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Cap 3 (Page 2) - Bemposta vegetais aquaticas... · Em resposta à variabilidade dos facto-res ecológicos e bióticos, sªo vÆrias as ... ecossistemas tenha uma grande ampli-tude

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3.3

Introdução

No Capítulo 2 desta publicação foramapresentadas as espécies que com-põem as comunidades vegetais aquáti-cas e ribeirinhas e anotadas algumasdas suas funções.

Em resposta à variabilidade dos facto-res ecológicos e bióticos, são várias ascomunidades vegetais que se podemestabelecer, em Portugal, nos sistemasaquáticos e zonas envolventes. Pre-tende-se, neste capítulo, caracterizá--las do ponto de vista florístico e eco-lógico, bem como analisar a sua distri-buição.

Algumas considerações sobre o estadode conservação e medidas legais deprotecção são, sumariamente, apre-sentadas, já que este aspecto é abor-dado, com mais detalhe, no Capítulo 6.

Fundamentalmente por ser com fre-quência adoptada em Programas daUnião Europeia - relembre-se a Direc-tiva Habitats - utiliza-se, neste capítulo,a fitossociologia, método de estudo davegetação desenvolvido pela Escola deZürich-Montpellier, apesar da sua apa-rente complexidade.

De facto, a Fitossociologia, não obs-tante a falta de unanimidade que a suaaplicação suscita na comunidade cien-tífica, continua a ser um importante ins-trumento para o estudo das comunida-des vegetais, tanto a nível nacionalcomo internacional. A ampla divulgaçãoe aplicação desta ciência na Europa e,particularmente, em Espanha, pelassemelhanças de tipos de vegetação,reforçam o seu interesse.

Assim, pareceu útil, para o leitor menosiniciado na Fitossociologia, apresentar,ainda que sumariamente, os seus prin-cipais conceitos e aspectos nomencla-turais, bem como relembrar alguns

esforços efectuados por diversos auto-res para uma classificação fitogeográ-fica do continente português, paramelhor enquadramento dos aspectosdas comunidades vegetais ribeirinhasque se pretendem desenvolver.

Quanto à vegetação aquática, sensustricto, tem-se encontrado maior difi-culdade na aplicação da Fitossociolo-gia, por certa instabilidade desta vege-tação, dependente da grande variabili-dade das condições físico-químicas daságuas, pelo que alguns autores adoptamuma abordagem de carácter limnoló-gico. Todavia, procurou-se resumir osconhecimentos portugueses sobre ascomunidades vegetais aquáticas naóptica da fitossociologia.

A preservação e recuperação da vege-tação aquática e ribeirinha devem sercontempladas, não apenas pelo seuvalor botânico intrínseco, mas tambémpelas suas mais valias ecológicas,nomeadamente fornecimento de abrigoe corredores de movimentação à faunatetrápode associada, capacidade deestabilização dos leitos e margens, con-tribuição para a melhoria da qualidadeda água através do seu papel filtradorde poluentes e nutrientes, fonte dematéria orgânica alimentar para ascomunidades aquáticas animais e pro-moção da diversidade habitacionalintrafluvial.

Conceitos de Fitossociologia

Não enveredando pelos aspectos meto-dológicos em que a fitossociologiaassenta, importa lembrar, com base, porexemplo, em Géhu & Rivas-Martínez(1981) e Espírito-Santo et al. (1999),alguns dos conceitos básicos.

A Fitossociologia baseia-se no pressu-posto de ser possível identificar grupos

Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

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de espécies � comunidades vegetais �que se repetem no espaço. A estascomunidades, que constituem as uni-dades base da fitossociologia, dá-se onome de associações. Cada associaçãoé caracterizada por um conjunto própriode espécies, uma ecologia determinadae uma área de distribuição definida.

As associações agrupam-se de formahierarquizada, em unidades superiores- subalianças, alianças, ordens, sub-classes e classes -. Cada grupo (sin-taxa) é denominado de acordo com a(s)espécie(s) mais típica(s) e apresentauma terminação própria: associação �etum -, subaliança � enioni -, aliança �ion - , ordem - etalia -, subclasse - enea- e classe - etea -.

Outro importante conceito em fitossocio-logia é o de sucessão, que correspondeao conjunto de associações que, nummesmo local, se sucedem no tempo emresultado dos fenómenos dinâmicosentre a vegetação e o meio. Se as alte-rações se dão no sentido de uma maiordiversidade, estruturação e complexi-dade de funcionamento fala-se emsucessão progressiva; quando as modi-ficações se dão em sentido inverso está-se em presença de uma sucessãoregressiva; estas últimas resultam, ge-ralmente, da acção de factores externos,tais como as actividades humanas, em-bora possam ser devidas a causas natu-rais, como sejam cataclismos.

O conjunto de associações que se subs-tituem no tempo em função dos fenó-menos de sucessão é designado porsérie ou sigmetum e inclui a comunidaderepresentativa da etapa madura da vege-tação (cabeça de série), que dá nome àsérie, e as comunidades de substitui-ção.

Os fitossociologistas consideram que avegetação evolui de comunidades sim-ples a complexas, tendendo para um

estádio final semiestável nas condiçõesecológicas (solo e clima) locais quedenominam comunidade climácica,comunidade potencial ou climáx. A vege-tação potencial, termo frequentementeusado, é aplicado, assim, à vegetaçãoque, em cada local, corresponde aoestádio de desenvolvimento mais ma-duro. Anote-se que estes conceitos sãocontestados por alguns sectores dacomunidade científica, que não aceitameste "determinismo da sucessão", ouseja a existência de um estádio climá-cico da vegetação.

Refiram-se, ainda, a vegetação actual,que corresponde à que ocorre actual-mente num dado local, podendo encon-trar-se em estádios mais ou menos afas-tados da vegetação potencial, e a vege-tação primitiva ou prístina, que respeitaà vegetação que terá existido antes daintervenção do homem. A vegetação pri-mitiva não será, frequentemente, igual àvegetação potencial, já que, em conse-quência das acções antrópicas, ascaracterísticas do meio serão, certa-mente, diferentes.

O clima, ao constituir um dos factoresmais marcantes na diferenciação docoberto vegetal, está na base da exis-tência, a uma escala regional, de sériesclimatófilas. No entanto, especificidadesa nível edáfico podem sobrepor-se aoefeito do clima, falando-se, neste caso,em séries edafófilas ou geosséries, emque se incluem as séries edafo-higrófi-las ou geosséries ripícolas, correspon-dendo a um conjunto de associações dediferentes séries dispostas ao longo deum gradiente de humidade edáficacomo, por exemplo, o que se forma nasmargens de cursos ou outras massasde água.

O número e tipo de séries (representa-das pelas respectivas associações) emcada geossérie ripícola e a sua dispo-sição no perfil transversal dependem

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

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das características morfológicas locais(por exemplo, a largura dos leitos maiore menor) e, evidentemente, do regimehidrológico; quanto mais complexa for amorfologia, mais diversificados serãoos habitats e, consequentemente, maioro número de séries e respectivas asso-ciações vegetais presentes.

Honrado & Aguiar (2001) propõem umarevisão de alguns dos conceitos, con-siderando as comunidades associadasàs margens das linhas de água como"complexos de vegetação ripícola". Deacordo com esta interpretação, o con-ceito de geossérie ripícola limita-se aomicrogeosigmetum de plantas helofíti-cas que se desenvolve no leito do rio,enquanto que os bosques ripícolas sãoincluídos nas séries climatófilas. Aindade acordo com estes autores, a vege-tação aquática, dominada por hidrófi-tos, não deve ser incluída no "complexode vegetação ripícola".

A fitossociologia tem sido aplicada, comsucesso, no planeamento e ordena-mento territoriais. Ao postular qual é avegetação potencial de uma zona pos-sibilita a avaliação do estado de con-servação do coberto vegetal actual e odelineamento de acções de recupera-ção.

Refira-se, ainda, que o conhecimentodas comunidades, incluindo os factoresambientais subjacentes, e do seu dina-mismo pode ser utilizado na previsão dosimpactos resultantes de intervençõesantrópicas.

Factores condicionantes davegetação aquática eribeirinha

Julgou-se útil resumir alguns dos fac-tores ambientais que condicionam a dis-tribuição da vegetação aquática e ribei-

rinha, elemento preponderante nos sis-temas fluviais, lacunares e palustres. Este conhecimento é fundamental nãosó para a interpretação desta compo-nente, mas também, numa perspectivade planeamento e gestão, para a deli-neação de programas de reabilitação desistemas degradados.

Embora a vegetação que se instala nossistemas dulçaquícolas se encontre, fun-damentalmente, dependente das carac-terísticas hidrológicas, verifica-se al-guma variação com as zonas climáticasem que aqueles se integram.

Um dos elementos climáticos que maisafectam a distribuição das espécies e,consequentemente, das comunidadesvegetais, é a precipitação, já que deladepende o carácter permanente vs tem-porário dos cursos de água, induzindo apresença de espécies com exigênciashídricas distintas. Assim, por exemplo,as espécies que suportam acentuadosperíodos de estiagem são mais caracte-rísticas nas zonas Centro e Sul do país.

O regime hídrico, afectando a disponi-bilidade de água e a periodicidade eduração dos períodos de emersão/sub-mersão, e a profundidade da toalha fre-ática condicionam a distribuição docoberto vegetal. Estes factores depen-dem, contudo, do regime pluviométricoe das características edáficas e geoló-gicas.

Embora a maioria das espécies destesecossistemas tenha uma grande ampli-tude térmica, distribuindo-se, de umaforma geral, por todo o território, outrashá que preferem climas mais frios, limi-tando-se a sua distribuição, por exemplo,às linhas de água das regiões monta-nhosas do norte.

A condicionar a distribuição das comu-nidades vegetais refiram-se, também,as formações geológicas e as unidadesde solos.

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

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A textura do solo relacionada, em parte,com a função de transporte das mas-sas de água - leitos arenosos predomi-nando nas regiões de maior corrente,geralmente a montante, e correntesmais fracas, geralmente a jusante, faci-litando a deposição de materiais finos ea formação de solos argilosos � temreflexos na flora e vegetação.

Embora a maioria das espécies tolereamplas variações de pH, algumas apre-sentam preferência por solos de reacçãobásica e outras ácida. Refira-se, ainda,que algumas das propriedades quími-cas da água, por exemplo, pH e quan-tidade de nutrientes, podem ser afec-tadas pela natureza do substrato.

Para além de condicionar as caracte-rísticas do solo, a natureza do substratoinflui na morfologia do leito e, conse-quentemente, na vegetação destesecossistemas.

As características físicas da água,nomeadamente velocidade, profundidadee transparência, são especialmenteimportantes para as espécies aquáti-cas, já que limitam a sua possibilidadede instalação.

Os meios lênticos, isto é de águas para-das, são mais apropriados para as espé-cies aquáticas; nos meios lóticos, emque a velocidade da corrente é acentu-ada, aquelas rareiam e as espéciesribeirinhas, que se instalam próximo damargem, apresentam característicasestruturais particularmente resistentesao atrito das massas de água (porexemplo, sistemas radiculares bemdesenvolvidos e ramos flexuosos).

Embora algumas plantas sejam indife-rentes ao estado trófico da água, outras,particularmente as aquáticas, apresen-tam tendências mais definidas; leitosrochosos, arenosos ou argilosos, deter-minando, sensivelmente, massas deágua com tendências oligotróficas,

mesotróficas ou eutróficas, podem influirna composição das comunidades vege-tais; texturas semelhantes, mas de ori-gens diferentes, podem determinar teo-res de nutrientes qualitativa e quantita-tivamente distintos. Como é conhecido,o estado trófico da água pode, também,ser afectado pelos efluentes (orgânicose inorgânicos) agrícolas, industriais eurbanos.

O excesso ou défice de sais, como ocloreto de sódio, também condiciona aflora.

Ao longo do perfil transversal, a vege-tação apresenta uma diversidade estru-tural e florística motivada pela variaçãodas características do meio, particular-mente do nível freático.

Do centro para as margens, mencio-nem-se as plantas aquáticas (flutuan-tes ou submersas e enraizadas ou não,em função da velocidade e profundidadeda água), as emergentes e, na transiçãoentre os meios terrestre e aquático, asque suportam desde o encharcamentopermanente das raízes até às que ape-nas toleram o encharcamento esporá-dico. Também a morfologia do leito edas margens (forma, largura, declive,etc.), ao condicionar algumas das carac-terísticas da água e do solo, influem nadistribuição das comunidades. Anote--se, por exemplo, que a velocidade naparte central do curso de água é, geral-mente, superior à das margens, limi-tando o estabelecimento de algumasespécies.

A diferenciação de comunidades aolongo do perfil longitudinal nos siste-mas fluviais é resultado das variaçõesna topografia, no clima, na hidrologia eno solo e formações geológicas subja-centes; os troços a montante apresen-tam, geralmente, leitos encaixados emargens rochosas que, aliados àscaracterísticas hidrológicas (elevadasvelocidades da corrente), dificultam a

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

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formação de solos e favorecem a pre-sença de comunidades pouco exube-rantes; para jusante os leitos alargam--se, as margens suavizam-se e os solos,mais desenvolvidos, permitem umamaior variedade de habitats e a insta-lação de comunidades mais complexas.

Também a altitude, ao afectar elemen-tos climáticos como a temperatura, éresponsável pela diversificação da floraribeirinha e aquática ao longo do perfillongitudinal.

Apesar da, geralmente, grande plasti-cidade ecológica que as plantas têm,algumas delas apresentam amplitudesestreitas relativamente a parâmetroscomo sejam os edáficos, hidrológicos(por exemplo, periodicidade de enchar-camento e caudais), da qualidade físico--química e ecológica da água (veloci-dade, pH, quantidade de oxigénio dis-solvido, presença de poluentes, grau deeutrofização, entre outros), pelo quepodem ser utilizadas como bioindica-doras.

Refira-se, no entanto, que são escas-sas as espécies vasculares para asquais se reconhece esta capacidade,possivelmente pela falta de estudosadequados.

Enquadramento biogeográfico

Em Portugal continental, as tentativasde definição de zonas homogéneas doponto de vista da flora e vegetaçãodatam de há longos anos, traduzidas napublicação de várias classificações dasquais as mais importantes são: a Clas-sificação Ecológica (Pina-Manique eAlbuquerque, 1952), reproduzida noAtlas do Ambiente (DGA, 1998), a Clas-sificação Fitogeográfica (Franco, 1994),

também constante naquele Atlas, e,mais recentemente, a Classificação Bio-geográfica (Costa et al. 1998a), divul-gada com o apoio do INAG.

Algumas considerações sobre estasclassificações e, em particular, referênciaà controvérsia que a primeira suscitounos geógrafos portugueses consagra-dos, como Orlando Ribeiro, foram apre-sentadas, por exemplo, em Moreira et al.(1998b).

Na Classificação Fitogeográfica deFranco (1994) a delimitação de regiõesfundamenta-se em dados florísticos, cli-máticos (pluviométricos e de aridez), naaltitude e na natureza das formaçõesgeológicas. Na Classificação Biogeo-gráfica, elaborada por Costa et al.(1998a), são delimitadas unidades (p.ex. região, província, sector e distrito,para mencionar apenas as mais impor-tantes), constituindo um sistema hie-rárquico, com base em critérios florísti-cos e de vegetação, que obviamenteterão relação com factores ambientais,embora, mais uma vez, sem uma baseestatística. Os autores referem o enqua-dramento biogeográfico de algumasassociações fitossociológicas da vege-tação ribeirinha e aquática; no entanto,salientam a necessidade de estudosmais aprofundados. A base climatoló-gica seguida foi a de Rivas-Martínezque define ombrotipos, com base no"Índice ombrotérmico" (Io), que carac-terizam o clima relativamente à pluvio-sidade (em Portugal ocorrem os ombro-tipos hiper-húmido, húmido, sub-húmidoe seco) e termotipos (ou andares bio-climáticos), baseados no "Índice de ter-micidade compensada" (Itc) e na "Tem-peratura anual positiva" (Tp), que pre-tendem medir a intensidade do frio,factor limitante do desenvolvimento dascomunidades vegetais; os andares bio-climáticos reflectem as variações alti-tudinais.

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.8

Em Portugal reconhecem-se, na regiãotemperada, os andares bioclimáticostermotemperado, mesotemperado,su-pratemperado e orotemperado e naregião mediterrânica, os andares bio-climáticos termomediterrânico, meso-mediterrânico e supramediterrânico,cujos valores de Itc e Tp são apresen-tados no Quadro 3.1. Para uma expli-cação mais completa da metodologiautilizada em Bioclimatologia, bem comoda aplicação da classificação bioclimá-tica à Península Ibérica, veja-se Rivas-Martínez & Loidi-Arregui (1999).

Baseadas fundamentalmente na floraterrestre e nas relações desta com osolo e com o clima, a utilização das clas-sificações biogeográficas para os ecos-sistemas associados a meios aquáticosmerece uma análise cuidada, já queestes se encontram significativamentedependentes de uma disponibilidadehídrica acrescida relativamente aos ter-restres, o que lhes confere grande espe-cificidade. Todavia, pela falta de infor-mação mais ajustada aos ecossistemasdulçaquícolas, fazem-se referências,neste capítulo, à classificação biogeo-gráfica de Costa et al. (1998a) pelo quese resumiu, acima, a base climatológicanela adoptada.

A utilização de zonas florísticas homo-géneas foi abordada nos PBH, nome-adamente como base potencial para adefinição de ecótipos exigida pela DQA.As zonagens biogeográficas acima re-feridas pareceram pouco adequadaspara a definição regional da distribui-ção das comunidades aquáticas e ribei-rinhas, evidenciando, nomeadamente,uma maior complexidade e algum des-fasamento da zonagem derivada exclu-sivamente da flora fluvial, no caso emque a comparação foi tentada, no PBHdo Tejo.

A criação de uma carta de distribuiçãodas comunidades aquáticas e ribeiri-nhas, com destaque para a vegetaçãolenhosa, seria de elevado interesse,pois o reconhecimento de zonas homo-géneas para este tipo de vegetaçãopermitiria avaliar melhor as formas deque se reveste a sua degradação e fun-damentar as vias correctas da sua ges-tão; refira-se que, para a região declima mediterrânico do país, Aguiar et al.(1995) apresentaram, com base nasgeosséries ripárias, a delimitação apro-ximada de zonas, mas numa escalamuito pequena e de forma ainda impre-cisa.

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

3.9

Caracterização das principaiscomunidades dulçaquícolas

O reconhecimento das principais comu-nidades dulçaquícolas presentes emPortugal continental, incluindo umabreve caracterização florística e ecoló-gica, constitui o principal objectivo dopresente texto.

Os elementos apresentados resultam deuma compilação de dados, nomeada-mente em Aguiar (2000), Aguiar et al.(1995, 1999), Alves et al. (1998), Antu-nes (1994, 1996), Costa (1999), Costa etal. (1993, 1996, 1998a, b), Duarte &Alves (1989), Espírito-Santo (2000a, b,2001), Espírito-Santo et al. (1995, 1999,em publicação), Fernandes (1994),Gomes (1998), Ladero-Alvarez (1976),Loidi Arregui et al. (1997), Lopes (2001),Lousã et al. (1980, 1994, 1998), Molina(1996, 2001), Moreira et al. (1999d, empreparação), Neto (1997), Paiva et al.(1993), Pedro (1991), Rego et al. (1995a,b), Rivas-Martínez et al. (1990, 2000,2001, 2002), Serra (1995), Serra & Car-valho (1989), Silveira (1997), nos Rela-tórios dos Planos de Bacia Hidrográfica,em particular nos Anexos 9 da 1ª Fase,e, ainda, no trabalho sobre a limpeza emanutenção de linhas de água (Duarte& Moreira, em publicação), coordenadopelo Instituto de Hidráulica, EngenhariaRural e Ambiente.

Com base na estrutura, nomeadamentena dominância relativa dos estratosarbóreo, arbustivo e herbáceo, e nasespécies dominantes identificaram-seas seguintes comunidades ribeirinhascorrespondentes a tipos de vegetaçãoevoluídos:

- dominadas por elementos arbóreos:amiais, choupais, freixiais, olmedos e salgueirais, mais frequentes, e,mais raras, azeredos, buxais, vido-ais, comunidades de azevinho, comu-

nidades de carvalho-cerquinho ecomunidades de lódão-bastardo;

- dominadas por espécies arbustivas:loendrais, tamargais, tamujais, urzaishigrofílicos, comunidades de Fran-gula alnus e Myrica gale e comuni-dades de Rhododendron ponticumsubsp. baeticum.

Consideradas, geralmente, como eta-pas de degradação, embora possamsurgir em situações naturais em que aslimitações físicas ou edafo-climáticasdo meio não permitem o desenvolvi-mento de outras comunidades, refiram--se os silvados e outras sebes espi-nhosas, caniçais, tabúais e canaviais,onde dominam espécies arbustivas eespécies "graminóides" de porte ele-vado, e os juncais e relvados, em quepredominam espécies herbáceas.

A diferenciação de comunidades ribei-rinhas é mais notória nos troços médiose inferiores dos cursos de água; naszonas de cabeceira e em vales encai-xados estas são, geralmente, poucodesenvolvidas e a vegetação ripícolaapresenta grandes semelhanças com adas zonas envolventes.

Nos sistemas aquáticos a diversidadeestrutural é menor já que todas as comu-nidades são dominadas por espéciesherbáceas, embora de diversos tipos(submersas, flutuantes, entre outros); aestas comunidades não lhes é, usual-mente, atribuída denominação particular.

Com base na bibliografia já citada, apre-senta-se, no Suplemento 1 (QuadroS.1.4), uma listagem das associaçõesrelativas a comunidades ribeirinhas eaquáticas referidas para Portugal. Atipologia fitossociológica baseia-se, fun-damentalmente, em Rivas-Martínez etal. (2001).

Esta listagem, embora incluindo quasecentena e meia de associações, tem de

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.10

ser considerada provisória. No que serefere à vegetação aquática encontra-separticularmente incompleta, uma vez queos estudos nestes habitats, para além depouco numerosos, não incluem, muitasvezes o enquadramento fitossociológicodas comunidades presentes; este factodeve-se, certamente, à falta de estudosde base necessários para o efeito.

A cada tipo estrutural de comunidade(por exemplo, amial, freixial ou juncal)pode corresponder uma ou mais asso-ciações fitossociológicas; embora todaselas se caracterizem pela presença daespécie distintiva, possuem outros ele-mentos florísticos discriminativos e ocor-rem associadas a condições ambientaisdistintas e consequentemente em áreasgeográficas diferentes.

Uma síntese das comunidades ribeiri-nhas e aquáticas, tanto de sistemas flu-viais como lacustres, e respectivasassociações fitossociológicas, agrupa-das por tipo estrutural - lenhosas (arbó-reas e arbustivas), pseudo-lenhosas eherbáceas - é apresentada no Suple-mento 1 (Quadro S.1.5).

Comunidades ribeirinhas

Uma breve descrição da vegetaçãoribeirinha presente nos ecossistemasdulçaquícolas de Portugal continentalé, seguidamente, apresentada. Emboraa identificação das principais comuni-dades arbóreas e arbustivas, sua dis-tribuição, ainda que aproximada, e com-posição florística estejam já relativa-mente bem estudadas, as informaçõessobre as preferências ecológicas evi-denciam muitas lacunas, cujo preen-chimento futuro traria vantagens para odelineamento das adequadas medidas

de conservação e recuperação. Sali-enta-se a falta de informação no res-peitante às suas relações com o regimehidrológico (frequência e duração dosperíodos de submersão/encharcamentoe caudais de manutenção).

Comunidades lenhosas arbóreas

Amiais

Dois tipos de amiais ocorrem em Por-tugal: os amiais ribeirinhos (Figura 3.1),

que em termos fitossociológicos seenquadram na aliança Osmundo-Alnionda classe Salici purpureae-populeteanigrae, e os amiais paludosos perten-centes à aliança Alnion glutinosae daclasse Alnetea glutinosae.

Amiais ribeirinhos

Correspondem a florestas ripícolas queocorrem geralmente em solos aluviais,periodicamente inundados, mas bemdrenados.

Este tipo de bosque caducifólio, fre-quentemente denso e sombrio, surgenas zonas mais próximas do leito doscursos de água que mantêm elevadosteores de humidade mesmo durante oVerão e não aparece nos cursos quesofrem períodos de estiagem acentua-

Figura 3.1

Amial na ribeira de S. Simão (bacia do Lima)

(Fotografia de J. Alves)

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

3.11

dos; prefere rios de corrente fraca,águas com poucos nutrientes e solossiliciosos.

Na Osmundo-Alnion distinguem-se trêstipos de amiais, enquadrados nas asso-ciações Galio broteriani-Alnetum gluti-nosae, presente nas regiões setentrio-nais do país, especialmente nas provín-cias biogeográficas Cantabro-Atlânticae Carpetano-Ibérico-Leonesa, Scrophu-lario scorodoniae-Alnetum glutinosae,distribuídos por todo o país, provínciasbiogeográficas Cantabro-Atlântica, Car-pe tano- Ibér ico-Leonesa,Gad i tano- -Onubo-Algarviense e Luso-Extremadu-rense, e Senecioni bayonensis-Alnetumglutinosae, no superdistrito MinienseLitoral.

A distribuição destes tipos de amiaisrelaciona-se com as características cli-máticas. Os da Senecioni bayonensis--Alnetum glutinosae estão presentes emzonas de maior atlanticidade; os daGalio broteriani-Alnetum glutinosae sur-gem em zonas supramediterrânicas debaixas temperaturas e pequenos índi-ces de termicidade compensada e osda Scrophulario scorodoniae-Alnetumglutinosae em zonas termo- e meso-mediterrânicas de temperaturas e índi-ces de termicidade compensada maio-res.

Relativamente aos amiais da Senecionibayonensis-Alnetum glutinosae consi-dera-se de interesse a realização deestudos na área de provável ocorrên-cia, nomeadamente nas bacias doMinho, Lima, Cávado e Ave, já que estetipo de amial foi descrito para o NW daPenínsula Ibérica (províncias espanho-las de La Coruña e Pontevedra) e suge-rida a sua presença na bacia do Ave.Note-se ainda que, de acordo comAmigo et al. (1987), alguns dos amiaisdo NW de Portugal (de clima temperado)referidos como pertencentes ao Scro-phulario scorodoniae-Alnetum glutinosaepoderão enquadrar-se na Senecioni

bayonensis-Alnetum glutinosae , poisaquela tem preferência por zonas medi-terrânicas.

Para além de Alnus glutinosa (amieiro),os amiais da Galio broteriani-Alnetumglutinosae incluem no seu elenco flo-rístico Galium broteroanum, Ilex aqui-folium (azevinho) e Luzula sylvaticasubsp. henriquesii; nos da Scrophula-rio scorodoniae-Alnetum glutinosae sur-gem, por exemplo, Scrophularia scoro-donia (escrofulária), Clematis campa-niflora, Dryopteris affinis (fentilha) eOsmunda regalis (feto-real); e nos daSenecioni bayonensis-Alnetum glutino-sae, refiram-se, entre outras, Fraxinusangustifolia subsp. angustifolia (freixo),Carex elata subsp. reuteriana e Galiumbroteroanum.

Espécies relativamente susceptíveis deocorrer nos amiais são ainda Populusnigra subsp. betulifolia (choupos--negros), Fraxinus angustifolia subsp.angustifolia, Salix alba subsp. alba (sal-gueiros-brancos), Salix atrocinerea (sal-gueiros-pretos), Salix salviifolia (borra-zeiras-brancas) e Ulmus minor (ulmei-ros), no estrato arbóreo, e Sambucusnigra (sabugueiros), Frangula alnus(amieiros-negros) e Prunus spinosasubsp. spinosa (abrunheiros-bravos), noestrato arbustivo. De distribuição maislocalizada, ocorrem nos amiais dealguns cursos de água da Beira InteriorCeltis australis (lodão-bastardo) e, emregiões setentrionais, Corylus avellana(aveleiras) e Prunus avium (cerejeiras).

Os amiais constituem um dos bosquesribeirinhos mais comuns em todo o con-tinente, à excepção do interior meridio-nal onde os períodos de estiagem, maisacentuados, restringem o seu desen-volvimento. A sua presença é apontadaem quase todas as bacias hidrográfi-cas, sendo, contudo, dominantes nasdo Minho, Lima, Cávado, Ave e Douro;são assinalados como raros na do Gua-diana.

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.12

A proximidade destas comunidades aocurso de água tem favorecido a sua pre-servação.

No Nordeste - província Carpetano-Ibé-rico-Leonesa - os amiais supramediter-rânicos da Galio broteriani-Alnetum glu-tinosae e os mesomediterrânicos daScrophulario scorodoniae-Alnetum glu-tinosae são, frequentemente, substitu-ídos por lameiros da aliança Juncionacutiflori e por orlas espinhosas daassociação Rubo ulmifolii-Rosetumcorymbiferae, ou, em situações dedegradação edáfica, por salgueiraisarbustivos (Honrado & Aguiar, 2001).

Amiais paludosos

Os amiais paludosos só recentementeforam estudados em Portugal (Espírito--Santo et al., em publicação). Identifi-cados como pertencentes à associaçãoCarici lusitanicae-Alnetum glutinosaeda aliança Alnion glutinosae, encontram--se em solos com acumulação de maté-ria orgânica, permanentemente enchar-cados, de má drenagem e ácidos.

Para além do amieiro, Carex paniculatasubsp. lusitanica, surge como típica nes-tas comunidades, sendo, também,comum a presença de freixos (espécieresponsável pelo enquadramento destascomunidades na subassociação fraxi-netosum angustifoliae).

Os amiais paludosos são relativamenteraros, merecendo a sua conservação omaior interesse; ocorrem em situaçõesmuito pontuais na bacia do Tejo (aflu-entes do rio Nabão) e, possivelmente,na do Sado.

Azeredos

Os azeredos são comunidades domi-nadas por uma espécie rara no conti-nente português - Prunus lusitanicasubsp. lusitanica (azereiro) -. Estes bos-

ques surgem com carácter residual, ouseja, muito localizados e em manchasde reduzidas dimensões, sobre subs-tratos siliciosos e a altitudes que nãoultrapassam os 1000 m; ocorrem prefe-rencialmente em troços a montante.

Ladero-Alvarez (1976) criou a associ-ação Viburno tini-Prunetum lusitanicaepara incluir as comunidades de Pru-nus lusitanica subsp. lusitanica pre-sentes em zonas com elevada humi-dade da província Luso-Extremadu-rense embora não refira a sualocalização preferencial em situaçõesripícolas. Mais recentemente foi pro-posta, por Costa et al. (2000), a asso-ciação Frangulo alni-Prunetum lusita-nicae para incluir as comunidadesedafo-higrófilas com azereiro que sur-gem próximas de cursos de água, emcontacto com amiais ripícolas; estascomunidades, endémicas do continenteportuguês, surgem no subsector Bei-rense Litoral da província Gaditano--Onubo-Algarviense e no sector Estre-lense (supramediterrânico) da provín-cia Carpetano-Ibérico-Leonesa.

Ao constituírem comunidades de transi-ção entre formações ripícolas e a vege-tação envolvente, incluem no elenco flo-rístico espécies com menores exigênciashídricas como Viburnum tinus subsp. tinus(folhado), Hedera helix subsp. canarien-sis (hera), Arbutus unedo (medronheiro),Laurus nobilis (loureiro), Ilex aquifolium e Lonicera periclymenum subsp. hispa-nica (madressilva-das-boticas).

No entanto, são conhecidas situaçõesem que as comunidades de azereirosocorrem nas margens de cursos deágua, como sucede no rio Ceira (baciahidrográfica do Mondego), acompanha-dos por espécies como Alnus glutinosa,Frangula alnus, Salix atrocinerea e Salixsalviifolia (Silveira, 2001).

Justifica-se, assim, a necessidade deestudos mais aprofundados sobre os

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

azeredos, por forma a identificar as situ-ações em que estas comunidades secomportam, tipicamente, como ribeiri-nhas e determinar o seu enquadramentofitossociológico.

Embora a presença do azereiro sejaconhecida no Norte (Serras do Gerês eSerra Amarela) e no Centro (Serras doBuçaco, Estrela, Pampilhosa e Alvéo-los) e esteja assinalada para as baciashidrográficas do Vouga e Lis, os dadosdisponíveis apontam como área prefe-rencial de distribuição dos azeredos(sensu lato) a bacia hidrográfica doMondego.

Buxais

As comunidades dominadas por Buxussempervirens (buxo), espécie arbustivarara em Portugal, têm sido pouco estu-dadas.

Os buxais, de estudo fitossociológicorecente (Aguiar et al., 1999), corres-pondem à associação Erico arboreae-Buxetum sempervirentis, da classeQuercetea ilicis.

A sua presença é assinalada em leitos decheia rochosos de cursos de água trans-montanos - rio Sabor e afluentes -, sendoconsideradas endémicas no sector Lusi-tano-Duriense da província Carpetano--Ibérico-Leonesa; surgem em vales aper-tados, de substrato rochoso e, ao queelementos disponíveis apontam, denatureza básica. Contactam lateral-mente com amiais do Scrophulario sco-rodoniae-Alnetum glutinosae, nas zonasde águas mais profundas e de correntefraca, ou com salgueirais estremes deSalix x pseudosalviifolia, em cursos deágua temporários de regime torrencial.

De entre as espécies que compõemestas comunidades destacam-se Pipta-therum paradoxum, Erica arborea (urze-

-branca), Phillyrea angustifolia (lentisco--bastardo) e Pistacia terebinthus (cor-nalheira); atendendo às característicasecológicas do meio, a composição flo-rística inclui espécies xerofílicas.

Embora sem menção à ocorrência de comunidades dominadas por Buxus sem-pervirens, a presença desta espécie é,ainda, assinalada nas bacias hidrográ-ficas do Mondego e Lis.

Choupais e choupais/salgueirais

O carácter autóctone dos choupais emPortugal não é, ainda, consensual. Nabase desta questão estão as dúvidasquanto à espontaneidade dos choupos,nomeadamente de Populus nigra subsp.betulifolia (choupo-negro) e de Populusalba (choupo-branco), embora a ten-dência actual seja para se aceitar comoespontâneo o primeiro e como subes-pontâneo o segundo.

Choupais/salgueirais de choupo--branco

Certos autores, nomeadamente Gomes(1998), consideram como nativas asgalerias dominadas por Populus albaque ocorrem nalgumas linhas de águado Barrocal Algarvio. Quanto ao enqua-dramento fitossociológico, estas comu-nidades inserem-se na Salici atrocine-reae-Populetum albae, associação defi-nida por autor hispânico para incluircomunidades similares presentes nasvárzeas do Guadiana e afluentes.

Esta associação pertence à aliançaPopulion albae (classe Salici purpureae--Populetea nigrae), onde se incluemchoupais, freixiais e olmedos dos cursosde água mediterrânicos.

Os choupais/salgueirais de choupo--branco, próprios de zonas termomedi-terrânicas da província Luso-Extrema-

3.13

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.14

durense, desenvolvem-se em solos argi-losos, hidromórficos.

Também relativa a este tipo de comu-nidade, a associação Rubio tinctorum--Populetum albae, da classe Salici pur-pureae-Populetea nigrae, descrita parao vale do Ebro (Espanha) nos andarestermo - e mesomediterrânicos, é apon-tada como presente em Portugal nosuperdistrito Ribatagano (troço inferiorda bacia do Tejo) e nas bacias dos riosVouga, Mondego e Lis.

Os dados disponíveis referentes, naquase totalidade, à presença destaassociação em território espanhol, indi-cam a ocorrência, além de Populus alba,de Populus nigra, Salix neotricha(vimeiro-branco), Fraxinus angustifoliasubsp. angustifolia, Ulmus minor e, porvezes, de Tamarix africana e T. gallica,entre outras espécies.

Embora sem menção ao seu enqua-dramento fitossociológico, existem refe-rências à presença de comunidadescom choupos-brancos nas bacias hidro-gráficas dos rios Douro, Sado e ribei-ras do Algarve.

Choupais/salgueirais de choupo--negro

As comunidades dominadas por Popu-lus nigra subsp. betulifolia são fre-quentes nos cursos de água em zonasmesomediterrânicas ou, mais rara-mente, termomediterrânicas do Centro eOeste da Península Ibérica, em áreassiliciosas. Ocupam locais de elevadahumidade edáfica e, geralmente, pre-cedem as formações que se situam soba influência directa da corrente de água,caso de alguns tipos de salgueirais. Noelenco florístico, para além de Populusnigra subsp. betulifolia, são frequentesFraxinus angustifolia subsp. angustifo-lia e salgueiros como Salix alba subsp.alba, S. atrocinerea, S. salviifolia e S.

neotricha, cuja presença, muitas vezespreponderante, leva à denominação des-tas comunidades por choupais/salguei-rais.

Os choupais/salgueirais de choupo--negro pertencem à associação Salicineotrichae-Populetum nigrae, da classeSalici purpureae-Populetea nigrae. A suapresença é assinalada para a provínciaCarpetano-Ibério-Leonesa, em particu-lar para o sector Lusitano-Duriense, queintegra grande parte da bacia do Douro(Aguiar et al., 1995), para o superdis-trito Ribatagano (província Gaditano--Onubo-Algarviense), que inclui a baciado Baixo Tejo (Costa et al., 1998a) epara a região meridional da bacia doSado, já na província Luso-Extremadu-rense (subsector Araceno-Pacense)(Moreira et al., em preparação).

O choupo-negro é ainda apontado comopresente, por vezes de forma prepon-derante, em comunidades ribeirinhasnas bacias hidrográficas do Vouga, Mon-dego, Lis, Mira e ribeiras do Algarve.

Freixiais

Os freixiais (Figura 3.2) localizam-se,tipicamente, afastados do leito, emzonas de nível freático elevado, masraramente inundadas; em cursos deágua que sofrem estiagem podem, con-tudo, situar-se próximo do leito. Prefe-rem solos profundos, arenosos ouareno-limosos, pobres em nutrientes,geralmente ácidos e siliciosos, podendoocorrer sobre solos calcários.

Os freixiais presentes em Portugalenquadram-se nas associações fitos-sociológicas Ficario ranunculoidis-Fra-xinetum angustifoliae e Fraxino angus-tifoliae-Quercetum pyrenaicae, ambaspertencentes à classe Salici purpureae-Populetea nigrae.

Os freixiais termo-mesomediterrânicos

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Ecossistemas Aquáticos e Ribeirinhos

da Ficario ranunculoidis-Fraxinetumangustifoliae distribuem-se especial-mente nas províncias Luso-Extremadu-rense e Gaditano-Onubo-Algarviense,embora se encontrem referências (PBHdo Minho e do Douro) à sua presençanas províncias Cantabro-Atlântica e Car-petano-Ibérico-Leonesa. São particu-larmente abundantes nas linhas de águado superdistrito Alto Alentejano e nosubsector Baixo Alentejano-Monchi-quense.

A sua presença em todas as baciashidrográficas do país é provável, emboranão tenham sido mencionados nos PBHdo Lima, Cávado, Ave e Leça. Para alémde Fraxinus angustifolia subsp. angus-tifolia, caracterizam-se pela presençade Ranunculus ficaria (ficária); podem,ainda, ocorrer, entre outras, as arbó-reas Salix spp., Populus nigra subsp.betulifolia e, mais pontualmente, Celtisaustralis.

Em cursos de água temporários deregiões calcárias ou margosas, comopor exemplo no Barrocal Algarvio ou noCentro-Oeste (Gomes, 1998; Lopes,2001), estes freixiais incluem, comalguma expressividade, no seu elencoflorístico Quercus faginea subsp. bro-teroi (carvalho-cerquinho). De distribui-ção mais localizada são os freixiais da

Fraxino angustifoliae-Quercetum pyre-naicae, referenciados para as regiõessupramediterrânicas (de menores tem-peraturas e Invernos mais rigorosos),sub-húmidas a húmidas, no Alto Douro,em particular no sector Salmantino daprovíncia Carpetano-Ibérico--Leonesa.Este tipo de freixial caracteriza-se pelapresença de Quercus pyrenaica (car-valho-negral).

Com algumas semelhanças com os frei-xiais da Fraxino angustifoliae-Querce-tum pyrenaicae, Aguiar (2000) refere apresença, nos sectores Orensano-Sana-briense e Lusitano-Duriense, de comu-nidades dominadas por Fraxinus angus-tifolia subsp. angustifolia e Prunusavium, de enquadramento fitossocioló-gico ainda não esclarecido.

A degradação, em que se inclui o cortedos freixiais, como de outros bosquesribeirinhos, facilita o desenvolvimentode orlas arbustivas espinhosas, comosejam os silvados, e o aparecimento deetapas subsequentes de degradação -juncais, relvados e comunidades nitró-filas -.

No Nordeste, os freixiais supramediter-rânicos da Fraxino angustifoliae-Quer-cetum pyrenaicae e os mesomediterrâ-

3.15

Figura 3.2

Freixos na ribeira de Odivelas

(Fotografia de I. Moreira)

Figura 3.3

Salgueirais nas margens do Mondego

(Fotografia de I. Moreira)

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.16

nicos da Ficario ranunculoidis-Fraxine-tum angustifoliae têm sido destruídospara dar lugar aos prados de lima oulameiros.

A localização frequente dos freixiaisem terraços aluvionares, zonas de ele-vadas potencialidades agrícolas, temcontribuído para o seu desapareci-mento.

Olmedos

Os olmedos são, também, comunidadesarbóreas ripícolas típicas de áreas umpouco afastadas do leito, mas tempora-riamente encharcadas ou com nível fre-ático elevado. Têm preferência por solosargilosos ou argilo-limosos, desenvolvi-dos e profundos, basófilos, com teoresmédios a elevados de nutrientes.

Estas comunidades incluem-se na asso-ciação Opopanaco chironii-Ulmetumminoris. Além de Ulmus minor (ulmeiro),é comum Fraxinus angustifolia subsp.angustifolia e, no sub-bosque, Arum ita-licum (jarro-dos-campos).

Distribuem-se, especialmente, no Nor-deste (província Carpetano-Ibérico-Leo-nesa) e no Centro de Portugal (super-distrito Ribatagano), em zonas determo- a mesomediterrânicas das baciashidrográficas dos rios Minho, Douro,Vouga, Mondego, Lis, Tejo, Sado e,mais raramente, Guadiana.

Os olmedos são, actualmente, raros emPortugal, já que ocupando terrenos deelevado valor agrícola e pascícola, têmsido destruídos. A grafiose, doença queataca o ulmeiro, causada por Cera-tocystis ulmi (fungo cujos esporos sãotransportados por insectos subcorticaisdo género Scolytus), pode, também, serapontada como causa da raridade des-tas comunidades.

Salgueirais

De entre as comunidades ribeirinhas,os salgueirais (Figura 3.3) são das maisfrequentes em Portugal. Preferem aszonas mais próximas de cursos ou deoutras massas de água, pelo que, àsemelhança dos amiais, têm sido umadas comunidades ribeirinhas menosafectadas pela ocupação humana. Deacordo com as espécies dominantes desalgueiros, diferentes em função de dis-tintas situações ecológicas, ocorremvários tipos de salgueirais que, de formasimplificada, se classificam em ribeiri-nhos arbóreos e arbustivos e em palu-dosos.

Salgueirais ribeirinhos arbóreos

Os salgueirais dominados por espéciesde porte arbóreo ocorrem especialmentenas margens de cursos de água lenta,podendo, ainda, ocupar posições maisafastadas do leito constituindo, porexemplo, orlas de amiais.

Para Portugal continental encontram-sereferenciados três tipos de salgueiraisarbóreos pertencentes às associaçõesRubo corylifolii-Salicetum atrocinereae,Viti viniferae-Salicetum atrocinereae eSalicetum neotrichae da classe Salicipurpureae-Populetea nigrae. A associ-ação Salici neotrichae-Populetum nigrae,anteriormente referida nos choupais/sal-gueirais de choupo-negro, tambémpoderá ser considerada um tipo de sal-gueiral.

Os salgueirais da Rubo corylifolii-Sali-cetum atrocinereae encontram-se ape-nas referenciados para os sectores Oren-sano-Sanabriense e Lusitano-Duriense,da província Carpetano-Ibérico-Leonesa(Aguiar et al., 1995, Costa et al., 1998a),onde se inclui o Alto Douro.

Em Espanha, onde foi descrita, ocorrenas regiões do Norte e Centro-Norte,associada a margens de cursos de água

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

3.17

permanentes, ou quase permanentes,em zonas siliciosas de altitude (1000 -1400 m) (Loidi-Arregui et al., 1997). Os elementos disponíveis para a carac-terização desta associação em Portu-gal são escassos, embora recentementeAguiar (2000) os tenha apontado paraTrás-os-Montes, onde formam cortinasde separação entre lameiros de rega-dio ou ao longo de pequenos regatos.De entre as espécies que a caracteri-zam citem-se Salix atrocinerea, S. neo-tricha, Rubus lainzii e R. ulmifolius.

Os salgueirais arbóreos da Viti viniferae--Salicetum atrocinereae surgem em cur-sos de água de zonas termo- e meso-mediterrânicas, sobre solos arenosostemporariamente inundados e oligotrófi-cos. A sua ocorrência é mencionada paraa província Gaditano-Onubo-Algarviense,nas zonas correspondentes às baciashidrográficas do Tejo e Sado, e, de acordocom indicações recentes (Moreira et al.,em preparação), para a província Luso-Extremadurense, ainda que nos seus limi-tes ocidental e meridional.Para além deSalix atrocinerea e Vitis vinifera subsp.sylvestris (videira-silvestre), podem sur-gir Fraxinus angustifolia subsp. angus-tifolia, Frangula alnus, Crataegus mono-gyna (pilriteiro) e Rubus ulmifolius (sil-vas), entre outras.

As comunidades da Salicetum neotri-chae são referenciadas para as baciashidrográficas do Douro e do Tejo. Deacordo com Loidi-Arregui et al. (1997),correspondem a salgueirais mesomedi-terrânicos próprios de águas eutróficase calcárias, geralmente dominados porSalix neotricha.

Salgueirais ribeirinhos arbustivos

Os salgueirais ribeirinhos arbustivos,contribuindo para a fixação das mar-gens dos cursos de água, correspon-dem a comunidades pioneiras de grandeimportância; podem, também, originar-sepor degradação de outros salgueirais,de amiais ou de freixiais. Suportam lon-

gos períodos de estiagem, pelo que ten-dem a desenvolver-se em linhas deágua de carácter torrencial e em leitosde cheia, e ocupam, geralmente, solosaluvionares, de preferência siliciosos.

Em Portugal continental, estas comuni-dades são incluídas em duas associa-ções da classe Salici purpureae-Popu-letea nigrae - Salicetum atrocinereo--australis e Salicetum salviifoliae -,sendo ainda assinalados salgueirais deSalix x pseudosalviifolia.

Os salgueirais arbustivos, termo- emesomediterrânicos, da associaçãoSalicetum atrocinereo-australis surgemnas margens aluvionares dos cursos deágua de regime torrencial (leitos decheia), em zonas siliciosas. A sua pre-sença, com maior expressividade, éreferida nas bacias do Baixo Tejo eSado, mas ocorrem também nas doGuadiana e ribeiras do Algarve. Em termos biogeográficos, esta comunidadedistribui-se pelo sector Mariânico-Mon-chiquense da província Luso-Extrema-durense e nos sectores Ribatagano--Sadense e Algarviense da provínciaGaditano-Onubo-Algarviense.

O elenco florístico é pouco diversificadoe escasso em espécies de sub-bosque,já que, localizando-se junto à margem,suportam os fortes caudais que, sazo-nalmente, os cursos de água apresen-tam. Salix atrocinerea, Salix salviifoliasubsp. australis (subespécie endémicaem Portugal), Salix x secalliana, S. neo-tricha e Rubus ulmifolius são algumasdas espécies que podem surgir nestascomunidades.

Os salgueirais arbustivos da associaçãoSalicetum salviifoliae, meso- a supra-mediterrânicos, colonizam as margensdos cursos de água temporária, emzonas siliciosas, especialmente nasregiões a Norte do Tejo.

A presença destas comunidades é refe-rida para as bacias hidrográficas do

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.18

Douro, Mondego, Vouga, Lis, Tejo e, jáno limite da sua distribuição, Guadiana.Como espécie mais típica surge Salixsalviifolia subsp. salviifolia.

Embora ainda sem enquadramento fitos-sociológico cabe referir os salgueiraisde Salix x pseudosalviifolia, apontadospor Costa et al. (1998a) para os cursosde água temporários de regime torren-cial ou para os fácies lóticos de cursosde água permanentes da província Car-petano-Ibérico-Leonesa, mais precisa-mente no sector Orensano-Sanabriensee nos superdistritos Miranda-Bornes--Ansiães e Terra-Quente do sector Lusi-tano-Duriense.

A merecer interesse serão, também, ascomunidades em que ocorre Salix pur-purea subsp. lambertiana (salgueiro-de--casca-rôxa), espécie do Nordeste dePortugal, presente em troços do AltoDouro.

A bibliografia existente sobre algunstipos de salgueirais arbustivos éescassa, sugerindo a necessidade deestudos mais aprofundados sobre estascomunidades que, pelas indicações dis-poníveis, apresentam apreciável distri-buição em território português.

Salgueirais palustres

Os salgueirais palustres - Carici lusita-nicae-Salicetum atrocinereae -, incluí-dos na classe Alnetea glutinosae, ocor-rem em depressões paludosas do baixoSado (superdistrito Sadense), sobresubstratos orgânicos.

Estas comunidades, de especial impor-tância pela sua raridade, têm comoespécies mais características Salix atro-cinerea, Myrica gale (samouco-do-bra-bante) e Carex paniculata subsp. lusi-tanica, incluindo ainda Salix salviifoliasubsp. australis, Frangula alnus e Alnusglutinosae (Neto, 1997).

As preferências ecológicas destascomunidades indiciam, como possível,a presença no passado de salgueiraispalustres na bacia hidrográfica do Tejo,de onde terão desaparecido pela ocu-pação do solo para a orizicultura.

Vidoais

Os vidoais � comunidades dominadaspor Betula celtiberica (vidoeiro) -, espé-cie relativamente rara em território por-tuguês, surgem nas margens de linhasde água ou em terrenos muito húmidos,oligotróficos, em zonas de altitude.

Para o subsector Geresiano-Queixense,Honrado & Aguiar (2001) referem osvidoais ripícolas de Betula celtiberica eSalix atrocinerea, acompanhados porOsmunda regalis, Carex elata subsp.reuteriana, Galium broteroanume Sorbus aucuparia subsp. aucuparia (tramazeira) entre outras, enquadráveisna aliança Osmundo-alnion.

Embora não de forma tão característica,podem ocorrer, nas margens de cursosde água em regiões montanhosas doNorte (sector Orensano-Sanabriense) edo Centro do país (sector Estrelense),vidoais da associação Saxifrago spa-thularis-Betuletum celtibericae, carac-terizada pela presença de Betula celti-berica e Saxifraga spathularis.

A presença de vidoais é referida nasbacias hidrográficas do Minho, Vouga eMondego, onde o elenco florístico podeser enriquecido com Taxus baccata(teixo) e Sorbus aucuparia subsp. aucu-paria; a ocorrência, embora pouco fre-quente, de Betula celtiberica é, ainda,referida para as bacias hidrográficas doLima, Cávado, Ave, Douro e Lis.

Comunidades de azevinho

Pontualmente é mencionada a presençade comunidades de Ilex aquifolium na

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

3.19

bacia hidrográfica do Mondego, sendoainda de referir a presença desta espé-cie no elenco florístico doutras comu-nidades ripícolas, nas bacias do Lima,Cávado e Ave, frequentemente acom-panhada por Taxus baccata.

Esta espécie rara, relembre-se, encon-tra-se protegida por legislação nacional(Capítulo 2).

Comunidades de carvalho-cerquinho

Nas margens de pequenos cursos deágua ou nos troços superiores de algu-mas ribeiras em regiões calcárias,como, por exemplo, na Serra da Arrá-bida, podem encontrar-se comunidadesde Quercus faginea subsp. broteroi (car-valho-cerquinho). No elenco florísticodestas orlas ripícolas podem surgir,entre outras, Crataegus monogyna, Oleaeuropaea var. sylvestris (zambujeiros) e Myrtus communis (murtas).

Por degradação destes carvalhais ouconstituindo comunidades de transiçãopara a vegetação envolvente desenvol-vem-se orlas espinhosas dominadas portrepadeiras, como sejam Rubus ulmifo-lius, Rosa sempervirens (roseiras-bra-vas) e Smilax aspera (salsaparrilha-indí-gena).

Comunidades de lódão-bastardo

A presença de comunidades ripícolasde Celtis australis (lódão-bastardo) éreferida para as bacias hidrográficasdos rios Vouga, Mondego e Tejo (even-tualmente em locais de forte estiagem),alargando-se as referências à ocor-rência desta espécie ao Douro, Lis eSado.

Celtis australis pode ainda integrar oelenco florístico de outras comunidadesribeirinhas, nomeadamente freixiais eolmedos.

Comunidades lenhosas arbustivas

Loendrais

Nos cursos de água temporários, deregime torrencial, sujeitos a forte securaestival, são vulgares os loendrais(Figura 3.4). Estas comunidades arbus-tivas preferem solos de natureza básicae cascalhentos.

Os loendrais substituem, em situaçõesde maiores limitações hídricas, os bos-ques ripários caducifólios, mais típicosde cursos de água permanentes.

Estas comunidades pertencem à asso-ciação Rubo ulmifolii-Nerietum oleandri,da classe Nerio-Tamaricetea. O Neriumoleander (loendro) e Rubus ulmifoliussão as espécies mais características.

Ocorrem em zonas termo- e mesome-diterrânicas; o Sul do país, incluído nasprovíncias Gaditano-Onubo-Algarviensee Luso-Extremadurense, constitui a áreapreferencial de distribuição dos loen-drais, sendo abundantes nas baciashidrográficas das ribeiras do Algarve e,particularmente, na do Guadiana.

Silvados e outras sebes espinhosas

Os silvados e outras sebes, constituídospor arbustos espinhosos escandentes etrepadeiras (por exemplo, Crataegusmonogyna, Lonicera spp., Prunus spi-nosa, Rosa spp. e Rubus ulmifolius), sur-gem na transição entre os bosques ribei-rinhos caducifólios e as formações vege-tais envolventes. Podem, ainda, resultarda degradação de tipos de vegetaçãoribeirinha mais evoluídos, como sejamsalgueirais, amiais ou freixiais; por suavez, a destruição dos silvados pode darorigem a juncais.

De ampla plasticidade edáfica, as sebesespinhosas ocorrem tanto em solos áci-dos como básicos.

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

Distinguem-se vários tipos, todos elesincluídos na classe Rhamno-Prunetea.No Nordeste, particularmente nos sec-tores Orensano-Sanabriense e Lusitano--Duriense da província Carpetano-Ibé-rico-Leonesa, os silvados das margensdos cursos de água (bacia hidrográficado Douro) encontram-se fil iados nasassociações Clematido campaniflorae--Rubetum ulmifolii, termo-mesomedi-terrânica, caracterizada por Clematiscampaniflora, e Rubo ulmifolii-Rosetumcorymbiferae, meso-supramediterrânica,com a presença de Rosa corymbifera.Esta última associação encontra-se,ainda, referenciada para as baciashidrográficas do Mondego e do Vouga.

De distribuição mais ampla são os sil-vados termo-mesomediterrânicos daLonicero hispanicae-Rubetum ulmifolii,

presentes nas províncias Gaditano--Onubo-Algarviense e Luso-Extrema-durense (bacias hidrográficas do Tejo,Sado, Guadiana e ribeiras do Algarve);esta associação foi também assinaladano Douro. Estes silvados preferem solosprofundos e arenosos.

No elenco florístico destas comunida-des salientam-se Bryonia dioica (norça--branca), Crataegus monogyna, Lonicerapericlymenum subsp. hispanica, Rosasempervirens e Rosa canina (rosa-

-canina). No Divisório Português estascomunidades são enriquecidas com oendemismo português Prunus spinosaL. subsp. insititioides (abrunheiro).

Finalmente refiram-se as sebes da Ruboulmifolii-Tametum communis, presentesna bacia hidrográfica do Mondego, que,para além de Rubus ulmifolius e Rosasempervirens, incluem na sua compo-sição Cornus sanguinea subsp. san-guinea (sanguinho-legítimo), Crataegusmonogyna e Tamus communis (norça--preta), entre outras.

Tamargais

Os tamargais (Figura 3.5), ou tarrafais,ocorrem com frequência em depressõestemporariamente inundadas ou nas mar-gens de cursos de água temporários,

geralmente de carácter torrencial, emregiões com forte estiagem, mas menosacentuada que a verificada nos locaisonde se desenvolvem os loendrais.Substituem os bosques ripários caduci-fólios nas zonas de clima quente e seco.

Estas comunidades preferem águas ricasem bases e toleram elevadas concen-trações salinas, de origem marinha ounão, pelo que se encontram tanto pró-ximo da foz de algumas linhas de água,como em zonas interiores; surgem em

Figura 3.4

Loendral em linha de água no Alentejo

(Fotografia de I. Moreira)

Figura 3.5

Tamargal no rio Xarrama, bacia do Sado

(Fotografia de I. Moreira)

3.20

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

3.21

solos arenosos embora, também, emsubstratos argilosos ou cascalhentos.Correspondem à associação Polygonoequisetiformis-Tamaricetum africanae.Tamarix africana (tamargueira) e Poly-gonum equisetiforme (língua-de-gali-nha) constituem as espécies mais típi-cas no elenco florístico, podendo, tam-bém, incluir-se Nerium oleander eArundo donax (espécie exótica, ampla-mente naturalizada em Portugal).

Os tamargais ocorrem em zonas termo--mesomediterrânicas, em particular daprovíncia Gaditano-Onubo-Algarviense,distribuindo-se, preferencialmente, nostroços terminais dos rios do Centro eSul do país (Vouga, Mondego, Lis, Tejo,Sado, ribeiras do Algarve e Guadiana).

Na sua área de distribuição mais meri-dional, os tamargais surgem, por vezes,a par com freixiais.

Por degradação ou destruição dostamargais, motivada, por vezes, pelointeresse agrícola dos solos que ocu-pam, podem surgir tabúais ou juncais.

Tamujais

Os tamujais, como os loendrais e tar-rafais, surgem nos cursos de água comacentuado período de estiagem e, geral-mente, de carácter torrencial, em subs-tituição dos bosques ripários caducifó-lios. As suas preferências ecológicasincluem leitos de cheia e solos siliciososde textura areno-argilosa.

Os tamujais incluem-se na associaçãoPyro bourgaeanae-Securinegetum tinc-toriae, caracterizada pela presença deFlueggea tinctoria (tamujo) e Pyrusbourgaeana (pereira-brava).

Atingem a sua maior abundância nointerior da região Centro e no Sul dopaís, em zonas termo- e mesomediter-rânicas, sendo assinalados nas bacias

hidrográficas do Douro (superdistrito daTerra Quente), Vouga, Mondego, Lis,Tejo, Sado e Guadiana. Esta comuni-dade é endémica na Península Ibérica(província Luso-Extremadurense).

Urzais higrofílicos

Os urzais higrofílicos são comunidadesdominadas por espécies arbustivasnomeadamente Calluna vulgaris (urze),Erica cil iaris (carapaça), E. tetralix,Genista anglica subsp. ancistrocarpa eUlex minor (tojo-molar). Desenvolvem--se, preferencialmente, em solos silicio-sos, ácidos, embora alguns urzais sejamtípicos de solos turfosos.

De entre os numerosos tipos de urzaisconsiderados pelos fitossociólogos,citem-se alguns dos mais exigentes emtermos hídricos, todos filiados na ClasseCalluno-Ulicetea: Cirsio welwitschii-Eri-cetum ciliaris, caracterizado por Cirsiumwelwitschii, endemismo lusitânico, doDivisório Português e Ribatagano--Sadense, presente, por exemplo, nasmargens de lagoas e zonas encharca-das, da bacia do Sado, onde constitui aprimeira etapa de substituição do sal-gueiral palustre (Neto, 1997); Droserointermediae-Ericetum ciliaris em areiasmal drenadas e muito húmidas, no sec-tor Ribatagano-Sadense (rio Tejo);Genisto anglicae-Ericetum tetralicis, doandar supramediterrânico, no Norte dopaís a altitudes superiores a 900 m e emsituações de quase permanente hidro-morfia (rio Minho, cabeceiras de algunsafluentes do Douro e rios Vouga e Mon-dego); Genisto berberideae-Ericetumtetralicis em locais quase permanente-mente encharcados (rios Minho, Vouga eMondego); Potentillo herminii-Callune-tum em podzóis, na Serra da Estrela; e,com menores exigências hídricas que osanteriores, Cirsio filipenduli-Ericetum cili-aris presente em regiões setentrionais(rios Minho, Vouga, Mondego e Lis).

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.22

Nas bacias hidrográficas do Minho,Vouga, Mondego e Lis, em zonas de for-tes oscilações no nível freático e/oupantanosas, assinala-se, ainda, a pre-sença de urzais higrofílicos de Erica eri-gena e E. lusitanica.

Comunidades de Frangula alnus e Myrica gale

Em zonas de fortes oscilações no nívelfreático e/ou pantanosas das baciashidrográficas do Minho, Vouga, Mon-dego e Lis é mencionada a presençade comunidades dominadas por Fran-gula alnus (amieiro-negro) e Myricagale.

Comunidades de Rhododendron ponticum subsp. baeticum

Com carácter residual surgem, nas mar-gens de alguns afluentes do Vouga, emespecial na ribeira de Cambarinho(Serra do Caramulo), comunidades deRhododendron ponticum subsp. baeti-cum (loendro ou adelfeira), endemismoibérico (Figura 3.6).

De forma mais pontual, a presençadesta espécie é também assinalada naserra de Monchique.

O elevado interesse botânico do Rho-dodendron ponticum subsp. baeticum,aliado à originalidade das suas comu-nidades e à sua distribuição muito res-trita, levaram à criação da ReservaBotânica Integral de Cambarinho.

Para além de algumas notas (veja-seDias & Nogueira, 1973-74), não exis-tem, em Portugal, estudos fitossocioló-gicos que apontem para o enquadra-mento sintaxonómico desta comuni-dade, embora estejam descritas paraterritório hispânico associações, inclu-ídas na classe Salici purpureae-Popu-letea nigrae, onde esta espécie surgecomo característica.

Comunidades pseudo-lenhosas

Canaviais

Apesar de constituírem comunidadesdominadas por uma espécie asiáticaintroduzida - Arundo donax (cana) - ecorresponderem a estádios de degra-dação da vegetação ribeirinha, os cana-viais são aqui referidos pela sua fre-quência.

Estas comunidades, de característicasnitrófilas, ocorrem nas margens de cur-sos de água ou em zonas húmidas rara-mente inundadas, geralmente, em locaisdegradados pelas actividades humanase sobre solos ricos em nutrientes.

Os canaviais são dominados por gran-des helófitos. Arundini donacis-Convol-vuletum sepium, a associação fitossoci-ológica que lhes corresponde, inclui nasua composição florística, além doArundo donax, Epilobium hirsutum e tre-padeiras como Calystegia sepium (tre-padeira-das-balças), Bryonia creticasubsp. dioica e Humulus lupulus (lúpulo).As bacias hidrográficas dos rios do Cen-tro e do Sul do país constituem a suaárea de distribuição mais corrente.

Figura 3.6

Comunidades de Rhododendron ponticum subsp. baeti-

cum nas margens do rio Alfusqueiro (bacia do Vouga)

(Fotografia de J. Alves)

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

3.23

Caniçais

Os caniçais correspondem a comuni-dades dominadas por grandes helófitosque ocorrem nas margens de rios (tro-ços médios ou terminais) ou outras mas-sas de água pouco profundas e de cor-rente fraca ou nula. Desenvolvem-sebem em águas ricas em nutrientes(meso-eutróficas), sendo ligeiramentetolerantes à salinidade. Embora bem

adaptados a solos temporáriamenteimersos, resistem a períodos de com-pleta emersão e secura. Ocorrem emsubstratos de arenosos a argilosos.

Estas comunidades enquadram-se naassociação mediterrâneo-atlânticaTy-pho angustifoliae-Phragmitetum aus-tralis, que tem por espécie característicaPhragmites australis (caniço). O seuelenco florístico é, geralmente, pobreou até monoespecífico, já que o modode propagação do caniço (rizomas) difi-culta a instalação e expansão de outrasespécies. O caniço, pela sua tolerânciaa períodos de secura, é largamentedominante em situações em que ocor-rem grandes oscilações no nível daágua. Com preferência por locais comágua em permanência, podem aindasurgir Lythrum salicaria (salgueirinha),Scirpus lacustris (bunho), Sparganium

erectum (espadana-da-água) e, emáguas estagnadas, Typha spp. (tabúas).Os caniçais estão presentes por todo opaís, embora com incidência variável.

Tabúais

Os tabúais são comunidades de águasdoces ou salobras, alcalinas, profundase com concentrações de nutrientesmédias a acentuadas. Ocorrem nas mar-gens de massas de água permanentese de corrente fraca ou nula. Se o lençolfreático estiver próximo da superfície,podem suportar períodos de secura,embora menos que os caniçais. Prefe-rem substratos limosos ou argilosos. Ostabúais filiam-se na associação Typho--Schoenoplectetum glauci, caracterizadapela presença de Typha spp. (especial-mente T. domingensis e T. latifolia)(tabúas) e Scirpus tabernaemontani. Noelenco florístico pode ainda ocorrerPhragmites australis.

Os tabúais são frequentes nas bacias hidrográficas dos rios do Centro e Sul do país.

Comunidades herbáceas

Juncais e juncais-relvados

Os juncais (Figura 3.7) constituem,geralmente, estádios de degradação deoutras comunidades, como sejam bos-ques caducifólios ribeirinhos (salguei-rais, amiais, freixiais e olmedos) ou,ainda, da degradação de silvados. Adestruição dos juncais pode, por suavez, dar origem a relvados, quandoexiste pastoreio, ou a canaviais, quandosujeitos a fortes pressões antrópicas.Apesar da dominância generalizada deespécies das famílias Juncaceae (géneroJuncus) ou Cyperaceae (géneros Carexe Scirpus), os vários tipos de juncaisdistinguem-se em função das caracte-rísticas do habitat, nomeadamente noque respeita ao clima, tanto regionalcomo local, à hidrologia (condições deencharcamento), características edáfi-

Figura 3.7

Juncal no Paúl de Budens

(Fotografia de I. Moreira)

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.24

cas, tipo e quantidade de nutrientes dis-poníveis e possíveis factores de origemantrópica.

Cerca de uma vintena de associaçõesfitossociológicas (certamente ocorrerãooutras) foram identificadas como cor-respondentes a juncais higrófilos; note--se que alguns deles, designados porjuncais-relvados devido à co-dominân-cia de espécies de outras famílias,poderiam ser, também, incluídos nacategoria de relvados, adiante referida.

Os juncais incluídos na classe Phrag-mito-Magnocaricetea, dominados porgrandes helófitos, são mais exigentesem termos de humidade edáfica, desen-volvendo-se nas margens de massas deágua mais ou menos permanentes, rela-tivamente aos da classe Molinio-Arrhe-natheretea, dominados por hemicriptó-fitos e geófitos. De forma simplificada,pelo menor interesse destas comuni-dades, refira-se que nas associaçõesincluídas na Phragmito-Magnocaricetea(Caricetum pseudocypero--lusitanicae,Cladietum marisci, Galio broteriani-Cari-cetum broterianae, Galio palustris-Cari-cetum lusitanicae, Irido pseudacori-Cari-cetum lusitanicae e Bolboschoenetummaritimi) surgem, entre as espéciescaracterísticas, Carex elata subsp. reu-teriana, Carex hispida, C. pendula, C.paniculata subsp. lusitanica, C. pseu-docyperus, Cladium mariscus e Scirpusmaritimus.

Nos juncais da classe Molinio-Arrhena-theretea, geralmente relacionados comactividades antropozoogénicas, incluem--se as associações Cirsio palustris-Jun-cetum rugosi, Cypero badii-Scirpetumholoschoeni, Deschampsio hispanicae--Juncetum effusi, Galio palustris-Jun-cetum maritimi, Holoschoeno-Juncetumacuti, Juncetum acutifloro-valvati, Jun-cetum rugoso-effusi, Lobelio urentis--Lotetum pedunculati, Mentho suaveo-lentis-Juncetum inflexi, Trifolio resupi-nati-Holoschoenetum. Como espécies

mais típicas de algumas destas comu-nidades refiram-se, entre outras, Carexflacca, Galium palustre, Holoschoenusromanus subsp. australis, Juncus acuti-florus subsp. acutiflorus, J. acutiflorussubsp. rugosus, J. acutus subsp. acutus(junco-agudo), J. effusus, J. inflexus(junco-desmedulado), J. valvatus, Lyth-rum junceum (erva-sapa), Mentha sua-veolens (mentastro), Schoenus nigricanse Trifolium resupinatum (trevo-de-flores--reviradas).

Finalmente refiram-se os juncais daclasse Isoeto-Nanojuncetea, geralmentedominados por espécies anuais depequeno porte, característicos de locaistemporariamente inundados. Os juncais,sensu lato, ocorrem em todo o país.

Em situações de transição do meio docepara o salgado, nas regiões litorais dametade Sul do país, podem-se assina-lar os juncais sub-halófilos da Polygonoequisetiformis-Juncetum maritimi (classeJuncetea maritimi), com Juncus mariti-mus (junco-das-esteiras) e Polygonumequisetiforme. Em meios salobrospodem-se ainda encontrar juncais daScirpetum compacto-litoralis (classePhragmito-Magnocaricetea).

Relvados e relvados-juncais

As comunidades predominantementeherbáceas, correntemente designadaspor relvados ou, quando conotadas coma utilização pelo gado, por prados, sãocomunidades colonizadoras de margensde massas de água, especialmente emzonas de sedimentação, podendo, tam-bém resultar da destruição dos bosquesribeirinhos ou do pastoreio dos juncais.

Em função da diversidade ecológica domeio, os relvados que ocorrem no con-tinente português apresentam distintoselencos florísticos. Um dos factores fun-damentais é a variação em humidadedo solo, que permite uma classificação,algo simplificada, dos relvados em

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

3.25

mesofílicos e higrofílicos, embora, comoé óbvio, exista uma variação contínuaentre as situações extremas dos doistipos.

Os relvados mesofílicos incluem associ-ações pertencentes às classes Galio--Urticetea, Helianthemetea guttati, Poeteabulbosae, Stipo giganteae-Agrostieteacastellanae e Molinio-Arrhenatheretea.

Os relvados com características higro-fílicas enquadram-se especialmente nasclasses Bidentetea tripartitae, Isoeto--Nanojuncetea, Isoeto-Littorelletea,Montio-Cardaminetea e Phragmito-Mag-nocaricetea.

De entre as espécies que podem ocor-rer nos vários tipos de relvados, certa-mente várias dezenas, refiram-se atítulo de exemplo, Alisma lanceolatum(orelha-de-mula-comprida), Apium nodi-florum (rabaças), Eleocharis palustris(junco-marreco), Epilobium hirsutum, E.parviflorum, Galium palustre, Glyceriadeclinata (azevém-baboso), Hypericumelodes, H. humifusum (erva-das-mil--folhinhas), Isoetes durieui, Lycopuseuropaeus (marroio-de-água), Lythrumsalicaria, Mentha aquatica (hortelã-da--água), M. cervina, Montia fontanasubsp. amporitana, Myosotis stolonifera,Nasturtium officinale (agrião), Oenan-the crocata (embude), Phalaris arundi-nacea subsp. arundinacea (caniço--malhado), Polygonum hydropiper, P.lapathifolium, P. salicifolium (pulgueira),Scirpus lacustris, Scrophularia balbisiisubsp. balbisii, Sparganium erectum,Trifolium resupinatum e Veronica ana-gallis-aquatica. Em relvados utilizadoscomo zonas de pastoreio, é usual a pre-sença de espécies nitrófilas, isto é, compreferência por solos com elevados teo-res de azoto.

Pelo seu particular interesse, salientem--se os cervunais, comunidades domi-nadas por espécies graminosas, com

destaque para Nardus stricta (cervum),que ocorrem em zonas montanhosas dealtitude, em particular nas bacias hidro-gráficas do Mondego e do Douro. Emtermos fitossociológicos estas comuni-dades enquadram-se na classe Narde-tea strictae.

A merecer destaque refiram-se, tam-bém, os prados de lima ou lameiros,comunidades seminaturais, vocaciona-das para a pastorícia, incluídas naordem Arrhenatheretalia e na aliançaJuncion acutiflori, da classe Molinio--Arrhenatheretea. No elenco florísticodominam espécies herbáceas, por vezesjuncáceas, podendo, ainda, incluir espé-cies raras, nomeadamente da famíliaOrchidaceae. Os lameiros ladeiamalguns cursos de água do Norte e Cen-tro (bacias hidrográficas do Minho,Douro, Vouga e Mondego), em zonasmontanhosas, por exemplo, nas Serrasdo Alvão, Gerês e Peneda, ocupando,frequentemente, zonas onde os freixi-ais (Fraxino angustifoliae-Quercetumpyrenaicae e Ficario ranunculoidis-Fra-xinetum angustifoliae) e os amiais (Galiobroteriani-Alnetum glutinosae e Scro-phulario scorodoniae-Alnetum glutino-sae) teriam o seu habitat preferencial.

Relativamente aos vários tipos de comu-nidades herbáceas (juncais e relvados)de zonas húmidas, verifica-se algumafalta de informação sobre a sua distri-buição por bacias hidrográficas, emborase disponha, em vários documentos defitossociologia, de áreas de distribuiçãopotencial.

Turfeiras

Embora de expressão muito reduzida,cabe mencionar as turfeiras, comuni-dades caracterizadas pela presença demusgos (principalmente do géneroSphagnum), presentes em zonas per-manente ou temporariamente enchar-

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

cadas. Apesar de mais frequentes emzonas elevadas, podem desenvolver-sea baixas altitudes.

A vegetação das turfeiras enquadra-senas classes fitossociológicas Oxycocco--Sphagnetea, Scheuchzerio-Cariceteafuscae e Utricularietea intermedio-mino-ris.

Estas comunidades encontram-se assi-naladas para as bacias hidrográficas doMinho, Douro, Vouga, Mondego e Sado.

Comunidades rupícolas

Finalmente refiram-se as comunidadesrupícolas presentes em zonas de escor-rências rochosas ou em leitos de cheia. De entre as primeiras, apontem-se ascomunidades de rochas calcárias comágua ressumante (Eucladio-Adiantetumcapilli-veneris), dominadas por pteridó-fitos, como Adiantum capillus-veneris(avenca), e briófitos, em particular Eucla-dium verticillatum.

Nas segundas citem-se as associações

saxícolas que ocorrem em leitos decheia rochosos de natureza siliciosa,como sejam a Centaureo ornatae-Fes-tucetum duriotaganae e a Phagnalo saxa-

tilis-Rumicetum indurati, assinaladas paraa bacia hidrográfica do Guadiana.Estascomunidades apresentam característi-cas xerofílicas e heliofílicas, isto é, sãoresistentes à secura e próprias de meioscom elevada luminosidade; a sua inclu-são no âmbito deste trabalho deve-seao facto do seu habitat preferencial sesituar nos leitos de cheia.

Comunidades vegetais aquáticas

As comunidades vegetais aquáticas sur-gem, preferencialmente, em rios peque-nos (Figura 3.8) e zonas de remansos(Figura 3.9), já que é nestas situaçõesque se proporcionam os habitats ade-quados às particulares exigências eco-lógicas das espécies que as compõem.

A sua diversidade estrutural é menorque a das comunidades ribeirinhas, jáque são dominadas apenas por hidrófi-tos herbáceos, embora de diversos tipos(por exemplo, submersos ou flutuantes).

A composição florística depende, natu-ralmente, de características físico-quí-micas da água, como sejam a veloci-dade, profundidade, temperatura, trans-

3.26

Figura 3.8

Comunidades de Ranunculus sp. na ribeira

de Valverde (bacia do Sado)

(Fotografia de I. Moreira)

Figura 3.9

Comunidade de Nuphar lutea

em remanso do rio Sado

(Fotografia de F. Aguiar)

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

3.27

parência, pH, quantidade e tipo de nutri-entes dissolvidos e sazonalidade.Aacentuada variação no elenco florísticodas comunidades aquáticas, em funçãodos parâmetros ecológicos, confere-lhesparticular importância como bioindica-doras.

Ao que foi possível compilar (QuadroS.1.5) encontram-se citadas para Por-tugal uma vintena de associações per-tencentes a diferentes comunidades devegetação aquática. Esta listagemencontra-se particularmente incompleta,uma vez que os estudos de cariz fitos-sociológico nestes habitats, são pouconumerosos.

A este número, provisório, acrescemnumerosas referências a comunidadescujo enquadramento fitossociológiconão se encontra estabelecido.

Note-se que, apesar de dominadas porhidrófitos, as comunidades aquáticaspodem incluir helófitos e higrófitos, peloque algumas poderiam também ser con-sideradas como prados higrofílicos.

As associações assinaladas enqua-dram-se nas classes fitossociológicas:Charetea fragilis, Lemnetea, Potame-tea, Isoeto-Littorelletea e Montio-Car-daminetea.

A classe Charetea fragilis inclui a vege-tação submersa que coloniza os fundosde massas de águas doces ou salobras,pouco poluídas.

A associação Charetum vulgaris, a únicadesta classe referenciada para Portu-gal, surge em águas doces, pouco pro-fundas, alcalinas, ricas em carbonatosde cálcio e com poucos nutrientes.

Estas comunidades são dominadas porChara vulgaris, acompanhadas poralguns helófitos. No Algarve, Gomes(1998) refere-as como muito abundan-

tes por todo o Barrocal. Embora semtipificação fitossociológica, são referi-das, para o Minho, comunidades deChara spp. e Nitella spp.

Na classe Lemnetea incluem-se ascomunidades de espécies flutuantes deágua doce. Para Portugal encontram-sereferenciadas as associações: Lemne-tum gibbae, Lemnetum minoris, Lemno--Azolletum filiculoidis, Lemno-Spirode-letum polyrhizae e Lemnetum trisulcae.

A associação Lemnetum gibbae cor-responde a comunidades quase purasde Lemna gibba ou, por vezes, acom-panhadas de Lemna minor (lentilhas-de-água); surge em águas eutróficas,estagnadas ou de corrente fraca, ricasem iões solúveis e, geralmente, conta-minadas por substâncias azotadas deorigem orgânica, podendo ser utilizadacomo indicadora de elevada eutrofiza-ção (Sanchez-Anta & Navarro-Andres,1987; Biurrun, 1999).

Embora estas comunidades tenham sidoapenas referenciadas nos PBH dasbacias hidrográficas do Minho, Mon-dego, Vouga, Lis, Sado e Guadiana,aqueles autores apontam para a suadistribuição em todo o país, à excepçãodos sectores Estrelense, Divisório Por-tuguês e Ribatagano-Sadense.

Note-se que a classificação biogeográ-fica utilizada por estes autores e, con-sequentemente, a delimitação das re-giões, difere da elaborada por Costa etal. (1998); no entanto, os limites sãoaproximadamente idênticos.

As comunidades de Lemnetum minoris,dominadas por Lemna minor, ocorrem,de acordo com Biurrun (1999), emáguas básicas e com um menor grau deeutrofização que as anteriores.

A associação Lemno-Azolletum filicu-loidis corresponde a comunidades de

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

3.28

Lemna minor acompanhadas pelo pte-ridófito Azolla filiculoides, espécieamplamente naturalizada em Portugal.Prefere águas eutróficas distribuindo-sepraticamente por todo o país, exceptoem regiões de águas mais frias dos sec-tores Galaico-Português e Orensano--Sanabriense, onde se incluem asregiões mais setentrionais do país, e nosector Estrelense (Sanchez-Anta &Navarro-Andres 1987).

A presença de comunidades de Azollafiliculoides e os problemas que elas, fre-quentemente, acarretam nalguns pon-tos do país são bem conhecidos, comose desenvolve no Capítulo 4.

A Lemno-Spirodeletum polyrhizae,comunidades de Spirodela polyrhiza,Lemna gibba e L. minor ocorrem emáguas meso- a eutróficas, menos con-taminadas do que aquelas onde ocorrea Lemnetum gibbae. De acordo comSanchez-Anta & Navarro-Andres (1987),esta associação restringe-se a regiõesdo Centro e Norte de Portugal, integra-das, sensivelmente, nos sectores Lusi-tano-Duriense, Salmantino, Toledano--Tagano e Divisório Português (sensuCosta et al. 1998a).

Em águas oligo-mesotróficas, não polu-ídas, surge a associação Lemnetum tri-sulcae, caracterizada pela presença deLemna trisulca, Wolffia arrhiza e Lemnaminor. Segundo Sanchez-Anta &Navarro-Andres (1987), ocorre particu-larmente no Centro e Sul - sectores Divi-sório Português (parte), Toledano--Tagano e Mariânico-Monchiquense -.Costa et al. (1999) assinalam a presençade comunidades de Wolffia arrhiza eLemna minor em lagoas eutrofizadas dosuperdistrito Costeiro Português.

Na classe Potametea incluem-se ascomunidades de águas doces ou ligei-ramente salinas compostas de hidrófi-tos enraizados (associações Myriophyllo

alterniflori-Potametum crispi, Myriophylloverticillati-Potametum pectinati, Pota-metum lucentis, Potamo pectinati-Myri-ophylletum spicati, Myriophyllo alterni-flori-Potametum natantis, Nymphaeetumalbo-luteae, Callitricho platycarpae-Ela-tinetum alsinastri, Ranunculetum bau-dotii e Ranunculetum fluitantis) ou dehidrófitos flutuantes (associações Utri-cularietum exoleto-australis e Potamo--Ceratophylletum submersi).

As várias associações desta classecolonizam uma grande diversidade demeios aquáticos, desde pouco a bas-tante profundos e de estagnados a comcorrente rápida.

Myriophyllum spicatum, Myriophyllumverticilatum e Potamogeton crispus sãoalgumas das espécies característicasda classe.

Da classe Isoeto-Littorelletea, que inte-gra comunidades anfíbias vivazes deáguas oligo-mesotróficas, assinalam-seFontinali-Ranunculetum lusitanici, Lud-wigio palustris-Potametum polygonifoliie Scirpo fluitantis-Juncetum heterophylli,esta última estudada com algum detalhepara a Península Ibérica por Molina-Abril& Casado-Álvaro (1998).

A classe Montio-Cardaminetea incluicomunidades da Stellario uliginosae--Montietum variabilis, Myosotidetum sto-loniferae, Stellario alsines-Saxifragetumalpigenae e Ranunculetum omiophylli.

As associações desta classe, ao ocor-rerem em águas não contaminadas, sãoindicadoras da boa qualidade da água.

Para além das associações menciona-das, encontram-se referidas, na biblio-grafia, comunidades de Nymphea alba(Guadiana), Potamogeton crispus(Douro), P. fluitans e P. pusillus (BarrocalAlgarvio), P. natans (Douro), Ranuncu-lus peltatus subsp. saniculifolius (Barro-cal Algarvio), R. pseudofluitans (Douro)

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Comunidades vegetais aquáticas e ribeirinhas

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e Utricularia australis (Minho), sem que,no entanto, se haja especificado o seuenquadramento sintaxonómico.

A caracterização fitossociológica dascomunidades aquáticas e a influênciados factores ecológicos, em particularda qualidade da água, são insuficien-temente conhecidos. Justifica-se, assim,o desenvolvimento prioritário de estu-dos nestas comunidades, até porque écada vez mais reconhecido o seu valorcomo bioindicadoras da qualidade daágua.

Anota-se que a investigação sobrecomunidades aquáticas tem sido maiscentrada em sistemas lacunares, comosejam o Paul de Arzila (Paiva et al.,1993), o Paul do Boquilobo (Lousã etal . , 1980), as Lagoas da Serra daEstrela (Silva & Teles, 1999; Rivas-Mar-tínez et al., 2000), o Açude da Murta(Neto, 1997), os charcos temporáriosdo Barrocal Algarvio (Gomes et al . ,1999) e as lagoas costeiras da BeiraLitoral (Costa et al., 1999), sendo ascomunidades aquáticas dos sistemasfluviais menos contempladas.

Embora, neste capítulo, tenha sidodado especial realce às comunidadesaquáticas constituídas por flora vas-cular (pteridófitos e angiospérmicas),cabe referir que, nos ecossistemasaquáticos, surgem, também, comuni-dades de espécies pertencentes aoutros grupos taxonómicos, nomeada-mente briófitos (representados por pou-cas espécies aquáticas) e algas(macroalgas e microalgas, que incluemas diatomáceas, importante grupo nabioavaliação da qualidade da água).

Cartografia das comunidadesaquáticas e ribeirinhas

Apesar do interesse do reconhecimentocartográfico, a nível nacional ou por

bacia, das principais comunidadesaquáticas e, particularmente, ribeiri-nhas (em especial as arbóreas como,por exemplo, amiais, salgueirais, frei-xiais, incluindo respectivos subtipos),que poderia incluir uma avaliação quan-titativa, por forma a ponderar a suarepresentatividade, e qualitativa, queretratasse o seu estado de conserva-ção, não se encontram, geralmente,dados suficientes para o fazer.

A cartografia da vegetação das zonashúmidas é uma das componentes doprojecto "Cartografia da VegetaçãoNatural e Semi-natural do TerritórioContinental Português", do Instituto daConservação da Natureza, em cujoâmbito foi estabelecido uma delimita-ção destas comunidades no territóriocontinental, mas também onde se pri-vilegiou uma análise florística, estru-tural e do estado de conservação dascomunidades (Alves, 1999).

Apesar de uma significativa parte doterritório (cerca de 40%) se encontrarjá cartografada, este projecto encon-tra-se actualmente suspenso. Haveriao maior interesse na sua conclusão,pelo menos na componente relativa aeste tipo de vegetação.

Geosséries ripícolas

A identif icação das geosséries queocorrem em Portugal tem sido feita deuma forma pontual. Ao dependerem defactores de grande variabilidade, comosão os hidrológicos e geomorfológicos,a sua sistematização torna-se particu-larmente complexa.

Como se referiu anteriormente, Aguiaret al. (1995) apresentaram a distribui-ção aproximada das geosséries ripá-rias do país, com exclusão do Noroeste,

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Ecossistemas aquáticos e ribeirinhos

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de maior influência atlântica, mas auma escala muito reduzida.

Numa primeira abordagem global aesta temática aqueles autores siste-matizaram as geosséries mais típicasem função das regiões biogeográficas,dos andares bioclimáticos e do regimehidrológico, tendo proposto uma deli-mitação provisória do país em regiões.Com base nos elementos constantesnos PBH, em Aguiar et al. (1995), Costaet al . (1998a), Espírito-Santo et al .(1999) e Honrado & Aguiar (2001) sin-tetizam-se no Suplemento 1 (Quadro

S.1.6) alguns exemplos de geossériesripícolas, agrupadas por macroclima eandar bioclimático.

A importância das geosséries em ter-mos de planeamento traduz-se noconhecimento que elas permitem dasequência de comunidades no perfi ltransversal, das mais próximas às maisafastadas do curso de água.

A falta de conhecimentos relativamenteàs geosséries de meios lênticos é notó-ria, fundamentando a necessidade deum estudo a nível nacional.

Agradecimentos

Agradecem-se todas as contribuições para a recolha de informação, em particu-lar os elementos disponibilizados por Dalila Espírito Santo, Mário Lousã e José Car-los Costa, do Instituto Superior de Agronomia, e os esclarecimentos prestados por João Alves, do Instituto da Conservação da Natureza.

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