ali com a responsabilidade de compras e vendas e aprendi tudo.

vitória - Hoje o senhor tem um acervo de discos. O primeiro sur-giu como?Golias - Com a ajuda de amigos, batendo de porta em porta, sem

Hoje eu me sinto mais feliz ainda porque eu

trabalho com isso, consegui sobreviver,

e agora com esse retorno no mundo todo é gratificante, bom para a minha

cabeça, para a saúde, pra tudo.

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vergonha. Teve uma meia dúzia de pessoas que me ajudaram muito, não com dinheiro, mas com disco, me dando mercadoria para eu sobre-viver, e eu comecei assim, pedindo e as pessoas me dando doações. Logo depois eu comecei com a compra, troca, venda, aluguel. Eu sempre digo que tenho uma gratidão ao povo do Espírito Santo, por esse carinho por Golias que não tem dinheiro que pague. Eu recebo um carinho que não sei nem explicar, me dá até vontade de chorar.

vitória - E como sua mãe vê o reconhecimento que você tem dessas pessoas?Golias - Mamãe é um anjo que caiu do céu. Ela é uma pessoa que eu não tenho palavras. Minha irmã, o meu velho que mora com ela, meu padrasto são pessoas muito importantes na minha vida. Eu não gosto de falar muito porque eu fico emocionado (risos).

vitória - O que esse público jovem busca aqui na sua loja?Golias - Do MPB ao rock, clássico, jazz, blues, tudo é procurado, é in-crível, você teria que passar dois ou três dias aqui comigo para sentir isso. Tudo que você pode imaginar, do sertanejo ao clássico. Eu acho bonito isso. As meninas compram também muitos discos sem capa pra fazer decoração, pra fazer festa, é incrível.

vitória - Você é um colecionador?Golias - Não, não! Eu sou um co-

mas vai embora, eu não guardo nada.

vitória - O senhor faz ideia de quantos discos têm aqui?Golias - Olha, eu nunca me preocu-pei com quantidade, porque isso é coisa pra colecionador, comerciante só quer saber de trabalhar.

vitória - Tem alguma técnica para encontrar um disco?Golias - Eu futuco até achar!

vitória - Sempre trabalhou so-zinho?Golias - Sozinho e Deus. Desde que eu comecei a trabalhar com sebo, com loja de produto usado eu nunca mais trabalhei com ninguém, porque a pes-soa chega aqui sabendo o que quer, então eu vou lá procuro e pronto.

vitória - O senhor participou do último evento que teve do clube do vinil?Golias - Eu nunca participei de nada disso, porque eu sou comerciante e não colecionador. Para mim é tudo maravilhoso, e quem mexe com isso é gente amiga, que eu adoro e eles gostam de mim também, mas eu não participo porque eu já tenho a minha rotina aqui.

vitória - E sobre a possibili-dade de voltar para o mercado capixaba?Golias - Isso aí é daqui a 50 anos quando eles reformarem o mercado, aí você tem que voltar aqui para fazer outra matéria (risos). n

merciante. Não tenho nada de cole-cionador, de relíquia, o disco custa isso, custa tanto, nada disso, pelo contrário. Eu continuo trabalhando por necessidade.

vitória - O LP era sucesso, caiu com a chegada do CD. O CD caiu com a pirataria e agora o LP volta para o mercado. Como o senhor avalia isso?Golias - Em 99 quando eu recomecei eu fui muito humilhado, muito cas-tigado, porque é muito difícil você estar lá em cima e descer. Mas eu sempre dei um valor muito grande para a vida, eu gosto de alegria, detes-to lamentação e a coisa mais linda da vida é você andar, enxergar, brincar, trabalhar. Esse retorno do LP agora é muito emocionante porque eu jamais pensava que fosse acontecer e está acontecendo mundialmente.

vitória - Qual é a sua relação com esse mundo que você cons-truiu aqui?Golias - O gozado de hoje é que vem pais com os filhos ou netos com avós, clientes há 30, 40 anos. E todos querem levar uma recorda-ção, tirar uma foto e isso é lindo e emocionante. Por isso eu continuo agradecendo a Deus todos os dias por poder continuar a fazer o que eu gosto que é vender disco.

vitória - Já teve algum disco que chegou aqui que o surpreendeu?Golias - Nossa é muita coisa! Já passou muita coisa bonita por aqui,

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mundo litúRgico

liturgia e

uso do incenso:

Os cristãos, em suas várias tradições, entre as quais, a Igreja Católica Apostólica Romana, continuamente celebram a memória pascal do seu Mestre Jesus Cristo, ao reviver, atualizar e proclamar – eis o significado de “fazer memó-ria” - os seus atos vivificantes e ressuscitadores, reconhecendo a eficácia do seu reinado. Na prática celebrativa, é peculiar a dimensão da “unidade”, como sinal da formação de um só povo, eleito e salvo por Deus, na mediação e intercessão daquele que “desceu dos céus e se encarnou no seio da Virgem Maria, e se

marcus tullius comissão arquidiocesana de liturgia

Unidade

composição e sentido Nas celebrações mais solenes dentro da liturgia, usa-se o incenso em alguns momentos. Ele é composto de resina de algumas árvores e quando entra em contato com a brasa, produz uma perfumada fumaça que sobe ao céu como sinal de louvor a Deus, sinal de reverência e oração. No Antigo Testamento, encontramos várias referências do uso do incenso, como em Ex 30,1: “Construirás um altar para queimar sobre ele o incen-so”. No Novo Testamento, quando os sábios visitaram Jesus logo após o seu nascimento (cf. Mt 2,11), um dos presentes ofertados foi o incenso, símbolo de adoração à divindade.

fez homem”. A liturgia é a viva expressão do “mistério de fé”, com a ininterrupta aclamação: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e procla-mamos a vossa ressurreição! Vinde, Senhor Jesus!”. Apesar do empenho dos cristãos em viver a unidade, fundamentado pelo desejo do Mestre em sua oração ao Pai, no limiar de sua Paixão (cf. Jo 17, 20-21), o itinerário dos seguidores de Cristo possibilitou, historicamente, a formação e organização da Igreja em várias denominações (instituições), como também expressões da

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fr. José moacyr cadenassi, ofmcap

São José Patrono da Igreja universal, São José é para nós, modelo de fé, “exemplo de vida humilde e discreta”, cuja atitude de silêncio e ora-ção inspira todos os católicos. Na arte estatuária ou na pictórica, sua imagem nos recorda a importância da “escola” de Nazaré para o homem contemporâneo, recuperando “o valor da simplicidade, da obediência, do respeito e da busca amorosa de Deus”. O painel de fundo do presbitério da Igreja São José (Maruípe) re-cebe pintura mural a seco com pigmentos e traz, à direita do Cristo, São José no contexto da Festa da Apresentação, com a oferta do par de rolas ou pombos nas mãos, para o sacrifício. De pé, expressão serena e feliz, olhos abertos e atentos e sandálias nos pés, sua postura corporal o coloca em atitude de total abandono à Providência divina, indicando-nos com a mão o Senhor.

única Igreja de Cristo, mesmo entre divergências e separações. Exercitaremos, por ora, um novo olhar e cor-dialidade às comunidades cristãs que, na caridade fraterna, assumem o pastoreio de Cristo através da valorização e serviço à vida, atualizando, em gestos solidários e reconciliadores, a liturgia que o Mestre celebrou amorosamente ao entregar-se por todos, e sem reservas, no lenho da cruz.

Raquel tonini Rosenberg schneider membro da comissão de arte sacra da arquidiocese de Vitória

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Cuidar não ébrincadeira

RepoRtagemletícia bazet

“o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional”. Esse é um dos princípios fundamentais presentes no código de ética médica, e é por esse e outros valores tendo como foco a promoção da vida e saúde de um paciente, que os médicos devem exercer sua profissão. porém, médicos não são deuses, embora alguns acreditem ser, e estão passíveis a erros, como qualquer ser humano, por isso, precisam agir com diligência, isto é, com amor, cuidado e atenção, somados à perícia e ao conhecimento para reduzir, até onde puderem, as consequências de possíveis erros. médicos lidam com vida, diariamente, ininterruptamente e, em suas mãos, pacientes entregam o bem mais valioso que possuem. o resultado adverso da conduta médica não resulta apenas em prejuízos econômicos ou outros transtornos, como é o caso de outras profissões. o ‘erro médico’ pode causar danos irreparáveis, como perda de órgãos, funções e, até mesmo, da vida humana.

São frequentes as reclamações de pacientes e, com certeza, alguma delas já aconteceu com você ou alguém próximo: a espera por uma consulta durante horas, dias, meses e até anos e, depois, um atendimento em cinco minutos; um breve relato e um diagnóstico apressado sem elementos que possam indicar o proble-ma, ouvindo um simples “é uma virose”, entre outros. Muitos entrevistados relatam a falta de atenção do profissional durante

o atendimento como uma das causas que mais geram diagnósticos errados. Esses são alguns casos em que a promoção da vida parece não ser a prioridade, e o paciente é mais um prontuário para as estatísticas ao fim do dia. As histó-rias que ouvimos para essa reportagem relatam irresponsabilidades e descasos com a saúde. Parece que nestes casos, os médicos jogaram na sorte o diagnóstico a ser dado ao paciente.

Quando a prática foge da teoria

revista vitória I Agosto/201534

“é preciso mais cautela, menos frieza no tratamento”

Adaldey Faria passou por uma situação desesperadora, como ela mesmo relata, com sua filha Mariana, quando tinha apenas 1 ano de idade. Com uma febre muito alta, ela levou a me-nina ao hospital e, sem exames, o médico disse ser uma virose e receitou um medicamento. Pas-sados três dias, os sintomas não haviam melhorado e o intestino já não funcionava normalmente. Adaldey voltou com sua filha ao hospital e o médico solicitou exame de sangue e de fezes. Ao levar o resultado, a surpresa: “eu me lembro até hoje da cara dele, uma fisionomia fechada, me pediu para procurar um hos-pital maior, com mais recursos, porque Mariana estava com leu-

cemia ou hepatite C. Eu corri desesperada para casa, chorava pelo meio da rua, eu não conse-guia falar. Minha família é de Belo Horizonte e minha irmã me sugeriu ligar para o pediatra de lá, que me tranquilizou, disse para eu ficar calma, e pediu para eu ir olhando ela, se tinha caroços pelo corpo, manchas. Segundo ele, as alterações no exame eram por conta do an-tibiótico, da febre persistente que ela estava, mas mesmo assim entramos num ônibus e viajamos. Ele não quis nem olhar os exames, disse que ela não tinha leucemia, que o que ela tinha era verme. Receitou um remédio e com dois dias Mariana estava ótima”. Adal-

dey relata que por muito tempo ficou assustada com qualquer problema que sua filha apre-sentava e questiona aquilo que também pode estar passando pela sua cabeça: “imagina se eu tivesse tratado minha filha com o diagnóstico de leucemia? Se eu pegasse outro profissional que acreditasse no diagnósti-co deste médico? Eu sou uma pessoa um pouco esclarecida, imagina na vida de outra pessoa com menos conhecimento? Sin-to que os profissionais da saúde precisam agir com mais cautela, menos frieza no tratamento, não podem dar um diagnóstico desse sem ter total certeza do que estão dizendo, são vidas que estão em suas mãos”.

Em sua tese de doutorado, ‘O reverso da cura: erro médico’, a socióloga Maria Marce Moliani afirma que “com o passar dos anos, o ato de cuidar da saúde e o de promover a cura passaram por um processo de profissionalização e, ao mesmo tempo em que obti-veram um grande aumento da eficiência por meio do desenvolvimento técnico-cientifíco, impessoalizaram o procedimento com os enfermos, dificultando a

o médico, doutor de todas as causascomunicação entre pacientes e agentes de cura. As consequências foram o isolamento do trabalho médico e a criação de uma identidade profissional, na qual a corporação de ofício, a fim de preservar seu objeto de trabalho e o prestígio próprio de sua profissão, acaba criando dificuldades para o profissional em pensar mecanismos de compartilhamento de responsabilidade e de informação com pacientes e demais colegas”.

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RepoRtagem

Nathalia e Filipe viveram situações semelhantes, que re-ceberam, inicialmente, o mesmo tratamento: antiinflamatório. Na-thalia começou a sentir uma dor e percebeu o aparecimento de um ponto preto na sola do pé. Procu-rou um hospital e, sem exames, foi orientada a começar a tomar um antiinflamatório. Voltou para casa, a dor aumentou, o que era um pequeno ponto começou a vi-rar uma mancha roxa e ela já não dormia por causa da dor. Voltou ao hospital e o ortopedista suge-riu que havia algo quebrado, fez então um raio-x que não apontou nenhuma fratura. A decisão do médico foi aumentar a dosagem do antiinflamatório, que não foi suficiente para aliviar o sofri-mento de Nathalia. Natural de Cachoeiro, ela foi para a cidade onde ainda moram seus pais, que a encaixaram em uma consulta com um ortopedista especializado em pé. “Ele pediu uma ressonân-cia magnética e ainda enquanto o exame era feito, o médico ligou para o especialista que havia me atendido. Em seguida ele ligou para meus pais informando que eu deveria ficar em jejum para rea-lizar uma cirurgia com urgência, que graças a Deus deu tudo certo. O médico me informou que se eu demorasse mais alguns dias teria que ficar seis meses sem poder colocar o pé no chão, eu fiquei

e o receitou um antiinflamatório. Após isso, a inflamação começou a aumentar, abrindo um buraco em sua perna, o deixando “desespera-do”. “Fui a outro médico que dis-se que poderia ser leichimaniose, me pediu vários exames e entrou com um antibiótico pesado. No final não era leichimaniose, mas o médico disse que se eu tivesse continuado com o antiinflamatório poderia ter uma infecção generali-

o perigo da bactéria

um mês andando de muletas”. Segundo ele, Nathalia foi con-taminada por uma bactéria em decorrência da água de chuva, que já estava necrosando os nervos do pé, quase atingindo o osso. A jovem admite que errou ao não relatar aos órgãos competentes o acontecido. “Infelizmente a gente acaba relevando quando dá certo, mas poderia ter dado errado, pois o primeiro médico que me aten-deu deveria ter investigado e ele simplesmente não se importou com o meu estado”. Já Filipe voltou de um carna-val em Piúma, com uma pequena inflamação na panturrilha. Ao pro-curar atendimento, o clínico afir-mou que era um cabelo inflamado

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A hipótese de Filipe é com-provada pela tese da socióloga citada: “as condições em que o trabalho médico é realizado, nas quais se tenta conciliar limites estruturais colocados pelo sis-tema de saúde, processo de tra-balho racionalizado e lógica de atuação individual; aliadas aos limites colocados pela formação

“iNfElizmENtE a gENtE aCaba rElEvaNdo QUaNdo dá CErto, mas podEria

tEr dado Errado, pois o primeiro médiCo Que me Atendeu deveriA ter investiGAdo e ele simplesmente não se importou Com o meu estAdo”

Nathalia

profissional, que estabelece uma ação técnica sob a proteção da cientificidade da biomedicina, contribuem para a ocorrência de erros e efeitos adversos durante os processos terapêuticos”, afirma. Não importa os resultados narrados que foram todos resol-vidos pelo bem. Outros tantos e muitos mais, alguns que não quiseram falar, ainda amargam na memória, na mente e no coração de parentes que infelizmente as-sistiram a vidas que se foram por conta de diagnósticos equivoca-dos que impediram o tratamento certo na hora certa. Surpreendeu--nos que embora desconfiem ou confirmem diagnósticos errados e precipitados, na maioria dos casos, as pessoas procuram em outros médicos o respaldo e a solução para os problemas. Seria essa atitude um incentivo para que esses profissionais da saúde redi-mensionem suas posturas perante as situações e os pacientes? Falta humanizar, falta espiritualizar, falta assumir o compromisso de “ser médico”! n

zada e só Deus sabe o que poderia acontecer”, contou. Filipe avalia que a dedicação aos pacientes está comprometida por fatores como a pressa, a má formação profissional e também o descaso de muitos médicos. Para ele, o interesse em ganhar dinheiro com um número maior de consultas gera o diagnós-tico equivocado em muitos casos.

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peRgunte a quem sabe

Adriano JardimDoutor em Psicologia

Pe. Ivo Ferreira de AmorimVigário Geral da Arquidiocese de Vitória

Tem dúvidas? Então pergunte para quem sabe. Envie sua pergunta para [email protected]

o comportamento dos adultos sempre está ligado a situações ou traumas de infância? Parte do comportamento adulto tem relação com as experiências de infância. Porém, sabe-se hoje que existe um papel muito importante para decisões individu-ais, aspectos contextuais, influências de amigos e até do acaso. Além disso, nosso comportamento segue também metas que são futuras e, portanto, fatores prospectivos e não somente retrospectivos influem nas definições de nossa personalidade. Sendo assim, situações potencialmente traumá-ticas podem ser muito bem resolvidas no decorrer do desenvolvimento psicológico do indivíduo.

Quando acontece, o que fazer? Quando traumas de infância refletem no funcionamento adulto é muito importante trabalhar essas situações com um profissio-nal da psicoterapia, ou seja, um psicólogo. Se não o fizermos, nosso psiquismo tenderá a trazer a situação mal resolvida à tona, buscando uma ressignificação da mesma. Muitas vezes uma má resolução de uma experiência de infância pode resultar no desenvolvimento de problemas psicológicos, de neuroses e até de quadros patológicos da personalidade.

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por que todo mundo vira bom quando morre? É muito comum a gente ouvir a afirma-ção: “ele era tão bom”. O reconhecimento a respeito da bondade de pessoas depois da morte é uma atitude louvável, quando é fruto da sinceridade e da verdade que nasce da mente e do coração.

o que é ser bom? A bondade é uma virtude ou qualidade humana e cristã. A pessoa boa é misericor-diosa, paciente, agradável, afável, sempre disposta, digna de ser acreditada, cumprido-ra das obrigações, apta e competente, entre outras considerações. Que Deus, bondoso e misericordioso nos ajude a sermos bons uns com os outros.

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Maurício AbdallaProfessor de Filosofia da Ufes

Padre Helder SalvadorProfessor de Filosofia no IFTAV

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o que é o estado islâmico? O Estado Islâmico (EI) é o maior e mais po-deroso agrupamento terrorista do mundo. Controla várias regiões da fronteira do Iraque com a Síria, onde proclamou um califado (um reino próprio). Entre essas regiões há vários poços de petróleo que têm sido a fonte da riqueza do EI. A origem do grupo se deu pela união de dissidentes da Al

o que é ecologia integral? Para a ecologia integral a Terra e os seres hu-manos emergem como uma única entidade. O ser humano é a própria Terra enquanto sente, pensa, ama, chora e venera. E tudo caminhou com tal calibragem que permitiu a nossa existência aqui e agora. Três grandes emergências ocorrem na cosmogênese e antropogênese: (1) a complexidade/diferenciação, (2) a auto-organização/consciência e (3) a religação/relação de tudo com tudo. As quatro interações existentes, a gravitacional, a eletromagnética e a nuclear fraca e forte, constituem os princípios diretores do universo, de todos os seres, também dos seres humanos. Tudo se mantém religado num equilíbrio dinâmico, aberto, passando pelo caos que é sempre generativo, pois propicia um novo equilíbrio mais alto e complexo, desembocando numa ordem, rica de novas potencialidades.

Qaeda com insurgentes que lutavam contra o re-gime de Assad na Síria. Desde então, o grupo vem recebendo adesão de centenas de muçulmanos de diversos países e protagonizando atos de barbárie e violência. Os EUA são responsáveis diretos pelo poder bélico e financeiro do EI, pois forneceram armas e dinheiro para os rebeldes da Síria, que viriam a constituir o grupo terrorista. Além disso, a região de fronteira do Iraque estava totalmente abandonada depois da invasão dos EUA, facilitando o controle do EI naquela região.

A encíclica do papa incentiva essa prática? A ecologia integral do papa Francisco revisa a relação entre os seres humanos e o mundo natural, reconhecendo o humano como integral à natureza, em vez de ter a natureza como estando sujeita à dominação humana. As linhas gerais da ecologia integral do papa Francisco estabelece quatro princípios:1 O chamado a todos os povos para serem os protetores

do meio ambiente é integral e abarca o todo.2 O cuidado da criação é uma virtude em si mesma.3 É necessário cuidar daquilo que estimamos e

reverenciamos.4 Uma nova solidariedade mundial é um valor central

para orientar a nossa busca pelo bem comum. O Papa Francisco chama a todos para uma revolução da “ternura, uma revolução do coração”. Esta ternura de solidariedade deverá não só se es-tender aos pobres da terra como também à própria terra. Ambos vêm sendo explorados. Ambos vêm sendo degradados. Os destinos de todos os povos estão ligados, e estão ligados em última instância ao destino da terra. O que se sucede à terra sucede a nós todos.

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ensinamentos

parece estranho distinguir casamento e matrimô-nio. Porém, essa distinção faz sentido no contexto da modernidade líquida, tão bem caracterizada

e criticada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

Recentemente, duas matérias me chamaram a atenção: uma sobre mudanças nos dicionários da língua portuguesa quanto à definição de casamento (agora apresentado não mais como “união legítima/legal entre homem e mulher, para constituir família”,

Casamento não ématrimônio

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Vitor nunes Rosaprofessor de filosofia na faesa

mas como “contrato de união ou vínculo entre duas pessoas que institui deveres conjugais”, sem fazer referência ao gênero); e outra sobre o crescente número de cerimônias de casamento re-alizadas por parentes dos noivos ou por cerimonia-listas, como forma de “personalizar” o momento. Alia-se a isso, a espetaculari-zação do Sacramento do Matrimônio pelas empresas, que orga-nizam o “evento” para deleite da “pla-teia”, no qual o “ato religioso” constitui um acessório. Fica evidente que casamen-to no sentido genérico adotado na sociedade difere do sentido de Sacramento do Matrimônio, conforme acredita a Igreja. No Código de Direito Ca-nônico (cânon 1055, §1º) e no Catecismo (nº 1660), a Igreja ensina que “o pacto matrimo-nial, pelo qual um homem e uma mulher constituem entre si uma íntima comunidade de vida e de amor, foi fundado e dotado de suas leis próprias pelo Criador. Por sua natureza, é ordenado ao

bem dos cônjuges, como também à geração e educação dos filhos. Entre os batizados, foi elevado, por Cristo, à dignidade de sacra-mento” (Cf. Gaudium et Spes 48). O Matrimônio não é uma criação artificial humana nem es-

petáculo, mas a íntima comunhão de vida e de amor conjugal que Deus fundou e dotou com Suas leis, a qual se estabelece pelo pac-to entre os esposos, com o con-sentimento pessoal irrevogável (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nº 48). Fica evidente no Catecismo (nº 1661) que o Sacramento do Matrimônio transcende um simples contrato civil. Significa a união de Cristo com a Igreja, e concede aos esposos a graça especial de amarem-se com o mesmo amor com que Cristo ama a sua Igreja. Essa graça

concedida por Deus pelo sacramento do Matrimônio conduz o amor humano dos esposos à perfeição, fortalece sua unidade indestrutível e santifica o casal no caminho da vida eterna. n

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família Caymmi

Conhecendo o espírito santo

Gravuras

Há dois anos o universitário Marcelo de Araújo Teixeira organiza pas-seios pelo Espírito Santo, explorando as belezas naturais do Estado, como montanhas e cachoeiras. No dia 23 de agosto, o destino é o Monte Aghá, localizado na divisa dos municípios de Piúma e Itapemirim. Com grupos, de cerca de 30 pessoas, Marcelo já foi ao Pico da Bandeira, a Pedra Azul, Hidrolândia (Parque Caparaó - divisa ES/MG), Matilde, entre outros. Para mais informações, entre em contato pelo telefone (27) 99979-4421.

A Galeria Homero Massena, no Centro de Vitória, realiza desde o mês de julho, oficinas educativas de gravura em suas instalações. Já passaram por lá crianças, deficientes visuais e auditivos, e nos dias 08, 15 e 22 de agosto é a vez dos cadeirantes aprenderem a desenvolver as técnicas de gravuras utilizando materiais como madeira, pedra, metal, entre outros. Ficou curioso com o resultado dos trabalhos? A partir do dia 25 de agosto eles estarão expostos para o público na galeria. Confira!

sugestões

sesc GlóriaPara os amantes do cinema, uma novidade neste mês de agosto! É a inauguração de duas salas, inclusive uma com tecnolo-gia 3D, no Sesc Glória, loca-lizado em Vitória. Elas terão capacidade para 78 pessoas e serão exibidas quatro sessões por dia. Os valores serão a preços populares como já acontece com as demais atividades do local. A ideia é aliar as exibições a outras ações que promovam mais informações ao pú-blico, como discussões, minicursos, oficinas, entre outros. Ainda não há data estabelecida, então fique atento à inauguração.

Em 2014, Dorival Caymmi completaria 100 anos. Para homenagear o grande

cantor, compositor, escritor, músico e pai, Nana, Dori e Danilo estrearam o

show ‘Família Caymmi’ que, neste ano, ganhou novo ro-teiro, e chega a Vitória, no dia 15 de agosto, na Arena Vitória.

No repertório, os herdeiros lançaram um novo olhar sobre canções menos conhecidas do artista, com muitas letras da

década de 1940, porém com novos arranjos e uma visão mais contemporânea da obra de Caymmi. Ingressos no

site www.blueticket.com.br

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cultuRa capixaba

Caboclo bernardo, herói capixaba

diovani favoretohistoriadora

“Como reconhecimento por seu altruísmo e bravura, Bernardo foi homenageado, primeiro em Vitória, de onde seguiu para o Rio de Janeiro para receber o tributo do alto comando da Marinha do Brasil e ainda da própria Princesa Regente Isabel.”

a madrugada de 07 de setembro de 1887 deu à pequena província do Espírito Santo um dos mais humildes e autênticos heróis. O jovem índio Bernardo José

dos Santos ou, como ficou conhecido, Caboclo Bernardo, resgatou do mar revolto 128 marinheiros que haviam sofrido um naufrágio nas praias de Linhares (ES). O navio cruzador da Marinha conhecido por “Imperial Marinheiro” fazia uma viagem com destino a Abrolhos (BA) quando, durante uma tempestade, naufragou bem próximo à foz do Rio Doce, em Regência. Todas as tentativas de salvamento da tripulação fra-cassaram até que o nosso Caboclo Bernardo se prontificou a enfrentar o mar revolto e levar, da praia ao navio, uma corda que auxiliaria no resgate. Passada a corda de ligação, Bernardo ainda ajudou cada um dos marinheiros a deixarem o barco naufragado. Como reconhecimento por seu altruísmo e bravura, Bernardo foi homenageado, primeiro em Vitória, de onde seguiu para o Rio de Janeiro para receber o tributo do alto comando da Marinha do Brasil e ainda da própria Princesa Regente Isabel. A Princesa condecorou-lhe com uma medalha de ouro e a seguinte honraria:

“Eu princesa Isabel Regente, em nome do Im-perador o Sr. D. Pedro II: faço saber aos que esta carta virem, que atendendo a dedicação não comum pela humanidade que mostrou o remador da catraia da Barra do Rio Doce, que Bernardo José dos Santos, salvando com risco da própria vida às de muitos indivíduos, por ocasião do naufrágio do “Imperial Marinheiro”, ocorrido na madrugada de 7 de setembro, próximo findo, a duas milhas ao sul daquela barra, e querendo dar-lhe uma de-monstração de meu imperial agrado, por tão importante serviço: Hei por bem fazer-lhe mercê de medalha de 1ª classe designada”. n

“Eu vi o navio perder-se e então prendi o cabo aos dentes e atirei-me ao mar para salvá-los”

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acontece

Os coroinhas e cerimo-niários da Arquidiocese são convidados a participarem de um encontro celebrativo no dia 15 de agosto, com missa presidida pelo bispo auxiliar, Dom Rubens Se-vilha, às 15h no Santuário de Vila Velha. A data faz memória a São Tarcísio, mártir, padroeiro dos co-roinhas.

No dia 16 de agosto será ordenado presbítero o diácono Jacqueson da Silva Pimentel. A Celebração presidida por Dom Luiz Mancilha Vilela acontece às 10h, no Ginásio da Faesa Campus II, em São Pedro. A primeira missa celebrada pelo novo padre será no mesmo dia, às 19h, na comunidade São João Batista, em São Pedro.

O CEBI realiza no dia 22 de agosto o curso ‘Preparando o mês da Bíblia’, de 8h30 às 12h30, em sua sala, localizada em cima da Livraria Paulus. As inscrições podem ser feitas pelo telefone 3323-0116.

“O amor é a nossa missão: a família plenamente viva!”. Essa é a motivação que irá reunir as famílias para uma roma-ria ao Convento da Penha no dia 15 de agosto, em celebração a Semana da Famí-lia. A partir de 14h o grupo se concentra na Praça Duque de Caxias, no Centro de Vila Velha e segue em procissão para, às 16h participar da missa no Campinho.

missa para coroinhas e cerimoniários

ordenação

mês da bíblia

encontro de fé e política

romaria das famílias

Voltado para a formação dos catequistas da Arqui-diocese, o IPAC acontece nos dias 29 e 30 de agosto, em Ponta Formosa. Com assessoria do Padre Domingos Coelho Ormonde, da Diocese de Duque de Caxias e do liturgista Irmão Francisco Assis Dias, os participantes vão trabalhar o tema “Querigma”. Mais informações pelos emails: [email protected] e [email protected] ou no telefone 3025-6265.

ipAC

Acontece em Cachoeiro de Itapemirim o 9º Encontro de Fé e Política, nos dias 29 e 30 de agosto, no Colégio Cristo Rei. Com o tema ‘Bem Viver’, o encontro é um convite para uma reflexão sobre a juventude, vida e militância no século XXI. Para inscrições e outras informações, entrar em contato com Ana, Elde, Valma ou Rafaela nos telefones (28) 2101-7609/7610 ou pelo email [email protected]

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