Campus do cérebro: gênese heterodoxa de um projeto

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Neste artigo é analisado o processo de projetação arquitetônica doCampus do Cérebro, com ênfase nas questões ambientais, de linguagem ede diretrizes conceituais O objetivo deste artigo é compartilhar experiênciasprofissionais. Este ousado empreendimento, liderado pelo neurocientista Dr.Miguel Nicolelis, está sendo implantado na cidade de Macaíba/RN em umagleba de 100ha cedida pela UFRN. O desafio que se punha à nossa frente era ode organizar o espaço daquela grande área, sem referências significativas, emmeio à vastidão agreste e, ao mesmo tempo, conferir ao Campus do Cérebroum sentido transcendente que, alçando-se acima da pura e simples racionalidadede um plano do uso-do-solo imprimisse àquele lugar um carácter dedignidade compatível com a importância nacional e internacional da maisousada ideia científica/social jamais empreendida no sertão nordestino.

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  • doi: 10.5102/uc.v10i2.1990

    Jos Galbinski1

    1 Arquiteto e Planejador Urbano, Ph.D. por Cor-nell University, New York. Coordenador Curso Arquitetura e Urbanismo-UniCEUB. [email protected]

    Campus do crebro: gnese heterodoxa de um projeto

    Campus of the Brain: the design process

    Resumo

    Neste artigo analisado o processo de projetao arquitetnica do Campus do Crebro, com nfase nas questes ambientais, de linguagem e de diretrizes conceituais O objetivo deste artigo compartilhar experincias profissionais. Este ousado empreendimento, liderado pelo neurocientista Dr. Miguel Nicolelis, est sendo implantado na cidade de Macaba/RN em uma gleba de 100ha cedida pela UFRN. O desafio que se punha nossa frente era o de organizar o espao daquela grande rea, sem referncias significativas, em meio vastido agreste e, ao mesmo tempo, conferir ao Campus do Crebro um sentido transcendente que, alando-se acima da pura e simples raciona-lidade de um plano do uso-do-solo imprimisse quele lugar um carcter de dignidade compatvel com a importncia nacional e internacional da mais ousada ideia cientfica/social jamais empreendida no serto nordestino.

    Palavras-chave: Processo de projetao. Linguagem. Diretrizes conceituais e ambientais.

    Abstract

    The author analyses the design process of the Campus of the Brain (Campus do Crebro), with emphasis on the architectural esthetics and con-ceptual guidelines. The objective of this paper is to document and share the planning process with other architects. This outstanding development, lead by neuroscientist Dr. Miguel Nicolelis is being built in Macaiba, in the state of Rio Grande do Norte. The design blends the campus in the natural landscape cre-ating a sense of belonging and transcendence. This communion with the land symbolizes the dignity of the scientific endeavor that will take place at the site.

    Keywords: Design process. Conceptual guidelines

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    1 Introduo

    No Brasil, a pesquisa em neurocincias estava em seus estgios iniciais enquanto um grupo de cients-tas brasileiros na Duke University, North Caroline-USA vinha obtendo resultados excepcionais, liderando inter-nacionalmente os avanos na rea. frente desse grupo de pesquisadores, no comando da equipe o Dr. Miguel Nicolelis, um paulista, nacionalista confesso e extremado torcedor do Palmeiras. O fulcro de sua pesquisa consistia em prover cobaias com prteses mecnicas movidas pela fora do pensamento.

    Usando de alta tecnologia, o pesquisador capta si-nais eltricos dos comandos cerebrais e os disponibiliza como comandos mecnicos nas prteses implantadas em cobaias, de maneira que, quando o sujeito os retransmite, a mquina executa as ordens perfeitamente. Inspirado no Dr. Christian Barnard, mdico australiano que realizou o primeiro transplante de corao no mundo e o fez em um concidado na Austrlia, o sonho do Dr. Nicolelis passou ser concluir seus experimentos no Brasil e concretizar, pela primeira vez na histria da humanidade, a implan-tao da prtese em um paraplgico que passaria a andar com comandos trasmitidos diretamente do crebro, um brasileiro.

    2 Reconhecimento

    Em fins de dezembro de 2003, fomos convidados pelo Dr. Miguel Nicolelis para elaborar os projetos urba-nsticos e arquitetnicos do empreendimento batizado de Campus do Crebro, em Macaba/RN em gleba de 1.000.000m cedida pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A escolha de Macaba foi motivada pela visionria inteno do Dr. Nicolelis de, em uma das comunidades de mais baixo IDH1 do Pas, introduzir um dinmico fator de transformao social.

    O convite nos surpreendeu, entusiasmou e, ao mesmo tempo preocupou enormemente, em face da ta-manha e complexa tarefa que teramos de enfrentar. O maior problema era o tempo, j que os projetos deveriam ser elaborados em curto prazo, melhor dizendo, em cur-tssimo prazo, o que contrariava a prtica profissional por ns adotada e recomendao aos arquitetos de Alberti (RYKWERT, 1980) de que um projeto deve ter seu tempo de maturao, deveria ser feito sem pressa.

    Passado o impacto do convite, poucos dias aps, embarcamos rumo cidade de Raleigh, North Caroline para, in loco, conhecermos os trabalhos que estavam sen-do desenvolvidos e, mais importantes para um arquiteto, conhecermos as caractersticas dos espaos/equipamen-tos que davam suporte s pesquisas. Em verdade, essa visita teve como referncia a fase primeira de nossos pro-cedimentos projetuais, descritos em Estudos iniciais em projetos de Arquitetura (Galbinski, 2008).

    Em Duke University, o Dr. Sidarta Ribeiro, cientis-ta, na poca membro da equipe do Dr. Nicolelis, tambm brasileiro e nacionalista confesso, alm de extremado pra-ticante de capoeira, ex-estudante de Biologia na Univer-sidade de Braslia e aluno do Professor Emrito Dr. Isaac Roitman, conduziu a visita. Na oportunidade, apresentou--nos aos demais membros da equipe de cientistas e, em especial, macaquinha, cobaia principal das pesquisas.

    O detalhamento dos laboratrios do Centro de Pesquisa-CP, extremamente especializados, ficaria a car-go do escritrio Lord, Aeck, Sargent/Architecture (LAS), com sede em Atlanta, contando com mais de 70 arqui-tetos, que tinha sido responsvel pelos laboratrios em Duke University e desenvolvia projetos de laboratrios de alta segurana para a N.A.S.A. O chefe do escritrio, arquiteto Dr. Kent D. Brown, viajou de Atlanta a Raleigh para nos encontrar neste dia.

    No encontro, foi acertado que o LAS no inter-feriria na integridade da concepo arquitetnica, salvo nos interiores quando necessrio para a instalao dos laboratrios. Para isso, seriam valiosas nossas anotaes e fotos, feitas durante os percursos de reconhecimento dos espaos de trabalho dos cientistas. Tendo retornado de viagem ao Brasil, o Dr. Nicolelis juntou-se ao grupo e conduziu o restante da visita em Duke U, tendo, ain-da, includo visita a uma escola em Chapel Hill, cidade vizinha, escolhida por ele por ter caractersticas de uso consideradas positivas para a futura escola no Campus do Crebro. Essa parte foi acompanhada pelo arquiteto Kenneth E. Redfoot, autor do projeto da escola, que expli-cou o sentido e as intenes das solues arquitetnicas empregadas naquele projeto.

    A fase inicial dos procedimentos projetuais no estaria completa sem nossa visita ao local do empreendi-mento. Aps o retornar ao Brasil, ainda em janeiro/2004, deslocamo-nos para Natal/RN, agora, a convite da AAS-

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    DAP2. Fomos conhecer a gleba destinada ao empreen-dimento em Macaba, cidade vizinha a 45 km de Natal, juntamente com uma comitiva de professores da UFRN. A gleba era enorme, sem demarcao alguma. Cu carre-gado, uma chuva fina caia, as viaturas atolaram. O grupo saiu em caminhada mato adentro seguindo um guia lo-cal que nos conduzia por trilhas indistintas, sem mapa ou levantamento topogrfico para nos orientar. Afinal, chegamos ao destino daquela peregrinao: um aude que gerava uma lagoa. Esse local era considerado o mais promissor para posicionar os prdios, o que mais tarde mostrou-se totalmente inapropriado. Voltamos a p, em outra interminvel caminhada, at sermos resgatados por uma Kombi da Universidade. J era noite.

    3 Programa de necessidades ambientais- PNE

    O tema era complexo e variado, sendo que os pro-jetos de arquitetura, urbanismo e paisagismo incluam:

    a. Centro de Pesquisas de Neurocincias--CP (14.500m);

    b. Centro de Sade Materno-CS (3.500m); c. Escola Especial-ES, Escola Lygia Maria

    Leo Laporta (13.000m); d. Hotel (4.000m), um pequeno hotel de

    trnsito para pesquisadores convidados a passarem temporadas no CP;

    e. Prtico de entrada;f. Memorial;g. Museu de Cincias;h. Projeto urbanstico, paisagstico e am-

    biental (100 ha) para o campus;i. Centro Esportivo (90.000m), estudo de

    massa a ser desenvolvido posteriormente; j. Reserva Ecolgica, rea de 30m ao redor

    da lagoa, para preservao ambiental. Nessa rea, seria instalado um quiosque para recreao e relax dos pesquisadores;

    k. Servios Gerais (600m), um conjunto de pavilhes para abrigar oficinas de manu-teno, depsitos, parque de estaciona-mento de viaturas, etc.

    A justificativa da escola e do centro de sade se-guia um claro raciocnio. A escola tinha o propsito de aplicao das recentes e comprovadas descobertas da neurocincia no campo do aprendizado, sendo concebi-

    da para receber crianas, desde tenra idade, no Maternal, passando pelo Jardim de Infncia, 1 e 2 Grau at, j ado-lescentes completarem 18 anos de idade. Nesse sentido, era nica, pois nunca antes havia sido implantada uma escola com esse largo espectro etrio, nem nos antigos pa-ses do bloco socialista, nem mesmo em colnias agrco-las socialistas de Israel, os kibutz, onde experincias desse teor foram largamente realizadas.

    No campo do aprendizado, as pesquisas neurol-gicas lideradas pelo Dr. Sidarta j eram conhecidas inter-nacionalmente. Complementando as atividades do Cam-pus do Crebro, foi concebido o Centro de Sade Materno para dar atendimento populao escolar e, dado o nvel de pobreza da regio, fornecer alimentao s gestantes.

    Aps o ciclo de visitas, foi iniciada a elaborao dos Programas de Necessidades Ambientais-PNEs para cada uma das unidades que compunham o Campus do Crebro em Macaba. Nessa etapa, recebemos a impres-cindvel orientao do Dr. Miguel Nicolelis. Mais adian-te, o Dr. Sidarta prestou orientaes fundamentais para os biotrios de roedores e de macacos. O PNE da Escola contou com a orientao da Dra. Dora Maria de Almeida Prado Montenegro, educadora e profunda conhecedora do assunto. O PNE do Centro de Sade contou com as-sessoria da Dra. Eliete de Pinho Arajo, especializada em arquitetura hospitalar. Nessa etapa, fizemos amplas con-sultas RDC-50/ANVISA, terror dos projetistas3, e ao manual de Ronald de Ges (GES, 2006).

    4 Circunstncias

    Quando os PNEs estavam com suas formataes recm-delineadas, fomos informados, em meados de fe-vereiro de 2004, que, no ano anterior, havia sido organi-zado o 1st Neuroscience Symposium de mbito interna-cional programado para o perodo de 3-7 de maro de 2004. Nessa oportunidade, estariam presentes neurocien-tistas de todas as partes do globo, inclusive trs agracia-dos com o cobiado Prmio Nobel e inmeros convida-dos VIPs, sendo esta uma ocasio favorvel para divulgar globalmente o empreendimento e assim, poder iniciar a captao de recursos financeiros, nacionais e internacio-nais. Os projetos tinham de ser iniciados.

    Na sesso solene de abertura do Inaugural Sympo-sium of the International Institute of Neuroscience of Na-

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    tal, 17 dias aps terem sido iniciados os projetos, o Dr. Nicolelis apresentou os croquis dos Estudos Prelimina-res de arquitetura e urbanismo do Campus do Crebro, com pompa e circunstncia! Na ocasio, a presidente da Fundao Edmund Lili Safra anunciou a doao de uma quantia, no revelada, para impulsionar o Instituto, que, em sua homenagem, passou a chamar-se Instituto Inter-nacional de Neurocincias de Natal-Edmund Lily Safra.4

    5 Linguagem Arquitetnica & Conceitos

    O desafio que se punha nossa frente era o de or-ganizar o espao daquela grande gleba, at ento amorfo e sem referncias significativas, em meio vastido agreste e, ao mesmo tempo, de conferir ao Campus do Crebro um sentido transcendente, que, alando-se acima da pura e simples racionalidade de um plano do uso-do-solo im-primisse quele lugar um carcter de dignidade compat-vel com a importncia nacional e internacional, da mais ousada ideia cientfica/social jamais empreendida no ser-to nordestino. Dando continuidade aos trabalhos, con-clumos as programaes de todas as edificaes e seto-res do campus, e foram iniciados os estudos urbansticos, como devia.

    O planejamento do Campus iniciou com o traa-do de eixos orientadores. Foi adotado o princpio usada por Lucio Costa nos campi da UnB e UFRJ, ao tempo em que foi afastada a opo da organizao espacial em malha-modular, adotada por Candilis, Josic e Woods na Universidade Livre de Berlim (AVERMAETE, 2005), e, mais tarde, empregada na UFMG, mais apropriada quan-do o fator crescimento preponderante.

    O ponto da entrada principal ao campus havia sido definido pela construo pelo Governo do Estado da ni-ca via de acesso gleba. Ali foi implantado o Prtico com a inteno de marcar na paisagem o momento da pas-sagem do agreste para o Campus do Crebro. Em meio amplido daquela desolada paisagem, de repente surge uma obra invulgar, como um convite acolhedor aos visi-tantes, antecipando as prximas experincias espaciais na medida em que adentrassem no Campus. Pensando na caracterstica de acolhimento, transferimos essa ideia aos prprios participantes do Symposium prestes a acontecer e resolvemos, de maneira figurada, recepciona-los com os desenhos do Prtico (Figura 1). Alis, como afirma Matta (1997) acerca do bem receber: Por trs do forma-

    lismo bvio, h sempre a regra de ouro da hospitalidade, que se traduz pura e simplesmente no respeito pela pes-soa da visita e na satisfao de t-la sob nosso teto....

    Para isso, decidimos levar seus desenhos adiante dos demais estudos preliminares, croquis mo livre, para ganharem melhor definio visual e, assim, pudes-sem cumprir com essa misso. Nada mais apropriado.

    Figura 1- O Prtico: vista2

    Fonte: Acervo do autor do projeto

    No planejamento, foi adotado o critrio de que as atividades com maior concentrao de pessoas e maior agitao fossem colocadas prximas da entrada do Cam-pus, juntamente com as atividades que gerassem trfego pesado. As demais atividades, na medida em que esses fatores diminussem de intensidade, iriam acontecendo gradativamente at chegar ao setor de maior exigncia de conforto ambiental, maior tranquilidade e maior impor-tncia: o Centro de Pesquisa (Figura 2).

    O prolongamento da via de acesso penetra o Cam-pus, sendo flanqueada pelo Centro Esportivo, direita, e pela rea dos Servios gerais, esquerda, com sua viso amortecida por uma faixa de 30 metros de vegetao den-sa. Uma curva e no alto da colina surpresa: o Memorial. Localizado no eixo norte-sul, o boulevard do Campus do Crebro; esse monumento funciona como referncia es-pacial e polo articulador do sistema de circulao. meia distncia do boulevard, a Escola de um lado e o Centro de Sade do outro; no extremo sul, o Museu de Cincias; no extremo norte, o Centro de Pesquisa, implantado num pro-montrio, dominando a paisagem. A expanso do campus foi garantida pela incluso do eixo de crescimento.

    2 Todas as figuras e desenhos pertencem ao acervo do autor do projeto

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    O planejamento espacial do Campus, sua organi-zao urbanstica e paisagstica tinha atingido seus ob-

    jetivos: clareza, distino e esttica espacial. A seguir, as concepes arquitetnicas das edificaes.

    Figura 2- O Plano Urbanstico: planta geral

    Fonte: Acervo do autor do projeto

    6 O Centro de pesquisa

    O Centro de Pesquisa deveria obedecer a especifi-caes rigorosas. No era permitido o emprego de estru-turas leves ou pr-moldadas devido alta sensibilidade dos equipamentos s mnimas vibraes. Os laboratrios requeriam possibilidade de alterao de suas disposies, o que sugeria grande flexibilidade nas instalaes prediais e de gases (Figura 3).

    As caractersticas de forte insolao e de tempera-tura na regio recomendavam ateno especial s condi-es de conforto ambiental. O prdio, com andares escalo-nados, ganhou uma difana tela de ao inox como envolt-rio, reforando o sombreando das fachadas mais expostas.

    Implantado numa encosta, a acomodao do pr-dio topografia do terreno seria um importante fator

    de reduo dos custos. Para isso, foi adotada a soluo do acesso em ponte, j empregada por Affonso Eduardo Reidy no Conjunto Habitacional de Pedregulho, RJ. Dis-posta transversalmente, a ponte de acesso constitui um eixo, que no hall de entrada conecta visualmente o trreo com todos os pavimentos. No pavimento inferior, a ponte constitui o acesso coberto de veculos.

    Ateno especial foi dada ao conjunto de espaos destinados socializao e divulgao dos trabalhos realiza-dos. Dispostos de maneira integrada, nos pavimentos trreo e inferior, encontram-se o auditrio, locais de exposio, de recepo, anfiteatro e cantina, sendo estes ltimos voltados para a vista panormica do vale e, mais adiante, da lagoa.

    A arquitetura do hall da entrada principal foi ba-seada na contraposio de dois elementos plstico/con-

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    ceituais: no lado direito, a volumetria dinmica, angula-da, extrapolando limites, quase tumultuada, ao passo que, no lado esquerdo, onde se situam os laboratrios, a arqui-tetura sbria e imponente. O lado direito representa os

    dados das pesquisas em sua forma bruta, a informao desorganizada, enquanto que, sua frente, situa-se a or-dem, os dados processados, o mtodo cientfico. Enfim, uma metfora da luta para a conquista do conhecimento.

    Figura 3 - Centro de Pesquisa: plantas baixas

    7 A escola

    A questo do conforto ambiental da escola rece-beu tratamento similar ao do Centro de Pesquisa, aqui adaptado funo educativa. No bloco principal, a gran-

    de fachada curva foi protegida por brises, quebra-sis, em forma de velas de jangadas, encimadas por bandeirolas coloridas, que remetem ao repertrio imagtico da cul-tura regional, estimulando a identificao do jovem com sua escola (Figura 4).

    Planta baixa 1 Subsolo

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    Figura 4 - Escola: Velas ao Mar

    Fonte: Croquis do autor

    A Escola foi planejada para uma populao com-posta de extensas faixas etrias, cobrindo do zero aos 18 anos. Para atender a essa diversidade, foi adotado um partido pavilhonar: um longo bloco principal, com ati-vidades diversificadas, conectando trs grandes fingers, pavilhes, com especficas atividades didticas (Figura 5).

    O bloco principal, abrigando o acesso principal, biblioteca, atividades de arte, salas de professores etc., tem em seus extremos o conjunto teatro/grande audit-rio e o refeitrio geral. Trs pavilhes conectam-se a esse

    bloco principal, fazendo com que, em seu eixo de circula-o, passe toda a populao da escola, gerando encontros ocasionais, no programados como acontecem, diramos, nas ruas de nossas cidades. Esse aspecto do Projeto, de estimular a interao interpessoal, era uma categoria qualitativa que acontecia na escola de Chapel Hill e que motivou Dr. Nicolelis. Com idntica inteno de promo-ver a interao social alm de tornar agradveis e praze-rosos os trajetos internos, os demais blocos tem amplas circulaes internas ajardinadas, com reas propcias ao encontro.

    Figura 5 - Escola: Planta Trreo

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    8 O centro de sade

    O Projeto do Centro de Sade foi feito levando em considerao as caractersticas de baixa instruo da popu-lao local: uma composio de fcil apreenso pelo usurio.

    Uma passarela coberta, formando um eixo em li-nha reta com pavilhes em sequncia, cada um com sua cor prpria e entremeados de jardins (Figura 6). O bloco de recepo com formas fortes e cores, pousado sobre um es-pelho dagua. Tudo para conferir um carter de acolhimento festivo, alegre, em contraposio ansiedade que acomete as pessoas que se dirigem a estabelecimentos de sade. A sala de uso mltiplo elemento fundamental para promo-ver reunies comunitrias e instrucionais. Completando o programa, um amplo refeitrio e brinquedoteca (Figura 7).

    Figura 6 - Centro de Sade-Vista area

    Fonte: Acervo do autor do projeto

    Figura 7 - Centro de Sade: Planta trreo e corte

    Fonte: Acervo do autor do projeto

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    9 O hotel

    O Hotel foi localizado prximo ao Centro de Pes-quisa, distncia de uma breve caminhada. Suas insta-laes preveem espaos para proporcionar o necessrio lazer e relaxamento aos cientistas convidados, tais como academia, piscina, pista de Cooper, pista para caminha-das, etc. (Figura 8) Os apartamentos, embora simples,

    foram planejados para atender s necessidades desse tipo de hspedes.

    Todos os apartamentos gozam da melhor orien-tao da paisagem do Campus, e suas galerias de acesso esto voltadas para ricas espacialidades internas (Figura 9). Foi mantida no Hotel a mesma linguagem plstica das demais edificaes.

    Figura 8 Hotel: Planta Trreo e 1 Andar

    Fonte: Acervo do autor do projeto

    Figura 9 Hotel: Corte transversal

    Fonte: Acervo do autor do projeto

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    10 Consideraes Finais3

    Neste relato foi analisado o processo de projeta-o arquitetnica do Campus do Crebro, com nfase nas questes de linguagem e de diretrizes conceituais, sendo objetivo maior o de compartilhar experincias profissionais.

    O processo do Projeto do Campus do Crebro proporcionou uma experincia invulgar com projetos de grande complexidade seno pelo tamanho das reas, pela diversidade temtica. Este estudo de caso sugere, acima de tudo, no se ater sistemtica e exclusivamente a procedimentos de projetao arquitetnica previamente estabelecidos, pois sempre sero necessrias adaptaes e ajustes para atender s peculiaridades de cada situao. Esse projeto, por assim dizer, confirma essa regra.

    As obras esto sendo realizadas por construtora contratada pela Superintendncia de Infraestrutura da UFRN. A primeira fase inclui a construo do Centro de Pesquisas e da Escola. Nossa expectativa, aps concluso das obras, de procedermos avaliao ps-ocupao, para concluirmos a projetao e reiniciarmos o ciclo, num processo aberto, sem fim.

    RefernciasAVERMAETE, Tom. Another Modern, The Postwar Architecture and Urbanism of Candilis-Josic-Woods. Rotterdam: Nai Publishers, 2005.

    GALBINSKI, Jos. Estudos iniciais em projetos de Arquitetura. Universitas, Arquitetura e Comunicao Social, Braslia, v.5, n.1/2, p.11-21, semestral, 2008.

    GES, Ronald de. Manual prtico de arquitetura para clnicas e laboratrios. So Paulo: Edgard Blcher, 2006.

    MATTA, Roberto da. A casa & a rua: conversa para receber o leitor. 5. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

    3 IDH-ndice de Desenvolvimento Humano, medido anual-mente pelo IBGE, composto a partir de dados de expectativa de vida ao nascer, educao e PIB per capita (como um in-dicador do padro de vida) recolhidos a nvel local; AASDAP-Associao Alberto Santos Dumont de Apoio Pesquisa, ent-idade criada sob os auspcios do Dr. Miguel Nicolelis para dar suporte ao empreendimento do Campus do Crebro.;Norma RDC No.50- ANVISA de 21.02.2002 ;De acordo com a clas-sificao da revista Forbes, Lili Safra uma das mulheres mais ricas do mundo.

    RYKWERT, Joseph et al. De re aedificatoria. On the art of building in ten books. Cambridge: MIT Press, 1988.

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