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  DGTH – Curso Licenciatura em Geografia Geografia Física do Brasil – Profª. Drª. Edelci Nunes da Silva Geografia Humana do Brasil – Profª. Drª. Rosalina Burgos Noções de Geologia Geral – Prof. Dr. Emerson Martins Arruda Discentes: Edineuza Oliveira Silva Roberto C Comitre Trabalho de campo - Salto-Itu 17/09/2011 Sorocaba, Novembro/2011

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DGTH Curso Licenciatura em GeografiaGeografia Fsica do Brasil Prof. Dr. Edelci Nunes da Silva Geografia Humana do Brasil Prof. Dr. Rosalina Burgos Noes de Geologia Geral Prof. Dr. Emerson Martins Arruda

Discentes: Edineuza Oliveira Silva Roberto C Comitre

Trabalho de campo - Salto-Itu17/09/2011

Sorocaba, Novembro/2011

Introduo O percurso inicio-se na cidade de Sorocaba em direo cidade de Salto, atravs da SP 75 (Castelinho), onde notamos a transio de uma paisagem predominantemente urbana para uma paisagem composta por plantas industriais e condomnios de alto padro, algo bastante comum na regio, e com algumas reas verdes caracterizadas por manchas de cerrado bastante alteradas pela ao antrpica, reas de reflorestamento (pinus e eucalptos) e pastagens. Ainda nesta rodovia notamos a presena de afloramentos de arenito (rocha sedimentar) com diferentes coloraes (branco e rosado) de aspecto ondulado, resultantes dos diferentes sentidos dos processo de deposio e do corte do terreno para a construo da rodovia. J prximos cidade de Itu, notamos o afloramento de granito (rocha cristalina) justificando essa rea de transio entre a Depresso Perifrica (rocha sedimentar) e o Planalto Atlntico (rocha cristalina). Essa rea de transio tambm se traduz em relao ao clima, entre o Tropical Continental e o Tropical Atlntico, onde ocorre um confronto de massas de ar caracterizando as formas do relevo e vegetao existente na regio. Sorocaba se localiza entre a zona tropical e subtropical (cortada pela linha imaginria do Trpico de Capricrnio). Chegamos ento primeira parada no Parque Rocha Moutonne, localizado na rodovia Rocha Moutonne, s/n na cidade de Salto/SP.

1 Parada Parque Rocha Moutonne Neste parque podemos observar a Rocha Moutonne, que na verdade no um tipo de rocha, mas recebe esta denominao em referncia sua aparncia de uma ovelha (mouton em francs) deitada, aparncia esta adquirida aps a movimentao de avano e recuo das geleiras determinando estrias na superfcie da rocha (foto 01). Estas estrias permitem determinar o sentido de movimentao da geleira que neste caso se deu de sudeste para o noroeste. O perodo de glaciao que deu forma a esta rocha referente ao paleozico entre o carbonfero e o permiano (aproximadamente 290 Ma). Esta formao remonta ao perodo Gondwnico, de aproximadamente 458 Ma e a fragmentao se consolidou h aproximadamente 195 Ma. O material que recobria a rocha foi drenado exumando as litologias agora observadas. Ao observarmos a formao rochosa, notamos um

material de colorao mais escura em sua borda inferior, resultante da presena do diamectito que uma rocha sedimentar que se acumulava junto geleria no seu processo de recuo. (foto 2). A paisagem observada mais recente, do perodo quartenrio a no mximo tercirio. Nesta regio, devido as suas caractersticas geolgicas, foi possibilitada a explorao do granito, fato que perdurou at o momento que o gelogo Rocha Campos percebeu a importncia dessa formao e ento a extrao foi desativada, e props que a rea fosse preservada. Notamos a presena de plantas cactceas (foto 03) que remontam ao ltimo ambiente seco e frio h mais ou menos 10.000 anos (perodo holocnico). Estas plantas possuem algumas diferenas em relao s encontradas no nordeste brasileiro, como a existncia de poucos espinhos devido a no necessidade de armazenamento de gua. Neste parque tambm possvel a visualizao do rio Tiet na sua margem esquerda. Notou-se intensa poluio do rio constatada pela grande quantidade de resduos e substncias recalcitrantes, alm do odor desagradvel (foto 04). As condies climticas no momento desta primeira parada podem ser observadas na tabela em anexo. (tabela 1).

2 Parada Rio Tiet/Fbrica Brasital

A Fbrica Brasital localiza-se no permetro urbano da cidade de Salto, margem direita do Rio Tiet, que se encontra acomodado numa fallha, sendo bastante comum a presena de saltos (cachoeiras), o que aumenta o seu potencial para gerao de energia. Outra caracterstica observada foi a formao das marmitas que se desenvolvem pela ao de seixos e gros em movimento de redemoinhos em rochas ao longo das margens do rio (foto 05). Esta fbrica originalmente foi construda para a produo de sacarias e roupas para escravos e de tecido de algodo para exportao, uma vez que, a sociedade consumidora brasileira nesse perodo era bastante escassa. A localizao beira-rio servia para o resfriamento da maquinaria e tambm facilitava o aproveitamento da eletricidade que estava surgindo em substituio ao carvo at ento utilizado como principal fonte de energia. Esta fbrica empregou

grande parte dos saltense, ditando o ritmo de vida dessa populao formada por muitos imigrantes italianos que ajudaram na implantao desta e de outras fbricas na regio, alm da criao de conservatrios de msica, vilas operrias, clubes esportivos, etc. Na construo da fbrica foi utilizada grande quantidade de granito, principalmente o rseo (as cores do granito depende da temperatura em que

ocorreu a solidificao), que depois de polido se torna bastante apresentvel, e tambm era utilizado para calamentos e decoraes (foto 06). A vegetao observada neste ponto apresentava-se ressequidas, pelas condies climticas do perodo do ano, e bastante alteradas, configurando uma vegetao secundria. Esta mata galeria tem importante papel na proteo do rio, barrando parte da sedimentao que poderia assore-lo. uma mata semi-decdua mista com espcimes representantes da Mata Atlntica e do Cerrado (foto 07) e espcimes colonizadoras rasteiras bastante resistentes s condies climticas. Nossa visita foi interrompida pelo fato da dinamitao de uma poro de rocha para a construo de uma nova ponte, entre s margens do rio. Cabe ressaltar a importncia do rio Tiet na produo do territrio paulista e brasileiro, atravs das incurses dos Bandeirantes (Mones) em busca de minrios e outras riquezas, e tambm da influncia do trinmio Recursos Hdricos, Indstrias e Ferrovias, determinando um importante e acentuado processo de urbanizao e industrializao desta poro do estado. As condies climticas neste momento esto registradas na tabela 01 em anexo.

3 Parada Usina de Lavras

Esta usina do rio Tiet foi a segunda a ser construda em seu leito no incio do sculo XX (1906) com tecnologia inglesa. Esta usina favoreceu a instalao de indstrias na regio, e proporcionou a incorporao de novas tcnicas que seriam utilizadas nos primrdios do processo de industrializaao, no interior do estado. Neste local, alm do edifcio da usina (foto 08), construdo em granito rosa, localiza-se um dos ncleos externos do museu da cidade de Salto, um relgio de sol e o parque funciona como rea de lazer e educao ambiental.

No interior do museu encontra-se uma instalao

denominada Criatura,

obra de artistas saltenses, que utilizaram materiais (lixo) retirados do rio, material ainda observado em grande quantidade retidos em suas margens e nos fossos da usina, onde se localizavam as turbinas de gerao eltrica. Um ponto interessante, que para a utilizao do potencial hdrico, no foi necessria a construo de barragem, aproveitando-se da curvatura do traado do rio, se construiu um canal paralelo, que proporcionou um ganho do potencial da fora motriz das guas que por ali passam, deste modo evitou-se a formao de um lago, que poderia alterar as condies ambientais da regio. As condies climticas esto anotadas na tabela 01 em anexo.

4 Parada Centro de Itu

O centro histrico da cidade de Itu, atravs das construes de seus casares coloniais assobradados (foto 09), mostra a opulncia do perodo. O traado das ruas apresenta influncia portuguesa, que do tipo orgnico, formando becos, e quebras e serpenteia as curvas de nvel do terreno. Tambm apresenta influncia espanhola nos traados em forma de tabuleiros de xadrez. O centro da cidade localiza-se na parte mais elevada de uma colina , prximo aos cursos de rios, e as construes mais imponentes esto localizadas longe das vrzeas e pntanos. A cidade de Itu, fazia parte do quadriltero do acar, durante os sculos XVII e XVIII, poca em que este produto era importante para a economia paulista. Itu tambm teve grande importncia no processo de instalao da repblica no pas, sendo conhecida como o Bero da Repblica, contando com o museu Republicano sob administrao da Universidade de So Paulo. O centro de Itu conta com seis igrejas (influncia catlica), em estilo colonial, e que marcam bastante a paisagem do centro histrico da cidade com sua exuberncia e beleza. As condies climticas no centro da cidade de Itu esto anotadas na tabela 01, em anexo.

5 Parada Parque do Varvito Localizado no municpio de Itu, este espao foi tombado em 1974, a

desapropriao dos arredores ocorreu no ano de 1993 e o parque foi criado no ano de 1995, numa rea que anteriormente era utilizada para minerao. Apesar de ser patrimnio tombado pelo CONDEPHAAT, no incio foi muito depredado, sem uma fiscalizao e controle mais rigoroso das instalaes do parque. A rocha aqui encontrada do tipo sedimentar associada ao Grupo Itarar que um subgrupo do Grupo Tubaro. So litologias paleozicas associadas s formaes lacustres do perodo glacial. O nome do parque se deve ao da rocha encontrada que erroneamente denominada Varvito, em referncia s formaes mais recentes encontradas na Escandinavia. Aqui, por ser uma formao mais antiga, com no mnimo 300 pares de camadas, recebe a denominao mais apropriada de Ritmito, referenciando s camadas que marcavam os ritmos de deposio dos sedimentos, nesses antigos lagos glaciais. Apesar de ser uma rocha sedimentar o aspecto visual do Ritmito bastante slido, decorrente da presso sofrida ao longo dos tempos (desde o paleozico), fazendo com que os processos de diagnese a deixasse com essa aparncia mais consolidada. Os depsitos possuem camadas mais claras e outras mais escuras (foto 10), estando as primeiras associadas predominncia de Arenito e uma pequena porcentagem de material sltico, enquanto a segunda tem a predominncia material argiloso. As camadas mais claras esto associadas aos perodos mais quentes, de degelo, com uma turbidz maior da gua, enquanto as mais escuras esto associadas aos perodos de inverno e com a decomposio de material orgnico de modo mais lento, caracterstica desse perodo mais frio. Observa-se algumas camadas que apresentam ondulaes, em

consequncia de uma maior turbidz das guas (foto 11). Outro achado a presena de seixos pingados, resultantes da deposio de rochas, antes presas no interior de blocos de gelo flutuantes, que no processo de

degelo se depositavam no solo do lago, sendo incorporadas estrutura da rocha em formao. (foto 12). Na parte superior, no patamar do afloramento, observamos feies resultantes da fossilizao de rastros de pequenos animais (icnofsseis) como moluscos, ou seres bentnicos que habitavam o assoalho de mares mais rasos ou de lagos (foto 13). As condies climticas neste ponto esto assinaladas na tabela 01, em anexo.

Discusso

Com base nas colocaes acima descritas, podemos observar correlaes existentes entre os aspectos geolgicos, climticos, ambientais, scio-culturais e econmicos que de uma maneira conjunta promoveram a produo e o desenvolvimento territorial das cidades de Salto e Itu. So inmeras as correlaes que poderiam ser citadas como o clima influenciando na vegetao local, os climas passados determinando a constituio geolgica, os recursos naturais, como o potencial energtico do rio Tiet, promovendo a expano industrial da cidade de Salto, bem como servindo de rota para as bandeiras , a prpria extrao mineral para o aproveitamento na construo civil, a constituio mineral do solo proporcionando a cultura da cana e do caf em diferentes momentos da histria regional, os cafeicultores e o processo de imigrao, que tanto contribuiram na produo do espao e da sociedade saltense e ituana. Enfim, com esse tipo de anlise que podemos verificar que a Geografia pode abranger suas diferentes reas, e se apresentar menos dualista como vem se mostrando.

Consideraes Finais

Podemos dizer que o trabalho de campo Salto/ Itu, foi significativo para a aprendizagem dos diferentes conceitos geolgicos, geogrficos e histricos que esto presentes na rea visitada, bem como a melhor apreenso do que foi abordado em sala de aula.

No quesito dificuldades houve certa perda de informaes durante o percurso, no nibus, pelos alunos que no estavam prximos aos professores. Porm, nas paradas, podemos aproveitar de forma satisfatria as explanaes realizadas. Tambm conclumos que este tipo de atividade de extrema valia para o conhecimento pedaggico, pois se tem uma regio rica, tanto pelas caractersticas geogrficas quanto histricas que devem ser trazidos ao ambiente escolar, e, portanto, ns como futuros licenciados em Geografia, devemos aprender a olhar e perceber geogrfica e historicamente os diferentes ambientes que nos cercam, cabendo a ns professores, realizar essa tarefa.

Anexos

Foto 01 Formao de estrias sobre a superfcie da rocha.

Foto 02 Presena de Diamectito.

Foto 03 Plantas cactceas presentes no Parque Rocha Moutonne.

Foto 04 Poluio no rio Tiet.

Foto 05 Formao de marmitas em rochas nas margens do rio Tiet.

Foto 06 Granito rosa utilizado na construo da fbrica Brasital.

Foto 07 Mata galeria, margem do rio Tiet.

Foto 08 Edifcio da usina do Parque de Lavras.

Foto 09 Casaro colonial em Itu.

Foto 10 Ritmito e sua alternncia de cores.

Foto 11 Ondulaes presentes na rocha (ritmito).

Foto 12 Seixo pingado.

Foto 13 Rastros fossilisados de icnofsseis.

Crdito de todas as fotos: Roberto C Comitre

Tabela 01 Condies climticas em diferentes momentos do trabalho de campo.

Anexo Geografia Humana do Brasil Professora Rosalina Burgos.