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Mestrado Integrado em Medicina Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar Universidade do Porto Cancro de Primário Desconhecido, a propósito de um caso clínico Telmo Alves Guedes dos Santos Mestrado Integrado em Medicina 6º Ano Profissionalizante [email protected] ORIENTADOR: Prof. Dr. Franklim Marques Professor Auxiliar Assistente Hospitalar Graduado Hospital de Santo António Centro Hospitalar do Porto Porto, 17 de Junho de 2010

Cancro de Primário Desconhecido, a propósito de um caso ... · bem como a microscopia electrónica e análise cromossómica, para definir a histologia da neoplasia.7 Neste grupo

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Mestrado Integrado em Medicina

Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Universidade do Porto

Cancro de Primário Desconhecido,

a propósito de um caso clínico

TTeellmmoo AAllvveess GGuueeddeess ddooss SSaannttooss

Mestrado Integrado em Medicina

6º Ano Profissionalizante

[email protected]

ORIENTADOR:

PPrrooff.. DDrr.. FFrraannkklliimm MMaarrqquueess

Professor Auxiliar

Assistente Hospitalar Graduado

Hospital de Santo António – Centro Hospitalar do Porto

Porto, 17 de Junho de 2010

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

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RREESSUUMMOO

O cancro de primário desconhecido (CPD) é uma síndrome clínica bem reconhecida,

responsável por cerca de 3% a 5% de todos os cancros. Os doentes com CPD apresentam-se com

neoplasias em locais habitualmente associados a metástases, e apesar da investigação clínica, o

local do primário não é identificado. Embora a síndrome clínica seja facilmente reconhecida, esta

entidade não representa um cancro claramente definido mas engloba uma grande variedade de

apresentações clínicas e patológicas.

Várias teorias têm sido propostas para explicar a génese de alguns CPD incluindo a teoria do

erro da migração embriológica e a teoria da Cancer Stem Cell, cada uma das quais parece a mais

provável para alguns tumores em certos doentes.

Para a grande maioria das neoplasias malignas, o prognóstico e tratamento são baseados no

local do tumor primário e no tipo histológico, logo, nos CPD a ausência de um tumor primário

apresenta grandes incertezas diagnósticas, prognósticas e terapêuticas.

A grande maioria dos CPD (cerca de 80%) são relativamente resistentes à quimioterapia

sistémica de largo espectro, têm mau prognóstico e uma sobrevivência média de 6 meses, nestes

casos a quimioterapia empírica pode ser benéfica para alguns doentes, principalmente para aqueles

que apresentam bom estado geral, nos restantes a aposta é na melhoria dos cuidados de suporte.

Há no entanto, um subgrupo de doentes com CPD que apresenta um prognóstico favorável

(aproximadamente 20%), cujo tratamento é específico e a sobrevivência significativamente maior, daí

importância da sua detecção e tratamento precoce. Esses grupos correspondem aos (1) Carcinomas

pouco diferenciados com distribuição mediana; (2) Mulheres com carcinomatose peritoneal; (3)

Mulheres com carcinoma envolvendo gânglios axilares; (4) Carcinoma de células escamosas

envolvendo gânglios cervicais; (5) Linfadenopatias inguinais isoladas; (6) Carcinomas

neuroendócrinos de primário desconhecido; (7) Metástases osteoblásticas em homens e (8)

Metástase única e pequena.

Concluindo, três grandes áreas devem ser abordadas para optimizar e melhorar o tratamento

dos doentes com CPD:

1. Diagnóstico óptimo, com ênfase no melhoramento da avaliação patológica (imuno-

histoquímica, microscopia electrónica e diagnóstico molecular) e nas mais modernas

técnicas imagiológicas (PET, RM, TAC);

2. Reconhecimento e tratamento de subgrupos de doentes específicos com CPD com

prognóstico favorável;

3. Tratamentos empíricos e optimização dos cuidados de suporte para os restantes casos.

OBJECTIVOS: Realizar uma revisão bibliográfica relativa ao tema “Cancro de Primário

Desconhecido”, escrevendo um artigo científico que resuma o conhecimento actual sobre esta

entidade, complementando com a apresentação e discussão de um caso clínico de uma doente com

metástases axilares de primário desconhecido.

PALAVRAS-CHAVE: Cancro primário desconhecido, metástases axilares, diagnóstico, tratamento.

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

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LISTA DE ABREVIATURAS

-HCG - Subunidade beta da gonadotrofina coriónica humana

AFP - Alfa-fetoproteína

CA 125 - Antigénio cancerígeno nº125 (Cancer antigen)

CBA - Citologia de biópsia aspirativa

CEA - Antigénio carcinoembrionário

CEC - Carcinoma espinocelular

CK - Citoqueratina

CPD - Cancro de primário desconhecido

ESFT - Tumores da família do sarcoma de Ewing

EUA - Estados Unidos da América

FDA - Food and drug administration

FIGO - Federação internacional de ginecologia e obstetrícia

HER-2 - Receptor tipo 2 do factor de crescimento epidérmico humano (Human Epidermal

growth factor Receptor-type 2)

IHQ - Imuno-histoquímica

LCA/CD 45 - Antigénio comum leucocitário

MEN - Neoplasia endócrina múltipla (multiple endocrine neoplasia)

PET-CT - Tomografia por emissão de positrões e tomografia computadorizada

PSA - Antigénio prostático específico

QSE - Quadrante superior esquerdo

QT - Quimioterapia

RE - Receptores estrogénios

RM - Ressonância magnética

RNA - Ácido ribonucleico (ribonucleic acid)

RP - Receptores progesterona

RT - Radioterapia

RT-PCR - Reacção em cadeia da polimerase com transcriptase reversa (Reverse

transcription polymerase chain reaction)

Rx - Radiografia

TAC - Tomografia axial computadorizada

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

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1. INTRODUÇÃO e DEFINIÇÕES

O Cancro de Primário Desconhecido (CPD) é uma síndrome clínica bem reconhecida

que é responsável por cerca de 3% a 5% de todos os cancros.1-6

Os doentes com CPD apresentam-se com neoplasias em locais habitualmente

associados a metástases, em que após o diagnóstico histológico desta(s) e apesar de

extensa investigação clínica, patológica e imagiológica, o local do tumor primário não é

identificado.7

Vários termos têm sido usados como sinónimos de CPD, tais como “cancro oculto”,

“carcinoma ou adenocarcinoma de origem desconhecida”, “metástases de tumores primários

desconhecidos” “tumor de origem não identificada”. Actualmente o termo mais abrangente e

amplamente aceite é – Cancro de Primário Desconhecido (CPD).8

Os CPD constituem um grupo heterogéneo de tumores malignos no que diz respeito

à história natural da doença, ao quadro clínico e ao tipo histológico, mas que têm em comum

certas características biológicas, que permitem definir diferentes subgrupos de CPD, com

opções terapêuticas diferentes.7,9

Mesmo com um extenso trabalho de diagnóstico, utilizando os mais modernos

processos patológicos e de imagem, a detecção do local do tumor primário permanece

baixa.7,8 Apenas em 25% dos doentes com diagnóstico inicial de CPD, a localização primária

se torna evidente no decorrer da doença. Em 20-50% dos doentes, o tumor primário não é

identificado mesmo após exame pós-morte. Os locais de origem identificados mais comuns

são os pulmões (30%) e o pâncreas (20%), e mais raramente o cólon, o rim e a mama.10-12

Para a grande maioria das neoplasias malignas, o prognóstico e tratamento são

baseados no local do tumor primário e no tipo histológico, logo nos CPD a ausência de um

tumor primário apresenta grandes incertezas diagnósticas, prognósticas bem como na

decisão do tratamento a instituir, gerando ansiedade quer no médico, quer no doente.13

A grande maioria dos CPD (cerca de 80%) apresentam-se com múltiplas metástases

no fígado, pulmões, cérebro e ossos na altura do diagnóstico, sendo relativamente

resistentes à quimioterapia sistémica de largo espectro, tendo por isso um mau prognóstico

com uma sobrevivência mediana de 4 a 15 meses (média de 6 meses).7,8

Há, no entanto, subgrupos de doentes com CPD que apresenta um prognóstico

favorável (aproximadamente 20%), cujo tratamento é específico e a sobrevivência

significativamente maior, daí a importância da sua detecção e tratamento precoce.14

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

5

2. TEORIAS SOBRE A ORIGEM DOS CPD

A origem dos CPD permanece um enigma, havendo várias teorias, cada uma das

quais parece mais provável para alguns tumores em certos doentes.

a) Uma teoria é que a lesão primária metastiza precocemente, com posterior involução

ou necrose desta. Assim, a lesão primária não é identificável quando o tumor

metastático é detectado.7,15

b) Outra teoria defende que o tumor primário é microscópico mas com capacidade

metastizante, tendo a metástase maior capacidade proliferativa que o primário.15

c) A teoria do erro da migração embriológica defende que estes tumores provêm de

células embrionárias completamente diferenciadas que não completaram a sua

migração “in útero” para o seu respectivo órgão, mas permaneceram noutro local e

posteriormente sofreram degeneração maligna.7

d) Outra teoria defende que estes doentes têm uma neoplasia primária desconhecida

tais como um tumor de células germinativas extra-gonadal, uma neoplasia tímica,

um linfoma, um melanoma ou sarcoma que não são detectáveis, mas são capazes

de originar tumores secundários em qualquer parte do corpo.7

e) Outra teoria defende que a patogénese destes carcinomas resulta de uma lesão

genética específica presente em todas as células, que é responsável pela

ocorrência de metástases sem que exista um primário identificado. Esta teoria tem

como base o facto de se verificar uma incidência aumentada de CPD em gémeos

monozigóticos com imunodeficiências primárias (Síndrome da

hiperimunoglobinémia M ligada ao X).16

f) Finalmente a teoria das Cancer Stem Cells, segundo a qual o CPD se origina a partir

de células indiferenciadas e pluripotenciais que exibem plasticidade e se podem

transformar em qualquer linhagem em qualquer tecido.17

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

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3. EPIDEMIOLOGIA

A incidência exacta destas neoplasias é desconhecida, uma vez que muitas são

classificadas erradamente noutros tipos de cancro, por características clínicas, radiológicas

ou laboratoriais, não existindo por isso concordância nos registos oncológicos.7,18

Dados obtidos a partir de levantamentos epidemiológicos e de grandes registos

oncológicos, indicam que CPD representa 2,3 a 4,2% de todos os cancros sólidos.8

Tabela 1 – Frequência de CPD em diferentes países8

Área Geográfica Fonte Frequência (%) Periodo

EUA SEER 2,3 1973-1987

Austrália New South Wales Registry 4,2 1970-1990

Holanda Eindhover Cancer Registry 4,0 1984-1992

Finlândia IARC 2,5 -

Alemanha - 7,8 1968-1984

Russia – Região de Dniepropetrovsk - 3,6 -

Suiça (Cantões de Vaud e Neuchatel) Registos locais 2,3 1984-1993

Japão IARC 3,0 -

SEER – Surveillance Epidemiology End Results; IARC – International Angency for Research into Cancer

Nos Estados Unidos da América (EUA) a incidência anual ajustada é de 7-12 casos

por 100.000 habitantes e representa um dos dez cancros mais frequentes, sendo a quarta

causa de morte por cancro em ambos os sexos.5,8,19

A idade média de apresentação é de aproximadamente 60 anos, com uma

frequência ligeiramente superior no sexo masculino.8

Em Portugal dados do Registo Oncológico Nacional de 2001 indicam que a

incidência global de CPD é de 5,2/100.000 habitantes, correspondendo a uma taxa de

5,7/100.000 nos homens e de 4,7/100.000 nas mulheres. 20

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

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4. CLASSIFICAÇÃO HISTO-PATOLÓGICA

Os CPD podem ser classificados em 5 grandes grupos, de acordo com a sua histologia

na microscopia óptica.7

a) Adenocarcinomas bem ou moderadamente diferenciados (60%)

b) Adenocarcinomas ou carcinomas mal ou pouco diferenciados (29%)

c) Neoplasias malignas indiferenciadas (5%)

d) Carcinoma espinocelular (células escamosas) (5%)

e) Carcinoma neuroendócrino (1%)

a) Adenocarcinoma Bem ou Moderadamente Diferenciado

É o grupo mais frequente, correspondendo a 60% dos CPD, ocorre mais frequentemente

em idosos. Mais de 50% dos casos quando diagnosticados têm múltiplos locais de

metastização, sendo os locais mais frequentes o fígado, ossos, pulmões ou gânglios

linfáticos.8,21

O prognóstico é reservado (sobrevivência mediana de 4 a 6 meses) e a resposta ao

tratamento é geralmente pobre, excepto em casos seleccionados.8

b) Adenocarcinoma ou Carcinoma Mal ou Pouco Diferenciado

Estes dois tipos de tumores apresentam um comportamento clínico semelhante, daí

a sua inclusão no mesmo grupo. Este grupo inclui tumores potencialmente curáveis, tais

como o tumor germinativo extra-gonadal. Os restantes apresentam uma resposta variável a

esquemas de quimioterapia (QT) baseados em platina e/ou taxanos.18

c) Neoplasia Maligna Indiferenciada

Inclui neoplasias cuja linhagem histológica não pode ser definida pela microscopia

óptica, sendo importante a utilização das modernas técnicas de imuno-histoquímica (IHQ),

bem como a microscopia electrónica e análise cromossómica, para definir a histologia da

neoplasia.7

Neste grupo estão incluídos alguns carcinomas pouco diferenciados, tumores

neuroendócrinos, linfomas, tumores de células germinativas, melanomas, sarcomas e

tumores embrionários.7,8,22 Na criança, os tumores embrionários extragonadais constituem a

maioria dos raros casos de cancros de primário desconhecido.8, 22

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

8

d) Carcinoma Espinocelular (CEC)

O carcinoma espinocelular (CEC) ocorre mais frequentemente nos homens de idade

adulta/avançada com longa história de exposição ao tabaco e álcool.18 Estes carcinomas

surgem no epitélio da superfície corporal ou no epitélio das mucosas que se abrem para o

exterior, deste modo, os locais mais frequentes do tumor primário oculto são a pele, ouvido,

nariz, esófago, brônquios, ânus, vulva e cérvix. Neste grupo estão também incluídos os

tumores derivados das células de transição do epitélio do tracto urinário.23

A maioria destes tumores metastiza para gânglios linfáticos regionais,

maioritariamente cervicais e inguinais. Quando este tipo de carcinomas está limitado aos

gânglios regionais, o prognóstico é melhor.24

e) Carcinoma Neuroendócrino

Os carcinomas neuroendócrinos caracterizam-se pela presença de numerosos grânulos

secretores intra-citoplasmáticos e/ou pela expressão de numerosos marcadores proteicos.

Este tipo de tumores têm um comportamento variável e a caracterização patológica do

seu grau de diferenciação pode prever o seu comportamento clínico, tendo também

implicações terapêuticas.25

Tabela 2 – Classificação histológica7

Histologia Incidência (%)

Adenocarcinomas bem ou moderadamente diferenciados 60%

Adenocarcinomas ou carcinomas mal ou pouco diferenciados 29%

Neoplasias malignas indiferenciadas 5%

Carcinoma espinocelular (de células escamosas) 5%

Carcinoma neuroendócrino 1%

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

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5. APRESENTAÇÃO CLÍNICA E HISTÓRIA NATURAL

A história natural destes doentes difere consideravelmente daqueles com tumores

primários conhecidos.8 A metastização precoce, ausência clínica de um tumor primário,

imprevisibilidade do padrão metastático e a agressividade constituem as características

fundamentais destes tumores.5,8

A imprevisibilidade metastática refere-se às diferenças na incidência da localização

das metástases no momento do diagnóstico entre cancros primários conhecidos e

desconhecidos. Por exemplo, o cancro do pulmão que surge como CPD, apresenta

metastização óssea em 4% dos casos, enquanto no de primário conhecido, o envolvimento

ósseo é de 30-50%. O cancro do pâncreas que se apresenta como CPD tem uma incidência

4 vezes maior de metastização óssea comparativamente ao de primário conhecido. O

cancro prostático de primário desconhecido tem uma incidência de metastização óssea três

vezes menor que um cancro da próstata conhecido.26

Em geral a suspeita de uma neoplasia surge após a história clínica e exame físico

inicial, e os CPD não fogem a esta regra.27 O quadro clínico é dominado, habitualmente,

pelas localizações secundárias, embora muitos doentes apresentem apenas sinais

sistémicos de doença, tais como anorexia, astenia e emagrecimento.28

Os CPD apresentam uma frequência ligeiramente maior no sexo masculino. A idade

média de diagnóstico é cerca de 65 anos, e apenas 10% dos doentes têm menos de 50

anos.27 Mais de 50% dos doentes com CPD apresentam-se com múltiplas metástases,

sendo estas mais comuns no fígado, ossos, pulmões, cérebro ou gânglios linfáticos.8,21

A grande maioria (cerca de 80%) apresenta mau prognóstico, com uma

sobrevivência média de 6 meses e apenas 20% dos CPD pertencem a subgrupos com

prognóstico mais favorável.

6. AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

a) História clínica e exame físico

A história clínica deve ser o ponto de partida para a investigação, pois os sinais e

sintomas iniciais muitas vezes sugerem quais os aparelhos a estudar. É importante

conhecer os antecedentes familiares e ocupacionais, bem como a história pessoal e familiar

de neoplasias, além dos hábitos e vícios.28

Deve ser realizado um exame físico completo, incluindo exame da cavidade oral,

toque rectal, anuscopia, exame da região pélvica e o exame ginecológico e os testículos nos

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

10

casos apropriados. Deve-se examinar sistematicamente a tiróide, as mamas e cadeias

gânglionares.18

Os exames complementares de diagnóstico devem ser orientados pela clínica, o seu

uso indiscriminado na ausência de manifestações clínicas que os justifiquem, além de uma

má prática médica, podem ser responsáveis por um atraso na implementação de medidas

terapêuticas, pelo aumento dos custos bem como pela perda significativa da qualidade de

vida do doente.29 Após confirmação histológica de lesão metastática está recomendado

realizar a todos os doentes análises sanguíneas com hemograma e bioquímica básica, teste

de sangue oculto nas fezes, análise de urina, Rx tórax e TAC do abdómen e pelve.1,12

b) Patologia

A confirmação histo-patológica de cancro metastático é o passo inicial para a

investigação de um possível CPD, para tal é necessário uma amostra adequada da lesão

suspeita para se realizar a microscopia óptica, estudos de IHQ, bem como procedimentos

mais específicos, como a microscopia electrónica ou análises citogenéticas.18,22

A biópsia aspirativa por agulha fina é um procedimento inicial de diagnóstico muito

comum mas, frequentemente o material é insuficiente para uma avaliação patológica

completa, particularmente nos doentes com neoplasias pouco diferenciadas, sendo por

vezes necessária e mesmo preferível, uma core-biópsia ou biópsia excisional.8

O patologista tem um papel fundamental no diagnóstico, devendo definir qual o tipo

de cancro (carcinoma, melanoma, linfoma, sarcoma) e se possível identificar o local de

origem do tumor, para isso é essencial o contacto permanente do médico patologista com o

médico assistente, devendo ser partilhada toda a informação disponível sobre o doente.22

1. Microscopia óptica

A análise por microscopia óptica da lesão metastática é o ponto de partida da

investigação.18 Embora raramente permita a identificação do local de origem num doente

com CPD, permite caracterizar a morfologia das células e a sua diferenciação.8

A coloração com hematoxilina eosina continua a ser a técnica padrão podendo ser

aplicadas colorações adicionais, no entanto, o desenvolvimento da imuno-histoquímica

(IHQ), com uma maior sensibilidade e especificidade, limitou o valor das colorações

tradicionais na identificação do local de origem.12

2. Imuno-histoquímica

A IHQ permite reconhecer a presença de determinados constituintes celulares pelo

uso de anticorpos poli ou monoclonais direccionados para essas substâncias. São utilizados

anticorpos que reconheçam constituintes celulares (citoqueratinas), filamentos

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

11

intermediários (desmina, vimentina), antigénios oncofetais (alfa-fetoproteína– AFP, antigénio

carcinoembrionário–CEA), hormonas e seus receptores (receptores de estrógeno-RE e

progesterona-RP) ou outras substâncias, como antigénio prostático específico (PSA),

cromogranina, proteína S-100 e o antigénio comum leucocitário (LCA/CD 45).22,30

O patologista realiza um painel de estudos imuno-histoquímicos de acordo com as

características da doença e tenta estabelecer, por meio do reconhecimento de padrões, o

local mais provável de origem, ajudando a direccionar a investigação.31,32

Apesar de nenhum teste imuno-histoquímico ser 100% específico, alguns são

bastante úteis na identificação do local primário, como o PSA para identificação do cancro

da próstata e o CD 45 para linfomas. A combinação de marcadores também facilita a

identificação da origem tumoral. Existem hoje mais de 20 subtipos de citoqueratinas (CK),

sendo a CK 7 e a CK 20 as mais utilizadas. A análise simultânea destas duas citoqueratinas

é muito utilizada, podendo dar indicações sobre a localização do possível tumor

primário.1,33,34

Tabela 3 - Expressão fenotípica das citoqueratinas em diversos adenocarcinomas1,7,8,33,34

Combinação CK 7 / CK 20 Neoplasias

CK 7 + / CK 20 +

Pâncreas, colangiocarcinoma, ovário, tumores do urotélio

CK 7 + / CK 20 - Pâncreas, colangiocarcinoma, pulmão (adenocarcinoma), tiróide, mama,

endométrio, cérvix, glândula salivar

CK 7 - / CK 20 + Cólon e recto

CK 7 - / CK 20 - Próstata, hepatocarcinoma, tumores renais, pulmão (escamoso, pequenas

células), cabeça/pescoço

Na seguinte tabela estão listados os principais marcadores imuno-histoquímicos

utilizados actualmente, bem como as neoplasias mais prováveis associadas:

Tabela 4: Marcadores de IHQ e Neoplasias prováveis 1,7,8,32-34

Neoplasia Provável Marcador de Imuno-Histoquímica

Carcinoma Citoqueratinas, EMA

Linfoma LCA, EMA(+/-)

Sarcoma Vimentina, Desmina, Antigénio do Factor VIII

Melanoma Proteína S-100, HMB-45, Vimentina, NSE

Tumores Neuroendócrinos Cromogranina, Sinaptofisina, Citoqueratinas, EMA, NSE

Tumores Germinativos Citoqueratinas, EMA, HCG, AFP

Prostáta PSA, PAP, citoqueratinas, EMA

Mama Citoqueratinas, EMA, RE, RE,

Tireoide Tireoglobulina, citoqueratinas, EMA, Calcitonina

Urotélio UROIII, THR, HMWCK

Colangiocarcinoma CK19

Pulmão TTF-1, Surfactante A e B

Hepatocarcinoma Hep par 1

Cólon CDX2

EMA – Antigénio da membrana epitelial (epithelial membrane antigen); TTF-1 factor de transcrição da tiróide 1; PAP – Fosfatase alcalina prostática; GCDFP-15: Gross cystic disease fluid protein-15; UROIII: Uroplaquina III;

THR: trombomodulina; HMWCK: Citoqueratina de alto peso molecular; NSE: Enolase neurónio-especifica;

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

12

3. Microscopia electrónica

A microscopia electrónica pode identificar a linhagem tumoral pelo reconhecimento

de microestruturas características, como os desmossomas (carcinomas), os pré-

melanossomas (melanoma maligno) e os grânulos secretores (tumores neuroendócrinos).18

O alto custo e pouca disponibilidade limitam o seu uso, estando só recomendada

para a avaliação de neoplasias pouco diferenciadas em doentes jovens, particularmente

quando as técnicas de coloração convencionais e a IHQ são inconclusivas.8

4. Análise Molecular ou Citogenética

A análise citogenética é muito utilizada no estudo das neoplasias hematológicas. A

maioria dos linfomas não-Hodgkin B ou T apresentam rearranjos genéticos específicos.

Nos tumores sólidos, a análise citogenética pode ser útil em casos específicos, como

a presença do isocromossoma no braço curto do cromossoma 12 (nos tumores

germinativos) e a translocação recíproca [11:12] [q24;q12] que ocorre nos tumores da

família do sarcoma de Ewing (ESFT), e outras alterações citogenéticas especificas de outros

tumores.18,35

Publicações têm demonstrado que testes citogenéticos baseados em diferentes

tecnologias (RT-PCR microarrays e microRNA) podem ajudar a determinar a origem do

primário. O valor destes testes moleculares na escolha da terapêutica ainda não está

provado, mas as análises iniciais sugerem que no futuro poderão ser úteis.36-38

c) Imagiologia

1. Radiologia convencional

A radiografia (Rx) do tórax faz parte da avaliação inicial do doente com CPD. No

entanto, estudos de séries de autópsias verificaram que o RX de tórax era capaz de

diferenciar entre neoplasia primária e metastática dos pulmões apenas num terço dos

casos.8,39,40

Os estudos contrastados para o estudo do tracto gastrointestinal são de valor

limitado, logo, não recomendados por rotina.8

2. Tomografia Axial computadorizada

A utilidade da TAC abdominal e pélvica está bem documentada em doentes com

CPD, e permite detectar a localização do primário em 30-35% dos casos. A utilidade da TAC

torácica não está tão bem avaliada, fica reservada para os doentes com anormalidades no

Rx tórax ou com envolvimento metastático do mediastino.

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

13

A TAC além de permitir determinar a extensão da doença metastática, é também

muito útil na selecção do melhor local a biopsar.8

3. Mamografia e outros exames de imagem da mama

A mamografia bilateral está indicada na avaliação de mulheres com CPD envolvendo

os gânglios axilares.1,7,8 Segundo George Pentheroudakis et al39, dados provenientes de 20

estudos, avaliando um total de 498 doentes demonstraram que a mamografia apresenta

uma sensibilidade de aproximadamente 20% na detecção do primário. Nesse mesmo estudo

demonstrou-se que a RM mamária pode identificar o primário em 59% das doentes com

linfadenopatia axilar maligna e cancro da mama clinicamente, mamograficamente e

ecograficamente oculto. A RM da mama deve ser adicionada ao exame clínico e à

mamografia/ecografia antes de definir metástases axilares na mulher como CPD.1,39-42

4. Tomografia por Emissão de Positrões (PET)

A PET utiliza um radiofármaco análogo da glicose, a fluoro-desoxi-glicose (PET-

FDG). É um método de imagem funcional que diferencia áreas do corpo de acordo com o

aumento do metabolismo da glicose. Como as células tumorais crescem mais rapidamente

que as outras, a captação de glicose é maior. As taxas de detecção do local do primário pela

PET oscilam entre os 20 e 50%.43

A indicação mais aceite para a PET é na investigação de doentes com carcinoma

epidermóide dos gânglios linfáticos cervicais. Neste grupo, a PET-FDG permite identificar

uma neoplasia primária na cabeça e pescoço em aproximadamente um terço dos doentes,

facilitando a determinação da extensão da doença, orientação da biópsia e tratamento, para

os restantes casos deve ser utilizada quando os exames de imagem convencionais são

ambíguos.8

d) Exames endoscópicos

As endoscopias são úteis e devem ser usadas para avaliar os CPD com

apresentações clínicas específicas. A endoscopia nasal e laríngea é recomendada em

doentes com metástases isoladas de gânglios cervicais, a broncoscopia nos que

apresentam sintomas pulmonares ou alterações no Rx do tórax, a endoscopia digestiva alta

e baixa em doentes com sintomas abdominais ou sangue oculto nas fezes, e a proctoscopia

e/ou colposcopia em doentes com envolvimento de gânglios inguinais.8,22

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

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e) Marcadores tumorais séricos

A sensibilidade e especificidade dos marcadores tumorais séricos (CEA, CA-15.3,

CA-19.9) é muito baixa para serem utilizados isoladamente na identificação do local primário

nos CPD, daí a sua utilização por rotina não estar indicada.44,45

São excepções, cinco marcadores tumorais específicos, que são úteis quer para o

diagnóstico do local primário, quer para o seguimento e avaliação da resposta terapêutica.

Eles são o PSA em homens com metástases osteoblásticas, CA-125 em mulheres que

apresentam ascite maligna, a -HCG e AFP em homens jovens com CPD, e níveis

elevados de tireoglobulina sérica em doentes com metástases ósseas de primário

desconhecido, são sugestivos de neoplasia tiróideia.8,44-46

Tabela 5 - Dados clínicos e laboratoriais requeridos para definir um doente como tendo CPD1,5,8

Para todos os doentes: Em doentes seleccionados e de acordo com a clínica:

. Confirmação histológica de cancro metastático

. História clínica detalhada

. Exame físico completo (incluindo exame pélvico e rectal)

. Hemograma e Leucograma

. Bioquímica básica

. Análise de urina

. Teste de sangue oculto nas fezes

. Aplicação de testes imuno-histoquímicos e moleculares

. Rx tórax

. TAC abdominal e pélvico

. Mamografia, ecografia mamária ou RM mamária

. Alfa-fetoproteína e Gonadotrofina coriónica humana

. Antigénio prostático específico (PSA)

. TAC da cabeça e pescoço

. PET-CT

. Endoscopias

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

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7. FACTORES DE PROGNÓSTICO E ENTIDADES CLÍNICO-PATOLÓGICAS

Em geral o CPD é uma doença com prognóstico reservado com uma sobrevivência

média de 6 meses para 80% dos casos (subgrupo com prognóstico desfavorável).8,14,18

Os restantes 20% correspondem a tumores com melhor prognóstico, que são

reconhecidos por determinadas apresentações clínicas ou por características IHQ que

permitem uma melhor caracterização do tumor.47 A identificação destes doentes é

extremamente importante, porque existem tratamentos específicos que podem levar à cura

ou prolongar a sobrevivência com boa qualidade de vida.18

A análise dos factores prognósticos nos CPD baseiam-se na observação de vários

parâmetros clínico-patológicos, tais como: idade, sexo, estado geral do doente, perda de

peso, histologia do tumor, carga tumoral, localização do tumor, número de metástases e o

nível de alguns marcadores sorológicos.8

O prognóstico depende fundamentalmente do estado funcional do doente na altura

do diagnóstico. Entre outros factores, associam-se a um pior prognóstico o sexo masculino,

a ocorrência de múltiplas metástases, histologia de adenocarcinoma e envolvimento

hepático. São factores de melhor prognóstico, a histologia de carcinoma neuroendócrino e o

atingimento restrito a determinadas cadeias ganglionares.5,18

Dada a heterogeneidade dos CPD foram reconhecidas diversas entidades clínico-

patológicas que são divididas em dois grandes grupos: O grupo de CPD com prognóstico

favorável (20%) e o grupo de CPD com prognóstico desfavorável (80%). 5,8,47,48

Tabela 6 – Entidades Clínico-patológicas de CPD 1,5,7,8,47,48

Subgrupos com prognóstico favorável Subgrupos com prognóstico desfavorável

1. Carcinoma pouco diferenciado com distribuição mediana

(síndrome de células germinativas extra-gonadal)

2. Mulheres com carcinomatose peritoneal

3. Mulheres com adenocarcinoma envolvendo apenas

gânglios linfáticos axilares

4. Carcinoma de células escamosas envolvendo gânglios

linfáticos cervicais

5. Linfadenopatias inguinais isoladas de um carcinoma de

células escamosas

6. Carcinomas neuroendócrinos de primário desconhecido

7. Metástases osteoblásticas em homens

8. Metástase única e pequena

1. Adenocarcinoma metastático no fígado

2. Ascite maligna não papilar (adenocarcinoma)

3. Múltiplas metástases cerebrais (adeno ou carcinoma

escamoso)

4. Múltiplas metástases pulmonares/pleurais

(adenocarcinoma)

5. Múltiplas metástases ósseas (adenocarcinoma)

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

16

8. TRATAMENTO

A estratégia terapêutica para os doentes com CPD deve ser individualizada de

acordo com o subgrupo clínico.

Antes de iniciar qualquer tratamento deve-se avaliar se o doente pertence a algum

dos grupos com prognóstico favorável, ou se pelo contrário se encontra no grande grupo em

que o prognóstico é desfavorável.

Com base na apresentação clínica, o tratamento recomendado pode ser loco-

regional e/ou sistémico, e pode ter intenção curativa ou paliativa.8

8.1 APRESENTAÇÃO CLÍNICA E TRATAMENTO DE SUBGRUPOS COM

PROGNÓSTICO FAVORÁVEL

Alguns subgrupos de CPD, facilmente identificados pelas características clínicas e

patológicas, têm um prognóstico mais favorável porque têm tratamentos específicos com

potencial para uma sobrevivência prolongada.

8.1.1 Carcinoma pouco diferenciado com distribuição mediana

(síndrome de células germinativas extra-gonadal)

A suspeita de um tumor de células germinativas extra-gonadal deve ser considerada

em jovens do sexo masculino (idade menor que 40 anos), com um carcinoma pouco

diferenciado envolvendo o mediastino ou o retroperitoneu. São necessários outros

procedimentos diagnósticos além da microscopia óptica, tais como a análise IHQ e a

determinação dos marcadores tumorais séricos alfa-fetoproteína (AFP) e/ou subunidade

beta da gonadotrofina coriónica humana (-HCG), cujo aumento sustenta o diagnóstico,

podendo a sua monitorização ser usada para avaliar a resposta terapêutica.47

Actualmente com a análise citogenética pode ser identificado um subgrupo de

doentes que apresentam uma anomalia cromossómica específica – a presença do

isocromossoma i(12p), com implicações terapêuticas e prognósticas importantes.49

De salientar que esta síndrome clínica é extremamente rara nas mulheres.47

Tratamento

Motzer et al, demonstraram que os doentes com esta síndrome clínica e com o

isocromossoma i(12p), têm uma boa taxa de resposta e uma sobrevivência igual aos

regimes de quimioterapia utilizados para as neoplasias do testículo.49

No caso da análise genética não estar disponível, na presença de uma neoplasia

deste tipo o tratamento deve ser feito de acordo com as orientações para os tumores de

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

17

células germinativas de mau prognóstico, usando-se quimioterapia baseada na cisplatina,

etoposídeo e bleomicina (BEP).8,47 Globalmente as taxas de resposta são superiores a 50%,

com 15-25% obtendo resposta completa e cerca de 10-15% estão livres da doença a longo

prazo.8

8.1.2 Mulheres com carcinomatose peritoneal

Normalmente ocorre em mulheres com uma idade média de 60 anos, que

apresentam ascite e múltiplas massas peritoneais, sem foco primário identificável nos

exames de imagem ou após laparotomia. Em geral, a histologia é semelhante à do

adenocarcinoma papilar do ovário e a doença tem o mesmo comportamento clínico, no

entanto carcinomas provenientes do tracto gastrointestinal, pulmão ou mama podem

ocasionalmente provocar esta síndrome clínica.47

Os níveis serológicos do CA-125 estão frequentemente elevados e podem ser

usados para monitorizar a resposta ao tratamento.18

Tratamento

As doentes com CPD com esta apresentação devem ser tratadas de acordo com as

recomendações para o tratamento de carcinomas do ovário avançado (FIGO estadio III), isto

é, inicialmente uma cirurgia citoredutora agressiva seguida de quimioterapia com taxanos e

platina.1 A sobrevivência é semelhante às doentes com carcinoma do ovário num estadio III

de FIGO.50,51

Esta síndrome, embora rara também foi reconhecida nos homens, estando

recomendada a mesma abordagem terapêutica.52

8.1.3 Mulheres com adenocarcinoma envolvendo apenas gânglios linfáticos

axilares

A maioria dos doentes que apresentam metástases isoladas de adenocarcinoma

envolvendo os gânglios axilares são do sexo feminino e deve-se suspeitar de um cancro da

mama em estadio II ou III.47 Menos de 1% dos cancros da mama têm esta forma de

apresentação, sendo denominados de cancro da mama oculto.53-55

A avaliação clínica e patológica inicial deve ser orientada para a confirmação da

existência de um cancro da mama primário. Se a mamografia e ecografia mamária bilaterais

forem normais, deve ser realizada uma ressonância magnética mamária bilateral.8,56,57 A

realização da PET pode ser um procedimento a considerar, mas a sua utilidade ainda não

foi totalmente avaliada.58

Nesta situação é fundamental a pesquisa de receptores hormonais (RE e RP) e do

HER-2 na biópsia do gânglio linfático. A expressão de HER-2 ou dos receptores hormonais

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

18

fornece uma forte evidência para o diagnóstico de cancro da mama metastático, além de ter

implicações terapêuticas importantes.47

Esta apresentação clínica, embora muito rara, pode também ocorrer nos homens,

estando associada a um pior prognóstico.8

Tratamento

O tratamento de um CPD que se apresenta com metástases axilares isoladas

permanece controverso. Tradicionalmente, o tratamento de escolha para estas doentes era

a mastectomia radical ou modificada.59

Actualmente é consensual que a dissecção ganglionar axilar de nível I ou II é um

componente essencial do tratamento devendo ser sempre efectuada. A RT isolada da axila

ou o esvaziamento axilar isolado estão contra-indicados, estando associados ao

aparecimento do cancro da mama primário em mais de 50% dos casos.39

Onde existe mais controvérsia é na escolha do tratamento a efectuar na mama

ipsilateral que pode ir desde a mastectomia, cirurgia conservadora com excisão de lesões

suspeitas seguida de radioterapia ou apenas radioterapia.

Embora a mastectomia radical esteja associada a uma menor taxa de recorrência,

estudos recentemente publicados por Vlastos et al (2001)60, Medina-Franco et al (2002)61 e

Shannon et al (2002)62 demonstraram não haver diferenças estatísticas significativas na

recorrência loco-regional e na sobrevivência nas doentes tratadas com mastectomia versus

as tratadas com radioterapia incluindo a mama ipsilateral após o esvaziamento axilar.

G. Pentherodakis et al (2010)39 recomendam a mastectomia ipsilateral para as

doentes que aceitem esta cirurgia mutilante, sendo a RT da mama ipsilateral uma opção

igualmente válida.

Permanece como indicação o uso da quimioterapia neo-adjuvante no caso de

massas ganglionares axilares fixas (N2) seguida do esvaziamento ganglionar de acordo com

as recomendações para o cancro da mama em estadio III.8,39

Em vista da falta de evidência para qualquer diferença biológica ou prognóstica do

CPD da axila em relação ao cancro da mama com gânglios positivos, estes doentes devem

receber quimioterapia sistémica adjuvante de acordo com as indicações para este último,

bem como hormonoterapia nas doentes com RE/RP positivos e o trastuzumab nas doentes

com super-expressão da HER-2.63

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

19

8.1.4 Carcinoma de células escamosas envolvendo gânglios linfáticos cervicais

Os gânglios linfáticos cervicais são o local metastático mais comum do carcinoma de

células escamosas de um primário desconhecido, no entanto este tipo de tumores são

pouco comuns, correspondendo apenas a 5% de todos os CPD.64 Estes doentes geralmente

são de meia-idade ou idosos e a grande maioria apresenta factores de risco para cancro da

cabeça e pescoço, tais como consumo de álcool e tabaco. 47,64

A avaliação diagnóstica passa por tentar identificar o local primário, usualmente na

região da cabeça e pescoço. Está recomendada a realização de uma

nasofaringolaringoscopia com biópsia da mucosa de todas as áreas suspeitas, TAC da

região cervical, endoscopia digestiva alta e broncoscopia em doentes com sintomas

pulmonares e TAC de tórax negativa.47 A amigdalectomia bilateral pode detectar o tumor

primário em cerca de 30% dos doentes com esta apresentação64 e a PET-CT é capaz de

detectar o local primário em cerca 25% dos casos que permaneceram indetectáveis com

outras técnicas.65

Devem ser pesquisados no material da biópsia do gânglio linfático o genoma dos

vírus Epstein-Barr (EBV), cuja presença é específica para um tumor primário na

nasofaringe66, e o genoma do Papiloma Vírus Humano-16 que é específico de um tumor

primário na orofaringe.67

Quando estão envolvidos os gânglios cervicais inferiores ou supraclaviculares deve-

se suspeitar de um tumor primário nos pulmões ou no esófago, e neste caso deve ser

realizada uma broncofibroscopia e/ou uma esofagoscopia caso a TAC torácica seja

negativa.67

Tratamento

Nos casos em que o local do primário permanece desconhecido, o doente deve ser

tratado de acordo com as recomendações para um carcinoma da cabeça e pescoço

localmente avançado.47

Os doentes no estadio pN1 sem extensão extracapsular podem ser tratados apenas

com cirurgia local. Nos restantes, a cirurgia deve ser complementada com RT bilateral dos

gânglios cervicais e RT da faringe e laringe. Embora o impacto da quimioterapia sistémica

neste grupo de doentes não esteja esclarecido, esta deve ser recomendada, particularmente

nos doentes com adenopatias N2 ou N3.1,5

Alguns desses doentes têm sobrevivências longas (5 anos ou mais) e mesmo a cura,

situações mais comuns em doentes com doença ganglionar em estadio N1 ou N2.5

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

20

8.1.5 Linfadenopatias inguinais isoladas de um carcinoma de células escamosas

A maioria dos doentes com esta apresentação têm um cancro primário na região

genital ou anorrectal.47

Nestes casos, deve ser realizado um exame rigoroso da região genito-anal, um

toque rectal (e preferencialmente uma proctoscopia), uma avaliação ginecológica com

colposcopia e um exame da pele dos membros inferiores, com biópsia de todos os locais

suspeitos.8,47

Neste grupo de doentes é particularmente importante a identificação do cancro

primário uma vez que nos carcinomas espinocelulares do colo uterino, vulva, vagina e canal

anal, existem tratamentos eficazes e com intenção curativa mesmo após a invasão dos

gânglios regionais.47

Tratamento

A base do tratamento é a cirurgia loco-regional com esvaziamento ganglionar

seguida de radioterapia.5,8 O papel da quimioterapia sistémica ainda não foi avaliado, no

entanto, o aparecimento de modalidades terapêuticas combinadas com quimioterapia e

radioterapia para outros carcinomas escamosos desta região, nomeadamente do ânus, colo

uterino e bexiga sugere que o mesmo tratamento possa ser aplicado nos doentes com esta

apresentação cujo primário não foi identificado.8,47

8.1.6 Carcinomas neuroendócrinos de primário desconhecido

Os carcinomas neuroendócrinos são um grupo heterogéneo de tumores que se

caracterizam pela presença de grânulos secretores intra-citoplasmáticos e/ou pela

expressão de numerosos marcadores proteicos.47

São tumores pertencentes ao “subgrupo de CPD com prognóstico favorável” no

entanto a caracterização patológica do seu grau de diferenciação tem implicações

terapêuticas e pode prever o seu comportamento clínico, daí que a sua classificação tenha

sido revista pela Organização Mundial de Saúde em 2000, sendo divididos em 2 grandes

grupos:25

a) Carcinomas neuroendócrinos bem diferenciados ou de baixo grau

b) Carcinomas neuroendócrinos mal diferenciados ou de alto grau

Tratamento

O primeiro grupo corresponde aos carcinomas neuroendócrinos bem diferenciados

ou de baixo grau (ex: tumor carcinóide, tumor de células das ilhotas, feocromocitoma), e

representam uma minoria (10%) dos tumores neuroendócrinos de primário desconhecido.

Podem surgir esporadicamente ou em associação a outros tumores endócrinos (síndrome

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

21

MEN 1 ou 2). Ocasionalmente surgem como um CPD envolvendo geralmente o fígado,

ossos ou gânglios linfáticos.68

Estas neoplasias são peculiares por duas razões: pela síndrome carcinóide que

podem causar, que está relacionada com a libertação de substâncias bioactivas pelo tumor,

e pela sua lenta progressão, com uma sobrevivência média de 124 meses, apesar de cerca

de 20% dos doentes apresentarem múltiplas metástases na altura do diagnóstico.69

O tratamento inclui a diminuição da massa tumoral com ressecção das metástases

se tecnicamente possível, químio-embolização ou ablação por radiofrequência. A síndrome

carcinóide é tratada com análogos da somatostatina, como o octreotrido (visando diminuir a

secreção das substâncias bioactivas).25

A quimioterapia sistémica com platina, doxorrubicina e 5-fluorouracil, isoladamente

ou em combinação apresenta uma taxa de resposta baixa, daí não ser usada.25

O segundo grupo representado pelos carcinomas neuroendócrinos pouco

diferenciados ou de alto grau corresponde a cerca de 90% deste tipo CPD, inclui o

carcinoma de pequenas células anaplásico e o carcinoma pouco diferenciado de grandes

células.

Este grupo apresenta uma sobrevivência média de 10 meses, e metade estão

metastizados na altura do diagnóstico.

Os doentes com carcinoma de pequenas células anaplásico, correspondem a 15%

de todos os carcinomas neuroendócrinos de primário desconhecido, geralmente possuem

um tumor primário localizado nos pulmões e devem ser investigados com TAC do tórax e

broncoscopia. Esse subtipo apresenta uma boa resposta à quimioterapia sistémica sendo

recomendados regimes baseados em cisplatina ou carboplatina e etoposídeo.

Os carcinomas neuroendócrinos pouco diferenciados de grandes células

correspondem a 75% de todos os carcinomas neuroendócrinos de primário desconhecido.

São um grupo heterogéneo com difícil identificação do local do primário. Não se associam a

síndrome carcinóide e apresentam boas taxas de resposta à quimioterapia. Têm uma

sobrevivência média de 15 meses, situando-se entre os bem diferenciados e os anaplásicos

de pequenas células, que são as duas pontas do espectro da doença. O tratamento tem por

base a quimioterapia sistémica semelhante à usada no tratamento do cancro do pulmão de

pequenas células.25

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

22

8.1.7 Metástases osteoblásticas no homem

Nos homens que apresentam metástases ósseas com adenocarcinoma, deve-se

suspeitar de um cancro prostático metastizado, principalmente se estas lesões são

osteoblásticas.8

Com esta apresentação deve ser determinada a expressão do PSA na biópsia do

tumor ou se o nível sérico deste marcador está elevado. Qualquer um dos casos confirma a

hipótese de adenocarcinoma prostático.1,47

Tratamento

O tratamento deve seguir as orientações para o cancro da próstata metastizado,

estando recomendada a hormonoterapia com bloqueio androgénico ou a castração cirúrgica

(orquidectomia), ambos com boas taxas de resposta e aumento da sobrevivência.1,8

Ainda que o PSA seja negativo na biópsia ou o nível sérico seja baixo, não se pode

afastar totalmente o diagnóstico de cancro da próstata. Nestas situações, caso o quadro

clínico seja compatível (lesões predominantemente osteoblásticas e no esqueleto axial) está

recomendado iniciar o tratamento empírico com hormonoterapia.28

A maioria dos homens com adenocarcinoma de primário desconhecido e

envolvimento ósseo possui lesões osteolíticas e níveis de PSA normais. Estes doentes não

respondem ao bloqueio hormonal e devem ser tratados com quimioterapia empírica tal como

os restantes CPD de mau prognóstico.47

8.1.8 Metástase única e pequena

Ocasionalmente apenas uma única lesão é identificada após extensiva investigação

clínica e imagiológica. As lesões únicas podem ser encontradas em vários locais, sendo

mais comuns nos gânglios linfáticos, cérebro, pulmões, supra-renal, fígado, osso e pele.

Com esta apresentação deve-se considerar a hipótese, da lesão ser um cancro primário

com uma localização incomum que está a simular uma lesão metastática, no entanto, a

clínica ou os achados histo-patológicos da lesão excluem facilmente esta possibilidade.

Na maioria dos doentes com uma única metástase, outras lesões tornam-se

evidentes em pouco tempo, no entanto o tratamento local por vezes resulta numa longa

sobrevivência.

Antes de efectuar qualquer tratamento deve-se realizar uma PET para excluir a

presença de outras lesões.43 Se estas não forem detectadas, a ressecção cirúrgica e/ou

radioterapia local devem ser os tratamentos de eleição. O uso da quimioterapia sistémica

concomitantemente com a terapia local ainda não está definido.8,47

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

23

8.2 Tratamento dos subgrupos com prognóstico desfavorável

A maioria dos CPD (cerca de 80%) apresenta um prognóstico desfavorável. Muitos

destes doentes têm adenocarcinomas com múltiplas metástases no fígado, pulmões,

cérebro e ossos na altura do diagnóstico, com baixa resposta à quimioterapia sistémica e

uma sobrevivência média de 6 meses.5,7,8

A quimioterapia tem sido a pedra angular para o tratamento destes doentes cujo

estado geral o permita, e nos últimos 40 anos quase todos os fármacos citotóxicos têm sido

utilizados, isoladamente ou em regimes combinados, alguns dos quais têm mostrado algum

valor.5,8

Nas décadas de 1960 e 1970 a quimioterapia usada no tratamento dos CPD eram

regimes baseados no fluorouracilo e adriamicina. Outros fármacos usados eram a:

ciclofosfamida, mitomicina-C, nitrosoureias e a vincristina, obtendo uma taxa de resposta

inferior a 20%, com uma sobrevivência média de 3 a 7 meses.5

Na década de 1980, com a introdução dos fármacos contendo platina: cisplatina e

carboplatina, bem como o seu uso em regimes combinados com outros fármacos incluindo

etoposídeo, antraciclinas, alcalóides da vinca, ciclofosfamida, bleomicina e mais

recentemente gemcitabina e vinorelbina, verificou-se uma melhoria na taxa de resposta para

40 a 50% dos doentes e aumento da sobrevivência em mais alguns meses.5

Desde 1995, o uso de um taxano (paclitaxel ou docetaxel) em combinação com um

composto de platina melhorou as taxas de resposta para a maioria dos doentes

pertencentes aos grupos de mau prognóstico.8 Vários ensaios clínicos de fase II mostraram

boas taxas de resposta (30 a 48%) e maior sobrevivência (11 a 13,4 meses) com regimes

triplos de paclitaxel/carboplatina/etoposídeo, tendo permanecido como regime comummente

usado na prática clínica.70-72

Como mostram estudos recentes, este regime triplo não funciona melhor e tem

maior toxicidade que outros regimes duplos frequentemente usados, nomeadamente o

paclitaxel-carboplatina73, docetaxel-gencitabine74 e gemcitabine-irinotecan75 com

sobrevivências entre os 9 e os 11 meses, constituindo deste modo alternativas válidas.

Nos últimos anos, o aparecimento de novos fármacos de maior espectro e dos

fármacos biológicos dirigidos a alvos específicos estão a proporcionar uma nova esperança

a estes doentes.76

Com a aprovação pela FDA dos agentes biológicos bevacizumab (inibidor do factor

de crescimento vascular endotelial) e do erlotinib (inibidor do receptor do factor de

crescimento epitelial) foram desenvolvidos novos estudos de fase II. Hainsworth JD et al

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

24

(2007)77 num ensaio clínico de fase II com 52 doentes com CPD de mau prognóstico,

submetidos a terapêutica combinada de bevacizumab e erlotinib demonstraram uma

sobrevivência média de 7,4 meses.

Estes resultados foram o ponto de partida para um novo ensaio clínico de fase II

onde se utilizou uma combinação de 4 fármacos: paclitaxel/carboplatina mais

bevacizumab/erlotinib. Os resultados demonstraram uma sobrevivência média de 12,6

meses, e uma taxa de sobrevivência ao fim de 2 anos de 27%, tendo sido o tratamento bem

tolerado na globalidade.78

Estes resultados demonstram que são necessários novos ensaios clínicos de fase III

utilizando regimes combinados de fármacos biológicos e drogas antineoplásicas para

estudar e comparar a eficácia destes regimes.

Até ao momento, ainda não há nenhum dado definido ou inequívoco obtido a partir

de ensaios clínicos de fase III que prove que alguma terapêutica sistémica seja superior e

aumente a sobrevivência comparando com os melhores cuidados de suporte dos doentes

com CPD com factores de mau prognóstico.5,8

De salientar que uma análise crítica dos resultados dos vários ensaios clínicos

realizados é dificil uma vez que há uma grande heterogeneidade dos doentes incluídos nos

diferentes grupos, o número de doentes é muito pequeno, e habitualmente sem grupo de

controlo.

Tabela 7 – Tratamento dos CPD

Grupo de CPD Tratamento recomendado

Carcinoma pouco diferenciado com distribuição mediana (síndrome de células germinativas extra-gonadal)

Quimioterapia combinada baseada em platina

Mulheres com carcinomatose peritoneal Semelhante ao cancro do ovário estadio III da FIGO: Cirurgia citorredutora seguida de QT baseada em platina

Mulheres com adenocarcinoma envolvendo apenas gânglios linfáticos axilares

Esvaziamento axilar seguida de mastectomia ou RT da axila e mama + QT adjuvante ou neoadjuvante idêntico ao cancro da mama com similar estadio ganglionar + Hormonoterapia e/ou trastuzumab de acordo com IHQ

Carcinoma de células escamosas envolvendo gânglios linfáticos cervicais

Dissecção cirúrgica radioterapia quimioterapia

Linfadenopatias inguinais isoladas de um carcinoma de células escamosas

Dissecção cirúrgica radioterapia quimioterapia

Carcinomas neuroendócrinos de primário desconhecido QT combinada de platina e etoposídeo

Metástases osteoblásticas em homens Hormonoterapia semelhante ao cancro da próstata metastizado

Metástase única e pequena Tratamento local cirurgia ou radioterapia

Múltiplas metástases no fígado, osso, cérebro

(CPD de mau prognóstico)

Quimioterapia paliativa para os doentes com bom estado geral ou melhoria dos cuidados de suporte

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

25

9. CASO CLÍNICO

Mulher de 44 anos com antecedentes de trombose venosa ilío-femural direita há 17

anos tendo sido hipocoagulada durante um ano, sem outros antecedentes patológicos

pessoais ou familiares de relevo, é seguida no serviço de Oncologia do Centro Hospitalar do

Porto-HSA desde 21 de Julho de 2009.

Em Janeiro de 2009 fez mamografia e ecografia mamária de rastreio que eram

normais. Em Fevereiro de 2009 em autoexame nota uma adenopatia na axila esquerda.

Clinicamente confirma-se a adenopatia axilar com cerca de 1,5 cm, dura, móvel, não

dolorosa, sem qualquer massa palpável em ambas as mamas, alterações cutâneas ou

corrimento mamilar.

A biópsia aspirativa por agulha fina (CBA) realizada em Abril de 2009 revelou

carcinoma e o estudo IHQ demonstrou positividade para as citoqueratinas AE1/AE3, RE/RP

positivos, anticorpos para a HMB-45 negativos, sendo sugestivos de metástase de

carcinoma de mama.

Com a hipótese de um cancro da mama como foco primário, realizou mamografia e

ecografia mamárias bilaterais que revelaram área de distorção do estroma no QSE da

mama esquerda cuja core biópsia, não revelou células neoplásicas.

Fez ressonância magnética mamária bilateral que foi normal. A TAC toraco-

abdomino-pélvica revelou um nódulo de 6 mm no pulmão direito e lesões milimétricas de

significado indeterminado. A Tomografia de Emissão de Positrões (PET-CT) apenas revelou

hiperfixação nos gânglios da axila esquerda.

Dia 3 Julho de 2009 foi submetida a esvaziamento ganglionar nível II da axila

esquerda. O exame anatomopatológico revelou carcinoma em 2 dos 18 gânglios removidos,

com RE e RP positivos e receptores do factor de crescimento epitelial 2 (HER-2), TTF-1,

tireoglobulina e CK7 negativos.

Fez quimioterapia com 6 ciclos de CEF (Ciclofosfamida, Epirrubicina e Fluorouracilo)

de 9 de Julho a 29 de Dezembro de 2009. Seguida de radioterapia da mama e cadeias

ganglionares axilares e supraclaviculares esquerdas na dose total de 50 Gys com boost a

toda a mama esquerda na dose de 10 Gys e hormonoterapia com inibidor da aromatase

(letrozol), estando previsto manter durante 5 anos.

A TAC toraco-abdomino-pélvica de reavaliação em Dezembro 2009, revelou

micronódulos pulmonares, o maior de 11 mm, pelo que repetiu a PET-CT a 25 de Janeiro de

2010 que foi normal. Última TAC toraco-abdominal a 6 de Maio de 2010 apenas revela

micronódulo pulmonar direito com 6 mm.

Mantém vigilância no Serviço de Oncologia sem evidência de recidiva.

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

26

10. DISCUSSÃO

As metástases nos gânglios axilares de adenocarcinoma ou carcinoma mal

diferenciado de primário desconhecido representam uma entidade clínica rara.

Correspondem a cerca de 0,12 a 0,67% de todas as neoplasias malignas39 e devem levar à

suspeita de um cancro da mama oculto. Esta forma de apresentação de cancro da mama é

rara, correspondendo a menos de 1% de todos os cancros da mama.8,53,59

É conhecido que metástases ganglionares axilares podem derivar de tumores

primários da mama com menos de 1 cm, como reportado numa série de 953 doentes com

cancro da mama em que metástases axilares foram detectadas em 20% dos tumores com

menos de 1 cm.79

Além do cancro da mama, muitos outros podem metastizar para os gânglios axilares,

tais como os cancros do pulmão, tiróide, estômago, cólon, recto e pâncreas, no entanto esta

forma de apresentação inicial é muito rara nestes tumores.53,59

Numa mulher com metástase de carcinoma nos gânglios da axila, deve-se suspeitar

de um cancro da mama em estadio II ou III.8,47 A tendência é fazer um estudo exaustivo para

detectar o tumor primário, no entanto, na maioria dos casos estes falham nessa detecção.

G. Pentheroudakis et al demonstraram que a mamografia detecta o local primário da

lesão em 20% dos casos e que a ressonância magnética mamária revela o primário em

cerca de 59% das doentes.39 Vários estudos mostraram que o cancro da mama não é

encontrado mesmo após a mastectomia em aproximadamente 1/3 dos casos.53,80-82

A mamografia e a ecografia mamária estão recomendadas na investigação destas

neoplasias,8 bem como a ressonância magnética nos casos em que estes exames são

negativos.1,39-42 A PET-CT tem sido usada com sucesso na investigação destes casos, no

entanto a sua utilidade não está totalmente comprovada.31,83

A doente tinha realizado 2 meses antes da detecção da adenopatia axilar uma

mamografia e ecografia mamária de rastreio, que eram normais. Como estudo inicial

realizou-se uma CBA da adenopatia, tendo sido diagnosticado carcinoma. Com este

diagnóstico histológico está recomendado rever as imagens das mamografias e/ou

ecografias mamárias prévias.40 A doente foi submetida a nova mamografia e ecografia

mamária bilateral que revelaram área de distorção no estroma do QSE da mama esquerda,

e conforme as recomendações foi submetida a core biópsia, cujo resultado foi negativo para

neoplasia.39,40

Após mamografia e ecografia mamária com biópsia das áreas suspeitas negativas, a

doente foi submetida a ressonância magnética mamária bilateral que foi normal. A TAC

toraco-abdomino-pélvica realizada para completar o estadiamento revelou nódulos

pulmonares de significado inespecífico, o maior com 6 mm de diâmetro. Com a hipótese de

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

27

podermos estar perante um cancro pulmonar primário ou metastático, foi realizada a PET-

CT, que embora não esteja validada para a detecção ou estadiamento ganglionar dos

cancros da mama,31,83 neste caso revelou-se útil ao confirmar apenas o envolvimento axilar.

Os marcadores imuno-histoquímicos são úteis para diferenciar o carcinoma da mama

metastático do adenocarcinoma de outras localizações. Os resultados positivos para os RE

e RP na biópsia do gânglio axilar são sugestivos de cancro da mama, sendo a positividade

para as citoqueratinas AE1/AE3 característica das células epiteliais e o resultado negativo

do marcador HMB-45 diminui a hipótese de se tratar de um melanoma.32

Kaufmann et al.84 estudaram a diferenciação do cancro da mama metastático de

outros adenocarcinomas metastáticos através da IHQ. Segundo estes investigadores a

sensibilidade e a especificidade da expressão dos RE no carcinoma da mama em

comparação com todos os outros carcinomas foram de 64% e 95% respectivamente, com

menores valores encontrados para a expressão dos RP. Também mostram que a expressão

da proteína GCDFP-15 tem uma sensibilidade de 98% e uma especificidade de 96%, tendo

a combinação dos receptores GCDFP-15 e RE ou RP uma sensibilidade de 83% e uma

especificidade de 93% no carcinoma da mama. Han et al85 mostraram que a expressão do

gene da mamaglobina é um importante marcador de cancro da mama metastático com uma

sensibilidade de 84% e uma especificidade de 85%.

A pesquisa dos RE/RP é positiva em 40-50% dos casos dos CPD com esta

apresentação, no entanto RE/RP negativos não excluem o diagnóstico de cancro da mama,

podendo também ser expressos por outros tumores, tais como o cólon, ovário, endométrio,

rim, melanoma e tumores écrinos.53 A expressão de RE/RP está associada a um melhor

prognóstico, podendo os doentes beneficiar de hormonoterapia.

A expressão da HER-2 é positiva em 30% dos cancros com esta apresentação,39

embora não permita a identificação do primário, uma vez que além do cancro da mama,

muitos outros podem expressar esta proteína, tais como os cancros do pulmão, ovário,

cólon, estômago.54 A super-expressão desta proteína tem implicações terapêuticas e

prognósticas, uma vez que estes tumores estão associados a uma maior agressividade, e

podem responder ao tratamento com o anticorpo monoclonal trastuzumab.54,86,87

O tratamento do carcinoma de primário desconhecido com metástases axilares

permanece controverso. Tradicionalmente o tratamento de escolha era a mastectomia

radical ou modificada.59

Segundo G. Pentherodakis et al (2010), é consensual a dissecção ganglionar axilar

de nível I ou II como componente essencial do tratamento, permitindo um estadiamento

mais correcto, melhor prognóstico bem como controlo local da doença. Após a dissecção

ganglionar, a irradiação da mama pode ser uma alternativa à mastectomia, resultando numa

taxa de recorrência loco-regional de 15-25%.39 A mastectomia é a única modalidade que faz

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

28

uma extirpação cirúrgica inequívoca da doença no caso de primário oculto, obtém tecido

adicional para estudo, tem uma taxa de recorrência loco-regional de 4-15% e evita a

necessidade de estudos radiológicos adicionais para seguimento da mama tratada.39

Foroudi et al (2000)88 referiram uma taxa de recorrência local de 100% nas doentes

com CPD axilar que apenas fizeram a exérese dos gânglios atingidos, de 30% nas doentes

tratadas com esvaziamento axilar seguida de RT da mama e de 0% no grupo tratado com

esvaziamento axilar e mastectomia. No entanto, em estudos subsequentes, Vlastos et al

(2001)60, Medina-Franco et all (2002)61 e Shannon et al (2002)62 demonstraram não haver

diferenças estatísticas significativas na recorrência loco-regional e na sobrevivência nas

doentes tratadas com mastectomia versus as tratadas com radioterapia da axila e mama

ipsilateral após o esvaziamento axilar.

Permanece controversa a escolha do tratamento a efectuar na mama ipsilateral após

o esvaziamento axilar, podendo efectuar-se a mastectomia ipsilateral para as doentes que

aceitem esta cirurgia mutilante ou apenas RT da mama ipsilateral.39

Em vista da falta de evidência para qualquer diferença biológica ou de prognóstico do

carcinoma de primário desconhecido da axila em relação ao cancro da mama com gânglios

positivos, estes doentes devem receber terapêutica sistémica adjuvante de acordo com as

indicações para este último. Apesar da falta de estudos do uso da quimioterapia

neoadjuvante nestes doentes, no caso de massas ganglionares axilares fixas (N2) a

administração de QT neoadjuvante seguida do esvaziamento ganglionar é uma opção

válida.8,39

Neste caso a doente foi submetida a QT sistémica com 6 ciclos de CEF

(Ciclofosfamida, Epirrubicina e Fluorouracilo), seguida de hormonoterapia com um inibidor

da aromatase de 3ª geração – letrozol.

A opção de hormonoterapia adjuvante com letrozol foi ditada pelo facto da doente ter

antecedentes de trombose venosa periférica, ter ficado amenorreica com a quimioterapia, os

estudos hormonais revelarem estado de menopausa e durante a quimioterapia ter feito

episódio de trombose profunda do membro inferior.

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

29

11. CONCLUSÃO

O cancro de primário desconhecido é relativamente comum e representa cerca de

3% a 5% de todos os cancros diagnosticados. A sua apresentação é variada, reflectindo as

diferentes origens histológicas e a história natural pouco usual destes tumores. Em parte por

estas razões, os padrões de seguimento definidos para estes doentes podem não ser

indicativos da grande variedade de apresentações e o viés de selecção nos ensaios clínicos

é um problema significativo. Têm sido identificados subgrupos de doentes com melhor

prognóstico baseado na apresentação clínica, mas não há acordo universal e a sua inclusão

em ensaios clínicos pode alterar os resultados destes. O número de doentes com verdadeiro

CPD parece estar a diminuir à medida que os meios de imagem e avaliação patológica

melhoram, permitindo identificar o tumor primário.

De certo modo, o tratamento dos doentes com CPD tem evoluído para a identificação

de subgrupos onde escolhemos o melhor tratamento baseado na origem mais provável do

primário. Os “subgrupos favoráveis” frequentemente reportados são todos favoráveis porque

a apresentação é muito sugestiva de um possível tumor primário com um tratamento

específico (ex. mulheres com adenopatias axilares respondem bem aos regimes para o

cancro da mama, doentes com tumores escamosos do pescoço respondem bem ao

tratamento usado no cancro de células escamosas da cabeça e pescoço, etc.).

Na era moderna temos novas maneiras de identificar subgrupos de doentes com

uma origem “mais provável”. À medida que mais subgrupos são descritos usando perfis

imuno-histoquímicos, moleculares ou citogenéticos, menos doentes serão tratados com

regimes empíricos de largo espectro que têm dominado a literatura até à data.

O subgrupo de CPD de mau prognóstico permanece um grande desafio para

médicos e doentes. Muitos regimes têm mostrado ter algum valor, tendo permanecido o

Paclitaxel/Carboplatina/Etoposídeo como regime comummente usado na prática clínica,

contudo, estudos recentes mostram que os regimes duplos de Paclitaxel/Carboplatina ou

Gemcitabina/Irinotecan podem ser uma alternativa com menos efeitos laterais. As novas

terapêuticas dirigidas têm mostrado benefício em doentes com tumores primários

específicos, bem como em doentes com CPD. Se o uso destes agentes dirigidos deve ser

empírico, ou baseado na presença de biomarcadores específicos não é claro, mas a sua

incorporação em ensaios de CPD adequadamente estratificados é importante.

O caso clínico relatado reflecte uma doente com um CPD que se apresenta com

metástases axilares isoladas. A investigação das mamas revelou distorção do estroma no

QSE da mama esquerda mas a core biópsia guiada não revelou células neoplásicas. A

ressonância magnética mamária foi negativa. Os estudos de estadiamento revelaram

micronódulo de 6 mm no pulmão direito de significado indeterminado o que levou à

Cancro de primário desconhecido, a propósito de um caso clínico

30

realização de PET-CT que apenas hiperfixou em gânglios da axila esquerda, apoiando a

hipótese de CPD da axila esquerda. Este caso pertencente a um subgrupo de CPD com

prognóstico favorável. A doente foi tratada como carcinoma da mama no estádio II com a

opção de esvaziamento ganglionar sem mastectomia seguida de radioterapia das cadeias

ganglionares e mama finalizando com boost de radioterapia à mama. Fez quimioterapia e

hormonoterapia adjuvante dado ter receptores hormonais positivos. A opção de

hormonoterapia adjuvante com letrozol foi ditada pelos antecedentes de trombose venosa

periférica, da doente ter ficado amenorreica com a quimioterapia, os estudos hormonais

revelarem estado de menopausa e durante a quimioterapia ter feito novo episódio de

trombose venosa do membro inferior.

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AAggrraaddeecciimmeennttooss

A todos os profissionais do Serviço de Oncologia do Hospital de Santo António-CHP,

em particular ao Sr. Prof. Dr. Franklim Marques, pela disponibilidade, empenho e

dedicação prestada, que foi imprescindível para a concretização desta dissertação,

bem como pela valorização da minha formação médica nestes últimos dois anos do

mestrado integrado em medicina.

O autor, Telmo Santos