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Sociabilidades e sentidos na Praça XV. Entrevista com o professor Émerson César de Campos
Escrito por Paulo Roberto SanthiasSáb, 13 de Novembro de 2010 00:00 - Última atualização Qui, 18 de Novembro de 2010 14:24
Sociabilidades e sentidos na Praça XV. Entrevista com o professor Émerson César deCampos
Por Paulo Roberto Santhias [1]
Transcrita por Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Filho [2]
Paulo Roberto Santhias, jornalista e locutor da Rádio Udesc e mestre em História doTempo Presente pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) nosencaminhou gentilmente entrevista realizada pelo Programa Tempos com o historiadorÉmerson César de Campos, a respeito das práticas de sociabilidade em torno da PraçaXV de Novembro, espaço localizado no centro de Florianópolis.
Émerson César de Campos é professor do Departamento de História e do Programa de
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Escrito por Paulo Roberto SanthiasSáb, 13 de Novembro de 2010 00:00 - Última atualização Qui, 18 de Novembro de 2010 14:24
Mestrado em História do Tempo Presente da Universidade do Estado de Santa Catarina,especialista em Cidades, e tem coordenado projetos sobre o tema, além de ter escrito oartigo Territórios de uma praça: sociabilidades e sentidos na Praça XV de Novembro,entre 1990 e 2008.
SANTHIAS: Professor, a Praça XV de Novembro é um dos locais públicos de maiorrepresentatividade dos acontecimentos políticos do Estado?
CAMPOS: A Praça XV é um ponto de encontro de pessoas das mais variadas camadas sociaise das mais diferentes regiões, não só do município como das cidades arredores e do própriointerior do Estado. É sem dúvida um palco onde acontecem encontros muito significativos paraa construção sócio-política e a própria imaginação social da nossa capital catarinense.
Percebem-se graus de invisibilidade do lugar ou pouca atenção por parte das pessoasque passam pela praça. A que se deve esta percepção na interpretação do historiador?
CAMPOS: Nas últimas três décadas houve um crescimento bastante considerável e o acessoà informação, a bens de consumo, a uma série de referências e a própria flexibilização dotrabalho produziu dificuldades para que as pessoas apreciem melhor os locais que elashabitualmente frequentavam. A praça é um local representativo destas dificuldades. Aspessoas caminham, transitam e frequentam a praça, mas ela acaba sendo um lugar de
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passagem. Embora tenhamos lá hoje pessoas que sobrevivem basicamente daquilo que fazemna praça, na maior parte das vezes as pessoas que passam ou frequentam a praça são poucoatentas àquilo que as cerca. Um exemplo são os mosaicos que estão dispostos no piso daprópria praça. Foi um artista daqui da ilha, o Assis, que fez estes mosaicos, que sãobelíssimos, e eles dificilmente são percebidos. Há cheiros, há sabores, há sons na praça, atédiferenciados por turnos; pela manhã temos alguns tipos, à tarde outros, e esta sobreposiçãode territórios acaba gerando práticas que definem e alimentam este espaço chamado PraçaXV.
Um dos objetos de sua pesquisa é o cercamento da Praça. Poderia comentar um poucoa este respeito?
CAMPOS: Houve um acirramento das tensões que eram vividas na Praça e no entorno dela,principalmente por populações que a gente pode dizer “pouco desejadas” para a cidade,especialmente para o poder público. Por volta do final da década de 1960, houve a chegada napraça de uma série de artesãos, e nos anos 90 houve um investimento em relação à capital deSanta Catarina, no âmbito do turismo, bastante considerável. Então a Praça passou a ser umobjeto de intervenção no sentido de revitalizar aquele espaço. O que houve na Praça foi, domeu ponto de vista, uma tentativa possível, plausível de ser realizada, contudo não da formacomo ela foi implementada. O processo de negociação foi bastante arrastado para tirar osartesãos da Praça, e demorou muito tempo para que fosse disponibilizado um novo local aeles, e levantaram-se tapumes cercando a Praça para que ela sofresse este processo derevitalização. E este processo inteiro não se deu de modo tranquilo. Houve uma série deembates e lutas, da polícia, dos movimentos sociais que reivindicavam espaço. Houve ummomento, entre 1999 e 2001, de acirramentos vigorosos, principalmente em relação àpermanência dos artesãos na Praça, algo que infelizmente não acabou ocorrendo.
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Outra questão importante é a da Novembrada. Os historiadores e os jornalistas diferemem certo sentido quanto a questão do cercamento e também sobre a Novembrada. Comoo historiador compreende estas duas questões?
CAMPOS: Prá começar são épocas bastante distintas, que podem ser ligadas por umacompreensão um pouco mais elaborada da nossa cultura política. A Novembrada ocorre em1979, a época do último governo militar. Ela ocorreu por uma confluência de fatores sociais epolíticos à época da visita do ex-presidente (já falecido) João Batista Figueiredo, onde umasérie de organizações de movimentos sociais e políticos, que se colocaram principalmentecontra o processo político vivido no Brasil naquele momento.
Esta ressalva é necessária de ser feita porque o cercamento da Praça se dá num momento de amplaabertura política embora as negociações políticas, principalmente entre 1999 e 2001 nãotenham sido encaminhadas no sentido desta abertura e da discussão pública que era oproblema do cercamento da Praça. A sociedade pouco participou da discussão e da hostilidadena revitalização deste espaço e tanto é que uma vez consumada a revitalização, não dá pránegar que as condições impostas à Praça melhoraram, ela se tornou mais arejada, iluminada,etc. Isto, contudo, não deveria esconder a presença de pessoas que viveram as suas vidas naPraça. O que deveríamos discutir é em que condições estas ações devem se produzir oureproduzir nesta ambiência pública.
Como está sendo encaminhada sua pesquisa sobre a Praça XV?
CAMPOS: Esta pesquisa sobre os territórios que se sobrepõem na Praça XV foi iniciada em2007 e concluída em 2009. Resultou dela um capítulo em um livro recentemente publicado pelaUniversidade Federal do Piauí. É um livro chamado História e Memória, uma coletânea decapítulos com pesquisadores que tratam das cidades pelo Brasil afora. Certamente os estudos
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sobre a Praça não se concluem. A presença da Praça é uma situação que convida as pessoas,ou seja, é uma história em aberto. Eu acredito que com as discussões em torno docercamento, outros pesquisadores venham a ter o desejo de trabalhar na problematização daocupação e da viabilidade da sociabilidade que se extravia e que se contrói num espaçopúblico como é o da Praça XV de Novembro.
Há projetos de reconstrução da Praça XV de Novembro. Como os historiadores podemcolaborar com estes projetos, especialmente em relação ao rejuvenescimento da PraçaXV?
CAMPOS: É certamente um desafio estabelecermos um contato mais próximo destaspesquisas no sentido de possibilitar não só planos, mas a viabilização de ações que permitama construção da Praça XV e de outros espaços como o Largo da Alfândega, por exemplo.Estes locais, ditos como públicos infelizmente dado todo o crescimento e uma série de tensõessociais especialmente a violência eles sofreram um processo de esvaziamento. Hoje osgrandes espaços de encontro nas cidades infelizmente não são as praças públicas, são aspraças dos shopping centers. O que nos cabe como obrigação profissional érefletirmos e apresentarmos soluções para que tais espaços sejam constantementerevigorados e cada dia mais públicos.
[1] Mestre em História do Tempo Presente – UDESC, jornalista e locutor da Rádio UDESC.Contato: [email protected] .
[2] Doutorando em História Social – USP, mestre em História do Tempo Presente – UDESC,especialista em Marketing e Comunicação Social - Cásper Líbero, bacharel e licenciado emHistória – USP. Pesquisador do Núcleo de Estudos em História Oral - USP. Contato: [email protected]
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