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O Processo de Projeto Integrado de Edificações 1 A boa notícia é que sabemos o que precisa ser feito. A boa notícia é que temos tudo o que é necessário para enfrentar o desafio do aqueci- mento global. Temos todas as tecnologias que precisamos; outras mais estão sendo desenvol- vidas. E, à medida que se tornam disponíveis e ficam mais baratas quando produzidas em escala, essas tecnologias facilitarão o nosso tra- balho. Mas não devemos esperar, não podemos esperar, não vamos esperar. — Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos da América, discursando na National Sierra Club Convention, em 09 de setembro de 2005 O QUE É O PROCESSO DE PROJETO INTEGRADO DE EDIFICAÇÕES? O projeto integrado de edificações é a prática de pro- jetar de maneira sustentável. Os termos projeto sus- tentável e projeto integrado de edificações devem ser vistos como equivalentes. Até pouco tempo, o termo “projeto sustentável” sempre aparecia entre aspas, o que fazia com que seu significado parecesse ser mutável e questionável em termos de viabilidade. Hoje em dia, o projeto susten- tável é um modelo de projeto e edificação consoli- dado, que já tem sua própria história – e o projeto integrado resulta de sua evolução. Uma edificação integrada é uma edificação sustentável. O projeto integrado é um tema abrangente, que orienta a tomada de decisões referentes ao consumo de energia, aos recursos naturais e à qualidade am- biental. Tais decisões e estratégias serão introduzidas neste capítulo e aprofundadas nos capítulos a seguir. No caso do projeto integrado, é necessário enca- rar as variáveis do projeto como um todo unificado, utilizando-as como ferramentas para a solução de problemas. Os estudantes de arquitetura e engenharia aprendem a ser solucionadores de problemas, o que os leva a supor e a prever as possíveis implicações de todas as decisões de projeto, inclusive as que parecem mais benéficas. O estudo do projeto integrado conso- lida essas habilidades e promove outra competência que é fundamental para todos os estudantes de arqui- tetura – a capacidade de fazer parte de uma equipe de maneira produtiva e eficiente. Diferentemente do projeto convencional, o pro- cesso de projeto integrado exige um equilíbrio in- tenso (bem como uma lista de prioridades) a fim de obter uma edificação sustentável de sucesso. O pro- cesso funciona sempre que há comunicação entre os membros da equipe e quando cada projetista tem um profundo entendimento dos desafios e das responsa- bilidades enfrentados pelos seus colegas. Uma vez que cada decisão de projeto tem inúme- ras consequências, e não um efeito isolado, o projeto integrado de qualidade demanda o entendimento das inter-relações de cada um dos materiais, sistemas e elementos espaciais (Figura 1-1). Ele exige que todos os atores encarem o projeto de maneira holística, em vez de concentrar-se exclusivamente em uma parte individual. O processo O processo de trabalhar coletivamente em ateliê como membro de uma equipe de qualquer tipo de projeto de arquitetura simula a realidade da prática profissional. Ele se aplica a problemas de projeto grá- fico, como exercícios de criação de uma marca, ao desenvolvimento de um plano diretor e até à elabo- ração de uma política fundiária ou de um loteamento urbano. Por isso, é importante que o estudante aprenda o processo de projeto integrado desde o início de sua formação como arquiteto. Não há receita para chegar ao processo de projeto integrado ideal, ainda que vá- rios níveis de tomada de decisões ocorram logo na de- finição do projeto, enquanto o projeto é aprimorado, durante o desenvolvimento do projeto e de sua cons- trução. Assim que o projeto estiver concluído, durante a crítica feita pelos professores, é muito importante avaliar a eficácia do processo de projeto integrado de cada equipe.

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Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis

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  • O Processo de Projeto Integrado de Edificaes 1

    A boa notcia que sabemos o que precisa ser feito. A boa notcia que temos tudo o que necessrio para enfrentar o desafio do aqueci-mento global. Temos todas as tecnologias que precisamos; outras mais esto sendo desenvol-vidas. E, medida que se tornam disponveis e ficam mais baratas quando produzidas em escala, essas tecnologias facilitaro o nosso tra-balho. Mas no devemos esperar, no podemos esperar, no vamos esperar.

    Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos da Amrica, discursando na

    National Sierra Club Convention, em 09 de setembro de 2005

    O QUE O PROCESSO DE PROJETO INTEGRADO DE EDIFICAES?

    O projeto integrado de edificaes a prtica de pro-jetar de maneira sustentvel. Os termos projeto sus-tentvel e projeto integrado de edificaes devem ser vistos como equivalentes.

    At pouco tempo, o termo projeto sustentvel sempre aparecia entre aspas, o que fazia com que seu significado parecesse ser mutvel e questionvel em termos de viabilidade. Hoje em dia, o projeto susten-tvel um modelo de projeto e edificao consoli-dado, que j tem sua prpria histria e o projeto integrado resulta de sua evoluo. Uma edificao integrada uma edificao sustentvel.

    O projeto integrado um tema abrangente, que orienta a tomada de decises referentes ao consumo de energia, aos recursos naturais e qualidade am-biental. Tais decises e estratgias sero introduzidas neste captulo e aprofundadas nos captulos a seguir.

    No caso do projeto integrado, necessrio enca-rar as variveis do projeto como um todo unificado, utilizando-as como ferramentas para a soluo de problemas. Os estudantes de arquitetura e engenharia aprendem a ser solucionadores de problemas, o que os leva a supor e a prever as possveis implicaes de todas as decises de projeto, inclusive as que parecem

    mais benficas. O estudo do projeto integrado conso-lida essas habilidades e promove outra competncia que fundamental para todos os estudantes de arqui-tetura a capacidade de fazer parte de uma equipe de maneira produtiva e eficiente.

    Diferentemente do projeto convencional, o pro-cesso de projeto integrado exige um equilbrio in-tenso (bem como uma lista de prioridades) a fim de obter uma edificao sustentvel de sucesso. O pro-cesso funciona sempre que h comunicao entre os membros da equipe e quando cada projetista tem um profundo entendimento dos desafios e das responsa-bilidades enfrentados pelos seus colegas.

    Uma vez que cada deciso de projeto tem inme-ras consequncias, e no um efeito isolado, o projeto integrado de qualidade demanda o entendimento das inter-relaes de cada um dos materiais, sistemas e elementos espaciais (Figura 1-1). Ele exige que todos os atores encarem o projeto de maneira holstica, em vez de concentrar-se exclusivamente em uma parte individual.

    O processo

    O processo de trabalhar coletivamente em ateli como membro de uma equipe de qualquer tipo de projeto de arquitetura simula a realidade da prtica profissional. Ele se aplica a problemas de projeto gr-fico, como exerccios de criao de uma marca, ao desenvolvimento de um plano diretor e at elabo-rao de uma poltica fundiria ou de um loteamento urbano.

    Por isso, importante que o estudante aprenda o processo de projeto integrado desde o incio de sua formao como arquiteto. No h receita para chegar ao processo de projeto integrado ideal, ainda que v-rios nveis de tomada de decises ocorram logo na de-finio do projeto, enquanto o projeto aprimorado, durante o desenvolvimento do projeto e de sua cons-truo. Assim que o projeto estiver concludo, durante a crtica feita pelos professores, muito importante avaliar a eficcia do processo de projeto integrado de cada equipe.

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  • 18 Fundamentos de Projeto de Edificaes Sustentveis

    Neste captulo, veremos como o projeto integrado se d na prtica.

    Entenda o escopo do projeto muito til estabelecer um cronograma de reunies da equipe em funo da finalizao das etapas do projeto ou das datas de entrega determinadas pelos professores; a primeira reunio deve promover uma discusso que envolva as seguintes questes:

    De que tipo o projeto? Quais so o tamanho e a escala do projeto? Tra- ta-se de uma grande torre de escritrios, de um loteamento urbano sustentvel ou de uma esco-la particular pequena em um terreno de cinco acres?O projeto ser inserido em uma rea urbana consolidada ou ser desenvolvido em um espa-o aberto?Algum plano-diretor orienta a nova edificao no terreno e descreve o escopo do projeto e as fases da construo?Existem diretrizes legais para o projeto das veda- es externas?Alguma legislao municipal, regional, estadual ou nacional regulamenta o projeto sustentvel?Quais so os condicionantes geogrficos e do ter- reno?Quais so as densidades populacionais e os ndi- ces urbansticos do terreno?De onde vem o dinheiro que financia o projeto? Ele vem de alguma agncia governamental, da prefeitura, ou de investidores ou proprietrios pri-vados?

    Como a participao de cada membro da equipe e de cada ator1 afetar o processo de projeto inte-grado?

    As respostas para essas perguntas ajudaro as equi-pes de projeto integrado a mapear o processo.

    Quais impactos ambientais do projeto a equipe dever considerar?Para projetar com responsabilidade, preciso com-preender os possveis pontos fracos do terreno e da comunidade. A Figura 1-2 traz um mapa de recursos, ou seja, uma representao grfica que ajuda a identi-ficar os impactos ambientais sobre o terreno. poss-vel mapear muitos problemas, desde a demografia at os nveis de rudos. No caso do processo de projeto integrado de edificaes sustentveis, a equipe dedi-car um tempo considervel para avaliar os detalhes do terreno. As questes que precisam ser considera-das incluem:

    A vegetao e/ou animais ameaados sero afe- tados?H algum pntano nas proximidades? O projeto deve restaurar os pntanos ou reas vir- gens caso exera algum impacto sobre eles?H algum rio tributrio no terreno? A qualidade da gua potvel ser afetada? Qual o padro atual de escoamento de guas pluviais?

    3rd Avenue

    VLT abaixo

    Prefeitura

    4th Avenue

    Coleta de guaspluviais

    Bicicletrio

    CoberturaVerde

    James

    Stree

    t

    Reservatrio deguas pluviais

    Pavilho deuso pblico

    Figura 1-1 Croqui que mostra as condies do terreno e as tecnolo-gias sustentveis do projeto da Civic Square, em Seattle, Washington, Es-tados Unidos. O projeto de Foster & Partners. A praa oferece uma srie de espaos urbanos permeveis co-nectados.

    1 Os atores so as pessoas, entidades ou agncias que investiram seja como proprietrio, financiador, usurio ou projetista no pro-jeto, na construo e no resultado final do projeto da edificao.

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  • Captulo 1 O Processo de Projeto Integrado de Edificaes 19

    A gua da chuva absorvida e drenada at o len- ol fretico ou algum corpo de gua nas proximi-dades?J existem superfcies impermeveis no terreno? Como as superfcies impermeveis afetaro a per- da de gua pelo sistema de esgoto ou pelo proces-so de evaporao?A construo provocar a eroso ou a perda do solo devido ao vento?

    Entenda as responsabilidades da equipe e defina as atribuiesQuais membros da equipe sero responsveis por pes-quisar, apresentar e resolver as questes identificadas pelas perguntas anteriores?

    O ideal que cada membro da equipe de projeto integrado tenha um papel e uma rea de especializa-o claramente definidos, pelos quais ele ou ela ser responsvel e sobre o qual trar as informaes neces-srias para o projeto. A definio de tais atribuies pode levar defesa de determinadas solues de pro-jeto. Mais uma vez, este exerccio simula a prtica do projeto integrado.

    Na prtica de projeto integrado, os diversos atores incluem o proprietrio, os diferentes projetistas e enge-nheiros (de estruturas, civil, de condicionamento do ar, hidrossanitrio, eltrico e de energia), o construtor e o empreiteiro, os consultores especializados (iluminao natural, energia, projeto sustentvel e outros), os usu-rios e os administradores da edificao (Figura 1-3).

    Outros membros da equipe sero responsveis por questes mais especficas, como as coberturas verdes, a converso in loco de energia elica em eltrica ou o tratamento das guas servidas. possvel que fabri-cantes de sistemas extremamente eficientes, como da tecnologia de tratamento de guas fecais e de siste-mas fotovoltaicos, participem de pelo menos algumas etapas do projeto.

    Em exerccios de projeto de ateli, cada membro da equipe deve se encarregar de funes convencio-nais bsicas; alm disso, todos sero responsveis por documentar suas prprias estratgias e decises.

    Considere como o projeto de sua equipe abordar as questes do stio e da comunidadeEncare as solues para os desafios do stio, dos mate-riais, da energia e da qualidade do ar como possveis elementos do projeto, e defina objetivos mensurveis especficos.

    Por exemplo, a cobertura plana de uma edifica-o longitudinal, cuja fachada mais ampla est volta-da para o sul (no hemisfrio norte) e cujo piso uma grossa laje de concreto, apresenta a possibilidade de ganhos trmicos e de termoacumulao; por ou-tro lado, os grandes beirais das edificaes de climas quentes protegem os usurios contra o ofuscamento e os ganhos trmicos indesejveis.

    Os projetos de estacionamento com piso asfltico escoam a gua da chuva para o coletor pluvial, impe-dindo que ela seja aproveitada para outros usos; j os projetos com superfcies porosas deixam que a gua passe para o lenol fretico, o que contribui para a efi-cincia do ciclo da gua. A Figura 1-4 mostra uma rea

    rea administrativados rios tributrios

    reaadministrativa

    florestal

    rea com significaoregional

    Probabilidadede stioarqueolgico

    rea AmbientalmenteSensvel (ESA)

    Pntano

    rea sujeitaa enchentes

    Riotributrio

    rea protegidapela marinha

    rea de nidificao

    rea de possvelocupao

    rea sujeitaa enchentes

    Figura 1-2 Um exemplo de mapa de recursos.

    seleo da equipede projeto

    PROJETO E EXECUO DE UMAEDIFICAO

    EXECUO DE UMPROJETOINTEGRADO

    volu

    me

    de

    trab

    alh

    ovo

    lum

    e d

    e tr

    abal

    ho

    tempo

    tempo

    fase de projetoseleo doconstrutor

    seleo doconstrutor

    fase de projeto

    seleo da equipede projeto

    fase depr-construo

    execuo

    execuo

    Figura 1-3 A execuo de um projeto integrado exige o envolvimen-to do construtor desde o incio, alm de vrias atividades e estudos preliminares.

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  • 20 Fundamentos de Projeto de Edificaes Sustentveis

    com superfcie porosa que oferece um pavimento dur-vel, mas tambm permite a drenagem da gua ao solo.

    Uma vez que a sustentabilidade nas edificaes envolve a justia social, o projeto comunitrio considerado parte do processo de projeto integrado e, consequentemente, assume um significado muito mais profundo. Em termos de impacto social, todos os projetos podem melhorar ou mesmo deslocar comu-nidades preexistentes. A equipe de projeto integrado deve examinar a histria do stio e sua etnografia, de-terminando as condies ideais para melhorar a qua-lidade de vida das comunidades preexistentes.

    Ao mesmo tempo, o projeto tem condies de criar uma comunidade um conceito que faz parte do en-sino de arquitetura tradicional completo. Por meio do projeto integrado, a criao de comunidades assume uma nova dimenso.

    A equipe deve, por exemplo, encarar os futuros usurios de um projeto habitacional multifamiliar como mais do que simples elementos no programa de necessidades. Ela tambm deve garantir a preservao da estrutura social, alm de fornecer oportunidades para que os habitantes se envolvam com o seu am-biente ou se afastem dele, participando do planeja-mento de seus lares e das futuras geraes. O mais recente plano de sustentabilidade do Reino Unido, Securing the Future UK Government Sustainable Development Strategy (Protegendo o Futuro A Es-tratgia de Desenvolvimento Sustentvel do Governo do Reino Unido)2, ressalta a justia e a incluso social como uma dentre as diversas reas fundamentais do desenvolvimento sustentvel (Figura 1-5).

    O projeto integrado educar os cidados sobre as edificaes sustentveis e tambm sobre a relao entre a edificao, a comunidade e o entorno. Ainda

    que parea algo banal, educar os futuros habitantes do local sobre as prticas especficas de manuteno e limpeza exigidas pelas edificaes sustentveis faz parte do processo de projeto integrado.

    Pondere os impactos inter-relacionados das solues propostasNeste ponto do processo, os diferentes membros da equipe costumam contribuir em suas especialidades, colocando as vantagens e desvantagens das solues identificadas em discusso. Os membros da equipe devem se comunicar e interagir entre si.

    O membro da equipe responsvel pela anlise energtica pode ressaltar, por exemplo, que as edifi-caes que aproveitam a luz diurna e os recursos de converso de energia no local (como as estantes de luz) tambm esto sujeitas a ofuscamentos ou ganhos trmicos indesejveis.

    O arquiteto de interiores recomendar os acaba-mentos internos, e seu trabalho ter um grande impac-to sobre a qualidade do ar interno. O projetista pode propor o uso de um material de piso especfico com 100% de borracha reciclada; no entanto, embora uti-lize os recursos de modo inteligente, o material exala um odor muito forte por meses aps a instalao o que no ocorre com pisos de borracha virgem.

    O cliente do projeto talvez argumente que algu-mas estratgias sustentveis trazem consigo um im-pacto mais alto em termos de custo. A abordagem de projeto tradicional, que costuma tratar o projeto sustentvel como algo que lhe agregado posterior-mente, mais dispendiosa. A abordagem de projeto integrado, por sua vez, geralmente implica gastos mais elevados com honorrios, mas pode levar a cus-tos iniciais mais baixos e a uma reduo nas despesas operacionais. Em geral, na prtica profissional, pos-svel executar uma anlise do custo de ciclo de vida ou a oramentao, a fim de ponderar tais estratgias e avaliar sua viabilidade econmica em curto e longo prazo. A Figura 1-6 compara os custos de vida til das edificaes nas alternativas de construo, mostrando que uma edificao sustentvel que gera sua prpria energia proporciona a melhor relao custo e vida.

    O cliente talvez afirme que a tecnologia no com-provada no um risco que deseja percorrer devido responsabilidade e natureza potencialmente impre-visvel dos sistemas inovadores. O cliente talvez afir-me no estar disposto a correr riscos com tecnologias cuja eficincia ainda no foi comprovada, devido aos possveis passivos e responsabilizaes e natureza talvez imprevisvel dos sistemas inovadores em geral. Quais so seus efeitos sobre a esttica do projeto? O projetista de edificaes sustentveis argumentar que os sistemas de alta tecnologia so capazes de produ-zir bons projetos, mas as opinies dos usurios e da comunidade sobre o que um bom projeto precisam ser includas no processo de projeto integrado.

    Figura 1-4 Pavimentos porosos permitem a absoro da gua da chuva em vez de seu escoamento.

    2 Disponvel no Departamento do Reino Unido para Questes Am-bientais, Alimentcias e Rurais [United Kingdom Department for Environment, Food and Rural Affairs], em http://www.defra.gov.uk/environment/sustainable.

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  • Captulo 1 O Processo de Projeto Integrado de Edificaes 21

    Estabelea as prioridadesUm dos fatores que mais incomoda no processo de projeto integrado que no h solues perfeitas e que nenhum projeto alcana a sustentabilidade abso-luta pelo menos, no como a definimos neste livro. Mas possvel chegar perto ponderando as vantagens e os efeitos complementares identificados anterior-mente e testando suas solues e impactos.

    Muitas vezes h, para cada projeto, vrias solues ideais que se relacionam com os condicionantes de maneira nica. A liderana da equipe se torna crucial durante o processo de discusso e tomada de deci-ses, uma vez que, para ser eficiente, a equipe precisa adotar uma abordagem e uma direo determinadas, conforme aquelas que identificamos anteriormente.

    Neste ponto, as atribuies da equipe e o processo de projeto integrado tambm so extremamente im-

    portantes. evidente que, no final, ser preciso tomar uma deciso definitiva. Esta rea do projeto s tem a lucrar com o processo de projeto integrado, tirando proveito do compartilhamento dos conhecimentos es-pecficos dos diferentes membros da equipe.

    D um passo almNa prtica profissional, o processo de projeto integra-do no termina com a construo. Os administrado-res, usurios, inquilinos, locadores, zeladores e geren-tes de instalaes precisam de treinamento a fim de compreender o comportamento de cada deciso sus-tentvel inter-relacionada. Os manuais dos inquilinos e dos administradores auxiliam nessa compreenso e aumentam a probabilidade de sucesso das edificaes sustentveis integradas. A contratao de diversos es-pecialistas processo definido e descrito a seguir garante que a edificao seja saudvel e funcional, que, por sua vez, o mecanismo que confirma que o objetivo de projeto foi alcanado.

    O projeto integrado de edificaes: a energia, os recursos naturais e o ar

    A metodologia e as ferramentas para o controle do consumo de energia no processo de projeto integradoConforme discutimos no incio deste captulo, o projeto integrado um processo que considera as relaes en-tre as diferentes decises tomadas durante o projeto de uma edificao. Algumas decises iniciais de projeto, como as que tratam do terreno e da orientao da edi-ficao, das plantas baixas e do volume da edificao, e do tamanho e da localizao das janelas, influenciam enormemente a esttica do prdio (Figura 1-7).

    Em muitos casos, as inter-relaes das decises de projeto tambm determinam quanta energia a edifica-o consumir no seu dia a dia. No processo de proje-to integrado, o projetista deve estar ciente de um con-junto mais amplo de impactos, incluindo a esttica, a energia, o meio ambiente e a experincia do usurio.

    Usar a cincia de maneira responsvel.

    Garantir que as polticas sejam desenvolvidas e implantadas com base em evidncias cientficas

    comprovadas, mas tambm considerando as incertezas cientficas (por meio do Princpio da

    Precauo), bem como as posturas e valores pblicos.

    Viver dentro de limitesambientais.

    Respeitar os limites do ambiente, dos recursos e da biodiversidade do planeta, de forma a melhorar o ambiente em que vivemos e a

    garantir que os recursos naturais necessrios para a vida sejam preservados e permaneam para as

    futuras geraes.

    Garantir uma sociedade forte, saudvel e justa.

    Atender s diferentes necessidades de todas as pessoas nas comunidades tanto

    pr-existentes como futuras, promovendo o bem-estar social, a coeso social e oportunidades iguais para todos.

    Alcanar uma economiasustentvel.

    Construir uma economia forte, estvel e sustentvel que oferea prosperidade e oportunidades para

    todos, na qual os custos ambientais e sociais sejam de responsabilidade daqueles que os provocam (O Poluidor Quem Paga) e na qual se incentive o uso

    eficiente dos recursos.

    Promover uma boagovernana.

    Promover ativamente sistemas de governana eficazes e participativos em todos os nveis da

    sociedade, envolvendo a criatividade, a energia e a diversidade das pessoas. Figura 1-5 Dentre os cincos pontos

    principais do planejamento britnico de sustentabilidade, trs tratam de questes sociais.

    Edificao convencional

    Edificao eficiente no consumo de energia

    Edificao sustentvel

    Edificao sustentvel com receitasresultantes da gerao deenergia sobressalente

    Cu

    sto

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    um

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    ais)

    Vida til da edificao (anos)0 25 50 75 100

    Figura 1-6 Uma comparao do custo de ciclo de vida de quatro tipos de edificao: uma edificao convencional, uma edificao eficiente no consumo de energia, uma edificao sustentvel e uma edificao sustentvel com receitas resultantes da gerao de energia sobressa-lente. Os custos acumulados da edificao com estratgias de consumo eficiente de energia e com receitas geradas com a venda de energia so significativamente mais baixos, enquanto os gastos da edificao con-vencional aumentam vertiginosamente com o passar do tempo.

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  • 22 Fundamentos de Projeto de Edificaes Sustentveis

    No mundo real da arquitetura e do projeto, a prtica integrada geralmente requer um tempo de projeto adi-cional durante a fase de estudos preliminares. Esse tem-po necessrio para que o arquiteto, os engenheiros mecnicos e eltricos, e os demais membros da equipe possam fazer perguntas, discutir as opes e seus im-pactos, e estimar as implicaes de energia e custo das escolhas que esto considerando. (Veja a Figura 1-3.)

    Os objetivos bsicos da sustentabilidade devem ser estabelecidos j no incio do projeto, o que re-sulta em metas significativas que permitem avaliar as opes e o progresso alcanado. Em vez de prescre-ver solues especficas, esses objetivos devem esti-pular metas mensurveis e de fcil compreenso para o desempenho da edificao.

    Ao considerar o desempenho energtico, o estu-dante pode ter como objetivo reduzir o consumo de energia da edificao em 50% em relao ao consu-mo mdio de energia de edificaes semelhantes em sua regio. Para demonstrar o cumprimento da meta, possvel utilizar desde uma lista simples de estratgias de projeto de baixo consumo de energia at um mode-lo energtico simples do projeto feito em um software fcil de usar, como o Energy-10 ou o eQUEST (Figuras 1-8A, B e C). Aprender a usar as ferramentas de infor-mtica que avaliam o desempenho energtico da edi-ficao antes de se formar deve estar entre os objetivos de todos os estudantes de arquitetura e engenharia.

    No nvel profissional, o estabelecimento de metas de desempenho e a avaliao do projeto devem fazer parte de um processo mais rigoroso. No mbito do pro-jeto de edificaes, muitas associaes profissionais estipularam padres para as prticas recomendadas.

    A ASHRAE (American Society of Heating, Refri-gerating, and Air-Conditioning Engineers) criou um padro de uso energtico conhecido como ASHRAE 90.1, que atualizado periodicamente; a atualizao mais recente data de 2007.

    Os Padres Energticos de Edificaes do Ttulo 24 [Title 24 Building Energy Standards]3, do Estado da Califrnia, estabelecem exigncias para novas edifica-es e projetos de reforma dentro do estado. As exi-gncias tanto do ASHRAE 90.1 como do Ttulo 24 va-riam de acordo com a regio. Os objetivos gerais em termos de consumo de energia devem se relacionar com os padres preexistentes, exigindo, por exem-plo, um desempenho energtico 50% superior ao do ASHRAE 90.1-2005 ou do Ttulo 24-2008.

    No nvel profissional, importante fazer a modela-gem das opes para a tomada de decises bem emba-sadas. Isso permite uma melhor compreenso das in-teraes entre os sistemas da edificao e entre outros elementos de um projeto sustentvel, como o uso de recursos pelos materiais e a qualidade do ar interno.

    No caso tanto de estudantes como de profissio-nais, o objetivo deve ser maximizar a eficincia dos sistemas da edificao, buscando interaes comple-mentares que reduzam o lixo e os efluentes usando, por exemplo, a capacidade trmica residual de um sistema para pr-aquecer outros. No nvel profissio-nal, isso envolve usar equipamentos extremamente

    SOLALTO

    NO VERO, VENTOSQUENTES E MIDOS DADIREO SUDOESTE

    NO INVERNO,VENTOS FRIOS DADIREO NORDESTE

    RUDOS EPOLUIO VINDOS

    DA ESTRADAFigura 1-7 Croqui do Centro de Cincias de Istambul que ajuda os projetistas a compreender os pa-dres elicos do terreno e o percurso aparente do sol, j que os dois fatores afetaro as decises de projeto.

    3 California Energy Commission, 2008 Building Energy Effi-ciency Standards for Residential and Nonresidential Buildings, CEC-400-2008-001-CMF (Sacramento, CA: California Energy Com-mission, December 2008).

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  • Captulo 1 O Processo de Projeto Integrado de Edificaes 23

    eficientes, dimensionar os sistemas de modo adequa-do e incorporar energias renovveis assim que os de-mais sistemas forem aprimorados.

    Recursos: a gua e as matrias-primas da construo de edificaesComo ocorre com todas as decises sustentveis, con-siderar o uso de recursos desde o incio essencial para um projeto srio. Nos Estados Unidos, a indstria

    da construo civil responde por 40% de todo o con-sumo de matrias-primas (3 bilhes de toneladas por ano)4. Assim, essencial o aproveitamento consciente da gua e do solo, bem como dos recursos de minera-o e extrativismo.

    Figura 1-8 a-c Telas ilustrativas do software de avaliao do consumo de energia eQUEST, disponvel online em http://www.doe2.com/equest/.

    (a)

    (b)

    4 N. Lenssen and D. M. Roodman, Paper 124: A Building Revolu-tion: How Ecology and Health Concerns are Transforming Cons-truction, Worldwatch (1995),Worldwatch Institute.

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  • 24 Fundamentos de Projeto de Edificaes Sustentveis

    Para utilizar os recursos com inteligncia, preci-so maximizar seu potencial a fim de aumentar a efi-ccia e a eficincia e reduzir ou eliminar o concei-to de desperdcio por completo, conforme William McDonough e Michael Braungart propuseram em The Hannover Principles.5 Algumas culturas usam os ani-mais por inteiro do focinho ao rabo e do bico gar-ra para fins de alimentao e vestimenta; devemos fazer o mesmo com as rvores, o granito e os recursos ameaados e superexplorados, utilizando todo o seu potencial de maneira criteriosa.

    A outra faceta do uso de recursos exige que se entenda o equilbrio natural e se evite interferir nele durante a extrao dos mesmos. Neste momento, a realidade incmoda do projeto integrado permite que determinemos prioridades, meios-termos e opes. As Figuras 1-9 e 1-10 mostram os resultados das prticas de manejo florestal sustentveis em relao s no sustentveis.

    necessrio examinar os recursos, materiais, pro-dutos e sistemas, incluindo suas vidas teis, para im-plantar o projeto integrado completamente. Estamos enfrentando uma crise devido s mudanas climticas e aos impactos associados, como a reduo de radia-o solar na Terra e a escassez de gua. Temos de lidar com uma tarefa planetria monumental: tentar equili-brar a energia, as emisses e os fluxos de gua.

    Como arquitetos e projetistas, podemos abordar tais questes na escala local e de maneira menos gran-diosa, projetando edificaes sustentveis; alm de vi-vel, essa tarefa tem efeitos cumulativos significativos.

    A guaAs edificaes usam 12,2% de toda a gua potvel, ou seja, 57 trilhes de litros por ano, nos Estados Unidos.6

    Nos captulos a seguir, discutiremos estratgias es-pecficas para reduzir o consumo de gua durante a construo e a ocupao, e tambm para aproveitar a gua no potvel e a gua da chuva coletada em usos

    Figura 1-8 a-c Continuao.

    (c)

    Reflo

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    Esttica dohabitat

    Recreao,toras e polpa

    de madeira

    Toras emadeira serrada

    Queimadasprescritas parapreservao dabiodiversidade

    Tratamento intermedirio

    Desmatamento controlado e recuperao

    Extra

    tivism

    o

    Conservao do solo e da gua

    Preparao do terreno

    Figura 1-9 Tcnicas para o extrativismo responsvel de recursos.

    5 William McDonough & Michael Braungart, The Hannover Principles, Design for Sustainability, Edio do 10 Aniversrio, encomendada para ser o manual de projeto oficial da EXPO 2000, William McDo-nough + Partners, McDonough Braungart Design Chemistry, 2003.

    6 Dados fornecidos pelo Servio Geolgico dos Estados Unidos [United States Geological Service] (1995).

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  • Captulo 1 O Processo de Projeto Integrado de Edificaes 25

    que no sejam o consumo humano. As guas pluviais coletadas devem ser aproveitadas, conforme descre-vemos na Figura 1-11.

    Como arquitetos e projetistas, devemos pensar em solues construdas, como sistemas de armaze-nagem de gua, sejam elas naturais ou humanas, e em solues de tratamento de gua no terreno e na prpria edificao. Para fins de projeto integrado, as estratgias de conservao de gua giram em torno do lanamento de esgoto, da preservao da paisagem e do manejo dos recursos hdricos.

    O lanamento de esgoto. As edificaes sustentveis influenciam o projeto integrado de maneira significa-tiva no que se refere gua, pois tm condies de reduzir a quantidade de gua potvel necessria para descartar os dejetos humanos. A reciclagem das guas fecais e servidas uma estratgia de conservao da gua potvel (Figura 1-12).

    Outra maneira de reduzir o consumo de gua po-tvel fazer o projeto hidrossanitrio de acordo com a demanda dos usurios. Essa abordagem envolve

    Figura 1-10 Tcnicas de extrativismo destrutivo de recursos.

    A GUA PLUVIAL COLE TADA TR ATADA ARMAZENADA DISTRIBUDA

    A GUA INGRESSA NO SISTEMA PLUVIALA GUA TRATADA

    IRRIGAO

    PARA OESGOTO

    LAVAGEM DE AUTOMVEIS

    BACIAS SANITRIAS

    PARA OSISTEMADE GUASPLUVIAIS

    A GUA FICA EM RESER VATRIOSAT QUE SE JA PRECISO US-LA

    A GUA ARMAZENADAEM BACIAS

    A GUA PLUVIAL COLE TADA DAS COBER TURAS,

    RUAS E PASSEIOS

    Figura 1-11 Sistema de coleta de guas pluviais no nvel comunitrio, na Nova Zelndia.

    Sistema aprovado pelo Departamento de Sadede Nova Gales do Sul (Austrlia)Este sistema usado para tratar guas servidas, gua do banho, gua dos lavatrios e gua da mquina de lavar roupa, at se atingir os padres estabelecidos pelo Departamento de Sade para a reciclagem e o reuso na descarga de bacias sanitrias, na lavagem de automveis, na irrigao de jardins e at em mquinas de lavar roupa.

    a gua reciclada vai para a residncia

    irrigao do jardim e lavagemdos automveis

    linhas de conexo da caixa de controle

    ladro para o esgotodo banheiro e da cozinha para o esgoto

    guas servidas do banheiro e da lavanderia

    Figura 1-12 As guas servidas provenientes de banheiras, chuveiros, pias e da lavagem de roupa podem ser tratadas e reutilizadas na descarga de bacias sanitrias e na irrigao dos jardins.

    Keeler_01.indd 25Keeler_01.indd 25 30.04.10 17:19:2730.04.10 17:19:27

  • 26 Fundamentos de Projeto de Edificaes Sustentveis

    o clculo de diversos fatores utilizando um cenrio de projeto bsico ou padro e propondo um caso de projeto com o qual se possa compar-lo. Trata-se de um exerccio de modelagem que, consequentemente, pode ser usado como uma ferramenta de projeto. Para fazer modelos que visem reduo do uso de gua potvel no lanamento de esgoto, preciso conside-rar os seguintes fatores:

    A ocupao, ou seja, quantas pessoas utilizam a edificao e em quais horrios elas esto presentes.A frequncia do uso. Os tipos de aparelhos hidrossanitrios.

    A preservao da paisagem. As equipes de projeto tm condies de projetar visando reduo signifi-cativa do uso de gua nos jardins e, ao mesmo tempo, diminuio do consumo de gua potvel no interior da edificao. Novamente, recomendamos a compa-rao entre cenrios simples, a partir da modelagem de pressupostos consistentes sobre o clima e a paisa-gem, para obter a eficincia da irrigao. Para a mo-delagem das questes referentes paisagem, preciso considerar os seguintes fatores:

    Os tipos de vegetao (adaptao ao clima, espcies nativas, xerojardinagem, evitar-se a monocultura)Os sistemas de irrigao O controle da eroso O manejo das guas pluviais

    Os recursos hdricos. Evidentemente, o controle do consumo de gua apenas um dentre os vrios aspec-tos envolvidos na maximizao da eficcia no uso da gua; os outros so a boa gesto dos recursos hdricos e at a possibilidade de produzir gua prpria para uso, seja por meio de tecnologias de tratamento ou da dessalinizao. Os mtodos para controlar o consu-mo de gua incluem:

    A coleta e a armazenagem das guas pluviais O tratamento das guas fecais ( in loco e integrado s edificaes)A utilizao das guas servidas municipais As tecnologias futuras, como a dessalinizao e a reciclagem da gua para torn-la potvel

    A fim de proteger e gerir os recursos hdricos exis-tentes, tambm possvel desenvolver programas educativos de conservao da gua voltados para os usurios das edificaes. Ser necessrio repensar os mtodos histricos de manejo do abastecimento de gua, do seu uso comunitrio e da sua distribuio.

    As matrias-primas da construoNos captulos a seguir, discutiremos alguns exemplos de recursos. Existem vrios tipos de recursos, incluin-do os vivos e os no vivos, como metais, minerais,

    leos e madeira; os recursos energticos renovveis, como a energia das mars, dos ventos e do sol; alm de outros recursos renovveis e no renovveis.

    No caso de edificaes, as matrias-primas so tratadas diretamente nas categorias de recursos vivos e no vivos, embora os recursos energticos renov-veis tambm faam parte de seus ciclos de vida.

    Especificar os materiais de construo essencial para projetar edificaes sustentveis. Fazer perguntas sobre a vida til dos produtos uma boa maneira de aprender sobre a variabilidade, a utilidade e a con-tribuio dos materiais para a degradao do meio ambiente. (A seleo dos materiais ser discutida em outro captulo.)

    Durante o processo de projeto integrado, os ar-quitetos e demais projetistas devem reunir dados so-bre os materiais e produtos que desejam especificar para ento criar uma edificao eficiente em termos de recursos, utilizando os materiais de minerao e extrativismo com inteligncia. O projetista deve se in-formar a respeito dos seguintes fatores relacionados aos produtos:

    a embalagem a energia incorporada o contedo reciclado a possibilidade de reciclagem, de reuso e de recu- peraoa produo de lixo o processo de fabricao em circuito fechado; a durabilidade e a vida til a proporo de recursos renovveis e no renov- veis em cada produto

    Os bancos de dados e sistemas de avaliao de materiais, como o Pharos (Figura 1-13), que sero discutidos no captulo dedicado aos materiais susten-tveis, facilitam enormemente a pesquisa que funda-menta as melhores escolhas ambientais.

    A qualidade do ar e do ambiente internosA qualidade do ambiente interno inclui vrias ques-tes relacionadas ao conforto dos usurios e quali-dade do espao de trabalho ou habitao: a tempera-tura, a umidade, o ofuscamento, a acstica, o acesso luz natural, a eficincia da circulao do ar atravs dos espaos utilizados e a qualidade do ar interno propriamente dito. Os prprios usurios podem lidar com muitas dessas preocupaes, contanto que os sis-temas das edificaes sejam criativos o bastante para permitir que as pessoas controlem os ambientes.

    A qualidade do ar interno (QAI) deve ser a prin-cipal preocupao dos projetistas de edificaes in-tegradas, uma vez que o ar interno est diretamente relacionado sade dos usurios a longo prazo. A QAI ruim gera inmeros problemas, conforme des-creve a Figura 1-14. Para obter um bom ar interno,

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  • Captulo 1 O Processo de Projeto Integrado de Edificaes 27

    preciso reduzir a exposio dos usurios a produtos qumicos preocupantes (por exemplo, cancergenos, txicos do sistema reprodutivo e outras substncias qumicas possivelmente prejudiciais sade), con-siderando os quatro elementos da boa QAI durante todo o projeto:

    O controle da fonte, que inclui a seleo criterio-sa dos materiais, acabamentos, mveis e acess-rios da edificao; selecione-os de acordo com as emisses de compostos orgnicos volteis (VOCs), e no pelo contedo.O controle da ventilao, que inclui o projeto de sistemas que filtrem adequadamente o ar externo e o faam circular, ultrapassando as taxas de troca de ar mnimas.A avaliao da edificao e da qualidade do ar in-terno, que permite aos engenheiros e construtores determinar se os sistemas da edificao esto fun-cionando de maneira adequada.A manuteno da edificao, que envolve a in-troduo de novos produtos qumicos capazes de produzir efeitos sinergsticos e de gerar novas substncias qumicas preocupantes. Para garantir a melhoria contnua da qualidade do ar, impor-tante utilizar produtos de limpeza e manuteno benignos e tambm estabelecer um programa de monitoramento de sustentabilidade.

    Depois de ler este captulo, talvez voc comece a achar que o projeto integrado de edificaes extre-mamente complicado. Porm, sempre que esse pro-

    cesso nico visto como uma maneira inovadora, mas consistente, de solucionar desafios de projeto e de introduzir o raciocnio sustentvel, tanto a prtica como o resultado dos esforos so benficos. Este li-vro apresenta aos estudantes uma nova arquitetura sustentvel, isto , uma arquitetura capaz de pro-jetar e produzir ambientes construdos eficientes e saudveis.

    EXERCCIOS

    Memorize trs estatsticas fundamentais identi-1. ficadas no captulo e que so capazes de ilustrar os efeitos do exaurimento de recursos naturais na construo convencional.Crie um mapa de recursos ambientais para um 2. projeto hipottico e determine qual local teria um impacto ambiental menor sobre os recursos do en-torno.Crie um modelo energtico simples com o 3. Energy-10, utilizando uma lista de princpios de consumo de energia.Planeje uma equipe de projeto integrado. Como 4. as atribuies seriam divididas entre os membros da equipe? De quais nveis e fases do projeto cada membro participaria?Em termos de processo de projeto integrado, quais 5. seriam as diferenas entre um edifcio alto (uma torre) e uma escola particular de ensino funda-mental? Quais consultores participariam de cada projeto?Desenvolva um cronograma de reunies regula-6. res em torno de etapas de projeto para seu projeto atual de ateli da faculdade de arquitetura.

    MEI

    O AM

    BIEN

    TE

    RECU

    RSOS

    NATU

    RAIS

    SOCIEDADE COMUNIDADE

    SADE POLUIO

    1

    2

    3

    Figura 1-13 A roda ou lente Pharos ilustra trs esferas de sustenta-bilidade: o meio ambiente e os recursos naturais; a sociedade e a comu-nidade; a sade e a poluio, classificando os materiais de acordo com uma escala visual.

    SINTOMAS RELACIONADOS AOS POLUENTES DO AR INTERNO

    Dores de cabea

    Tontura

    Cansao

    Nuseas

    Vmito

    Urticria

    Irritao nos olhos

    Irritao no nariz

    Irritao na garganta

    Irritaes respiratrias

    Tosse

    Falta de ar

    Infeces respiratrias

    Asma (piora do quadro)

    Reaes alrgicas

    Cncer de pulmo

    Partculas Bioaerossis Gases

    Poei

    ra, t

    erra

    ,ci

    nza

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    Fum

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    Figura 1-14 A m qualidade do ar interno pode ter diversos efeitos negativos.

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