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Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA Centro de Ciências Humanas-CCH Revista Homem, Espaço e Tempo Setembro de 2008 ISSN 1982-3800 39 OS CANGACEIROS NA LITERATURA BRASILEIRA Alexandre Alves da Silva 1 Alênio Carlos Noronha de Alencar 2 RESUMO O banditismo social é um dos fatores mais estudados recentemente entre as várias correntes historiográficas, em especial, ao ocorrido no Nordeste do Brasil no início do Século XX. Neste sentido, a literatura brasileira seguiu um caminho paralelo entre o fato histórico e o mundo fictício, dando aos personagens um toque de realidade por mesclar o ambiente natural, a pesquisa histórica e a criatividade dos autores. Palavras-Chave: Banditismo Social, Literatura Brasileira, Nordeste do Brasil. ABSTRACT Social banditry is one of the factors more studied recently between some historiographyc chains, in special, to the north-eastern occurrence of Brazil at the beginning of 20 th Century. In this direction, Brazilian literature followed a parallel way between the historical fact and the fictitious world, giving to the personages a touch of reality to mix the natural environment, the historical research and the creativity of the authors. Word-Key: Social, Brazilian Literature, Northeast banditry of Brazil. Perceber e discutir os fatores que levaram os camponeses do sertão semi-árido nordestino ao mundo do banditismo social e às suas decorrências, sem delimitar a vida particular deste ou daquele agente da violência, nem a atmosfera sangrenta ao redor duma natureza inóspita, da empresa capitalista e do colonialismo neste país, bem como, da pecuária e das pressões sócio-ambientais formam os pontos de partidas para o entendimento geral sobre o cangaceirismo. Não há como entender a força dos oligarcas e suas relações políticas com os Estados e com o país se não for por estas mesmas pressões que lançaram homens e mulheres pobres para os guetos do litoral (comunidades carentes nos manguezais ou em favelas) ou para o crime nos sertões. No que tange ao cangaço, os coronéis talvez sejam a ligação entre o camponês e o voto ou entre a marcha do retirante com sua bagagem na mão e o cangaceiro com a mão no rifle. 1 Especialista em Teoria e Metodologia da História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA. 2 Professor Orientador. Curso de História da Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA.

Cangaceiros

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    OS CANGACEIROS NA LITERATURA BRASILEIRA

    Alexandre Alves da Silva1

    Alnio Carlos Noronha de Alencar2

    RESUMO

    O banditismo social um dos fatores mais estudados recentemente entre as vrias correntes historiogrficas, em especial, ao ocorrido no Nordeste do Brasil no incio do Sculo XX. Neste sentido, a literatura brasileira seguiu um caminho paralelo entre o fato histrico e o mundo fictcio, dando aos personagens um toque de realidade por mesclar o ambiente natural, a pesquisa histrica e a criatividade dos autores.

    Palavras-Chave: Banditismo Social, Literatura Brasileira, Nordeste do Brasil.

    ABSTRACT

    Social banditry is one of the factors more studied recently between some historiographyc chains, in special, to the north-eastern occurrence of Brazil at the beginning of 20th

    Century. In this direction, Brazilian literature followed a parallel way between the historical fact and the fictitious world, giving to the personages a touch of reality to mix the natural environment, the historical research and the creativity of the authors.

    Word-Key: Social, Brazilian Literature, Northeast banditry of Brazil.

    Perceber e discutir os fatores que levaram os camponeses do serto semi-rido

    nordestino ao mundo do banditismo social e s suas decorrncias, sem delimitar a vida

    particular deste ou daquele agente da violncia, nem a atmosfera sangrenta ao redor duma

    natureza inspita, da empresa capitalista e do colonialismo neste pas, bem como, da

    pecuria e das presses scio-ambientais formam os pontos de partidas para o

    entendimento geral sobre o cangaceirismo.

    No h como entender a fora dos oligarcas e suas relaes polticas com os

    Estados e com o pas se no for por estas mesmas presses que lanaram homens e

    mulheres pobres para os guetos do litoral (comunidades carentes nos manguezais ou em

    favelas) ou para o crime nos sertes. No que tange ao cangao, os coronis talvez sejam a

    ligao entre o campons e o voto ou entre a marcha do retirante com sua bagagem na mo

    e o cangaceiro com a mo no rifle.

    1 Especialista em Teoria e Metodologia da Histria pela Universidade Estadual Vale do Acara/UVA.2 Professor Orientador. Curso de Histria da Universidade Estadual Vale do Acara-UVA.

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    Os grandes fazendeiros do serto tm muitas parcelas da culpa de tantas vidas

    eliminadas violentamente. A ao violenta da polcia, as mulheres como vtimas em

    potencial ou como cangaceira, o envolvimento poltico neste cenrio de fortes intrigas, as

    tristezas e as belezas do serto no vero e no inverno, a paisagem sertaneja retratada

    como forte influncia neste meio, inclusive, servindo de base para a cultura popular. A

    resistncia indgena, a fauna nativa como inimiga por ser predadora do gado, tudo

    incitando os homens desde jovem ao manejo com as armas. O serto era um territrio

    sangrento.

    Adotando-se a corrente da Histria Social e a historiografia sobre o cangao,

    como fonte ou referncia bibliogrfica, os livros da literatura brasileira se tornaram as vias

    de pesquisa a ser enveredadas. Pois, propiciam-nos uma desconstruo de antigos

    parmetros de anlises etnocentristas e a interdisciplinaridade formando a interao ao

    entendimento do contexto social, espacial e temporal, como tambm, das singularidades e

    nuances do serto. Para tanto, Buscamos nos desvencilhar de retricas e resgatar o passado

    dos vencidos pelas estradas da historiografia e de suas contradies.

    Uma preocupao nossa a de ressaltar que o serto estudado o de quase um

    sculo atrs, portanto, uma outra realidade sertaneja bem diferente, em vrios aspectos, aos

    dias atuais. Tambm, no se trata este artigo de um estudo sobre Lampio ou de um outro

    cangaceiro, mas, de situaes comuns aos camponeses que entraram ao cangao ou de

    pessoas que permearam a atmosfera da violncia em suas vrias modalidades (e sem

    fatalismos).

    Alguns fatores so indispensveis para o entendimento do tema, como por

    exemplo, o cdigo moral que os cercaram, as intempries da natureza ou as mais diversas

    formas de disputa territorial no serto que se tornaram uma dificuldade a mais no caminho

    do povoamento sertanejo e da empresa capitalista, em poca colonial.

    Indo-se da criao do gado que forneceu ao homem a civilizao do couro

    esboada por tantos autores, ao desaguar do cangao como um fenmeno do banditismo

    social no Nordeste, tpico das caatingas e que tem seu surgimento ligado ao setor pecurio

    das zonas semi-ridas da mesma regio onde tal banditismo se deu.

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    Indissocivel da poltica coronelista, permeado por uma poderosa atmosfera de

    violncia, sacudiu a poeira dos sertes nordestinos em tantos combates, bailes, em

    caminhadas e mortes.

    Cangaceiros, alis, eram muito cruis com suas vtimas, deixando em suas

    memrias e nas das suas mesmas vtimas um florilgio de estupros, castraes,

    queimaduras, mutilaes e outras formas de humilhaes, diferentemente dos cangaceiros

    de outrora.

    Mas, por que mesmo com tamanha violncia eles no foram esquecidos?

    Talvez porque mesmo sob o espectro da violncia e sob o estigma do

    banditismo eles representaram a rebeldia sertaneja contra o mandonismo do coronel; talvez

    seja pelo fato de, no incio, terem respeitado o cdigo moral sertanejo e no terem ofendido

    tantas famlias; talvez seja porqu mesmo com tantos crimes eles tenham representado o

    grito dos excludos daqueles tempos; talvez pela prpria seduo de uma vida aventureira.

    Porm, h uma certeza: os cangaceiros e o cangao no foram esquecidos por serem uma

    das mais profundas manifestaes do povo, por serem integrados pelo povo, por terem se

    tornados mitos em si, por serem a continuao da obra engendradora de cultura popular em

    seu habitat interiorano, por isso mesmo, a essncia mais legtima de nossa histria, pois,

    est desagregado de padres de alm-mar e repleta de cores.

    Precisamos considerar que o cangao pode ser considerado um fenmeno

    universal pela historiografia marxista em Hobsbawm; que pode ser considerado um

    fenmeno brasileiro pela histria social (corrente historiogrfica adotada por ns); e, um

    fenmeno regional pela micro-histria, pela histria regional, e que talvez, perpasse pela

    histria das mentalidades se optarmos pelo regionalismo.

    Assim, os cangaceiros eram camponeses como muitos outros do semi-rido e se

    o cangao aconteceu em pocas remotas por estas regies do Nordeste do Brasil, pode ser

    que dadas s condies, ele ressurja com outros nveis e outras roupagens, mas, com a

    velha forma e um novo toque de banditismo social.

    A literatura brasileira rende homenagens e vises variadas sobre o cangao,

    diferentes autores dedicaram numerosas pginas de suas obras temtica do

    cangaceirismo, aqui so abordados alguns momentos importantes, tais como, por exemplo:

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    Empunhou o pedao da faca, nica arma que lhe restava do terrvel cangao de outrora

    [...]3.

    Esse trecho acima, demonstra o fim do cangaceiro Cabeleira, a forma simples

    de abordar um dos apetrechos do cangao, a faca do cangaceiro Faz de Franklin Tvora um

    dos grandes autores. Numa viso elementar, diramos que a faca acompanhou o menino

    sertanejo desde seu primeiro contato com o couro at a vida dentro do cangao, esta

    ferramenta do cotidiano referenciada por Tvora de uma maneira impar.

    Ainda podemos retratar aqui outro grande autor, Jorge Amado que nos aponta

    muitas singularidades da vida cangaceira, deixando-nos uma impresso de que o autor

    conhecia bem esse modus vivendi e que quis nos transportar atravs de suas linhas ao

    ambiente por ele retratado:

    Aqui, na caatinga, habitam os cangaceiros. Os soldados da vingana, os donos do serto. No tm paz nem descano, no tm quartel bivaques, no tm lar nem transporte. Sua casa seu quartel, sua cama e sua mesa so a caatinga, para eles bem-amada. Os soldados da polcia que os perseguem no se atrevem a penetrar por entre os arbustos de espinhos, os ps de xiquexiques e cos. Ao lado das serpentes e dos lagartos, vivem os cangaceiros na caatinga, e tambm eles, por vezes, liquidam no tiro das suas repeties os sertanejos que descem e que sobem na contnua migrao4.

    Jorge Amado parece ter conhecido muito bem a realidade dos sertes. Essa

    maneira de retratar a companhia constante da natureza no bioma caatinga junto ao elemento

    e sujeito histrico cangaceiro faz de seu estilo literrio quase que um relato histrico

    surpreendente em realidade; contrastando com o estilo do mesmo em retratar as coisas do

    recncavo baiano e no dos sertes da Bahia.

    To importante quanto o primeiro, Jos Lins do Rego tambm um dos cones

    literrios do cangao, sendo aqui apresentado no estudo de Antnio Carlos Villaa: [...] O

    Nordeste, no Brasil, uma espcie de velha Rssia, onde a alma do povo e a alma das

    coisas se congregam e se ajuntam numa concepo mstica bem acima das contingncias

    comuns5.

    3 Tvora, Franklin. O Cabeleira. Pg. 139. Coleo Os Clssicos. ABC Editora. Rio de Janeiro/So Paulo/Fortaleza, 2005.4 Amado, Jorge. Seara Vermelha. Pp. 43-44.(49 Edio) Editora Record. Rio de Janeiro, 1999.5 Rego, Jos Lins do. Cangaceiros: Romance. Pg. 18. (11 Edio) Jos Olympio Editora. Rio de Janeiro, 2004.

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    Acertadamente, Antnio Carlos Villaa no Romance Cangaceiros de Jos Lins

    do Rego nos traz uma sntese da sociedade sertaneja dos sertes nordestinos.

    Especialmente por dizer numa nova maneira que o antigo coronelismo imperial estava vivo

    nos tempos republicanos.

    Um outro grande autor que aborda o cangao, assim como, os j citados

    anteriormente, o escritor Ariano Suassuna, profundo conhecedor do tema, ele sempre

    bem sucedido quando apresenta-nos o toque de cangaceirismo na literatura:

    Filha de branco,Linda e clara como a lua!Eu vou pegar voc nua,Mas no pra casar! pra lascar,Que eu me chamo Ludugero!Eu nasci negro e s queroMoa branca pra estragar6.

    Indubitavelmente, os versos acima so inspirados no cangaceiro Lucas da

    Feira, tambm negro, assim como o fictcio Ludugero. Deve-se atentar a um fator sempre

    presente na sociedade dos tempos dos cangaceiros, o racismo. Ludugero em seus versos

    conota toda sua revolta num violento desabafo, onde o sofrimento causado pelas questes

    tnicas sero vingadas atravs de estupros contra as moas da oligarquia, Filha de

    branco, no dizer dele.

    Em outro momento, Ariano Suassuna tambm nos mostra a realidade de outro

    cangaceiro, Jesuno Brilhante:

    Jesuno j morreu!Morreu o Rei do Serto!Morreu no campo da honra,No entregou-se priso,Por causa de uma desfeitaQue fizeram a seu irmo7.

    Comparado a Robin Hood, Jesuno Brilhante de um tempo onde prevalecia o

    cangao de vingana, dentro do cdigo tico sertanejo, o vingador era bem visto pela

    sociedade do serto imperial.

    6 Suassuna, Ariano. Romance DA Pedra do Reino e o Prncipe do Sangue do Vai-E-Volta. Pp. 20-21. (2 Edio). Livraria Jos Olympio. Rio de Janeiro, 1972.7 Ibdem. Pg. 55.

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    Mais um autor que aborda a temtica do cangaceirismo Graciliano Ramos,

    este parece ter sido o menos imparcial de todos os autores da literatura brasileira, vejamos

    ento:

    Tratando-se de cangaceiros, o procedimento diverso: no podendo castig-los, porque so fortes, os proprietrios s vezes transigem com eles, coisa que nenhum poderia decentemente fazer com um ladro de cavalos. Essas transaes no so desonrosas, pois os salteadores inspiram medo, respeito, uma certa admirao que as cantigas dos violeiros cultivam. O ladro de cavalos o inimigo pequeno, que se pode oprimir. O cangaceiro o inimigo poderoso, que necessrio agradar. Paga-se-lhe, portanto, um razovel tributo e manda-se-lhe por intermedirio de confiana algum aviso til que o livre da polcia8.

    Atravs da viso deste autor, devemos atentar que aqui ele fala de categorias

    de bandidos, de volantes, de coronis e de coiteiros. Um profundo conhecedor

    contemporneo como Graciliano Ramos, realmente, soube retratar em suas pginas esse

    fenmeno social, o cangaceirismo. Entretanto, ele enfatiza a ligao coronel/cangaceiro de

    uma maneira a salientar o poder do primeiro tendo como base a violncia gerada pelo

    segundo, visto que, quem pagava ao cangaceiro geralmente eram os coronis.

    O autor continua a nos apresentar o mundo dos cangaceiros: Essa

    democratizao do cangao foi provavelmente determinada pelo aumento da populao

    numa terra demasiado pobre, que em alguns lugares chega a ter perto de cinqenta

    habitantes por quilmetros quadrados. A gente mal pode l viver [...]9.

    Graciliano Ramos denota toda a atmosfera e realidade dos sertes, tudo que

    est intimamente ligado ao cangao, inclusive, aos fatores sociais, a pobreza galopante que

    havia sido gerada devido s desigualdades sociais.

    De maneira peculiar, Joo Guimares Rosa descreve um personagem de seu

    livro Grande Serto: Veredas, que, mesmo estando no ambiente de Minas Gerais, sem

    dvida filho do cangao:

    [...] Era um Lus Paje com faca-punhal do mesmo nome, e ele sendo de serto do mesmo nome, das comarcas de Pernambuco. Sujeito despachado, moreno bem queimado, mas, de anelados cabelos, e com uma coragem terrivelmente. Ah, mas o que faltava, l nele que ele mais

    8 Ramos, Graciliano. Viventes das Alagoas: quadros e costumes do Nordeste. Pg. 125 (9 Edio). Editora Record. Rio de Janeiro/So Paulo, 1979.9 Ibdem. Pp. 127-128.

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    no tinha, era uma orelha, que rente cortada fora, pelo sinal. Onde era que o Lus Paje havia de ter deixado aquela orelha?10.

    Os autores Guimares Rosa e Graciliano Ramos evocam caractersticas,

    atitudes e modos dos cangaceiros e da vida no cangao, ambos, parecem no se limitar s

    suas obras, eles do seus pontos de vista ao leitor, com o peculiar estilo literrio dos

    mesmos. Embora se diga que Graciliano Ramos nos d a sensao de que no gostava

    muito dos cangaceiros, possvel notar isso ao modo como ele sempre se remete ao crime

    quando se remete ao cangao, deixando de fora outras pecualiaridades, da a razo de achar

    ele o menos imparcial autor em relao ao cangao na literatura brasileira.

    Serto do Paje, Estado de Pernambuco, territrio marcado por todos os

    elementos que envolveram e permearam o cangaceirismo, representado altura neste

    contexto por Guimares Rosa.

    Outro autor que utilizou a literatura para estudar o cangao foi o prprio

    Frederico Pernambucano de Mello, em seu Guerreiros do Sol, ele cita Marilourdes Ferraz,

    autora de O Canto da Acau: [...] Da que rapazes das melhores famlias. Sem motivo

    aparente, sumiam de seus lares e se uniram a grupos de bandidos, levado por excessiva

    imaginao a uma atividade em que julgavam encontrar herosmo e fama11.

    Indo-se recorrer historiografia pudemos verificar que tais linhas so

    verdadeiras, muitos jovens nos Estados onde ocorreram ataques de cangaceiros foram

    adentrando ao mundo do cangaceirismo, no mais dele podendo se retirar exceto no final

    da dcada de 1930 quando o governo disse que perdoaria tal prtica, pura mentira.

    No se pode esquecer a obra Memorial de Maria Moura12, da escritora Rachel

    de Queiroz. Ela trouxe em sua obra alguns detalhes bem cabveis ao cangaceirismo,

    vejamos ento:

    Se eu chegar na frente da casa, a descoberto, podem me receber com fuzilaria, pensando que sou um atacante. Se fico quieto, eles acabam me achando e me levam vivo. Vo querer descobrir o que eu vim fazer por aqui.13

    10 Rosa, Joo Guimares. Grande Serto: Veredas. Pg. 142. 33 impresso. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 1988.11 Marilourdes Ferraz. O Canto da Acau. Pg. 92 Apud Mello. Op. Cit. 117.12 Queiroz. Rachel. Memorial de Maria Moura. 18 Edio. Jos Olympio Editora. Rio de Janeiro, 2006.13 Queiroz. Op. Cit. Pg. 11.

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    Esse trecho nos leva a crer se tratar de uma emboscada, ttica muito comum ao

    ambiente do cangaceirismo. A preocupao do personagem fica evidenciada em seu

    cuidado de no se deixar ser percebido por seus inimigos.

    Da mesma forma, a autora citada, evidencia um detalhamento importante na

    questo de logstica dos homens armados do serto, o modo como tratavam suas armas de

    fogo, alis, este fator era uma constante em quase todos os agentes histricos dos tempos

    do cangaceirismo:

    - Jos tem um bacamarte, que foi da tropa, j sem prstimo [...] A o Jos levou a arma pro ferreiro velho, que remontou umas peas mais gastas, trocou outras e fez um ferrovo novo para a pederneira. Fez obra to importante que, hoje, quem no sabe da idade do bicho, pensa at que novo, sado da loja... Aquele ferreiro velho faz milagre com qualquer coisa. Basta ser de ferro.14

    Questes dessa natureza quando levadas ao estilo literrio de Rachel de

    Queiros, parecem ganhar ares poticos, a prpria maneira de se escrever ao modo antigo

    parece nos transportar para a oficina do velho ferreiro.

    A autora nos mostra em sua obra que sabia muito da vida sertaneja, em mais

    um momento, ela recria em palavras uma cena que bem poderia ter realmente acontecido:

    Botei a tiracolo o saco da munio; tinha ali o chumbo, e o polvorim grande de chifre, as pedras de isca e o artifcio de fazer fogo. Tudo herana de Pai. Peguei tambm a faca que era dele, uma Paje linda, com cabo de rodelas de osso e prata, na sua bainha bordada. Apertei bem as correias que atavam o papo-de-ema, me benzi, senti os olhos ardendo, aquele aperto horrvel no corao. Fui at o quarto, beijei o lugar onde ficava a santinha de me. Abri os braos, abracei e beijei as paredes da minha casa, me despedindo para sempre. Determinei aos rapazes que, assim que o fogo pegasse mesmo, fazendo labareda alta, eles aproveitassem o susto dos cabras do cerco e, fugissem tambm, pelo mesmo caminho nosso.15

    Elementos prprios para a sobrevivncia na caatinga, o cuidado com os

    detalhes do armamento, o suspense e a religiosidade e a introduo ao mundo da violncia

    de forma exuberante retratada pela autora, fatos ,alis, que no mundo real trariam muita

    tristeza, nas penas de Rachel de Queiroz se tornaram de grande beleza em estilo literrio.

    Da mesma forma, podemos ver outro momento que nos deixa a sensao de ter

    sido inspirado na realidade: Num pedao de papel amarelado, Duarte tinha escrito com

    14 Ibdem. Pg. 44.15 Ibdem. Pg. 68.

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    letra mida desigual. QUEM FAZ TRAIO PAGA16. H ainda alguns outros pequenos

    trechos na obra que chamam ateno pela sua forma, quase que verdica, de se identificar

    com o cangaceirismo: Impossvel. Loucura. Os homens vm a bem dizer num bando, com

    escolta poderosa de capanga, tudo at os dentes17. E ainda, a autora nos chama ateno a

    mais um fator, a obteno de armas: [...] Arma de fogo no se compra em mo de mascate

    nem em barraca de feira18.

    Dessa forma, as sutilezas do cangaceirismo so retratadas nas pginas da

    autora como elementos ricos em detalhes, emoes e com um forte tom de realidade que

    nos levam na imaginao aos tempos dos grandes cangaceiros do serto.

    Todos os fatores da literatura brasileira abordam o cangao e o mito em

    torno do cangao, ento, como separar o cangao do mito do cangao? Talvez essa

    separao esteja na forma de interpretao dada por cada pesquisador ou pessoa ao

    cangaceirismo, bem como, na maneira metodolgica-cientfica adotada ao tema, seja como

    for, ambos, banditismo social no semi-rido e o mito em torno do mesmo so de

    fundamental importncia para o entendimento da sociedade sertaneja e da histria do serto

    nordestino. Assim, unir o cangao ao mito em torno dele, parece ser mais propcio a este

    artigo do que, uma eventual separao, visto que, ambos se complementam na Histria e

    perpetuam a imagem do cangaceiro como importante personagem no cenrio histrico

    nacional.

    Da mesma forma, literatura de cordel e literatura brasileira se misturam e se

    unem no deixando a beleza artstica morrer, tanto que, em alguns momentos, alguns

    versos entram para o chamado domnio pblico, isto , criadas no anonimato e cadas no

    gosto popular, tal como, os versos abaixo, citados por Gustavo Barroso, sobre a vida do

    cangaceiro Antnio Silvino:

    Esses cangaceiros grandes,Que existem no serto,Em qualquer parte que me vmFalam de chapu na mo.E se precisam me falar,Perguntam antes de chegar- D licena, Capito19.

    16 Ibdem. Pg. 470.17 Ibdem. Pg. 484.18 Ibdem. Pg. 485.19 Barroso. Op. Cit. Pg. 139.

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    Nestes versos contemporneos de Antnio Silvino, o tigre dos sertes, assim

    chamado pelo poeta Asceno Ferreira, podemos ver o que se traduz no estilo de

    pabulagem do cangaceiro. H tambm a chamada pabulagem das volantes, na verdade

    se trata de um canto guerreiro:

    A volante foi pra caatingaSoltando lao de fitaDe Z Sereno eu quero CilaDe Lampio Maria Bonita20.

    Aqui acima, fica evidenciada mais uma das formas aparentemente ntimas

    entre as foras pblicas conhecidas como volantes e os cangaceiros, at na hora da pilhria

    eram idnticos.

    Obviamente que em se tratando de literatura brasileira, fontes como o

    cordel, os versos dos repentistas, as rezas dos beatos e muitos outros elementos serviram de

    base para muitos autores.

    Ariano Suassuna, Rachel de Queiroz e Guimares Rosa, entre tantos outros,

    foram autores que no deixaram de se valer da cultura popular. Pois, o cangaceirismo tem

    em muitas de suas implicaes e razes os elementos surgidos em meio ao povo

    genuinamente brasileiro.

    No se pode deixar de levar em considerao detalhes importantes, como

    por exemplo, o Catolicismo popular que permeia o cangao e nem o candobl e alguns ritos

    indgenas que formaram a religiosidade nos sertes nordestinos.

    O Nordeste miscigenado, e isso proporcionou grande acervo cultural, grandes

    manifestaes folclricas e tradies que fundaram o cdigo tico sertanejo baseado sem

    dvida em questes de honra, machismo e patriarcalismo, bem como, de compadrio e de

    fortes intrigas em questes territoriais.

    Em meio a tudo isso, o povo... O cangaceiro.

    A paisagem interiorana quase deserta daquele serto de antigamente fez da

    trajetria da colonizao do mesmo, em longa e sangrenta saga dos homens sequiosos de

    20 Arajo, Antnio Amaury Corra de. Assim Morreu Lampio. Pg. 35. Editora Braslia/Rio. Rio de Janeiro/ Braslia, 1976.

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    suas tradies remanescentes de alm-mar em plena caatinga, uma real aventura firmada

    num cdigo de honra.

    Cdigo este estruturado nas famlias patriarcais da sociedade rural do semi-

    rido, legitimado e intensificado em nome da lei ausente no serto. Tal lei cedeu lugar s

    arbitrariedades dos poderosos em relao aos humildes camponeses do semi-rido.

    Anti-heri, heri, bandido ou fora de reao, o cangaceiro mediante sua

    autodefesa e seus crimes ser transformado pela memria coletiva em um misto de

    justiamento, resistncia, ousadia, temor e coragem, nunca antes experimentados em

    tamanha intensidade no habitat sertanejo.

    Do status do coronel, do bruto trato policial, do latifndio e da politicagem, da

    mentalidade bacharelesca, da f e da fortuna, aos mesmos resultava uma forte reao: olho

    na mira, dedo no gatilho e defunto cado ao cho.

    Violncia na hostilidade da natureza, na atitude de resistncia dos indgenas, nas

    ameaas dos predadores ao gado; no manejo do gado e seus subprodutos, em especial, o

    couro que, apologeticamente, deu-nos uma civilizao de cavaleiros encourados; a agresso

    do homem para com sua companheira; a bruteza do metal rasgando a carne de bichos ou de

    homens; a tristeza de se ver um Jesus flagelado na cruz ou no flagelo de tantos naquelas

    secas; ningum estava imune ao clima tenso da violncia.

    Sertanejo, gente de f num serto miscigenado, ao menos, nas camadas mais

    pobres. Brasileiros que uniam a f na cruz dos brancos e no corpo fechado por mandingas

    de negros ou pajelanas indgenas. Povo que muitas vezes viu o diabo nos trajes das

    volantes ou dos cangaceiros, que teve de tomar partido entre um e outro, sendo

    foradamente vetada a sua imparcialidade perante ambos ou ainda perante um ou outro

    coronel.

    Serto semi-rido, lugar intolerante para qualquer prisma ou tipo de traio,

    onde a honra valia mais, viu muitos de suas filhas ou filhos serem destrudos por males

    frutos da traio, nem Silvino, Lampio ou Corisco escaparam dela.

    Nas capitais litorneas ecoavam suas lutas epopicas, revistas, rdios, jornais...

    Desde o Imprio, a subsistncia no serto mais ensolarado do Brasil forjou Almas de

    Lama e de Ao no dizer de Gustavo Barroso.

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    O cangao foi um fenmeno do banditismo social no Nordeste, tpico das

    caatingas e que tem seu surgimento ligado ao setor pecurio das zonas semi-ridas da

    mesma regio onde tal banditismo se deu.

    Indissocivel da poltica coronelista, permeado por uma poderosa atmosfera de

    violncia, sacudiu a poeira dos sertes nordestinos em tantos combates, bailes, em

    caminhadas e mortes.

    Sob o calor do sol a pino e na lida da enxada, o brasileiro campons dessas

    trridas plagas, secas paragens e espinhosas e rachadas paisagens, buscou sobreviver

    dignamente, contudo, a cobia no permitiu um clima de justia social, pelo contrrio, a

    ganncia por parte dos mais ricos engendrou a base de uma relao entre coronel e o

    campons pobre calcado na violncia daquele para com este, salvo nos casos de compadrio

    que, alis, era uma forma de violncia disfarada em submisso que tolhia a liberdade dos

    mais pobres, inclusive, nas eleies.

    Em evidncia estavam o progresso econmico e a nova infra-estrutura, era a

    civilizao que chegava, porm, igualdade no se via. Os oligarcas iam estudar em grandes

    centros, mas, no alteravam a realidade espoliativa dos grandes homens em relao aos

    pequenos; o serto seguia quase esttico em sua ordem social e imutvel em muitos de seus

    costumes.

    Serto de fome, feiras e estaes de trens; telgrafos e telefones; de vidas que

    rastejam, andam, correm, voam ou nadam; vidas que devoram ou so devoradas; dos

    retirantes, de prostbulos a beira da estrada, de brigas de famlias e contos de Ris; credos,

    igrejas, beatos e missionrios; viajantes. Semi-rido, cenrio do sol avermelhado e do cho

    rachado, onde tanto sangue fora derramado; neste mundo sertanejo retratado por muitos,

    como sendo, sseo, magruo, espinescido, clido e seu paradoxal inverno; em meio a tudo,

    eis que brota a cultura popular!

    E paralelo cultura popular est a literatura brasileira!

    Todo esse conjunto de fatores ser primordial para se elaborarem contos com

    alto rigor de beleza, dramaticidade, criatividade e personagens que permeiam todos os

    costumes e tradies sertanejas. Indo-se desde o menino de recados ao velho armeiro, do

    prprio cangaceiro aos cabars e choupanas, dos versos e das violas, da luta de Deus com o

    Diabo, da moa recatada e rica aos retirantes mais esfomeados.

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    A literatura tem uma liberdade de criao muito grande, seja para forjar

    momentos que beiram a realidade ou momentos s possveis na imaginao do leitor, no

    caso especial da literatura brasileira, nosso modo de escrever j comea diferente por ser

    diferente o modo como escrevemos em relao aos dos lusitanos. Nossos estilos e nossos

    autores apresentam uma caracterstica comum a todos eles: a preocupao em retratar o

    homem e a terra.

    Dizem que regionalismo quando a terra suplanta o homem num livro, mas, no

    caso do cangao, tem-se visto que no necessariamente desta maneira. O que acontece

    um paralelismo entre o homem e o ambiente semi-rido formando uma dupla que se

    mesclam, indicando num as caractersticas do outro, em outras palavras, o serto duro de

    se viver e difcil de se morrer assim so os homens do cangao na literatura, tm vidas

    duras e so levados a constantes desafios de vida ou morte.

    Em muitos momentos essa marca literria do cangao foi sendo confundida com

    o regionalismo por se tratar sempre da Regio Nordeste, palco do cangaceirismo. Mas, no

    h como ser diferente, visto que foi nesta regio onde quase tudo em torno do cangao

    aconteceu.

    O cancioneiro popular, o cinema, as imagens das fotos, as recordaes contadas

    por geraes e os mitos so apenas alguns dos elementos que inspiraram muitos autores. J

    outros, a exemplo de Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz, parecem ter tido um contato

    ao menos com o cdigo tico sertanejo, pois, os detalhamentos dados por eles em suas

    obras so de riqussimos entrelaamentos com a realidade, tanto que, parecem nos levar ao

    mundo descrito em suas pginas.

    Ao lermos Guimares Rosa, ficamos impressionados ao pensar como um autor

    to distante do cenrio das caatingas pde trazer em riqueza de detalhes um personagem

    to bem interado com o cangaceirismo como Lus Paje. Certo que boa parte dos sertes

    mineiros teve a presena de boiadeiros e vaqueiros nordestinos, mas, d um toque de

    realismo convincente ao personagem que no se faz tarefa das mais fceis.

    Ariano Suassuna criou o seu Ludugero baseando-se no cangaceiro Lucas da

    Feira. Sempre apontado como um dos criadores do Movimento Armorial de Literatura do

    Recife. O citado autor muitas vezes fora criticado por trazer ao serto de tantas fomes,

    personagens quase que medievais e pertencentes nobreza, mas, com o Ludugero foi bem

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    diferente, ele d as caractersticas de seu personagem se baseando numa pessoa que marcou

    a Histria de Feira de Santana na Bahia, o citado cangaceiro.

    Com os demais autores abordados aqui, a preocupao em trazer o elemento

    fictcio ao mundo da realidade, faz-nos muito parecer com o papel da Histria Social que

    busca trazer a histria dos vencidos, a fala deles e suas diferentes maneiras de ver o fato

    histrico.

    A literatura brasileira e a Histria, e vice-versa. Sempre se enriqueceram na

    medida em que se complementam e so misturadas, formam pontos congruentes e, s

    vezes, concntricos que do, simultaneamente, novos elementos de pesquisa para ambas,

    assim, aumentam-se as possibilidades de enriquecimento literrio e historiogrfico, bem

    como, abre-se o leque para novos temas em torno do cangaceirismo.

    Igualmente, quando uma serve de ponto de partida para a outra.

    Temos a seguir uma tabela criada pelo especialista em Teoria e Metodologia da

    Histria, pela Universidade Estadual Vale do Acara, Alexandre Alves da Silva que

    poderia d subsdios para qualquer escritor ou historiador que quisessem fazer um romance

    histrico sobre o cangaceirismo:

    Lampio Antes do CangaoNome Virgulino (Virgolino) Ferreira da Silva (07/07/1898 28/07/1938).

    Pai Jos Ferreira da Silva AlmocreveMe Maria Lopes

    Apelido Recebeu este apelido por seu rifle noite fazer um efeito aceso, aps disparado,luminoso igual ao brilho de um lampio, da o apelido de Lampio.

    Criao Por sua me e por sua av D. Jacosa A mulher rendeira.Estatura Acima de 1,80m(dado impreciso)Irmos Antnio, Livino, Virtuosa, Joo, Anglica, Maria (mocinha), Ezequiel, Anlia.

    Religio Catlica Apostlica Romana(foi crismado)Educao ABC e tabuada, referia-se a um de seus professores Nenu Meu Mestre.

    Gostava de ler as biografias de Napoleo, Carlos Magno e os Contos dos Doze Pares de Frana, alm disso, a vida de Cristo.

    Lazer Viola, sanfona de oito baixos, poesia popular, danarino muito bom.Trabalho Transportar gua nos ombros; cuidou de chiqueiros e criaes de animais;

    cultivou roados; cuidou do gado. Trabalhou nas feiras do Paje; foi almocreve.Amores Santina e Maria Bonita

    Sexo A primeira vez foi aos 14 anos com uma prostituta de nome Penha.Eleitor Votou em 1915, 1916 e 1919.

    Fonte: Silva. Alexandre Alves da. Brasil Cangaceiro! Brasileiros no Sereno de Balas: (1920-1940). Pg. 72. Monografia apresentada Universidade Estadual Vale do Acara UVA, 2008.

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    Temos a elementos que dariam suporte criao de um Virgolino bem

    diferente da imagem lampinica que estamos acostumados a ver em filmes ou mesmo em

    literatura brasileira.

    Reparem que o jovem est bem relacionado com a sociedade da poca, bem

    como, apresenta um bom grau de sociabilidade.

    Eis uma maneira de como a Histria pode ajudar a criao literria, a literatura

    brasileira um campo onde o real e o maravilhoso se encontram em nossa gente.

    FONTES

    ARAJO, Antnio Amaury Corra de. Assim Morreu Lampio. Editora Braslia/Rio. Rio de Janeiro/ Braslia, 1976.

    CASTELLO. Jos Aderaldo. A Literatura Brasileira: Origens e Unidade. 1 Edio e 1 Reimpresso. Vol. I; Edusp. So Paulo, 2004.

    MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do Sol: Violncia e Banditismo no Nordeste do Brasil. A Girafa Editora. So Paulo, 2004.

    SILVA. Alexandre Alves da. Brasil Cangaceiro! Brasileiros no Sereno de Balas: (1920-1940). Monografia apresentada Universidade Estadual Vale do Acara UVA, como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Teoria e Metodologia da Histria. Orientador: Prof. Ms. Alnio Carlos Noronha de Alencar. Sobral, 2008.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    AMADO, Jorge. Seara Vermelha (Romance)49Edio. Editora Record. Rio de Janeiro, 1999.

    CUNHA, Euclides da. Os Sertes: Campanha de Canudos. Srie Bom Livro. Editora tica. 2 Edio e 6 Reimpresso. So Paulo, 2004.

    QUEIROZ. Rachel. Memorial de Maria Moura. 18 Edio. Jos Olympio Editora. Rio de Janeiro, 2006.

    RAMOS, Graciliano. Viventes das Alagoas: quadros e costumes do Nordeste. 9 Edio. Editora Record. Rio de Janeiro/So Paulo, 1979.

    ROSA, Joo Guimares. Grande Serto: Veredas. 33 Impresso. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 1988.

    REGO, Jos Lins do. Cangaceiros: Romance. 11 Edio. Jos Olympio Editora. Rio de Janeiro, 2004.

    SUASSUNA, Ariano. Romance DA Pedra do Reino e o Prncipe do Sangue do Vai-E-Volta. 2 Edio. Livraria Jos Olympio. Rio de Janeiro, 1972.

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    TVORA, Franklin. O Cabeleira. Coleo Os Clssicos. ABC Editora. Rio-So Paulo-Fortaleza, 2005.