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CAMPANHAS ELEITORAIS NA INTERNET: O SURGIMENTO DO MAV-PT/SP Alvaro Lorencetti Brolo 1 RESUMO: O presente artigo tem por objetivo descrever o surgimento do Núcleo de Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores de São Paulo (MAV- PT/SP). Para tanto, buscou-se fazer um revisão bibliográfica sobre a literatura especifica da Ciência Política que tange as campanhas eleitorais. Posteriormente, é feito um resgate sobre a criação da internet e o avanço das campanhas eleitorais para este espaço. Através do conceito de “americanização”, considera-se que a campanha online de Barack Obama em 2008 serviu como inspiração para a campanha presidencial brasileira. Por fim, procurou-se remontar a criação e institucionalização do MAV-PT/SP, núcleo de base que busca organizar e qualificar a militância virtual do Partido dos Trabalhadores. PALAVRAS-CHAVE: Campanhas eleitorais; internet; MAV-PT/SP INTRODUÇÃO As campanhas e estratégias eleitorais sempre constituíram um objeto de estudo relevante na área da Ciência Política². Estes trabalhos se intensificaram com o advento da Internet e das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC’s), sobretudo, no que tangea utilização destas ferramentas na arena eleitoral. Entretanto, a grande maioria dos trabalhos dedicados ao estudo das campanhas eleitorais na internetlimita-se a análise apenas das estratégias de partidos e candidatos na rede, relegando para segundo plano a atuação de ativistas e militantes em defesa de um projeto político. A proposta deste artigo é, além de fazer revisão bibliográfica sobre as campanhas eleitorais e o advento da internet,descrever o surgimento Núcleo de Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores de São Paulo (MAV- PT/SP), grupo criado a partir da organização voluntária de militantes e simpatizantes do PT após a campanha presidencial de Dilma Rousseff.Posteriormente o núcleo foi 1 Universidade Federal de São Carlos, [email protected] , mestrando em Ciência Política PPGPol/UFSCar. ² Ver Mancini &Swanson (1996); Gomes (2009); Lavareda (2009); Aggio (2011); Iasulaitis (2012).

CAMPANHAS ELEITORAIS NA INTERNET: O SURGIMENTO … · especifica da Ciência Política que tange as campanhas eleitorais. Posteriormente, é feito um resgate sobre a criação da

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CAMPANHAS ELEITORAIS NA INTERNET: O SURGIMENTO DO MAV-PT/SP

Alvaro Lorencetti Brolo1

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo descrever o surgimento do Núcleo de Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores de São Paulo (MAV-PT/SP). Para tanto, buscou-se fazer um revisão bibliográfica sobre a literatura especifica da Ciência Política que tange as campanhas eleitorais. Posteriormente, é feito um resgate sobre a criação da internet e o avanço das campanhas eleitorais para este espaço. Através do conceito de “americanização”, considera-se que a campanha online de Barack Obama em 2008 serviu como inspiração para a campanha presidencial brasileira. Por fim, procurou-se remontar a criação e institucionalização do MAV-PT/SP, núcleo de base que busca organizar e qualificar a militância virtual do Partido dos Trabalhadores. PALAVRAS-CHAVE : Campanhas eleitorais; internet; MAV-PT/SP INTRODUÇÃO

As campanhas e estratégias eleitorais sempre constituíram um objeto de

estudo relevante na área da Ciência Política². Estes trabalhos se intensificaram com o

advento da Internet e das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC’s),

sobretudo, no que tangea utilização destas ferramentas na arena eleitoral. Entretanto,

a grande maioria dos trabalhos dedicados ao estudo das campanhas eleitorais na

internetlimita-se a análise apenas das estratégias de partidos e candidatos na rede,

relegando para segundo plano a atuação de ativistas e militantes em defesa de um

projeto político.

A proposta deste artigo é, além de fazer revisão bibliográfica sobre as

campanhas eleitorais e o advento da internet,descrever o surgimento Núcleo de

Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores de São Paulo (MAV-

PT/SP), grupo criado a partir da organização voluntária de militantes e simpatizantes

do PT após a campanha presidencial de Dilma Rousseff.Posteriormente o núcleo foi

1Universidade Federal de São Carlos, [email protected], mestrando em Ciência Política PPGPol/UFSCar. ² Ver Mancini &Swanson (1996); Gomes (2009); Lavareda (2009); Aggio (2011); Iasulaitis (2012).

institucionalizado pelo partido, com o intuito de qualificar a militância para atuar na

internet e defender as propostas e programas do partido na internet.

O nosso intuito foi inverter o foco tradicional de análise, colocando em

evidência a atuação da militância partidária nainternet, principalmente nas redes

sociais, em defesa de um projeto político ou candidatura específica. O enfoque do

artigobusca dar protagonismo às atividades da militância online nas redes sociais e na

sua forma de atuação em relação às diversas agendas, que muitas em muitos casos,

passam ao largo das manifestações oficiais dos partidos e das mídias tradicionais.

O presente artigo foi divido em duas partes. Em um primeiro momento

enveredamos em uma discussão bibliográfica acerca da literatura sobre campanhas

eleitorais (IASULAITIS, 2012) e o surgimento da internet (CASTELLS, 1999)

retratando posteriormente, de maneira breve, o processo de “americanização”

presente em (MANCINI & SWANSON, 1996). A partir deste processo, salientamos a

campanha eleitoral na internet de Barack Obama como provável influência na

utilização das plataformas de redes sociais na campanha presidencial brasileira de

2010.

Em um segundo momento, elaborarmos uma descrição do objeto deste estudo,

a saber, o Núcleo de Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores

do Estado de São Paulo. Uma organização espontânea de militantes que surgiu a

partir da campanha última campanha presidencial e foi institucionalizada pelo partido

para compor um de seus núcleos de base. Antenados com a crescente utilização das

plataformas de redes sociais nas campanhas politicas, o Partido dos Trabalhadores

buscou organizar sua militância atuante na internet para defender e divulgar o projeto

político do partido.

1. AS CAMPANHAS ELEITORAIS E SUAS ETAPAS

Para facilitar a compreensão e iniciar o debate sobre as campanhas eleitorais e

a utilização das redes sociais em sua composição, faz-se necessário, uma breve

incursão na literatura da ciência política sobre o tema.

Reconhecendo a dificuldade de se estudar as campanhas eleitorais, dadas as

particularidades de cada contexto e a velocidade de mudanças implícitas nessas

práticas, (MANCINI & SWANSON, 1996) atestam que as campanhas eleitorais

configuram os períodos críticos na vida das democracias, uma vez que elas se

constituem enquanto um meio através do qual são selecionados governos, dirigentes,

ideologias e se configuram como um lócus privilegiado para o debate de propostas no

campo político:

“Simbolicamente, as campanhas legitimam governos democráticos e líderes políticos, unindo eleitores e candidatos em um display de obrigações cívicas e um ritual de renovação nacional. Os valores, a história em comum e as aspirações celebradas nas campanhas eleitorais são talvez a mais clara expressão de uma democracia, continuamente envolvendo os mitos coletivos e a percepção do seu caráter essencial. Os resultados e o significado simbólico das campanhas são importantes para a saúde da democracia, se os resultados práticos parecem contradizer os compromissos, ou se os compromissos soam vazios, o resultado mais comum é o cinismo geral e a insatisfação com o governo.” (MANCINI & SWANSON, 1996).

Observadas algumas características das campanhas eleitorais e suas

implicações para a democracia, para efeito de análise, podemos classificar em três

etapas os modos como eram realizadas as campanhas eleitorais.

1.1 A PRIMEIRA ETAPA DAS CAMPANHAS ELEITORAIS

Em um primeiro momento, as campanhas eram caracterizadas por um

engajamento relevante de militantes partidários e, sobretudo, por um contato direto

entre candidato e eleitor, ou seja, “face a face”(IASULAITIS,2012). Nesse estágio, os

partidos eram mais estruturados, com eleitorado bem definido e com plataformas

políticas direcionadas ao seu público-alvo.

De acordo com (HABERMAS, 2003), a partir do século XVIII começaram a

surgir espaços públicos que favoreciam o debate político entre os cidadãos longe dos

canais institucionais tradicionais, o que fortalecia o engajamento cívico nas questões

políticas. Ademais, as praças públicas não apenas se constituíam de mais um lócus

privilegiado de debate e discussão entre os cidadãos, mas também da apresentação

dos candidatos e seus discursos políticos(AZEVEDO, 1998).

Dessa forma, podemos perceber que durante o primeiro estágio de campanhas

eleitorais havia um contato muito próximo entre os eleitores e candidatos, os

quaisutilizavam principalmente da oralidade, com discursos em locais públicos e de

pequenos panfletos, para apresentarem suas propostas e angariarem votos. Nessa

forma de campanha política, percebemos uma relação dialógica, na qual o político ao

passar sua mensagem instantaneamente podia ser interpelado pelo eleitor, que além

de reforçar o laço de proximidade, sujeitava o político a situações desconhecidas.

Essa primeira fase de campanha eleitoral declina a partir do início do século

XX, a forma de se fazer campanha altera-se pelo advento das mídias de massa,

principalmente a televisão (IASULAITIS, 2012). Nesse sentido, podemos afirmar que

há um distanciamento significativo na relação entre eleitor e candidato, uma vez que

foram substituídos “os canais diretos e pessoais de outrora por outros impessoais e

não dialógicos” (IASULAITIS, 2012), dito de outra forma, as campanhas passaram a

atingir um número muito maior de cidadãos através do rádio e da TV, entretanto a

mensagem seguia por uma mão única, apenas do candidato para eleitor, em que esse

último já recebia uma mensagem acabada, perdendo os mecanismos de interação e

interpelação.

1.2 A SEGUNDA ETAPA DAS CAMPANHAS ELEITORAIS

Se não bastassem as características já apontadas, as mídias de massa e seu

intenso processo de modificação que afetam as campanhas eleitorais passaram a se

constituir enquanto um centro de poder autônomo nas poliarquias

modernas(SWANSON &MANCINI, 1996).

“o papel da mídia tem... mudado rapidamente de ser um mero canal de comunicação para ter um papel principal no processo de campanha, sendo que ela seleciona pessoas e temas a serem cobertos e ela modela a imagem dos líderes”(SWANSON & MANCINI, 1996).

Este segundo momento de campanhas eleitorais se desenvolveu sobre um

contexto das “sociedades espetacularizadas”, ou seja, sobre a égide da televisão,

onde os indivíduos pouco ou nada abstraem da informação recebida, o visível se

sobrepõe ao inteligível e o convencimento que antes era racional-argumentativo

transforma-se em emotivo-sedutor (RIBEIRO,2004).

“Com o processo de modernização avançando, a principal forma de o cidadão participar nas campanhas eleitorais muda do envolvimento pessoal direto para a posição de espectador,

com as campanhas sendo conduzidas basicamente por meio da mídia de massa e os cidadãos participando nelas como membros da audiência da mídia”. (SWANSON & MANCINI, 1996)

Os métodos de campanha ao redor do mundo têm se espelhado cada vez mais

aos utilizados nos Estados Unidos, surgindo o termo “americanização” das campanhas

eleitorais. Sendo a maior potência mundial e com seu poder de influência hegemônica,

as eleições americanas são acompanhadas de perto por grande número de

observadores que se espelham nas práticas de campanha adotadas no país, e

consequentemente acabam exportando seus métodos de fazer campanha, que tem

como principais características: “profissionalização das campanhas; a utilização

sistemática das pesquisas de opinião pública; o uso da mídia de massa como principal

meio de comunicação entre candidato/eleitor e, finalmente, a personalização da

campanha com a hipervalorização da imagem do candidato em detrimento do partido,

programa partidário ou posicionamento ideológico” (SWANSON & MANCINI, 1996;

AZEVEDO, 1998)

Nas campanhas “americanizadas”, a televisão é o veículo de comunicação por

meio do qual os eleitores encontram os candidatos, ou seja, é o aparelho televisivo

que passa a estabelecer uma conexão entre o representante e o representado

(SWANSON & MANCINI, 1996), o que como vimos acima, mudou substancialmente o

caráter das campanhas eleitorais, principalmente com os programas eleitorais

televisivos se tornando o centro referencial das campanhas (RIBEIRO, 2004).

Ademais, segundo (AZEVEDO, 1998), “a hegemonia da TV com sua poderosa

linguagem ao lado de recursos como velocidade, instantaneidade, visibilidade,

simultaneidade e espetacularização modifica e reconfigura a esfera pública”. Como

pudemos perceber essa segunda etapa é marcada principalmente pela influência

televisiva, o que acabou por fazer com que toda campanha se estruturasse ao redor

dessa arena midiática central (RIBEIRO, 2004)

1.3 A TERCEIRA ETAPA DAS CAMPANHAS ELEITORAIS

Por fim, chegamos ao terceiro modelo de campanhas eleitorais nas

democracias contemporâneas, ressaltando que, essa forma de caracterização não

segue uma lógica cronológica, com início e fim definidos, apenas é um mecanismo

analítico que nos auxilia na compreensão das mudanças referentes às técnicas e

formatos de conduzir as campanhas eleitorais.

A terceira etapa de campanhas eleitorais tem seu início com o advento das

NTIC’s (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação), que se acentuou no início

da década de 1990. O papel central das mídias de massa em conectar os cidadãos

não foi substituído, apenas complementado pelas novas tecnologias(IASULAITIS,

2012). No roll dessas novas tecnologias destaca-se a Internet, que ao decorrer dos

pleitos eleitorais, tem ganhando cada vez mais espaço e eficácia na condução das

campanhas eleitorais, juntamente com as redes sociais.

1.4 O SURGIMENTO E O DESELVOLVIMENTO DA INTERNET

A criação e o desenvolvimento da internet foi a resultante de uma combinação

de quatro fatores, a saber: “estratégia militar, grande cooperação científica, iniciativa

tecnológica e inovação contra-cultural”. (CASTELLS, 1999)

Os primeiros passos da internet foram dados na década de 1960, pela Agência

de Projeto de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos

(ARPA) no contexto da Guerra Fria, com o intuito de manter intacto o sistema de

comunicação norte-americano no caso de uma guerra nuclear contra os soviéticos. A

resultante desse esforço foi a construção de uma rede interconectada de diversas

maneiras por milhões de computadores sem um órgão de comando central,

ultrapassando as barreiras eletrônicas (CASTELLS,1999).

Sendo assim:

“Com base na tecnologia de comunicação de troca de pacotes, o sistema tornava a rede independente de centros de comando e controle, para que a mensagem procurassesuas próprias rotas ao longo da rede, sendo remontada para voltar a ter sentido coerente em qualquer ponto da rede” (CASTELLS, 1999)

Com o avanço da tecnologia digital, outros tipos de mensagens, como sons,

imagens e dados, também começaram a serem compartilhados, dando origem a uma

rede sem centros de controles, que ainda assim permitiam a comunicação entre seus

nós. Desta forma, “a universalidade da linguagem digital e a pura lógica das redes do

sistema de comunicação geraram as condições tecnológicas para a comunicação

global horizontal” (CASTELLS, 1999)

Até chegar a forma como conhecemos atualmente, a internet passou por

algumas etapas, principalmente influenciada por cientistas e universitários. Entretanto,

uma das características mais importantes da rede foi a de que a partir da década de

1990 ela passa a ser autônoma, isto é, sem nenhuma autoridade reguladora,

revelando o caráter anarquista deste novo meio de comunicação. (CASTELLS, 1999).

Mesmo com todas essas características inovadoras e revolucionárias, ainda

em meados dos anos 1990, a internet era um instrumento de difícil manuseio. Foi

então que, em mais um salto tecnológico, com a criação do aplicativo world wide web,

- o popular WWW -, o teor dos sítios passou a ser organizado por informação,

facilitando a navegação e a popularização do acesso à rede.

“A world wide web – WWW (Rede de Alcance Mundial) é uma rede flexível formada por redes dentro da Internet onde instituições, empresas, associações e pessoas físicas criam os próprios sites, que servem de base para todos os indivíduos com acesso poderem produzir sua homepage, feita de colagens variáveis de textos e imagens” (CASTELLS, 1999)

Desta forma, a criação dessa rede horizontal foi apropriada por milhares de

indivíduos ao redor do mundo com objetivos e utilidades bem diferentes das

concebidas no início da década de 1960. (CASTELLS,1999)

Constituída dessa maneira, “a internet é a espinha dorsal da comunicação

global mediada por computadores (CMC): é a rede que liga a maior parte das redes” e

já se constitui enquanto “meio de comunicação interativo universal via computador da

Era da Informação” (CASTELLS, 1999)

“A internet tem tido um índice de penetração mais veloz do qualquer outro meio de comunicação na história: nos Estados Unidos, o rádio levou trinta anos para chegar a sessenta milhões de pessoas; a TV alcançou esse nível de difusão em 15 anos; a Internet fez isso em apenas três anos após a criação da teia mundial” (CASTELLS, 1999).

O crescimento do número de usuários vem acompanhado da utilização da

internet como principal ferramenta para comunicação, porém, não apenas informações

são trocadas, “a comunicação mediada por computador corresponde a uma forma

prática e muito utilizada para estabelecer laços sociais” (RECUERO, 2008) estando

também a disposição dos mais variados atores, em suas tentativas de divulgar ideias e

opiniões (BLANCHARD, 2003). Dito de outra forma, a comunicação mediada por

computador se configura enquanto um meio alternativo de estabelecer relações

sociais. Sendo assim, a CMC promove uma substancial alteração na sociabilidade,

incidindo “nas formas de organização, de identidade, conversação e mobilização”

(RECUERO, 2008).

Como vimos, a rápida popularização da internet vem promovendo mudanças

no estabelecimento de relações sociais, e não diferentemente atrai grandes

expectativas no que se refere também ao campo político. Nos últimos tempos muitas

considerações têm sido elaboradas a respeito dos avanços das novas tecnologias,

principalmente através da internet e das redes sociais, e de suas capacidades de

influenciar na alteração do campo político e na própria democracia.

Em (IASULAITIS, 2012), especialmente na década de 1990, duas linhas

teóricas extremas e antagônicas se constituíram na análise das NTIC’s e seus

impactos sobre a democracia. Em primeiro lugar, os ciberotimistas, que exaltavam as

características inovadoras da internet como sendo fulcrais para a revitalização da

democracia. Por outro lado, e em resposta ao primeiro tipo de abordagem,

encontramos os ciberpessimistas, que celebravam que as novas características

apresentadas pelo novo meio de comunicação que surgia, a saber, a internet, não

seriam capazes de resolver as fragilidades da democracia, e de certo modo, poderia

até agravar os déficits democráticos. Portanto, observamos uma tese e uma antítese

muito bem definidas, que foram complementadas por uma síntese, que corresponde a

uma terceira onda de análise sobre o impacto das “novas” mídias sobre a democracia.

Desta forma, este último tipo de abordagem relativiza os extremismos de

ambas as partes, não se caracterizando tão entusiasta quanto a primeira, nem tão

cética quanto a segunda. Ademais, a internet não apresenta características tão

marcantes que possam prejudicar a democracia, tampouco representaria uma

revolução na forma de compreendê-la. O que diferencia essa terceira abordagem, é

que ela não apenas analisa as características das NTIC’s isoladamente, mas também

as deslocam para o contexto social e cultural dos atores políticos (IASULAITIS, 2012).

Nos aprofundarmos nesta análise não faz parte de nossa empreitada, pois

incorreríamos no risco de nos distanciarmos significativamente do objetivo proposto

para este artigo. Porém, a título de esclarecimento, essa contextualização das linhas

de abordagem abre margem para acentuarmos a principal potencialidade da internet:

a interatividade.

1.5INTERNET, INTERATIVIDADE E O “FENÔMENO OBAMA”

A característica mais destacada da internet é o seu potencial interativo, que é

“compreendido como a essência da comunicação baseada na web” (IASULAITIS,

2008). Ao contrário das mídias de massa, na internet percebemos um potencial de

horizontalização (BRAMBILLA, 2011), ou seja, o poder de mediação dos grandes

meios de comunicação perde significativamente sua relevância e os usuários têm a

possibilidade de selecionar seu próprio enquadramento, além de deixar de ser mero

receptor e passar a ser também um emissor.

“A interatividade é uma particularidade da rede que possibilita ao indivíduo afetar e ser afetado por outros numa comunicação que se desenvolve em um sistema de mão-dupla” (IASULAITIS, 2008)

Tendo em vista que a interatividade é apontada como característica diferencial

da internet sobre as mídias de massa é, sobretudo, nas redes sociais que essa

característica se torna mais marcante. Para (RECUERO, 2008), as relações

estabelecidas em uma rede social são formadas por laços sociais, que por sua vez

são constituídos através da interação social entre os atores. Além de tudo, as redes

sociais permitem a manutenção dos laços sociais estabelecidos no espaço off-line.

As redes sociais que tem maior popularidade no Brasil são: Orkut, Twitter,

Facebook, Youtube, Flicker. Através dessas redes os “internautas” constroem relações

sociais a partir do ciberespaço, muitas vezes com pessoas que fazem parte do seu

circulo social no ambiente “real”, mas também podem construir relações com

indivíduos que compartilhem dos seus mesmos gostos, preferências e interesses.

Diante disso, estudar redes sociais é “estudar os padrões de conexões expressos no

ciberespaço, explorar uma metáfora estrutural para compreender elementos dinâmicos

e de composição dos grupos sociais”. (RECUERO, 2008)

Uma rede social se constitui a partir de dois elementos: os atores e suas

conexões (RECUERO,2008). Isso reforça nossa hipótese de que o cerne para a

compreensão de qualquer rede social tem como base a interação que esta

proporciona aos indivíduos que estão conectados. Nas principais redes sociais acima

citadas, observamos a oportunidade de construção de laços sociais, troca e

compartilhamento de informações e horizontalização da comunicação, na qual os

indivíduos têm a oportunidade de filtrar e divulgar as informações que mais interessa.

Essas peculiaridades das redes sociais têm sido cada vez mais exploradas durante as

campanhas eleitorais por candidatos e partidos na busca pelo voto. Em (IASULAITIS,

2008), “as principais características das campanhas na Internet apontadas pelos

pesquisadores foram a diminuição do custo de aquisição de informação, a

possibilidade de aumento do acesso do público aos políticos e, portanto, de sua

influência sobre eles, a livre expressão das visões dos cidadãos e, principalmente a

capacidade interativa da rede”.

Em novembro de 2008, observamos uma eleição muito emblemática no que se

refere ao uso da internet e as redes sociais: a campanha vitoriosa do candidato

democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama. A campanha bem

sucedida do Democrata no que tange a utilização das potencialidades da rede e à

utilização de novos formatos de campanha denominado web 2.0 ecoou por todos os

países.

A campanha eleitoral que culminou com a vitória de Barack Obama, foi

marcada, como vimos, pelo papel diferencial exercido pela internet. Ela assumiu

diversas funções, principalmente como fonte de informação e comunicação entre os

eleitores, candidatos e partidos. (IASULAITIS, 2012).

As principais características que demarcaram o que ficou conhecido como

“fenômeno Obama” foram o alto valor de doações financeiras arrecadados pela

internet e principalmente o índice de recrutamento e mobilização de militantes, por

listas de e-mail e bancos de dados através da internet. (BRAGA, 2010; IASULAITIS,

2012)

O atual presidente dos Estados Unidos conseguiu utilizar das ferramentas e

potencialidades da internet para estruturar vitoriosamente sua campanha a partir de

três eixos fundamentais: financiamento, organização e mobilização. Obama conseguiu

recrutar uma gama de apoiadores, em especial, jovens, por meio de uma estratégia

muito bem articulada e amparada pela web (BRAGA, 2010). A estratégia utilizada foi a

fragmentação da campanha, em que através de recursos de análise do perfil de

eleitores, o candidato personalizou o tipo de discurso para cada tipo de grupo de

eleitores (IASULAITIS, 2012)

A campanha de Barack Obama serviu como modelo para diversos países, e na

campanha eleitoral de 2010 no Brasil não foi diferente. Logicamente, vale lembrar que

as práticas observadas na campanha americana não se reproduziram identicamente

em nosso país, porém serviu como inspiração para que se começasse a pensar mais

intensamente no uso da internet e das redes sociais em nossas campanhas eleitorais:

“O Brasil adentrou na terceira fase das campanhas eleitorais, que passaram por mudanças de formatos com a adoção de novas tecnologias de comunicação, o que indica um incremento nas técnicas profissionalizadas. (...) A internet foi incorporada ao rol das estruturas de comunicação político-eleitorais no Brasil”. (IASULAITIS, 2008)

É importante verificar, porém, que a maioria das análises feitas sobre as

campanhas eleitorais no Brasil, tem levado em consideração principalmente a figura

personalizada dos candidatos, os websites da campanha ou dos partidos, e até

propriamente os perfis dos candidatos em suas páginas nas redes sociais.

Alguns acontecimentos que marcaram a campanha eleitoral de 2010, como o

famigerado episódio da “bolinha de papel”, em que supostamente o candidato do

PSDB, José Serra, teria sido atingido na cabeça por um objeto, que outrora descobriu

ser uma bola de papel, ganharam repercussão muito mais pelos comentários dos

militantes partidários em suas redes sociais, que explorados pelas campanhas oficiais.

Percebemos então, que a estratégia oficial de campanha dos candidatos, em

especial a digital, não responde pela campanha como um todo. Dessa forma, a nossa

proposta vem no sentido de alterar o foco de análise e passar a dar visibilidade a

atuação dos militantes políticos e simpatizantes dos candidatos na rede.

Acreditamos ser mais que essencial, para compreender as campanhas

eleitorais na internet, não só analisar as estratégias e as formas de atuação das

campanhas oficiais na busca pelo voto, mas também analisar as ações de militantes

engajados espontaneamente nessa nova arena de disputa eleitoral.

2. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAS DE 2010 E O SURGIMENTO DO NÚCLEO DE

MILITANTES EM AMBIENTES VIRTUAIS DO PARTIDO DOS TRA BALHADORES

DE SÃO PAULO (MAV-PT/SP)

A campanha presidencial de Barack Obama, feita através das plataformas de

redes sociais em 2008, demonstrou-se extremamente eficiente, principalmente no que

tange a capitação de recursos financeiros para a campanha eleitoral, por meio de

doações, e também como uma forma inovadora de traçar o perfil do eleitorado norte-

americano, alicerçando determinadas ações de campanha, de acordo com as

informações obtidas na rede mundial de computadores (BRAGA, 2010; IASULAITIS,

2012). A experiência vitoriosa na utilização das redes sociais na campanha democrata,

durante as eleições americanas, trouxe novas perspectivas de aprimoramento no uso

das NTIC’s em campanhas eleitorais ao redor do mundo. A internet passara a

despertar, a partir de então, interesse como mais uma ferramenta a ser utilizada na

empreitada para uma vitória eleitoral.

O processo de “americanização” das campanhas eleitorais descrito por

(SWANSON & MANCINI, 1996), se fez latente na campanha presidencial brasileira de

2010, sobretudo, na tentativa de utilização das plataformas de redes sociais para

potencializar a campanha e atingir o eleitorado presente na internet. Em todo o mundo,

o crescimento da utilização da internet é de uma velocidade surpreendente, desta

forma, naquele ano eleitoral, o Brasil já contava com cerca de 81,3 milhões de

usuários, sendo que Orkut, Youtube, Twitter e Facebook representavam,

respectivamente, as mídias sociais mais acessadas no país. Todas essas

características tornaram a rede mundial de computadores ainda mais atrativa na busca

pelos votos nas eleições presidenciais.

2.1O CONTEXTO ELEITORAL DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010

Nas eleições de 2010, podemos destacar três principais candidaturas à

Presidência da República que utilizaram intensamente a internet, a saber, Dilma

Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). Uma evidência bastante clara

de que os partidos iriam se concentrar também na campanha virtual, foi a de que cada

um deles contratou um coordenador de campanha exclusivamente dedicado à atuação

online.

Até pouco antes do início da campanha, as pesquisas de intenção de voto

apontavam vantagem na preferência popular para o candidato José Serra, sempre

seguido por Dilma Rousseff. Entretanto, com o passar do tempo e à medida que a

candidata petista vinha se tornando mais conhecida entre os eleitores, essa tendência

se inverteu, ou seja, Dilma entrou na campanha em vantagem sobre o seu principal

oponente.

Nesse ritmo, a vantagem da candidatura do PT sobre a do PSDB seampliava

consideravelmente a cada nova pesquisa publicada. Desta forma, a algumas semanas

da votação do primeiro turno, que aconteceu no dia 03 de outubro de 2010, se

cogitava fortemente a possibilidade de vitória eleitoral de Dilma Rousseff sem a

necessidade do segundo turno. Entretanto, a internet e as redes sociais foram cruciais

para postergar a decisão de quem seria o próximo Presidente da República.

Em se tratando da campanha online, os três principais postulantes a

presidência contaram com campanha nas principais plataformas de redes sociais e

também deram bastante ênfase em seus sites pessoais. De qualquer maneira, uma

boa análise sobre a campanha digital não deve levar em conta apenas as atividades

que os candidatos desenvolveram em suas redes sociais ou sites, mas também deve

dar-se atenção em como é a repercussão dos fatos da campanha, através da ótica

dos ativistas, apoiadores e militantes engajados na campanha. Neste artigo, nossa

prioridade será inverter o foco tradicional de análise e enfatizar sobremaneira a

atuação da militância, uma vez que alguns episódios extremamente relevantes na

campanha acabam passando ao largo da atuação profissionalizada contratada

especificamente para atuar no staff online.

2.2 CARACTERÍSTICAS DA CAMPANHA ELEITORAL ONLINE

De maneira geral, a campanha eleitoral na internet foi negativa, uma vez que a

rede foi extremamente utilizada para atacar a imagem dos candidatos. Com relação a

imagem da candidata petista Dilma Rousseff, foram difundidas inúmeras correntes de

e-mails para tentar denegrir sua imagem, espalhando boatos, entre eles: acusações

de terrorismo; não poderia entrar nos Estados Unidos;sua posição com relação ao

aborto; etc. Além dessa enorme circulação via e-mail, a boataria promovida pelos

setores conservadores ecoou fortemente nas plataformas de redes sociais e por

muitas vezes acabavam pautando os meios de comunicação de massa, ganhando

enorme repercussão.

A coordenação online de campanha do PT demorou a dar respostas aos

ataques Sendo assim, de forma espontânea, a militância petista começou a se

articular na rede em defesa da figura da então candidata e do projeto político. Para

contribuir com essa tarefa, foi criado pela própria militância o site

“www.sejaditaverdade.net”, que tinha a função de auxiliar a militância no combate às

mentiras espalhadas pela rede, isto é, para cada e-mail mentiroso recebido sobre

determinado assunto, existia uma resposta com objetivode esclarecer os interessados

sobre o assunto.

De qualquer forma, frente a iminente vitória do PT no primeiro turno, os e-mails

e a repercussão contra sua candidata foram desastrosos e, de certa forma,

contribuíram para que a eleição fosse decidida no segundo turno. As mesmas

estratégias de circulação de e-mail contra a imagem da candidatura petista foram

exaustivamente utilizadas também no segundo turno. Entretanto, a militância petista

continuava fortemente atuante na campanha online.

O que se pode perceber foi um distanciamento entre a coordenação online de

campanha da candidata Dilma Rousseffe a militância petista que estava presente na

internet. A atuação da campanha virtual de Dilma foi muito tímida, se resguardando

apenas ao uso tradicional do site e a criação de contas em plataformas de redes

sociais, porém com pouco apelo a participação da militância. Por outro lado, os

internautas petistas fizeram um enfrentamento mais combativo com relação aos

ataques que sua candidata vinha sofrendo e, inclusive, tiveram participação importante

na desmistificação de alguns casosplantados na internet.

Apesar do relativo distanciamento entre a coordenação de campanha virtual e

a militância petista, de uma forma geral, a campanha desfavorável que vinha em uma

crescente contra Dilma Rousseff conseguiu ser equilibrada e o partido obteve êxito em

dar respostas com relação à boataria difundida Além de favorecer uma pauta mais

positiva para a imagem de sua candidata. O resultado positivo ao final do segundo

turno das eleições, que elegeu Dilma presidente da República com 56% dos votos

válidos, ressaltou um papel importante de protagonismo assumido pela militância

espontânea e voluntária, em relação à coordenação oficial de campanha, que acabou

tendo uma atuação fundamental em defesa da candidata petista na internet.

A militância virtual petista mesmo atuando de forma desorganizada e muitas

vezes até mesmo isolada durante a campanha teve um papel importante. Mesmo após

a vitória nas urnas, ao contrário da coordenação online da campanha, os militantes

petistas que atuaram na internet, construíram uma relação bastante forte e

permaneceram com sua atuação através das redes sociais, agora, porém, com o

objetivo de dar sustentação novo governo.

2.3 A CRIAÇÃO DO MAV-PT/SP

Passados os calorosos embates da campanha eleitoral, os militantes mais

engajados na atuação online e nas plataformas de redes sociais, concluíram que o

partido não poderia mais atuar de forma desorganizada na rede. Partindo do princípio

de que o PT é um partido extremamente centralizado, hierárquico e organizado no

campo físico é que se pensou na ideia de também organizar a militância que atuava

na internet.

Durante esse processo, alguns militantes do partido se reuniam por meio da

internet em dois coletivos denominados “Rede Liberdade” e “Coletivo da Rede”. As

discussões dos grupos giravam em torno das próximas atuações dos militantes virtuais

depois da campanha eleitoral.Um ponto de convergência dos grupos era de que o PT

tinha necessidade de organizar sua militância virtual, tendo em vista que, segundo os

militantes, o partido teve uma atuação insatisfatória na internet. Durante um dos

encontros virtuais dos militantes, desta vez com a participação do Secretário Nacional

de Movimentos Populares do PT, Renato Simões, surgiu a ideia de criação do Núcleo

de Militantes em Ambientes Virtuais (MAV-PT). Nesse sentido, Simões deu as

orientações burocráticas iniciais para a formação de núcleo de base Logo após, os

militantes engajados passaram a se reunir semanalmente através do Skype, para a

elaboração dos objetivos e do estatuto do núcleo.

Este processo de organização até a consolidação do MAV-PT/SP durou

aproximadamente dois meses. Ao término da elaboração dos objetivos e do estatuto,

foi formada uma comissão para levar ao conhecimento da executiva do PT do Estado

de São Paulo a proposta de criação do MAV-PT/SP. Em04 de maio de 2011 foi

marcada uma reunião no Diretório Estadual do PT de São Paulo com a presença do

Secretário de Comunicação do PT-SP, Aparecido Luiz da Silva, o Secretário de

Nucleação, Thiago Nogueira, e o Coordenador Nacional do Setorial LGBT, Julian

Rodrigues, em que foi fundado oficialmente o Núcleo de Militantes em Ambientes

Virtuais do PT de São Paulo, sendo Adolfo Pinheiro Fernandez escolhido coordenador,

e secretária, Marcia Brasil.

A criação de um núcleo de base é bastante simbólica para o Partido dos

Trabalhadores, pois retoma as origens do partido que durante seu processo de

formação contou com inúmeros núcleos de base. A consolidação de um novo núcleo

representa um resgate à história do PT, entretanto, neste caso, focalizando um

ambiente relativamente novo no cenário político: a internet. Desta forma, na iminência

desse movimento de militantes virtuais para a criação de novos núcleos, durante o IV

Congresso Nacional do PT, realizado em novembro em Brasília, o presidente Rui

Falcão estimulou a proposta de criação de novos núcleos e frente a esta proposta de

formação, o partido especificou o MAV enquanto um núcleo de base e regulamentou

sua atuação.

A princípio, o objetivo dos militantes virtuais engajados na campanha eleitoral

era defender a imagem do partido e de Dilma Rousseff mediante aos ataques sofridos

através da internet.Posteriormente, o grupo ligado pelos laços de afinidade ideológica,

construídos durante a campanhaestabeleceu como meta a organização objetivando: 1-

) manter a defesa do partido;2-) levar informações para municiar a militância virtual

e;3-) demonstrar a força da militância petista que atuava nas redes sociais. Com essa

aproximação da militância, novos objetivos passaram a fazer parte do MAV, tal

qualformalizar e buscar reconhecimento dentro e fora do partido sobre suas atuações

na internet. Passado esse processo de formação e consolidação, o núcleo tem agora

por principais objetivos a expansão de suas atividades por todos os estados brasileiros

e organizar e preparar a militância virtual para atuar nas redes sociais.

Por enquanto, os núcleos de militantes em ambientes virtuais estão

organizados em quatro estados, a saber, São Paulo, Rio Grande do Norte, Acre e

Paraná. Além disto, está em processo de consolidação nos estados do Rio de Janeiro

e Minas Gerais. Ademais, no que se refere ao estado de São Paulo, o MAV-PT/SP

está começando a se organizar também dentro dos diretórios municipais de algumas

cidades, como por exemplo, Campinas e Carapicuíba. Também surgiu a proposta de

criação do MAV-ABC, com o objetivo de atuação mais regionalizada em um local que

foi o berço da fundação do Partido dos Trabalhadores.

O MAV-PT/SP possui um site principal de referência (www.mavptsp.org).

Dentro do sítio, o internauta pode fazer um cadastro e criar um perfil para interagir com

outros militantes que já estão cadastrados. Além disso, no Portal do MAV-PT/SP,

podemos encontrar atalhos para interagir com o núcleo nas plataformas de redes

sociais. O site têm duas funções essenciais: reunir e informar a militância. Mediante a

este fato, a forma democrática e horizontal em que a internet é encarada pelos

membros do MAV-PT/SP, a participação é aberta não somente aos filiados, mas

também militantes de esquerda que queiram fazer sua contribuição. O espaço do site

também pode ser utilizado por parlamentares para prestação de contas, dirigentes,

assessores, enfim, para todos que querem contribuir com a divulgação de informações

e o crescimento do núcleo.

Fora do site, a atuação da militância se amplia para as plataformas de redes

sociais. De um ponto de vista mais prático, a militância se apodera das plataformas de

como Facebook e Twitter para comentar um determinado assunto, chamar a atenção

para alguma reivindicação, protestar, fazer um contraponto ao que é passado pelos

meios de comunicação de massa, etc. Um dispositivo recorrente que os militantes

utilizam é “twittaço”, ou seja, os usuários se concentrarem no Twitter e começam a

fazer postagem sobre determinado assunto ou utilizando umahashtag, para que esta

pauta ganhe visibilidade nos “trendingtopics” da rede social.

Do ponto de vista da coordenação do MAV-PT/SP, mais importante que

organizar manifestações através das redes sociais, é utilizar essas ferramentas como

auxílio para que as movimentações ganhem corpo e saiam do ambiente virtual

passando então a tornar-se manifestações de massa que tomem as ruas. O que vale

ressaltar é a utilização das plataformas de redes sociais como propulsoras de grandes

atos e manifestações, que começam na esfera online, mas que, sobretudo, extrapolem

os limites virtuais e ganhem também as ruas.

Como pudemos observar anteriormente, a criação do Núcleo de Militantes em

Ambientes virtuais contou com o apoio institucional do Diretório do Partido dos

Trabalhadores do Estado de São Paulo. Assim sendo, outra frente de atuação do

MAV-PT/SP é feita em parceria com a Secretaria de Comunicação do PT/SP. As

notícias, vídeos, links e publicações da Secretaria são reproduzidas, divulgadas e

compartilhadas pelos membros do núcleo com intuito de garantir maior abrangência às

informações oriundas do partido.

Como observamos, a ideia de criação do MAV-PT/SP partiu de uma estratégia

da própria militância petista de defender a imagem pública do PT. Além disso, outro

fator importante foi fazer um contraponto às informações espalhadas na internet.

Assim sendo, o núcleo surgiu como uma defesa da militância petista.

O custo de funcionamento do núcleo é pequeno. Nenhum integrando é

remunerado, nem mesmo o coordenador ou o secretário. Desta forma, o gasto que o

partido tem para manter o núcleo ativo é apenasde manutenção do site do MAV-

PT/SP e também algumas despesas com relação aos cursos de formação ministrados.

No mais, a militância petista organizada pelo MAV é feita de forma absolutamente

voluntária, isto é, não existe nenhum membro, alocado no núcleo, contratado

especificamente pelo partido para atuar na internet.

Diante da constituição da militância virtual, podemos afirmar que o Partido dos

Trabalhadores começa a olhar com mais atenção para a atuação na rede. Ainda é

cedo para afirmarmos que a campanha na internet é suficiente para se vencer uma

eleição, entretanto, hoje ela é uma ferramenta indispensável, ou seja, se um partido

não souber usá-la adequadamente ou simplesmente não usá-la, corre o risco de

perder uma eleição.

A melhor maneira de potencializar uma campanha eleitoral na internet

utilizando as plataformas de redes sociais é orquestrar a militância para atuar de forma

conjunta na rede. Pela própria capilaridade da rede, que não impõem barreiras, a

questão central é dar visibilidade a um candidato ou projeto político, integrando a

atuação em todas as redes,ou seja, tentar ampliar o alcance da imagem para atingir os

mais variados públicos.

É extremamente fundamental frisar que a ideia de organizar a militância virtual

do PT surgiu além dos limites institucionais do partido e se iniciou própria militância

petista. A transformação em um núcleo dentro do partido veio da necessidade de

legitimar a atuação de seus membros.

Até o presente momento, como pudemos observar, o núcleo já se consolidou

em quatro estados, em alguns municípios e está prestes a se organizar em outros

estados. De acordo com o estatuto do Partido dos Trabalhadores, um núcleo necessita

se organizar, no mínimo, em cinco Estados para se transformar em setorial. Desta

forma, a perspectiva de crescimento do MAV é ainda maior, uma vez que pode vir a

ter possibilidade de transformar-se em uma instancia superior na hierarquia do partido.

Como salientamos anteriormente, as principais campanhas eleitorais atuaram

na internet sobre a batuta de profissionais especializados e remunerados. Entretanto,

é importante ressaltar a organização destes militantes do PT que, a margem da

coordenação de campanha virtual de Dilma, conseguiram se constituir enquanto grupo

autônomo com atuação destacada. Se atualmente temos observado a

profissionalização de cabos eleitorais nas campanhas tradicionais, em certo aspecto, a

internet abriu a possibilidade de participação de uma forma de militância que estava

distante do partido.

Considerações Finais

Como pudemos constatar, a partir do processo de “americanização”

(SWANSON & MANCINI, 1996) as potencialidades da internet e das novas

tecnologiasde informação e comunicação, bem como as plataformas de redes sociais,

tendem a se expandir de maneira global em sua utilização nas campanhas eleitorais

(IASULAITIS, 2012). Desta forma, o sucesso da campanha online de Barack Obama

durante as eleições presidenciais em 2008 nos Estados Unidos, mesmo que de forma

um tanto diferente, produziu alguns efeitos na forma como se foi pensada a campanha

eleitoral brasileira no ano de 2010..

Sendo assim, os principais candidatos à disputa presidencial nas últimas

eleições brasileiras dedicaram atenção especial também a sua campanha virtual,

inclusive, com a contratação de profissionais especializados para atuação no ambiente

online.

Em meio a esse cenário, em que a corrida pela obtenção de votos ganha a

arena virtual, destacamos o surgimento espontâneo de um grupo de militantes

engajados na campanha do Partido dos Trabalhadores, que a principio, atuavam

descolados da coordenação virtual de campanha de Dilma Rousseff. Esse grupo

posteriormente veio a ser institucionalizado pelo partido, se tornando o Núcleo de

Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores do Estado de São

Paulo (MAV-PT/SP).

Analisando a origem do PT, de acordo com a definição proposta por

(DUVERGER, 1951), podemos classifica-lo como um partido de massas. Desta forma,

nas primeiras campanhas eleitorais que o partido participou, dispunha de parcos

recursos financeiros e contava principalmente com o engajamento de sua militância

nas mobilizações de rua. Com o passar do tempo, o partido iniciou um processo de

centralização e burocratização da máquina partidária, tendo em vista uma vitória

eleitoral nas futuras disputas presidenciais. Com esse cenário a militância foi se

afastando do partido e deu espaço a profissionais contratados na atuação das

campanhas petistas.

Entretanto, na campanha eleitoral que conduziu Dilma Rousseff a presidência

da República, embora existisse uma coordenação de campanha virtual com

profissionais remunerados, surgiu um grupo de militantes petistas, que posteriormente

viriam a consolidar o MAV-PT/SP, que trocaram as ruas pela arena virtual, com

objetivo defenderem a plataforma de governo do Partido dos Trabalhadores. A

constituição do MAV-PT/SP rememora a importância e atuação dos núcleos de base

fundamentais na formação do PT.

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