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    O candombl de caboclo em So Paulo

    Reginaldo PrandiArmando Vallado

    Andr Ricardo de SouzaPatrcia Ricardo de Souza

    USP

    Trabalho apresentado no simpsio de pesquisa conjunta PQ01 "As 'outras' religies a!robrasileiras"#$%%% &ornadas sobre Alternatias (eligiosas na Am)rica *atina

    S+o Paulo, -- a -. de setembro de 1//

    "Ainda tem caboclo debaixo da samambaia"

    caboclo ) a entidade espiritual presente em todas as religies a!robrasileiras, sejam elasorgani2adas em torno de ori34s, oduns ou inquices# Pode n+o estar presente num ou noutro

    terreiro dedicado aos deuses a!ricanos, mas isto ) e3ce5+o# Seu culto perpassa as modalidades

    tradicionais a!robrasileiras 6 candombl), 3ang7, catimb, tambor de mina, batuque e outras

    menos conhecidas 6, constitui o cerne de um culto praticamente aut7nomo, o candombl) de

    caboclo, e de!ine estruturalmente a !orma mais recente e mais propagada de religi+o a!ro

    brasileira, a umbanda#1

    A origem dos candombl)s de caboclo estaria no ritual de antigos negros de origem banto, quena 8!rica distante cultuaam os inquices 6 diindades a!ricanas presas 9 terra, cuja mobilidade

    geogr4!ica n+o !a2 sentido 6 e que no :rasil iramse !or5ados a encontrar um outro antepassado

    para substituir o inquice que n+o os acompanhou 9 noa terra# ;este noo e distante pa, do Terreiro de ?andombl) Santa :4rbara, Pai @oda :raga, do %l> A3)ssaim @ar>, e Pai Tau4, do candombl) %n2o ;Bisi =ussambu, por sua preciosa colabora5+o na pesquisa#

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    antepassado cultuar sen+o o

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    Moje, na di!erencia5+o com outras na5es de candombl), como queto, jeje, ije34, e!+, angola

    e congo, !alase numa na5+o caboclo-, mas raramente podese encontrar um candombl) de caboclo

    !uncionando independentemente de um candombl) das outras na5es# Hmbora muito associado ao

    candombl) angola, o rito caboclo j4 come5aa, 9 )poca da isita de *andes 9 :ahia, a ser

    incorporado tamb)m a candombl)s de na5+o queto#

    ;a disputa por legitimidade e prestapareceu em 1//., com a publica5+o do liro dono da terra, tese de mestrado de!endida na

    USP pelo antroplogo baiano &oc)lio Teles dos Santos# A dissimula5+o e mesmo a nega5+o do

    culto aos caboclos nos terreiros marcados pela ortodo3ia nag7, entretanto, mant)mse at) hoje,

    sendo comum a acusa5+o de que em tal ou qual terreiro queto que n+o tem caboclo, a m+edesanto ou outra pessoa de prest

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    Moje o candombl) n+o ) mais uma religi+o )tnica circunscrita 9 popula5+o negra, pois j4 se

    espalhou pela sociedade branca abrangente, rompendo preconceitos e !ronteiras geogr4!icas,

    inclusie para !ora do Pam sido protagonistas decisios, a!inal

    seu culto !oi mantido e est4 presente hoje em quase todos os terreiros de candombl), sejam eles de

    rito angola, queto ou e!+#

    Caboclo em terreiro de candombl

    candombl) de caboclo atualmente ) praticado paralelamente ao culto de diindades

    a!ricanas, estando associado aos terreiros de inquices, ori34s e odunsI#Tudo se passa como se

    houesse duas atiidades religiosas independentes, podendo mesmo se obserar separa5+o dos

    espa5os !s, os tocadores de atabaque, e outros sacerdotes#

    Hnquanto o candombl) dos deuses e3ige um comple3o e demorado processo de inicia5+o, no

    candombl) de caboclo n+o h4 propriamente algo correspondente 9 "!eitura de santo"# ;oi5os

    passam a !reqGentar os toques, podendo receber o encantado sem nenhuma prepara5+o preliminar

    baseada em longo per

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    !ilhos que recebem caboclo e participam atiamente do candombl) de caboclo, mas que nunca s+o

    iniciados para a diindade a!ricana, comportandose ritualmente nos toques de ori34s como

    simples abi+s, iniciantes# Tamb)m n+o participam das cerim7nias sacri!iciais aos ori34s, reseradas

    aos !ilhos de ori34 "!eitos"# Hm muitos terreiros, contudo, primeiro obserase a inicia5+o do !ilho

    desanto para o ori34, ocorrendo depois, geralmente na obriga5+o de um ano, a "chamada" do

    caboclo, que ent+o incorpora no noo !ilho, podendo ser bati2ado ou n+o em cerim7nia descrita

    mais adiante#

    @i!erente da umbanda, o caboclo do candombl) recebe sacri!

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    caboclas com os respectios ori34s, notando como os nomes dos caboclos tendem a !a2er

    re!er>ncia a atributos do ori34J

    Ogum ?aboclo do Sol, Pena A2ul, Riramundo, Serra A2ul, Serra ;egra, Sete *a5os,Trilheiro de $i2ala, Sete *)guas, (ompe =ato, *a5o de Prata

    Oxssi =ata $irgem, Pena $erde, &urema, ArrancaToco, Sete lechas, Urubatam

    Ossaim &unco $erde, :oiadeiro das =atas, loresta, Ruarani

    Omolu Rirassol, Tupinamb4, apangueiro, ?amba

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    paidesanto pode jogar# Parecem um tanto distantes, portanto# &4 os caboclos di2em o que sentem

    sem nenhuma media5+o# A rela5+o com o cliente ) direta, !ace a !ace#

    A l, L anos, che!e do terreiro angola que !oi o primeiro a se

    estabelecer em S+o Paulo como terreiro de candombl), nos anos K0, di2J

    caboclo mensageiro dos ori!s. Ele tem que faer o que os ori!s mandam/consulta, eb0 da prosperidade, eb0 da b1n+o... % o ori! que determina, a& entoo caboclo pega o filho(de(santo para faer eb0.

    =+e =anod>, re!or5ando a id)ia da subordina5+o deles aos ori34s, a!irma a importNncia dos

    caboclos como mediadores na rela5+o dos clientes com os ori34s, di2endo que a!inal "eles sabem

    dar palestras", isto ), conersar com desenoltura com !i)is e clientes, coisa que ori34 n+o !a2#

    Hsta antiga m+edesanto baiana reiindica ainda para o candombl) angola a e3clusiidade dadeo5+o aos caboclosJ " candombl) queto n+o cultua caboclo# que e3iste hoje ) inen5+o

    dessa gente# ?aboclo sempre !oi de angola, sempre, desde a :ahia# @epois o queto copiou#"

    Moje em S+o Paulo di!icilmente o caboclo pode ser usado como diisor de 4guas entre as

    na5es de candombl) de origem banto e iorub4 ou nag7, embora todos reconhe5am que sua

    origem est4 inscrita nos antigos terreiros de candombl) angola e congo da :ahia, cujas e3presses

    maiores s+o os terreiros do :ate olha e o Tumba &un5ara, ambos em Salador, ambos

    centen4rios# caboclo est4 presente nos candombl)s de todas as na5es# ;+o ) cultuado emapenas uns poucos terreiros a!ricani2ados, embora haja terreiros a!ricani2ados com culto de

    caboclo# =esmo terreiros tribut4rios dos mais antigos terreiros queto da :ahia cultuam caboclo,

    ainda que o culto se resuma a uma Fnica !esta anual#

    L

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    )atismo de caboclo

    s ritos do candombl) de caboclo s+o bastante simples quando comparados com as

    cerim7nias deidas a ori34s e demais diindades a!ricanas# ;a medida em que o caboclo ai sendo

    incorporado ao cotidiano dos candombl)s de ori34inquice, algumas cerim7nias tendem a ganharcomple3idade, 9s e2es nos moldes destes cultos# rito relatado a seguir, obserado em terreiro

    paulista de candombl) angolaqueto, ) bastante emblem4tico#

    V )poca esse terreiro reali2aa sesses semanais de consultas com caboclos, em que um

    pFblico de bai3a renda, na maior parte, acorria em busca de solu5es para toda sorte de

    problemas#

    ;esse terreiro, aps ser reali2ada a obriga5+o de um ano de inicia5+o para o ori34 do !ilho

    desanto, ) marcada a data em que o caboclo ) chamado a possuir o ia7, tornandose o caboclo

    mais uma das entidades de culto particular do !ilhodesanto, que al)m do ori34 principal, o dono

    de sua cabe5a, dee obriga5es ao junt Do segundo ori34E e ao H3u Dmensageiro do ori34

    principalE, ambos tamb)m assentados na obriga5+o de um ano#

    Preiamente a m+edesanto solicitou ao !ilhodesanto os seguintes itens necess4rios ao

    ritualJ um alguidar grande, uma quartinha de barro sem asas, um litro de a2eite de dend>, um litro

    de inho doce, um litro de mel, um quilo de sal, cebola, ns moscada, canela, crao, gengibre,

    uma pemba branca, elas brancas e coloridas, al)m de outros itens secund4rios# ?onsultando oor4culo do jogo de bF2ios, a m+edesanto !e2 er a ontade do caboclo, que solicitou como

    o!erenda tr>s galos, duas galinhas e um casal de codornas# Segundo a m+edesanto, tamb)m H3u

    respondeu no or4culo, indicando sua ontade de receber um galo em sacri!

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    guin), comigoningu)mpode, !umo, eucalipto, s+ogon5alinho, al)m de arruda e tapetede3al4,

    que eram cultiados no prprio terreiro# As !olhas seriam maceradas e seririam para laar o

    alguidar e a quartinha de barro do caboclo# interessante obserar que o !ilhodesanto n+o

    banhouse com essas eras, banhandose com o ab7 Din!us+o de eras que permanece num pote e

    que temporariamente ) renoadaE pertencente ao rito dos ori34s#

    A m+edesanto, acompanhada apenas do a3ogum Dsacerdote do candombl) de ori34

    respons4el pelo sacri!

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    :eto 9

    s gritos repetiramse muitas e2es at) que, num dado momento, o corpo do !ilhodesanto

    come5ou a tremular# Seus gestos daam a impress+o de estar passando por uma conuls+o, sendo

    amparado por uma equede Desp)cie de aia do ori34E e pela m+epequena# Hm seguida, todos

    ouiram um grito estridente, como se !ora o de um p4ssaro# Hra o caboclo que haia possu

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    @epois disso, o a3ogum, au3iliado por outro og+, imolou com uma !aca os galos, enquanto

    todos cantaamJ

    'arangolo batula sangueSangue na !oro ro8oasi sauere sangue na !oro ro

    Sangue na palangana com maleme tatetoSangue na palangana com maleme mameto

    Hm seguida !oi a e2 das galinhas, mas desta e2 com a cantigaJ

    Sangue mona sa que sa lacoro mo sangue o 3bis4

    casal de codornas !oi dado ao caboclo, que sacri!icou as aes mordendo o pesco5o e

    tomando do sangue que brotaa# ;esse momento era cantada a cantigaJ

    #atula batula sanSangue na !oro ro8oaci sauere sangue na !oro ro

    sangue das aes maiores !oi derramado dentro do alguidar e em seguida no pote de barro

    colocado ao lado deste, sendo me3ido com uma colher de pau pela m+epequena# A m+edesanto

    marcaa com o sangue das aes as t>mporas do !ilhodesanto "irado" no caboclo, que, a cada

    animal sacri!icado, emitia seu grito, seu il4, saudando a o!erenda recebida#

    As cabe5as e os p)s das aes !oram colocados num pequeno alguidar, que depois !oi

    en!eitado com as penas das mesmas#

    Terminado o sacri!

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    ?aboclo da *ua permaneceu "em terra" at) que as comidas estiessem co2idas# ?onersou

    com todos, bebeu cereja e s n+o dan5ou porque naquela dia n+o haia toque#

    Hm outra ocasi+o tiemos a oportunidade de >lo paramentado com um cocar !eito de penas

    de papagaio, estindo um bombacho em tecido estampado# Tra2ia um atacam Desp)cie de !ai3aE

    amarrado no tronco, terminando num la5o preso 9s costas# ;uma das m+os tra2ia uma lan5a de

    !erro e na outra, um galho de aroeira# ?antou e dan5ou ent+o 4gil, garboso e completamente

    integrado 9 comunidade do terreiro# &4 haia sido bati2ado e, con!orme nos !oi in!ormado, seu

    assentamento j4 haia sido "!irmado"#

    s sacri!m para serem

    homenageados, para dan5ar e conier com seus deotos e amigos, como ocorre com as !estas

    dos ori34s#

    Hm S+o Paulo os toques de caboclo podem ser semanais, quin2enais ou mensais# Hm alguns

    terreiros n+o t>m periodicidade, podendose tocar eentualmente# M4 pequenas aria5es de caso

    para caso, mas em geral eles t>m essa seqG>nciaJpad1Do!erenda de !aro!a com dend> para H3uE,

    !ir1Dcantos em lncia#s caboclos !umam charutos 6 !umar ) o atributo indncia 6 e bebem

    bebidas alcolicas Dcereja, inho e a bebida ritual juremaE, que costumam compartilhar com seus

    consulentes# Algumas equedes au3iliam nas consultas, seja tradu2indo algumas e3presses ou

    tomando notas# ;os toques as pessoas !ormam !ilas para a consulta e em algumas casas chegam

    at) a utili2ar senhas# grande a semelhan5a com uma sess+o de umbanda#

    1-

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    A >n!ase das consultas ) a cura dos males do corpo, chamando a aten5+o a quantidade de

    idosos entre os consulentes# Alguns tra2em elas, outros !lores ou algum outro arte!ato prescrito

    anteriormente pelo caboclo# !ato ) que todos depositam nele suas esperan5as e com ele mant)m

    rela5+o de cumplicidade# Problemas a!etios, da intimidade ou de ordem material s+o tamb)m

    abordados, mas secundariamente# Para essas questes parece haer duas alternatiasJ procurar

    entidades da umbanda como e3us, pombagiras e baianos ou recorrer ao or4culo do jogo de bF2ios,

    que ) prerrogatia do pai ou m+edesanto, sem intermedi4rios# Hsta Fltima op5+o ) sem dFida

    importante na estrat)gia dos terreiros de candombl), seja porque abre caminho para o ingresso de

    um noo aspirante, que deer4 apro!undar seus la5os tamb)m com os ori34s, seja porque gera

    renda, dado que o jogo de bF2ios ) inariaelmente pago# s caboclos podem sugerir ao

    consulente qual seria seu ori34, mas conidandoo a oltar outro dia e jogar bF2ios com a m+ede

    santo, a !im de obter a con!irma5+o sobre o seu "dono de cabe5a"#Ainda com rela5+o 9 distin5+o entre consulta espiritual com caboclo e jogo de bF2ios, ale

    apontar que o primeiro ) considerado subordinado ao segundo, cabendo ao jogo de bF2ios as

    decises consideradas mais s)rias e as con!irma5es# ?omo nos contou um paidesantoJ

    caboclo ensina banho, remdio, mas no desfa um malfeito, ele apenas alivia.Ele pode dier o que foi feito, mas no pode tirar. -sso s0 feito com eb0, depoisdo >ogo de bios.

    A comunica5+o com os caboclos nos toques atende portanto a pessoas que buscam respostas

    imediatas e acess

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    @i!erente dos toques, as !estas n+o s+o caracteri2adas pelo atendimento ao pFblico, mas sim

    pelas dan5as, brincadeiras e pela comida que ) distribum para "trabalhar", mas para ser homenageados#

    Segundo a !orma que mais se obsera, a !esta de caboclo ) iniciada com um toque aos

    inquices# =esmo os terreiros de tradi5+o iorub4 Dqueto e e!+E costumam reali2ar esta parte

    preliminar do culto com ritmos e cNnticos do candombl) angola, reconhecidamente a na5+o mais

    pr3ima dos caboclos, embora haja terreiros queto que tocam em queto quando os ori34s s+o

    homenageados nesta primeira parte da !esta de caboclo#

    Segundo o costume angola, tocase primeiro para Pambu ;jila:ombogiraAlui4 DH3uE,

    com uma o!erta de !aro!a e bebida ou 4gua, depois para os inquices masculinos, apro3imadamente

    nesta ordemJ (o3imucumbe%nc7ci, ?atend>, Romgobira=utacalamb7, ?a!un+?aungo,

    Angor7, Tempo, 42i, $Fngi# Seguemse os cNnticos para os inquices !emininos, =atamba

    :amburucema, @andalunda, ;2umba, ?ucuetu?ai4, encerrandose com a homenagem a *emb4 e

    ;2ambi#.

    ;a !esta ocorrida em K de setembro de 1// no terreiro de candombl) angola Sociedade

    :ene!icente ?aboclo Sete lechas, tamb)m conhecido como %n2o ;Bisi =ussambu, locali2ado em

    ?arapicuncia de cantigas aos inquices e antes do in

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    um elemento indispens4el na !esta de caboclo, podendo ser montada, com bambu e !olhas de

    coqueiro, no prprio barrac+o, quando o espa5o o permite, ou !ora dele# ;unca !altar4 a moranga,

    prato predileto do encantado, nem o pote de jurema, bebida !ermentada preparada com a casca do

    arbusto da jurema D6ithecolobium tortiE, deidamente tra2ida da :ahia, inho doce, mel, ns

    moscada, gengibre, crao e canela, ao que alguns terreiros adicionam sangue dos sacri!, e que em certas casas recebe o nome de menga#

    "Abrete campo !ormoso###" ?om este erso, de uma cantiga que !a2 alus+o ao local

    imagin4rio onde os seres encantados habitam, d4se in

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    "possu

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    A preced>ncia por tempo de inicia5+o tamb)m ) obserada no momento em que os caboclos

    retornam ao barrac+o e tamb)m no momento em que cada um saFda a casa e o pFblico presente

    com suas salas e cantos de chegada# Um por um, numa ordem que reela a importNncia do tempo

    de inicia5+o na composi5+o da hierarquia dos caboclos, come5ando pelo caboclo da m+e ou pai

    desanto, seguido dos mais elhos, cada caboclo postase na !rente dos atabaques, um joelho

    apoiado no ch+o, e canta as cantigas que lhe d+o identidade# caboclo re2a sua ora5+o e todos

    cantam com ele#

    @entre muitas cantigas do asto repertrio dos caboclos, poderemos escutarJ

    E boa noite meus senhores#oa noite minhas senhorasSou eu, Sete *lechas que cheguei aqui agora

    u aindaJ

    'ampestre ;erde, a meu Jesus 3bis48adalena e 8aria no p da cru 3bis4'om sete dias minha me me dei!ou 3bis48e dei!ou numa clareirasanha quem me criou 3bis4% um !eto 1, um !et2 a 3bis4#oiadeiro 7rilheiro veio aqui pr vos saudar 3bis4

    H assim +o cantando e dan5ando no ritmo !ren)tico dos atabaques#

    uese um misto de loua5es sobre as coisas e lugares do :rasil, sauda5es aos ori34s oualuses a &esus ?risto e santos catlicos, emergindo da< todo um sincretismo presente com certe2a

    nesse culto dos caboclos, os ditos senhores desta terra#

    ?omo e3emplo, citamos alguns cantigasJ

    E l em @oma tem uma igre>a 3bis4E dentro dela tem morador 3bis4$ tem um an>o de bra+os abertos 3bis4E esse an>o 5osso Senhor 3bis4

    Aqui nesta aldeiatem um caboclo que ele realEle no mora longemora aqui mesmo neste cau

    6isa caboclo aqui nesta aldeia8ostra o teu sangue que corre nas veias 3bis4

    'aboclo flecheiro, t s da na+o do #rasil

    1L

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    7u s da na+o do #rasil, meu caboclo'aboclo flecheiro

    8as ele vem pelo rio de 'ontas;em caminhando por aquela rua 3bis4lha que belea, seu $ua 5ovano claro da lua 3bis4

    'a+a, ca+a no 'anind'ura 1, cura 2'a+a, ca+a no 'anind6ena ;erde ca+ador

    A1 Ju+ara, dona Ju+ara eu vim te verA1 Ju+ara, dona Ju+ara como vai voc1

    6edrinha de um lado

    6edrinha do outro6edrinha l na mata uem pode mais =eus do cuJesus, 8aria e Jos

    6edrinha miudinha na aruanda 1$a>edo to grande7o grande na aruanda 1

    ;+o somente os og+s pu3am as cantigas, mas tamb)m os caboclos apreciam !a2>lo# =uitas

    e2es as cantigas tra2em um pouco da histria m 3bis4@ainha sereiaS2 'abocla do 8ar 3bis4

    S2 caboclo, s2 flecheiroSindara cuiS2 !ossi, s2 guerreiroSindara cuiEu venho l da mataSindara cuiS2 filho de -eman>

    Sindara cui

    ;erde e amarelo8ar do norte e sulS2 'abocla do 8arAndando no mar aul

    'aboclinho da mata virgemdas ondas do mar

    1

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    S2 filho da ;iala*ilho da sereia do mar

    Apesar da aparente desordem no barrac+o, os caboclos respeitamse entre si e se !a2em

    respeitar por todos os presentes# S+o criteriosos ao solicitar algo, mesmo que seja um charuto ou

    uma bebida, e !a2emno de modo jocoso, reelando contudo sempre um !ormalismo, cuja etiqueta!a2 parte das e3ig>ncias cotidianas do candombl)J

    B dona da casa6or =eus e 5ossa Senhora=(me o que beberSeno eu vou(me embora9

    Sem beber no fa+o sambaSem beber, no sei sambar

    Se por um lado e3iste o respeito mFtuo, por outro podese estabelecer entre eles a disputa

    pela melhor per!ormance nas dan5as, ou o chamado "sotaque", em que um chama o outro para

    uma esp)cie de desa!io de cantigas, duelo erbal t+o caro 9 cultura popular nordestina#

    @epois ) hora de dan5ar por sobre uma ara de madeira colocada no ch+o em !rente aos

    atabaques# s caboclos deem dan5ar pulando de um lado a outro da ara, como se estiessem

    embriagados, sem trope5ar ou moer o objeto no ch+o# ;este ato lFdico, a disputa ) sempre

    acirrada e muitas e2es cria uma erdadeira competi5+o na qual o caboclo do dono da casa deer4

    sempre sairse bem, sob pena de er posto em dFida seu poder m4gico# A!inal, as entidades do

    che!e da casa, quer se trate de ori34, inquice ou caboclo, s+o sempre consideradas as maispoderosas#

    Hntre outras cantigas podemos citarJ

    B piaba, pula por cima do pau2 piaba 3bis4

    #ate tambor solta a piaba'aboclo do >uncocaboclo da mata

    'aboclo na mata corta dend1dend1 de samba angol1

    A !esta ) uma pro!us+o de dan5as, em que um a um os caboclos +o !a2endo seu solo# s

    ritmos, muito pr3imos do samba da mFsica popular que deles se originou, s+o alegres e

    contagiantes# s encantados pu3am suas cantigas que s+o repetidas pelos alab>s, demais caboclos,

    adeptos e simpati2antes da plat)ia# umam charuto o tempo todo e bebem numa cuia um

    1/

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    preparado !ermentado, quando n+o inho, cereja ou outra bebida alcolica# s alab>s tocam os

    tr>s atabaques, sempre percutidos com as m+os, em ritmos caractera =eus, ora meu =eusCra+as a =eus, ora meu =eus dia em que $a>e Crande nasceuora meu =eus.

    caboclo da dona da casa agradece a todos pela presen5a# Seguido pelos outros caboclos,

    abra5a cada um dos presente, e !inalmente canta sua despedidaJ

    Eu > vou, > vouEu > vou pr l meu pai me chama,eu sou filho obedienteEu no posso mais ficar

    ;oamente a !ila dos caboclos ) precedida por ele e dan5ando, um a um, cumprimentam a

    porta do terreiro, o aria3) Dponto da !or5a sagrada do terreiroE, os atabaques, e encaminhamse

    para o ronc onde s+o despachados# Antes saFdam os presentes com os abra5os caracters e2es#

    Vs e2es a sas,

    que insistem em querer !icarJ

    Eu estava indo deste arraialEu > ia embora deste arraial@esolvi, no vou mais

    -0

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    Todos aplaudem e apoiam a decis+o do caboclo, mas j4 ) hora da !esta terminar e sempre

    alguma autoridade do terreiro mostrar4 ao caboclo que seu tempo acabou#

    Aos poucos os !ilhos "desirados" +o oltando ao barrac+o# Todos est+o cansados, caalos e

    og+s# Apesar dos semblantes e3austos de cada um dos presentes, todos demonstram

    contentamento# =uitas palaras de alento tamb)m !oram escutadas dos caboclos# A !esta n+o !oi

    somente canto e dan5a# s caboclos estieram na terra tamb)m para tra2er mensagens, tale2 dos

    prprios ori34s, ensinaram beberagens para 4rios males, assim como deram conselhos a muitos,

    estabelecendo um la5o de con!ian5a para que se perpetue a sua imagem de pai e protetor# =as

    sobretudo dan5aram, porque ) dia de !esta, n+o de trabalho# M4 um clima geral de alegria e um

    sentimento compartilhado de miss+o cumprida# Agora amos comer#

    Uma !esta termina com comida !arta# Arro2, !aro!a, carnes, saladas s+o pratos pre!erenciais# H

    muita !ruta, pois n+o h4 !esta de caboclo sem uma pro!us+o de !rutas de todas as esp)ciesJ jaca,

    melancia, mel+o, laranja, tangerina, abaca3i, mam+o, abacate, banana, !rutadoconde, caju,

    carambola, ma5+ e at) quium caboclo, com e3ce5+o, eidentemente, dos n+o rodantes og+s e equedes# Alguns

    caboclos !oram tra2idos diretamente da umbanda, a religi+o anterior de parte dos adeptos# ;a

    passagem da umbanda ao candombl), contudo, transcorre certo tempo antes que o caboclo olte a

    se mani!estar# Somente aps ter o !ilhodesanto aprendido as noas posturas, !ormas de dan5ar e

    se e3pressar caracter

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    duas ertentes# A!inal, os adeptos das religies a!robrasileiras em S+o Paulo conheceram primeiro

    a umbanda e seus personagens pooam seu imagin4rio# Para o paulista, o candombl) dos ori34s )

    de certa !orma uma e3peri>ncia cultural recente e sua compreens+o ainda ) mais di!

    ;a passagem da umbanda ao candombl), os terreiros rede!iniram 4rios elementos rituais e

    simblicos, inclusie no Nmbito do sincretismo catlico, mas n+o dei3aram de lado o culto ao

    caboclo# encontro do culto de caboclo do antigo candombl) com o Bardecismo gerou no

    passado a umbanda# Atualmente, o caboclo constitui, num outro moimento, um trun!o do noo

    candombl) para aan5ar sobre o espa5o umbandista# ?omo se a !or5a renoada do "dono da terra"estiesse atuando nos moimentos que t>m marcado a histria das religies a!robrasileiras,

    histria que n+o estaria por certo conclu

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    # SA;TS, &oc)lio Teles# dono da terra# Salador, Sarah *etras, 1//.#

    (eginaldo Prandipro!essor titular de Sociologia da USP

    emailJ rprandiYusp#br

    Armando $alladomestrando em Sociologia na USP

    emailJ alladoYusp#br

    Andr) (icardo de Sou2abolsista de inicia5+o cient

    emailJ andsou2aYusp#br

    PatremailJ patricB[Yusp#br

    -I