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Existe Relação Entre a Candidíase Oral e a AIDS? A complicação médica mais importante na cavidade oral de um paciente HIV-positivo é representada pela candidíase oral. Apesar de ser possível comprovar lesões provocadas pela infecção por Candida na cavidade oral de até 75% dos pacientes aidéticos, somente a candidíase esofágica pertence ao grupo das infeções oportunistas que são consideradas pelo CDC como altamente sugestivas de AIDS. A Candida albicans representa, no paciente imunodeprimido, uma grave ameaça de seu estado geral; a extensão da candidíase oral para regiões mais profundas do trato gastrintestinal pode ter conseqüências desastrosas. Neste fato fundamenta-se a urgência de seu tratamento, mesmo que ela permaneça restrita à cavidade oral. A infecção oral por Candida tem função marcadora no indivíduo HIV-positivo em relação ao desenvolvimento da AIDS. Assim, 59% dos pacientes com linfadenopatia generalizada e candidíase oral adoeceram no espaço de três meses com uma infecção oportunista que levou ao diagnóstico de AIDS ou apresentaram um malignoma característico. Etiologia. Os germes que causam a candidíase ocorrem em todo o mundo, seja no solo ou em plantas vivas ou mortas, podendo ser comprovados na saliva de 30-60% de indivíduos sadios. A célula fúngica, como célula vegetal, é capaz de multiplicar-se de duas formas diferentes: através do crescimento de hífens e através de brotamento. A determinação da forma de aparecimento tem, como acima preconizado, importância diagnóstica. Candida albicans pertence ao grupo de fungos Blastomyces já que na maioria das vezes ocorre na forma de blasto-leveduras.

Candidíase Oral

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Existe Relação Entre a Candidíase Oral e a AIDS?

A complicação médica mais importante na cavidade oral de um paciente HIV-positivo é representada pela candidíase oral.

Apesar de ser possível comprovar lesões provocadas pela infecção por Candida na cavidade oral de até 75% dos pacientes aidéticos, somente a candidíase esofágica pertence ao grupo das infeções oportunistas que são consideradas pelo CDC como altamente sugestivas de AIDS.

A Candida albicans representa, no paciente imunodeprimido, uma grave ameaça de seu estado geral; a extensão da candidíase oral para regiões mais profundas do trato gastrintestinal pode ter conseqüências desastrosas.

Neste fato fundamenta-se a urgência de seu tratamento, mesmo que ela permaneça restrita à cavidade oral.

A infecção oral por Candida tem função marcadora no indivíduo HIV-positivo em relação ao desenvolvimento da AIDS. Assim, 59% dos pacientes com linfadenopatia generalizada e candidíase oral adoeceram no espaço de três meses com uma infecção oportunista que levou ao diagnóstico de AIDS ou apresentaram um malignoma característico.

Etiologia. Os germes que causam a candidíase ocorrem em todo o mundo, seja no solo ou em plantas vivas ou mortas, podendo ser comprovados na saliva de 30-60% de indivíduos sadios.

A célula fúngica, como célula vegetal, é capaz de multiplicar-se de duas formas diferentes: através do crescimento de hífens e através de brotamento. A determinação da forma de aparecimento tem, como acima preconizado, importância diagnóstica. Candida albicans pertence ao grupo de fungos Blastomyces já que na maioria das vezes ocorre na forma de blasto-leveduras.

A multiplicação do germe por brotamento, tal qual um fermento que cresce, caracteriza-se pela existência de células filhas que se desligam da célula matriz por garroteamento. A multiplicação na forma de crescimento de hífens, em contrapartida, representa uma verdadeira divisão celular.

Após o crescimento celular em comprimento, formam-se dois núcleos celulares através de divisão nuclear e, com a formação de paredes longitudinais, formam-se finalmente células-filhas. As formações filiformes resultantes disso são chamadas de micelos. Na forma de micelos, os germes da Candida são capazes de invadir a pele ou mucosas.

Um grande número de hífens num preparado microscópico indica a presença de um processo patológico ativo.

Mais de 75% das doenças são provocadas por espécies de Candida albicans. Outras

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espécies (C. tropicais, C. stellatoidea, entre outras) são de pouca importância médica.

Formas. A candidíase oral ocorre em diversas formas clínicas. Como na literatura existe uma certa confusão relativa à delimitação dos tipos isolados e sua diferenciação mais fina, citaremos aqui somente as quatro formas mais freqüentes.

Com base no quadro clínico podemos diferenciar entre a candidíase pseudomembranosa, a atrófica, a crônica hiperplástica e a queilite angular.

Clínica. Candidíase pseudomembranosa. Manifesta-se clinicamente como placas amarelo-esbranquiçadas sobre mucosa inalterada ou avermelhada.

Estas placas são removíveis, ou seja, podem ser retiradas esfregando-se com gaze, algodão ou instrumentos rombos. Permanece uma superfície mucosa normal, avermelhada em maior ou menor grau ou até mesmo sangrante. A capacidade de remoção representa um importante critério de diagnóstico diferencial.

A candidíase pseudomembranosa acomete preferencialmente o palato duro e mole, a mucosa facial e labial, assim como o dorso da língua podendo também ser encontrada na orofaringe e em outras superfícies mucosas. Em geral, a doença não provoca queixas. Infecções de longa duração podem tornar a boca seca, viscosa e uma sensação de pêlos na boca.

Formas de evolução mais trave podem levar a erosões dolorosas ou ulcerações.

Candidíase atrófica. É a forma mais encontrada freqüentemente. A lesão vermelha ou avermelhada aparece com mais freqüência no dorso da língua e no palato duro e mole.

No dorso da língua leva à atrofia das papilas filiformes, que clinicamente aparecem na forma de uma zona mais ou menos avermelhada junto ao meio da língua (anteriormente denominada de glossite rombóide mediana).

Um quadro clínico semelhante é apresentado pela candidíase atrófica ou eritematosa no palato, que também é mais freqüentemente observada na região mediana.

Outras lesões observáveis são pequenos pontos vermelhos na mucosa bucal que delimita a gengiva fixa. Este quadro clínico da candidíase atrófica até hoje somente foi descrito no paciente HIV-soropositivo. Na maioria dos casos, o processo patológico evolui sem provocar queixas. Eventualmente, os pacientes reclamam de dores em queimação sobre a mucosa, que piora quando da ingesta de alimentos quentes ou ácidos.

Candidíase hiperplástica. Esta forma, também denominada de leucoplaquia por Candida, caracteriza-se principalmente pela presença de placas brancas, espessas, não removíveis, situadas sobre a mucosa das bochechas. Este tipo de lesão raramente é encontrado na Europa e nos Estados Unidos.

Queilite angular. A queilite angular (Perlèche) manifesta-se uni ou bilateralmente nos

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cantos da boca. Em pacientes idosos, estas lesões podem ser devidas à anemia, perda da dimensão vertical ou diversas infecções.

Porém, quando aparecem em uma pessoa jovem, de aspecto sadio, devemos levar em consideração um esclarecimento diagnóstico visando um exame global do sistema imunológico.

A queilite angular impressiona na forma de fissuras que aparecem nos cantos de uma boca ressecada no limite entre a mucosa e a epiderme, associando-se às dores típicas de lesões cutâneas.

Diagnóstico. A candidíase é diagnosticada através da combinação do quadro clínico e achados microscópicos positivos.

O esfregaço é obtido através de amostras do local clinicamente infectado e contrastado com corantes à base de anilina (por exemplo, azul de metileno) ou pelo método Gram; pode ainda ser tratado com hidróxido de potássio a 10% para lise das células epiteliais, sendo então examinado ao microscópio buscando hífens de Candida.

Caso a análise microscópica não seja suficiente, é possível cultivar germes da Candida> em meios de cultura seletivos simples (Sabouraud-Agar). Como o fungo também pode fazer parte da flora bucal normal, os achados microscópicos e os achado positivos de culturas não devem ser interpretados como absolutamente patológicos.

Somente o aparecimento maciço de hífens no esfregaço ou um número excessivo de colônias presente na cultura são indicativos de uma candidíase manifesta.

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