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Cantiga de João Soares de Paiva

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Page 1: Cantiga de João Soares de Paiva

Cantiga de João Soares de Paiva

João Soares de PaivaRubrica:

 

Esta cantiga é de maldizer e feze-a Joam Soárez de Pávia a 'l-reiDom Sancho de Navarra porque lhi troub'host'em sa terra e nom lhi deu el-rei ende dereito.

  Ora faz host'o senhor de Navarra,  pois em Proenç'est el-rei d'Aragom;  nom lh'ham medo de pico nem de marra  Tarraçona, pero vezinhos som,

5 nem ham medo de lhis poer boçom  e riir-s'-am muit'em dura edarra;

      mais se Deus traj'o senhor de Monçon,bem mi cuid'eu que a cunca lhis varra.

    Se lh'o bom rei varrê'la escudela

    10 que de Pamplona oístes nomear,    mal ficará aquest'outr'em Todela,

que al nom há [a] que olhos alçar:ca verrá i o bom rei sejornar

  e destruir atá burgo d'Estela,15 e veredes Navarros lazerar

e o senhor que os todos caudela.  

  Quand'el-rei sal de Todela, estrẽaele sa host'e tod'o seu poder;

  bem sofrem i de trabalh'e de pẽa,  20 ca vam a furt'e tornam-s'em correr;

guarda-s'el-rei, com'é de bom saber,que o nom filhe luz em terra alhẽa,e onde sal, i s'ar torn'a jazerao jantar ou se nom aa cẽa.

Nota geral:Esta cantiga, que é certamente uma das mais antigas que os cancioneiros nos transmitiram, pelo menos a mais antiga que pode ser datada, alude a um contexto histórico preciso: as lutas travadas entre o rei D. Sancho VII de Navarra e os reis de Aragão e de Castela, depois da derrota de Alarcos em 1195. Tendo em conta este contexto, a composição deverá ter sido composta, pois, nos anos finais do século XII, talvez por volta de 1196.Como referem a cantiga e a rubrica, o rei de Navarra, a partir da sua praça-forte de Tudela, aproveitaria a ausência do rei de Aragão (que poderá ser Afonso II ou Pedro II) na Provença para lhe invadir e devastar as terras, o que para o trovador português, senhor de algumas propriedades na região de fronteira entre os dois reinos, era uma atitude cobarde. Será a uma dessas saídas da hoste navarra, num percurso que terá incluído a passagem hostil pelas terras de João Soares, que a rubrica alude (mas não a cantiga, que coloca a questão em termos gerais). Em ambos os manuscritos, a cantiga vem precedida da conhecida rubrica geral: Aqui se começom as cantigas d´escarnh´e de maldizer, vestígio da programada divisão tripartida de géneros que organizava os Cancioneiros.